segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 353)


Uma Trova Nacional

Tentei fugir de mansinho...
devagar, romper os laços...
Desisti : qualquer caminho
sempre me leva aos teus braços...
–WILMA MELLO CAVALHEIRO/RS–

Uma Trova Potiguar

Quando o vaqueiro valente
se encontra longe de casa,
no seu aboio plangente
toda a saudade extravasa.
–REINALDO AGUIAR/RN–

Uma Trova Premiada

2010 - ATRN-Natal/RN
Tema: INSPIRAÇÃO - 11º Lugar

“Bate” a inspiração na gente...
Verso nenhum se aquieta,
quando Deus, onipotente,
nos permite ser poeta!
–ROBERTO TCHEPELENTYKY/SP–

Uma Trova de Ademar

O tempo mostrou-me enfim,
sem regras e sem medida,
que a poesia é para mim
uma opção real de vida.
ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Não paras quase ao meu lado ...!
e em cada tua partida,
eu sinto que sou roubado
num pouco da minha vida ...
–LUIZ OTÁVIO/RJ–

Simplesmente Poesia

Mote:
Toda casa de taipa abandonada,
Guarda um grito de fome dentro dela.

Glosa:
Tapera velha na beira da estrada
Onde mora o fantasma da maldade
É o retrato da tristeza que invade
Toda casa de taipa abandonada.
Foi projeto de vida inacabada
Triste, morreu insepulto e sem vela
Sem porta sem tramela e sem janela
É um retalho de vida mal vivida
Como um brado de revolta incontida
Guarda um grito de fome dentro dela.
–MARIVA/PB–

Estrofe do Dia

Eu não vou debruçar-me na janela
e nem vou conversar com as vizinhas,
porém através das preces minhas
me inspiro ao reflexo de uma vela,
se me chamam pra ver uma novela
eu recuso o convite e digo não;
para mim a maior televisão
é pensar em “Chudu” eternamente,
acredito que Deus está presente
no silencio da minha solidão.
–DINALVA/PB–
(VIÚVA DE MANOEL CHUDU - POETA VIOLEIRO)

Soneto do Dia

Tenho Pena
–SÔNIA SOBREIRA/RJ–

Tenho pena dos que sofrem na vida,
neste mundo tão mau tão inclemente,
dos que morrem sem culpa, do inocente
que sozinho, nem sabe o que é guarida.

Da montanha calada e soerguida
que altiva enfrenta as águas da vertente,
do mar, enfurecido de repente,
das ondas que se curvam na descida.

Tenho pena do brilho das estrelas,
dos cegos, que jamais poderão vê-las
e do tempo que mostra a realidade.

Tenho pena das lágrimas vertidas,
da ilusão cujas asas são partidas
e de um sonho que deixou tanta saudade.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Ivan Carlo (Manual de Redação Jornalística) Parte 1


“O jornalismo não é um gênero literário a mais. Enquanto, na literatura, a forma é compreendida como portadora, em si, de informação estética, em jornalismo a ênfase desloca-se para os conteúdos, para o que é informado. O jornalismo se propõe processar informação em escala industrial e para consumo imediato”
LAGE, Nilson. Linguagem Jornalística. São Paulo, Ática, 35

“Surpresa agradável: cientistas confirmam que o cérebro adora o inesperado Nada mais chato que a rotina e os acontecimentos absolutamente previsíveis, certo? Isso mesmo. A mente humana gosta é de ser surpreendida. Essa foi a conclusão a que chegaram neurologistas da Emory University Health Sciences Center, nos Estados Unidos. Por diversas vezes, os médicos pingaram gotas de suco de frutas ou de água em voluntários monitorados por ressonância magnética. A escolha da bebida era aleatória, ou seja, foram testadas diversas seqüências que podiam ser quebradas a qualquer momento. Quando a bebida era trocada – o que pegava o cérebro de surpresa –, a atividade dos neurônios ficava mais intensa. De tão entusiasmada, essa resposta chegava a ser mais forte do que aquelas causadas pela sensação de prazer. "A mente humana é atraída por estímulos inusitados. Quando um evento foge do esperado, o cérebro mobiliza mais células para gravar o acontecimento", explica o neurologista Paulo Henrique Bertolucci, professor de Neurologia do Comportamento da Universidade Federal de São Paulo”. (Priscila Boccia. Revista Saúde, abril de 2001)

APRESENTAÇÃO

Este texto é resultado de minhas aulas como professor de cursos seqüenciais e de graduação na área de comunicação. Ele foi feito com o objetivo de solucionar as principais dúvidas que eu encontrava em meus alunos quando estes começavam a escrever jornalisticamente.

Embora haja manuais de redação dos principais jornais do país, eles são visivelmente feitos para pessoas graduadas. A bibliografia de iniciação ao texto jornalístico é totalmente deficiente. O objetivo deste trabalho é, portanto, abrir caminho para a realização de um trabalho desse tipo, que sirva de guia para quem não conhece ainda nem mesmo os conceitos básicos de jornalismo, tais como pauta e lide. Sendo um texto experimental, eu ficaria muito satisfeito ao receber críticas e comentários que possam enriquecê-lo.

INTRODUÇÃO

Seja uma senhora perguntando sobre seus novo vizinhos, um homem do campo ouvindo um radinho de pilha ou um executivo lendo um jornal, todos atualmente estão muito interessados em um produto chamado informação. A necessidade de informação, de novidade, é tão antiga quanto o homem. Os nossos antepassados que se aproximavam cuidadosos de uma árvore em chamas após um relâmpago estavam curiosos com o fenômeno e queriam conhecê-lo melhor.

Da mesma forma, uma criança que coloca um objeto na boca está querendo informações sobre ele. A curiosidade e a necessidade de informações movem o mundo.

Mas o que é, exatamente, informação?

Leia a matéria abaixo e tente responder porque ela configura informação:

Pedreiro morde cachorro e quase é linchado

O pedreiro Jair Rodrigues da Silva, 32 anos, escapou de um linchamento em Americana (133 km de São Paulo), depois de morder o focinho de um cachorro vira-lata que o atacou, no bairro Antônio Zanaga, periferia da cidade.

O fato ocorreu quando Silva amarrou uma corda de nailon no pescoço do cachorro e saiu para passear. Como o animal não andava, o pedreiro resolveu empurrá-lo com um chute. O cachorro o mordeu e o pedreiro revidou, primeiro com pauladas, depois a dentadas, que feriram gravemente o animal.

Moradores do bairro que assistiram a cena ficaram revoltados e passaram a perseguir o pedreiro, que só foi salvo graças à intervenção da Guarda Municipal de Americana. O cachorro foi levado para o Centro de Zoonoze da cidade. Silva foi para o Hospital Municipal de Americana, onde foi medicado e liberado. Os dois passam bem. A polícia registrou boletim de ocorrência contra o pedreiro por maus tratos a animais.

Cachorros mordendo homens são muito comuns e, portanto, não dão notícia. Entretanto, um homem mordendo um cachorro é um evento que foge do normal e, portanto, configura informação. Já temos, portanto, uma indicação do que seria informação: tudo aquilo que foge do normal, que é novo, diferente.

Esse conceito está intimamente relacionado ao de redundância. Redundância é repetição. Se escrevo duas vezes a mesma palavra, estou sendo redundante. Se levo meia-hora para dizer algo que poderia ser dito em dois minutos, estou sendo redundante.

A redundância é um conceito oposto ao de informação. O que é redundante não é informação, e o que é informação não é redundante. Um cachorro mordendo um homem é redundância, pois diariamente milhares de cachorros mordem humanos. Mas um homem mordendo um cachorro é um evento com baixa probabilidade de ocorrer, sendo, portanto, informativo.

As pessoas costumam ter certa ojeriza à redundância. Pessoas que falam muito e dizem pouco costumam ser evitadas e chamadas de chatas. O indivíduo chato é, na verdade, um tremendo redundante. Nosso cérebro tem tanta necessidade de informação que, quando o estímulo é muito redundante, ele simplesmente apaga. Esse é o princípio da hipnose. O hipnotizador balança um pêndulo monotonamente na frente do hipnotizado e repete sempre as mesmas palavras, no mesmo tom. Como defesa, o cérebro entra em estado hipnótico.

O mesmo ocorre com aquelas aulas chatas, em que todo mundo dorme. O estímulo é tão redundante que o cérebro se nega a continuar prestando atenção. Se quisermos uma definição um pouco mais científica de informação, podemos recorrer ao conceito emitido pelo matemático Claude Shannon, criador da teoria da informação. Ele diz que informação é a diminuição da quantidade de incerteza quando se recebe uma resposta a uma pergunta.

Vamos imaginar uma situação. Eu recebo meus proventos por um determinado banco e ligo para o mesmo, perguntando se o dinheiro já saiu. Se o funcionário responder “sim”, a minha quantidade de incerteza diminuiu, não é mesmo? O mesmo ocorre se ele responder “não”. Nos dois casos, a minha dúvida está sendo respondida de forma que eu tenha mais informações do que antes.

Entretanto, se o funcionário me der respostas como “Não sei” ou “talvez”, eu vou continuar com a mesma dúvida de antes. Assim, a mensagem é de nível informacional baixíssima.

A mesma situação pode ser aplicada a uma eleição. Temos dois candidatos, A e B, ambos com chance de serem eleitos. Se o jornal me diz: “A venceu”, ele estará, certamente, repassando uma informação. Quanto maior a quantidade de respostas possíveis, maior a quantidade de informação da mensagem. E a mensagem será mais informativa se a resposta for a menos provável. A manchete “A e B empataram” tem muito mais informação do “A venceu”. Primeiro, porque agora o leque de respostas foi aumentado (antes eram apenas duas possibilidades, agora são três), segundo porque a resposta dada foi justamente a mais improvável. É muito pouco provável que dois candidatos tenham exatamente o mesmo número de votos.

Portanto, quanto maior a quantidade de respostas possíveis, maior a carga de informação da mensagem. E quanto mais improvável a mensagem, mais informativa ela será.

A mensagem “A venceu” terá mais informações, quanto maior for a quantidade de candidatos com chances reais de serem eleitos. E a mensagem terá ainda mais informação se “A” for justamente o candidato que se achava ter menores chances de vitória.

Um jornalista se vê diariamente diante de vários fatos e acontecimentos. Alguns devem ser enunciados, outros não. A escolha entre um e outro ficará a cargo da quantidade de informação desses eventos.

Isso fica bem claro no caso das pessoas vitimadas por balas perdidas no Rio de Janeiro. No começo a imprensa noticiou muito esses fatos, e agora parece ter se esquecido deles. O que aconteceu? As pessoas deixaram de ser atingidas por balas perdidas? Não. Simplesmente a coisa se tornou tão redundante que perdeu toda a carga de informação. A primeira pessoa acertada por uma bala perdida é um novidade. A centésima já é redundância.

O jornalista estará sempre em busca de eventos novos, improváveis. Não é à toa que uma das perguntas prediletas de todo repórter é “O que aconteceu de diferente?”.

Ao fazer uma matéria sobre vigilantes noturnos, o jornalista procurará retirar do entrevistado casos e histórias que saiam do normal e, portanto, tenham interesse para o leitor. Por outro lado, uma notícia que já tenha sido veiculada dificilmente vai voltar a ter interesse para o receptor.

Há um conto de Cortazar que mostra bem isso.

Um homem senta-se em um banco de praça e começa a ler um jornal. À medida em que lê, as páginas vão ficando em branco, demonstrando que aquilo já não é mais informação para ele. O homem termina de ler e deixa as folhas em branco sobre o banco. Passa uma outra pessoa e vê um jornal normal. Afinal, como ela ainda não leu o jornal, ele ainda traz informações para ela. A pessoa começa a ler e as páginas vão ficando em branco, como ocorrera com o outro.

O processo continua por todo o dia, até a meia-noite, quando o jornal fica definitivamente em branco, ou seja, ele deixa de ser informativo e passa a ser, definitivamente, redundante.

Lembre-se: o jornalismo lida com o diferente, improvável, com fatos que fogem do normal.
––––––––––-
continua…

Fonte:
Virtualbooks

Ialmar Pio Schneider (Amor Antigo)

Tela de Glaucia Scherer


Eu quis fazer um verso de saudade
que me trouxesse os dias já vividos;
e pensei nos caminhos percorridos
quando te amei demais, na mocidade.

Mas, hoje mergulhado na ansiedade,
só me atormentam sonhos reprimidos,
como se fossem cânticos perdidos
que me negaram a felicidade.

Aquela que cruzou o meu destino
e só me fez cantar inutilmente
os seus dotes de rara exuberância,

matou pra sempre os sonhos de menino
que povoavam então a minha mente
de todos os amores sem constância...

Porto Alegre - RS, 26 de maio de 2002
---

Fontes:
Soneto e Imagem enviados pelo autor

Olavo Bilac (Almas Inquietas: poesias) Parte 6


BALADAS ROMÂNTICAS

I
Branca...

Vi-te pequena: ias rezando
Para a primeira comunhão:
Toda de branco, murmurando,
Na fronte o véu, rosas na mão.
Não ias só: grande era o bando...
Mas entre todas te escolhi:
Minh’alma foi te acompanhando,
A vez primeira em que te vi.

Tão branca e moça! o olhar tão brando!
Tão inocente o coração!
Toda de branco, fulgurando,
Mulher em flor! flor em botão!
Inda, ao lembra-lo, a mágoa abrando,
Esqueço o mal que vem de ti,
E, o meu ranços estrangulando,
Bendigo o dia em que te vi!

Rosas na mão, brancas... E, quando
Te vi passar, branca visão,
Vi, com espanto, palpitando
Dentro de mim, esta paixão...
O coração pus ao teu mando...
E, porque escrevo me rendi,
Ando gemendo, aos gritos ando,
- Porque te amei! porque te vi!

Depois fugiste... E, inda te amando,
Nem te odiei, nem te esqueci:
- Toda de branco... Ias rezando...
Maldito o dia em que te vi!

II
Azul...

Lembra-te bem! Azul-celeste
Era essa alcova em que amei.
O último beijo que me deste
Foi nessa alcova que o tomei!
É o firmamento que a reveste
Toda de um cálido fulgor:
- Um firmamento, em que puseste
Como uma estrela, o teu amor.

Lembras-te? Um dia me disseste:
“Tudo acabou!” E eu exclamei:
“Se vais partir, por que vieste?”
E às tuas plantas me arrastei...
Beijei a fímbria à tua veste,
Gritei de espanto, uivei de dor:
“Quem há que te ame e te requeste
Com febre igual ao meu amor?”

Por todo o mal que me fizeste,
Por todo o pranto que chorei,
- Como uma casa em que entra a peste,
Fecha essa casa em que fui rei!
Que nada mais perdure e reste
Desse passado embriagador:
E cubra a sombra de um cipreste
A sepultura deste amor!

Desbote-a o inverno! o estio a creste!
Abale-a o vento com fragor!
- Desabe a igreja azul-celeste
Em que oficiava o meu amor!

III
Verde...

Como era verde este caminho!
Que calmo o céu! que verde o mar!
E, entre festões, de ninho em ninho,
A Primavera a gorjear!...
Inda me exalta, como um vinho,
Esta fatal recordação!
Secou a flor, ficou o espinho...
Como me pesa a solidão!

Órfão de amor e de carinho,
Órfão da luz do teu olhar,
- Verde também, verde-marinho,
Que eu nunca mais hei de olvidar!
Sob a camisa, alva de linho,
Ta palpitava o coração...
Ai! coração! peno e definho,
Longe de ti, na solidão!

Oh! tu, mais branca do que o arminho,
Mais pálida do que o luar!
- Da sepultura me avizinho,
Sempre que volto a este lugar...
E digo a cada passarinho:
“Não cantes mais! que essa canção
Vem me lembrar que estou sozinho,
No exílio desta solidão!”

No teu jardim, que desalinho!
Que falta faz a tua mão!
Como inda é verde este caminho...
Mas como o afeia a solidão!

IV
Negra...

Possas chorar, arrependida,
Vendo a saudade que aqui vai!
Vê que linda, negro, da ferida
Aos borbotões o sangue cai...
Que a nossa história, assim relida,
O nosso amor, lembrado assim,
Possam fazer-te, comovida,
Inda uma vez pensar em mim!

Minh’alma pobre e desvalida,
Órfã de mãe, órfã de pai,
Na escuridão vaga perdida,
De queda em queda e de ai em ai!
E ando a buscar-te. E a minha lida
Não tem descanso, não tem fim:
Quanto mais longe andas fugida,
Mais te vejo eu perto de mim!

Louco! e que lúgubre a descida
Para a loucura que me atrai!
- Terríveis páginas da vida,
Escuras páginas, - cantai!
Vim, ermitão, da minha ermida,
Morto, do meu sepulcro vim,
Erguer a lápida caída
Sobre a esperança que houve em mim!

Revivo a mágoa já vivida
E as velhas lágrimas... a fim
De que chorando, arrependida,
Possas lembrar-te inda de mim!

VELHA PÁGINA

Chove. Que mágoa lá fora!
Que mágoa! Embruscam-se os ares
Sobre este rio que chora
Velhos e eternos pesares.

E sinto o que a terra sente
E a tristeza que diviso,
Eu, de teus olhos ausente,
Ausente de teu sorriso...

As asas loucas abrindo,
Meus versos, num longo anseio,
Morrerão, sem que, sorrindo,
Possa acolhe-los teu seio!

Ah! quem mandou que fizesses
Minh’alma da tua escrava,
E ouvisses as minhas preces,
Chorando como eu chorava?

Por que é que um dia me ouviste,
Tão pálida e alvoroçada,
E, como quem ama, triste,
Como quem ama, calada?

Tu tens um nome celeste...
Quem é do céu é sensível!
Por que é que me não disseste
Toda a verdade terrível?

Por que, fugindo impiedosa,
Desertas o nosso ninho?
- Era tão bela esta rosa!...
Já me tardava este espinho!

Fora melhor, porventura,
Ficar no antigo degredo
Que conhecer a ventura
Para perde-lo tão cedo!

Por que me ouviste, enxugando
O pranto das minhas faces?
Viste que eu vinha chorando...
Antes assim me deixasses!

Antes! Menor me seria
O sofrimento, querida!
Antes! a mão que alivia
A dor, e cura a ferida.

Não deve depois, tranqüila,
Vendo sufocada a mágoa,
Encher de sangue a pupila
Que já vira cheia de água...

Mas junto a mim que te falta?
Que glória maior te chama?
Não sei de glória mais alta
Do que a glória de quem ama!

Talvez te chame a riqueza...
Despreza-a, beija-me, e fica!
Verás que assim, com certeza,
Não há quem seja mais rica!

Como é que quebras os laços
Com que prendi o universo,
Entre os nossos quatro braços,
Na jaula azul do meu verso?

Como hei de eu, de hoje em diante,
Viver, depois que partires?
Como queres tu que eu cante
No dia em que não me ouvires?

Tem pena de mim! tem pena
De alma tão fraca! Como há de
Minh’alma, que é tão pequena,
Poder com tanta saudade?!

VILFREDO
LENDA DO RENO, GRANDMOUGIN

I
O castelo

Sobre os rochedos, longe, o castelo aparece,
Dominando a extensão das florestas sombrias.
A tarde cai. O vento abranda. O ar escurece.
E Vilfredo caminha entre as neblinas frias.

Vai vê-la... E estuga o passo. Alto e silencioso,
Abre o castelo, em fogo, os vitrais das janelas.
Nas ameias, manchando o céu caliginoso,
Aprumam-se perfis de imóveis sentinelas.

Vilfredo vai ouvir a voz da sua Dama...
Mas, no seu coração perturbado, parece
Que vive, em vez do amor, essa ligeira chama,
Que arde apenas um dia, arde e desaparece...

E o arruinado solar, refletido no Reno,
Sobre o qual paira e pesa um sonho sobre-humano,
Sobe, entre os astros, só, furando o céu sereno,
Com a calma e o esplendor de um velho soberano.

II
As fadas da lagoa

Vilfredo conheceu o amor nos braços d’Ela...
Teve-a nua, a tremer, nos braços, nua e fria!
Teve-a nos braços, louca, apaixonada e bela!
Mas parte, alucinado, antes que aponte o dia...

É que uma outra paixão o descuidado peito
Lhe entrou. Paixão cruel, loucura que o atordoa,
Desde o momento em que, formosas, sobre o leito
Das águas calmas, viu as fadas da lagoa.

Parte... À margem fatal da lagoa das fadas
Chega, e em êxtase fica, a riba em flor mirando.
Um ligeiro rumor de vozes abafadas
Aumenta... E exsurge da água o apaixonado bando.

Corre Vilfredo, em febre, a aperta-las ao seio,
E despreza o passado e esquece o juramento:
Beija-as, e, na expansão do carinhoso anseio,
Imola toda a vida aos beijos de um momento.

Para os seus corpos ter, toda a alma lhes entrega:
E, na alucinação do gozo em que se inflama,
Por esse amor, por essa embriaguez renega
O Deus dos seus avós, o amor da sua Dama...

III
O remorso

Delira. Mas, depois do delírio sublime,
O remorso, imortal, nasce com o arrebol.
E ele mede a extensão do seu monstruoso crime,
E esconde a face à luz vingadora do sol.

Busca assustado a paz, busca chorando o olvido...
Á volúpia infernal o coração vendeu,
E o inferno lhe reclama o coração vendido,
Cobrando em sangue e pranto o gozo que lhe deu.

Quer rezar, quer voltar ao seu fervor primeiro,
Quer nas lajes, de rojo, abominando o mal,
Ser de novo Cristão, Fiel e Cavaleiro:
Mas não encontra paz na paz da catedral.

Pobre! até no palor das faces maceradas
Das monjas, cuida ver as faces que beijou;
Ah! seios de marfim! ah! bocas perfumadas!
Recordação cruel de um Éden que acabou!

Parte só, sem destino, errando, a passo incerto,
Por montes e rechãs, no inverno e no verão,
E por anos sem conta habitando o deserto,
Sem lágrimas no olhar, sem fé no coração.

Das florestas sem fim sob a abóbada escura
Ouve, nos alcantis de em torno, a água rolar;
Sobre ele, a longa voz das árvores murmura,
E o vendaval retorce os ramos negros no ar.

Mas à fera, ao inseto, ao limo verde, ao vento,
Ao sol, ao rio, ao vale, à rocha, à serpe, à flor
É em vão que Vilfredo implora o esquecimento
Do seu amor cruel, do seu horrendo amor...

IV
O Castigo

Volta... Nem luta já contra o crime que o atrai...
Velho e trôpego vem, mendigo esfarrapado,
E examine, por fim, num calefrio, cai
Sem consciência, ao pé das águas do Pecado.

Calma. A noite caiu. Nem um pássaro voa.
Não piam no silêncio as aves agoireiras.
Mas palpitam, luzindo, à beira da lagoa,
Fogos-fátuos subtis sobre as ervas rasteiras.

E, então, Vilfredo vê, presa de um medo
Do denso turbilhão dos fogos repentinos,
Com tentações no olhar e convites na voz
Surgirem turbilhões de corpos femininos.

E o Inferno pela voz dos fogos-fátuos fala!
Vilfredo foge. O horror vai com ele, inclemente!
Foge. E corre, e vacila, e tropeça, e resvala,
E levanta-se, e foge alucinadamente...

Em vão! pesa sobre ele um destino fatal:
E o louco, em todo o horror dos campos tenebrosos,
Vê fechar-se e prende-lo a cadeira infernal
Das infernal multidão dos Elfos amorosos...
---

Fonte:
BILAC, Olavo. Antologia : Poesias. São Paulo : Martin Claret, 2002. Alma Inquieta. (Coleção a obra-prima de cada autor). Digitalizado por Anamaria Grunfeld Villaça Koch – São Paulo/SP

Monteiro Lobato (O Presidente Negro) X – Céu e Purgatório


CAPÍTULO X
Céu e Purgatório


Regressei á cidade alegre como um pardal depois da chuva. As palavras de miss Jane valeram-me pela abertura do céu. Com que prazer não trabalharia a semana toda estimulado pela perspectiva de ve-la cada domingo! A firma chegou a notar o meu assanhamento. O senhor Sá olhou-me de soslaio e murmurou para o socio de fraque:

— Parece que o seresma viu passarinho verde...

Custou a passar o tempo, tanto a minha impaciência alongava as horas. Mas passou e no domingo, depois de apurar-me na toalete como nunca, e lançar ao pescoço uma gravata nova verde-oliva com pintas de tom mais sombrio, voei, positivamente voei, ao castelo dos meus sonhos.

Já mais senhora de si, nesse dia miss Jane não falou tão exclusivamente de seu pai. Muito falou dele ainda, mas tambem discorreu de outros assuntos, dando começo afinal ás revelações que me serviram de base á novela.

Antes de mais nada externou-se quanto á situação presente do povo americano — e com palavras que me derrancaram as ideias. Sim, porque eu tinha a ingenuidade de possuir ideias assentes sobre o povo americano, apesar da mais absoluta ignorância da psíquica e rumos que levava esse povo. Ideias pegadas no ar do escritório, nas palestras dos cafés, na leitura de jornais redigidos por criaturas tão ignaras como eu, ideias que se nos grudam ao cérebro como o pó do asfalto nos adere ao rosto nos dias de calor. Do senhor Sá, por exemplo, ouvi dizer do americano (não a mim, está claro, que me não daria esta honra, mas ao senhor Pato): "Povo sem ideais, o mais materialão da terra. A gente do the biggest..."

Era Sá quem o dizia e pois a afirmação me penetrou nos miolos como a própria Certeza. Nesse mesmo dia, num café, como na roda em que me achava se falasse da América, repeti a esmo, entre duas baforadas de um cigarro:

— Povo sem ideais, o mais materialão da terra. A gente do the biggest...

Causou sensação, e é provável que algum dos presentes fosse repetir alem, a bela síntese dos meus patrões — e por aqui se vê como certas ideias circulam á maneira de moeda e vão enriquecer o patrimonio ideológico de um povo...

Quando miss Jane abordou o assunto e de chofre perguntou-me que é que eu pensava do americano, imediatamente a bela síntese sapatesca me veio aos lábios:

— Povo sem ideais, o mais materialão da terra, a gente do the biggest... murmurei com ênfase.

O efeito, porém, falhou. Pela primeira vez não vi na cara de um interlocutor a expressão aprovativa a que eu já me afizera. Miss Jane, ao contrario, sorriu com o inesquecível sorriso do professor Benson e disse:

— Essa ideia não pode ser sua, senhor Ayrton. Soa-me a frase feita, das que se recebem no ar sem exame. A um povo que tenta romper com o álcool acha sem ideias? Poderá haver maior idealismo que o sacrifício de formidáveis interesses materiais do presente em vista de benefícios que só as gerações futuras poderão recolher? Se o senhor Ayrton observar um pouco a psique americana verá, ao contrario, que é o único povo idealista que floresce hoje no mundo. Único, vê? Apenas se dá o seguinte: o idealismo dos americanos não é o idealismo latino que recebemos com o sangue. Possuem-no de forma especifica, próprio, e de implantação impossível em povos não dotados do mesmo caráter racial. Possuem o idealismo orgânico. Nós temos o utópico. Veja a França. Estude a Convenção Francesa. Sessão permanente de utopismo furioso — e a resultar em que calamidades! Por que? Porque irrealizável, contrario á natureza humana. Veja agora a América. Em todos os grandes momentos da sua história, sempre vencedor o idealismo orgânico, o idealismo pragmático, a programação das possibilidades que se ajeitam dentro da natureza humana. Leia Emerson e leia Rousseau. Terá os expoentes de duas mentalidades polares. Não acha o senhor Ayrton que é assim?

Apressei-me em achar, se não de todo convencido ao menos vencido por tão ardorosos argumentos. Espantaram-me a fluidez, a clareza, o ímpeto com que miss Jane discordara. Vi bem clara a diferença que existe entre ter ideias próprias, frutos fáceis e lógicos de uma árvore nascida de boa semente e desenvolvida sem peias ou imposições externas — ser "árvore de natal", museu de ideias alheias pegadas daqui e dali, sem ligação orgânica com os galhos, donde não pendem de pedúnculos naturais e sim de ganchinhos de arame. E comecei a aprender a tambem ser árvore como as que crescem no campo, e a deixar-me engalhar, enfolhar e frutificar livremente por mim próprio. Sinto hoje que a minha árvore mental cresce desafogada no sítio tanto tempo ocupado por uma árvore-cabide, onde Sás, Patos et caterva penduravam papel-ideias, coisa pior que o papel-moeda. Foi com miss Jane que aprendi a pensar.

— Idealista como nenhum outro povo, prosseguiu ela, e do único idealismo verdadeiramente construtor da atualidade. Acompanhe a vida de Henry Ford, por exemplo, estude-lhe as ideias. Verá que nelas estão todas as soluções que no seu desvario de doida a Europa procura no despotismo. Por mais audacioso que nos pareça o pensamento de Henry Ford, que é ele senão o reflexo do mais elementar bom senso? Todos nós, creia, senhor Ayrton, temos conosco essas ideias, á primeira vista tão novas. No entanto, tamanha é a crosta que nos recobre o bom senso natural que Ford nos parece um messias da Ideia Nova. Há um aparelho de limpar os tubos das caldeiras por onde passa a chama vinda da fornalha. Esses tubos, com o tempo, vão se encrostando de resíduos carbônicos e acabam por se obstruírem. É necessário a espaços proceder-se a uma limpeza. Embora o uso das maquinas de vapor já seja bem velho, só recentemente se inventou o meio pratico de desencrosta-las: o martelo trepidante. Ford me dá a sensação desse instrumento. É o martelo trepidante que nos desencrosta os tubos do cérebro, obstruídos pela fuligem das ideias falsas. Ninguém melhor do que eu poderá dizer isto de Henry Ford, porquanto devassei o futuro e por toda parte vi reflexos do seu pensamento. É pois o melhor tipo atual do idealista orgânico. Sonha, mas sonha a realidade de amanhã. A desaglomeração da industria urbana, por exemplo, a estandardização de todos os produtos, a industria posta na base de uma associação de três sócios — trem abrange todas as classes sociais, a simplificação da vida pela eliminação dos milhares de coisas inúteis que hoje consomem tanto material e energia, tudo isso vai realizado no futuro e, no meu entender, com ponto de partida no idealismo pragmático de Henry Ford.

— Realmente!... exclamei. Agora vejo que fazemos cá uma ideia apressada desse povo.

Eu me sentia cada vez mais desencrostado das minhas ideias falsas ante a vibração do gentil martelinho trepidante que era miss Jane...

— E o mundo americano não podia deixar de ser assim, senhor Ayrton, continuou ela. Note apenas: que é a América, senão a feliz zona que desde o inicio atraiu os elementos mais eugenicos das melhores raças europeias? Onde a força vital da raça branca, se não lá? Já a origem do americano entusiasma. Os primeiros colonos, quais foram eles? A gente do Mayflower, quem era ela? Homens de tal tempera, caracteres tão shakespearianos, que entre abjurar das convicções e emigrar para o deserto, para a terra vazia e selvagem onde tudo era inhospitalidade e dureza, não vacilaram um segundo. Emigrar ainda hoje vale por alto expoente de audácia, de elevação do tonus vital. Deixar sua terra, seu lar, seus amigos, sua língua, cortar as raízes todas que desde a infância nos prendem ao solo pátrio, haverá maior heroísmo? Quem o faz é um forte, e só com esse fato já revela um belo índice de energia. Mas emigrar para o deserto, deixar a pátria pelo desconhecido, isto é formidável!

– Realmente, realmente...

– Pois bem, continuou miss Jane, o processo inicial da América tornou-se o processo normal do seu acrescentamento no decorrer da história. Ondas sucessivas dos melhores elementos europeus para lá se transportaram. Depois vieram as leis seletivas da emigração, e as massas que a procuravam, já de si boas, viram--se peneiradas ao chegar. Ficava a flor. O restolho voltava... Note o enriquecimento de valores humanos que isso representou para aquela nação.

Miss Jane falava com tanta alma, havia em suas palavras tal força persuasiva, que senti um ímpeto de revolta contra o senhor Sá. Se esse homem me aparece naquele momento, eu era capaz de erguer contra ele a minha outrora tão humilde mão!

— E hoje, prosseguiu miss Jane, hoje que se deslocou para lá o centro economico do mundo? Reflita um bocado na significação, não digo do povo americano, mas do fenômeno americano — o fenômeno eugenico americano. Estados Unidos querem hoje dizer um imenso foco luminoso num mundo de candieiros de azeite e velas de sebo. Todas as mariposas da terra têm os olhos fixos no deslumbrante foco — todos os artistas, todos os sábios, todos os espíritos animados da
centelha criadora, que na sua pátria não encontram condições propicias de desenvolvimento. Lá, a manhã radiosa de sol. No resto do mundo, varias especies de crepúsculos... Cada vez mais vai sendo a Europa drenada de seus melhores elementos — as suas mariposas, e a Europa acabará amarelada pela pigmentação mongólica. Isso vi eu já bem denunciado nos cortes feitos no século 25.

– Mas, miss Jane, atrevi-me a dizer, não é lógico que tambem invada a América esse asiatismo entrevisto?

– Lógico por que? O lógico é que da semente da couve nasça o pé de couve e da do jequitibá nasça o jequitibá. A semente americana lançada em Plymouth era sã e era de jequitibá. O espirito de casta matou a Asia — do espirito de classe morrerá a Europa. A semente de que nasceu a América não continha em seus
cotiledones essas venenosas toxinas.

– Mas deu origem a classes, tambem…

– Deu origem a classes, é certo, e os interesses das classes se tornaram antagônicos. Mas o espirito de exame dos fatos — e outra coisa não quer dizer o idealismo orgânico — interveio a tempo e harmonizou tais interesses. Quando Ford provou que não há hostilidade entre o capital e o trabalho e sim mal-entendido — e o
provou com o fato da sua formidável realização, todos os olhos se abriram, e a industria, até ali Moloch devorador da classe que produz e da que consome em proveito da que detém os meios de produção, passou a ser a mais harmonizada das associações. Esse maravilhoso remédio criou a grande barreira contra o asiatismo invasor e ergueu a América do século 25 á posição de um mundo sadio e vivo dentro de um marasmo fatalista.

– Está tudo muito bem, adverti eu, mas nos Estados Unidos não penetraram apenas os elementos espontâneos que miss Jane aponta. Entrou ainda, á força, arrancado da Africa, o negro.

– Lá ia chegar. Entrou o negro e foi esse o único erro inicial cometido naquela feliz composição.

– Erro impossível de ser corrigido, aventurei. Tambem aqui arrostamos com igual problema, mas a tempo acudimos com a solução pratica — e por isso penso que ainda somos mais pragmáticos do que os americanos. A nossa solução foi admirável. Dentro de cem ou duzentos anos terá desaparecido por completo o nosso negro em virtude de cruzamentos sucessivos com o branco. Não acha que fomos felicíssimos na nossa solução?

Miss Jane sorriu de novo com o meigo e enigmático sorriso do professor Benson.

– Não acho, disse ela. A nossa solução foi medíocre. Estragou as duas raças, fundindo-as. O negro perdeu as suas admiráveis qualidades físicas de selvagem e o branco sofreu a inevitável piora de caráter, consequente a todos os cruzamentos entre raças dispares. Caráter racial é uma cristalização que ás lentas se vai operando através dos séculos. O cruzamento perturba essa cristalização, liquefa-la, torna-a instâvel. A nossa solução deu mau resultado.

– Quer dizer que prefere a solução americana, que não foi solução de coisa nenhuma, já que deixou as duas raças a se desenvolverem paralelas dentro do mesmo território separadas por uma barreira de ódio? Aprova então o horror desse ódio e todas as suas tristes consequências?

— Esse ódio, ou melhor, esse orgulho, respondeu miss Jane, serena como se a própria Minerva falasse pela sua boca, foi a mais fecunda das profilaxias. Impediu que uma raça desnaturasse descristalizasse a outra, e conservou a ambas em estado de relativa pureza. Esse orgulho foi o criador do mais belo fenômeno da eclosão étnica que vi em meus cortes do futuro.

— Mas é horrível isso! exclamei revoltado, Miss Jane, um anjo de bondade, defende o mal...

Pela terceira vez a moça sorriu com o sorriso do professor Benson.

— Não há mal nem bem no jogo das forças cósmicas. O ódio desabrocha tantas maravilhas quanto o amor. O amor matou no Brasil a possibilidade de uma suprema expressão biológica. O ódio criou na América a glória do eugenismo humano...

Como era forte o pensamento de miss Jane! Dava-me a sensação dos fenômenos naturais, ora da brisa que passa e treme a folha das árvores, ora do jorro de sol que tudo ilumina. Seus olhos fulguravam e por vezes eu sentia neles o impeto sereno que os poetas gregos atribuíam a Palas. Meu sentimentalismo sofria com isso. "Poderia vir a amar-me uma criatura assim, tão alta de cérebro?". Tudo me levava a crer que não, e apesar disso eu esperava...

— Entre dar uma solução inepta e não dar solução nenhuma, o americano optou pela ultima alternativa, continuou miss Jane.

— Quer dizer que eternizou o problema, conclui vitorioso.

– A sua eternidade, senhor Ayrton, é bem precária. Durará apenas mais 302 anos. O inevitável choque das duas raças dar-se-á em 2228, e a solução…

– Já sei qual será! exclamei muito lampeiro. Um massacre em massa, uma chacina horrorosa!…

– Nada disso.

– Expulsam os negros de lá, então! adverti apressadamente, na minha ânsia de adivinhar.

– Nada, nada disso.

Parei atrapalhado, mas num clarão apresentou-se-me a terceira hipótese.

– Dividem o país em duas partes, a negra e a branca!

– Nada, ainda. Creio que por mais esforços que o senhor Ayrton faça não adivinhará.

Refleti alguns instantes a ver se me ocorria uma quarta hipótese. Não ocorreu coisa nenhuma e confessei-me vencido.

– Se a solução não vai ser alguma destas, quer dizer que o caso fica insolúvel, rematei.

– Ao contrario. Será solvido da maneira mais completa, sem sacrifício dos negros existentes e sem transigência dos brancos. O orgulho é criador, senhor Ayrton e além disso, extremamente engenhoso...

Era hora de retirar-me.
Beijei a mão de miss Jane e saí pela estrada afora a parafusar no tremendo quebra-cabeça. Depois volvi para ela os meus pensamentos e passei a semana inteira a recordar as suas palavras e gestos, num grande enlevo d'alma. O senhor Sá notou-o e disse ao socio:

— Isto ou é amor ou é espinhela caída.

Era amor. Em tudo eu via miss Jane. Nas moças que se cruzavam por mim nas ruas eu só via os traços que tinham de comum com miss Jane — esta a linha dos ombros; aquela o tom dos cabelos. Meus sonhos se complicavam estranhamente, mas neles Freud leria claro como numa cartilha infantil. O mundo futuro me surgia caótico, informe, com chins em Paris e homens sem pressa em New York, a conversarem sentados no meio das ruas — e que ruas! Wall Street, Broadway... Depois surgia miss Jane como o Tudo e eu mergulhava em êxtase.

Amor! Amor!
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continua… XI – O Ano 2228

Fonte:
Monteiro Lobato. O Presidente Negro. Editora Brasiliense, 1979.

domingo, 2 de outubro de 2011

Trova 198 - Francisco José Pessoa (Fortaleza/CE)

Hermoclydes S. Franco (Proposições a um Vocabulário em Trovas) Letras “D”, “E” e “F”


LETRA “D”

DANAÇÃO: Condenação
(já dizia o velho Dante).
DECATLETA: Um campeão.
DÉBIL: Insignificante.

DELICADO: Suave; Meigo.
DELÍCIA: Uma gostosura.
DELITO: Sendo de leigo
Torna fácil a “soltura”.

DEZEMBRO: Mês do Natal,
Dos presépios, de Jesus...
Tem riqueza emocional
Que fala de amor e luz!

LETRA “E”

ECLUSA: Comporta; Dique.
ECO: É o som repetido
Até do sino em repique
ÉDEN: Paraíso perdido.

ELÁSTICO: Que se estica;
É prodígio verdadeiro.
Quem sabe, um dia, se aplica
Na fábrica de dinheiro?...

ELEIÇÃO: Arbítrio; Escolha.
“Queremos Constituinte”.
Outra lei, novinha em folha,
Surgirá, por conseguinte...

ELENCO: Grupo de artistas.
ELETRICIDADE: Luz.
ELOGIO: Aos gabolistas.
EMA: Pernalta; Avestruz.

LETRA “F”

FÁBULA: É a bicharada
Dando lições de moral.
FACA: Quem tem, amolada,
Lá no norte é “maioral”...

FACE: Rosto; Vulto; Cara.
FALHA: Defeito; Omissão.
Para alguns é muito rara;
Eu as tenho, em profusão...

FALIDO: É o vulgar “quebrado”
Que gastou mesmo sem ter.
FAMILIA: Unida, ao seu lado,
Consequências a sofrer.

FANTASMA: Visão; Imagem
Que é, simplesmente, ilusória;
E vibrante personagem,
Herói de infantil estória...

FAROFA: Dom domingueiro
- melhor quando de peru -
Orgulho do “farofeiro”
Da praia de Itaipu.

FASCINAÇÃO: Atração;
Valsa de muito bom gosto
Que dancei, numa paixão,
Na base do rosto-a-rosto...
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Fonte:

Trovas enviadas pelo autor

Varal de Poesias da UNIFAMMA, de Maringá (Poesias Finalistas)


1. lugar:

PATCHWORK
Perpétua Conceição da Cunha Amorim (Franca, SP)


Cá com os meus botões
Alinhavo sentimentos rotos
Num emaranhado de cores
Desafiando o tempo e as diretrizes
Abarrotados de promessas descumpridas
Cinzas de um carnaval vencido
Sem data
Sem valia

Com linha de cor forte
Cirzo as emendas do ontem
Num tecido fino de espera.
Desenho arabescos
E sigo o ponto atrás das correntes
Sem nó
Sem dó

Cá com as minha dúvidas
Teço os dias e desfaço as noites
Com agulhas impiedosamente cegas.
A rotina sangra-me as mãos
Sangrando continuo
Sem prumo
Sem rumo

2º lugar

DICIONÁRIO
Lucas Corrêa Mendes (Araguaína To)


Vindo da uva, vinho tinto,
Quebra do ovo, vida do pinto,
Busca do álcool, alcance da fuga,
Sina do copo, bebida à culpa.

O risco que desce o rapel,
O risco que mancha o papel,
O que descreve o próprio umbigo,
O que escreve o ambíguo.

A pele da presa na unha do predador,
A fé presa na palavra do pregador,
O peso da amizade que se preza,
O preço da novidade que prega peça.

A venda que cobre os olhos do vendado,
A venda que cobra o valor do vendido,
A escolha que provoca o rejeitado,
A escola que promove o escolhido.

Ter sorte pra ser mais amado,
Ser forte pra ter menos risco,
A fala que manifesta o falado,
A falha responsável pelo falido.

O freio da beleza, baque da imagem,
O feio da leveza, peso sem gravidade,
O feito certeiro e ultrapassado virou “ex-ato”,
O defeito, eterno condenado, foi humanizado.

O desejo tímido é “sub-atração”,
A antipatia em demasia é “multi-implicação”,
A atitude, nua, sem endereço, não alcançada,
A altitude do baixo da rua pro tropeço no engano da calçada.

A palavra que, distraída, emudece o ato,
A razão, que se diz traída, muda o que falo,
O som da palavra que combina...
Equivale ao poder da rima.

3º lugar

POEMINHA PRA QUEM TEM MEDO DE AMAR
Andréa Cristina Francisco (Mogi das Cruzes, SP)


Quem tem medo de amar
tem coração que nem coração de passarinho
que se assusta fácil
e sai voando fugido

É menino triste
que pensa que Amor é gaiola

- Amor é gaiola não, menino,
gaiola é medo
Respira firme
que Amor é ipê!

4º lugar

FANTASMAS
Simone Alves Pedersen (Vinhedo, SP)


Com o passar dos anos:
A minha biografia amarelou
Como meus dentes;
A memória embranqueceu
Como meus cabelos;
O passado escureceu
Como o futuro.
Os filhos cresceram
Casaram-se e mudaram-se.
O cachorro morreu.
O gato também.
Até o pó se retirou
Para lugares onde abrem as janelas.
A televisão antes me incomodava,
Agora preciso de aparelho para ouvi-la,
Minha única companhia.
Não tenho mais bagunça para organizar,
Não recebo visitas para me estressar,
Não gasto com pizzas nem refrigerantes,
Que sumiam nas mãos dos adolescentes.
Nem o telefone toca.
O despertador sim! Faço questão de saber que horas são...
Apesar de dormir menos com o passar dos anos
E estar acordada quando o galo acorda o relógio,
Tenho um rádio que fica ligado o dia todo.
As vozes dos radialistas afastam os meus fantasmas,
Que ficam espreitando, esperando,
A hora que me deito...
É quando eles se aproximam.
Sentam-se na minha cama,
Seguram a minha mão e choram comigo.
O nome deles?
Arrependimento, fracasso e solidão.

5º lugar

DE SECAS E VERDES
Francisco Ferreira (Betim, MG)


Cantador, se quiseres cantar;
vê que te não aconselho,
os tempos são difíceis!
Mas se imperativo for,
que cantes aleluias
às alegrias da chuva nova
na poeira velha e o cheiro bom
do bom barro de telha branco.
Ou o ocre dos ceramistas,
o branco das terracotas
e o ocre dos santeiros
nos cheiros molhados dos terreiros.

Não é que te queira ensinar
o ofício – de padre dizer missa –
(longe de mim).
É que os tempos são de seca,
são difíceis.
O mundo está sinistro.
Digo isto só para parecer mais jovial.

Mas se quiseres calar
(veja que não te censuro)
se acaso, porém, insistires,
que cantes a paz.
As harmonias de abelhas e vespas
e formigas em seu fatigar
– operárias em construção –
na produção de alimentos
e no tornar fronteiras mais seguras.
Vidas mais úteis, vidinhas miúdas...
Ah, cantador, se os governos
fossem assim, tão eficientes!
Seríamos formigas maiores
e mais úteis, te garanto!
E nossas vidas, melhores.

Não que me queira queixar
é que a seca destes tempos sombrios
tornou agreste a minha alma
e desertificou o meu espírito.
O nosso destino de veredas
é alimentar rios.

Se, calado, quiseres cantar e depois emudecer,
(veja que não te pressiono, nem apresso),
já que, por ti, tenho tanto apreço.
É que nestes tempos secos
de dificuldades, cantar é dorido.

Mas se, de todo, quiseres te expressar,
que cantes jardins
belezas de moral em cachos,
canteiros floridos de ética,
floradas de justiça
e leiras e leiras de democracia.

Não é que te queira
dizer o que dizer.
É que aqui, ao sul do equador,
são tempos de seca,
qualquer fagulha pode atear incêndios
e tiranias.

6º lugar

CENA MUDA
Nelsi Inês Urnau (Canoas, RS)



Século vinte e um
Família – pedaços. Laços... nenhum!
Às vezes, tantas, se amedrontam...
Não se reúnem, nem unem,
se encontram, se defrontam
conhecidos, estranhos... e a televisão.
Chiclete, bocejo, silêncio, tensão...

Olhos furtivos, lampejos, desejos
pescando imagens. Vidas em conflito,
entre cifras e delitos
de vazios, brios sem fulgor,
incertezas, tristezas e dor...
Em histórias tão banais, tão iguais!

Ceia muda... não há o que dizer.
Ora! Hora assim, tudo perde o sentido.
Qualquer palavra diz pouco
qualquer gesto, risco torto
que inflama a chama
vulcão ambulante morto...

A cena muda
adormece ao cair da chuva.
Enquanto à massa os corpos se reduzem,
as mentes se acalmam e se esquecem...
enquanto a vida continua
disparada na luta crua
em contínua cena muda.
É século vinte e um.

7º lugar

FÚRIA ESCREVINA
Rômulo César Lapenda Rodrigues de Melo (Joinville, SC)


Escrever, escrever furiosamente como quem tem um dragão no intestino, cheio de dor de dente, escrever silenciosamente no silêncio que só o solitário sente, com torpor, com loucura e escrever, escrever, e só depois pensar em viver, a sorrir, a chorar, a sofrer, usar a borracha para morrer no silêncio temente, acordar para escrever, beber, cheirar letras em pó, escrever com a sede dos bêbados, com as ideias dos loucos, com a exata amoralidade dos psicopatas, dormir só para poder não morrer e morrendo de escrever vencer a próxima página, com a imprecisão desconcertante dos gênios, a pureza dos gentios, a safadeza das diabas, a podridão dos vermes, com a segurança dos equilibristas cegos, a pujança dos halterofilistas magros, escrever, escrever e depois apagar, rasgar folhas, costurá-las, remontá-las e escrever, e se for só a escrever, é depois remoer, ver as folhas voarem ao cesto sepulcro, regurgitar a bile no fundo da posta dormente do fígado, escrever feito demente e apagar, rasgar, escrever até o calo do dedo sangrar, escrever feito doente querendo remédio urgente, escrever sem nem pensar, roubando o dízimo da boca do crente, escrever suicidamente, feito cervo na beira do rio, esperando a bocada do crocodilo, escrever mesmo sem pé, nem cabeça doida fervente, os pensamentos dessa nossa gente, escrever, apagar, escrever, mais tarde refogar no caldeirão dos inconsequentes, ser canibal da própria mente, exorcista da alma, pinça em bicho de pé, ataque de tubarão branco, escrever desavisadamente, como quem anda à beira do precipício, cai e na queda, sem suplício, escreve o cair na poeira, e parado ao chão cansado da madrugada inteira, quando nada restar, nem a sobrancelha, há de haver uma letra brilhando pungente.

8º lugar

AH! MAR
Hernany Luiz Tafuri Ferreira Júnior (Juiz de Fora, MG)


ah! mar
inunda-me sem limites
sê céu
sê água
horizonte bem ali adiante.

ah! mar
falta-me coragem
para ser pirata
nesta viagem
hastear bandeira –
busca certeira por teus tesouros –
intenso aceno com lenço
imagem de que não me esqueço
oh! mar imenso
em terra firme permaneço.

mineiro desconfiado
contento-me com água de coco
enquanto contemplo
mar em tudo quanto é lado.

e de sereia em sereia
serei sempre um bobo
que não sairá da areia!

9º lugar

PÉS
Hernany Luiz Tafuri Ferreira Júnior (Juiz de Fora, MG)


Alumbrado,
calado,
caminho apoiado
na palavra
pé:
pé direito à frente
do esquerdo, depois
atrás do pé de
vento que
balança o pé
de fruta: pé
de moleque
descalço, no
encalço da ilusão:
em pé de guerra,
pede para amarrar
o cadarço e continua,
passo a passo,
a subir o pé
de feijão.

10º lugar

MEMÓRIAS
Denivaldo Piaia (Campinas, SP)


O quadro-negro da memória
Guarda frases rabiscadas:
Não pode...
Não deve...
Educação cercada de muros,
Tranca nas portas, vidraças opacas,
Medo.
Incoerentes correntes
Aprisionam sonhos e voos,
Pés pretos de branco jugo
E as porteiras.
Atam mãos sossegadas às suas almas mortas,
Janelas bocejando ao sol fresquinho da manhã.
E o vento venta,
Sopra segredos,
Range lamentos.
Revela histórias e lendas,
Esparrama glória pelas sendas
Assoviando em quinas,
Indiferente, nas esquinas.
Venta vento, ventania,
Em desbocada poesia.
Que leve tudo para bem longe
Soprando nuvens para reinventar formas.
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Fonte:
Simone Pedersen

Florbela Espanca (Mensageira das Violetas) Parte final




FRÊMITO DO MEU CORPO A PROCURAR-TE

Frêmito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doído anseio dos meus braços a abraçar-te,

Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!

E vejo-te tão longe! Sinto tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que não me amas...

E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas...

DIZE-ME, AMOR, COMO TE SOU QUERIDA

Dize-me, amor, como te sou querida,
Conta-me a glória do teu sonho eleito,
Aninha-me a sorrir junto ao teu peito,
Arranca-me dos pântanos da vida.

Embriagada numa estranha lida,
Trago nas mãos o coração desfeito,
Mostra-me a luz, ensina-me o preceito
Que me salve e levante redimida!

Nesta negra cisterna em que me afundo,
Sem quimeras, sem crenças, sem turnura,
Agonia sem fé dum moribundo,

Grito o teu nome numa sede estranha,
Como se fosse, amor, toda a frescura
Das cristalinas águas da montanha!

FALO DE TI ÀS PEDRAS DAS ESTRADAS

Falo de ti às pedras das estradas,
E ao sol que e louro como o teu olhar,
Falo ao rio, que desdobra a faiscar,
Vestidos de princesas e de fadas;

Falo às gaivotas de asas desdobradas,
Lembrando lenços brancos a acenar,
E aos mastros que apunhalam o luar
Na solidão das noites consteladas;

Digo os anseios, os sonhos, os desejos
Donde a tua alma, tonta de vitória,
Levanta ao céu a torre dos meus beijos!

E os meus gritos de amor, cruzando o espaço,
Sobre os brocados fúlgidos da glória,
São astros que me tombam do regaço!

PERDI OS MEUS FANTÁSTICOS CASTELOS

Perdi meus fantásticos castelos
Como névoa distante que se esfuma...
Quis vencer, quis lutar, quis defendê-los:
Quebrei as minhas lanças uma a uma!

Perdi minhas galeras entre os gelos
Que se afundaram sobre um mar de bruma...
- Tantos escolhos! Quem podia vê-los? –
Deitei-me ao mar e não salvei nenhuma!

Perdi a minha taça, o meu anel,
A minha cota de aço, o meu corcel,
Perdi meu elmo de ouro e pedrarias...

Sobem-me aos lábios súplicas estranhas...
Sobre o meu coração pesam montanhas...
Olho assombrada as minhas mãos vazias...

O TEU OLHAR

Passam no teu olhar nobres cortejos,
Frotas, pendões ao vento sobranceiros,
Lindos versos de antigos romanceiros,
Céus do Oriente, em brasa, como beijos,

Mares onde não cabem teus desejos;
Passam no teu olhar mundos inteiros,
Todo um povo de heróis e marinheiros,
Lanças nuas em rútilos lampejos;

Passam lendas e sonhos e milagres!
Passa a Índia, a visão do Infante em Sagres,
Em centelhas de crença e de certeza!

E ao sentir-se tão grande, ao ver-te assim,
Amor, julgo trazer dentro de mim
Um pedaço da terra portuguesa!

O MAIOR BEM

Este querer-te bem sem me quereres,
Este sofrer por ti constantemente,
Andar atrás de ti sem tu me veres
Faria piedade a toda a gente.

Mesmo a beijar-me a tua boca mente...
Quantos sangrentos beijos de mulheres
Pousa na minha a tua boca ardente,
E quanto engano nos seus vãos dizeres!...

Mas que me importa a mim que me não queiras,
Se esta pena, esta dor, estas canseiras,
Este mísero pungir, árduo e profundo,

Do teu frio desamor, dos teus desdéns,
É, na vida, o mais alto dos meus bens?
É tudo quanto eu tenho neste mundo?

OS MEUS VERSOS

Rasga esses versos que eu te fiz, amor!
Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento,
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,
Que a tempestade os leve aonde for!

Rasga-os na mente, se os souberes de cor,
Que volte ao nada o nada de um momento!
Julguei-me grande pelo sentimento,
E pelo orgulho ainda sou maior!...

Tanto verso já disse o que eu sonhei!
Tantos penaram já o que eu penei!
Asas que passam, todo o mundo as sente...

Rasgas os meus versos... Pobre endoidecida!
Como se um grande amor cá nesta vida
Não fosse o mesmo amor de toda a gente!...

O MEU SONETO

Em atitudes e em ritmos fleugmáticos,
Erguendo as mãos em gestos recolhidos,
Todos brocados fúlgidos, hieráticos,
Em ti andam bailando os meus sentidos...

E os meus olhos serenos, enigmáticos
Meninos que na estrada andam perdidos,
Dolorosos, tristíssimos, extáticos,
São letras de poemas nunca lidos...

As magnólias abertas dos meus dedos
São mistérios, são filtros, são enredos
Que pecados d´amor trazem de rastros...

E a minha boca, a rútila manhã,
Na Via Láctea, lírica, pagã,
A rir desfolha as pétalas dos astros!...
---

Fonte:
ESPANCA, Florbela. A mensageira das violetas: antologia. Seleção e edição de Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 1999. (Pocket).

Antonio Brás Constante (Miss Creve - A Musa dos Escritores (e outras misses))



Outro dia escutei algumas pessoas comentando sobre o Miss universo 2011, onde diziam que havia ficado estranha a sonoridade da junção das palavras “Miss” e “Angola”, visto que a ganhadora do concurso foi a Miss Angolana, a bela Leila Lopes. A partir daí resolvi pesquisar sobre localidades que causassem um efeito similar, o resultado da pesquisa e outras maluquices seguem abaixo para o seu deleite (se não gostar, por favor, reclame... Para sua querida Mãe):

Miss Cabella – Itália, Miss Thupra – Índia, Miss Tragha – Reino Unido, Miss Buraka – Paquistão, Miss Quessy – França, Miss Tura – Rússia, Miss Seul – Coréia do sul e Miss Gana – África.

Além das combinações formadas por locais que existem neste nosso, mais ou menos, redondo mundo, eu também inventei e encontrei na internet outras combinações interessantes:

Miss Plode e Miss Toura – Primeira dupla de candidatas terroristas e suicidas da história de nossa (des) humanidade, que chegaram arrasando literalmente no evento.
Miss Quenta – Candidata considerada como “pé frio” entre as concorrentes.
Miss Sá – Candidata devota e religiosa que tinha muita fé em sua vitória.
Miss Comunga – Concorrente e rival de Miss Sá, totalmente incrédula sobre as chances da rival.
Miss Noba – Patricinha de nariz empinado, chegou ao concurso se achando a bolachinha mais recheada do pacote.
Miss Pera - Candidata que perdeu o táxi e quase perdeu o horário do desfile. Representante das mulheres frutas no concurso.
Miss Corre – Participante com problemas de corrimento nasal.
Miss Correga – Caiu três vezes durante o desfile e botou a culpa no piso, dizendo que estava liso.
Miss Tatela – Também escorregou e acabou caindo da passarela e quebrando o tornozelo.
Miss Craviza – Concorrente Sado masoquista
Miss Peta – Antes de ser candidata trabalhava como bonequinha de vodu.
Miss Creve – Candidata e musa dos escritores no concurso de Miss.
Miss Cuta – Concorrente com problemas nas cordas vocais, de voz baixa, quase inaudível.
Miss Goela – Ao contrário da Miss Cuta, essa candidata falava sempre gritando.
Miss Trepa – Ninfomaníaca que se deu bem em todos os sentidos para poder participar do concurso de Miss.
Miss Frega – Trabalhava como faxineira antes de ser descoberta para participar do concurso de Miss.
Miss Guicha – Única mãe do concurso, que nas horas vagas amamentava a filha recém-nascida com fartura de leite materno.
Miss Miúça, Miss Pecifica, Miss Plica e Miss Clarece – Irmãs quadrigêmeas e concorrentes com os mesmos problemas de entendimento sobre as regras do concurso.
Miss Palha – Concorrente a Miss e fofoqueira de plantão.
Miss Parrama – Candidata espaçosa que queria a passarela todinha só para ela.
Miss Panta – Adorava assustar suas concorrentes com histórias de terror sobre os bastidores do concurso.
Miss Põe – a Candidata mais exibida do desfile
Miss Pressa – Só não foi eleita como oradora oficial do concurso por ser afobada e gostar de falar muito rápido.
Miss Prime – Tagarela que gostava de falar pelos cotovelos. Acabou sendo ela a oradora do desfile.
Miss Preita – Candidata que sempre olhava para trás ao desfilar achando que alguém estava seguindo-a na passarela.
Miss Taciona – Trabalhava antes do concurso como manobrista em um badalado restaurante da capital
Miss Tica – Fez cirurgia para aumentar sua estatura e conseguir participar do concurso de Miss.
Miss Timula – Candidata com problemas de depressão e baixa auto-estima ou alta baixa-estima, ela não soube explicar.
Miss Corraça – Expulsa três vezes de concursos de beleza por ser muito inconveniente e extremamente irritante.
Miss Conde – Candidata extremamente tímida e encabulada.
Miss Panca, Miss Bofeteia e Miss Tapeia – Apanharam muito para conseguir entrar para o concurso de Miss.
Miss Balda – Baladeira de plantão, vive no cheque-especial por conta de suas contas.
Miss Tremece – Considerada como o tipo de concorrente que chega abalando as estruturas do concurso.
Miss Culhamba – Miss metida a engraçada que ficava o tempo todo fazendo piadinhas de si mesma.
Miss Traçalha – Candidata de estilo selvagem e arrasador.
Miss Ericórdia – A Miss mais assustadora, horripilante e tenebrosa do evento.

Por hoje é só, até a próxima semana e que a Miss Trepa ou Miss Sá (ou outra qualquer, dependendo dos gostos de cada um) povoe os sonhos dos amigos e que a Miss Ericórdia agracie os sonhos de todos os chatos que perambulam por aí.

Fonte:
Texto enviado pelo autor

Lino Sapo (Os Nomes das Cidades do Estado da Paraíba em um Conto)


Me adesculpe, minha genti, meu jeito de falar: sou matuto do sertão num sei se apronunciar, o meu nome é PARAÍBA e minha históra vou contá.

Eu nasci lá no CONDADO lá pur trae do MONTE HOREBE, na tá CACHOEIRA DOS INDIOS já nas terra da BARRA DE SANTA ROSA do CONDE o senhor JUAREZ TÁVORA que a nutiça filiz recebe. Minha famía era humilde mai muito bataiadeira. Minha mãe é IGARACY, fia de seu IBIARA lá da tribo JURIPIRANGA pegada com a ITAPORANGA pra cá do canto da ARARA. O meu pai é seu GURJÃO, fio de seu FAGUNDES, um caboco forriado e o mió vaquêro da BARRA DE SÃO MIGUEL, terra de seu CALDA BRANDÃO.

Nasci numa sexta-fêra nu dia de SANTA LUZIA da era que se passô. Dona CONCEIÇÃO foi minha partêra e o meu imbigo ela mermo cortô e vizim do POÇO DANTAS ela bem purlá interrô, era pá SÃO JOSÉ DE ESPINHARAS bom LIVRAMENTO me dá, e pá eu ter BOM SUCESSO em
todo o meu caminhá.

Minha madinha foi DONA INÊS, o padim seu DAMIÃO eles era um casal muito filiz, que morava lá na VÁRZEA por trai da SERRA DA RAIZ. Na vida fui um aprendiz de oiça pu ripitição, amansava burro brabo, matava cascavé cua mão, uma micova de mato na inxada tirava sem reclamação, mai da cartia do ABC nunca tirei uma lição. Inté istudei com os fios do patrão NAZAREZINHO e JUAREZINHO que era o orgúiu du prufessô. O bom veinho seu ASSUNÇÃO um PAULISTA que pressas bandas debandô.

Eu inté mi esfucei mai nun teve jeito não, assuletrar e escrivaniar num era minha vocação. Eu gostava das MONTADAS e era um MONTEIRO danado, um furustento que pegava GADO BRAVO, que na MATURÉIA era um tatu, torava MATO GROSSO nos peito: MASSARANDUBA, MULUNGU. Trazia o bicho piado com JUNCO DO SERIDÓ, butava no CURRAL DE CIMA do lado da capelinha de SÃO MIGUEL DE TAIPÚ.

Na friguisia eu era afamado pru via da dispusição, nuvia braba eu pegava e SAPÉ cava no chão e qualquer PICUÍ eu arresuvia na região. Na fazenda BREJO DO CRUZ tinha um tôro espiritado dava carrêra em gente honesta, gente véia e nos safados. Eu tinha visto bezerrinho o tôro por nome BELÉM que era fio de um tôro de papai, o tôro GURINHEM, mai cumigo num tinha nhêm nhêm junto cum meu parceiro o fio de seu JOCA CLAUDINO, amigo desde minino, o SANTANA DOS GARROTES, também chamado “Santarém”. Peguêmo o barbatão na mata, que parecia um PITIMBU, dava coice e chifrada e urrava como um JACARÁU. adispoi desse dia meu sucesso foi apruvado cuma a luz, tinha sido eu o caba que pegô e trôxe bem trazido BELÉM DO BREJO DO CRUZ. Afinal eu só pudia sê benzido, poi tinha sido batizado por FREI MARTINHO que morava lá nas Europa no castelo de Queluz.

Mai um dia minha dispusição caiu pelo LASTRO num amanhecê quando eu me apaixonei por ZABELÊ. Ela era uma caboca lazarina abunitada de tirar o SOSSEGO de qualquer um que ela cunhecê. Era fia única de seu BAYEUX com dona APARECIDA e moravam lá na BARRA DE SANTANA seguino essa decida, adispois do CURRAL VELHO, mermo de frente da SANTA CRUZ da capelinha de SÃO JOSÉ DO BREJO DO CRUZ morava a minha quirida. Era uma donzela trabaiadeira, arava, prantava, cuía, mai gustava mermu era de PILAR em seus PILÕES. tinha um ciúme amuado dos seus PILÕESZINHOS, nem se astrevesse a no bicho incustar sem seu cuncentimentos, poi levava logo uns belicões. Essa muleca fez uma COXIXOLA no meu curação, era um querê bem tão da mulesta que fez uma ALHANDRA no meu peito da muli INGÁ que dá pra vê a inchação.

Foi num dia anubraiado que tive uma BOA VENTURA numas andança entre as CAJAZEIRAS, foi pur lá que avistie aquele anjo madornando debaixo de um UMBUZEIRO adispoi da brincadêra. A gabaneta chegava a sê a fulô mai bunita e cheirosa das fulores daquela CAMPINA GRANDE. Meus óio se acatitaram pareciam duas PEDRAS DE FOGO im riba duma chapa de frande. Só pode ser uma avisajamento uma belezação dessa. Foi cuma um tiro de budoque que me acertô o curação às pressa. E nu silênço de minha matutagem uma oração prupusera, meu SÃO SEBASTIÃO DO UMBUZEIRO, minha SANTA HELENA de SÃO JOÃO DO TIGRE, me ajude a cunquistar a fera.

Essa foi a muié mai NOVA OLINDA que já avistei. Daquele dia pradante ela passou AGUIAR meu pisá por essas DUAS ESTRADAS que desbravei, a do amô e a do trabaiá do jeitinho que matutei. Tudo mudô adispois dessa PASSAGEM na BORBOREMA da minha vida, quando meus óio essa ITABAIANA visuô istendida. Tirei o meu chapé um bom dia adesejei. Magine que pur todas santa do céu: SANTA RITA, SANTA CECÍLIA e SANTA INÊS, JURU pur SÃO FRANCISCO cuma ela disse olá que quase dismaei. Eu muito acontentei e grato fiquei, o burrim esporei, sai cortando o vento: AROEIRAS, BANANEIRAS, CABACEIRAS, CARRAPATEIRA levei nos peito e nem notei. Saí aLUCENAdo e fui guiado pelo amô e numa NOVA FLORESTA o bicho estancô, despetei, quando oiêi num vi mai as CAJAZEIRINHAS, nem onde meu SERTÃOZINHO ficô.

Medo eu num tive tava gustano da lesêra, ainda tinha a VISTA SERRANA pur trae de uma palmêra, apeiei de MOJEIRO e amarrei numa NOVA PALMEIRA, ficô comendo aquele CAPIM isverdiado que achava debaixo da CATINGUEIRA. Sonhando me adeitei na AREIA DE BARAÚNA à sombra de uma CARAÚBAS, sonhei e sonhei com os óio ainda aboticados embriagado de paxão alembrando daquela UIRAÚNA.

Na MATARACA da sina asto dia nóis se encontrô, num festejo de SÃO JOSÉ DO SABUGI no CAMPO DE SANTANA, nossas vida se achô. Foi lá debaixo do SOBRADO do LOGRADOURO de seu PEDRO RÉGIO, que uma ARARUNA nóis dançô, seu óio espiava eu, os meus espiava ela, só num dancemo um CONGO pruque a GUARABIRA cansô.

Na madurecença da noite ela oiou-me dentro dos óio BONITO DE SANTA FÉ e como uma minina cheia de ESPERANÇA preguntô ITAPOROROCA mente se a ela queria pu muié. A espiei como um CAIÇARA e falei sem medo de errar, se a quero? Eu quero mai que isso, o que sinto pur vós me cê “tacima” de qualquer maginar. PUXINANÃ que coisa mai boa, meus óio se encheu d`água igual o RIACHO DE SANTO ANTÔNIO quando a invernia intôa, inda mai quando ela cuchichou em minhas oiças que SÃO JOSÉ DE PRINCESA era seu prutetor, pruvéra!!! só pudia ser ele mermo, sapequei no mermo istante, e o meu é SÃO JOSÉ DO BONFIM, o meu santo guardador.

Foi um namoro da mulinga com uns apertado danado, uns cheiro, uns cafuné, um andado impariado, um PARARI, um parará, e dois juramento por minuto de pru ano ser casado, parecia o sol e lua quando tão se eclipado. E o disfeixe do casório só depende de SÃO JOSÉ DOS RAMOS essa união ter abençuado.

Seu VIERÓPOLIS e dona MARIZÓPOLIS num tirava o óio do nosso chamêgo, foi quando peguei cum OLIVEDOS uma CUITÉ DE MAMANGUAPE e enchi o meu ALCANTIL pur detrái de um burrego. Enquanto goleava a bebida alisava o vestido da minha SOLÂNEA de ALGODÃO DE JANDAIRA e seu longo CABEDELO sedoso de óleo de coco CATOLÉ DO ROCHA cherano a copaiba.

Prumode minha pubreza maus oiado despertou, um caboco aprobraiado namorano aquela fulô, quando BERNADINO BATISTA viu gritô: SÃO JOSE DE PIRANHAS, num acredito no que vejo, esse CAAPORÃ bufento e fedorento ta cum essa sinhora. O cariri num pode aceita essa infiliz união, a partir de hoje vô fazê a MARCAÇÃO e CUBATI de perto pra vê sua ação. SÃO JOÃO DO CARIRI há de cumigo concordá, SÃO DOMINGO DO CARIRI é de desaprovar e de ajudar no DESTERRO dessa terríve paxão.

Num pude acriditar em tudo que uvia, seu SOUZA baixô a cabeça percebi que se incuía. Minha PRATA oiô pra mim com as buchecha corada da vergonha que sintia, saiu devagarzim e nem percebeu que eu me adispidia.

Aquele CASSERENGUE danado tinha tirado minha amada. Foi embora meu AMPARO e todo mundo viu, nessa PIRPIRITUBA do destino nem disse adeus e partiu.

Seu CATURITÉ me chamô baixim e disse com precupação, “meu fio, vá simbora num espere coisa rim não. Esqueça essa caboca e dê um fora daqui, vá lá pra TEIXEIRA na fazenda CUITEGI, conte a ele o acuntecido, diga que fosse mandado pur mim”. Voltei pra meu casebre, minha singela TAPEROÁ, a lamparina acendi, armei a rede e fiquei a balançá. SUMÉ lembrando dela e minha SOLEDADE a aumentá.

Meu DIAMANTE foi forçada de disgosto a me abadoná, foi morá com os TAVARES, MANAÍRA vei me contá, contou tintim por tintim chega meu curação churamigou. Ternotonte ela si riu cum os prosiado que balbuciei lá no POÇO DE JOSÉ DE MOURA na hora que a cunvidei, os óim de QUIXABA arriba daquela boquinha que beijá sonhei. Cuma posso isquecer daquela santa IMACULADA que deixô a morada do céu, de aparença acabocada que era cagada e cuspida a nossa libertadora PRINCESA ISABEL.

Matutei uma sumana cuma devia pruceder, o peito chiava de querê bem eu tava sem querê vivê. Adispois de muito pensá risuvi ir bataiá a minha fulô de vorta, bebê umas lapada pra essa dô passá. Um banhe resolvi tumá, dei uns tibugo no RIACHO DOS CAVALOS e enveredei pra budega de seu TENÓRIO pra mode se alegrá. Tumei logo um MAMANGUAPE de cana sozinho a se reclamá, nos pé da estátua de SÃO MAMEDE cumecei a me cunfessá, foi quando o budegueiro me alertô que meu rivá quiria me acabá, dizeno:

ITATUBA tá cavada e sete palmo ela mede pra te interrá. Fiquei tremilicando morrendo de PIANCÓ, as perna ficô pesada a garganta deu um nó.

Voltei de imediato trupicano no mêi do camim, aqui aculá uma parada, e no quengo as lembrança dos dizido do butequim. Uma rezada pra SÃO JOSÉ DE CAIANA pra me prutegê de caba rim. Entrei nas MATINHAS fechada pur dênto do ARAÇAGI e caminhei disisperado sem nem pensá no fim. Dispois de umas vinte légua, deitado eu adormeci debaixo de um SERIDÓ, o sol bateno na cara pur causa da pôca sombra que tinha os cipó.

Cum canto de uma curuja acordei no ôtro dia, a boca tava seca e as tripa chega rugia. Precurei um pôco d’água naquela sertania, tava tonto de sede, a boca chega ardia. Dispois de uma boa precura uma LAGOA SECA achei, as pressa cum as mão umas CACIMBAS cavei, um OLHO D’ÁGUA aflorô,foi aflorano, aflorano inté que uns POCINHOS se formô e mermo baldiada eu tumei.

A água foi aumentando ALAGOA GRANDE ficô. Quando espiei cum os óio acatitado, as água no juêio de repente chegô. Abri sem demora o BOGUEIRÂO, SÃO JOSÉ DA LAGOA TAPADA, me salve desse trumento, me tire da LAGOA que já tá um RIACHÃO. Essa bexiga tabóca que se transformô do RIACHÃO DO POÇO que da CACIMBA DE DENTRO uma ÁGUA BRANCA afloro, e na CACIMBA DE AREIA uma ALAGOA NOVA ficô. Valei-me meu SÃO SEBASTIÃO DE LAGOA DE ROÇA, minha SANTA TEREZINHA, meu prutetô SÃO DOMINGO DE POMBAL, me tire ligêro dessALAGOINHA. Num posso acriditá que pru mode uma CUITÉ d’água afogado vô batê da passarinha. Prumeto, SÃO BENTINHO, que se dessa eu saí, vô acendê trezentas velas para “São Bento de Pombal”, e nunca mai eu vô robá SALGADINHO e nem SALGADO DE SÃO FÉLIX e cumê no capinzal.
Puramô de Deus, meu SANTO ANDRÉ, num me dêxe esmurecê nesse CAMALAÚ, e sê aterrado nesse lamaçal.

Graças a meu BOM JESUS e a SÃO JOÃO DO RIO DO PEIXE, num pé de BARAÚNA me agarrei. As água tava danada e a árvure arrancô, saindo desembestada inté que no BREJO DOS SANTOS chegô. Tive logo uma BOA VISTA, uma PEDRA LAVRADA avistei, meus pé sentiu AREIA muito contente pisei.

Oiano direitim me orientá tentei, virei três bunda canascas e no AREIAL me espichei, o sol bateu na fuça e numa PEDRA BRANCA me sentei, oiêi pru poente uma SERRA GRANDE parecia, era uma SERRA REDONDA que de longe a SERRA BRANCA se via. A vista tava imbaçada num sei se só uma serra era, ou se era uma SERRARIA.

Graças a SÃO JOSE DOS CORDEIROS, dessa tombém iscapei, na vorta pra minha morada na tribo COREMAS passei, desconfiado, cabreiro, mai cum eles almocei, comi quase metade das EMAS, e meus pobrêma nem contei.

Chegano nu meu rancho, meu JERICÓ selei, minha faca dos dois lado amolei, o meu veioo bacamarte cum chumbo grosso carreguei, a garruncha butei na cinta dispois que desinferrugei. Na LAGOA DE DENTRO tirei sete PATOS que tinha, e cum a pruteção de SÃO BENTO vendi a SANTANA DE MANGUEIRA por uma pipita de OURO VELHO e uma cuia de farinha.

Minha maloca que meus fiinho desejei nascê e junto da minha fulô nóis vê eles crescê. Num foi, vou colocar fogo pra inté as lembrança que me MALTA ta desaparecê. Abri a gaiola do meu POMBAL pra livres elas avuar, e nos cinzeiro dessas QUEIMADAS eu mim a resgatá.

Esporei meu jumento sem oiá nem pá trai, atravessemo o RIO TINTO inté ai tudo im paiz. Na atravessada da BAIA DA TRAIÇÃO encontrei o cumpade JOÃO PESSOA de muita valia: “ cumpade, me faça uma fineza! diga aquele fio da besta ruzia que vô cortá do sertã ao litorá, mai um dia nóis vai se encuntrá. E o rôbo da minha caboca lazarina ele vai me pagá, e nem que a MÃE D’ ÁGUA me peça, aquele caba da peste vô pegá. O meu TRIUNFO de certeza ele pode esperá, se ele se escondê eu pelo rasto vô achá, e na CRUZ DO ESPÍRITO SANTO aquele peste vô pregá, se ele morrê antes, NATUBA dele vô mijá e REMÍGIO dez mil vez pra ele aprendê a respeitá.

Se ele se acha puderoso tombém tenho minha valia, NEGO ser obediente mermo minha vida tano preta e vermêia numa enorme MARI zia, é que sô rio de água rasas, sô ruim e de impraticável travessia. Dizido isso, sentei a espora no jegue que a puêra acompanhô, na passada do RIACHÃO DO BACAMARTE apertei o dedo no gatilho que o pipôco estorô, é o anúnço da liberdade e da partida dum sê trabaiador, humilde, corajoso e peseveradô inchamiado de AMÔ.

(Em homenagem e respeito a todos os municípios que compõem esse magnífico estado que é a PARAÍBA).

Conto poético de LINOSAPO ( Andrelino da silva)

15/09/2011
Cachoeira do Sapo/RN

Fonte:
O Autor

Olavo Bilac (Alma Inquieta: poesias) Parte 5



ESTÂNCIAS

I

Ah! finda o inverno! adeus, noites, breve esquecidas,
Junto ao fogo, com as mãos estreitamente unidas!
Abracemo-nos muito! adeus! um beijo ainda!
Prediz-me o coração que é o nosso amor que finda,
Há de em breve sorrir a primavera. Em breve,
Branca, aos beijos do sol, há de fundir-se a neve.
E, na festa nupcial das almas e das flores
Quando tudo acordar para os novos amores,
Meu amor! haverá dois lugares vazios...
Tu tão longe de mim! e ambos, mudos e frios,
Procurando esquecer os beijos que trocamos,
E maldizendo o tempo em que nos adoramos...

II

Mas, às vezes, sozinha, hás de tremer, o vulto
De um fantasma entrevendo, em tua alcova oculto.
E pelo corpo todo, a ofegar de desejo,
Pálida, sentirás a carícia de um beijo.
Sentirás o calor da minha boca ansiosa,
Na água que te banhar a carne cor-de-rosa,
No linho do lençol que te roçar o peito.
E hás de crer que sou eu que procuro o teu leito,
E hás de crer que sou eu que procuro a tua alma!
E abrirás a janela... E, pela noite calma,
Ouvirás minha voz no barulho dos ramos,
E bendirás o tempo em que nos adoramos...

III

E eu, errante, através das paixões, hei de, um dia,
Volver o olhar atrás, para a estrada sombria.
Talvez uma saudade, um dia, inesperada,
Me punja o coração, como uma punhalada.
E agitarei no vácuo as mãos, e um beijo ardente
Há de subir-me à boca: e o beijo e as mãos somente
Hão de o vácuo encontrar, sem te encontrar, querida!
E, como tu, também me acharei só na vida,
Só! sem o teu amor e a tua formosura:
E chorarei então a minha desventura,
Ouvindo a tua voz no barulho dos ramos,
E bendizendo o tempo em que nos adoramos...

IV

Renascei, revivei, árvores sussurantes!
Todas as asas vão partir, loucas e errantes,
A ruflar, a ruflar... O amor é um passarinho:
Deixemo-lo partir: - desertemos o ninho...
A primavera vem. Vai-se o inverno. Que importa
Que a primavera encontre esta ventura morta?
Que importa que o esplendor do universal noivado
Venha este noivo achar da noiva separado?
Esqueçamos o amor que julgamos eterno...
- Dia que iluminaste os meus dias de inverno!
Esqueçamos o ardor dos beijos que trocamos,
Maldigamos o tempo em que nos adoramos...

PECADOR

Este é o altivo pecador sereno,
Que os soluços afoga na garganta,
E, calmamente, o copo de veneno
Aos lábios frios sem tremer levanta.

Tonto, no escuro pantanal terreno
Rolou. E, ao cabo de torpeza tanta,
Nem assim, miserável e pequeno,
Com tão grandes remorsos se quebranta.

Fecha a vergonha e as lágrimas consigo...
E, o coração mordendo impenitente,
E, o coração rasgando castigado,

Aceita a enormidade do castigo,
Com a mesma face com que antigamente
Aceitava a delícia do pecado.

REI DESTRONADO

O teu lugar vazio!... E esteve cheio,
Cheio de mocidade e de ternura!
Como brilhava a tua formosura!
Que luz divina te dourava o seio!

Quando a camisa tépida despias,
- Sob o reflexo do cabelo louro,
De pé, na alcova, ardias e fulgias
Como um ídolo de ouro.

Que fundo o fogo do primeiro beijo,
Que eu te arrancava ao lábio recendente!
Morria o meu desejo... outro desejo
Nascia mais ardente.

Domada a febre, lânguida, em meus braços
Dormias, sobre os linhos revolvidos,
Inda cheios dos últimos gemidos,
Inda quentes dos últimos abraços...

Tudo quanto eu pedira e ambicionara,
Tudo meus dedos e meus olhos calmos
Gozavam satisfeitos nos seis palmos
De tua carne saborosa e clara:

Reino perdido! glória dissipada
Tão loucamente! A alcova está deserta,
Mas inda com o teu cheiro perfumada,
Do teu fulgor coberta...



Este, que um deus cruel arremessou à vida,
Marcando-o com o sinal da sua maldição,
- Este desabrochou como a erva má, nascida
Apenas para aos pés ser calcada no chão.

De motejo em motejo arrasta a alma ferida...
Sem constância no amor, dentro do coração
Sente, crespa, crescer a selva retorcida
Dos pensamentos maus, filhos da solidão.

Longos dias sem sol! noites de eterno luto!
Alma cega, perdida à toa no caminho!
Roto casco de nau, desprezado no mar!

E, árvore, acabará sem nunca dar um fruto;
E, homem, há de morrer como viveu: sozinho!
Sem ar! sem luz! sem Deus! sem fé! sem pão! sem lar!

A UM VIOLINISTA

Quando do teu violino, as asas entreabrindo
Mansamente no espaço , iam-se as notas quérulas,
Anjos de olhos azuis, às duas mãos partindo
Os seus cofres de pérolas,

- Minhas crenças de amor, esquecidas em calma
No fundo da memória, ouvindo-as recebiam
Novo alento, e outra vez do oceano de minh’alma,
Arquipélago verde, à tona apareciam.

E eu via rutilar o meu amor perdido,
Belo, de nova luz e novo encanto cheio,
E um corpo, que supunha há muito consumido,
Agitar-se de novo e oferecer-me o seio.

Tudo ressuscitava ao teu influxo, artista!
E minh’alma revia, alucinada e louca,
Olhos, cujo fulgor me entontecia a vista,
Lábios, cujo sabor me entontecia a boca.

Oh milagre! E, feliz, ajoelhava-me, em pranto,
Como quem, por acaso, um dia, entrando as portas
De um cemitério, vai achar vivas a um canto
As suas ilusões que acreditava mortas,

E ficava a pensar... como se não partir
Essa fraca madeira ao teu toque violento,
Quando com tanta febre a paixão se estorcia
Dentro do pequenino e frágil instrumento!

Porque, nesse instrumento, unidos num só peito,
Todos os corações da terra palpitavam;
E havia dentro dele, em lágrimas desfeito,
O amor universal de todos os que amavam.

Rio largo de sons, tapetado de flores,
A harmonia do céu jorrava ampla e sonora;
E, boiando e cantando, alegrias e dores
Iam corrente em fora...

A Primavera rindo esfolhava as capelas,
E entornava no chão as ânforas cheirosas:
E a canção acordava as rosas e as estrelas,
E enchia de desejo as estrelas e as rosas.

E a água verde do mar, e a água fresca dos rios,
E as ilhas de esmeralda, e o céu resplandecente,
E a cordilheira, e o vale, e os matagais sombrios,
Crespos, e a rocha bruta exposta ao sol ardente:

- Tudo, ouvindo essa voz, tudo cantava e amava!
O amor, caudal de fogo atropelada e acesa,
Entrava pelo sangue e pela seiva entrava,
E ia de corpo em corpo enchendo a Natureza!

E ei-lo triste, no chão, inanimado e frio,
O teu pobre violino, o teu amor primeiro:
E inda nas cordas há, como um leve arrepio,
A última vibração do arpejo derradeiro...

Como, ígneas e imortais, num redemoinho insano,
Longe, a torvelinhar em céus inacessíveis,
Pairam constelações virgens do olhar humano,
Nebulosas sem fim de mundos invisíveis:

- Assim no teu violino, artista! adormecido
À espera do teu arco, em grupos vaporosos,
Dorme, como num céu que não alcança o ouvido,
Um mundo interior de sons misteriosos...

Suspendam-me ao ar livre esse doce instrumento!
Deixem-no ao sol, em glória, em delirante festa!
E ele se embeberá dos perfumes que o vento
Traz dos frescos desvãos do vale e da floresta.

Os pássaros virão tecer nele os seus ninhos!
As rosas se abrirão em suas cordas rotas!
E ele derramará sobre os verdes caminhos
Da antiga melodia as esquecidas notas!

Hão de as aves cantar, hão de cantar as flores...
Os astros sorrirão de amor na imensa esfera...
E a terra acordará para os novos amores
De nova primavera!

II

Porque, como Terpandro acrescentou à lira,
Para a tornar mais doce, uma corda mais pura,
Que é a corda onde a paixão desprezada suspira,
E, em lágrimas, a arder, suspira a desventura;

Também desse instrumento às quatro cordas de ouro
O Desespero, o Amor, a Cólera, a Piedade,
- Tu, nobre alma, chorando acrescentaste o choro
Eterno e a eterna dor da corda da Saudade.

É saudade o que sinto, e me enche de ais a boca,
E me arrebata o sonho, e os nervos me fustiga,
Quando te ouço tocar: saudade ansiosa e louca
Do primitivo amor e da beleza antiga...

Para trás! para trás! Basta um simples arpejo,
Basta uma nota só... Todo o espaço estremece:
E, dando aos pés do amado o derradeiro beijo
Quase morta de dor, Madalena aparece...

Ao luar de Verona, a amorosa cabeça
De Julieta desmaia entre os braços do amante:
Não tarda que a alvorada em fogo resplandeça,
E na devesa em flor a cotovia cante...
Viúva triste, que à paz do claustro pede alívio,
Para a sua viuvez, para o seu luto imenso,
Branca, sob o livor do escapulário níveo,
Heloísa ergue as mãos, numa nuvem de incenso...

E na suave espiral das melodias puras,
Vão fugindo, fugindo os vultos infelizes,
Mostrando ao meu amor as suas amarguras,
Mostrando ao meu olhar as suas cicatrizes.

Canta! o rio de sons que do seio de brota
E, entre os parcéis da dor, corre, cascateando,
E vai, de vaga em vaga, e vai, de nota em nota,
Ao sabor da corrente os sonhos arrastando;

Que pelo vale espalha a cabeleira inquieta,
Refrescando os rosais, e, em leve burburinho,
Um gracejo segreda a cada borboleta,
E segreda um queixume a cada passarinho;

Que a todo o desconforto e a todo o sofrimento
Abre maternalmente o regaço das águas,
- É o rio perfumado e azul do Esquecimento,
Onde se vão banhar todas as minhas mágoas...

EM UMA TARDE DE OUTONO

Outono. Em frente ao mar. Escancaro as janelas
Sobre o jardim calado, e as águas miro, absorto.
Outono... Rodopiando, as folhas amarelas
Rolam, caem. Viuvez, velhice, desconforto...

Por que, belo navio, ao clarão das estrelas,
Visitaste este mar inabitado e morto,
Se logo, ao vir do vento, abriste ao vento as velas,
Se logo, ao ir da luz, abandonaste o porto?

A água cantou. Rodeava, aos beijos, os teus flancos
A espuma, desmanchada em riso e flocos brancos...
- Mas chegaste com a noite, e fugiste com o sol!
E eu olho o céu deserto, e vejo o oceano triste,
E contemplo o lugar por onde te sumiste,
Banhado no clarão nascente do arrebol..
---

Fonte:
BILAC, Olavo. Antologia : Poesias. São Paulo : Martin Claret, 2002. Alma Inquieta. (Coleção a obra-prima de cada autor). Digitalizado por Anamaria Grunfeld Villaça Koch – São Paulo/SP

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 352)


Uma Trova Nacional

Meu sonho quero viver
antes que o tempo, covarde,
mostre, ao ver-me envelhecer,
que, para mim, ficou tarde!...
–TEREZA COSTA VAL/MG–

Uma Trova Potiguar

Por tua porta fingida
entrou minha alma indefesa
em um beco sem saída,
onde até hoje está presa
–CLARINDO BATISTA/RN–

Uma Trova Premiada

2011 - ATRN-Natal/RN
Tema: VERTENTE - 11º Lugar

Represando a dor da mágoa
que pranteia meu desgosto,
dos olhos, vertentes de água
deslizam pelo meu rosto...
–ANALICE FEITOZA DE LIMA/SP–

Uma Trova de Ademar

Uma fé que não se abala,
dai-me, Senhor, sem medida,
para eu poder semeá-la
pelos roçados da vida.
–ADEMAR MACEDO/RN–

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..E Suas Trovas Ficaram

Com a saudade a nosso lado,
há um mistério que revolta
- a gente volta ao passado,
mas o passado não volta...
–ALCY RIBEIRO S. MAIOR/RJ–

Simplesmente Poesia

Imutável
–HERMOCLYDES S. FRANCO/RJ–


Caiam pétalas de rosas
brancas, rubras, amarelas,
sobre os teus louros cabelos...

E o orvalho das noites frias
- sereno das madrugadas -
sobre o teu vulto tranquilo...

Caiam as bençãos de Deus
e o cantar dos querubins,
sobre o teu ser temporal...

Caiam meus olhos, inquietos,
e os meus sonhos mais complexos,
em tua alma acolhedora...

A beleza de que és feita,
permanecerá intacta,
perturbadora... Imutável!...

Estrofe do Dia

Viajando pra o sertão um belo dia
vi na beira da estrada uma tapera,
e para o meu entender ela queria
me contar a sua vida como era :
Eu fui feita de barro, sem cimento
e hoje vivo a mercê da chuva e vento
sem porta, sem ferrolho e sem tramela;
e diga a quem passar por essa estrada...
Toda casa de taipa abandonada,
guarda um grito de fome dentro dela!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

Meu Sonetear
–DEDÉ MONTEIRO/PB–


Não soneteio tão bem como dizes
mas quando o faço, quando soneteio
faço-o ansioso por deixar felizes
almas que sonham sem qualquer receio.

Faço-o seguindo as mesmas diretrizes
de alguém que pisa num plantio alheio
cheio de brotos, cheio de raízes
e um espantalho a vigiar no meio.

Esse plantio são os dois quartetos
que, atravessados, juntam-se aos tercetos,
campo minado não cruzado ainda.

Se cruzo intacto, sem que nada exploda,
minha alegria se esparrama toda
e eu mesmo aplaudo a minha peça finda.

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