quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Lendas e Contos Populares do Paraná (Jandaia do Sul – Lidianópolis – Paiçandu – Palmeira – Ponta Grossa – Rio Branco do Ivaí)


JANDAIA DO SUL
A lenda de Jandaia


Há muitos anos vagava entre os pinheirais uma esbelta menina de olhos da cor de pinhão e seus cabelos esvoaçavam, como fios dourados em espigas de milho. Nunca se soube de onde ela veio, apenas que seu pai era um bravo cacique, que deveria habitar a imensidão da terra roxa, colher frutos silvestres e beber dos mananciais cristalinos.

Mas, ansiosa, aguardava o dia em que haveria de surgir um companheiro, que seria destro na caça e forte na guerra. Já lhe dissera Tupã, quando ela se banhara numa cascata, mirando-se nas águas: “Jandaia haverá de receber, em breve, aquele que te revelará os arcanos do amor, foste talhada para os seus braços e só a ele servirás. Tu o verás presente entre os esplendores do sol e o vigor dos arbustos”.

Em todas as manhãs, muito antes da alva, Jandaia subia no cimo da colina perscrutando os pinheiros frondosos e aguardando o romper do sol, que também viria fixar-lhe o bronze de sua pele. Numa radiosa manhã, quando Jandaia inebriava-se de luz, eis que se aproxima um cervo com uma flecha cravada, tombando a seus pés. Surge, em seguida, um caçador, jovem e forte. Ele se deslumbra, ante aquela princesa selvagem.

Jandaia acaricia o cervo, depois dirige seu olhar para o moço guerreiro e acena-lhe para que se aproxime. Ele deixa o arco e as flechas e acolhe-a nos braços. Em frêmitos a mata regozija-se. Jandaia cinge-o em seus braços; sendo observada pelo sol. Este, enciumado, aquece os lábios rubros de Jandaia, a enfeitiça e seduz, agora mais que em todas as outras manhãs. Enciumado, arrebata-a para si. Ela, então, sente que ama o sol e deve-lhe sua existência.

Tupã, tomado de uma grande ira, vendo que Jandaia pertencia ao sol e não ao guerreiro que enviara, transformou-a numa cidade. Para que todos pisassem sobre ela e cobrissem de asfalto seus braços bronzeados.

O sol, condoído, surge todos os dias, com o mesmo calor de outrora, espargindo-se sobre a cidade e, como se não bastasse, ordena ao Cruzeiro do Sul, à noite, para que a vigie. Por isso, Jandaia recebeu mais um nome. Devendo sempre chamar-se Jandaia do Sul.

LIDIANOPÓLIS
Lenda do Rio Ivaí


Explica o motivo pelo qual o rio é tão torto, possuindo tantas curvas, inclusive, com formato de uma ferradura. Contam os moradores locais que certa vez um ser divino pediu à uma mulher que ela seguisse em frente, pela margem do rio Ivaí, sem olhar para trás. Esta, por sua vez, não cumpriu o combinado e a curva do rio representa, então, uma “olhadinha” da mulher.

PAIÇANDU
Origem do nome da cidade


Paiçandu tem origem tupi-guarani, cujo significado é “I-páu-zan-du”. Ilha do padre ou Ilha do pai. Os primeiros habitantes foram índios e caboclos e aqui havia um famoso curandeiro, com o nome “Çandu”; ele era muito respeitado e realizava curas extraordinárias. Diz a lenda que atraía pessoas de Maringá e arredores. Em geral, os curandeiros eram chamados de “pa’í”, de onde se originou a denominação Pa’í “Çandu”.

Paiçandu (outra versão)

Uma versão dá conta de que Paiçandu é topônimo de uma cidade uruguaia, sendo nome de uma fortaleza onde se travou importante batalha na Guerra do Uruguai. Na época, comandavam o corpo de ataque do Brasil, naquele setor, o Almirante Tamandaré e o Marechal Procópio Menna Barreto, que forçaram a rendição uruguaia, no dia 2 de janeiro de 1865; batalha decisiva no panorama político-continental daquele período. Deu-se, assim, a denominação ao município em homenagem ao histórico episódio.

PALMEIRA
Surgimento de Palmeira


Conta uma lenda indígena, que certa vez um forte e destemido índio do planalto, filho do cacique, pediu ao pai para conhecer o mar. Ao conhecer os carijós, no litoral, apaixonou-se por uma indiazinha, estes estavam para casar. Quando retornou para pedir a benção do pai, este não concordou com a união e invocou o espírito do mal, a fim de petrificá-los.

Os carijós, tristes pela perda de sua irmã, recorrem a Tupã, mas este, não podendo tirar esse encantamento, apenas atenuou o mal, transformando-os em duas bonitas e simbólicas árvores. Ao belo índio deu a forma do pinheiro e à indiazinha, uma esbelta e graciosa palmeira. E quando o vento sopra, leva os suspiros do elegante pinheiro à sua bem amada e os dela ao seu amor.

Correram os anos. Um dia, por vontade de Tupã, um velho fazendeiro vai até o litoral e leva sementes da bela palmeira, mais alguns anos e a fazenda Palmeira se tornou a mais linda dos Campos Gerais. Fiel à tradição, doou o velho fazendeiro, no rincão dos buracos, meia légua de campos à Nossa Senhora da Conceição. Surgiu, então, a primeira capela. Envolto em brumas, fica, porém, um fio de verdade dessa lenda selvagem das araucárias: o elo da amizade que ora une Paranaguá a Palmeira.

PONTA GROSSA
Lenda das pombinhas


Conta-se que os antigos fazendeiros se reuniram para escolher a sede da povoação, onde ergueriam a Capela de Sant’ana. Como não se decidiam sobre o local, resolveram soltar dois pombos brancos, e onde eles pousassem, ali se iniciaria a vila. Depois de muito acompanharem as aves, elas, finalmente, desceram, determinando o local onde até hoje está a catedral.

Lenda de Vila Velha

Numa das versões lendárias sobre Vila Velha, ela era chamada Itacueretaba, aldeia de pedra velha. Itacueretaba era uma aldeia próspera, que continha um tesouro guardado por uma tribo de homens que eram proibidos de viverem com mulheres. A desobediência de um deles, fez o criador transformar a aldeia em pedra e o tesouro na lagoa dourada como punição pela falta.

RIO BRANCO DO IVAÍ
Lenda do Rio Ivaí


Uma linda índia, aparecida aos canoeiros que subiam e desciam o rio, levava-os aos lugares com mais pedras e dizia a eles: vai por aí. E os canoeiros iam por lugares que a índia indicava e ficavam envolvidos nas pedras sem poder sair. Os canoeiros, amedrontados, iam contar o ocorrido e juntavam as palavras para pronunciar, dizendo Ivaí, que significa: índia-vai-aí; por todo o percurso do rio. Ficando Ivaí, no início da colonização.

A lenda do Rio Branco

No início da colonização, um dos jesuítas que veio para a catequização dos índios que viviam nessas plagas, trouxe consigo um enorme pote de ouro. Não tendo onde guardá-lo, enterrou à beira do rio. Perto havia uma vaca pastando, era branca como a neve. O sol esquentou e a vaca sumiu do lugar sem que o jesuíta a visse mais. Quando lhe perguntavam sobre o ouro, ele dizia:

– O pote é da vaca branca. Mas a verdade é que ele não sabia mais, onde foi que enterrara o pote de ouro. A única marca que ele se lembrava era a vaca branca. Por isso, deu o nome ao rio de rio Branco. Porque ele sabia que era à beira do rio, em algum lugar, que deixara o pote de ouro.

A lenda do Véu da noiva

Uma moça, filha de um fazendeiro que morava perto de um rio, onde havia uma linda cachoeira, gostava de um dos seus empregados e dizia que queria casar com ele. Usaria no seu casamento um véu bem comprido e largo. Seu pai, que era um homem ambicioso, a deu em casamento para um homem rico e desconhecido, que ela não conhecia.

Ela, vendo que a data se aproximava e não conseguia de jeito nenhum terminar aquele noivado indesejável, foi à cachoeira, escorregou lentamente no lugar mais perigoso das pedras. Os seus longos cabelos, levados pelas águas, se abriram enroscando-se nas raízes e pedras e ela morreu. Quando acharam o corpo, chamaram aquele lugar de Véu da Noiva.

Fonte:
Renato Augusto Carneiro Jr. (coordenador). Lendas e Contos Populares do Paraná. 21. ed. Curitiba : Secretaria de Estado da Cultura , 2005. (Cadernos Paraná da Gente 3).

Guerra Junqueiro (A Urna das Lágrimas)


Era uma vez uma viúva, que tinha uma filhinha muito linda, a quem adorava sobre todas as coisas. Não se separava dela um só momento; mas um dia a pobre pequerrucha começou a sofrer, adoeceu e morreu. A desditosa mãe, que tinha passado as noites e os dias sem repousar um momento, à cabeceira da filha, julgou endoidecer de mágoa e de saudades. Não comia, não fazia senão chorar e lamentar-se. Uma noite em que estava acabrunhada, chorando no mesmo sítio em que a filha tinha morrido, abriu-se de repente a porta do quarto e viu-a aparecer a ela, a sua querida filha, sorrindo com uma expressão angélica e trazendo nas mãos uma urna, que vinha cheia até às bordas.

– «Oh! minha querida mãe, disse-lhe ela, não chores mais. Olha, o anjo das lágrimas recolheu as tuas nesta urna. Se chorares mais, transbordará, e as tuas lágrimas correrão sobre mim, inquietando-me no túmulo e perturbando a minha felicidade no Paraíso.»

A pequenina desapareceu e a mãe não tornou a chorar para a não afligir.

Fonte:
Guerra Junqueiro. Contos para a infância.

Ademar Macedo (Mensagens Poética n. 452) Para Descontrair


Uma Trova de Ademar

Casou e não se arrepende
pois seu marido não ”gela”;
quando ela em fogo se acende,
ele apaga a chama dela.
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Tentando tornar-se "inox"
para as pregas que surgia,
a "loira" usava botox
no lugar que não devia!
–FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE–

Uma Trova Potiguar

É por demais assanhada
a galinha do vizinho:
já tem a costa pelada
por excesso de carinho...
–FABIANO WANDERLEY/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Na tumba da falecida,
o esposo ciumento, à porta,
murmura: - Volta, querida.
E ela responde: - Nem morta!
–ALOÍSIO ALVES DA COSTA/CE–

Uma Trova Premiada


1999 - Nova Friburgo/RJ
Tema: MANIA - M/E


Devido à sua mania
de flertar a marujada,
a cidade a conhecia
por Teresa "Pátria Amada".
–PEDRO DE MELLO/SP–

Simplesmente Poesia


MOTE:
–MARIA NASCIMENTO/RJ–


Noite e dia, usa pijama,
depois que se aposentou.
E a sogra, ao vê-lo na cama:
-Vai dormir... ou acordou?...

GLOSA:
–GILSON FAUSTINO MAIA/RJ–


Noite e dia, usa pijama,
com trabalho nada quer.
Na vizinhança, eis a fama:
vive as custas da mulher.

Só não trabalha, ele diz,
depois que se aposentou.
Como se o tal infeliz
nunca, nunca trabalhou?

Da vida ainda reclama:
-Eu vou morrer de exaustão!
E a sogra, ao vê-lo na cama:
-Vou chamar o rabecão!

A sogra, por ironia,
assim que ele bocejou,
já perto de meio dia:
-Vai dormir... ou acordou?...

Estrofe do Dia

Professora pede à classe
Com seu ar todo exigente
Para que em pé ficasse
Quem não fosse inteligente,
O Joãozinho se levanta
E então ela se espanta:
Só você, criaturinha?
Eu fiquei triste c'a cena
Da senhora tive pena
Não quis lhe deixar sozinha.
–JERSON BRITO/RO–

Soneto do Dia

Fim de Comédia.
–RAIMUNDO CORREIA/MA–

O pano sobe, e o povo, satisfeito,
Aplaude a farsa, e ao riso não resiste;
"Gosta um moço da filha de um sujeito,
E este não quer que a filha case; ao triste.

No fundo do jardim promete a amante
Um 'rendez-vous', longe do pai tirano;
Mas pilha o velho o escândalo flagrante,
E ambos vão casar-se... e cai o pano."

Dizem os velhos que o teatro ensina.
Então tu podes, sem pesar, menina,
Seguir este conselho: solta a rédea

Deste amor, que é o meu e o teu tormento,
Que há de a nossa comédia em casamento,
Findar, como finda a tal comédia.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) - Circo de Cavalinhos - VI - O desastre


Pedrinho estava numa terrível aflição. O Visconde havia desaparecido misteriosamente e o público não cessava de reclamar o palhaço. O menino não podia explicar a si próprio o estranho acontecimento. Deixara o Visconde, já vestido, num canto dos bastidores, prontinho para entrar em cena logo que Emília acabasse de correr — e não havia meio de descobrir o Visconde. Isso o obrigou a alterar a ordem do espetáculo.

— Ande, Faz-de-conta — disse ele ao boneco — vá engolindo espadas enquanto eu campeio o Visconde — e empurrou-o para dentro do picadeiro.

Faz-de-conta entrou com um feixe de espadas debaixo de um braço e uma lata de brasa debaixo do outro. Foi colocar-se bem no meio do picadeiro, num tapetinho que havia. E começou a engolir espadas. Fez o serviço tão bem feito que o público esqueceu a feiúra dele e rompeu em palmas. Depois de engolida a última espada, começou a comer fogo, e glut, glut, glut, deu conta de todas as brasas da lata. Ao comer a última, porém, esbarrou nela com a ponta do nariz (que, como todos sabem, era formado por um pau de fósforo) e pegou fogo.

Foi uma sensação! O público desandou num berreiro.

— Incêndio de nariz! — gritava o Polegar. — Chamem o corpo de bombeiros!

Aladim, Ali Babá, o Gato-de-Botas e outros pularam no picadeiro para socorrer o incendiado. Mas foi inútil. O nariz de Faz-de-conta já estava totalmente destruído, só restando um toquinho de carvão... O curioso é que o boneco melhorou bastante de aspecto.

Ficou bem menos feio, porque sua feiúra era causada principalmente por aquele horrível nariz de fósforo que tia Nastácia lhe havia espetado na cara. Faz-de-conta foi levado para dentro e o público, chefiado pelo Pequeno Polegar, continuou a pedir palhaço. E como Pedrinho não conseguisse encontrar o Visconde, teve de aparecer com explicações.

— Respeitável público! — disse ele. — Uma grande desgraça aconteceu. O nosso famoso palhaço Sabugueira acaba de desaparecer misteriosamente. Com certeza algum malvado o raptou, de modo que não há mais palhaço. Também não há mais pantomima. A grande estrela Emília, que desempenhava o papel principal, está emburrada e recusa-se a representar. Em vista desses contratempos vou terminar o espetáculo com a SURPRESA!

Uns espectadores bateram palmas; outros assobiaram e o Gato Félix gritou:

— Cocadas, ao menos!

Nisto entrou a SURPRESA. Era — adivinhem se são capazes! era um elefante, o menor elefante do mundo, como Pedrinho foi dizendo enquanto arrumava no picadeiro as garrafas sobre as quais o elefantinho ia caminhar. Um verdadeiro sucesso, a surpresa! Era um elefante tão perfeito que até parecia natural — com tromba, presas de marfim e grandes orelhas caídas. Deu umas voltas pelo picadeiro, naquele andar sossegado dos elefantes grandes e depois começou a caminhar, com muito medo, sobre as garrafas que Pedrinho colocara de jeito.

— Berra, elefante! — gritou Polegar.

O elefante obedeceu e berrou três vezes com toda a força. Mas berrou numa voz muito parecida com voz de porco. Maroto, que estava lá fora tomando conta do circo, ouviu o berro e ficou de orelha em pé. Depois entrou por baixo do pano para ver o que era. Ao dar com aquele bicho nunca visto, pôs-se a latir furiosamente e avançou contra ele de dentes arreganhados. Tamanho susto levou o elefante, que tremeu em cima das garrafas e veio ao chão. Maroto agarrou-o e sacudiu-o, e tanto o sacudiu que a pele do elefante se rasgou pelo meio deixando escapar de dentro — coin, coin, coin — um animal que ninguém esperava: o senhor marquês de Rabicó!... Foi um sucesso! O circo quase veio abaixo de tanta vaia e gritaria. Pedrinho coçou a cabeça; depois danou e caiu de pontapés no Maroto, enquanto Rabicó fugia para o terreiro. Para salvar a situação Narizinho entrou no picadeiro com um cabo de vassoura de tabuleta na ponta, onde se lia em enormes letras vermelhas: INTERVALO.

— Intervalo tem dois LL! — gritou o Pequeno Polegar, que era partidário da ortografia antiga, a complicada.

Mas ninguém lhe deu atenção. Todos cuidaram de descer o mais depressa possível, de medo que as cocadas não chegassem. Tia Nastácia, no seu vestido do tempo da Sinhá Moça, ergueu a toalha que cobria o tabuleiro e começou a distribuição.

— Quero uma branca, duas cor-de-rosa e três queimadas ! — foi dizendo o Gato Félix.

Enquanto isso, o Gato de Botas argumentava com Pedrinho a respeito do misterioso desaparecimento do Visconde.

— Juro que foi Peter Pan quem o raptou — dizia o gato. – Peter Pan é muito amigo de pregar peças. Veio aqui às ocultas e “bateu” o palhaço. Garanto que não foi outra coisa.

Mas não era nada disso. Era apenas o seguinte. O Visconde havia encontrado uma Trigonometria velha que pertencera ao cônego Encerrabodes e Pedrinho pusera como calço dum dos esteios do circo. Tamanha foi a sua satisfação, que arrancou o livro dali e saiu de braço dado com ele para um passeio pelos arredores. E por lá ficaram até o dia seguinte, a conversar sobre “senos” e “co-senos”.

— Como isso, se o doutor Caramujo havia curado o Visconde da sua mania científica?

Muito simples. Havia curado, mas não havia curado completamente. Deixara em sua barriga algumas letras para semente e foi o bastante para que a festa de Pedrinho acabasse naquele fiasco.

Não há nada mais perigoso do que semente de ciência...
––––––––––––––
Continua… Pena de Papagaio – I– A Voz

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Trova Ecológica 66 – Wagner Marques Lopes (MG)


Imagem = Cena do filme A Marcha dos Pinguins

Francisco Cândido Xavier (Trovadores do Além) Parte 2


51
Minha mãe – não te defino,
Por mais rebusque o abc...
Escrava pelo destino,
Rainha que ninguém vê.
MEIMEI

52
És tu mesmo quem governas
Teus sucessos e fracassos,
Depende das tuas pernas
A extensão dos próprios passos.
ADERBAL MELO

53
Prudência se não valesse
Na vigilância que exorta,
Nenhuma casa teria
Necessidade da porta.
LOBO DA COSTA

54
Nada de bom se mantém
Onde alguém se obrigue a tal.
Virtude é fazer o bem
Podendo fazer o mal.
ALCIDES BRANDÃO

55
Mulher caída na estrada!...
Não grites condenação.
A chuva desce do céu
E faz-se vida no chão.
RICARDO JÚNIOR

56
Por esses trilhos terrenos
Quantos louros imortais,
Se o rico bebesse menos,
Se o pobre comesse mais!...
LULU PAROLA

57
Esquecimento na Terra –
Anestesista divino.
Sofrimento – cirurgião
Que nos opera o destino.
HILDO RANGEL

58
Amor... Uma frase apenas...
Olhar terno que se afasta...
Um bilhetinho... uma flor...
Para quem ama isso basta...
TEOTÔNIO FREIRE

59
Se afirmas, triste e descrente,
Que a vida acaba no chão,
Repara a humilde semente
Em plena ressurreição.
FIDÉLIS ALVES

60
Quem sofra e não se desmande,
Sentirá, de fato, um dia,
Que tirou a sorte grande
Sem jogar na loteria.
SABINO BATISTA

61
Coração, canta de leve,
Não fales palavra triste...
Perto de mãe carinhosa,
Filho morto não existe.
RUBENS DE SÁ

62
Há uma alegria que cobra
Duras penas no caminho,
É aquela de ter de sobra
O pão que falta ao vizinho.
OSCAR BATISTA

63
Para quem serve e trabalha,
No esforço em que aprimora,
Calúnia não atrapalha,
Elogio não melhora.
LOPES FILHO

64
Dois corações que se amam
Têm desses elos fatais:
Se presença prende muito,
Separação prende mais.
PLÍNIO PEREIRA RIBEIRO

65
Deus nos dá, ditosa e bela,
Doce alegria ao caminho,
Mas nós queremos aquela
Que mora no lar vizinho.
ARTUR RACAZZI

66
Luminosa realidade
Que pesa aí quanto aqui:
Quem quer agradar a todos,
Só quer agradar a si.
TELES DE MEIRELES

67
Depois da morte é que vi
Quanto luxo, quanta guerra,
Que a vida guarda com jeito
Em sete palmos de terra!...
JOSÉ ALBANO

68
Vai o berço, vem a cova;
Sai o prazer, surge a dor...
O tempo tudo renova,
Mas amor é sempre amor...
JOSÉ BARTOLOTA

69
Dois prêmios colhe da vida
Quem constrói de peito aberto:
Falar no momento exato,
Agir no caminho certo.
DERALDO NEVILE

70
Vida – pau-de-sebo ao céu,
Corrida penosa e rara.
A morte é lindo troféu
Que está na ponta da vara.
COLOMBINA

71
Quem diz que o céu não diz nada,
Que a Terra o contempla à-toa,
Olhe a lua retratada
No coração da lagoa.
ISMAEL MARTINS

72
Leite materno! Óleo santo!...
Afirma-se que ele veio
Do sangue que se fêz pranto
No filtro de amor do seio.
VIVITA CARTIER

73
Bela a palavra de Armia,
Mas, no instante do batente,
Clama que a chuva está fria
Ou diz que o sol está quente.
JUCA MUNIZ

74
Depois da morte, no Além,
A dor que mais agonia
É a mágoa de não ter feito
Todo o bem que se podia.
ANTÔNIO DE CASTRO

75
Natal! Quem foge ao preceito
De repartir o seu pão,
Carrega um calhau no peito,
Em forma de coração.
LEÔNCIO CORREIA

76
Lembrando no céu fulgente
O mundo que se maldiz,
O santo que é santo sente
Vergonha de ser feliz.
EUFRÁSIO DE ALMEIDA

77
Se alguém te insulta, a ferir-te
O anseio de amor e paz,
Não lamentes, nem te irrites...
Calando-te, vencerás.
CASIMIRO CUNHA

78
Falece o autor fescenino,
A febre de ouro carcome-o...
Mas volta a novo destino
Num berço de manicômio.
AMÉRICO FALCÃO

79
Quem procura ser feliz
Cultive somente o bem.
A justiça é igual à morte:
Não executa ninguém.
RODRIGUES DE CARVALHO

80
Reencarnação! Novos ninhos!
Mas o que dói onde vamos
É ver nosso passarinhos
Abrigados noutros ramos.
ALCEU WAMOSY

81
Deus é bom, mas não te percas
Em votos ineficazes.
A Terra escuta o que dizes,
O Céu contempla o que fazes.
AUGUSTO DE OLIVEIRA

82
Dizem que a Terra se esconde
No inferno da provação.
No entanto, a Terra responde
Abrindo-se em flor e pão.
TONINHO BITTENCOURT

83
Na luta que te consome,
Se a humildade é o dom que levas,
Tens pão que sossega a fome
E sol que dissipa as trevas.
SOARES BULCÃO

84
A lei da reencarnação
É crivo que discrimina:
Trabalho – a peneira grossa,
A dor – a peneira fina.
ANTÔNIO DE CASTRO

85
Mãe que lutas, cada hora,
Da imensa dor que te arrasta,
A Terra tudo ignora,
Mas Deus sabe e é quanto basta.
RITA BARÉM DE MELO

86
Quando a morte exibe o aceno
Da verdade que se expande,
Há muito grande pequeno,
Há muito pequeno grande.
ANTÔNIO SALES

87
Súplica – anseio liberto
De nebulosa afeição,
A que Deus responde certo,
Às vezes dizendo: não.
IVAN ALBUQUERQUE

88
Matrimônios, se forçados –
Castelos de cinza e fumo;
Os braços entrelaçados,
Os corações noutro rumo...
ROBERTO CORREIA

89
Encontrar no lar alheio
Os nossos laços antigos,
É o jeito que Deus nos dá
De amarmos os inimigos.
LÍVIO BARRETO

90
O bom conselho comigo
Tem este velho embaraço:
Sempre aponto ao meu amigo
Tudo aquilo que não faço.
EMÍLIO DE MENEZES

91
Onde a ilusão nasce e medra,
Amor acaba sòzinho.
Paixão é bota de pedra
Que esmaga a flor do caminho.
HELVINO DE MORAIS

92
Ds grandes dores resumo
A função desconhecida:
Quem não chora perde o rumo,
Quem não sofre perde a vida.
SEBASTIÃO RIOS

93
No meu túmulo, reli:
- “Meu amor, descansa em paz”.
No entanto, é junto de ti
Que sempre me encontrarás.
LAURO PINHEIRO.

94
Depois da morte, a saudade
É um muro não sei de quê:
De um lado a pessoa enxerga,
Do outro lado ninguém vê.
DA COSTA E SILVA

95
Amor puro, além da morte,
Chama que não esmorece:
Largado, não abandona,
Esquecido, não esquece.
TARGÉLIA BARRETO

96
O tédio assalta a pessoa
Que tem tudo quanto quis.
Felicidade abençoa
Quem não sabe que é feliz.
SABINO BATISTA

97
Muitas vezes a alegria
É uma tapera por lar,
Trabalho de cada dia
E um coração a cantar.
LINDOLFO GOMES

98
Como Espírito, eu estudo
A minha morte passada,
Se por fora mudou tudo,
Por dentro não mudei nada.
BATISTA CEPELOS

99
No suor do próprio rosto,
Bebe o pranto da amargura.
Do solo mais empedrado
A fonte verte mais pura.
GOMES LEITE

100
Ninguém ofende a mulher
Nem mesmo por intenção.
Dizem que Deus põe os olhos
Onde a mulher põe a mão.
MARTINS COELHO
--
Fonte:
Francisco C. Xavier (psicografia). Autores Diversos. Trovadores do Além.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 451)

Por do Sol em João Pessoa
Uma Trova de Ademar

Nossa cultura se entende
nas lições que eu mesmo tive:
o saber a gente aprende,
a cultura a gente vive.
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional

A vida é pobre de abraços,
mas nem os próprios ateus,
conseguem fugir dos laços
do imenso abraço de Deus.
–JAMIR DA SILVA MALAVAIA/RJ–

Uma Trova Potiguar


Deus sabe, mas não diz onde
se encontra a chave perdida
do mistério que se esconde
no lado oposto da vida.
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Quantos parecem felizes,
ocultando, dentro da alma,
dolorosas cicatrizes,
sob aparência tão calma!...
–ABIGAIL RIZZINI/RJ–

Uma Trova Premiada


2009 - Ribeirão Preto/SP
Tema: CIGANO - 4º Lugar.


Amor cigano, utopia,
triste busca por alguém;
quem tem um amor por dia
não tem o amor de ninguém.
OLYMPIO COUTINHO/MG–

Simplesmente Poesia

Aportar...
–J. G. DE ARAÚJO JORGE/AC–


Você chegou, pequena e humilde
como quem pede proteção
e nada tem a dar...

E hoje, em teus braços, sou eu que me recolho
como um barco cansado de tormentas
feliz da praia calma onde pôde aportar…

Estrofe do Dia

Cordel tem que ser versado
ter cadência e ser completo,
mantendo em seu objeto
as raízes do passado,
onde o autor com cuidado
expresse a sua emoção,
tirando da inspiração
o que o povo quer saber
- O bom cordel deve ter
rima e metrificação.
–PEDRO ERNESTO FILHO/CE–

Soneto do Dia

Eu Era Feliz e Não Sabia
–IALMAR PIO SCHNEIDER/RS–


Nasceu o dia e o sol é tímido nesta hora...
Levantei tarde e vejo ali o velho mar
que se estende distante, universal, afora,
sem me deixar saber onde vai terminar...

Tem seus segredos que nem posso imaginar...
Talvez o pranto da Humanidade que chora
carrega triste e vai levando sem cessar,
como alguém que tem pressa, assim, de ir-se embora...

Mas é meu companheiro em horas de saudade,
quando as recordações preenchem minha existência
e me transportam à ditosa mocidade...

Tudo passou e agora enfrento com paciência,
o que restou, enfim, dessa felicidade
que havia em minhas mãos, de que eu não tinha ciência...
--
Fonte:
Textos e imagem enviados pelo Autor
Soneto do Dia adicionado por José Feldman, enviado pelo autor

Juca Muniz (Rimas Singelas)


Palavra escolhe a palavra
Sempre que nobre e sensata.
Cada pessoa na vida
Fala daquilo que trata.

Nunca desprezes ninguém...
Os outros são como são.
A pérola sai da ostra,
O ouro nasce do chão.

Três conquistas duvidosas:
Dinheiro, luxo, prazer...
Quem é vencido no mundo
É quem mais sabe viver.

Fé verdadeira supera
Injúria, lodo, pesar...
Coração quanto mais forte
Tanto mais sabe esperar.

Livro ensebado em serviço,
Santo operário do bem.
Livro trancado e lustroso
Não auxilia a ninguém.
--
Fonte:
Francisco Cândido Xavier (psicografia). “Trovas Do Outro Mundo”. Digitado Por: Lúcia Aydir

J. G. de Araújo Jorge (Quatro Damas) 9a. Parte


" NÃO DIGAS... "

Não diga: sem este amor
morrerá meu coração...

Do tronco abatido, calcinado,
e que parece morto,
irrompe às vezes, às primeiras chuvas
nova vegetação…

" NÓ "

E ficamos tão nós
tão um no outro
que não sabemos mais onde um começa
e onde o outro termina...

Demos um nó cego
em nossos destinos…

"... NOS BASTIDORES "

A luz dos refletores
batias asas ...

E no amplo palco iluminado
e no meu coração desesperado
bailavas ...

Bem que te quis tomar nos braços
quando chegaste, trêmula, comovida...

Mas, apenas te fitei...
É que devo continuar
onde fiquei:
nos bastidores ... de tua vida …

" NOSSA CAMA "

Olho nossa cama. Palco vazio
sem o drama, sem a comédia,
do nosso amor.

A nossa cama branca,
branca página, em silêncio,
de onde tudo se apagou...

(Meu Deus! quem poderia ler aquelas ânsias, aqueles gemidos,
aqueles carinhos
que a mão do tempo raspou, como nos velhos
pergaminhos? ... )

A nossa cama
imensa, como a tua ausência,
tão ampla, tão lisa, tão branca, tão simplesmente cama,
e era, entretanto, um mundo,
de anseios, de viagens, de prazer,

- oceano, que teve ondas e gritos encapeladosapelados,
e nele nos debatemos tanta vez como náufragos
a nadar... e a morrer...

Olho a nossa cama, palco vazio,
em nosso quarto, - teatro fechado -
que não se reabrirá nunca mais...

Nossa cama, apenas cama, nada mais que cama
alva cama, em sua solidão
em seu alvor...

Nossa cama:
- campa (sem inscrição)
do nosso amor.

" NOTAÇÕES TRISTES À MARGEM DO AMOR "

1
Sim, não somos os mesmos, reconheço
e até
confesso com amargor...
Repara no que tu és
e no que sou agora...
Vamos parar, portanto . . . Antes guardar de pé
as lembranças do amor
que apagá-las, de rastos, sobre o chão de outrora . .

2
O desencanto é perceber que deste ponto em diante
tudo já foi vivido, experimentado,
e não há mais o que ver...
Compreender, imprevistamente, que tudo é passado...
E... mesmo sem presente, e sem futuro:
continuar a viver...

3
Acabaríamos nos envergonhando de nós mesmos,
(nós que nos amamos, nós que fomos amantes)
se este amor que viveu de sensações extremas
e gerou cantos e poemas
acabasse afinal,
burguesmente, como uma festa domingueira,
ou ficasse a rolar sem lances de beleza
uma rotina monótona
e banal...

4
Seria tão fácil se te pudesse falar
sem ressentimento ou rancor:
- se nao mais nos amamos
vamos parar onde estamos,
não vamos azedar
um doce amor...

5
Acho que posso ver além dessa alegria
que desabrocha em meus lábios, desafiando
a minha dor...

Também na madrugada em festa, ao vir do dia,
há lágrimas de orvalho límpidas chorando
no riso de uma flor…

" NOTURNO SEM NÚMERO "

E eu tão só, e eu tão cansado...
A alma já nada quer
nada reclama...

Só tu cintilas como estrela
numa límpida radiância
na noite de minha insônia…

" NUNCA PENSEI... "

Nunca pensei que ao ter-te ainda a meu lado
eu pudesse sentir-me, em solidão,
tão só, tão sem ninguém, desesperado,
que nem mesmo a lembrança do passado
tornasse menos frio o coração...

Ah! pior solidão é essa que a gente
sente ao lado de alguém que se perdeu...
Havia tanta coisa... e, de repente,
tudo se esvai, inexplicavelmente:
- já não sabes se és tu, nem se eu sou eu!

Nunca pensei que em tua companhia
pudesse sentir em solidão...
Ah, negra é a noite se foi claro o dia,
e maior é a tristeza, se a alegria
antes cantava em nós, era canção...

Nunca pensei que ao ter-te ainda comigo
no vazio cruel desses instantes
me sentisse tão só, como hoje sigo,
e pudesse concluir, como um castigo:
- tanto mais juntos... quanto mais distantes !


--
Fonte:
J. G. de Araujo Jorge. Quatro Damas. 1. ed. 1964.

Edgar Allan Poe (O Corvo) Tradução de Fernando Pessoa


1
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais."

2
Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!

3
Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais".

4
E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.

5
A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais.

6
Para dentro estão volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
"É o vento, e nada mais."

7
Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.

8
E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
Disse o corvo, "Nunca mais".

9
Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome "Nunca mais".

10
Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhão também te vais".
Disse o corvo, "Nunca mais".

11
A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este "Nunca mais".

12
Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele "Nunca mais".

13
Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
. ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!

14
Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

15
"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, "Nunca mais".

16
"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Édem de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

17
"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

18
E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!

Ialmar Pio Schneider (Soneto)


Eu necessito de um amor ousado
que não tenha possíveis preconceitos,
mas que possa ser sempre cultivado
como todos que surgem sem defeitos...

Que tenha laços fortes, não estreitos,
para deter um simples desagrado,
não exigindo apenas os direitos
e defendendo um ente conquistado.

Se já vivi bastante sem a glória
de poder relatar a minha história
nas páginas que escrevo lentamente,

quando alguém completar esta lacuna,
a vida triste não será mais una
e sim a de um casal feliz e crente…

--
Fontes:
Soneto enviado pelo autor
Aquarela de Angela Ponsi

Isolino Leal (Idéias e Rimas)

Paz e conforto sem luxo,
Exemplo de grande siso.
Guarda aquilo que não serve
E terás o que é preciso.

A medicina conhece
Esta verdade segura:
Coração brando e sereno
Faz a metade da cura.

Encontro o amor, vida afora,
Neste quadro que apresento:
Uma alegria que mora
Na cada do sofrimento.

Bons e maus, crentes e ateus,
Cada um no que é capaz
Recebe da Lei de Deus
Pela tarefa que faz.

Na dúvida, em qualquer parte,
Nota este ensino da Terra:
Quem sacrifica a si mesmo
É aquele que nunca erra.
--
Fonte:
Francisco Cândido Xavier (psicografia). “Trovas Do Outro Mundo”. Digitado Por: Lúcia Aydir

Lendas e Contos Populares do Paraná (Cascavel – Coronel Vivida – Cruzeiro do Iguaçu – Dois Vizinhos – General Carneiro)


CASCAVEL
Origem do Nome da Cidade


Conta a lenda que o nome Cascavel surgiu por causa de um grupo de colonos. Estes, ao pernoitarem na região, foram acordados pelo ruído de um ninho de cobras cascavéis. Assustados, os colonos levantaram acampamento na mesma hora. A notícia se espalhou e o local ficou conhecido como “de cascavéis”, ou “cascavel”, simplesmente.

Apesar de popularizado, o nome chegou a ser modificado, por influência do clero, dada o simbolismo da cobra na bíblia. O esforço foi inútil, pois Joaquim Silveira de Oliveira, conhecido como Nhã Jeca, um dos pioneiros, não aceitou na época esta interferência vinda do clero de Foz do Iguaçu, já sonhando com a emancipação de Cascavel.

CORONEL VIVIDA
Origem do Nome da Cidade


A princípio, o nome do município era para ser Pouso Alegre. Mas o nome de Coronel Vivida deu-se em razão do apelido de uma ilustre personalidade do município de Palmas, chamado Coronel Firmino Teixeira Batista.

O Coronel Firmino era chamado de “Coronel Vivida”, pois conta a história que sempre fazia uso da expressão “que vida!” No entanto, o coronel era gago, de modo que toda vez que ia pronunciar a expressão “que vida!”, acabava falando “que vivida!”

Origem do nome da novela Cavalo de Aço

Em razão da grilagem de pinheiros, que existiam em grande quantidade na região, mais propriamente em Coronel Vivida. Os grileiros se referiam às motoserras usadas no corte dos pinheiros como “cavalo de aço”. O tema central na trama da novela Cavalo de Aço, produzida e exibida pela TV Globo, foi dos grileiros derrubando as matas de pinheiros, com cenas gravadas no município. A tomada dos primeiros capítulos foram feitas na Mata de Pinheiros que ficava no terreno da família Schiavini.

O nome de Coronel Vivida foi citado no início da novela, como o local da trama; mas depois eles passaram a chamar de Coronel Viveiros e finalizaram as gravações da novela na região de São Paulo e Rio de Janeiro. Só que nesses locais eles derrubavam nas cenas matas de eucaliptos.

CRUZEIRO DO IGUAÇU
Lenda do Miserável


A ocupação efetiva da região do sudoeste, que fez parte do Território do Iguaçu, e está dentro da faixa de fronteira, começou com os primeiros posseiros na década de 1930. Em 1936, chega à região do sudoeste a família de Atanásio da Cruz Pires, proveniente do sul, fixando residência às margens dos rios Iguaçu e Chopim, hoje Foz do Chopim, município de Cruzeiro do Iguaçu.

Para o sustento da família, Atanásio utilizava-se do que a natureza oferecia em abundância, numa região coberta de mata nativa: a caça e a pesca. O couro dos animais era comercializado e a carne que não era consumida, jogada fora. Com isso, Atanásio ia conhecendo o território e a ele atribuindo suas nomeações históricas, hoje lendárias.

Numa época de muita chuva, Atanásio, acompanhado por seus filhos, seguia pela costa do rio Chopim, até a barra do Divisor, atual Rio Cruzeiro. Naquele local permaneceram por vários dias acampados sem pegar caça e pesca alguma. A chuva era torrencial e constante. Acabando o estoque de alimento e a fome aumentando, Atanásio acabou matando uma das suas cachorras de caça para se alimentar.

Nessa passagem, o velho disse aos seus filhos:

– Esse local é tão miserável que nem caça e pesca dá! A partir de hoje, matamos somente a caça que podemos comer”

Seu Atanásio considerou esse episódio um castigo, pois num dado momento haviam matado doze antas e jogado a carne ao rio. Em razão desses acontecimentos o local passou a dominar-se rio Miserável; mais tarde, deu a origem ao “Povoado Miserável”, hoje Cruzeiro do Iguaçu.

DOIS VIZINHOS
Origem do Nome da Cidade


Existem duas versões, na primeira delas se relata que os primeiros habitantes eram apenas dois moradores, que tinham suas casas próximas ao rio; estando elas localizadas uma em cada margem.

Por causa disso, passaram a chamar o local, tendo isso como referência. Dizia-se “...vamos nos encontrar lá onde tem dois moradores à beira do rio...”. Que então passaram a chamar o rio de rio Dois Vizinhos e com o povoamento, conseqüentemente, passou a denominar-se Dois Vizinhos.

A segunda versão diz que o nome de Dois Vizinhos se originou porque neste local havia dois rios, que se encontravam formando um só. Os caçadores que faziam o uso da canoa para seus transportes, sempre combinavam: “...vamos nos encontrar lá onde os rios se encontram... o rio Dois Vizinhos...”. E marcavam entre si seus encontros, exatamente onde ocorria a bifurcação dos rios. Então pernoitavam e planejavam suas caçadas.

Como conseqüência disso, o rio foi denominado Dois Vizinhos e, posteriormente, com o desenvolvimento do local e com a vinda de outros moradores o pequeno povoado passou a denominar-se Dois Vizinhos.

GENERAL CARNEIRO
O Passo do Inferno


Este relato nos faz voltar em meados do ano de 1890, entre as localidades do Iratim e Marco Quatro, hoje denominada Estrada Velha. Naquela época essa região era o corredor de passagem dos tropeiros. Neste local havia um riacho pequeno, chamado na época de Passo por possibilitar a travessia dos animais.

O local, porém, transformava-se num grande atoleiro durante a passagem das tropas. Como conseqüência, os tropeiros sofriam um enorme desgaste físico na tentativa de salvar os animais, que acabavam encalhando. Muitas vezes, os tropeiros não tinham sucesso na travessia de todos os animais, por este motivo deram o nome ao local de Passo do Inferno.

Conta-se que um fazendeiro, neste mesmo ano, ao retornar de São Paulo, após efetuar a venda da sua boiada, trazia sobre o lombo dos animais uma considerável quantia de moedas de ouro e prata, avolumadas em bruacas. Nas proximidades do Passo do Inferno teve a impressão de estar sendo seguido por homens estranhos. Com medo de um assalto, resolveu pernoitar nos arredores. Antes, no entanto, enterrou o tesouro no mato. Ele, como temia, foi assaltado. Por não portar nenhum valor em moedas foi morto pelos malfeitores.

Após esse acontecimento, cidadãos que por ali passavam avistavam vultos estranhos. Muitos tentaram encontrar o dinheiro enterrado pelo fazendeiro, porém nunca se ouviu falar que alguém tenha encontrado alguma coisa. Mas, as bruacas com as moedas de ouro e prata continuam enterradas lá. No Passo do Inferno.

Fonte:
Renato Augusto Carneiro Jr. (coordenador). Lendas e Contos Populares do Paraná. 21. ed. Curitiba : Secretaria de Estado da Cultura , 2005. (Cadernos Paraná da Gente 3).

O Índio na Literatura Brasileira (Estante de Livros) 2


BANDEIRA, Pedro. Pântano de sangue – mais uma aventura com os Karas.

Conta a história da turma dos Karas, em sua luta contra o crime organizado, que está agindo no Pantanal de Mato Grosso, sob a liderança do implacável Ente. Em um enredo fascinante, repleto de suspense do começo ao fim, os Karas envolvem-se em uma trama criminosa, que leva à dramática destruição de uma cultura indígena e da natureza.

BARBOSA, Ely. Viagem fantástica ao Brasil de 1800:nossos índios.

Narra a aventura de Priscila e Terremoto, os quais, levados pelo XPeteleco, vão conhecer os povos indígenas em contato com os colonizadores no Brasil de 1800. As paisagens, o povo e os costumes do Brasil do século XIX estão registrados em belas gravuras e desenhos de dois ilustres artistas europeus que se encantaram com o que viram nesse país: o alemão Rugendas e o francês Debret.

BARBOSA, Rogério Andrade. Na trilha do mamute.

Conta a história do doutor Arlã Garcia, renomado cientista que, no interior de Roraima, constrói um sofisticado laboratório, onde pretende desenvolver sua ambiciosa pesquisa: a clonagem de um mamute. Para essa mesma região viaja outro cientista, o professor Baltazar, especialista em cultura oral indígena, o qual pretende fazer contato com os Yanomami. Em seu trabalho, conta com a ajuda de Guilherme, seu sobrinho, de Mayop, professora Yanomami e de Ranulfo, o piloto da aeronave. Os estudiosos acabam se encontrando e Baltazar é obrigado a acompanhar Arlã Garcia numa arriscada viagem de helicóptero em busca do mamute clonado.

BARBOSA, Rogério Andrade. Sangue de índio.

Descreve a história de Érico, um jovem consciente dos problemas sociais brasileiros que acaba de participar de um debate sobre o assassinato de um índio Pataxó, em Brasília, cometido por jovens de classe média.

BITTENCOURT, Aline M. Momeucáua.

Consiste na criação a partir de mitos e costumes oriundos de vários povos indígenas e de diversos elementos folclóricos, sem com isso transformar-se numa colagem. As palavras indígenas e termos caboclos encontrados no texto são explicados ao final do livro.

BORGES, Rogério. Você cria o texto.

Apresenta ilustrações com imagens sobre o meio ambiente e a questão indígena. A proposta é lançada para que as crianças possam trabalhar a expressão oral, a escrita e o desenho, de forma a estimular sua criatividade e, ao mesmo tempo, sensibilizá-las para uma percepção mais crítica de seu universo.

OS BOROROS DE MERURI-MT.Boe Eno Bakaru:lendas Bororo.

Apresenta uma notável contribuição ao estudo bilíngüe do idioma Bororo Ocidentais, Orári Mogo-Dóge. As cinco breves lendas apresentadas neste opúsculo destinam-se às crianças e adolescentes Bororo das Missões Salesianas.

BRANCO, Samuel Murgel. A Iara e a poluição das águas.

Aborda o conceito de poluição das águas, suas causas e conseqüências. Iara, protetora das águas, e o Curupira, protetor das florestas e dos animais, são os protagonistas da aventura em que descobrem a poluição dos rios, seus efeitos nocivos, mas, felizmente, encontram também as soluções para o problema.

BRANDÃO, Toni. Perdido na Amazônia.

Narra a história de um garoto chamado Dan, o qual, ao completar 11 anos, ganha uma viagem à Amazônia. Mas, em Manaus, ele embarca no avião errado e se vê perdido na floresta.

BRANDÃO, Toni. Tutu, o menino índio.

Narra a história de um indiozinho da nação Tutu que, desde seu crescimento, é tratado de maneira diferente dos outros meninos de sua sociedade. Um dia, é expulso de sua aldeia e mandado para a floresta em companhia de uma onça. O menino faz, então, uma viagem de aprendizado em busca de sua identidade e de seu destino.

BRASIL, Assis. Os desafios de Kaíto.

Descreve a história de Kaíto, um indiozinho Kamayurá, muito esperto e corajoso, que é escolhido para conhecer a longa história de seu passado, e assim tornar-se a memória viva de seu povo, dando continuidade à tradição dos mais velhos.

BRASIL, Assis. O destino é cego:aventura de gavião vaqueiro.

Focaliza o ambiente rural nordestino. Raramente podemos ter contato com personagens tão tipicamente brasileiros como o Gavião Vaqueiro e a Minaiá, que representam a cultura indígena.

BRASIL, Francisco de Assis Almeida. Yakima, o menino-onça.

Conta a história de dois aventureiros, Quizila e Gavião, que se embrenham na floresta amazônica à procura de Jonas, o filho mais velho de um rico fazendeiro, desaparecido durante uma caçada, há quase dois anos. A aventura os leva à aldeia do temido tuxáua Inapricio, raptor do menino, onde Jonas deverá ser resgatado.

BRAZ, Júlio Emílio. Saguairu.

Narra aventura numa floresta virgem, em que um lobo-guará e um índio travam um duelo interminável, alternando-se nos papéis de caça e caçador. Na luta pela sobrevivência, uma lição de respeito à vida, narrada de maneira emocionante e poética.

BRITO, Iremar. Aldeia dos pássaros.

Apresenta um conjunto de lendas indígenas, entrelaçadas pela história de amor entre uma índia Suyá e um guerreiro Iarumá. Apesar de ser uma obra de ficção, também inserem-se no enredo histórias dos povos Kamayurá e Juruna.

CANTON, Kátia. Lendas de amor dos índios brasileiros.

Apresenta diversas lendas presentes no imaginário indígena, tendo o amor como fio condutor. As delicadas aquarelas de Lina Kim tornam o texto ainda mais saboroso.

CAPELLA, Vladimir; ROCHA, José Geraldo. Panos e lendas.

Delineia a trajetória entre o começo e o fim do mundo, por meio de sete atores, que assumem diversos papéis, como o de mestres-de-cerimônia, contadores de histórias ou simplesmente dos atores que são. São abordados costumes, crendices, cantos, bichos, brincadeiras, cores e cantos brasileiros, num clima que busca ser uma festa cantada e dançada.

CARDOSO, Manoel. Rolando na duna.

Narra a aventura de Noel, filho de pescadores que quer ir para o mar, mas não consegue convencer o pai e o irmão a levá-lo. Durante vários dias, eles voltam com a rede vazia. Desanimado, o pai resolve levar o pequeno Noel, para dar sorte. O menino descobre onde estão os peixes, mas... desaparece da jangada. Quando volta para casa, traz novos amigos
e uma grande surpresa para a família. No decorrer da história, o autor introduz alguns nomes indígenas e, ao final, apresenta seus significados.

CARVALHO, André; ÁULICUS, Célius. Nas terras do índio Peri.

Apresenta uma livre adaptação do romance O Guarani, de José de Alencar. Nesta versão, O Guarani se transforma em aventura vivida por Laurinha, Tusuca e Aristóteles, mantendo, no entanto, suas características e sua beleza original.

COSTA E SILVA, Alberto da. Lendas do índio brasileiro.

Apresenta 44 lendas, originárias do imaginário de diversos povos indígenas do Brasil, abordando temas como a criação do universo, o início do mundo, a origem do homem e o cotidiano em diferentes comunidades.

Fonte:
Moreira, Cleide de Albuquerque; Fajardo, Hilda Carla Barbosa. O índio na literatura infanto-juvenil no Brasil. - Brasília: FUNAI/DEDOC, 2003.

Anísio Abreu (Toques do Coração)

Vida – um palco!... O berço, a infância,
Sonho, amor, dor, desengano,
Luta, velhice, distância
E a morte que cerra o pano...

Guarda silêncio, não fales
Das amarguras que tens;
Há muitos bens que são males,
Muitos males que são bens.

Liberdade?!... A vida ensina
Que a pedra mais incomum,
Sem martelo ou disciplina,
Não serve em lugar algum.

O homem é um pensamento,
Entre abismos e apogeus,
Que só descansa, a contento,
No pensamento de Deus.

Olhei-me, depois da morte...
Vi meus conflitos sem fim!...
Oh! Senhor, dá-me outro corpo,
Quero esconder-me de mim...
--
Fonte:
Francisco Cândido Xavier (psicografia). “Trovas Do Outro Mundo”. Digitado Por: Lúcia Aydir

Guerra Junqueiro (Os Gigantes da Montanha e os Anões da Planície)


Era uma vez uma família de gigantes, que viviam num castelo na montanha: um dos gigantes tinha uma filha de seis anos, da altura de um álamo. Era curiosa e andava com vontade de descer à planície a ver o que faziam lá em baixo os homens, que de cima do monte lhe pareciam anões. Um belo dia, em que seu pai, o gigante, tinha ido à caça e sua mãe estava dormindo, a jovem giganta, desatou a correr para um campo, onde os jornaleiros trabalhavam. Parou surpreendida a ver a charrua e os lavradores, coisas inteiramente novas para ela. – Oh! que lindos brinquedos! exclamou. Abaixou-se e estendeu por terra o avental, que quase cobriu o campo. Lançou-lhe dentro os homens, os cavalos, a charrua; em duas passadas tornou a subir a montanha, e entrou no castelo, onde seu pai estava a jantar.

– Que trazes aí, minha filha?

– Olhe, disse ela, abrindo o avental, que lindos brinquedos. São os mais bonitos que tenho visto.

E pô-los em cima da mesa, a um e um, os cavalos, a charrua e os trabalhadores, que estavam todos espantados, como formigas a quem tivessem transportado de um formigueiro para um salão. A gigantinha pôs-se a bater as palmas e a rir com uma alegria doida, mas o gigante fez-se sério e franziu o sobrolho.

– Fizeste mal, disse-lhe ele. Isso não são brinquedos, mas coisas e pessoas que devem estimar-se e respeitar-se. Mete tudo isso com cuidado no teu avental, e põe-no imediatamente onde o achaste; porque fica sabendo que os gigantes da montanha morreriam de fome, se os anões da planície deixassem de lavrar a terra e de semear o trigo.

Fonte:
Guerra Junqueiro. Contos para a infância.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 450)

Uma Trova de Ademar

Tem homem com maus intentos,
que, por maldade ou desdém,
às vezes, gasta quinhentos
para o outro não ganhar cem...
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional

Se a vida é a maior graça,
que do bom Deus recebemos,
ergamos a nossa taça
enquanto vida nós temos.
–ZÉ REINALDO/AL–

Uma Trova Potiguar

Meu olhar ficou defronte,
ao seu olhar, de repente...
E este encontro se fez ponte
entre os corações da gente.
–FRANCISCO MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Faço versos se estou triste,
faço versos de alegria,
a minha alma não resiste
aos apelos da poesia.
–CORA LAYDNER/RS–

Uma Trova Premiada

2004 - Nova Friburgo/RN
Tema: REFÚGIO - 1º Lugar


Baú velho, tampo torto,
Cartas e fotos mofando...
- refúgio de um sonho morto
Que eu vivo ressuscitando!...
–JOSÉ OUVERNEY/SP–

Simplesmente Poesia

Libertação
–DOMITILLA BORGES BELTRAME/SP–


Cortei as amarras,
soltei o meu barco,
tracei nova rota...
Disse adeus ao velho cais,
e, qual errante arrais
navego outros mares...
Quero ancorar em ignoradas margens,
desbravar uma diferente terra,
encontrar novas paisagens,
descobrir o segredo do outro lado da serra...
Correr leve e solta
pelas brancas areias de novo sonho
já não mais tristonho,
e, quem sabe, olhos nos olhos,
mãos nas mãos,
viver um amor inesperado,
entregar os beijos que não dei
escrever os versos que guardei!...

Estrofe do Dia

Minha vida tem sido uma peleja,
quando venço um problema outro aparece,
quando alguém me ajuda outro me esquece,
toda mão que eu encontro me apedreja;
procurei um vigário na igreja
disse: padre eu só vim me confessar,
disse o padre você tem que pagar
uma conta que deve a natureza;
minha vida é um filme de tristeza
que eu deixei de assistir pra não chorar.
–BIU SALVINO/PB–

Soneto do Dia

O Ideal
–LUIZ OTÁVIO/RJ–


Esculpe com primor, em pedra rara,
o teu sonho ideal de puro artista !
Escolhe, com cuidado, de carrara
um mármore que aos séculos resista !

Trabalha com fervor, de forma avara !
Que sejas no teu sonho um grande egoísta !
Sofre e luta com fé, pois ela ampara
a tua alma, o teu corpo em tal conquista !

Mas, quando vires, tonto e deslumbrado,
que teu labor esplêndido e risonho
ficará dentro em breve terminado,

pede a Deus que destrua esse teu sonho,
pois nada é tão vazio e tão medonho
como um velho ideal já conquistado ! ...

Fonte:
Textos e imagem enviados pelo autor

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) Circo de Cavalinhos – V– O espetáculo

A alegria no circo era imensa. Ainda que o espetáculo não valesse nada, todos se dariam por bem pagos da viagem pelo simples prazer da reunião. Os convidados do reino das Águas Claras estavam radiantes de se verem com os famosos personagens que até ali só conheciam através dos livros de histórias. E estes, como fazia muito tempo que não vinham à terra, estavam satisfeitíssimos de se verem em companhia de crianças de carne e osso.

Já soara o terceiro sinal e nada do espetáculo ter começo. O “respeitável público” ia ficando irritado. Narizinho achou que o melhor era começar imediatamente.

— Não posso antes de vovó chegar — alegou Pedrinho. — Está se arrumando ainda. Como as princesas vieram, vovó teve de mudar de vestido e está passando a ferro aquele de gorgorão do tempo do Imperador. Tia Nastácia não sei se vem. Está com vergonha, coitada, por ser preta.

— Que não seja boba e venha — disse Narizinho. — Eu dou uma explicação ao respeitável público.

Afinal as duas velhas apareceram — dona Benta no vestido de gorgorão, e Nastácia num que dona Benta lhe havia emprestado.

Narizinho achou conveniente fazer a apresentação de ambas por haver ali muita gente que as desconhecia. Trepou a uma cadeira e disse:

— Respeitável público, tenho a honra de apresentar vovó, dona Benta de Oliveira, sobrinha do famoso cônego Agapito Encerrabodes de Oliveira, que já morreu. Também apresento a princesa Anastácia. Não reparem ser preta. É preta só por fora, e não de nascença. Foi uma fada que um dia a pretejou, condenando-a a ficar assim até que encontre um certo anel na barriga de um certo peixe. Então o encanto se quebrará e ela virara uma linda princesa loura.

Todos bateram palmas, enquanto as duas velhas se escarrapachavam nas suas cadeiras especiais.

— Palhaço! — gritou o Pequeno Polegar.

— Podemos dar começo — disse Pedrinho à menina. — Vá preparar a Emília que eu vou cuidar do palhaço.

Como o primeiro número do programa era uma corrida a cavalo da Emília, Narizinho deu-lhe os últimos retoques e fez-lhe as últimas recomendações. Pela primeira vez na vida a boneca mostrava-se um tanto nervosa. Blem, blem, blem, soou a enxada. Era hora.

Uma cortina se abriu e a boneca entrou em cena montada no seu cavalinho de rabo de galo. Foi recebida com uma chuva de palmas. Emília fez uma graciosa saudação de cabeça, atirou uns beijinhos e começou a correr.

Correu várias voltas, umas sentada de banda, outras, de pé num pé só.

— Que danada! — exclamou dona Benta. — Nunca pensei que Emília se saísse tão bem; até parece o Tom Mix...

Tia Nastácia apenas murmurou “Credo”! e persignou-se.

Quando chegou o momento de pular os arcos, surgiu lá de dentro Faz-de-conta com dois deles na mão. Coitado! Estava mais feio do que nunca na roupa de cowboy que Narizinho lhe arranjara. Aladim virou se para o Gato de Botas e disse: “Este é que é o verdadeiro Cavaleiro da Triste Figura”, e o Pequeno Polegar berrou: “Arranca o prego, bicho careta!”

Aquele prego de Faz-de-conta, cuja cabeça aparecia quando ele estava sem chapéu e cuja ponta furava as costas de todos os seus casacos, era um eterno assunto de discussão no sítio. Pedrinho achava que deviam chamar o doutor Caramujo para operá-lo, cortando com a sua serrinha o extravagante apêndice. Mas a menina era de opinião que tal ponta de prego constituía a única arma do coitado. Além disso, era um bom cabide que ela costumava utilizar nos seus passeios com a boneca. Para pendurar coisas leves, como chapéu ou o guarda-chuvinha da Emília, nada melhor. E em vista dessa utilidade a ponta de prego ia ficando nas costas do coitado.

Faz-de-conta não ligou importância às troças que o público fez à custa dele. Trepou num banquinho e segurou com toda a convicção o arco de papel vermelho que Emília ia pular. A boneca botou o cavalo no galope, correu duas voltas e na terceira — zupt! deu um salto. Os espectadores romperam em palmas delirantes. O segundo arco era de papel azul e o terceiro, de papel verde. Emília pulou com a mesma habilidade o azul; mas ao pular o verde houve desastre.

Imaginem que o cavalinho entendeu de pular também! Pulou, não há dúvida, mas o seu rabo de pena enganchou no prego de Faz-de-conta, onde ficou dependurado. Quando o público viu que o rabo de pena havia passado do cavalinho para o cabide do boneco, foi uma tempestade de gargalhadas. Não percebendo o que havia acontecido, Faz-de-conta recolheu-se aos bastidores balançando ao vento aquele penacho.

Emília também não percebeu o desastre, e julgando que as risadas e vaias eram para ela, parou, vermelhinha como um camarão, e botou uma língua de dois palmos para o público. E recolheu-se furiosa.

— Não brinco mais! — disse lá nos bastidores, arrancando e espatifando o saiote de gaze. — Não sou palhaço de ninguém.

Foi um custo para Narizinho explicar o que havia acontecido e provar que a vaia tinha sido no cavalo e no boneco, não nela. A raivosa Emília voltou-se então contra o pobre Faz-de-conta.

— Estupido! Onde se viu tamanho homem andar de fisga nas costas, feito anzol?

— Que culpa tenho? — gemeu o feiúra tristemente. — Nasci assim...

— Pois não nascesse! — rematou a boneca — e por força do hábito pendurou-lhe na ponta do prego o esfrangalhado saiote de gaze.
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Continua… Circo de Cavalinhos – VI – O desastre
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa