segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Carlos Leite Ribeiro (Marchas Populares) Sinfonia de Lisboa


Lisboa na noite de Santo António, (12 para 13 de Junho) vem para a rua para o desfile das Marchas Populares dos Bairros de Lisboa. Tradicionalmente, este desfile dá-se na Av. da Liberdade, entre a Praça do Marquês de Pombal e a Praça dos Restauradores – mil metros. Sensivelmente ao meio da Av. da Liberdade, por alturas da estátua aos Combatentes da Grande Guerra, às portas do Parque Mayer, e em frente à tribuna principal, todas as Marchas fazem as suas evoluções em cantares e em marcações coreográficas. É Luz! É Cor! É Alegria!

Tudo começou em 1932 por iniciativa de Leitão de Barros, então diretor do “Notícias Ilustrado”, com o apoio de Norberto de Araújo e do “Diário de Lisboa”, que promoveu as primeiras marchas: “percorreram algumas ruas de Lisboa e entraram no Parque Mayer, onde fizeram demonstrações ao ar livre e no palco do Salão do Cine Capitólio. Concorreram a princípio 3 bairros (Alto do Pina, Bairro Alto e Campo de Ourique) e ainda deram a sua adesão, outros tantos (Alcântara, Alfama e Madragoa).

Foi muito, para uma quase improvisação. Nesse ano, na marcha de Alcântara, figurou uma jovem humilde e ignorada, a mesma que, tempos depois, a cantar o fado, veio a marcar, de forma precisa, nas crônicas nacionais e estrangeiras: “Amália Rodrigues".

SINFONIA DE LISBOA
Música de Raúl Ferrão
Versos de Norberto De Araújo

“Lisboa é sempre
Namoradeira,
Tantos derriços
Que até fazem já fileira.

Não digas sim,
Não me digas não;
Amar é destino,
Cantar é condão.

Uma cantiga,
Uma aguarela,
Um cravo aberto
Debruçado da janela
Debruçado da janela.

Lisboa linda,
Do meu bairro antigo,
Dá-me o teu bracinho,
Vem bailar comigo.

(Estribilho – refrão)

Lisboa nasceu
Pertinho do céu
Toda embalada na fé.
Lavou-se no rio,
Ai, ai, ai, menina
Foi batizada na Sé.

Já se fez mulher
E hoje o que ela quer
É trovar e dar ao pé.
Anda em desvario
Ai, Ai, Ai, menina
Mas que linda que ela é !

Ó noite de Santa António !
Ó Lisboa de encantar!
De alcachofras a florir
De foguetes a estoirar.

Enquanto os bairros cantarem,
Enquanto houver arraiais,
Enquanto houver Santo António
Lisboa não morre mais.

Toda a cidade flutua
No mar da minha canção
Passeiam na rua
Retalhos da lua
Que caem do meu balão.

Deixem Lisboa folgar,
Não há mal que me arrefeça,
A rir, a cantar,
Cabeça no ar,
Eu hoje perco a cabeça.
===================
continua...
 
Fonte:
Este trabalho teve apoio de EBAHL – Equipamento dos Bairros Históricos de Lisboa F.P.
http://www.caestamosnos.org/autores/autores_c/Carlos_Leite_Ribeiro-anexos/TP/marchas_populares/marchas_populares.htm

Aparecido Raimundo de Souza (Tantos depois...)


FAZ MUITO TEMPO, você mora nos meus sonhos. Desde pequena, desde os quinze, você povoa meu universo de quimeras e devaneios. É como se a vida toda eu já soubesse da sua existência, sem você sequer existir dentro de mim. Junto com a minha vida, você veio, todavia, não se concretizou como eu realmente queria, ou seja, como um presente caído do céu. Um presente que para mim seria de cunho valoroso e, como eu disse e repito, sonhei a vida toda, e por infelicidade, nunca me chegou de verdade às mãos.  Com o passar do tempo, diante de meu querer, de meu desejar, de minha aflição tão forte, intensa e imensa, você finalmente acabou se materializando e caindo diretamente no meu caminho.

Lembro, nessa época, raiava a doce primavera dos meus dezessete. Hoje, anos depois, que ironia! Nos tornamos adultos. Temos vida própria, vivemos na mesma rua, mesmo bairro... compramos no mesmo supermercado e quando temos alguma indisposição, a farmácia logo ali na esquina nos recebe de portas abertas. Lado paralelo, moramos no mesmo prédio. Dividimos a mesma portaria, falamos com os mesmos vizinhos, faxineiros, porteiros, subimos os mesmos elevadores e quando falta luz, dispomos das escadas cansativas que nos permitem descermos ou subirmos usando os mesmos degraus e corrimões. Só o que não coincidiu foi o pavimento de nossos lofts. Uma gota minúscula no oceano da vida, se visto pela lógica da estuporação anunciada.

Estou no décimo oitavo e você no décimo quinto. Apesar desse pequeno deslize de sucessões inevitáveis provocados pelos reveses da vida, tivemos sorte. Numa dessas correrias do dia a dia, nos esbarramos no hall de entrada. Você vinha da rua cheia de sacolas de supermercado, eu saia com as mãos entulhadas de processos. A força do seu coração se emocionou quando nos reencontramos. Algo além de nós, ficou marcado. Foi tão forte a emoção, tão densa a alegria, magnânimo o sabor do encantamento, enfim, se fez tão robusta e eficaz, tão inexplicável e fogosa a nossa “topada” não programada, que o susto caiu vencido ao nosso redor. Igualmente, como um doce enlevo, nos brindou os recônditos da alma de uma maneira que eu não saberia como explicar ou descrever.

Lembro que você se abriu por inteira. Se fez largada, como mala velha num sorriso amplo. Se fez faceira, angelical e, ao mesmo tempo, tão pasma e adulta, tão mulher, tão nós, que no momento seguinte ao reencontro, me flagrei boquiaberto, ressuscitando pensamentos pretéritos e os colocando no jardim da sua magnificência. Senti-me voltando no tempo, retrogradando aos bastidores do nosso antigo e adormecido romance. Logo em seguida, você se fez tão linda e charmosa, tão carente e dona de si, tão submissa e necessitada, que, por momentos, pensei tivesse saído do plano terrestre e ido parar num universo paralelo de eternidades plenas.

Sua voz, ao me reconhecer –, deu um grito de acordar ilusões e acredite, todo meu ser se derramou auspicioso em festa de sustos e semelhantes abalos efervescentes. Com você de volta ao meu mundo, desde então, cada espaço vazio dentro de mim se encheu do seu júbilo. Cada olhar, agora, é como se renascesse, no meu “eu”, a cada “mirada”, a cada “pegada”, a flor cálida da nossa paixão imorredoura. No hall do nosso prédio, desde esse dia inesquecível em que nos reencontramos, que nos reaproximamos, que reassumimos as almas apartadas, a partir desse momento excelso em que reatamos o elo que estava rompido, esquecido, quieto, adormecido e, mais que isso, no instante exato em que abrimos e reconstruímos a passagem secreta para os caminhos possíveis, mormente às sendas não acontecidas, os vales e as dimensões não percorridas...

Como num passe de pura mágica, nosso outrora, nosso ontem, nosso gostar voltou às carreiras. Pintou do nada. Regressou a todo vapor de onde se via refugiado. Formalmente fomos atrás, juntos, de mãos dadas, em busca do velho amor. Tudo em nossas vidas criou beleza e cor. O nosso derredor floresceu. Virou magia. Aliás, para ser completo, ao encanto dessa magia, só faltava o elo do carinho se juntar no mesmo patamar de nossas emoções. Desde esse fortuito e inopinado dia, fizemos de nosso “ontem”, um novo “agora”. Não somos mais velhas lembranças adormecidas. Figuras retóricas de filmes antigos de nós mesmos. Abandonamos, no passado as fotografias amarelas, os papéis pálidos no palco onde nosso romance se tornou uma peça de final feliz. Hoje, agora, nesse momento, bem sabemos, vivemos a realidade que a cada manhã se reacende mais forte e pujante, mais cálida e indestrutível dentro da nossa – ou melhor dito –, daquilo que juntos, rostos colados, corpos em transe, almas em festa, corações batendo na mesma pulsação paradisíaca, chamamos de F E L I C I D A D E.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

domingo, 30 de outubro de 2022

Daniel Maurício (Poética) 42

 

George Abrão (O formigueiro)


Na Rua Almeida Salim, próximo ao cemitério, num barracão rústico de madeira, funcionava um clube social denominado “Flor do Mato”, porém conhecido como Formigueiro.

Sua presidente era a Sra. Sebastiana que o dirigia com mãos de ferro, exigindo ordem e respeito, embora muitas vezes isso não fosse possível.

O prédio só tinha uma porta frontal de acesso e janelas somente de um lado, lado este que ficava sobre um barranco, sendo grande a altura até o solo. A falta de janelas na frente e nos outros lados era proposital, pois evitava que alguns dos frequentadores fugisse sem pagar a despesa pois a porta era protegida por “leões de chácara”.

No clube não havia luz elétrica, sua iluminação vinha de lampiões, presos às paredes que não conseguiam iluminar satisfatoriamente o salão.

Um rapaz resolveu ir a um dos bailes no clube. Arrumou-se e pegou escondido um paletó de seu cunhado que era o delegado da cidade.

Durante o baile como dançasse muito e estivesse muito quente pela falta de ventilação, tirou o paletó e colocou no espaldar de uma cadeira continuando a dançar.

Lá pelas tantas começou uma briga dentro do clube que logo se generalizou a tapas, socos e pontapés. Todos brigavam e garrafas começaram a ser atiradas.

O jovem não teve dúvidas, vislumbrou por uma janela, no lusco-fusco, um galho. Como era bem franzino subiu à janela e se atirou, agarrando-se ao galho. Era uma folha de bananeira e ele estatelou-se lá embaixo.

Apesar da dor da queda lembrou-se do paletó e então gritava;

- Podem brigar, podem se matar! Só não estraguem o paletó, pois é do delegado.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Wadad Naief Kattar (Canteiro de Trovas)


A conquista nesta vida,
não se compra com dinheiro,
mas com fé e de paz provida
eu enfrento o mundo inteiro.
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A família é o maior bem
que Deus nos presenteou.
Os anjos disseram Amém!,
quando a minha ele criou.
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A mulher, ninguém entende,
porque é sempre misteriosa.
é a imagem que ela vende,
sabendo que é enganosa.
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A música é um emblema
importante da cultura,
como se fosse um poema
musicado de ternura.
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Eliminei a saudade
e hoje vivo bem sozinho.
Conheço a tranquilidade
sem pedras no meu caminho.
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É meia volta, volver,
se tu cruzas meu caminho.
Se meu destino é sofrer,
prefiro sofrer sozinho.
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Englobando a criação
do que Deus aqui deixou,
é a mulher confirmação
de quanto ele caprichou.
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Eu nunca temo o perigo,
não me amedronta a batalha.
A paz sempre está comigo
e essa força me agasalha.
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Hoje o frio me incomoda
muito mais que antigamente
pois já não mais me acomoda
o seu peito confidente.
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Meu amor eu encontrei
nos braços de uma qualquer.
- É destino, eu pensei,
de quase toda mulher.
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Meus avós são muito amados
minha bisavó também;
são todos abençoados
e como me fazem bem!
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Música, arte, cinema,
sempre envolveram a vida.
Fazem com que não se tema
a tristeza amortecida.
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Na jornada desta vida
já amei, sofri, chorei.
Hoje assopro a ferida,
disso tudo me cansei.
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O mais puro sentimento
à família eu dedico.
Mesmo que seja o momento
complicado, eu simplifico.
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O tempo passou... nem vi
que o destino me traiu.
Só no corpo envelheci,
pois a mente não seguiu!
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Quando a mulher fala e grita
tentando assim convencer,
é uma falha, ela acredita.
Basta chorar pra vencer.
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Quando estou em um dilema
a família é o meu esteio;
enfrento qualquer problema
com coragem e sem receio.
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Quem dera, Deus, eu pudesse
deter a morte bandida
e só elevar uma prece
pela dádiva da vida.
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Sabe o que é felicidade?
É a família em harmonia,
que após animosidade
sempre se reconcilia.
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Saudade do amor perdido,
pois sei que não volta mais.
É meu destino bandido
onde suporto meus ais.
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Se encontrar uma mulher
mostrando-se toda prosa,
vá como quem nada quer
e teste se é  “caridosa”.
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Sempre a saudade adivinha
a ausência de um amor
e tal qual erva daninha,
sufoca causando dor.
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Ser trovador é destino
ou é dom que Deus me deu?
Só sei que é um dever divino,
que ao cumprir, prazer me deu.
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 Só hoje conheço a paz
depois de muito sofrer
e até me sinto capaz
de voltar a me envolver.
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Tenho sempre na lembrança
dos tempos que longe vão,
meus avós  - eu tão criança...
que doce recordação!
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Tudo em você me fascina,
por isso vivo em pecado.
É destino, minha sina,
viver pedinte ao teu lado.
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Viva, ame e sobreviva,
mas a aprender a lição:
sempre a conquista afetiva
nos embaralha a razão.
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Você que gosta de ler,
sempre buscando a cultura,
saiba que este prazer
é um vício que perdura.

Sammis Reachers (Sexto Sentido)

Isso me leva a recordar de outros episódios, agora divertidos, pelos quais passei. Eu ainda não relatei, mas Renato possuía algo que perturbava minha mente que, embora infantil, era leitora de enciclopédias e já manifestava a tendência racional-científica que fundou a frio nosso mundo tecno-científico e a tudo manieta, retifica e constrange. Esse algo era o que se costuma chamar de “sexto sentido”. Sim, aquele rapazinho que jamais entrara numa escola (não havia lei, ou a lei não tinha força que obrigasse a mãe dele, Bebete, a matriculá-lo), possuía um sinistro sexto sentido que o avisava, geralmente com apenas alguns segundos de vantagem, de que algo de ruim estava prestes a acontecer; que a jangada pirata iria naufragar, a aventura do momento estava em vias de dar errado.

Relato uma das mais prosaicas e inofensivas destas vezes em que tal sentido do "malandrim" nato se manifestou. Certa noite, ele me chamou para “darmos uma espiada” em frente da casa de uma certa menina, uma linda negrinha, que estava há pouco tempo no bairro.

Nato estava enamorado...

Acontece que a tal menina morava numa casa, a de sua avó, em que infelizmente (isso sempre é uma infelicidade quando acontece com a mulher de quem você gosta) moravam muitos homens – eram os tios dela, todos solteiros e ainda albergados em roda da saia da matrona.

Pois bem, lá estávamos nós, acocorados no mato em frente daquela casinha de telhas francesas e sem cercas. A rua estava deserta, pois o bairro naqueles tempos era menos povoado e a hora já ia avançando noite adentro; podíamos divisar, dentro da casa de janelas de madeira abertas, o trânsito dos moradores, inclusive da princesinha de ébano. Eu olhava para a rua de quando em quando, pois nossa atitude, embora de intenções inocentes, era também suspeita. Foi quando Renato, fulminado por seja lá que tição do céu ou do inferno, entregou o oráculo: “Tô com a sensação de que vai acontecer alguma coisa ruim...”.

“Que nada, a rua tá deserta e nós não estamos fazendo nada”, respondi. Um breve momento de indefinição foi suspenso pela aparição, ex nihilo, sim, direto do nada, de um dos tios da menina, bem na nossa frente. Como aquilo se deu? E era justamente Elias, o mais “brabo” dos moradores da casa. Renato foi apanhado pelo braço, e tomou uma salva de cascudos. Eu também levei o meu e me dei por satisfeito – bem, em geral eu ficava para trás e arcava com as consequências sozinho. As explicações sobre os puros sentimentos do jovem Romeu, ao invés de tocarem o coração de Elias, tiveram o resultado oposto, enfurecendo ainda mais o valentão. Se tivéssemos corrido quando o oráculo deu o alarme...

Carimbados de cascudões e devidamente jurados em caso de reincidência em tal “crime” – simplesmente observar o evolar de uma virginal donzela, veja você – partimos para nossas casas, contrariados por mais uma injustiça da vida.

Renato jurava “vingança” quando crescesse. Quanto a mim, bem, em boa parte de minha infância, receber um cascudo era como receber um bom dia.

Fonte:
Sammis Reachers. Renato Cascão e Sammy Maluco: uma dupla do balacobaco. São Gonçalo/RJ: Ed. do Autor, 2021.
Livro enviado pelo autor.

Christopher Taylor (Como Escrever uma Análise Literária) 3. Método


ANALISE COMO SUAS EVIDÊNCIAS SUSTENTAM OS PONTOS PRINCIPAIS DO TRABALHO.

É necessário explicar por que as suas ideias são importantes. Para isso, mostre ao leitor que as evidências oferecidas por você se relacionam com o argumento principal.

Por exemplo, para completar o parágrafo após a citação oferecida, você poderia escrever:
Este mundo é pesado para os habitantes, "frio" e agourento, sem nem mesmo cor para quebrar a monotonia. Nem mesmo um dia ensolarado é capaz de aliviar esse sofrimento, e Orwell usa passagens como essa para estabelecer que esse mundo pode ser o futuro, uma realidade sem escapatória na fantasia.


ESCREVA A INTRODUÇÃO, CASO AINDA NÃO O TENHA FEITO.
Parte dela deve ser a sua tese principal, mas você também deve introduzir os pontos principais que gostaria de fazer em todo o trabalho. É importante atrair a atenção do leitor na introdução. Um exemplo:

"Imagine um mundo onde cada expressão facial, cada movimento e cada palavra dita é examinada incessantemente por um governo ditatorial. Qualquer pessoa que quebre as regras ou saia da linha é punido com frieza. Se parece com uma realidade sombria na qual ninguém gostaria de viver, pois essa era a intenção de George Orwell ao escrever o romance 1984, um livro que cria um futuro distópico no qual os cidadãos são controlado por um governo totalitário. Na obra, o uso de imagens e descrições para estabelecer o mundo sombrio é essencial para fortalecer a ideia de que o totalitarismo deve ser evitado a todo custo, algo que ele aprendeu vivendo na Espanha fascista e no momento político da época da Segunda Guerra Mundial".


FAÇA UMA CONCLUSÃO.
É importante finalizar o artigo retomando seu argumento e concluindo-o. Assim, os leitores conseguirão entender como tudo se encaixa.

Por exemplo:
"Para Orwell, o fato do nosso mundo poder estar seguindo rumo ao totalitarismo é desastroso. Esse destino, não importa se vindo da direita ou da esquerda, é algo que deve ser combatido por todos os cidadãos. No romance, ele mostra a conclusão lógica para um mundo controlado por totalitarismo e, através de recursos literários, leva o leitor para dentro desse ambiente. Após a leitura, é pouco provável que alguém iria querer participar de um governo que poderia trazer aquele mundo para a realidade".


VERIFIQUE SE O SEU ARGUMENTO FAZ SENTIDO, DO COMEÇO AO FIM.
Releia seu trabalho como se nunca tivesse lido o texto que está sendo analisado. É possível entendê-lo através das análises e evidências oferecidas por você? Caso a resposta seja negativa, revise o trabalho e acrescente o que for necessário.

Também é bom pedir que um amigo leia o trabalho e tente entender o texto que foi analisado. Remova todas as frases como "na minha opinião" ou "acredito que". É normal fazer uma análise tímida no começo do trabalho, acredite. Ainda assim, na hora de apresentar seus argumentos, é importante eliminar frases que demonstrem fraqueza e timidez, pois elas prejudicam suas opiniões e passam a impressão de que você não confia no que está escrevendo.


FAÇA UMA REVISÃO GERAL LENDO O TEXTO EM VOZ ALTA.
Fique atento aos erros identificados pelo corretor ortográfico, mas não dependa exclusivamente dele. A leitura em voz alta nos ajuda a desacelerar um pouco e identificar mais erros no texto.
Por exemplo, ao ouvir o texto, você conseguirá encontrar palavras erradas ou estruturas frasais confusas.


DEIXE OUTRA PESSOA REVISAR O TEXTO.
Um par de olhos novo é sempre bom na hora de finalizar um trabalho. Peça que um pai ou um amigo leia o seu texto e tente encontrar erros gramaticais ou de digitação.

DICAS
É muito importante compreender completamente a tarefa antes de começar a escrever sua análise.

REFERÊNCIAS
http://www.sjsu.edu/writingcenter/handouts/Literary%20Analysis.pdf
http://literary-devices.com/
https://writingcenter.tamu.edu/Students/Writing-Speaking-Guides/Alphabetical-Listof-Guides/Academic-Writing/Analysis/Analyzing-Novels-Short-Stories
https://writing.wisc.edu/Handbook/CloseReading.html
http://www.sjsu.edu/writingcenter/handouts/Literary%20Analysis.pdf
https://www.bbc.com/news/magazine-21337504
https://www.roanestate.edu/owl/writinglitanalysis1.html
https://www.bucks.edu/media/bcccmedialibrary/pdf/howtowritealiteraryana
lysisessay_10.15.07_001.pdf
https://www.edutopia.org/blog/reaching-literary-analysis-rusul-alrubail
https://writing.wisc.edu/Handbook/CloseReading.html#Theme
https://www2.southeastern.edu/Academics/Faculty/elejeune/critique.htm
https://www2.southeastern.edu/Academics/Faculty/elejeune/critique.htm
https://www.edutopia.org/blog/reaching-literary-analysis-rusul-alrubail
https://www2.southeastern.edu/Academics/Faculty/elejeune/critique.htm
https://www.edutopia.org/blog/reaching-literary-analysis-rusul-alrubail
https://www2.southeastern.edu/Academics/Faculty/elejeune/critique.htm
https://writingcenter.unc.edu/tips-and-tools/reading-aloud/


Fonte:
https://pt.wikihow.com/Escrever-uma-Análise-Literária

sábado, 29 de outubro de 2022

Silmar Böhrer (Gamela de Versos) 30

 

Carlos Drummond de Andrade(Trem de Contos) Vagões 76, 77 e 78


EXPERIÊNCIA


O arcipreste era temente a Deus, e pouco se lhe dava do Diabo. Achava que, no máximo, o Diabo é estampa de natureza folclórica. A fé em Deus bastava ao arcipreste em todos os lances da vida, entre eles o de atravessar a rua de subúrbio onde morava. Nenhuma carreta ousava atropelá-lo, nem policial munido de bastão de gás paralisante e cassetete eletrificado se lembraria de deter-lhe os passos.

Contudo, a ciclista ruiva o derrubou de maneira tão sutil que ele só percebeu o incidente ao se ver cercado de curiosos. Aparentemente, não se machucara. Dor nenhuma. Tentou levantar-se, não pôde. A mulher sumira. Tiveram de carregá-lo até o hospital mais próximo, onde ficou acamado três meses. Iam dar-lhe alta quando recebeu a visita de uma estranha senhora de olhos gateados e cabelos ruivos, que lhe levou um ramo de flores e, sorrindo, lhe disse:

— Daqui por diante o senhor pode continuar duvidando da existência dele, mas já tem motivo para acreditar pelo menos na existência da mulher dele.

O arcipreste nunca mais foi o mesmo. Claudicava da perna esquerda, e fazia coisas sem sentido.
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FURTO DE FLOR

Furtei uma flor daquele jardim. O porteiro do edifício cochilava, e eu furtei a flor.

Trouxe-a para casa e coloquei-a no copo com água. Logo senti que ela não estava feliz. O copo destina-se a beber, e flor não é para ser bebida. Passei-a para o vaso, e notei que ela me agradecia, revelando melhor sua delicada composição. Quantas novidades há numa flor, se a contemplarmos bem.

Sendo autor do furto, eu assumira a obrigação de conservá-la. Renovei a água do vaso, mas a flor empalidecia. Temi por sua vida. Não adiantava restituí-la ao jardim. Nem apelar para o médico de flores. Eu a furtara, eu a via morrer.

Já murcha, e com a cor particular da morte, peguei-a docemente e fui depositá-la no jardim onde desabrochara. O porteiro estava atento e repreendeu-me:

— Que ideia a sua, vir jogar lixo de sua casa neste jardim!
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GÊMEOS

Paulo nasceu gêmeo, embora sua mãe só houvesse dado à luz um filho. São dessas coisas da vida. Paulo sentia-se profunda, visceralmente gêmeo e, por falta de irmão visível, considerava-se gêmeo de si mesmo. Os pais achavam estranha essa conduta e esforçavam-se por dar um irmão a Paulo. Não veio. Adotaram um menino. Paulo não quis tomar conhecimento dele.

Especialistas norte-americanos foram consultados, e a todos Paulo respondia, convicto:

— Sou gêmeo, e daí?

Tratava-se a si mesmo como dois, convidava o irmão para passear, estudavam juntos, brigavam, faziam pazes, tinham duas namoradas distintas, que não compreendiam nada, e às vezes trocavam de Paulo para Paulo. Que diferença fazia?

Um dia Paulo decidiu separar-se do outro. Gêmeos se cansam. A separação foi dolorosa, com arrependimento, reconciliação, novos conflitos. Os dois que havia em Paulo já não se entendiam mesmo. E Paulo teve uma ideia sinistra: eliminar o outro. Logo se arrependeu e preferiu eliminar só a si próprio. O outro não deixou. Paulo chorou, emocionado. O outro era tão melhor do que ele!

— Nem tanto — confessou o outro. — Se você se matar, eu fico sem existência possível, isso não me convém. Sejamos egoístas, Paulo.

— Mas ficou tão chata essa vida a dois.

— Tenho uma ideia. E se nos tornarmos trigêmeos? Assim a conversa fica mais variada.

Fonte:
Carlos Drummond de Andrade. Contos plausíveis. Publicado em 1981.

Christopher Taylor (Como Escrever uma Análise Literária) 2. Método: Montando o trabalho


 A) ESCREVA UMA PROPOSIÇÃO.
A declaração de tese é a ideia principal do trabalho e deve cobrir os seus argumentos básicos, explicando o que você quer dizer. No caso de uma análise literária, é importante conectar a ideia principal ou o tema do trabalho a uma ideia específica do autor.

Por exemplo: "Em 1984, o uso de imagens e descrições de Orwell para estabelecer o mundo sombrio é essencial para fortalecer a ideia de que o totalitarismo deve ser evitado a todo custo."

B) ORGANIZE O ARGUMENTO DO COMEÇO AO FIM.
A forma com a qual vai organizar tudo depende de você, mas um método bastante utilizado é navegar pelo livro em ordem, começando com as evidências do início da obra e seguindo até o fim.

Como alternativa, você poderia começar com uma introdução histórica, oferecendo um panorama da época em que a obra foi escrita. Outro método é apresentar as partes mais importantes do argumento primeiro.

C) ORGANIZE AS SUAS IDEIAS PRINCIPAIS EM PARÁGRAFOS.

Escreva um numeral romano para cada ideia que gostaria de apresentar na análise, além da introdução e da conclusão. Ao lado de cada numeral, escreva a ideia resumidamente.

Por exemplo:
I. Introdução.
II. Apresentar contexto histórico para 1984.
III. Introduzir o tema principal do autor.
IV. Estabelecer como a linguagem ajuda a criar o tema.
V. Conclusão.

Adicione os pontos principais que gostaria de cobrir em cada parágrafo. Abaixo de cada numeral romano, use letras e numerais arábicos para detalhar o que discutirá em cada seção. Você pode resumir bem ou não, tanto faz, mas quanto mais específico for, mais fácil será escrever a dissertação.

Por exemplo:
I. Introdução.
A. Apresentar a obra, incluindo o autor, o título e a data de lançamento original.
B. Tese: "Em 1984, o uso de imagens e descrições de Orwell para estabelecer o mundo sombrio é essencial para fortalecer a ideia de que o totalitarismo deve ser evitado a todo custo."

II. Apresentar contexto histórico para 1984.
A. Discutir a Segunda Guerra Mundial.
B. Explicar as experiências do autor na Espanha.
1. Experiências com o fascismo influenciaram o trabalho.
2. Temia o totalitarismo de esquerda e direita.
C. Bolou o termo "guerra fria".

III. Introduzir o tema principal do autor.
A. Aviso contra o totalitarismo.
1. Um partido controlando todo o país.
2. Sem privacidade, nem mesmo nos pensamentos.
3. Orwell acreditava que essa era a conclusão lógica do totalitarismo.

IV. Estabelecer como a linguagem ajuda a criar o tema.
A. O livro começa com imagens sombrias e sem vida, dando o tom da obra.
B. Descrição da destruição urbana cria uma sensação de que o mundo está desmoronando.
C. As imagens contrastantes de quando Winston conhece Julia restabelecem os propósitos das imagens iniciais.

V. Conclusão.

D) APRESENTE OS TÓPICOS PRINCIPAIS COM ORAÇÕES INTRODUTÓRIAS.

Escreva uma introdução breve no começo de cada parágrafo, antes de apresentar seus argumentos. A ideia é estabelecer seu ponto de vista e conectá-lo ao restante do texto.
 
Por exemplo: "Desde o início do romance, Orwell estabelece que o mundo retratado é sombrio, melancólico e pouco atraente."
Na hora de escrever uma análise literária, é preciso expandir seus argumentos por todo o texto. Ou seja, é preciso conectar todos os parágrafos à tese principal, ajudando o leitor a entender qual é o seu ponto de vista.

E) REFORCE SUAS IDEIAS COM CITAÇÕES DO TEXTO.

Na hora de escrever uma análise literária, é importante mostrar ao leitor que as suas evidências vieram do texto. Ou seja, ao fazer uma afirmação sobre o livro, é bom adicionar citações ou parafrasear o que está sendo dito.

Revise suas anotações para encontrar boas citações. Depois, explique o que a citação significa e como ela sustenta o seu ponto de vista. É importante que a sua análise da citação seja tão longa quanto a citação, ou o seu texto ficará sem peso.

Por exemplo: "Desde o início do romance, Orwell estabelece que o mundo retratado é sombrio, melancólico e pouco atraente; ele escreve: 'Do lado de fora, mesmo através da janela fechada, o mundo parecia frio. Na rua, pequenos redemoinhos de vendo levantavam poeira e jornais em espirais, e apesar do sol brilhando e do céu azul, nada parecia ter cor, a não ser os pôsteres colados em todos os muros'".

Lembre-se de que é importante fazer as citações da forma correta no trabalho.

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continua… 3. Método

Fonte:
https://pt.wikihow.com/Escrever-uma-Análise-Literária

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Filemon Martins (Paleta de Trovas) 16

 

Raul Pompéia (De madrugada)


I

Top, um lindo perdigueiro malhado, era o cão de um meu vizinho; e o meu vizinho um esquisito, desses homens que fazem não se sabe o que, e vivem não se sabe como, isto é, cosendo o manto das aparências ricas, com as misérias íntimas. Via-se-lhe a família a rir nas soirées, enfaixadas nas sedas, e não se via se chorava, quando a chitinha doméstica substituía os tecidos faustosos. O meu vizinho Ricardo, por seu lado, era alegre, de uma alegria frenética, nervosa; isto em sociedade. Concentrado em seu gabinete, era um abstrato meditador e um meditador triste.

II

Top não o abandonava nessas horas de melancolia; o generoso cão entrava no quarto do dono e, pé ante pé, ia enrodilhar-se junto da poltrona de Ricardo. Punha-se a fitá-lo, imóvel e interrogador. A melancolia do dono parecia influir na existência do pobre animal.

Top ia perdendo visivelmente o curvilineado elegante das formas e começavam a emergir-lhe na pele umas saliências ósseas de mau desenho.

Era uma pena ver-se aquele homem e aquele cão, cruzando às vezes um olhar morno e cheio de tristeza, isolados na meia sombra do quarto. Felizmente ninguém surpreendia tais cenas.

III

Esta noite, um rumor despertou-me. Era a minha pêndula que dava horas. Não me foi possível contar as pancadas. Saltei do leito e com um fósforo iluminei o mostrador do relógio. Eram quatro horas. Boa hora de levantar-se para quem gosta de o fazer bem cedo. Contrariei com esforço a preguiça da madrugada, que me entorpecia, e preparei-me para um passeio. Devia ser agradável. Ao menos divertido. À hora em que o Rio de Janeiro salta n'água da Guanabara, para os seus mergulhos higiênicos, sempre se tem o que ver...

IV

Saí.

V

Uma hora mais tarde, a minha curiosidade de passeante foi atraída por uma coisa extraordinária.

Eu costeava o cais da praia d... Num ponto em que o pequeno muro de cimento faz uma entrada, recolhendo o mar num remanso onde as algas apodrecem e dormem as ondas, vi uma sombra saltar do chão para o muro e do muro para o chão, de um modo aflitivo, soltando como que gemidos, espiando para o mar, tentando pular e com medo. A luz do dia que chegava e as estrelas que fugiam deixaram-me ver. A sombra era um cão: o perdigueiro malhado do meu vizinho. Uma pancada forte senti no peito.

VI

Encaminhei-me com pressa para o lugar. Antes de lá chegar, vi o cão atirar-se para o lado do mar e sumir-se.

Corri. No ponto em que estivera Top eu inclinei-me. Descansei os antebraços no cimento do cais e examinei o mar. Fazê-lo e recuar foi coisa de um segundo. Lá embaixo boiava um cadáver de costa para cima, com os braços abertos. Perto dele, o perdigueiro debatia-se tentando puxá-lo.

VII

Entretanto, brilhava a aurora vermelha como uma chaga, derramando nas ondas as cores da tragédia.

Eu vi sobre o parapeito do cais um objeto branco. Era um envelope.

Fugi.

Fonte:
Raul Pompéia. Contos. Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Linguística da UFSC.

Carolina Ramos(Poesias Esparsas) 6


A GRANDE MESTRA


Não temas que o Destino te atraiçoe
pondo pedras demais em teu caminho.
Usa as pedras que, acaso, ele te doe
e, ao construir, não estarás sozinho!

Se Deus te deu a luz da inteligência
e o poder de ir e vir em liberdade,
tens o solo, a semente… com paciência,
um dia hás de colher felicidade!

Não penses, por temor e covardia,
que só o Destino teu porvir decida...
- Destino tu constróis, a cada dia,
e a Mestra dessa obra é a própria Vida!
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AMA!

Sempre é tempo de amar, eu te asseguro,
porque para um amor é sempre puro
o instante que se vive de verdade.
Pode ser que esse instante seja curto,
pode ser que da vida seja um furto,
mas sempre tem valor de eternidade!

Ama este céu azul que encanta a alma!
Ama o beijo da brisa, que traz calma,...
Ama a esperança que a viver convida!
Ama a saudade que te faz sofrer,
por ela o amor se esquece de morrer,
e só o amor dá vida... à própria vida!
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MÃOS SACERDOTAIS

Mãos suaves, que acusam, mas, perdoam.
Mãos eleitas do excelso e puro Amor.
Mãos que falam, que acalmam e abençoam,
pastoreando ovelhas do Senhor.

Mãos sacrossantas - divinal guarida! -
que nos frágeis e humanos dedos seus,
sustém a Hóstia, o Verbo feito Vida:
- a Essência, o Corpo, o Sangue, o Amor de um Deus!
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QUEM DERA!…

A vida lembra sempre audaz corrida,
a estender-se do berço à sepultura.
E essa andança é mais árdua e mais sentida
para quem vai sozinho e à luz procura.

Quem dera que essa estrada, tão sofrida,
recortada de atalhos e insegura,
pudesse ser por todos preterida
em prol de outra mais reta, rumo à altura!

Quem dera houvesse aqui mais igualdade
e sem lutas viçasse desde agora
o alvo lírio da paz - Fraternidade!

E então jamais seríamos sozinhos
ante esse Deus que no infinito mora
e nos quer ver trilhar os Seus caminhos!
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QUERER

Basta que eu queira e que também tu queiras
e este amor impossível não será.
Na vida há sempre múltiplas maneiras
de contornar espinhos... sabes que há.

Basta que eu queira... se também quiseres,
no amplo horizonte, ruirão montanhas!
Nem a potência de milhões de ampères
detém, do amor, as forças tão estranhas!

Se tu quiseres... se eu quiser, também,
nem mesmo a morte nos será barreira,
pois o amor quando quer, pode ir além,
bem muito além do que uma vida inteira!
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SER BOM

Ser feliz, quem com todo o afã procura,
esquecendo a miséria pela estrada,
não sabe, nem sequer, o que é ventura,
ou não a reconhece mascarada!

Ser feliz é ser bom, tendo a amargura,
muito embora, no peito encarcerada.
Um irmão, ver em toda a criatura,
dando muito de si, sem pedir nada.

Em cada rosto há espera de um sorriso.
Em cada aurora há luz do paraíso
a oferecer à vida um novo tom;

- Que não te abata a incúria, o mal alheio,
que o coração expandas sem receio
e jamais te arrependas de ser bom!
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Fonte:
Carolina Ramos. Destino: poesias. São Paulo: EditorAção, 2011.
Livro enviado pela poetisa.

Christopher Taylor (Como Escrever uma Análise Literária) = 1. Método


Uma análise literária é o processo no qual você lê uma obra cuidadosamente para entender quais eram as intenções do autor e ver como ele as transpõe em palavras. Comece lendo o texto e fazendo anotações. Depois, desenvolva e organize o seu argumento. Por fim, escreva a análise de acordo com suas anotações e faça uma revisão cuidadosa antes de entregar o trabalho. Parece complicado? Não é!


Método 1: FAZENDO ANOTAÇÕES E DESENVOLVENDO UM ARGUMENTO


a) Escreva algumas ideias conforme lê o texto.

Na primeira vez em que for ler a obra, anote as coisas que se destacam, como o conflito principal, as motivações dos personagens, o tom e a ambientação.

Marque os trechos interessantes ou significativos com um marca-texto. O autor parece estar fazendo uma declaração importante? Ele está sendo mais filosófico repentinamente? Destaque as partes importantes.

Por exemplo, uma das frases que mais se repetem no livro 1984, de George Orwell é "A guerra é paz. A liberdade é escravidão. A ignorância é força". É o slogan principal do único partido político da história e é algo importante para a obra. Use um marcador de uma cor específica para identificar todas as vezes em que o slogan é repetido. Assim, vai ser mais fácil localizá-lo para analisar quando, onde e por quê o autor está repetindo essa frase.

b) Identifique as figuras de linguagem utilizadas pelo autor.

Tratam-se de coisas que o autor usa para contar a história ou transpor uma ideia. Elas podem incluir aliteração, metáforas, alusões, alegorias, repetições, flashbacks, imagens e diversas outras opções.

Por exemplo, o autor pode usar e descrições vívidas para criar imagens mentais na cabeça dos leitores, ditando o tom da obra. Confira este exemplo de 1984, que é apresentado no quarto parágrafo do romance:

"Do lado de fora, mesmo através da janela fechada, o mundo parecia frio. Na rua, pequenos redemoinhos de vendo levantavam poeira e jornais em espirais, e apesar do sol brilhando e do céu azul, nada parecia ter cor, a não ser os pôsteres colados em todos os muros."

Um trecho curto como esse é capaz de transpor a sensação de viver no mundo fictício da obra.

c) Foque nos principais temas expressados pelo autor.

Os temas são as ideias principais que muitas vezes se repetem por toda a obra, como religião, governo, bem x mal, autoridade, estrutura social, guerra, educação, direitos humanos, entre tantos outros. Identifique os temas o quanto antes, pois assim será mais fácil marcar os exemplos deles durante a leitura.

Os principais temas de 1984, por exemplo, são guerra, autoridade e estrutura social.

d) Observe a forma da obra.

Como o texto é construído? Em um livro longo, você pode analisar como o material é dividido ou em qual pessoa ele é escrito. Em um poema, confira as quebras de linha, a organização e o formato do poema, incluindo aí o espaço negativo. Tente entender o que levou o autor a escolher essa forma para apresentar as ideias dele.

Analise como a forma e o conteúdo se relacionam. Depois, pense também como elas criam tensão. Por exemplo, um poema normalmente contém menos informações do que um romance, logo, o autor pode usar a forma para chamar atenção para perguntas desconhecidas ou não respondidas.

e) Analise o contexto histórico.

Nenhuma obra é escrita em um vácuo, logo, o período e o local nos quais o trabalho foi concebido são importantes. Pesquise onde o autor morava, o período no qual o livro foi escrito e tudo o que acontecia naquela época.

Por exemplo, 1984 foi lançado logo após a Segunda Guerra Mundial em 1949, quando o fascismo ameaçava consumir o planeta. Ainda assim, é importante saber que o autor havia sofrido com os problemas de regimes totalitários na Espanha e queria avisar o mundo dos avanços desse tipo de governo em qualquer forma, seja de esquerda ou direita.

f) Defina o propósito do autor por trás da obra.

É normal que ele tenha vários propósitos na hora de escrever, mas é seu trabalho identificar pelo menos um para poder analisar. Não se importe muito com o que vai escolher, desde que você consiga reforçar sua ideia com evidências encontradas dentro da obra.

Sempre analise o contexto histórico da obra ao pensar nos propósitos do autor. É bom também ler outras análises do texto, além de entrevistas do criador do trabalho.

Por exemplo, um dos propósitos por trás de 1984 era mostrar o que aconteceria se os cidadãos não comandassem o governo: isso poderia gerar um regime totalitário no qual cada movimento e pensamento é analisado e penalizado.

Faça um brainstorm sobre como o autor demonstra o propósito principal. Faça uma conexão entre suas anotações e o que acredita ser o propósito do autor. Pense em como acredita que ele usou os dispositivos literários para transpor as ideias que tinha.

Por exemplo, no slogan "A guerra é paz. A liberdade é escravidão. A ignorância é força", nós temos uma introdução ao propósito do autor. O leitor tem uma ideia do que virá a seguir: os cidadãos da sociedade fictícia precisam aceitar declarações contraditórias do governo sem questionar, um conceito conhecido no livro como "duplipensar".

g) Escolha um argumento focando o seu ponto de vista.


Defina um elemento da história que exemplifique a ideia principal da obra para você. O que se destaca nesse assunto? Por que ele parece importante?

Por exemplo, digamos que decida que gostaria de focar em como o autor usa imagens e descrições para definir o tema do romance 1984. Por que isso é importante? Sem essas descrições, o livro seria bem diferente e o autor teria dificuldade para construir um mundo realista para os leitores.
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continua… 2o. método

*Christopher Taylor é um Professor Assistente Adjunto de Inglês no Austin Community College, no Texas. Recebeu seu PhD em Literatura Inglesa e Estudos Medievais pela University of Texas, em Austin, 2014.

Fonte:
https://pt.wikihow.com/Escrever-uma-Análise-Literária

Aparecido Raimundo de Souza (Teimosia animalesca)


O MARCONDES estava levando uma de suas vacas para cruzar com o touro da fazenda vizinha, num espaço conhecido como “cobrição” (1), quando seu capataz chegou correndo, saltou da camionete esbaforido com a notícia:

— O que foi, Arquimedes: Por que toda essa pressa? Vamos, homem, cante a pedra. Parece estar com o pai na forca!

Arquimedes, ainda sem se refazer do susto, mandou a bomba:

— Sua mãe, patrão. Dona Catarina está passando mal. Sua esposa já chamou o médico e pediu para que eu viesse lhe chamar com urgência. Caso de vida ou morte...

Acompanhando o Marcondes, Elisa e Pérola, as duas jovens filhas de seu advogado, que morava perto, numa gleba confinante à sua. Ambas estavam em sua propriedade à espera de Valquíria, a enteada, que saíra cedo e fora até o povoado pagar as contas e fazer as compras mensais para o rancho.

O imprevisto surgido deixou o fazendeiro aparvalhado, de calças curtas e deveras preocupado. Perplexo e sem ação, diante daquele fato inesperado, ficou sem saber, de pronto, que atitude tomar. Elisa, a mais velha das meninas, vendo o estado desesperador de seu Marcondes, se prontificou:

— Pode deixar seu Marcondes. Somos dondocas do vilarejo, mas o papai, como é do seu conhecimento, também tem um sítio enorme com pasto imenso onde cria vacas e cavalos de raça, igual ao senhor.

Se abriu num sorriso contagiante e completou:

— Apesar de vivermos mais no conforto das facilidades, sabemos como agir e lidar com essas coisas.

Pérola interrompeu a irmã e completou:

— Verdade, seu Marcondes. Deixa que eu e Elisa levamos a sua vaca até onde o touro se encontra. Por favor. Vá cuidar de sua mãe e deixe esse encargo por nossa conta. Tiraremos de letra.

Espavorido e receoso com o fato de que as duas donzelas não dessem conta do recado, mil coisas vieram martelar à cabeça da criatura. Todavia, com seu homem de confiança no encalço e à sua espera, para leva-lo até à progenitora carecendo de ajuda, decidiu que naquele momento o mais acertado seria partir em amparo de sua consanguínea, uma senhorinha em idade bastante avançada:

— OK, meninas. A vaca é toda de vocês duas.

Três horas depois, terminada a árdua tarefa de ter prestado toda a assistência à sua genitora o fazendeiro regressou. Estava mais calmo e tranquilo. Deixara dona Catarina fora de perigo. A anciã fez uma batelada de exames no hospital e regressou ao lar. Sem mais delongas, Marcondes se dirigiu para o estábulo visando averiguar se as pequenas haviam cumprido, à risca, a tarefa que se propuseram levar à termo.

Ao chegar na estação de monta (2), ao lado de um galpão e de uma abegoaria (3) onde o touro num pequeno cercado se achava à espera de sua vaca, para a procriação, o agourento do desastre se mostrou encaroçado e bombástico. Topou com as moças todas sujas de lama, os cabelos alvoroçados, sem falar que estavam quase nuas, em vista dos vestidos em farrapos. Assim que o capataz parou a camionete, Marcondes saltou ao encontro das pequenas, tremendo pior que vara verde:

— Meu Deus, Elisa. O que aconteceu?  Pérola, acaso o Jovino investiu contra vocês?

Elisa ao tempo em que respondia, se pôs em pé procurando se albergar dos olhos esbugalhados do fazendeiro e do capataz, totalmente colados em suas partes intimas, a bem da verdade, recatos expostos às visitações escancaradas das salientes figuras que, de repente pareciam frenteadas com um deslumbre magnânimo jamais visto e apreciado em suas vidas:

— Seu Marcondes — indagou Elisa:  —  Quem é Jovino?

— Jovino é o nome dele. — respondeu o fazendeiro apontando o indicador em direção ao touro. Me expliquem o que aconteceu enquanto estive ausente?

Pérola também seminua, veio em socorro da irmã e completou a explicação:

— Seu Marcondes, foi a sua vaca...

O fazendeiro e o capataz boquiabertaram (4), pasmos e abismados, completamente estatelados:

— O que houve com Mimosa?  Ela é tão mansa. Espiem o semblante da coitada ... parece cansada e Jovino... o Jovino se mostra desanimado... macambúzio!... (5).

Elisa e Pérola tentaram rir, mas o choro vergonhoso não permitiu:

— Sua vaca tem nome? — Indagou Elisa se pondo também emparelhada à irmã:

— Sim, minhas lindas.  O nome dela é Mimosa.  Assim como o touro que vocês estão vendo. O nome do garanhão é Jovino. Vamos, garotas, o que aconteceu? Quero a verdade. Sou todo ouvidos.

Elisa sem deixar de se debulhar em lágrimas explicou como pode:

— O senhor falou para que nós trouxessemos a sua vaca, digo a Mimosa, e que a colocássemos em posição de ela se entregar acasalando com o touro... digo, fazendo sexo com o Jovino...

— Sim, e daí? Vocês não fizeram isso?

Pérola à imitação da irmã, ao se por fora da lama suja, o fez de forma açodada:

— Nós pelejamos de tudo quanto foi jeito, seu Marcondes. O problema é que a desgranhenta da sua vaca, quero dizer, da Mimosa, não quis, de maneira nenhuma, ficar deitada de costas no chão.
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Notas de rodapé:
1 Cobrição – Qualquer cópula (coito) entre animais quadrúpedes.  
2 Estação de monta – No sentido citado no texto, local onde se levam as fêmeas (vacas) para as exposições aos touros (machos).
3 Abegoaria – Local onde se guarda os instrumentos de uso diário de uma propriedade ou fazenda.
4 Boquiabertaram – Ficaram perplexos e abismados. De queixo caído.
5 Macambúzio –  Pessoa triste, melancólica ou mal-humorada.


Fonte:
Texto e notas de rodapé enviados pelo autor.

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Adega de Versos 93: George Abrão

 

Humberto de Campos (Efeitos do tanino)


Preocupado com a mocidade da sua linda companheira e temendo, ao mesmo tempo, a decadência de tão maravilhosa formosura, principalmente daquele admirável colo de neve, que era o seu orgulho e que ela mostrava, contente, até aonde lhe era possível mostrar, o coronel Epifânio Fonteneles procurou, uma tarde, a proprietária de um famoso Instituto de Beleza, e expôs claramente o seu caso. A Circe francesa ouviu-lhe a narrativa, compreendeu-lhe os temores, percebeu-lhe as apreensões, e, com um sorriso nos lábios artificialmente vermelhos, tranquilizou-o:

- Pode ficar tranquilo, coronel. O preparado que possuímos para conservar a graça do busto, a mocidade da pele, enfim, a beleza do colo, é infalível. É uma loção adstringente, de efeito seguro e poderoso, que tem realizado verdadeiros milagres. Basta dizer que entram nela, em dose elevadíssima, a pedra-hume, a casca de romã, a folha de carvalho, a casca de manga, enfim, todas as substâncias taninosas, que fazem contrair e fortalecer a epiderme, conservando-lhe a juventude.

E retirando um vidro da prateleira:

- O senhor leva um vidro, e recomende a madame que o use todos os dias. Toma-se de um pouco de algodão delicado, molha-se no liquido, e umedece-se com ele a pele do colo, principalmente o seio, cuja rijeza é preciso conservar. Deixa-se secar o liquido na pele, põe-se uma ligeira camada de pó de arroz, e está feito o remédio, e, com ele, a "toilette" do dia.

Balançando a cabeça a cada informação, o coronel mostrou haver entendido bem, pediu dois vidros da loção, pagou-os, recebeu-os, e tocou-se para casa, onde os entregou à encantadora D. Ignezinha, a quem transmitiu, palavra por palavra, todas as explicações.

No dia seguinte, à tarde, usado o liquido de acordo com as instruções do marido, e enfiado o seu vestido de decote mais longo e mais frouxo, desceu a linda senhora, sem colete, afim de patentear melhor a graça do busto deslumbrante, para a sala de visitas, onde já se havia feito anunciar, como um dos amigos mais frequentes da casa, o jovem engenheiro militar Dr. Epaminondas Rufino.

Pausado, meticuloso, disciplinado em tudo, o coronel demorou-se ainda nos seus aposentos, vestindo-se para jantar. Meia hora depois, ouviam-se os seus passos na escada, e, logo, em seguida, a sua entrada no salão, onde madame sorria, discreta, contando uma história qualquer ao capitão Epaminondas.

- Então, como vai essa bravura? bradou, jovial, o velho coronel, estendendo a grande mão gloriosa, para apertar a do amigo.

O engenheiro ia responder no mesmo tom, mas, de repente, contraiu o rosto, empalideceu, e continuou mudo.

- Que é isto? Está se sentindo mal? - tornou o coronel apreensivo.

O capitão fez um novo esforço, com os músculos de todo o rosto, procurando descerrar os lábios apertados, contraídos num espasmo da mucosa e, com uma dificuldade horrível, quase com a boca cerrada, respondeu, apenas, num sibilo, com a língua presa, dura, paralisada pelo tanino:

- Nun... tãnho... nada!

E ganhou a rua.

Fonte:
Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. Publicado originalmente em 1925.

Professor Garcia (Reflexões em Trovas) 14


A aurora, em seu esplendor,
no silêncio da alvorada...
Põe reticências de amor
nos versos da madrugada!
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A existência é dividida,
em partes bem desiguais:
Na infância, o esplendor da vida,
no ocaso, a explosão dos ais!
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Amo o silêncio da noite,
e as ondas sem vendavais,
quando a brisa em leve açoite
me leva de volta ao cais!
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A noite passa enfadonha;
na jangada, a cerração,
molha os sonhos de quem sonha
nos mares da solidão!
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Ao nosso amor, fiz a jura,
por ser do amor, tão devoto.
Mas da foto da moldura,
resta a moldura sem foto!
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Ao ver o fogo apagado,
eu vejo aos pés do fogão,
que os sonhos do meu passado
viraram cinza e carvão!!!
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A todo instante, eu medito,
sobre tudo que componho,
bordando um sonho bonito
com bordados de outro sonho!
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De um grande amor, não se prive
que, a solidão é bisonha;
nunca tem dó de quem vive
nem tem pena de quem sonha!
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De volta à tapera amada,
revi meus passos incertos,
ao ver a infância abraçada
a velhos braços abertos!
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Disseste adeus!... Que maldade!...
E, essa ausência, tão vazia,
virou um grão de saudade
que germina todo dia!
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Dói a saudade! ...E, entretanto,
a dor do teu triste adeus,
não cabe na dor do pranto
que rola dos olhos meus!
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É tarde, o vento murmura,
e, à noite, de alma indefesa,
põe um pouco de ternura
na solidão sobre a mesa!
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Eu busco nas horas plenas,
toda a essência que me acalma,
num verso, que diz apenas
que a trova também tem alma!
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Eu pensei voltar cantando
do meu chão de primavera!...
Mas chorei, por ver chorando
sombras na velha tapera!
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Foi machucando a lembrança,
de volta ao meu velho ninho,
que eu chorei feito criança
pisando o mesmo caminho!
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Há um pobre vulto na rua
que entre os trapos se agasalha;
por leito, os lençóis da lua
e os véus da noite grisalha!
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Moldei tua despedida,
nos versos que te compus,
mantendo a mesma medida
dos braços de tua cruz!
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Na dor da tarde morena,
há um lenço de rubra cor,
que toda tarde me acena
fingindo acenos de amor!
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Na foto, os meus desenganos!
É que a foto envelhecida,
mostra a maldade dos anos,
nos anos de minha vida!
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Naquela velha pracinha,
não tem quem conte as pegadas
de nós dois, toda tardinha,
caminhando de mãos dadas!
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No instante em que o Sol desmaia,
aos poucos, mantenho a calma,
a espera que a noite caia
trazendo paz a minha alma!
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No sonho, tudo se alcança;
e, o tempo, insano e arbitrário,
arbitra qualquer mudança
e molda tudo ao contrário!
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O entardecer, de mansinho,
em silêncio e, sem alarde,
toda tarde faz seu ninho,
no teto do fim da tarde!
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O rio, entre os seixos canta,
canção que é quase divina;
nem reclama da garganta,
nem erra e nem desafina!
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Ouço passos na janela,
que ao passado me transporta;
se não for os passos dela,
é de alguém no pé da porta!
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Para escapar da velhice,
tentei fugir pelos flancos;
mas percebi que é tolice,
pelos meus cabelos brancos!
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Por crer neste amor imenso,
de forma tão comedida,
é que sempre enfrento e venço
os maus presságios da vida!
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Qualquer rosa na janela,
de uma palhoça sem teto,
mostra o quanto a vida é bela
quando é cercada de afeto!
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Quando a ganância insensata,
destrói a mata florida,
depois de morta, ela mata
quem tirou-lhe a flor da vida!
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Relógio, por que tu choras,
se tens segundo a segundo,
os dedos cegos das horas
marcando as horas do mundo?!…
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Sem se queixar da pobreza,
na palhoça tão singela,
se faltasse o pão na mesa,
sobrava amor dentro dela!
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Se uma lágrima desaba,
quando é pura, nos ensina,
que a lágrima não se acaba
na fonte da alma divina!
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Só Deus, com saber profundo,
permite de forma ordeira,
que o Sol beba num segundo,
o orvalho da noite inteira!
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Teu bilhete apaixonado,
que alguém me entregou com medo,
esconde o nosso passado
e expõe o nosso segredo!
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Triste num canto da sala,
brilha uma velha candeia;
muda, em silêncio, não fala,
mas mostra a tristeza alheia!
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Um velhinho e uma criança,
são barcos em dois extremos:
Um com remos de esperança
outro à deriva e sem remos!
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Fonte:
Professor Garcia. Versos para refletir. Natal/RN: Trairy, 2021.
Livro enviado pelo trovador.

Contos e Lendas do Mundo (O rei e suas 4 esposas)


Era uma vez um rei que tinha 4 esposas. Ele amava a quarta esposa demais, e vivia dando-lhe lindos presentes. Dava-lhe de tudo e sempre do melhor.

Ele também amava muito sua terceira esposa e gostava de exibi-la aos reinados vizinhos. Contudo, ele tinha medo que um dia, ela o deixasse por outro rei.

Ele também amava sua segunda esposa, sua confidente e sempre pronta para ele, com amabilidade e paciência. Sempre que o rei tinha que enfrentar um problema, ele confiava nela para atravessar esses tempos de dificuldade.

A primeira esposa era uma parceira muito leal mas ele não a amava. Apesar dela o amar profundamente, ele mal tomava conhecimento dela.

Um dia, o rei caiu doente e percebeu que seu fim estava próximo.

- É, agora eu tenho 4 esposas comigo, mas quando eu morrer, com quantas poderei contar?

Então, ele perguntou à quarta esposa:

- Eu te amei tanto, querida, te cobri das mais finas roupas e joias. Agora que eu estou morrendo, você é capaz de morrer comigo, para não me deixar sozinho?

- De jeito nenhum! – ela respondeu, e saiu do quarto sem sequer olhar para trás.

A resposta que ela deu cortou o coração do rei como se fosse uma faca afiada. Tristemente, o rei então perguntou para a terceira esposa:

- Eu também te amei tanto a vida inteira. Agora que eu estou morrendo, você é capaz de morrer comigo, para não me deixar sozinho?

- Não!!! - respondeu ela - A vida é boa demais!!! Quando você morrer, eu vou casar de novo.

O coração do rei sangrou e gelou de tanta dor.

Ele perguntou então à segunda esposa:

- Eu sempre recorri a você quando precisei de ajuda, e você sempre esteve ao meu lado. Quando eu morrer, você será capaz de morrer comigo, para me fazer companhia?

- Sinto muito, mas desta vez eu não posso fazer o que você me pede! - respondeu - O máximo que posso fazer é enterrá-lo.

 Daí, então, uma voz se fez ouvir:

- Eu partirei com você e o seguirei por onde você for...

O rei levantou os olhos e lá estava a sua primeira esposa, tão magrinha, tão mal nutrida, tão sofrida... Com o coração partido, o rei falou:

- Eu deveria ter cuidado muito melhor de você enquanto eu ainda podia...
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Na verdade, nós todos temos 4 esposas nas nossas vidas...

Nossa quarta esposa é o nosso corpo. Apesar de todos os esforços que fazemos para mantê-lo saudável e bonito, ele nos deixará quando morrermos...

Nossa terceira esposa são as nossas posses, as nossas propriedades, as nossas riquezas. Quando morremos, tudo isso vai para os outros.

Nossa segunda esposa são nossa família e nossos amigos. Apesar de nos amarem muito e estarem sempre nos apoiando, o máximo que eles podem fazer é nos enterrar...

E nossa primeira esposa é a nossa alma, muitas vezes deixada de lado por perseguirmos, durante a vida toda, a Riqueza, o Poder e os Prazeres do nosso Ego... Apesar de tudo, nossa Alma é a única coisa que sempre irá conosco, não importa aonde formos... Deixe-a brilhar!

Fonte:
Contos orientais. Publicado em 1995.

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

José Fabiano (Muros de Trovas) 02

 

Isabel Furini (Escândalo no prédio)


As mulheres do prédio estavam reunidas na recepção. Todas falando ao mesmo tempo. Esperavam a síndica. Ela chegou minutos depois. Calmamente perguntou qual era a causa daquela agitação toda.

- O primeiro andar tem um grande terraço... - disse dona Manoela.

- E sempre alguém está tomando sol nesse terraço! - enfatizou Vanessa, que estava sentada com a filha de dois anos no colo.

- Não tem nada de errado tomar sol no terraço. Isso não é proibido! - disse a síndica.

- Conte, conte, dona Cidinha! - incentivou-a Manoela.

- Mas hoje eu vi... Eu estava olhando pela janela, não estava espionando, não.  Hoje eu estava olhando inocentemente pela janela quando vi... - dona Cidinha cobriu o rosto com as mãos e disse descendo a voz: - Vi um homem nu tomando sol no terraço do primeiro andar.

- Era seu Inácio? - perguntou Rosalba, uma antiga moradora.

- Aquele velho contador aposentado tomando sol nu no terraço? - perguntou a síndica.

- Que horror! - disse gritou Manoela.

- Não! Não era ele, não! Era esse sobrinho, esse jovem alto e moreno, parecido com o Rodrigo Santoro.

- Ahhhh! Uauuuu! – e outras exclamações surgiram dos lábios das mulheres.

- Aquele rapaz estava tomando sol nu no terraço? Por favor, dona Cidinha, a próxima vez que isso acontecer, me chame imediatamente. - disse a síndica - Eu quero tirar algumas fotografias daquele gatão nudista!

Fonte:
Contos e Crônicas de Isabel Furini
https://contosecronicasdeisabel.blogspot.com/2013/07/escandalo-no-predio-cronica.html

Eduardo Affonso (Sologamia)


Uma conterrânea minha, bela loura de 38 anos, casou-se esta semana consigo mesma.

Beagá tem esse “problema”: mais mulheres (quase 200 mil a mais) que homens. Arrumar marido lá deve ser quase tão difícil quanto conseguir um “bom dia” em Curitiba.

A sologamia feminina poderia ser uma forma de equilibrar as contas e minimizar a solteirice congênita que afeta tantas meninas de Minas. Mas ninguém garante que algum homem belo-horizontino também não venha a contrair matrimônio com si próprio, e o déficit permanece igual ao da Previdência – crônico, inexorável, vitalício.

Sem contar que a sologamia – em que pese a economia de uma aliança e um bonequinho em cima do bolo – tem seus senões.

Pode-se pensar que ela signifique solidão, mas é o contrário. Aí é que você não vai ficar sozinho/a de jeito nenhum. Seu/sua parceiro/a vai grudar em você, sempre estará onde você estiver – e não adianta nem se trancar no banheiro para ter um minuto de paz.

Aliás, o banheiro é outro problema. Não há relacionamento que sobreviva à visão do/a parceiro/a absorto/a em questões escatológicas aboletado/a no vaso sanitário. E isso não só de vez em quando, ou por acaso, mas todo dia.
Dia após dia.
Até o fim dos dias.

Nas DRs não dará pra fazer de conta que você está prestando atenção, ou fingir que concorda só encerrar logo o assunto. A coisa só vai acabar quando você se cansar de falar, não quando se cansar de ouvir.

Se você brigar consigo mesmo/a (quem nunca?), fizer as malas e voltar pra a casa da sua mãe, vai parar é na casa da sua sogra.

E não vai poder dormir de conchinha.
Não vai ter quem tire cravos das suas costas.
Não vai ter quem passe protetor solar nas suas costas.
Quem te ajude a fechar o fecheclér (se você for mulher).
Quem te lembre a data do aniversário do casamento (se você for homem).

Nunca vai chegar em casa e encontrar um jantarzinho surpresa.
Nunca vai ter com quem dividir a quantidade de louça suja decorrente do jantarzinho surpresa.

E vai ter que ser fiel na marra.

Tem que ser muito esperto/a para pular a cerca sem que nem você perceba, e muito sonso/a para não perceber que você mesmo/a pulou a cerca – o que é um paradoxo.

No sexo conjugal, então, vai ser uma tristeza. Porque o auto-engano é uma arte, mas tem seus limites.

Não vai dar para fingir orgasmo, nem inventar que está com dor de cabeça ou vir com aquele papinho de que “isso nunca me aconteceu antes”.

Nunca vai poder transar pensando em outra pessoa sem ser flagrado/a cometendo adultério em pensamento. E se pensar em si mesmo/a, é narcisismo. E quem aguenta ir pra cama pelo resto da vida com um/a parceiro/a que ou é narcísico/a ou traíra?

Não adiantará mentir quando perguntar a si mesmo/a “foi bom pra você?” Nem fazer de conta que está dormindo para não ter que passar por aquilo tudo de novo. Ou por saber que uma segunda, logo em seguida, não rola nem a pau.

Mas tem um lado bom.

A cama é toda sua.
O controle remoto é todo seu.

A tampa do vaso estará sempre abaixada.
Ou sempre levantada.

Não haverá calcinhas penduradas no box.
Ou não haverá alguém reclamando das calcinhas penduradas no box.

Não haverá drama se esquecer de tomar a pílula ou de comprar camisinha.

E na divisão dos bens, em caso de divórcio, por mais litigioso que seja, tudo vai acabar ficando pra você.

Complicada mesmo é a pensão por viuvez – que você não vai receber nem morto/a.

Fonte:
Blog do autor. 30 de maio de 2019.
https://tianeysa.wordpress.com/2019/06/04/sologamia/

Caldeirão Poético LV



Clarice Cristal
Balneário Camboriú/SC

NOS BRAÇOS DA INCONSCIÊNCIA

 
Na árdua jornada interna
Pelos campos
Que ardem em fúrias
E em múltiplas explosões
De ódios eviternos
Atirei-me nos braços
Da inconsciência

No meu rumo
À inconsciência pura
Que eu seja autossuficiente
Que eu não dependa
De mais ninguém

Na luta interna
Que travei comigo mesma
Eu dormia incauta
Em noites de tempestades
E muito frio
E acordei soberana
Em dias de muito sol e calor
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Clarisse da Costa
Biguaçu/SC

COTIDIANO  

São os móveis
no mesmo lugar
as flores vermelhas
no quintal
e a vida à passar.

Retratos na parede,
ausência que
traz saudades
e o perfume
que se foi com ela.

O tempo é feito
menino
nem sequer olha
pra trás.
Ou eu vou com ele
Ou eu fico sem rumo.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Fabiane Braga Lima
Rio Claro/SP

A MAIS BELA POESIA

 
Páginas… minha escrita sem nexo, hoje gritam
Há uma certa repetição de palavras
Poemas incoerentes, sem lucidez...
Palavras aglomeradas, infindas e rimadas.
Leio um livro, talvez tenha inspiração
Mas a saudade me faz companhia
Sempre presente, me faz melancólica
Aonde se esconde...!? Não a vejo!
Leal e afável. De repente me deixou...
Palavras belas, tua essência incógnita
Formoso, não sei!  Vasto de encanto...
Tento te decifrar, mas não consigo, não lhe ouço
Preciso recomeçar, viver. Largo tua mão!
Cativou-me, seremos a mais bela de todas as poesias...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Elisa Alderani
Ribeirão Preto/SP

PAUSA DA NATUREZA

Aprendi a seguir o exemplo da natureza...
Parar, observar todos os detalhes que a visão ainda me permite ver...
sentada no chão, sobre folhas mortas, caídas, já ressequidas
vejo a beleza do rio passar;
ele não para, é igual ao tempo que passa.
Ninguém pode parar suas águas que fluem,
agora lentas, ou rápidas, dependendo das estações...
Seguem seu percurso indiferente até chegar ao fim do vale,
quando abraçarão o mar...
A tarde passada olhando essa imagem calmamente,
até as árvores verdes fazem reverência ao rio,
as outras, com folhagem outonal, também estão na pausa,
logo o vento irá despi-las para o inverno passar...
Depois, para elas, virá a primavera mais uma vez.
Assim é a lei da natureza,
olho para o azul do céu,
nuvens brancas passando,
mudam a sintonia do meu pensamento.
Também reverencio minha pausa,
com gratidão ao tempo!
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Isabel Furini
Curitiba/PR

OS EFEITOS COLATERAIS


alguns poemas revivem traumas
e provocar longas noites de insônia
e de solidão

impõe-se
a linguagem estética

contaminadas pela insônia
as emoções acordam
e dominam o jardim interior

os símbolos desembarcam
da barca
e diante dos olhos fechados
desfilam
e mostram seus verdadeiros rostos
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Jaqueline Machado
Cachoeira do Sul/RS

GOSTO
 
Gosto de gente profunda,
mas que nem por isso deixa de ser simples.
Gosto de gente apaixonada,
que se emociona fácil e sabe nos tocar a alma.
Gosto de gente original.
Esse negócio de viver de um jeito “padrãozinho”, é viver de mentira.
 
Gosto de gente, inteligente, envolvente,
engraçada sem deixar de ser séria.
 
Gosto de gente natural
cujo astral é feito de loucura e poesia…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Samuel da Costa
Itajaí/SC

AGNELA EM ANUNCIAÇÃO

Escolho o pecado!
Encolho-me!
Fujo! Traio!
Minto para mim mesma!

Agora...
Já não sei mais quem realmente sou.
Aonde vou!
Se estou realmente viva!
Pelo menos penso que estou;
Que existo lânguida,
 A vagar em uma outra...
Dimensão.

Tento fugir de mim mesma!
Escolho o pecado.
Afronto!
Magoo!
Quem realmente me ama.

Escondo-me!
De tudo e de todos.
Na agonia de ser eu mesma...
Minto para mim!

Escondo-me...
Na sibilina bruma!
No outono da minha vida.
No outono dos decadentistas...

Contemplo o arrebol…
Em total êxtase!
Escuto a sinfonia idílica e ignota...
Ouço o madrigal ao longe.

Lembro-me de quem se foi...
E choro de saudades.

Escondo-me!
No meu mítico passado!
Finjo estar em outro lugar...
Finjo que me importo…
Com as outras pessoas!
Com alguém que diz amar-me.

Aprisiono-me!
Em um mundo encantado,
um multiverso quimérico!
Que construí somente para mim!
Minto para mim mesma.
Na esperança vã...
De me encontrar comigo mesma!
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Vivaldo Terres
Itajaí/SC

MENINA

 
Menina de negros cabelos...
De olhos escuros,
E de lábios vermelhos...
De pele tão clara,
E tão atraente...
Quando ela nós olha!
Nós vimos uma modelo,
Na nossa frente.

Menina és tu a própria beleza,
Tu és algo de divino, és obra da natureza.
Desta natureza perfeita,
Que vai das matas a flor,
Tu és todo encantamento,
Tu te desmanchas em amor.

És filha do universo, dos rios...
Das matas e da flor!
Tu és toda iluminada,
Tu te desmanchas em amor;

Às vezes nas tuas horas de tristeza e dissabor;
Ajoelhas-te de mãos postas,
Pedindo auxílio ao senhor;
E nesse instante também,
Tu te desmanchas em amor.

Das flores és a mais bela,
Moldada pelo criador,
Teu coração sei que é puro,
Tua alma tem valor,
Em qualquer lugar do mundo,
Tu te desmanchas em amor.