quinta-feira, 9 de abril de 2009

“Projetos de Leitura” na 9ª Bienal do Livro da Bahia



O “Projetos de Leitura”, do escritor Laé de Souza, que tem como objetivo incentivar o hábito da leitura, participará da 9ª Bienal do Livro da Bahia, de 17 a 26 de abril de 2009, no estande 162 localizado ao lado do Café Literário, no Centro de Convenções da Bahia, em Salvador.

Estudantes, professores e o público em geral poderão adquirir uma ou mais obras de Laé de Souza pelo valor unitário de R$ 5,00.

No período de 17 a 21 de abril, o autor realizará no estande várias sessões de autógrafos dos livros Nos Bastidores do Cotidiano (edição regular e em braile), Acredite se Quiser!, Acontece..., Espiando o Mundo pela Fechadura e Coisas de Homem & Coisas de Mulher, crônicas curtas que retratam o cotidiano das pessoas comuns e as complexidades das relações humanas em linguagem coloquial e abordagem bem-humorada, além dos infantis “Quinho e o seu cãozinho – Um cãozinho especial”, “Radar, o cãozinho” e “Quinho”, com belas ilustrações e publicados pela Editora Ecoarte
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Além da comercialização dos livros a preços populares, haverá distribuição de material informativo sobre o “Projetos de Leitura” para educadores, secretários de cultura e de educação municipais e estaduais e para o público em geral.

Laé de Souza é autor de vários projetos de leitura focados nas escolas da rede pública, parques, praças, hospitais, transportes coletivos e outros, em execução há dez anos, apoiados pelas leis de incentivo à cultura, sempre com o intuito de formar leitores de todas as etnias, faixas etárias, credos e classes sociais. Segundo o escritor, “É uma grande inverdade o estigma de que o brasileiro não gosta de ler. O resultado dos projetos e a manifestação dos envolvidos me levam a crer que podemos fazer do Brasil um país de leitores.”

Sobre o autor: Nascido em Jequié, BA, reside em São Paulo há mais de 30 anos. É cronista, dramaturgo, produtor cultural e bacharel em Direito e Administração de Empresas.
Biografia mais detalhada no http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/01/la-de-souza.html

Conheça os projetos no site
http://www.projetosdeleitura.com.br/

Fonte:
E-mail enviado pelo autor.
Imagem =
http://www.roraimaemfoco.com/

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Mario Quintana (Astrologia)



Minha estrela não é a de Belém:
A que, parada, aguarda o peregrino.
Sem importar-se com qualquer destino
A minha estrela vai seguindo além…

Ah, Meu Deus, o que é que esse menino tem?
Já suspeitavam desde eu pequenino.
O que eu tenho? É uma estrela em desatino…
E nos desentendemos muito bem!

E quando tudo parecia a esmo
E nesses descaminhos me perdia
Encontrei muitas vezes a mim mesmo…

Eu temo é uma traição do instinto
Que me liberte, por acaso, um dia
Deste velho e encantado Labirinto
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Machado de Assis (O Espelho)

Myrian Benatti (Reflexo:Espelho da Alma)
Esboço de uma nova teoria da alma humana

Quatro ou cinco cavalheiros debatiam, uma noite, várias questões de alta transcendência, sem que a disparidade dos votos trouxesse a menor alteração aos espíritos. A casa ficava no morro de Santa Teresa, a sala era pequena, alumiada a velas, cuja luz fundia-se misteriosamente com o luar que vinha de fora. Entre a cidade, com as suas agitações e aventuras, e o céu, em que as estrelas pestanejavam, através de uma atmosfera límpida e sossegada, estavam os nossos quatro ou cinco investigadores de coisas metafísicas, resolvendo amigavelmente os mais árduos problemas do universo.

Por que quatro ou cinco? Rigorosamente eram quatro os que falavam; mas, além deles, havia na sala um quinto personagem, calado, pensando, cochilando, cuja espórtula no debate não passava de um ou outro resmungo de aprovação. Esse homem tinha a mesma idade dos companheiros, entre quarenta e cinqüenta anos, era provinciano, capitalista, inteligente, não sem instrução, e, ao que parece, astuto e cáustico. Não discutia nunca; e defendia-se da abstenção com um paradoxo, dizendo que a discussão é a forma polida do instinto batalhador, que jaz no homem, como uma herança bestial; e acrescentava que os serafins e os querubins não controvertiam nada, e, aliás, eram a perfeição espiritual e eterna. Como desse esta mesma resposta naquela noite, contestou-lha um dos presentes, e desafiou-o a demonstrar o que dizia, se era capaz. Jacobina (assim se chamava ele) refletiu um instante, e respondeu:

— Pensando bem, talvez o senhor tenha razão.

Vai senão quando, no meio da noite, sucedeu que este casmurro usou da palavra, e não dois ou três minutos, mas trinta ou quarenta. A conversa, em seus meandros, veio a cair na natureza da alma, ponto que dividiu radicalmente os quatro amigos. Cada cabeça, cada sentença; não só o acordo, mas a mesma discussão tornou-se difícil, senão impossível, pela multiplicidade das questões que se deduziram do tronco principal e um pouco, talvez, pela inconsistência dos pareceres. Um dos argumentadores pediu ao Jacobina alguma opinião, — uma conjetura, ao menos.

— Nem conjetura, nem opinião, redargüiu ele; uma ou outra pode dar lugar a dissentimento, e, como sabem, eu não discuto. Mas, se querem ouvir-me calados, posso contar-lhes um caso de minha vida, em que ressalta a mais clara demonstração acerca da matéria de que se trata. Em primeiro lugar, não há uma só alma, há duas...

— Duas?

— Nada menos de duas almas. Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para entro... Espantem-se à vontade, podem ficar de boca aberta, dar de ombros, tudo; não admito réplica. Se me replicarem, acabo o charuto e vou dormir. A alma exterior pode ser um espírito, um fluido, um homem, muitos homens, um objeto, uma operação. Há casos, por exemplo, em que um simples botão de camisa é a alma exterior de uma pessoa; — e assim também a polca, o voltarete, um livro, uma máquina, um par de botas, uma cavatina, um tambor, etc. Está claro que o ofício dessa segunda alma é transmitir a vida, como a primeira; as duas completam o homem, que é, metafisicamente falando, uma laranja. Quem perde uma das metades, perde naturalmente metade da existência; e casos há, não raros, em que a perda da alma exterior implica a da existência inteira. Shylock, por exemplo. A alma exterior aquele judeu eram os seus ducados; perdê-los equivalia a morrer. "Nunca mais verei o meu ouro, diz ele a Tubal; é um punhal que me enterras no coração." Vejam bem esta frase; a perda dos ducados, alma exterior, era a morte para ele. Agora, é preciso saber que a alma exterior não é sempre a mesma...

— Não?

— Não, senhor; muda de natureza e de estado. Não aludo a certas almas absorventes, como a pátria, com a qual disse o Camões que morria, e o poder, que foi a alma exterior de César e de Cromwell. São almas enérgicas e exclusivas; mas há outras, embora enérgicas, de natureza mudável. Há cavalheiros, por exemplo, cuja alma exterior, nos primeiros anos, foi um chocalho ou um cavalinho de pau, e mais tarde uma provedoria de irmandade, suponhamos. Pela minha parte, conheço uma senhora, — na verdade, gentilíssima, — que muda de alma exterior cinco, seis vezes por ano. Durante a estação lírica é a ópera; cessando a estação, a alma exterior substitui-se por outra: um concerto, um baile do Cassino, a rua do Ouvidor, Petrópolis...

— Perdão; essa senhora quem é?

— Essa senhora é parenta do diabo, e tem o mesmo nome; chama-se Legião... E assim outros mais casos. Eu mesmo tenho experimentado dessas trocas. Não as relato, porque iria longe; restrinjo-me ao episódio de que lhes falei. Um episódio dos meus vinte e cinco anos...

Os quatro companheiros, ansiosos de ouvir o caso prometido, esqueceram a controvérsia. Santa curiosidade! tu não és só a alma da civilização, és também o pomo da concórdia, fruta divina, de outro sabor que não aquele pomo da mitologia. A sala, até há pouco ruidosa de física e metafísica, é agora um mar morto; todos os olhos estão no Jacobina, que conserta a ponta do charuto, recolhendo as memórias. Eis aqui como ele começou a narração:

— Tinha vinte e cinco anos, era pobre, e acabava de ser nomeado alferes da Guarda Nacional. Não imaginam o acontecimento que isto foi em nossa casa. Minha mãe ficou tão orgulhosa! tão contente! Chamava-me o seu alferes. Primos e tios, foi tudo uma alegria sincera e pura. Na vila, note-se bem, houve alguns despeitados; choro e ranger de dentes, como na Escritura; e o motivo não foi outro senão que o posto tinha muitos candidatos e que esses perderam. Suponho também que uma parte do desgosto foi inteiramente gratuita: nasceu da simples distinção. Lembra-me de alguns rapazes, que se davam comigo, e passaram a olhar-me de revés, durante algum tempo. Em compensação, tive muitas pessoas que ficaram satisfeitas com a nomeação; e a prova é que todo o fardamento me foi dado por amigos... Vai então uma das minhas tias, D. Marcolina, viúva do Capitão Peçanha, que morava a muitas léguas da vila, num sítio escuso e solitário, desejou ver-me, e pediu que fosse ter com ela e levasse a farda. Fui, acompanhado de um pajem, que daí a dias tornou à vila, porque a tia Marcolina, apenas me pilhou no sítio, escreveu a minha mãe dizendo que não me soltava antes de um mês, pelo menos. E abraçava-me! Chamava-me também o seu alferes. Achava-me um rapagão bonito. Como era um tanto patusca, chegou a confessar que tinha inveja da moça que houvesse de ser minha mulher. Jurava que em toda a província não havia outro que me pusesse o pé adiante. E sempre alferes; era alferes para cá, alferes para lá, alferes a toda a hora. Eu pedia-lhe que me chamasse Joãozinho, como dantes; e ela abanava a cabeça, bradando que não, que era o "senhor alferes". Um cunhado dela, irmão do finado Peçanha, que ali morava, não me chamava de outra maneira. Era o "senhor alferes", não por gracejo, mas a sério, e à vista dos escravos, que naturalmente foram pelo mesmo caminho. Na mesa tinha eu o melhor lugar, e era o primeiro servido. Não imaginam. Se lhes disser que o entusiasmo da tia Marcolina chegou ao ponto de mandar pôr no meu quarto um grande espelho, obra rica e magnífica, que destoava do resto da casa, cuja mobília era modesta e simples... Era um espelho que lhe dera a madrinha, e que esta herdara da mãe, que o comprara a uma das fidalgas vindas em 1808 com a corte de D. João VI. Não sei o que havia nisso de verdade; era a tradição. O espelho estava naturalmente muito velho; mas via-se-lhe ainda o ouro, comido em parte pelo tempo, uns delfins esculpidos nos ângulos superiores da moldura, uns enfeites de madrepérola e outros caprichos do artista. Tudo velho, mas bom...

— Espelho grande?

— Grande. E foi, como digo, uma enorme fineza, porque o espelho estava na sala; era a melhor peça da casa. Mas não houve forças que a demovessem do propósito; respondia que não fazia falta, que era só por algumas semanas, e finalmente que o "senhor alferes" merecia muito mais. O certo é que todas essas coisas, carinhos, atenções, obséquios, fizeram em mim uma transformação, que o natural sentimento da mocidade ajudou e completou. Imaginam, creio eu?

— Não.

— O alferes eliminou o homem. Durante alguns dias as duas naturezas equilibraram-se; mas não tardou que a primitiva cedesse à outra; ficou-me uma parte mínima de humanidade. Aconteceu então que a alma exterior, que era dantes o sol, o ar, o campo, os olhos das moças, mudou de natureza, e passou a ser a cortesia e os rapapés da casa, tudo o que me falava do posto, nada do que me falava do homem. A única parte do cidadão que ficou comigo foi aquela que entendia com o exercício da patente; a outra dispersou-se no ar e no passado. Custa-lhes acreditar, não?

— Custa-me até entender, respondeu um dos ouvintes.

— Vai entender. Os fatos explicarão melhor os sentimentos: os fatos são tudo. A melhor definição do amor não vale um beijo de moça namorada; e, se bem me lembro, um filósofo antigo demonstrou o movimento andando. Vamos aos fatos. Vamos ver como, ao tempo em que a consciência do homem se obliterava, a do alferes tornava-se viva e intensa. As dores humanas, as alegrias humanas, se eram só isso, mal obtinham de mim uma compaixão apática ou um sorriso de favor. No fim de três semanas, era outro, totalmente outro. Era exclusivamente alferes. Ora, um dia recebeu a tia Marcolina uma notícia grave; uma de suas filhas, casada com um lavrador residente dali a cinco léguas, estava mal e à morte. Adeus, sobrinho! adeus, alferes! Era mãe extremosa, armou logo uma viagem, pediu ao cunhado que fosse com ela, e a mim que tomasse conta do sítio. Creio que, se não fosse a aflição, disporia o contrário; deixaria o cunhado e iria comigo. Mas o certo é que fiquei só, com os poucos escravos da casa. Confesso-lhes que desde logo senti uma grande opressão, alguma coisa semelhante ao efeito de quatro paredes de um cárcere, subitamente levantadas em torno de mim. Era a alma exterior que se reduzia; estava agora limitada a alguns espíritos boçais. O alferes continuava a dominar em mim, embora a vida fosse menos intensa, e a consciência mais débil. Os escravos punham uma nota de humildade nas suas cortesias, que de certa maneira compensava a afeição dos parentes e a intimidade doméstica interrompida. Notei mesmo, naquela noite, que eles redobravam de respeito, de alegria, de protestos. Nhô alferes, de minuto a minuto; nhô alferes é muito bonito; nhô alferes há de ser coronel; nhô alferes há de casar com moça bonita, filha de general; um concerto de louvores e profecias, que me deixou extático. Ah ! pérfidos! mal podia eu suspeitar a intenção secreta dos malvados.

— Matá-lo?

— Antes assim fosse.

— Coisa pior?

— Ouçam-me. Na manhã seguinte achei-me só. Os velhacos, seduzidos por outros, ou de movimento próprio, tinham resolvido fugir durante a noite; e assim fizeram. Achei-me só, sem mais ninguém, entre quatro paredes, diante do terreiro deserto e da roça abandonada. Nenhum fôlego humano. Corri a casa toda, a senzala, tudo; ninguém, um molequinho que fosse. Galos e galinhas tão-somente, um par de mulas, que filosofavam a vida, sacudindo as moscas, e três bois. Os mesmos cães foram levados pelos escravos. Nenhum ente humano. Parece-lhes que isto era melhor do que ter morrido? era pior. Não por medo; juro-lhes que não tinha medo; era um pouco atrevidinho, tanto que não senti nada, durante as primeiras horas. Fiquei triste por causa do dano causado à tia Marcolina; fiquei também um pouco perplexo, não sabendo se devia ir ter com ela, para lhe dar a triste notícia, ou ficar tomando conta da casa. Adotei o segundo alvitre, para não desamparar a casa, e porque, se a minha prima enferma estava mal, eu ia somente aumentar a dor da mãe, sem remédio nenhum; finalmente, esperei que o irmão do tio Peçanha voltasse naquele dia ou no outro, visto que tinha saído havia já trinta e seis horas. Mas a manhã passou sem vestígio dele; à tarde comecei a sentir a sensação como de pessoa que houvesse perdido toda a ação nervosa, e não tivesse consciência da ação muscular. O irmão do tio Peçanha não voltou nesse dia, nem no outro, nem em toda aquela semana. Minha solidão tomou proporções enormes. Nunca os dias foram mais compridos, nunca o sol abrasou a terra com uma obstinação mais cansativa. As horas batiam de século a século no velho relógio da sala, cuja pêndula tic-tac, tic-tac, feria-me a alma interior, como um piparote contínuo da eternidade. Quando, muitos anos depois, li uma poesia americana, creio que de Longfellow, e topei este famoso estribilho: Never, for ever! — For ever, never! confesso-lhes que tive um calafrio: recordei-me daqueles dias medonhos. Era justamente assim que fazia o relógio da tia Marcolina: — Never, for ever!— For ever, never! Não eram golpes de pêndula, era um diálogo do abismo, um cochicho do nada. E então de noite! Não que a noite fosse mais silenciosa. O silêncio era o mesmo que de dia. Mas a noite era a sombra, era a solidão ainda mais estreita, ou mais larga. Tic-tac, tic-tac. Ninguém, nas salas, na varanda, nos corredores, no terreiro, ninguém em parte nenhuma... Riem-se?

— Sim, parece que tinha um pouco de medo.

— Oh! fora bom se eu pudesse ter medo! Viveria. Mas o característico daquela situação é que eu nem sequer podia ter medo, isto é, o medo vulgarmente entendido. Tinha uma sensação inexplicável. Era como um defunto andando, um sonâmbulo, um boneco mecânico. Dormindo, era outra coisa. O sono dava-me alívio, não pela razão comum de ser irmão da morte, mas por outra. Acho que posso explicar assim esse fenômeno: — o sono, eliminando a necessidade de uma alma exterior, deixava atuar a alma interior. Nos sonhos, fardava-me orgulhosamente, no meio da família e dos amigos, que me elogiavam o garbo, que me chamavam alferes; vinha um amigo de nossa casa, e prometia-me o posto de tenente, outro o de capitão ou major; e tudo isso fazia-me viver. Mas quando acordava, dia claro, esvaía-se com o sono a consciência do meu ser novo e único —porque a alma interior perdia a ação exclusiva, e ficava dependente da outra, que teimava em não tornar... Não tornava. Eu saía fora, a um lado e outro, a ver se descobria algum sinal de regresso. Soeur Anne, soeur Anne, ne vois-tu rien venir? Nada, coisa nenhuma; tal qual como na lenda francesa. Nada mais do que a poeira da estrada e o capinzal dos morros. Voltava para casa, nervoso, desesperado, estirava-me no canapé da sala. Tic-tac, tic-tac. Levantava-me, passeava, tamborilava nos vidros das janelas, assobiava. Em certa ocasião lembrei-me de escrever alguma coisa, um artigo político, um romance, uma ode; não escolhi nada definitivamente; sentei-me e tracei no papel algumas palavras e frases soltas, para intercalar no estilo. Mas o estilo, como tia Marcolina, deixava-se estar. Soeur Anne, soeur Anne... Coisa nenhuma. Quando muito via negrejar a tinta e alvejar o papel.

— Mas não comia?

— Comia mal, frutas, farinha, conservas, algumas raízes tostadas ao fogo, mas suportaria tudo alegremente, se não fora a terrível situação moral em que me achava. Recitava versos, discursos, trechos latinos, liras de Gonzaga, oitavas de Camões, décimas, uma antologia em trinta volumes. As vezes fazia ginástica; outra dava beliscões nas pernas; mas o efeito era só uma sensação física de dor ou de cansaço, e mais nada. Tudo silêncio, um silêncio vasto, enorme, infinito, apenas sublinhado pelo eterno tic-tac da pêndula. Tic-tac, tic-tac...

— Na verdade, era de enlouquecer.

— Vão ouvir coisa pior. Convém dizer-lhes que, desde que ficara só, não olhara uma só vez para o espelho. Não era abstenção deliberada, não tinha motivo; era um impulso inconsciente, um receio de achar-me um e dois, ao mesmo tempo, naquela casa solitária; e se tal explicação é verdadeira, nada prova melhor a contradição humana, porque no fim de oito dias deu-me na veneta de olhar para o espelho com o fim justamente de achar-me dois. Olhei e recuei. O próprio vidro parecia conjurado com o resto do universo; não me estampou a figura nítida e inteira, mas vaga, esfumada, difusa, sombra de sombra. A realidade das leis físicas não permite negar que o espelho reproduziu-me textualmente, com os mesmos contornos e feições; assim devia ter sido. Mas tal não foi a minha sensação. Então tive medo; atribuí o fenômeno à excitação nervosa em que andava; receei ficar mais tempo, e enlouquecer. — Vou-me embora, disse comigo. E levantei o braço com gesto de mau humor, e ao mesmo tempo de decisão, olhando para o vidro; o gesto lá estava, mas disperso, esgaçado, mutilado... Entrei a vestir-me, murmurando comigo, tossindo sem tosse, sacudindo a roupa com estrépito, afligindo-me a frio com os botões, para dizer alguma coisa. De quando em quando, olhava furtivamente para o espelho; a imagem era a mesma difusão de linhas, a mesma decomposição de contornos... Continuei a vestir-me. Subitamente por uma inspiração inexplicável, por um impulso sem cálculo, lembrou-me... Se forem capazes de adivinhar qual foi a minha idéia...

— Diga.

— Estava a olhar para o vidro, com uma persistência de desesperado, contemplando as próprias feições derramadas e inacabadas, uma nuvem de linhas soltas, informes, quando tive o pensamento... Não, não são capazes de adivinhar.

— Mas, diga, diga.

— Lembrou-me vestir a farda de alferes. Vesti-a, aprontei-me de todo; e, como estava defronte do espelho, levantei os olhos, e... não lhes digo nada; o vidro reproduziu então a figura integral; nenhuma linha de menos, nenhum contorno diverso; era eu mesmo, o alferes, que achava, enfim, a alma exterior. Essa alma ausente com a dona do sítio, dispersa e fugida com os escravos, ei-la recolhida no espelho. Imaginai um homem que, pouco a pouco, emerge de um letargo, abre os olhos sem ver, depois começa a ver, distingue as pessoas dos objetos, mas não conhece individualmente uns nem outros; enfim, sabe que este é Fulano, aquele é Sicrano; aqui está uma cadeira, ali um sofá. Tudo volta ao que era antes do sono. Assim foi comigo. Olhava para o espelho, ia de um lado para outro, recuava, gesticulava, sorria e o vidro exprimia tudo. Não era mais um autômato, era um ente animado. Daí em diante, fui outro. Cada dia, a uma certa hora, vestia-me de alferes, e sentava-me diante do espelho, lendo olhando, meditando; no fim de duas, três horas, despia-me outra vez. Com este regime pude atravessar mais seis dias de solidão sem os sentir...

Quando os outros voltaram a si, o narrador tinha descido as escadas.
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Fontes:
ASSIS, Machado de. Papéis avulsos. São Paulo: Martin Claret, 2006. p.135.
Imagem = http://myrianbg.blogspot.com

Folclore Brasileiro – Região Sudeste (A Lagoa Azul)


Tão logo souberam que estas terras eram ricas em ouro e diamantes, diversos homens ousados e ambiciosos vieram para cá, na esperança de enriquecer. Nem todos alcançaram seu objetivo. Uns ficaram mais pobres do que eram, outros conseguiram remediar-se e alguns poucos ficaram realmente ricos.

Estes eram, de fato, poderosos e sua vontade era lei. Entre estes últimos estava o pai de Dalva. Ele possuía importantes garimpos de ouro e diamantes, de onde inúmeros escravos extraíam a riqueza necessária para seu amo viver luxuosamente.

A moça era filha única e seu pai lhe dava o que havia de melhor: roupas trazidas do estrangeiro especialmente para ela, jóias que fariam inveja a uma rainha, perfumes finíssimos...

O mal era que o orgulho dele escravizava a filha de tal modo que, muitas vezes, ela desejou ser pobre, mas viver com mais liberdade.

- Por que não posso ser como as outras moças? Por que hei de sair sempre com o rosto coberto, como se estivesse escondendo-me de alguém? – perguntou ela, um dia.

- Ora, será que você não compreende? – resmungava ele. Você é a filha do homem mais rico deste lugar?!

- E o que tem isso?

- Não é qualquer um que tem o direito de ver seu rosto! Essa gente não merece tal privilégio!

A moça não tinha outro recurso, senão continuar a sair com o rosto coberto.
Às vezes, um moço menos avisado aproximava-se da casa do ricaço, movido pela curiosidade de conhecer a bela Dalva. Pobre dele! Se o homem percebia, mandava alguns de seus escravos mais fortes fazer-lhe uns carinhos com chicotes e porretes...

Um dia, Dalva quis saber:

- Por que o senhor faz isso, meu pai?

- Ora, por quê?! Não vê? São uns aventureiros. Pretendem casar-se com você para ficar com o meu dinheiro, Mas podem desistir. Não vai ser fácil, não. Pelo menos, enquanto eu estiver vivo...

- O senhor não deveria preocupar-se com isso. Sabe que nem tomo conhecimento da presença deles. Não há necessidade de maltratá-los tanto.

- Como não? Eles precisam aprender.

Os escravos já estavam cansados de tanto surrar os rapazes que tentavam conhecer Dalva.

Certa ocasião, quando ela saiu a passeio pelo campo com algumas escravas, resolveu tirar o véu, com o qual sempre cobria o rosto.

- Olhe, Sinhá, seu pai não vai gostar disso. Pode fuçar bravo, disse uma das mucamas.
A moça achou graça:

- Ele não quer que os estranhos vejam meu rosto. Mas quem é que vai encontrar-me neste lugar? Só se forem as aves, os bichos.

- Sabe como o patrão é, tornou a mucama, quando dá uma ordem, é para ser cumprida.

- Não tenho medo, afirmou a moça. A ordem que ele deu é para a cidade. No campo, não tem valor.

As escravas acabaram por concordar com a argumentação da moça.

Dalva e as mucamas sentaram-se na relva e começaram a conversar sobre os mais variados assuntos. Uma das escravas era muito engraçada e sabia contar anedotas como ninguém. Dalva e as outras riam até não poder mais.

Estavam assim, distraídas, quando surgiu um cavaleiro. Vinha devagar e seu cavalo aparentava cansaço. Aproximou-se das moças, tirou o chapéu e perguntou-lhes diversas coisas sobre a região. Enquanto falava não conseguia tirar os olhos de Dalva. Nem ela nem as escravas lembraram-se da ordem de seu pai.

O cavaleiro ficou encantado com Dalva e ela, por sua vez, não deixou de se impressionar com o porte do forasteiro: forte, decidido, desenvolto, porém de uma simplicidade encantadora.

Contou-lhe que era um garimpeiro à procura de fortuna.

Antes de ir embora, o moço perguntou onde era a casa de Dalva. Ela deu a informação, diante dos olhos surpresos das mucamas.

Uma das escravas não resistiu:

- Sinhá! Se ele se aproximar da casa será espancado por ordem de seu pai!

- Eu ia avisá-lo! – respondeu a moça. E contou ao jovem como era seu pai.
O estranho ficou horrorizado e disse que dinheiro nenhum pagava aquele sofrimento.

Ele partiu, prometendo escrever-lhe.

E, assim começou a troca de bilhetes. Uma das mucamas, a mais amiga de Dalva, foi escolhida para ser a recadeira. Os bilhetes iam e vinham cada vez em maior quantidade e o namoro foi ficando cada vez mais firme.

Como para todo segredo existe um traidor, uma das mucamas incumbidas de fazer companhia à Dalva conclui que, se falasse ao pai da moça sobre o namoro, por certo seria recompensada.

O pai de Dalva ficou furioso e tomou todas as providências para castigar o audacioso garimpeiro. Colocou escravos espiões atrás do moço, para que ele fosse surpreendido no momento de enviar algum bilhete. Mandou que os escravos acompanhassem a mucama e lhes disse:

- Procurem ter certeza de que ele é o homem. Depois, fiquem atrás dele, até surgir uma boa oportunidade. Aí... já sabem o que fazer, não é mesmo? – e fez um gesto significativo.

Por outro lado, avisado pela escrava traidora, surpreenderia a mucama recadeira, para lhe dar o castigo que achava merecido.

Guiados pela escrava, não demorou muito para que vissem a mucama de confiança de Dalva receber um bilhete de um moço. Então, era aquele! Trataram de ir atrás do namorado. Ele saiu a cavalo e os escravos, também.

Enquanto isto, a mucama foi entregar o bilhete à sua patroa. No momento exato, o pai de Dalva apareceu:

- Muito bem, disse ele, quer dizer que você esqueceu as minhas ordens?! Pois nunca mais esquecerá nada, pode ficar sossegada!

Imediatamente, ele chamou alguns escravos e mandou que levassem a mucama para o castigo.

De nada valeram os gritos da infeliz. Dalva implorou ao pai que não castigasse a escrava, pois a culpa era sua e de mais ninguém. Ele não quis saber de nada. Mandou que a filha fosse para o quarto e de lá não saísse até segunda ordem. Depois, foi assistir ao castigo da mucama.

Mandou que a amarrassem a um poste de madeira e ordenou aos escravos que batesse, até que ela não queixasse mais.

A coitada não resistiu às chicotadas e morreu ali mesmo.

Um pouco mais distante, os escravos, que estavam seguindo o namorado de Dalva, encontraram a esperada oportunidade. O garimpeiro apeou perto da lagoa, conhecida por Lagoa Azul, para dar de beber ao seu cavalo. Um escravo apontou-lhe a espingarda e atirou.

Foi enterrado ali, na beira da lagoa.

O pai de Dalva ficou muito satisfeito com o resultado. Resolveu dar pessoalmente à sua filha o que ele considerava uma boa notícia.

- Pois é, minha filha, disse ele, com uma expressão de alegria, posso afirmar-lhe que a mucama recadeira não fará mais o que fez. Creio que ela ganhava dinheiro daquele malandro, que só queria a minha riqueza. Agora, ele não tem mais quem lhe traga os recados. Sabe por que? Porque ela está morta. E também, ele não precisaria mais dela, já que não poderá escrever mais.

A moça, percebendo que algo de ruim tinha acontecido ao namorado, perguntou, aflita:

- Por que? O que aconteceu a ele?

O ricaço deu uma gargalhada e respondeu bem devagar:

- A esta hora, ele está descansando, para sempre, perto da Lagoa Azul.

Dalva, completamente transtornada, correu para fora da casa, montou um cavalo e partiu para a lagoa, em cujas águas se atirou.

Em sua perseguição, vinham o pai e diversos escravos, mas, com a força do desespero, ela corria mais depressa que o vento e eles não conseguiram alcançá-la.

Dalva nunca mais foi encontrada.

Os garimpeiros têm muito medo de chegar perto deste lugar. Alguns afirmam já ter visto a pobre moça, chorando na beira da lagoa, em noites de luar.

Como até hoje ela tem esperanças de encontrar o seu namorado, costuma atrair, com seus olhos lindos e luminosos como diamantes, o garimpeiro que se aproxima, levando-o para o fundo das águas. Ela quer ver, de perto, se ele não é o seu amado...

Fontes:
Histórias e Lendas do Brasil (adaptado do texto original de Gonçalves Ribeiro). - São Paulo: APEL Editora
http://www.terrabrasileira.net/folclore/regioes/sudeste/contosude.html

Mia Couto (O Menino que fazia versos)

Norman Rockwell (Menino Escritor)
Ele escreve versos!

Apontou o filho, como se entregasse criminoso na esquadra. O médico levantou os olhos, por cima das lentes, com o esforço de alpinista em topo de montanha.- Há antecedentes na família?

- Desculpe doutor?

O médico destrocou-se por tintins, Dona Serafina respondeu que não. O pai da criança, mecânico de nascença e preguiçoso por destino, nunca espreitara uma página. Lia motores, interpretava chaparias. Tratava-a bem, nunca lhe batera, mas a doçura mais requintada que conseguira tinha sido em noite de núpcias:- Serafina, você hoje cheira a óleo Castrol.

Ela hoje até se comove com a comparação. Sim, perfume de igual qualidade qual outra mulher pode sequer sonhar? Pobres que fossem os dias, para ela, tinha sido lua-de-mel. Para ele, período de rodagem. O filho fora confeccionado nesses namoros de unha suja, restos de combustível manchando o lençol. E oleosas confissões de amor.

Tudo corria sem mais, a oficina mal dava para o pão e a escola do miúdo. Mas eis que começam a aparecer, pelos recantos da casa, papeis rabiscados com versos. O filho confessou, sem pestanejo, a autoria do feito.

- São meus versos, sim.

O pai logo sentenciara: havia que tirar o miúdo da escola. Aquilo era coisa de estudos a mais, perigosos contágios, más companhias. Pois o rapaz, em vez de se lançar no esfrega-refrega com as meninas se acabrunhava nas penumbras e, pior ainda, escrevia versos. O que se passava: mariquice intelectual? Ou carburador entupido, avarias dessas que a vida do homem se queda em ponto morto?

Dona Serafina defendeu o filho e os estudos. O pai, conformado, exigiu: então, ele que fosse examinado.

- O médico que faça revisão geral, parte mecânica, parte elétrica.Queria tudo. Que se afinasse o sangue, calibrasse os pulmões e, sobretudo lhe espreitassem o nível do óleo na figadeira. Houvesse que pagar por sobressalentes, não importava. O que urgia era por cobro àquela vergonha familiar.

Olhos baixos, o médico escutou tudo, sem deixar de escrevinhar num papel. Aviava já a receita para poupança de tempo. Com enfado, o clínico se dirigiu ao menino:

- Dói-te alguma coisa?

- Dói-me a vida, doutor.

O doutor suspendeu a escrita. A resposta, sem dúvida, o surpreendera. Já Dona Serafina aproveitava o momento: está a ver, doutor? Está a ver? O médico voltou a erguer os olhos e a enfrentar o miúdo:

- E o que fazes quando te assaltam essas dores?

- O que melhor sei fazer, excelência, é sonhar.

Serafina voltou à carga e sapateou a nuca do filho. Não lembrava o que pai lhe dissera sobre os sonhos? Que fosse sonhar longe! Mas o filho reagiu: longe, por quê? Perto, o sonho aleijaria alguém? O pai teria, sim, receio de sonho. E riu-se, acarinhando o braço da mãe.

O médico estranhou o riso. Custava a crer, visto a idade. Mas o moço, voz tímida foi-se anunciando. Que ele, modéstia apartada, já inventara sonhos desses que já nem há, só no antigamente, coisa de bradar a terra. Exemplificaria, para melhor crença. Mas nem chegou a começar. O doutor o interrompeu:- Não tenho tempo, moço, isto aqui não é nenhuma clínica psiquiátrica.

A mãe, em desespero, pediu clemência. O doutor que desse ao menos uma vista de olhos pelo caderninho dos versos. A ver se ali catava o motivo de tão grave distúrbio. Contrafeito, o médico aceitou e guardou o manuscrito na gaveta. A mãe que viesse na próxima semana. E trouxesse o paciente.
Na semana seguinte foram os últimos a serem atendidos. O médico, sisudo, taciturneou: o miúdo não teria, por acaso, mais versos? O menino não entendeu.- Não continuas a escrever?

- Isto que faço não é escrever, doutor. Estou, sim, a viver. Tenho esse pedaço de vida - disse, apontando um novo caderninho - quase a meio.

O médico chamou a mãe, à parte. Que aquilo era mais grave do que se poderia pensar. O menino carecia de internamento urgente.

- Não temos dinheiro, fungou a mãe entre soluços.

- Não importa, respondeu o doutor.

Que ele mesmo assumiria as despesas. E que seria ali mesmo, na sua clínica que o menino seria sujeito a devido tratamento.

Hoje quem visita o consultório raramente encontra o médico. Manhãs e tardes ele se senta num recanto do quarto de internamento do menino. Quem passa pode escutar a voz pausada do filho do mecânico que vai lendo, verso a verso, o seu próprio coração.

Fonte:
http://mscamp.wordpress.com/category/contos-lendas/page/6/
Imagem = http://mixcelania.blogspot.com

Presença da Literatura Infantil e Juvenil em Santa Catarina (Lançamento)


LANÇAMENTO
Presença da Literatura Infantil e Juvenil em Santa Catarina
Yedda de Castro Bräscher Goulart (organizadora)

Escritores
Alcides Buss - Anamaria Kovács - Catharina Maria Ampeze Coser - Eglê Malheiros - Eloi Elisabete Bocheco - Flávio José Cardozo - Franciane Maciel Dutra - Jorge Antunes - Maicon Tenfen - Maria de Lourdes Krieger - Marilda Wolff - Miriam Aparecida da Rocha - Neida Rocha Wobeto - Nilson Mello - Ondina Rosilene Fortes Tondello - Rosa Godoy - Rosana Bond - Shiyozo Tokutake- Urda Alice Klueger - Werner Zotz -Yedda Goulart - Zenilda Nunes Lins
Ilustradores
Andrea Ramos - Carlos Meira - Márcia Cardeal - Rubens Belli - Vera Melim Borges
.
DATA: 16 de abril (quinta-feira)
HORA: 19 horas
LOCAL: Saraiva Mega Store – Shopping Iguatemi

Editora Insular Rod João Paulo, 226
Florianópolis SC
88030-300
Fone:(48)3232-9591
editora@insular.com.br
www.insular.com.br

Fonte:
Neida Rocha.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Nilto maciel (Artur Eduardo Benevides e os Mistérios do Conto)


Tido como um dos maiores poetas cearenses de seu tempo, Artur Eduardo Benevides pratica o conto também desde longas datas. Braga Montenegro, o mais completo estudioso da história curta no Ceará, no ensaio “Evolução e natureza do conto cearense”, publicado pela primeira em 1952, na revista Clã, lembra do poeta “um conto muito bom, premiado num concurso, demonstrando ali acentuadas inclinações para o gênero, sobretudo a facilidade de realçar a justa gradação trágica, contudo numa forma nem de todo isenta do transbordamento vocabular”.

Lembra também o livro Caminho Sem Horizonte, de 1958, “em que reúne nove estórias, todas acomodadas numa estreita faixa de temas, sem maior esforço experimentalista e sem penetração no espaço da literatura, isto é, no espaço dos mitos e dos símbolos poéticos”. Com a publicação do volume A Revolta do Computador e Outros Contos de Mistério, em 2001, Artur demonstrou ser contista não somente inclinado para o gênero, mas capaz de compor um conjunto de peças insólitas em dialeto irrepreensível e, ao mesmo tempo, de agradável leitura. A coleção abarca 17 narrativas curtas, em linguagem concisa, enxuta, límpida e livre de transbordamentos vocabulares.

Há, pelo menos, três tipos de história no livro: os realistas, os neogóticos, como quer Révia Herculano, e os de ficção científica. Nos dramas vividos pelos personagens do dos dois primeiros grupos a realidade cede lugar à fantasia, ao mistério, ao inusitado, ao extraordinário, ao inesperado. Podem ser vistos como realistas aqueles em que pouco de mistério se pode vislumbrar em suas tramas, embora nos desfechos se encontrem laivos de obscuridade dos fatos. Em “O Grito Final”, o narrador Nimrod, domador de serpentes, fala para gravador portátil, momentos antes de sua morte. Picado pela serpente Peralta, ao se distrair com a presença de Moya, sua “pequena” de anos atrás, espera a morte. Em “A Sede”, o narrador é “doido varrido”, em cidade pequena, fustigado por alucinações e, ao mesmo tempo, alucinado por mulheres.

Estranhamente, essas mulheres vão morrendo, sem que se saiba se ele as matou ou não. Primeiro a tia Ana, encontrada no chão sem vida, “depois de uma trovoada sem fim”. Depois Lindalva, que trabalhou em sua casa algumas semanas. Logo em seguida, Tiana. “E outras mais”. História realista, mas ao mesmo tempo de cunho misterioso. De feitio semelhante a este é “Pesadelo”. O narrador conta episódios de sua infância nas matas de Marajó. Como em outras narrativas, a selva amazônica é o palco desta trama. O protagonista tem pesadelos e em sua mente se embaralham as figuras do avô, do pai desconhecido, da mãe prisioneira em casa, de índio xapacura que guardava a mãe do narrador e um dia o empurrou e pôs o pé enorme no seu peito, da professora morta e, finalmente, da filha manca, Aglaê. A selva é misteriosa, a vida na selva é misteriosa, o narrador é misterioso e mais misterioso é o desfecho, no qual pode ser entrevisto relacionamento incestuoso: “Chamo-a docemente, (...) Ela vem devagar e sinto suas pisadas como se fossem o pé enorme do xapacura sobre o meu peito, nas noites de longos pesadelos e relâmpagos clareando o pantanal (...)”.

Em “A Serpente Enciumada”, uma das mais belas peças da coleção, outra cobra é fundamental no enredo. O narrador é herdeiro de fortuna deixada por tio exótico, colecionador de “cousas e bichos”. Diferente do morto, o homem se livra, aos poucos, de quase todas as coleções, menos de uma serpente, Dafne. Em dado momento planta no leitor uma dúvida: “Não sei se Dafne é mulher. Para mim, é apenas uma serpente”. Ora, no imaginário popular (em lendas e mitologias) a mulher é serpente. “Tia Heliodora ou o Clarão da Súbita Bondade” (título inadequado para a beleza da peça) é tipicamente realista. Narrado por menino, os personagens principais são a solteirona Heliodora e um leproso. A trama se desenrola num tempo em que os hansenianos eram recolhidos em asilos e, quando saíam às ruas, tocavam sineta, para avisar os cidadãos de sua presença. O pânico se instalava nas pessoas, que corriam e se trancavam nas casas. No final, a mulher abre a porta e dá água ao doente, em gesto considerado imperdoável pelos demais cidadãos.

A presença de cobras nas narrativas de Artur é relevante. Nuns, como ente simbólico; noutro, “O Encantado”, como ser lendário. O protagonista é o homem encantado pela serpente que vive nas águas amazônicas. O drama se inicia quando se perde na selva e “senti qualquer coisa extraordinária à minha volta”. Socorrido por bolivianos, é avisado de que “está encantado”. E conduzido para o seringal: “Aqui, nas proximidades, deve haver uma grande jibóia, com olhos na sua nuca”. Passa a ter pesadelos. Certa vez sonha com imensa cobra e acorda “com o corpo moído, como se algo incomum me houvesse apertado durante a noite”.

Em “Trevas”, o protagonista sem nome explícito (como muitos outros) fala ou pensa (monólogo ou solilóquio), enquanto assiste sozinho a filmes na televisão. E ora se comunica, pela visão e pela audição, com os personagens dos filmes (Conde Drácula, Tom Mix, Flash Gordon) e até com a atriz Catherine Deneuve, como se também fizesse parte da história; ora com os próprios fantasmas, como a sua irmã paralítica já morta, o menino morto na lagoa, aranhas gigantescas. Na realidade, está só, mas “percebe” que há outra pessoa na sala, “invisível e presente”. O tema da narrativa é a solidão: “Sou um lobo solitário. Um homem sozinho. Com medo”. Em “O Último Rosto” também o realismo cede lugar ao mistério. O narrador, ex-funcionário da Sinfônica Municipal, vê desaparecem um a um os rostos de seus companheiros da foto do grupo de sete pessoas, à medida que iam morrendo.

Em mais de uma obra, protagonistas vêem e se comunicam com pessoas mortas. Um deles, o de “Trevas”, chega a falar em mediunidade ou hipersensibilidade. Outro, em “A Boa Velhinha”, imagina-se louco, após ter estado com uma senhora, em visita oficial aos moradores de rua cujas casas seriam demolidas para dar lugar à “grande maternidade municipal”. Dias depois, volta ao local e é informado de que a tal mulher “morreu há uns vinte anos” e “nessa casa não mora ninguém desde então...” O mesmo fenômeno se verifica em “O Retrato Pendurado no Tempo”. O narrador é cavaleiro de sociedade hípica. Na primeira cena, nas proximidades do Convento do Carmo, se depara com dois anõezinhos malucos que “estavam a rasgar, aos gritos, as roupas do frade”. Indignado, expulsa a chicotadas os agressores. Dias depois, visita o convento e procura Frei Vitalino, o personagem do primeiro momento da trama. Surpreende-se ao ouvir do zelador a frase: “Frei Vitalino não existe, meu caro. É uma lenda”. Mais adiante o funcionário avisa: “Cuidado! Por aqui aparece visagem. É mal-assombrado. Aqui e na sala dos retratos”. E no final a confirmação de que havia estado com um morto: em placa de prata abaixo do retrato do frade viam-se duas datas: 1820-1896. Em “A Senhora de Azul, com Cabelos Grisalhos”, o narrador conhece estranha personagem, “jovem senhora, vestida de azul”, cuja presença é garantia de tragédia ou acontecimento funesto. Seria a própria morte, ser fictício simbólico.

Os contos de fundo científico (science-fiction) de Artur envolvem seres humanos, extraterrestres e máquinas, alguns destes alcançando a posição de protagonistas. O mistério neles é de outra natureza, menos psicológica e mais ontológica. Em “Depoimento Sigiloso” o narrador é homem afeiçoado aos objetos voadores não identificados que nega conhecer os estranhos acontecimentos relacionados a Ovnis. Aliás, toda a narrativa é composta de negativas. A história que dá título ao volume se enquadra perfeitamente subgênero ficção científica. Narrado também por ser humano, o protagonista é, no entanto, um computador superinteligente, de nome Stanley, um semideus, no ano de 2106. Em “Zyw” o ser fictício principal é alienígena, vindo de satélite de Júpiter, “um garotão de quase três metros de altura”, criado em fazenda experimental no Araguaia. O narrador é também extraterrestre, nascido em Tritão.

O poeta está presente nas narrações e descrições de quase todas as peças. “A Sede” é obra poética, sem deixar de ser narrativa. Há frases em que a poesia se mostra em sua plenitude: “Estava a chover nos telhados da infância” (p. 61). A última peça, “As Carruagens do Sem-Fim” é composição de fino lavor, talvez o mais misterioso dos contos do livro. É poesia pura. Os personagens, que não são poucos, vêm dos confins das lendas e dos mitos e viajam na grande nave interestelar, até que o círculo se feche. E Artur Eduardo Benevides fecha o seu livro com chave de ouro, como só os narradores criativos, os poetas, os iluminados sabem e podem fazê-lo: envolto em mistérios.

Fontes:
http://www.cronopios.com.br/

Artur Eduardo Benevides (1923)



Artur Eduardo Benevides (Pacatuba, Ceará, 1923) é poeta, ensaísta e contista brasileiro, com mais de quarenta livros publicados.

Foi eleito, em 1985, o Príncipe dos Poetas Cearenses, título já detido pelo Padre Antônio Tomás, por Cruz Filho e por Jáder de Carvalho. Bacharel em Direito e em Letras, foi professor titular da Universidade Federal do Ceará.

É membro da Academia Cearense de Letras, tendo sido seu presidente entre 1995 e 2005; da Academia Cearense de Língua Portuguesa e da Academia Fortalezense de Letras, integrante, também, do Grupo Clã. Em 2000 foi derrotado em eleição para a Academia Brasileira de Letras pelo escritor Ivan Junqueira.

Artur Eduardo Benevides é vencedor de mais de trinta prêmios literários, destacando-se a Bienal Nestlé de Literatura, em 1988.

Para comemorar os 80 anos do poeta, em 2003, o escritor José Luís Lira escreveu o livro "O Poeta do Ceará - Artur Eduardo Benevides", com sua biografia e trechos principais de sua obra. O livro saiu com o selo da Academia Fortalezense de Letras, da qual José Lira é fundador juntamente com Matusahila Santiago e Artur Eduardo Benevides o Presidente de Honra.

Fonte:
http://pt.wikipedia.org/

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Falecimento de Flávio Rubens

O pai (Ary Barroso) e Flávio
Flávio Rubens faleceu nesta manhã de seis de abril de 2009.
O poeta está foi velado na capela nº 7, do Cemitério São João Batista, Botafogo, Rio de Janeiro; com o sepultamento às 16h.

Flávio Rubens - jornalista, romancista, contista, poeta co-fundador da APPERJ. Filho do compositor Ary Barroso. Prêmios nacionais e internacionais. Membro da UBE. Publicou em inúmeras coletâneas, vários livros solos. Seu mais recente sucesso, o livro de romance: O Perneta, (OFICINA Editores, 2007) lançado na XIII Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro.

Fonte:
APPERJ Oficina Editores

José Feldman (Homenagem a Flávio Rubens)



Flávio Rubens possuía dentro dele uma águia, e assim como ela, tem uma história que nunca deve ser esquecida.

Uma águia é livre, e não pode ficar presa, pois precisa de grandes espaços para seus vôos rasantes.

Presa, canta, mas seu canto é o desejo de liberdade.

De que valem as asas, se não há céu para voar e paisagens para sobrevoar.

E assim como a Águia, Flávio, fez seu ninho em um horizonte de estrelas e alimentou-se de suas luzes.

Hoje, ele é esta Águia que voa cada vez mais alto, altiva, imponente, em direção a um novo horizonte desaparecendo na escuridão da madrugada, ressurgindo a cada nova aurora, aquecendo as nossas almas.

Fonte:
Imagem = http://www.xamanismo.com.br

Flávio Rubens e a Feijoada Poética

A Feijoada Poética promovida anualmente por Flávio Rubens em sua residência era um encontro com amigos, com boas poesias e som da autêntica MPB. Em agosto, durante uma agradável tarde, reuniu amigos de infância – da época em que morava no Leme – e membros da Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro (Apperj). Histórias de meninice, de seu saudoso pai, Ary Barroso, e recital de poesias foram o acompanhamento do delicioso encontro. Para Flávio, a reunião Encontro de Poetas e Amigos Antigos do Leme é uma oportunidade de rever aqueles que sempre fizeram parte de sua vida.

A cultura e os fiéis amigos devem ser sempre lembrados. Aqui estão amizades que já duram cerca de 80 anos – diz o poeta.

Jovens senhores que viveram na época do Rio Antigo relembraram saudosamente o tempo em que viveram no bairro do Leme: – Futebol na praia, piquenique, cinema e festas faziam parte do nosso cotidiano, em uma época em que podíamos andar tranqüilamente na cidade – lembra Paulo Duarte Martins, chamado carinhosamente de “vovô da turma”.

Hugo Fernandes de Oliveira conta sobre os festejos promovidos na casa de Flávio e Mariusa, como os que aconteceram para Carmem Miranda, na última vez em que ela veio ao Brasil: – Aquilo era uma festa open door. As festas de Ary Barroso não eram dele e sim do Leme, já que o bairro inteiro marcava presença – lembra.

Mas na vida dessa turma também havia responsabilidade e estudo. A irônica história lembrada por Antonio Carlos Telles, ex-ministro do Superior Tribunal Militar (1981 a 1998), conta como Flávio Rubens tirou zero em uma prova: – A genialidade de Flávio para a poesia já existia desde quando ele era menino; pena que no colégio não perceberam esse dom. Lembro que, em uma prova de história, ele narrou a Batalha do Riachuelo toda em gíria. Resultado: tirou dez em história e zero em português – recorda.

Para todos os que ali estavam reunidos, é uma eterna gratidão poder participar das reuniões promovidas por Flávio Rubens:

Todo ano nos reunimos e vemos que até hoje a verdadeira amizade prevalece em um mundo que atualmente domina outros tipos de valores – observa Renato Novall, diretor do Flamengo na época em que o time foi campeão mundial.

O recital Apperj Abre a Boca foi o ponto alto do evento. A performance poética dos membros da Apperj alegrou a tarde. As poesias citadas eram todas ligadas ao tema alimentação e os autores mostraram a genialidade ao escreveram com humor, com ironia, com melancolia e até em duplo sentido, incentivando a imaginação daqueles que estavam presentes.

Em determinado momento, Fátima Parente fez um tributo a Flávio Rubens, recitando um lindo fado. Em resposta à homenagem, nosso poeta, acompanhado por violão e piano, cantou Pra machucar meu coração, de autoria de seu pai, Ary Barroso. Ao término, foi aplaudidíssimo pelos presentes.

Fonte:
http://www.tipocarioca.com.br/flavio-rubens-9-06.html

Flávio Rubens – Dez Poemas Escolhidos

A poesia, ao contrário do que pensam muitos desavisados, e outros tantos que acreditam poder ostentar impunemente o título de poeta, a poesia não é fácil, nem admite facilidades. E, como diz Kaváfis, cidadão da Cidade dos Poetas não constitui pouca nem pequena glória, mas muito poucos são admitidos em sua ágora. E nem lhe importam a fama adjetiva, a premiação bajuladora, ou a constituição de bandos literários, que visam, o mais das vezes, a mera promoção pessoal. Com esses, a Arte Poética é implacável . Com o tempo, percebem que quanto mais caminharam mais se distanciaram do tanto que desejavam. E Vênus sequer se digna conceder-lhes saber de suas presenças.

Este, e é bom que se diga, não é absolutamente o caso de Flávio Rubens. Sua poesia é feita do mesmo aço nobre que forjou as espadas dos guerreiros romanescos, sua palavra possui a exatidão dos dardos de Diana, seus temas alcançam profundidades inexploradas. E que prazer, então, na sua leitura!

O poeta é substantivo e viril, sem deixar perder os sons da lira órfica, sem descuidar a dupla face apolínea e dionisíaca. Enganam-se os maniqueistas apressados quando opõem Apolo a Dionísio, o que é tão comum hoje em dia, que se renega o pensamento em prol de uma ação cada vez mais particularizada e tecnicista. Os gregos nunca levaram tal distinção a sério. Pois há o prazer solar , tanto quanto o sol do prazer, sem contar as noites de hécate, outra face apolínea. E isto é Flávio Rubens. Em A carne e o Aval, por exemplo. Poema corajoso no tema. preciso no verso, implacável na definição do tipo, sensível e humano, até solidário, perante a grandeza poética de sua personagem. Assim é Flávio Rubens.

A quem muito ainda se poderia louvar.

Fonte:
Artigo de Paulo Bauler. In http://www.geocities.com/livronline/flaviorubens/

Flávio Rubens (Poesias Avulsas)


ESPANTO

O gato não estava em cima da mesa
na lã que a senhora, em sonho, enrolava.
sonho não estava em cima da mesa
na lã que a senhora o gato embalava.
A lã não estava em cima da mesa
no sonho de gato que a senhora sonhava.
Em cima da mesa a toalha bordada.
Velha senhora de rugas marcadas
que a lã desfibrada
em gato tornou.
Um gato de malha
de sonho moldado
tão novo
que o velho
da velha senhora
ressuscitou.
¨¨¨¨¨¨¨¨
PEREGRINO

Desperta! Desperta e vem ouvir
o hálito da manhã que se anuncia
Desperta! Desperta e vem receber, o sol
ombreando as matas, tingindo de dourado as esperanças
Desperta! Desperta e vem acalentar, a fuga da insentida noite
e observar a testemunha nua, calando abrigo no manto matinal
Desperta! Desperta e vem musicar, o teclado das alvíssaras do dia
onde a pauta das nuvens braços estendidos são, ao teu redor

Arruma tuas tralhas, e olha a vida que começa hoje

Sim. É por ali que nós vamos
Deixa estar aí nosso passado
ainda que tarde a fonte prateada

Não. Não pede nada
mataremos nossa sede
pela estrada

Coloca aqui e ali tuas lembranças
e escuta em tempo novo a prata do teu pranto
Vem!

Dá-me as mãos surgidas do descanso
e ergue o olhar à fria claridade

Vem! Ignora os fatos do passado
Pois passo a passo, ontem para hoje
em busca da Amanhã

Ao longe, a borboleta arpeja um ritmo gostoso
São sílabas, sinônimos, palavras
da natureza infinda
que ao compasso da aurora
delineiam serenatas
de uma noite linda

Bem perto, o colibri desvenda o mistério morto
inerente à tessitura simples do néctar das flores
derramando a madrugada em líquidos de amores

E ambos, em missões esquivas, apresentam a Deus
a terra promissora

Sim.
É por ali que nós vamos

É cinza a caminhada
e azul o nosso rumo

Apaga a voz do tempo
e ouve a eternidade

Pirilampos, lampejos
lantejoulas
Cálidos cálices de argamassas toscas nos esperam
na linha do horizonte

São presságios
de mormaços certos
São colóquios de venturas, redescobertos
Preciosismos tolo, de sonoridade múltipla
Que tornam a caminhada insinuante e crua

Desperta, então!
Sim, É por ali que nós vamos
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
QUEM SABE?

Quero terminar a ronda do destino sem fazer rodeios
sem construir frases

Quero terminar a ronda do destino sem mostrar protestos
sem deixar saudades

Quero terminar a ronda do destino entre coisas sem piedade

No mar

Onde o silêncio medita e há profundidade
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

SONETO PARA JOGAR FORA

Quando souberes que em tempo algum te amei
dirás, a quantos perguntarem, o impossível
sem saberes que satisfaço os meus desejos
além, muito além do que é possível

Não me importa saber se tenho ou curto
por alguém, alguma espécie de sentimento,
pois não consigo dominar, e nem quero,
deixar de completar o que sinto no momento

Uso teses, invoco Deus, e o Diabo em paralelo
nas palavras antropofágicas e, sem fracos argumentos,
prendo o corpo de forma mais abjeta, amando

O amor que uso são figuras falsas e bonitas
que me saem à mente promíscua e talentosa
como se fosse rosa o que falei babando
¨¨¨¨¨¨¨¨
UMA CANÇÃO DO OUTRO MUNDO

Quando a noite descer sobre teu leito, estarei
no parapeito, humilde
da janela

Quando a estrela aprender, dirá, sobre teu leito
o despeito orgulhoso que tem
da tua janela

Quando a tua janela se fechar, a noite e a estrela se confundirão
na mediocridade, álacre, da mediunidade

Estou, também, como os astros
e a passagem do sol, debruçado
em tua janela
para vê-la nua
Como se fosse lua, como se fosse espaço

domingo, 5 de abril de 2009

Maria Antônia Canavezi Scarpa (Insatisfeita)


É assim que me sinto...faminta
verdadeiramente ávida de você,
como se sua pele me cobrisse,
seu suor me alimentasse em conta-gotas,
e a cada contração do seu coração,
bombeasse sua seiva, para dentro do meu.

Morro aos poucos sem a sua verve,
nada mais interessa, se o som
dos seus sussurros foram levados,
ao sabor dos ventos, para onde... não sei,
nem como posso buscá-lo
sem a sua voz, fico ao relento.

Perdi o rumo, quando desfolhei
a rosa-dos-ventos, que me guiava
para o leito dos rios fecundos,
onde debruçam os chorões frondosos
aqueles que nos cobriam quando
fazíamos amor.

Esta saudade arde e me faz delirar
ao gritar perdão, por te magoar
e o ferir tanto; um buquê de desculpas
se desfolham ao longo do caminho,
na esperança de que venham
guiar seus passos... em minha direção.

Aires da Mata Machado Filho (Vissungos)


Vissungo, em etnografia, se refere a música de caráter responsorial praticada por escravos africanos utilizados nas lavras de diamantes e ouro na região compreendida, entre outras, pelas periferias das cidades brasileiras de Diamantina, São João da Chapada e Serro, no estado de Minas Gerais.

Tal música era entoada raramente em português, prevalecendo línguas africanas, principalmente o kimbundo e o Nbundo (chamadas de língua benguela pela população local) e relacionadas a idiomas até hoje falados na atual República Popular de Angola.

Em férias, em 1929, o filólogo viajou para São João da Chapada, onde lhe chamaram a atenção "umas cantigas em língua africana ouvidas outrora nos serviços de mineração", conforme descreveu no livro O Negro e o Garimpo em Minas Gerais, obra publicada em 1943 pela editora José Olympio.

Mata Machado sustenta a importância dos vissungos, sua influência nos começos daquele arraial e mais "os vestígios da língua das cantigas na linguagem corrente, na onomástica e na toponímia" - os vestígios de um um dialeto banto num tempo em que se pensava que a língua dos negros trazidos como escravos para o Brasil resumia-se ao nagô.

Em 1982, a Gravadora Eldorado ousou seu lance mais arriscado, animada pelo sucesso (de crítica) das séries de Marcus Pereira. Editou o disco O Canto dos Escravos, reunindo canções recolhidas e anotadas pelo historiador mineiro Aires da Mata Machado Filho.


Canto da Tarde

Solo:
Oenda, auê, a a!
Ucumbi oenda, auê, a...
Oenda auê, a a!
Ucumbi oenda, auê, no calunga

Coro 1º:
Ucumbi oenda, ondoró onjó
Ucumbi oenda, ondoró onjó (bis)

Coro 2º:
Iô vou oendá, pu curima auê
Iô vou oendá, pu curima auê (bis)

— O sol está entrando, vamo-nos embora para o rancho.
— O sol entrou, vamos para o rancho — Eu vou entrar é para minha faisqueira.

É admirável a permanência da idéia de mar. Perguntados, todos os informantes traduziram por mar a palavra calunga.
–––––––––––––––––––––––––––––

Ao Nascer do Dia

Purru! Acoêto? — Caveia?

Galo já cantou, rê rê
Cristo nasceu
Dia 'manheceu
Galo já cantou

Galo já cantou, rê rê
Cacariacô
Cristo no céu
Galo já cantou

O cantador mestre, chamando: Purru acoêto? (Olá, companheiros!)

A turma responde: Caveia? (Que é lá?)

Galo já cantou, rê rê
Cristo nasceu
Dia amanheceu
Galo já cantou

Galo já cantou, rê rê
Cacariacô
Cristo no céu
Galo já cantou
–––––––––––––––––––––––––––

A Jangada Secando Água

Solo:
Aua cu aua cangirê
Aua cu aua cangira auê
Aua cu aua cangirê, aua

Coro:
Ê aua
Tanto aua para que, aua
Tanto aua pra bebê, aua

(Refere-se à "jangada", aparelho de secar água nas catas e que é movido a água. A cantiga diz do processo interessante, de uma água trabalhando para extinguir outra água)

Fontes:
Machado Filho, Aires da Mata. O negro e o garimpo em Minas Gerais. 2. ed. RJ: Civilização Brasileira, 1964).
http://www.jangadabrasil.com.br/
http://afinadiamantina.blogspot.com/

Aires da Mata Machado Filho (Crenças e crendices sobre as almas)



Durante o mês de novembro, que afinal é mesmo delas, vagueiam as almas por toda a parte, pedindo orações, assombrando a gente. O que Pereira da Costa divulgou no seu Folclore pernambucano (Rio de Janeiro, Livraria J. Leite, 1908), encontra réplica nos mais diversos lugares, aqui no Brasil e por este mundo afora.

Quando morremos, o espírito se evola imediatamente, mas não vai para o seu destino, o céu ou o inferno, segundo suas obras praticadas neste mundo; e, enquanto o cadáver não baixa à sepultura, permanece junto ao mesmo. Os nossos, índios, porém, acreditavam que o espírito só se apartava do corpo depois de seu completo estado de decomposição; e enquanto não ia para a lua, lugar destinado à sua morada e descanso eterno, percorria as florestas, assistia as suas conversas, as suas danças, e era testemunha, enfim, de todas as suas ações.

Para outras tribos, apesar de originárias todas de um mesmo tronco, o tupi — a vida remuneradora dos justos era passada em localidades encantadoras, que se afiguravam no reverso das "Montanhas Azuis", a serra geral que percorre a vasta extensão da costa austral do Brasil, e cujas montanhas viam a uma certa distância; mas os espíritos infiéis e pusilânimes eram proscritos dessa mansão, como anatematizados e votados a miséria e privações, erravam por desertos estéreis e se acolhiam aos covis das feras.

Segundo a crendice popular para verificar-se o destino final dos espíritos, é preciso um julgamento prévio.

O espírito, apenas desprendido da matéria, comparece perante o arcanjo São Miguel, e tomando ele a sua balança, coloca em uma concha as obras boas e na outra as obras más, e profere o seu julgamento em face da superioridade do peso de umas sobre as outras.

Quando absolutamente não se nota o concurso de obras más, o espírito vai imediatamente para o céu; quando são elas insignificantes, vai purificar-se no purgatório; e quando não tem em seu favor uma obra sequer, vai irremissivelmente para o inferno, donde só sairá quando se der o julgamento final, no "dia do juízo", seguindo-se então a ressurreição da carne.

A morte dos justos e bons que atravessam a sua passagem por este mundo, sem pecado, assiste um anjo, invisivelmente, empunhando uma espada flamejante para os defender de satanás, que ainda mesmo nesse extremo momento da vida, comparece junto ao leito para arrebatar-lhes a alma: e São Pedro, na sua qualidade de porteiro do céu, espera-os nos seus umbrais para dar-lhe ingresso no Paraíso.

Fontes
Machado Filho, Aires da Mata. Crenças e crendices sobre as almas. Diário de Minas. Belo Horizonte, 10 de novembro de 1964.
Figura = http:// www.espada.eti.br

Aires da Mata Machado Filho (1909 – 1985)



Eminente professor, de estirpe intelectual e moral admirável, sábio representante da nossa nacionalidade na filologia, no jornalismo, no folclore e na escrita. Quem teve o privilégio de privar alguns anos da sua intimidade sabe que, pela altitude cultural, pureza de espírito e pelo caráter sem jaça, Mestre Aires honraria qualquer país do mundo.

Nasceu a 24 de fevereiro de 1909, em São João da Chapada, município de Diamantina, onde fez as primeira letras, tendo realizado o curso secundário no Rio de Janeiro. Na capital mineira, fez cursos especializados no Instituto São Rafael e Direito na Universidade de Minas Gerais, onde posteriormente doutorou-se em Filologia Românica. Não recuava diante de dificuldade ou polêmica e nem tinha medo de viver. Superou a deficiência visual, levando com afinco os estudos lingüísticos, e se fez um dos maiores mestres no terreno da Filologia. Catedrático na Universidade Federal de Minas Gerais e na Universidade Católica de Minas Gerais, ambas em Belo Horizonte, lecionando filologia românica, língua e literaturas portuguesa e brasileira, italiana, espanhola, francesa, inglesa e disciplinas afins. Foi também professor em outros famosos centros de ensino, em todos eles educando gerações e fazendo jus à notória autoridade que lhe é reconhecida quanto à Lingüística e ao ensino de Português. Embora defensor dos altos padrões da linguagem, acatava as inovações sadias, ciente de que a língua é mais um fenômeno psicológico que lógico.

A pujante riqueza do folclore mineiro tornou-se conhecida graças a suas perseverantes pesquisas de nossos usos, costumes e tradições, contribuição poderosa para que se fizesse criar a Comissão Mineira de Folclore, da qual foi presidente. Participou da fundação do Instituto de Cegos São Rafael e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santa Maria, que se incorporou à Universidade Católica de Minas Gerais. Chefiou os serviços de Orientação Técnica de Ensino da Língua Portuguesa, da Secretaria da Educação; e o de Redação do Conselho Administrativo do Estado. Participou de movimentos do apostolado católico, em fidelidade a sua formação religiosa, e, como membro, de bancas examinadoras para concursos de professor catedrático e de livre docente, em várias entidades de outros estados da Federação. Colaborou no jornal O Diário e no Estado de Minas.

Aposentou-se como redator do Minas Gerais, órgão da Imprensa Oficial do Estado, da qual foi também Chefe de Gabinete, cujo prédio em que funciona passou a chamar-se Aires da Mata Machado Filho, de acordo com o Projeto Lei nº 1.754/93, de autoria do Deputado Tarcísio Henriques, aprovado em 12 de setembro de 1994.

Pertenceu às entidades culturais:
Academia Mineira de Letras,
Academia Brasileira de Filologia,
Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais,
Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais,
Comissão Nacional de Folclore,
Academia Carioca de Letras,
Sociedade Brasileira de Antropologia,
Comissão Mineira de Folclore,
Sociedade Brasileira de Folclore,
Conselho Estadual de Cultura
Academia de Letras de Viçosa, como patrono da cadeira nº 8 , ocupada por Edgard de Vasconcelos Barros.

Possui mais de cinqüenta títulos, traduziu obras de referência na área de Educação, História e Lingüística e publicou aproximadamente 25 destes.

Aires da Mata Machado teve sua vida ceifada no mesmo dia em que também o tiveram a esposa Maria Solange e a filha Cecília, vítimas de acidente ocorrido na BR-040, a 23 de agosto de 1985, nas proximidades de Ribeirão das Neves, sendo poupada a neta Joana Mata Machado. Seu corpo foi levado à sepultura, no dia seguinte, no Cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte.

Obra
Linguística, gramática e filologia
Em Busca do Termo Próprio (1947)
A Correção na Frase (1953)
Português Fora das Gramáticas (1964)
Aventuras de um Caçador de Palavras (1965)
Português & Literatura (1950)
Crítica de Estilos (1956)
Pequena História da Lìngua Portuguesa (1961)
Dicionário Didático e Popular da Língua Portuguesa (1965)
Lingüística e Humanismo (1974)
Coleção Escrever Certo, em 6 volumes
História
Arraial do Tijuco, Cidade Diamantina (1945).
Tiradentes, Herói Humano (1948).
Folclore
Curso de Folclore (1951).
Etnografia
O Negro e o Garimpo em Minas Gerais (1943).

Fontes:
Academia de Letras de Viçosa. http://www.alv.org.br/
http://pt.wikipedia.org/

Academia Mineira de Letras


Fundada na cidade de Juiz de Fora, em 25/12/1909, por um grupo de pioneiros ligados à literatura e a cultura, onde pontificavam jornalistas, escritores, profissionais liberais, homens públicos e conceituados militantes da cátedra e dos tribunais.

Juiz de Fora, à época denominada Manchester Mineira, respirava um ar de progresso e de vanguarda na indústria e na inovação tecnológica, convivendo com fervilhante atividade literária, em que se misturavam empreendedores pioneiros, poetas e contistas de formação diversa, com a presença na cidade de tradicionais educandários e austeros educadores.

A imprensa rivalizava com a do Rio de Janeiro e articulistas de renome nacional assinavam artigos e colunas nos diários e periódicos de Juiz de Fora. A primeira indústria têxtil de Minas Gerais e a primeira hidrelétrica do País se instalaram na progressista cidade.
O grupo fundador da Academia Mineira Letras, de imediato incorporando o adjetivo mineiro, ao invés da denominação municipalista, dava a dimensão ambiciosa e ao mesmo tempo magnânima dos seus altos objetivos: o culto, a defesa e a sustentação da pureza da língua e a produção intelectual na sua plenitude e variedade.

Inicialmente, os doze idealizadores capitaneados por Machado Sobrinho e integrados por intelectuais do naipe de Belmiro Braga, Dilermando Cruz, Amanajós de Araújo e outros expoentes das letras, elegeram mais dezoito intelectuais espalhados por todo o Estado e representativos do que de melhor existia entre a elite acadêmica de Minas Gerais.

Dentre os dezoito, destacavam-se Nelson de Senna, Alphonsus de Guimaraens e Carlos Goes, além de outras influentes personalidades.

Em 1915, acordaram os membros da Academia Mineira de Letras a transferência da sede da Academia para a Capital do Estado, em gesto de despreendimento e de visão, descortinando maior dimensão e "status" à mesma, próxima dos centros do Poder e de convergência de atividades e interesses de toda natureza.

Em 1943, com o apoio do então Prefeito de Belo Horizonte, Otacílio Negrão de Lima, viria a Academia receber sua sede própria, instalada no sexto andar do edifício sito à rua dos Carijós, aonde permaneceria até 1987, quando Vivaldi Moreira, após 12 anos de determinada articulação junto aos poderes públicos, conseguiria o comodato do palacete Borges da Costa, atual sede da Academia e cogominado Casa de Alphonsus de Guimaraens, com o apoio de sucessivos homens públicos como os Presidentes José Sarney e Itamar Franco, e os Governadores Hélio Garcia e Newton Cardoso, cada qual emprestando parcela de apoio visando a doação do imóvel e a restauração do Palacete e construindo-se em seguida o Auditório ao lado, conforme notável projeto do arquiteto Gustavo Penna.

O contraste do clássico - verdadeiro relicário - e o moderno arrojado e funcional - Palacete e Auditório - deu à Academia o realce e a beleza externa que o seu rico conteúdo interno - homens e livros - abriga doravante.

A casa passou a ser integrada por 40 membros a exemplo da Academia Brasileira e a Francesa, eleitos por um colégio eleitoral inter paris em processo aberto a todo cidadão brasileiro, com qualificações para postular o acesso ao sodalício.

Assim caminha a Academia, no suceder das gerações e na voragem dos tempos, cumprindo o lema que acalenta sua existência: Scribendi Nullus Fines e alçando seus Confrades e suas obrasà glória que fica, eleva, honra e consola, nos magistrais dizeres de Machado de Assis.

CADEIRAS

CADEIRA 01
Patrono: Visconde de Araxá (1812-1881)
Fundador: Albino Esteves ( 1884-1943)
1° Sucessor: Cyro dos Anjos (1906-1994)
2° Sucessor: Danilo Gomes (1932)

Cadeira 02
Patrono: Arthur França ( 1881-1902)
Fundador: Aldo Delphino ( 1872-1945)
1° Sucessor: José Oswaldo (1887- 1975)
2° Sucessor: Oswaldo Soares Da Cunha ( 1921)

Cadeira 03
Patrono: Aureliano Lessa ( 1828-1861)
Fundador: Alphonsus de Guimaraens (1870-1921)
1° Sucessor: Moacyr Chagas (Renunciou Antes Da Posse)
2° Sucessor: Agripa Vaasconcelos (1896-1969)
3° Sucessor: Oscar Corrêa (1921)
4° Sucessor: Angelo Oswaldo de Araújo Santos

Cadeira 04
Patrono: Frei Velloso ( 1742-1811)
Fundador: Alvaro da Silveira (1867-1945)
1° Sucessor: Alphonsus de Guimaraens Filho (1918)
2° Sucessor: Vaga

Cadeira 05
Patrono: Azevedo Junior (1865-1909)
Fundador: Amanajós de Araujo (1880-1938)
1° Sucessor: Zoroastro Passos (1887-1945)
2° Sucessor: Christiano Martins (1912-1981)
3° Sucessor: Francisco Magalhães Gomes (1906-1990)
4° Sucessor: Miguel Augusto Gonçalves de Souza (1926)

Cadeira 06
Patrono: Bernardo de Vasconcellos ( 1795-1850)
Fundador: Arduino Bolivar (1873-1952)
1° Sucessor: Salomão de Vasconcelos (1877-1965)
2° Sucessor: Mello Cançado (1912-1981)
3° Sucessor: José Caarlos Lisboa ( 1902-1994)
4° Sucessor: Alaide Lisboa
5° Sucessor: Yeda Prates Bernis

Cadeira 07
Patrono: Luiz Cassiano ( 1868-1903)
Fundador: Avelino Foscolo ( 1864-1944)
1° Sucessor: Eduardo Frieiro ( 1889-1982)
2° Sucessor: Austen Amaro (1901-1991)
3° Sucessor: Wilson Bastos (1915)
4° Sucessor: João Bosco Murta Lages
5° Sucessor: Ricardo Arnaldo Malheiros Fiúza

Cadeira 08
Patrono: Baptista Martins (1868-1906)
Fundador: Belmiro Braga (1872-1937)
1° Sucessor: Wellington Brandão (1894-1965)
2° Sucessor: Edison Moreira ( 1919-1989)
3° Sucessor: Milton Reis (1929)

Cadeira 09
Patrono: Josaphat Bello (1870- 1907)
Fundador: Bento Ernesto ( 1866-1943)
1° Sucessor: João Alphonsus (1901 -1944)
2° Sucessor: Djalma Andrade (1891-1975)
3° Sucessor: Ildeu Brandão (1913-1994)
4° Sucessor: Márcio Garcia Vilela (1939)

Cadeira 10
Patrono: Claudio Manoel da Costa (1729-1789)
Fundador: Brant Horta (1876-1959)
1° Sucessor: João Etienne Filho (1918-1997)
2° Sucessor: Fábio Proença Doyle

Cadeira 11
Patrono: Santa Rita Durão ( 1722-1784)
Fundador: Carlos Góes (1881-1934)
1° Sucessor: Lúcio dos Santos (1875-1944)
2° Sucessor: Bueno de Sequeira (1895-1979)
3° Sucessor: D. João Resende Costa (1910)
4° Sucessor: D. Walmor Oliveira de Azevedo

Cadeira 12
Patrono: Alvarenga Peixoto (1744-1793)
Fundador: Carlindo Lellis (1879-1945)
1° Sucessor: João Dornas Filho (1902-1962)
2° Sucessor: Alberto Deodato (1896-1978)
3° Sucessor: Tancredo Neves (1910-1985)
4° Sucessor: Olavo Drumond (1925)
5° Sucessor: Cônego José Geraldo Vidigal De Carvalho

Cadeira 13
Patrono: Xavier da Veiga (1846-1900)
Fundador: Carmo Gama (1860-1937)
1° Sucessor: Godofredo Rangel (1884-1951)
2° Sucessor: Antõnio Moraes (1904-1984)
3° Sucessor: João Franzen de Lima (1897-1994)
4° Sucessor: Paulo Tarso Flecha de Lima ( 1933)

Cadeira 14
Patrono: José Senna (1847-1901)
Fundador: Costa Senna (1852- 1919)
1° Sucessor: Almeida Magalhães (1893-1982)
2° Sucessor: João Valle Maurício ( 1922)
3° Sucessor: Antenor Pimenta Madeira

Cadeira 15
Patrono: Bernardo Guimarães (1827-1884)
Fundador: Dilermando Cruz (1879-1935)
1° Sucessor: Moacyr Andrade (1897-1935)
2° Sucessor: Odair de Oliveira (1917-1982)
3° Sucessor: Armond Werneck ( 1916-1991)
4° Sucessor: Bonifácio José Tamm Andrada (1930)

Cadeira 16
Patrono: Paula Cândido (1805-1864)
Fundador: Diogo Vasconcellos ( 1843-1927)
1° Sucessor: Mário Mattos (1899-1966)
2° Sucessor: Waldemar dos Anjos (1901-1980)
3° Sucessor: Flávio Neves (1908-1984)
4° Sucessor: Wilson Castello Branco (1918-1986)
5° Sucessor: José Afrânio Moreira Duarte (1931)
6° Sucessor: Ronaldo Costa Couto

Cadeira 17
Patrono: Conde De Prados ( Dr.Camilo Armond) (1815-1882)
Fundador: Eduardo de Menezes (1857-1923)
1° Sucessor: José Antônio Nogueira (1892-1947)
2° Sucessor: Abgar Renault (1901-1995)
3° Sucessor: Aluísio Pimenta (1923)

Cadeira 18
Patrono: Silva Alvarenga (1749-1814)
Fundador: Estevam Oliveira (1853-1926)
1° Sucessor: Abílio Barreto (1883-1959)
2° Sucessor: Arthur Versiani Velloso (1906-1986)
3° Sucessor: José Henrique Santos (1934)

Cadeira 19
Patrono: Corrêa de Almeida (1820-1905)
Fundador: Francisco Lins (1866-1933)
1° Sucessor: Mário Mendes Campos (1894-1989)
2° Sucessor: Pe. José Carlos Brandi Aleixo (1932)

Cadeira 20
Patrono: Arthur Lobo (1879-1901)
Fundador: Franklin de Almeida Magalhães (1902-1971)
1° Sucessor: Emílio Guimarães de Moura (1902-1971)
2° Sucessor: Wilson De Mello da Silva (1911-1994)
3° Sucessor: Ariosvaldo de Campos Pires (1934-2004)
4° Sucessor: Hindemburgo Chateaubriand Pereira Diniz (1932)

Cadeira 21
Patrono: Fernando De Alencar (1857-1910)
Fundador: Gilberto De Alencar (1887-1961)
1° Sucessor: Nelson De Faria (1902-1968)
2° Sucessor: Oscar Negrão de Lima (1895-1971)
3° Sucessor: Hilton Rocha (1911-1993)
4° Sucessor: Caio Mário (1913)
5° Sucessor: Elizabeth Fernandes Rennó de Castro

Cadeira 22
Patrono: Júlio Ribeiro (1845-1890)
Fundador: Heitor Guimarães (1868-1937)
1° Sucessor: Paulo Rehfeld (1902-1960)
2° Sucessor: Fábio Lucas (1931)

Cadeira 23
Patrono: Joaquim Felício ( 1828-1895)
Fundador: Joaquim Silverio (1859-1933)
1° Sucessor: Martins de Oliveira (1896-1975)
2° Sucessor: Victor Nunes Leal (1914-1985)
3° Sucessor: Raul Horta (1923)
4° Sucessor: Monoel Hygino dos Santos

Cadeira 24
Patrono: Bárbara Eliodora ( 1758-1819)
Fundador: João Lúcio (1875- 1948)
1° Sucessor: Cláudio Brandão ( 1894-1965)
2° Sucessor: Henrique de Resende ( 1899-1973)
3° Sucessor: Sylvio Miraglia (1900-1994)
4° Sucessor: Eduardo Almeida Reis (1937)

Cadeira 25
Patrono: Augusta Franco (1877-1909)
Fundador: João Massena (1865-1957)
1° Sucessor: Paulo Pinheiro Chagas ( 1906-1983)
2° Sucessor: Aureliano Chaves (1929)
3° Sucessor: Francelino Pereira dos Santos

Cadeira 26
Patrono: Evaristo da Veiga (1799-1837)
Fundador: José Eduardo da Fonseca (1883-1934)
1° Sucessor: Mário Casasanta (1898-1963)
2° Sucessor: Henriqueta Lisboa ( 1904-1986)
3° Sucessor: Lacyr Annaziata Schettino
4° Sucessor: Pe. João Batista Megale
5° Sucessor: Vaga

Cadeira 27
Patrono: Corrêa de Azevedo (1856-1904)
Fundador: José Paixão (1868-1949)
1° Sucessor: Augusto de Lima Junior (1889-1970)
2° Sucessor: Cardeal Vasconcelos Motta (1890-1982)
3° Sucessor: Dom Oscar de Oliveira (1912-1997)
4° Sucessor: Pe. Paschoal Rangel (1922)

Cadeira 28
Patrono: Américo Lobo (1893-1903)
Fundador: José Rangel (1868-1940)
1° Sucessor: Guilhermino César (1908-1993)
2° Sucessor: José Bento Teixeira de Salles (1922)

Cadeira 29
Patrono: Aureliano Pimentel (1830-1908)
Fundador: Lindolpho Gomes (1875-1953)
1° Sucessor: Milton Campos (1900-1972)
2° Sucessor: Pedro Aleixo (1901-1975)
3° Sucessor: Gustavo Capanema (1900-1985)
4° Sucessor: Murilo Paulino Badaró (1931)

Cadeira 30
Patrono: Oscar da Gama (1870-1900)
Fundador: Luiz de Oliveira (1874-1960)
1° Sucessor: Oiliam José (1921)

Cadeira 31
Patrono: Lucindo Filho (1847-1896)
Fundador: Machado Sobrinho (1872-1938)
1° Sucessor: Salles Oliveira (1900-1968)
2° Sucessor: Manoel Casasanta (1902-1973)
3° Sucessor: Waldemar Pequeno (1892-1988)
4° Sucessor: Luís Carlos de Portilho (1910)

Cadeira 32
Patrono: Marquês de Sapucaí (1793-1875)
Fundador: Mário Lima (1886-1936)
1° Sucessor: Heli Menegale (1903-1893)
2° Sucessor: Almir de Oliveira (1916)

Cadeira 33
Patrono: Edgar Matta (1878-1907)
Fundador: Mário Magalhães (1885-1937)
1° Sucessor: Aires da Mata Machado Filho (1909-1985)
2° Sucessor: Nansen Araújo ( 1901-1996)
3° Sucessor: José Crux Rodrigues Vieira (1920)

Cadeira 34
Patrono: Thomaz Gonzaga (1744-1810)
Fundador: Mendes de Oliveira (1879-1918)
1° Sucessor: Noraldino Lima ( 1885-1951)
2° Sucessor: Nilo Aparecida (1914-1974)
3° Sucessor: Juselino Kubistschek (1902-1976)
4° Sucessor: Affonso Arinos (1905-1990)
5° Sucessor: Orlando Vaz Filho

Cadeira 35
Patrono: João Pinheiro (1860-1908)
Fundador: Navantino Santos (1885-1946)
1° Sucessor: Eugênio Rubião (1884-1949)
2° Sucessor: Silva Guimarães (1876-1955)
3° Sucessor: Orlando Carvalho (1910)
4° Sucessor: Carlos Mário da Silva Velloso

Cadeira 36
Patrono: Eloy Ottoni (1764-1851)
Fundador: Nelson Senna (1876-1952)
1° Sucessor: Oscar Mendes (1902-1983)
2° Sucessor: Wilton Cardoso (1916)
3° Sucessor: Aloísio Teixeira Garcia

Cadeira 37
Patrono: Manoel Basílio da Gama (1826-1903)
Fundador: Olympio Rodrigues de Araújo (1860-1923)
1° Sucessor: Aníbal Mattos (1886-1969)
2° Sucessor: Edgard de Vasconcellos Barros (1914-2004)
3° Sucessor: Olavo Celso Romano (1938)

Cadeira 38
Patrono: Beatriz Brandão (1779-1868)
Fundador: Paulo Brandão (1883-1928)
1° Sucessor: Honório Aarmando (1891-1958)
2° Sucessor: Vivaldi Moreira (1912-2001)
3° Sucessor: Pedro Rogério Couto Moreira

Cadeira 39
Patrono: Basílio da Gama (1740-1795)
Fundador: Plínio Motta (1876-1953)
1° Sucessor: João Camillo (1915-1973)
2° Sucessor: Edgar Mata Machado (1914-1995)
3° Sucessor: Patrus Ananias de Souza (1952)

Cadeira 40
Patrono: Visconde de Caeté (1766-1838)
Fundador: Pinto de Moura ( 1865-1924)
1° Sucessor: Affonso Penna Junior (1879-1968)
2° Sucessor: Maria José de Queiroz (1936)
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Academia Mineira de Letras
Rua da Bahia, 1466, Lourdes - Belo Horizonte, MG - Cep: 30160-011
Telefone: (31) 3222-5764

Fonte:
Academia Mineira de Letras. http://www.academiamineiradeletras.org.br/

Comunicado


Comunico que, com um júbilo incontido, após haver obtido no ano passado o título de membro da Ordem Nacional dos Escritores (ONE), vim a receber a notícia de que meu nome foi indicado pelo presidente, Dr. Mário Carabajal, para assumir uma Cadeira Vitalícia na Academia de Letras do Brasil.

Agradeço a todos que colaboraram e me apoiaram, direta ou indiretamente para que obtivesse esta honraria.

Fraternalmente

José Feldman