quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

André Luiz Nakamura (Mitos e Lendas do Folclore Brasileiro) Parte III


COBRA GRANDE

Réptil repugnante que atemoriza o homem desde sempre, na ficção e na vida real, a cobra não poderia deixar de inspirar no Brasil esse monstro amazônico: A “Cobra Grande”, também chamada ~Boiúna~.

Gigantesca, de olhos que semelham enormes faróis, ela faz naufragar até mesmo grandes embarcações, devorando, após, a tripulação e os passageiros.

Na capital paraense, informa-nos Walcyr Monteiro, existe a crença de que essa cidade foi fundada sobre a casa de uma enorme cobra: “Se a Cobra Grande se mexe, Belém estremece”. “Se a Cobra Grande sair de seu lugar, Belém vai se afundar”(“Visagens e Assombrações de Belém”).

COBRA-JABUTI

Catalogada como lenda por Domingos Vieira Filho (“Folclore Brasileiro-Maranhão”) é um cágado que depois de tomado como bicho de estimação revela-se um monstro de cujos cascos saem horripilantes cabeças de cobras.

COBRA NORATO

Engravidada pela Cobra Grande, uma índia deu ä luz dois bebês encantados, que não tinham forma humana. Atirou-os no rio, a conselho do pajé.

Eram Cobra Norato (ou Honorato) e Maria Caninana. Esta era má, virara embarcações, matava náufragos e animais. Norato era bondoso e sempre procurava interceptar as maldades da irmã.

Certa feita, num duelo para salvar uma vítima da Maria Caninana, acabou matando esta última.

Assim, graças ä sua bondade, Norato adquiriu o dom de poder desencantar-se durante à noite, tornando-se homem bonito, simpático e elegante.
Nas ocasiões de festa nos povoados ribeirinhos, Norato deixava seu couro de serpente e ia bailar com as moças.

Ao amanhecer, porém, retomava a forma de serpente.
Para quebrar definitivamente o encanto era preciso que se dessem pancadas com ferro virgem na cabeça da cobra, derramando-se-lhe, após, a boca, três gotas de leite materno.

Mas, ao ver a cobra, todos perdiam a coragem, até que um soldado impávido, com quem Norato fizera amizade, conseguiu quebrar esse encanto, libertando o amigo.
(Do norte do Brasil, especialmente do Pará).

CORPO SECO

Criatura perversa que em vida semeou o mal cometendo toda sorte de crueldades, inclusive a de fustigar a própria mãe.

Ao morrer, sua alma foi recusada tanto por Deus como pelo Diabo, e seu corpo nem a terra o quis, ficando este, depois de reunido a sua alma, a putrefazer-se insepulto.

O Corpo Seco é corpo e alma penados – de quem nem os insetos se aproximam – que perambulam, vagabundos, pelos cemitérios e pelas ruas, assombrando os viventes.

CUCA

Mulher velha e feia, espécie de bruxa, tal qual é está descrita nos contos de fadas.

Bicho-papão feminino mencionado para se assustar crianças.

Velha feia e esfarrapada que vive a intrigar os casais, despertando-lhes o “ciúme”, sempre acompanhada de “sapos, lacraus, cobras e aranhas venenosas”, na descrição da folclorista Gilda Helena em “Lendas da Nossa Terra”.

É muito citada em acalantos:
Dorme, nenê, que a Cuca vem pegar, papai foi na roça, mamãe foi trabalhar. Bicho-papão, sai de cima do telhado, deixa o nenê dormir sossegado”.

É válido lembrar que a Cuca foi muito popularizada na série de televisão “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, baseada na obra de Monteiro Lobato, na qual, aliás, se verifica a citação de muitos dos nossos mitos, a exemplo do Saci, do Boitatá, da Mula-sem-cabeça, do Lobisomem, etc. Na aludida série, tal como nas ilustrações de livros do consagrado autor, a Cuca era apresentada como uma jacaroa bípede e falante, feiticeira poderosa, cercada de bichos peçonhentos. Dada a fora da propagação televisiva, quando se fala em Cuca, a imagem que se nos afigura é a da jacaroa da referida série.

CURAGANGA

Tal qual ocorre com o Lobisomem, a Curaganga ou Cumanganga, é no que se torna a sétima filha de um casal. É uma errante cabeça de fogo, em forma de bola.

Nas horas mortas, a cabeça da portadora desse mal separa-se-lhe do corpo e sai em chamas a vagar pelas matas. Apavora os que a encontram. Às vezes ataca a dentadas.
É chamada Curacanga, no Maranhão, e Cumacanga, no Pará.

Basílio de Magalhães (“Folclore no Brasil”) nos informa que para evitar esse horrível fadário “’e tomar a mãe a filha mais velha para madrinha da ultimogênita.
.

CURUPIRA

De procedência tupi-guarani (de curu, curruptela de curumim + pira, corpo = corpo de menino), o Curupira tem ligações originárias com o homem primitivo e atributos heróicos na proteção da fauna e da flora.

Ele tem como principal característica a direção contrária dos pés em relação ao próprio corpo, o que constitui um artifício natural para despistar os caçadores, colocando-nos numa perseguição a falsos rastros.

Possui extraordinários poderes e é implacável com os caçadores que matam pelo puro prazer de faze-lo; quando estes não acabam mortos, ficam loucos.
Dizem também que quando os caçadores não acertam seu alvo ou quando se perdem na mata, é certo que foi uma intervenção do Curupira.

É descrito de várias maneiras: como um curumim, um duende, um anão, um caboclinho, dentes verdes, cabelos vermelhos, mas sempre com os pés contrário (calcanhares para a frente).

Existem, no entanto, variantes que divergem dessas idéias, em que o Curupira é um ser medonho e perverso. “O demônio das Florestas”. Mas sobrelevam as lendas que fazem dele o protetor das matas.

FAMALIÁ

Originário da tradição européia de fabricar uma espécie de demônio caseiro, “familiar” (acabou famaliá para os sertanejos) é um pequenino diabinho guardado dentro de uma garrafa. Para cria-lo é preciso chocar na axila esquerda, durante toda a quaresma, um ovo de galo (!), que, segundo o povo, com muita persistência pode ser encontrado (às vezes leva anos). Desse ovo nascerá, ao final da quarentena, um diabinho que atenderá a todos os pedidos de quem o produziu. Não se pode, todavia, dar esmolas aos pobres com dinheiro vindo do Famaliá.

Quem o detiver, no entanto, pagará com sua alma pelos benefícios obtidos, pois criar um Famaliá.

Quem o detiver, no entanto, pagará com sua alma pelos benefícios obtidos, pois criar um Famaliá não deixa de ser um pacto com o Diabo.

Já registrado como mito e como lenda, essa história muito se popularizou quando da exibição, e da reprise, da telenovela global “Paraíso”, em que um dos protagonistas, - dizia a população da fictícia cidade de Paraíso – tinha um diabinho guardado em uma garrafa, produzindo tal como aqui dissemos.

GORJALA

Negro gigantesco, com um único e grande olho, que habita as serras cearenses.

Implacável perseguidor dos humanos, coloca-os sob o braço, quando os captura, devorando-os a dentadas.

GRALHA AZUL

Para o povo paranaense a gralha azul é a responsável pelo agrupado reflorestamento de pinheiros, tendo-se em vista a estranheza que causava o fato de estes aparecerem em grupos, em pontos afastados, sem que o homem os plantasse.

Diz o povo que essa ave encontrada nos planaltos do Paraná se alimenta de sementes dos pinheiros, e que, precavida, enterra-os, em pontos diversos e em considerável quantidade, para posteriormente saciar sua fome. Como nem todos os pinhões enterrados se consomem, estes germinam e fazem surgir os amplos pinhais agrupados. Assim se explicam as grandes florestas só de pinheiros.

Por isso, as armas dos caçadores negam fogo, ou, pior, os tiros saem pela culatra, se a ave contra a qual miram é a gralha azul.
Lenda paranaense.

IARA

Outra celebridade nacional, a Iara é apresentada como uma esplêndida sereia das águas amazônicas (mulher cujo corpo, da cintura para baixo é uma cauda de peixe) linda, de pele alva, olhos verdes e cabelos cor de ouro. Seu canto, de uma encantadora voz, enfeitiça e atrai índios e pescadores enamorados que, sem a menor possibilidade de lhe resistirem, mergulham nos rios e são por ela arrastados para o fundo das águas. Nem seus corpos são encontrados.

Deve-se fechar os olhos e tapar os ouvidos assim que se notar a presença da Iara nos rios e lagos. Um talismã feito com escama de boto vermelho também pode livrar seu portador da sedução da Iara.

No entanto, nem toda as narrativas sobre a Iara retratam-na dessa forma. Em algumas, há finais felizes, como essa registrada por Theobaldo Miranda dos Santos em “Lendas e Mitos do Brasil”, na qual o índio Jaraguari desaparecera depois de mergulhar num rio encantado pela linda sereia. Foi ele posteriormente visto abraçado com ela a namorar.

“Tia Regina”, em “Histórias e Lendas do Brasil”, conta uma versão semelhante, na qual a Iara vive um forte romance com o índio Jaraguari e acaba por leva-lo para viver com ela em seus palácios subaquáticos. Seus poderes sobrenaturais mantê-lo-iam vivo debaixo d’água.

Outras lendas falam de índios que com a Iara mantinham relacionamentos amorosos, a exemplo de Inaiê:
Diziam-no manorado da Iara, pois desprezava as belas cunhantãs, que lhe ofereciam seu amor” (Gilda Helena em “Lendas da Nossa Terra”).

Luiz Caldas Tibiriçá, em “Contos e Lendas Brasileiras”, narra até um casamento da Mãe D’Água com um índio no conto “O Marido da Mãe D’Água”.

Domingos Vieira Filho, em “Folclore do Maranhão”, ao falar da lenda da Praio do Olho-d’água, cujas nascentes de água teriam se originado das lágrimas de uma índia que perdera o seu amor para a linda sereia, relata:

Sucede que pelo mesmo índio se apaixonara a mãe-d’água. Um belo dia, a iara traiçoeira empolga o rapaz e o leva para o fundo das águas, deixando o cunhatã alucinada de dor”.

Pescadores, que garantem que ela existe, costumam contar que já houve casos de se fisgarem chumaços de cabelos louros com mais de um metro de comprimento.

Obs: A Iara ou Uiara é também comumente chamada “Mãe d’Água”, mas preferimos a denominação Iara, tendo em vista que quando se fala em “Mãe d’Água”, nas inúmeras lendas, há outros aspectos além da sensualidade e da sedução (as grandes marcas desse mito), enquanto que tais características representam o cerne das descrições narrativas se o nome mencionado for Iara

JOÃO GALAFOICE

Semelhante ao Papa-Figo, é um preto velho. Ele ronda as residências à procura de crianças que se encontram fora de suas casas pra leva-las embora consigo.


Alfredo Brandão (“Os Negros na História de Alagoas” ) informa que a lenda do João Galafuz (veja abaixo), em Alagoas, foi alterada na história de João Galafoice, esse “nego véio”raptor de crianças.

JOÃO GALAFUZ

Duende que habita as águas dos mares e se manifesta como um facho luminoso e colorido que rutila sobre as ondas.

Os pescadores acreditam que é o espírito de um caboclo que morreu sem ser batizado.
De Pernambuco e Sergipe.

LABATUT

Homenzarrão monstruoso, de pés redondos, conhecido nos Estados do Ceará e Rio Grande do Norte. Tem pés redondos, longos e revoltos cabelos, só um olho na testa, mãos compridas, corpo cabeludo como o do porco-espinho, dentes como as presas de elefante. Devora crianças.

Conta-se que se transformou nesse monstro um sanguinário general francês que, no Ceará, promoveu uma verdadeira carnificina quando da repressão à insurreição de Joaquim Pinto Madeira.

LOIRA DO BANHEIRO

O horror das crianças nas escolas era uma mulher que, diziam, costumava aparecer nos banheiros. Era loira, cabelos compridos, com as cores próprias dos defuntos e com algodões em suas narinas: um cadáver ambulante, distinguindo-se o aspecto deste apenas pelo fato de escorrer sangue de seus lábios.

O encontro de pedaços de algodão no chão do banheiro, sujos de sangue, era sinal de que a “Loira” estivera por ali. O medo de encontrá-la era tanto que as crianças não iam ao banheiro desacompanhadas.

Quem conta sobre a “Loira”diz que ela era uma jovem que foi violentada e morta num banheiro de uma escola pública.
(Lenda?)

LOBISOMEM

Meio bicho, meio humano, o Lobisomem é mito universal que protagoniza muitas narrativas populares desde a Antiguidade, trazido às terras brasileiras pelos europeus, que morriam de medo dos lobos.

O lobisomem abrasileirado pode ser o sétimo filho homem de um casal; o que nasceu depois de sete filhas; o que não foi batizado; o filho de comadre e compadre, padrinho e afilhada, ou de união incestuosa.

Enquanto homem é sempre magro, pálido, que nunca adquire aspecto de pessoa saudável.
A transformação acontece nas noites de lua cheia e nas noites de quinta para sexta-feira: seu corpo começa a se cobrir de pêlos espessos; seu semblante toma a forma do de um morcego; suas orelhas crescem; as mãos se tornam garras; corre com os joelhos e cotovelos, que, pela manhã, após a transformação, se vêem feridos e ensangüentados.

Ao metamorfosear-se, sai em busca de sangue. Suas vítimas, se viverem, podem contagiar-se dessa maldição.

O lobisomem é morto através de uma bala de prata.

O encanto do monstro, por sua vez, pode ser desfeito por meio de algum ferimento que lhe arranque sangue, mas o autor do ferimento que evite se sujar com o sangue; senão se contagiará da triste sina.

Segundo Oliveira Martins (em “Sistema dos Mitos”) “os sacerdotes do Sorano Sabino, nos bosques da Itália primitiva, vestiam-se com as peles do lobo, animal do deus; a imagem confunde-se com o objeto da imaginação infantil, o sacerdote com o deus, a profissão com o fado. Por ventura o mito nasceu do rito”.

MÃE-DO-OURO

Senhora das minas, a Mãe-do-Ouro é um mito multiforme: no Paraná, é uma mulher sem cabeça; “no Rio Grande do Sul é informe, agindo com trovões, fogo, vento, dando o rumo da mudança (...) a Mãe-do-Ouro passeia luminosa, pelos ares, mas vive debaixo d’água, num palácio” (Câmara Cascudo, em “Mitos Brasileiros”); formosa mulher, de pele branca como a neve e com uma linda cabeleira cor de fogo, segundo Ruth Guimarães, em “Lendas e Fábulas do Brasil”; “fada formosíssima, filha do sol e irmã da aurora” (Luiz Caldas Tibirçá, “Folclore – Contos e Lendas Brasileiras”); em São Paulo é descrita como uma grande bola de fogo de ouro que atravessa o céu; onde ela cair, há ouro (Alceu Maynard Araújo, em “Folclore Nacional”).

Mito ígneo, informe, pertence ao número dos fenômenos metereológicos, confundindo com a estrela cadente (...)esconjurada e tida, num só tempo, como capaz de satisfazer votos formulados durante sua trajetória cintilante”(Câmara Cascudo, op. Cit.).

De acordo com o consagrado autor, esse mito também infiltrou-se no ciclo das Mães-d’Água, assimilando-lhe o poder sensual: “os homens deixam a família e amigos, arrastados pela Mãe-do-Ouro”(talqualmente as perigosas sedutoras Iara e Alamoa).

Há muitas lendas sobre a Mãe-do-Ouro, uma das mais conhecidas fala de sua intervenção para ajudar um escravo a encontrar ouro para entregar ao seu senhor, homem mau e ganancioso, a fim de assim evitar duro castigo. A Mãe-do-Ouro, no entanto, lhe impôs a condição de não revelar a ninguém o lugar onde encontrou ouro. O Fazendeiro torturava-o no tronco para lhe arrancar o segredo, até que a Mãe-do-Ouro permitiu ao escravo que o revelasse. O fazendeiro, fascinado diante de tanta riqueza, começou ele próprio a cavar aquela vastidão de ouro. Tanto cavou que morreu soterrado.

MANI (A LENDA DA MANDIOCA)

Numa tribo indígena, uma mulher deu à luz uma menina de pele muito alva. Seu marido, desconfiado e com raiva, queria matar a ambas. O feiticeiro da tribo, no entanto, interveio, e disse ao índio que a mulher era inocente, o que seria muito castigo se tentasse qualquer coisa contra as duas.

A criança, a que deram o nome Mani, cresceu, linda, inteligente, querida por todos na tribo. Mas ela não viveu muito tempo.

Seus pais a sepultaram dentro de sua própria maloca e a regavam todos os dias com suas lágrimas.

No local, nasceu uma planta que, descascada, era branca como a pele de Mani. Os índios julgaram ter sido um milagre de Tupã (deus dos índios), pois a planta revelou-se saboroso e nutritivo alimento, e de suas raízes se vez um vinho delicioso.

Deram-lhe, então, o nome “mandioca” ou “manioca”, que significa “corpo de mani”.
-----------------------


continua...


Vicência Jaguaribe (Por uma Nota de Dez Reais)


Quando a menina chega do colégio, a mãe manda-a trocar a roupa: tire a farda e vista o vestido mais novo que encontrar. Quer levá-la à casa de um amigo, que deseja conhecê-la. A menina ainda objeta: tem que ir para a casa da dona Railda, ajudá-la, como faz toda tarde. A mãe grita com ela e diz que, a partir daquele dia, ela não precisa mais ajudar aquela exploradora de menores. A menina assusta-se com o grito e tem medo do que a mãe está planejando. Só pode ter alguma coisa em mente para querer sair com ela naquele horário.

Ela tem nove anos, no entanto parece bem mais nova. Seu corpinho raquítico e seu rostinho de feições miúdas não permitem que lhe deem mais de seis anos. Mora com a mãe em um barraco perto da linha do trem e estuda na escola pública do bairro. Logo que foi morar ali, acordava todas as vezes que o trem passava e tinha medo que ele descarrilhasse e caísse sobre o barraco. Com o tempo, porém, acostumou-se, e nem o apito da locomotiva nem o barulho que ela provoca ao deslocar-se a perturbam mais. Agora, em vez de ter medo, ela fantasia em torno do trem. Aquele é um trem mágico, que vai levá-la a uma terra distante, onde não existe bebida, nem droga, nem mãe violenta, com namorado asqueroso.

Acorda cedo, come alguma coisa, quando há o que comer em casa. Sai na ponta dos pés para não acordar a mãe, que chegou de madrugada, com cara de quem andara usando aquelas porcarias, que a menina bem sabe o que são, mas evita dizer o nome. Ainda bem que há o colégio onde ela passa a manhã inteira, e lá ela pode contar com a merenda escolar. Enquanto está na escola, esquece-se da mãe, do barraco, da fome e do namorado da mãe, que de vez em quando tentava agarrá-la.

Mas nem sempre fora assim. Ela se lembra, ainda que vagamente, do tempo em que moravam em uma casa de verdade e sua mãe saía para trabalhar, deixando-a na creche. Passava para pegá-la à tardinha e iam as duas para casa. Ela não tinha aquela cara que tem hoje, nem aquelas crises de violência que a aterrorizam. Era divertida e carinhosa. E a menina adorava ouvi-la cantar e contar histórias. A mudança começou quando ela arranjou um namorado com cara de marginal. Levava-o para dormir em casa e o que ganhava acabava na mão dele. Aí começou a faltar tudo, e a mãe passou a agir de maneira esquisita.

Às vezes, o namorado nojento chamava-a e queria abraçá-la, beijá-la, fazê-la sentar-se em seu colo. Mas a menina fugia dele, corria para os barracos dos vizinhos e só voltava quando, já bêbados ou drogados, os dois adormeciam. Até que a mãe perdeu o emprego e não mais pôde dar dinheiro a ele. Um dia, o maldito simplesmente desapareceu. Foi quando sua mãe resolveu vender a pequena casa onde moravam. Ela precisava de dinheiro para comprar comida e... aquelas porcarias, cujo nome a menina evitava pronunciar.

Ultimamente, quando volta da escola, vai para a casa de uma senhora que mora perto e tem um filhinho pequeno. Ela passa a tarde ajudando com a criança, em troca do jantar. Mas gosta de ficar ali, de brincar com o menino. O ruim era que, agora, só pode preparar os deveres do colégio à noite. Mas, naquela tarde, a dona Railda ia pensar o que dela? Que era uma irresponsável. E não iria mais querer que ela trabalhasse na sua casa.

A mãe arranca-a do barraco puxando-a pelo braço e, sem explicar nada, vai caminhando apressada, entrando em umas ruas que ela não conhece. Até que para em frente a uma casa de muro alto e bate no portão. Um latido de cachorro responde à batida. Logo em seguida, um homem não muito jovem, segurando o cachorro pela coleira, abre o portão e manda-a entrar. Ela puxa-o para um lado e conversa com ele, apontando de vez em quando para a filha. Ele mete a mão no bolso e lhe entrega uma cédula, que ela amassa e depois mete no bolso do vestido.

Despede-se do homem e dirige-se ao portão, seguida pela menina. Sem olhar para trás, grita para a filha: ela deve ficar naquela casa, por uns dias. Aquele senhor cuidará dela. Empurra-a para longe do portão e sai quase correndo. O homem tranca o portão, pega na mão da menina, que chora gritando pela mãe, leva-a para dentro de casa e fecha a porta.

A mulher, caminhando apressadamente, só deixa de ouvir os gritos da filha, quando dobra a esquina. Aí, então, tira de dentro do bolso a nota amassada: dez reais. Dá para comprar somente duas pedras de crack, o suficiente para aquela noite. Na manhã do dia seguinte, arranjará outra coisa para vender.

Fonte:
A Autora

Ademar Macedo (Trovas Engraçadas)



Trabalho só é bacana
se tiver, por sua vez,
uma folga por semana
e férias de mês em mês!

Sempre que eu vou me deitar
acompanhado na cama;
já que eu sei que vou tirar...
– Pra que botar o pijama?

A minha sogra, assanhada,
no barracão da mangueira,
foi muito mais apalpada
do que laranja na feira!...

Você pode acreditar
no que eu digo pra você:
Dívida é pra se pagar...
mas quando se tem com quê!...

Por agir sem ter cautela
um grande mico eu paguei,
investi numa donzela
que na verdade era um gay!...

Visita pra meter medo,
que nem vassoura adianta,
é aquela que chega cedo
e só sai depois que janta!

Adotei o isolamento,
feito um ermitão qualquer.
Pra fugir do casamento
e das manhas de mulher!...

Teve um chilique o Oscar
ao ver seu filho, um nissei,
ser o primeiro lugar
numa passeata gay.

Com sua língua de trapo,
disse, ao ser mandado embora:
– É moleza engolir sapo;
o duro é botar pra fora!

Todo mundo me cobrando,
parece um alto relevo;
a dívida vai aumentando,
quanto mais pago, mais devo!

Pra poder me atazanar,
por vingança ou por castigo,
minha sogra vem morar
parede e meia comigo!...

Inimigo do trabalho,
é meu primo o “Paraíba;”
seu emprego é no baralho:
buraco, truco e biriba.

Pelas “coisas” que fazia,
vive o malandro enjaulado;
usando de noite a dia
o seu “pijama listrado”.

Chega a causar agonia,
uma visita sacana,
que vem pra passar um dia,
passa mais de uma semana!

Plantei um pé de tomate
e fiz tanta adubação,
que ele está dando abacate,
alho, cebola, e melão...

Fonte:
O Autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.101)


Uma Trova Nacional

Amor é... um quase nada,
poucos sabem perceber,
é brincar de madrugada
sem pensar no amanhecer.
(OLYMPIO COUTINHO/MG)

Uma Trova Potiguar

Um dia ela me olhou,
por mera casualidade;
daí nasceu nosso amor
para toda a eternidade.
(CARMO CHAGAS DE OLIVEIRA/RN)

Uma Trova Premiada

1994 > Belo Horizonte/MG
Tema > OÁSIS > Menção Honrosa

Quando a aflição nos alcança,
o Bom Deus, sempre por perto,
planta o oásis da esperança
no coração do deserto!
(MARCELO ZANCONATO PINTO/MG)

Simplesmente Poesia

MOTE: (Ademar Macedo)
Em cada cabelo meu
tem um verso pendurado.

GLOSA:
Finge que já me esqueceu,
chora no canto a coitada.
Diz que a vida é complicada
e, em cada cabelo meu,
amarra um cabelo seu
dando um nó bem caprichado
pra impedir o mau olhado.
Sem meus versos não sossega
e até na porta da adega
tem um verso pendurado.
(GILSON MAIA/RJ)

Uma Trova de Ademar

Ninguém jamais colhe flores,
plantando ódio e maldade;
só faz colheita de amores
quem planta amor de verdade!...
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Na luta contra a cobiça,
mantendo na alma a esperança,
meu desejo de justiça
é maior que o de vingança!
(ALOÍSIO ALVES DA COSTA/CE)

Estrofe do Dia

Todo poeta se inspira
Na vibração de seu canto,
Embora, às vezes, o pranto
Em seu caminho interfira;
Afeito ao toque da lira,
O som das canções o encanta,
Mas, se um dia a musa santa
De seus sonhos vai embora,
O poeta também chora,
Mas chora como quem canta.
(JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN)

Soneto do Dia

Francisco Macedo/RN
UM SONETO FILHO DO SOL

Foi um Raio de sol... Chegou silente!
Engravidou a folha onde escrevia,
e a gestação se fez tão de repente,
... de repente, nasceu essa poesia.

Se fez soneto, tão surpreendente,
sem tema, assunto, assim à revelia,
e crescendo se fez incandescente,
pleno de amor e luz no novo dia.

Filho do sol amando a liberdade,
responsável, lhe dei paternidade,
vou educá-lo para ser moderno.

E com ele vou ter cumplicidade,
para vê-lo atingir posteridade,
conquistar o leitor, e ser eterno!

Fonte:
Ademar Macedo

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

André Luiz Nakamura (Mitos e Lendas do Folclore Brasileiro) Parte II


No estudo do Folclore, mitos e lendas são parte da chamada “Literatura Oral”, que compreende também contos, fábulas, poesia, parlendas, provérvios, frases-feitas, etc. Apresentamos, a seguir, uma coletânea de mitos e lendas de diversos pontos do Brasil.

ALAMOA

Belíssima mulher, loura, misteriosa, olhos neons, que podem ser verdes ou azuis, cabelos lisos e compridos, vestida numa túnica muito transparente que chega quase a tocar o chão.

Assim a chamam porque loria é “alamoa” (alemã) para os habitantes de Fernando de Noronha, onde ela reside, nos altos picos dessa ilha.

À noite, surge nas praias, às vezes dança, nua, iluminada pelos raios que coincidem com sua aparição. Deslumbra, fascina, enche de desejo os desavisados que com ela se defrontam – e de medo os pescadores que já a conhecem e dela correm, espavoridos, pois o apaixonado que ao seu namoro não resiste e se põe a segui-la, nunca mais é visto.

Dizem que a Alamoa atrai com seu fascínio os que por ela se apaixonam, guiando-os para os picos da ilha, onde se transforma numa medonha caveira.
(A ela já se referiram como “lenda da Alamoa” e como “mito da Alamoa”, cf. “Alamoa”, Dicionário do Folclore Brasileiro, de Luís da Câmara Casculdo.)

ANA JANSEN

Assombração de uma mulher deformada pelo fogo que aparece de madrugada nas ruas de São Luís do Maranhão, conduzindo velozmente uma carruagem em chamas, puxada por enormes cavalos sem cabeça.

Conta-se que, quando viva, foi uma perversa mulher que sentia prazer ao fazer seviciarem seus escravos. Ela mandava arrancar os dentes e as unhas de crianças, filhos de escravos, que visse apanhando frutas em seus pomares. Ordenava que açoitassem cruelmente os escravos, às vezes por nenhum motivo.

Tendo em vista uma das distinções entre mito e lenda, segundo a qual esta última seria mais localizada – não obstante a dúvida quanto à extensão territorial que um ou outra precisa alcançar para ser classificado como tal ou qual – atrevemo-nos a dizer que se trata de uma lenda a história de Ana Jansen, pois na bibliografia consultada dela não encontramos referência; tomamo-lhe conhecimento por meio de informantes maranhenses por ocasião do Festival do Folclore de Olímpia/SP, realizado anualmente, em Agosto.

ANHANGÁ

Mito geral no Brasil, o Anhangá é criatura assustadora, um grande veado cujos olhos são lança-chamas. Ele representa um grande pesadelo para os caçadores, que, quando com ele se defrontam, ao tentarem baleá-lo, vêem seus tiros serem desviados em direção a entes queridos e pessoas amigas.
Sua fúria contra os caçadores se amplia quando as vítimas são animais lactantes ou filhotes que ainda precisam ser amamentadas.

Conta uma lenda que um índio perseguia implacavelmente uma veada que amamentava seu filhotinho, tendo sido este gravemente ferido por uma certeira flechada, e depois seguro pelo caçador, que a torturava, atrás de uma árvore, para atrair a veada com os gritos do filhote.

Caindo na emboscada, o animal é trespassado por uma mortífera flecha do índio.

No entanto, ao contemplas sua presa, o índio, desesperado, viu-se vítima de uma ilusão engendrada pelo Anhangá. Era o corpo de sua mãe.

ARRANCA-LÍNGUA

Macacão gigante que atacava os gados em Goiás, matando-os a murros e arrancando-lhes somente a língua, com a qual se alimentava.

Câmara Cascudo informa que a imprensa goiana, carioca e mineira registraram esse mito em várias matérias sobre os assombrados depoimentos de fazendeiros.

Regina Lacerda o catalogou como lenda em “Estórias e Lendas de Goiás e Mato Grosso”.

BARBA RUIVA

Piauiense dos mais famosos, o Barba Ruiva é um homem encantado, de barba e cabelos ruivos, alto, viril, muito branco, que faz morada na Lagoa do Paranaguá, onde teria sido jogado ao nascer, e salvo por uma mãe d´água, diz a lenda.

À margem da já mencionada lagoa, costuma ser visto a repousar, quando da água se farta, despertando a curiosidade das mulheres que lá vão lavar roupa – a cujas perguntas não responde.

Quando dele se aproximam percebem que, fora da água, sua barba, unhas e peito estão em brasa.

Correm, então, assustadas, enquanto ele as persegue querendo abraçá-las e beijá-las.

À vista disso, nenhuma mulher lava roupa sozinha às margens daquela lagoa.
Algumas gotas de água benta na cabeça do Barba Ruiva poderiam quebrar seu encanto.

Mas, apesar de ser ele inofensivo, ninguém ainda teve coragem.
(Registrado como mito e como lenda)

BICHO-HOMEM

Outro gigantesco antropófago, de um olho só, e que também só tem uma perna, cujo pé tem forma redonda, deixando pegadas que lembram o fundo de uma garrafa.

Pode derrubar até uma montanha com seus possantes murros e é capaz de beber um rio inteiro. Vive oculto nas serranias.

Mito corrente, em variantes, em quase todo o Brasil.

Muito se confunde com o chamado Pé-de-Garrafa. Alguns autores, aliás, registram-nos como sendo manifestações de uma mesma entidade: “o mítico Bicho-Homem é também chamado Pé-de-Garrafa” (Câmara Cascudo, “Dicionário do Folclore Brasileiro”).

Entretanto, alguns relatos sobre o Pé-de-Garrafa (df. p. 47), em que se lhe dão outras características, levam-nos a defender que sua existência, na imaginação do povo, se não era, passou a ser independente da do Bicho-Homem.

BOITATÁ

Um dos primeiros mitos registrados no Brasil, segundo nos informa Câmara Cascudo, é uma grande serpente de fogo que habita as margens dos rios, mata animais e lhes devora os olhos, vindo daí o seu intenso brilho.

Do tupi mboi, cobra, e tatá, fogo: cobra de fogo, o fogo em forma de cobra.
Há versões de que o Boitatá destrói com o fogo dos seus olhos, fazendo arder em combustão, aqueles que incendeiam os campos.

A aparição do Boitatá traz cegueira, loucura ou a morte. Para escapar de seu ataque, é preciso atirar-lhe algum objeto de ferro ou, então, ficar quieto, prender a respiração e fechar os olhos.

Dizem que se transformar nesse monstro é o castigo para purificar as almas dos amantes compadres que em vida traíam seus respectivos cônjuges, e daqueles que mantiveram relações incestuosas.

Explica-nos Theobaldo Miranda dos Santos (em “Lendas e Mitos do Brasil”) que “o mito do Boitatá parece ter se originado do fogo-fátuo ou santelmo, pequeno penacho luminoso, que aparece nos mastros dos navios devido à eletricidade, ou, à noite, sobre os pântanos e cemitérios, e que são apenas emanações de fosfatos e hidrogênios, produtos de decomposição de substâncias animais”.

Alguns autores, a exemplo de Crispim Mira (em “Terra Catarinense”), registram uma variante, dentre as inúmeras desse mito geral no Brasil, segundo a qual o Boitatá é um boi ou um touro “com patas como a dos gigantes e com um enorme olho bem no meio da testa, a brilhar que nem um tição de fogo”.

Amadeu Amaral (“Tradições Populares”) retrata essa variante como exemplificativa do fenômeno que se convencionou denominar “etimologia popular”, que designa “as alterações dos vocábulos por efeito de uma errôneas e imaginosa compreensão da respectiva origem”.

No caso dessa variante, a palavra “boi” (mboi), segundo o eminente folclorista, representou o elemento transformador do aludido mito.

BOTO SEDUTOR

Costumam dizer que a maior protagonista das lendas sobre a fauna amazonense, famoso em todo o Brasil, “ele, o Boto”, ao chegar a noite, transforma-se num belíssimo rapaz, alto, branco, robusto, bem vestido, mas sempre de chapéu para esconder o orifício que tem na cabeça, através do qual respira.

O Boto, quando toma a forma humana, comparece triunfalmente aos bailes, onde, com as moças ribeirinhas, conversa, bebe, dança, namora.
Conquistador infalível, adivinha os segredos, os pensamentos e desejos de suas “vítimas”.

Antes que amanheça, porém, ele se retira furtivamente, mergulha num rio, e torna-se de novo em boto.

Às vezes é implacavelmente perseguido ou cercado em emboscadas tramadas por homens enciumados, mas ele nunca se deixa apanhar pois tem um faro mais possante que o de cães caçadores e é rápido como um tiro.

Muitas mulheres costumam também a ele atribuir a paternidade de filhos espúrios e naturais, os denominados “filhos do Boto” (muitas vezes injustamente).

Noutras palavras, quando moças solteiras das populações ribeirinhas engravidam, dir-se-á que o filho é do boto.

Para finalizar, dentre algumas superstições acercado boto, lembremos esta: o olho seco de um boto, para os índios é poderoso instrumento de feitiços amorosos, depois de bem preparado, de acordo com os ritos do pajé-a pajelança, a feitiçaria amazônica. “Não há mulher que resista sendo olhada através do olho de um boto”.

(A ele já se referiram classificando-o como lenda e como mito)

CABEÇA-DE-CUIA

Homem magro, alto, que habita o rio Parnaíba, no Piauí. O nome deriva de sua cabeça que lembra o formato de uma cuia. A cada sete anos, devora uma mulher de nome Maria, e também meninos que brincam nas águas daquele rio. As mães, temerosas, proíbem seus filhos de ali nadarem.

Amaldiçoado por sua mãe, a quem muito maltratara, foi condenado a viver no mencionado rio durante 49 anos. Após comer sete Marias, retomaria seu estado natural.

CABOCLO-D´ÁGUA

Homem pequeno, musculoso, sisudo, da cor do cobre, com mãos e pés de pato, ele habita as águas do Rio São Francisco, aparecendo também em outras localidades fluviais. Atormenta os pescadores, vira embarcações, alaga cargas, provoca ondas, atrapalha pescarias, assombra, mata.

Para afugenta-lo é preciso fincar uma faca no fundo da canoa, ou então nela desenhar um signo-de-salomão.

(Vale registrar aqui a figura do CAVALO-DO-RIO, cavalo encantado que também habitaria o Rio São Francisco exercendo efetivamente o mesmo papel do Caboclo-d´água.)

CAIPORA

“É o Curupira tendo os pés normais. De caá, mato, e porá, habitante, morador”, segundo Câmara Cascudo.

Diz-se que é um caboclinho coberto de pêlos que anda sempre montado num porco-do-mato, protetor dos animais e inimigo dos caçadores (descrição mais comum).

As inúmeras versões sobre o Caipora possibilitam que se apresentem ele e o Curupira (sempre associados e confundidos) como manifestações transformadas de uma mesma entidade, ao mesmo tempo que se admite a coexistência de ambos.

Ruth Guimarães, por exemplo, em “Quatro Histórias do Curupira”, acrescente um parêntesis a esse título: “(Ou Caipora ou Caapora, o Pai do Mato)”.
Basílio de Magalhães (“Folclore no Brasil”), diz que o Curupira e o Caipora “constituem a mesma personificação do gênio das florestas.”.

Pessoalmente, acreditamos que quando não se trata de simples diversidade nominal, alguns mitos – se não tinham – passaram a adquirir identidade própria e personalidades distintas.

No presente caso, embora aparentemente se trate de simples diferença de nome, a figura do Caipora tal como aqui descrita já se criou efetivamente no imaginário popular, desvinculada da do Curupira.

CANHAMBORA

Homem negro, grandalhão, feio, com cabelos compridos até os pés. Às vezes é citado como tendo, ao mesmo tempo, forma humana e animal, metade cavalo e metade homem.
Ele é detentor de poderes capazes de ressuscitar os animais mortos pelos homens brancos, a quem persegue e agride.

Diz o povo que o Canhambora é assombração de escravos mortos a pancadas a mando de seus senhores, aos quais, posteriormente, volta para assombrar.

Mais conhecido em Minas Gerais e em São Paulo.

CAPELOBO

Criatura fantástica, com corpo de homem, cabeça de tamanduá ou de anta, é pés redondos.

Cães e gatos recém-nascidos são seu alimento principal. Mas ele também ataca humanos, “chupando-lhes o miolo”, ou seja, sorvendo-lhe a massa cefálica.

O ponto vulnerável desse monstro é o seu umbigo, através do qual pode ser abatido.
Ìndios muito velhos transformar-se-iam nesse monstro a que costumam chamar de Lobisomem dos índios.

Popular no Maranhão e na região do Araguaia.

CAVALO BRANCO

É um fogoso cavalo branco que em noites enluaradas é visto a pastar as relvas marginais do Valo Branco, em Iguape.

As mães sempre advertem suas filhas para não passarem pelas relvas marginais do Valo Grande porque o Cavalo Branco, ao ver uma moça virgem, faz com que ela caia naquelas águas e depois desaparece com ela.

Quando novamente há lua cheia ele volta para buscar outra moça para viver com ele no fundo do Valo Branco.

CAVALO DAS ALMAS

Segundo a Profª Palmira M. Degásperi Rodrigues (em “Mito, Folclore e Filosofia”), “é um animal miraculoso, que percorre as estradas à procura dos mortos recentes, que o esperam nos moirões das porteiras. As almas vão engarupadas nesse cavalo”.

CHIBAMBA

De origem africana, e conhecido em São Paulo e Minas Gerais, é um negro velho que se veste com folhas de bananeira, ronca como um porco e está sempre a dançar, em ritmo compassado.

Ele amedronta crianças choronas:
“Olha esse choro, que a Chibamba vem te pegar; ele papa criança”.
Acredita-se que ele foi um velho escravo que morreu no tronco, de tanto chicotada.

Informa-nos Rossini Tavares de Lima que ao Chibamba também se atribuía a fama de suprimir a dor dos escravos açoitados, atraindo-a toda para si quando o invocaram.

CHUPA-CABRAS

É relevante registrarmos esse, haja vista sua atualidade. “Novo ser mitológico”, segundo Hitochi Nomura.

O Chupa-cabras teria aparecido nas áreas rurais de municípios vizinhos à cidade de Campinas, por volta de 1997. Os habitantes da mencionada região atribuíram súbitas e misteriosas mortes de ovelhas e bois a uma estranha criatura notívaga.

O jornalista Paulo San Martin, na edição de 8 de junho de 1997 do jornal A Tribuna, de Campinas, relata na matéria intitulada “Chupa-cabras: agora ele se tornou histeria coletiva” que as marcas deixadas pelo bicho não se confundem com a de nenhum predador conhecido, não encontrando o seu ataque referência na zoologia e na biologia. “Praticamente todo o sangue é drenado e as feridas são inconfundíveis, como se tivessem sido feitas por garras longas e afiadas, semelhantes a navalhas. Em alguns casos são retirados, com precisão cirúrgica, órgãos e glândulas nobres”.

A história foi, na época, muito divulgada pelos meios de comunicação. Uma babalorixá campinense, que afirma tê-lo visto, o descreve como uma criatura peluda apenas da cintura para cima, com poucos pelos nas pernas, e com focinho semelhante ao de um lobo.
-----------------
continua...
-----------------
Fontes:
http://www.folcloreolimpia.com.br/?pagina=folclore=mitoselendas
Montagem da trova sobre imagem obtida no site de Rosane Volpatto

Paulo V. Pinheiro (Uma Flor no Meio da Vida)


O quê queres? Perguntei-me a mim.

Dia e outro, na procura dos sentidos, me perco nas palavras que brotam por todo lado com seu propósito de me confundir.

Jornais, revistas, livros... tantas letras que doem.

Já li de tudo, me arrebatam as bulas...

Machado, Alencar, Scliar, Saramago, Lobato, e tanta gente que depois de um tempo me cobra: que dizes? Que me dizes?

Ousado, talvez com um pouco de medo, arrisquei umas pequenas linhas... pequeninas... pequenininhas.
Então escrevi.

Tive a sorte de aprender a letrar pensamentos e os letrei; então achei pouco.

Pensei: se posso descrever o que penso... porquê não posso escrever o que sinto?

Vi que existia uma ponte estreita, longa, perigosa e muita vez conflitiva, entre o que eu sentia e pensava.

Sofri, mas não desanimei, então me reescrevi.

Contei contos, desvelei novelas, trabalhei textos... passei a ler com mais cuidado, com mais rigor, com mais seleção.

Passei a ler como se eu tivesse escrito o texto que não escrevi. Busquei o sentimento que vale a pena (no estrito sentido da pena que escreve).

Antes disso eu não respeitava os que escreveram tanto como mereciam.

Textos bons ou textos nem tanto como queríamos ler, servem para o que servem, para se qualificarem uns aos outros.

Quem sabe o que é bom?

Sempre gostei das coisas mais fáceis e por isso busquei as mais difíceis, só para me contrariar... só eu sofri no caso das palavras que li.

Agora a pouco me perguntaram: e a flor, onde entra nisso que dizes?

Ora entendo que a flor é o produto da expressão do que se diz, do que se escreve, do que se pinta, do que se faz para a apreciação, como o trabalho, como o amor... como a expressão pura e simples da ação.

Existe no campo ou nos jardins, todo o tipo de expressão floral. Existe no jardim de nossos dias uma quantidade de obras a se admirar, umas com mais cuidado, outras com mais atenção, outras detalhadas, outras simples... cada qual com suas qualidades.

Para nós sobra entender o que fizemos ou faremos de nós.

Fontes:
Revista Entrementes
Imagem = http://www.webix.com.br/

Waldomiro Waldevino Peixoto (O Tempo na Ficção)


Não é possível entender uma obra de ficção sem perceber todos os fundamentos de sua estrutura formal. Entre eles está o tempo. “É o tempo, sem dúvida, que detém a essência da vida, e talvez de toda a realidade” já nos disse Bérgson. Essa importância do tempo o fez tema global e predominante na literatura recente. Se a literatura espelha a natureza humana e se o homem é cada vez mais consciente da penetrante e precária natureza do tempo, essa consciência tem sido cada vez mais, também, refletida nas obras literárias.

A sociedade moderna instituiu a ditadura do tempo cronológico, sujeito a relógio, calendário e planejamento. Há uma obsessão por planejamentos em quase todas as atividades humanas. Mas o tempo interior do homem não é rigoroso, não se mede por relógios e calendários, não obedece a planos pré-estabelecidos. O tempo cronológico consiste num esforço para opor uma barreira ao tumulto subjetivo, presenças da memória, duração interior, aspectos humanos imprevisíveis e incontroláveis. A literatura tem o poder de tirar de sintonia os elementos marcados pelo relógio e criar outros que são representações do espírito humano.

A ficção trata do tempo cronológico, mas fundamentalmente trabalha com o tempo psicológico, porque sua essência está intimamente relacionada ao conflito humano e este é a pedra fundamental da literatura de qualidade.

Luiz de Toledo Machado afirma que “nas sociedades arcaicas e antigas o homem percebia o tempo como um fenômeno cíclico, repetitivo, como um eterno retorno. Na cultura ocidental o conceito de tempo foi alterado, passando a ser entendido como sucessão, continuidade e consecutividade (...) Contudo o homem moderno traz dentro de si, inerente à sua realidade psicológica, tanto o tempo cíclico enraizado na inconsciente, que é a morada dos símbolos, mitos e arquétipos, como o tempo-sucessão, idéia que contém valores culturais e históricos”.

O tempo integra a essência da vida e do ser humano. Faz parte deles. A literatura – como a música – é manifestação temporal por excelência. O fato literário expressa, com palavra sugestiva e transubstanciadora, uma experiência real ou imaginária, num instante do viver.

Enquanto fazemos alguma coisa, um milhão de outras acontecem simultaneamente. Essa simultaneidade não é possível apreender na obra literária. No máximo, consegue sugeri-la, pois o poder expressivo da palavra faz-se pela sucessão natural. Quando o escritor codifica sua linguagem para reproduzir fatos, ele fica preso a essa sucessão. Quando o leitor decodifica a linguagem do escritor e toma conhecimento dos fatos por este narrado acaba por se submeter, também, ao mesmo fenômeno da sucessão.

Os fatos podem estar potencializados na mente do escritor como ocorrência simultânea, nos moldes da vida, mas, ao submetê-los à impressão na folha de papel, troca-se a simultaneidade da realidade “real” pela sucessão da realidade “transfigurada” pela literatura.

No momento em que escrevo estas linhas, tenho diante de mim o papel e a pena que nele desliza; ouço rumores de crianças que brincam no parque; penso no problema que expresso; um rádio distante transmite notícias; ouvem-se buzinas de automóveis. A ficção do fluxo de consciência e do monólogo interior cuidou de expressar, com recursos indiretos, essas coexistências, mas a instantaneidade e simultaneidade, perseguidas em tais intentos, somente se realizaram através de referências sugeridas, não de fatos concretos”. (Raúl Castagnino)

Como podemos perceber, a arte literária está impregnada de tempo: no conteúdo – porque faz parte do conflito humano – e na forma – porque sua matéria-prima, a linguagem, está umbilicalmente presa ao fenômeno da sucessão. E talvez o grande desafio do escritor resida no conflito entre a simultaneidade dos fatos narrados, o conteúdo (tempo narrado) e a sucessão narrativa (tempo de narração).

Ler e escrever estão presos à sucessão, portanto a literatura é uma arte temporal em todas as suas instâncias, tanto da criação do autor quanto na recriação do leitor.

Fontes:
Academia Ribeiraopretana de Letras. Ribeirão Preto , SP - Ano III - Nº 8 - Março/2004
Imagem = criação de C. E. Kluger, Calpar Comércio de Calcário Ltda.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.100)


Uma Trova Nacional

Quando a saudade me abraça,
num devaneio febril,
até na nuvem que passa,
eu diviso o teu perfil.
(NEOLY VARGAS/RS)

Uma Trova Potiguar

De aquarelas de segredo
compus a mulher sonhada,
mas hoje vivo em degredo,
longe da imagem criada.
(GONZAGA DA SILVA/RN)

Uma Trova Premiada

1994 > Bandeirantes/PR
Tema > FAMÍLIA > Menção Honrosa

Tudo se muda num lar,
casa, tapete, mobília,
tudo se pode trocar,
só não de troca a família.
(FERNANDO VASCONCELOS/PR)

Simplesmente Poesia

– Lúcia Helena Pereira/RN –
SÚPLICA

Vem amor, com esses olhos de anjo,
nessa urgência louca de amar!
Traz o teu sorriso de arcanjo
e esse cheiro de mar!

Vem rasgar ilusões antigas
no limo de esperas quietas
para os versos e cantigas
do som mavioso de tuas cantatas!

Vem como flores se abrindo,
dos botões de sonhos que plantei,
num jardim florido e lindo!

Vem, no cansaço dessas palavras,
no murmúrio róseo dos lábios que pintei
e nos raios de luas adormecidas.

Uma Trova de Ademar

Na construção do desgosto
de um casamento desfeito,
criei rugas no meu rosto
e pus mágoas no teu peito...
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Do teu desprezo ando farto
e, em meu orgulho, pressinto
que o trecho da sala ao quarto
nos parece um labirinto!
(PAULO CESAR OUVERNEY/RJ)

Estrofe do Dia

O meu sonho de menino
foi de ser aviador
conquistar um grande amor
e ter um feliz destino,
nunca sofrer desatino
e acumular emoções,
ter na conta dez milhões,
mas por só pensar besteira;
eu passei a vida inteira
colecionando ilusões.
(HELIODORO MORAIS/RN)

Soneto do Dia

– Miguel Russowsky/SC –
LIVRE ARBÍTRIO ???

Nascemos sem pedir e sem querer nos vamos...
Não fazemos as leis , somos feitos por elas.
Verdugos vem traçar seus paralelogramos
em nossas pretensões murchinhas e singelas.

Somos folhas gentis... Nos arrancam dos ramos
e nos jogam no além ao sabor das procelas.
Se morrem ilusões, as nossas, as seqüelas
nem pesam na balança escolhida dos amos.

Navegamos ao léu, carregando, já morto,
aquele sonho azul, à procura de um porto,
onde possa florir o amor com ouropeis.

De repente o descaso, a velhice, o abandono,
mostram as dimensões, no derradeiro sono
em marionete vã, obediente aos cordéis.

Fonte:
Ademar Macedo

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

André Luiz Nakamura (Mitos e Lendas do Folclore Brasileiro) Parte I


Desde sempre a humanidade se atormenta com as clássicas indagações pra as quais não houve e ainda não há respostas satisfatórias: de onde, por quê e para quê viemos? Para onde vamos?

Diante dos fenômenos da vida que lhe eram totalmente inexplicáveis, a criativa imaginação do homem primitivo atribuiu a autoria e o comando do universo, bem como sua própria existência nele, a fantásticas criaturas, a entidades sobrenaturais (a que futuramente se chamariam mitos).
Entre nós, é claro que os primitivos habitantes das terras que posteriormente se denominariam brasileiras, quais sejam, os índios, também daquele modo agiram ao se defrontar com o mesmo drama existencial.

Destarte, a exemplo de outros povos, também eles povoaram as matas, os rios, as montanhas, o mundo, com entes sobrenaturais, dando nascimento, assim, aos mitos brasileiros (juntamente com as duas outras culturas que depois formariam a brasileira).

O chamado pensamento mítico representaria, então, o estágio infantil da mentalidade humana na sua sempre ascensional trajetória evolutiva.

Lévi-Strauss, no entanto, em “O Pensamento Selvagem”, delineou uma “analogia formal” entre o pensamento mítico e o pensamento científico, argumentando que aquele seria a “metafórica expressão” deste. A civilização, desse modo, teria sido edificada através dos mitos.

Mesmo na atualidade, a despeito de ter a ciência progredido e elucidado alguma parte dos muitos mistérios da vida que assombram a humanidade, os mitos continuam a surgir e a renascer nas reminiscências populares, haja vista que a mencionada perplexidade que acometia o homem primitivo representava não só a crise existencial da humanidade diante do mundo, mas também a do homem diante de si próprio. Essa, aliás, certamente permanecerá, em maior ou menor grau.

Os segredos da alma humana, os sentimentos, medos, desejos, paixões, raivas, a luta contra selvagens instintos (o lobisomem que habita o homem), enfim, tudo aquilo que se encontra no interior da alma humana, e que a razão não é capaz de explicar, exterioriza-se e reflete-se nos mitos.

MITO – CONCEITO

Tendo em vista o que expusemos no tópico anterior, poderíamos conceituar “mito” como sendo configurações de entes fantásticos e sobrenaturais produzidas pelo imaginário popular em virtude da necessidade de se buscar explicação para a existência do universo e da própria humanidade, bem como para o que se encontra no interior da alma humana sem elucidação racional.

A essa motivação não se pode deixar de acrescentar também o prazer e a necessidade do homem de contar e ouvir histórias, pois o sonho e a fantasia, com efeito, fazem parte de seu espírito.

Ressalte-se, ainda, que mito também pode se referir a objetos, lugares e épocas, tendo ainda o sentido de utopia, segundo o Aurélio.

Exemplifiquemos parte de tal acepção com o chamado “Mito da Idade do Ouro”, “o mito da perfeição do princípio”, presente em quase todas as mitologias, segundo o qual no início dos tempos, quando da criação do homem, este vivia usufruindo uma felicidade plena.

O “Mito da Idade do Ouro” é também “futurizado” de acordo com algumas crenças no “fim dos tempos”. Um novo mundo, com uma nova humanidade, então, surgirá (os mortos também voltarão), para viver uma vida paradisíaca, sem dores, sem sofrimento, sem tristeza, sem morte.Vejamos mais alguns conceitos de mito:

Consoante o escólio de Leda Tâmega Ribeiro (“Mito e Poesia Popular”), “a palavra mythos, que originariamente significava ‘fábula’, ‘conto’, ‘fala’, ou simplesmente ‘discurso’, passou a ser usada em oposição a logos e história, vindo a denotar, então, ‘aquilo que não pode realmente existir”.

“(...) A palavra grega mythos referia-se fundamentalmente à atividade de contar e não ao conteúdo daquilo que é contado”.

O referido termo, prossegue a autora citando Mircea Eliade, “tornou-se em nossos dias, de certa forma, equívoco, podendo tanto significar ‘ficção’ ou ‘ilusão’, como ‘tradição sagrada’, ‘revelação primordial’ ou ‘modelo exemplar’”

“O mito é narração alegórica, que em geral procura explicar acontecimentos anteriores aos fatos históricos” (Veríssimo de Melo, “Folclore Brasileiro: Rio Grande do Norte”).

“Mito é uma narrativa de um fato que transcende a natureza humana. Seus personagens são entes sobrenaturais (...) Nasceu da necessidade do homem de explicar o mundo em que vivia e de sua própria presença nele (...) narra as façanhas de entes sobrenaturais, graças aos quais passou a existir uma realidade ou parte dela, como, por exemplo, uma ilha, uma espécie animal, vegetal ou mineral, um comportamento humano, uma instituição, etc.” (Antônio Henrique Weitzel, “Folclore Literário e Lingüístico”).

“O mito na história da civilização é um conjunto de lendas (grifamos) e narrações que referem personagens e acontecimentos anteriores aos fatos históricos conhecidos e que, por isso mesmo, se entretecem com episódios maravilhosos e fantásticos” (Luís da Câmara Cascudo, “Dicionário do Folclore Brasileiro”).

Vale lembrar que atualmente o termo é também usado para tratar do fenômeno de popularidade criado em torno de astros e estrelas do cinema e da televisão, a que alguns chamam “mitos fabricados”.

MITOS BRASILEIROS

Os mitos que se configuraram no Brasil, a exemplo do que se deu com o próprio povo brasileiro, ostentam também a forte marca da miscigenação, pois são eles provenientes de diversas culturas, sendo três suas fontes primordiais: os portugueses, os índios e os negros.

Para a grande maioria dos autores, foi prevalente a influência do colonizador português, que trouxe consigo mitos de quase todo o acervo europeu.
Raros, então, os mitos que por aqui se conservaram “originais” e nenhum o que se manteve imune à influência lusitana.

Em contrapartida, também os Lobisomens e Mulas-sem-cabeça que os portugueses para cá trouxeram adquiriram nestas terras cores locais e tropicais, “abrasileirando-se”.
Em segundo posto, na ordem de influência apontada pela maior parte dos folcloristas, encontram-se os de origem indígena, os primeiros a serem catalogados pelos portugueses, logo se confundindo os mitos de ambas as origens.

Os negros escravos, naturalmente, também para cá vieram acompanhados de seus mitos, os quais tinham grande força religiosa, requerendo rituais, danças, oferendas, etc. Os relatos sobre seus entes fantásticos que regem as forças da natureza certamente influenciaram na configuração dos nossos mitos.

No entanto, tomando-se a acepção folclórica do termo, i.e., sem implicações religiosas, são poucos os mitos de origem africana. Câmara Cascudo realça que é no ciclo da angústia infantil que mais se faz notar a influência negra na formação da mitologia brasileira:

“Rara será a aparição assombrosa que ainda mais terrível não ficasse através dos lábios africanos (...) O papel das ‘tias’ e dos ‘tios’ portugueses aqui lhes coube (...) A nossa Scheherazade foi a Mãe Preta...” (“Mitos Brasileiros”).

Para Théo Brandão (“Folclore de Alagoas”) “nossos mitos são restos, reelaborações, cruzamentos superposições dos mitos dos povos formadores da etnia brasileira”.

CLASSIFICAÇÃO

Alguns autores estabeleceram uma classificação para os mitos brasileiros.
O insigne folclorólogo Luís da Câmara Cascudo distribuiu-os em “primitivos e gerais” e em “secundários e locais”. Dentre os primeiros estariam o Saci-Pererê, o Jurupari, o Boitatá, o Lobisomem, a Mula-Sem-Cabeça, o Curupira, o Anhangá, Botos e Mães d´Água...

Todos os demais que constam do rol que logo apreciaremos seriam “secundários e locais”.

Cascudo (em “Mitos Brasileiros”) apresenta ainda mais duas subdivisões, a que denominou “Ciclo da angústia infantil” (Cuca, Mão-de-Cabelo, Chibamba, etc.) e “Ciclo dos monstros” (Capelobo, Gorjala, Mapinguari, Bicho-Homem, Labatut, Pé-de-Garrafa, Quibungo, etc.).

Merecem destaque esses “ciclos”.

Nos da angústia infantil, a exemplo do que se pretendia com as narrativas de contos de fadas, percebe-se neles um nítido propósito disciplinar.

Com relação ao ciclo dos monstros, bem a propósito, o célebre folclorólogo fala sobre o “ataque inesperado e predatório de gente de fora” e uma conseqüente reação mental dos índios frente ao inimigo estrangeiro e invasor, cuja imagem é por aqueles deformada, transformada em monstro.

Alceu Maynard Araújo (em “Folclore Nacional”), seguindo Basílio de Magalhães (em “Folclore no Brasil”), ordenou-os em primários e secundários.

Os mitos primários são: saci, mula-sem-cabeça, lobisomem, curupira, caipora.

Os secundários, segundo o mesmo autor, compreendem gerais: boitatá, mãe-do-ouro, minhocão, etc., e regionais: corpo seco, porca de sete leitões, mão-de-cabelo, cavalo branco, etc.

Entendemos que os vocábulos “primitivos” e “primários” foram utilizados pelos referidos autores com a acepção de “principais”, de forma a opor-se a “secundários” (usado por ambos os folcloristas), podendo-se deduzir que seriam os primeiros os mais conhecidos.

Nesta modesta abordagem do assunto, não estabeleceremos nenhum tipo de classificação pois, na atualidade, em vista do recrudescimento dos meios de comunicação, com inclusão da Internet, essa se torna uma tarefa difícil.

LENDA

Proveniente do latim legenda, do verbo legere = “ler” (e, por extensão, “algo digno de ser lido”), era esse o termo usado para designar as histórias sobre santos que eram narradas nos refeitórios dos conventos ou em cultos religiosos com o escopo de se estabelecerem edificantes referenciais com que se deveriam identificar os ouvintes.

Não quer isso dizer, porém que ensejou o advento das lendas; outros povos, primitivos, também tinham seus relatos fantásticos (a que depois se denominou “lenda”) sobre eventos originalmente verdadeiros, ou considerados como tais; sobre heróis que podem ou não terem realmente existido; ou sobre feitos “heroicizados” pela imaginação popular.

A lenda é também considerada como a “imaginação da História” tendo em vista que esta, em sua “infância”, não foi nada além de uma sucessão de lendas oralmente transmitidas de geração a geração, com o sempre presente gosto popular pela fantasia.

Com o passar dos tempos, o sentido do vocábulo se foi ampliando, de maneira a abranger outras formas de narrativa, como veremos.

LENDAS – CLASSIFICAÇÃO E CONCEITO

Costumam classificá-las em pessoais, locais, episódicas e etiológicas.
A primeira espécie, a das “pessoais”, subdivide-se em heróicas (que versam sobre figuras históricas); hagiográficas ou hagiológicas (sobre santos) e anedóticas (sobre pessoas pitorescas).

As heróicas são aquelas que enaltecem com as cores da fantasia os feitos de figuras históricas. São heróicas, por exemplo, nossas muitas lendas sobre os bandeirantes cujas andanças, desbravando sertões, cativando gentios, descobrindo minas, ensejavam e divulgavam muitas lendas.

Merecem destaque as hagiográficas ou hagiológicas. Inúmeros são os exemplos de lendas brasileiras sobre santos que deliberadamente teriam dado origem a muitas cidades e bairros, sendo-lhes os padroeiros. Suas imagens recusavam-se a sair no local que designaram para seus santuários, como dizem ter ocorrido na cidade de Nazaré Paulista.

Hélio Damante (“Folclore Brasileiro – São Paulo”) dá outros exemplos:
“O encontro de imagens, caso do Bom Jesus de Iguape, do Bom Jesus de Pirapora e de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, mesmo se tratando de fatos historicamente comprovados, sempre aguçou a imaginação de devotos e deu origem a um particularizado lendário, enriquecido pela iconografia dos milagres e ex-votos, sonhos e visões”.

As locais tratam de temas ligados a uma determinada localidade, versam sobre rios, montanhas, lagos, cavernas, etc. São também denominadas tópicas e geográficas.

As episódicas dizem respeito a eventos e acontecimentos de interesse de uma localidade.

As etiológicas, que buscam explicar a origem de plantas, de animais, se sobrelevam nas fantasiosas narrativas indígenas sobre a origem da mandioca, do milho, da lua, etc.

Essa classificação, com base na apresentada por Antônio Henrique Weitzel “Folclore Literário e Lingüístico”), fornece elementos para alguns conceitos de “lenda”.

Vejamo-los:
“A lenda é uma narrativa em torno de um fato real, com uma explicação ou interpretação de uma figura, uma realidade, um acontecimento histórico, em torno da qual a fantasia cria uma série de coisas irreais e até mesmo inverossímeis” (Renato Almeida “Inteligência do Folclore”).

“A lenda é a imaginativa sobre a realidade, realidade que pode ser o homem, o vegetal, o animal, os elementos da natureza, os acidentes geográficos, etc. Reveste a vida dos santos, dos heróis e dos bandidos; explica a razão do que vê e não compreende; aponta o que acredita ser a origem das coisas e dos fenômenos” (Maria de Lourdes Borges Ribeiro, “Folclore”).

No entanto, cumpre-nos acrescentar que o termo “lenda” não é usado apenas para significar “narrativa fantasiosa sobre a realidade”. Relatos sobre seres e fatos inverossímeis são também chamados “lendas”. Há fantásticas histórias protagonizadas, por exemplo, por seres imaginários a que consensualmente se denominou mitos, como o Curupira, o Saci, a Mula-Sem-Cabeça. Existem, pois, “lendas” acerca de “mitos”.

São também chamadas de “lendas” histórias sobre tesouros enterrados, sobre fantasmas, almas penadas, e, bem assim – dentre outras – sobre corpos de “espíritos puros” (“corpos santos”) que, sepultados, se mantiveram intactos sob a terra, e que seriam encaminhados em sigilo ao papa pelo vigário, segundo crença popular, informa-nos Saul Martins (“Folclore Brasileiro – Minas Gerais”).

Na seara do folclore, se o vocábulo lenda fosse utilizado apenas para se referir a histórias fantasiosas sobre santos, heróis, bandidos, simples seria distingui-lo de “mito”. No entanto, a amplitude conceitual que se lhe deu, narrativa fantasiosa sobre a realidade, pode ter sido o ponto de partida para a confusão de mito com “lenda” (de que a seguir trataremos), visto que se passou a assim denominar tanto as fantásticas narrativas indígenas sobre a origem de plantas como aquelas que versam sobre a criação do mundo, sobre os fenômenos atmosféricos, etc.

MITO E LENDA – DISTINÇÃO

Considerando-se a polissemia dessas palavras, ou seja, os muitos sentidos que adquiriram, em virtude também das próprias definições que se lhes deram, ambos os vocábulos são freqüentemente confundidos.

1. A Enciclopédia “Mérito” registra que “o mito situa-se nos tempos ante-históricos e representa um ser ou episódios sobrenaturais, enquanto a ação das lendas decorre no mundo, entre os homens, não recuando para além da origem dos povos cristãos”.

Observe-se, porém, que renomados folclorólogos brasileiros, posteriormente, registraram histórias sobre a criação do mundo e da humanidade, cultivadas oralmente pelos índios (predecessores dos cristãos), às quais se denominaram e ainda se denominam “lendas”.

2. Em conformidade com a Enciclopédia Mirador, o que distingue o mito da lenda é a natureza dos relatos, observando que o primeiro “fornece o fundamento de toda a vida social e tem caráter religioso”. (...) “A lenda,’história falsa’, narra feitos de alguns heróis populares, explica particularidades anatômicas de certos animais, etc. ao passo que o mito, ‘história verdadeira’, se reporta à criação do mundo e dos homens, à origem da morte, etc”.

Nesse sentido, Antônio Henrique Weitzel (“Folclore Literário e Lingüístico”), ao falar sobre a ambivalência do mito em Folclore, apontando, de um lado, o fato (crença), e do outro, a narrativa (literatura oral) – que seria a forma explicativa do mito – argumenta que “esse ato de crença é que irá distinguir o mito de outras formas narrativas, como a lenda”.

Com o devido respeito, é possível divergir-se dessa distinção, pois – para exemplificar – as lendas sobre santos ou mártires, chamadas hagiológicas ou hagiográficas pelos estudiosos do assunto, também podem implicar crença nos relatos (e/ou crendice?) por parte dos narradores. A própria origem do vocábulo, como vimos, remonta a histórias sobre santos contadas em convento.

É oportuno lembrar, entrementes, que Théo Brandão (“Folclore de Alagoas II”), quando defendeu, anteriormente, a mesma idéia do citado folclorista, dizendo que “fica implícita a noção de que o mito aquele que o relata nele acredita inteiramente, enquanto assim não o considera aquele que o recolhe como tal”, acabou por deixar à vontade o uso dos controvertidos vocábulos ao expor sua conclusão:

“Daí que a mesma narrativa possa ser catalogada como mito, lenda, conto ou acontecimento real, segundo as convicções do narrador, do coletor ou do divulgador”.
Para o mesmo autor, a melhor definição dos mitos é a de que “são narrações em que se procura explicar a origem dos seres vivos e de certos objetos ou a origem de algum costume”.

Aleixo Leite Filho (“Noções de Folclore”) preleciona algo similar:
“(...) é uma criatividade da imaginação popular que tem como principal preocupação descrever a origem dos seres, dos objetos e dos fatos”.
O problema é que ele í está se referindo a lenda...

3. Vejamos outros pontos de vista considerando-se mais propriamente a acepção folclórica dos termos.

Segundo o Prof. Renato Almeida em “Curso de Folclore” (registra a Profª Palmira M. Degásperi Rodrigues, em “Mito e Lenda, Implicações Filosóficas”, anuário do 29º Festival do Folclore), consiste no fato de que o primeiro é “uma entidade fantástica, de pura imaginação”, enquanto a segunda “é uma narrativa fantasiosa sobre um fato real”.

Essa última distinção, data maxima vênia, também apresenta algumas imprecisões, pois contempla apenas uma das acepções de “mito” e “lenda”. O mito também é “narrativa”, i. e., sua conceituação compreende também essa característica (diversos folclorista, e os dicionários inclusive, a registram), e quanto à lenda, esta, como já dissemos, não significa apenas história fantasiosa sobre a realidade, visto que existem narrativas fantásticas sobre seres e fatos também imaginários, a que chamam “lendas”. Há lendas, por exemplo, sobre o Curupira, o Lobisome, a Iara, o Saci, etc., enfim, há lendas em torno dos mitos.

4. Câmara Cascudo, com o peso de sua autoridade no assunto, pontifica: “Muito confundida com o mito (a lenda) dele se distancia pela função e confronto. O mito pode ser um sistema de lendas, gravitando ao redor de um tema central, com área geográfica mais ampla e sem exigências de fixação no tempo e no espaço”.

Para o ilustre folclorista Basílio de Magalhães (“O Folclore no Brasil”) “do mito, - transfiguração dos seres e fenômenos naturais em corpos inaturais e forças sobrenaturais, totens e tabus, pelo eu projetivo do homem inculto, - foi que se geraram as lendas, os contos e as fábulas da tradição popular. O que caracteriza a lenda é a apoteose, ligada a proezas heróicas ou a maravilhas supra-sensíveis”.
Tendo em vista o escólio dos dois mestres, do qual se depreende o estabelecimento de uma espécie de hieraquia entre os dois fenômenos, na qual o mito ocuparia o alto posto, há quem o interprete “a contrário senso”, de modo que lendas também podem vir a tornar-se mito.

Um bom exemplo dessa interpretação extrai-se da consagrada telenovela “Roque Santeiro”, que foi recentemente reprisada pela segunda vez, tamanho o seu sucesso.
Numa etapa inicial, pode-se-ia denominar “lendas” as histórias que se contavam na fictícia cidade de Asa Branca sobre o mártir que morrera em defesa desta, lutando contra os bandidos que a saquearam. Paulatinamente, a reiteração e a progressiva expansão dessa lenda pelo Brasil, a que se acresceram milagres atribuídos ao “Roque Santeiro”, consagraram-lhe o status de mito (era apenas esse o termo que usavam na novela para aludir ao herói). O ponto central da trama era o fato de estar vivo o protagonista, o que culminou numa luta entre o Roque Santeiro vivo e o mito, que os poderosos da cidade, por interesses, queriam preservar – assim como a respectiva população, mesmo sem o saber, haja vista que precisa de mitos.

No entanto, ainda nos suscitam dúvidas os elementos distintivos apontados por Cascudo e Basílio de Magalhães, segundo os quais dos mitos derivariam as lendas, devendo-se considerar a maior abrangência dos primeiros em oposição à relativa “localidade” das últimas.

Qual seria o critério para quantificar o dimensionamento territorial que a propagação de algum relato fantástico precisaria atingir para ser chamado “lenda” ou “mito secundário local” (espécie mencionada por Câmara Cascudo em “Mitos Brasileiros”)?

O que impediria, por exemplo, qualificar-se como mito a “Moça de Branco” classificada como lenda por Alceu Maynard Araújo (“Folclore Nacional”)? Ou como lenda o “Cavalo Branco” catalogado como mito secundário pelo mesmo autor?
É válido observar também que a primazia que se pretendeu atribuir ao mito não se propagou com muita força, visto que popularmente o termo mais usual é “lenda”.

Como se pode notar, é de fato penoso traçar uma nítida demarcação entre os territórios conceituais do mito e da lenda, tendo em vista que a polissemia desses termos parece poder mobilizar uma faixa fronteiriça definitiva que se lhes tentasse traçar, fazendo com que esta se expandisse, alargando-se ora por um, ora por outro dos respectivos domínios semânticos de cada um dos indigitados vocábulos.

Como diria Amadeu Amaral (ao falar da impossibilidade de traçar linhas exatas entre provérbios e outros conceitos, como adágios, anexins, etc.), “a substância fluida escapa por entre as frinchas das frases que a pretendem conter”.

Um relativo consenso se verifica no uso de “mito” para designar o Curupira, o Saci-Pererê, a Mula-sem-cabeça, o Lobisomem, entre outros mais conhecidos, e de “lenda” para os relatos fantasiosos sobre a origem de seres e objetos, como as plantas (“lenda da mandioca”, “lenda do guaraná”, e outros exemplos que constam da coletânea que logo se verá). Não obstante, existem exceções. O próprio Câmara Cascudo, o grande luminar da Folclorística, em “Mitos Brasileiros – Cadernos de Folclore”, coloca “Mães d´água” entre os mitos primários. Entretanto, em “Dicionário do Folclore Brasileiro”, no verbete “Lenda”, usa a expressão “a lenda da Mãe d´água”... Na mesma clássica obra, e no mesmo tópico, fala da “lenda do Barba-Ruiva”; noutro (“Barba”), informa que “um dos mitos mais populares do Piauí é o Barba Ruiva”.

Na verdade, o que amiúde se vê é o uso de um termo pelo outro, às vezes indistintamente, como se quase sinônimos fossem.

No que refere aos folcloristas que se dedicam ao assunto, referindo-se lateralmente à matéria com alguns exemplos ou mesmo apresentando um repertório mais amplo, muitos deles costumam salvar-se empacotando tudo num só volume, no qual pregam o rótulo “Mitos e Lendas”, para identificar coletâneas desse jaez.

Fonte:
http://www.folcloreolimpia.com.br/?pagina=folclore=mitoselendas

Heloisa Crespo (Emissário da Trova)


A Milton Nunes Loureiro

Navegando na internet,
no Pavilhão Literário
Singrando Horizontes Blog,
encontrei um emissário,
um ‘emissário da trova’,
poeta extraordinário!

Gente da minha terra!
Milton Loureiro, campista.
Foi escrivão de polícia,
delegado e é jornalista,
Atuou em várias rádios
como noticiarista

e repórter na Tamoio,
Copacabana, Tupi,
Continental e outras mais.
Não ficou só por aí.
Participou de programas
nas emissoras: Tupi,

Rio e Continental,
como apresentador.
Ele é também imortal.
É poeta, trovador.
Faz parte de Academias (*1).
e outros Centros (*2) de valor.

Milton coleciona títulos:
Cidadão Cantagalense,
Benemérito do Rio (*3),
Cidadão Niteroiense,
Honorário de Petrópolis,
Cidadão Cabofriense,

Cidadão de São Gonçalo
e Teresopolitano.
O brilhante trovador,
como um bom geminiano,
organiza anualmente,
há bem mais de trinta anos,

precisamente, quarenta,
um dos mais tradicionais
Jogos Florais do Brasil,
reunindo os magistrais
trovadores do país,
poetas e imortais.

E assim foi no ano passado,
com a sua supervisão,
os Jogos de Niteroi.
Festa bela, de expressão.
Teve bolo, homenagens,
causando admiração.

Autoridades presentes,
membros da UBT,
na seção de Niteroi
que com empenho e prazer,
é presidida por ele
e da trova é o ateliê.

Milton foi agraciado
com títulos, várias medalhas (*4),
a comenda Ordem do Mérito (*5),
por onde passa e trabalha.
Tudo o que faz leva a sério.
Por isso não deixa falha.

Entre Milton e a ANL,
há uma curiosidade.
O patrono é um expoente
da intelectualidade
de Campos dos Goytacazes.
Existe uma identidade,

do ocupante da Cadeira
dezenove e o seu patrono,
poeta Azevedo Cruz (*6).
Milton Loureiro, o dono.
Ambos Chefes de Polícia,
detentores de um trono

nos espaços literários.
Versos lindos, bem escritos
e em livros publicados.
Os dois em leis são peritos.
São bacharéis em Direito.
Seus versos não estão prescritos.

O “Emissário da Trova”
em concurso é campeão.
Está sempre entre os primeiros,
Se não está, tem distinção:
honrosa ou especial.
Sempre recebe a menção!

Jan./2011
--------------------------

*1 Academia Brasileira da Trova, Academia Niteroiense de Letras, Academia Ateneu Angrense de Letras e Artes, Academia de Letras de Uruguaiana, Academia Internacional de Letras Três Fronteiras e outras.

*2 Ordem dos Advogados do Brasil, à Associação dos Delegados de Polícia do Estado do Rio de Janeiro, à Associação dos Delegados do Brasil, à Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra e outros.

*3 Cidadão Benemérito do Rio de Janeiro

*4 medalhas: do Mérito Policial, José Cândido de Carvalho, José Clemente Pereira, Oswaldo Cruz e Jubileu de Ouro da Academia Niteroiense de Letras.

*5 Comenda Ordem do Mérito Arariboia

*6 João Antônio de Azevedo Cruz.

Fonte:
A Autora

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.99)

Uma Trova Nacional

O perdão é tão sublime
que, por mais que a ofensa doa,
põe uma paz que redime
no coração que perdoa.
(ZENAIDE MARÇAL/CE)

Uma Trova Potiguar

Pesa a cruz do meu fadário,
mas tenho fé em Jesus
que se aumentar meu calvário
não sinto o peso da cruz!
(PROF. GARCIA/RN)

Uma Trova Premiada

2009 > Ribeirão Preto/SP
Tema > CIGANO > Menção Especial

Ante o teu vulto de fada
e esse lindo olhar arcano,
sinto a alma engalanada
por ter nascido cigano!
(HERMOCLYDES S. FRANCO/RJ)

Simplesmente Poesia

Mote: (Autor Anônimo)
URGENTE É MUDAR AS TREVAS
EM SUAVES BÊNÇÃOS DE LUZ.

GLOSA:
Irmão, o pão que tu levas
vem dividir com nós todos,
pois, sem cobranças e engodos
urgente é mudar as trevas
naquilo em que mais te elevas,
assim como fez Jesus
que no suplício da cruz
nos deu a paz e o perdão,
transformando a escuridão
em suaves bênçãos de Luz.
(THALMA TAVARES/SP)

Uma Trova de Ademar

As trovas mais verdadeiras
nascidas de nossas lavras,
formam poesias inteiras
não são apenas palavras...
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Fingindo felicidade,
um sol que raro desponta,
fantasia é a realidade
vestida de faz-de-conta ...
(ELTON CARVALHO/RJ)

Estrofe do Dia

Num oitão de uma cabana
num aceiro de um roçado,
se encontra um velho sentado
num rebolo de imburana,
cortando uns troncos de cana
para uma porca que cria,
ouvindo a chocalharia
de uma manada de gado,
regressando do roçado
depois da morte do dia.
(MANOEL FILÓ/PE)

Soneto do Dia

– Darly O. Barros/SP –
CELAGEM.

Meu estro se extasia, ao ver o ocaso
Vermelhecer, à curva descendente
Do sol: são seis e vinte e é sem atraso
Que ele boceja e some, no ocidente...

Meus dedos fremem, não por mero acaso:
Há que selar o vôo mais recente,
Os frêmitos e arroubos do parnaso,
Ao mergulhar as asas no poente;

E então, a gotejar vermelho e rosa
- colhidos na viagem espantosa,
Realizada às fímbrias do cariz -,

Vê-lo , embebendo a pena em mil rubores
E, em um soneto, eternizando as cores
Do sol poente, em glorioso bis...

Fonte:
Ademar Macedo

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.98)


Uma Trova Nacional

Escutai os vossos ais
com emoção e ternura
aflição de nossos pais
entre ruas de amargura.
(PINHAL DIAS/PORTUGAL)

Uma Trova Potiguar

Matando e fazendo guerra
para conseguir riqueza,
o homem vive aqui na terra
destruindo a natureza.
(IVANISO GALHARDO/RN)

Uma Trova Premiada

2010 > Curitiba/PR
Tema > IMAGEM > Menção Especial

“O homem foi por Deus criado
à Sua imagem”... somente.
Deus o fez capacitado
para um viver plenamente.
(MARIA CONCEIÇÃO FAGUNDES/PR)

Simplesmente Poesia

– Lena Ferreira/RJ –
MAL DITO


que já te isentei da culpa!
(desastre pouco - expus
a alma inteira)

Segue um rumo oposto
sem esquinas
( não lances retinas
à lua nem ao sol )

- Amaldiçoo-te a visão! -

Fico
mastigando a derrota
( luta vã é argumentar
com o teu ego)

Sigo
remoendo um desconforto
( estrada fria pela ausência
dos teus passos.)
Uma Trova de Ademar

Quando a chuva cai na serra
representa, com certeza:
semente em baixo da terra,
fartura em cima da mesa!
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Quando a chuva molha o agreste
outro pranto molha o chão.
- É muito cabra-da-pesta
chorando de gratidão!...
(WALDIR NEVES/RJ)

Estrofe do Dia

A fonte de uma inspiração poética,
é cacimba de “veio” inesgotável,
que, fazendo nascer, torna viável,
a poesia com toda sua estética.
A métrica é a música da fonética
e a rima é o som do coração.
Junta-se tudo em nome da emoção,
que se esparrama n’alma do leitor,
tornando-se o combustível do amor,
na corrida sublime da paixão!...
(FRANCISCO MACEDO/RN)

Soneto do Dia

– Luiz Antonio Cardoso/SP –
ENFIM

Se a ausência que sentes, a vida sem versos,
inflige o vazio das noites sem fim,
atenta, procures, em lados reversos...
Além do horizonte verás um jardim!

Verás, adorada, nos bosques dispersos,
meus sonhos de outrora, pedaços de mim...
E enfim, trocaremos olhares diversos...
Carinhos infindos... E versos... Enfim!

Serei teu poeta... teu simples poema!
Teu canto sublime... Teu doce dilema...
Aquele que buscas um dia encontrar.

Serás minha musa... Meu mundo encantado!
O altar sacrossanto... Meu doce pecado!
Aquela que um dia busquei conquistar.

Fonte:
Ademar Macedo

domingo, 16 de janeiro de 2011

Carolina Ramos (Minha Amiga)

Poema montado sobre imagem obtida em http://repoetas.blogger.com

Jacy Pacheco (Poemas Avulsos)


AMBIÇÃO DO PINGO D'ÁGUA

A noite esqueceu
no côncavo de uma folha
vizinha de um riacho,
um pingo d’água.

Veio o sol
como uma rosa grande ardendo em febre
envolveu a pequenina gota
num punhado de cores.

Pingo d’água acordou,
olhou para baixo,
gostou do riacho...
Sonhou ser assim,
ser riacho também...

E correr,
e crescer,
ir além...
ser um rio bem grande,
maior do que ninguém...

veio o vento
de repente
e desgarrou da folha o pingo d’água.
Pingo d’água morreu.
Pingo d’água perdeu-se no riacho.

Pingo d’água sou eu.

PRIMAVERA DO MUNDO

Primavera do mundo, tu virás!
Talvez não venhas na tranqüilidade
de um dia claro e musical.
Trarás as mãos ensangüentadas
e as rosas se abrirão todas vermelhas.

Mas chegarás!
E extirparás a tirania
e todos os princípios egoístas.
E as máquinas da paz
revolverão o solo redimido
pelo sangue de irmãos idealistas.

Primavera do mundo, eu te entrevejo
numa nesga de sol recém-nascido,
anunciando o bem dos homens livres,
a vitória do amor, do ideal fecundo!

Aguardo o teu instante triunfal
primavera do mundo!

O ATEU

Era médico e jovem. Dizia
impropérios ao Deus que adoramos:
- Terra e mar, sol e sal, penedia,
vales, rios, e peixes, e ramos,

são produtos do acaso. Eu queria
defrontá-lo onde está, onde estamos.
Se existisse, por certo O veria.
Ora, Deus! Na ciência creiámos!

Mas, um dia, se viu a tratar
de seu filho... Que esforço gigante!
Tudo fez na aflição de o salvar!

E, prevendo-lhe o último adeus,
o doutor, a buscar céu distante,
suplicou: - Ajudai-me, meu Deus!

CONFORMISMO

Lembrar é bom... Já não me abraso
ao suscitar recordações:
glórias colhidas ao acaso
e as mágoas, Vida, que me impões!

Uns me trataram com descaso,
ungiram-me outros de atenções.
E mergulhei no meu ocaso
de frios sonhos e paixões...

Lembrar, após longa jornada...
Sustar um pouco a caminhada.
revendo a etapa percorrida...

Lembrar é bom.., deixando em paz
glórias e mágoas para trás,
para aceitar melhor a vida.
---
Fontes:
J.G . de Araujo Jorge. Antologia da Nova Poesia Brasileira- 1a ed. 1948
Magia dos Sonetos .

Nilton Manoel (Haicai - O Poema de Três Versos)


Aproveitei-me deste final de semana chuvoso, para colocar em ordem minha estante de arte-poética, separando os volumes que me servirão de ponto de referência no correr deste ano ímpar. Em meio desta tarefa encontrei o “Itinerário” – livro de autoria de Jacy Pacheco, premiado em 1.972, pela secretaria da Cultura,Esporte e Turismo da Guanabara e, editado no ano seguinte elo Instituto Niteroiense de Cultura. O volume foi-me ofertado pelo autor, durante a minha estada em Nova Friburgo –RJ, participando dos Jogos Florais da localidade. O Itinerário tem 66 páginas, sendo que 51 estão divididas entre trovas, sonetos, poemas e haicais. No verso de uma das páginas de apresentação, encontrei um haicai de Luiz Antônio Pimentel;

“ Que é um haicai?
É o cintilar das estrelas,
Num pingo de orvalho!”

Daí resolvi envolver-me um pouco mais neste poema e parti para a mineração da arte indo até Hêni Tavares ( Teoria Literária, Ed. Itatiaia, BH,1971) onde consegui a afirmação de que “ poema é o nome gerérico de toda composição com intenção poética”. Folheando Aurélio B. Holanda encontrei: “ Haicai – poema japonês formado de três versos dos quais dois de cinco sílabas e um ( o 2º ) de sete sílabas poéticas. Além, na Antologia Luso Brasileira de Wagner Ribeiro- FTD, Adelino R. Ricciardi (irmão do Sílvio Ricciardi, da ARL) diz-me que Guilherme de Almeida jurava que esse gênero tinha sido criado especialmente para nós. Eis um exemplo:

“ Noite. Um silvo no ar;
Ninguém na estação. E o trem
passa sem parar” ( Guilherme)

Na mesma antologia, em crônica extraída do jornal dos Municípios, 1959, Altino de Castro informa que, coube a Guilherme de Almeida, a introduzir rimas (1º e 3º) na composição. Adiante escreve: “ Quando foi eleita em Long Beach, miss Universo, a japonesa Akiko Kojima – nome que significa “ alegre pequena ilha, eu me lembrei que não existia melhor modo de homenageá-la, do que compondo, à feição do Oriente, um colar de haicais, para o seu lindo pescoço pagão”. Do colar prendo-me em duas das sete contas:

“Agora são ricos
quimponos, leques, o sonho,
os olhos oblíquos...”

“Na concha do verso
alegre pequena ilha,
o sol do Universo.”

Voltando ao Itinerário de Jacy Pacheco releio alguns deles com rimas ou sem elas:

“Livre é o pensamento,
é porém à flor dos lábios
pássaro detento”.

No exemplo acima o primeiro verso rima com o terceiro e, neste outro, há rima paralela no primeiro com o segundo verso:

“ Com sabedoria,
tu pouparás alegria,
para as horas más”.

Já este outro não tem rimas:

“ Lagartas e tanques,
apagam sulcos de arados
e semeiam sangue”.

Finalmente, no Pequeno Dicionário de Arte Poética de Geir Campos, entre os 618 verbetes, encontro uma definição mais ampla:”Haicai – tipo de poema japonês (Hokku) de forma fixa, formado de 17 sílabas, distribuídas em três versos ( 5-7-5) sem rima como toda poesia nipônica. Em princípio, o haicai deve sugerir uma das estações do ano, e o gênero foi imortalizado por Bachô. Na segunda metade do século XVII. No Brasil Guilherme de Almeida, houve por bem fazer rimarem os versos 1 e 3 e introduzindo a rima leonina no segundo, como este exemplo do livro Poesias Várias:

“ Uma folha morta,
um galho no céu grisalho.
Fecho a minha porta”.

O verso leonino, como o segundo deste haicai, é o que tem rima nos hemistíquios ou nos membros métricos. Sendo o haicai pequeníssimo poema, o poeta se obriga a um grande poder de síntese para que dentro dessa forma possa revelar com originalidade, mensagem poética que cative o leitor e, perpetue-se através dos tempos.
--------------------------
DIARIO DA MANHÃ 6/1/83

Fonte:
O Autor

3ª Etapa do Projeto de Trovas para uma Vida Melhor



Temas:- VIRTUDES -
Bons hábitos práticos que devem ser vividas em todas as circunstâncias, favoráveis ou adversas.

Apenas uma trova inédita por trovador(a), via Internet, em Língua portuguesa.
-----
1º Concurso – tema:- FÉ –

de 15/01 a 28/02/11

- resultado até 20/03/2011

O tema deverá constar da trova:
4 versos setessílabos, rimando o 1º com o 3º e o 2º verso com o 4º, tendo sentido completo.

Enviar para mifori14@yahoo.com.br

A trova
Seguida do...
Nome:
Cidade: Estado: País:
E-mail:..................................
complementos: Rua,Av, nº, bairro, cep, tel, etc

Maria Inez
Delegada da UBT em Paraibuna - SP

Roberto Pinheiro Acruche (Meus Poemas n. 8)


ELA E A JANELA

Continuamente eu ficava
olhando para a janela,
na esperança que ela
ali viesse chegar.
E quando chegava,
a janela a emoldurava;
enquanto eu, distante, fitava
sua figura encantadora.
O coração sorria
tomado de alegria
de vê-la, como queria,
radiante e feliz.
Era um quadro admirável
uma escultura notável,
lindo momento de amor!
Assim, era a cada dia
os nossos encontros!
Não via à hora, de
pertinho ouvir a sua voz,
afagar as suas mãos,
sentir as batidas de seu coração.
Queria senti-la num abraço...
E isso, não aconteceu
por mais que almejássemos...
Nossos encontros marcados,
só eram realizados, quando ela, divinamente... bela...
Postava-se, naquela janela!

PERCEPÇÃO

Sinto alguma coisa
indeterminada, agitando-me,
querendo ser exposta,
sem que eu compreenda
e saiba como agir.

É uma sensação incômoda,
perceptível, complexa.

Quero olhar para fora,
mas o que adianta...
se o que sinto permanece
por dentro, na alma!

PASSARINHO

Passarinho bate asa
Cantarola e faz o ninho
Do amor vêm os ovinhos
Ampliando a criação...
Com esmero incomum
Sustenta os filhotinhos
De biquinho a biquinho
Perpetrando a alimentação.
Passarinho que bate asa
Que nunca abandona o ninho
Até que os filhotinhos
Batam azas e gorjeando
Saiam por aí voando
Construindo novos ninhos
Ampliando a criação...

PONTO FINAL

Apanhei a caneta,
que estava sobre a escrivaninha
e comecei a escrever,
no bloco que estava ao lado,
a carta de despedida.

Havia tomado uma decisão!

Um amor de tantos anos,
vivido com tamanha intensidade,
com total cumplicidade,
estava nos seus derradeiros momentos.

A impressão, é que
seria eterno, indissolúvel,
inquebrantável...

Mas acabou!
Sim... acabou definitivamente...
Não dava mais para continuar.

Porém, mais difícil que acreditar
era iniciar a missiva.

Rasguei a primeira folha...
Rasguei a segunda, e adentrei
a madrugada desfolhando o bloco
sem conseguir dar início ao texto
que pudesse explicitar a razão.

No alvorecer, na última folha,
em estado dúbio,sem saber começar,
escrevi apenas...
Não sei o que dizer... PONTO FINAL.

Fonte:
Colaboração do Poeta

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.97)


Uma Trova Nacional

No tédio quase infinito
desta saudade sem fim,
o próprio tédio, acredito,
já sente tédio... de mim!
(SÉRGIO F. DA SILVA/SP)

Uma Trova Potiguar

Saudade, visão esquiva
que a gente sente e não vê.
Se foge, fica mais viva.
Se fica, lembra você.
(FRANCISCO AMORIM/RN)

Uma Trova Premiada

2008 > ATRN-Natal/RN
Tema > IDADE > Venc.


Quem planta o amor tem na Paz
de uma velhice serena,
prazer de olhar para traz
e dizer: - "Valeu a Pena"!
(WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ/PR)

Simplesmente Poesia

– Thalma Tavares/SP –
CANÇÃO DE AMOR.

Meu olhar, qual veio d' água,
lavou de meu peito a mágoa...
Já não temo a ingratidão.
Assim, se um dia voltares
esquecerei meus pesares,
te estenderei minha mão.

Como outrora, quando a vida
nos sorria colorida
e eu tinha o teu coração,
terás de novo meus beijos,
meus carinhos, meus desejos,
meu ardor, minha paixão.

Pois só quem ama de fato
perdoa o parceiro ingrato,
muda o rancor em bondade...
Todo amor é um sonho alado,
é um pássaro encantado;
não vive sem liberdade.

Maior que a vida, que a morte,
o amor é sempre mais forte,
vence a própria eternidade;
muda em virtude o defeito,
vence a dor que oprime o peito...
Mas só não vence a saudade.

Uma Trova de Ademar

Muda-se a cor preferida;
troca-se a corda do sino;
muda-se tudo na vida;
mas não se muda o destino...
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

As almas de muita gente
são como o rio profundo:
-a face tão transparente,
e quanto lodo no fundo!...
(BELMIRO BRAGA/MG)

Estrofe do Dia

Guardei todos momentos que passei
de ternura, de carinho e de amor,
momentos que na vida mais gozei
e os momentos que mais eu senti dor.
O momento feliz da minha vida,
quando Deus me curou de uma ferida,
que os médicos diziam não ter jeito;
e apesar de hoje eu ser um mutilado,
guardo sempre as lembranças do passado
pra curar as feridas do meu peito.
(ADEMAR MACEDO/RN)

Soneto do Dia

– Divenei Boseli/SP –
A ESPERA.

Quando se espera um “algo” que não vem,
quando se espera um bem que não se alcança,
a espera dura até que a gente cansa,
se desespera e não mais crê no bem.

A última que morre é a esperança,
diz um provérbio antigo... eu vou além:
- o que esperar, se vejo, e muito bem,
que o sonho espera mas o tempo avança...

A Vida é um palco e eu, tensa, na platéia
espero em vão que se levante o pano
e surja o ator que o coração me abrase!

A peça que eu aguardo é uma odisséia
ou... uma comédia? Entanto, o desengano
me diz que já a vivi ou, talvez, quase...

Fonte:
Ademar Macedo