segunda-feira, 11 de abril de 2022

Júlia Lopes de Almeida (A nevrose da cor)

Desenrolando o papiro, um velho sacerdote sentou-se ao lado da bela princesa Issira e principiou a ler-lhe uns conselhos, escritos por um sábio antigo. Ela ouvia-o indolente, deitada sobre as dobras moles e fundas de um manto de púrpura; os grandes olhos negros cerrados, os braços nus cruzados sobre a nuca, os pés trigueiros e descalços unidos à braçadeira de ouro lavrado do leito.

Pelos vidros de cores brilhantes das janelas, entrava iriada* a luz do sol, o ardente sol do Egito, pondo reflexos fugitivos nas longas barbas prateadas do velho e nos cabelos escuros da princesa, esparsos sobre a sua túnica de linho fino.

O sacerdote, sentado num tamborete baixo, continuava a ler no papiro, convictamente; entretanto a princesa, inclinando a cabeça para trás, adormecia!

Ele lembrava-lhe:

– “A pureza na mulher é como o aroma na flor!”

“Ide confessar a vossa alma ao grande Osíris! para a terdes limpa de toda a mácula e poderdes dizer no fim da vida: Eu não fiz derramar lágrimas; eu não causei terror!”

“Quanto mais elevada é a posição da mulher, maior é o seu dever de bem se comportar.”

“Curvai-vos perante a cólera dos deuses! Lavai de lágrimas as dores alheias, para que sejam perdoadas as vossas culpas!”

“Evitai a peste e tende horror ao sangue...”

– Notai bem, princesa: E tende horror ao sangue!

A princesa sonhava: ia navegando num lago vermelho, onde o sol estendia móvel e quebradiça uma rede dourada. Recostava-se num barco de coral polido, de toldo matizado sobre varais crivados de rubis; levava os pés mergulhados numa alcatifa* de papoulas e os cabelos semeados de estrelas...

Quando acordou, o sacerdote, já de pé, enrolava o papiro, sorrindo com ironia.

– Ainda estás aí?

– Para vos repetir: Arrependei-vos, não abuseis da vossa posição de noiva do senhor de todo o Egito... lavai para sempre as vossas mãos do sangue...

A princesa fez um gesto de enfado, voltando para o outro lado o rosto; e o sacerdote saiu.

Issira levantou-se, e, arqueando o busto para trás, estendeu os braços, num espreguiçamento voluptuoso.

Uma escrava entrou, abriu de par em par a larga janela do fundo, colocou em frente a cadeira de espaldar de marfim com desenhos e hieróglifos na moldura, pôs no chão a almofada para os pés, e ao lado a caçoula* de onde se evolava, enervante e entontecedor, um aroma oriental.

Issira sentou-se, e, descansando o seu formoso rosto na mão, olhou demoradamente para a paisagem. A viração brincava-lhe com a túnica, e o fumo da caçoula envolvia-a toda.

O céu, azul-escuro, não tinha nem um leve traço de nuvem. A cidade de Tebas parecia radiante. Os vidros e os metais deitavam chispas de fogo, como se aqui, ali e acolá, houvesse incêndio; e ao fundo, entre as folhagens escuras das árvores ou as paredes do casario, serpeava, como uma larga fita de aço batida de luz, o rio Nilo.

Princesa de raça, neta de um Faraó, Issira era orgulhosa; odiava todas as castas, exceto a dos reis e a dos sacerdotes. Fora dada para esposa ao filho de Ramazés, e, sem amá-lo, aceitava-o, para ser rainha. Era formosa, indomável, mas vítima de uma doença singular: a nevrose da cor. O vermelho fascinava-a.

Muito antes de ser a prometida do futuro rei, chegava a cair em convulsões ou delírios ao ver flores de romãzeiras, que não pudesse atingir, ou as listas encarnadas dos kalasiris* dos homens do povo.

A medicina egípcia consultou as suas teorias, pôs em prática todos os seus recursos e curvou-se vencida diante da persistência do mal. Issira, entretanto, degolava as ovelhinhas brancas, bebia-lhes o sangue, e só plantava nos seus jardins papoulas rubras.

Na aldeia em que nascera e em que tinha vivido, Karnac, forrara de linho vermelho os seus aposentos; era neles que ela bebia em taças de ouro o precioso líquido.

Princesa e formosa, a fama levou-lhe o nome ao herdeiro de um Ramazés; e logo o príncipe, curioso, seguiu para essa terra.

O seu primeiro encontro foi no templo. Ele esperava-a no centro do enorme pátio, entre as galerias de colunas, ansiosamente. Ela vinha no seu palanquim de seda, coberta de pérolas e de púrpura, passando radiante e indolente entre as seiscentas esfinges que flanqueavam a rua.

Dias depois morria o pai de Issira, último descendente dos Faraós, após a sua costumada refeição de leite e mel. O príncipe Ramazés solicitou a mão da órfã e fê-la transportar para o palácio real, em Tebas.

A beleza de Issira deslumbrou a corte; a sua altivez fê-la respeitada e temida; a paixão do príncipe rodeou-a de prestígio e a condescendência do rei acabou de lhe dar toda a soberania. O seu porte majestoso, o seu olhar, ora de veludo ora de fogo, mas sempre impenetrável e sempre dominador, impunham-na à obediência e ao servilismo dos que a cercavam.

Esquecera a placidez de Karnac. Lamentava só as ovelhinhas brancas que ela imolava nos seus jardins das papoulas rubras.

A loucura do encarnado aumentou.

Os seus aposentos cobriram-se de tapeçarias vermelhas. Eram vermelhos os vidros das janelas; pelas colunas dos longos corredores enrolavam-se hastes de flores cor de sangue.

Descia às catacumbas iluminada por fogos encarnados, cortando a grandiosa soturnidade daqueles enormes e sombrios edifícios, como uma nuvem de fogo que ia tingindo, deslumbradora e fugidia, os sarcófagos de pórfiro*ou de granito negro.

Não lhe bastava isso; Issira queria beber e inundar-se em sangue. Não já o sangue das ovelhinhas mansas, brancas e submissas, que iam de olhar sereno para o sacrifício, mas o sangue quente dos escravos revoltados, conscientes da sua desgraça; o sangue fermentado pelo azedume do ódio, sangue espumante e embriagador!

Um dia, depois de assistir no palácio a uma cena de pantomimas e arlequinadas, Issira recolheu-se doente aos seus aposentos; tinha a boca seca, os membros crispados, os olhos muito brilhantes e o rosto extremamente pálido.

O noivo andava por longe a visitar províncias e a caçar hienas.

Issira, estendida sobre os coxins de seda, não conseguia adormecer. Levantava-se, volteava no seu amplo quarto, desesperadamente, como uma pantera ferida a lutar com a morte. Faltava-lhe o ar; encostou-se a uma grande coluna, ornamentada com inverossímeis figuras de animais entre folhas de palmeira e de lodão* e aí, de pé, movendo os lábios secos, com os olhos cerrados e o corpo em febre, deliberou mandar chamar um escravo.

A um canto do quarto, estendida no chão, sobre a alcatifa, dormia a primeira serva de Issira. A princesa despertou-a com a ponta do pé.

Uma hora mais tarde, um escravo, obedecendo-lhe, estendia-lhe o braço robusto, e ela, arregaçando-lhe ainda mais a manga já curta do kalasiris, picava-lhe a artéria, abaixava rapidamente a cabeça, e sugava com sôfrego prazer o sangue muito rubro e quente!

O escravo passou assim da dor ao desmaio e do desmaio à morte; vendo-o extinto, Issira ordenou que o removessem dali, e adormeceu. Desde então entrou a dizimar escravos, como dizimara ovelhas.

Subiam queixas ao rei; mas Ramazés, já velho, cansado e fraco, parecia indiferente a tudo. Ouvia com tristeza os lamentos do povo, fazendo-lhe promessas que não realizava nunca.

Não queria desgostar a futura rainha do Egito; temia-a. Guardava a doce esperança da imortalidade do seu nome. E essa imortalidade, Issira poderia cortá-la como a um frágil fio de cabelo. Formosa e altiva, quando ele, Ramazés, morresse, ela, por vingança, fascinaria a tal ponto os quarenta juízes do julgamento dos mortos, que eles procederiam a um inquérito fantástico dos atos do finado, apagando-lhe o nome em todos os monumentos, dizendo ter mal cumprido os seus deveres de rei!

Não! Ramazés não oporia a sua força à vontade da neta de um Faraó! Que a maldita casta dos escravos desaparecesse, que todo o seu sangue fosse sorvido com avidez pela boca rosada e fresca da princesa. Que lhe importava, e que era isso em relação à perpetuidade do seu nome na história?

As queixas rolavam a seus pés, como ondas marulhosas e amargas; ele sofria-lhes o embate, mas deixava-as passar!

Issira, encostada à mão, olhava ainda pela janela aberta para a cidade de Tebas, esplendidamente iluminada pelo sol, quando um sacerdote lhe foi dizer, em nome do rei, que viera da província a triste notícia de ter morrido o príncipe desastrosamente.

Recebeu a princesa com ânimo forte tão inesperada nova. Enrolou-se num grande véu e foi beijar a mão do velho Ramazés.

O rei estava só; a sua fisionomia mudara, não para a dolorosa expressão de um pai sentido pela perda de um filho, mas para um modo de audaciosa e inflexível autoridade. Aceitou com frieza a condolência de Issira, aconselhando-a a que se retirasse para os seus domínios em Karnac. A egípcia voltou aos seus aposentos, e foi sentar-se pensativa no dorso de uma esfinge de granito rosado, a um canto do salão.

A tarde foi caindo lentamente; o azul do céu esmaecia; as estrelas iam a pouco e pouco aparecendo, e o Nilo estendia-se cristalino e pálido entre a verdura negra da folhagem. Fez-se noite. Imóvel no dorso da esfinge, Issira olhava para o espaço enegrecido, com os olhos úmidos, as narinas dilatadas, a respiração ofegante.

Pensava na volta a Karnac, no seu futuro repentinamente extinto, nesse glorioso amanhã que se cobrira de crepes e que lhe parecia agora interminável e vazio! Morto o noivo, nada mais tinha a fazer na corte.

Ramazés dissera-lhe:

– Ide para as vossas terras; deixai-me só...

Issira debruçou-se da janela – tudo negro! Sentiu rumor no quarto, voltou-se. Era a serva que lhe acendera a lâmpada. Olhou fixamente para a luz; a cabeça ardia-lhe, e procurou repousar. Deitando-se entre as sedas escarlates do leito, com os olhos cerrados e as mãos pendentes, viu, em pensamento, o noivo morto, estendido no campo, com uma ferida na fronte, de onde brotava em gotas espessas o seu belo sangue de príncipe e de moço.

A visão foi-se tornando cada vez mais clara, mais distinta, quase palpável. Soerguendo-se no leito, encostada ao cotovelo, Issira via-o, positivamente, a seus pés. O sangue já se não desfiava em gotas, uma a uma, como pequenas contas de coral; caia às duas, às quatro, às seis, avolumando-se, até que saía em borbotões, muito vermelho e forte; Issira sentia-lhe o calor, aspirava-lhe o cheiro, movia os lábios secos, buscando-lhe a umidade e o sabor.

A insônia foi cruel. Ao alvorecer, chamando a serva, mandou vir um escravo.

Mas o escravo não foi. Ramazés atendia enfim ao seu povo, proibindo à egípcia a morte dos seus súditos. Um sacerdote foi aconselhá-la.

– Cuidado! A justiça do Egito é severa, e vós já não sois a futura rainha...

Issira despediu-o.

Perseguia-a a imagem do noivo, coberto de sangue. A proibição do rei revoltava-a, acendendo-lhe mais a febre do encarnado.

Como na véspera, o sol entrava gloriosamente pelo aposento, através dos vidros de cor. A princesa mordia as suas cobertas de seda, torcendo-se sobre a púrpura do manto. De repente levantou-se, transfigurada, e mandou vir de fora braçadas de papoulas, que espalhou sobre o leito de púrpura e ouro...

Depois, sozinha, deitou-se de bruços, estirou um braço e picou-o bem fundo na artéria. O sangue saltou vermelho e quente. A princesa olhou num êxtase para aquele fio coleante que lhe escorria pelo braço, e abaixando a cabeça uniu os lábios ao golpe.

Quando à noite a serva entrou no quarto, absteve-se de fazer barulho, acendeu a lâmpada de rubis, e sentou-se na alcatifa, com os olhos espantados para aquele sono da princesa, tão longo, tão longo…
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* Vocabulário:
Alcatifa = tapete grande, geralmente com desenhos e cores variadas, usualmente para cobrir pavimentos ou ser colocado nas janelas em dias festivos.
Caçoula = recipiente para queimar substâncias ou misturas aromáticas.
Iriada = que possui as cores do arco-íris.
Kalasiris = túnica longa usada por homens e mulheres no Egito antigo.
Lodão = é uma espécie de árvore do Oriente Médio. É possível que se trate da árvore a que os autores clássicos como Heródoto e Dioscórides chamaram lótus.
Pórfiro = qualquer pedra que apresente partículas muito brancas em fundo escuro.


Fonte:
Júlia Lopes de Almeida. Ânsia eterna. 2. ed. rev. Brasília : Senado Federal, 2020. Publicada originalmente em 1903.

domingo, 10 de abril de 2022

Varal de Trovas n. 555

 

Renato Frata (Um pensamento, uma viagem)

O mormaço da tarde varou a noite em plantão à minha janela, talvez para que não me esquecesse de que é verão, aliás, dos mais quentes que se tem notícia. Empurrado pelo vento morno, passou a noite a escorregar de manso pelas gretas da veneziana e com isso aqueceu meu quarto.

Na madrugada, com a fronha umedecida de suor, depois de revirar na cama qual bife em frigideira quente, me acomodei; e quietinho esperando pelo sono, um pensamento saído de não sei onde me alcançou; e com ele tomado de um quase êxtase, pude enxergá-la.

Olhos fechados na noite, a vi deitada em sua cama, emoldurada pela penumbra silenciosa do quarto sob olhares cuidadosos dos móveis que como vigilantes imobilizados, faziam a vigília.

Nesse passeio rápido de pensamento, atrevi movimentar-me pelo seu aposento. Aliás, reputo mais à curiosidade que me impulsionou que ao atrevimento propriamente dito. Tateei as paredes velando não esbarrar nos móveis-sentinelas e a passo de gato com gestos medidos, levantei do chão uma ponta caída do lençol. Aproveitei e a estendi sobre seu corpo, preocupado em não acordá-la, momento em que se mexeu e melhor se aninhou como a agradecer pela gentileza. Olhei-a com atenção apreciando sua face que estava tranquila, o que me deixou satisfeito porque seus lábios descontraídos quase sorriam. Parecia feliz no descanso após o dia de trabalho.

Não sei por que, mas da mesma forma que havia entrado, saí. Quando me vi lá fora, porém, senti-me vazio e temeroso, momento em que a sombra da solidão se aproximou com sua cara horrenda e desdentada a querer me absorver como faz todos os dias. Seus dedos finos e magros empunhavam unhas compridas que riscavam o ar em minha direção como garras de animal feroz. Como enfrentá-la se ela é muito mais forte? Inquiri.

Num lapso de covardia (ou de sabedoria?) fugindo dela, expugnei as paredes e voltei ao quarto, sondei o ambiente envolvido pelo aroma gostoso de seu perfume, aliás, que enebria e encanta, voltando a percorrê-lo devagar. O corpo, meio encolhido, parecia se comprazer sob o lençol. Talvez se deliciasse com os feixes de sonhos bons da noite.

Em pé ao seu lado, conjecturei sobre a graça e a tristeza da vida, quando uma sempre compensa a outra: não fosse o calor e a insônia, não teria havido o pensamento. Não fosse o pensamento, não teria havido a aventura noturna; e nem a consciência da necessidade de fugir do sentimento da solidão. Não fosse a aventura imaginada, perigosa, imprópria e arriscada, não teria havido o encontro, mesmo que de maneira sorrateira.

Como o pensamento viaja sem se importar com barreiras e limites e nem com acidentes geográficos, a invasão, por si só deixa de ser pecado, afinal, ninguém consegue segurá-lo.

O fato é que passei ali tempão aos pés do leito a cuidar de seu sono, querendo e não podendo me aproximar, sofrendo com a impossibilidade e me deliciando com a presença, até quando o sol se infiltrou também pelas frestas e trouxe a realidade de um novo dia.

Sorri sabendo que a solidão se afugentou com a claridade e se misturou às pouquíssimas gotículas de orvalho que a noite de verão permitiu formar.

Fonte:
Renato Benvindo Frata. Azarinho e o caga-fogo. Paranavaí/PR: Eg. Gráf. Paranavaí, 2014.
Livro enviado pelo autor.

Gislaine Canales (Glosas Diversas) XLI

OUTRA VEZ?


MOTE:
No amor, minha aprendizagem
com tantos erros se fez,
que não tenho mais coragem
de aprender tudo outra vez...
Sebas Sundfeld
(Pirassununga/SP, 1924 – 2015, Tambaú/SP)


GLOSA:

No amor, minha aprendizagem
foi difícil, fez chorar,
parecendo uma viagem
sem hora para voltar.

Essa aprendizagem louca,
com tantos erros se fez,
que os lábios da minha boca
sentiam a embriaguez!

Me lanço numa sondagem
e percebo torturado,
que não tenho mais coragem
não sou mais o do passado!

Pra dentro de mim, olhando,
eu vejo com nitidez:
não tenho força sobrando
de aprender tudo outra vez…
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SE...

 
MOTE:
Se tens um sonho desfeito,
se a vida perdeu o encanto,
solta a angústia do teu peito,
desamarra o nó do pranto!
Selma Patti Spinelli
(São Paulo/SP)


GLOSA:

Se tens um sonho desfeito,
tenta sonhar outra vez,
sonhar nos traz, com seu jeito,
uma doce embriaguez!

Não sejas pra sempre triste
se a vida perdeu o encanto,
em nosso existir existe,
cada dia, outro acalanto!

Não fiques insatisfeito,
deixa o teu pranto rolar,
solta a angústia do teu peito,
que, um dia, ela vai findar!

Grita o teu pranto de dor,
faz dele o teu doce canto,
enche tua vida de amor,
desamarra o nó do pranto!
= = = = = = = = = = =

SOU PRAIA DESERTA

MOTE:
Tua ausência me desperta
a impressão de ser deixada...
como uma praia deserta
quando passa a temporada.
Vanda Alves da Silva
(Curitiba/PR)

GLOSA:

Tua ausência me desperta
uma saudade sem fim,
parece uma porta aberta,
que se fecha para mim!

Sinto, em tristeza tão minha,
a impressão de ser deixada...
para sempre, assim, sozinha,
pelo amor – abandonada!

A amargura enorme é certa
e eu me sinto a soluçar
como uma praia deserta
que chora a ausência do mar!

Assim, me sinto, também,
uma praia, sem pegada,
onde não passa ninguém,
quando passa a temporada.
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VALEU A PENA...

MOTE:
É feliz quem vive a paz,
de uma velhice serena,
capaz de olhar para trás
e dizer: - Valeu a pena!
Vanda Fagundes Queiroz
(Curitiba/PR)


GLOSA:

É feliz quem vive a paz,
é feliz quem faz o bem,
é bem mais feliz, quem faz
o bem, sem olhar a quem!

Tem-se, então, a garantia
de uma velhice serena,
com muita, muita alegria
como fundo dessa cena!

É uma atitude que apraz,
que nos faz sentir felizes,
capaz de olhar para trás
e não ver só cicatrizes!

E quando o inverno chegar
em nossa vida terrena
podermos tudo lembrar
e dizer: - Valeu a pena!
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SOZINHA AO LUAR...

MOTE:
Olho a rua... A noite avança,
tudo adormece ao luar...
Dorme até minha esperança,
pois cansou de te esperar!
Wanda de Paula Mourthé
(Belo Horizonte/MG)


GLOSA:

Olho a rua... A noite avança,
agora o Sol se escondeu
e a noite, quase criança,
aos poucos, apareceu!

É lindo, mais que magia!...
tudo adormece ao luar...
É tudo envolto em poesia
nos convidando a sonhar!

É bonita essa lembrança,
mas sob o luar prateado,
dorme até minha esperança,
na saudade do passado!

Meu coração, pobrezinho,
triste de tanto chorar,
segue só, o seu caminho,
pois cansou de te esperar!

Fonte:
Gislaine Canales. Glosas Virtuais de Trovas XXIV. In Carlos Leite Ribeiro (produtor) Biblioteca Virtual Cá Estamos Nós. http://www.portalcen.org. Março 2005.

Contos e Lendas do Mundo (Índia: Harisarman, o mago)

Era uma vez um brâmane chamado Harisarman. Ele era pobre e ignorante, precisava muito de um emprego, e tinha tantos filhos que talvez estivesse colhendo os frutos dos erros cometidos em alguma vida passada.

Ele perambulava pedindo esmola com a família até que chegou a uma cidade e começou a trabalhar para um proprietário rico de terras, chamado Sthuladatta. Seus filhos cuidavam das vacas e de outras propriedades de Sthuladatta, sua esposa tornou-se criada dele, e ele próprio morava perto da casa e tornou-se seu empregado.

Um dia, houve um banquete pelo casamento da filha de Sthuladatta, no qual estiveram presentes muitos amigos e convidados do noivo. Harisarman esperava poder se encher de manteiga, carne e outras guloseimas e conseguir o mesmo para sua família. Ele aguardou ansiosamente que lhe levassem alguma comida, mas ninguém se lembrou dele.

Ficou aflito por não receber nada para comer, então disse à esposa:

– Aqui me tratam com tanto desrespeito porque sou pobre e ignorante, então fingirei ter conhecimentos de magia, assim conquistarei o respeito de Sthuladatta. Quando houver oportunidade, diga-lhe que tenho conhecimentos de magia.

Depois de pensar sobre o assunto enquanto todos dormiam, ele roubou da casa de Sthuladatta um cavalo que o genro do senhor costumava cavalgar. Escondeu-o a certa distância e, de manhã, os amigos do noivo não encontraram o cavalo, mesmo depois de procurar por todas as partes.

Enquanto Sthuladatta estava angustiado com o mau agouro e tentando encontrar os ladrões que tinham levado o cavalo, a esposa de Harisarman disse-lhe:

– Meu marido é um homem sábio, conhecedor de astrologia e ciências mágicas. Ele pode recuperar o cavalo. Por que não pede a ele?

Quando o Sthuladatta ouviu aquilo, chamou Harisarman, que disse:

– Ontem fui esquecido. Mas hoje, agora que o cavalo foi roubado, sou lembrado.

E Sthuladatta o apaziguou com essas palavras:

– Não lembrei de você, peço-lhe perdão! – e pediu que ele contasse quem havia levado o cavalo.

Harisarman desenhou diversos diagramas falsos e respondeu:

– O cavalo foi escondido por ladrões no extremo sul do terreno. Deve buscá-lo logo, antes que o levem para mais longe, o que deverá acontecerá ao fim do dia de hoje.

Ao ouvirem aquilo, muitos homens correram e rapidamente recuperaram o cavalo, elogiando o discernimento de Harisarman e o proclamando um sábio.

Assim, ele ficou vivendo lá, feliz, respeitado por Sthuladatta.

Os dias se passaram e um grande tesouro, composto por ouro e joias, foi roubado do palácio do rei. Como não conheciam quem era o ladrão, o rei chamou Harisarman, famoso por seus conhecimentos de magia.

Tentando ganhar tempo, ele disse:

– Eu lhe direi amanhã.

O rei o colocou em aposentos muito bem vigiados e Harisarman arrependeu-se de ter fingido conhecer magia. No palácio, havia uma criada chamada Jihva, que significa “língua”, que, com auxílio do irmão, havia roubado o tesouro do palácio. Preocupada com o que Harisarman saberia, à noite ela foi até o cômodo em que ele estava e encostou o ouvido na porta para tentar descobrir o que ele estava fazendo. Harisarman, sozinho lá dentro, naquele exato instante culpava a própria língua por ter feito aquela vã declaração de conhecimento. Ele disse:

– Língua, o que foi fazer em nome da cobiça? Perversa, logo será castigada.

Quando Jihva ouviu aquilo, pensou, horrorizada, que havia sido descoberta pelo sábio e entrou onde ele estava, jogando-se aos seus pés, disse ao suposto mago:

– Brâmane, cá estou, a Jihva que roubou o tesouro, como já descobriu. Depois que o levei, enterrei-o no jardim que fica atrás do palácio, sob uma romãzeira. Então poupe minha vida e receba a pequena quantidade de ouro que tenho comigo.

Quando Harisarman ouviu aquilo, disse a ela com orgulho:

– Vá embora, sei de tudo isso. Conheço o passado, o presente e o futuro. Não a denunciarei, criatura infeliz, por ter implorado por minha proteção. Mas deve entregar a mim todo o ouro que possuir.

Quando ele disse isso, ela concordou e partiu imediatamente. Harisarman refletiu, surpreso: “Assim como no jogo, o destino traz coisas impensáveis. Com a calamidade tão próxima, quem pensaria que o acaso traria o sucesso? Enquanto eu culpava minha jihva, a ladra Jihva de repente se jogou aos meus pés. Crimes secretos se manifestam por meio do medo”.

Assim, jubiloso, ele passou a noite no quarto. Pela manhã, levou o rei, com um desfile hábil de conhecimentos fingidos até o jardim e o conduziu ao tesouro, enterrado sobre a romãzeira, dizendo que o ladrão havia escapado com uma parte. O rei ficou satisfeito e lhe recompensou com muitas aldeias.

Mas um ministro chamado Devajnanin sussurrou no ouvido do rei:

– Como um homem pode ter um conhecimento tão inatingível sem ter estudado livros de magia? Pode ter certeza de que se trata de alguém desonesto, que confabula em segredo com ladrões. Seria melhor testá-lo de outra forma.

Deste modo, o rei trouxe uma jarra coberta, dentro da qual havia colocado um sapo, e disse a Harisarman:

– Brâmane, se conseguir adivinhar o que há nesta jarra, eu lhe farei uma grande honraria hoje.

Ao ouvir aquilo, o brâmane Harisarman pensou que havia chegado sua hora e lhe veio à cabeça o apelido “Sapinho”, que seu pai tinha lhe dado na infância. Compelido a lamentar a má sorte em voz alta, ele disse:

– É uma pena, Sapinho, que uma jarra tão bonita seja a sua destruição.

Os presentes o aplaudiram, pois sua fala harmonizara perfeitamente com o objeto apresentado e murmuram:

– Ah, que grande sábio! Sabe até sobre o sapo!

O rei, achando que aquilo era devido ao dom da adivinhação, ficou exultante e deu a Harisarman mais aldeias, além de ouro, um guarda-chuva e várias carruagens.

Assim Harisarman prosperou para sempre.

Fonte:
Contos e lendas do mundo. Conto publicado originalmente em 1880.


sábado, 9 de abril de 2022

Silmar Böhrer (Gamela de Versos) 15

Fonte:
Silmar Böhrer. Gamela de Versos. Caçador/SC: Ed. do Autor, 2004.
Livro enviado pelo autor.

Artur da Távola (Somos meros repetidores)

As pessoas são (somos) vítimas das próprias fantasias quase sempre prisioneiras de suas concepções de vida e de mundo. Elas nos dominam, tiram a nossa liberdade (quanta vez em nome dela, liberdade), fazem-nos maus ou bons intérpretes daquilo em que acreditamos. Somos tão envolvidos pelos valores de nossa classe social e dos modos de comportamento e crenças ou ideias que raramente descobrimos como exercer uma visão analítica ou crítica sobre o próprio comportamento.

O que caracteriza o estado de consciência lúcida ou reflexiva do ser humano, é a capacidade de atribuir sempre um valor relativo às próprias reações, convicções, ideias e comportamentos. É conhecer em função de que valores, de que ideias e de que tabus ele se comporta, pensa e age. Sem relativizar as causas do próprio comportamento, crenças e convicções, o ser humano é e será mero joguete das circunstâncias que o formaram ou que influenciaram a sua formação. Este é, aliás, o sentido mais profundo do livre arbítrio, base e fundamento do humanismo e da democracia.

Quando o ser humano apenas reage, sem poder ou conseguir analisar por que o faz, ele não está exercendo o livre arbítrio: ele está operando cegamente, condicionado, por mais que a sua ação lhe pareça livre, adequada, perfeita, justa. Em vez de reagir, agir. Mas poucos conseguem adaptar essa verdade a si mesmos.

Acontece, porém, que assim como fomos dotados da possibilidade de um arbítrio livre (fórum interno de debates que nos permite julgar os prós e contras eternos das nossas posições, ideias e convicções), assim, também, raramente usamos essa instância salvadora.

No dia-a-dia, premidos pelas limitações do instante que passa e da necessidade de ter que decidir, ter que opinar, ter que fazer, nada mais fazemos do que repetir e repetir comportamentos anteriores, convicções já firmadas, pontos de vista que já tínhamos.

Somos, todos, salvo os que sabem se transformar em seres livres, meros repetidores das coisas nas quais já cremos. Em função desse comodismo misturado com a dificuldade de ver o novo em cada coisa, agimos sem qualquer forma de análise sobre a própria ação. Agimos segundo os ditames de nossa classe social, às modas, às ideias anteriores, às conveniências.

Há uma frase muito boa e muito usada pelo vulgo, bastante expressiva do que venho querendo significar: "Ele dança conforme a música". A vida é constituída de várias músicas. Cada grupo social tem a sua, e dança conforme ela. Salvo quem aprende a pensar e de transforma em um instrumento de seu ser interior profundo.

Francisco José Pessoa (Escrevo)

Escrevo sim, para completar o pouco de tempo que me resta, tentando enriquecer-me espiritualmente, pois a fortuna material faria pesar ainda mais meu caixão. E vai ali um pobre rico, que soube brincar com a vida, tornando-a um carrinho de lata de doce de goiabada. Real, por sinal, a rolar calçadas íngremes num desafio constante ao subir e descer coxias.

Alimento-me com o bater dos teclados, orquestra sinfônica das minhas várias noites mal ou bem dormidas. Sorvo o néctar dos sábios, mesmo sabendo que sou incapaz de assimilá-lo, mas tento outra vez por ser teimoso. E no ir e vir das minhas falanges, apertando cada tecla como num amor de batráquio, satisfaço-me e chego ao orgasmo falso dos falsos escritores. Assim, me vejo no meu crítico espelho.

Quanto te devo, ó ciência, pois poupaste meu tempo em corrigir meus erros ortográficos, bem como de desgastar as páginas já amareladas e carcomidas do meu Aurélio. Mas escrevo de modo um tanto compulsivo, como no afã do asmático que traga o ar que lhe rodeia, fazendo da eternidade aquele momento. Que bom seria se eu fosse poeta, traduzindo nas minhas linhas o cotidiano, o que a vida me dá e o que tiro dela... seria uma comédia própria não dos teatros da Fifth Avenue, mas dos cucos que percorrem o sertão do nordeste, com suas lonas remendadas, castigadas por um sol sempre presente e pela chuva que, acanhadamente, às vezes aparece.

Quão bom é brincar de escrever, pois as ideias e os cenários, que passam uns após outros, nos transportam para o vale dos sonhos aonde os homens se amam e a paz é a mediadora dos entreveros que não existem. Onde a graúna no seu canto mavioso brinca com os acordes, liberta em pleno voo. Onde o crocodilo abre seu bocão que aterroriza, mas verte lágrimas com um olhar piedoso. Onde o beija-flor no seu incessante bater de asas, desfiando a lei da gravidade, suga o néctar das rosas, papoulas e margaridas que harmoniosamente compõem e fazem o equilíbrio crômico do meu jardim, por que não meu éden?

Escrevo, escrevo sim, para eternizar para os meus pares o meu tísico pensamento, a minha, às vezes, tão comentada e criticada maneira de ser, que com certeza e, assino embaixo, nunca teve um tempero de maldade ou falsidade, pois, escrevendo, rumino um pouco do meu eu que, quisera Deus, fosse um alívio para os que sofrem mais que eu.

Vida, minha vida, como fresco contigo minha quenga virgem.

Fonte:
Francisco José Pessoa de Andrade Reis. Isso é coisa do Pessoa: em prosa e verso. Fortaleza/CE: Íris, 2013.
Livro enviado pelo autor.

Lairton Trovão de Andrade (Enxurrada de Poemas) – 4

ACALANTO


"Como as tuas carícias são
deliciosas!"(Ct. 4.10)


Minh'alma está triste
Como aquele pombo,
Que na mata, ao longe,
Já perdeu seu ninho;
Se soluça o pombo
Seu amor perdido,
A minh'alma implora
Pelo teu carinho.

Doente está minh'alma
Qual ave ferida,
Que o mau caçador
Acertou-lhe o passo;
Infeliz, o pombo
Se apagando vai,
Eu, porém, protejo-me
No teu meigo braço.

Como aquele pombo,
Triste está minha alma,
Coração partido
A sangrar de dor;
Mas, serei feliz,
Neste dia atroz,
Se em teu seio puro
Repousar eu for.

Ficarei quietinho...
Secarás meu pranto...
Voltará a paz
Pra aquecer-me então...
Os teus lábios dóceis
Roçar-me-ão a face
E terei carícias
De uma leve mão.

Oh, delícia imensa!
Deixarei o mundo!
Fingirei dormir
No teu seio, ó linda!
E acordado, sim,
Sonharei contigo,
Sem eu crer que possa
Estar vivo ainda.
= = = = = = = = = = =

AMOR
“Quem é aquela que sobe do deserto
como coluna de fumaça, exalando
perfume de mirra e de incenso?"
(Ct. 3.6)


Tive hoje um encontro feliz,
Encontrei o amor de verdade;
Revivi o que estava bem longe,
Suspirando de felicidade.

Pude ver o amor tão sonhado,
O amor do romance* relido;
O amor que Romeu* bem quisera,
Se Julieta* tivesse existido.

Como é bom ver seus olhos brilhar,
Reluzindo o amor por inteiro;
É o amor que Adão nunca teve,
Porque Eva o deixou forasteiro.

Mas Aquiles*, com seu calcanhar,
A tragédia* da flecha sentiu;
Dos teus olhos a flecha lançou
Só amor que de amor me feriu.

Este amor não irá me deixar,
Sua seiva é uma fonte de luz;
Foi-se embora de mim a tristeza,
Só à alegria a vida me induz.

Tive hoje um encontro feliz,
Encontrei o amor de verdade;
Revivi o que estava bem longe,
Suspirando de felicidade.
= = = = = = = = = = =

V0CABULÁRIO DO POETA:
Aquiles: Personagem lendário da Odisséia de Homero. Morreu atingido por uma flecha no calcanhar, única parte vulnerável do seu corpo.
Romance: História fabulosa ou fictícia, em prosa, para reproduzir paixões, costumes etc..
Romeu e Julieta: Personagens centrais da tragédia do mesmo nome, de Shakespeare.Romeu e Julieta são símbolos do amor profundo romântico, pelo qual enfrenta-se heroicamente todos os obstáculos.
Tragédia: Peça teatral que termina por acontecimento de grande desgraça e tristeza.

= = = = = = = = = = =

FLOR DOS VALES
“Sou a açucena dos campos,
a flor dos vales.” (Cf.2.1)


O flor dos vales
A transpirar
Cheirosa,
Face de pétala
De suavidade
Airosa*,
A natureza
Te fez tão bela!
Serei teu lírio,
Se és minha rosa!

Pousa soberba
Para que eu vá
Pintar-te…
Ó perfeição,
Que só me fez
Amar-te.
Deixa-me ver:
- Que maravilha!
Serei artista,
Porque és a arte!

Com que meiguice
Te acaricio,
Amor!
Com que cuidado
Te afastarei
Da dor!
Que zelo tenho
Por tua seiva!
Sou jardineiro,
Se és minha flor!

O sangue ferve,
O seio é túmido*
(Eu sei),
Cegam-se os olhos
Tremulam lábios
(É lei),
O mundo foge
Naquele êxtase*...
Se fores minha,
Só teu serei!

Doce visão,
Felicidade
A minha;
Sonho e lirismo*
No peito meu
Se aninha;
Luz de esperança
No horizonte:
Sou eu teu servo
Porque és rainha.
= = = = = = = = = = =

V0CABULÁRIO DO POETA:
Airosa: Elegante, garbosa, esbelta.
Êxtase: Arrebatamento, enlevo, arroubamento, transe.
Lirismo: Sentimentalismo.
Túmido: Inchado, cheio, intumescido.

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Fonte:
Lairton Trovão de Andrade. Madrigais: poesias românticas. Londrina/PR: Ed. Altha Print, 2005.
Livro enviado pelo autor.

sexta-feira, 8 de abril de 2022

Edy Soares (Manuscritos (Di)versos) 04: Prenúncio

 

Nilto Maciel (O Lobo e o Cordeiro)

Diante da porta bateu palmas, enquanto olhava para os lados. Longe um cachorro andava ao léu, rabo a balançar. Quando o padre aparecesse pediria sua bênção. Preparou-se para repetir as palmas. Um rosto de mulher apareceu entre as frinchas da porta. Queria falar com o padre. Não, o padre não podia atender ninguém. Descansava, rezava.

Atordoado, o menino coçou a cabeça, fez careta. O cachorro ainda balançava o rabo. Precisava falar com o padre, sem detença. A mulher falava baixo e punha o indicador diante dos lábios. O que desejava o rapazinho dizer ao vigário? Somente a ele contaria o seu segredo. Ora, segredos só no confessionário. E confissões só na igreja, de manhã. A não ser em casos de vida ou morte. Pois o segredo de João era caso de morte. A mulher horrorizou-se e meteu o nariz no buraco da porta. Quem carecia de extrema-unção? E onde se achava o enfermo? O menino se enfezou. Não havia nenhum enfermo. Porém vinha de longe, do sítio do doutor João Forte, e ...
***

Há dias o holandês Vilgot havia desaparecido da cidade, sem deixar rasto. E ultimamente fazia suas pesquisas para as bandas do sítio do doutor João Forte. Todos perguntavam pelo estrangeiro. Sobretudo Victorino, o dono do hotel. Se o homem tivesse arribado, o prejuízo ia ser enorme. Um mês inteiro de hospedagem. E chorava por onde passava.
***

O menino implorava, a mulher permanecia do outro lado da porta. O padre rezava, descansava. Confissões somente de manhã na igreja. Então apareceu mais uma mulher. O que desejava o rapazinho? A primeira mulher deu explicações, João se intrometeu na conversa.
***

Vilgot Slauerhoff havia chegado a Palma três meses atrás. Apresentou-se às autoridades, falando um português quase indecifrável. Vinha da Holanda com a missão de estudar alguns bichos. Um dos quartos da pensão de Victorino encheu de livros, cadernos, máquinas fotográficas e outros objetos. Saía cedinho, andava pela cidade, conversava com um e outro, enfiava-se no mato. Logo aprendeu o nome de quase todo mundo. Fez amizade com algumas pessoas, tanto na cidade, como nos sítios. Num deles conheceu Pedro Lobo e sua família. E adorou seu filho mais velho — Joãozinho.
***

A caminho da sala, arrastando chinelos, o padre gritou pelas mulheres. Que gritaria medonha! Acontecia alguma confusão? As mulheres deram respostas tranquilizadoras. De qualquer forma, conversavam com outra pessoa. Quem? E João se apresentou. Queria contar um segredo a ele. Segredo somente no confessionário. O menino gaguejou. Desembuchasse logo o assunto. A primeira mulher tomou a palavra: já havia explicado... A segunda impôs silêncio àquela. João só faltava chorar, sem se fazer entender.
***

O estrangeiro mostrava a todos desenhos e fotografias de tamanduás, socós, punarés e uma infinidade de animais. Dizia serem do século XVII os desenhos. Pretendia comparar aqueles exemplares de bichos do passado a seus descendentes vivos. Pesquisa científica, universitária. Missão de muita importância para a zoologia. Sim, um missionário. No entanto, alguns o chamavam de doido. O holandês maluco.
***

Depois de muita insistência, o menino conseguiu entrar na casa paroquial. E sentou-se numa cadeira da sala. O padre se dispunha a ouvir-lhe o segredo. Se não se tratasse de história muito longa. Joãozinho tratou de ser objetivo. Se o padre sabia do holandês. Não, não sabia por onde andava o senhor Vilgot. O menino sabia? Sim – melhor dizendo –, sabia onde o estrangeiro se encontrava. Porém, o vigário não tinha nenhum interesse em saber o paradeiro do professor. Ora, então o rapazinho interrompera sua sesta para falar do cientista maluco? João coçou a cabeça. Se não contasse tudo logo, talvez fosse mandado embora. O holandês andava sempre atrás do menino. E lhe prometia viagens, estudos, conforto. Queria levá-lo para a Holanda. Essas propostas Vilgot fazia às escondidas de outras pessoas. E pedia segredo delas a Joãozinho. Porém como viajar para tão longe sem o consentimento dos pais? Melhor quebrar o segredo. Sua mãe, pelo menos sua mãe deveria compartilhar o seu mistério.

À noite Pedro Lobo ouviu de sua mulher a estranha história de seu herdeiro. E se encheu de fúria.
***

O zoólogo, manso feito cordeiro, não tinha herdeiros nem mulheres. Lecionava em Haia e conhecia todo o mundo. Ao Brasil viajava sempre, desde os primeiros tempos de universidade.
***

Padre Queiroz se aproximou mais do menino. Falasse mais alto. Menino bonito? Pecado, perdição. O mundo ia desabar ao peso de tanta libertinagem. Passou o lenço em volta do pescoço. E onde se achava o estrangeiro? Enterrado, no sítio.

Fonte:
Nilto Maciel. Pescoço de Girafa na Poeira. Brasília/DF: Secretaria de Cultura do Distrito Federal/Bárbara Bela Editora Gráfica, 1999.
Livro enviado pelo autor.

Paulo Leminski (Versos Diversos) 16

minifesto


ave a raiva desta noite
a baita lasca fúria abrupta
louca besta vaca solta
ruiva luz que contra o dia
tanto e tarde madrugastes

morra a calma desta tarde
morra em ouro
enfim, mais seda
a morte, essa fraude,
quando próspera

viva e morra sobretudo
este dia, metal vil,
surdo, cego e mudo,
nele tudo foi e, se ser foi tudo,
já nem tudo nem sei
se vai saber a primavera
ou se um dia saberei
que nem eu saber nem ser nem era
==============================================

Vim pelo caminho difícil,
a linha que nunca termina,
a linha bate na pedra,
a palavra quebra uma esquina,
mínima linha vazia,
a linha, uma vida inteira,
palavra, palavra minha.
======================================

distâncias mínimas

um texto morcego
se guia por ecos
um texto texto cego
um eco anti anti anti antigo
um grito na parede rede rede
volta verde verde verde
com mim com com consigo
ouvir é ver se se se se se
ou se se me lhe te sigo?
================================

saudosa amnésia

a um amigo que perdeu a memória

Memória é coisa recente.
Até ontem, quem lembrava?
A coisa veio antes,
ou, antes, foi a palavra?
Ao perder a lembrança,
grande coisa não se perde.
Nuvens, são sempre brancas.
O mar? Continua verde.
======================================

iceberg

Uma poesia ártica,
claro, é isso que desejo.
Uma prática pálida,
três versos de gelo.
Uma frase-superfície
onde vida-frase alguma
não seja mais possível.
Frase, não. Nenhuma.
Uma lira nula,
reduzida ao puro mínimo,
um piscar do espírito,
a única coisa única.
Mas falo. E, ao falar, provoco
nuvens de equívocos
(ou enxame de monólogos?).
Sim, inverno, estamos vivos.
============================

por um lindésimo de segundo

tudo em mim
anda a mil
tudo assim
tudo por um fio
tudo feito
tudo estivesse no cio
tudo pisando macio
tudo psiu

tudo em minha volta
anda às tontas
como se as coisas
fossem todas
afinal de contas
=========================

passe a expressão

Esses tais artefatos
que diriam minha angústia,
tem umas que vêm fácil,
tem muitas que me custa.
Tem horas que é caco de vidro,
meses que é feito um grito,
tem horas que eu nem duvido,
tem dias que eu acredito.
Então seremos todos gênios
quando as privadas do mundo
vomitarem de volta
todos os papéis higiênicos.
=======================================

o mínimo do máximo

Tempo lento,
espaço rápido,
quanto mais penso,
menos capto.
Se não pego isso
que me passa no íntimo,
importa muito?
Rapto o ritmo.
Espaçotempo ávido,
lento espaçodentro,
quando me aproximo,
apenas o mínimo
em matéria de máximo.
================================

signo ascendente

Nem todo espelho
reflita este hieróglifo.
Nem todo olho
decifre esse ideograma.
Se tudo existe
para acabar num livro,
se tudo enigma
a alma de quem ama!

Fonte:
Paulo Leminski. Distraídos Venceremos. Publicado em 1987.

Estante de Livros (Til, de José de Alencar)


Publicado inicialmente em 1872, José de Alencar documenta neste romance sua fase regionalista (junto a O Gaúcho, O Sertanejo e Tronco do Ipê) o cotidiano numa fazenda do interior paulista do século XIX. Berta, também conhecida pelo apelido Til, é a típica heroína romântica de alma bondosa que se sacrifica em prol de todos.

Resumo

Besita, moça pobre, porém das mais belas da região, é objeto de desejo tanto de Luis Galvão, jovem fazendeiro, quanto de Jão, um órfão que foi criado junto com Luis Galvão. A moça corresponde ao amor do rico fazendeiro, mas este não tem interesse em desposar Besita, pois ela é pobre.

Influenciada por seu pai, Besita acaba casando-se com Ribeiro. Esse, logo após a noite de núpcias, parte em viagem para resolver problemas relacionados a uma herança de família e fica anos afastado. Durante o período em que Ribeiro não se encontra pela região, Luis procura Besita, que o recebe achando tratar-se de seu marido. Desse encontro nasce Berta.

Uma tarde, Ribeiro retorna e, ao encontrar sua esposa com uma filha, descontrola-se e assassina Besita. Jão não consegue evitar a morte dela, mas consegue salvar Berta, que passa a viver com nhá Tudinha e seu filho Miguel. Zana, uma negra que vivia com Besita, enlouquece após presenciar o assassinato desta. Jão torna-se capanga dos ricos da região, cometendo várias mortes e tornando-se o temido o Jão Fera.

Quinze anos depois de assassinar sua esposa, Ribeiro retorna irreconhecível e com o nome de Barroso. Com o propósito de vingar-se de Luis Galvão, ele contrata Jão Fera, que não o reconhece. Porém, Berta descobre os intentos de Ribeiro e consegue salvar Luis.

Em uma segunda tentativa, dessa vez com a ajuda de alguns escravos da Fazenda das Palmas, Ribeiro incendeia o canavial. Ao tentar apagar o fogo sozinho, Luis leva uma pancada na cabeça. Quando está para ser lançado ao canavial em chamas, Luis é salvo por Jão, que mata os responsáveis pelo incêndio, com exceção de Ribeiro.

Após isso, Jão Fera é preso em Campinas. Sabendo da ausência desse, Ribeiro planeja uma outra vingança, dessa vez contra Berta. Aproxima-se dela, que está com Zana, mas nesse momento chega Jão (que tinha se libertado) e mata Ribeiro de forma violenta. Brás, sobrinho de Luis com problemas mentais, leva Berta para ver a cena. Ela foge horrorizada e João, sabendo que a moça o desprezava a partir de então, entrega-se a polícia.

Convém neste ponto relatar a relação entre Brás e Berta. O jovem Brás possui problemas mentais e é completamente excluído em sua família. Apesar de Brás ser apaixonado por Berta, ela não pode corresponder aos sentimentos do rapaz, resolvendo então ensinar o abecedário e rezas a ele. Porém, o menino tem grandes dificuldades em aprender, tendo apenas decorado o acento “til”, que o encantava. Para facilitar o aprendizado, Berta se autonomeia Til e passa a ensinar Brás relacionando cada coisa com nomes de pessoas que ele conhecia.

Em certo momento, Luis decide contar toda a verdade para sua esposa, D. Ermelinda. Em um primeiro momento ela se entristece, mas depois passa a apoiar o marido e decide que ele deve reconhecer Berta como filha. Dessa forma, os dois a procuram e contam tudo, omitindo as partes desagradáveis.

Jão foge mais uma vez da prisão e vai procurar Berta. Desconfiada que Luis Galvão e sua esposa escondem algo, ela implora a Jão que conte toda a verdade sobre a história de sua mãe Besita, o que Jão faz. Berta se emociona com a história e abraça Jão, dizendo que ele sempre cuidou dela, sendo, então, seu pai.

Luis quer que Berta vá morar com ele, mas ela nega e pede que ele leve Miguel. Todos partem e Berta fica na fazenda com Jão Fera e Brás.

Lista de Personagens
 
As personagens de Til são arquétipos da sociedade brasileira do século XIX: os escravos, os aristocratas, o povo pobre. A sociedade da época estava estruturada basicamente em duas camadas sociais: de um lado os aristocratas, grandes latifundiários e escravocratas, e de outro lado estavam os escravos e a gente humilde do campo. Tanto na região rural, onde se passa o romance, quanto nas grandes cidades quase não há classe média.

Berta, Inhá ou Til: personagem central do livro, Berta, filha bastarda do fazendeiro Luis Galvão com Besita, é a representação típica da heroína romântica. Após a morte de sua mãe, passa a viver com nhá Tudinha e seu filho Miguel. Muito bonita e graciosa, atrai o carinho e o amor de todos, tendo contato inclusive com as pessoas mais desprezadas da região. Berta é personagem central e exerce grande influência sobre todas as outras personagens do livro.

Miguel: filho de nhá Tudinha, mostra-se apaixonado por sua irmã de criação, Berta (ou Inhá, como ele a chama). Por ser pobre, Miguel busca estudar para ascender socialmente e poder se casar com Linda.

Luis Galvão: dono da Fazenda das Palmas. Homem de muitas aventuras amorosas desde a juventude, é sempre protegido por seu “capanga” João Fera.

Linda: é filha de Luis Galvão e D. Ermelinda. Educada aos moldes da corte, mas amiga de Berta e Miguel, jovens de camada social inferior.

Afonso: irmão de Linda. Possui o mesmo espírito conquistador de seu pai e acaba se apaixonando por Berta, sem saber que esta é sua irmã de sangue.

Jão Fera ou Bugre: capanga dos ricos da região, é um homem temido. Sem conseguir salvar Besita, por quem era apaixonado, passa a proteger Berta após a morte de sua mãe.

Brás: sobrinho de Luis Galvão que sofria de ataques epiléticos e era débil mental. Era apaixonado por Berta (ele a chama de Til), que lhe ensinava o abecedário e rezas.

Zana: negra que trabalhava para Besita e que enlouquecera após presenciar o assassinato de Besita.

Ribeiro ou Barroso: marido de Besita. Logo após a noite de núpcias, parte para longe e fica anos afastado. Ao voltar e encontrar a esposa com uma filha, planeja vingança e assassina Besita. Promete vingar-se de Luis Galvão e Berta.

D. Ermelinda: elegante esposa de Luis Galvão.

Análise

A obra de José de Alencar, tida como uma das maiores representações do Romantismo brasileiro, é dividida em quatro fases. A primeira, a dos romances indianistas, tem suas maiores obras: Iracema (1865), Ubirajara (1874) e O Guarani. A segunda fase, a dos romances históricos, temos Minas de Prata (vol. 1: 1865; vol. 2: 1866) e Guerra dos Mascates (vol. 1: 1871; vol. 2: 1873). A terceira fase é a dos romances regionalistas e tem como representantes as obras O Gaúcho (1870), O Tronco do Ipê (1871) e Til (1871). Por fim, a última fase é a dos romances urbanos, onde temos Lucíola (1862), Diva (1864) e A pata da Gazela (1870).

Estrutura do romance

A ação de “Til” ocorre na Fazenda das Palmas, localizada na região de Campinas, interior do estado de São Paulo, e transcorre temporariamente a partir de 1826.

O livro é dividido em duas partes. A primeira serve como apresentação das personagens e das tramas e é nela que conhecemos Berta, personagem central do romance e típico arquétipo da heroína romântica. Nessa primeira metade da obra, o que mais chama a atenção é a contrariedade do comportamento de Berta (cujo apelido é Til): sempre movida por boas intenções, ela usa de sua influência e bondade para manipular as outras personagens.

Já na segunda metade do romance temos o desembaraço das tramas apresentadas e suas revelações. Os cenários deixam de ter uma descrição objetiva e material para adquirir um significado mais subjetivo, relacionado ao passado oculto das personagens. É nessa parte do livro que acompanhamos Berta em seu descobrimento sobre a morte de sua mãe e suas consequências. Em um final surpreendente, Berta abre mão de sua própria felicidade em prol das demais personagens.

Foco narrativo

O romance é narrado em terceira pessoa e o narrador é onisciente neutro, ou seja, ele conhece todos os pensamentos e planos das personagens e os revela ao leitor, mas não há intromissões autorais diretas (o autor falando com uma voz impessoal, na terceira pessoa, dentro do próprio romance). A característica principal da onisciência é que o narrador sempre descreverá a narrativa, mesmo em uma cena, da forma como ele a vê, e não como suas personagens a veem.

Tempo

O tempo é predominantemente psicológico, ou seja, o romance não segue uma narrativa linear e o narrador manipula o tempo conforme as circunstâncias. Assim, o narrador pode ir ao passado e ao futuro sem obedecer às ordens do tempo cronológico.

Um retrato do Brasil rural do século XIX

A obra de José de Alencar pode ser dividida em quatro grupos. O primeiro deles, os romances indianistas, produziu grande parte das maiores obras, não só de sua carreira, como da literatura brasileira. Dentre elas, podemos citar “Iracema”, “O Guarani” e “Ubirajara”.

Já no segundo grupo, o dos romances históricos, encontram-se obras como “Minas de Prata” e “Guerra dos Mascates”.

O terceiro grupo nasce da vivência nas grandes cidades e da luta entre o espírito conterrâneo e a invasão estrangeira: são os chamados romances urbanos de Alencar. Dentre eles, podemos citar “Lucíola”, “Diva” e “A pata da Gazela”.

Por fim, temos o quarto grupo de romances do escritor: os romances regionalistas. Dentre as obras deste período, podemos citar “O Gaúcho”, “O Tronco do Ipê” e “Til”. Esta nova fase na obra de José de Alencar nasce da busca de uma nova identidade nacional. Após a independência política do Brasil, os escritores românticos param de buscar na figura idealizada do índio o modelo de brasilidade. Agora, o “ser brasileiro” não se encontra mais na floresta, entre rios e animais selvagens, mas sim nas cantigas do povo, nas fazendas e até mesmo na corte.

Assim, a literatura romântica teve um papel social importantíssimo no processo de independência do Brasil. Alencar, consciente da função social da literatura, buscou em seus romances traçar um retrato no tempo (romances indianistas e históricos) e no espaço (romances regionalistas e urbanos). Dessa forma, podemos dizer que “Til”, como um dos mais destacados romances regionalistas de Alencar, é um retrato do Brasil rural do século XIX.

Porém, como autor romântico, Alencar não deixa de idealizar a realidade, em maior ou em menor grau, em todas as suas obras. Assim, tanto nos romances históricos, quanto nos indianistas e regionalistas, temos em comum o desejo de fuga da realidade presente para outros tempos e outros lugares mais felizes.

Da mesma forma, as personagens principais de Alencar (com exceção talvez dos romances urbanos) têm um porte heroico. São personagens inteiriças, que encarnam todas as virtudes físicas e morais do herói. Assim, a personagem central de Til também não poderia escapar desse arquétipo: Berta é a meiga e bela heroína, que atrai o carinho e a atenção de todos. Sempre com a decisão e força de todo bom herói, não mede esforços para conseguir realizar seus intentos e não hesita em se sacrificar pelo bem dos outros.

Outro ponto interessante que podemos tratar a respeito de Berta é que ela é um arquétipo das virtudes cristãs: a caridade, a solidariedade, a fraternidade, entre outras. Moça simples e bondosa, não tem nenhuma atitude estudada para ganhar proveito próprio. Sua influência sobre as demais personagens da obra são reflexo de personalidade franca e atenciosa. Dessa forma, Berta surge como elemento de ligação e fraternidade entre todos. Outro dado que sustenta esta interpretação é o fato de Berta ensinar rezas à Brás, sempre com a atitude compassiva própria de uma freira.

Em seus romances regionalistas, José de Alencar tenta caracterizar melhor os grupos sociais do Brasil do século XIX detalhando melhor alguns aspectos culturais. Dessa forma, vemos em Til os costumes, festas e comemorações dos negros, que dançavam animadamente nas senzalas, e do povo rural. Essa vivacidade da vida no campo contrasta diretamente com o abandono e marginalização que sofrem esse povo.

Apesar de Alencar defender uma ideia de que o campo é que é uma área propícia para se desenvolver uma cultura autenticamente brasileira, ele sabe que o futuro se dará nas cidades. Tanto que, ao final de Til, todas as personagens vão embora para a cidade e Berta, que em sua bondade resolve ficar para amparar os marginalizados (Jão, Brás e Zana), resta sozinha:

Como as flores que nascem nos despenhadeiros e algares, onde não penetram os esplendores da natureza, a alma de Berta fora criada para perfumar os abismos da miséria, que se cavam nas almas, subvertidas pela desgraça. Era a flor da caridade, alma soror”.

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Versejando 107

 
Menção especial nos LXIII Jogos Florais de Nova Friburgo 2022
Categoria Humorismo Nacional - Tema: Engano

Clarisse da Costa (Poesia nos Pés)

Eu poderia estar pisando numa poça d'água se não fosse tão tarde. A chuva que cai esta noite me traz tantas recordações. Eu consigo me ver com os meus barquinhos de papel e os meus pés pisando no barro vermelho em frente à minha casa. De alguma forma eu tinha uma liberdade mesmo que limitada. Os tempos eram outros. Dá para acreditar que o céu era mais azul? Falando assim até parece que alguém andou dando um retoque na cor como se o céu fosse a tela de um pintor famoso, mas é que as perspectivas daquele período eram outras. A gente sonhava sem ter a certeza de alguma coisa. É como se a gente sonhasse apenas por sonhar. Vai que por acaso acontecesse. Desculpa. Esqueci que o acaso não existe.

Também não dá pra dizer que o destino tem data marcada para acontecer. O calendário é mero figurante! Pisar na terra onde a gente morava sempre foi a certeza de que tínhamos um lugar para onde voltar. A hora mais esperada era o fim de aula. Pelo caminho eu via flores, copo leite, boca de leão, Maria sem vergonha e rosas vermelhas.

O barato era sentir e ver a vida se transformando diante dos meus olhos. Nada de pressa. Correr era só na hora da brincadeira. Por que na infância tudo parece tão mais fácil e leve? Um grão de areia fora do lugar não tinha importância. A gente só fazia questão de ri.

Tudo tinha graça. Dona Maria cantando era poesia. O sol na janela era sinal de que já era dia. E tudo começava outra vez num pulo, só você saia da brincadeira de corda. Com um pulo só você não conseguia que São Longuinho atendesse o seu pedido. Crendice? Não sei. O santo nunca falhou comigo.

Eu sempre dei três pulinhos. O engraçado é que a gente cresce e algumas coisas vão com a gente. Eu ainda acordo e vejo flores, o sol clareia o meu quarto mesmo com a janela fechada. O barro é o mesmo barro vermelho, mas agora piso em concreto. Não é mais possível pisar no chão. A vida continua indecifrável.

Acho que é assim para todo ser humano. Não dá para saber tudo nem entender de tudo. É mais provável que a vida queira que a gente apenas viva. Viver até o último sopro de vida. A morte também é mero figurante! E nós somos passageiros. É muita ingenuidade achar que somos imortais.

Somos eternos nas memórias de algumas pessoas e nas fotografias coladas em álbuns. No meu tempo, fotografia era sinônimo de quem tinha dinheiro.

Se você pensar bem, as lembranças mais fortes nós temos com os pés descalços. Seja na areia da praia, na escola correndo, brincando no nosso quintal ou no colo da mãe. Lembro de mim ralando o joelho e a mãe cuidando de mim, o remédio ardia, mas isso não tirava o meu olhar do seu. Era o meu segundo lar aqueles olhos.

Não sei como tem gente que não curte poesia, a vida mesmo é um traçado poético! Mas é compreensível, às vezes a gente só gosta daquilo que entendemos. Acho que é mais cômodo para o ser humano. A tendência é que o ser humano queira que tudo venha fácil, sem obstáculo, sem luta. Bem sabemos que um pouco de esforço não faz mal a ninguém.

Eu bem que queria saber como seria o mundo se ele fosse sempre o mundo lúdico de uma criança. Será que os adultos seriam tão chatos e julgadores uns dos outros? Acho que a resposta nunca terei. Até porque não cabe ter todas as respostas.

A vida mesmo não é para ter respostas prontas. Existem coisas na vida que levam tempo para acontecer. É como o despertar de uma flor, os primeiros passos de uma criança e o sol que se põe no horizonte.

Dá até para perceber as transformações das passagens do tempo conforme a nossa longa caminhada. Eu nunca pisei firme. Eu sempre tive a instabilidade na ponta dos dedos. Mas eu nunca parei de tentar.

Fonte:
Texto enviado por Samuel da Costa

Professor Garcia (Reflexões em Trovas) 4

A música que me encanta,
que se eterniza entre nós...
Vem das cordas da garganta
do canto dos curiós!
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A neblina no meu teto,
tristonha, reclama e chora,
sentindo a ausência de afeto
até nas cores da aurora!
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Ao ver-te na cruz, Senhor,
sem de nada reclamar...
Dá-me um pingo desse amor,
que há no amor do teu olhar!
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Às vezes, pensando fico,
como o amor, é sábio e nobre:
Faltar na mansão do rico,
sobrar no rancho do pobre!
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A tarde fica mais bela
em seus momentos finais,
quando apaga cada vela
de seus velhos castiçais!
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Consultando os meus arquivos,
Sara, entendi no final...
Que és imortal entre os vivos,
e és nossa eterna imortal!
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Em vez de um Cristo que chora
preso aos braços de uma cruz...
Percebo na luz da aurora,
um Cristo cheio de luz!
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Eu nunca temi fracassos,
mas a velhice atrevida,
aos poucos me encurta os passos
pondo-me algemas na vida!
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Mesmo que seja pecado,
mas peço, atendas meu rogo:
Deixa-me morrer queimado
na quentura do teu fogo!
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Na mãe, Deus pôs mais ternura,
quando, em sábia decisão...
Fez da mãe, a flor mais pura
da embriaguez do perdão!
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Não me curvo aos sonhos vãos,
sou otimista e, contudo...
Se me falta o pão nas mãos,
no coração tem de tudo!
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Nessa luta desmedida
onde há tanto dissabor...
Se um mendiga o pão da vida,
outro pede o pão do amor!!!
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Nessa solidão sem dono,
nessa insônia que não passa...
Não sei por que não tem sono
essa insônia que me abraça!
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Nunca te irrites na vida,
nem te aborreças na espera;
que, a espera é flor escondida
no ventre da primavera!
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O arrebol, com seus desvãos,
toda tarde, ao fim do dia,
estende os braços e as mãos
nos varais da nostalgia!
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O fogo com seus ruídos,
calando a voz das cascatas,
mostra aos céus em seus gemidos,
o pranto da dor das matas!
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O regente é tão perfeito
que, a orquestra da fonte é santa;
quanto mais pedras no leito,
mais feliz, a fonte canta!
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Ó, tu que nesta passagem,
o orgulho é que te conduz,
na derradeira viagem,
serás mendigo ante à Luz!
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Quando ao longe, a ressonância,
de um som qualquer se aproxima,
lembra-me as vozes da infância,
na infância cheia de rima!
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Se a ilusão, nos bate à porta,
quem sabe... Não nos cative?
Nem sempre o amor nos conforta,
de ilusões também se vive!
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Se as tuas mãos indefesas
prendem-se às mãos de outro irmão...
Vão-se todas as tristezas,
e as amarguras, se vão!
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Sem esperança!... E, sozinha
olha a estrada tão bisonha;
e, à espera do fim da linha,
vive a esperar por quem sonha!
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Teu beijo guarda os ressábios
agridoces da maldade,
e a maldade que há nos lábios
dos lábios da humanidade!
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Teu olhar, pelo que penso,
que encanta, alegra e seduz...
É um pingo de luz suspenso
que me enche os olhos de luz!
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Teus versos tão sensuais,
e os meus assim, tão dispersos,
são versos pobres demais
diante de teus lindos versos!
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Tu, que não tens coração,
e a maldade te conduz...
Hás de implorar por perdão,
pedindo esmolas de luz!

Fonte:
Professor Garcia. Versos para refletir. Natal/RN: Trairy, 2021.
Livro enviado pelo trovador.

Aparecido Raimundo de Souza (Parte 52) Porre

ALGUÉM BATE na porta da casa de Raulzinho, com insistência descomedida. Nesse momento o telefone também começa a tocar desesperado. O rapaz fica indeciso. Estanca no meio do caminho. “E agora? De quem eu cuido primeiro?” Decide pelo telefone. Odeia o barulho da campainha. Dá nos ouvidos. Corre para o aparelho. As batidas na porta persistem:

— Alô? Quem é?

— Eu, o Pedro. Por que demorou em atender?

— Pedro, meu amigo, me liga daqui a vinte minutos. Estão batendo na minha porta.

— Ué! Porque?

— Que pergunta mais besta! Estão batendo, ora bolas.

— Mas quem faria uma coisa dessas?

— Vinte minutos, meu amigão. Tchau!

— Não, fale comigo. Espere Raulzinho. Agora fiquei preocupado.

— Preocupado com que, Pedro?

— Com o que acabou de me falar.

— Meu Deus, Pedro. Pedi para você me retornar a ligação em vinte minutos...

— Eu sei, eu sei...

— Então, cara, faça isso.

— Quem está ai, além de você?

— Ninguém.

— A Júlia?

— Na feira.

— As crianças?

— Os dois na escola.

— A Zica, sua empregada?

— Com Júlia, de companhia. Sabe como é, né? Grávida de novo, aquele barrigão...

— Seus vizinhos?

— Qual deles, Pedro?

— Qualquer um. Do lado direito, do lado esquerdo, de frente...

— Pedro, ô Pedro, quer me escutar um minuto?

— Fala meu amigo. Você me parece nervoso. Meio que fora de controle. Aconteceu algo sério, Raulzinho?

— Pedro, me ouça. Do lado direito, mora o “Janjão 38”.

— Tá. E do esquerdo?

— O Moringa da “Torneirinha de Ouro”.

— Raulzinho, chame o mais parrudo. Prometa que vai entrar em contato com o mais parrudo. Ou aquele que melhor possa lhe prestar algum tipo de socorro urgente.

— Prestar socorro urgente? Pedro, você por acaso bebeu? Pirou na batatinha? Escuta uma coisa: “Janjão 38” a esta hora, deve andar pelo terceiro sono. Trabalha a noite, descansa durante o dia. O Moringa saiu com a esposa e os filhos praticamente junto com a Júlia e a nossa empregada.

— Tá, tá, tá. E o seu vizinho de frente? Esquecemos dele. Acione o sujeito.

— Vizinho de frente? Que vizinho de frente, seu maluco? Não tenho vizinho de frente.

— Como não? Tem do lado direito, do lado esquerdo e, de frente, não?

— Foi o que disse. Agora, por obséquio, Pedro. Deixa de ser inconveniente, me dá licença. Continuam batendo na porta...

— Pera aí, pera aí. Raulzinho, o que é que tem em frente a sua casa?

— A rua.

— Pombas, seu jumento. Do outro lado da rua?

— A calçada.

— Imbecil! Desculpe. Meu amigo. Desculpe, de verdade. Não é isso que eu quero saber. Perguntei se mora alguém.

— Em frente?

— É claro que é em frente. Será o Benedito?

— Não mora ninguém.

— A casa está vazia?

— Não.

— Então tem gente?

— Não.

— A cada minuto que passa, menos entendo! Como você complica...

— Pedro, aqui em frente não existe nenhuma casa. É um terreno baldio. Agora, por favor, para de ser importuno e maçante. Desliga esse telefone e me deixa ir cuidar da porta. Por favor. Seja lá quer for, parece furioso e fora de controle. Sabe que estou aqui e as pancadas estão cada vez mais fortes. Nunca vi ninguém bater assim na casa de uma pessoa com tamanha insistência.

— Que é isso, meu amigo? Então ainda estão batendo nela?

— Batendo não seria bem o termo. Agora o cidadão partiu para a ignorância. E tome pancadas. Você não está escutando? Quem está lá sabe que estou aqui. Meu carro está na frente do portão.

Procura se acalmar. Toma fôlego e prossegue:

— Acredito até que me viu entrando. Fui cedo à padaria. Olha, Pedro, me faça um obséquio: desliga e daqui a trinta minutos, a gente retorna com o papo. Dá pra ser, ou está difícil?

— Você falou trinta. E outra coisa: como sabe que é um cidadão? Pode ser uma mulher. Não pode?

— Que seja cidadão, cidadã, mulher, cavalo, porco... com relação ao tempo que mencionei vinte, quinze, ou trinta minutos, que diferença isso faz? Agora desliga, meu amigo. Estou ficando ligeiramente apreensivo.

— Ela está muito machucada?

— Por tudo quanto é sagrado! Ela quem, Pedro?

— A porta. Você não falou que estão batendo aí na sua porta? Batendo não, espancando? O que foi que ela fez? Fechou na cara de alguém? Prendeu o dedo de algum amiguinho de seus filhos e, agora, o pai, está no seu pé, querendo tirar satisfações? Ou arranjar um jeito de criar confusão? Talvez a empregada, por descuido...

—... Pedro, Pedro, Pedro, você está me gozando?

— Claro que não.

— Tirando um sarro?

— “Qué” isso, mano? “Qualé” a sua?

— Então, por Deus, pelo amor de Deus, lhe imploro, desliga esse desgraçado e maldito telefone. A porta, Pedro, a porta. Vão acabar derrubando a coitada... de tanta cacetada...

— Vão? Você disse vão? Então é mais de um? Não se preocupe. Vou ligar para a polícia.

— O quê? Polícia?

— Não se desespere. Mantenha os nervos relaxados. Vá até a cozinha e tome um café bem quente, sem açúcar. Café ajuda a manter os nervos controlados. Nada de pânico. Conte até vinte. Não, cinquenta. Tira uma dúvida, Raulzinho... a polícia é 190 ou 130?

— Pedro, você não vai ligar coisíssima nenhuma.

— Calma. Espere. Estou consultando o guia telefônico. Num piscar de olhos aciono uma viatura. Fique calmo. Estou saindo daqui agora e indo ao seu encontro. Aguarde que logo estarei pintando na área. Questão de minutos, segundos, milésimos de centésimos...

— Pedro, Pedro, Pedro... Pedroooooooooo...

— Já sei, Raulzinho... estão batendo na sua porta.

— Pedro, Peeeeeeeeeedro...

— Raulzinho, você é um homem ou um rato? Estou indo, seu filho de uma rapariga da zona. Pare de dar chiliques. Ao menos seja homem com agá maiúsculo, como sua mãe. Credo!

— Peeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeedro, filho de uma égua é você. Vá...

Barulho de telefone sendo desligado às pressas. Raulzinho corre à porta da sala. Está suando em bicas. Pedro conseguiu lhe tirar do sério. Faz o sinal da cruz. Vira a chave. Abre.

Dá de cara com Pedro, em carne e osso, o telefone ainda no ouvido, o amigo, do lado de fora, se escangalhando de rir.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Como escrever uma análise crítica - Parte 3, final

ESCREVENDO UMA ANÁLISE


1. Comece a dissertação com uma rápida descrição do objeto da análise.

Dê todas as informações básicas sobre o trabalho, como o nome do autor, o título, a data da publicação e o que mais for relevante.

Fale sobre o que se trata e as intenções.

Escreva tudo em duas ou três frases.

Por exemplo, forneça as informações básicas na primeira frase e descreva o ponto de vista do texto nas duas seguintes.

2. Indique o seu ponto de vista no final da introdução.

Coloque uma síntese do seu parecer logo após a descrição dos argumentos principais do autor.

Aponte onde o texto falhou ou foi bem sucedido, dependendo da avaliação que você realizou.

Escreva algo como: "O artigo faz uma ótima análise dos efeitos que o consumismo provoca no meio-ambiente".

Por outro lado, se a avaliação for negativa, diga, por exemplo: "O quadro não consegue exprimir de forma consistente a crítica social pretendida."

3. Resuma o trabalho em um parágrafo.

Depois de dar a sua avaliação, resuma o texto ou a obra em um parágrafo. Use a síntese que você preparou logo após ler o texto ou escreva algo diferente.

Trate apenas dos elementos mais importantes.

Lembre-se de que esse é o único espaço dedicado ao resumo, porque você tem que escrever a análise nas outras partes.

4. Em cada um dos parágrafos de desenvolvimento avalie um dos argumentos do texto.

Após fazer o resumo, comece a demonstrar o seu ponto de vista.

Você achou o artigo pouco convincente? Reserve um parágrafo para apontar os motivos. Do mesmo modo, se for o caso, guarde um parágrafo para mostrar por que o trabalho o impressionou.

Elabore uma lista caso você esteja com dificuldade para identificar o que faz o texto ser eficiente. Seguem alguns itens podem ajudá-lo a pensar sobre o que escrever:

Organização.
Como o autor organizou a argumentação?
A abordagem é boa ou ruim?
Por quê?

Estilo.
Qual foi o estilo escolhido para sustentar as ideias?
Esse aspecto piorou ou melhorou a qualidade do argumento?

Persuasão.
O texto consegue convencer o leitor?
Por quê?

Parcialidade.
O autor foi parcial ou imparcial ao tratar do assunto?
O que justifica a sua avaliação?

Apelo a um público específico.
O trabalho dirige-se a um público em particular?
Em caso afirmativo, diga quem seria esse público e se o autor teria sido bem sucedido.

5. Busque as evidências no próprio texto para deixar a sua análise mais robusta.

Você tem que retirar exemplos do artigo, seja com uma citação, uma paráfrase ou um resumo feito com as próprias palavras.

Coloque os trechos extraídos entre aspas e indique o número da página toda vez que você fizer uma citação.

Talvez você precise usar um estilo específico, como o da ABNT.

6. Conclua com um parecer final sobre a argumentação do texto.

Esse é o momento de resumir as ideias principais da análise e dar uma opinião sobre o trabalho em geral. Ou seja, diga se o autor conseguiu ou não fazer o que propôs.

Não repita de forma literal a introdução ou outras partes da sua dissertação.

Retome as informações mais importantes usando outras palavras ou discuta as consequências do que você escreveu ao longo da análise.

Por exemplo, é possível colocar na conclusão que o texto tem algumas partes interessantes, mas que acabou não atingindo os seus próprios objetivos.

Discuta os motivos em duas ou três frases.

Dica
Não se esqueça de fazer pelo menos uma boa revisão do texto e de corrigir os erros!

Fonte:
wikihow