sábado, 12 de novembro de 2011

Zulmira Ribeiro Tavares (Jóias de Família)


Análise por Ana Paula Pacheco

Em Jóias de Família (1990), a escritora Zulmira Ribeiro Tavares toma como metáfora da construção da tradição familiar a história arquitetada por um juiz em torno de um anel de rubi dado de presente de noivado à sua futura esposa. O referido anel passa a emblematizar o futuro núcleo familiar que ora começa a se formar. A família Munhoz passa a se identificar na jóia e a ser identificada socialmente por ela. Vemos, portanto, que as tradições (principalmente as tradições familiares) são construções que garantem a continuidade do grupo. Continuidade essa possibilitada pela memória e seus objetos. No caso do romance em questão esses objetos são corporificados, essencialmente, no rubi e em um cisne de Murano, ostentados pela família desde seu princípio. Em suma: as tradições são como as jóias de família, que passam de geração a geração, cercadas de histórias.

Como podemos perceber, a narrativa possui como foco a jóia, o “legítimo rubi sangue-de-pombo”, sendo que todos os personagens e o enredo se tecem e centram em torno da importância e significado da jóia.

Logo no inicio do livro, é clara a criação da ilusão, do engano, da teatralidade, quando é apresentada a personagem protagonista Maria Bráulia, dona do anel rubi sangue-de-pombo que ganhou do juiz Munhoz no dia de seu noivado como presente. Maria Bráulia é apresentada como sendo idosa, mas de idade não definida. Esta personagem apresenta dois rostos: um “rosto particular” e um “rosto social”, vivenciando o mundo como palco.

A narrativa se inicia, no tempo presente, com o encontro de Maria Bráulia com Julião Munhoz, em ocasião de um almoço em sua casa. Devido à insistência de seu sobrinho-secretário para que a tia mandasse suas jóias para que fossem avaliadas, Maria Bráulia sugere que tal avaliação comece pelo seu anel rubi-sangue-de-pombo. Tal passagem pode ser exemplificada no trecho que se segue:

Depois de meses de insistência, de amolação mesmo, reconhecia – finalmente a tia havia concordado na semana passada que fosse feita uma avaliação criteriosa de todas as suas jóias, aos poucos (…) E a tia por fim o deixara profundamente emocionado quando lhe havia ainda dito inesperadamente quase na hora de se separarem: Vamos começar pelo meu rubi sangue-de-pombo. Acho que é o que tenho de mais precioso.

O sobrinho revela à sua tia, através da exposição do resultado da avaliação realizada por um joalheiro de renome, que a jóia é falsa. A tia não concorda e fica exaltada mas, por fim, ignora a informação. “Com esse jogo, esquiva-se da ganância do sobrinho e, sem sentimento de culpa ou frustração, teatralmente goza as memórias, falsas ou verdadeiras, que tece para os outros.”

A estrutura do romance se forma como uma imensa metáfora a todas as falências.

A primeira dessas falências é econômica. Zulmira narra a vida de Maria Bráulia Munhoz. Filha de uma família rica, ainda moça, nos anos 1930, casa com um respeitado juiz de direito. Na velhice, viúva e sem filhos, vive do aluguel de alguns imóveis. Embora longe da riqueza de sua mocidade, mantém todos os rituais que a fortuna a ensinou.

Segue-se uma falência moral. Toda vida de Bráulia foi escudada em conceitos rígidos, mas que ao longo da narrativa vão sendo apagados, anulados pela seqüência de fatos que revelam intensas imposturas. Ela mesma vai compreendendo todo esse estranho mecanismo e, claro, se moldando a ele de maneira até cínica. Não abre mão da impostura, pois compreende o quanto ela é necessária para sua sobrevivência como gente. Afinal, precisa manter algumas ilhas de respeito, como a subserviência de Maria Preta.

Só que este respeito é também falido, pois nasce de necessidades mais profundas. Maria a respeita por um certo hábito, enquanto Julião, o sobrinho do juiz Munhoz que deixa o jornalismo para cuidar dos negócios de Bráulia - a tia Brau -, pauta-se pela esperança de uma gorda herança. Sonhando-se muito vivo, ele desconhece toda falsidade daquele mundo familiar. A própria virtude tão cultuada de Bráulia está maculada por seu enigmático envolvimento com o joalheiro Marcel, um francês descendente de português que constrói - ele também - uma biografia escudada numa falsa santidade.

Apesar de todos os pesares, Bráulia mantém seus ritos. Sempre lava as pontas dos dedos em água de pétalas de rosas, respeita o horário da sesta, guarda as jóias em cofre, preserva a memória de uma família mesmo conhecendo o quanto de falsidade e falência há nisso tudo. Mas cada gesto deve ser recorrentemente realizado. E novamente surge a necessidade da sobrevivência e do sentido para a vida. Ela - a vida - foi toda construída sobre as falências e não há mais como mudá-la.

Um mundo envelhecido. Este é o ambiente em que vive a protagonista. Tudo é denso e escuro. Mesmo as felicidades - inexistentes no presente - quando chegam vêm conduzidas pelas lembranças falsificadas, o que desnuda a verdade das alegrias. E embora tudo isso se passe em São Paulo, sob o mundo crescido com os pés de café, tudo se traduz em universalidade. Zulmira conta a saga de Bráulia buscando entender e denunciar o legado de hipocrisias das grandes famílias ocidentais.

Assim as jóias falsas guardadas nos cofres servem como metáfora para as falências daquele mundo. Foram anos em que o discurso da dignidade do trabalho escondeu a prática do ócio, a defesa dos gestos humanitários encobriu a ação autoritária e preconceituosa, a riqueza aparente encobriu o ouro escurecido, o sofá puído, as cortinas empoeiradas. Tudo foi consumido pelo tempo, até a pele sedosa de Bráulia, mas mesmo este fato ela encobre com o excesso de cremes e maquiagem.

No entanto, em Jóias de família nada é explícito, claro. Zulmira age como um pintor expressionista, deforma as imagens, cria enigmas como a presença do cisne de Murano. Aliás, tudo isso se resume de maneira brilhante no breve capítulo final. Ele consegue instigar ainda mais a leitura, pois salienta a necessidade de se olhar esse mudo por mais tempo que o necessário para a leitura de um breve romance.

Jóias de família afasta-se do quadro da ficção brutalista e da ficção marginal mais significativa, representando o todo social a partir de outro ponto de vista. A novela faz das encenações da elite paulistana sua matéria, elegendo centralmente o foco de uma mulher que aprendeu a se valer das falsas aparências,vigentes em seu meio. Avizinha-se, em linha de continuidade, também da prosa machadiana, de um ângulo relativamente novo, que é o da mulher rica, ou de família rica, agarrada às ruínas do antigo patrimônio.

A identidade de Maria Bráulia Munhoz é desvendada ao leitor por meio de uma intrincada trama envolvendo falseamento e autenticidade de um anel de noivado, que ocupa o centro do enredo. A réplica da gema valiosíssima guardada no cofre esconde um casamento de aparências e duplica outra gema igualmente falsa, a “original”, no fundo a mesma — a duplicação é mágica feita pelo noivo de extração social mais baixa, para impressionar a família da noiva. Acompanhando sucessivas peripécias, seguimos as perplexidades da moça, que entretanto aprende com o tempo a se adaptar muito bem às circunstâncias.

Vamos citar algumas das peripécias centrais, para que tenhamos em mente o andamento movimentado do enredo: perda da réplica, descoberta de que esta é tão perfeita que fez Bráulia confundir-se e perder, na verdade, a original; percepção de que seu marido, o juiz Munhoz, é amante do secretário particular; paixão entre o novo joalheiro, levado à casa pelo marido, e Maria Bráulia; desvendamento do segredo das jóias pelo joalheiro, que presenteia a matriarca com um (finalmente) verdadeiro rubi; anos depois, interesse do sobrinho pelas jóias da tia; reprodução, por parte dela, do jogo de aparências (novamente a trama das pedras verdadeiras e falsas) para livrar-se do interesseiro.

A movimentação assemelha-se à da narrativa de entretenimento, embasada em muitas peripécias e algum suspense, mas ganha força por articular-se à revelação do modo de ser de uma classe. Em alguma medida, a leveza, para leitura, da narrativa policialesca torna-se uma maneira adequada de penetrar num círculo de relações em que quase tudo é aparência, e a aparência, uma verdade social. A metáfora que serve de eixo ao livro é, a propósito, a de um cisne de Murano sobre um lago, enfeite de mesa na sala de jantar. O lago tem a profundidade enganosa do espelho e, nele, Narciso não se afoga.

O desmascaramento acontece e traz algum fundo autêntico (Maria Bráulia passa a amar Marcel, o joalheiro, o juiz Munhoz será até o fim da vida companheiro de seu secretário), mas converge afinal com a superfície das conveniências sociais (o casamento deve permanecer, e a mentira é seu acordo tácito; tia Bráulia deve fingir não perceber os móveis secretos da dedicação do sobrinho). É interessante, nesse sentido, que procedimentos da narrativa policialesca — sobretudo suspense e desmascaramentos — sejam adequados mesmo à interrogação da identidade. Acompanhando o ângulo de Maria Bráulia, que se cola ao proscênio da vida de salão, o narrador vê restarem por detrás da máscara apenas “formas apagadas, mal definidas e rugosas, como o interior pálido das ostras”, das quais emerge, todavia, “um espírito muito fino, animado e alegrinho”. A identidade diáfana, se comparada à da mulher que se impõe calibrada por muitas camadas de pó de arroz, não é como um teatro às escuras. Mesmo que no espelho a imagem apareça “esvaziada”, Bráulia se revigora com a oportunidade de estar a sós com seu segredo, o verdadeiro rubi. A técnica do suspense tem então sentido duplo: diante do desconhecimento, que é da própria personagem (sozinha no quarto, não há rosto que venha à tona), tudo são pistas para o narrador; a investigação da subjetividade, entretanto, tem a espessura do entretenimento.

A ilusão de uma subjetividade formada — a um só tempo singular e versátil — funciona ideologicamente como prerrogativa de indivíduos de uma classe. O teor do enunciado formal do livro de Zulmira Ribeiro Tavares nos devolve um retrato algo esquemático dessa dinâmica histórica (e talvez excessivamente explícito em suas metáforas), constituindo, assim, também o seu limite.

Em Jóias de família, o falseamento da realidade, posto de uma perspectiva interna (como vimos, a de uma classe que pode jogar com a realidade à sua volta), torna-se uma aposta formal astuciosa: fazer do engano marca estrutural do livro, dar representação a uma dinâmica social não só por detrás, mas na própria aparência das relações sociais e identitárias, é um dos pontos de interesse do realismo da autora ao brincar com as fachadas.

O engano diz respeito inclusive ao esvaziamento do suspense (a trama das pedras se resolve e a das identidades — quem é cada personagem para si mesma e para os outros? — vai perdendo a ênfase). Se o qüiproquó com as pedras verdadeiras/falsas seduz num primeiro momento, o enredo sofre aos poucos um efeito de esfriamento e distância, assinalado pelo foco narrativo. Este, sem prejuízo das tiradas de ensaísmo crítico, mimetiza, enquanto acompanha o ângulo de várias personagens, uma solidariedade formal com a elite. Embora estejamos diante de narrador impessoal, ele se vale de regalias com relação à narrativa afins às de classe: dentre elas, a técnica de transitar por diversos assuntos e épocas das vidas narradas, assinalando o passe de mágica ao deslizar velozmente por tudo, como o onipresente cisne de Murano; ou a técnica de colocar observações agudas em tom de comédia leve, às vezes entre parênteses, como se quisesse não mais que um olhar crítico en passant. Não é, portanto, sem ironia que o narrador de 3ª pessoa acompanha as brechas pelas quais a mocinha de família, e depois a matrona já experiente, vai aprendendo a se esgueirar (do casamento de aparências, do sobrinho interesseiro, do medo que sente das empregadas) e a se reinventar. A ironia, ambiguamente, ora indica distância com relação ao mundo narrado e sua lei de cinismos, ora revela um à vontade desconcertante, guardando seu veredicto para o final.

O cinismo de classe de Maria Bráulia ancora-se na representação de situações que dão os fundamentos materiais das astúcias da personagem, inclusive na relação com outras classes sociais — o convívio com as empregadas valeria uma análise, sobretudo porque coloca o tema atualíssimo da bondade como máscara social do medo, da qual passa longe a intenção de e o direito à igualdade. Seu jogo é “plenamente justificável”, assim como o do juiz Munhoz — “in dúbio pro reo”, diz este a Bráulia antes de morrer. A sentença poderia caber na boca do narrador que os acompanha. No último capítulo, todavia, o tom de alegreto (a um só tempo crítico e algo acomodado na distância relativa ao “material” que examina) cede lugar ao riso amargo. O clima é de fim de drama, quando baixam as cortinas; “várias cabeças rolaram”, diz ele, “umas fora da vida, outras nos travesseiros”. A piada cínica dá lugar ao patético e tudo vai se aquietando na luz branquicenta da manhã que empresta vida apenas ao que não tem chance de existir: reencontramos a imagem do cisne, “um defuntinho de pé” no fecho da narrativa.

Zulmira Ribeiro Tavares sabe que trabalhar com palavras exige silêncios. E é exatamente se valendo disso que constrói seu romance como uma pequena obra-prima. Diz tudo aquilo que quis dizer, mas, ao mesmo tempo, instiga a imaginação do leitor, o chama para uma parceria. O mundo de hipocrisia, mesmo metaforicamente descrito, está ali com todo sua intensidade. Conclusões, continuidades e similitudes que fiquem a cargo do leitor.

De certa maneira, o texto vem trazendo à luz as sombras dos acontecimentos. Mas a luz não faz com que se enxergue de fato, demonstrando, na verdade, que a identificação das sombras é o mais importante para o entendimento do “real”. O rosto de Maria Bráulia tido como natural nunca vem à tona, enquanto várias facetas do seu social é mostrado. O texto vai se revelando aos poucos, como no enredo, dando pouco a pouco uma visão da representação.

Quanto à Maria Bráulia, ela parece muito bem saber do seu valor como atriz dentro da trama. O seu mundo é um palco; um lugar de representar (por isso o uso do rosto particular e o social). Ela sabe que o mundo, não é a imagem de um mundo subitamente tornado inofensivo, que o espetáculo não imita a realidade, mas permite enxergá-la. Nesse sentido, Bráulia, tida no inicio da novela como uma personagem tímida e passiva, assume toda a manipulação da trama, tanto na ordem do narrado como na ordem da narração.

Como já foi ressaltado anteriormente, o juiz Munhoz presenteia Maria Bráulia com um anel considerado valiosíssimo, que abre as portas da casa para o futuro noivo pois os pais de Maria Bráulia ficam encantados com o presente do noivo, que evidenciava suas posses financeiras, qualificando-o como um bom pretendente. Com a afirmação de que era preciso proteger o anel, o juiz Munhoz manda fazer uma cópia do mesmo, guardando o original no banco. Com a realização da viagem de núpcias, perde-se o anel dito falso.

Posteriormente, quando o juiz manda fazer outra réplica, o joalheiro Marcel de Souza Armand afirma que a jóia que havia ficado no cofre do banco era falsa. O juiz teria se confundido, portanto o anel perdido na viagem era o anel autêntico. Conforme afirma Martins: “perdido o anel, confundido com sua representação, resta apenas o simulacro, ocupando, para sempre, o lugar privilegiado de referência e de verdade”. O falso brilhante passa a transitar todas as cenas ora como original, ora como cópia.

Em um momento da narrativa, somos informados de que o anel que ia e vinha era um só rubi e rubi nenhum. Toda a trama da jóia, a confecção de uma cópia guardada, trocada, sumida, roubada, fora fruto da imaginação do marido e sua enorme capacidade inventiva.

A protagonista consegue dissimular a realidade do anel que, mesmo nunca tendo sido verdadeiro, ela faz com que pareça que o seja. O anel, ponto fundamental da trama, na realidade nunca existiu como um anel verdadeiro, valioso que parecia ser, mas como uma cópia da cópia, multiplicidades de uma simulação. Essa simulação do anel passa a ser mais verdadeira do que o próprio anel.

Quanto ao espaço, pode-se afirmar que na narrativa é o apartamento localizado no décimo andar, em São Paulo, no bairro Itaim-Bibi. Foi neste espaço que se deu a maioria da trama de Maria Bráulia contada por um narrador onisciente. Outros espaços citados são a casa antiga do casal Maria Bráulia e Juiz Munhoz, nomeada como casa da Eugênio de Lima, e a joalheria de Marcel Armand onde a protagonista e seu amante se encontravam.

A descrição do espaço na obra se assemelha a um cenário de teatro. Isso pode ser observado em algumas passagens, como a que se segue:

A cortina está aberta e o palco iluminado e cheio de ouro é como maio derramado sobre esses prédios; uma borracha dourada vai apagando o que acontecia nesses palcos e só deixa a luz esfarinhada e brilhante sobreviver no ar da varanda embandeirada de plantas.

Os personagens, em Jóias de Família, têm a durabilidade da trama. A narrativa é apresentada sob dois focos: um linear, segundo uma abordagem cronológica, e outro que se baseia em uma análise mental no ponto de vista da protagonista. Ou seja: a narrativa acontece em um período de um dia, do amanhecer de Maria Bráulia ao momento em que ela vai repousar e as interferências do passado se fazem através das lembranças da protagonista, anacronicamente.

O tempo da narrativa gira em torno do anel de rubi, sendo o passado dos personagens retomados a partir desse foco. Não há referência anterior a esse momento e nem ao futuro das personagens. Trata-se do aprofundamento nos processos mentais dos personagens, mas feito de maneira indireta, por uma espécie de narrador onisciente que, ao mesmo tempo, os expõe e os analisa.

O narrador é onisciente e domina um saber sobre a vida das personagens e sobre o seu destino. Sabe de onde partem e para onde se dirige, na narração, o que pensam, fazem e dizem os personagens. O foco narrativo, como já vimos, é em terceira pessoa, sendo, por isso, também chamado de narrador-observador. Adota um ponto de vista para além do tempo e do espaço e como canais de informação predominam suas próprias palavras.

Mas é uma onisciência seletiva, pois a narrativa, predominantemente, limita-se a um centro fixo. O ângulo central e os canais de informação são limitados aos sentimentos, pensamentos e percepções da personagem central, sendo mostrados diretamente. Pode-se observar essa onisciência seletiva quando ocorre a exposição de fatos passados, uma vez que esses são limitados à memória de Maria Braúlia, o que se apresenta como um viés de leitura da história.

A narração permite apreender o sentido dos fatos narrados, exigindo do leitor a dedução das significações a partir de fragmentos dos movimentos, ações e palavras dos personagens, criando no leitor um efeito de dúvida. Exige-se do leitor uma posição de alerta aos silêncios da narração, as indeterminações, os brancos, o que a narrativa omite, a começar por tudo aquilo que ela faz supor ter acontecido antes de ela iniciar.

Há também a utilização de diferentes tipos de discurso, dependendo da situação de enunciação. O discurso direto – a reprodução direta da fala dos personagens – é apresentado em alguns trechos da narrativa. Possui a função de proporcionar ao texto maior agilidade e pode expressar as possíveis variações lingüísticas na fala de cada personagem.

O discurso indireto livre, combinação dos discursos indireto e direto, é utilizado em duas passagens da narrativa. Esse recurso confunde as falas das personagens com o pensamento do narrador, forma muito utilizada em textos pós-modernos. Os verbos declarativos são omitidos, o foco está sempre na terceira pessoa do discurso.

Zulmira Tavares cria com maestria, no seu texto, a ilusão, que é problemática tanto no que tange ao enredo da narrativa, como na questão de pensar a própria literatura. O texto finge o tempo todo, inclusive no próprio ato de fingimento, como se fossem criados espelhos. Mas os espelhos funcionam na obra como a afirmação de BAUDRILLARD (1991: p.79), “’Eu serei o seu espelho’ significa não ‘serei o seu reflexo’ mas ‘serei o seu engano’”.

A aparência da realidade é o mais importante. Além da idéia de simples aparência para os outros, os personagens assumem para si mesmos a idéia da aparência, do jogo teatral. O poder de Maria Bráulia na trama está em ter um certo domínio de um espaço simulado, como se de certa forma ela tivesse cordas para representar no palco de sua vida não só os acontecimentos, mas também as pessoas.

Assim, o texto vai se revelando, mas nunca totalmente, sempre deixando nas sombras ou nas possíveis inferências o que acontece.

Fonte:
Passeiweb. Análises Completas.

Pedro Ornellas (Soneto Gauchesco: Atrofia)


Buenas tardes, xiruzada, guapos e prendas, gremistas e colorados, ximangos e maragatos, indiada de outros pagos... muita gente comentou meu soneto gaúcho, mas não atinei para um detalhe. Nem todos estão familiarizados com o gauchês ou têm um dicionário gaúcho à mão, por isso eu deveria ter mandado um glossário, para melhor entendimento do dito soneto.

Pru módi isso, tô mandano agora, pra quem se interessá, após o soneto.
Pedro Ornellas
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Meu coração foi potro xucro outrora
que se assanhava ao ver passar donzelas
pudesse do potreiro saltar fora
por certo ia trotear no encalço delas.

Sempre cismou refregas e esparrelas
em campereadas pelo pago afora,
porém com medo de saltar cancelas
se abichornou... E a vida não demora.

Bagual já foi, porém amanonciado
perdeu as baldas, vive aboletado...
De se enfurnar virou matungo agora...

Quando, fogosa, passa uma potranca
solto-lhe as rédeas, bufa, mas estanca
- e não se alui nem que eu lhe chegue a espora!

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GLOSSÁRIO:
potro: cavalo novo
xucro: não domado, bravio, arisco
assanhar: inflamar, excitar
potreiro: pequeno campo cercado, para animais
trote: Andadura natural das cavalgaduras, entre o passo ordinário e o galope.
cismar: Pensar com insistência (em alguma coisa), imaginar com fixidez.
refrega: Briga, peleja, Trabalho, lida.
esparrela: armadilha, logro, engano
campereada: excursão pelo campo à procura do gado
pago: Lugar em que se nasceu, o lar, o rincão, a querência; o povoado, o município em que se nasceu ou onde se reside.
cancela: porteira
abichornar: Aborrecido, triste, desanimado
bagual: Cavalo manso que se tornou selvagem. Reprodutor, animal não castrado
amanonciar: amansado, domesticado
balda: mania, vício
aboletado: instalado, aninhado
enfurnar-se: esconder-se
matungo: cavalo velho e imprestável
potranca: fêmea de potro
estancar: deixar de correr
aluir: sair do lugar


Fonte:
Soneto enviado pelo autor

Zé Zuca (iAfter ou A Revolução na Comunicação Intermundos)


Se há alguém que pode revolucionar esta comunicação,
este alguém é Steve Jobs
Zé Zuca

Não conheço ninguém que tenha se comunicado de forma moderna e eficiente depois de partir para outra dimensão. Todas as possibilidades estão no campo da religião e não são aceitas como fato comprovável. No caso mais conhecido de comunicação do outro lado para cá, ou daqui para lá, é necessário utilizar o corpo de outro. Embora eu acredite, convenhamos, é uma manifestação algo deselegante e meio assustadora.

Mas esta incomunicabilidade pode estar prestes a acabar. Se há alguém que pode revolucionar o paradigma desta comunicação este alguém é (ou era) Steve Jobs. Já pensou? O mundo tem quatrilhões de anos e, em todo esse tempo, não surgiu qualquer ferramenta que permita a comunicação com nossos queridos que passaram para o outro lado ou deles com a gente. Já pensou se o Steve criar uma?

Poderia ser uma espécie de communicator device after death. Claro que ele sintetizaria, chamando, possivelmente, de iAfter. Um aparelho sofisticado, fino, bonito e amigável que permitiria o contato entre os daqui e os que foram para além da morte e vice-versa. Venderia muito mais do que a Aplle vendeu os iPhone, iPod e iPad juntos. É incalculável o número de pessoas que vivem lá e aqui (só aqui, 7 bilhões) que se beneficiariam deste tipo de comunicação. Imagina só: Você está ansiosa em sua casa, sentindo uma falta danada daquele seu melhor amigo que se foi. De repente o aparelhinho toca, enchendo o ar de esperança e alegria. É ele. O papo rola descontraído com uma qualidade de som impressionante, como se o amigo ou amiga estivesse aqui no Rio de Janeiro. De certa forma estaria mesmo. Com uma super webcam lá e cá você poderia ver se seu amigo estaria mais gordo ou mais magro, se entre nuvens, num quarto ou num paraíso.

Jobs, naturalmente, vai necessitar de um tempo para estudar a situação, montar uma equipe multidisciplinar muito criativa e entender as reais necessidades das duas clientelas. Vai precisar também conhecer as disponibilidades do além. De que material seria o iAfter? Que facilidades ofereceria aos comunicadores multidimensionais? Bastaria um toque num ícone ou seria necessário acessar uma espécie de Internet celestial? Vai que ele crie um teletransportador e traga a pessoa ou o espírito ao vivo ou leve alguém por algumas horas pra bater um papinho no além?

Calma aí. Por outro lado, não falta quem aposte que Steve Jobs estaria se surpreendendo por lá, embasbacado com o que encontrou: nenhuma necessidade de maquininhas para se contatar. Comunicação telepática, mente a mente, em alta velocidade, memória ilimitada. E mais, teletransporte de um lugar para o outro, usando apenas a vontade. Viagens rapidíssimas para qualquer lugar, encontrando, em segundos, quem o pensamento quiser. Jobs estaria constatando que, por lá, todos os aparelhinhos que ele inventou aqui na Terra são desnecessários. É só pensar e chegar.

Espera aí. Mesmo que no outro mundo a comunicação seja moderníssima, nunca ninguém veio pessoalmente aqui depois de partir, assim como ninguém foi lá, bateu um papinho e voltou. É aí que entra o velho Steve. Depois de um tempo de perplexidade, com sua capacidade criativa perceberá que ainda há espaço para suas invenções. E vai agir rápido. Não vai esperar que uma fatalidade possibilite a concorrência de um Bill Gates. Afinal ele chegou primeiro. Vai querer, certamente, criar algum mega dispositivo para o progresso das comunicações intermundos. Por que não o iAfter? É só uma questão de tempo.

O desafio está lançado. Façam suas apostas. Os universos nunca tiveram uma chance como esta de terem uma revolução nos contatos interdimensionais. É só esperar para receber, em breve, a comunicação do primeiro grande lançamento. Certamente, em cadeia planetária de TV, invadindo todos os computadores, em uma aparição quadridimensional espetacular entre nuvens no céu: calça jeans, camisa preta de gola rolê, ele, com algo muito desconhecido nas mãos, o próprio Steve Jobs.

Fontes:
Texto enviado por Simone Pedersen
Imagem = http://www.naopercatempo.info/tag/steve-jobs-no-ceu/

Efigênia Coutinho (Fidalgo semblante...)


De teu fidalgo semblante,
Emana suave doçura.
Do teu tranqüilo olhar,
Repousa em mim a carícia
De um sonho apaixonante.

Tem sonho em mim constante,
Leva-me a sentir na brandura,
Toda realeza do teu versejar,
Desabrochando infinda alegria
Desejo de um beijo flamejante.

Meu coração bate palpitante,
Deste sonho feito de candura,
Sinto desejos de te abraçar
E do teu gozo, sentir a delícia,
Tu em mim e eu esvoaçante.

Novembro 2011

Fonte:
Poesia e imagem enviadas pela poetisa

Cruz e Souza (O Livro Derradeiro) Parte XIV


BEIJOS

Nesta Tebaida infinita
Da vida, na sombra oculto,
Eu gosto de olhar o vulto
De uma criança bonita.

Porque afinal as crianças,
Como eu deslumbro-me ao vê-las,
Cintilam como as estrelas,
Florescem como esperanças.

Dentro de mim se projeta
A luz cambiante dos prismas
E batem asas as cismas
Qual passarada irrequieta.

E batem asas e ruflam,
Pelas artísticas plagas,
As auras que as grandes vagas
Dos fundos mares insuflam.

E digo, ó mães, se uma aurora
Fosse a minh’alma sincera,
Os clarões todos eu dera
A uma criança que chora.

Porque se a luz fortalece
Arbustos e as andorinhas,
Também por certo às criancinhas
Conforta, avigora, aquece.

E eu que aplaudo e que rimo
Tudo isso que a luz se regre,
Na vibração mais alegre
As criancinhas estimo.

Portanto, assim, sem refolhos
Beijando a Olga, beijando
Meus sonhos vão, irradiando,
Se derramar em seus olhos!

PIRUETAS

Finou-se um tal inglês
Gastrônomo e patife
Que tanto -- de uma vez
Comeu, comeu e esparramou-se em bife;
Que um dia de jejum,
Pela pança rotunda e quixotesca,
Teve um parto... comum,
Um feto original... de came fresca.

AS DEVOTAS

I

Enquanto o sino bimbalha,
Bimbalha, bimbalha e tine,
Lançai do olhar a migalha
-- Enquanto o sino bimbalha --
À raça que se amortalha
No horror que não se define...
Enquanto o sino bimbalha
Bimbalha, bimbalha e tine.

II

Perto da Igreja a senzala,
O Cristo junto aos escravos
E, pois, deveis visitá-la,
Perto da Igreja, a senzala
E procurar transfarmá-la
Da luz às palmas, aos bravos!...
Perto da Igreja a senzala,
O Cristo junto aos escravos.

III

E tão-somente por isto
Enquanto o sino bimbalha,
Bem antes de terdes visto
-- E tão-somente por isto --
Todo o martírio do Cristo,
O vosso amor que lhes valha,
E tão-somente por isto,
Enquanto o sino bimbalha.

[MEUS ESPLÊNDIDOS...]

Meus esplêndidos desejos
Emigram, como beijos,
Pelo azul espaço, em curvas,
Rasgando essas brumas turvas;
Pelo sol das primaveras,
Batendo as asas brancas,
Como, batem, quimeras...
...............................................
Voai, andorinhas francas!

NUNCA SE CALA O CALADO

Nunca se cala o Callado
E sempre o Callado, fala
Callado que não se cala,
Nunca se cala o Callado,
Callado sem ser calado,
Callado que é tão falado...
Nunca se cala o Callado
E sempre o Callado, fala.

OLHARES

Teus traquinantes olhinhos
Continhas, Ziza, parecem;
Zigzagam sempre, tontinhos
Teus traquinantes olhinhos;
Tão pretos, tão redondinhos
Olhinhos que me embevecem,
Teus traquinantes olhinhos
Continhas, Ziza, parecem.

NAS EXPLOSÕES DE BONS RISOS

Nas explosões de bons risos
Os triolés petulantes
Chocalhem, tinam, precisos
Nas explosões de bons risos,
Tilintem como mil guisos
Sonoros, raros, vibrantes
Nas explosões de bons risos,
Os triolés petulantes.

TRIOLÉ - PEGA ESTES ZOTES

Triolé -- pega estes zotes
E dá-lhes de baixo acima
Preso ao trapézio da rima
Na mais artística esgrima
D’estouros e piparotes,
Preso, ao trapézio da rima
Triolé - pega estes zotes.

GRITO DE GUERRA

Aos senhores que libertam escravos

Bem! A palavra dentro em vós escrita
Em colossais e rubros caracteres,
É valorosa, pródiga, infinita,
Tem proporções de claros rosicleres.

Como uma chuva olímpica de estrelas
Todas as vidas livres, fulgurosas,
Resplandecendo, — vós tereis de vê-las
Rolar, rolar nas vastidões gloriosas.

Basta do escravo, ao suplicante rogo,
Subindo acima das etéreas gazas,
Do sol da idéia no escaldante fogo,
Queimar, queimar as rutilantes asas.

Queimar nas chamas luminosas, francas
Embora o grito da matéria apague-as;
Porque afinal as consciências brancas
São imponentes como as grandes águias.

Basta na forja, no arsenal da idéia,
Fundir a idéia que mais bela achardes,
Como uma enorme e fulgida Odisséia
Da humanidade aos imortais alardes.

Quem como vós principiou na festa
Da liberdade vitoriosa e grande,
Há de sentir no coração a orquestra
Do amor que como um bom luar se expande.

Vamos! São horas de rasgar das frontes
Os véus sangrentos das fatais desgraças
E encher da luz dos vastos horizontes
Todos os tristes corações das raças...

A mocidade é uma falena de ouro,
Dela é que irrompe o sol do bem mais puro:
Vamos! Erguei vosso ideal tão louro
Para remir o universal futuro...

O pensamento é como o mar — rebenta,
Ferve, combate — herculeamente enorme
E como o mar na maior febre aumenta,
Trabalha, luta com furor — não dorme.

Abri portanto a agigantada leiva,
Quebrando a fundo os espectrais embargos,
Pois que entrareis, numa explosão de seiva,
Muito melhor nos panteões mais largos.

Vão desfilando como azuis coortes
De aves alegres nas esferas calmas,
Na atmosfera espiritual dos fortes,
Os aguerridos batalhões das almas.

Quem vai da sombra para a luz partindo
Quanta amargura foi talvez deixando
Pelas estradas da existência — rindo
Fora — mas dentro, que ilusões chorando.

Da treva o escuro e aprofundado abismo
Enchei, fartai de essenciais auroras,
E o americano e fértil organismo
De retumbantes vibrações sonoras.

Fecundos germens racionais produzam
Nessas cabeças, claridões de maios...
Cruzem-se em vós — como também se cruzam
Raios e raios na amplidão dos raios.

Os britadores sociais e rudes
Da luz vital às bélicas trombetas,
Hão de formar de todas as virtudes
As seculares, brônzeas picaretas.

Para que o mal nos antros se contorça
Ante o pensar que o sangue vos abala,
Para subir — é necessário — é força
Descer primeiro a noite da senzala.

ADALZIZA

Tens um olhar cintilante,
Tens uma voz dulçurosa,
Tens um pisar fascinante,
Tens um olhar cintilante
Cheio de raios, faiscante
Ó criatura formosa,
Tens um olhar cintilante,
Tens uma voz dulçurosa!...

[TEUS OLHOS]

Tão doces como os arminhos,
Esse casal de ilusões!...
Das folhagens do campo em meio da espessura,
Teus olhos -- esses carinhos,
Esse casal de ilusões
Teus olhos -- esses carinhos
Parecem ser os dois ninhos
Das minhas consolações,
Teus olhos -- esses carinhos

Fonte:
Cruz e Sousa, Poesia Completa, org. de Zahidé Muzart, Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura / Fundação Banco do Brasil, 1993.

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) O Sítio do Picapau Amarelo VIII – Tom Mix


Assim que deixou a menina, Tom Mix voltou ao lugar do assalto, a fim de orientar-se na pista de Rabicó. Descobriu logo os rastos dele na terra úmida e os foi seguindo até à floresta. Lá se guiou pelas ervinhas amassadas e outros sinais que na fuga ele fora deixando. E andou, andou, andou até que de repente ouviu um ruído suspeito.

— É ele! — pensou Tom Mix agachando-se — e, pé ante pé, sem fazer o menor barulhinho, aproximou-se do lugar donde partia o ruído suspeito. Espiou. Lá estava o marquês, rom, rom, rom, de cabeça enfiada dentro duma abóbora muito grande, tão entretido em devorá-la que não deu pela presença do terrível vingador.

Tom Mix foi chegando, foi chegando e, de repente...

— Nhoc! — agarrou o marquês por uma perna.

— Coin! coin! coin! — grunhiu o ilustre fidalgo.

— Peço perdão a Vossa Excelência — disse Tom Mix com ironia — mas estou cumprindo ordens da senhora princesa do Narizinho Arrebitado.

— Que é que Narizinho quer de mim ? — gemeu Rabicó desconfiado.

— Pouca coisa — respondeu o vingador. — Apenas uns torresminhos para enfeitar um tutu de feijão amanhã...

— Coin! coin! coin! — gemeu o marquês compreendendo tudo.

E foi com bagas de suor frio no focinho que implorou: “Tenha dó de mim, senhor bandido! Tenha piedade de mim, que lhe darei esta abóbora e ainda outra maior que escondi lá adiante...”

Tom Mix parece que não gostava de abóbora. Limitou-se a puxar pela faca e a passá-la sobre o couro da bota, como que a afiando. Percebendo que estava perdido, Rabicó teve uma idéia.

— Senhor bandido, poderá prestar-me um obséquio?

— Diga o que é — respondeu Tom Mix calmamente, sempre a afiar a faca.

— Quero que me conceda cinco minutos de vida. Preciso fazer o testamento e confiar minhas últimas palavras a essa libelinha que vai passando.

Tom Mix concedeu-lhe os cinco minutos. Rabicó chamou a libelinha.

— Amiga, darei a você um lindo lago azul onde possa voar a vida inteira, se me fizer um pequeno favor.

— Diga o que é — respondeu a libelinha, vindo pousar diante dele.

— É levar uma carta à princesa Narizinho, que deve estar no reino das Abelhas.

— Com muito prazer.

Rabicó fez a carta depressa e entregou-lha. A libelinha tomou-a no ferrão e zzzit! lá se foi, veloz como o pensamento. Mal a viu partir, deu Rabicó um suspiro de alívio, murmurando em voz alta:

“Coragem, Rabicó, teu dia não chegará tão cedo!”

— Que é que está grunhindo aí, senhor marquês? – perguntou o carrasco.

Rabicó disfarçou.

— Estou pensando na sua valentia, senhor Tom Mix. Está assim prosa porque deu comigo, que sou um pobre coitadinho. Queria ver a sua cara, se Lampião aparecesse por aqui com os seus cinqüenta cangaceiros!

— Lá tenho medo de lampiões ou lamparinas? O marquês não me conhece. Diga-me: costuma ir ao cinema?

— Nunca. Mas sei o que é.

— Se não conhece o cinema, não pode fazer idéia do meu formidável heroísmo! Não há uma só fita em que eu seja derrotado, seja lá por quem for. Venço sempre ! Sou um danado!...

Rabicó olhou-o com o rabo dos olhos, pensando lá consigo:

“Grandíssimo fiteiro é o que você é.” Pensou só, nada disse. Aquela faca embargava-lhe a voz...
––––––––
Continua... As Muletas do Besouro

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

57a. Feira de Livros de Porto Alegre (Programação de 13 de Novembro, Domingo)


Mostra Vivências criativas com jogos culturais
13/11/2011 - 09:00

Tecendo histórias para encantar
13/11/2011 - 10:30
Contação de histórias com o Grupo Fio da Palavra

Cidade das Crianças e seus olhares sobre Porto Alegre: entre sombras, traços e brincadeiras.
13/11/2011 - 14:00
Até as 20h.

Malasaventuras safadezas do Malasartes, de Pedro Bandeira
13/11/2011 - 14:00
Contação de Histórias com a equipe do QG

Canal Futura na Feira
13/11/2011 - 15:00
Canal Futura na Feira- Umas Palavras, episódios: Ariano Suassuna e Cíntia Moscovich.

O menino que aprendeu cedo demais
13/11/2011 - 15:00
Espetáculo teatral

Contação de Histórias do livro O Velho dos Cabelos de Mola, de Walmor Santos e Rodrigo Prates
13/11/2011 - 15:30

O que tem na barriga da Formiga, de Marion Cruz
13/11/2011 - 15:30
Espetáculo teatral com Trupi di Trapu

Eu... Gênio.
13/11/2011 - 15:30
Editora: Suliani Letra & Vida

O velho dos cabelos de mola (livro / CD)
13/11/2011 - 16:00
Editora: WS Editor

Entre Palavras
13/11/2011 - 16:00
Editora: SINTRAJUFE-RS

Cinema de Animação - Um diálogo ético no mundo encantado das histórias infantis
13/11/2011 - 16:30
Editora: Sulina

Contação de Histórias
13/11/2011 - 17:00
Coletânea de textos Infantojuvenis "Histórias e mais histórias"da escritora Fernanda Blaya Figueiró

Bate-papo com os autores do livro-digital de imagens O Rei que Comia Letras e outras histórias
13/11/2011 - 17:00

A sinistra casa da vovó Sinistra
13/11/2011 - 17:00
Editora: WS Editor

Uma Mesa para três - Memórias Soltas
13/11/2011 - 17:30
Editora: Editora da Ulbra

A arte em três ventos
13/11/2011 - 17:30
Editora: Revolução

A psicanálise e as ficções
13/11/2011 - 18:00
A narrativa, instrumento fundamental seja ela falada ou escrita - relação entre a psicanálise e a arte, sobretudo com a arte literária

Os potes da sede
13/11/2011 - 18:00
Encenação de poemas

Poemas no ônibus e no trem edições 2010/2011
13/11/2011 - 18:00
Editora: Editora da Cidade/SMC

De tudo fica um pouco
13/11/2011 - 18:00
Editora: Dublinense

Lendo nossos autores
13/11/2011 - 18:30
Editora: Caravela
P
resença de Vera Lúcia Marinczeck de Carvalho
13/11/2011 - 19:00
A autora de Violetas na Janela em um bate-papo sobre a gentileza e a capacidade que temos em ajudar o próximo em pequenos gestos

Cine Santander Cultural
13/11/2011 - 19:00
Sessão Comentada

Sarau Marias, Amélias e Camélias, com o grupo O Nariz Postiço
13/11/2011 - 19:00

Reflexões Filosóficas Infantis
13/11/2011 - 19:30
Editora: Palmarinca e Território das Artes

Ousadia e Paixão em Lou Andreas-Salomé
13/11/2011 - 19:30
Editora: Palmarinca e Território das Artes

Os potes da sede
13/11/2011 - 19:30
Editora: Palmarinca e Território das Artes

Cordão da Saideira: A vida não basta - Leitura Ferreira Gullar, 80 anos
13/11/2011 - 20:00
Repertório seletivo da obra desde o primeiro livro "A luta corporal" de 1954, até o livro mais recente "Em alguma parte alguma", de 2010, seguido de leituras em áudio gravada pelo próprio autor

A casa do bosque
13/11/2011 - 20:30
Editora: Petit

A mulher de vermelho e branco
13/11/2011 - 20:30
Autógrafos

Fonte:
http://www.feiradolivro-poa.com.br/programacao/data/2011-11-13/pag/7

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Wagner Marques Lopes (Trova Ecológica 42)

Carlos Drummond de Andrade (A Incapacidade de Ser Verdadeiro)


Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões-da-independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas.

A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos. feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias.

Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:

- Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia.

Fontes:
ANDRADE, Carlos Drummond de. A cor de cada um. 3a. ed. RJ: Record, 1998.
Imagem = http://blogdogandolfo.blogspot.com

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 392)


Uma Trova Nacional

Busquei-o além do horizonte
nas águas do mar sem fim,
mas curvando a minha fronte
senti Deus dentro de mim.
–RITA MOURÃO/SP–

Uma Trova Potiguar

Nunca juntei-me aos tristonhos,
jamais chorei despedidas.
Eu sou pescador de sonhos
nas enxurradas da vida.
SEBASTIÃO SOARES/RN–

Uma Trova Premiada

1991 - Amparo/SP
Tema: FONTE - 4º Lugar

Sem avistar horizontes,
no vale do meu desgosto,
meus olhos são duas fontes,
regando o chão do meu rosto.
–DIVENEI BOSELI/SP–

Uma Trova de Ademar

Descobri no envelhecer
que a musa que me enaltece
não deixa o verso morrer,
pois musa nunca envelhece!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Para matar as saudades,
fui ver-te em ânsias, correndo...
– E eu, que fui matar saudades,
vim de saudades morrendo!
–ADELMAR TAVARES/PE–

Simplesmente Poesia

Imagem da Paz.
–EFIGÊNIA COUTINHO/SC–

Poeta, tu conheces da alma a moradia:
é uma trama urdida em ouro pelo Espírito.
Tem compaixão desses reis sem autonomia;
por este caminho escutem o meu grito!

Nos olhos de todos vejo o receio
que como eu, eles sobem a montanha.
A fraga de Sísifo perguntando creio,
da vida o objetivo que existe e sonha!

Dessa montanha elevemos ao cume,
onde sombra e sol brincam sob o átrio,
uma cidade – espelho de verdadeiro lume
oferecendo às almas, todo amor mátrio!

A alma não foi feita de pedra bruta,
sente olhares enternecidos e espera.
E é na tua voz que sempre escuta
a esperança de Paz numa nova esfera!

Estrofe do Dia

Deus, nos mandou para cá
com destinos diferente,
um nasce para enricar
outro, pra ser penitente,
um nasce para o evangelho,
nasce um para morrer velho
e outro para morrer novo;
nasce um crente, nasce um ateu
e Ademar velho nasceu
pra fazer versos pra o povo!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

Assim São Meus Versos
–SÔNIA SOBREIRA/RJ–

Assim são meus versos, enigmáticos,
como ventos que bailam nas andanças,
são mistérios, são fúlgidas lembranças,
luzeiros cintilantes, mas estáticos.

São girassóis altivos e fleumáticos,
são quimeras, retalhos de esperanças,
cantilenas que embalam as crianças,
fantasias dantescas de fanáticos.

Frágeis anseios a rimar cansaços,
que choram seus lamentos nos meus braços,
num desconsolo que jamais se acalma.

São espectros com dedos gigantescos,
desenhando nas pedras arabescos,
que entrelaçam pedaços de minh'alma.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Francisco Macedo (Lançamento do Jornal O Trovador, 4. Bimestre de 2011)


Exuberância de vida...
- É a natureza, nas flores!
Primavera ressurgida,
no jardim dos trovadores...
Francisco Macedo (RN)

Francisco Macedo (do Rio Grande do Norte), me enviou o jornal O Trovador, o qual scaneei e você poderá fazer o download AQUI.

Notícias, Trovas Potiguares, Trovas Premiadas, Trove Lá...que eu Trovo Cá..., Formas Poéticas, Canto do Poeta tendo a entrevista com o poeta Manoel Cavalcante de Souza Castro, etc.

Ou solicite o jornal por correio, ao Francisco Macedo em vatemacedo@yahoo.com.br

Carlos Drummond de Andrade (O Poeta Singrando Horizontes VIII)


A UM BRUXO, COM AMOR

Em certa casa da Rua Cosme Velho
(que se abre no vazio)
venho visitar-te; e me recebes
na sala trajestada com simplicidade
onde pensamentos idos e vividos
perdem o amarelo
de novo interrogando o céu e a noite.

Outros leram da vida um capítulo, tu leste o livro inteiro.
Daí esse cansaço nos gestos e, filtrada,
uma luz que não vem de parte alguma
pois todos os castiçais
estão apagados.

Contas a meia voz
maneiras de amar e de compor os ministérios
e deitá-los abaixo, entre malinas
e bruxelas.
Conheces a fundo
a geologia moral dos Lobo Neves
e essa espécie de olhos derramados
que não foram feitos para ciumentos.

E ficas mirando o ratinho meio cadáver
com a polida, minuciosa curiosidade
de quem saboreia por tabela
o prazer de Fortunato, vivisseccionista amador.
Olhas para a guerra, o murro, a facada
como para uma simples quebra da monotonia universal
e tens no rosto antigo
uma expressão a que não acho nome certo
(das sensações do mundo a mais sutil):
volúpia do aborrecimento?
ou, grande lascivo, do nada?

O vento que rola do Silvestre leva o diálogo,
e o mesmo som do relógio, lento, igual e seco,
tal um pigarro que parece vir do tempo da Stoltz e do gabinete Paraná,
mostra que os homens morreram.
A terra está nua deles.
Contudo, em longe recanto,
a ramagem começa a sussurar alguma coisa
que não se estende logo
a parece a canção das manhãs novas.
Bem a distingo, ronda clara:
É Flora,
com olhos dotados de um mover particular
ente mavioso e pensativo;
Marcela,
a rir com expressão cândida (e outra coisa);
Virgília,
cujos olhos dão a sensação singular de luz úmida;
Mariana, que os tem redondos e namorados;
e Sancha, de olhos intimativos;
e os grandes, de Capitu,
abertos como a vaga do mar lá fora,
o mar que fala a mesma linguagem
obscura e nova de D. Severina
e das chinelinhas de alcova de Conceição.
A todas decifrastes íris e braços
e delas disseste a razão última e refolhada
moça, flor mulher flor
canção de mulher nova...
E ao pé dessa música dissimulas (ou insinuas, quem sabe)
o turvo grunhir dos porcos, troça concentrada e filosófica
entre loucos que riem de ser loucos
e os que vão à Rua da Misericórdia e não a encontram.
O eflúvio da manhã,
quem o pede ao crepúsculo da tarde?
Uma presença, o clarineta,
vai pé ante pé procurar o remédio,
mas haverá remédio para existir
senão existir?
E, para os dias mais ásperos, além
da cocaína moral dos bons livros?
Que crime cometemos além de viver
e porventura o de amar
não se sabe a quem, mas amar?

Todos os cemitérios se parecem,
e não pousas em nenhum deles, mas onde a dúvida
apalpa o mármore da verdade, a descobrir
a fenda necessária;
onde o diabo joga dama com o destino,
estás sempre aí, bruxo alusivo e zombeteiro,
que resolves em mim tantos enigmas.

Um som remoto e brando
rompe em meio a embriões e ruínas,
eternas exéquias e aleluias eternas,
e chega ao despistamento de teu pencenê.
O estribeiro Oblivion
bate à porta e chama ao espetáculo
promovido para divertir o planeta Saturno.
Dás volta à chave,
envolves-te na capa,
e qual novo Ariel, sem mais resposta,
sais pela janela, dissolves-te no ar.

A INGAIA CIÊNCIA

A madureza, essa terrível prenda
que alguém nos dá, raptando-nos, com ela,
todo sabor gratuito de oferenda
sob a glacialidade de uma estela,

a madureza vê, posto que a venda
interrompa a surpresa da janela,
o círculo vazio, onde se estenda,
e que o mundo converte noma cela.

A madureza sabe o preço exato
dos amores, dos ócios, dos quebrantos,
e nada pode contra sua ciência

e nem contra si mesma. O agudo olfato,
o agudo olhar, a mão, livre de encantos,
se destroem no sonho da existência.

A LOJA FEMININA

Cinco estátuas recamadas de verde
na loja, pela manhã, aguardam o acontecimento.
é próprio de estátuas aguardar sem prazo e cansaço
que os fados se cumpram ou deixem de cumprir-se.
Nenhuma ruga no imobilismo
de figurinos talhados para o eterno
que é, afinal, novelo de circunstâncias.
Iguais as cinco, em postura vertical,
um pé à frente do outro, quase suspenso
na hipótese de vôo, que não se consumará,
em direção da porta sonora
a ser aberta para alguém desconhecido
- Vênus certamente, face múltipla -
assomar em tom de pesquisa,
apontando o estofo, o brinco, o imponderável
que as estátuas ocultam em sigilo de espelhos.
Passaram a noite em vigília,
nasceram ali, habitantes de aquário,
programadas em uniformes verde-musgo
para o serviço de bagatelas imprescindíveis.
Sabem que Vênus cedo ou tarde,
provavelmente tarde e sem pintura,
chegará.
Chega, e o simples vulto
aciona as esculturas.
Ao cintilar de vitrinas e escaninhos,
Ao cintilar de vitrinas e escaninhos,
objetos deixam de ser inanimados.
Antes de chegar à pele rósea,
a pulseira cinge no ar o braço imaginário.
O enfeite ocioso ganha majestade
própria de divinos atributos.
Tudo que a nudez torna mais bela
acende faíscas no desejo.
As estátuas sabem disto e propiciam
a cada centímetro de carne
uma satisfação de luxo erótico.
O ritmo dos passos e das curvas
das cinco estátuas vendedoras
gera no salão aveludado
a sensação de arte natural
que o corpo sabe impor à contingência.
Já não se tem certeza se é comercio
ou desfile de ninfas na campina
que o spot vai matizando em signos verdes
como tapeçaria desdobrante
do verde coletivo das estátuas.
Hora de almoço.
Dissolve-se o balé sem música no recinto.
Não há mais compradoras. Hora de sol
batendo nos desenhos caprichosos
de manso aquário já marmorizado.
As estátuas regressam à postura
imóvel de cegonhas ou de guardas.
São talvez manequins, de moças que eram.
O viço humano perde-se no artifício
de coisas integrantes de uma loja.
Se estão vivas, não sei. Se acaso dormem
o dormir egípcio de séculos,
se morreram (quem sabe), se jamais
existiram, pulsaram, se moveram,
não consigo saber, pois também eu
invisível na loja me dissolvo
nesse enigma de formas permutantes.

A UM AUSENTE

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

Ialmar Pio Schneider ( Homenagem ao poeta Nelson Nilo da Lenita Fachinelli em 9 de Novembro de 1935)

O FUNDADOR DE CASAS DO POETA

In Memoriam a Nelson da Lenita Fachinelli


Foi lá pelos idos de 1982 que conheci o poeta e literato, Nelson da Lenita Fachinelli, o vulgo “operário das letras”, que por muitos anos preside e carrega em seus ombros o encargo de manter viva e atuante a Casa do Poeta-Rio-Grandense, cuja fundação nos remete ao longínquo 24 de julho de 1964. Residia por aquela época, o nobre companheiro, no Bairro Cristal, na rua Dr. Campos Velho, a “faixa preta”, ainda tão citada hoje em dia. Lembro-me que fui de táxi e ele me disse depois que não precisava fazê-lo por este meio de transporte, porque passavam por ali lotações e ônibus. Em todo caso não havia me dado conta disto e agradeci-lhe a informação. Bem que eu poderia ter economizado uns cobres.

Naquele distante ano participei pela primeira vez de uma antologia organizada por ele, Trovadores do Rio Grande do Sul, de que participavam também outros nove consagrados poetas e que lançamos na Feira do Livro de Porto Alegre, em 13 de novembro de 1982. Foram dezesseis trovas, sendo a primeira:

A trova é o verso que nasce
de um coração sonhador;
fica estampada na face
de quem vive um grande amor !

E a última, ou seja a décima sexta, diz:

O vento leva o meu verso,
- afinal nada o detém -
pelos confins do Universo
e pra quem me queira bem.

O que me leva a prestar esta homenagem é o sonetista que ele também demonstrou ser, notadamente pelos dois sonetos a seguir:

“UM ROSTO DE MULHER--Nelson Fachinelli

Hoje estive relendo comovido,
as cartas que você mandou-me outrora
quando ainda sentia-me iludido
por quimeras que o tempo jogou fora.

É mesmo assim a vida... o tempo ido
não há aquele ser que não o chora,
embora o coração, nele ferido
tenha sofrido mágoas, hora a hora.

Nosso romance que durou tão pouco,
mas quase fez de mim um triste louco
teve bem um desfecho inacabado.

Por isso, que prossigo procurando
achar nas que, por mim, vivem passando,
um rosto de mulher, do meu passado !”

E este outro, místico e em que lembra as reuniões do Cafezinho Poético, no Restaurante Dona Maria, na José Montauri, de tão saudosa memória:

“QUANDO A MORTE CHEGAR...Nelson Fachinelli-

Quando a morte chegar em meu árduo caminho,
que venha sem alarde, sorrateiramente:
de olhos abertos vou aguardá-la, com carinho
como aquele que espera a amada, longamente…

Quando a morte surgir... hei de ir tão sozinho
tal como vim ao mundo - voluntariamente.
Vou partir sem lamúria, bem devagarinho
como quem sabe que vai voltar novamente…

Quando eu me for... não quero, por favor, tristeza.
Eu auguro uma longa ronda de beleza,
de quentes cafezinhos, poemas e canções.

Aos que eu feri, perdão, rogo por meus pecados,
aos que meu mal quiseram, estão perdoados,
pois só deve reinar Amor nos corações !”

Mas esta é uma minúscula faceta do dinâmico poeta e trovador que tem se esmerado na fundação de diversas Casas de Poetas no Estado, inclusive há pouco tempo em nossa cidade de Canoas, juntamente com a presidente Maria Santos Rigo, batalhadora incansável na divulgação da cultura. Uma de suas trovas do livro Cantigas de Amor e Paz, diz o seguinte:

“Sou herdeiro de Esperança
num mundo que não é meu:
- a minha única herança
é a vida que Deus me deu !”

Ele assim se considera...

Sua figura característica, percorrendo as ruas a carregar uma pasta e uma sacola de livros e convites e avisos, lembra um Dom Quixote enfrentando os moinhos de vento, a passear seu ideal aventureiro. Dir-se-ia um Cavaleiro Andante.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Cruz e Souza (O Livro Derradeiro) Parte XV


ENTRE LUZ E SOMBRA

Ao dia 7 de Setembro
Libertas Lux Dei!!...

Surge enfim o grande astro
Que se chama Liberdade!...
Dos sec'los na imensidade
Eterno perdurará!...
Como as dulias matutinas
Que reboam nas colinas,
Nas selvas esmeraldinas
Em honra ao excelso Tupá!...

Eram só cinéreas nuvens
Os brasíleos horizontes!
Curvadas todas as frontes
Caminhavam no descrer! --
As brisas nem murmuravam...
Os bosques nem soluçavam...
Os peitos nem se arroubavam...
-- Estava tudo a morrer!...

De repente, o sol formoso
Vai as nuvens esgarçando.
As almas vão palpitando,
Cintilam magos clarões!...
E o Índio fraco, indolente
Fazendo esforço potente
Dos pulsos quebra a corrente,
Biparte os acres grilhões!...

Por terra tomba gemendo
O vão, atroz servilismo...
Rui a dobrez no abismo...
Eis a verdade de pé!...
Enfim!... exclama o silvedo
Enfim!... lá diz quase a medo
Selvagem, nu Aimoré!...

Assim, brasílea coorte,
Falange excelsa de obreiros,
Soberbos,.almos luzeiros
De nossa gleba gentil,
Quebrai os elos d’escravos
Que vivem tristes, ignavos,
Formando delas uns bravos
-- P'ra glória mais do Brasil!...

Lançai a luz nesses crânios
Que vão nas trevas tombando
E ide assim preparando
Uns homens mais p'ro porvir!
Fazei dos pobres aflitos
Sem crenças, lares, proscritos,
Uns entes puros, benditos
Que saibam ver e sentir!...

Do carro azul do progresso
Fazei girar essa mola!
Prendei-os sim, -- mas à escola
Matai-os sim, -- mas na luz!
E então tereis trabalhado
O negro abismo sondado
E em nossos ombros levado
Ao seu destino essa cruz!!...

Fazei do gládio alavanca
E tudo ireis derribando;
Dormi, co’a pátria sonhando
E tudo a flux se erguerá!
E a funda treva cobarde
Sentindo homérico alarde,
Embora mesmo que tarde
Curvada assim fugirá!...

Enfim!... os vales soluçam
Enfim!... os mares rebramam
Enfim!... os prados exclamam
Já somos livre nação!!...
Quebrou-se a estátua de gesso...
Enfim!... -- mas não... estremeço,
Vacilo... caio, emudeço...
Enfim de tudo inda não!!...

SETE DE SETEMBRO

Liberdade! Independência!...
Eis os brados grandiosos
Que quais raios luminosos
Fulguraram lá nos céus!...
Eis a mágica -- Odisséia
Que duns lábios rebentando,
Foi o povo transformando,
Foi rompendo os negros véus!...

As colinas, prados, montes,
As florestas seculares
-- Os sertões, os próprios mares
Exultaram com fervor!
E os brados retumbaram
Pela lúcida devesa,
Pela virgem natureza
Com homérico clangor!...

Qual artista consumado,
Qual um velho estatuário
Do Brasil no azul sacrário,
Essa data vos traçou,
-- O triunfo mais pujante,
A eleita das idéias,
A major das epopéias
-- Q'inda igual não se gerou!...

Mas embora, meus senhores
Se festeje a Liberdade,
A gentil Fraternidade
Não raiou de todo, não!...
E a pátria dos Andradas
Dos -- Abreu, Gonçalves Dias
Inda vê nuvens sombrias,
Vê no céu fatal bulcão!...

Muito embora Rio Branco,
Esse cérebro profundo
Que passou por entre o mundo,
Do Brasil como um Tupã!...
Muito embora em catadupas
Derramasse o verbo augusto,
Da nação no enorme busto
Inda a mancha existe, há!...

É preciso com esforço,
Colossal, estranho, ingente,
Ir o cancro, de repente
Esmagar que nos corrói!...
É preciso que essa Deusa,
A excelsa Liberdade,
Raie enfim na Imensidade
Mais altiva como sói!...

Sai da larva a borboleta
Com as asas auriazuis
E um disco vai -- de luz
A deixar onde passou!
No entanto o grande berço
Das façanhas de Cabrito
Inda espera um novo grito
Como o -- Basta -- de Waterloo!...

Eu bem sei que Guttemberg
Que esse Fulton primoroso
Faust, Kepler grandioso
Trabalharam té vencer!
Mas embora tropeçassem
Acurando os seus eventos,
Tinham sempre tais portentos
A vontade por poder!...

Eia! sim! -- p’ra Liberdade
Irrompei qual verbo eterno,
Como o -- Fiat -- superno
Pelos ares a rolar!
Eia! sim! -- que nossa pátria
Só precisa -- mas de bravos...
E em prol desses escravos
Seu dever é trabalhar!!...

Somos filhos dessa gleba
Majestosa aonde o gênio
Como o astro do proscênio
Solta as asas, mui febril!
Dos selvagens Tiaraiús
E dos brônzeos Guaicurus...
Somos filhos do Brasil!...

Esperemos, tudo embora!...
Pois que a sã locomotiva,
Do progresso imagem viva
Não se fez a um sopro vão!.
Aguardemos o momento
Das mais altas epopéias,
Quando o gládio das idéias
Empunhar toda a nação!...

Esperemos mais um pouco
Q’inda há almas brasileiras
Que se lembrarão, sobranceiras,
Que é preciso progredir!...
Inda há peitos valerosos
Que combatem descobertos
Por florestas, por desertos,
Mas c'os olhos no porvir!...

Inda há lúcidas falanges
Lutadores denodados
Que se erguem transportados
Burilando a sã razão!...
Inda há quem se recorde
Do Egrégio Tiradentes
Que do sangue as gotas quentes
Derramou pela nação!!...

Já nas margens do Ipiranga
Patrióticos acentos
Vão alados como os ventos
Pelos páramos azuis!!...
Vamos! Vamos! -- eia! exulta,
Jovem pátria dos renomes...
-- Vibra a lira, Carlos Gomes!
Bocaiúva, espalha luz!!...

TRÊS PENSAMENTOS

Nasceste no Brasil -- filha d’América,
Tu sabes conservar nas débeis veias
No lúcido pulmão
O sangue efervescente e purpurino
A força de subir ao céu da história.
As lutas da razão!...

Nasceste no Brasil -- em meio às plagas
Da grande natureza mais pujante
E cheia de arrebol!...
E sabes obumbrar os astros fulvos
E lanças raios mil por toda a parte,
Soberba como o sol!...

Nasceste no Brasil e o eco ovante
Das glórias sublimadas que tu colhes
Por este céu azul,
Vem férvido, viril e acentuado
Assaz repercutir com mais verdade
Aqui... aqui no sul!...

PARANAGUADAS

Que importa que tu fales
Que importa que tu files
Que importa que não cales,
Que importa que tu fales
Que importa que te rales,
Que importa-me essa bílis
Que importa que tu fales
Que importa que tu files.

QUESTÃO BROCARDO

-- Pife, pufe, pafe, pefe
Pafe, pefe, pife, pufe --
A cacholeta no chefe --
-- Pife, pufe, pafe, pefe
Estoure como um tabefe
E o ventre de raiva entufe --
-- Pife, pufe, pafe, pefe
Pafe, pefe, pife, pufe!

SEMPRE

Se é certo que o amor é um bem profundo
Se é certo que o amor é um sol ardente,
Eu hei de amar-te sempre neste mundo
E sempre, sempre, sempre -- eternamente.

Fonte:
Cruz e Sousa, Poesia Completa, org. de Zahidé Muzart, Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura / Fundação Banco do Brasil, 1993.

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) O Sítio do Picapau Amarelo VII – O Assalto


Nisto o mato farfalhou à beira da estrada. Os cavalinhos se assustaram e empinaram.

— A quadrilha Chupa-Ovo! — gritou Emília aterrorizada, erguendo os braços como no cinema. Narizinho também empalideceu e procurou instintivamente agarrar-se ao marquês de Rabicó. Mas o marquês já havia pulado no chão e sumido...

— A bolsa ou a vida! — intimou o chefe da quadrilha apontando o trabuco.

Narizinho a tremer, olhou para ele e franziu a testa. “Eu conheço esta cara!” — pensou consigo. “É Tom Mix, o grande herói do cinema!... Mas quem havia de dizer que esse famoso cowboy tão simpático, havia de acabar assim, feito chefe duma quadrilha de lagartos?...”

— A bolsa ou a vida! — repetiu Tom Mix, carrancudo.

— Bolsa não temos, senhor Tom Mix — disse a menina – mas tenho aqui uns bolinhos muito gostosos. Aceita um?

O bandido tomou um bolo e provou.

— Não gosto de bolo amanhecido! — respondeu cuspindo de lado. Quero ouro de verdade!

Assim que ele falou em ouro, Narizinho teve uma idéia de gênio.

— Perfeitamente, senhor Tom Mix. Vou dar-lhe um montinho de ouro puro, do bem amarelo. Mas há de prometer-me uma porção de coisas...

— Prometo tudo quanto quiser — retrucou o bandido, já mais amável com a idéia do montinho de ouro.

— Então passe para cá o seu alforje e mais uma tesourinha.

Sem nada compreender daquilo, Tom Mix foi dando o que ela pedia. Narizinho, então, chamou Emília de parte e cochichou-lhe ao ouvido qualquer coisa. A boneca não gostou, pois bateu o pé, exclamando:

— Nunca! Antes morrer!...

Tanto Narizinho insistiu, porém, que Emília acabou cedendo, entre soluços e suspiros de desespero. Depois, erguendo a saia até os joelhos, espichou uma das pernas sobre o colo da menina. Esta, muito séria, como quem faz operação da mais alta importância, desfez-lhe a costura da barriga da perna e despejou toda a macela do recheio no alforje de Tom Mix. Em seguida ergueu-se e disse-lhe:

— Aqui tem o seu alforje cheio de ouro-macela!

— Muito bem — respondeu o bandido com os olhos a faiscarem de cobiça. — A menina está agora livre e tem em mim de hoje em diante o mais dedicado servidor. Nos momentos de perigo basta gritar; “Mix, Mix, Mix!” que aparecerei incontinenti para salvá-la.

Cumprimentou-a com o chapelão de abas largas e retirou-se, seguido dos seus lagartos.

Ao vê-los sumirem-se ao longe, Narizinho criou alma nova.

— Ufa! — exclamou. — Escapamos de boa! Continuemos a nossa viagem, Emília — e tratou de montar novamente. Um, dois, três — upa! Montou. Emília também — um, dois, três... e nada! Não conseguiu montar.

— Ai! — gemeu sacudindo a perninha saqueada. — Não posso andar, nem montar com esta perna vazia!...

Apesar do triste da situação, Narizinho espremeu uma risadinha.

— Malvada! — exclamou Emília chorosa. — Salvei-a da morte à custa da minha pobre perna e em paga você ri-se de mim...

— Perdoe, Emília! Reconheço que me salvou, mas se soubesse como está cômica com essa perna vazia... O melhor é vir comigo na garupa do pangaré, bem agarradinha. Dê cá a mão. Upa!

Com alguma dificuldade conseguiu acomodá-la na garupa do cavalinho, recomendando-lhe que se segurasse muito bem, pois tinha de ir a galope.

— Sossegue, Narizinho, que daqui nem torquês me arranca! — respondeu Emília. A menina estalou o chicote e o pangaré partiu na galopada erguendo nuvens de pó — pá-lá-lá, pá-lá-lá! De repente:

— Que fim levou o marquês? — interrogou Emília olhando para trás.

Narizinho deteve o cavalo.

— É verdade!... Aquele poltrão comportou-se de tal maneira que a coisa não pode ficar assim. Hei de vingar-me — e é já, quer ver?

Voltando-se para o mato gritou: “Mix, Mix, Mix!”

Imediatamente Tom Mix surgiu diante dela.

— Amigo Tom Mix — disse Narizinho — fui covardemente traída pelo senhor marquês de Rabicó, um poltrão que ao ver-nos em perigo só cuidou de si, fugindo com quantas pernas tinha. Quero ser vingada sem demora, está entendendo?

— Sereis vingada, ó gentil princesa! — disse Tom Mix estendendo a mão como quem faz um juramento. — Mas de que forma quereis ser vingada, ó gentil princesa?

Narizinho respondeu depois de pensar alguns instantes :

— Minha vingança tem de ser esta: quero amanhã ao almoço comer virado de feijão com torresmo, mas torresmo de marquês, está ouvindo?

— Vossa vontade será satisfeita, ó gentil princesa! — disse o bandido, curvando-se com a mão no peito e desaparecendo.

— Coitado do Rabicó! — exclamou Emília compungida.

— Coitado nada! Rabicó precisa levar uma boa esfrega. Dou-lhe uma lição que vai servir para toda a vida. Nunca mais cairá noutra...
–––––––––
Continua... Tom, Mix

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

57a. Feira de Livros de Porto Alegre (Programação de 12 de novembro, sábado)


Mostra Vivências criativas com jogos culturais
12/11/2011 - 09:00

Sessão de Autógrafos do Instituto Marista Graças - Viamão
12/11/2011 - 10:30

Leituras mais que obrigatórias
12/11/2011 - 13:30
Uma releitura das obras indicadas para a UFRGS

A Feira fora da Feira
12/11/2011 - 14:00
Evento até as 18h. Como diz o adágio popular, o artista tem que ir onde o povo está. Com esta ideia, a Feira leva autores e artistas a bairros periféricos de Porto Alegre.

Modernizações de bibliotecas
12/11/2011 - 14:00

Oficina: Contando histórias para crianças hospitalizadas
12/11/2011 - 14:00
Oficina de contação de histórias em hospitais para crianças e adolescentes. Módulo 3/3

Contação de histórias com o grupo de contadores de histórias do Teatro de Arena
12/11/2011 - 14:00

Contação de Histórias com a equipe do QG
12/11/2011 - 14:00

Como ter uma conduta educacional equilibrada
12/11/2011 - 14:30
Responsabilidade a pais e educadores na formação de seres humanos competentes, éticos e felizes

Tenda.doc: A mão e a luva
12/11/2011 - 14:30
A história de Ricardo Gomez Ferraz, conhecido como Kcal. Músico e poeta Recifense, é apaixonado por literatura desde que encontrou, no lixo, o livro ‘A mão e a luva’, de Machado de Assis

Contos de Amores Vãos//A Ilha Mágica
12/11/2011 - 14:30
Editora: Maneco

Blogs do Além
12/11/2011 - 14:30
Editora: Realejo

Poemas
12/11/2011 - 14:30
Editora: SVB Edição e Arte

O fantasma do castelinho
12/11/2011 - 14:30
Editora: Errejota Livros Ed.

Ousei escrever poesias 3
12/11/2011 - 14:30
Editora: Independente

Poemas de vinho e vida
12/11/2011 - 15:00
Uma vida levada com classe tem que ter poesia e bom vinho

Sessão de autógrafos do livro Tecendo Palavras, construindo ideias
12/11/2011 - 15:00

O menino que aprendeu cedo demais
12/11/2011 - 15:00
Espetáculo teatral

A Arte Levada a Sério
12/11/2011 - 15:00
Apresentação artística dos alunos do Centro Educacional do município de Tramandaí

Um fio de amizade
12/11/2011 - 15:00
Editora: Larousse

Bonifácio e a serie fantástica, de Leila Mury Bergmann – as aventuras dos amigos do Bonifácio: o vampiro Clodoaldo, a Arvorenga e o gigante Ógui.
12/11/2011 - 15:30
Contação de Histórias com a equipe do QG

Álvares de Azevedo de Bolso
12/11/2011 - 15:30
Editora: Revolução Cultural

Oficina: Nietzsche e a criação poética como alternativa à dependência química
12/11/2011 - 16:00
Reflexão filosófico-poética baseada em Nietzsche no combate à dependência química. Oficina em módulo único

Sport Club Literatura
12/11/2011 - 16:00
Partida "Com-ca vs Sem-ca": Crônica de uma morte anunciada, de Gabriel Garcia Márquez x Travessuras da menina má, de Mario Vargas Llosa Juízes: Joana Bosak e Taize Odelli Partida "Coliseu"

Armenia
12/11/2011 - 16:00
Histórias de Armenia, uma jovem de 87 primaveras que resolve conhecer o mundo!

O Amigo Bonifácio
12/11/2011 - 16:00
Editora: Libretos

Maroca e Deolindo entre outros festejos
12/11/2011 - 16:00
Editora: Paulinas

O Vampiro Clodoaldo
12/11/2011 - 16:00
Editora: Libretos

A Floresta Encantada
12/11/2011 - 16:00
Editora: Libretos

O Gigante Ógui
12/11/2011 - 16:00
Editora: Libretos

A Arvorenga
12/11/2011 - 16:00
Editora: Libretos

Coletânea Fantasias
12/11/2011 - 16:00
Editora: Alternativa

Políticas de acessibilidade e a área do livro
12/11/2011 - 16:30

Oficina: Os Caminhos para o livro
12/11/2011 - 16:30
Como encaminhar um texto para primeira publicação? Módulo 1/2

Dicas de Telejornalismo
12/11/2011 - 16:30
Editora: Independente

Menino com Pássaro ao ombro
12/11/2011 - 16:30
Editora: Artes e Ofícios

Pais e Educadores de Alta Performance
12/11/2011 - 16:30
Editora: Integrare

O mundo de Camila - Performance e bate-papo
12/11/2011 - 17:00

Encontro Potteriano
12/11/2011 - 17:00

A Truta
12/11/2011 - 17:00
Editora: Paulinas

O mundo de Camila
12/11/2011 - 17:00
Editora: Projeto

Sonetos e versetos
12/11/2011 - 17:30
Editora: Suliani Letra & Vida

Respingos de Sonhos
12/11/2011 - 17:30
Editora: Editora Alcance

Fatos e Feitos
12/11/2011 - 17:30
Editora: Errejota Livros Ed.

O barão da independência
12/11/2011 - 17:30
Editora: Errejota Livros Ed.

Paulo Moura, um solo brasileiro
12/11/2011 - 18:00
Entrevista sobre o processo de criação do livro e apresentação musical relacionada à obra do maestro Paulo Moura

Coletânea Labirintos
12/11/2011 - 18:00
Editora: Alternativa

De Vinho & Vida - Poemas
12/11/2011 - 18:00
Editora: AJR

O cão-guia que mudou a história do país
12/11/2011 - 18:30
A comovente história do cão que mudou a história de sua dona e do Brasil

Oficina: Contos - a literatura e as sensações - Com Cíntia Moscovich
12/11/2011 - 18:30
Oficina de escrita criativa com ênfase no conto e em técnicas narrativas variadas. Visa ao desbloqueio criativo e ao incremento de memória sensorial. Módulo 3/3

Oficina: Os Caminhos para o livro
12/11/2011 - 18:30
Como encaminhar um texto para primeira publicação? Módulo 2/2

Oficina do Ovo Mágico
12/11/2011 - 18:30

Coleção Símbolos do Rio Grande do Sul
12/11/2011 - 18:30
Editora: Imprensa Livre

Estratégias Biográficas: o biografema com Barthes, Deleuze, Nietzche e Henry Miller
12/11/2011 - 18:30
Editora: Sulina

Cine Santander Cultural
12/11/2011 - 19:00
Sessão Comentada

A Razão Universal, o espírito filosófico e o educado
12/11/2011 - 19:30
Editora: maisqnada

Fim de Toda Existência - Prelúdio do Fim & Outros Escritos
12/11/2011 - 19:30
Editora: Alternativa Distribuidora de Livros Ltda.

Canto Ancestral
12/11/2011 - 19:30
Editora: Lisandro Amaral Editor

Histórias de Trabalho edições 2010/2011
12/11/2011 - 20:00
Editora: Editora da Cidade/SMC

Campereadas: crônicas, contos e causos do Sul
12/11/2011 - 20:30
Editora: Sulina

Nas entrelinhas
12/11/2011 - 20:30
Editora: Independente

Fonte:
http://www.feiradolivro-poa.com.br/

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 391)


Uma Trova Nacional

Como dizia vovó,
com sabedoria exata:
saudade, meu neto, é um nó
que a gente nunca desata!
–AGNELO CAMPOS/SP–

Uma Trova Potiguar

Sempre sozinha, aos farrapos,
mas de rosário na mão.
A fé tecida entre os trapos
remendava a solidão!
–PROF. GARCIA/RN–

Uma Trova Premiada

2011 - ATRN-Natal/RN
Tema: VERTENTE - 2º Lugar

Nas ilusões eu me orgulho
de vencer tempos tristonhos,
pois, destemido, mergulho
numa vertente de sonhos...
–EDMAR JAPIASSÚ MAIA/RJ–

Uma Trova de Ademar

Hoje eu culpo a mocidade
que ao encher-me de alegrias
deu-me um cofre de saudade
e um milhão de fantasias!...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Tu partes com tal frequência
que, embora em meio às promessas,
persiste um sabor de ausência
toda vez que tu regressas.
–ALCY RIBEIRO S. MAIOR/RJ–

Simplesmente Poesia

Saga
–HÉLVERTON BAIANO/GO–

Os marços de minha vida
me chegam tão de repente
parece até que não vivo
vou passando simplesmente.

Parece até que eu morro
um centímetro por dia
querendo saber da cova
que fundura tem por guia.

E assim passo passando
parte do que passaria
quisera que só passasse
0 que fica em agonia.

Agora recomeçasse
sem sofrer, sem mal, sem dor
passasse o caos e a crueldade
e só ficasse o amor.

Estrofe do Dia

Quero ser eu de verdade;
quero um não sem lero-lero;
quero ter tudo que eu quero;
quero usar minha vontade.
Quero minha liberdade;
quero dar mais confiança;
quero ser a esperança;
quero ser bem educado;
quero amar e ser amado;
quero, apenas, ser criança.
–TARCÍSIO FERNANDES/RN–

Soneto do Dia

O Sinal
–JOSÉ OUVERNEY/SP–

Absorto, incompreendido em seu dilema,
a questionar o próprio potencial,
ele costura nova estrofe ao tema,
lendo-a em voz alta, ríspido e formal;

carente de um melhor estratagema
que faça a inspiração dar-lhe um sinal,
navega horas a fio no poema,
à procura do enfoque original;

gosta, desgosta... Tira e põe remendo...
(Ah, esses poetas que eu jamais entendo!)
Lança outro olhar ao rasurado texto;

por fim, como a extirpar o próprio ser,
cético, arranca a página, a sofrer,
amassa a "obra-prima" e "zás"... no cesto!...

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

57a. Feira de Livros de Porto Alegre (Programação de 11 de novembro, sexta-feira)


12ª Encontro de Promotores de Eventos Literários do Rio Grande do Sul
09:00
Credenciamento

Sessão de Autógrafos do Colégio Luterano da Paz - Porto Alegre
09:00

Contação e cantação de histórias com a equipe do QG
09:00
Contos dos Irmãos Grimm

Mostra Vivências criativas com jogos culturais
09:00

O Autor no Palco
09:00
Encontro de escritores e ilustradores com alunos do ensino fundamental

Mostra do Programa de Leitura Adote um Escritor
09:00

12ª Encontro de Promotores de Eventos Literários do Rio Grande do Sul
10:00
Abertura do Encontro e Lançamento da Semana do Livro 2012 Abertura com João Carneiro, presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro; Carla Chilanti Pinheiro, coordenadora da Área de Cultura e ...

Fluência Digital - Sala de Aula do Futuro
10:00
Parceria: Procempa

Encontro com autor
10:30

Contação e cantação de histórias com a equipe do QG
10:30
Histórias de Princesa

O Autor no Palco
10:30
Encontro de escritores e ilustradores com alunos do ensino fundamental

12ª Encontro de Promotores de Eventos Literários do Rio Grande do Sul
11:00
Palestra com a autora Eliana Yunes

Blog, Rádio e TV ? faça você mesmo! - Sala de Aula do Futuro
11:00
Parceria: Procempa

Oficina: Leitura e Construção da subjetividade
13:30
O ato de ler, suas implicações e desdobramentos. Oficina em módulo único

Mercosul e literatura
14:00

Oficina: Crítica Literária
14:00
Apresentação expositiva, leitura e discussão de textos e prática de crítica literária. Módulo 3/3

Maria vai com as outras
14:00
Contação da história de Sylvia Orthoff por Bárbara Camargo

12ª Encontro de Promotores de Eventos Literários do Rio Grande do Sul
14:00
Saudação da patrona da Feira, Jane Tutikian. A Construção do Plano Municipal do Livro e da Leitura - Relato de Lúcia Jahn e Fernando Rossano, coordenadores do GT do PMML Porto Alegre

Sessão de Autógrafos do Colégio São Paulo - Porto Alegre
14:00

Contação de Histórias dos Livros Chuvesia e Lilly, de Marion Cruz
14:00

Dez Anos de Leis e de Ações Municipais
14:00
Editora: Gráfica Progressiva-Curitiba

I Encontro de Historiadores e Escritores - Mesa 1: Os Açorianos na obra de Luiz Antônio Alves
14:30

Mesa 2: Açorianos - Décima ilha Açoriana

Tenda: Documentário Sangue Latino
14:30
Com apresentação do jornalista e escritor Erick Nepomuceno, são entrevistados neste documentário: Eduardo Galeano, Mempo Giardinelli e Francisco Buarque de Holanda

Lampada de Lua/Lampada de Luna - Se Tivesse Tempo/Se Tuviera Tiempo
15:00
Editora: Escala

Fábulas de Ítalo Calvino
15:30
Contação de histórias

12ª Encontro de Promotores de Eventos Literários do Rio Grande do Sul
15:30
Relatos de promotores de feiras de livros e de outros eventos literários

Encontro com autor
15:30

Cine SESC
15:30
Exibição do filme Azur e Asmar

A Arte Levada a Sério
15:30
O menino que quase morreu afogado no lixo - apresentação teatral da Escola Municipal 25 de Julho de Ivoti

Ebulição
15:30
Editora: Meia Lua

Caravanas de Divulgação - Histórias de Espiritismo Familiar
15:30
AutógrafosEditora: FERGS

Oficina: O prazer da poesia
16:00
Identificação da linguagem poética em diferentes poemas objetivando a escrita criativa. Oficina em módulo único

Boca cheia de histórias
16:00
Leitura de textos de escritores latinos

Autor presente, uma ação transversal entre Cultura e Educação
16:00

Nikos e o Labirinto
16:00
Editora: Palmarinca e Modelo de Nuvem

Léguas de Milongas
16:00
Editora: Imprensa Livre

II Antologia da Academia Rio-Grandense de Letras - Prosa - Edição Comemorativa
16:00
Editora: Relâmpago

Oficina: Os bastidores de Ribamar - Como nasce um romance?
16:30
Leitura comentada de alguns dos capítulos principais do romance e debate a respeito das condições, obstáculos, medos, impasses e alegrias que envolvem a criação literária. Módulo 3/3

Manoelito o palhaço tristonho
17:00
Contação de Histórias com Angélica Rizzi

Presença de Alan Pauls
17:30

Autor conversa com o público sobre sua obra e a literatura na Argentina

Sem medo de voar
17:30
Editora: Já Editores

Tu ser joven
17:30
Editora: Dunken

Nua e crua e Xíxua com x
17:30
Editora: Cidadela

Lançamento do livro Saia Justa
18:00
Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre

Reminiscências e Futurismo - XVI Antologia União Brasileira de Escritores do RS
18:00
Editora: UBE/RS

Fronteiras da Integração: dimensões culturais do Mercosul
18:00
Editora: Território das Artes

Guia politicamente incorreto da América Latina
18:30
Histórias de heróis e revoluções talvez um pouco exageradas, equivocadas ou mentirosas e mítico dos países latinos

Oficina: Contos - a literatura e as sensações - Com Cíntia Moscovich
18:30
Oficina de escrita criativa com ênfase no conto e em técnicas narrativas variadas. Visa ao desbloqueio criativo e ao incremento de memória sensorial. Módulo 2/3

Esquetes teatrais com textos de Bertold Brecht
18:30

Universos complementares: astrobiologia, ficção científica e o crescimento exponencial da tecnologia
18:30
Editora: Suliani Letra & Vida

Travessia: quinze contos peregrinos
18:30
Editora: Editora da Cidade/SMC

Pulsações na tela
18:30
Editora: maisqnada

Ribamar
18:30
Editora: Bertrand

O segredo de Frida Kahlo - Presença de autor mexicano
19:00
Com ingredientes que não podem faltar na cozinha de ninguém - paixão, romance, dor, traição, luxúria e drama - essa mistura de realidade e ficção desvenda a vida dessa ousada e intrigante artista

Oficina: Trajetórias da escrita de um livro
19:00
Da preparação do escritor ao projeto do que será publicado. Módulo 2/2

Cine Santander Cultural
19:00
Sessão Comentada

História do Cabelo
19:30
Editora: Cosacnaify

Conversas Apócrifas com Enrique Vila-Matas
19:30
Editora: Palmarinca e Modelo de Nuvem

O sexo das antas
19:30
Editora: Palmarinca e Pergamus

Poemas de Aprendiz
19:30
Editora: Movimento

Cordão da Saideira: Dando uma banda pela América Latina
20:00
O Cabaré do Verbo propõe uma viagem pela América Latina através de seus contos, causos, verdades e mentiras!

Antologia III - Academia dos Escritores do Litoral Norte Gaúcho - AELN
20:00
Editora: Secco

Chico Bastos - O Pescador
20:30
Editora: UniverCidade

Os segredos de Frida Kahlo
20:30
Editora: Planeta

Guia politicamente incorreto da América latina
20:30
Editora: Leya

Coisas de Mulherzinha 2
20:30
Editora: Cidadela

Fonte:
http://www.feiradolivro-poa.com.br

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Alerta sobre as Postagens desta Semana


Em virtude de eu estar fazendo um curso no SEBRAE sobre abertura de microempresa, as postagens estão meio irregulares, mantendo-se apenas as mensagens poéticas e a programação da Feira de Livros de Porto Alegre, contudo na sexta-feira (11) elas voltarão ao normal.

Obrigado
José Feldman