domingo, 28 de agosto de 2011

Nicodemos Sena (O Prazer de Ler Nilto Maciel)

Nilto Maciel
“Levantei-me há cerca de trinta dias, mas julgo que ainda não me restabeleci completamente. Das visões que me perseguiam naquelas noites comprimidas umas sombras permanecem, sombras que se misturam à realidade e me produzem calafrios”, assim o escritor alagoano Graciliano Ramos começa o magistral romance Angústia, que conta à história de uma personagem miserável, vivendo numa das cidades nordestinas e vítima de todas aquelas desgraças circunstanciais. Graciliano costuma ser lembrado como o autor de Vidas secas e São Bernardo, livros que retratam a amargurada vida rural do povo nordestino, mas é Angústia a sua melhor obra. Nesse livro, ainda é o meio agreste que serve de pano de fundo para a narrativa, mas o drama se desloca do espaço social para o psicológico, onde é exposto o conflito íntimo do personagem-narrador Luís da Silva, humilde funcionário de repartição, a quem as dívidas e um ciúme doentio empurram para o crime.

Depois de Machado de Assis, esse romance de Graciliano é, na minha opinião, o mais profundo que surgiu na literatura brasileira, só encontrando paralelo em Os Ratos, do gaúcho Dionélio Machado. Em Angústia, Graciliano faz o drama interior das personagens transbordar o meio acanhado em que suas vidas se debatem. Com seu estilo despojado, preciso e correto, esse grande escritor fez escola, mas poucos seguidores souberam recriar, em linguagem sólida, o ambiente sombrio de Angústia, onde realidade, sonho e pesadelo se misturam.

No livro de contos Pescoço de Girafa na Poeira, (...) o também nordestino Nilto Maciel mantém viva a tradição narrativa iniciada por Graciliano Ramos em Angústia, pela qual o conflito humano gerado no meio físico e social acaba desaguando na psique das personagens, na sua alma. Embora não se trate de narrativa tipicamente onírica, há nela muita introspecção, como no conto “Reportagem”, do qual transcrevo o seguinte trecho: “Acordou, abriu os olhos. O sol já devia clarear tudo. Pôs-se a relembrar um sonho. Levantava-se, dirigia-se ao quintal. Onde andavam o galo e as galinhas? Lavava o rosto numa pia”. Nilto Maciel sabe criar tensão dramática na mesmice do cotidiano, como, por exemplo, no conto “As Ceias”, no qual a tensão é conseguida com a técnica do contraponto, que, ao mesmo tempo, adensa, encurta e mantém acesa a expectativa ao propor um enigma.

Embora inserido numa tradição, Nilto Maciel não é mero imitador. Seu estilo, de um verdadeiro criador, apresenta novidades que só a vivificam (pois o que pode matar uma tradição é a falta de avanços). Partindo do espaço social típico, o autor não se perde no pitoresco das situações. O enfoque é “realista” apenas na aparência, pois ao mistério que a vida representa é trazida a “certeza” das páginas mortas dos compêndios. A sua literatura, prenhe de vida, não desdenha da erudição, mas esta é destilada sutilmente, sem pedantismo nem invencionices que tantas vezes têm estragado o que poderia resultar em boa literatura. Há um Borges agreste em Nilto Maciel. “O que na aparência é simples relato, um conto, traz implícita a descoberta do Ser embutido do sujeito da oração e na linguagem”, bem observou Foed Castro Chama. O leitor encontra um ótimo exemplo disso no conto “A Pálida Visitante”.

Fica claro que Nilto Maciel, quando escreve, tenta ser fiel ao sonho e não às circunstâncias. Claro que suas estórias estão repletas de circunstâncias, mas são contadas com uma boa dose de inverdade. Pois que graça teria contar uma história como realmente ela aconteceu? O escritor de ficção não deve ter pretensão alguma à verdade, que não pertence ao universo da Literatura, mas da Vida. As coisas, ainda que insignificantes, devem ser mudadas, sob pena de deixarmos de ser artistas, para nos tornarmos meros jornalistas ou historiadores, embora Tolstoi já nos tenha ensinado, em Guerra e Paz, que todo historiador acaba sendo tão imaginativo quanto os romancistas.

Os contos de Pescoço de Girafa na Poeira revelam um autor maduro, que conhece a sua meta e os caminhos para chegar até ela. Sua frase é curta, mas rica em significado. Tanto o discurso direto quanto o discurso indireto confluem ao ponto almejado: O pensamento potencializado. Nilto Maciel não escreve pensando no leitor (este personagem imaginário). Não parece também pensar em si mesmo (pois o autor acaba sendo tão imaginário quanto o leitor). Ele, certamente, só pensa naquilo que tenta transmitir e disso não se afasta. Parece já ter passado daquela fase em que o escritor quer dizer tudo e só consegue ser confuso; já descobriu que, em vez de achar que pode encontrar a palavra exata para cada situação, ou a mais surpreendente metáfora, há mais eficiência na alusão, respeitando os direitos do leitor de “escrever” o seu próprio texto. Nós que um dia nos iludimos com caminhos largos e aparentemente seguros na Literatura, acabamos aprendendo à custa dos erros, que só os caminhos estreitos e espinhosos conduzem ao entendimento deste universo onde giramos que nem loucos. Nilto Maciel, autor de já ampla e importante obra, que vai do conto ao romance, publicados em esperanto, espanhol, italiano e francês, é, sem dúvida, um mestre da nossa literatura de ficção, que merece ser lido por todos os brasileiros.

(Jornal “O Estado do Tapajós”, Santarém, Pará, 5/9/2002)

Fonte:
Texto enviado por Nilto Maciel

Jean de La Fontaine (Fábulas) Os Médicos

Desenho de Gustave Doré
Certo médico chamado,
De alcunha, o Tanto-melhor,
Foi visitar um doente,
Do qual o Tanto-pior
Era médico assistente.

O último, sempre funesto,
Que o doente morreria
Altamente sustentava,
E o Tanto-melhor dizia
Que o dobre enfermo escapava.

Houve sobre o curativo
Mui grande contestação;
Um aplicava calmantes,
O outro armava uma questão
Em favor dos irritantes.

No fim de tanto debate,
O enfermo a vida. perdeu,
E o Tanto-pior clamou:
- Vejam qual de nós venceu!
Se o meu cálculo falhou.

Tornou-lhe o Tanto-melhor,
Mostrando um vivo pesar:
- Pois eu sempre afirmarei
Que morreu por não tomar
Os remédios que indiquei.

Em quanto a mim, se os tomasse,
Morrer havia igualmente;
Mas é desgraça maior
Cair um pobre doente
Nas mãos de um Tanto-pior.

Fonte:
La Fontaine. Fábulas. SP: Martin Claret, 2005.

Umberto Eco (Na Era da Globalização, o que Deveríamos Ler?


“O Cânone Ocidental” de Harold Bloom define o cânone literário como “a escolha de livros em nossas instituições de ensino”, e sugere que a verdadeira questão que ele suscita é: “o que o indivíduo que ainda deseja ler deveria tentar ler, a essa altura da História?” E ele observa que, na melhor das hipóteses, dentro do tempo de uma vida é possível ler somente uma pequena fração do grande número de escritores que viveram e trabalharam na Europa e nas Américas, sem contar aqueles de outras partes do mundo. Mesmo nos atendo somente à tradição ocidental, quais são os livros que as pessoas deveriam ler? Não há dúvidas de que a sociedade e a cultura ocidentais foram influenciadas por Shakespeare, pela “Divina Comédia” de Dante, e – voltando atrás no tempo – por Homero, Virgílio e Sófocles. Mas será que somos influenciados por eles porque os lemos de fato em primeira mão?

Isso lembra o argumento de Pierre Bayard, em “Como Falar Sobre Livros que Você Não Leu”, de que não é essencial ler de fato um livro de capa a capa para entender sua importância. Por exemplo, é nítido que a Bíblia teve uma profunda influência tanto sobre a cultura judaica como sobre a cristã no Ocidente, e mesmo sobre a cultura de não-crentes – mas isso não significa que todos aqueles que foram influenciados por ela a tenham lido do começo ao fim. O mesmo pode se dizer sobre os escritos de Shakespeare ou James Joyce. É necessário ter lido o Livro dos Reis ou o Livro dos Números para ser uma pessoa culta ou um bom cristão? É necessário ter lido Eclesiastes, ou basta simplesmente saber em segunda mão que ele condena a “vaidade das vaidades”?

Sendo assim, a questão do cânone não é homóloga à do currículo escolar, que representa o conjunto de obras que um estudante deverá ter lido ao fim de seus estudos. Hoje o problema é mais complicado do que nunca e, durante uma recente conferência literária internacional em Mônaco, houve um debate sobre o lugar do cânone na era da globalização. Se roupas de marca “europeias” são produzidas na China, se usamos computadores e carros japoneses, se até em Nápoles comem hambúrgueres em vez de pizza – resumindo, se o mundo encolheu a dimensões provincianas, com estudantes imigrantes em todo o mundo pedindo para aprender sobre suas próprias tradições – então como será o novo cânone?

Em certas universidades americanas, a resposta veio na forma de um movimento que, mais do que “politicamente correto”, é politicamente estúpido. Como temos muitos estudantes negros, algumas pessoas sugeriram ensinar-lhes menos Shakespeare e mais literatura africana. Uma ótima piada à custa de todos aqueles jovens destinados a saírem pelo mundo sem entender referências literárias universais como o solilóquio do “ser ou não ser” de Hamlet – e, portanto, condenados a permanecerem à margem da cultura dominante. Se tanto, o cânone existente deveria ser expandido, e não substituído. Como foi sugerido recentemente na Itália, a respeito de aulas semanais de religião nas escolas, os estudantes deveriam aprender algo sobre o Corão e os ensinamentos do Budismo, bem como sobre os Evangelhos. Assim como não seria mau se, além de suas aulas sobre a civilização grega antiga, os estudantes aprendessem algo sobre as grandes tradições literárias árabe, indiana e japonesa.

Não faz muito tempo, fui a Paris para participar de uma conferência entre intelectuais europeus e chineses. Foi humilhante ver como nossos colegas chineses sabiam tudo sobre Immanuel Kant e Marcel Proust, sugerindo paralelos (que poderiam estar certos ou errados) entre Lao Tsé e Friedrich Nietzsche – enquanto a maioria dos europeus entre nós mal conseguia ir além de Confúcio, e muitas vezes com base somente em análises em segunda mão.

Hoje, no entanto, esse ideal ecumênico esbarra em certas dificuldades. Você pode ensinar a jovens ocidentais a “Ilíada” porque eles ouviram algo sobre Heitor e Agamêmon, e porque seus rudimentos de cultura incluem expressões como “o julgamento de Páris” e “calcanhar de Aquiles” (embora em um recente exame de admissão de uma universidade italiana um candidato tenha pensado que o termo “calcanhar de Aquiles” se referia a uma doença, como cotovelo de tenista). Ainda assim, como conseguir fazer com que esses estudantes se interessem pelo poema épico sânscrito “O Mahabharata”, ou pelos poemas dos “Rubaiyat de Omar Khayyam” de forma que essas obras permaneçam em suas memórias? Será que realmente podemos adaptar o sistema educacional a um mundo globalizado quando a vasta maioria dos ocidentais cultos ignora totalmente que, para os georgianos, um dos maiores poemas na história literária é “O Cavaleiro na Pele de Pantera” de Shota Rustaveli? Quando acadêmicos não conseguem nem concordar se, na versão georgiana original, o cavaleiro do poema está na verdade usando uma pele de pantera e não de tigre ou de leopardo? Chegaremos sequer a esse ponto, ou continuaremos simplesmente a perguntar: “Shota o quê?”

Fonte:
The New York Times. Tradução: Lana Lim
Uol Notícias.

Umberto Eco (O Nome da Rosa)


análise feita por: Kledson Bruno Camargo

Estranhas mortes começam a ocorrer num mosteiro beneditino localizado na Itália durante a baixa idade média, onde as vítimas aparecem sempre com os dedos e a língua roxos. O mosteiro guarda uma imensa biblioteca, onde poucos monges tem acesso às publicações sacras e profanas. A chegada de um monge franciscano , incumbido de investigar os casos, irá mostrar o verdadeiro motivo dos crimes, resultando na instalação do tribunal da santa inquisição.

INTRODUÇÃO

A Baixa Idade Média (século XI ao XV) é marcada pela desintegração do feudalismo e formação do capitalismo na Europa Ocidental. Ocorrem assim, nesse período, transformações na esfera econômica (crescimento do comércio monetário), social (projeção da burguesia e sua aliança com o rei), política (formação das monarquias nacionais representadas pelos reis absolutistas) e até religiosas, que culminarão com o cisma do ocidente, através do protestantismo iniciado por Martinho Lutero na Alemanha em 1517.

Culturalmente, destaca-se o movimento renascentista que surgiu em Florença no século XIV e se propagou pela Itália e Europa, entre os séculos XV e XVI. O renascimento, enquanto movimento cultural, resgatou da antigüidade greco-romana os valores antropocêntricos e racionais, que adaptados ao período, entraram em choque com o teocentrismo e dogmatismo medievais sustentados pela Igreja.

No filme, o monge franciscano representa o intelectual renascentista, que com uma postura humanista e racional, consegue desvendar a verdade por trás dos crimes cometidos no mosteiro.

1. Contextualização

Discussão dos elementos formadores da cultura moderna, o surgimento do pensamento moderno, no período da transição da Idade Média para a Modernidade.

A História

O Nome da Rosa pode ser interpretado como tendo um caráter filosófico, quase metafísico, já que nele também se busca a verdade, a explicação, a solução do mistério, a partir de um novo método de investigação. E Guilherme de Bascerville, o frade fransciscano detetive, é também o filósofo, que investiga, examina, interroga, duvida, questiona e, por fim, com seu método empírico e analítico, desvenda o mistério, ainda que para isso seja pago um alto preço.

O Tempo

Trata-se do ano 1327, ou seja, a Alta Idade Média. Lá se retoma o pensamento de Santo Agostinho (354-430), um dos últimos filósofos antigos e o primeiro dos medievais, que fará a mediação da filosofia grega e do pensamento do início do cristianismo com a cultura ocidental que dará origem à filosofia medieval, a partir da interpretação de Platão e o neoplatonismo do cristianismo. As teses de Agostinho nos ajudarão a entender o que se passa na biblioteca secreta do mosteiro em que se situa o filme.

Doutrina Cristã

Neste tratado, Santo Agostinho estabelece precisamente que os cristãos podem e devem tomar da filosofia grega pagã tudo aquilo que for importante e útil para o desenvolvimento da doutrina cristã, desde que seja compatível com a fé (Livro II, B, Cap. 41). Isto vai constituir o critério para a relação entre o cristianismo (teologia e doutrina cristã) e a filosofia e a ciência dos antigos. Por isso é que a biblioteca tem que ser secreta, porque ela inclui obras que não estão devidamente interpretadas no contexto do cristianismo medieval. O acesso à biblioteca é restrito, porque há ali um saber que é ainda estritamente pagão (especialmente os textos de Aristóteles), e que pode ameaçar a doutrina cristã. Como diz ao final Jorge de Burgos, o velho bibliotecário, acerca do texto de Aristóteles – a comédia pode fazer com que as pessoas percam o temor a Deus e, portanto, faz desmoronar todo esse mundo.

2. Disputa de Filosofia

Entre os séculos XII e XIII temos o surgimento da escolástica, que constitui o contexto filosófico-teológico das disputas que se dão na abadia em que se situa O Nome da Rosa. A escolástica significa literalmente "o saber da escola", ou seja, um saber que se estrutura em torno de teses básicas e de um método básico que é compartilhado pelos principais pensadores da época.

2.1 Influência aos Pensamentos

A influência desse saber corresponde ao pensamento de Aristóteles, trazido pelos árabes (mulçumanos), que traduziram muitas de suas obras para o latim. Essas obras continham saberes filosóficos e científicos da Antigüidade que despertariam imediatamente interesses pelas inovações científicas decorrentes.

2.2 Consolidação Política

A consolidação política e econômica do mundo europeu fazia com que houvesse uma maior necessidade de desenvolvimento científico e tecnológico: na arquitetura e construção civil, com o crescimento das cidades e fortificações; nas técnicas empregadas nas manufaturas e atividades artesanais, que começam a se desenvolver; e na medicina e ciências correlatas.

2.3 Pensamento Aristotélico

O saber técnico-científico do mundo europeu era nesta época extremamente restrito e a contribuição dos árabes será fundamental para este desenvolvimento pelos conhecimentos de que dispunham de matemática, de ciências (física, química, astronomia, medicina) e de filosofia. O pensamento agora (Aristotélico) será marcado pelo empirismo e materialismo.

3. A Época

O enredo desenvolve-se na ultima semana de 1327, num monastério da Itália medieval. A morte de sete monges em sete dias e noites, cada um de maneira mais insólita - um deles, num barril de sangue de porco, é o motor responsável pelo desenvolvimento da ação. A obra é atribuída a um suposto monge, que na juventude teria presenciado os acontecimentos.

Este filme é uma crônica da vida religiosa no século XIV, e relato surpreendente de movimentos heréticos. Para muitos críticos, o nome da rosa é uma parábola sobre a Itália contemporânea. Para outros, é um exercício monumental sobre a mistificação.

4. O Título

A expressão "O nome da Rosa" foi usada na Idade Média significando o infinito poder das palavras. A rosa subsiste seu nome, apenas; mesmo que não esteja presente e nem sequer exista. A " rosa de então" , centro real desse romance, é a antiga biblioteca de um convento beneditino, na qual estavam guardados, em grande número, códigos preciosos: parte importante da sabedoria grega e latina que os monges conservaram através dos séculos.

5. Biblioteca do Mosteiro

Durante a Idade Média umas das práticas mais comuns nas bibliotecas dos mosteiros eram apagar obras antigas escritas em pergaminhos e sobre elas escreve ou copiar novos textos. Eram os chamados palimpsestos, livretes em que textos científicos e filosóficos ma Antigüidade clássica eram raspados das páginas e substituídos por orações rituais litúrgicos.

O nome da rosa é um livro escrito numa linguagem da época, cheio de citações teológicas, muitas delas referidas em latim. É também uma crítica do poder e do esvaziamento dos valores pela demagogia, violências sexuais, os conflitos no seio dos movimentos heréticos, a luta contra a mistificação e o poder. Uma parábola sangrenta patética da história da humanidade

Baseado: No romance de mesmo nome de Umberto Eco.

5.1 - Pensamento

O pensamento dominante, que queria continuar dominante, impedia que o conhecimento fosse acessível a quem quer que seja, salvo os escolhidos. No O nome da Rosa, a biblioteca era um labirinto e quem conseguia chegar no final era morto. Só alguns tinham acesso. É uma alegoria do Umberto Eco, que tem a ver com o pensamento dominante da Idade Média, dominado pela igreja. A informação restrita a alguns poucos representava dominação e poder. Era a idade das trevas, em que se deixava na ignorância todos os outros.

6. História

Em 1327 William de Baskerville , um monge franciscano, e Adso von Melk , um noviço que o acompanha, chegam a um remoto mosteiro no norte da Itália. William de Baskerville pretende participar de um conclave para decidir se a Igreja deve doar parte de suas riquezas, mas a atenção é desviada por vários assassinatos que acontecem no mosteiro. William de Baskerville começa a investigar o caso, que se mostra bastante intrincando, além dos mais religiosos acreditarem que é obra do Demônio. William de Baskerville não partilha desta opinião, mas antes que ele conclua as investigações Bernardo Gui , o Grão-Inquisidor, chega no local e está pronto para torturar qualquer suspeito de heresia que tenha cometido assassinatos em nome do Diabo. Considerando que ele não gosta de Baskerville, ele é inclinado a colocá-lo no topo da lista dos que são diabolicamente influenciados. Esta batalha, junto com uma guerra ideológica entre franciscanos e dominicanos, é travada enquanto o motivo dos assassinatos é lentamente solucionado.

O ano é 1327. Representantes da Ordem Franciscana e a Delegação Papal se reúnem num monastério Beneditino para uma conferência. Mas a missão deles é subitamente ofuscada por uma série de assassinatos. Utilizando sua brilhante capacidade de dedução, o monge franciscano William de Baskerville , auxiliado pelo seu noviço Adso de Melk , se empenha para desvendar o mistério. Mas antes que William possa completar sua investigação, o monastério é visitado pelo seu antigo desafeto, o Inquisidor Bernardo Gui . O poderoso Inquisidor está determinado a erradicar a heresia através da tortura e se William, o caçador, persistir na sua busca, também se tornará caça. Mas à medida que Bernardo Gui se prepara para acender a fogueira da Inquisição, William e Adso voltam à biblioteca labirintesca e descobrem uma verdade extraordinária ...

Resumo de O Nome da Rosa

Do ponto de vista do que hoje está sendo abordado, notamos que a história passa em um mosteiro na Itália Medieval. A idade média assistiu, em sua agonia um grande debate Filosófico Religioso. Perdido o equilíbrio do tomismo, o homem medieval caiu em dois extremos opostos.

De um lado os humanistas racionalistas Frei Guilherme de Ockham, um édito moderno. Tais humanistas cultivaram o antropocentismo julgaram que graças Pa ciências e a técnica, o homem seria capaz de vencer todas as misérias do mundo, até criar uma era de grande prosperidade material e de completa felicidade natural.

De outro lado místicos com visão extremamente pessimista da realidade. Para eles o mundo era intrinsecamente mau e irredimível por ser obra de um DEUS perverso, distinto da divindade. Acreditavam que a razão humana era má e só seria desejável perder-se no nada divino.

No mosteiro, sete monges morrem estranhamente, isto aborda muito a violência.

Há também uma violência sexual, no qual mulheres se vendem aos monges em troca de comida e muitas vezes depois são mortas.

Movimentos ecléticos do século XIV, a luta contra a mistificação, o poder, o esvaziamento de valores pela demagogia, são mostrados em um cenário sangrento sobre a política da historia da humanidade.

BIBLIOGRAFIA

Filme O Nome da Rosa , Globo Filmes e Produçoes

Livro O Nome da Rosa, Autor.: Umberto Eco

Fonte:
Cola da Web

Umberto Eco (1932)


Umberto Eco (Alessandria, Piemonte, Itália, em 5 de janeiro de 1932) é um escritor, filósofo, semiólogo, linguista e bibliófilo italiano de fama internacional. É titular da cadeira de Semiótica (aposentado) e diretor da Escola Superior de ciências humanas na Universidade de Bolonha. Ensinou temporariamente em Yale, na Universidade Columbia, em Harvard e no Collège de France. Colaborador em diversos periódicos acadêmicos, dentre eles colunista da revista semanal italiana L'Espresso, na qual escreve, entre uma infinidade de temas, sobre Berlusconi e Wikipédia. Eco é, ainda, notório escritor de romances, entre os quais O nome da rosa e O pêndulo de Foucault. Junto com o escritor e roteirista Jean-Claude Carrière, lançou no ano passado N’Espérez pas vous Débarrasser des Livres (“Não Espere se Livrar dos Livros”, publicado em Portugal com o título A Obsessão do Fogo e ainda inédito no Brasil).

Umberto Eco começou a sua carreira como filósofo sob a orientação de Luigi Pareyson, na Itália. Seus primeiros trabalhos dedicaram-se ao estudo da estética medieval, sobretudo aos textos de S. Tomás de Aquino. A tese principal defendida por Eco, nesses trabalhos, diz respeito à ideia de que esse grande filósofo e teólogo medieval, que, como os demais de seu tempo, é acusado de não empreender uma reflexão estética, trata, de um modo particular, da problemática do belo.

A partir da década de 1960, Eco se lança ao estudo das relações existentes entre a poética contemporânea e a pluralidade de significados. Seu principal estudo, nesse sentido, é a coletânea de ensaios intitulada Obra aberta (1962), que fundamenta o conceito de obra aberta, segundo o qual uma obra de arte amplia o universo semântico provável, lançando mão de jogos semióticos, a fim de repercutir nos seus intérpretes uma gama indeterminável porém não infinita de interpretações.

Ainda na década de 1960, Eco notabilizou-se pelos seus estudos acerca da cultura de massa, em especial os ensaios contidos no livro Apocalíticos e integrados (1964), em que ele defende uma nova orientação nos estudos dos fenômenos da cultura de massa, criticando a postura apocalíptica daqueles que acreditam que a cultura de massa é a ruína dos "altos valores" artísticos — identificada com a Escola de Frankfurt, mas não necessariamente e totalmente devedora da Teoria Crítica —, e, também, a postura dos integrados — identificada, na maioria das vezes, com a postura de Marshall McLuhan —, para quem a cultura de massa é resultado da integração democrática das massas na sociedade.

A partir da década de 1970, Eco passa a tratar quase que exclusivamente da semiótica. Eco descobriu o termo "Semiótica" nos parágrafos finais do Ensaio sobre o Entendimento Humano (1690), de John Locke, ficando ligado à tradição anglo-saxónica da semiótica, e não à tradição da semiologia relacionada com o modelo linguístico de Ferdinand de Saussure. Pode-se dizer, inclusive, que a teoria de Eco acerca da obra aberta é dependente da noção peirceana de semiose ilimitada. Nesta concepção do "sentido", um texto será inteligível se o conjunto dos seus enunciados respeitar o saber associativo. Ao longo da década, e atravessando a década de 1980, Eco escreve importantes textos nos quais procura definir os limites da pesquisa semiótica, bem como fornecer uma nova compreensão da disciplina, segundo pressupostos buscados em filósofos como Immanuel Kant e Charles Sanders Peirce.

São notáveis a coletânea de ensaios As formas do conteúdo (1971) e o livro de grande fôlego Tratado geral de semiótica (1975). Nesses textos, Eco sustenta que o código que nos serve de base para criar e interpretar as mais diversas mensagens de qualquer subcódigo (a literatura, o subcódigo do trânsito, as artes plásticas etc.) deve ser comparado a uma estrutura rizomática pluridimensional que dispõe os diversos sememas (ou unidades culturais) numa cadeia de liames que os mantêm unidos. Dessa forma, o Modelo Q (de Quillian) dispõe os sememas — as unidades mínimas de sentido — segundo uma lógica organizativa que, de certo modo, depende de uma pragmática. A sua noção de signo como enciclopédia é oriunda dessa concepção.

Como consequência de seu interesse pela semiótica e em decorrência do seu anterior interesse pela estética, Eco, a partir de então, orienta seus trabalhos para o tema da cooperação interpretativa dos textos por parte dos leitores. Lector in fabula (1979) e Os limites da interpretação (1990) são marcos dessa produção, que tem como principal característica sustentar a ideia de que os textos são máquinas preguiçosas que necessitam a todo o momento da cooperação dos leitores. Dessa forma, Eco procura compreender quais são os aspectos mais relevantes que atuam durante a atividade interpretativa dos leitores, observando os mecanismos que engendram a cooperação interpretativa, ou seja, o "preenchimento" de sentido que o leitor faz do texto, procurando, ao mesmo tempo, definir os limites interpretativos a serem respeitados e os horizontes de expectativas gerados pelo próprio texto, em confronto com o contexto em que se insere o leitor.

Além dessa carreira universitária, Eco ainda escreveu cinco romances, aclamados pela crítica e que o colocaram numa posição de destaque no cenário acadêmico e literário, uma vez que é um dos poucos autores que conciliam o trabalho teórico-crítico com produções artísticas, exercendo influência considerável nos dois âmbitos. Ver, abaixo, a relação completa de suas obras que circularam ou circulam no mercado editorial brasileiro.

O nome da rosa (Il nome della rosa, 1980) (Prêmio Médicis, livro estrangeiro na França);
adaptação cinematográfica de Jean-Jacques Annaud, com Sean Connery e Christian Slater nos papéis principais;

O Pêndulo de Foucault (livro) (Il pendolo di Foucault,1988);

A ilha do dia anterior (L'isola del giorno prima, 1994);

Baudolino (Baudolino, 2000);

A misteriosa chama da rainha Loana (La misteriosa fiamma della regina Loana 2004).

O Cemitério de Praga (Il cimitero di Praga), 2011

Ensaios

Obras nas áreas de filosofia, semiótica, lingüística, estética traduzidas para a língua portuguesa:

As datas que aparecem seguidas de asterisco se referem à data da publicação da tradução. As demais seguem de acordo com a publicação original.

Obra aberta (1962)
Diário mínimo (1963)
Apocalípiticos e integrados (1964)
A definição da arte (1968)
A estrutura ausente (1968)
As formas do conteúdo (1971)
Mentiras que parecem verdades (1972) (co-autoria de Marisa Bonazzi)
O super-homem de massa (1978)
Lector in fábula (1979)
Viagem na irrealidade cotidiana (1983)
O conceito de texto (1984)
Semiótica e filosofia da linguagem (1984)
Sobre o espelho e outros ensaios (1985)
Arte e beleza na estética medieval (1987)
Os limites da interpretação (1990)
O signo de três (1991*) (co-autoria de Thomas A. Sebeok)
Segundo diário mínimo (1992)
Interpretação e superinterpretação (1992)
Seis passeios pelos bosques da ficção (1994)
Como se faz uma tese (1995*)
Kant e o ornitorrinco (1997)
Cinco escritos morais (1997)
Entre a mentira e a ironia (1998)
Em que creem os que não creem? (1999*) (co-autoria de Carlo Maria Martini)
A busca da língua perfeita (2001*)
Sobre a literatura (2002)
Quase a mesma coisa (2003)
História da beleza (2004) (direcção)
La production des signes (2005 em francês)
Le signe (2005; em francês)
Storia della Brutezza (2007). Em Portugal, traduzido como História do feio e , no Brasil, como História da Feiúra.
Dall'albero al labirinto (2007)
Não contem com o fim do livro (2010*) (co-autoria de Jean-Claude Carrière)

Obras sobre Umberto Eco

FEDELI, Orlando. Nos Labirintos do Eco. São Paulo, Veritas (2007).

Fonte:
Wikipedia

Antonio M. A. Sardenberg (Entre Amigos III)


Fontes de desejos
ANTONIO MANOEL ABREU SARDENBERG/RJ


Vejo em você a fonte dos meus desejos.
O oásis que me abriga,
A brisa que me sopra a vida,
A água que me mata a sede,
A boca que me enche a boca
De sutis e delicados beijos.

Vejo em você a imensidão do mar,
A única estrela a brilhar,
O campo repleto de flor.
Vejo em você a vida,
A vida que me dá vida,
Que por triste ironia,
É só sonho e fantasia,
Fonte de ilusão perdida,
Que quase me mata de amor...

Dissipando o silêncio
BENEDITA AZEVEDO/RJ


O silêncio do inverno se dissipa
ao brotarem as flores do jardim,
e o gorjeio do pássaro antecipa
as lembranças do cheiro de alecrim.

Deixemos as saudades nos levar
pelas trilhas de outrora, mas voltemos
a contemplar as flores a brotar,
alegrando o ambiente onde vivemos.

O repicar dos sinos na alegria
de ter uma família que nos ama...
Na falta dela pense... o que seria!

Essa melancolia que ora brota,
são apenas momentos de uma dama
cheia de sonhos lindos, ninguém nota.

Alheio
NADILCE BEATRIZ/RS


Veja, o tempo só passa alheio
Se passar festeiro
Roubar-te-á de permeio
Ainda ficará insolente
A mostrar-te a corrente
Que podes, ao todo, enroscar-te

Será que chorar pelos abandonados
Sem ter pecados
Seriam prantos inválidos?
Vertigem, esta tragédia planejada
Aqui se chora à beira da estrada
Mesmo sem ter chão

Quando encontrares muitas flores
E creres em espinhos indolores
Ilusões serão favores
De um total devaneio intrigant
Capaz de perfumar num instante
Até onde existir o amor

E por não saber ver o alheio
Alimenta-se do mesmo centeio
Farto ou sem meio
É temer a terra firme que passa
Contrariar o amor em graça
Para despedir-se sem adeus.

Poesia na pele
TECA MIRANDA/MG


O verso clama abafado...
preso na porta de entrada,
sentindo o olhar abismado
corre e escapa em lufadas.

Adorna-se de todo amor,
essa emotiva e doce loucura
que por vezes causa amargor
a quem busca essa ventura.

Liberto pela colorida fantasia
na poesia é então acolhido,
lançado ao léu pela ventania
no coração busca o sentido...

Sob o mesmo céu
LIGIA ANTUNES LEIVAS/RS


Por muito tempo fiquei sem prumo
perdida e só não distinguia o rumo
e sobre mim, silencioso e triste,
prostrou-se o mal, quase punhal em riste.

Jamais julguei ter a paixão assim
motivo (in)justo de impor-se um fim
eis que quem ama humanamente o faz
sem nem pensar que tudo se desfaz.

Se a distância, o não-encontro, a dor
se o calvário deste louco amor
nos impediram a vida sob um mesmo teto,

se o chão não temos, se tudo é dissabor,
(por Deus!)temos estrelas, um céu compensador
a nos cobrir com a vastidão do afeto

Coração desocupado
JOSÉ ERNESTO FERRARESSO/SP


Esconderijo de recordações,
que procura ser preenchido.
quando remexe com as emoções ,
e procura afazeres nas ilusões.
.
Que me acalenta e me preocupa,
quando tenho precisão.
não me deixa tranquilo,
quando divago em algum coração.

Bendito coração,
que não me negas nada.
descobre o que necessito,
e tenta decifrar meus segredos.

Completa e me acalma,
consegue me convencer.
quando preencho a minh'alma,
e não quero mais viver.

Mãe... Saudade...
ZULEIKA / MG


O som de um piano chega aos meus ouvidos...
O passado surge em notas musicais...
Acorda em mim saudade de tempos idos,
Tempos que ao olhar , não voltam mais...

Notas suaves relembram um tango antigo...
Sons que falavam da montanha o despertar...
Na voz dela...o piano fez-se ruído ,
Oh! Minha Mãe ! Tão belo seu cantar...

Sua voz, minha mãe, tão meiga e doce...
Acalanto,coro de anjos a lhe acompanhar,
Em outro plano, contente, há de brilhar...

Acorda montanhas! Como se uma ordem fosse !
Raios de sol ...de manso, faz-me recordar...
Seca meus olhos...de nada vale o meu soluçar...

Meu Querer
EDLA FEITOSA/PE–


Eu quero:

A paz do campo, o azul do céu,
O verde do mato, o perfume das flores,
O brilho do sol, o canto do rouxinol,
Uma brisa suave sempre a soprar
E toda paz que eu puder encontrar.

Eu quero:

A gota cristalina de orvalho, A solidão do lago,
Uma casa com varanda, Uma rede a balançar,
O prado, o gado, o gorjeio das aves,
O clarão do luar, a friagem da noite
E muitos sonhos para sonhar.

Fonte:
Textos e imagem enviados pelo Autor

Monteiro Lobato (O Saci) XVII – Meia Noite; XVIII – Saída dos sacis


XVII – Meia-noite

Nesse ponto da prosa a flor que servia de relógio abriu-se toda.

— É hora! — exclamou o saci. — Estamos justamente no meio da noite.

Apesar de valente, Pedrinho não deixou de sentir um certo arrepio pelo corpo. Primeira vez na vida em que ia passar uma noite inteira na mata — e não seria uma noite comum, pelo que dizia o saci.

— Não se arreceie de coisa nenhuma. Deixe tudo por minha conta, que nada de mal há de acontecer — disse o saci, correndo os olhos em redor como em procura de alguma coisa. — Venha comigo. Há ali uma peroba minha conhecida, onde encontraremos o melhor dos refúgios.

De fato. Na tal peroba havia um oco, a doze pés acima do chão, muito próprio para esconderijo. Dentro dele os dois acomodaram-se à vontade e de modo a tudo poderem ver sem perigo de serem vistos.

— Muito bem — disse o menino — mas só quero saber como poderei enxergar qualquer coisa de noite, dentro desta floresta que de dia já é tão escura.

— Para tudo há remédio — foi a resposta do saci. — Espalharei pelas árvores vizinhas centenas de lanternas vivas, de modo que você enxergará como se fosse dia. Mas antes é preciso que coma estas sete frutinhas vermelhas — concluiu, apresentando ao menino um punhado de frutinhas do tamanho de amoras-bravas.

Pedrinho desconhecia aquelas frutas e foi com uma careta que mordeu a primeira, tão amarga era. Mas comeu as sete, e logo em seguida sentiu uma deliciosa tonteira invadir-lhe o corpo, deixando-o num esquisito estado de consciência jamais sentido. Era como se estivesse dormindo acordado.

Enquanto isso, o saci repetiu em tom diferente o assobio com que chamara o serra-pau; mas dessa vez não veio serra-pau nenhum, sim uma enorme quantidade de vaga-lumes, dos grandes e dos pequenos. Vieram e foram pousando nas folhas e galhos das árvores vizinhas, como se algum invisível guia lhes estivesse a indicar os lugares. O coração da floresta clareou num círculo de cem metros de diâmetro, como se fosse batido pelo luar da lua cheia.

Pedrinho estava a gozar o espetáculo da floresta iluminada pelas lanterninhas vivas, quando surgiu na claridade o primeiro saci. E logo outro, e outro, e todo um bando de mais de cem. Começaram a pular, a dançar e a conversar numa linguagem que o menino muito sentiu não entender.

— Estão combinando as travessuras que vão fazer durante a noite. Daqui a pouco todos partem, só ficando os pequeninos que ainda não podem correr mundo — explicou o saci cochichando-lhe ao ouvido.

Pedrinho enxergou um de cara chamuscada — com certeza o que fora vítima da explosão do pito do Tio Barnabé. Mas os sacis foram se dispersando, de modo que ao cabo de alguns minutos só se viam por ali os pequeninos como camundongos.

— Para onde foram? — perguntou Pedrinho.

— Oh, eles espalharam-se por toda parte. Ainda está por haver um lugarzinho onde saci não entre.

— Até nas garrafas... — disse o menino, sorrindo.

XVIII – Saída dos sacis

Nem em sonhos Pedrinho jamais esperou que pudesse observar um quadro mais curioso. Aqueles minúsculos capetinhas eram as mais travessas e irrequietas criaturas que se possam imaginar. Não paravam um só instante. Cabriolavam nos musgos do chão, pulavam como pulgas, dançavam, inventavam mil travessuras. E tudo faziam sem por um só instante tirarem o pitinho da boca.

Deram-se cenas muito engraçadas. Três deles ficaram muito atentos, de narizinho para o ar, observando um morcego que despreocupadamente comia frutinhas de uma enorme figueira. Depois de cochicharem entre si, treparam à figueira, com todas as cautelas para não assustar o morcego. Foram por trás dele e, de repente — zás!... pularam-lhe ao lombo, como perfeitos cowboys! O morcego levou um grande susto e começou a corcovear no ar, em vôos tontos, enquanto os três cavaleiros, firmes na sela como carrapatos, davam assobios agudíssimos num grande contentamento.

Outro havia trepado a um arbusto e descoberto um ninho de beija-flor com três ovinhos. Imediatamente deu brado de alarma, chamando os companheiros. Reuniu-se um bando em redor do ninho, cujos ovos foram retirados e levados para o chão. Lá acenderam uma minúscula fogueirinha e assaram os ovos e os comeram com grande alegria e gulodice.

E quantas outras travessuras não observou Pedrinho! Os que agarraram um pobre caramujo pelos chifrinhos e fizeram prodígios para arrancá-lo da casca. Os que se divertiam em caçar vaga-lumes, matá-los e esfregar pelo corpo a substância fosforescente que os torna luminosos. Os que cavavam a terra descobriam minhocas, emendavam três e quatro para fazer uma corda de pular...

Pedrinho estava completamente absorvido naquele curioso espetáculo; e assim passaria a noite se em certo momento o saci não o puxasse para o fundo do oco.

— Cuidado! — disse ele. — Estou sentindo catinga de lobisomem. Meu faro nunca se engana...
____________
continua... XIX - Lobisomem ; XX – Mula sem cabeça
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Viagem ao Céu & O Saci. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. II. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

sábado, 27 de agosto de 2011

A. A. de Assis (Trovas Ecológicas) - 4


Antonio Brás Constante (Interjeições E Semelhantes Assemelhados)


As palavras nem sempre são confiáveis. Muitas vezes fala-se algo de forma mentirosa, utilizando as palavras para enganar seu interlocutor, ou interlocutores, ou ainda algum conhecido deles que esteja passando férias juntinho de você, e por isso esteja escutando o que você anda dizendo a eles. Com as interjeições isto dificilmente acontece. Elas são por natureza mais verdadeiras, visto que as interjeições exprimem nossos estados emocionais em sua forma mais espontânea.

Quando alguém lhe diz um “Oh! Oh!” (não confunda com o “Ho! Ho!” do Papai Noel), é porque algo não deu certo. Se ele chegar a pronunciar um “Ih!” Ou um “Xi!”, corra e não olhe para trás. Deu tudo errado, e dependendo da intensidade do som do “i” a coisa ainda vai ficar ainda pior. Nestes casos o “Ih” acaba funcionando como uma sirene, sinalizando, por exemplo, que aquilo que você falou do seu chefe foi ouvido por ele e que ele está vindo tomar satisfações.

Os sons que as pessoas emitem têm origens nas mais diversas causas, como no caso dos sustos, que utilizam sons como o “Uh!” dos fantasmas (e das torcidas que vaiam quem lhes desagrada) para aterrorizar ou infernizar, enquanto outros soltam um “Oh!” demonstrando que estão assustados, mesclado a esses sons uma cara de surpresa e horror, dessas que a gente faz quando o time do coração toma um gol.

Quando os seres humanos utilizam determinadas expressões, elas podem indicar e até muitas vezes identificar de qual região é o dito cidadão. Se ele disser um “Bah” ou “mas Bah”, seguido de um “Tchê!”, com quase toda certeza ele será provavelmente um gaúcho (ou não). Caso pronuncie um “Uai!” é porque o cabra é, foi, ou tem vontade de ser das bandas de Minas Gerais – Se realmente for de lá, você perceberá que de zero a noventa e nove por cento das frases que ele pronunciar terão as palavras “trem” e/ou “sô” embutidas no que for por ele dito, maldito ou até bendito.

Quanto mais espontânea for a expressão proferida mais autêntica e confiável ela será. Afinal quantos “Uau!” Você já viu alguém dizer ao ver passando uma paisagem feia (entenda-se o significado da tal “paisagem” do jeito que você quiser) ou um carro velho, detonado e sem condições de buzinar uma bela canção.

A função destas formas de comunicação é justamente declarar que algo intenso e verdadeiro aconteceu. Só dizemos “Ufa!” Quando conseguimos nos sair bem em casos extremos, como quando temos um ataque estomacal agudo, no meio do trânsito, por exemplo. Algumas pessoas chegam a soar frio nesses momentos. Toda concentração é pouca para conseguir dissuadir nosso sistema digestivo a não cumprir aquilo para que foi projetado desde o nosso nascimento.

Contamos os segundos que nos separam do nosso mais novo, momentâneo e vital objeto de desejo: O banheiro. Pode passar a mulher mais linda do mundo do nosso lado, que mesmo assim olhamos para ela com cara de poucos amigos. Fato que pode fazê-la sofrer de um profundo abalo em sua auto-estima de mulher desejada, ou sair dali pensando inverdades sobre nossa masculinidade (o contrário também se aplica no caso de ser a mulher nessa situação e o reverso do oposto contrário também).

Por fim chega-se aquele “oásis” rodeado de vasos de porcelana e rolos de papel higiênico por todos os lados (ou pelo menos que tenha um deles ali em condições de uso, ou múltiplo uso se for também o caso), nos permitindo sentar confortavelmente naquele assento convidativo e soltar entre outros sons menos agradáveis um extasiante “Uuuuuffaaaaaaaaaa!”, relaxando todo nosso corpo para deixar o fluxo dos acontecimentos seguir seu curso natural, como deveria acontecer com todos aqueles que tomam Activia.

Realmente as interjeições e seus assemelhados conseguem demonstrar de forma simples, as vontades e sentimentos de nós, seres humanos. A propósito, já que estamos falando em sons, você sabe qual a diferença de uma pessoa que cai do vigésimo andar de um prédio e outra que cai do segundo andar? É que a pessoa que cai do vigésimo andar faz o seguinte barulho: AHHHHHHHHHHHHHHHHH!!! BUM (som textual de uma pessoa batendo no chão depois de cair vinte andares, se não acredita em mim faça você mesmo o teste, de preferência arremessando seu próprio corpinho pela janela). Já a pessoa que cai do segundo andar faz assim: Bum! Ahhhhh!!. (E a vida continua...).

Fonte:
Texto enviado pelo autor

Lima Barreto (A Doença do Antunes)


A fama do doutor Gedeão não cessava de crescer.

Não havia dia em que os jornais não dessem noticia de mais uma proeza por ele feita, dentro ou fora da medicina. Em tal dia, um jornal dizia: "O doutor Gedeão, esse maravilhoso CLÍNICO e excelente goal-keeper, acaba de receber um honroso convite do Libertad Football Club, de São José de Costa Rica, para tomar parte na sua partida anual com o Airoca Football Club, de Guatemala. Todo o mundo sabe a importância que tem esse desafio internacional e o convite ao nosso patrício representa uma alta homenagem à ciência brasileira e ao football nacional. O doutor Gedeão, porém, não pôde aceitar o convite, pois a sua atividade mental anda agora norteada para a descoberta da composição da Pomada Vienense, específico muito conhecido para a cura dos calos."

O doutor Gedeão vivia mais citado nos jornais que o próprio presidente da república e o seu nome era encontrado em todas as seções dos cotidianos. A seção elegante de O Conservador, logo ao dia seguinte da noticia acima, ocupou-se do doutor Gedeão da seguinte maneira: "O doutor Gedeão Cavalcanti apareceu ontem no Lírico inteiramente fashionable. O milagroso clínico saltou do seu coupé completamente nu. Não se descreve o interesse das senhoras e o maior ainda de muitos homens. Eu fiquei babado de gozo.

A fama do doutor corria assim desmedidamente. Deixou em instantes de ser médico do bairro ou da esquina, como dizia Mlle. Lespinasse, para ser o médico da cidade toda, o lente sábio, o literato ilegível à João de Barros, o herói do football, o obrigado papa-banquetes diários, o Cícero das enfermarias, o mágico dos salões, o poeta dos acrósticos, o dançador dos bailes de bom-tom, etc., etc.

O seu consultório vivia tão cheio que nem a avenida em dia de carnaval, e havia quem dissesse que muitos rapazes preferiam-no, para as proezas de que os cinematógrafos são o teatro habitual.

Era procurado sobretudo pelas senhoras ricas, remediadas e pobres, e todas elas tinham garbo, orgulho, satisfação, emoção na voz quando diziam:—Estou me tratando com o doutor Gedeão.

Moças pobres sacrificavam os orçamentas domésticos para irem ao doutor Gedeão e muitas houve que deixavam de comprar o sapato ou o chapéu da moda para pagar a consulta do famoso doutor. De uma, eu sei que lá foi com enormes sacrifícios para curar-se de um defluxo; e curou-se, embora o doutor Gedeão não lhe tivesse receitado um xarope qualquer, mas um específico de nome arrevesado, grego ou copta, Anakati Tokotuta.

Porque o maravilhoso clínico não gostava das fórmulas e medicamentos vulgares; ele era original na botica que empregava.

O seu consultório ficava em uma rua central, bem perto da avenida, ocupando todo um primeiro andar. As antesalas eram mobiliadas com gosto e tinham mesmo pela parede quadros e mapas de coisas da arte de curar.

Havia mesmo, no corredor, algumas gravuras de combate ao alcoolismo e era de admirar que estivessem no consultório de um médico, cuja glória o obrigava a ser conviva de banquetes diários, bem e fartamente regados.

Para se ter a felicidade de sofrer um exame de minutos do milagroso clínico, era preciso que se adquirisse a entrada, isto é, o cartão, com antecedência, às vezes de dias. O preço era alto, para evitar que os viciosos do doutor Gedeão não atrapalhassem os que verdadeiramente necessitavam das luzes do célebre clínico.

Custava a consulta cinqüenta mil-réis; mas, apesar de tão alto preço, o escritório da celebridade médica era objeto de uma verdadeira romaria e toda a cidade o tinha como uma espécie de Aparecida médica.

José Antunes Bulhões, sócio principal da firma Antunes Bulhões & Cia., estabelecido com armazém de secos e molhados, lá pelas bandas do Campo dos Cardosos, em Cascadura, andava sofrendo de umas dores no estômago que não o deixavam comer com toda liberdade o seu bom cozido, rico de couves e nabos, farto de toucinho e abóbora vermelho, nem mesmo saborear, a seu contento, o caldo que tantas saudades lhe dava da sua aldeia minhota.

Consultou mezinheiros, curandeiros, espíritas, médicos locais e não havia meio de lhe passar de todo aquela insuportável dorzinha que não o permitia comer o cozido, com satisfação e abundância, e tirava-lhe de qualquer modo o sabor do caldo que tanto amava e apreciava.

Era ir para a mesa, lá lhe aparecia a dor e o cozido com os seus pertences, muito cheiroso, rico de couves, farto de toucinho e abóbora, olhava-o, namorava-o e ele namorava o cozido sem animo de mastigá-lo, de devorá-lo, de engoli-lo com aquele ardor que a sua robustez e o seu desejo exigiam.

Antunes era solteiro e quase casto.

Na sua ambição de pequeno comerciante, de humilde aldeão tangido pela vida e pela sociedade para a riqueza e para a fortuna, tinha recalcado todas as satisfações da vida, o amor fecundo ou infecundo, o vestuário, os passeios, a sociabilidade, os divertimentos, para só pensar nos contos de réis que lhe dariam a forra mais tarde do seu quase ascetismo atual, no balcão de uma venda dos subúrbios.

À mesa, porém, ele sacrificava um pouco do seu ideal de opulência e gastava sem pena na carne, nas verduras, nos legumes, no peixe, nas batatas, no bacalhau que, depois de cozido, era o seu prato predileto.

Desta forma, aquela dorzita no estômago o fazia sofrer extraordinariamente. Ele se privava do amor; mas que importava se, daqui a anos, ele pagaria para seu gozo, em dinheiro, em jóia, em carruagem, em casamento até, corpos macios, veludosos, cuidados, perfumados, os mais caros que houvesse, aqui ou na Europa; ele se privava de teatros, de roupas finas, mas que importava se, dentro de alguns anos, ele poderia ir aos primeiros teatros daqui ou da Europa, com as mais caras mulheres que escolhesse; mas deixar de comer —isto não! Era preciso que o corpo estivesse sempre bem nutrido para aquela faina de quatorze ou quinze horas, a servir o balcão, a ralhar com os caixeiros, a suportar desaforos dos fregueses e a ter cuidado com os calotes.

Certo dia, ele leu nos jornais a notícia que o doutor Gedeão Cavalcanti tinha tido permissão do governo para dar alguns tiros com os grandes canhões do "Minas Gerais".

Leu a notícia toda e feriu-lhe o fato da informação dizer: "esse maravilhoso clínico e, certamente, um eximio artilheiro.. . "

Clínico maravilhoso! Com muito esforço de memória, pôde conseguir recordar-se de que aquele nome já por ele fora lido em qualquer parte. Maravilhoso clínico! Quem sabe se ele o não curaria daquela dorzita ali, no estômago? Meditava assim, quando lhe entra pela venda adentro o Senhor Albano, empregado na Central, funcionário público, homem sério e pontual no pagamento.

Antunes foi-lhe logo perguntando:

— Senhor Albano, o senhor conhece o doutor Gedeão Cavalcanti?

— Gedeão—emendou o outro.

— Isto mesmo. Conhece-o, Senhor Albano?

— Conheço.

— E bom médico?

— Milagroso. Monta a cavalo, joga xadrez, escreve muito bem, é um excelente orador, grande poeta, músico, pintor, goal-keeper dos primeiros...

— Então é um bom médico, não é, Senhor Albano?

— E. Foi quem salvou a Santinha, minha mulher. Custou-me caro... Duas consultas... Cinqüenta mil-réis cada uma... Some.

Antunes guardou a informação, mas não se resolveu imediatamente a ir consultar o famoso taumaturgo urbano. Cinqüenta mil-réis! E se não ficasse curado com uma única consulta? Mais cinqüenta...

Viu na mesa o cozido, olente, fumegante, farto de nabos e couves, rico de toucinho e abóbora vermelha, a namorá-lo e ele a namorar o prato sem poder amá-lo com o ardor e a paixão que o seu desejo pedia.Pensou dias e afinal decidiu-se a descer até à cidade, para ouvir a opinião do doutor Gedeão Cavalcanti sobre a sua dor no estômago, que lhe aparecia de onde em onde.

Vestiu-se o melhor que pôde, dispôs-se a suportar o suplício das botas, pôs o colete, o relógio, a corrente e o medalhão de ouro com a estrela de brilhantes, que parece ser o distintivo dos pequenos e grandes negociantes; e encaminhou-se para a estação da estrada de ferro.

Ei-lo no centro da cidade

Adquiriu a entrada, isto é, o cartão, nas mãos do continuo do consultório, despedindo-se dos seus cinqüenta milréis com a dor do pai que leva um filho ao cemitério. Ainda se o doutor fosse seu freguês... Mas qual! Aqueles não voltariam mais...

Sentou-se entre cavalheiros bem vestidos e damas perfumadas. Evitou encarar os cavalheiros e teve medo das damas. Sentia bem o seu opróbrio, não de ser taberneiro, mas de só possuir de economias duas miseráveis dezenas de contos... Se tivesse algumas centenas—então, sim! —ele poderia olhar aquela gente com toda a segurança da fortuna, do dinheiro, que havia de alcançar certamente, dentro de anos, o mais breve possível.

Um a um, iam eles entrando para o interior do consultório; e pouco se demoravam. Antunes começou a ficar desconfiado... Diabo! Assim tão depressa?

Teriam todos pago cinqüenta mil-réis?

Boa profissão, a de médico! Ah! Se o pai tivesse sabido disso... Mas qual!

Pobre pai! Ele mal podia com o peso da mulher e dos filhos, como havia ele de pagar-lhe mestres? Cada um euriquece como pode...

Foi, por fim, à presença do doutor. Antunes gostou do homem. Tinha um olhar doce, os cabelos já grisalhos, apesar de sua fisionomia moça, umas mãos alvas, polidas...

Perguntou-lhe o médico com muita macieza de voz:

— Que sente o senhor?

Antunes foi-lhe dizendo logo o terrível mal no estômago de que vinha sofrendo, há tanto tempo, mal que desaparecia e aparecia mas que não o deixava nunca. O doutor Gedeão Cavalcanti fê-lo tirar o paletó, o colete, auscultou-o bem, examinou-o demoradamente, tanto de pé como deitado, sentou-se depois, enquanto o negociante recompunha a sua modesta toilette.

Antunes sentou-se também, e esperou que o médico saisse de sua meditação.

Foi rápida. Dentro de um segundo, o famoso clínico dizia com toda segurança:

— O senhor não tem nada.

Antunes ergueu-se de um salto da cadeira e exclamou indignado:

— Então, senhor doutor, eu pago cinqüenta mil-réis e não tenho nada! Esta é boa! Noutra não caio eu!

E saiu furioso do consultório que merecia, da cidade, uma romaria semelhante à da milagrosa Lourdes.

Fonte:
Fonte:
BARRETO, Lima. A Nova Califórnia - Contos. São Paulo: Brasiliense, 1979.
Texto proveniente de: A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 316)


Uma Trova Nacional

Perguntei ao macumbeiro
qual seria o meu Futuro.
Ele respondeu, ligeiro":
- Um buraco fundo e escuro!...
–HERMOCLYDES S. FRANCO/RJ–

Uma Trova Potiguar

Sai de mim, mulher ranzinza,
tua insistência me atrasa.
Se o nosso amor virou cinza
foi só porque mandei brasa.
–J. REVOREDO NETO/RN–

Uma Trova Premiada

2007 - Bandeirantes/PR
Tema: PIRRAÇA - M/E.

A esposa numa pirraça
diz ao marido “rueiro”:
- Se “de graça” não tem graça,
me passa a grana primeiro.
–WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ/PR–

Uma Trova de Ademar

O que a mulher não entende
é o seu marido na cama;
seu fogo nunca se acende,
enquanto ela vive em chama!!!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Não tenha medo de nada,
fique à vontade, meu bem;
quem tem idade avançada
já não avança em ninguém.
–ANTÔNIO CARLOS T. PINTO/DF–

Simplesmente Poesia

Consagração
–PEDRO MELLO/SP–

Cansado do "jejum" que a sua idade
lhe impôs à atividade sexual,
o vovô se animou com a novidade
de que o Viagra não faria mal...

Cheio de amor pra dar e de Ansiedade,
Alfredo foi pular o Carnaval...
E na Sapucaí, uma beldade
fê-lo sentir-se forte e jovial...

Mas na hora "H"... seu coração se abate...
Alfredo é posto fora de combate,
mas sucumbe feliz nosso ancião:

É velado com grande galhardia
e, escondendo o "tamanho" da alegria,
flores a mais enfeitam seu caixão...

Estrofe do Dia

É vadia e pirangueira
e não procura trabalho,
vive só de quebra galho
toda moça caroneira,
topa qualquer gafieira
depende só do momento;
até carona em jumento
eu já vi uma pegar,
e de tanto vadiar
tem um calo no acento.
–AUGUSTO MACÊDO/RN–

Soneto do Dia

Nordestino
–GLAUCO MATTOSO/SP–

Caba da peste, a quilo roxo, óxente,
Vixe, arretado, vôte, macaxêra,
baião de dois, olê mulé rendêra,
nêga fulô, forró, seca, sol quente.

Nordeste é cor, sabor, cheiro de gente,
um universo inteiro numa feira,
um cego cantador, um Zé Limeira,
António Conselheiro, axé, repente.

Cabeça-chata ou pau-de-arara é o mote
que o Sul aplica quando os deprecia.
Mas eu prefiro a sola chata, o xote!

O cangaceiro quando xaxa! Um dia
vou ser capacho deles num magote,
só pra sentir o que é supremacia!

Fonte:
Textos e imagem enviados pelo autor

Ialmar Pio Schneider (Brique Da Redenção)


Cada domingo é uma festa para os que têm o privilégio de frequentá-lo. Pessoas de todas as idades e ideologias passeiam ao largo da avenida, conversando, paquerando, olhando as estantes e perscrutando as mil e uma bugigangas expostas. Tudo tem o seu valor, tudo tem o seu preço. Muitos são os objetos antigos em oferta: móveis, louças, panelas, caçarolas, livros, discos, etc.

Por outro lado, existem também as obras de arte (quadros de pinturas diversas, a óleo), aquarelas, e o artesanato (cuias, estojos, barricas para erva-mate), enfim, apetrechos para o chimarrão.

São tantas coisas, até imprevisíveis ou estapafúrdias, que aparecem para permuta ou venda - moedas antigas, selos velhos, fogareiros, ferros de passar a carvão, vitrolas... Há os colecionadores ávidos de encontrar antiqualhas originais que tanto apreciam.

Surgem também os criadores de cães e gatos, das mais variadas raças, que vendem os filhotes a quem os queira adquirir, e não são poucos os que os compram, pois um animalzinho de estimação sempre faz parte do cotidiano daqueles que os podem manter.

A banca do mel é muito freqüentada, já que a oferta de um produto puro desperta o interesse de quantos apreciam esse manjar saboroso e tão completo. Os que ali chegam recebem uma prova para sentirem sua essência (eucalipto, laranjeira, florada silvestre, etc.).

De repente, um aglomerado de gente: é uma apresentação musical. Alguém cantando na manhã ensolarada; e as frases da canção enchendo o ar - “Felicidade foi-se embora e a saudade ainda mora...”, a evocar Lupicínio Rodrigues, o poeta inesquecível.

Lá mais adiante estão os bugres vendendo seus balaios multicoloridos, eles que são os mais legítimos filhos desta terra brasileira, uma vez que aqui se encontravam quando da chegada dos descobridores lusos e espanhóis. Hoje tão escassos resistem à civilização imposta, sofrivelmente.

Também não é difícil imaginar quantos encontros amorosos ou de amigos que não se viam há tempo, aconteceram aqui, nesses 20 anos! E daqueles quantos não frutificaram?

Os pais que trazem seus filhos a fim de espairecerem, os casais de namorados que desfilam de braços dados, os idosos enfrentando a velhice com resignação, todos parecem seguir seus destinos de maneira salutar na esperança de novos dias.

Certamente que a vida seria mais triste se não houvesse um local tão aprazível para preencher as horas de lazer nas manhãs dos domingos porto-alegrenses.

Eis um simples esboço do Brique da Redenção, decantado em prosa e verso, que já se transformou em uma tradicional referência para nossa altaneira cidade que desperta ao sorriso das águas do Guaíba !
___________________________
Poeta e cronista
Publicado em 27 de outubro de 1998 - no Diário de Canoas.

Fontes:
Texto enviado pelo autor
Imagem =http://www.aredencao.com.br/brique.htm

Curso de Contador de Histórias, em Mogi Guaçu


CURSO DE CONTADOR DE HISTÓRIAS

Início: 10 de setembro de 2011

Local: Biblioteca João XXIII – Centro Cultural
Endereço: Avenida dos Trabalhadores, 2.651 – Mogi Guaçu /SP - CEP: 13.840.195
Tel.(019)3861-4225
e-mail sc-biblioteca@mogiguacu.sp.gov.br.

A Biblioteca está com inscrição para o Curso de Contador de Histórias, gratuito; será nos dias 10/09 17/09 e 24/09, das 09:00 às 12:00 horas:

Monitora: Patricia Cristiana Vitor De Oliveira

Carga Horária: 09 H

Cronograma

Objetivos

- Explorar O Recurso De Contar Histórias Como Instrumento De Compreensão, Interpretação
E Expressão Da Realidade Vivida E Imaginada;

- Selecionar E Apropriar-Se De Narrativas Orais, Reconhecendo-As Como Patrimônio Cultural De Um Povo;

- Contar Histórias, Utilizando Recursos E Alternativas Metodológicas Que Propiciem
Oportunidades De Entretenimento E Aprendizagem.

Conteúdos

1. Dramatização, Como Recurso Para O Contador De Histórias;
2. A Contação De Histórias A Partir Do Recurso Do Fantoche;
3. Contar Histórias Com Objetos;
4. Diferentes Recursos Usados Pelos Contadores De Histórias.

Metodologia

Aulas Práticas, Com Discussões Coletivas.
Exercícios Em Grupo

Inscrição na Biblioteca, ou pode ser através do e-mail.

Fonte:
Olivaldo Junior

Origem de Algumas Expressões Populares


Erro crasso
Significado: Erro grosseiro.

Origem: Na Roma antiga havia o Triunvirato: o poder dos generais era dividido por três pessoas. No primeiro destes Triunviratos , tínhamos: Caio Júlio, Pompeu e Crasso . Este último foi incumbido de atacar um pequeno povo chamado Partos. Confiante na vitória, resolveu abandonar todas as formações e técnicas romanas e simplesmente atacar. Ainda por cima, escolheu um caminho estreito e de pouca visibilidade. Os partos, mesmo em menor número, conseguiram vencer os romanos, sendo o general que liderava as tropas um dos primeiros a cair.
Desde então, sempre que alguém tem tudo para acertar, mas comete um erro estúpido, dizemos tratar-se de um "erro crasso ".

Ter para os alfinetes
Significado: Ter dinheiro para viver.

Origem: Em outros tempos, os alfinetes eram objecto de adorno das mulheres e daí que, então, a frase significasse o dinheiro poupado para a sua compra porque os alfinetes eram um produto caro. Os anos passaram e eles tornaram-se utensílios, já não apenas de enfeite, mas utilitários e acessíveis. Todavia, a expressão chegou a ser acolhida em textos legais. Por exemplo, o Código Civil Português, aprovado por Carta de Lei de Julho de 1867, por D. Luís, dito da autoria do Visconde de Seabra, vigente em grande parte até ao Código Civil actual, incluía um artigo, o 1104, que dizia: «A mulher não pode privar o marido, por convenção antenupcial, da administração dos bens do casal; mas pode reservar para si o direito de receber, a título de alfinetes , uma parte do rendimento dos seus bens, e dispor dela livremente, contanto que não exceda a terça dos ditos rendimentos líquidos.»

Do tempo da Maria Cachucha

Significado: Muito antigo.

Origem: A cachucha era uma dança espanhola a três tempos, em que o dançarino, ao som das castanholas, começava a dança num movimento moderado, que ia acelerando, até terminar num vivo volteio. Esta dança teve uma certa voga em França, quando uma célebre dançarina, Fanny Elssler, a dançou na Ópera de Paris. Em Portugal, a popular cantiga Maria Cachucha (ao som da qual, no séc. XIX, era usual as pessoas do povo dançarem) era uma adaptação da cachucha espanhola, com uma letra bastante gracejadora, zombeteira.

À grande e à francesa
Significado: Viver com luxo e ostentação.

Origem: Relativa aos modos luxuosos do general Jean Andoche Junot, auxiliar de Napoleão que chegou a Portugal na primeira invasão francesa, e dos seus acompanhantes, que se passeavam vestidos de gala pela capital.

Coisas do arco-da-velha
Significado: Coisas inacreditáveis, absurdas, espantosas, inverosímeis.

Origem: A expressão tem origem no Antigo Testamento; arco-da-velha é o arco-íris, ou arco-celeste, e foi o sinal do pacto que Deus fez com Noé: "Estando o arco nas nuvens, Eu ao vê-lo recordar-Me-ei da aliança eterna concluída entre Deus e todos os seres vivos de toda a espécie que há na terra." (Génesis 9:16)

Arco-da-velha é uma simplificação de Arco da Lei Velha, uma referência à Lei Divina.

Há também diversas histórias populares que defendem outra origem da expressão, como a da existência de uma velha no arco-íris, sendo a curvatura do arco a curvatura das costas provocada pela velhice, ou devido a uma das propriedades mágicas do arco-íris - beber a água num lugar e enviá-la para outro, pelo que velha poderá ter vindo do italiano bere (beber).

Dose para cavalo
Significado: Quantidade excessiva; demasiado.

Origem: Dose para cavalo, dose para elefante ou dose para leão são algumas das variantes que circulam com o mesmo significado e atendem às preferências individuais dos falantes.
Supõe-se que o cavalo, por ser forte; o elefante, por ser grande, e o leão, por ser valente, necessitam de doses exageradas de remédio para que este possa produzir o efeito desejado.
Com a ampliação do sentido, dose para cavalo e suas variantes é o exagero na ampliação de qualquer coisa desagradável, ou mesmo aquelas que só se tornam desagradáveis com o exagero.

Dar um lamiré
Significado: Sinal para começar alguma coisa.

Origem: Trata-se da forma aglutinada da expressão «lá, mi, ré», que designa o diapasão, instrumento usado na afinação de instrumentos ou vozes; a partir deste significado, a expressão foi-se fixando como palavra autonoma com significação própria, designando qualquer sinal que dê começo a uma actividade.
Historicamente, a expressão «dar um lamiré» está, portanto, ligada à música (cf. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa).

Nota: Escreve-se lamiré , com o r pronunciado como em caro .

Memória de elefante
Significado: Ter boa memória; recordar-se de tudo.

Origem: O elefante fixa tudo aquilo que aprende, por isso é uma das principais atrações do circo .

Lágrimas de crocodilo
Significado: Choro fingido.

Origem: O crocodilo, quando ingere um alimento, faz forte pressão contra o céu da boca, comprimindo as glândulas lacrimais. Assim, ele chora enquanto devora a vítima.

Não poder com uma gata pelo rabo
Significado: Ser ou estar muito fraco; estar sem recursos.

Origem: O feminino, neste caso, tem o objectivo de humilhar o impotente ou fraco a que se dirige a referência. Supõe-se que a gata é mais fraca, menos veloz e menos feroz em sua própria defesa do que o gato. Na realidade, não é fácil segurar uma gata pelo rabo, e não deveria ser tão humilhante a expressão como realmente é.

Mal e porcamente
Significado: Muito mal; de modo muito imperfeito.

Origem: «Inicialmente, a expressão era "mal e parcamente". Quem fazia alguma coisa assim, agia mal e eficientemente, com parcos (poucos) recursos.
Como parcamente não era palavra de amplo conhecimento, o uso popular tratou de substituí-la por outra, parecida, bastante conhecida e adequada ao que se pretendia dizer. E ficou " mal e porcamente", sob protesto suíno.»1

Fazer tijolo
Significado:Morrer.

Origem: Segundo se diz, existiu um velho cemitério mouro para as bandas das Olarias, Bombarda e Forno do Tijolo. O almacávar, isto é, o cemitério mourisco, alastrava-se numa grande extensão por toda a encosta, lavado de ar e coberto de arvoredo.

Após o terramoto de 1755, começando a reedificação da cidade, o barro era pouco para as construções e daí aproveitar-se todo o que aparecesse.

O cemitério árabe foi tão amplamente explorado que, de mistura com a excelente terra argilosa, iam também as ossadas para fazer tijolo. Assim, é frequente ouvir-se a expressão popular em frases como esta: 'Daqui a dez anos já eu estou a fazer tijolo '.

Fila indiana
Significado: enfiada de pessoas ou coisas dispostas uma após outra.

Origem: Forma de caminhar dos índios da América que, deste modo, tapavam as pegadas dos que iam na frente.

Andar à toa
Significado: Andar sem destino, despreocupado, passando o tempo.

Origem: Toa é a corda com que uma embarcação reboca a outra. Um navio que está "à toa" é o que não tem leme nem rumo, indo para onde o navio que o reboca determinar.

Embandeirar em arco
Significado: Manifestação efusiva de alegria.

Origem: Na Marinha, em dias de gala ou simplesmente festivos, os navios embandeiram em arco , isto é, içam pelas adriças ou cabos (vergueiros) de embandeiramento galhardetes, bandeiras e cometas quase até ao topo dos mastros, indo um dos seus extremos para a proa e outro para a popa. Assim são assinalados esses dias de regozijo ou se saúdam outros barcos que se manifestam da mesma forma.

Cair da tripeça
Significado: Qualquer coisa que, dada a sua velhice, se desconjunta facilmente.

Origem: A tripeça é um banco de madeira de três pés, muito usado na província, sobretudo junto às lareiras. Uma pessoa de avançada idade aí sentada, com o calor do fogo, facilmente adormece e tomba.

Fazer tábua rasa
Significado: Esquecer completamente um assunto para recomeçar em novas bases.

Origem: A tabula rasa , no latim, correspondia a uma tabuinha de cera onde nada estava escrito. A expressão foi tirada, pelos empiristas, de Aristóteles, para assim chamarem ao estado do espírito que, antes de qualquer experiência, estaria, em sua opinião, completamente vazio. Também John Locke (1632 1704), pensador inglês, em oposição a Leibniz e Descartes, partidários do inatísmo, afirmava que o homem não tem nem ideias nem princípios inatos, mas sim que os extrai da vida, da experiência. «Ao começo», dizia Locke, «a nossa alma é como uma tábua rasa, limpa de qualquer letra e sem ideia nenhuma. Tabula rasa in qua nihil scriptum . Como adquire, então, as ideias? Muito simplesmente pela experiência.»

Ave de mau agouro

Significado: Diz-se de pessoa portadora de más notícias ou que, com a sua presença, anuncia desgraças.

Origem: O conhecimento do futuro é uma das preocupações inerentes ao ser humano. Quase tudo servia para, de maneiras diversas, se tentar obter esse conhecimento. As aves eram um dos recursos que se utilizava. Para se saberem os bons ou maus auspícios (avis spicium) consultavam-se as aves. No tempo dos áugures romanos, a predição dos bons ou maus acontecimentos era feita através da leitura do seu voo, canto ou entranhas. Os pássaros que mais atentamente eram seguidos no seu voo, ouvidos nos seus cantos e aos quais se analisavam as vísceras eram a águia, o abutre, o milhafre, a coruja, o corvo e a gralha. Ainda hoje perdura, popularmente, a conotação funesta com qualquer destas aves.

Verdade de La Palisse

Significado: Uma verdade de La Palice (ou lapalissada / lapaliçada ) é evidência tão grande, que se torna ridícula.

Origem: O guerreiro francês Jacques de Chabannes, senhor de La Palice (1470-1525), nada fez para denominar hoje um truísmo. Fama tão negativa e multissecular deve-se a um erro de interpretação.
Na sua época, este chefe militar celebrizou-se pela vitória em várias campanhas. Até que, na batalha de Pavia, foi morto em pleno combate. E os soldados que ele comandava, impressionados pela sua valentia, compuseram em sua honra uma canção com versos ingénuos:
"O Senhor de La Palice / Morreu em frente a Pavia; / Momentos antes da sua morte, / Podem crer, inda vivia."
O autor queria dizer que Jacques de Chabannes pelejara até ao fim, isto é, "momentos antes da sua morte", ainda lutava. Mas saiu-lhe um truísmo, uma evidência.
Segundo a enciclopédia Lello, alguns historiadores consideram esta versão apócrifa. Só no século XVIII se atribuiu a La Palice um estribilho que lhe não dizia respeito. Portanto, fosse qual fosse o intuito dos versos, Jacques de Chabannes não teve culpa.

Nota: Em Portugal, empregam-se as duas grafias: La Palice ou La Palisse.

Ter ouvidos de tísico
Significado: Ouvir muito bem.

Origem: Antes da II Guerra Mundial (l939 a l945), muitos jovens sofriam de uma doença denominada tísica, que corresponde à tuberculose. A forma mais mortífera era a tuberculose pulmonar.

Com o aparecimento dos antibióticos durante a II Guerra Mundial, foi possível combater este doença com muito maior êxito.

As pessoas que sofrem de tuberculose pulmonar tornam-se muito sensíveis, incluindo uma notável capacidade auditiva. A expressão « ter ouvidos de tísico » significa, portanto, «ouvir tão bem como aqueles que sofrem de tuberculose pulmonar».

Comer muito queijo
Significado: Ser esquecido; ter má memória.

Origem: A origem desta expressão portuguesa pode explicar-se pela relação de causalidade que, em séculos anteriores, era estabelecida entre a ingestão de lacticínios e a diminuição de certas faculdades intelectuais, especificamente a memória.
A comprovar a existência desta crença existe o excerto da obra do padre Manuel Bernardes "Nova Floresta", relativo aos procedimentos a observar para manter e exercitar a memória: «Há também memória artificial da qual uma parte consiste na abstinência de comeres nocivos a esta faculdade, como são lacticínios, carnes salgadas, frutas verdes, e vinho sem muita moderação: e também o demasiado uso do tabaco».
Sabe-se hoje, através dos conhecimentos provenientes dos estudos sobre memória e nutrição, que o leite e o queijo são fornecedores privilegiados de cálcio e de fósforo, elementos importantes para o trabalho cerebral. Apesar do contributo da ciência para desmistificar uma antiga crença popular, a ideia do queijo como alimento nocivo à memória ficou cristalizada na expressão fixa « comer (muito) queijo».

Acordo leonino
Significado: Um «acordo leonino» é aquele em que um dos contratantes aceita condições desvantajosas em relação a outro contratante que fica em grande vantagem.

Origem: «Acordo leonino» é, pois, uma expressão retórica sugerida nomeadamente pelas fábulas em que o leão se revela como todo-poderoso.

Que massada*!
Significado: Exclamação usada para referir uma tragédia ou contra-tempo.

Origem: É uma alusão à fortaleza de Massada na região do Mar Morto, Israel, reduto de Zelotes, onde permaneceram anos resistindo às forças romanas após a destruição do Templo em 70 d.C., culminando com um suicídio colectivo para não se renderem, de acordo com relato do historiador Flávio Josefo.

Passar a mão pela cabeça
Significado: perdoar ou acobertar erro cometido por algum protegido.

Origem: Costume judaico de abençoar cristãos-novos, passando a mão pela cabeça e descendo pela face, enquanto se pronunciava a bênção.

Gatos-pingados
Significado: Tem sentido depreciativo usando-se para referir uma suposta inferioridade (numérica ou institucional), insignificância ou irrelevância.

Origem: Esta expressão remonta a uma tortura procedente do Japão que consistia em pingar óleo a ferver em cima de pessoas ou animais, especialmente gatos. Existem várias narrativas ambientais na Ásia que mostram pessoas com os pés mergulhados num caldeirão de óleo quente. Como o suplício tinha uma assistência reduzida, tal era a crueldade, a expressão " gatospingados " passou a denominar pequena assistência sem entusiasmos ou curiosidade para qualquer evento.

Meter uma lança em África
Significado:Conseguir realizar um empreendimento que se afigurava difícil; levar a cabo uma empresa difícil.

Origem: Expressão vulgarizada pelos exploradores europeus, principalmente portugueses, devido às enormes dificuldades encontradas ao penetrar o continente africano. A resistência dos nativos causava aos estranhos e indesejáveis visitantes baixas humanas. Muitas vezes retrocediam face às dificuldades e ao perigo de serem dizimados pelo inimigo que eles mal conheciam e, pior de tudo, conheciam mal o seu terreno. Por isso, todos aqueles que se dispusessem a fazer parte das chamadas "expedições em África", eram considerados destemidos e valorosos militares, dispostos a mostrar a sua coragem, a guerrear enfrentando o incerto, o inimigo desconhecido. Portanto, estavam dispostos a " meter uma lança em África".

Queimar as pestanas
Significado:Estudar muito.

Origem:Usa-se ainda esta expressão, apesar de o facto real que a originou já não ser de uso. Foi, inicialmente, uma frase ligada aos estudantes, querendo significar aqueles que estudavam muito. Antes do aparecimento da electricidade, recorria-se a uma lamparina ou uma vela para iluminação. A luz era fraca e, por isso, era necessário colocá-las muito perto do texto quando se pretendia ler o que podia dar azo a " queimaras pestanas".

Tertúlia
Significado: Tertúlia é a expressão utilizada para denominar um grupo de pessoas que se reune para debater um determinado assunto ou tema.

Origem: O nome provém dos usos do erudito Quinto Séptimo Florente Tertuliano, cartaginês, destacado defensor do cristianismo, cujos discursos públicos eram ricos em jogos de palavras. Às pessoas que se reuniam para debater as suas convicções e posições, apelidavam-se de "Tertulianos" e a essas reuniões depressa passaram a denominar-se "Tertúlias".

Advogado do Diabo
Advogado do Diabo é efetivamente uma profissão existente. Tomada como expressão que designa uma tarefa que ninguém por regra deseja, por ir contra a convicção geral, o "advocatus Diaboli" é a designação de um membro da Igreja Católica que é encarregue de levantar objecções em todas as argumentações documentadas num processo de canonização. Na facção oposta, o membro do clero recebe a designação "advocatus Dei".

Para Inglês ver
Significado: é uma expressão portuguesa usada para mostrar algo apenas pela aparência, algo que não se deve levar a sério pois é fabricado ou encenado para uma dada ocasião.

Origem: Dizem os entendidos que existem várias possibilidades para a origem do dito, uma no Brasil, outra em território na altura sob domínio português (S. Tomé e Príncipe), mas ambas relacionadas com a época final do tráfico de escravos. Quando a Inglaterra promulgou o fim do tráfico esclavagista fez acompanhar a promulgação da lei de algumas directrizes económicas tendentes a embargar o comércio com países que ainda adoptassem a prática. No caso português, a empresa Cadbury, a maior compradora da noz de cacau São Tomense, chegou mesmo a suspender as suas aquisições desta matéria-prima em virtude de nas plantações ser utilizada mão de obra escrava. As inspecções formais da Cadbury, pré-anunciadas, levavam os fazendeiros a encenar o emprego de população não escrava, possivelmente "para inglês ver" com o efeito tranquilizador do comprador assegurar ele mesmo que cumpria os requisitos exigidos. Algumas leis brasileiras emitidas pelo Governo da Regência em 1831, que nunca chegaram a ser levadas à prática, que proibiam "para inglês ver" o tráfico de escravos acabaram por ser letra morta para a realidade económica. Uma segunda lei, datada de 1852 e promulgada pelo Imperador D.Pedro II veio erradicar definitivamente o uso económico da escravatura.

Ficar a ver navios
Significado: Diz-se de alguém que ficou decepcionado por não ter alcançado os seus objetivos.

Origem: Há registradas duas origens para esta expressão. A mais antiga, após a batalha de Alcácer-Quibir e a alegada morte de D.Sebastião, é atribuída ao mito do sempre adiado regresso a Portugal do Rei desaparecido. Lugar privilegiado para a observação da barra do Tejo, dizia-se que muita gente subia ao Alto de Santa Catarina na esperança de avistar a nau que haveria de fazer o Rei de volta. Ir a Santa Catarina e "ficar a ver navios" era por isso mesmo uma decepção. A segunda teoria que visa estabelecer uma origem para a expressão está relacionada com a primeira invasão francesa. O General Junot que pretendia chegar a Lisboa a tempo de aprisionar a Família Real, conseguiu de facto chegar a Lisboa à frente de dois regimentos em muito má condição. A 30 de Novembro de 1807, Junot estava em Lisboa, mas a Família Real partira para o Brasil precisamente na véspera tendo alegadamente Junot "ficado a ver navios".

Sem eira nem beira Significado: pessoas sem bens, sem posses.

Origem: Eira é um terreno de terra batida ou cimento onde grãos ficam ao ar livre para secar. Beira é a beirada da eira. Quando uma eira não tem beira, o vento leva os grãos e o proprietário fica sem nada. Na região nordeste este ditado tem o mesmo significado mas outra explicação. Dizem que antigamente as casas das pessoas ricas tinham um telhado triplo: a eira, a beira e a tribeira como era chamada a parte mais alta do telhado. As pessoas mais pobres não tinham condições de fazer este telhado , então construíam somente a tribeira ficando assim "sem eira nem beira".

Isso são favas contadas
Significado: É uma expressão usual para definir o resultado de algo cujo resultado é esperado e previsível.

Origem: A expressão terá tido início no uso romano de utilizar esta leguminosa seca para efectuar operações aritméticas e proceder a votações, sendo distribuídas ao votante ou decisor duas favas de cor distinta, uma branca e uma negra, fava que o mesmo depositava numa bolsa onde se misturaria com os restantes votos de aprovação ou de negação consoante fosse na bolsa introduzida a variante negra. A contagem das favas brancas face às suas congéneres pretas decidia assim a votação da questão a pleito. Esta versão de votação com base nas cores branco e preto ainda hoje é utilizada em algumas decisões de aprovação, com o uso de bolas de cores distintas, permitindo assim a manutenção de total anonimato de votação.

Tirar o cavalinho da chuva
Significado: É uma expressão que nos nossos dias significa que alguém está a informar o interlocutor de que não valerá a pena insistir em determinado assunto, indicando-lhe que deve desistir do seu intento.

Origem: Não terá sido sempre esse o respectivo significado. Na era pré-automóvel, as deslocações maiores ou mais difíceis faziam-se maioritariamente a cavalo. Nas estalagens ou pontos de descanso, existiam como ainda hoje é visível nas construções mais antigas, locais específicos para se amarrarem os cavalos (argolas) enquanto o respectivo cavaleiro se ocupava no interior da construção durante uma breve paragem. Se a estada fosse mais prolongada era normal que o cavalo fosse abrigado dos elementos num estábulo destinado a repouso e alimentação do animal. "Podes tirar o cavalinho da chuva" implicava aconselhar o cavaleiro a resguardar o animal em virtude do tempo que ia eventualmente demorar.

Fontes:
'Dicionário de Expressões Correntes' ; Orlando Neves
A Casa da Mãe Joana, de Reinaldo Pimenta, vol. 1 (Editora Campus, Rio de Janeiro)