quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Monteiro Lobato (O Saci) I - Em férias; II - O Sítio de Dona Benta


Quando naquela tarde Pedrinho voltou da escola e disse a Dona Tonica que as férias iam começar dali a uma semana, a boa senhora perguntou:

— E onde quer passar as férias deste ano, meu filho?

O menino riu-se.

— Que pergunta, mamãe! Pois onde mais, senão no sítio de vovó.

Pedrinho não podia compreender férias passadas em outro lugar que não fosse no Sítio do Pica-Pau Amarelo, em companhia de Narizinho, do Marquês de Rabicó, do Visconde de Sabugosa e da Emília. E tinha de ser assim mesmo, porque Dona Benta era a melhor das vovós; Narizinho, a mais galante das primas; Emília, a mais maluquinha de todas as bonecas; o Marquês de Rabicó, o mais rabicó de todos os marqueses; e o Visconde de Sabugosa, o mais “cômodo” de todos os viscondes. E havia ainda Tia Nastácia, a melhor quituteira deste e de todos os mundos que existem. Quem comia uma vez os seus bolinhos de polvilho não podia nem sequer sentir o cheiro de bolos feitos por outras cozinheiras.

Pedrinho tinha recebido carta de sua prima, dizendo: “Nosso grupo vai este ano completar século e meio de idade e é preciso que você não deixe de vir pelas férias a fim de comemorarmos o grande acontecimento”.

Esse século e meio de idade era contado assim: Dona Benta, 64 anos; Tia Nastácia, 66; Narizinho, oito; Pedrinho, nove. Emília, o Marquês e o Visconde, um cada um. Ora, 64 mais 66 mais oito mais nove mais um mais um mais um, fazem 150 anos, ou seja, um século e meio.

Logo que recebeu essa carta, Pedrinho fez a conta num papel para ver se a pilhava em erro; mas não pilhou.

— É uma danada aquela Narizinho! — disse ele. — Não há meio de errar em contas.

II

O sítio de Dona Benta


O sítio de Dona Benta ficava num lugar muito bonito. A casa era das antigas, de cômodos espaçosos e frescos. Havia o quarto de Dona Benta, o maior de todos, e junto o de Narizinho, que morava com sua avó. Havia ainda o “quarto de Pedrinho”, que lá passava as férias todos os anos; e o da Tia Nastácia, a cozinheira e o faz-tudo da casa. Emília e o Visconde não tinham quartos; moravam num cantinho do escritório, onde ficavam as três estantes de livros e a mesa de estudo da menina.

A sala de jantar era bem espaçosa, com janelas dando para o jardim, depois vinha a copa e a cozinha.

— E sala de visitas? Tinha?

— Como não? Uma sala de visitas com piano, sofá de cabiúna, de palhinha tão bem esticada que “cantava” quando Pedrinho batia-lhe tapas. Duas poltronas do mesmo estilo e seis cadeiras. A mesa do centro era de mármore e pés também de cabiúna. Encostadas às paredes havia duas meias mesas, também de mármore, cheias de enfeites: três casais de içás vestidos, vários caramujos e estrelas-do-mar, duas redomas com velas dentro, tudo colocado sobre os “pertences” de miçangas feitos por Narizinho. Hoje ninguém mais sabe o que é isso. Pertences eram umas rodelas de crochê que havia em todas as casas, para botar bibelôs em cima; para o lavatório de Dona Benta, Narizinho fizera pertences de crochê; e para a sala de visitas fizera aqueles de miçanga de várias cores da bem miudinha.

Antes da sala de visitas havia a sala de espera, com chão de grandes ladrilhos quadrados, “cor de chita cor-de-rosa desbotada”. A sala de espera abria para a varanda. Que varanda gostosa! Cercada dum gradil de madeira muito singelo, pintado de azul-claro. Da varanda descia-se para o terreiro por uma escadinha de seis degraus. Nas férias do ano anterior Pedrinho havia plantado em cada canto da varanda um pé de “cortina japonesa”, uma trepadeira que dá uns fios avermelhados da grossura dum barbante, que depois ficam amarelos e descem até quase ao chão, formando uma verdadeira cortina viva. Aquela varanda estava se transformando em jardim, tantas eram as orquídeas que o menino pendurara lá e os vasos de avenca da miúda que ele foi colocando junto à grade.

O jardim ficava nos fundos da sala de jantar, um verdadeiro amor de jardim, só de plantas antigas e fora da moda. Flores do tempo da mocidade de Dona Benta: esporinhas, damas-entre-verdes, suspiros, orelhas-de-macaco, dois pés de jasmim-do-cabo, e outro, muito velho, de jasmim-manga. Plantado na calçada e a subir pela parede, o velhíssimo pé de flor-de-cera, planta que os modernos já não plantam porque custa muito a crescer. Até cravo-de-defunto havia lá, flor com que Narizinho se implicava por ter “cheiro de cemitério”. Bem no centro do jardim havia um tanque redondo com uma cegonha de louça, toda esverdeada de limo a esguichar água pelo bico, Mas a cegonha já estava sem cabeça, em conseqüência das pelotadas do bodoque de Pedrinho. Um velho regador verde morava perto do tanque, porque era com a água do tanque que Tia Nastácia regava as plantas no tempo da seca.

— E o pomar?

— O pomar ficava nos fundos da casa, depois do “quintal da cozinha”, onde havia um galinheiro, um tanque de lavar roupa e o puxado da lenha. O poço velho fora fechado depois que Dona Benta mandou encanar a agüinha do morro.

Passado o quintal vinha o pomar — aquela delícia de pomar!

— Por que delícia?

— Porque as árvores eram muito velhas, e árvore quanto mais velha melhor para a beleza e a frescura da sombra. Árvore nova pode ser muito boa para dar frutas bonitas, baixinhas e fáceis de apanhar. Mas para a beleza não há como uma árvore bem velha, bem craquenta, com os galhos revestidos de musgos, liquens e parasites. Certas árvores do pomar tinham donos. Havia a célebre pitangueira da Emília, as três jabuticabeiras de Pedrinho, a mangueira de manga-espada de Narizinho e os pés de mamão de Tia Nastácia. Até o Visconde tinha sua árvore — um pezinho de romã muito feio e raquítico. O resto das árvores não era de ninguém — era de todos. E quantas! Cambucazeiros, duas jaqueiras, os pés de cabeluda e grumixama, os três pés de sapotis e aquele de fruta-de-conde que “não ia por diante”.

Era tão antigo aquele pomar que os vizinhos até caçoavam. Viviam dizendo: “O pomar de Dona Benta está tão velho que qualquer dia se põe a caducar. As jaqueiras começam a dar mangas e as mangueiras a dar laranjas”. Mas Dona Benta não fazia caso. Não admitia que se cortasse uma só árvore — nem o pobre pé de fruta-de-conde encarangado. Dizia que cada uma delas lembrava qualquer coisa da sua meninice ou mocidade.

— Este pé de laranja-baiana — costumava dizer — foi o primeiro que tivemos aqui, e dele saíram os enxertos dos outros. Naquele tempo laranja-baiana era uma grande novidade. A muda foi presente do defunto Zé das Bichas, um português muito trabalhador que morava numa chácara perto da vila.

Impossível haver no mundo lugar mais sossegado e fresco, e mais cheio de passarinhos, abelhas e borboletas. Como Dona Benta nunca admitiu por ali nenhum menino de estilingue, a passarinhada se sentia à vontade e fazia seus ninhos como se estivessem na ilha da Segurança. O próprio bodoque de Pedrinho não funcionava no pomar.

— E que passarinhos havia?

— Oh, tantos!... No tempo das laranjas o pomar enchia-se de sabiás de peito vermelho, amigos de cantar a célebre música-do-sabiá que os pais vão ensinando aos filhotes, sempre igualzinha, sem a menor mudança. E havia os sanhaços cor de cinza clara. E as saíras azuis. E as graúnas pretíssimas. E muito canário-da-terra, muito papa-capim, tiziu, pintassilgo, rolinha, corruíra...

As corruíras eram o encanto da menina, que vivia a observar o jeitinho delas no constante escarafunchamento dos muros carunchados em busca de pequenas aranhas e outros bichinhos moles. Bichinho duro corruíra não quer. E sempre com as penas da cauda erguidas, ninguém sabe por quê. Corruíras cor de telha e mansíssima. Há também a linda corruíra-do-brejo, que faz aqueles enormes ninhos espinhentos — mas essas nunca apareciam no pomar. Moravam nos brejos.

Às vezes pousavam lá, de passagem, um ou outro tié-sangue, o passarinho mais lindamente vermelho que existe. Mas não se demoravam. Eram arisquíssimos.

— Por que, vovó, justamente os passarinhos mais bonitos são os mais ariscos? — perguntou certa vez a menina.

— Justamente por serem bonitos, minha filha. Os homens perseguem os passarinhos bonitos porque são bonitos — quem quer saber de passarinho feio? Os tico-ticos, por exemplo: vivem na maior paz em todos os terreiros justamente porque ninguém os persegue. São feinhos, os coitados. Mas apareça aqui um tié-sangue, ou uma saíra daquelas lindas: todos se põem atrás deles, querendo apanhá-los vivos ou mortos. Para a felicidade neste nosso mundo, minha filha, não há como ser tico-tico, isto é, feinho e insignificante...

Mas o rei do pomar era o joão-de-barro. Na paineira grande, bem lá no fundo, moravam dois, num ninho feito de argila, em. forma de forno de assar pão. Era o casal mais amigo possível. Não se largavam nunca. Onde estava um, também estava por perto o outro. E se por acaso um se afastava um pouco mais, volta e meia soltava uns gritos como quem pergunta: “Onde você está” — e o outro respondia: “Estou aqui”. E de vez em quando cantavam juntos aquele terrível dueto que mais parece uma série de marteladas estridentes e alegres.

— Que coisa interessante, vovó! — disse Pedrinho um dia. — Repare que eles sempre cantam ou gritam juntos. Um faz uma parte e outro faz o acompanhamento, como no piano...

E era assim mesmo. São tão amigos que até para cantar “cantam a duas mãos”, como dizia a boneca.

Certo ano o casal resolveu construir um ninho novo em outro galho da paineira, e durante quinze dias o divertimento dos meninos foi acompanhar de longe aquele trabalho. Os dois passarinhos traziam da beira do ribeirão um pelote de barro no bico e ficavam ali a colocar aquela massa no lugar próprio, e a bicá-la cem vezes para que ficasse bem ligadinha. Enquanto um se ocupava naquilo, o outro voava em busca de mais barro. Nunca estavam os dois no mesmo serviço; revezavam-se. À tardinha interrompiam o trabalho, cantavam o dueto com toda a força e depois se acomodavam no ninho velho. Tia Nastácia vivia dizendo que nos domingos eles não trabalhavam, mas infelizmente os meninos não puderam tirar a prova duma coisa tão linda.

O mais curioso foi que, depois de acabado o ninho novo, eles, em vez de se mudarem, resolveram fazer um segundo ninho em cima daquele. Quem primeiro notou isso foi o Visconde, que foi, todo assanhado, contar a Dona Benta.

— Venham ver — disse o sabuguinho. — Eles terminaram ontem a construção do ninho novo, mas não se mudaram do velho, em vez disso estão a construir um segundo ninho sobre o novo — uma espécie de segundo andar.

Dona Benta foi com os meninos e viu.

— Por que será, vovó? — quis saber Pedrinho.

— Não sei, meu filho, mas eles devem ter lá as suas razões.

— Eu sei — berrou Emília. — É para alugar!...

Todos riram-se.

— Eu acho — disse Narizinho — que é para acomodar os filhotes quando chegarem ao ponto de voar.

— Isso não — observou Dona Benta. — Porque se os pais construíssem casas para os filhos, estes não aprenderiam a arte da construção e essa arte perder-se-ia. É fazendo que se aprende, já disse o velho Camões.

— Mas então esses passarinhos raciocinam, vovó — têm inteligência...

— Está claro que têm, meu filho. A inteligência é uma faculdade que aparece em todos os seres, não só no homem. Até as plantas revelam inteligência. O que há é que a inteligência varia muito de grau. É pequeniníssima nas galinhas e nos perus, mas já bem desenvolvida no joão-de-barro — e é um colosso num homem como Isaac Newton, aquele que descobriu a Lei da Gravitação Universal.

No terreiro do sítio, em frente à varanda, havia sempre um mastro de São João, que Pedrinho fincava na véspera do dia desse santo, a 24 de junho, quando vinha pelas férias. Ele mesmo cortava o pau no mato, ele mesmo o descascava e pintava inteirinho, com arabescos vermelhos, amarelos e azuis. No topo do mastro colocava a “bandeira de São João”, que era um quadrado de sarrafo, espécie de moldura, na qual pregava com tachinhas um retrato de São João meninote com um cordeirinho no braço. Essas bandeiras, estampadas em morim, custavam R$ 1,50 na venda do Elias Turco, lá na estrada.

O terreiro era vedado por uma cerca de paus-a-pique — rachões de guarantã. Bem no centro ficava a porteira. Para lá da porteira era o pasto, onde havia um célebre cupim de metro e meio de altura; e mais adiante, um velho cedro ainda do tempo da mata virgem. Através do pasto seguia o “caminho” — ou a estrada que ia ter à vila, a légua e meia dali. No fim do pasto, perto da ponte, apareciam a casinha do Tio Barnabé e a figueira grande; e bem lá adiante, o Capoeirão dos Tucanos, uma verdadeira mata virgem onde até onça, macacos e jacus havia.

E que mais? Ah, sim, o ribeirão que passava pela casa do Tio Barnabé cortava o pasto e vinha fazer as divisas do pomar com as terras de plantação. Impossível haver no mundo um ribeirão mais lindo, de água mais limpa, com tantas pedrinhas roliças de todas as cores no fundo. Em certos pontos viam-se pequenas praias de areia branca. Nas curvas a água quase que parava, formando os célebres “poços” onde Pedrinho pescava lambaris e bagres. As beiras de água rasa eram a zona dos guarus — o peixinho menor que existe.

Aos domingos Tia Nastácia saía a mariscar de peneira. Os meninos davam pulos de alegria. A boa negra metia-se na água até à cintura e ia descendo o ribeirão, com eles a acompanhá-la da margem, aos gritos.

— Aqui, Nastácia, aqui nestes capinzinhos...

A negra, muito cautelosamente, mergulhava a peneira por baixo dos capinzinhos boiantes e suspendia-a de repente, de surpresa. A água escoava-se pelos furos e na peneira aparecia uma porção de vidinhas aquáticas, a saltar e espernear: guarus barrigudinhos, lambarizinhos novos, pequeninas traíras e, de vez em quando, um baratão-d’água muito casquento e feio. E outros bichinhos ainda, incompreensíveis e sem nome. Certo dia a peneira trouxe uma cobra-d’água verde, que a negra jogou sobre o capim da margem. Foi uma gritaria e uma correria das crianças.

— Não tenham medo que não é venenosa! — disse a negra rindo-se com toda a gengivada vermelha de fora.

Mas os meninos não quiseram saber de nada. Ficaram a espiar de longe. A cobra-verde foi coleando por entre os capins e se sumiu de novo na água.

O mais importante daquelas mariscagens eram os camarõezinhos de água doce, moles e transparentes, que Tia Nastácia acanhava em quantidade. A carregadeira do samburá (a cestinha redonda que os mariscadores usam para recolher o peixe) era sempre Narizinho. A menina ia passando os camarões da peneira para o samburá, com muito medo de ser mordida. Só os agarrava pelos fios da barba. Pedrinho ria-se: “Boba! Onde se viu camarão morder?” E ela: “A gente nunca sabe...”

No jantar daqueles domingos, quando aparecia na mesa o prato-travessa cheio de camarõezinhos fritos, bem pururucas e vermelhos, as crianças até sapateavam de gosto. E se com os camarõezinhos vinha alguma pequena traíra ou bagre, a disputa era certa.

— A traíra é minha! — berrava um.

— É minha, é minha! — gritava outro.

O remédio era sempre uma das célebres sentenças de Salomão de Dona Benta.

— Como vocês são dois e a traíra e uma só, eu como a traíra e vocês repartem os camarões.

Cessava incontinenti a disputa, e a travessa de camarão ia diminuindo, diminuindo, até não ficar nem um fio de barba.
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continua... III - Medo do Saci
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Viagem ao Céu & O Saci. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. II. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 305)

Imagem criada por Igor Zenin
Uma Trova Nacional

Fiel ao sonho desfeito
há, no mundo, certa gente
guardando dentro do peito
toda a descrença que sente.
–NILTON MANOEL/SP–

Uma Trova Potiguar

Quando o poeta se extasia,
nas asas, da inspiração,
faz do sonho, a poesia,
põe no verso, o coração.
–FABIANO WANDERLEY/RN–

Uma Trova Premiada

2007 - Bandeirantes/PR
Tema: ENCANTO - M/H.

O sonho, vivendo em mim,
encanto suave e risonho,
talvez seja lindo assim,
justamente por ser sonho.
–VANDA FAGUNDES QUEIROZ/PR–

Uma Trova de Ademar

Em busca de São Francisco,
o Santo do Canindé,
romeiros seguem com risco
numa procissão de Fé.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Quando chora um trovador
não é o seu pesar somente,
canta, sofre e chora a dor
colhida de toda gente.
–VICTORINA SAGBONI/PR–

Simplesmente Poesia

Nebulosa
–CLEVANE PESSOA/MG–

Torno-me quase nada
se não sou compreendida...
Uma fechada rosa
querendo se abrir...
Ave engaiolada
a querer fugir...
Sem forma definida
perco-me em mim
no espaço sideral:
Viro uma nebulosa
para escapar do seu mal,
você me apedreja
saiba que já fui alguém
com muito mais consistência...
Não quero que assim me veja:
não sou assim...

Estrofe do Dia

Uma lagarta amarela
depois de longo mal trato
dobra uma folha de mato
e vai morar dentro dela,
chega num pé de marcela
faz uma folha torcer,
não encontra o que comer
mesmo assim vai escapando;
é a natureza mostrando
quanto é grande o seu poder.
–MANOEL FILÓ/PE–

Soneto do Dia

Um Bule, Uma Saudade!
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Ontem eu retornei ao meu passado,
e fui, pela saudade que sentia.
Pude rever com certa nostalgia,
um bule de café mal adoçado.

Que esperava o meu pai do seu roçado,
mas, meu pai, com certeza, não viria,
pela janela aberta inda se via
seus rastros no caminho, chão amado.

Eu mesmo o vi partir no amanhecer,
naquela rede velha de um sofrer,
por homens que sorriam, sem maldade.

Na rede, ele seguia o seu caminho,
velho bule encardido, ali sozinho,
amargando o café desta saudade.

Fonte:
Textos enviados pelo autor

Amosse Mucavele (Poegrafia o Ledo Ivo)*


Amosse Eugénio Mucavele é de Maputo, Moçambique e é o novo colaborador do blog. Hoje ele inicia com esta homenagem ao poeta alagoano Lêdo Ivo (foto ao lado)
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Um homem vindo de um lugar pobre e distante das metrópoles, sonhou em um dia alavancar o nome da sua terra natal (Maceió – Alagoas).

Como os sonhos não envelhecem (R.Riso) continuou firme a trilhar o caminho dos seus sonhos, mas nunca compartilhou com alguém, guardava-os na gaveta da sua cachola.

Procurou tantos ofícios e aperfeiçoou-se no oficio de ourives da palavra, lapidou os seus sonhos e lançou-os em forma de IMAGINAÇÕES, e dai percebeu que ter uma ourivesaria precisa de mão-de-obra e material e a título individual não iria conseguir levar avante o projeto, o coletivismo veio à tona (nasceu a Geração 45).

Os sonhos deste homem continuaram fortes como a rocha, altos como o Everest

Colocou um desafio a si mesmo – de deliciar o mundo e mostrar o quão grande e a LINGUAGEM da palavra que ele fabrica.

Este homem nunca teve inspiração pois a poesia e o sol que brilha no seu dia – a – dia e os SONETOS acontecem A NOITE.

O Brasil tornou-se pequeno, atravessou os céus e foi a PARIS graças as MAGIAS das suas mãos REI da EUROPA reconheceu a grandeza da sua obra.

Neste momento eu estou aqui na ESTAÇÃO CENTRAL a espera do trem que traz O UNIVERSO POÉTICO deste homem.

*Ledo Ivo é natural de Maceió-Alagoas expoente da Geração 45, publicou numerosos livros de poesia- As Imaginações(1944), A linguagem(1951), Acontecimento do soneto e ode a noite(1951), um Brasileiro em Paris e o Rei da Europa(1955), Estação central(1964). Também é novelista, contista, cronista e critico literário autor do ensaio- O universo poético de Raul Pompeia (1963)
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Amosse Eugenio Mucavel nasceu em Maputo aos 8 de julho de 1987,e fez o curso agropecuário Instituto Agrário Boane. É membro do Movimento Literário Kuphaluxa, onde coordena o projeto literatura na escola. O blog é http://kuphaluxa.blogspot.com/.

Fonte:
Texto enviado pelo autor

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Paulo Leminski ("A Proxima Vez")


Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 304)


Uma Trova Nacional

Se há caridade nos lábios,
Juntam-se a fé e a esperança.
São três palavras que os sábios,
percebem só nas crianças!
JOSIAS ALCÂNTARA/PR–

Uma Trova Potiguar


Natal é rica de tudo,
tem beleza e esplendor,
Desde a obra de Cascudo
Aos versos do cantador.
–MARCOS MEDEIROS/RN–

Uma Trova Premiada

2000 - UBT-Natal/RN
Tema: DESTINO - M/H

Que não me julguem culpado
por não achar a saída...
Meu destino está traçado,
nos labirintos da vida!
FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE–

Uma Trova de Ademar

Minha mente é qual jazida
onde o verso prolifera...
De poesia eu pinto a vida
com cores da primavera!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Ao partir para a outra vida,
aquilo que mais receio,
é deixar nessa partida,
tanta coisa pelo meio ...
–LUIZ OTÁVIO/RJ–

Simplesmente Poesia

"Angustias D'Alma"
–MARIVA/PB–

Estou pensando
indeciso, inseguro, pensando
qual o trilho da minha vida !!! ???
com as mãos estendidas para o nada
escondendo um grito calado no peito
na solidão de um caminho deserto
com o olhar angustiado no infinito
e a alma perdida nos labirintos da vida.

Estrofe do Dia

Favela, recanto cheio
de casas de papelão,
apitos de camburão
fumaças de tiroteio;
de mãe sem leite no seio,
marido desempregado,
fogão de fogo apagado,
mesa sem ter pão no prato;
a favela é o retrato
de um povo discriminado.
–JOÃO PARAIBANO/PB–

Soneto do Dia

Te Amo
SÁ DE FREITAS/MA

Amo-te tanto...mais que a própria vida,
E te desejo tanto, na certeza,
De que me queres quanto és tão querida,
De que me prendes n'alma o quanto és presa.

Amo-te mais que o amor permite amar-se;
Amo-te além do além que o amor desperta;
Translúcido te amo sem disfarce;
Te amo com a loucura de um poeta.

Amo-te como deve amar quem ama,
E cercado por essa imensa chama,
Do amor que me aprisiona em fortes laços:

Quero que o coração, no amor, se farte;
Quero viver para poder amar-te...
Quando eu morrer, que eu morra nos teus braços.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Concurso de Trovas de Magé (Resultado Final)

Clique sobre cada uma das imagens para ampliar
Fonte:
Colaboração de A. A. de Assis

Ialmar Pio Schneider (Soneto à Lila Ripoll)


- In Memoriam – Nascimento: 12 de agosto de 1905

Quem pode me ajudar nesta tarde sombria,
em que o sol vai partindo e a treva vem chegando,
eu que procuro ter para minha alegria
um raio de esperança ao destino nefando?

Lila Ripoll, poetisa, ela vivia amando
a cidade e seu lago e a noite que descia,
traz-me a tranquilidade e fico meditando
nos versos geniais de serena poesia...

Poemas que compôs em ritmo de ansiedade,
sentindo na tristeza o travo da saudade,
para se comover ao som do seu piano...

Quantas vezes, talvez, tocou sua ternura,
amenizando a dor da mansa desventura,
na pauta musical vinda de um desengano !...

Fontes:
Soneto enviado pelo autor
Montagem da Imagem por José Feldman

Lila Ripoll (Antologia Poética)


CANÇÃO DA CHUVA

Cai uma chuva tão fina
que quase nem molha a gente.
É uma música em surdina
que apenas a alma sente.

Junto meu rosto à vidraça
e olho a rua sem pensar.
Fico em estado de graça,
como quem vai comungar.

Senhora dos mundos vivos,
Nossa Senhora da Vida,
quantos dias negativos
na minha estrada perdida!

Senhora tu não devias
permitir tantos enganos.
Há excesso de alegrias,
e excesso de desenganos.

Por onde andaram meus passos
vi sinais de desalentos.
Vaguei por muitos espaços
e senti todos os ventos.

Ventos do sul, vento norte,
ventos do leste e do oeste,
tão diversos como a sorte
que tu, na vida, nos deste.

Senhora dos mundos vivos,
Nossa Senhora da Vida —
quantos dias negativos
na minha estrada perdida!

CANÇÃO DE AGORA

Ontem meu peito chorava.
Hoje, não.
Também cansa a desventura.
Também o sol gasta o chão.

Estava ontem sozinha,
tendo a meu lado, sombria,
minha própria companhia.
Hoje, não.

Morreu de tanto morrer
a pena que em mim vivia.
Morreu de tanto esperar.
Eu não.

Relógios do tempo andaram
marcando o tempo em meu rosto.
A vida perdeu seu tempo.
Eu não.

Também cansa a desventura.
Também o sol gasta o chão.

CANTIGA DE RODA

"Bota terra no meu lenço,
pra plantá manjericão."
— Ai! versos da minha infância,
meus anos não volverão.

"Atirei um limão verde
por cima da sacristia."
— Ai! vozes que me prenderam
a um passado de alegria!

"Menina, minha menina,
cinturinha de retrós."
— Ai! balcão de nossa loja,
onde andarão meus avós?

"O cravo brigou com a rosa
defronte de uma sacada."
— Ai! cantigas esquecidas,
crianças de mãos trançadas.

"Roda, roda cirandinha,
vamos todos cirandar."
— Ai! prendas da minha infância,
deixem meus olhos chorar!

"Lá vem o sol, vem chegando
redondo como um botão."
— Ai! joguem terra em meu corpo
mas deixem meu coração.

Ai! joguem terra em meu corpo
mas poupem meu coração.

Botem terra no meu corpo
mas plantem manjericão!

NO CASARÃO

Nasci num casarão velho, de esquina,
Escondido entre salsos pensativos.
E foi lá que a minha alma, ainda menina,
Olhando dia e noite os poentes vivos,
Aprendeu a viajar no pensamento.
Eu fui uma criança sem infância.
Senti, desde pequena, esse tormento
Que o sonho traz depois de cada ânsia,
E que é o maior dos males que conheço!
Às vezes, noite alta, eu levantava,
Vestia minha roupa pelo avesso
E saía sozinha (a lua espiava!)
Para olhar as estrelas e os céus altos...
O quintal era um mundo diferente,
Que eu percorria sem temer assaltos.
Meu corpo, que já era um pobre doente,
Tiritava de frio e de emoção
Quando o vento arrepiava os velhos salsos
Que arrastavam os braços pelo chão...
Meia-noite... Fantasmas... Bruxas brancas...
Eu sozinha vagando pelo escuro...
Minha casa fechada com mil trancas,
E as pedras a cair do velho muro...
Quando a lua fugia, já cansada,
Meus passos, silenciosos, apagados,
Voltavam pelas pedras da calçada
Que a nossa casa tinha de um dos lados.
De manhã: os olhares, as perguntas...
(Eu estava tão branca. Tão sem cor.
As olheiras iguais às de defuntas...)
— "Era o vento!" "Era o frio!" "Era o calor!":
A mentira que achava na ocasião...
E de noite, outra vez, às escondidas,
Abandonava o velho casarão...

PRIMAVERA

Setembro entrou pela janela adentro,
com um puro frescor de primavera.
Inunda-se de luz toda a paisagem
e o meu canto transborda à tua espera.

A doçura da tarde é uma carícia.
Entreabrem-se flores docemente.
As nuvens estão nítidas e imóveis
no céu azul aberto à minha frente.

Há murmúrios e vozes pela rua.
Frescos risos distraem meus ouvidos
e ficam borbulhando como fonte
ou como choque de cristais partidos.

A ternura contida de meu peito
ameaça transbordar dentro da tarde.
como um rio fugindo de seu leito.

Minha pobre ternura ignorada,
minha heróica ternura impressentida,
teima em mostrar-se como a primavera,
pensa em tocar de leve a tua vida.

É difícil ser poeta e ser mulher.
É difícil cantar sem revelar.
Pode o poeta contar o seu segredo,
mas a mulher o seu deve guardar.

A ternura contida de meu peito
ameaça transbordar dentro da tarde,
como um rio fugindo de seu leito.

Fecharei a janela à primavera
e calarei o poeta nesta tarde,
para que o sonho em nada me perturbe,
nem meu canto transborde à tua espera.

Fontes:
RIPOLL, Lila. Antologia poética. Rio de Janeiro: Leitura; Brasília: INL, 1968.
RIPOLL, Lila. Ilha difícil: antologia poética. Sel. e apres. Maria da Glória Bordini. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1987

Lila Ripoll (1905 – 1967)


Nascida a 12 de agosto de 1905 em Quaraí (RS), e falecida a 7 de fevereiro de 1967 em Porto Alegre - vítima do câncer - Lila Ripoll percorre caminhos já conhecidos pela poesia ocidental contemporânea: o confessionalismo, o intimismo, a investigação lírica de temas como a morte e o amor, as reminiscências ligadas à infância e às perdas, e a lírica socialmente engajada. Essa diversidade de vertentes poéticas praticadas pela escritora filia sua obra aos mesmos caminhos percorridos por Cecília Meireles e Mario Quintana.

Formou-se em Piano no Conservatório de Música, atual Instituto de Artes da UFRGS, em Porto Alegre.

Em 1930, ela se tornou professora de Canto Orfeônico no Grupo Escolar Venezuela, hoje Escola Estadual Venezuela, no bairro Medianeira. Foi nesse período que se aproximou de escritores e intelectuais gaúchos como Reinaldo Moura, Manuelito de Ornelas, Dyonélio Machado, Carlos Reverbel e Cyro Martins, os quais compõem a chamada Geração de 30.

Em 1934, com o assassinato de seu primo Waldemar Ripoll, jornalista e membro do Partido Libertador, por ordem de pessoas ligadas a Flores da Cunha, Lila Ripoll decidiu se engajar na luta política e na causa comunista. Ela participou da Frente Intelectual do Partido Comunista e do Sindicato dos Metalúrgicos, de cujo departamento cultural foi diretora.

Em 1938, Ripoll publicou seu livro de estreia, De Mãos Postas, o qual foi bem recebido pela crítica. Três anos depois, veio Céu Vazio, vencedor do Prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras. Em 1944, Lila desposou Alfredo Luís Guedes, também militante político. Com a legalização do Partido Comunista, no ano seguinte, passou a lutar mais ativamente pelas reivindicações dos operários e, simultaneamente, publicou textos na revista A Província de São Pedro.

Em 1949, Lila Ripoll ficou viúva e, mesmo deprimida, continuou a se engajar na militância política e em campanhas pacifistas. Foi candidata a deputada pelo Partido Comunista em 1950, mas não foi eleita.

Em 1951, colaborou na revista Horizonte publicando poetas latino-americanos como Pablo Neruda e Gabriela Mistral. No mesmo ano, publicou Novos Poemas, que lhe outorgou o Prêmio Pablo Neruda da Paz, em Praga, na Tchecoslováquia.

Participou, em 1951, no grupo Partidários da Paz, vinculado ao Conselho Mundial da Paz, com Graciliano Ramos, Dyonelio Machado e Laci Osório.

Em 1954, o longo poema Primeiro de Maio, que tem como tema o massacre ocorrido no Dia do Trabalhador na cidade de Rio Grande, foi publicado. Em 1958, sua única peça teatral, Um Colar de Vidro, foi apresentada no Theatro São Pedro.

Em 1964, logo após o golpe militar, Lila Ripoll foi presa, mas rapidamente libertada em função de sua saúde — sofria de um estado avançado de câncer. Sua última obra poética foi Águas Móveis (1965). Faleceu em Porto Alegre, aos sessenta e um anos, e seu corpo foi enterrado por seus companheiros partidários no Cemitério da Santa Casa de Misericórdia.

Sua obra poética inclui os livros Por quê? (1947), Primeiro de Maio (1954), O Coração Descoberto (1961) e Águas Móveis (1967), entre outros.

A poesia de Lila Ripoll vincula-se à segunda geração do modernismo e é profundamente marcada pelo engajamento político. No entanto, segundo o crítico Cyro Martins, ela "soube preservar o seu lirismo, as suas cismas de poeta autêntico, mesmo quando seu estro serviu a motivos de civismo heróico como no longo poema 'Primeiro de Maio', em que chama pelos nomes os operários que caíram chacinados durante uma passeata dissolvida a bala.”

A poesia de Ripoll nasce entre a perda e a transcendência, onde o amor brota como um tema em excesso, que vem somente a ser compreedido entre os oprimidos. A escritora alcança o clímax de sua produção quando trabalha a condição feminina na sua lírica quando (em suas últimas obras), ao invés da plenitude da existência, admite a degradação das coisas e do outro. Nesse ponto de sua produção poética, tudo desaba, sedimenta-se, fossiliza-se.

Tal como os neo-simbolistas do sul nos anos 30 e 40, Ripoll privilegia o Eu em relação ao mundo. A impossibilidade de uma convivência harmônica com aquilo que é transitório e as perdas que a todos os homens afligem levam o eu-lírico a uma identificação com os despossuídos, em virtude da glorificação das angústias existenciais dos mesmos; assim, ao compartilhar o sofrer, a autora vê-se liberta do ensimesmamento, buscando a compreensão da própria dor.

Em homenagem à poetisa, criou-se em 2005 o Prêmio Lila Ripoll de Poesia, promovido pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. O prêmio é aberto a todas as pessoas que desejarem se expressar sobre temas vinculados às causas sociais e ao gênero.

OBRAS

De mãos postas (poesia). Porto Alegre: Livraria do Globo, 1938.

Céu vazio (poesia). Porto Alegre: Livraria do Globo, 1941 (Obra vencedora do prêmio Olavo Bilac Da Academia Brasileira de Letras).

Por quê? (poesia). Rio de Janeiro: José Olympio, 1947.

Novos poemas (poesia). Porto Alegre: Horizonte, 1951 (Obra vencedora do prêmio Pablo Neruda da Paz).

Primeiro de maio (poesia). Porto Alegre: Horizonte, 1954.

Poemas e canções (poesia). Porto Alegre: Horizonte, 1957.

Um colar de vidro (peça teatral inédita). Porto Alegre: s/ed., 1958.

O coração descoberto (poesia). Rio de Janeiro: Vitória, 1961.

Águas móveis (poesia). Inédito de 1965.

“Poesias”. In: Cadernos do extremo sul. Alegrete: s/ed., 1967.

Antologia poética Rio de Janeiro: Leitura; Instituto Nacional do Livro / MEC, 1968 (edição póstuma organizada por Walmyr Ayala).

Ilha difícil: antologia poética. Porto Alegre: Editora da Universidade / UFRGS, 1987 (organizado por Maria da Glória Bordini).

Fontes:
http://www.astormentas.com/din/biografia.asp?autor=Lila+Ripoll
http://www.amulhernaliteratura.ufsc.br/catalogo/lila_vida.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lila_Ripoll

Cantando ao Som das Setilhas (Debate pela Internet) Parte 7


120 - Zé Lucas
Nestes versos pequeninos,
homenageio a grandeza
das almas superiores,
cheias de brilho e nobreza,
que, tendo amor sem medida,
voam acima da vida,
sem dar espaço à fraqueza.

121 – Gislaine Canales
Eu falo, então, da beleza,
seja do Sul ou do Norte,
ou do Meio do Brasil!
A Poesia é o passaporte
que chega com emoção,
trazendo-lhe a inspiração!
Poeta é cabra –de –sorte!

122 – Prof. Garcia
Neste mundo a minha sorte,
vem das esferas do além,
chega nas asas do vento
de todo canto ela vem;
desperta ao nascer do sol,
dorme na luz do arrebol
mas não pertence a ninguém!

123 – Delcy Canalles
Quisera ser esse alguém,
cuja sorte me fascina,
que, às vezes, chega com a brisa
e tem origem divina,
que aumenta com a luz da aurora
ou com a do Sol que vigora,
em verdadeira rotina!

124 – A. A. de Assis
Que bom que o frio termina...
Volta à rua a minissaia,
volta à rosa o beija-flor,
volta a moçada à gandaia.
É hora de quem puder
pegar a prole e a mulher
e se mandar para a praia!

125 – Arlindo T. Hagen
Como faz falta uma praia
aqui nas Minas Gerais!
Um espaço democrático
feito a praia não há mais
pois, de chinelo e calção,
na areia ou no calçadão,
os homens são mais iguais!

126 – Thalma Tavares
Os homens são mais iguais
quando igualam sentimentos
de paz, de fraternidade,
de saudáveis pensamentos.
Meus mais iguais são poetas
que buscam em suas metas
dar sentido aos seus talentos.

127 - Zé Lucas
O Pai não deixou talentos
iguais para os filhos seus.
Os seres não são iguais
na família dos pigmeus
nem também na dos gigantes,
e, se somos semelhantes,
já damos graças a Deus.

128 - Gislaine Canales
Sem ser cristãos ou ateus,
somos iguais, na verdade;
em nosso mágico mundo
vivemos em liberdade,
com versos, por companhia,
cheios de paz e alegria,
que nos dão felicidade!

129 – Prof . Garcia
Mesmo com tanta maldade
eu alimento a esperança,
de ver um mundo feliz
sabendo que não se alcança;
mas esta fé que me guia,
vem da força da poesia
que trago desde criança.

130 – Delcy Canalles
O bálsamo da esperança
nos vem com a Primavera,
que chega alegre em setembro,
depois de uma fria espera,
pois ela é a estação das flores,
dos perfumes, dos amores,
dos sonhos e da quimera!

131 – A. A. de Assis
Quanto sonho o verso opera...
Da Argentina a Portugal,
de Porto Alegre ao Caribe,
da Venezuela a Natal.
Sonho que une as nossas mãos
numa corrente de irmãos
tecendo um lindo ideal.

132 – Arlindo T. Hagen
A linguagem fraternal
que nos une em acalanto
facilita o entrosamento
com irmãos de qualquer canto.
Deste modo, versejar
é quase como falar
uma espécie de Esperanto!

133 – Thalma Tavares
Bem lembrado! O Esperanto,
por Zamenhof criado,
é uma língua universal
e pode ser comparado
como espécie de linguagem
de toda nossa mensagem
neste debate encantado.

134 - Zé Lucas
Nós damos nosso recado
na linguagem da poesia,
que fala a todos os povos
na mais clara sintonia;
tem a beleza da prece,
e o mundo inteiro conhece
a sua geografia.

135 - Gislaine Canales
É sempre grande a alegria
e infindável a emoção
sentidas ao escrever.
As musas do coração
nos irmanam, é verdade,
e temos, com liberdade,
uma eterna inspiração!

136 - Prof. Garcia
Cada verso é uma canção
que se escreve em cada tema,
a estrofe tem tanta graça,
riso de beleza extrema,
que cada gota de orvalho
que escorre de cada galho
cai escrevendo um poema.

137 – Delcy Canalles
Para mim são um dilema
as setilhas do Garcia,
que chegam lá do Nordeste!
Têm alma e têm alegria,
e as imagens que ele emprega
são tão lindas, ninguém nega,
que chora a minha poesia!

138 – A. A. de Assis
Thalma Tavares, Gislaine, Garcia,
Zé Lucas, Delcy Canalles, Arlindo T. Hagen,
que bom ler a cada dia
o que o sexteto escreveu.
O sétimo, o A. A. de A. A. de Assis,
agradece-lhes, feliz,
tais bênçãos que Deus lhe deu.

139 – Arlindo T. Hagen
Pela bênção que me deu
desta atenção recebida
dos amigos escritores
a Deus, de alma agradecida,
louvo, com felicidades,
pois melhores amizades
não conheci nesta vida!

140 – Thalma Tavares
Ando de alma agradecida
pelo tempo já vivido,
pelas bênçãos conquistadas,
por este amor repartido
entre o meu lar e a poesia:
fontes de paz, de alegria,
que ao meu viver dão sentido.

141 - Zé Lucas
Muito já tenho aprendido
nesta longa caminhada,
que me mostra novos rumos
em cada idéia trocada,
e isso é tão estimulante,
que eu, sozinho, doravante
talvez me perca na estrada.

142 - Gislaine Canales
Pois a cada madrugada,
só nos resta agradecer
toda a alegria e o amor
que o poema faz nascer
ao crescer dentro de nós,
não nos deixando tão sós,
nos ensinando a viver!

143 - Prof. Garcia
Cada manhã, que prazer,
olhar o romper da aurora,
a noite dizendo adeus
ao triste orvalho que chora;
como quem sente ciúme
da beleza e do perfume
que a luz da manhã devora!

144 – Delcy Canalles
Gosto de olhar para a aurora
e receber seu "Bom-dia" !
Gosto de olhar a tardinha
em vespertina alegria!
E gosto do pôr-do-sol
com a beleza do arrebol!
Todos me inspiram poesia!

145 – A. A. de Assis
Poesia é irmã da alegria...
Cada rima que se faz,
seja rica ou seja pobre,
um grande prazer nos traz.
Rimando a gente comprova,
na setilha ou numa trova,
que o verso promove a paz.

146 – Arlindo T. Hagen
Quem faz versos é capaz
de, com trabalho fecundo,
semear a paz e o amor
e é com respeito profundo
que devemos aceitar
esta missão de tornar
um pouco melhor o Mundo!

147 – Thalma Tavares
O poeta é um ser fecundo
que tem a missão sagrada
de libertar seus irmãos
da ignorância e da espada.
E em sua nobre missão
pode calar um canhão
com simples trova inspirada.

148 – Zé Lucas
O poeta faz do nada
o seu mundo diferente,
longe da realidade
que às vezes perturba a gente,
e, com visão colorida,
dá novo sentido à vida,
sentindo o que ninguém sente.

149 – Gislaine Canales
Ser poeta me faz gente:
eu gosto de tudo, enfim,
do mar, do céu, do luar ,
do perfume do jasmim.
Eu gosto até da saudade,
que lembra a felicidade
que existe dentro de mim!

150 – Prof. Garcia
Toca um anjo querubim,
cantando lindos cordéis,
despertando as madrugadas
sem inverter seus papéis;
dedilhando serenatas,
ao som de antigas cascatas,
refúgio dos menestréis!

151 – Delcy Canalles
Defendamos os papéis
dos amigos das setilhas,
que aproximam, neste mundo,
diferentes maravilhas:
relembram suas infâncias,
encurtam longas distâncias,
visitam nossas coxilhas!

152 – A. A. de Assis
Pois é, meus filhos e filhas,
a Olimpíada é no Rio:
brinquedo pra lá de caro,
mas que aquece o nosso brio.
Faz festa o Brasil inteiro
pelo fato alvissareiro,
tão sonhado anos a fio...

153 – Arlindo T. Hagen
Sempre a cada desafio
o mundo inteiro descobre
a garra do nosso povo
cuja miséria se encobre
com máscaras de "feliz".
Tão rico é nosso país
e, ao mesmo tempo, tão pobre!

154 – Thalma Tavares
Há sempre um motivo nobre
nos versos de um trovador.
Seja de aplauso ou censura,
de protesto ou dissabor.
Arlindo T. Hagen, em teu verso novo,
pintas a face de um povo
campeão de paz e amor!
---------------
continua...

Fonte:

Colaboração de Zé Lucas. José Lucas e parceiros. Cantando ao som das setilhas. Natal/RN: 2011.

Rubem Braga (Ela Tem Alma de Pomba)


Que a televisão prejudica o movimento da pracinha Jerônimo Monteiro, em todos os Cachoeiros de Itapemirim, não há dúvida. Sete horas da noite era hora de uma pessoa acabar de jantar, dar uma volta pela praça para depois pegar uma sessão das 8 no cinema. Agora todo mundo fica em casa venda uma novela, depois outra novela.

O futebol também pode ser prejudicado. Quem vai ver um jogo do Estrela do Norte F. C. , se pode ficar tomando cervejinha é assistindo a um bom Fla-Flu, ou a um Inter x Cruzeiro, ou qualquer coisa assim?

Que a televisão prejudica a leitura de livros, também não há dúvida. Eu mesmo confessa que lia mais quando não tinha televisão. Radio, a gente pode ouvir baixinho, enquanto está lendo um livro. Televisão e incompatível com livro - e com tudo mais nesta vida, inclusive a boa conversa, até o making love.

Também acho que a televisão paralisa a criança numa cadeira mais do que o desejável. O menina fica ali parado, vendo e ouvindo, em vez de sair por aí, chutar uma bola, brincar de bandido, inventar uma besteira qualquer para fazer.

Só não acredito que televisão seja máquina de fazer doido. Até acho que é o contrário, ou quase o contrário: é máquina de amansar doido, distrair doido, acalmar, fazer doido dormir.

Quando você cita um inconveniente da televisão, uma boa observação que se pode fazer é que não existe nenhum aparelho de TV, a cores ou em preto e branco, sem um botão para desligar. Mas quando um pai de família o utiliza, isso pode produzir o ódio e rancor no peito das crianças e até de outros adultos.

Quando o apartamento é pequeno, a família é grande, e a TV é só uma - então sua tendência é para ser um fator de rixas intestinas.

- Agora você se agarra nessa porcaria de futebol...

- Mas, francamente, você não tem vergonha de acompanhar essa besteira de novela?

- Não sou eu não, são as crianças! - Crianças, para a cama!

Mas muito lhe será perdoado, à TV, pela sua ajuda aos doentes, aos velhos, aos solitários. Na grande cidade - num apartamentinho de quarto e sala, num casebre de subúrbio, numa orgulhosa mansão - a criatura solitária tem nela a grande distração, a grande consolo, a grande companhia. Ela instala dentro de sua toca humilde o tumulto e o frêmito de mil vidas, a emoção, suspende, a fascinação dos dramas do mundo.

A corujinha da madrugada não é apenas a companheira de gente importante, e a grande amiga da pessoa desimportante e só, da mulher velha, do homem doente... É a amiga dos entrevados, dos abandonados, dos que a vida esqueceu para um canto... ou dos que estão parados, paralisados, no estupor de alguma desgraça... ou que no meio da noite sofrem o assalto de dúvidas e melancolias... mãe que espera filho, mulher que espera marido... homem arrasado que espera que a noite passe, que a noite passe, que a noite passe...

Fonte:
BRAGA, Rubem. 200 Cronicas Escolhidas. RJ: Record, 2002.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 303)


Uma Trova Nacional

Rasguei carta, telegrama,
fotos, bilhetes de amor,
mas ao deitar nesta cama,
rasga-me o peito esta dor!
–CONCEIÇÃO ASSIS/MG–

Uma Trova Potiguar

Fui moleque brincalhão
pescoço cheio de grude
calça curta, pé no chão
jogando bola de gude
–DJALMA MOTA/RN–

Uma Trova Premiada

2010 - Curitiba/PR
Tema: MADRUGADA - M/H

- Deus Pai: Protege os meus filhos!
Meu medo é tal – que nem sei! –
de que se percam nos trilhos
das madrugadas sem lei!...
–MARIA MADALENA FERREIRA/RJ–

Uma Trova de Ademar

Quem tem Deus em sua vida
a todo momento é forte.
Não tem batalha perdida
nem sente medo da morte!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Num constante desafio
vão medindo os seus valores,
a fúria do mar bravio
e a calma dos pescadores!
–ALFREDO DE CASTRO/MG–

Simplesmente Poesia

Desencanto
–SUELY NOBRE FELIPE/RN–

Estou agora percebendo
Que de vazio em vazio
Preenchi a minha vida de solidão
Quando na verdade o que eu queria
Era roubar dois tantinhos de prosa
Catar delas as palavras mais doces
E deixar a vida seguir descompassada
Como os ponteiros de um relógio esquecido
E mesmo quando adormecida
Da prateleira azul dos meus sonhos
Extrair todo o seu encanto
Pois já não me espanto com os dias,
Apenas descanso.

Estrofe do Dia


Se a gente reviver o calendário,
tem vergonha do século que passou.
Onde os índios morreram de malária
e o pulmão do planeta incendiou;
a fumaça cresceu verticalmente
e a camada de ozônio se furou.
–ISMAEL PEREIRA/CE–

Soneto do Dia

Chegaste...
–LUIZ ANTONIO CARDOSO/SP–

Chegaste em meu destino, de repente,
com poucas palavrinhas, a sorrir.
Chegaste no meu mundo e docemente,
fizeste a minha vida refulgir.

Chegaste, completando o meu presente...
traçando com detalhes meu porvir.
fazendo renascer, efervescente,
a vida - que queria inexistir !

Chegaste, numa noite irretocável,
alimentando sonhos magistrais
de um tempo de carícia incomparável.

Chegaste... e amanheceu neste jardim...
e aquele que era triste? Não é mais...
fizeste florescer dentro de mim !

Recomendo:
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Fontes:
Textos enviados pelo Autor
Imagem = http://www.astrologosastrologia.com.pt.

Monteiro Lobato (Viagem ao Céu) XXIII – As Impressões de Tia Nastácia


Os meninos tinham tanta coisa a contar, que depois de tomado o café ainda ficaram na mesa até tarde.

— Que beleza, vovó! — dizia Narizinho. — Se a senhora pudesse imaginar o que é a Via-láctea, vendia este sítio e mudava-se para lá. Uma verdadeira horta cósmica de estrelas e cometas novinhos, calcule! E, por falar nisso, onde estão as estrelinhas que você trouxe, Emília?

— Aqui! — respondeu a boneca tirando do bolso do avental um punhado de astros do tamanho de grãos de ervilha, que espalhou sobre a mesa.

Que assombro! Aquelas ovas de estrelas brilhavam mais que diamantes — brilhavam tanto que Dona Benta teve de tapar os olhos com as mãos.

— E que vai fazer com elas, Emília? — perguntou Pedrinho. — Quer trocar três por um cometa? — e com grande espanto da vovó também tirou do bolso mais estrelas — estrelas não: cometas! Como estivessem com as caudinhas enroladas sobre os núcleos, à primeira vista pareciam estrelas.

— Estrelas! Cometas!... Mas isto é demais, meus filhos! Nunca imaginei uma coisa semelhante. E ainda há o anjinho. Onde anda ele?

Todos saíram correndo em procura do anjinho, que havia fugido dali e estava na cozinha conversando com Tia Nastácia e provando um bolinho de frigideira. A negra, plantada diante dele, babava-se de gosto.

— Este mundo está perdido! — dizia ela. — Quando eu havia de pensar que até os santos e os anjos haviam de comer os meus bolos fritos? Credo...

Nisto a voz de Dona Benta soou lá na sala, chamando-a.

— Já vou, sinhá! — respondeu a preta, e depois de lavar as mãos na bica foi ver o que a patroa desejava.

— Escute, Nastácia — disse Dona Benta. — Você ainda não me contou as suas impressões. Estou curiosa de saber como se arranjou lá por cima.

A boa negra botou as mãos como quem reza e revirou os olhos para o céu.

— Nem queira saber, sinhá! Credo! De manhãzinha, naquele dia, os meninos me empulharam — me deram para cheirar o tal pó mágico dizendo que era rapé. Eu, muito boba, cheirei, e no mesmo instante perdi os sentidos — e quando abri os olhos estava num lugar esquisito, que a votação disse que era a Lua.

— Parece incrível! — exclamou Dona Benta. — Não foi à toa que os astrônomos não acreditaram em coisa nenhuma e lá se foram danados com a Emília. Mas continue. E depois?

— Depois? Ah, nem queira saber, sinhá!... Depois apareceu aquele estupor do dragão que São Jorge vive matando com a lança lá na Lua — um bicho horrendo, sinhá, que a Emília diz que é mestiço de lagarto com flecha de índio.

— Por quê?

— Porque tem a língua e o rabo em ponta de flecha. Mas o tal bicho, que era verde, adiantou-se para o burro, lambendo os beiços, imagine! E então Emília, que é uma danada, avançou sem medo e esfregou o tal pó mágico no nariz do burro. E o coitado, vupt!... — se sumiu da Lua, ventando. Narizinho disse que ele tinha caído no “ete...”.

— É espantoso o que você me conta, Nastácia, e difícil de acreditar. Pobres dos astrônomos! Como poderiam engolir tudo isto? E depois?

— Depois, quer saber quem apareceu? Apareceu São Jorge em pessoa, sinhá, vivinho, com uma espécie de pratão de ferro — prato-travessa — no braço...

— Devia ser o escudo, Nastácia.

— ...e um pau comprido de ponta pontuda na mão...

— Devia ser a lança, Nastácia.

— ...e os meninos, sem medo nenhum, garraram a falar com ele como se falassem com Tio Barnabé lá na casinha da ponte. E o santo respondia com a maior delicadeza. Foi uma conversa que não tinha fim. Depois São Jorge me chamou e perguntou se eu queria ficar cozinhando para ele. Eu me atrapalhei toda na resposta; e então Narizinho respondeu e disse que eu ficava só por uns dias — e fiquei, sinhá, fiquei feito cozinheira de São Jorge, eu, uma pobre de mim, e ele aquele santo tão prepotente, com a fisolustria de escudo e espeto, numa correspondência da corte celeste...

A pobre negra estava outra vez falando difícil. Dona Benta fê-la voltar ao simples e perguntou:

— E você lá ficou a cozinhar? ...

— Que remédio, sinhá? Fiquei, apesar do medo que tinha do dragão. Que bicho feio, credo! Dava cada zurro de se ouvir nas estrelas. Acho que é por isso que elas piscam tanto...

— E onde mais estiveram os meninos?

— Não sei, sinhá. Eles que contem. É uma embrulhada que não entendo. Estiveram até num tal mundo que tem anéis do dedo — será possível?

— Sim, o planeta Saturno.

— Mas sinhá acredita que tenha anéis? — Eu... eu não sei. Eu acredito e desacredito tudo, porque acho tudo possível e impossível. Mas os meninos dizem que tem. E depois eles andaram galopando pelo “ete...”

— Éter, Nastácia.

— ...montados num cometa xucro, sinhá, de rabo dum tamanho sem fim.

— E onde acharam o anjinho?

— Eles dizem que foi na via de leite, que não sei o que é.

— Por falar no anjinho, Nastácia, como vai ser ele aqui? — perguntou Dona Benta.

— Vai ser muito bem, sinhá. Além da galanteza que é, não pode haver pessoinha mais bem-comportada e boa.

— Está claro. Desde que é anjo, tem que ser bom e bem-comportado.

— Podia ser anjo mau, sinhá — filho daquele tal Lúcifer... Mas sinhá pode ficar sossegada. Hei de tomar conta dele direitinho.

Nesse momento soou uma gritaria no pomar.

— Corra, Nastácia! Vá ver o que aconteceu — disse Dona Benta assustada.

A negra disparou na direção do barulho. Minutos depois reapareceu furiosa.

— Não foi nada de grave, sinhá — disse ela. — Foi o frango sura que deu outro pega no Doutor “Livinsto” e comeu o resto dos milhos que ele tinha no peito. Hoje mesmo esse frango vai para a panela. O diabo me paga...

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Viagem ao Céu & O Saci. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. II. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Paulo Leminski (A História faz Sentido)


Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 302)

Entardecer na floresta
Uma Trova Nacional

Uma dose de estesia,
um "motivo" na janela,
a despedida do dia...
eis aí uma aquarela.
–ADAMO PASQUARELLI/SP–

Uma Trova Potiguar

Sempre te amei como um louco
bem mais do que se permite;
para quem é amado, é pouco,
pra quem ama é sem limite!
–MANOEL CAVALCANTE/RN–

Uma Trova Premiada

2007 - Bandeirantes/PR
Tema - ENCANTO - Venc.

Diante do encanto desfeito
por promessas não cumpridas,
eu sempre encontro outro jeito
de entrelaçar nossas vidas.
–OLGA AGULHON/PR–

Uma Trova de Ademar

Linda e nua, em desalinhos,
na paixão que a gente vive;
cobri-la com meus carinhos
foi a única opção que tive.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Em passos e contrapassos,
ao som de acordes tristonhos;
sempre foges dos meus braços
no bailado dos meus sonhos.
–ALVES DA COSTA FILHO/PI–

Simplesmente Poesia

Ausência
–JAÉCIO CARLOS/RN–

Às vezes sinto saudade
de mim mesmo,
quando estou ausente
pensando em você.

Estrofe do Dia

Escutei um passarinho
cantando no arvoredo,
meu pai se acordando cedo
e seguindo pelo o caminho,
no curral um bezerrinho
escramuçava e corria,
quando a cancela se abria
disparava na carreira;
chorei no pé da porteira
do curral da vacaria.
–JÚNIOR ADELINO/PB–

Soneto do Dia

Deus
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Faz mais de vinte séculos, que nós,
os homens – os católicos, ateus,
discutimos, se existe ou não, um Deus,
e neste embate, não estamos sós.

Eu creio! ... até escuto a sua voz.
Ele responde a todos que são seus,
mas, quem faz do seu dólar, semideus,
tem nele, o seu carrasco, seu algoz.

Quem "nega", simplesmente bastaria,
olhar dentro de si, e então veria,
que a prova está no amor, ciência e fé.

Estudei qual Pasteur, tão conhecido.
Sei que não foi criado, e ao não ter sido,
vos digo: Deus não existe, Deus É.

Fontes:
Textos enviados pelo Autor
Imagem = Orkugifs

Vicência Jaguaribe (Mas a Vida... a Vida não se Passa a Limpo)


A velha senhora entrou no compartimento que sempre lhe servira de biblioteca e de gabinete. Em um tempo em que a maioria das mulheres se dedicava às tarefas domésticas, aos cuidados com os filhos e com o marido, ela passava horas naquela sala lendo e escrevendo. Quando o noivo mandara construir a casa onde morariam depois de casados, ela só fizera uma exigência: um aposento onde pudesse guardar seus livros, onde pudesse isolar-se para ler e escrever. Nem ao menos perguntara quantos quartos ou quantos banheiros teria a casa, nem quisera saber o tamanho da cozinha. A casa tinha quintal, ficava do lado da sombra ou do sol? Disso ela não quisera saber. Não desperdiçaria seu tempo com coisas desse tipo.

Puxou a cadeira do birô, sentou-se e aproximou o porta-retrato com uma fotografia do dia do casamento: ela e o noivo... não, ela e o marido. Quando tiraram aquela foto já eram marido e mulher, fora logo depois da cerimônia. Passou a mão sobre a imagem do marido e recordou como ele fora apaixonado por ela. Uma paixão que a rotina do casamento não conseguira esfriar. Diante do desinteresse dela pelos assuntos domésticos, das horas que roubava da convivência com ele e com os filhos para dedicar à leitura e à composição de seus textos, sua paciência era uma fonte inesgotável, que parecia renovar-se todos os dias.

Sabia não ter sido uma boa mãe. Não se enquadrava nos parâmetros que determinavam se uma mulher era uma boa mãe. Nunca se entusiasmara com a maternidade e não escondera isso do noivo. Chegara mesmo a dizer, para escândalo dos futuros sogros, que não pretendia ter filhos. Seus pais não se horrorizavam mais com suas opiniões e posições fora dos eixos, conforme diziam. Ela fora assim desde pequena. Fazia tudo diferente das irmãs. Não obedecia ao horário convencional de dormir nem de comer, nunca se adaptou às imposições da escola, não gostava do que as outras meninas de sua idade gostavam. Era um astro que determinava sua própria rotação, não lhe importando se as leis da Física mandavam ir para a direita ou para a esquerda. Diante do inexorável, os pais tiveram que capitular.

Ele, o marido, nunca reclamara de seus desvios do eixo da rotina. Amara-a incondicionalmente até o fim da vida. Ela lhe davaa impressão de que estava sempre na expectativa de que algo acontecesse. A si mesmo ele dizia que a mulher vivia sempre de véspera; para ela nunca chegava o dia D. Sabia que escrevia muito, mas nunca conseguira que ela lhe mostrasse – a ele ou a outra pessoa – os textos que produzia. Quando entrava no gabinete e surpreendia-a escrevendo, pedia-lhe permissão para ler o produto da vez. A resposta era sempre a mesma:

- Não, agora não. Ainda está no rascunho, quando passar a limpo, você o lerá.

E ele não insistia. Respeitava-a e amava-a demais para forçá-la a fazer qualquer coisa que a deixasse contrariada ou constrangida.

A velha senhora levantou-se e passou em revista as estantes com seus livros. Diante dos seus preferidos, parava. Retirava um ou outro, folheava-o rapidamente e recolocava-o no lugar. Aproximou-se da estante em que guardava os livros infantis – alguns de seu tempo de criança, outros comprados para os filhos. Era uma das poucas coisas que a incomodavam na vida. Falhara com as suas duas crianças, porque não conseguira passar-lhes seu amor pelos livros, sua devoção à literatura, seu gosto pela prática da escrita. Parece até que trabalhara no sentido contrário – fizera-os afastar-se dos livros. Era como se, agindo assim, eles se vingassem das horas que ela lhes roubava para dedicar à leitura e à escrita.

A família inteira – a dela e a do marido – ironizava o seu comportamento. De vez em quando, em tom de chacota, perguntavam pelos livros que ela sempre dissera que, um dia, publicaria. Quando pediam que lhes mostrasse algo escrito por ela, qualquer coisa que fosse – um conto, um poema –, nem que estivesse inacabado, ela dava a mesma resposta:

- Ainda está no rascunho. Quando passar a limpo, eu mostro.

Aproximou-se do arquivo – grande e trancado a chave – onde todo mundo sabia que ela guardava as produções literárias que ninguém nunca lera. Tirou do bolso a chave e abriu-o. Dentro, inúmeras pastas, todas elas identificadas e datadas. Sabia que muitas pessoas duvidavam de que ela, algum dia, houvesse realmente escrito alguma coisa. Quem escreve, escreve para ser lido. Ela, não. Nunca tivera coragem de mostrar a alguém um texto seu. Quantas vezes o marido não tentara convencê-la a selecionar uns manuscritos para publicação. Ele financiaria. Mas ela tinha a mesma resposta:

- Não. Ainda não está na hora. Ainda está no rascunho, ainda tenho que passar a limpo.

Por que agia assim? Não sabia ao certo. Nos outros setores da vida era resolvida, independente, não aceitava imposição de ninguém. Que mistério era esse que só existia quando se tratava de sua produção literária? Depois que o marido morrera, ela jurara a si mesma que faria o que ele tanto lhe pedira: daria a forma definitiva a alguns contos, a algum romance, isto é, os arrancaria da condição de rascunho, e os levaria a uma editora. Mas, quando pegava uma pasta e tentava fazer a versão final de um texto, por mais simples que fosse, fazia não a versão final, mas uma nova versão, cheia de emendas, cheia de palavras riscadas e substituídas. Produzia outro rascunho.

E o tempo foi passando. E a cada dia ela se sentia mais angustiada, mais insatisfeita, mais incompleta. Enquanto era nova, achava que daria tempo. Um rascunho a mais, um a menos... teria muito tempo ainda. O que a levava a agir dessa maneira? perguntava-se com frequência. Agora, nos últimos anos, mais do que antes. Nunca exigira dela mesma – nem dos outros – que fizessem as coisas com perfeição. Não era nem um pouco perfeccionista. Não, pelo menos nas outras esferas de sua vida. Ao contrário, era até meio desleixada. Mas também nunca se entusiasmara realmente por nada, a não ser pelos seus livros e pelos seus escritos. Não amara o marido como ele merecia ter sido amado; não agira como uma boa mãe;não fora nem era uma mulher feliz; nunca se sentira plena, realizada. Sabia que sua realização dependia de sua capacidade de vencer o medo – o medo da opinião dos outros, das críticas especializadas e não especializadas, sobre o que produzia. Dependia da ousadia de desengavetar seus escritos e expô-los. Enquanto não tivesse a coragem suficiente de tirá-los da condição de rascunho, enquanto não lhes desse uma versão final, seria como se estivesse esperando também da vida uma versão definitiva.

Será que, se conseguisse a façanha de sair da estação do rascunho, estaria realizada, chegaria à conclusão de que a vida valera a pena? Resgataria alguma coisa que se perdera no tempo?

Tentou abrir a segunda gaveta do arquivo e alcançar uma pasta que ostentava, em letras grandes, o rótulo Minha vida em rascunho. Foi esforço demais.Ela sentiu uma pontada no peito e uma forte dor espalhando-se pelo braço esquerdo. Ainda conseguiu puxar a pesada pasta, mas desequilibrou-se e caiu. Não de uma vez, mas lentamente. Tentou evitar que os papéis guardados na pasta se espalhassem, mas não conseguiu. Já meio inconsciente, ela via um livro em cada folha que caía da pasta – eram livros de várias cores e tamanhos, que se acumulavam ao seu redor. E esboçou um sorriso quando o último livro se abriu diante de seus olhos, como se alguém o estivesse segurando para que o visse – e era ela a autora.

Seu último pensamento traduziu algo que ela sempre soubera, mas nunca tivera coragem de admitir – seus escritos em rascunho eram a representação de sua vida incompleta. Tirar da forma de rascunho aquilo a que dedicara toda a existência seria uma maneira de dar plenitude à vida. Seria transformar em realidade um sonho por meio do qual sua vida adquiriria sentido. Nesse momento, no entanto, um diabinho pulou no seu ombro e soprou no seu ouvido: Um texto pode ficar em forma de rascunho até alcançar sua forma definitiva. Com a vida é diferente. A vida não nos oferece uma chance de passá-la a limpo. A vida fica sempre no rascunho.

Algumas horas depois, quando a empregada entrou no gabinete para fazer a arrumação diária, encontrou-a coberta por folhas de papel, cheias de emendas e de riscos, umas escritas a lápis, outras a caneta. Por baixo daqueles rascunhos, a empregada perscrutou o semblante da velha senhora – nem ela nem ninguém poderiam dizer se havia em seu rosto sinais de um sorriso ou de um esgar.

Fonte:
Texto enviado pela autora
Imagem = logo do blog http://rascunhopassadoalimpo.blogspot.com

Ialmar Pio Schneider (Soneto a Euclides da Cunha)


In Memoriam – Assassinato do escritor em 15.8.1909

Culto escritor, escreveu “Os Sertões”,
que na Literatura é um monumento,
pleno de incomparáveis descrições,
sendo fruto de genial talento.

Quem o ler há de viver emoções
só comparáveis com o sentimento
de conhecer imensas solidões,
onde possa estar em recolhimento...

Uma tragédia o atingiu, atroz,
e cruelmente lhe ceifou a vida
com quarenta e três anos tão-somente.

Pela traição da esposa e seu algoz,
teve a existência honrada interrompida,
mas sua obra não morre, é permanente !

Porto Alegre – RS, 15 de agosto de 2011,

Fontes:
Soneto enviado pelo autor
Imagem = http://submundo-mamao.blogspot.com

Antonio Brás Constante (Engarrafamentos (sem álcool) )


Quer conhecer um pedaço do inferno? É fácil (você nem precisa fazer um pacto com o “Tinhoso” para saber como é), basta sair com o seu automóvel e ficar preso em algum engarrafamento.

Entramos nos engarrafamentos como alguém que entra em uma garrafa, pois os dois casos acabam sendo um porre. Diferentes de um drinque, que pode ser destilado, os engarrafamentos são amontoados de carros deste lado, daquele lado, de todos os lados. Você fica ali parado, preso naquele lugar por um longo tempo, sentindo-se como um vinho que fica em uma adega para ser envelhecido, porém, ao contrário do vinho, aquela situação não melhora os seus atributos ou lhe faz uma pessoa mais doce e especial; ao contrário, a única coisa que consegue é deixá-lo extremamente azedo.

Os engarrafamentos, assim como as bebidas, nos deixam em uma situação complicada aos olhos de nossos empregadores, que não gostam de funcionários cheirando a álcool, do mesmo modo que não gostam de funcionários chegando atrasados. Seu veículo acaba se transformando em uma garrafa de luxo (pois, novo ou velho, ele ainda custa uma bela grana), onde nesta metáfora você é o líquido ali aprisionado, molhado, suado e exalando o odor de sua própria transpiração. Louco para “vazar” dali.

Se pudesse escolher, iria preferir virar um pouco de uísque em um copo para beber, em vez de ter que ficar literalmente “virando roda” na estrada. Nessas horas, lembra da frase onde orientam: “se beber não dirija”, e fica pensando que o engarrafamento causa o mesmo efeito, pois o impede de dirigir, de seguir o seu caminho. Atrapalhando sua vida. Trazendo sentimentos de frustração, impaciência e raiva, que são servidos de forma seca para você. Sem direito sequer a umas pedrinhas de gelo e rodelas de limão.

Somos pequenas gotas humanas dentro dos engarrafamentos. Somadas a uma infinidade de outras gotas que se encontram na mesma situação que a nossa, esperando o trânsito fluir, para enfim seguirem suas vidas, e quem sabe acharem um rumo melhor para seus destinos do que aqueles reservados para as tais bebidas em nosso organismo.

Fonte:
CONSTANTE, Antonio Brás. Hoje é seu aniversário: prepare-se. Porto Alegre: AGE, 2009.

Cantando ao Som das Setilhas (Debate pela Internet) Parte 6


85 - Zé Lucas
Nós vivemos a beleza
de um país superdotado:
cidades encantadoras,
o Cristo do Corcovado,
nossos rios e cascatas,
a exuberância das matas
e o Pantanal encantado!

86 – Gislaine Canales
Num céu de estrelas bordado,
o Brasil é todo lindo,
Sul a Norte, Leste a Oeste,
com belos Ipês florindo
a perfumar nosso dia,
eles parecem poesia,
para os céus, sempre sorrindo!

87 - Prof. Garcia
De fato, este mundo é lindo
em toda a sua estrutura,
à noite, no céu flutua
a mais linda criatura;
e a coruja em seus anseios,
dá rasante em seus passeios
caçando na noite escura

88 - Delcy Canalles
Vejo com muita ternura
a coruja em seus anseios,
pois eu adoro essa ave
que, à noite, dá seus passeios,
e, notívaga, eu diria,
vem me fazer companhia
e alegrar meus devaneios!

89 - A. A. de Assis
E aqui, nesses entremeios,
hoje está chuva com sol,
prevendo, qual diz o dito,
"casamento de espanhol".
Ou então, se é sol com chuva,
"casamento de viúva",
cantadinho em si bemol...

90 – Arlindo T. Hagen
Se, em meio ao dia de sol,
vem a chuva de repente,
surge o arco-íris no céu.
Assim é a vida da gente:
que, após o pranto contrito,
traga um sorriso bonito
o arco-íris de presente!

91 – Thalma Tavares
Não há mais belo presente
que os olhos que Deus nos deu.
Ao menos por esta graça
ninguém deve ser ateu.
Quem não percebe a beleza
de nossa mãe Natureza
não é feliz como eu.

92 - Zé Lucas
Eu ouço as notas de Orfeu
compondo mil cavatinas,
vejo pássaros e flores
embelezando as campinas,
e o que passa em minha mente
é que isso tudo é um presente
que desce das mãos divinas.

93 - Gislaine Canales
Mesmo adentrando neblinas,
o sorriso é, na verdade,
o arco-íris de nossas almas,
transmite felicidade,
nos conquista num momento
lançando, com força, ao vento,
a dolorida saudade!

94 – Prof. Garcia
Vou de saudade em saudade
alimentando os meus ais;
ouvindo os ecos matutos
dos arpejos matinais,
vindos da voz caipira
das cordas de minha lira
nos versos dos imortais.

95 - Delcy Canalles
Há poetas bons demais
entre os nossos trovadores;
alguns nem são do Nordeste,
a "Terra dos Cantadores!"
É que escrevem maravilhas,
em setilhas ou sextilhas,
esses grandes sonhadores!

96 - A. A. de Assis
São sempre azuis, meus senhores,
as estrofes da Delcy Canalles,
todas elas tão suaves,
como iguais eu nunca vi.
É que a nossa irmã do Sul
tem decerto a alma azul,
qual se fosse um colibri.

97 – Arlindo T. Hagen
Meu orgulho é estar aqui
em setilhas salutares.
Depois das irmãs do Sul,
dos Nordestinos cantares,
aguardo os versos do A. A. de Assis
e entrego a deixa, feliz,
ao grande Thalma Tavares Tavares.

98 – Thalma Tavares
Irmão Arlindo T. Hagen, teus olhares
sobre nós são como flores
que não enfeitam vaidades,
mas estimulam pendores.
São reparos instigantes
que nos tornam mais confiantes
em nossos próprios valores.

99 - Zé Lucas
Somos sete trovadores
afeitos ao bom combate,
cujo empenho é produzir
versos do melhor quilate,
por isso, de vez em quando,
nós estamos elevando
a beleza do debate.

100 - Gislaine Canales
Termina sempre em empate,
todos são grandes e eu digo,
sou feliz por fazer parte
desse cantar tão amigo,
onde a mais pura poesia,
surge, assim, como magia,
para, às rimas, dar abrigo!

101 – Prof. Garcia
Na caminhada eu prossigo,
porque seguir me convém,
se a poesia é infinita
mostra a grandeza que tem;
e em cada verso que faço,
dou um nó em cada laço
e amarro as pontas também.

102 – Delcy Canalles
Cada setilha que vem
provocar este meu ego,
me faz olhar para dentro
e constatar que era cego,
pois quero ser "cantador",
quero ser bom "pajador"
e o meu desejo, não nego!

103 – A. A. de Assis
Um palavrão quase emprego:
chuvinhenta chuvarada...
Água e mais água alagando
metade da pátria amada.
Nunca vi chover assim,
chuva sem pausa, sem fim,
sem dar trégua para nada...

104 – Arlindo T. Hagen
A chuva lembra enxurrada
e me recorda a corrida
dos meus barcos de papel.
Meia vida já vivida,
meus sonhos vou comparando
aos barquinhos naufragando
nas enxurradas da vida!

105 – Thalma Tavares
Nas enxurradas da vida,
também eu, meu caro irmão,
soltei meus barcos de sonhos,
carregados de ilusão.
Hoje os barcos são poesias,
que eu solto todos os dias
nas águas da inspiração.

106 - Zé Lucas
Quantas noites de emoção
embalaram meu viver!
Momentos que já vão longe
me fazem compreender
que, entre a luz da vida e a treva,
há coisas que o tempo leva
pra nunca mais devolver!

107 – Gislaine Canales
Mesmo assim, vamos viver,
vamos continuar sonhando
vida a fora, até o fim!
Nós sairemos ganhando
em emoção e alegria!
Colheremos em poesia,
frutos que iremos plantando.

108 – Prof. Garcia
Feliz eu sigo cantando
meu fado pelo caminho,
do jeito que sempre faz
o mais feliz passarinho,
que bem cedo se levanta,
quanto mais sofre, mais canta,
na ternura do seu ninho!

109 – Delcy Canalles
Num lar de muito carinho,
eu nasci e me criei!
Hoje, vivo bem sozinha,
com saudades do que amei!
Meus filhos são um tesouro;
os bisnetos valem ouro;
no coração, os terei!

110 – A. A. de Assis
Pausa na chuva. Gostei.
Aproveitam-se as florinhas
para alegres se exibirem
quais festivas menininhas.
De múltiplas cores elas,
brancas, azuis, amarelas,
auspiciosas rainhas.

111 – Arlindo T. Hagen
Quem já teve umas plantinhas
numa terra ressecada
não reclama assim da chuva.
Pelo contrário, lhe agrada
sentir, do solo fecundo,
o melhor cheiro do mundo:
cheiro de terra molhada!

112 – Thalma Tavares
No sertão, terra molhada
tem um cheiro promissor.
É esperança de fartura,
ao caboclo plantador...
Dá bom milho e bom café
que a gente colhe de pé
rendendo graça ao Senhor.

113 - Zé Lucas
Nós temos tanto calor
e poeira em nosso chão,
que recebemos em festa
toda chuva no sertão,
e eu sinto, nessa bonança,
uma chuva de esperança
lavando meu coração.

114- Gislaine Canales
Vemos com grande emoção:
se aproxima a primavera,
cheia de cor e beleza;
se vai a estação severa.
Nascem novas esperanças,
ansiosas como crianças...
Terminou a nossa espera!

115 - Prof. Garcia
Como é linda a primavera
mostrando os seus esplendores,
os campos ficam mais belos
e as plantas mudam de cores;
e a natureza sagrada,
já desperta embriagada
com o perfume das flores!

116 - Delcy Canalles
Chega setembro e os odores
perfumam nossas estradas!
A Primavera sorrindo
embeleza as madrugadas,
e há flores pelos caminhos,
e há convites de carinhos
em noites enluaradas!

117 - A. A. de Assis
Se o do Nordeste, moçadas,
é chamado nordestino,
por que quem é do Sudeste
não é dito sudestino?
A quem der a explicação,
desde agora a gratidão
de um sudestino-sulino...

118 – Arlindo T. Hagen
O falar do nordestino
estranhamos no Sudeste
mas sempre nos faz pensar:
se é dito em todo Nordeste
que cabra-da-peste é macho,
a mulher, pelo que eu acho,
deve ser bode-da-peste!

119 – Thalma Tavares
Caro Arlindo T. Hagen, lá no agreste
cabra e bode são caprinos.
Por extensão, cabra-macho
figura entre os masculinos.
E mesmo sendo a mulher
“pau pra o que der e vier”,
conserva os dons femininos.
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continua...
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Fonte:
Colaboração de Zé Lucas. José Lucas e parceiros. Cantando ao som das setilhas. Natal/RN: 2011.