quinta-feira, 22 de julho de 2010

Ialmar Pio Schneider (1942)



Nasceu no município de Sertão, RS, em 26/8/1942.

Residiu por mais de 20 anos em Canoas, e atualmente reside em Porto Alegre.

Poeta, advogado, cronista e bancário aposentado,

Entidades a que pertence:
Casa do Poeta Rio-Grandense,
União Brasileira de Trovadores - Sede de Porto Alegre,
Grêmio Literário Castro Alves,
Agei - Associação Gaúcha dos Escritores Independentes,
Casa do Poeta de Canoas,
entre outras.

Antonio Cândido (Letra e Idéias no Período Colonial) Parte 2



Procurando sintetizar estas condições, poderíamos dizer que as manifestações literárias, ou de tipo literário, se realizaram no Brasil até a segunda metade do século XVIII, sob o signo da religião e da transfiguração.

Aquela foi a grande diretriz ideológica, justificando a conquista, a catequese, a defesa contra o estrangeiro, a própria cultura intelectual. Era idéia e princípio político, era forma de vida e padrão administrativo; não espanta que fosse, igualmente, princípio estético e filosófico. À sua luz se abriga toda a obra de José de Anchieta (1533-1597), desde as admiráveis cartas-relatórios, descrevendo o quadro natural e social em que se travavam as lutas da fé, até os autos didáticos, os cantos piedosos em que as suas verdades eram postas ao alcance do catecúmeno. As crônicas do jesuíta português Simão de Vasconcelos obedecem a um princípio declaradamente religioso, de informar e edificar; mas o mesmo acontece, no fundo, à História do franciscano brasileiro Vicente do Salvador (156?-163?), sob aparência de piedade menos imediata. E até a crônica do militar português Francisco de Brito Freire, tão política, pinta no fundo os progressos da fé, encarnados no guerreiro e administrador que luta contra o protestante flamengo — o que também verificamos no Valeroso Lucideno, de frei Manuel Calado.

Se sairmos dessa literatura histórica, deparamos com a oratória sagrada, seara do maior luso-brasileiro do século, o jesuíta Antônio Vieira (1608-1697). Já aqui a religião-doutrina se mistura indissoluvelmente à religião-símbolo. Estamos em pleno espaço Barroco, e a dialética intelectual esposa as formas, as metáforas, toda a marcha em arabesco da expressão culta. Estamos, além disso, no gênero ideal para o tempo e o meio, em que o falado se ajusta às condições de atraso da colônia, desprovida de prelos, de gazetas, quase de leitores. Nunca o verbal foi tão importante e tão adequado, sendo ao mesmo tempo a via requerida pela propaganda ideológica e o recurso cabível nas condições locais. E nunca outro homem encarnou tão bem este conjunto de circunstâncias, que então cercavam a vida do espírito no Brasil — pois era ao mesmo tempo missionário, político, doutrinador e incomparável artífice da palavra, penetrando com a religião como ponta de lança pelo campo do profano. Seu contemporâneo Gregório de Matos (1633-1696) foi o profano a entrar pela religião adentro com o clamor do pecado, da intemperança, do sarcasmo, nela buscando guia e lenitivo. Ao orador junta-se este poeta repentista e recitador para configurar ao seu modo, e também sob o signo do Barroco, a oralidade característica do tempo, que permaneceu tendência-limite no meio baiano até os nossos dias. Apesar de conhecido sobretudo pelas poesias burlescas, talvez seja nas religiosas que Gregório alcance a expressão mais alta, manifestando a obsessão com a morte, tão própria da sua época, e nele muito pungente, porque vem misturada à exuberância carnal e ao humorismo satírico, desbragados e saudáveis. Nascido na Bahia, amadureceu no Reino e só voltou à pátria na quadra dos quarenta; lá e aqui não parece ter cuidado em imprimir as obras, que se malbarataram nas cópias volantes e no curso deformador da reprodução oral, propiciando a confusão e a deformação que ainda hoje as cercam.

Em torno dessas duas grandes figuras circulam outras, também da Bahia — clérigos e homens de prol, cultores do discurso e da glosa. Mas um apenas dentre eles parece ter-se considerado realmente homem de letras, tendo sido o primeiro brasileiro nato a publicar um livro: Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711). Já aqui não estamos na região elevada em que o estilo culto exprime uma visão da lima e do mundo, emprestando-lhe o seu caprichoso vigor expressivo, listamos, antes, no âmbito do Barroco vazio e malabarístico, contra o qual se erguerão os árcades, e que passou à posteridade como índice pejorativo da época. Botelho de Oliveira é, deste ponto de vista, mais representativo que os outros da média da nossa literatura culta, as mais das vezes apenas alambicada. E nos serve para Introduzir o segundo tema dominante, que se definiu justamente graças ao espírito Barroco.

O espanto ante as novidades da terra levou facilmente à hipérbole. As modas literárias e artísticas, dominantes desde os fins do século XVI, somaram-lhe a agudeza e a busca deliberada da expressão complicada e rica. Em consequência, estendeu-se sobre o Brasil, por quase dois séculos, um manto rutilante que transfigurou a realidade — ampliando, suprimindo, torcendo, requintando. Sobre o traço objetivo e descarnado de certos cronistas atentos ao real — Gabriel Soares, Antonil — brotou uma folhagem até certo ponto redentora, que emprestou à terra bruta estatura de lenda e contornos de maravilha. Lembremos apenas o caso do mundo vegetal, primeiro descrito, depois retocado, finalmente alçado a metáfora. Se em Gabriel Soares de Sousa (1587) o abacaxi é fruta, nas Notícias curiosas e necessárias das cousas do Brasil (1668), de Simão de Vasconcelos, é fruta real, coroada e soberana; e nas Frutas do Brasil (1702), de frei Antônio do Rosário, a alegoria se eleva ao simbolismo moral, pois a regia polpa é doce às línguas sadias, mas mortifica as machucadas — isto é, galardoa a virtude e castiga o pecado. Por isto, o arguto franciscano constrói à sua roda um complicado edifício alegórico, nela encarnando os diferentes elementos do rosário. Nesta fruta, americana entre todas, compendiou-se a transfiguração da realidade pelo Barroco e a visão religiosa. Em Botelho de Oliveira, Rocha Pita, Itaparica, Durão, São Carlos, Porto-Alegre, ela e outras do seu séquito conduzem, até o cerne do século XIX, a própria idéia de mudança da sensibilidade européia nas condições do Novo Mundo.

A historiografia barroca estendeu o processo a toda a realidade, natural e humana, e os esforços de pesquisa documentária promovidos pelas Academias (dos Esquecidos, 1724-1726; dos Renascidos, 1759-1760) só deixam de ser listas neutras de bispos e governadores quando os seus dados se organizam num sistema nativista de interpretação religiosa e de metáfora transfiguradora. É o caso, sobretudo, da História da América portuguesa, de Sebastião da Rocha Pita (1660-1738), onde o Brasil se desdobra como um portento de glórias nos três reinos da natureza, enquadrando a glória do homem, — que converte o gentio, expulsa o herege e recebe como salário as dádivas vegetais e minerais, a cana e o ouro.

Não suprimindo, mas envolvendo e completando o conhecimento objetivo da realidade, a visão ideológica e estética da colônia se fixa de preferência na apoteose da realidade e no destino do europeu, do pecador resgatado pela conquista e premiado com os bens da terra, quando não redimido pela morte justa. Isto mostra como o verbo literário foi aqui — ajudado e enformado pela mão do Barroco — sobretudo instrumento de doutrina e composição transfiguradora. Alegoria do mundo e dos fatos; drama interior da carne e do espírito; concepção teológica da existência. Rocha Pita, Gregório de Matos, Antônio Vieira encarnam as vigas mestras do ajustamento do verbo ocidental à paisagem moral e natural do Brasil.

Fonte:
CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. 9. ed. RJ: Ouro Sobre Azul, 2006.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Vicência Jaguaribe (Com Gosto de Massa de Bolo Crua)


Aqueles, talvez, fossem os últimos dias da avó. Embora continuasse lúcida, os órgãos vitais já davam sinal de falência. Quase não se alimentava mais, e o coração estava muito fraco.

A moça se aproximou da cama que a avó ocupara depois de muita resistência. Durante os anos de prostração, ela negara-se a abandonar a rede. A neta entendera que chegara o fim quando a velha concordara em ir para a cama. Com cara de poucos amigos, mas concordara. Ela aproximou-se, mas não ficou dentro do campo de visão da doente.

- Quem está aí? – perguntou a avó, descerrando os olhos.

Aqueles olhos, até bem pouco tempo, falavam uma linguagem que toda a família e todos os amigos entendiam. Eles, sozinhos, sem a ajuda da fala, dos gestos, ou de qualquer outro recurso, davam ordem, mandavam e desmandavam. Bastava um olhar da dona Olívia para que todo mundo assumisse a postura que ela exigia. Agora, porém, pareciam ter perdido a força e o brilho.

- Sou eu, vovó, a Maria Helena.

- Venha cá. Chegue mais perto.

**********

- Venha cá. Chegue mais perto.

A menina aproximou-se da avó. A velha terminara de pôr a massa do bolo na forma e tinha os dedos sujos da mistura que a neta adorava. Se deixassem, comeria toda aquela massa, crua mesmo. Mas os adultos a afastavam, falando em dor de barriga. A avó, no entanto, quando terminava aquela operação, deixava que ela chupasse seus dedos sujos da massa.

Naquele dia, depois que limpou toda a massa dos dedos da avó, a menina ficou parada vendo-a dirigir-se ao quintal, onde o pai mandara construir um forno a lenha. Observando aquela avó, mãe de sua mãe, ela pensou na outra avó, a mãe de seu pai. Tão diferentes as duas! Ela não sabia exatamente o que sentia por aquela mulher forte e decidida, que não dispensava muita atenção a crianças, mas que a deixava limpar seus dedos sujos de massa de bolo.

Mas de uma coisa ela sabia, embora não entendesse muito bem por que tinha aqueles sentimentos: o que ela sentia por esta avó era algo diferente do que sentia pela outra avó. Da outra ela tinha pena. Tinha sempre vontade de protegê-la. Aquela avó não estava preparada para enfrentar o mundo. Não sabia impor sua vontade. Não era dona de sua própria casa. Da outra – a que lhe dera os dedos sujos da massa do bolo para que ela os chupasse feito um bebê sugando o leite do peito da mãe – dessa, ela tinha medo, mas era um medo misturado com admiração. Admirava suas atitudes decididas, seu porte ereto, seu ar de quem não temia nem gente nem bicho; sua franqueza, que chegava a ultrapassar os limites da conveniência. Perto dela, sentia-se protegida, embora a temesse.

Gostava de ouvi-la assoviando, com o bico afinado, suas músicas favoritas – “Lua Branca”, por exemplo. A outra avó, não, achava que assovio não era para mulheres. E brigava quando ouvia as netas tentando imitar esta avó.

Ela deixara a cidadezinha onde a menina morava com os pais, e fora para a capital. Só voltava em ocasiões especiais. Morava com uma filha que enviuvara com sete filhos pequenos. Mas não vendera o casarão onde morara e onde criara os filhos. Não o vendera nem o alugara. Quando os netos tivessem discernimento suficiente, voltaria para o interior, onde pretendia viver até a morte – visita que ela não esperava com muita tranquilidade. Nada de sorrir-lhe, nada de pôr a mesa, nada de lavrar o campo, de limpar a casa. Nada de colocar cada coisa em seu lugar. E, principalmente, nada de cumprimentos. Se tivesse condições, fecharia a porta para que ela não entrasse.

Era também muito controlada em relação a dinheiro. A menina não se lembrava de haver recebido um presente de suas mãos. Presente, para ela, era o mesmo que esbanjar dinheiro. Os presentes que ela dava aos filhos, aos netos, à família, de maneira geral, eram sempre em forma de serviço, em forma de socorro na hora das necessidades.

**********

- Helena Maria, você não ouviu? Chegue mais perto.

Aquela ordem arrancou a menina do mundo da infância, ainda degustando a massa de bolo crua. Ela puxou uma cadeira e sentou-se em uma posição que permitia à avó ver-lhe o rosto. A claridade que penetrava pela porta aberta dava condições a que a moça distinguisse com perfeição os traços fisionômicos da avó. Ou era somente a recordação do que ela fora? O rosto quadrado, com feições bem marcadas. Os lábios finos, contrastando com o nariz meio grosso – que a mãe da menina herdara. Os olhos castanhos e firmes, as maçãs do rosto, salientes. E a testa alta, de onde saíam os poucos cabelos claros e muito finos, que ela usava presos dos lados por grampos. Como estava magrinha! Fora uma mulher forte, com curvas bem acentuadas. Agora, aquele corpo parecia, antes, o de uma criança. Perdera as formas exuberantes, que deixara como herança para as filhas e as netas.

- Pronto, vovó, estou aqui.

- Vá à sala de jantar, abra a cristaleira e me traga aquele aparelho de porcelana verde. Aquele pequeno serviço de chá. Aquele que você sempre cobiçou.

- Não, vovó, eu não o cobiçava. Achava-o bonito. Admirava-o. É diferente.

A velha quis replicar e tentou abrir um sorriso, que acabou em esgar.

- Vá! Não perca tempo.

A moça trouxe as delicadas peças e espalhou-as na cama, de modo que a avó pudesse tocá-las. Mas a velha não perdeu tempo com sentimentalismo.

- Leve-o. É seu.

- Mas, vovó...

- Não diga nada. Só você gosta dessas antiguidades, que seus irmãos e primos chamam velharia. Agora vá. Deus a abençoe.

Ao cair da noite daquele dia, a velha se viu obrigada a abrir a porta para a indesejada das gentes, em uma cena da qual ela nunca quis admitir que um dia seria protagonista.

A neta, a cada vez que conciliava o sono naquela noite, sonhava com a avó batendo bolo. E, em todas as vezes em que sonhou, acordou com o gosto de massa de bolo crua na boca.

Fonte:
Colaboração da Autora
Imagem = http://www.rainhasdolar.com.br/

terça-feira, 20 de julho de 2010

Constelação de Trovas II

PARANÁ  Mesmo soltas e espalhadas, as pétalas são formosas; porém somente abraçadas é que elas se tornam rosas! A. A. DE ASSIS – PR Se todos, sinceramente, mostrarem paz e labor, nós teremos, brevemente, menos ódio, mais amor! ARLENE LIMA - PR Quero ser sempre a criança com desejo de estudar, curiosa e na esperança de nunca me completar... DINAIR LEITE - PR Quem tem sonhos hoje em dia Nunca perca a esperança Diz velha sabedoria Quem espera sempre alcança. JOSÉ FELDMAN – PR Do livro da tua vida, sou página, enfim, virada; tornei-me cena esquecida, por tudo, só tive o nada. LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE – PR Quem diz que eu olho e não vejo a lágrima em seu olhar não merece mais meu beijo, pois sofro a me controlar. NEI GARCEZ - PR No rosto, um leve sorriso disfarça a dor da saudade... - Há vezes em que é preciso fingir a felicidade. OLGA AGULHON – PR Se a vida te desafia qual gigante Adamastor, desperta, na travessia teu gigante interior. ROSA DE OLIVEIRA - PR Juraste-me ser fiel, mas do nosso amor, contudo, hoje resta o velho anel num estojo de veludo. VANDA ALVES DA SILVA - PR Num dos lances mais astutos que a vida tem-me inspirado, eu mostro os olhos enxutos, e escondo o lenço molhado. VANDA FAGUNDES QUEIROZ - PR Sou mulher, luto, decido, sei de cor muitos poemas, mas com seu beijo atrevido, esqueço até dos problemas! VÂNIA MARIA SOUZA ENNES - PR Na vida, essa pauta imensa, por direito ou por dever, a gente escolhe a sentença e a cumpre, sem perceber. WANDIRA F. QUEIROZ – PR MINAS GERAIS A bondade é um sábio meio de ajudar-se e de ajudar: -- quem enxuga o pranto alheio não tem tempo de chorar! ALFREDO DE CASTRO - MG “Eu te amo” – a frase bendita não veio...e o orgulho forte fez da sentença não dita minha sentença de morte! ARLINDO TADEU HAGEN - MG As almas de muita gente São como o rio profundo: -A face tão transparente, E quanto lodo no fundo!... BELMIRO BRAGA - MG As flores do seu jardim os versos de sua história trouxeram também pra mim uma canção pra memória. DÁGMA VERÔNICA -MG Meu barracão na favela, Onde vou vivendo ao léu, Na moldura da janela, Não tem vidraça: -Tem céu! JOSÉ ANTONIO JACOB - MG Cometi, não por vingança, um crime que foi surpresa: matei a tua lembrança, em legítima defesa! JOSÉ FABIANO –MG Mãe,tuas simples sentenças, em minha infância enraizadas, ainda norteam crenças e escolhas de encruzilhadas. WANDA DE PAULA MOURTHÉ-MG SÃO PAULO Meus pequenos descendentes, podendo ajudar, ajudo. Protejo e rego as sementes, que o berço é berço de tudo. ALBA CHRISTINA-SP Faltar um pouco à verdade por questão de educação, diga com sinceridade, merece ou não o perdão? AMILTON MACIEL MONTEIRO-SP Tal e qual meu pé de rosa, que ao ser podado floresce, esta saudade teimosa, quanto mais podo, mais cresce!... CAROLINA RAMOS - SP Nos laços presos às tranças da cigana envelhecida entrelaçam-se lembranças das tranças todas da vida... DIVENEI BOSELI - SP Tricotando o casaquinho, à espera de ser vovó, teço ternura e carinho nos pontos em cada nó! DOMITILA BORGES BELTRAME-SP Sabedoria há de sobra para deixar de te amar, mas, se o coração me cobra, eu não consigo pagar... IZO GOLDMAN - SP Baú velho, tampo torto, cartas e fotos mofando... -Refúgio de um sonho morto que eu vivo ressuscitando!... JOSÉ OUVERNEY - SP Qual um Sol assim já posto, totalmente num ocaso, meu coração por desgosto chorou nosso fim de caso. MIFORI-SP Toda a noite, quando saio, vendo o céu luminescente, sinto a paz que é como um raio de luar dentro da gente. MYRTHES MAZZA MASIERO-SP Persiste, mas por maldade, a tua luz não tem fim: -Brilha o luar da saudade no céu que há dentro de mim! PEDRO MELLO-SP Se o erro ficou distante, seja pleno o teu perdão: não se cobra ao diamante seu passado de carvão! PEDRO ORNELLAS - SP Não busco outras alianças, nem procuro um novo afeto: em tua ausência, as lembranças me povoam por completo... RENATA PACOLLA-SP Que tu sejas, nos teus brios, quando buscares a glória, altivo nos desafios, mas humilde na vitória! SELMA PATTI SPINELLI-SP A humildade se ilude, quando a justiça que faz: - Prega na cruz a virtude e liberta... Barrabás!... SÉRGIO FERREIRA DA SILVA-SP RIO DE JANEIRO Eu canto triste no canto saudades do teu amor, porém se ouvires meu canto, peço graças ao Senhor. AGOSTINHO RODRIGUES CAMPOS-RJ Namorei por toda a vida todos os sonhos que sonhei, até meus sonhos perdidos confesso que namorei! ANTONIO MANUEL ABREU SARDENBERG – RJ Todo amor nos eterniza, pois toda morte perece e todo tempo agoniza aonde a paixão floresce. CARLOS AUGUSTO ALENCAR-RJ Nosso amor, mais que sagrado, tem brasa que o fogo atiça: -É um feitiço do passado que, até hoje, me enfeitiça! CLENIR NEVES RIBEIRO – RJ Quem por cigarros se entrega às mãos do vício, sem medos, não percebe que carrega a morte acesa entre os dedos... EDMAR JAPIASSÚ MAIA -RJ Por um capricho da sorte, por uma estranha tortura, o amor que me leva à morte é o que me dá mais ventura! ELIZABETH S. CRUZ - RJ Nosso amor, que coisa estranha: conflitos... poucos assuntos... Ficamos “de mal...” no entanto queremos sempre estar juntos. GILVAN CARNEIRO DA SILVA – RJ Para uma vida melhor, nada mais se faz preciso: Pedir ao Senhor-Maior sabedoria e... juízo! HERMOCLYDES S. FRANCO-RJ Esta é uma vida engraçada e até parece pilhéria, uns com a sorte sonhada, outros, apenas, miséria! JOSÉ F. SALLES –RJ Saudade, quase se explica Nesta trova que te dou: Saudade é tudo que fica Daquilo que não ficou. LUIZ OTÁVIO - RJ O primeiro e grande amor é o doce amor de Jesus, que, salvando o pecador, morreu pregado na cruz. NEIVA FERNANDES - RJ Se foi presságio, não sei; mas eu senti, na partida, que aquele adeus que eu te dei dava adeus à nossa vida... OTÁVIO VENTURELLI-RJ Em teu silêncio, bem sei, um conselho me enviaste... Foi quando te perguntei se me amavas... E calaste! RENATO ALVES -RJ Hoje, nós, os pecadores, oramos por salvação a quem só pagou com dores para ganharmos perdão. ROBERTO PINHEIRO ACRUCHE - RJ É emoção que só conhece, numa corrente do bem, quem junta as mãos numa prece para pedir por alguém! RODOLPHO ABBUD - RJ Devotamento no lar prova a presença do amor, dando exemplo singular de família de valor. RUTH FARAH NACIF-RJ Se o meu silêncio diz tudo que a minha boca não diz, o amor no peito é escudo que me faz viver feliz! WALTER SIQUEIRA-CAMPOS-RJ RIO GRANDE DO NORTE Quando o poeta se extasia, nas asas, da inspiração, faz do sonho, a poesia, põe no verso, o coração. FABIANO WANDERLEY-RN Entre as mãos, o lenhador, tem o machado que corta, e o seu cabo, que a rigor, é de outra árvore já morta! FRANCISCO NEVES MACEDO-RN Versos soltos ou fragmentos são as trovas que componho, que amenizam meus tormentos e dão mais vida ao meu sonho! JOAMIR MEDEIROS-RN A vida e o sonho, querida, são graças que Deus nos deu: quem não ama não tem vida, quem não sonha, já morreu! JOSÉ LUCAS DE BARROS - RN Eu sempre quis numa trova, provar tudo quanto fiz. Mas nunca passei na prova, nem fiz a trova que quis. PROFESSOR GARCIA - RN CEARÁ Para exaltar a beleza, notória num puro amor, é necessário pureza, ter alma de trovador. ANA MARIA NASCIMENTO-CE Mesmo que a lembrança marque de um certo modo cruel, aos domingos vou ao parque dar voltas no carrossel. FRANCISCO JOSÉ PESSOA-CE Já não adianta insistir, pedindo para te amar, eu já cansei de pedir tu não cansas de negar. GERALDO AMANCIO PEREIRA - CE SANTA CATARINA A Poesia nasce na alma, transmite amor e amizade, beleza, ternura e calma, é a própria felicidade! GISLAINE CANALES - SC RIO GRANDE DO SUL Pelos caminhos sem fim, que a vida me fez trilhar, fiquei perdida de mim, sem conseguir me encontrar! DELCY CANALLES-RS PARÁ Seja na paz ou na guerra, quer na alegria ou na dor, o maior poder da terra tem quatro letras: Amor! ANTÔNIO JURACI SIQUEIRA-PA Ó Senhor, com o teu poder, deixa na praia eu sonhar, pois as ondas irão ver que eu também pertenço ao mar! SARAH RODRIGUES - PR BAHIA Principalmente no amor deve haver devotamento, sem o qual pode haver dor e até mesmo esquecimento. RAYMUNDO SALLES BRASIL-BA PERNAMBUCO Soprei. Apagou-se a chama. Disse-te adeus em seguida. -Quem diz adeus a quem ama diz adeus à própria vida! OLEGÁRIO MARIANO - PE MARANHÃO Mãos que imploram, na pobreza; mãos que assistem seus irmãos. – Quanto amor, quanta beleza, há no encontro dessas mãos! ORLANDO BRITO – MA PORTUGAL Pelas procelas da vida passei tanto vendaval... A cada onda vencida nela afundei o meu mal! MARIA JOSÉ FRAQUEZA – PORTUGAL

Antonio Cândido (Letra e Idéias no Período Colonial) Parte 1


(exposição didática)

Os primeiros estudiosos da nossa literatura, no tempo do Romantismo, se preocuparam em determinar como ela surgiu aqui, já que o relativismo então reinante ensinara que as instituições da cultura radicam nas condições do meio, variando segundo elas. E como a época era de exigente nacionalismo, consideravam que lutara dois séculos para se formar, a partir do nada, como expressão de uma realidade local própria, descobrindo aos poucos o verdadeiro caminho, isto é, a descrição dos elementos diferenciais, notadamente a natureza e o índio. Um expositor radical desta corrente, Joaquim Norberto, chegou a imaginar a existência de uma literatura indígena, autenticamente nossa, que, a não ter sido sufocada maliciosamente pelo colonizador, teria desempenhado o papel formador que coube à portuguesa…

Daí, a concepção passou à crítica naturalista, e dela aos nossos dias, levando a conceber a literatura como processo retilíneo de a brasileiramente), por descoberta da realidade da terra ou recuperação de uma posição idealmente pré-portuguesa, quando não antiportuguesa. Resultaria uma espécie de espectrograma em que a mesma cor fosse passando das tonalidades esmaecidas para as mais densamente carregadas, até o nacionalismo triunfal dos indianistas românticos.

Este ponto de vista é historicamente compreensível como elemento de tomada de consciência da jovem nação, tanto mais quanto os letrados brasileiros, a certa altura do século XVIII, passaram conscientemente a querer fundar ou criar uma literatura nossa, embora sem as aspirações separatistas que os românticos teriam mais tarde. O ponto de vista moderno tenderia mais ao deles, pois o que realmente interessa é investigar como se formou aqui uma literatura, concebida menos como apoteose de cambucás e morubixabas, de sertanejos e cachoeiras, do que como manifestação dos grandes problemas do homem do Ocidente nas novas condições de existência. Do ponto de vista histórico, interessa averiguar como se manifestou uma literatura enquanto sistema orgânico, articulado, de escritores, obras e leitores ou auditores, reciprocamente atuantes, dando lugar ao fenômeno capital de formação de uma tradição literária.

Sob este aspecto, notamos, no processo formativo, dois blocos diferentes: um, constituído por manifestações literárias ainda não inteiramente articuladas; outro, em que se esboça e depois se afirma esta articulação. O primeiro compreende sobretudo os escritores de diretriz cultista, ou conceptista, presentes na Bahia, de meados do século XVII a meados do século XVIII; o segundo, os escritores neo-clássicos Ou arcádicos, os publicistas liberais, os próprios românticos, porventura até o terceiro quartel do século XIX. Só então se pode considerar formada a nossa literatura, como sistema orgânico que funciona e é capaz de dar lugar a uma vida literária regular, servindo de base a obras ao mesmo tempo universais e locais.

Historicamente considerado, o problema da ocorrência de uma literatura no Brasil se apresenta ligado de modo indissolúvel ao do ajustamento de uma tradição literária já provada há séculos — a portuguesa — às novas condições de vida no trópico. Os homens que escrevem aqui durante todo o período colonial são, ou formados em Portugal, ou formados à portuguesa, iniciando-se no uso de instrumentos expressivos conforme os moldes da mãe-pátria. A sua atividade intelectual ou se destina a um público português, quando desinteressada, ou é ditada por necessidades práticas (administrativas, religiosas etc). É preciso chegar ao século XIX para encontrar os primeiros escritores formados aqui e destinando a sua obra ao magro público local.

Por isso, não se deve perder de vista duas circunstâncias capitais: o imediatismo das intenções e a exiguidade dos públicos, que produziram algumas importantes consequências. Assim, ou a obra se confundia à atividade prática, como elemento dela (sermão, relatório, polêmica, catequese), ou se fechava na fronteira de pequenos grupos letrados, socialmente ligados às classes dominantes, com a tendência consequente ao requinte formal. Num caso e noutro pesava a composição da obra o destino que ela teria. O auditório de igreja, os convivas de sarau seriam os públicos mais à mão; o curso oral, à boca pequena, o meio principal de divulgar. Também a obra exclusivamente escrita pouco se aparta da intenção e pontos de vista práticos, na medida em que é crônica, informação, divulgação.

Estas considerações sugerem alguns dos modos por que se teria processado o ajuste entre a tradição européia e os estímulos locais, faltando mencionar que os padrões estéticos do momento — os do atualmente chamado Barroco — atuaram como ingrediente decisivo.

Fonte:
CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. 9. ed. RJ: Ouro Sobre Azul, 2006.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Antonio Cândido (O Escritor e o Público) - Parte Final



As considerações anteriores procuram apontar algumas condições da produção da literatura no Brasil, quase até os nossos dias, do ponto de vista das relações do escritor com o público e dos valores de comunicação.

Na primeira metade do século XX houve alterações importantes no panorama traçado, principalmente a ampliação relativa dos públicos, o desenvolvimento da indústria editorial, o aumento das possibilidades de remuneração específica. Em consequência, houve certa desoficialização da literatura, que havia atingido nos dois primeiros decênios extremos verdadeiramente lamentáveis de dependência ideológica, tornando-se praticamente complemento da vida mundana e de banais padrões acadêmicos. A partir de 1922 o escritor desafogou; e embora arriscando a posição tradicionalmente definida de "ornamento da sociedade" e as consequentes retribuições, pôde definir um papel mais liberto, mesmo não se afastando na maioria dos casos do esquema traçado anteriormente — de participação na vida e aspiração nacionais. A diferenciação dos públicos, alguns dos quais melhor aparelhados para a vida literária, permitiu maiores aventuras intelectuais e a produção de obras marcadas por visível inconformismo, como se viu nas de alguns modernistas e pós-modernistas. Convém mencionar que as elites mais refinadas do segundo quartel do século XX não coincidiram sempre, felizmente, a partir de então, com as elites administrativas e mundanas, permitindo assim às letras ressonância mais viva.

Se considerarmos o panorama atual, talvez notemos duas tendências principais no que se refere à posição social do escritor. (O "atual" deste escrito é o ano de 1955, quando foi publicado) De um lado, a profissionalização acentua as características tradicionais ligadas à participação na vida social e à acessibilidade da forma; de outro, porventura como reação, a diferenciação de elites exigentes acentua as qualidades até aqui recessivas de refinamento, e o escritor procura sublinhar as suas virtudes de ser excepcional. Há, portanto, uma dissociação do panorama anterior, que lhe dá maior riqueza e, afinal, um contraponto mais vivo. Ao contrário do que se tinha verificado até então, quase sem exceções (pois a supervisão dos grupos dominantes incorporava e amainava imediatamente as inovações e os inovadores), assistiu-se entre nós ao esboço de uma vanguarda literária mais ou menos dinâmica.

É preciso agora mencionar, como circunstância sugestiva, a continuidade da "tradição de auditório", que tende a mantê-la nos caminhos tradicionais da facilidade e da comunicabilidade imediata, de literatura que tem muitas características de produção falada para ser ouvida. Daí a voga da oratória, da melodia verbal, da imagem colorida. Em nossos dias, quando as mudanças assinaladas indicavam um possível enriquecimento da leitura e da escrita feita para ser lida, — como é a de Machado de Assis, — outras mudanças no campo tecnológico e político vieram trazer elementos contrários a isto. O rádio, por exemplo, reinstalou a literatura oral, e a melhoria eventual dos programas pode alargar perspectivas neste sentido. A ascensão das massas trabalhadoras propiciou, de outro lado, não apenas maior envergadura coletiva à oratória, mas um sentimento de missão social nos romancistas, poetas e ensaístas, que não raro escrevem como quem fala para convencer ou comover.
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Próximo Tópico = Letras e Idéias no Período Colonial
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Fonte:
CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. 9. ed. RJ: Ouro Sobre Azul, 2006.

domingo, 18 de julho de 2010

Dinair Leite (Homenagem aos Irmaõs Trovadores)


Trovador e passarinho,
dois arautos da poesia:
Se perdem amor ou ninho
gorjeiam dor...todavia.

Trovador quando ama a rosa
respeitando seus espinhos,
da flor carinho ele goza
perfumando seus caminhos.

Trovador por ironia,
quando a trova terminou,
da pena viu que escorria
pranto que a trova borrou.
Dinair Leite (Paranavaí/PR)

Não pode haver criação literária mais popular e que mais fale diretamente ao coração do povo do que a trova. É através dela que o povo toma contato com a poesia e por isto mesmo a trova e o trovador são imortais. (Jorge Amado)

Nilton Manoel (Parabéns, Trovador)

Nilton Manoel é de Ribeirão Preto/SP

Ialmar Pio Schneider (Homenagem ao Dia do Trovador)


Seresteiro e trovador
ambos têm equivalência:
porque os dois fazem do amor
o motivo da existência.

O poeta é um visionário,
mas quanta verdade encerra;
mesmo sendo um solitário
ele abrange toda a Terra...

Na cadência de uma trova
vou embalar meu desejo.
Minha vida se renova
quando te abraço e te beijo.

As trovas que a gente escreve,
mesmo que sejam banais,
é um pouco da vida breve
que não volta nunca mais...

Tem trovas que a gente diz,
tem outras que a gente lê,
e pra mim a mais feliz
é a que fala de você...

Fonte:
http://ialmarpioschneider.blogspot.com/

Pedro Viana Filho (O Trovador)

Imagem = Professor Mario Fernando de Mori

sábado, 17 de julho de 2010

18 de Julho - Dia do Trovador

O dia 18 de julho é considerado em todo o território nacional, o Dia do Trovador, por ser a data de nascimento de Luiz Otávio, fundador e presidente perpétuo da União Brasileira de Trovadores. Luiz Otávio era o pseudônimo usado por Gilson de Castro, cirurgião dentista nascido no Rio de Janeiro em 1916 e falecido em Santos em 1977. Foi ele, na década de cinqüenta que deu um grande impulso à trova, divulgando-a, maciçamente, no rádio, nas revistas e nos jornais, culminando com o lançamento do livro "Meus Irmãos, os Trovadores", em 1956. Este livro que reuniu 2.000 trovas de autores diversos pode ser considerado como marco inicial do movimento dos atuais trovadores. Em 1960, contando com a colaboração de J. G. de Araújo Jorge, Luiz Otávio lançou os I Jogos Florais de Nova Friburgo, iniciativa que se espalhou por todo o território brasileiro e ainda hoje e a principal forma de divulgação da trova no Brasil. Com os Jogos Florais multiplicaram-se os trovadores a tal ponto que para melhor congrega-los foi fundada em 1966 a União Brasileira de Trovadores. E é desta UBT que partem as principais comemorações do 18 de julho. Praticamente todas as seções e delegacias criam formas para tais celebrações como reuniões festivas, palestras, almoços ou jantares de confraternização, lançamento de livros, concursos de trovas, etc. O dia 18 de julho se transformou, por força de lei, no Dia do Trovador em dezenas de municípios por todo o Brasil e em alguns estados da federação.
 A Trova não morre nunca, Retempera a humanidade E vence a tristeza adunca, Alegrando a mocidade! Apollo Taborda França A trova é gota de pranto que cai dos olhos de alguém e por alguém chorou tanto que nem mais lágrima tem. Antonio Salomão Sete sílabas por cima Com idéia sempre nova, E cadência, boa rima, Numa quadra… a bela Trova! Apollo Taborda França A trova pra ser bonita tal qual filhinha dileta: traz sempre o laço de fita da inspiração do poeta! Joaquim Carvalho Sou trovador, tenho senso Da importância da poesia: Encerra tudo o que penso, Realidade e fantasia! Apollo Taborda França Há trovas que o vento leva; outras, o vento desfaz… Mas, as minhas, sem reserva são trovas que o vento traz. Maria Nicolas Uma Trova pra ser boa, Expressiva, universal, Na mensagem apregoa A cultura e a moral! Apollo Taborda França Dia dezoito de julho, é dia do trovador. Eu faço trovas - me orgulho, pois as faço com amor. HLuna Canta, canta, trovador e promove a festança, convidando com amor todo mundo para a dança. Ana Maria Gazzaneo E desse dia festivo eu venho participar, pois das trovas sou cativo: não sei ficar sem trovar. Mário Roberto Guimarães Da poesia fiz meu canto, do meu canto a alegria! Fiz meus versos com amor, a canção do trovador. Maurélio Machado Trova é cantiga bonita, nascida do coração! Dessa inspiração bendita vertida em linda canção. Zélia Nicolodi A minha vida é uma Trova, trova de ilusão perdida, pois a vida é grande prova, que prova a Trova da vida! Gislaine Canalles Trovador, qual o motivo desse teu mundo risonho? O segredo é porque vivo envolvido no meu sonho! Pedro Viana Filho Nesta casa tão singela Onde mora um Trovador É a mulher que manda nela Porém nos dois manda o amor. Clério José Borges Ó linda trova perfeita, que nos dá tanto prazer, tão fácil, - depois de feita, tão difícil de fazer.” Adelmar Tavares "A trova tomou-me inteiro! tão amada e repetida, agora traça o roteiro das horas de minha vida." Luiz Otávio No simples fazer da trova A Poesia tem valor. E o poeta tem a prova Que, se trova, é por amor! Luiz Carlos Lemos "Trovador, grande que seja, tem esta mágoa a esconder: a trova que mais deseja jamais consegue escrever ... “ Luiz Otavio Quando nasce a boa trova O coração está cheio Do amor que sempre renova O homem, para o seu meio!... Luiz Carlos Lemos Por estar na solidão, tu de mim não tenhas dó. Co trovas no coração, eu nunca me sinto só.” Luiz Otavio Trovando, deixa pegadas Que outros podem seguir. Porque as pedras, paradas, Não têm razão pra sorrir! Luiz Carlos Lemos "Pelo tamanho não deves medir valor de ninguém. Sendo quatro versos breves como a trova nos faz bem. Luiz Otávio É dia do trovador, sonhando a sua dama. Faz poesia e amor, rosa vermelha lhe chama… António Zumaia Tão simples, as trovas são cantigas com que a alma expande tudo que há no coração do poeta - um menino grande. J. G. de Araújo Jorge Tudo é trova: a flor, a onda, a nuvem, que passa ao léo... E a lua... trova redonda que a noite canta no céu! J. G. de Araújo Jorge Cartilhas do coração, onde o povo se inicia, os livros de trovas são um ABC de poesia! J. G. de Araújo Jorge A trova, conta de um canto, poça d'água sobre o chão - tão pequenina, e entretanto, reflete toda a amplidão! J. G. de Araújo Jorge A trova é como uma conta de um rosário multicor, é a cantiga que desponta do peito de um trovador. J. G. de Araújo Jorge Pequeninas e redondas as trovas são contas, são como as cantigas das ondas que se espraiam no coração. J. G. de Araújo Jorge Uma quadrinha é uma cova, onde a poesia é uma flor, por isso é que numa trova vou sepultar este amor. J. G. de Araújo Jorge Quis tornar-me um trovador para dizer que ela é minha, mas tudo em vão, meu amor não coube numa quadrinha. J. G. de Araújo Jorge

Nany Schneider (Poemas Avulsos)


EMBALOS DE LUZ

Sem ao menos esperar,
Puxa-me pela mão e enlaça nossos corpos,
Para que juntos possamos sentir a harmonia,
Daquele som que inebria.

Pela madrugada escura, brilha a luz desses momentos.
Pois deles sempre renasce, a sensação violenta do amor.
Dançando sobre o tapete, pés descalços, só o toque.
Sentindo mais e mais a proximidade que nos envolve.

Essa é a dança da luz, luz que vem do coração.
Só a música quebra o silêncio, dos beijos apaixonados.
Dança da luz, onde estrelas descem para acompanhar,
A pureza de sentimentos, da beleza desse par.

Luz que dança a nossa volta,
Luz que está dentro de nós.
Luz que embala nossos passos,
Nesta dança que me faz tão sua em seus braços.

REI DO NADA

Se a dor que hoje causas,
Faz bem à tua alma perversa...
Alegra-te !!
Se as lágrimas que fazes correr,
Dão forças às águas escuras de teus sentimentos...
Beba-as !!
Se os destroços de sonhos dourados
Constroem teu reino de sadismo...
Aproveite-os !!
Pois os teus desejos pequenos,
Não alcançam a plenitude do amor...
Pois a tua indiferença ingrata,
Não conhece a extensão da doação...
Teu caminho é calçado, na esperança destruída...
Teu leito é forrado, de amarguras e solidão...
Pobre de teu reino pobre !!!
Teu cetro de egoísmo, se erguerá ao nada...
E no meio de tanta angústia...
Lembrarás, tardiamente, que um dia...
Foste a razão de viver, de alguém...

IMPOSSÍVEL!!!?

O que na vida será impossível, senhor?
Se tiver um amor para amar...
O que pode tornar-se impossível, Senhor?
Se aquela pessoa ficar...

O que pode chamar de impossível, Senhor?
Se a alegria de um sonho viver...
Como pode achar impossível, Senhor?
Tendo amor em cada amanhecer...

Não há nada que o faça impossível, Senhor.
Pois da terra é o florescer....
Nunca diga que é impossível, Senhor...
É meu ar, da manhã ao anoitecer...

Por isso tudo não é impossível, Senhor...
Nesta vida jamais se sentir dor...
É possível que a tristeza me leve, Senhor...
Se de mim, afastar-se esse amor....

CIRANDA DA FELICIDADE

Cria no amor a criatura,
que criará a ciranda.
Ciranda da vida criada,
da cantiga entoada.

Cria no perdão a vivência,
que transita pelo eterno.
Retira do mundo a carência,
do louco viver moderno.

Cria na mente a lembrança,
dos pés descalços, da liberdade.
Cirandando como herança,
Uma semente de felicidade.

ENTÃO, CARNAVAL!

Chega outra vez a alegria de tantos,
A espera trabalhosa dos sonhos da avenida.
Montam-se verdadeiros cenários, madeira, papel, lantejoulas...
Bordam-se os panos da bandeira, fantasias e mantos.

Ensaia sonhando em encantos, a cabrocha escolhida.
Com seu par tão bem formulado, dança, seduz, tão brejeira...
Cheios de evoluções, cada um tomando cuidado, para melhor demonstrar,
O requinte apaixonado, do Mestre-Sala e sua Porta-Bandeira.

Mas mesmo com tanta magia, tanto samba e dedicação...
O coração da saudade, não deixa de relembrar,
A história meiga e antiga, tão cheia de emoção...
De um tristonho Pierrot e sua linda Colombina,
Em todos os carnavais, presentes na eterna canção.

DOIS LADOS DE MIM

Há um lado de mim que se mostra frio, escuro.
O outro lado recria a aurora de esperança.
Um lado de mim claudica por vielas.
O outro lado rompe barreiras ao que procuro.

Há um lado de mim que ruma perdido pelo céu.
O outro encontra a paz na terra.
Um lado de mim esconde medos, inseguranças.
O outro vê o futuro entre doces véus.

Há um lado de mim que em desvantagem.
O outro é forte, leonino, em eterna luta.
Um lado de mim permanece sombrio.
O outro grita em voz límpida a coragem.

Há sempre dois lados nessa vida irreal.
Há sempre dois gumes nessa afiada adaga.
Há sempre dois caminhos a escolher viver.
Há sempre dois lados no amplo espelho moral.

ILUSÃO

Ilusão é sonhar um sonho perfeito,
Querendo guardar no peito, a sensação do seu sono?
Ilusão é sonhar acordada,
Cada gesto perfeito, do seu modo protetor?
Ilusão é se pegar pensando,
Na maneira de você respirando, olhando a me chamar?
Se tudo o que vivo é ilusão,
Permita, meu Deus que seja eterna.
Que nunca, nunca termine,
Essa linda sensação.

JANGADA DA DOR

Na madrugada dos sentimentos,
Parte a débil jangada da esperança.
Com a coragem ingênua em proventos,
Inspirada pelo sonhar de mudança.

Acolhida pelas águas inconstantes,
De um mar de humor caprichoso.
Deixa para trás rostos em nuances,
Procurando provável futuro ardiloso.

Não pensa o que deixa, tola jangada,
Parte em busca de um horizonte qualquer.
Não vê que a maré a mudanças é dada,
Não vê a tempestade em andamento, sequer.

Jangada que procura vida sem pensar,
Encontra na próxima vaga de um mar revolto,
Pedaços de felicidade jogados a boiar,
Estilhaços do amor que ao vento foi solto.

Não sabe se volta jangada amargura.
Não sabe se algo vai encontrar.
Esquece da praia onde ficou a doçura,
Por dias e dias a lhe esperar.

Assim vai a jangada, agora sem rumo.
Assim entra a renúncia salgada do mar.
Agora sabe que é jangada sem prumo.
Agora sente a dor infinita do desamar.

SONHO

De tão reais nossos sonhos,
O véu do passado desvendou.
Desvendou o amor torturado,
De puro coração arrancado.
Mas a vida não é cega.
Nem o tempo, sem razão.
Da espera fez-se o encanto,
Do encontro, pura emoção.

Fontes:
- Poetas Del Mundo
- http://www.bettyboopstar.com.br/

Nany Schneider


Nasceu e vive em Curitiba capital do Paraná, Brasil.

Nany Schneider, escreve desde pequena, sempre participando ativamente de movimentos literários.

Desenhista, fazendo cursos de aperfeiçoamento e estudante extra-curricular de japonês e alemão.

Tem como formação psicologia/parapsicologia/professora, atuando hoje, como escritora, webmistress e designer.

Possui e-books presenteados por grandes formatadores e escritores e poemas traduzidos em vários idiomas.

Tem como site, seu BETTY BOOP STAR, onde lança escritores amadores e mantém uma gama imensa de poemas e mensagens para divulgação da cultura.

Seus poemas podem ser encontrados em vários sites famosos, como Castillo Sekher, Locura Poética,Sokarinhos, Ligia Tomarchio e outros.

Possui membresia como 'Dama de Honra' em Castillo Sekher e em Puent de La Amistad.

Sua luta é pela divulgação cultural, ajuda espiritual de irmãos em sofrimento e à proteção dos animais por diversas ONGS.

Fonte:
Poetas Del Mundo

Inscrições para o Concurso Literário “Um olhar sobre Sorocaba” são prorrogadas


Os interessados têm até o dia 19 para entregar os textos

As inscrições para o Concurso "Um olhar sobre Sorocaba”, que tem como um dos objetivos a preservação da memória da cidade, foram prorrogadas até o dia 19 de julho de 2010.

Os interessados podem enviar os trabalhos pelo correio, desde que chegue até a data limite, ou entregar no endereço: Rua Fernandópolis, 514 – Jardim Iguatemi – CEP 18085-550 – Sorocaba/SP. Os originais devem ser acompanhados de uma ficha de inscrição assinada pelo autor a ser retirada no mesmo endereço ou ainda solicitada através do e-mail contato@hagentedecomunicacao.com.br

Os textos selecionados farão parte de um livro - coletânea que registrará o olhar de cada autor, cujo lançamento será durante a 6ª Semana do Escritor e do Livro de Sorocaba que acontece de 24 a 28 de agosto de 2010 na FUNDEC.

Formato - Os trabalhos deverão ter no mínimo uma e no máximo três laudas, inéditos, digitados em papel ofício A4, fonte em tamanho 12, espaço 1,5 em 2 ( duas) vias assinadas, com nome completo do concorrente, endereço, telefone e e-mail, juntamente com todos os trabalhos gravados em um CD.

Seleção – Uma Comissão julgadora ficará encarregada da análise dos trabalhos que serão publicados no livro.

O Concurso é aberto às pessoas com mais de 18 anos de idade, que possuam textos em prosa e/ou em verso e contemplem a cidade Sorocaba.

Informações: (15) 3228.6209 ou (15) 8119.2476 - www.hagentedecomunicacao.com.br

Cintian Moraes e Sonia Orsiolli - Hágente de Comunicação

Fonte:
Colaboração de Hágente de Comunicação

Caravana da Leitura chega a Osasco para comemorar o "Dia do Escritor"


O projeto realizado em praça pública disponibiliza ao público livros por um preço simbólico.

O projeto “Caravana da Leitura” criado pelo escritor Laé de Souza, depois de percorrer mais de 100 cidades brasileiras chega ao município de Osasco pela terceira vez. Aplicado desde 2004, em parceria com as Secretarias de Educação e de Cultura dos municípios e apoio do Ministério da Cultura, o trabalho acontecerá nos dias 22 e 23 de julho/2010, no Calçadão da Rua Antonio Agu, próximo ao Osasco Plaza Shopping das 9h30 às 17h, em homenagem ao Dia do Escritor que é comemorado no dia 25.

Até o final de 2010 o público terá a oportunidade de conferir a passagem da “Caravana” em diferentes praças públicas do país, oferecendo livros para o público infantil, juvenil e adulto, pelo valor simbólico de R$1,99. O projeto reúne uma grande variedade de obras literárias do escritor Laé de Souza, apresentando histórias do cotidiano, em uma linguagem bem-humorada e pontuada por reflexões.

Aos amantes da literatura, a atividade oferece uma ótima oportunidade para rechear a estante e saciar o desejo de boa cultura. De acordo com Laé de Souza, idealizador do projeto, a ação é inédita e tem como objetivo gerar oportunidades de leitura a pessoas de todas as idades e classes sociais.

Este ano, o evento deverá passar por mais de 40 cidades dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, com previsão de distribuição de cerca de 120 mil livros. “O objetivo do trabalho é levar cultura e incentivar o hábito da leitura em todo o Brasil. Dessa forma acreditamos que a leitura pode ser democratizada”, destaca Laé de Souza.

Interessados poderão conhecer outros projetos de incentivo à leitura, de Laé de Souza e o roteiro da Caravana da Leitura, em "Agenda", no site http://www.projetosdeleitura.com.br

Fonte:
Colaboração de Laé de Souza.

Taba Cultural abre espaço para Novos Autores

A Taba Cultural Abre Espaço Para Novos Autores Com Projetos de Antologias de Poesia e Prosa

Inscrição e publicação
gratuitas.

VEJA ABAIXO AS PROPOSTAS

CONTOS MÍNIMOS
Antologia de microcontos. Tema livre.

Os contos devem ter no máximo 800 (oitocentos) caracteres, contando os espaços, independente
do título.

Você poderá mandar até 3(três) trabalhos para avaliação.

Prazo de recebimento dos textos: 30 de julho de 2010

Data de lançamento do livro: outubro de 2010
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À FLOR DA PELE
Antologia de Poemas

Você pode enviar no máximo 3(três) poemas para avaliação, com qualquer tema ou modalidade poética.
Verso livre ou metrificado.

Prazo de recebimento dos textos: Até 30 de julho de 2010

Data de lançamento do livro: outubro de 2010
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CONTOS DA MEIA-NOITE
Contos de assombração e mistério.

O tema aqui é o terror, mas não precisa ser necessariamente sério, uma história de terror com humor cai muito bem. Histórias de assombração, almas penadas, vampirismo, bruxas, aliens etc, deixe sua imaginação rolar.

Você pode mandar até 3 (três) trabalhos.

Prazo de recebimento dos textos: Até 30 de agosto de 2010

Data de lançamento do livro: novembro de 2010
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CONTOS DE ALCOVA
Antologia para público adulto.

Aqui o tema são os encontros amorosos, a sedução, o romance, o erotismo, o adultério e outras faces do relacionamento amoroso.

Você pode mandar até 3 (três) contos para avaliação.

Prazo de recebimento dos textos: Até 30 de agosto de 2010

Data de lançamento do livro: novembro de 2010

Antes de mandar os trabalhos leia os regulamentos completos no site:
www.tabacultural.com.br/antologias.htm

e faça sua inscrição através do próprio site.

Fonte:
http://www.tabacultural.com.br

Nilto Maciel (Poemas Escolhidos)


POEMA EM DÓ MAIOR

Agora, longe da praça,
dos pássaros, de meus passos,
longe de mim, do passado.
Aqui, no sofá estendido,
silencioso, só, presente,
porvir. Ao fundo,
música, chorinho,
valsa inacabada.
Tudo pequeno,
o mundo, o tempo.
Ou tudo sem fim,
e sem começo,
sem meio.

Agora o sono,
a mariposa insone,
a lua perplexa,
a noite sumindo.

VISIONARIO

Da varanda do apartamento
olho para a cidade.
Torre de marfim,
torre de babel.
Árvores agitadas,
carros correndo na avenida,
pessoas andando à toa,
um cão vadio.
Cheiros diversos,
chiados, barulhos.
Onde estará o centro do mundo?
Onde estará acontecendo
a notícia de amanhã?
Dentro daquele ônibus
viajará a moça iludida
e que poderia estar comigo.
Viajará o rapaz triste,
embriagado e que poderia
me contar sua vida
- arcabouço de um conto.
O motorista irá atropelar
uma criança sem futuro.
No automóvel de luxo
vai a mulher
que brigou com o marido
e anda atrás de vingança.
Na parada de ônibus
talvez esteja o assassino
de logo mais.
Na tela do cinema
a musa de todos nós,
estrela que se apagará.
Numa cadeira
um homossexual olhará
para as pernas do rapaz
que come pipoca.
Noutra cadeira um senhor
alisará o próprio bigode
pensando no passado.
No banco da praça
o mendigo comerá pão
olhando para as nádegas
das mocinhas que passam.
No palácio o presidente
alinhará o decreto
que me dará dor de cabeça.
O deputado beberá uísque
no bar e falará de si mesmo.
Sentado num sofá o homem
lerá o romance da mulher
deitada eternamente
em berço esplêndido.
O poeta escreverá uns versos
que lerão daqui a dez anos,
versos sem rima ou sem ímã,
sem métrica e sem ritmo.
No meio do mato a onça
farejará o veado;
o macaco morderá o rabo
do tatu; a formiga
caminhará sem rumo;
e tudo estará escuro.
No rio o peixe, a água,
o frio, o pescador.
No mar o tubarão,
a baleia, o turbilhão.
No céu a estrela virando pó,
o foguete se espatifando,
o infinito e nada.

Aqui, sozinho, longe e perto
de todos, de tudo,
quero estar no centro do mundo,
na crista da onde,
quero ser testemunha do crime,
da crise, do apocalipse.
Quero ver de perto o amor, o ódio,
a solidão, a multidão.
Quero estar no palco, no show,
no centro da cidade,
do campo, do rio, do mar,
do céu, do universo.
Quero a onipresença,
a onisciência,
toda a ciência.

O JANGADEIRO

Para Edinardo, às vésperas do primeiro
ano de sua partida.

Arrodeio a superesfera
na minha jangada amiga,
rindo de quem me espera,
chorando à moda antiga.

De quantos paus ela é feita
só dizem os jangadeiros
velhos e companheiros,
fugidos da rota estreita.

Não rio por palhaçada
nem choro angustiado;
já me bastava a maçada
de ansiar o desejado.

Levo comigo a coroa
dos filhos da Eternidade,
relendo Fernando Pessoa
frente a toda realidade.

Passeio as nebulosas,
os astros, o espaço sem fim,
saudadoso das carinhosas
meninas do Otávio Bonfim.

De dois velhos meus criadores,
meu primeiro e doce abrigo,
de duas pequenas flores,
em quem pensando prossigo.

De uma soidade que amei
e que na Bahia deixei,
de sete meus germanos
deixados a fazer planos.

Dos parceiros risonhos
do pobre Amadeu Furtado,
esses bebedores bisonhos
de fel, cachaça e melado.

Mergulho a atmosfera
montado em cavalo-de-pau,
zombando da besta-fera,
lembrando o primeiro mau.

Conduzo comigo um poema
jamais publicado em papel
para reler na suprema
corte do mais alto céu.

Vasculho os tempos perdidos
no carro dos deuses gregos,
tristonho de ver iludidos
os que ficaram aos pregos.

De recordar os pileques
que com meu mano bebi,
choroso de ver os moleques
famintos do que comi.

Cavalgo o cavalo das eras
na mais incrível carreira,
carregando uma flor de parreira
para o homem e para as feras.

Na minha ida desejei
deixar o que sempre sonhei:
projetos de muito amar
para a terra e para o mar.

O mundo que nos aguarda
não tem regulamentos nem leis,
é o país do povo sem guarda,
não tem um, nem dois, nem três,

tem milhões de seres iguais,
é a utopia dos pensadores,
o sonho dos ancestrais,
a terra só dos amores.

Comigo navegam poetas,
revolucionários e santos,
partimos no rumo das metas,
dos fins, começos e cantos.

Fonte:
Nilto Maciel. Visionário.
http://www.niltomaciel.net.br

Panorama da Literatura Italiana



Após a queda do Império Romano, verificou-se na Europa uma série de transformações políticas que determinaram um processo de desenvolvimento das línguas faladas, dando origem ao “vulgar”, no qual a língua do povo prevalece sobre a língua erudita. Entre as línguas românicas, isto é, derivadas do “romano”, ou seja do latim, tiveram especial importância para o início da literatura italiana a língua e a literatura provençal, e a língua e a literatura francesa. No Século XII, a cultura ainda é monástica e assim não surpreende o florescer de uma literatura religiosa com Francisco de Assis, Jacopone da Todi, etc. Mais importante, na segunda metade do século, foi o movimento do Dolce Stil Nuovo, que teve início em Bolonha com Guido Guinizelli e prosseguiu em Florença com Guido Cavalcanti, Dante Alighieri, Lapo Gianni, etc.

No final do século, aparece a primeira obra de Dante Alighieri (Vida Nova) e os anos iniciais do século XIV são marcados pela publicação das outras obras de Dante (Convivio, De Vulgari Eloquentia, De Monarquia) e, sobretudo, pela Divina Commedia, a grande composição em versos que sintetiza e conclui a Idade Média, obra que tanta importância teve em toda a história literária da Europa até à nossa época. Mas quando a Idade Média entrava em declínio, uma nova cultura, inspirada na redescoberta das obras clássicas da antiguidade, dava os seus primeiros passos. Dessa nova era são testemunhas imortais as obras de Francesco Petrarca, do Secretum ao Canzoniere, inspiradas no mais alto lirismo, cristão e profano, clássico e renovador ao mesmo tempo.

Se as obras do Petrarca já parecem voltadas no sentido de uma nova cultura humanista, o Decameron de Giovanni Boccaccio demonstra estar profundamente ligado à realidade comum, numa narração cómico-realística, inspirada nos horizontes da classe mercantil que nela encontrava o seu momento privilegiado.

O século XV oferece-nos a explosão do conhecido movimento humanista que, nos primeiros cinquenta anos procura e estuda os clássicos, mas que, na segunda metade do século, dá-nos uma floração de obras de inspiração nova e de uma beleza singular.

E do Humanismo passou-se ao Renascimento, que domina toda a cultura italiana do século XVI. Eis aqui as obras de Ludovico Ariosto (autor do poema Orlando Furioso), Torquato Tasso (autor da Gerusalemme Liberata), de Niccolò Machiavelli (autor de Il Principe e I Discorsi), de Francesco Guicciardini (Storia d’Italia), de Castiglione (Il Cortegiano). Foi uma época memorável não só para a literatura, bem como para todas as artes e até a língua se renovou, não somente nas obras dos autores, mas também nos estudos dos filólogos.

A busca de um esmero formal exagerado, as dificuldades criadas pelas autoridades religiosas, a decadência política, privou a Itália daquela supremacia cultural da qual até então tinha desfrutado. Entretanto, a Europa se encaminhava para um novo ciclo de civilização, o Iluminismo, que chegou à Itália só em meados do século XVIII.

O século regista também um nome importante, o de Carlo Goldoni, reformador da Commedia dell’arte e do teatro italiano em geral. As suas peças são ainda hoje representadas em todo o mundo.

Depois de um breve período neoclássico, o romantismo, que já se tinha afirmado na Europa do Norte, chegou à Itália, precedido de mil disputas e polémicas com os defensores do Classicismo.

As motivações principais do Romantismo italiano resumem-se ao princípio de espontaneidade da poesia, na recusa das regras clássicas e da imitação de modelos, no carácter popular da literatura que deve ter motivações nacionais e patrióticas, na exaltação dos grandes acontecimentos do passado, na função social, moral, educativa e religiosa da literatura e, finalmente, na pesquisa de uma linguagem cada vez menos académica.

Ugo Foscolo e Giacomo Leopardi encontram-se numa posição dialéctica entre Classicismo e Romantismo. Enquanto Le ultime lettere di Jacopo Ortis de Foscolo são ricas em influências pré-românticas e Le Grazie reproduzem uma arquitectura clássica, os Sepolcri ainda estão parcialmente ligados a modelos do século XVIII com a criação de grandes mitos e a pesquisa romântica do sublime. De Leopardi podemos sublinhar a classicismo de alguns Canti, a elegância e o equilíbrio da composição e o romantismo da autobiografia, o sentimento do infinito, a concepção existencial, a ideia do destino e da natureza, a linguagem poética que tanto nos Idilli, quanto nas Operette morali, oferece a lúcida constatação da inelutável infelicidade humana.

Rejeitando o Romantismo lírico e individualista, Alessandro Manzoni revoluciona de vez a tradição clássica italiana, de tipo lírico e ainda inspirada em Petrarca, a fim de actuar na História, vista como relação homem-sociedade, dirigida pela Providência e pela Graça.

Após a tensão espiritual que nos Inni Sacri parece uma verdade reencontrada e nas tragédias colide com a história e com a descoberta da vitória do mal, o autor de I Promessi Sposi chega a uma afirmação confiante de que o bem acaba finalmente triunfando. O romance histórico torna-se, com Manzoni, um romance de ideias e o realismo literário coincide com a substância do seu cristianismo numa concepção da obra de arte estritamente ligada a um fim moral e civil.

O Romantismo italiano correspondeu ao espírito nacional e literal do Risorgimento, ao qual transmitiu também um firme fundamento ideológico, influenciando o público que viveu o problema nacional mais como um problema moral do que político. A literatura dos primeiros anos do século XIX é, portanto, uma literatura “militante”, visando a criação de uma consciência nacional e a pesquisa de um conteúdo moderno, popular e concreto. Podemos distinguir duas correntes dentro do Romantismo, de acordo com a distinção feita por Mazzini: os manzonianos eram os escritores que actuavam baseando-se num prudente reformismo; os foscolianos, os que procuravam soluções radicalmente revolucionárias. O crítico De Santis aceitou esta distinção e falou de uma escola liberal cujos máximos expoentes foram Manzoni, Cesare Cantù, Massimo D’Azeglio, Niccolò Tommaseo, Tommaso Grossi, o grupo toscano da Antologia e uma escola democrática que se desenvolveu em torno da figura de Giuseppe Mazzini e que produziu uma corrente de adeptos que chegou até Carlo Cattaneo.

No período do Risorgimento desenvolveu-se o género “memorialístico” que, por um lado, correspondia a uma precisa exigência de compromisso ético-político e, por outro lado, apoiava o gosto romântico pela confissão autobiográfica. Desta corrente, que voltará um século mais tarde com a literatura memorialística do segundo pós-guerra, são testemunhas Le mie prigioni, de Silvio Pellico, Le ricordanze della mia vita, de Luigi Settembrini e I miei ricordi, de Massimo D’Azeglio.

Na poesia, ao lado das composições épico-políticas de Berchet e das sátiras de Giuseppe Giusti, verificou-se uma grande produção de obras em dialecto, como as Poesie do milanês Carlo Porta, os Sonetti do romano Giuseppe Goacchino Belli, La scoperta dell’America de Cesare Pascarella e as poesias napolitanas de Salvatore di Giacomo.

Uma característica da segunda metade do século XIX é o novo papel intelectual que explode em toda a sua contraditoriedade com o movimento chamado Scapigliatura segundo o título de um romance de Cletto Arrighi.

A Scapigliatura não encontrou uma formulação teórica e poética completa como o Futurismo, mas teve, da mesma forma, o papel de colocar em crise a cultura oficial e o gosto burguês, embora não tenha com seguido evitar muitos motivos da escola romântica, como a ideia do suicídio, da morte, do macabro, do individualismo, motivos que até mesmo o Romantismo dos primeiros anos do Século XIX não tinha recusado. Emilio Praga, Arrigo Boito, Iginio Ugo Tarchetti e Giovanni Camerana são considerados os escritores mais interessantes do movimento.

A “Scapigliatura” é o momento no qual a literatura italiana começa a se separar do provincianismo e da falta de correspondência com a grande literatura europeia: começa-se a ler Victor Hugo, Edgar Allan Poe, Charles Baudelaire, Heinrich Heine e, mais tarde, Maupassant, Zola, Goncourt e Balzac.

Dali vemos surgir o fenómeno do Verismo, literalmente ligado ao Naturalismo francês, mas com a notável diferença que o Verismo italiano tem carácter regional, dialectal e provincial (sobretudo do Sul de Itália), enquanto o Naturalismo francês se coloca num ambiente de proletariado urbano (Zola). O maior teórico do Verismo é Luigi Capuana, mas não podemos esquecer Federico De Roberto, Matilde Serao e os representantes da cultura regional toscana, Mario Pratesi e Renato Fucini. O maior representante do Verismo italiano é Giovanni Verga, cuja actividade literária é claramente dividida em dois períodos pela primeira novela de ambiente siciliano e de inspiração verística, Nedda, do ano de 1874, Grazia Deledda da Sardenha, Prémio Nobel no ano de 1926, escreveu seus romances com um estilo sóbrio, vigoroso e austero.

Também Carducci, Pascoli e D’Annunzio representam um problema para a crítica contemporânea, embora esta concorde em sublinhar a sua importância para a poesia do século XX. Os três poetas representam três diferentes soluções para um único problema, o métrico-estilístico, que se torna uma tentativa de superar a métrica italiana tradicional no sentido do verso livre e da grande revolução poética deste século.

Crítico e filólogo, Giosuè Carducci inaugurou um tipo de escola chamada “histórica” erudita, dirigida no sentido de pesquisas positivistas e analíticas, de edições críticas e da reconstrução do desenvolvimento da cultura e da vida nacional italiana, influenciando as tendências historiográficas sucessivas.

Gabriele D’Annunzio é considerado o maior representante do Decadentismo famoso graças aos romances Il Piacere e L’Innocente aos quatro livros das Laudi às poesias de Alcyone, às tragédias La figlia di Iorio e La Fiaccola sotto il moggio e à sua poesia, rica de uma temática variada, que abrange problemas de estética, parnasianismo, a ideia do super-homem, etc., características estas do chamado fenómeno do dannunzianesimo. A poesia torna-se, para D’Annunzio, uma descoberta intuitiva, para além das mediações intelectuais e reais, uma verdadeira orgia de imagens, sons, sensações, que encontram a sua expressão literária num estilo refinado e sensual.

A personagem-homem (naturalista) morre num dos romances mais famosos de Luigi Pirandello, Il fu Mattia Pascal, aonde, pela primeira vez, um protagonista actua sem motivações, podendo ou não fazer certas coisas. A personagem é desumanizada, avulso do seu próprio ser, observa a realidade, mas não participa nela.

É esta a linha da grande literatura europeia, de Pasternick a Beckett, que na Itália continua até hoje, nos romances de Moravia ou nas tentativas da nova-vanguarda.

Além de Pirandello, autor de romances, novelas e dramas (Così è se vi pare, Sei personaggi in certa d’autore, Enrico IV, Tutto per bene) è preciso recordar um inovador da nossa tradição cultural: Italo Svevo de Trieste, pseudónimo de Schmitz. Representante da cultura da Europa Central, foi o criador do romance psicológico La coscienza di Zeno, ao qual se seguiu Una vita e Senilità.

Ao lado de uma poesia denominada “crepuscular”, cujos maiores expoentes são Sergio Corazzini, Guido Gozzano e Marino Moretti, que nos transmitiram uma produção poética e narrativa de tipo intimista e decadente, porém rica, como demonstrou a crítica mais recente, de temas e técnicas que relembram as experiências de Pascoli e Montale, encontramos a poesia futurista.

O movimento que se desenvolveu em torno da figura de Filippo Tommaso Marinetti é importante, não só pela produção artística em si, mas também por ter sido a primeira verdadeira vanguarda, na Itália e na Europa, em que a arte tem ligação com a vida. O Futurismo é caracterizado pelo gesto, pela revolução anarquista, voltada no sentido da destruição, do enfraquecimento do poder burguês, através dos mesmos mitos que da sociedade eram símbolo e produto.

O período entre as duas guerras regista uma série de fenómenos: na poesia, o Hermetismo; na prosa, o Surrealismo italiano, o Realismo e o Neo-realismo de Vittorini e Pavese. Vittorini, depois da experiência de revolta política de Il garofano rosso atingiu, apenas em 1936-37, a superação definitiva do Naturalismo e a identificação da celebração histórica da personagem com o seu lirismo. Toda a produção de Pavese se desenvolveu na dialéctica entre o mundo do campo e a cidade, pólo negativo que significa falsidade e engano. Entre as suas obras lembramos Paesi tuoi, la Spiaggia, Ferie d’Agosto, La luna e i Falò, Il carcere, Il Compagno e I dialoghi com Leucò.

Ungaretti, Montale, Quasimodo e Saba, representam as vozes mais importantes da lírica do século XX, dirigida no sentido de uma realidade inexplicável, desdobrada em momentos, impossível de ser configurada num significado preciso, num estilo justamente chamado “hermético” que, como foi demonstrado em recentes estudos, representa o último desenvolvimento de uma tendência clássica que percorre toda a literatura italiana.

Em torno da década de 30, paralelamente à literatura tradicional, embora renovada com romances tipo Il Mulino del Po, de Bacchelli, Le Sorelle Materassi, de Palazzaschi, desenvolve-se, em Itália, o fenómeno chamado Realismo ou Primeiro Realismo, para diferenciá-lo do Neo-realismo da década de 50, parcialmente inspirado na tradição literária do período entre as duas guerras.

Levi e Pratolini não se incluem cronologicamente na geração do Realismo da década de 30, mesmo tendo ressentindo-se da sua influência. O primeiro escolheu um caminho criado com a experiência de Turim e o exemplo de Gobetti, e o segundo voltou ao regionalismo toscano, seguindo a linha Pratesi-Palazzeschi-Tozzi.

Levi foi o arquétipo do escritor que transmitiu nas suas obras o empenho e a problemática do pós-guerra, como em Cristo si è fermato a Eboli e L’orologio, enquanto Pratolini se manteve sempre em equilíbrio entre autobiografia lírica, o memorialismo e o compromisso político.

O clima cultural do imediato pós-guerra sofreu enormemente com os problemas que a reconstrução impôs à classe política e, logo, também à intelectual.

No entanto, o termo “Neo-realismo” dilatou-se até atingir um arco de produção que abrange Vittorini, Pavese, Moravia, Calvino, Fenoglio, Soldati, Levi, Pratolini, Mastronardi e Seminara.

O fenómeno esgota-se no decénio 1950-60 por um processo interno de esclerotização. De qualquer modo, é importante lembrar Moravia que, a partir de 1929, assumiu o papel de moralista crítico da sociedade burguesa, ainda que permanecendo exclusivamente no campo narrativo. Da sua vasta produção podemos lembrar Gli Indifferenti, Le ambizioni sbagliate, L’imbroglio, Agostino, La romana, La ciociaria, Il conformista e i Racconti romani.

Tommasi di Lampedusa, autor do Gattopardo, representa o retorno a uma forma literária mais refinada e ao gosto do romance histórico.

Um discurso à parte merecem dois autores como Carlo Emilio Gadda e Pier Paolo Pasolini, os quais, na sua diversidade estilística, cronológica e literária, representam duas soluções diferentes para o problema da linguagem. Gadda iniciara a sua actividade literária em 1926, com Il giornale di guerra e di prigionia, ao qual se seguiram La madonna dei filosofi, Il castello di Udine, L’Adalgisa, Novelle del ducato in fiamme, até ao sucesso com Quer pasticciaccio brutto de Via Merulana, editado em 1957, mas já anteriormente publicado em capítulos, em 1947, na revista Letteratura. Gadda depois de ter passado por três diferentes fases literárias, inaugurou um tipo de experimentação linguística que se tornou o produto de uma série de elementos diversos, amalgamados de forma, às vezes, caricatural.

Pasolini pertence a uma geração mais jovem de escritores. Começou a escrever em dialecto friulano com La meglio gioventù até chegar à ideologia marxista, interpretada através de uma visão pessoal de Gramsci (Le ceneri di Gramsci). O momento final deste processo – do individual ao colectivo – é representado pelos romances, pela exaltação do primitivo, da adolescência e do proletariado urbano. Nascem, assim, Ragazzi di vita e Una vita violenta e, mais tarde, as poesias de La religione del mio tempo e Poesia in forma di rosa.

Cassola e Bussani são talvez os escritores mais representativos de uma certa atitude intelectual, visando mais a análise dos insucessos do que a interpretação da situação.

Depois de 1968, também a neo-vanguarda se encaminhou no sentido da liquidação de certos produtos que já tinham perdido grande parte da sua característica provocatória junto do público, que agora os consome como um produto literário qualquer. Por um lado, assiste-se à repetição de experimentações já conhecidas e parcialmente desgastadas, por outro lado, é restaurada uma literatura tradicional que põe entre aspas a neo-vanguarda: explode, com toda a sua força, a literatura kitsch.

Ressurge a literatura de tipo naturalístico e o romance psicológico, tendências que frequentemente se entrelaçam até mesmo numa única obra. Saem os novos romances de Cassola, Bassani, Berto, Piovene, Prisco, Pomilio e das escritoras Manzini, Morante e Ginzburg.

Um caso a parte é representado pelo escritor Ignazio Silone. Ele viveu a sua utopia em apartada solidão: o sonho do encontro entre socialismo e cristianismo. Dão disso testemunho os seus romances: Fontamara, talvez o primeiro romance coral do século XX italiano, Vino e Pane, Una manciata di mare, L’avventura di un povero cristiano, expressões do drama da sua consciência.

Fonte:
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