sábado, 22 de janeiro de 2022

Isabel Furini (Poemas Avulsos) III


FIM DE TARDE


Insignificante a vida humana...
sentimo-nos tão importantes
e somos gotas de água
(delirantes)
no imenso mar da eternidade.
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O FOGO DAS LETRAS

O fogo de Prometeu
despertou as almas

as almas escolheram palavras
para fazer acrobacias
e acenderam o fogo poético das Academias
eternizando a chama das letras

as Academias de Letras
são mestras do mundo
inspiram, orientam, motivam
e incentivam a busca do saber profundo
divulgam os livros
convocam leitores
alimentam os sonhos
dos literatos e dos poetas
engrandecem as almas
e aumentam o encanto
semeando a cultura, o amor e o espanto.

(3. lugar no Concurso da Academia Fluminense de Letras, em 2018)
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O POETA

Sonha com poemas
e acorda na noite,
escrevendo com os dedos
versos no ar.

Adora
navegar sobre ondas de folhas em branco,
velejar nos cadernos novos,
pular sobre areias de palavras,
correr na praia procurando o Verbo.
Livros, cadernos, papéis e mais papéis...

Continua a lutar com ondas indomáveis,
organiza os termos,
mas só ancora no oceano dos sentimentos.
Nesse instante,
o poeta compreende o poder do caos primordial.

(1. lugar no Concurso de Poesia de São José dos Pinhais, PR, 2002. Poema escolhido para o Projeto Leitura no Metro de Belo Horizonte/MG, parceria entre o Programa da A tela e o texto da UFMG [Universidade Federal de Minas Gerais] e a CBTU [Companhia Brasileira de Trens Urbanos], 2007)
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POESIA DAS ASAS

(sons de asas ao vento)
dançando entre sombras
essa escultura ulula dependurada do teto

retrai-se o tempo
encolhe-se para observar o recinto
e pula entre os gravetos
dos minutos devorando-se a si mesmo
o passado entra pela janela de uma catedral
e invade o presente
(sons de asas ao vento)

(Poema inspirado em uma escultura de José Antonio de Lima, recebeu Menção Honrosa no XII concurso Fritz Teixeira de Salles, 2014)
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QUARTO SEM SOMBRA

esquecido do mundo Vincent pinta
(cartografia de subterrâneos anseios
tatuados no corpo e nas mãos )

o eu instintivo (adolescente)
extravasa emoções
extasia-se nas cores dos trigais
nas expressões dos rostos operários
nas luzes de Arles

pinta em um ritmo alucinante
pinceladas justapostas ganham vida
ele retrata seu quarto
obsessivamente

o quarto não tem sombras
ignora-as (elas o aterrorizam
com suas histórias)
mas as sombras
tentam entrar pela janela entreaberta
espreitam
(invisíveis)
desde as paredes do quarto do quadro do artista

a loucura perambula pela casa amarela

(Poema inspirado no quadro: O quarto, de Vincent Van Gogh – Outubro de 1888 – Museu Van Gogh, em Amsterdã = 1. Lugar no concurso da Academia Itapemense de Letras, SC, 2010)

Fonte:
Isabel Furini (org.). Os Melhores Poemas - 2020: Antologia. e-book.

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