terça-feira, 9 de março de 2010

Edson Ribeiro Scabora (Pais & Filhos: a arte de educar nossos filhos transformando crianças em homens)


"O destino de muitos homens dependeu de ter havido ou não ter havido uma biblioteca na sua casa paterna"

Neste domingo estive presente em uma reunião da Academia de Letras de Maringá, onde um dos convidados foi o escritor Edson Ribeiro Scabora, que nos apresentou o seu livro Pais & Filhos: A arte de educar nossos filhos transformando crianças em homens. Segundo ele, este livro se originou de suas observações sobre as crianças de hoje em dia, que parecem não ter sonhos, pois ao contrário de seus pais, possuem tudo o que desejam. Enfim, após explicar sobre a ausência de horizontes das novas gerações, falou-nos uma história que seu pai lhe contara:

"Havia um médico que era muito diferente de seus colegas de profissão, que quando não estava em seu consultório estava usando um macacão jeans e um chapéu de palha. Sempre muito sorridente e nunca se alterava. Quando ele não estava tratando das pessoas, estava a plantar árvores, usando sempre o lema "sem sofrimento não há crescimento". Raramente regava suas árvores, pois segundo ele, molha-las as deixaria muito acomodadas, e mais fracas, pois elas não aprofundariam as suas raízes em busca da água, e ficando preguiçosas quando vir os ventos e o frio, elas não resistiriam.

Plantava uma árvore e batia nele com um jornal enrolado e dizia " A água está lá embaixo, busque-a".

Um dia, nosso palestrante foi conhecer a casa deste médico na cidade onde o pai dele nascera, pois achava que esta história era invenção. Ficou impressionado, pois no lugar onde o pai falara, as árvores estavam, fortes como granito e robustas.

A lição que esta história nos ensina é que, como aquelas árvores, pela adversidade e privação que sofreram, se beneficiaram de um modo que o conforto e as coisas entregues de bandeja não conseguiriam.

Enfim, ele encerra com "Adversidade e privação versus tranquilidade e benefícios. O que deve ser usado para a educação de nossos filhos?"

"Ser pai é a maior de todas as dimensões humanas. Portanto devemos exercê-la com a maior responsabilidade.
Se assim o fizermos, nossas crianças se transformarão em verdaeiros homens e mulheres. Homens e mulheres úteis à sociedade, empreendedoras, sensíveis às necessidades alheias, ousadas, criativas, responsáveis.
Este livro não possui uma receita, mas tenta mostrar um caminho. Este livro não dá o peixe, mas tenta ensinar a pescar. Mostra os erros comuns que cometemos ao educarmos nossos filhos.
Define os três tipos de pais: os pais medíocres, os pais talentosos e os pais geniais. Mostra os três alicerces que tem o poder de transformar crianças em verdadeiros homens e mulheres.
Mostra que a natureza e suas leis, entre elas a lei do "sem sofrimento não há crescimento", são as mesmas leis dos pais geniais."
(palavras do autor, na orelha do livro)

Fontes:
- Palestra proferida por Edson Ribeiro Scabora, na Academia de Letras de Maringá, em 7 de março de 2010.
- Edson Ribeiro Scabora.Pais & Filhos: A arte de educar nossos filhos transformando crianças em homens. Maringá/PR: Edição do Autor, 2008.

Edson Scabora (Um Mal chamado Analfabetismo)


Eu gostaria de começar com uma pergunta. Uma pergunta muito importante. Qual é o maior patrimônio de um homem? O maior bem, o maior patrimônio que um homem pode ter, é a liberdade.

"Liberdade, essa palavra
Que o sonho humano alimenta.
Que não há ninguém que explique
E ninguém que não entenda".
Cecília Meireles

A liberdade é o nosso maior patrimônio. Mas quanta gente é como o cão que procura um dono.

A liberdade duplica as forças e o valor de um homem, dizia o general francês Dumouriez.

Mas o homem parece não perceber o valor da liberdade, aliás, a liberdade e a saúde se parecem; não lhes conhecemos bem o valor senão quando nos faltam.

A liberdade é tão importante que os romanos podiam tirar a vida de seus filhos, mas não tiravam a sua liberdade.

Companheiros e companheiras, o amor à liberdade deve ser invencível como é a morte; deve ter a sede do infinito; deve ser grande , como grande é o universo.

Gonçalves de Magalhães, o poeta que iniciou o romantismo no Brasil, médico e também diplomata, com uma frase resumiu a importância da liberdade: “que me importa morrer! A vida é nada, a liberdade é tudo!

E ouçam o que José Bonifácio falou sobre a liberdade: “sem liberdade individual não pode haver civilização nem sólida riqueza; não pode haver moralidade e justiça; e sem moralidade e justiça, estas filhas do céu, não há nem pode haver brio, força e poder entre as nações.

E Godwin, um filósofo inglês corretamente escreveu: “a liberdade é a escola da inteligência”.

Mas o que é um homem livre? Quais são as características de um homem livre? O que faz de um homem um ser livre?

"Não me apontes o caminho,
o rumo certo pra chegar ao cimo.
Deixa-me encontrá-lo para que seja
meu...
Não me reveles a mais brilhante estrela,
Aquela que te guia.
Eu buscarei a minha...

Não me estendas a mão quando eu cair.
Em tempo certo, em hora exata,
Eu ficarei de pé...

Não te apiedes de mim.
É minha estrada, é minha estrela,
É meu destino.

Deixa apenas que eu seja.
Sem ti..."
Eliette Ferreira

Livre é aquele que encontra sozinho o seu caminho. E feliz e rica é a nação cujos governantes investem na liberdade dos seus cidadãos, ensinando-os a pescar como disse à 2000 anos o mestre Jesus. E no Brasil inventam o bolsa família, vale gás, salário desemprego...e aos poucos, a nação vai se acostumando a viver de esmolas, e se tornando cada vez mais pobre e o seu povo cada vez mais dependentes e acomodados.

17 bilhões de reais são gastos com o bolsa família eu um ano. Será que este dinheiro todo, aplicado em educação, não traria maiores benefícios para o Brasil.

O que eu sei e posso lhes afirmar, é que em toda a história da humanidade, os países que optaram por dar o peixe, não conseguiram se firmar como nação forte, rica e livre.

O homem sempre se fez prisioneiro de angústias, medos, e culpas. O homem sempre se fez prisioneiro da solidão, da impossibilidade de agir, de padrões pré-determinados. O homem sempre se fez prisioneiro das doutrinas, de normas, de dogmas e das religiões.

Ser livre é essencialmente ter a capacidade de escolha. Onde não existe escolha, não há liberdade. O homem faz escolhas da manhã à noite e se responsabiliza por elas assumindo seus riscos (vitórias ou derrotas). Escolhe roupas, amigos, amores, filmes, músicas, profissões...
A escolha sempre supõe duas ou mais alternativas; com uma só opção não existe escolha nem liberdade. As escolhas nem sempre são fáceis e simples.

Escolher é optar por uma alternativa e renunciar às outras.

E é aqui que nós chegamos ao tema desta palestra.

Livre é aquele que encontra sozinho o seu caminho. Como encontrar o caminho sem o poder que nos dá o conhecimento, a educação.

Como impedir que o meio e os poderosos que nele vivem, lhe roube a liberdade sem o poder do conhecimento, da educação.

Como não ser prisioneiro de angústias, medos, culpas, solidão, impossibilidade de agir, padrões pré-determinados, doutrinas, normas, dogmas, religiões, etc., sem o poder do conhecimento, da educação. Como fazer as escolhas corretas sem o poder do conhecimento, da educação. A educação nos dá o discernimento para fazermos as escolhas corretas. E aí a gente entende o porque dos nossos governantes gastar 17 bilhões em vale disso e vale daquilo.

Como ser uma nação livre sem o poder do conhecimento, da educação. É impossível se construir uma nação forte e livre sem o poder da educação.

De Amicis, um escritor italiano dizia: “uma casa sem livros é uma casa sem dignidade.” E Channing, um pastor protestante corretamente dizia: “agradecido seja Deus pelos livros. Eles são a voz dos longínquos e dos mortos, e nos tornam herdeiros da vida espiritual dos séculos passados.”

O historiador escocês, Hume, certa vez falou: É raro, é muitíssimo raro, que o verdadeiro homem de letras não seja pelo menos um homem de bem”. As letras, diz um provérbio, não despontam as lanças. E Teofrasto, um filósofo grego que viveu por volta de 300 antes de Cristo, escreveu: “o único homem que tem a prerrogativa de não ser estranho entre os estrangeiros, é o homem de letras”.

E também disse De Amicis, que o destino de muitos homens dependeu de ter havido ou não ter havido uma biblioteca na sua casa paterna.

E daí nós podemos concluir, que o destino de muitas nações dependeu da importância que seus governos deram ou não deram à educação.

E hoje o mundo se divide em dois mundos: de um lado o mundo dos países que acreditaram e acreditam na educação e de outro lado o mundo dos países que não acreditaram e continuam não acreditando na educação.

E a que mundo pertence o Brasil?

Porque será que conteiners e mais conteiners de soja, milho, trigo, são trocados por algumas unidades de celulares, carros importados, máquinas para indústrias. E então a cada ligação que fazemos de um celular, estamos enriquecendo ainda mais aqueles que acreditaram no conhecimento. E então, estes países, cada vez mais ricos, compram os nossos supermercados, os nossos shopings, a nossa energia elétrica, a nossa água, e toda a nossa riqueza.

E assim, cada vez, mais e mais conteiners de soja, milho, trigo, são trocados por algumas unidades de produtos de alta tecnologia, fruto do poder do conhecimento e da educação. E assim, nós, os pobres países pobres, e pobres por nossa própria culpa, pois somos nós que escolhemos os nossos governantes, vamos ficando cada vez mais pobres e principalmente, cada vez mais perdendo a nossa liberdade.

E nossos filhos?

E eu então lhes perguntaria: e nossos filhos? como se encontram as habilidades de nossos filhos? Como está a sua escrita, a sua leitura? Será que eles sabem interpretar corretamente um texto qualquer? Será que eles sabem redigir um bom texto? Como eles se sairiam em uma entrevista para um emprego? 75% dos brasileiros são analfabetos funcionais. E os nossos filhos?


Aí então eu lhes faço uma advertência:

Quantas horas seus filhos passam em frente ao computador? Quantas horas seus filhos passam assistindo tv? Quantas horas seus filhos passam jogando vídeo games?

Quantos livros seus filhos já leram durante toda a vida deles?

Constantemente vejo os pais de meus alunos comprarem tênis de marca que custam 600, 700 reais. Constantemente vejo os pais de meus alunos comprarem roupas de grifes, caríssimas.

Dificilmente vejo pais comprando livros para seus filhos lerem. Com o dinheiro de um tênis de marca, daria para os pais comprarem livros para seus filhos lerem, nos 3 anos do ensino médio. Mas quando pedimos para comprarem 1 ou 2 livros, as reclamações que ouço, me fazem crer que o Brasil parece não ter futuro.

Talvez isto explique o nosso país. As suas desigualdades sociais, a sua pobreza. E principalmente os nossos governantes.

E eu quero deixar aqui uma sugestão para melhorar a educação em nossa cidade: valorizem mais o professor. Apóiem mais os professores de seus filhos. Acreditem mais na escola. Entre a palavra do professor e a de seu filho, fique com a palavra do professor. Os professores hoje estão acuados diante de tanta violência por parte de seus alunos. Não há mais respeito.

E como ensinar se a quem eu tento ensinar não me respeita. Ajudem a cuidar da escola, ensinando seus filhos a respeitarem a figura do professor.

Ensinando seus filhos a conservar o jardim, a não rabiscar as carteiras, a não quebrar as vidraças. Ensinem seus filhos a não colocar apelidos em seus amigos. Não incentivem a violência, as brigas na escola. Façam do ambiente da escola um lugar agradável de se estar.

Fonte:
Instituto Progredir. Academia de Crescimento Pessoal e Empresarial.

Emílio Germani (O Vinho)


O sangue da terra é presença constante na casa do lavrador de origem italiana.

A recepção das visitas é sempre com uma bela jarra de vinho branco ou tinto, segundo a hora em que é servida.

Não há gaúcho italiano que não tenha seu vinho, não há vinho que não seja consagrado pelo suor e o trabalho dessa gente laboriosa de Caxias, Bento, Mato Perso e arredores, o ano inteiro zelando seu parreiral.

Nas refeições e nos momentos de descanso, festivos ou de alegres comemorações, sem escurecer os seus horizontes de esperança, o vinho nunca está só.

Em sua índole indomável e varonil, nos momentos de solidão ou melancolia, recordando a vida dura do começo, com a sanfona resfolegando melodias folclóricas, canta, bebe, brinda pelos feitos do passado, na esperança das realizações do futuro, das mulheres que amou, da casa que construiu e do vinho que nunca faltou.

As pendências desaparecem quando alegres bebem. Seja de manhã, de tarde ou à noite, reina alegria. Nada turva a harmonia da numerosa família.

O tinto ou o branco de Caxias ou de Bento, de aroma e sabor agradável, lembrando o amor e o trabalho árduo de sol a sol, anos e anos seguidos, cuidando a propriedade e criando os filhos, olhando para o futuro da vida digna que levam, para a consagração do pão e do vinho, ergueram-se altares em toscas ermidas.

O vinho na colônia italiana é a luz da vida, sob o fulgor das estrelas. Depois de um santo trabalho coletivo, de homens e mulheres decididos, o vinho é um personagem indispensável nas conversas e na harmonia ombro a ombro.

Bendito o vinho puro e caprichado, tradição da Serra Gaúcha!

Fonte:
Emílio Germani. Folhas Esparsas. Maringá: Ed. do Autor, 2009.

Emilio Germani (Folhas Esparsas)


SENTIMENTOS IMORTAIS

Nas andanças de minha longa existência,
Escutei de sábios amigos ancestrais
A lenda que guardei na consciência.
Da remota ilha dos sentimentos imortais.

Quase todos lá viviam, inclusive o Amor,
Numa vida calma, tranqüila e paradisíaca.
Mas o prenúncio de um furacão trouxe o terror,
Com medo da destruição o pânico ataca.

Cada sentimento tratou de fugir.
Ao fim deixaram apenas o Amor,
Que não teve como com eles partir;
Negaram-lhe carona com muita dor.

A Tristeza estava com o barco pleno de aflição,
No barco da Alegria nada mais cabia de contente,
A Avareza com o barco cheio com sua coleção.
Se o Amor ficasse, morreria certamente.

No desespero, um barco no horizonte apareceu,
Um velho ao leme aportou na ilha mansamente;
A esperança do Amor de repente renasceu,
Talvez pudesse se salvar finalmente.

Aproximando-se cansado e olhar cristalino,
Viu que o velho era o Tempo salvador,
Compreendeu a mensagem do destino
Que o Tempo jamais esquece um grande Amor.

PRECE PREVENTIVA

Só o Senhor sabe quando vai me chamar;
Ainda com tempo de lembrar minhas ilusões,
Enquanto sinto a beleza e o amor de aqui estar,
Vivendo as amizades da vida e as satisfações.

Dá-me ainda a oportunidade de fazer esta prece,
Na esperança de aplacar as culpas que cometi,
E alcançar o lugar que minha alma merece,
Grato pela misericórdia dos benefícios que recebi.

Senhor!
Agora que anotaste todos os erros meus,
Que extingui da juventude as ilusões.
Em Tua onipotência espero a graça de Deus,
Conservando toda a confiança e disposições.

Senhor!
Neste tempo de tantos desenganos que presenciei,
Ceticismos e desprezos dos valores morais,
Da boa fé e formação que da família herdei,
Deixo em Tuas Excelsas mãos meus instantes finais.

Senhor!
Agora que as forças começam a falhar,
Alerto o meu espírito e começo a raciocinar,
Embora me arrepie só de pensar,
Sei que quando Tu queres, a hora vai chegar,

Senhor!
Agora que aprendi a precariedade das coisas,
O limite das ambições e das lutas que vivera,
Reconheço minha pequenez e no meu ser sinto as brisas
Aguardando tranqüilo o destino que me espera.

Senhor!
Agora que já alcancei da vida o ponto audaz,
Com Elza constituí a família mais linda e querida,
Ajuda a mim e a ela envelhecermos em paz.
Suportar tudo, e receber de Ti a melhor acolhida.

Senhor!
Agora aumentam os cuidados ao meu redor
O constante zelo, o carinho e toda a atenção.
Advertindo sutilmente a minha consciência, o terror,
Que fatalmente meus derradeiros dias chegarão.

Senhor!
Agora com a vista turva e degenerada,
Pernas trôpegas, ouvidos moucos e vida dura,
Redobra minha força ao imprevisto dessa parada,
Ajuda-me tolerar com serenidade e fé segura.

Senhor!
Conceda-me a graça de não cair em atitudes avessas,
Não chorar o passado, nem duvidar do futuro,
Não perder o ânimo nem descrer de Tuas promessas,
Chegar digno e altivo ao termo que procuro.

Senhor!
Agora, sem saber quando e quem vai partir primeiro,
Entrego à Tua guarda meus amados familiares,
Bem assim cada confrade e confreira, amigos e companheiros,
A quem desejo felicidade total em suas ações e seus lares.

SEXAGENÁRIA MARINGÁ

Quando te conheci, cidade menina,
Engatinhavas com cara suja e poeirenta,
Bem diferente de agora, vencedora heroína,
Formosa, grávida de vida, completando sessenta.

Foram os pioneiros, homens e mulheres,
que gente forte e corajosa que era aquela!
Com eles ganhaste beleza para seres
Adulta e altaneira e linda, não mais donzela.

Muitas pessoas valorosas deram a vida,
Cessaram as forças, tombaram em pplena jornada,
Pioneiros valentes que tiveram honrosa caída,
Criaram com amor esta terra bela e amada.

Ainda estão na lembrança de alguns remanescentes
O primeiro cinema, o primeiro hospital, a primeira venda,
A primeira casa, a primeira igreja, os primeiros crentes.
O primeiro colégio, os primeiros alunos e primeiro estudo.
O primeiro Rotary, a primeira história e a primeira lenda.
O primeiro hotel, o primeiro prédio, o primeiro tudo.

Não foi milagre e nem magia, foi trabalho duro,
Gente jovem e forte, cheia de fé e vontade.
Com esperança e visão fizeram do nada, para o futuro
Esta cidade que deixam ao cuidado da posteridade
.
__________

Fonte:
Emílio Germani. Folhas Esparsas. Maringá: Edição do Autor, 2009.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Lançamento do Livro Tesouros de Minh'Alma


CONVITE

Prefeitura Municipal de São Gonçalo do Rio Abaixo Através da Secretaria Municipal de Cultura e de Educação em Parceria com O Projeto Poesia Viva: a poesia bate à sua porta, com o Jornal Aldrava Cultural, com o INBRASCI-MG e com a Academia De Letras Do Brasil-Mariana Convidam:

Todos os Educadores da Rede Municipal e Estadual de Ensino receberão o livro VENTRE DE MINAS - dos poetas do Jornal Aldrava Cultural.

Participem!! Os Membros do InBrasCI-MG e da ALB-Mariana estão convidados para esse evento cultural e literário histórico.

É NESSE SÁBADO!!
Fonte:
Jornal Aldrava

Lançamento do livro “ESTAÇÃO CATARINA: o trem passou por aqui”


CONVITE ESPECIAL

Você é convidado especial para uma viagem pela história do trem em Santa Catarina.

A obra ESTAÇÃO CATARINA: o trem passou por aqui terá seu lançamento oficial em Florianópolis na Fundação Cultural BADESC (convite anexo), num evento que trará a nostalgia e a magia do tema trem através da companhia de seus coautores.

Projeto aprovado pelo Fundo Municipal de Apoio à Cultura de Blumenau, em 2009, tem a organização da escritora Fátima Venutti, também coautora, que já presenteou os leitores com o mesmo tema em Terceiro Apito (Ed. Nova Letra, 2007). Em Blumenau, a obra foi apresentada ao público em evento especial do SESC- Blumenau e agora, chega a vez de Florianópolis se emocionar com o livro.

SINOPSE da obra

O livro ESTAÇÃO CATARINA – o trem passou por aqui objetiva registrar em contos e crônicas a existência da Estrada de Ferro de Santa Catarina (EFSC), através do resgate de memória de vários escritores e jornalistas da região do Vale do Itajaí.

Destaca ainda a relevância de um período histórico-econômico em Santa Catarina através de uma obra histórica literária, de maneira inédita na reunião e no tema. Ao escreverem suas experiências, quer seja como fatos reais ou fictícios, como viajante, usuário ou ainda observador da EFSC (Estrada de Ferro de Santa Catarina), os autores estão contribuindo para ampliar o registro de memória sócio-cultural da cidade, do Vale do Itajaí e do estado.

A obra ainda presta uma homenagem aos profissionais que fizeram da EFSC, dos trens e sua importância histórica, durante décadas, a base do desenvolvimento industrial e social do país, porém hoje, em algumas regiões como Blumenau e Vale do Itajaí, foi desativada.

AGENDA:
Dia 10/03 – BADESC , em Florianópolis
Dia 12/03 – Balneário Camboriú – Fundação Cultural
Dia 17/03 – Fundação Cultural de Indaial – FIMI
Dia 22/03 – Fundação Cultural de Blumenau
Dia 23/03 – Casa do Poeta Lindolf Bell – timbó
Dia 31/03 – Itapema.

Fonte:
Poetas del Mundo

quinta-feira, 4 de março de 2010

Aparecido Raimundo de Souza (O Homem Só)


Como um fantasma que se refugia
Na solidão da natureza morta,
Por trás dos ermos túmulos, um dia,
Eu fui refugiar-me à tua porta!

Fazia frio e o frio que fazia
Não era esse que a carne nos conforta...
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!

Mas tu não vieste ver minha Desgraça!
E eu saí, como quem tudo repele,
- Velho caixão a carregar destroços -

Levando apenas na tumbal carcaça
O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!
(Augusto dos Anjos)
–––––––––––-
O homem
anda,
procura, procura,
indaga...

E ninguém sabe dizer onde encontrar a mulher dos seus sonhos. Todos negam com a cabeça. Uns nem respondem. Outros viram-lhe o rosto em sinal de pouco caso. Alguns posicionam-se indiferentes e alheios à sua presença. Na verdade, a multidão o trata como se o pobre não existisse. A maioria daquela escumalha o considera um estróina, a julgar por seus modos estranhos, pelo seu vestir e até pelo falar.

E o coitado, o infeliz, parece mesmo apalermado, furioso, louco. E como um doidivanas,

Portanto,
segue adiante...
persegue
imagens distantes, figuras indistintas que nada têm a ver com a amada. Perdido e só, esse caminhante não vive. Vegeta um tempo obumbrado, esquecido no espaço irrecuperável do compasso inconseqüente dos dias que passam um após outro, como se para o mundo todas as coisas tivessem morrido ha séculos. É o destino imprecativo que manipula seus desejos e ansiedades como melhor agrada. A esperança, aquela esperança ambígua de outrora retirou-se, às pressas, de seu peito, tal como quem foge de algo ruim e prestes a acontecer. Tudo isso, porém, tem uma causa: sua outra metade que busca incansavelmente. O efeito, sente agora, abraçado à ausência da saudade que domina toda a mente, transformando o pensamento num redemoinho de idéias confusas. Afinal, onde está, por Deus, onde está a figura que coloriu seus devaneios? Sem ela e seus aconchegos é um homem vazio de vida, de cores, e de esperanças. A partida da jovem doeu-lhe muito. Feriu de tal forma que até o coração bate descompassado, numa atitude convulsiva de sofrimentos embaraçosos. Em seu peito uma ferida imensa abriu feio à flor da pele, e desde então não cicatriza.

Enquanto anda e procura, indaga e persegue, recorda o passado...

Lembra a vida à dois; os verdes anos de prosperidade e fortuna como dádivas caídas do firmamento. Que belos e maravilhosos momentos de ternura e enlevo desfrutaram!...

No entanto, o copo do destino transbordou o licor amargo. O céu tingiu-se de nuvens negras e um vendaval inesperado fez-se forte, muito poderoso e intransponível. Suas idéias e ideais, a partir daí, entraram em parafuso, como um avião desgovernado e tudo o que era bom voltou-se, de repente, para o nada. Toda aquela plebe ao seu redor deve estar com razão. Ele é mesmo, sem sombra de dúvidas, um alienado mental. Sente que as pernas bambeiam a carcaça. Em derredor de si, coisas, pessoas, casas...giram, e a medida que entram nesse movimento rotatório, as vistas turvam-se por completo e quedam-se, em seguida, em pesadas brumas de solidão.

Está, pois, tolhido,
indefeso,
vencido...vencido e
sem forças para soerguer o nariz, levantar a moral, dar a volta por cima e berrar. Na verdade, quer gritar que está vivo, carente, dependente do amor dessa deusa que enfeitiçou sua alma e, no final das contas, o abandonou ao grotesco mais iracundo do ridículo.

- Te amo, te amo – grita o pobre infeliz olhando para um pequeno retrato três por quatro. - Te amo, porque tu te escondestes de mim?

Seria esse homem um louco?

Como louco? Se o mísero só quer saber onde está a autora dos seus sonhos?


Fonte:
Para Ler e Pensar.

Lilinha Fernandes (100 Trovas)


1
Do pomar da poesia,
os frutos que você trouxe,
coube à trova a primazia
por ser menor e mais doce.
2
Desejei fogo atear
ao mundo por onde trilho,
vendo uma cega indagar
como era o rosto do filho.
3
Tua ironia maldosa,
do amor não me, apaga o lume:
Procura esmagar a rosa,
vê se não fica o perfume.
4
Feliz nunca fui! Sem crença,
procuro a felicidade,
Como o cego de nascença
que quer ver a claridade.
5
"Que levas tu na mochila?"
Diz ao corcunda um peralta.
E o corcunda: - "A alma tranqüila
e a educação que te falta."
6
Quando tu passas na estrada,
dentro de casa adivinho:
é teu passo uma toada
musicando teu caminho.
7
São meus ouvidos dois ninhos
onde guardo, ao meu sabor,
um bando de passarinhos!
- Tuas mentiras de amor.
8
Na velha igreja te ouço
sino alegre ... Estás dizendo
que há muito coração moço
em peito velho batendo.
9
Eu não bebia... te juro!
Beijei-te, então, podes crer:
foi teu beijo, vinho impuro,
que me ensinou a beber.
10
Se ouvisse o homem da terra,
de Deus o conselho amigo,
em vez de campos de guerra
faria campos de trigo.
11
Velho em trajes de rapaz
dá a impressão, diz o povo,
de um livro antigo demais
encadernado de novo.
12
Que o mundo acabe, no fundo,
não me causa dissabor,
pois vivo fora do mundo,
no meu mundo de amor.
13
Amanhece... Vibra a terra!
O sol que em ouro reluz,
sai da garganta da serra
como uma trova de luz.
14
Vejo teu rosto, formosa,
e o corpo - graça profana -
como se visse lima rosa
num jarro de porcelana.
15
Chorei na infância insofrida
para na roda ir cantar.
Hoje, na roda da vida,
eu canto pra não chorar.
16
No trabalho em que me escudo,
lutando para viver,
tenho tempo para tudo,
menos para te esquecer.
17
O mar que geme e palpita
no seu tormento profundo,
é uma lágrima infinita
que Deus chorou sobre o mundo.
18
Minha netinha embalando,
da alegria sigo os passos.
Julgo-me o Inverno cantando
com a Primavera nos braços.
19
A modéstia não se ostenta,
se esconde e é pressentida:
a presunção se apresenta
e passa despercebida.
20
Dei-te amor sem falsidade.
- Uma floresta de amor!
E tu, só por crueldade,
te fizeste lenhador.
21
Sofres no céu, Mãe querida,
sentindo, ao ver minha sorte,
que me pudeste dar vida
e não me podes dar morte!
22
Minhas netas, sempre rindo,
são meu alegre evangelho.
Musgo verde revestindo
de esperança, um muro velho.
23
A Inveja dorme na rede
da Injustiça, sua amiga;
do Mal se alimenta, e a sede
mata na fonte da Intriga.
24
Sempre a tristeza se espanta
e se amenizam cansaços,
tendo trovas na garganta
e uma viola nos braços.
25
Quem não tem ouro disperso,
nem prata velha na mão,
paga com o níquel do verso
as contas do coração.
26
Partiste ... Ficou-me n'alma
tua voz suave e pura...
- Ave a cantar sobre a calma
da mais triste sepultura.
27
A aurora corou de pejo
naquele claro arrebol,
sentindo na face o beijo
da boca rubra do Sol.
28
Num vôo de pomba mansa,
quisera ir ao céu saber
qual o crime da criança
que é condenada a nascer.
29
Ao amor fiel, que não minta,
a palavra injuriosa
é como um borrão de tinta
manchando tela famosa.
30
É assim a boca do mundo
que vigia nossas portas:
esconde nossos triunfos,
propala nossas derrotas.
31
Se te vais, que dor imensa!
Mas s e vens, meu grande amor,
ante a tua indiferença
cresce mais a minha dor.
32
Que eu tive felicidade,
minha saudade vos diz,
pois só pode ter saudade
quem já foi multo feliz!
33
O tempo passa voando ...
Mentira, posso jurar.
Se estou meu bem esperando,
como ele custa a passar!
34
Amei e não fui amada...
Minha alma encheu-se de dor.
E fui tão desventurada
que não morri desse amor.
35
Como é um facho de luz,
fosse de madeira a trova,
eu mesma faria a cruz
que irá marcar minha cova.
36
A um cego alguém perguntou
vendo-o só: - Que é de teu guia?
E ele sorrindo mostrou
a cruz que ao peito trazia.
37
Abelha que o favo, prova
é o trovador - velho ou novo
fabricando o mel da trova
que adoça a boca do povo.
38
Pra que acender a candeia
da minha choça? Pra quê?
Basta a luz que me incendeia
que há nos olhos de você.
39
A cordilheira hoje à tarde,
de um verde claro e bonito,
era um colar de esmeraldas
no pescoço do infinito.
40
Sua cruz que eu sei pesada,
minha mãe leva sozinha.
Mesmo assim, velha e cansada,
me ajuda a levar a minha.
41
Minhas trovas sem beleza,
se as dizes, são divinais!
Só por isso, com certeza,
elas serão imortais.
42
Que bom quando todos deixam
na casa o silencio agir,
e os dedos do sono fecham
meus olhos, para eu dormir.
43
Por te amar de alma inditosa,
não quero paga nenhuma:
o vento desfolha a rosa,
mesmo assim ela o perfuma
44
Morreu o abade. O terror
do pecado, o clero invade:
era uma trova de amor
o escapulário do abade.
45
Minha casa pobre, é rica!
Mesmo no escuro tem brilhos;
porque o amor a santifica,
porque a iluminam meus filhos.
46
Num beijo fez imortal
o nosso amor sem ressábios:
um romance original
escrito por quatro lábios.
47
A trova é a alma da gente
desventurada ou feliz.
Em quatro versos somente,
quanta coisa a gente diz!
48
Vida e morte vão andando
no mesmo campo a lutar.
A primeira semeando,
para a segunda ceifar.
49
Pra que eu te esqueça, não tenhas
confiança em teu desdém:
quanto mais de mim desdenhas,
quanto mais te quero bem.
50
De idéias velhas ou novas,
eu faço trovas também.
Quem gosta de fazer trovas,
nunca faz mal a ninguém.
51
Não me odeias nem me queres...
Meu Deus! Que tortura imensa!
Mais do que o ódio, as mulheres
detestam a indiferença.
52
Da morta felicidade
guarda a saudade dorida,
pois quem tem uma saudade
tem muita coisa na vida.
53
Não peço um prazer sequer
à vida que à dor se iguala.
Já faz muito se me der
coragem pra suportá-la.
54
Eu canto quando a saudade
me fere com seu desdém.
O canto é a modalidade
mais bela que o pranto tem.
55
A definição exata
do remorso, está patente:
fino punhal que não mata
mas tira a vida da gente.
56
Para rimar com teu nome,
que é do céu a obra-prima,
mãe, não existe um vocábulo!
Nem mesmo Deus achou rima.
57
Saudade é assim como fado
lembrando quem vive ausente:
é um suspiro do passado
na garganta do presente.
58
Meu amor foi acabando ...
Mas a saudade chegou:
chuva boa refrescando
o chão que o sol causticou
59
És de beleza um portento,
no perfil, nas formas puras.
Mas beleza sem talento
é um palácio às escuras.
60
No meu viver triste e escuro,
na minha sede de amar,
és aquele que eu procuro
e não me quer encontrar.
61
Meus filhos! ... Minha alegria!
Dentro da minha pobreza,
nunca pensei ter um dia
tão opulenta riqueza!
62.
Pensei fazer um feitiço
para esquecer-te, mas vi
que de tanto pensar nisso
é que penso mais em ti.
63
Nunca maldigas teu fado.
Confia em Deus, firmemente.
O arvoredo mais copado
já foi humilde semente.
64
Mãe: nem um tálamo nobre
esquecerei, sem mentir,
aquele bercinho pobre
que embalavas pra eu dormir,
65
Todo amante, em sua lida,
o espinho chama de flor,
porque a verdade da vida
é a mentira do amor.
66
Mãe: por mais que um filho aprenda,
sempre esquece que sois vós
a única fonte de renda
que paga imposto por nós.
67
Quem é do dever escravo
e não faz coisas a esmo,
pode dizer que é um bravo
e o próprio rei de si mesmo.
68
Embora em própria defesa,
é réu quem vidas destrói.
Mas na guerra, que tristeza!
quem mata se chama herói.
69
Na tua fronte bendita
dei um beijo, mãe querida!
Foi a trova mais bonita
que já fiz em minha vida.
70
Do nosso amor acabado
não pode esquecer a gente,
porque a saudade é o passado
que nunca sai do presente.
71
Quem vive em casa ou nas ruas,
chagas alheias curando,
nem se apercebe que as suas
foram sozinhas fechando.
72
Felicidade... Sonhá-la
é um mal de fundas raízes.
O desejo de encontrá-la
é que nos faz infelizes.
73
Manhã. O Sol é um botão
de fina prata dourada,
abotoando o roupão
todo azul da madrugada.
74
Esperança, és bandoleira,
mas és também sol doirado,
de luz a única esteira
na cela de um condenado.
75
Há muita gente cativa
neste mundo, como eu,
que vive porque está viva,
no entanto, nunca viveu.
76
Quem - seja nobre ou plebeu -
no Bem sua vida encerra,
sem estar dentro do céu,
está acima da terra.
77
De vergonha não se peja
quem em sua última viagem,
o ódio, o Remorso e a Inveja
não leva em sua bagagem.
78
Cantas! Minha alma te aprova
e eu choro - que coisa louca!
querendo ser uma trova
para andar em tua boca.
79
Lua e Saudade - rendeiras
da dor que com a ausência vem,
se vós não sois brasileiras,
pátria não tendes também.
80
Pra quem é mãe não existe
bem de mais funda raiz,
que o de viver sempre triste,
mas ver seu filho feliz.
81
"A traição é a própria vida."
É a violeta que assim fala,
porque se esconde e é traída
pelo perfume que exala.
82
Chamas-me louca e eu não chamo
infamante a tua boca.
Quem ama como eu te amo
é muito mais do que louca.
83
Para ingratos trabalhando,
de santo prazer me inundo,
pois, perdendo vou ganhando
a maior glória do mundo.
84
O vento que atro zunia,
queria a noite açoitar;
e a noite, calma, dormia
no regaço do luar.
85
O amor que brinca com a sorte,
que é sempre chama incendida,
é o que vai além da morte!
- Não há dois em toda a vida!
86
Procurar-te, eu? que loucura!
Olha, eu te vou confessar:
de mim mesma ando à procura
e não consigo me achar.
87
De Cornélia, as jóias caras,
vêm ao pensamento meu
quando vejo outras mais raras;
as netas que Deus me deu.
88
Esses teus olhos rasgados,
muito azuis, muito leais,
são miosótis deitados
em vasos originais.
89
Podem subir os felizes!
Agarro-me ao solo, em festa.
- Se não fossem as raízes,
que seria da floresta?
90
Do orgulho, conforme vês,
tenho opinião formada:
é a senhora estupidez
com presunção de educada.
91
Pela saudade ferida,
minha musa se renova!
E eu abro o livro da vida
e escrevo nele uma trova.
92
Se o bem não podes fazer,
o mal não faças também,
que o bem já faz sem saber,
quem não faz mal a ninguém.,
93
É a trova, em seu natural,
mordaz, alegre ou dolente,
lindo trecho musical
de quatro notas somente.
94
Do violão o seg redo
de imitar os passarinhos,
é já ter sido arvoredo
e abrigo de muitos ninhos.
95
Dizem que o amor é feitiço,
é mágoa, alegria e dor.
- Mas se amor não fosse isso,
que graça teria o amor?
96
Sem ti, que treva cerrada
pelos caminhos que trilho!
Sou como a Lua apagada
que, sem o Sol, não tem brilho.
97
Morre o poeta. Em oração
se escutam vozes bizarras.
- É a missa que as cigarras
celebram por seu irmão.
98
Se a trova faz suicidas,
não sou eu quem a reprova.
- Vale uma trova mil vidas!
Não vale a vida uma trova!
99
Noel exclamou pesaroso
vendo a cidade: - Jesus!
Quanto cartaz luminoso
e quanto teto sem luz!
100
Quisera, de idéia nova
de teu amor presa aos laços,
fazendo a última trova,
morrer feliz em teus braços.
=================

Fonte:
Luiz Otávio e J.G. de Araujo Jorge . 100 Trovas de Lilinha Fernandes. vol. 2.RJ: Ed. Vecchi, 1959. Coleção Trovadores Brasileiros

Cunha e Silva Filho (Reflexões sobre a Notícia de um Poeta Morto)


Morreste, poeta! Tinhas valor, deixaste obras, traduziste autores célebres. Até escreveste uma obra com título que, aglutinados nos seus elementos léxicos, forma o nome de tua pequena terra natal no interior do Paraná. Uma cidade com pouco mais de cem anos. Cidade acolhedora, muito fria e, às vezes, muito quente.

Te desenraizaste do teu berço natal. Mudaste para a cidade grande, grande e maravilhosa, embora vítima da mais cruel violência de que já se teve notícia ultimamente. Cidade também acolhedora, cálida, de tantos imigrantes que nela se fixaram em definitivo. Quem bebe das suas águas e respira os seus ares, dificilmente regressa ao berço natal. Faz como os saudosistas da poesia galega. Na cidade grande viveste. Pouca gente talvez te conheça – quem, porém, conhece hoje em dia os poetas? -, mas estás citado nas melhores histórias da literatura brasileira. Pela crítica especializada, eras considerado grande poeta.

Na tua terrinha natal, pessoas com certo conhecimento da cidadezinha, do seu povo, da sua história e da sua cultura, te conheciam, mencionavam com respeito teu nome. No ano passado, nesta coluna, fiz uma crônica, na qual mencionei, de passagem, um texto teu que um amigo, já falecido, me presenteara. O texto se encontra numa revista da tua cidadezinha, e fala teoricamente sobre poesia. Texto instigante, onde revelas conhecimento profundo da arte poética e de literatura.

Texto primoroso. Poeta foste por vocação e por conhecimento de causa. Te preparaste e te atualizaste para fazeres poesia.

Como outros grandes poetas brasileiros, não entraste para a Academia Brasileira de Letras. Será que desejavas nela entrar? Não sei, nem me interessa sabe-lo. Não quero me meter nessa seara.
Poeta morto, foste para a morada dos mortos e deixas a “morada do ser” em forma de poesia e de cuidados com a palavra e a cultura literária.

Hoje, no JB, Idéias & Livros, na seção Informe Ideias, sob a rubrica “lágrima”, da coluna do editor Álvaro Costa e Silva, há um breve registro do teu falecimento, mencionando algumas de tuas obras e traduções que realizaste

Conheci tua terra natal. Até lá morei por uns poucos dias. Comprei lá uma casinha que, pouco tempo depois, vendi. Como o teu, o meu destino é a cidade grande.

Que posso fazer por ti? Ora, que pergunta tola me faço agora! A única coisa que posso fazer por ti é ler teus livros, conhecer-te mais pela lado magnífico da Arte Poética. Só esta aproxima os sensíveis, os não-pragmáticos, os que pouco dão importância às glórias fátuas e efêmeras do hedonismo contemporâneo e pressuroso.

Nunca nos vimos nem nos falamos. Oh, cidade grade das distâncias interpessoais! De ti nem conheço a obra toda deixada. Só ti vi numa foto antiga, com alguns traços particulares como um bigodinho, um rosto meio cheio, cabelos lisos penteados para trás.

Li, no entanto, alguns poemas teus, Têm valor. Soube que trabalhaste no comércio, que não te formaste, que também ganhaste, em 1958, o Prêmio Olavo Bilac. Além deste prêmio, ganhaste outros prêmios graças ao valor da tua poesia

Escreveste alguns livros de poesia: Melodias de estio (1952); Iniciação ao sonho (19550; O poder da palavra (1959); Ir a ti (1969); O andarilho e a aurora (1971); Sons de ferraria (1989) Publicaste ainda Pedra de transmutação (1984). Traduziste A feiticiera, de Michelet; O livro dos demônios, de Sinistrati de Ameno, Bucólicas, de Virgílio e Arte de amar, de Ovídio. Na pesquisa sobre a tua produção poética, anotei algumas discrepâncias entre historiadores quanto a datas de publicação das tuas obras.

O nome do poeta, a quem venho me dirigindo até aqui, é Foed Castro Chamma. Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 12 de janeiro de 2010. Nessa cidade morava desde 1941. Nasceu em Irati, Paraná, em 1927. Aos leitores meu convite ao conhecimento da sua poesia.

Fonte:
Entretextos. http://www.portalentretextos.com.br/ 17 de janeiro de 2010.

Foed Castro Chamma (Cristais Poéticos)


SEM TÍTULO

Áries investe para a minha face
mas domino-o com três pedras de sorte,
derramo-lhe nos olhos o rubim
e um signo mais propício me renasce.
Desfaço o que me habita — o secundário ­—
e caminho empunhando o belo facho
de luz que me revela sempre março
aberto para todo itinerário.
Meu é o silêncio, minha a madrugada
e as vozes que se acordam nestes versos
vou tangendo inspirado no precário:
Escutai-me, ó feridos da beleza,
­para salvar-vos tanjo o louro pássaro,
invento em minha boca este canário.

XXV

Exata como o número
a sombra é a medida
a sombra no rigor
do corpo no rigor
da sua geometria.

Solitária à figura,
se estende toda e vai
atrás dos próprios pés
como a correr parada.

É a medida do lápis
na folha do papel,
o fogo liberado
do carvão quando escreve.

Ela é o vácuo e se move ­
no chão, com a constância
de serva presa às pernas
sonâmbulas do amo.

É a réplica ao visível,
claro contra o escuro,
o abismo aberto ao corpo
levantado do muro.

Seu tecido é maleável
e foge à tentativa
de reter-se nos dedos
como a água fugitiva.

A sombra é o silêncio
das coisas transformadas
audíveis é o vazio
na cor manifestado.

Como encadear o ar?
Como encadear o fogo?
Como encadear a água?
Como encadear a sombra?

Os animais se curvam
ao domínio do rei,
assim como as paixões
são as forças sem lei.

Ela é o peso da inércia
disposta em movimento,
a cor negra do abismo,
o retrato do vento.

VESTÍGIOS DE MAGIA

I

Leia os traços cruzados neste rosto
cercado de silêncio: pedra viva
em movimento. A boca cresce esquiva
e ri branca e despida para dentro
no rumo dos seus lábios. São os dentes
a cerca protegida, são a vida
as sombras de cabelo derramadas
pelo corpo calado. Leia os traços
da fala - a mão repele, vibra, grita
no barbante seu nó para outra boca
acesa em pensamento: porta aberta
às grades do sorriso, cerca estreita
ao alcance da reta ameaçada
e o rumor pelo susto sacudido.

II

Este vôo de cor vôo caído,
pano guardado no ar preso por mãos
perdidas de sua forma: vôo ruído,
que traços traz, que letras, que mistura
que nem chega a compor-se nos sentidos?
Atrás desse tremor coloco o ouvido,
atrás do ouvido as mãos, busco a figura
do súcubo no escuro. Qual seu dom?
de assaltar-me e fugir, de ser perdido
acúmulo de sombra, assombração?

Vejo os dedos; agulhas distribuídas,
multiplicam-se quietas, trazem linha
nas unhas - aparecem resguardadas
no enleio derramado dos sorrisos.

III

De que curva das trevas, de que ponta
o negro vôo treme e o ar trespassa
e bate nos sentidos suas asas
para acordar o canto, vil presságio
de sujo enigma, este susto e espanto?
Uma treva sem trégua, uma perdida
face escondida se desprende e foge
atrás de si para encontrar-se ao lado
de quem renega e aceita. Ser sem nome,
cujo dom é nutrir-se de seus passos
como o corvo se nutre com seu vôo
da solidão que o habita, sem receio,
rompe com o bico a negridão e surge
nas páginas abertas deste espaço.

IV

Não é do sono que nasce
nem de obscuras palavras
mas da luz que me ilumina
os braços, olhos e face.

Nasce de estranhos presságios
submersos nos meus sentidos
esta encantação de pássaros
que voam da minha fala.

Nasce talvez dos meus gestos
de recônditos segredos
e são as minhas secretas
alegrias e meus medos.

São meus transes, meus instantes
que me possuem com a beleza
de extrair corpos e plumas
das tábuas da minha mesa.

São minhas múltiplas horas
de alucinados prazeres
em que me assistem transidos
o anoitecer e as auroras.

Ah dom de inventar-me alado
e voar com os meus vocábulos
sem espaços que limitem
meus pés no chão repousados.

O PODER DA PALAVRA

Articular o verbo até medir-lhe o som,
a extensão de suas cordas, suas arestas,
as potências contidas no ritmo
interior
o colorido
seu poder de fuga
e apreensão, seu fogo
e ouro, sua hora
inflamada,
as vibrações diluídas nos dentes,
sua fluida aparência
de poliedro disfarçado,
sua aritmética de pedra
e explosão,
seu trânsito na escala rarefeita
da audiência à voz que o emite,
condensando-o em cargas — símbolos
lançados — dardo

O VERBO

ar ao touro
não a flor para sua fúria
barbante atando os gestos
barro entre pedreiro e muro

liberto
como um risco
no corpo, como um risco
de faca, como um risco
de bala, como um risco
de espelho, como um risco

de ouro
que se queima nas folhas
rubras do fogo
se consome nas dobras
sujas da mente, não crepita
nem freme, sim
acende o grito
da fome

FOGO E OURO

corcel violento com jatos
de cor
sua meta, a linha
do ar
seu pasto

EXERCÍCIO

Despir-se do olhar
como quem se despe
de uma realidade.

Despir-se da fala
como quem se despe
de seus pensamentos.

Despir-se dos gestos
como quem se despe
de sua própria essência.

Ser dentro do vácuo
raro como o íntimo
de qualquer distância.

Como a água despida,
ser raso no leito,
longe como o sono,

Como corpo ou tempo,
formar-se por dentro
de seu próprio espaço.

Tempo ou movimento,
durar existindo
fora de seu trânsito.

Ser imperceptível,
a sombra invadida
pela loura luz

o avesso dos trajes
largos, a medida
exata da ausência,

Tão leve na estrada,
caminhar no rumo
deserto dos passos.

Fio dágua ou linha
agulha molhada
que em si caminha:

Vácuo e plenitude,
ser flecha e ferida
o servo e senhor.

ÁRVORE QUEBRADA

Vinha do tempo o brilho
traçando com seu lastro
rota insuspeitada
da hora, acesa aurora
de pedra, pedra e astro.

Vinha da linha reta
e presa pelos ângulos
era a árvore quadrada
nos limites do triângulo:

ou árvore despida
ou musa, musa oclusa,
era ela com sua boca
exata, séria era
a flor, o vinho, a terra.

Vinha de si nos passos
dobrada — para achar-se
trazia só a face
a senha, era o dia
o guia que a trazia.

AS SOMBRAS CORREM

As sombras correm soltas pela noite
à cata de suas formas apagadas,
tecendo solidões que são abismos,
sinais que são multiplicadas máscaras

de uma face movida pela luz
que desata do feixe o movimento
e se dispersa em fugas para atar-se
à unidade que flui do próprio tempo.

Os cabelos transformam-se em ramagens,
as árvores caminham. As florestas
combatem. Exercita a quadratura
do circulo o artesão moldando a pedra,

polindo arestas, desenhando a fórmula
da sombra em sua ordenação geométrica
como um todo partido que se reúne
pelo esforço que move o vento, a terra.

As águas correm negras, desatadas
das formas, com seus silvos de serpentes
nervosas sobre o leito das estradas,
luzindo a cor sinistra das correntes.

(...)

Sobre a boca formosa adormecida
tímidas aves, asas assustadas
sobrevoavam ligeiras com os bicos
famintos, a procura do arrozal

perdido na quietude da calada
planície verde agora adormecida
pela brisa da morte tal um mar
de pedra a desafiar a clara vida.

O rosto transformara-se em metal
e recusava dar-se ao movimento
dos círculos em vôo a procura
da cantora partida: apenas vinha

com a quietude amarga o frio som
de prata antiga da serena chuva
a derramar-se em finas linhas de água
nas figuras sonâmbulas da rua.

Eu a vi por detrás da clara máscara
armada para a vida com bandeiras
desfraldadas no corpo. A face dura
denunciava a cantora, ave guerreira.

Vi pedrarias na corrente verde
da fala, o brilho de esmeralda ardia
e inundava de líquidas vogais
a sala prisioneira da poesia.

(...)

Eu vi a palavra fora de sua boca
desenrolar o manto da poesia.
O som criava pássaros alegres
que voavam e desapareciam.

O encanto era tal que se perdia
a imagem verdadeira, e vi a palavra
transformar-se de nítido metal
em labareda, em fogo, em sombra alada,

com as asas abertas sobre nós:
o rumor da poesia urdia a voz
e o pássaro incendiava-se na luz
que sua fala espargia (negro sol).
______________________

Fontes:
CHAMMA, Foed Castro. O Poder da Palavra. Rio de Janeiro: Jornal de Poesia, 1959
Jornal de Poesia.