terça-feira, 22 de março de 2022

Laurindo Rabelo (Estragos de Amor) Parte final

XII
Das ruínas levantado,
Vê-se o espírito surgir;
Vem com passo fatigado,
Como guerreiro cansado,
À sua sombra dormir.

XIII
Presto acorda, e então, cedendo
Da fome aos cruéis assomos,
Alguns ramos segurando,
Vai colhendo, e vai tragando
Os amargos negros pomos.

XIV
Comeu, ergueu-se, é já outro!
Foi-se do rosto a meiguice!
Do tronco um ramo quebrado
Serve ao triste de cajado —
Eis a imagem da velhice.

XV
Está tudo terminado!
Está completa a sentença!
Aos fogos sucedem gelos,
Que anunciam nos cabelos
A idade da indiferença!

XVI
Lá vai o velho mesquinho,
Lá vai desacompanhado,
O caminho da existência,
Nutrido pela exp’riência,
Ao desengano arrimado.

XVII
Só seus pés tocam a terra,
Os olhos do céu na luz,
Entregue a culto profundo,
Lá vai, fugindo do mundo,
Cair nos braços da Cruz.

XVIII
Lá expira... mas dizei-lhe —
Amor! Vereis num transporte
Como seus olhos cintilam,
Como a um tempo se aniquilam
Todas as forças da morte!!...

XIX
É que amor inexorável
Nos seus planos iracundos,
Se os mortais torna cativos,
Nem minora o mal dos vivos,
Nem respeita os moribundos.

XX
Restaura as forças da vida,
Não nos consente morrer;
Porque lá nas sepulturas
Seus tormentos e torturas
Não se pode padecer.

XXI
Envenenados farpões
Nos manda em suspiros ternos;
Cinge aos olhos mago véu,
E pelos jardins do céu
Nos encaminha ao inferno.

XXII
Fugi, humanos!... fugi
De seu veneno traidor!
Sem culto, desamparados,
Sumam-se, ao tempo votados,
Altares, templos de Amor...

Fonte:
Laurindo Rabelo. Poesias completas. Ministério Da Cultura. Fundação Biblioteca Nacional

Aparecido Raimundo de Souza (Parte 51) Reação em cadeia


O AQUILEU ERA REALMENTE um homem com agá maiúsculo. Macho até debaixo d’água. Como delegado titular da homicídios, um exemplo de policial linha dura. Queria tudo certinho e dentro dos conformes. Seus subordinados sabiam da fama, por essa razão, quando sentado em sua cadeira no amplo gabinete, ninguém brincava. Até advogado de porta de cadeia receava visitar preso nessas ocasiões. Sexta-feira passada, depois do expediente, decidiu pescar com amigos, numa cidadezinha fora do seu Estado.

Geralmente nessas pescarias rolavam muita carne no espeto, cerveja e mulheres bonitas. Até aí, tudo bem. O Aquileu não estava de serviço, nem perto de sua jurisdição, ao contrário, mais de seiscentos quilômetros o separavam da pacata Santa Gertrudes. Ademais, que mal havia sair da rotina e distrair um pouco as ideias? Como filho de Deus, gozava direitos iguais como todo ser humano mortal. Assim, passou a mão nas tralhas, tirou da garagem uma BMW vinho adquirida recentemente, ainda sem placas e com os plásticos nos bancos e ganhou mundo.

Na roda de amigos e garotas, a algazarra corria às mil maravilhas. Depois de pescar num riozinho de águas límpidas e beber todas, se embrenhou, para caçar, mato adentro, com alguns dos muitos rapazes que haviam sido convidados. No decorrer da farra, contudo, e no alvoroço que se seguiu, deixou cair, por descuido, numa espécie de clareira, todos os documentos. Daí em diante, nada restou nos bolsos que o identificasse. Pior, na história toda, é que ninguém viu a carteira rolar, nem o próprio interessado em reavê-la. Aliás, estava como os demais, fora de si e grogue. Mal conseguia parar em pé.

No domingo à noite, apesar dos companheiros insistirem para que não voltasse sozinho (afinal, passara todo o dia misturando cerveja, vinho e cachaça), Aquileu, teimoso, feito uma mula, tomou um demorado banho de cachoeira, mandou para dentro um bem nutrido e forrado prato de arroz com feijão e carne de porco e, em seguida, encarou a longa estrada de volta. Quilômetros à frente, uma blitz o fez interromper a viagem. Tinha nego armado até os dentes espalhados por todos os lados. Elementos haviam saqueado um supermercado, e levado todo o dinheiro da féria, coincidentemente com uma BMW vinho.

A Civil, e a Rodoviária fecharam o cerco. Não passava nem agulha. O que interceptou Aquileu chegou gritando:

— Pula fora, devagarinho, não faça nenhum gesto suspeito e mantenha as mãos onde eu possa vê-las.

— Sou da casa...

— Identificação?

Não havia. Somente nessa hora o Aquileu efetivamente deu conta de que deixara, ou perdera, os documentos. Absolutamente nada, ao alcance das vistas, que fizesse dele um cidadão honesto e decente.

Ainda assim, procura daqui, mexe dali, vira de um lado, futuca de outro, qual o quê. Nem os do carro, no porta-luvas, para salvar a pátria:

— O bafômetro. Tragam o bafômetro.

— Meu amigo, sou delegado de polícia.

— Identificação?

Fizeram uma vistoria minuciosa. Arrancaram tudo de dentro da BMW, inclusive uma pistola sete meia cinco, uma escopeta, duas caixas de munições e cartuchos deflagrados. Diante de tamanhas evidencias, partiram para uma geral.

Aí, nessa geral, a cobra entrou em cena e começou a fumar de verdade. Aquileu era bom de briga. Lutava, kung-fu, karatê, e capoeira, além de conhecer a fundo outros esportes violentos. Por ter recusado a assoprar o bafômetro, e por não poder provar o transporte das armas e das balas, levou um tapa no meio das ventas. Furioso, não deixou por menos. Revidou. Partiu para a desforra devolvendo o tabefe. Um esquisitão, que segurava um revolver trinta e oito, perdeu a arma e dois dentes. Outro beijou o asfalto com a testa esfolada.

Um terceiro voou longe e caiu de quatro dentro de uma valeta perto do acostamento. A confusão, de repente criou formas gigantescas. Cada um que tentava pegar à unha o Aquileu, ou ajudar os companheiros, saia com a fuça vermelha e os olhos inchados. Vendo que perdiam terreno, um dos presentes solicitou reforço pelo rádio. Pintou, na área, meia dúzia de viaturas vindas de todas as direções, sirenes ligadas e as luzes intermitentes ligadas. Um barulho infernal. Acionaram, também, o comissário do lugarejo, um velhote metido a valentão, que atendia pelo nome de Bode Chifrudo. A criatura chegou, quase no mesmo instante do pedido de socorro.

Aquileu, por mais brigão e arisco que fosse, e ainda, levando em consideração os vapores do álcool acumulado, e, exausto, de tanto dar e receber cacetadas, acabou dominado. Aliás, completamente nocauteado. Finalmente, conseguiram lhe colocar as algemas:

— Cadê o valentão? — inquiriu Bode Chifrudo.

— Tá ali, doutor.

Muito brabo e abusando do seu poder Bode Chifrudo chutou com força as costas de Aquileu:

— Então você é um delegado?

— Positivo. Seu colega. Meu nome...

— Identificação?

— Acredite, não posso provar agora, mas...

— Seus comparsas foram para onde? Que rumo tomaram? E o produto do roubo, onde esconderam? Cadê o restante das armas? Além de você, quantos mais conseguiram fugir? Desembucha de uma vez que é melhor. Lá na cadeia faço uso de uns métodos interessantes para fazer o sujeito soltar a voz. Tenho certeza que o meu amigo “delegado” —, desculpe, o doutorzinho —, particularmente, vai adorar...

Com a prisão do suspeito desfizeram a barreira. Levaram Aquileu, a BMW e as armas para a Delegacia. Na porta do prédio onde funcionava a DP, uma multidão de curiosos aguardava a chegada do comissário e do misterioso assaltante. Assim que se viu frente ao edifício, Bode Chifrudo ordenou a um agente que levasse o “delinquente” para os fundos da construção e desse um chuveiro frio no mais novo Jean-Claude Van Damme do pedaço para lhe acalmar os ânimos agitados. Em obediência, dois “canas” de olhos vermelhos e cabelos em desalinho se apresentaram para dar inicio ao tratamento vip. Esse tratamento se consistia, primeiramente, na revista corporal, ou como é conhecida, na gíria dos malandros, a “arrancada das penas do frango”.

Depois, na sequência, vinha o “banho do descarrego”, ou o jato de água fria com mangueira de bombeiro, que atirava a criatura longe. Por derradeiro, uma visita à sala especial, onde “encapuzados” faziam qualquer brutamontes soltar a língua e confessar que matou a mãe, pegou a irmã e palitou os dentes com a sogra. Nessa ordem, começaram pela camisa. Em seguida o cinto, os sapatos, o relógio, o celular, o cordão de ouro, a pulseira, até que chegou a vez da calça. Aquileu voltou a ficar endiabrado e a distribuir porradas, mesmo estando com os braços para trás, presos ao bracelete.

Todavia, apesar de fazer lamber o chão mais umas dez criaturas, seus esforços resultaram novamente em vão. Dominado, uma vez mais, por grandalhões com traços de Arnold Schwarzenegger, finalmente a jeans do delegado rolou pernas abaixo. O espanto veio junto. A comoção pegou a todos, de surpresa.

A cena que surgiu, tomou forma em rostos de aparências rudes que nunca abriram brecha para sorrisos. Olhares incrédulos seguidos de um "Oh!..." em uníssono, pipocou de canto a canto. O comissário Bode Chifrudo veio lá da recepção, onde dava entrevista à Rádio Comunitária. Tudo girava em torno de política. O prefeito, o padre, os vereadores, todos, sem distinção, se faziam presentes no átrio da delegacia.

Repórteres dos dois jornais diários, ávidos por um “furo” jornalístico, inédito naquele condado, tiveram permissão para adentrarem no recinto e fotografarem o absurdo. Um sensacionalismo chocante e bizarro que certamente aumentaria a venda dos periódicos por muitas semanas. A gargalhada vinda dos fundos da construção estrondeava apocalipticamente pelos quatro cantos e criava mais força, à medida que a notícia ia se propagando, numa velocidade incrível, de boca em boca, entre a multidão em polvorosa.

O parrudo delegado Aquileu, saradão, queimado de sol, corpo atlético e de boa aparência, no lugar da cueca, usava uma minúscula calcinha cor de rosa.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

segunda-feira, 21 de março de 2022

Edy Soares (Manuscritos (di)versos) 01: Sequidão Perene

  
Poema obtido no Facebook do poeta.

Nilto Maciel (Os Dez Dias de Raimundo)

Meu único filho viveu apenas dez dias. Cheguei do laboratório há pouco. A morte dele ocorreu ontem. Os médicos da equipe científica responsável pela experiência exigiram de mim absoluto sigilo. Eu, no entanto, não cumprirei a promessa.

Muita gente me chama de louco, mentiroso. Quase ninguém acredita na história desses dez dias. Mesmo quem viu de perto Raimundo. Mesmo quem acompanhou o seu desenvolvimento físico e mental em tão pouco tempo.

Quem foi a mãe? Não houve mãe. Ele nasceu em laboratório. Ao nascer, deram-lhe leite e me entregaram. “Leve-o para casa e cuide bem dele” – aconselhou o dr. Ângelo. “Traga-o amanhã, para avaliação.”

Entregou-me também um manual de instruções. No capítulo relativo a unhas e cabelos lia-se: Cortar unhas e cabelos, três ou quatro vezes, somente no primeiro dia. A partir daí, unhas e cabelos crescerão tão pouco que somente no último dia de vida da criatura será preciso chamar barbeiro e manicure.

Criatura é o nome dado pelos cientistas ao meu filho, o ser criado em laboratório. Deitei-o no banco do carro e corri para casa. Durante o percurso, jogou fora os panos e se pôs a pular no banco e balbuciar palavras. Coloquei-o no berço, fui tomar banho e almoçar.

Durante este tempo não parou de gritar. Ao meio-dia se arrastava pelo chão da casa. Algumas horas depois, falava sem parar, corria para lá e para cá, chutava bolas, gritava.

Pediu-me para ir à praia. Prevenido pelos médicos, havia comprado roupas e calçados de diversos tamanhos. Fomos ver o mar. Ele parecia acostumado às ondas. Nadou como um peixe. Regressamos no início da noite. Falava tudo, conversava sem parar. Vasculhou minha biblioteca e leu, em meia hora, alguns livros. Cansado, dormiu cedo. Também dormi cedo, preocupado com o rápido desenvolvimento de Raimundo.

Cedinho voltamos ao laboratório. O dr. Ângelo nos recebeu sorridente, abraçou o menino e o conduziu ao consultório. “Está muito bem” – assegurou, após os primeiros exames. “É como se tivesse dez anos de idade. Prepare-se para a adolescência, ainda hoje.

No carro, o menino olhava através do vidro para as meninas nas ruas. Ria, piscava, mandava beijos. Seria aquele meu pior dia? Chegados à casa, o garoto abriu a geladeira diversas vezes. Sentia muita fome.

Recebi um telefonema e passei quase uma hora em conversa. Dr. Ângelo me dava conselhos: saísse a passeio com o menino, viajasse para o campo. Para me libertar do médico, chamei Raimundo. Nada de resposta. Corri a casa em busca dele. Por onde andava o safadinho? Cansado de perambular pelas ruas, busquei o apoio do dr. Ângelo. Ele me deu sossego. O rapazinho andaria à cata de mocinhas. Voltasse para casa e aguardasse Raimundo.

À noite ele voltou. Ele e uma garota muito bonita. Falavam sem parar, de paixão instantânea, amor sem fim. A barba dava-lhe ares de maturidade. A mocinha parecia não perceber nada, nenhuma mudança no corpo dele. Como se estivesse cega. Chegada a noite, dormi no sofá. Eles tomaram conta de um quarto. De manhã ele me contou, em segredo, ter passado a noite em conúbio com a moça.

Hoje ela ainda chora a morte prematura do seu grande amor. Disse estar grávida. Será meu primeiro neto. E eu só tenho vinte e poucos anos de idade.

Ao fim do terceiro dia ele saiu de casa. Não suportava mais aquela prisão. A jovem chorou muito. Tentei impedir tal aventura. Regressou dois dias depois, cabelos grisalhos, cansado, sujo, maltrapilho. Foi conhecer o sertão. A mocinha se apavorou. Não acreditou no que viu. Aquele homem envelhecido não poderia ser o seu belo Raimundinho. Deveria ser o nosso pai. Para ela, eu e Raimundo éramos irmãos, pois parecíamos ter ambos vinte anos, quando nos conhecemos, os três.

Conduzi-a à biblioteca e contei-lhe a verdade. Ela riu de mim, chamou-me de louco, mentiroso. Só voltou a me ver no dia da morte de meu filho.

No sexto dia levei-o ao consultório do dr. Ângelo. Sentia dores na cabeça. O médico não se mostrou preocupado. É assim mesmo. No dia seguinte levei o velho Raimundo para casa. Lia sem parar, falava esquisitices, andava pela casa, ia às ruas. No nono dia percebi a loucura instalada nele. Não me conhecia, não se lembrava de quase nada. Conduzi-o de novo ao doutor.

Ele me segredou: “Hoje ou amanhã a criatura morrerá. É como se tivesse cerca de cem anos de idade. Deixe-o comigo. A experiência está apenas começando.

Eu me retirei e à noite fui vê-lo pela última vez. Já não vivia o meu filho. Eu, no entanto, não poderia retirar o cadáver. Raimundo não existira para o mundo. Nem nascimento, nem óbito. Uma experiência, apenas.

Fonte:
Nilto Maciel. A Leste da Morte. Porto Alegre: Bestiário, 2006.
Livro enviado pelo autor.

Rita Mourão (Poemas Escolhidos) 6

FINAL ABERTO

Sou um texto vivo repleto de hiatos, vírgulas e
reticências.
Procuro interpretar-me e sem respostas me vejo
refém do silêncio.
Questiono-me e aceito o desafio e um final aberto.
Fecho-me sem epílogo, sem garantia do amanhã.
Com o olhar de uma deusa pagã a vida tremula seus
guizos.
E, para não morrer de angústia, POETIZO!
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FONTE DE INSPIRAÇÃO

O dia amanhecia flamejante.
Dentro de mim também flamejava, amanhecIa.
No carro de boi, Sô Quincas Carreiro carreava
nossas tralhas e alegrias.
íamos para vila assistir aos rituais da Semana Santa.
Meu pai, minha mãe e eu,
todos no carro que seguia rangente estrada afora.
Cantávamos hinos de louvor.
O carro também cantava um monólogo triste
que invadia os grotões do sertão das Minas Gerais.
Dentro dele eu, meio santa, meio profana,
sonhava encontrar meu seguidor entre os seguidores de Cristo.
Quanto sonho, quanta esperança no coração daquela
criança verde!
O tempo passou e cumpriu sua meta, à revelia.
O asfalto engoliu a terra, a estrada ficou cinzenta
e meus sonhos mudaram de cor.
Só o carro de boi varou meus sentimentos,
atravessou fronteiras
e até hoje me fala de POESIA!
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QUANDO O DIA SE FOR

Quando eu morrer, não me busquem nas campas frias
onde crescem as flores fúnebres.
Quando eu morrer, minha alma povoará os jardins
em que existem persistentes sempre-vivas,
e enormes girassóis acompanhando o sol.
E quando o dia se for e as flores se quedarem exaustas,
procurem-me nas estrelas
porque eu estarei entre elas para iluminar os poetas!
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SEM LIRISMO

Não me importam as rimas.
Importam-me os versos que sem volteios
falam da realidade que fere o coração dos sensíveis.
Hoje quero ser poeta de palavras duras, sem nexo e
sem lirismo.
Quero o desvario dos desvairados que soltam da
garganta
o grito de uma angústia rouca.
Quero a inteligência dos loucos, a liberdade da
censura
para falar dessa loucura que me fez poeta.
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SEMEADURA

Não sou nada, nada tenho de nobreza,
mas guardo dentro do meu nada a riqueza das
palavras.
As palavras se transformam e me transformam.
Gosto de descrever o murmúrio das águas,
a conversação da brisa e o canto dos pássaros.
Queria que meus versos varassem lonjuras,
rompessem o silêncio e dominassem o mundo
envolto nas dobras de solidão.

Fonte:
Rita Mourão. Maria, Marias. Ribeirão Preto/SP: Ed. da Autora, 2021.
Livro enviado pela poetisa.

Machado de Assis (A desejada das gentes)

- Ah! conselheiro, aí começa a falar em verso.

- Todos os homens devem ter uma lira no coração, - ou não sejam homens. Que a  lira ressoe a toda hora, nem por qualquer motivo, não o digo eu; mas de longe em longe, e por algumas reminiscências particulares... Sabe por que é que lhe pareço poeta, apesar das Ordenações do Reino e dos cabelos grisalhos? É porque vamos por esta Glória adiante, costeando aqui a Secretaria de Estrangeiros... Lá está o outeiro célebre... Adiante há uma casa...

- Vamos andando.

- Vamos... Divina Quintília! Todas essas caras que por aí passam são outras, mas falam-me daquele tempo, como se fossem as mesmas de outrora; é a lira que ressoa, e a imaginação faz o resto. Divina Quintília!

- Chamava-se Quintília? Conheci de vista, quando andava na Escola de Medicina, uma linda moça com esse nome. Diziam que era a mais bela da cidade.

- Há de ser a mesma, porque tinha essa fama. Magra e alta?

- Isso. Que fim levou?

- Morreu em 1859. Vinte de Abril. Nunca me há de esquecer esse dia. Vou contar-lhe um caso interessante para mim, e creio que também para o senhor. Olhe, a casa era aquela... Morava com um tio, chefe de esquadra reformado; tinha outra casa no Cosme Velho. Quando conheci Quintília... Que idade pensa que teria, quando a conheci?

- Se foi em 1855...

- Em 1855.

- Devia ter vinte anos

- Tinha trinta.

- Trinta?

- Trinta anos. Não os parecia, nem era nenhuma inimiga que lhe dava essa idade. Ela própria confessava e até com afetação. Ao contrário, uma de suas amigas afirmava que Quintília não passava de vinte e sete; mas como ambas tinham nascido no mesmo dia, dizia isso para diminuir-se a si própria.

- Mau, nada de ironias; olhe que ironia não faz boa cama com a saudade.

- Que é a saudade senão uma ironia do tempo e da fortuna? Veja lá; começo a ficar sentencioso. Trinta anos; mas em verdade, não os parecia. Lembra-se bem que era magra e alta; tinha os olhos, como eu então dizia, que pareciam cortados da capa da última noite, mas apesar de noturnos, sem mistérios nem abismos. A voz era brandíssima, um tanto apaulistada, a boca larga, e os dentes, quando ela simplesmente falava, davam-lhe à boca um ar de riso. Ria também, e foram os risos dela, de parceria com os olhos, que me doeram muito durante certo tempo.

- Mas se os olhos não tinham mistérios...

- Tanto não tinham que cheguei ao ponto de supor que eram as portas abertas do castelo, e o riso o clarim que chamava os cavaleiros. Já a conhecíamos, eu e o meu companheiro de escritório, o João Nóbrega, ambos principiantes na advocacia, e íntimos como ninguém mais; mas nunca nos lembrou namorá-la. Ela andava então no galarim; era bela, rica, elegante e da primeira roda. Mas um dia, no antigo teatro Provisório, entre dois atos dos Puritanos, estando eu num corredor, ouvi um grupo de moços que falavam dela, como de uma fortaleza inexpugnável. Dois confessaram haver tentado alguma coisa, mas sem fruto; e todos pasmavam do celibato da moça que lhes parecia sem explicação. E chalaceavam: um dizia que era promessa até ver se engordava primeiro; outro que estava esperando a segunda mocidade do tio para casar com ele; outro que provavelmente encomendara algum anjo ao porteiro do céu; trivialidades que me aborreceram muito, e da parte dos que confessaram tê-la cortejado ou amado, achei que era uma grosseria sem nome. No que eles estavam todos de acordo é que ela era extraordinariamente bela; aí foram entusiastas e sinceros.

- Oh! ainda me lembro!... era muito bonita.

- No dia seguinte, ao chegar ao escritório, entre duas causas que não vinham, contei ao Nóbrega a conversação da véspera. Nóbrega riu-se do caso, refletiu, e depois de dar alguns passos, parou diante de mim, olhando calado. – Aposto que a namoras? perguntei-lhe. – Não, disse ele; nem tu? Pois lembrou-me uma coisa: vamos tentar o assalto à fortaleza? Que perdemos com isso? Nada; ou ela nos põe na rua e já podemos esperá-lo, ou aceita um de nós, e tanto melhor para o outro que verá o seu amigo feliz. - Estás falando sério? - Muito sério. - Nóbrega acrescentou que não era só a beleza dela que a fazia atraente. Note que ele tinha a presunção de ser espírito prático, mas era principalmente um sonhador que vivia lendo e construindo aparelhos sociais e políticos. Segundo ele, os tais rapazes do teatro evitavam falar dos bens da moça, que eram um dos feitiços dela, e uma das causas prováveis da desconsolação de uns e dos sarcasmos de todos. E dizia-me: - Este relógio, por exemplo. Combatamos pela nossa Quintília, minha ou tua, mas provavelmente minha, porque sou mais bonito que tu.

- Conselheiro, a confissão é grave; foi assim brincando...?

- Foi assim brincando, cheirando ainda aos bancos da academia, que nos metemos em negócio de tanta ponderação, que podia acabar em nada, mas deu muito de si. Era um começo estouvado, quase um passatempo de crianças, sem a nota da sinceridade; mas o homem põe e a espécie dispõe. Conhecíamo-la, posto não tivéssemos encontros frequentes; uma vez que nos dispusemos a uma ação comum, entrou um elemento novo na nossa vida, e dentro de um mês estávamos brigados.

- Brigados?

- Ou quase. Não tínhamos contado com ela, que tinha nos enfeitiçado a ambos, violentamente. Em algumas semanas já pouco nos falávamos de Quintília, e com indiferença; tratávamos de enganar um ao outro e dissimular o que sentíamos. Foi assim que as nossas relações se dissolveram, no fim de seis meses, sem ódio nem luta, nem demonstração externa, porque ainda nos falávamos, onde o acaso nos reunia; mas já então tínhamos banca separada.

- Começo a ver uma pontinha do drama...

- Tragédia, diga tragédia; porque daí a pouco tempo, ou por desengano verbal que ela lhe desse, ou por desespero de vencer, Nóbrega deixou-me só em campo. Arranjou uma nomeação de juiz municipal lá para os sertões da Bahia, onde definhou e morreu antes de acabar o quatriênio. E juro-lhe que não foi o inculcado espírito prático de Nóbrega que o separou de mim; ele, que tanto falava das vantagens do dinheiro, morreu apaixonado como um simples Werther.

- Menos a pistola.

- Também o veneno mata; e o amor de Quintília podia dizer-se alguma coisa  parecido com isso; foi o que o matou, e o que ainda hoje me dói... Mas, vejo pelo seu dito que o estou aborrecendo...

- Pelo amor de Deus. Juro-lhe que não; foi uma graçola que me escapou. Vamos adiante, conselheiro; ficou só em campo.

- Quintília não deixava ninguém estar só em campo, - não digo por ela, mas pelos outros. Muitos vinham ali a tomar um cálix de esperanças, e iam cear a outra parte. Ela não favorecia a um mais que a outro; mas era lhana, graciosa e tinha essa espécie de olhos derramados que não foram feitos para homens ciumentos. Tive ciúmes amargos e, às vezes, terríveis. Todo argueiro me parecia um cavaleiro, e todo cavaleiro um diabo. Afinal acostumei-me a ver que eram passageiros de um dia. Outros me metiam mais medo, eram os que vinham dentro da luvas das amigas. Creio que houve duas ou três negociações dessas, mas sem resultado. Quintília declarou que nada faria sem consultar o tio, e o tio aconselhou a recusa, - coisa que ela sabia de antemão. O bom velho não gostava nunca da visita de homens, um receio de que a sobrinha escolhesse algum e casasse. Estava tão acostumado a trazê-la ao pé de si, como uma muleta da velha alma aleijada, que temia perdê-la inteiramente.

- Não seria essa a causa da isenção sistemática da moça?

- Vai ver que não.

- O que noto é que o senhor era mais teimoso que os outros...

- ... Iludido, a princípio, porque no meio de tantas candidaturas malogradas, Quintília preferia-me a todos os outros homens, e conversava comigo mais largamente e mais intimamente, a tal ponto que chegou a correr que nos casávamos.

- Mas conversavam de quê?

- De tudo o que ela não conversava com os outros; e era de fazer pasmar que uma pessoa tão amiga de bailes e passeios, de valsar e rir, fosse comigo tão severa e grave, tão diferente do que costumava ou que parecia ser.

- A razão é clara: achava a sua conversação menos insossa que a dos outros homens.

- Obrigado; era mais profunda a causa da diferença, e a diferença ia-se acentuando com os tempos. Quando a vida cá embaixo a aborrecia muito, ia para o Cosme Velho, e ali as nossas conversações eram mais frequentes e compridas. Não lhe posso dizer, nem o senhor compreenderia nada, o que foram as horas que ali passei, incorporando na minha vida toda a vida que jorrava dela. Muitas vezes quis dizer-lhe o que sentia, mas as palavras tinham medo e ficavam no coração. Escrevi cartas sobre cartas; todas me pareciam frias, difusas, ou inchadas de estilo. Demais, ela não dava ensejo a nada; tinha um ar de velha amiga. No princípio de 1857 adoeceu meu pai em Itaboraí; corri a vê-lo, achei-o moribundo. Este fato reteve-me fora da Corte uns quatro meses. Voltei pelos fins de maio. Quintília recebeu-me triste da minha tristeza, e vi claramente que o meu luto passara aos olhos dela...

- Mas que era isso senão amor?

- Assim acreditei, e dispus a minha vida para desposá-la. Nisto, adoeceu o tio gravemente. Quintília não ficava só, se ele morresse, porque, além dos muitos parentes espalhados que tinha, morava com ela agora, na casa da rua do Catete, uma prima, D. Ana, viúva; mas, é certo que a afeição principal ia-se embora e nessa transição da vida presente à vida ulterior podia eu alcançar o que desejava. A moléstia do tio foi breve; ajudada da velhice, levou-o em duas semanas. Digo-lhe aqui que a morte dele lembrou-me a de meu pai, e a dor que então senti foi quase a mesma. Quintília viu-me padecer, compreendeu o duplo motivo, e, segundo me disse depois, estimou a coincidência do golpe, uma vez que tínhamos de o receber sem falta e tão breve. A palavra pareceu-me um convite matrimonial; dois meses depois cuidei de pedi-la em casamento. D. Ana ficara morando com ela e estavam no Cosme Velho. Fui ali achei-as juntas no terraço, que ficava perto da montanha. Eram quatro horas da tarde de um domingo. D. Ana, que nos presumia namorados, deixou-nos o campo livre.

- Enfim!

- No terraço, lugar solitário, e posso dizer agreste, proferi a primeira palavra. O meu plano era justamente precipitar tudo, com medo de que, cinco minutos de conversa, me tirassem as forças. Ainda assim, não sabe o que me custou; custaria menos uma batalha, e juro-lhe que não nasci para guerras. Mas aquela mulher magrinha e delicada, impunha-se-me, como nenhuma outra, antes e depois...

- E então?

- Quintília adivinhara, pelo transtorno do meu rosto, o que lhe ia pedir, e deixou-me falar para preparar a resposta. A resposta foi interrogativa e negativa. Casar para quê? Era melhor que ficássemos amigos como dantes. Respondi-lhe que a amizade era, em mim, desde muito, a simples sentinela do amor; não podendo mais contê-lo, deixou que ele saísse. Quintília sorriu da metáfora, o que me doeu, e sem razão; ela, vendo o efeito, fez-se outra vez séria e tratou de persuadir-me de que era melhor não casar. - Estou velha, disse ela; vou em trinta e três anos. Mas se eu a amo assim mesmo, repliquei, e disse-lhe uma porção de coisas, que não poderia repetir agora. Quintília refletiu um instante; depois insistiu nas relações de amizade; disse que posto que mais moço que ela, tinha a gravidade de um homem mais velho, e inspirava-lhe confiança como nenhum outro. Desesperançado, dei algumas passadas, depois sentei-me outra vez e narrei-lhe tudo. Ao saber da minha briga com o amigo e companheiro da academia, e a separação em que ficámos sentiu-se, não sei se diga, magoada ou irritada. Censurou-nos; não valia a pena que chegássemos a tal ponto. - A senhora diz isso, porque não sente a mesma coisa. - Mas então é um delírio? - Creio que sim; o que lhe afianço é que ainda agora, se fosse necessário, separar-me-ia dele uma e cem vezes; e creio poder afirmar-lhe que ele faria a mesma coisa. Aqui olhou ela espantada para mim, como se olha para uma pessoa cujas faculdades parecem transtornadas; depois abanou a cabeça, e repetiu que fora um erro; não valia a pena. - Fiquemos amigos, disse-me, estendendo a mão. - É impossível; pede-me coisa superior às minhas forças, nunca poderei ver na senhora uma simples amiga; não desejo impor-lhe nada; dir-lhe-ei até que nem mais insisto, porque não aceitaria outra resposta agora. Trocamos ainda algumas palavras, e retirei-me... Veja a minha mão.

- Treme-lhe ainda ...

- E não lhe contei tudo. Não lhe digo aqui os aborrecimentos que tive, nem a dor e o despeito que me ficaram. Estava arrependido, zangado, devia ter provocado aquele desengano desde as primeiras semanas; mas a culpa foi da esperança, que é uma planta daninha , que me comeu o lugar de outras plantas melhores. No fim de cinco dias saí para Itaboraí, onde me chamaram alguns interesses do inventário de meu pai. Quando voltei, três semanas depois, achei em casa uma carta de Quintília.

- Oh!

- Abri-a alvoroçadamente: datava de quatro dias. Era longa; aludia aos últimos sucessos, e dizia coisas meigas e graves. Quintília afirmava ter esperado por mim todos os dias, não cuidando que eu levasse o egoísmo até não voltar lá mais, por isso escrevia-me, pedindo que fizesse dos meus sentimentos pessoais e sem eco uma página de história acabada; que ficasse só o amigo, e lá fosse ver a sua amiga. E concluía com estas singulares palavras: "Quer uma garantia? Juro-lhe que não casarei nunca." Compreendi que um vínculo de simpatia moral nos ligava um ao outro; como a diferença que o que era em mim paixão específica, era nela uma simples eleição de caráter. Éramos dois sócios , que entravam no comércio da vida com diferente capital: eu, tudo o que possuía; ela, quase um óbulo. Respondi à carta dela nesse sentido; e declarei que era tal a minha obediência e o meu amor, que cedia, mas de má vontade, porque, depois do que se passara entre nós, ia sentir-me humilhado. Risquei a palavra ridículo já escrita, para poder ir vê-la sem este vexame; bastava o outro.

- Aposto que seguiu atrás da carta! É o que eu faria, porque essa moça, ou eu me engano ou estava morta por casar com o senhor.

- Deixe a sua fisiologia usual; este caso é particularíssimo.

- Deixe-me adivinhar o resto; o juramento era um anzol místico; depois, o senhor, que o recebera, podia desobrigá-la dele, uma vez que aproveitasse com a absolvição. Mas, enfim, correu à casa dela.

- Não corri; fui dois dias depois. No intervalo, respondeu ela à minha carta com um bilhete carinhoso, que rematava com esta ideia: "não fale de humilhação, onde não houve público." Fui e voltei uma e mais vezes e restabeleceram-se as nossas relações. Não se falou em nada; ao princípio, custou-me muito parecer o que era dantes; depois o demônio da esperança veio outra vez pousar no meu coração; e, sem nada exprimir, cuidei que um dia, um dia tarde, ela viesse a casar comigo. E foi essa esperança que me retificou aos meus próprios olhos, na situação em que me achava. As boatos de nosso casamento correram o mundo. Chegaram aos nossos ouvidos; eu negava formalmente e sério; ela dava de ombros e ria. Foi essa fase da nossa vida a mais serena para mim, salvo um incidente curto, um diplomata austríaco ou não sei quê, rapagão, elegante, ruivo, olhos grandes e atrativos, e fidalgo ainda por cima. Quintília mostrou-se-lhe tão graciosa, que ele cuidou estar aceito, e tratou de ir adiante. Creio que algum gesto meu, inconsciente, ou então um pouco da percepção fina que o céu lhe dera, levou depressa o desengano à legação austríaca. Pouco depois ela adoeceu; e foi então que a nossa intimidade cresceu de vulto. Ela, enquanto se tratava, resolveu não sair, e isso mesmo lhe disseram os médicos. Lá passava eu muitas horas diariamente. Ou elas tocavam, ou jogávamos os três, ou então lia-se alguma coisa; a maior parte das vezes conversávamos somente. Foi então que a estudei muito; escutando as suas leituras vi que os livros puramente amorosos achava-os incompreensíveis, e, se as paixões aí eram violentas, largava-os com tédio. Não falava assim por ignorante; tinha notícia vaga das paixões, e assistira a algumas alheias.

- De que moléstia padecia?

- Da espinha. Os médicos diziam que a moléstia não era talvez recente, e ia tocando o ponto melindroso. Chegámos assim a 1859. Desde março desse ano a moléstia agravou-se muito, teve uma pequena parada, mas para os fins do mês chegou ao estado desesperador. Nunca vi depois criatura mais enérgica diante da iminente catástrofe; estava então de uma magreza transparente, quase fluida; ria, ou antes, sorria apenas, e vendo que eu escondia as minhas lágrimas, apertava-me as mãos agradecida. Um dia, estando só com o médico, perguntou-lhe a verdade; ele ia mentir; ela disse-lhe que era inútil, que estava perdida. - Perdida, não, murmurou o médico. - Jura que não estou perdida? - Ele hesitou, ela agradeceu-lhe. Uma vez certa que morria, ordenou o que prometera a si mesma.

- Casou com o senhor, aposto?

- Não me relembre essa triste cerimônia; ou antes, deixe-me relembrá-la, porque me traz algum alento do passado. Não aceitou recusa nem pedidos; casou comigo à beira da morte. Foi no dia 18 de Abril de 1859. Passei os últimos dois dias, até 20 de Abril, ao pé da minha noiva moribunda, e abracei-a pela primeira vez, feita cadáver.

- Tudo isso é bem esquisito.

- Não sei o que dirá a sua fisiologia. A minha, que é de profano, crê que aquela moça tinha ao casamento uma aversão puramente física. Casou meia defunta, às portas do nada. Chame-lhe monstro, se quer, mas acrescente divino.

Fonte:
Machado de Assis. Várias histórias. Publicado originalmente em 1896.

Julia Martins e Grant Faulkner (Como Escrever uma História de Fantasia Convincente) Parte 4, final: Escrevendo a história


1. Esquematize a história para desenvolvê-la melhor.

As histórias de fantasia costumam trazer várias reviravoltas; por isso, é melhor você esquematizar todo o enredo em tópicos antes de começar a escrever a versão final.

Você pode dividir esse esquema do enredo em títulos e subtítulos. Os títulos são separados por
algarismos romanos, enquanto os subtítulos são distribuídos entre letras minúsculas ou números.

Por exemplo: "I. Apresentar Ramona; a. Ramona está no campo, trabalhando; b. Ela é abordada pelo espírito de Janaína, sua tia".

2. Apresente o problema central.

Fale do problema principal no início do enredo para já colocar o herói no conflito (e ajudá-lo a superá-lo aos poucos).

Por exemplo: em Jogos Vorazes, Katniss Everdeen se oferece como tributo no início do enredo; em Buffy, a Caça-Vampiros, Buffy entende que precisa aceitar o seu papel de caçadora de vampiros quando os seus amigos são atacados.

O ponto-chave de muitas histórias acontece quando o personagem principal sai de casa — talvez para embarcar em uma jornada. Por exemplo: o protagonista pode ficar sabendo que a sua mãe, que vive em outro país, está doente. Então, ele tem que cruzar todo um deserto com o remédio de que ela precisa escondido antes que seja tarde.

3. Desenvolva a personalidade do herói com conflitos mais simples.

Todo evento do enredo tem que servir para desenvolver o herói.

Use cada conflito para testar a força, as habilidades e os talentos dele — e tudo virá a calhar quando for hora de enfrentar o vilão.

Preste atenção ao que acontece nas suas histórias de fantasia favoritas. Por quais situações Harry Potter passa até aceitar o seu destino de "menino que sobreviveu"? Como Katniss aceita que ela vai liderar a revolução?

Insira conflitos menores e que levem ao problema central do enredo para testar a força, as habilidades e os poderes do personagem. Por exemplo: ele pode ter que enfrentar um grupo rival depois de tentar roubar o remédio para a mãe doente.

"Apesar de esses conflitos estarem ligados ao problema central, o protagonista nem sempre está a par do que acontece nos bastidores do enredo".

4. Escolha um fim adequado para a história.

Pense no clímax da história.

Geralmente, isso acontece quando o herói enfrenta o vilão. Amarre todas as pontas emocionais soltas, pois os leitores querem ver o quanto o protagonista cresceu ao longo do processo.

Por exemplo: talvez ele se reúna com a família e não se sinta mais abandonado.

Uma história fantástica pode ter um final feliz ou triste, com o herói vencendo ou perdendo. Você também pode encerrar o enredo com parte dos conflitos ainda no ar — ainda mais se quiser escrever uma sequência com os mesmos personagens.

Dicas

Leia várias obras de fantasia enquanto cria a sua própria. Essa é a melhor forma de melhorar a sua escrita. Se necessário, peça dicas e recomendações aos seus amigos e conhecidos.

Fonte:
Wikihow

domingo, 20 de março de 2022

A. A. de Assis (Saudade em Trovas) n. 35: Reinaldo Moreira de Aguiar

 

Sílvio Romero (O Caboclo namorado)


(Folclore do Sergipe)


HAVIA UMA MOÇA CASADA muito bonita. Por sua porta passava sempre um caboclo e numa ocasião virou-se para ela e disse-lhe: “Adeus, meu cravo.” A moça fez que não ouviu e calou-se.

No outro dia o caboclo passou e tornou a dizer a mesma coisa. A moça, não podendo mais chegar à janela, porque todas as vezes que o caboclo passava, dizia-lhe: “Adeus, meu cravo”, queixou-se ao marido. 
 
Este disse-lhe: “Não te importes, e quando ele te disser ‘adeus, meu cravo’, tu responde-lhe ‘adeus, minha rosa’, e deixa o resto por minha conta.”

No dia seguinte o caboclo passou e repetiu: “Adeus, meu cravo.” 
 
Ela virou-se para ele e respondeu: “Adeus, minha rosa.” 
 
O caboclo saiu rindo-se de contente e no outro dia já não disse “Adeus, meu cravo”, e sim perguntou à moça se ela dava licença a ele ir à casa dela à noite.

A senhora ficou incomodadíssima e não deu-lhe resposta. Chegando o marido, ela participou-lhe o ocorrido, ao que ele respondeu: “Amanhã dize-lhe que eu fiz uma viagem e que tu dás licença para ele vir conversar contigo à noite.”

Quando o caboclo passou dirigiu à moça a mesma pergunta, esta respondeu-lhe tudo quanto o marido tinha lhe dito. À noite chegou o caboclo, indo muito cheiroso e bem vestido. Já o marido da moça tinha munido dois criados, cada qual com um chicote de couro cru, e mandado deitar debaixo da cama grande porção de cansanção*.

O caboclo logo que foi chegando disse à moça que queria ir para o quarto e que ela apagasse a luz que o estava incomodando. Depois tirou toda a roupa com que estava vestido e deitou-se dizendo que estava com muito sono. Nisto o marido da moça fingiu ter chegado da viagem e esta disse ao caboclo que se escondesse debaixo da cama. O moço entrou e deitou-se, alegando que vinha muito cansado.

De espaço a espaço ele ouvia como que uma espécie de grunhido sair debaixo da cama. Passado um bom pedaço e o rapaz ouvindo sempre a mesma coisa, perguntou:

“Quem está aí?”

Responde-lhe o caboclo: “Sou eu, cachorro.”

Diz o moço: “Oh, e cachorro fala?”

Replica-lhe o caboclo: “Falo eu.”

Aí o moço levantou-se e com uma luz na mão olhou para debaixo da cama e viu o caboclo no meio dos cansanções, inchado como uma pipa e todo se coçando. O moço chamou os criados que já estavam preparados e ordenou: “Empurrem-lhe o chicote”.

O caboclo depois de ter levado uma tunda, saiu que mal acertava o caminho de casa. Levou muito tempo se tratando da grande surra que levou.

Depois de muito tempo e quando já estava bom, passou de novo o caboclo pela porta da moça, mas muito desconfiado e de cabeça baixa.

Esta para bulir com ele disse-lhe: “Adeus, meu cravo.”

Ele virou-se para ela e respondeu muito zangado: “Adeus, seu diabo!”
= = = = = = = = = = = = =
* Cansanção = planta comum no Nordeste, cuja principal característica é o fato de provocarem, assim como a urtiga, a sensação de queimadura ao toque com a pele. Ao contrário da urtiga, porém, seu efeito urticante e vesiculante (causador de bolhas) é maior e mais agudo, bastando para tanto o simples contato com seus pelos, ao pé dos quais há uma cápsula com o líquido agressivo.

Fonte:
Sílvio Romero. Contos populares do Brasil. Coleção Acervo Brasileiro vol. 3.  Jundiaí/SP: Cadernos do Mundo Inteiro, 2018. Publicado originalmente em 1954.
Livro enviado por Sammis Reachers.

Laurindo Rabelo (Estragos de Amor) Parte primeira

I
Miseráveis insensatos,
Escravos da formosura,
Curvados a seu aceno,
Buscais vida no veneno
Que vos leva à sepultura!

II
Nos seus braços reclinados,
Beijando em ternos carinhos
Divinas faces mimosas,
Livrais o néctar das rosas
Sem reparar nos espinhos!

III

“Oh! loucos, vede a verdade,
“Conhecei essa ilusão,
“Por que viveis seduzidos?”
Embalde contra os sentidos
Aflita brada a razão!...

IV
Nada alcança: tudo cede
Ao amoroso desmaio: —
Lumiando o par gentil,
Brilha amor como um fuzil,
Mas ao fuzil segue o raio.

V
Lá do monte da esperança
Cresta o fogo as verdes fraldas;
E de quanto possuía
Só conserva a fantasia
Secas, dispersas grinaldas.

VI
Suspeitas, tiranias serpes*,
Nos peitos cravando os dentes,
Com seu sangue se alimentam;
Das chagas chamas rebentam,
Das chamas novas serpentes.

VII
Em furor e desespero
Começa o triste a chorar,
Vendo a estrada que seguiu;
Morde o laço em que caiu,
Mas não pode-o desatar!...

VIII
A razão, para vingar-se,
Mais aumenta o seu flagício*,
Com semblante inexorável,
Muda, surda, imperturbável,
Assistindo ao sacrifício.

IX
Tudo é dor, tudo agonia,
E queixumes contra o fado;
Suspiros e pranto ardente,
Desespero no presente,
Saudades pelo passado!...

X
‘Té que vai desabrochando,
Pelo pranto d’aflição
Regada continuamente,
Do desengano a semente
Nas cinzas do coração.

XI
Ergue a planta a fronte altiva,
Mas de tristonha aparência;
Folhas, tronco, é toda luto;
Tem mirrado raro fruto;
Esse fruto — é a experiência.
= = = = = = = = = = = = = 
* Flagício - aflição, tortura.
* Serpes = muito velhas e muito feias.
 
continua... parte final

Fonte:
Laurindo Rabelo. Poesias completas. Ministério Da Cultura. Fundação Biblioteca Nacional

sábado, 19 de março de 2022

Carina Bratt (Como me esquecer de você e desse dia?!)


HOJE, 19 DE MARÇO, quero dedicar meu texto em caráter ‘excepcional’, ao senhor APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA, meu patrão (ou simplesmente APA), como carinhosamente o chamo, desde que passei a ser a sua ‘Secretária Particular’. Me sinto honrada.

Estou com esse ‘Velho Moço’ há muito tempo, desde quando não passava de uma menininha simples, ingênua e inexperiente, nada sabendo da vida adulta. Meu pai (que já não está mais entre nós), atendendo aos meus apelos, me permitiu viajar mundo afora em sua companhia, embora mamãe achasse tal ideia uma tremenda loucura.

Todavia, entre tapas e beliscões, e, claro, depois de muita relutância, ambos cederam aos meus anseios e assinaram as Autorizações para que eu saísse da gaiola, batesse asas e fosse atrás do meu sonho.

E eu fui, sem pensar duas vezes, sem ao menos saber como seria a nossa convivência no dia a dia de duas criaturas que até então pouco se conheciam e nada sabiam, um do outro.

Aqui estou, viva, realizada. Por assim, nesse dia que é dedicado à São José, o Apa completa 69 anos (19.03.1953). Um amigo para todas as horas, bom pai (depois do falecimento do meu, praticamente me adotou) ajudando na vida pessoal e, igualmente, nos estudos até o término da faculdade.

Se nesse momento em que redijo essa simples dedicatória, se sou o que sou, agradeço a ele, ao Apa, que me fez ser uma pessoa honesta, trabalhadora, com uma visão beatificante voltada para um futuro promissor.

Apa, meu lindo, que Deus o proteja e guarde, concedendo à você uma estrada longa e tranquila; uma vida do mesmo modo benfazeja e repleta de muito Amor e Felicidade. Você é o cara, além de meu herói preferido.

Que as Graças do Onipotente continuem a me dar em abundância, Força, Fé, Coragem, Discernimento e Saúde, para estar sempre a seu lado. Saiba que o meu amor é único e incondicional.

Meu coração está dentro de você, guardado, eu sei, num lugarzinho secreto, batendo no mesmo ritmo e o melhor de tudo: fazendo de nós dois, uma só pessoa, uma só alma em festa constante. PARABÉNS, MUITOS E INFINDOS ANOS DE VIDA.

Carina Bratt (Ca)
de Vila Velha, no Espírito Santo.
 
Fonte:
Texto enviado pela autora 

Varal de Trovas n. 552

 

Silmar Böhrer (Croniquinha) – 49


Os versos acharam interessante como esta forma de escrita - a crônica - entrou em nossa vida. Na verdade, ela sempre andou junto a nós, versejares, embora pouco lembrada. Jamais desprezada.

As delícias da vida devem ser sempre cultivadas. O mel dos dias está em todo lugar. E nós, na condição de abelhas, devemos ensalivar o melífluo da existência, repassando doçuras em doses homeopáticas.

Os pensares, os versos, os viveres, as crônicas, são unidades que entremeiam constantemente. E deslindam, e cantam, e semeiam vozes perenes que Gaia oferece nas incendiárias manhãzinhas, nas tardes ventaneiras, nas silentes madrugadas.

Vozes vívidas vivenciando viveres.

Fonte:
Texto enviado pelo autor

Baú de Trovas XLIV


ADÉLIA VICTÓRIA FERREIRA
Sete Barras/SP, 1929 – 2018, São Paulo/SP
Ao nosso adeus a esta vida
há um tormento reservado
na promessa - não cumprida,
no sonho - não realizado.
= = = = = = = = = = = = =

ALMERINDA LIPORAGE
Rio de Janeiro/RJ, 1928 – 2016
Hoje o adeus que eu te proponho
reduz a dor à metade;
é melhor matar um sonho
que dar vida a uma saudade!
= = = = = = = = = = = = =

ALOÍSIO ALVES DA COSTA
Umari/CE, 1935 – 2010, Fortaleza/CE
Na janela da lembrança,
num adeus breve e tristonho,
eu vi, chorando, a esperança
se despedindo de um sonho!...
= = = = = = = = = = = = =

ANITA THOMAZ FOLLMANN
Ponta Grossa/PR +
Lenço velho e até rasgado,
mas que tem real valor:
- Lenço de suor molhado
na mão do trabalhador.
= = = = = = = = = = = = =

CAROLINA RAMOS
Santos/SP
Adeus, filho. Vive a vida.
Volta um dia, sem promessa...
que a primeira despedida
no ventre da mãe começa...
= = = = = = = = = = = = =

CÉLIA GUIMARÃES SANTANA
Sete Lagoas/MG
Quando o sol vai se escondendo
sem adeus, sem despedida,
com as estrelas aprendo
a sábia lição da vida!
= = = = = = = = = = = = =

CÉLIO GRÜNEWALD
Juiz de Fora/MG, 1923 – 1991
Se te foge a primavera,
aguarda mais... tem paciência,
que há sempre alguém que te espera
numa esquina da existência!...
= = = = = = = = = = = = =

CÍCERO ROCHA
Juiz de Fora/MG
A cruz do adeus, que era leve,
ficou pesada demais:
disseste e eu disse: "Até breve!";
disse o destino: "Jamais!"
= = = = = = = = = = = = =

CLÓVIS MAIA
Ribeirão Preto/SP
De déu em déu pela vida,
eu chego a sentir-me assim:
sinto que em cada partida
eu me despeço de mim.
= = = = = = = = = = = = =

DIMAS LOPES DE ALMEIDA
Sandim/Vila Nova de Gaia/Portugal, 1915 - 1994
O lenço branco que acena
um adeus de despedida
é leve como uma pena
e pesa tanto na vida!
= = = = = = = = = = = = =

DORALICE GOMES DA ROSA
São Francisco de Paula/RS, 1933 – 2017, Porto Alegre/RS
Um adeus, uma lembrança,
um triste apito de trem...
Na estação uma esperança
nutrindo os sonhos de alguém.
= = = = = = = = = = = = =

ERCY MARIA MARQUES DE FARIA
Bauru/SP
Dizendo "adeus", foste embora,
levando em tua bagagem
meu coração, que até agora
não regressou da viagem!
= = = = = = = = = = = = =

FÁBIO NORONHA
São João da Boa Vista/SP, 1918 – 1991
O adeus funda mágoa lavra
na alma da gente, é verdade,
que as letras dessa palavra
estão, também, em... Saudade!
= = = = = = = = = = = = =

FERREIRA NOBRE
Belém/PA, 1906 – 1999, Fortaleza/CE
O tempo, com engenho e arte,
é sábio mas não explica
como a vida de quem parte
leva a vida de quem fica.
= = = = = = = = = = = = =

FRANCISCO A. MENEZES
Porangatu/GO
Não fales, pois há encanto
nos teus olhos frente aos meus!
As lágrimas dizem tanto
nas reticências do adeus!
= = = = = = = = = = = = =

GISELDA MEDEIROS
Fortaleza/CE
No cais da vida, à distância,
acompanhei com saudade
o lenço branco da infância
dando adeus à mocidade.
= = = = = = = = = = = = =

HELVÉCIO BARROS
Macau/RN, 1909 – 1995, Bauru/SP
Teu lenço branco acenando,
na tarde azul, parecia
uma vela se apagando
nas mãos cansadas do dia!...
= = = = = = = = = = = = =

IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP
Nem a saudade desconta
o "cheque da despedida",
quando o "Adeus" encerra a conta
no "Banco de Nossa Vida"...
= = = = = = = = = = = = =

JOÃO ALBERTO FERREIRA
Fortaleza/CE
Lição que nos persuade
dá-nos o pássaro, quando
diz adeus à liberdade
e continua cantando.
= = = = = = = = = = = = =

JOSÉ MARIA M. DE ARAÚJO
Vila Nova de Famalicão/Portugal, 1922 – 2004, Rio de Janeiro/RJ    
Saíste da minha vida
e voltaste tão mudada!
Mais triste que a despedida
foi dar-te adeus à chegada...
= = = = = = = = = = = = =

LACY JOSÉ RAYMUNDI
Sananduva/RS, ?? – 2014, Garibaldi/RS
A nuvem branca passando
parece, no céu sem fim,
teu lenço branco, acenando
um "nunca mais", para mim...
= = = = = = = = = = = = =

LINDA BRANDÃO DIAS
Volta Redonda/RJ
No amor, paira oculto um medo
que faz do amante um covarde:
- o adeus sempre vem tão cedo...
o arrepender-se... tão tarde!
= = = = = = = = = = = = =

LUIZ RABELO

Natal/RN, 1921 - 1996
"Adeus..." tu disseste, leve,
e eu pude sentir, meu bem,
que uma palavra tão breve
a eternidade contém...
= = = = = = = = = = = = =

MARISOL
Muriaé/MG, 1936 -2005
"Adeus"... disseste chorando
e eu sorrindo te acenei
e ainda vivo sufocando
o pranto que não chorei.
= = = = = = = = = = = = =

MIGUEL RUSSOWSKY
Santa Maria/RS ,1923 – 2009, Joaçaba/SC
Do que falaste, de leve,
mais tarde fui deduzir:
"Amor!... Adeus!... Até breve!..."
são três formas de mentir.
= = = = = = = = = = = = =

MILTON SEBASTIÃO SOUZA
Porto Alegre/RS, 1945 – 2018, Cachoeirinha/RS
Dizer adeus é tolice,
mas este orgulho maldito
só deixou que eu descobrisse
depois que eu já tinha dito...
= = = = = = = = = = = = =

SANTIAGO VASQUES FILHO
Teresina/PI, 1921 – 1992, Fortaleza/CE
As nossas mãos enlaçadas,
neste adeus de despedida,
separam nossas estradas
e os rumos da nossa vida.
= = = = = = = = = = = = =

SEBAS SUNDFELD
Pirassununga/SP, 1924 – 2015, Tambaú/SP
O lenço já foi presente
de seda... e de amor fiel...
Hoje o amor é diferente
e os lenços são de papel!
= = = = = = = = = = = = =

THALMA TAVARES
São Simão/SP
Numa pétala orvalhada,
uma gota luminosa
é um adeus que a madrugada
deixou na face da rosa.
= = = = = = = = = = = = =

VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR
Meu lenço, meu companheiro,
saiba os segredos guardar.
Além do meu travesseiro,
só você me viu chorar...
= = = = = = = = = = = = =

WALDIR NEVES
Rio de Janeiro/RJ, 1924 – 2007
Junto à mágoa pelo adeus,
este espanto em mim persiste:
- ver, todo, o nome de Deus
nessa palavra tão triste!...

Estante de Livros (“Fernão Capelo Gaivota”, de Richard Bach)


Fernão Capelo Gaivota é um romance de Richard Bach, publicado em 1970. Publicado originalmente nos Estados Unidos com o título de "Jonathan Livingston Seagull — a story", foi lançado neste mesmo ano no Brasil como "A História de Fernão Capelo Gaivota".

Uma gaivota de nome Fernão decide que voar não deve ser apenas uma forma para a ave se movimentar. A história desenrola-se sobre o fascínio de Fernão pelas acrobacias que pode modificar e em como isso transtorna o grupo de gaivotas do seu clã. É uma história sobre liberdade, aprendizagem e amor .

A primeira parte do livro mostra o jovem Fernão Capelo Gaivota frustrado com o materialismo e o significado da conformidade e da limitação da vida de uma gaivota. Ele é confrontado com paixão pelos voos de todos os tipos, e a sua alma descola com as suas experiências e emocionantes triunfos de ousadia e feitos aéreos. Eventualmente, a sua falta de conformismo à limitada vida de gaivota leva-o a entrar em conflito com o seu bando e virarem-se contra ele. Ele torna-se um banido. Não obstante disso, Fernão continua os seus esforços para atingir objetivo e voos mais altos, muitas vezes bem sucedidos, mas eventualmente sem o conseguir tanto quanto desejaria. Em seguida ele é encontrado por duas radiantes gaivotas que lhe explicam que ele já aprendeu muito e agora elas estão lá para ensinar-lhe mais. Ele então passa a segui-las.

Na segunda parte, Fernão transcende a uma outra sociedade onde todas as gaivotas desfrutam da paixão pelo voo. Ele só é capaz de praticar essa habilidade após duras horas de muito treino de voo. Nesta outra sociedade, o respeito real surge em contradição com a força coercitiva que estava mantendo o antigo bando junto. O processo de aprendizagem, que liga os professores altamente experientes aos alunos dedicados, é aumentado a quase um nível sagrado, sugerindo que esta pode ser a verdadeira relação entre homem e Deus. O autor considera que certamente humano e Deus, independentemente de todas as enormes diferenças, estão compartilhando algo de grande importância que podem vincula-los juntos: "Você tem de compreender que uma gaivota é uma ilimitada ideia de liberdade, uma imagem da Grande Gaivota ". Ela sabe que você tem que ser fiel a si mesmo.

A introdução à terceira parte do livro é composta pelas últimas palavras do professor de Fernão: "Fernão, continua a trabalhar no amor". Nesta parte Fernão entende que o espírito não pode ser verdadeiramente livre sem a capacidade de perdoar e o caminho do progresso passa pela capacidade de tornar-se um professor - e não somente pelo trabalho árduo como um aluno. Fernão volta para o antigo bando para compartilhar suas ideias, suas descobertas recentes e sua grande experiência. Pronto para a difícil luta contra as atuais normas da referida sociedade, a capacidade de perdoar parece ser uma obrigatoriedade para a condição de passagem.

"Vocês querem voar tão alto a ponto de perdoar o bando, aprender e voltar a eles um dia e trabalhar para ajudá-los a se conhecerem?"

Fernão pergunta ao seu primeiro estudante antes de iniciar o aprendizado. A ideia de que os mais fortes podem atingir mais por deixar para trás os mais fracos amigos parece totalmente rejeitada. Daí o amor e o perdão merecem respeito e parecem ser igualmente importantes para libertar-se da pressão de obedecer às regras apenas porque são comumente aceitas.

Nos anos 70, o selo Continental, produzido pela Transbrasil lançou um LP com a gravação da adaptação do livro, narrado pelo consagrado radialista Moacyr Ramos Calhelha com a participação de Hebe Camargo que cantou a música "Pai Nosso", e participações de Wilson Miranda que cantou as músicas "No Infinito Azul", "O Voo Solitário" e "Ave".

Fonte:
Wikipedia

Concursos de Trovas com Inscrições Abertas (Itaperuna e Intersedes)


II Jogos Florais da UBT Seção Itaperuna/RJ


Prazo 30 de junho de 2022

REGULAMENTO
 
1 - Dos Temas: Trovas líricas ou filosóficas.

1.1. Em todos os âmbitos e Categorias

01 trova por concorrente
 
–  Âmbito Nacional (Brasil e demais países de língua portuguesa)
Categoria Veterano: “COLHEITA”
– Categoria Novo Trovador: “SEMENTE”

(Considera-se Novo Trovador aquele que não obteve até a divulgação deste regulamento 03 (três) classificações em concursos de trova oficiais da UBT em nível nacional).

• Âmbito Estadual (Somente trovadores residentes no Estado do RJ)
- Categoria Veterano: “HUMANIDADE”
– Categoria Novo Trovador: “SEMENTE”
 
• Âmbito Municipal Estudantil: (Ensino Fundamental e Médio):
(para estudantes de escolas das Redes de Ensino de Itaperuna - Municipal, Estadual e Privada.)
Tema: “PAZ”

Serão contemplados novos trovadores, sem distinção entre os âmbitos Nacional/ Internacional e Estadual.

2 - Modo de envio:
 
Para todos os âmbitos e categorias, as trovas devem ser escritas em língua portuguesa e devem ser inéditas. Cada trovador poderá concorrer com apenas uma trova.
 
Por e-mail:
Assunto: II JOGOS FLORAIS DA UNIÃO BRASILEIRA DE TROVADORES (UBT) /SEÇÃO ITAPERUNA/ 2022
 
Escrever as trovas no corpo do e-mail, seguidas do âmbito e da categoria a que concorre, o nome e endereço completo (Rua, número, bairro, cidade e estado) do autor. Informar o número de telefone e o e-mail.

NÃO SERÃO ACEITOS ANEXOS DE E-MAILS.
 
Enviar para os Fiéis Depositários abaixo, de acordo com o tema do concurso:
 
A. As trovas dos concorrentes do Âmbito Nacional, categoria Veterano – tema:
COLHEITA, deverão ser encaminhadas para:

Maria Lúcia Spadarotto Neves.
E-mail: luciaspadarotto@hotmail.com
 
B. As trovas dos concorrentes do Âmbito Estadual, categoria Veterano – tema: HUMANIDADE, deverão ser encaminhadas para:  

Jerson Brito
E-mail: jersonbrito.pvh@gmail.com
 
C. As trovas dos concorrentes da categoria Novo Trovador – tema: SEMENTE, deverão ser encaminhadas para:

Maria Lúcia Spadarotto Neves.
E-mail: luciaspadarotto@hotmail.com

 D. As trovas dos concorrentes do Âmbito Municipal Estudantil – tema: PAZ, deverão ser encaminhadas para:

Marina Caraline Almeida Carvalhal.
E-mail: mcacarvalhal@yahoo.com.br
 
3 – Do Prazo

Todos os Âmbitos: Serão consideradas as trovas que chegarem até 30 de junho de 2022.
 
4 – Da Premiação

A premiação acontecerá em data, local e horário a serem definidos.

Será concedido Diploma para todos os classificados.
 
A UBT Seção Itaperuna não se responsabilizará por quaisquer despesas de locomoção e/ou hospedagem dos classificados para o recebimento da premiação.
 
5 – Da Comissão Organizadora:

5.1 – A Comissão Organizadora resolverá os casos omissos e suas decisões serão
definitivas e irrecorríveis.

5.2 – As decisões das comissões julgadoras e apuradoras serão irrevogáveis e irrecorríveis.

5.3 – A simples remessa das trovas significa total conhecimento e completa aceitação deste Regulamento.
 
6 - Disposições finais:

6.1 - Para efeito deste concurso, entende-se por TROVA a composição poética (poema) de quatros versos (linhas) setessilábicos, rimando o primeiro com o terceiro e o segundo com o quarto (ABAB), expressando um sentido completo.

6.2 - As palavras-tema deverão constar nas trovas.
=======================================================
Concurso Intersedes  2022

Prazo 30 de junho de 2022
 
Promovida pela UBT Seção Nova Friburgo/RJ

REGULAMENTO

1 - Este concurso é exclusivo para associados de Seções e Delegacias da UBT no território nacional, excetuando os da Seção Nova Friburgo.

2 - O  tema do presente concurso é “Esperança” e serão aceitas apenas trovas líricas e/ou filosóficas.

3 - Cada concorrente poderá participar com apenas 1 (uma) trova.

4 - O prazo final para o envio é 30/06/2022 (valendo até as 23h59 desse dia).

5 - Na identificação o concorrente deverá indicar nome, endereço completo e e-mail, bem como especificar qual a Seção ou Delegacia da UBT a que pertence.

6 - Na remessa via Internet o concorrente deverá escrever a trova e, logo abaixo, a identificação completa (conforme item 5º) no corpo do e-mail para o fiel depositário Manoel Cavalcante:

manoelbraz5@gmail.com

OBS: Trovas enviadas em arquivos anexos serão desconsideradas.

7 - Será premiada uma única trova como Vencedora, cujo autor receberá troféu e certificado digital. Haverão ainda 5 menções honrosas e 5 menções especiais, cujos autores receberão certificados digitais.

8 = A Seção ou Delegacia a que pertencer o(a) autor(a) da trova vencedora também receberá um troféu.

9 - A Seção ou Delegacia a que pertencer o(a) autor(a) da trova vencedora se obrigará a promover a edição subsequente do concurso.

10 - Caberá aos promotores resolver os casos omissos e suas decisões serão definitivas e irrecorríveis.

11 - A remessa das trovas significa total conhecimento e completa aceitação deste Regulamento.

Outros concursos de trovas
Campos do Jordão
Cantagalo
Curitiba
Juiz de Fora (Tambores de Poesia)
Maranguape
São José dos Campos


nos links abaixo:
https://singrandohorizontes.blogspot.com/2022/03/2-concursos-de-trovas-com-inscricoes.html
 

sexta-feira, 18 de março de 2022

Adega de Versos 74: Gislaine Canales

 

Carlos Leite Ribeiro (A Raiz do Dente)

"Não há mal que sempre dure "- diz o povo e com razão!

Eram 16:15 horas quando do consultório dentário me telefonaram a dizer que era o próximo cliente...

Quando entrei no consultório, vi que não era a dentista que eu pensava que fosse. Perguntei pela dentista "brasileira" e a simpática dentista que me atendeu, disse-me que  já não trabalhava lá, pois tinha ido para o Algarve. Perguntou-me se eu tinha preferência por "brasileiras dentistas" o que logo respondi:

- Adoro brasileiras!

Sorriu ao responder-me:

- Pois, desta vez terá de se contentar com uma dentista portuguesa!

- Claro que eu como grande patriota adoro as mulheres portuguesas! Nadinha de confusões, porque as portuguesas são as mais "belas" do mundo! - retorqui-lhe eu. Abriu ainda mais o sorriso:

- Pois, pois, estou a ver. Pode sentar-se na cadeira.

Sentou-me e a sua ajudante (muito jovem) perguntou-me se a posição estava cômoda, se eu queria ficar com a cabeça mais baixa, pondo-me depois um babete (babador). Para meter conversa, perguntei à dentista qual o seu nome, ao que ela me respondeu:

- Dulce Maria. - enquanto preparava a ferramenta.

Também quis saber se existia alguma santa Dulce. Mas ela não sabia, melhor, só sabia que tinha "mãos de fada" para tratar de dentes. - Deus a ouça - pensei logo eu. Disse-me que me conhecia há muito tempo, pois o meu filho mais novo (o João) tinha sido colega de liceu da irmã mais nova. Aproveitei a deixa para logo a avisar:

- Se a Dra. me fizer doer, faço queixa ao meu filho João!

Aproximou-se de mim com uma ferramenta de cabo fino tendo na ponta uma espécie de espelho redondo.

- Abra a boca, por favor...

Tão enervado estava que até disse alto:

- Abrir a boca?!

Ela atirou uma gargalhada, dizendo:

- Se não abrir a boca, vai ser muito difícil para mim examiná-lo!

Já com a boca aberta, começou a bater na raiz com o tal espelho. Pensei logo: - Esta será mesmo dentista ou será tocadora de tarimba?

Quando terminou o exame, mandou-me bochechar com um líquido e deitar fora. Seguidamente, pegou numa seringa metálica, e eu pedi-lhe que tivesse calma, pois sofria do coração.

- "Você é cardíaco?" - perguntou ela.  

- Não Sra. Dra., mas apaixono-me com muita facilidade!  

A resposta chegou pronta:

- Pois, pois. Já tinha notado!

Pôs-me um spray e disse-me:

- Não vai doer mesmo nada... só vai sentir as picadinhas...

Mas atrás das picadinhas, começaram umas picadonas que me magoaram. Mas aquela "mamífera" sabia que me estava a magoar e continuava. Meu queixo ficou insensível!

Foi buscar outra ferramenta, tipo chave parafusos dizendo que ia "descarnar" a raiz. Comecei a sentir o sabor do sangue e pensei:

- Seria incapaz de ser vampiro, pois não gosto do sabor do sangue.

Colocou-me um tubinho para tirar a saliva e o sangue e, uns pedacinhos de algodão (que sensação horrível, pois parecia que tinha comido algum dióspiro [caqui] ainda não maduro).

- Está a ver que não dói mesmo nada?

Com aquele tubinho na boca, mais o algodão e o queixo dormente, não lhe pude responder, mas pensei:

- "Oh, sua "mamífera", a você é que não está a doer, mas a mim, está!"

Foi ao tabuleiro buscar um alicate, que quando o vi, senti um arrepio em todo o corpo...

- Não lhe vai doer nada... só vai sentir muita força... muita força...

E eu sentia a força e também a dor! E nunca mais parava de puxar. Pensei que talvez a raiz estivesse presa nalgum dos meus pés.

- Tenha calma que já está... já está...

Mas ainda foi lá torcendo com o alicate mais um bocadinho. Por fim, como quem mostra um troféu ganho com grande esforço, mostrou-me o enorme pedaço de dente (retangular) que esteve debaixo da placa mais de nove anos!

- Bocheche, não com muita força e deite fora.

Deu-me (?) quatro enormes drágeas para tomar de 8 em 8 horas e marcou para voltar no dia seguinte junto à noite, para ver como estava a boca. Acompanhou-me à porta, pondo-me à vontade no que diz respeito ao pagamento.  

– Muito obrigado, mas não, eu quero pagar já. Quanto lhe devo?

- O tratamento e extração são 50 euros!"

Quase que tive um desmaio: 50 €... Paguei sem reclamar, mas pensando:

- “Isto foi muito caro! E a "mamífera" que diz que tem "mãos de fada... Deve ser uma "fada" com a carteira muito funda”!

E aqui estou eu com o queixo parcialmente insensível. Já me estava a esquecer: Tenho que ir tomar uma drágea daquelas que ela me deu (?)...

Fonte:

Hinos do Brasil (Rio de Janeiro e Espírito Santo)

RIO DE JANEIRO

Hino 15 de Novembro
Letra por Antônio José Soares de Souza Júnior
Melodia por João Elias da Cunha
O Hino do Estado do Rio de Janeiro, intitulado Hino 15 de Novembro, foi composto em 1889 pelo maestro da banda da Força Militar do Estado do Rio de Janeiro (atual Polícia Militar) João Elias da Cunha (1850-1918) e oferecido ao primeiro Governador após da proclamação da República, Dr. Francisco Portela, por ele. A letra do hino é do poeta fluminense Antônio José Soares de Souza Júnior. Foi instituído como hino oficial em 29 de dezembro do mesmo ano


Fluminenses, avante! Marchemos!
Às conquistas da paz, povo nobre!
Somos livres, alegres brademos,
Que uma livre bandeira nos cobre.
Fluminenses, eia! Alerta!
Ódio eterno à escravidão!
Que na Pátria enfim liberta
Brilha à luz da redenção!
Nesta Pátria, do amor áureo templo,
Cantam hinos a Deus nossas almas;
Veja o mundo surpreso este exemplo,
De vitória, entre flores e palmas.
Fluminenses, eia! Alerta!...

Nunca mais, nunca mais nesta terra
Virão cetros mostrar falsos brilhos;
Neste solo que encantos encerra,
Livre Pátria terão nossos filhos.
Fluminenses, eia! Alerta!...
Ao cantar delirante dos hinos
Essa noite, dos tronos nascida,
Deste sol, aos clarões diamantinos,
Fugirá, sempre, sempre vencida.
Fluminenses, eia! Alerta!...
Nossos peitos serão baluartes
Em defesa da Pátria gigante;
Seja o lema do nosso estandarte:
Paz e amor! Fluminenses, avante!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

ESPÍRITO SANTO

Letra por Peçanha Póvoa
Melodia por Artur Napoleão

Hino oficializado em 24 de julho de 1947.


Surge ao longe a estrela prometida,
Que a luz sobre nós quer espalhar;
Quando ela ocultar-se no horizonte,
Há de o sol nossos feitos lumiar.

Nossos braços são fracos, que importa?
Temos fé, temos crença a fartar;
Supre a falta de idade e de força,
Peitos nobres, valentes, sem par.

Salve o povo espírito-santense!
Herdeiro de um passado glorioso,
Somos nós a falange do presente,
Em busca de um futuro esperançoso.

Saudemos nossos pais e mestres,
A Pátria, que estremece de alegria,
Na hora em que seus filhos, reunidos,
Dão exemplos de amor e de harmonia.

Venham louros, coroas, venham flores,
Ornar os troféus da mocidade;
Se as glórias do presente forem poucas;
Acenai para nós posteridade!

Salve o povo espírito-santense!
Herdeiro de um passado glorioso,
Somos nós a falange do presente,
Em busca de um futuro esperançoso.