quinta-feira, 25 de março de 2021

XXIX Concurso Literário de Poesia e Prosa da Academia de Letras de São João da Boa Vista (Prazo: 12 de Abril)


Prêmio Emílio Lansac Toha
Prêmio Fábio de Carvalho Noronha
Prêmio Octávio Pereira Leite

1. PATRONO
Acadêmico João Batista Rozon

2. OBJETIVOS

Revelar trabalhos inéditos em poesia e prosa, aprimorar o gosto pela arte literária e incentivar a escrita.

3. CATEGORIAS
Poesia
Prosa

4. CONCORRENTES


4.1. O candidato poderá participar com somente UM trabalho em cada categoria (um em poesia e um em prosa);

4.2. Somente serão aceitos trabalhos escritos em língua portuguesa, podendo o candidato residir em qualquer país.

4.3. O desrespeito aos requisitos acima acarretará a desclassificação sumária do trabalho.

5. FORMATAÇÃO

5.1. O trabalho deverá ser digitado em espaço 1,5, fonte Arial 12, até o limite de três páginas no tamanho A4;

5.2. O título deverá ser digitado em fonte 14 e destacado em negrito;

5.3. Sob o título, deverá obrigatoriamente constar pseudônimo, categoria e faixa etária. Ex: “Zé das Letras - Prosa – Até 12 anos”;

5.4. Os trabalhos deverão ser enviados em arquivo no formato .doc ou .docx (Word ou similar).

5.5. O descumprimento das normas acima acarretará a desclassificação sumária do trabalho.

6. FAIXAS ETÁRIAS

O Concurso, vedado aos membros da Academia de Letras de São João da Boa Vista, contempla cinco faixas etárias, a saber:

- até 12 anos;

- de 13 a 18 anos;

- de 19 a 39 anos;

- de 40 a 59 anos;

- 60+ (60 anos ou mais).

7. INSCRIÇÕES

7.1. Os trabalhos deverão ser inscritos somente no site da ALSJBV, em formulário próprio, disponível no endereço http://www.alsjbv.art.br/.

7.2. Todas as informações solicitadas no formulário de inscrição deverão ser integralmente preenchidas.

8. FORMA DE ENVIO


8.1. O arquivo com o trabalho em extensão .doc ou .docx (Word ou similar) deverá ser anexado ao formulário disponível no site, após o preenchimento de todos os dados solicitados.

8.2. Mensagem acusando o recebimento dos trabalhos será enviada a todos os inscritos, o que não implicará o acatamento do trabalho, que só se dará após análise pela Coordenação do Concurso.

9. PRAZO DE ENTREGA DOS TRABALHOS

De 12 de fevereiro de 2021 a 12 de abril de 2021.

10. JULGAMENTO


O julgamento será realizado por Comissão Julgadora definida pela Academia de Letras de São João da Boa Vista, levando em conta a organização textual, a linguagem e a originalidade do trabalho.

11. DIVULGAÇÃO

A relação dos trabalhos premiados será divulgada a partir do dia 1° de julho de 2021 nos endereços eletrônicos da Academia, a saber, página do Facebook e site.

12. PREMIAÇÃO

12.1. Os trabalhos de cada categoria serão classificados até o terceiro lugar.

12.2. Os três primeiros classificados em cada categoria terão seus trabalhos publicados em Antologia editada em formato eletrônico, podendo estes ser também apresentados em seção específica do site da ALSJBV.

12.3. Os três primeiros classificados em cada categoria receberão Certificado no formato eletrônico.

12.4. A solenidade de premiação ocorrerá em 14 de agosto de 2021, ocasião em que os premiados serão convidados à reunião ordinária da ALSJBV, de forma presencial ou remota.

12.5. Não serão expedidos Certificados de participação aos demais concorrentes.

13. DISPOSIÇÕES FINAIS:

13.1. O tema é livre, sendo exigido texto autoral e inédito.

13.2. Serão desclassificados os trabalhos que apresentem plágio literal, conceitual ou imagético, no todo ou em parte, bem como aqueles que constituam autoplágio ou já tenham sido publicados em meio físico ou digital.

13.3. O descumprimento de cláusula constante neste Edital acarretará a desclassificação do trabalho, sem submissão a julgamento.

13.4. Não há cobrança de taxa de inscrição.

13.5. Eventuais casos não previstos no Edital serão inapelavelmente dirimidos pela Coordenação do Concurso.

http://www.alsjbv.art.br/ || facebook.com/alsjb

Fonte:
https://www.alsjbv.art.br/pdf_concurso/edital_29_concurso_literario.pdf

quarta-feira, 24 de março de 2021

Varal de Trovas 488

 


Contos e Lendas do Mundo (A pérola)


Ela havia nascido no fundo do mar, a partir de um alegre e doloroso encontro entre um grão de areia e uma pequena ostra.

Quando ela apareceu, as suas companheiras ficaram muito felizes. Até mesmo a rainha do mar ficou admirada com aquela pérola rara e maravilhosa, e a circundou de cuidados particulares.

Todos os dias, ao amanhecer, a ostra, já crescida, se abria e a pérola se deixava acariciar pelo Sol, refletindo seus raios ao redor, para a alegria de todos.

Mas o inverno chegou. Os dias passavam e o Sol não aparecia mais. Ficava escondido atrás das nuvens.

A pérola esperava que a luz do Sol voltasse, mas enquanto isso não acontecia, o seu brilho diminuía cada vez mais. Mesmo assim, incrustada no banco de corais no fundo do mar, ela procurava alegrar os peixes que vagueavam ao seu redor. Porém, quanto mais o tempo passava, mais ela se sentia invadida pela escuridão.

A rainha do mar sabia de tudo o que estava acontecendo e lhe mandou um mensageiro.

A pérola, que já sentia a morte chegando, foi colocada em uma baía de águas baixas e límpidas, onde dezenas de pequenas pérolas estavam crescendo. O Sol resplandecia naquelas águas, mas a pérola rara não conseguia mais vê-lo.

Era como se os longos meses sem o Sol lhe tivessem tirado a visão.

Mesmo assim ela estava feliz por estar naquela baía, porque soubera que havia sido a rainha do mar a mandá-la para aquelas águas.

Embora não conseguindo ver a luz do Sol, ela não era insensível ao calor dos reflexos - se bem que ainda fracos - que as pequenas pérolas lhe mandavam.

Para ela, que havia irradiado os raios de Sol, não era nenhum sacrifício retribuir a atenção das perolazinhas, refletindo os pequenos raios de luz que recebia.

Essa troca era como um bálsamo para ela e lhe dava um pouco de paz.

As pequenas pérolas, que a viam como predileta entre todas, queriam aprender a refletir os raios de Sol como ela fazia.

A pérola amava as perolazinhas e não queria decepcioná-las, confidenciando-lhes que estava cega.

Por isso não disse nada e fez por elas o que sempre tinham feito quando a ostra se abria.

E as perolazinhas viam luz... Luz... Luz... mesmo se a pérola só sentia escuridão... Escuridão... Escuridão.

Só à noite, quando ninguém a via, a pérola rara derramava uma lágrima no segredo da ostra.

Uma noite, o mensageiro, enviado pela rainha do mar, chegou àquela baía e foi bater na porta da ostra. Quando ela se abriu, grande foi a surpresa de todos.

Do centro da ostra, onde a pérola repousava, brotava uma luz intensa, semelhante àquela do Sol.

O amor lhe tinha ensinado a transformar a escuridão em luz.

Cecília Meireles (Antologia Poética) IV

A ÚLTIMA CANTIGA


Num dia que não se adivinha,
meus olhos assim estarão:
e há de dizer-me: «Era a expressão
que ela ultimamente tinha.»

Sem que se mova a minha mão
nem se incline a minha cabeça
nem a minha boca estremeça,
— toda serei recordação.

Meus pensamentos sem tristeza
de novo se debruçarão
entre o acabado coração
e o horizonte da língua presa.

Tu, que foste a minha paixão,
virás a mim, pelo meu gosto,
e de muito além do meu rosto
meus olhos te percorrerão.

Nem por distante ou distraído
escaparás à invocação
que, de amor e de mansidão,
te eleva o meu sonho perdido.

Mas não verás tua existência
nesse mundo sem sol nem chão,
por onde se derramarão
os mares da minha incoerência.

Ainda que sendo tarde e em vão,
perguntarei por que motivo
tudo quanto eu quis de mais vivo
tinha por cima escrito: “Não”.

E ondas seguidas de saudade,
sempre na tua direção,
caminharão, caminharão,
sem nenhuma finalidade.
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CANÇÃO

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
— depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
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CONVENIÊNCIA

Convém que o sonho tenha margens de nuvens rápidas
e os pássaros não se expliquem, e os velhos andem pelo sol,
e os amantes chorem, beijando-se, por algum infanticídio

Convém tudo isso, e muito mais, e muito mais...
E por esse motivo aqui vou, como os papéis abertos
que caem das janelas dos sobrados, tontamente...

Depois das ruas, e dos trens, e dos navios,
encontrarei casualmente a sala que afinal buscava,
e o meu retrato, na parede, olhará para os olhos que levo.

E encolherei meu corpo nalguma cama dura e fria.
(Os grilos da infância estarão cantando dentro da erva...)
E eu pensarei: “Que bom! nem é preciso respirar!...”
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SERENATA

Repara na canção tardia
que timidamente se eleva,
num arrulho de fonte fria.

O orvalho treme sobre a treva
e o sonho da noite procura
a voz que o vento abraça e leva.

Repara na canção tardia
que oferece a um mundo desfeito
sua flor de melancolia.

É tão triste, mas tão perfeito,
o movimento em que murmura,
como o do coração no peito.

Repara na canção tardia
que por sobre o teu nome, apenas,
desenha a sua melodia.

E nessas letras tão pequenas
o universo inteiro perdura.
E o tempo suspira na altura

por eternidades serenas.

Fonte:
Cecília Meirelles. Viagem. Lisboa: Império, 1938.

Isaac Asimov (O Sorriso roubado)


Recentemente, disse para o meu amigo George, que estava comigo no bar tomando uma cerveja (ele estava tomando uma cerveja; eu estava tomando um refrigerante):

- Como vai o seu diabinho?

George se gaba de ter um demônio de dois centímetros de altura que faz tudo que ele pede. Jamais consigo fazê-lo admitir que está mentindo. Nem eu nem mais ninguém,

Ele olhou para mim e disse, em tom conspiratório:

- Ah, sim, você é aquele que sabe a respeito! Espero que não tenha contado a mais ninguém!

- Claro que não! Já basta eu achar que você é maluco. Não quero que pensem o mesmo de mim!

(Na verdade, ele já falou sobre o demônio, na minha frente, com pelo menos uma dúzia de pessoas, de modo que não haveria nenhuma razão para eu guardar segredo, mas achei melhor não dizer isso a ele.)

- Eu não aceitaria essa sua triste incapacidade de acreditar no que não pode compreender (e você não compreende tantas coisas assim), mesmo que me oferecessem em troca um quilo de plutônio. E o que vai restar de você, se o meu demônio um dia descobrir que você o chamou de diabinho, não valerá ura átomo de plutônio.

- Já sabe qual é o seu nome verdadeiro? – perguntei, sem me deixar abalar.

- O nome dele não pode ser pronunciado por lábios humanos. A tradução, pelo que ele me deu a entender, é alguma coisa como: “Sou o Rei dos Reis; admirem minha obra e fiquem de queixo caído…”. Na verdade, acho que ele está mentindo – acrescentou George, olhando pensativamente para o copo de cerveja. – Ele é um fichinha no seu mundo. É por isso que se mostra tão ansioso para fazer as minhas vontades. Em nosso mundo, com nossa tecnologia primitiva, ele pode se mostrar.

- Ele tem se mostrado ultimamente?

- Na verdade, sim – disse George, dando um profundo suspiro e levantando os olhos azuis e tristes que se fixaram nos meus. O bigode grisalho levou algum tempo para voltar ao lugar depois daquela exalação forçada.

Tudo começou com Rosie O’Donnell [disse George], que, além de ser amiga de uma das minhas sobrinhas, é uma coisinha adorável.

Ela tem olhos azuis, quase tão vivos quanto os meus; cabelos ruivos, longos e brilhantes; um narizinho delicioso, semeado de sardas da forma aprovada por todos que escrevem romances; um pescoço gracioso, ura corpo esbelto que não é opulento de forma desproporcional, mas simplesmente delicioso em suas promessas de êxtase.

Naturalmente, tudo isso tinha para mim um interesse apenas intelectual, já que cheguei à idade da discrição faz muitos anos, e hoje me entrego aos prazeres da carne apenas quando as mulheres insistem, o que, para dizer a verdade, não ocorre com muita frequência.

Além do mais, Rosie havia desposado recentemente (e, por alguma razão, adorava de forma irritante) um irlandês corpulento que não fazia nenhum esforço para esconder o fato de que era uma pessoa muito forte e possivelmente mal-humorada. Embora eu não tivesse dúvida de que poderia enfrentá-lo em minha mocidade, a triste realidade é que a minha mocidade já havia ficado para trás… um pouquinho para trás.

Assim, foi com uma certa relutância que aceitei a tendência de Rosie de me confundir com uma amiga intima do mesmo sexo e faixa etária e me fazer objeto de suas confidencias infantis.

Não que eu a culpe, compreenda. Minha dignidade natural, e o fato de que minha figura altiva faz as pessoas se lembrarem de um imperador romano, automaticamente atraem as jovens mais belas para minha pessoa. Entretanto, eu nunca havia permitido que as coisas fossem longe demais. Sempre me conservava a uma distância respeitável de Rosie, pois não queria que alguma intriga chegasse aos ouvidos do indubitavelmente forte e possivelmente mal-humorado Kevin O’Donnell.

- Oh, George – disse Rosie um dia, batendo palmas com aquelas lindas mãozinhas -o meu Kevin é mesmo um amor… sabe o que ele faz?

- Acho que você não devia… – comecei, cautelosamente, sem saber que tipo de revelação indiscreta ela estava para me fazer.

Rosie não estava nem me ouvindo.

- Ele franze o nariz, pisca o olho e sorri de um jeito tão gostoso… é como se o mundo inteiro se iluminasse. Oh, se ao menos eu tivesse um retrato dele quando faz isso! Já tentei tirar um, mas não saiu direito.

- Por que não se contenta com o original, minha cara?

A moça hesitou por um momento e depois disse, com um rubor cativante nas faces:

- Acontece que ele não é sempre assim. Kevin tem um emprego muito duro no aeroporto e às vezes chega em casa exausto. Nesses dias, se aborrece com qualquer coisa. Chega a implicar comigo. Se pelo menos eu tivesse uma fotografia dele, como realmente é, isso me serviria de consolo. Seria tão bom… – lamentou-se, com os olhos úmidos.

Devo admitir que senti vontade de lhe contar a respeito de Azazel (é assim que eu o chamo, porque me recuso a usar aquela que, segundo ele, é a tradução do seu nome verdadeiro) e lhe explicar o que ele poderia fazer por Rosie.

Entretanto, como sabe muito bem, sou uma pessoa extremamente discreta. Até agora, não consigo entender como foi que você descobriu que sou amigo de um demônio.

Além disso, foi fácil para mim resistir ao impulso, pois sou um homem prático, realista, avesso a sentimentalismos piegas. Admito que meu coração tem um fraco por mocinhas indefesas, contanto que sejam radiantemente belas (no bom sentido, é claro… quase sempre). E me ocorreu que, na verdade, eu podia muito bem ajudá-la sem mencionar Azazel. Não que ela fosse duvidar de mim, é claro, porque sou um homem cujas palavras merecem crédito, a não ser de tipos psicóticos como você.

Levei o problema a Azazel, que não se mostrou nem um pouco satisfeito.

- Você só me pede coisas abstratas – queixou-se.

- Nada disso! – protestei. – O que estou lhe pedindo é uma simples fotografia. Tudo que tem a fazer é materializá-la.

- Oh, isso é tudo que tenho a fazer? Se é tão simples assim, por que você não faz? Imagino que conheça o princípio de equivalência entre massa e energia.

- Só uma fotografia!

- É, mas com uma expressão que você é incapaz de definir ou descrever.

- Nunca o vi olhar para mim do jeito como olha para a esposa, é claro. Mas tenho uma fé infinita na sua capacidade.

Eu estava certo de que conseguiria dobrá-lo com um pouco de adulação. Azazel disse, de cara feia:

- Você vai ter de tirar a fotografia.

- Mas eu não vou conseguir a expressão…

- Não será necessário. Posso cuidar disso, mas será muito mais fácil se dispuser de um objeto material para focalizar a abstração. Uma fotografia, em suma. Uma fotografia, ainda que muito mal tirada, como provavelmente a que você vai me dar. E só me comprometo a fazer uma cópia. Não vou me arriscar a sofrer uma distensão do músculo subjuntivo só para atender a você ou a qualquer outro cabeça de alfinete deste planeta.

Sabe como é… acho que Azazel diz essas coisas para se sentir importante e valorizar o que faz por mim.

Encontrei-me com os O’Donnell no domingo seguinte, quando voltavam da missa. (Na verdade, estava à espera deles.) Não se incomodaram que eu tirasse um retrato deles em seus trajes dominicais. Rosie parecia muito alegre; Kevin, um pouco taciturno. Depois, da maneira mais casual possível, tirei uma fotografia do rosto do rapaz. Ele não estava sorrindo, nem franzindo o nariz, ou fazendo o que quer que fazia que Rosie achava tão atraente, mas achei que não tinha importância. Eu não sabia nem mesmo se a câmera estava focalizada corretamente. Afinal, não tenho muita experiência como fotógrafo.

Em seguida, visitei um amigo que adora fotografia. Ele revelou as duas fotos e fez uma ampliação do rosto de Kevin,

Na verdade, ele me atendeu de má vontade, resmungando que estava muito ocupado, mas não lhe dei atenção. Afinal, que importância poderiam ter suas tolas atividades em comparação com as questões transcendentais que me afligiam? Sempre fico surpreso com o número de pessoas que não compreendem esta simples verdade.

Depois de fazer a ampliação, porém, meu amigo mudou inteiramente de atitude. Ficou olhando para ela e disse, em um tom que só posso caracterizar como ofensivo;

- Não me diga que você conseguiu tirar uma foto como esta!

- Por que não? – disse eu, estendendo a mão para pegá-la.

Ele, porém, não parecia disposto a entregar a fotografia.

- Você vai querer mais cópias – declarou.

- Não, não vou – disse, olhando por cima do ombro.

Era uma fotografia extremamente nítida, em cores vivas.

Kevin O’Donnell estava sorrindo, embora eu não me lembrasse daquele sorriso no momento em que tirara a foto. Parecia alegre e simpático, mas para mim não fazia a menor diferença. Talvez uma mulher, ou um fotógrafo como o meu amigo (que, para ser franco, não era nenhum modelo de masculinidade) pudesse ver mais alguma coisa na foto.

- Então só mais uma… para mim – disse ele.

- Não – repeti, com firmeza, ao mesmo tempo que lhe arrancava o retrato das mãos. – £ o negativo, por favor. Pode ficar com a outra fotografia… a do casal.

- Essa não me interessa – disse, em tom petulante.

Quando saí, ele parecia muito desapontado.

Coloquei a fotografia em um porta-retratos, coloquei o porta-retratos sobre a lareira e recuei para apreciar. O rosto do rapaz tinha, realmente, uma expressão bastante jovial. Azazel tinha feito um bom trabalho.

                Fiquei imaginando qual seria a reação de Rosie. Telefonei para ela e pedi-lhe para passar na minha casa. Acontece que ela tinha algumas compras a fazer, mas se eu pudesse esperá-la mais ou menos uma hora… uma hora…

Eu podia e esperei. Eu havia embrulhado a foto para presente e entreguei-a a ela sem dizer uma palavra.

- Ei! – exclamou, enquanto abria o embrulho. – Que ideia foi essa? Não é meu aniversário nem… – Mas nessa hora ela viu o que era e interrompeu o que estava dizendo. Arregalou os olhos e começou a respirar mais depressa. Afinal, murmurou: – Minha nossa! – Olhou para mim – Você tirou esse retrato no domingo?

Fiz que sim com a cabeça.

- Está simplesmente perfeito. Oh, Kevin saiu tão bem! Era essa a expressão que eu queria captar! Por favor, posso ficar com ele?

- Claro. É todo seu – disse, com simplicidade.

Ela se pendurou no meu pescoço e me beijou nos lábios. Para uma pessoa como eu, que detesta sentimentalismos, é claro que foi constrangedor; além disso, mais tarde tive de enxugar o bigode. Mas eu sabia que era a maneira que Rosie encontrara para demonstrar sua gratidão, de modo que nada fiz para impedi-la.

Depois disso, passei uma semana sem vê-la.

Uma semana depois, encontrei-me com Rosie na porta do açougue. Teria sido uma indelicadeza de minha parte não me oferecer para carregar suas compras. Naturalmente, imaginei se isso significaria outro beijo de agradecimento e tomei a decisão de não recusar para não ofender a pobrezinha. Entretanto, ela parecia um pouco triste.

- Como vai a fotografia? – perguntei, com medo de haver desbotado.

Ela imediatamente se animou.

- Perfeita! Coloquei-a em cima da cômoda, em um ângulo tal que posso vê-la quando estou sentada à mesa para jantar. Seus olhos me veem de soslaio, de um jeito maroto,  o nariz está franzido com aquele jeitinho que só o Kevin é capaz de fazer. Parece que está vivo! Minhas amigas não tiram os olhos dele. Acho que vou escondê-la quando elas me visitarem, antes que alguma delas a roube.

- Você deve tomar cuidado é para que não roubem o seu marido – disse eu, brincando.

A expressão de tristeza voltou aos olhos de Rosie. Ela sacudiu a cabeça e disse:

- Acho que não há perigo. Resolvi tentar outra abordagem.

- O que Kevin achou da foto?

- Ele não disse uma palavra. Nem uma palavra. Nem mesmo sei se a viu.

- Por que não lhe mostra o retrato e pergunta o que acha?

Ela se manteve em silêncio enquanto eu me arrastava a seu lado por meio quarteirão, carregando aquela enorme sacola de compras e imaginando se, além de pegar no pesado, ela também estava esperando que eu lhe desse um beijo.

- Na verdade – disse Rosie, de repente -, ele está passando por uma fase de muita tensão no trabalho, por isso, acho que não seria uma boa ideia. Ele chega em casa tarde e mal fala comigo. Mas não tem importância. Você sabe como são os homens – acrescentou, tentando sorrir sem muito sucesso.

Tínhamos chegado ao edifício onde ela morava e passei-lhe a sacola. Ela me disse, ao se despedir:

- Mais uma vez, muito obrigada pela fotografia! É linda!

Entrou no edifício. Não havia pedido um beijo, e eu estava tão distraído que só me dei conta do fato quando estava a meio caminho de casa e me pareceu tolice voltar lá simplesmente para não desapontá-la.

Mais dez dias se passaram. Uma manhã, ela me telefonou. Será que eu podia ir almoçar na sua casa? Eu disse para ela que não ficaria bem. O que os vizinhos iriam pensar?

- Ora, que bobagem! Você é tão velho que… quero dizer, você é um velho amigo. Ninguém jamais pensaria… além do mais, preciso dos seus conselhos.

Quando ela disse isso, tive a impressão de que estava soluçando.

Bem, você sabe que sou um cavalheiro, de modo que na hora do almoço lá estava eu naquele pequeno e aprazível apartamento. Rosie havia preparado sanduíches de queijo e presunto e fatias de torta de maçã, e a fotografia estava em cima da cômoda, exatamente como ela dissera.

Rosie me apertou a mão e não fez nenhuma menção de me beijar, o que teria me deixado aliviado se não estivesse tão preocupado com sua aparência. Ela estava positivamente transtornada. Comi metade de um sanduíche esperando que dissesse alguma coisa. Quando vi que não eslava disposta a falar, decidi perguntar-lhe diretamente o que a deixara tão aborrecida.

- Foi Kevin? – perguntei, só para confirmar.

Ela fez que sim com a cabeça e começou a chorar sem parar. Dei-lhe um tapinha na mão e perguntei-me se isso seria suficiente para consolá-la. Abracei-a com carinho, e ela finalmente disse:

- Acho que ele vai perder o emprego.

- Não diga bobagens. Por quê?

- Ele anda tão nervoso! Não só aqui em casa, mas no trabalho também, ao que parece. Há séculos que não o vejo sorrir. Não me lembro da última vez que me beijou ou me disse uma palavra gentil. Está sempre brigando com todo mundo, o tempo todo. Não quer me dizer o que há de errado e fica danado quando pergunto. Um amigo nosso, que trabalha no aeroporto com Kevin, telefonou ontem para mim. Disse que Kevin está se comportando de uma forma tão estranha no trabalho que seus superiores já começaram a notar. Tenho certeza de que se continuar assim vai ser despedido, mas que posso fazer!

Eu estava esperando alguma coisa parecida desde o nosso último encontro, e sabia que era melhor dizer a verdade… Azazel que se danasse. Pigarreei.

- Rosie… a fotografia…

- Eu sei, eu sei – disse ela, pegando a fotografia e apertando-a contra os seios. – É ela que me dá ânimo para continuar a viver. Este é o verdadeiro Kevin, e sempre o terei, sempre, independente do que acontecer. – Ela começou a soluçar.

Foi muito difícil para mim dizer o que tinha de ser dito, mas não havia outra saída.

- Você não entende, Rosie – comecei. – O problema é justamente a fotografia. Tenho certeza. Toda essa simpatia, toda essa alegria de viver, tinham de vir de algum lugar. Foram tiradas do próprio Kevin. Você não entende?

Rosie parou de chorar.

- Do que é que você está falando! Uma fotografia é apenas a impressão que a luz deixa num filme!

- Claro, claro, mas no caso desta fotografia… – Desisti. Eu conhecia as limitações de Azazel. Ele não podia ter criado a mágica da fotografia a partir do nada, mas seria difícil explicar a Rosie a lei da conservação da alegria.

- Vamos colocar a coisa deste jeito. Enquanto essa fotografia continuar aqui, Kevin continuará infeliz, nervoso e mal-humorado.

- Mas é claro que ela vai continuar aqui – disse Rosie, colocando a foto de volta no lugar. – Não entendo como você pode dizer coisas desagradáveis de um objeto tão lindo… Sabe de uma coisa? Vou fazer um café para nós.

Ela foi para a cozinha, e dei-me conta de que jamais a convenceria a desfazer-se do retrato. Fiz a única coisa que, nas circunstâncias, me restava. Afinal de contas, a fotografia tinha sido tirada por mim. Sentia-me responsável pelas suas propriedades maléficas. Peguei o porta-retratos, removi rapidamente a fotografia, rasguei-a em dois pedaços… quatro… oito… dezesseis, e guardei no bolso os pedaços de papel.

Nesse momento, o telefone tocou e Rosie entrou na sala para atender. Coloquei o porta-retratos de volta no lugar. Sentei-me e esperei.

Ouvi a voz de Rosie, radiante.

- Oh, Kevin, que maravilha! Estou tão contente! Mas por que você não me disse? Nunca mais faça isso comigo!

Aproximou-se de mim, com um sorriso de felicidade no rostinho bonito.

- Sabe o que meu marido fez? Ele estava com uma pedra no rim há quase três semanas. Consultou inclusive um médico. Estava sofrendo dores terríveis, talvez tivesse de ser operado, e não me contou nada! Disse que não queria me deixar preocupada. Que tolo! Não admira que estivesse tão nervoso e mal-humorado. Nem ocorreu a ele que procedendo assim me deixaria muito mais preocupada do que se me contasse tudo desde o início. Francamente! Os homens não têm jeito mesmo!

- Mas por que agora você está tão alegre?

- Porque ele eliminou a pedra. Isso aconteceu há alguns minutos e a primeira coisa que Kevin fez foi ligar para mim, o que foi muita gentileza da parte dele… já era tempo. Parecia tão feliz e animado! Era como se tivesse voltado a ser o velho Kevin. Era como se eu estivesse falando com o Kevin da fotografia, que… – Interrompeu o que estava dizendo e gritou: – Onde está a fotografia?

Eu estava de pé, preparando-me para ir embora. Antes de chegar à porta, disse para ela;

- Eu a rasguei. Foi por isso que ele expeliu a pedra. Caso contrário…

- Você rasgou aquele retrato? Seu…

Abri a porta e saí correndo antes que ela terminasse a frase. Não esperei o elevador, mas desci as escadas de dois em dois degraus, ouvindo ao longe o som dos seus gritos.

Quando cheguei em casa, queimei os pedaços da fotografia.

Nunca mais a vi. Pelo que me contaram, Kevin tem sido um marido exemplar e os dois são muito felizes juntos, mas a única carta que recebi de Rosie (sete páginas em letra miúda) deixou claro que ela achava que o cálculo renal era uma explicação mais do que suficiente para o mau humor de Kevin e que a sua chegada e partida em perfeito sincronismo com a fotografia não passava de simples coincidência.

Ela fazia algumas ameaças impensadas contra minha vida e, em particular, contra certas partes do meu corpo, fazendo uso de palavras e frases que eu jamais suspeitara de que fizessem parte do vocabulário dela.

E eu suponho que jamais me beijará de novo, o que me traz, por uma razão que não sei explicar bem, um certo sentimento de frustração.

Projeto Apparere (Coletânea Lendas Urbanas) Prazo: 12 de Abril


Queremos convidar você e seus amigos a participarem de nossa Coletânea Lendas Urbanas (Tema sugerido por: Rubens Teles de Faria e Vagner Luiz dos Santos Pereira).

As inscrições, que já estão abertas a algum tempo, podem ser feitas até o dia 12 de Abril. Veja mais informações abaixo!

Para esta Coletânea buscamos textos que falem de Lendas Urbanas que envolvam situações e personagens que habitam nossa imaginação e criam um mundo sobrenatural de fantasias, mistério, suspense, terror, etc.

Os textos poderão ser de qualquer gênero (Poesia, Cordel, Trova, Haikai, Conto, Crônica, Roteiro, etc.), pois o objetivo é termos uma obra “monotemática e multiestilo”.

Conheça todos os detalhes no link https://bit.ly/394ImFC

Importante lembrar que sua participação é Gratuita.

Após recebermos os Textos, faremos uma seleção/avaliação dos melhores e publicaremos um livro com eles. Essa Coletânea ficará à venda na Loja Online da PerSe, com impressão sob demanda, para quem quiser adquiri-la.

Como dissemos sua participação não terá nenhum custo!

Você encontra todos os detalhes para sua inscrição nos links abaixo:

1) Quero enviar meu texto: https://bit.ly/394ImFC​

Venha nos aterrorizar com sua Lenda Urbana. Inscreva-se já!

Forte abraço,
Equipe Apparere
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Regulamento Coletânea Lendas Urbanas

Para esta Coletânea buscamos textos de que falem de Lendas Urbanas que envolvam situações e personagens que habitam nossa imaginação e criam um mundo sobrenatural de fantasias, mistério, suspense, terror, etc.

Os textos poderão ser de qualquer gênero (Poesia, Cordel, Trova, Haikai, Conto, Crônica, Roteiro, etc.), pois o objetivo é termos uma obra “monotemática e multiestilo”.

OBJETIVO:

Estimular a produção literária brasileira, valorizar novos talentos e dar visibilidade aos Escritores, Poetas, Contistas, Cronistas e etc.

Considerando que a participação é Gratuita, objetivamos ter uma grande quantidade de inscrições de modo a podermos fazer uma seleção de obras com altíssima qualidade.

INSCRIÇÕES:

- As inscrições deverão ser feitas única e exclusivamente através do preenchimento do formulário, na página https://bit.ly/394ImFC

- Veja no Cronograma abaixo a data limite para as inscrições.

REGULAMENTO DE PARTICIPAÇÃO (QUEM E COMO PARTICIPAR):

- Poderão participar Escritores, Poetas, Contistas e Cronistas maiores de 18 anos de qualquer nacionalidade, residentes no Brasil ou no exterior com documentação brasileira, e seus trabalhos deverão ser obrigatoriamente escritos em língua portuguesa (o que não impede o uso de termos estrangeiros no texto).

- Os participantes farão seus cadastrados no formulário de inscrição.

- Autor deverá usar seu nome legítimo (verdadeiro) no cadastro, entretanto, se desejar, poderá utilizar seu nome artístico ou pseudônimo na publicação da Coletânea, para isso deverá colocá-lo junto ao texto enviado.

- Cada participante poderá inscrever uma única Obra por Coletânea, podendo participar de outras Coletâneas.

- A temática da Obras deverá estar em linha com o tema da Coletânea com o objetivo acima definido, sendo que a criatividade e imaginação do escritor darão o toque e estilo ao trabalho.

- Não há exigência de que a Obra (poesia, conto, crônica, etc.) seja inédita, podendo já ter sido publicada, exceto em outra Coletânea do Projeto Apparere.

- É de inteira responsabilidade do Autor a correção ortográfica/revisão do texto ou textos enviados para esta Coletânea, sendo este inclusive um dos critérios de seleção. Desta forma não será feita nova revisão do texto.

- As Obras (poesia, conto, crônica, etc.) deverão conter título, sendo que a não observância dessa exigência excluirá a Obra da avaliação.

- As obras inscritas serão analisadas e selecionadas mediante avaliação de profissionais nomeados pelo Projeto Apparere, cujas decisões serão soberanas e irrecorríveis.

- O envio do texto será feito única e exclusivamente através formulário na página https://bit.ly/394ImFC

- A obra deverá estar em arquivo Word(.doc ou .docx) fonte Times New Roman ou Arial, tamanho 12, com espaçamento simples e ter no máximo 5 (cinco) páginas padrão do Word (A4).

CUSTOS DE PARTICIPAÇÃO:

- A participação nesta Coletânea não ensejará em nenhum custo aos participantes, portanto será Gratuita.

- Também não há nenhuma obrigatoriedade de aquisição nem de exemplares e nem de serviços oferecidos pela Apparere e/ou pela PerSe.

DIVULGAÇÃO E LANÇAMENTO DA COLETÂNEA:

- O Lançamento da Coletânea será Online, com uma data para início das vendas dos livros.

- Antes do Lançamento será feita campanha de divulgação, contendo:

    . E-mail Marketing para a Base de clientes da Apparere e da PerSe.
    . Banners e nosso site.
    . Divulgação através de nossas Redes Sociais.
    . Assessoria de Imprensa.
    . Envio de Material de Divulgação aos Participantes para que esses divulguem em suas Redes Sociais e através de e-mail aos conhecidos.

DIREITOS AUTORAIS:

- Não haverá cessão de Direitos Autorais, ou seja, os trabalhos continuarão pertencendo a seus autores, entretanto os Escritores/Autores/Poetas autorizam a comercialização de sua obra através da Coletânea, abdicando de qualquer remuneração sobre sua obra.

- Os Escritores/Autores/Poetas participantes responderão legalmente e individualmente sobre plágio, publicação não autorizada, calúnia, difamação e não autoria, isentando a PerSe e o Projeto Apparere de qualquer responsabilidade sobre o conteúdo enviado para a Coletânea.

- É de total responsabilidade dos participantes a veracidade dos dados fornecidos à organização.

- Todos os participantes de antemão ficam cientes e dão permissão e autorização para a publicação e comercialização de sua Obra (poesia, conto, crônica, etc.), e a veiculação na mídia de seus nomes, imagens e textos, em sites, pela PerSe e pela Apparere, desde que dentro do contexto das Coletâneas do Projeto Apparere e para benefício da maior visibilidade da obra e seu alcance junto ao leitor.

SOBRE AS CARACTERÍSTICAS E AS VENDAS DOS LIVROS:

- A Coletânea será composta dos textos selecionados e de minibiografia dos participantes.

- Para a Capa da Coletânea faremos um concurso com designers que desejarem participar, e quem escolherá a capa da Coletânea serão os Autores que estiverem participando.

- Esta será impressa em Livro com as seguintes características: Brochura Formato 14x21; Miolo em Papel Polem 80g, impresso em uma cor; Capa Cartão 250g com orelhas impressa a 4 cores e laminação brilho/fosco.

- A Comercialização do livro impresso da Coletânea se dará através da Loja Online da Perse.

- Os participantes poderão adquirir os livros impressos por valor sempre inferior ao Preço de Venda da Loja Online, desde que em volume mínimo de 10 exemplares. Para isso deverá solicitar orçamento, através do e-mail do Projeto.

- Os participantes poderão adquirir os livros impressos por valor sempre inferior ao Preço de Venda da Loja Online, desde que em volume mínimo de 10 exemplares. Para isso deverá solicitar orçamento, através do e-mail do Projeto.

- Os participantes poderão adquirir os livros impressos por valor sempre inferior ao Preço de Venda da Loja Online posteriormente divulgado.

- A Comercialização da Coletânea também será feita no formato eBook (PDF e ePub) através da Loja OnLine da PerSe e também através da Plataforma de Terceiros parceiros da PerSe

- O livro impresso da Coletânea poderá ser colocado em comercialização nas Feiras e Bienais, em estande da própria PerSe, quando esta vier a participar.

- O livro terá registro no ISBN.

CRONOGRAMA GERAL DA COLETÂNEA:

- Final das inscrições: 12/04/2021

- Divulgação aos selecionados: 29/04/2021

- Data de Lançamento e Início das Vendas: 14/05/2021

Observações Gerais:

- Dúvidas relacionadas a esta Coletânea e seu regulamento poderão ser enviados para o e-mail: apparere@perse.com.br

- Todos os contatos entre o Projeto Apparere e os Participantes serão realizados através de e-mail. Portanto os participantes devem ficar atentos.

- Todas as dúvidas e casos omissos neste regulamento serão analisados por uma equipe da PerSe e do Projeto Apparere, e sua decisão será irrecorrível.

- O Projeto Apparere, reserva-se o direito de alterar qualquer item desta Coletânea, bem como interrompê-la, se necessário for, fazendo a comunicação expressa para os participantes.

- Não é permitida a participação nas Coletâneas de funcionários da PerSe e do Projeto Apparere.

- A participação nesta Coletânea implica na aceitação total e irrestrita de todos os itens deste regulamento.

- As obras não selecionadas para a Coletânea serão destruídas e apagadas das bases de dados do Projeto Apparere, para fins de segurança.

terça-feira, 23 de março de 2021

Adega de Versos 6: A. A. De Assis

 


Lima Barreto (Uma Academia de Roça)

Na botica do Segadas — Farmácia Esperança — que pompeava a sua enorme tabuleta, na principal rua de Itaçaraí, cidade do estado de..., cabeça da respectiva comarca, reuniam-se todas as tardes um grupo seleto dos habitantes do lugarejo, para discutir letras, filosofia e artes.

Era esse grupo formado das seguinte pessoas: doutor Aristogen Tebano das Verdades, promotor público; doutor Joaquim Petronilho, médico clínico na comarca; Sebastião Canindé, sacristão da matriz; e o doutor Francisco Carlos Kauffman, austríaco e alveitar de uma grande fazenda de criação nos arredores. Dele, também fazia parte o proprietário da botica — o Segadas.

O espanhol Santiago Ximénez, principal barbeiro da localidade, proprietário do Salão Verdun, aparecia, às vezes, na tertúlia; recitava um pouco de Campoamor ou citava Escrich; mas despedia-se logo, a fim de ir para o botequim do Cunha, onde podia unir o útil ao agradável, isto é, juntar o parati ou a genebra ao poeta de sua paixão — Campoamor — ou ao romancista de sua admiração — Pérez Escrich. Na botica, não havia disso e a sua literatura necessitava de um acompanhamento de beberiques.

O presidente do grupo era espontaneamente o promotor que sempre tinha versos a recitar e questões literárias a propor. A bem querida dele era indagar se mais valia a forma que o fundo ou vice-versa; inclinava-se pelo último, por isso gostava muito de Casimiro de Abreu e de Fagundes Varela.

O doutor Petronilho não tinha opinião segura sobre o caso, tanto mais que, a não ser Bilac, ele não suportava outro poeta; entretanto, vivia possuído de particular admiração por Aristogen e a sua versalhada desenxabida. Coisas...

Sebastião Canindé era, pela forma, parnasiano da gema; mas os versos que publicava no jornal da localidade eram horrivelmente errados e rimados a martelo; eram piores do que os de Aristogen. Tinha as charadas por especialidade.

O austríaco não sabia nada dessas coisas. Lera os poetas de sua pátria, alguns alemães e italianos, a Bíblia, Shakespeare e o Dom Quixote.

Não percebia nada dessa história de épocas e escolas literárias. Ia à reunião para distrair-se.

Um belo dia, Aristogen lembrou aos companheiros:

— Vamos fundar uma Academia de Letras?

Canindé indagou:

— Daqui, do município?

— Sim, respondeu Aristogen. Vamos?

O doutor Petronilho observou:

— Quantos membros?

Aristogen acudiu logo:

— Quarenta, por certo!

O doutor Kauffman refletiu:

— Oh! Eu acho muito.

Aristogen objetou:

— Muito! Não há tal! Há, além dos residentes aqui nascidos ou não no lugar, muito filho do município ilustre que anda por aí. Olhe: o doutor Penido Veiga, nosso representante na Câmara Federal, é um fino intelectual; pode, portanto, fazer parte dela. O tenente Barnabé, que aqui nasceu, acaba de fazer com brilho o curso de aviação; pode também fazer parte. O Jesuíno, filho do Inácio, ali do "armazém", vive em destaque no tribunal de contas, para onde entrou depois de um concurso brilhante: está naturalmente indicado a ser um dos membros. E, assim, muitos outros.

Com sujeitos portadores de semelhantes títulos literários, Aristogen organizou a sua academia de letras de quarenta membros, porque ela não podia ficar por baixo das outras, inclusive a brasileira, tendo menos imortais que elas.

Veio o dia da instalação solene que, em falta de local mais adequado, teve lugar na barraca de lona do circo de cavalinhos que trabalhava na cidade, por aquela ocasião.

Os acadêmicos presentes, inclusive o barbeiro Ximénez e o austríaco Kauffman, que eram do número deles, sentaram-se ao redor de uma longa mesa, que fora colocada no centro do picadeiro.

Os convidados especiais tomaram lugar nas cadeiras, arrumadas na linha da circunferência que fechava o circulo das acrobacias, peloticas e correrias de cavalos. As arquibancadas, para o povo miúdo, entrada franca.

Uma charanga, a Banda Flor das Dores de Nossa Senhora, tocava à entrada da barraca, dobrados estridentes e polcas chorosas.

Aristogen tomou a presidência, tendo ao lado direito o presidente da câmara, coronel Manuel Pafúncio; e, à esquerda, o secretário geral, o sacristão Canindé.

Depois de lido o expediente, começou a pronunciar o seu discurso em linguagem castigada, porque, se não o era no verso, na prosa ele era parnasiano e clássico.

Começou:

— Senhoras: Após longo decurso de tempo, lamentavelmente riçado por dificuldades, impedimentos, estorvos grandes, que adversaram a instituição definitiva desta Academia — é possível, afinal, realizar o ato de posse de sua diretoria, e eu procurarei salientar a determinante fundamental deste Instituto.

Logo neste período, o doutor Petronilho observou baixinho ao austríaco:

— É castiço. Fala que nem o Aluísio. Não achas?

O austríaco respondeu em voz baixa também:

— Oh! Eu não sape essas coisas.

Aristogen continuou:

— Basta que, à fé sincera, eu vo-lo afirme: há, dentre os eleitos para esta Egrégia Companhia, os que desalentaram em meio da jornada; há os que se deixaram empolgar de tanta vaidade que já se sentem sobrelevados aos que lhes foram pares na eleição; há os que do alto do seu valor, gozando a convicção própria de serem olímpicos, supremos, sorriram, num sorriso complacente de superior condescendência, aos pigmeus que lhes buscaram a honra eminente do convívio. E, pois, urgente, inadiável detergir esta Academia.

Petronilho, ainda cochichando, confidenciou aos ouvidos do alemão:

— Não te dizia? É mais que o Aluisio; é o próprio Rui.

A assistência estava embasbacada com fraseado tão bonito, que, na sua maioria, ela mal compreendia.

Chegava ao final com este período:

— Se procedermos concorde ao padrão que ora vos proponho, embora fosse ele discutido às rebatinhas, estou certo que ganharão timbre de verdade as palavras refregentes de Canindé, de Barnabé, de Kauffman e outros, quando, d'alma inspirada, anteviram no apogeu, esta Academia, qual nem eu quisera!

Não teve tempo de sentar-se o orador, porque, no exato momento em que acabava a sua oração, os cavalos do circo, livrando-se das prisões que os subjugavam, invadiram a arena em que estavam os acadêmicos, e os afugentaram a todos eles, unicamente por ação de presença.

Nunca mais a Academia de Letras de Itaçaraí se reuniu.

Fonte:
Lima Barreto. Histórias e sonhos. Belém/PA: Unama. 
Publicado originalmente em 1920.

Alvitres do Prof. Renato Alves – 2

10. 
A Trova e a  tecnologia:

Evidentemente, como em todos os gêneros, o vocabulário usado pelo trovador vai, aos poucos, refletindo a realidade da vida em cada época:
 
Teu beijo, pela internet,
vem sempre com tal calor,
que qualquer dia derrete
meu pobre computador...
A. A. de Assis

 = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

11. 
Eis o roteiro perfeito para se chegar ao coração da trovadora:
    
 Se a distância, por maldade,
tua presença me furta,
pelo atalho da saudade
torno a distância mais curta!
Maria Nascimento

= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
 
12. 
Já viu uma trova construída só com substantivos?

Pois veja esta de Domingos Freire Cardoso, de Ílhavo (Portugal),vencedora no IV Concurso Literário Cidade de Maringá – Tema: ROÇA
 
Roça: mata, fogo, chão,
força, braço, homem, dor;
Plantas, flores, frutos, pão,
terra, vida, infância, amor!!!…
Domingos Freire Cardoso

= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =   

13. 
Eis um belo exemplo de rima rica nos 1º e 3º versos  onde  se usaram  palavras de formas  iguais,  mas  de  sentido  e classes  diferentes (substantivo e verbo)                       
    
 Se abusas das tuas saias,
dos decotes, dos perfumes,
não posso impedir que saias,
mas eu morro de ciúmes!
Elisabeth Souza Cruz

= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
 
14. 
Trova com suíte:

Durante algum tempo fizemos na UBT-Rio um concurso chamado "Uma trova pra responder" que consistia em construir uma trova-resposta para uma  pergunta formulada em outra  trova. Já o site  “falando de trova” lançou, certa vez, um desafio semelhante: construir uma suite (continuação) para uma trova apresentada, do que resultou o seguinte:
 
Trova original

Que pena: o sol – ato falho –
ao lhe ofertar seu calor,
matou a gota de orvalho
que brincava sobre a flor!...
José Ouverney

    
Suíte
 
Porém, antes de matá-la
com seu fulgor deslumbrante,
houve por bem transformá-la,
com sua luz, em diamante!         
Renato Alves


15.
“Tu és pó e ao pó retornarás”:   Nesta belíssima trova de Alonso Rocha, uma reflexão filosófica sobre o Homem, sua importância e seu destino. Um exercício de humildade para ser sempre lembrado!
 
Quem se julga eterno herdeiro
de um mundo farto e bizarro,
esquece que Deus – o Oleiro –
cobra o retorno do barro.
Alonso Rocha

 
16.
Às vezes, a beleza da trova está baseada  num achado que nos leva a reflexões filosóficas, às vezes,  a um sentimento lírico etc  etc. Esta trova, porém, nos remete, primeiro,  a uma imagem física de grande beleza plástica, para depois nos fazer sentir  a profundidade afetiva que encerra este gostoso abraço.   
    
Meus netos têm me passado
com seu abraço a ilusão
que sou um coqueiro enfeitado
de orquídeas em floração.
Wandira Fagundes Queiroz

 
17.        
Na pequenina trova, às vezes basta um também pequenino detalhe para valorizar o estilo e a linguagem. Vejam como o “foi não...”, construção típica do linguajar regional, no final do 2º verso, serviu para conferir autenticidade nordestina ao que é dito, embora o autor seja mineiro de Pouso Alegre.
    
Não desprezei meu Nordeste,
desprezo, eu juro, foi não...
Foi a dureza do agreste
Que me afastou do sertão!
Alfredo de Castro

 
18.
Às vezes fico pensando se o rigor formal exigido nos concursos e jogos florais não pode nos privar de certas joias da criatividade poética na composição da trova. Reparem na beleza desta trova de rima simples que, no entanto, jamais seria premiada em concursos nos dias atuais.
 
Desconfio que a saudade
não gosta de ti, meu bem.
– Quando tu vens, ela vai...
Quando tu vais, ela vem...
Luiz Otávio

 
19.        
Esta trova apresenta três aspectos que merecem comentário:

1. É de rima simples;

2. Apresenta um “enjambement” entre os 1º e 2º versos, recurso condenado por muitos;

3. Tem uma linda metáfora para “esquecimento”!
(As ondas vão apagar o nome, assim como o trovador foi “apagado”...)
    
Gravei teu nome na areia
da praia, como castigo:
– Façam-lhe as ondas o mesmo
que tu fizeste comigo!
Corrêa Júnior

I Prêmio Literário Máquina de Contos (Prazo: 10 de abril)

REGULAMENTO


1 - OBJETO

O presente termo regula o I Prêmio Literário Máquina de Contos, organizado por Graviola Digital, que tem por objetivo selecionar 3 (três) contos literários, inéditos, de novos autores brasileiros, mediante inscrição pela plataforma online do concurso, entre os dias 15 de janeiro e 10 de abril de 2021. O concurso tem caráter cultural, com premiação pecuniária, mediante celebração de contrato de distribuição do conto vencedor.

2 - DOS PARTICIPANTES E CONDIÇÕES DE PARTICIPAÇÃO

2.1 - Poderão ser participantes somente pessoas maiores de 18 (dezoito) anos, brasileiros e capazes, que não estejam inseridos como autores(as) no mercado editorial brasileiro.

2.2 – Somente serão aceitos autores(as) que nunca tenham publicado comercialmente em qualquer mídia, eletrônica ou impressa, livros completos, admitindo autores(as) que tenham colaborado em coletâneas.

3 – INSCRIÇÕES

3.1 – As inscrições serão gratuitas e realizadas entre os dias 15 (quinze) de janeiro e 10 (dez) de abril de 2021, mediante preenchimento de formulário próprio, disponível na plataforma online do concurso: https://www.maquinadecontos.com.br/premio/index.html#

3.1.1 – O formulário de inscrição deve ser preenchido em sua integralidade e acompanhado da documentação comprobatória, quando solicitada, sob pena de indeferimento da inscrição.

3.2 – Cada participante poderá concorrer com 1 (um) conto inédito, que nunca tenha sido publicado, comercialmente ou não, em qualquer mídia, assim como participado de qualquer outro concurso nacional ou estrangeiro.

4 – DOS CONTOS


4.1 – O tema para produção do conto é livre.

4.2 – Os contos serão recebidos em formato PDF, em língua portuguesa, e deverão ter no mínimo 5 e no máximo 8 páginas na tipologia Times New Roman fonte 12, com espaçamento 1,5 entrelinhas e margens de 3cm.

4.3 - Os contos serão submetidos aos jurados sem a identificação do autor. A inclusão no arquivo PDF do conto de qualquer informação que identifique o autor provocará a desclassificação deste e do texto de sua autoria.

4.4 – Os autores(as) declaram e assumem, desde já, a autoria e a originalidade do conto inscrito, titular dos direitos patrimoniais, não representando plágio ou qualquer outra forma de violação de terceiro ou apropriação autoral indevida, assumindo inteira responsabilidade por eventuais reproduções de trabalhos de terceiros.

5 – SELEÇÃO DOS CONTOS

5.1 – Os contos inscritos serão submetidos a comissão julgadora formada por profissionais a livre escolha da Graviola Digital, identificados na página de inscrição do Prêmio Literário.

5.2 - A decisão da comissão julgadora será soberana e respeitará critérios técnicos e artísticos dos juízes, não cabendo impugnação de qualquer natureza ou espécie.

5.3 - A divulgação dos vencedores será feita pela página www.maquinadecontos.com.br/premio e nas mídias sociais em 30 de abril de 2021.

6 – PREMIAÇÃO

6.1 – Serão declarados 3 (três) contos vencedores.

6.2 - A premiação destinada aos autores dos contos vencedores será a assinatura de contrato de R$2.000,00 com a Graviola Digital para a publicação dos contos vencedores na plataforma de distribuição de contos digitais “Máquina de Contos” e suas versões.

6.3 – Uma vez declarado os contos vencedores do Prêmio, o autor participante terá o prazo improrrogável de 15 (quinze) dias corridos, a partir da comunicação para formalizar contrato, enviando foto pessoal em formato JPG e breve biografia (500 a 1.000 caracteres).

6.4 – A não observância do prazo acima estabelecido importa em renúncia a premiação, quando será declarado novo vencedor em substituição.

6.4.1 – Caso o vencedor renuncie ao prêmio ou não concorde com os termos do presente regulamento, não lhe confere o direito de conversão em dinheiro ou outra forma de premiação, bem como nenhum tipo de compensação ou indenização, independente de espécie ou natureza.

7 – DISPOSIÇÕES GERAIS

7.1 – Ao formalizar a sua inscrição, o autor participante expressa sua plena concordância com os termos do presente regulamento, declarando a veracidade das informações prestadas, assumindo a responsabilidade por omissões, divergências ou informações inverídicas.

7.2 – Não serão admitidas inscrições que estejam em desacordo com os termos do presente regulamento.

7.3 – O autor vencedor, autoriza, desde já, à Graviola Digital o direito de utilização e veiculação do título e de seu nome ou pseudônimo, tudo vinculado ao conto literário vencedor e objeto do presente regulamento, em seu portfólio comercial, por tempo indeterminado, sem que isso acarrete ônus e/ou remuneração a qualquer tempo e de qualquer espécie para as partes.

7.4 - O autor participante se declara, exclusiva e pessoalmente, responsável pelo conteúdo, autoria e originalidade de seu conto, se obrigado a ressarcir terceiros por violações de qualquer natureza ou espécie, inclusive por violação de direitos patrimoniais e de imagem de terceiros, suportando todo o ônus de eventuais demandas extrajudiciais ou judiciais, além de ressarcir a Graviola Digital nas hipóteses em que esta suportar despesas e/ou condenações, incluindo mas não se limitando ao reembolso de honorários advocatícios e custas judiciais.

7.5 – Caberá exclusivamente a Graviola Digital sanar os casos omissos e/ou lacunas não previstas neste regulamento e que sejam indispensáveis ao prosseguimento regular do concurso.

7.6 - Este documento encontra-se registrado no 6º Ofício de Registro de Títulos e Documentos do Rio de Janeiro/RJ, sob o nº 1387986.
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JURADOS

Sérgio Tavares
Crítico literário e escritor. Autor de "Cavala", vencedor do Prêmio Sesc de Literatura, e "Queda da própria altura", finalista do Prêmio Brasília de Literatura. Também foi premiado no Prêmio Fesp de Literatura. Seus contos foram traduzidos em cinco idiomas.

Tiago Velasco

Escritor, doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade e professor de cursos e oficinas de escrita criativa. Autor de "Petaluma", "Microficções" e "Prazer da carne", em 2015 foi quarto lugar no Prêmio Off Flip na categoria contos e, em 2019, foi um dos vencedores do Prêmio LER Novos Autores.

Aparecido Raimundo de Souza (Parte 37) Espírito de porco

GODOFREDO ENCONTROU, por mero acaso, o Zé Fungador, em frente a estação da Central do Brasil. Assim que viu o amigo, correu a abraça-lo efusivamente e tratou logo de lhe passar as notícias quentes do bairro onde morava.

Godofredo:
— Zé Fungador, meu velho, quanto tempo. Que bom te ver. Você não sabe da última. Nem te conto!

Zé Fungador:
—  Conte, Godô. Começou, termina...

Godofredo:
— Você mudou lá da Vila Isabel. Ainda tem interesse em saber das baixarias?

Zé Fungador:
— Sempre, claro. Manda vê. Qualé, Godô?

Godofredo:
— A loirinha Zezé do Braço Torto, esposa do policial Malfredão Tomba na Bala, lembra dela?

Zé Fungador:
— Muito. O que ela aprontou desta vez? Largou do troglodita do marido?

Godofredo:
— Qual o quê. A gororoba agora é outra.

Zé Fungador:
— Fala de uma vez.

Godofredo:
— A Zezé do Braço Torto fez um curso rapidez de adivinhações interligadas com os espíritos, com uma velha macumbeira lá pelas bandas de Cocotá, na Ilha do Governador. Está ganhando dinheiro, cara. Agora recebe uma entidade que está deixando toda a galera em polvorosa.

Zé Fungador:
— Quando estiver com ela, transmita os meus parabéns.

Godofredo:
— Com certeza, com certeza, mano. Para você ter ideia, Zé Fungador, ela está tão centrada na coisa, que ontem, meu Deus, ontem, ela fez o sobrenatural, com a qual passou a trabalhar conhecido nos meios ‘macumbáticos’ como ‘Pai Caixão Encomendado’, um mero liquidificador falar... Acredita, meu caro, um mero liquidificador?

Zé Fungador:
— Acredito.

Godofredo:
— De verdade?

Zé Fungador:
— Piamente.

Godofredo:
— Logo depois, foi a vez de um botijão de gás.

Zé Fungador:
— Credo, Godofredo. Um botijão de gás?

Godofredo:
— Sim, Eu vi e ouvi com este par de olhos verdes que a terra haverá de comer...

Zé Fungador:
— E o que o botijão trouxe à baila?

Godofredo:
— Que ia vazar do pedaço. Reclamou do fogão. Ele disse, com todas as letras, num português meio enrolado, ‘que a manguera das quatru boquinha não dexa o buracu da sua bilha em paz!'.

Zé Fungador:
— Que coisa de maluco...

Godofredo:
— E disse mais: que vai boicotar o gás, para que não chegue nos fundilhos das panelas.

Zé Fungador:
— Interessante...

Godofredo:
— Você acha isto interessante, Zé Fungador?

Zé Fungador:
— Acho. Você não?

Godofredo:
— Bem, mano, cada um pensa de um jeito. A galera lá do pedaço me mandou um Zapp, tem uns oito minutos. Pediram para eu chegar rápido. Hoje a Zezé do Braço Torto vai fazer o aspirador de pó soltar a língua. Quero estar lá pra ver. Não quer ir comigo, Fungador?

Zé Fungador:
— Fica pra próxima. Tenho um encontro em Realengo.

Godofredo:
— Não está curioso para ver o que o aspirador de pó revelará?

Zé Fungador:
— To fora, Godofredo. Ainda bem que me mudei de lá. Eita bairro danado pra galera fazer fofoca.

Godofredo:
— Não entendi.

Zé Fungador:
— Eu ficaria preocupado com a Zezé, ou com o caboclo que ela recebe, se a engraçadinha pusesse a cama de casal do quarto dela pra abrir o bico e contar o que sabe...

Godofredo:
— Por quê? Em que se baseia a sua preocupação, nesta altura do campeonato com a droga da cama da nossa amiga e ex-vizinha sua?

Zé Fungador:
— Deixa quieto...

Godofredo:
— Desembucha, mano.

Zé Fungador:
— Esquece.

Godofredo:
— Tô ligado. Você está com medo do tal Pai Caixão Encomendado que ela recebe falar pelos cotovelos. Acertei?

 Zé Fungador:
— Pirou, cara. Eu lá tenho medo de alguma entidade?

Godofredo:
— Posso ser franco, Zé Fungador? Acho que sim. Se você for lá e a Zezé der na telha de botar o espírito das profundas pra fazer a cama de casal do quarto soltar os podres, eu acho que você estaria frito, meu amigo. Frito e, logicamente, em maus lençóis. E pior: as revelações poriam, em seus calcanhares, o Malfredão Tomba na Bala. É ou não é verdade?

Zé Fungador não chegou a ouvir estas derradeiras palavras. Saiu de fininho, literalmente à francesa. Atravessou correndo a avenida movimentada e caiu ligeiro para dentro da estação superlotada.

Fonte:
Parte integrante do livro de crônicas de Aparecido Raimundo de Souza, ‘COMÉDIAS DA VIDA NA PRIVADA’ – Editora AMC-GUEDES - Rio de Janeiro. 2021. Texto enviado pelo autor.

segunda-feira, 22 de março de 2021

Carolina Ramos (Poemas Escolhidos) 9


DESTINO

Vai, Peregrino... e colhe na corola
que à beira do caminho se oferece,
o mistério da Vida, a suave esmola
do aroma que se expande e na alma cresce.
Vai Peregrino... o mundo tem surpresas!
Surpresas tantas para quem procura
Abrir a alma aos sonhos e às belezas,
de coração amante e de alma pura!
Vai, Peregrino... e o teu olhar embebe
nas lágrimas de luz que o sol derrama!
Deslumbra-te! E em teu íntimo recebe
a semente do Amor, do Amor que inflama!
Esquece a dor que mora na tua alma!
Se o mundo fere com afiado gume,
- dá-lhe em troca o desdém da tua calma!
- dá-lhe os teus versos cheios de perfume!
"Louco!"- o mundo te chama e te castiga!
E o que te dá?! - A fome e o horror da guerra!
Louco é o mundo! Que insano o mundo siga!
Dá-he o perdão e a paz que um verso encerra!

Vai em busca da tua namorada,
a vestal do infinito, a meiga Lua
mesmo após a conquista, imaculada,
que sempre foi e sempre será tua!
Vai tocar as estrelas que no espaço
trocam mensagens, meio à noite escura!
Prende o Universo inteiro em teu abraço,
com ele esbanja oceanos de ternura!
Deixa que o ouro do sonho te enriqueça;
- Velho, terás um coração menino!
Vai... que o beijo das Musas tua alma aqueça...
- Poeta, vai... e cumpre o teu Destino!
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ROSA DE SANGUE

Dom sublime, a Poesia furta ao solo
as almas simples que Deus prestigia.
E transforma um pigmeu num louro Apolo,
glorificado à luz que não pedia!

Poesia é mãe que o filho abraça e ao colo
recolhe a dor que o peito lhe crucia.
Terno traço de união de polo a polo,
é sol na treva... é luar, em pleno dia!

Poesia é amar a própria angústia! E erguer
a taça da amargura e, sem morrer,
sorve-la, gota a gota, em noite incalma!

É estigma? É carisma? Glória ou cruz?
Poesia é estranha rosa, que seduz:
- Rosa de Sangue... com perfume de Alma!
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NAUFRÁGIO

Neste oceano da vida, tumultuoso,
lancei, cheio de sonhos, um barquinho.
E ele flutuou e deslizou airoso,
vencendo os empecilhos do caminho!

Nos momentos difíceis, sem repouso,
depressa ia ampara-lo o meu carinho
e ansiosa eu via, com secreto gozo,
meus sonhos desafiando o torvelinho!

E chegaste! E de pedra era tua alma!
De papel, o barquinho... e tenso e mudo?
ficaste, quando o mar perdeu a calma!

Contra o recife, o barco soçobrou!
E os sonhos, sem guarida, ao fim de tudo,
um a um, impiedoso, o mar levou!
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ADVERTÊNCIA...
Aliança trincada...

Entre dois corações que, um dia, a vida
uniu e a Lei de Deus abençoou,
numa aliança eterna, irrefletida,
mágoa e desilusão é o que restou!

Junto à primeira lágrima sentida,
muito cedo, a ilusão se dissipou,
a lamentar a dor de ser colhida,
qual flor de sombra, à luz do sol, murchou!

Descrevo o nosso amor E que amargura
relembra-lo na mágoa de um momento!
Se acaso uma esperança ainda perdura,

salvemo-la da insídia e dos espinhos,
ou ficarão dois seres, num tormento,
unidos por dever... porém sozinhos!

Fonte:
Carolina Ramos. Destino: poesias. São Paulo: EditorAção, 2011.
Livro enviado pela poetisa.

I Concurso de Pantun do Brasil (Prazo: 31 de Março)

 


Prazo: 31 de Março de 2021 (só por e-mail)

 O Clube dos Trovadores do Seridó (CTS), com sede em Caicó-RN, fundado em 08.10.1967, conjuntamente com a União Brasileira de Trovadores (UBT), Seção Caicó-RN, lançam o I CONCURSO DE PANTUN DO BRASIL, em níveis Estadual e Nacional.

 REGULAMENTO:

 1. Pantun: forma poética de origem malaia, com característica de um jogo de rimas em cadeia. Especificamente, passamos a desenvolver o Pantun a partir de uma Trova-tema, sendo esta a regra aqui adotada;

 2. O participante deverá escrever o Pantun a partir de uma “trova tema”;

 3. O Pantun deverá possuir um “título”, de acordo com a trova tema; exemplos: Pantun do sonho feliz; Pantun do abandono; Pantun da primavera;

 4. O Pantun é formado por um conjunto de 5 trovas; sendo uma “trova tema”, da qual se originam 4 novas trovas, com todos os versos em redondilha maior, no sistema ABAB;

 5. Inicia-se o Pantun usando-se o 2ª e o 4ª versos da “trova tema”, que passarão a ser o 1º e o 3º versos da primeira nova trova; e assim, sucessivamente, até se encerrar o Pantun, fechando-se a 4ª e última trova com o 1º verso da “trova tema”;

 6. Os terceiros versos de todas as trovas não serão usados no conjunto do Pantun;

 7. Assim, a estrutura do Pantun é: Título, “trova tema” com a citação do nome do autor, seguida das quatro novas trovas, conforme o modelo anexo;

 8. O participante deverá observar o tempo em que ocorre a ação da “trova tema” (se no passado, presente ou futuro), bem como, qual é a pessoa verbal (se na 1ª, 2ª ou 3ª), e assim segui-los, para que se desenvolva o Pantun corretamente; do mesmo modo, deve-se desenvolver o Pantun com a mesma ideia da “trova tema”, sem que ela perca a sua essência;

 9. Apenas 1 (um) Pantun por concorrente;

 10. Do prazo: Impreterivelmente, até o dia 31.03.2021;

 11. Por força do agravamento da pandemia, o recebimento do material do concurso será exclusivamente virtual;

 12. Em nível Nacional, enviar para: franciscoribeiro.natal@gmail.com

Trova Tema - Nível Nacional:

Não fale, não diga nada,

aperte mais minha mão,

faça a promessa quebrada

não precisar de perdão.

(Amália Max-PR)

 

13. Em nível Estadual, enviar para: jersonbrito.pvh@gmail.com

 Trova Tema - Nível Estadual:

Irmão, não fiques tristonho

se a estrada é longa e sofrida,

porque a beleza de um sonho

vale a espera de uma vida!

(José Lucas de Barros-RN).

Caixa de Texto: I Concurso de Pantun do Brasil 

14. Da premiação: Envio de Diploma virtual para os 15 vencedores.

15. Maiores esclarecimentos pelo e-mail: profgarciacaico@gmail.com ou pelo telefone / Whatsapp (84) 99963-5685.

Caicó-RN, 22.12.2020.

 Professor Garcia

Presidente do CTS e da UBT Seção Caicó-RN


MODELO DE PANTUN:


Professor Garcia

PANTUN DO SONHO ESQUECIDO

Sempre só e abandonado,

sou de modo angustiante,

um troféu empoeirado

perdido em qualquer estante.

Eugênia Maria Rodrigues (MG)


Sou de modo angustiante,

um livro que foi tão lido,

perdido em qualquer estante,

há tanto tempo esquecido.

 

Um livro que foi tão lido,

não vê ninguém... preso e mudo,

há tanto tempo esquecido,

foi mestre de quase tudo.

 

Não vê ninguém... preso e mudo,

num silêncio que angustia,

foi mestre de quase tudo,

facho de luz que nos guia.

 

Num silêncio que angustia,

qual farol velho, apagado,

facho de luz que nos guia,

sempre só e abandonado.