quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Abilio Terra Junior (Poesias Escolhidas)


E A INCÓGNITA PERSISTE

e a incógnita persiste,
pois não sei dos teus sentimentos
e tu não sabes dos meus

me persegues com o olhar
quando sabes que não posso ver-te,
mas posso sentir-te

te finges interessada em algo
que não eu,
mas me sentes

o tempo nos deixa marcas,
nos amadurece por dentro
quanto ao sentimento

permanece encoberto
só aflora em raros momentos
em que o coração acorda

e conta a nossa história
que imaginei e tu também
que toca o nosso íntimo

porque tanto mistério,
eu me pergunto;
e imagino que tu também

se o amor nos ronda
e, às vezes, se cansa e se vai,
pois se sabe presente

e não se faz de indulgente,
pois sabe não ser esse o caminho
de tão nobre sentimento

quando ele aflora,
mostra-se poderoso
nos deixa perplexos

quando nos sabemos amantes
permanecemos distantes
e a dor nos dilacera

ALI, PASSAVA BOI, PASSAVA BOIADA

Ali... passava boi, passava boiada
tinha uma palmeira na beira da estrada
onde foi cravado muito coração...

Triste Berrante
Solange Maria e Adauto Santos
Trilha sonora da novela ‘Pantanal’

neste mesmo espaço selvagem,
em seu compasso de espera
o olhar fraterno do boi se alongava,
me espreitava na doce comunhão

eu o amava e o estreitava
no meu coração tão sincero,
sentia seu cheiro gostoso,
seu porte de cavaleiro,
senhor da sua missão

eram tempos tão fiéis
que nos amávamos, corríamos
ao vibrar do berrante
que clamava ao vaqueiro seu valor

o olhar trigueiro da cabocla
expressava sua emoção;
nossos corações se enlaçavam
naquela palmeira solitária

nunca mais meu coração
vibrou tão nobre, tão puro,
naqueles tempos de ouro
em que eu sentia a vida

depois, se estreitou, se quedou
nas urgências do tempo veloz;
perdeu-se da sua glória
na sua origem de mestre

entre carros que passam velozes
no asfalto negro e perdido,
meu olhar enxerga além
e vê o boi que passa a boiada
––-
A JANELA ENTREABERTA

agora não podes divagar
após o ato consumado
e tergiversar, como uma borboleta
de flor em flor,
com palavras e mais palavras

pois te esvaíste em um longo sussurro no deserto
e a flor sedenta se transubstancia
em um esplendor sereno e compreensivo

nada mais esperes; te entregues
à momentânea tensão que se foi

observe os retângulos das paredes
e o canto do pássaro que pousa, displicente,
sobre um frágil galho que invade a janela

a atmosfera, ora pesada, ora leve
se insinua nos poros;
um sorriso surge e um olhar sedoso
observa teus cabelos
que se espraiam e se avolumam

a cada instante em que a vida
se declara presente e vitoriosa

os jogos foram-se, um a um,
e resta agora um momento
de imponderável sensibilidade

dúvidas e certezas espalham-se
e ganham a janela entreaberta

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É natural de Belo Horizonte-MG e reside em Brasília-DF. Economista, servidor público aposentado, dedica-se, atualmente, à poesia e aos contos e crônicas.

Casado com Luiza Helena, e filhos Roberto e Marcella.

Possui sete livros virtuais para download e poemas formatados para leitura na sua homepage ‘Os Homens Pássaros’, http://www.oshomenspassaros.com .

Aprecia gnosticismo, música, animais, pintura, escultura, fotografia, ecologia, ciência, poesia, literatura, cinema, surrealismo, arte, natureza, universo, defesa dos direitos humanos e assuntos afins.

Possui dois livros publicados, ‘Numa Floresta de Símbolos’, pela Editora Alcance e ‘Os Homens Pássaros’, pela CBJE.

Define-se como um poeta que observa o mundo ao seu redor e não se contenta com as aparências e que tenta utilizar as palavras para perscrutar o mundo do sonho e o mundo da realidade.

No seu modo de entender, estes mundos se encontram interpenetrados, não há como separá-los.

Abilio Terra Junior na Editora Alcance:
http://www.editoraalcance.com.br/index.php/abilio-terra-junior/


Fonte:
http://www.ube.org.br/espaco-do-autor.asp?ordem=autor&tipo=6

Ademar Macedo (Carnaval em Versos)


T R O V A S

Aquele amor sem fronteira
no carnaval de nós dois,
morreu nesta quarta-feira
pra virar cinzas... depois!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Nesta paixão sem igual,
de alegria verdadeira,
nossa vida é um Carnaval
sem direito à quarta-feira!
–ARLINDO TADEU HAGEN/MG–

As cinzas da quarta-feira
são prantos de Carnaval...
Quanta menina faceira
trocou o "bem" pelo "mal"...
–HERMOCLYDES S. FRANCO/RJ–

Vi cinzas, na quarta-feira
retratando a decepção
de uma folia passageira
de um carnaval de ilusão.
–MIFORI/SP–

Meio-dia...quarta feira,
com os meus passos ranzinzas,
no trabalho, que canseira...
estou coberto de cinzas...
–NILTON MANOEL/SP–

Pôs-se fim na pagodeira,
resta a cinza, em despedida,
que o vento da Quarta feira
vai levando na avenida!
–PEDRO WILSON ROCHA/CE–

P O E S I A S :

Neste carnaval, espero,
Que brinque com sensatez
E abraçar todos vocês
Na quarta, é o que mais quero
Eis meu pedido sincero
Que faço e não volto atrás
Gosto de você demais
Se for dirigir, não beba
De Deus a graça receba
Tenha um carnaval de paz!
–FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE–

Na quarta-feira de cinzas
logo bem cedo do dia,
faço de rimas e versos
toda minha fantasia;
me visto de inspiração
pra ser mais um folião
no bloco da poesia!
–ADEMAR MACEDO/RN–

S O N E T O S

Palhaço
–SERGIO SEVERO/RN–


A maquilagem, aos poucos, perde o viço
O narigão vermelho se desprega
As “Troças” inda insistem na “refrega”,
Mas os Maracatus, deram sumiço.

Num ombro um suspensório jaz, puído
no outro, já caiu, de desfiado
O frouxo pantalão, qual um vestido
velho, põe à mostra o aramado.

Já arrefece o som do tamborim,
Os lábios já perderam o seu carmim,
as pernas não suportam o mesmo passo...

Com o Carnaval morrendo na Ribeira,
junto com a chuva, desta quarta-feira,
chora, o meu tristíssimo Palhaço.

Quarta-Feira de Cinzas
–J. G. DE ARAÚJO JORGE/AC–


Toda a terra está envolta nas neblinas
e a friagem se difunde pelo espaço...
– longe se ouve, em cadência, passo a passo
o caminhar dos boêmios nas esquinas...

Pela sombra - as estrelas pequeninas
com sono, tem o olhar nevoento e baço...
No silêncio da noite ouço o compasso
do sereno a pingar das serpentinas...

Algum bando tardio passa adiante
- e deixa pela noite uma batida
de samba em agonia - estrebuchante...

Quarta-feira de cinzas já amanhece,
- mais outro carnaval em minha vida,
vida que há muito um carnaval parece!...

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Domitilla Borges Beltrame (Cristais Poéticos)


ESTAÇÃO DO AMOR

Vens! e quando vens
trazes a PRIMAVERA
no brilho do teu olhar,
na alegria do teu riso
que me levam ao umbral do paraiso...
Vens! e quando vens
trazes a primavera
na concha de tuas mãos
que me cobrem com o pólem do teu carinho
fertilizando o canteiro de meu OUTONO...
Vens! e, quando vens
trazes a primavera
no sol de tuas palavras
enchendo-me de VERÃO
a alma e o coração...
Vens! e quando vens
trazes a primavera
no calor do teu beijo
aquecendo de desejo
o frio INVERNO
da longa espera!

ESTRANHA LOUCURA

Que estranha loucura é esta
que faz de minha vida uma festa,
um mundo de cores,
canto de passarinho
e perfume de flores?

Que estranha loucura é esta
que me faz, tão consciente,
perder a razão e o juizo,
desejar o paraíso
a qualquer preço e de qualquer jeito?!

Que estranha loucura faz o meu peito
bater tão descompassadamente,
verter tanta ternura?!

É a paixão pela vida
que me torna atrevida,
descobrindo-me poeta,
fascinada pelo verso,
apaixonada pelo AMOR!

LIBERTAÇÃO

Cortei as amarras,
soltei o meu barco,
tracei nova rota...
Disse adeus ao velho cais
e, qual errante arrais,
navego outros mares...
Quero ancorar em ignoradas margens,
desbravar uma diferente terra,
encontrar novas paisagens,
descobrir o segredo do outro lado da serra...
Correr leve e solta
pelas brancas areias de novo sonho
já não mais tristonho,
e, quem sabe, olhos nos olhos,
mãos nas mãos,
viver um amor inesperado,
entregar os beijos que não dei,
escrever os versos que guardei!…
--
Fontes:
http://www.recantodasletras.com.br/poesiasdeamor/3261856
Ademar Macedo

Pedro Mello (Um Rouxinol Chamado Domitilla Borges Beltrame)

Desenho feito por J. B. Xavier

Nascida em Minas Gerais, Domitilla há muitos anos reside na capital paulista. Conheceu a UBT na década de 80 e desde então, “abduzida” pela magia da Trova, tornou-se uma Trovadora de renome em todo o país, produzindo intensa e belamente.

Quando entrei na UBT – Seção São Paulo em 1997, Domitilla era a Presidente da Seção já há algum tempo, cargo que ocupou até 2006, quando fez de Selma Patti Spinelli sua sucessora no comando da Seção. Atualmente é Vice-Presidente de Finanças da Seção e Presidente da UBT – Estado de São Paulo, em sucessão a José Valdez de Castro Moura.

Recentemente, em uma reunião, Selma chamou Domitilla de rouxinol, em alusão à sua voz doce, afinada e delicada como cantora. , de fato, como um rouxinol, Domitilla nos encanta com o tom diáfano e delicado de suas trovas. Uma de minhas trovas preferidas de “saudade” é de Domitilla.Na minha humilde opinião, contém um dos melhores “achados” que já vi, sentir saudade da própria saudade:

Depois do agrado, é verdade,
apressado ele partia...
Mas hoje tenho saudade
da saudade que eu sentia...

E por falar em saudade, Domitilla é dona de metáforas de notável sutileza e encantamento, ao nos envolver na sua atmosfera de saudade:

Quando a lembrança me invade
no porto da vida – e quanto!
- brilha o farol da saudade
sob a neblina do pranto!

Eu ergo a taça a brindar
a noite que o quarto invade
e, no cristal do luar,
bebo o vinho da saudade!

Com altivez, disse um dia:
- “Ir procurar-te? Jamais!”
Mas a saudade vadia
não respeita o “nunca mais”...

Quando a vida, num desmando,
fecha a porta da esperança,
vem a saudade, arrombando,
as janelas da lembrança !...

Li teu bilhete: "Lembranças!".
E, na emoção que me invade
um carrilhão de esperanças
desperta minha saudade !

E esta que não fica a dever a nenhuma das trovas antológicas que conhecemos e tanto amamos:

Vem a noite e, sem tardança,
esta saudade se espalma
e acorda tua lembrança
adormecida em minha alma !

Nem sempre, porém, a palavra “saudade” aparece claramente em um dos quatro versos, embora se insinue nas entrelinhas:

Vou carregar vida afora
esta dor que mortifica,
por eu não ter tido agora
coragem de gritar: Fica!

Em minha varanda, a sós,
vendo os ganchos na parede,
eu choro a falta dos nós
que amarravam nossa rede!

Eu não te esqueço e confesso:
No calvário da lembrança,
teu corpo ficou impresso
no sudário da esperança!...

Como percebemos até aqui, Domitilla Borges Beltrame é uma trovadora de intensa vocação lírica e, nesse lirismo envolvente, sua pena abre um leque de sensações, falando de sentimentos profundos, como nas trovas a seguir:

Minha mágoa se retrata
neste porto... Junto ao cais,
pois, na espera, me maltrata
o medo do “nunca mais”...

Para o encontro dos amantes,
o dia cerrou o olhar,
mas, indiscreta, em instantes,
a lua veio espiar!

Sou um pecador confesso.
Do teu castigo a alguns passos,
um só favor eu te peço:
- Crucifica-me em teus braços!...

Nossa união, em verdade,
é assim perfeita, eu suponho:
tu és sol da realidade.
Sou lua, carrego o sonho !

O nosso amor escondido,
sem promessa de aliança,
tem o sabor proibido
da fruta da vizinhança!...

"Voltarei" dizes depressa
num agrado à despedida;
fica comigo, a promessa
e em tuas mãos, minha vida!

Que murmurem, não me importa ...
Pecado, nossos abraços?!
Deixo o mundo além da porta ,
faço meu céu em teus braços !

Conforme vimos, Domitilla é intensamente lírica. Em dados momentos, porém, Domitilla consegue um efeito poético que poucos conseguem: um entrecruzamento de gêneros, em trovas que são líricas e filosóficas ao mesmo tempo:

No alento para viver
mergulhando em teu olhar,
sou como um rio a correr
na eterna busca do mar...

Brigamos, mas a tormenta
em instantes se desfaz;
um grande amor sempre inventa
um arco-íris de paz!...

É claro que o lirismo “incorrigível” de Domitilla cede lugar a trovas sentenciosas, filosóficas, que são Poesia em estado puro, além de inegáveis lições de vida:

A nossa fé é a virtude
que nos dá tanto otimismo,
que deixa ver, da altitude,
a flor nas trevas do abismo!

Procure espalhar, na vida,
alegria em sua estrada,
que a alegria dividida
é sempre multiplicada!

O talento poético de Domitilla se reparte, e a filosofia e o lirismo se fundem em trovas pictóricas, que representam verdadeiras aquarelas em quatro versos:

Rasgando o ventre da serra
num parto de luz e cor,
o sol vem brindar à terra
numa oferenda de amor!

Assim banhada de lua,
em um silêncio encantado,
a velha matriz da rua
guarda o perfil do passado!...

Dificilmente algum de nós riria ouvindo o cantar de um pássaro, principalmente diante de um rouxinol. Mas Domitilla é um rouxinol eclético. Também nos brinda com trovas humorísticas de bom gosto e bem construídas. As trovas a seguir, ambas premiadas em Nova Friburgo quando o tema era livre, nos revelam um senso de humor que também não deixa a desejar aos mestres do gênero, sendo a última simplesmente perfeita!:

Em Lisboa, zero grau
anuncia o aviador.
- "Que bom, exclama o Lalau,
não é frio nem calor!"

O marido agonizante,
insistindo quer saber :
"- Fui traído ?" E ela hesitante:
"- E, se você não morrer?!"

Domitilla publicou um livro de trovas, chamado “Trovas, gotas de ternura”, atualmente esgotado. Apreciando de relance sua poética, somos levados a concluir que é um privilégio termos nas hostes da UBT uma Trovadora de tamanha grandeza. Esperamos sinceramente que ela continue produzindo maravilhas como estas que lemos aqui e que o nosso Criador lhe dê anos de vida, saúde e inspiração!

Fonte:
http://www.recantodasletras.com.br/artigos/1610624

Bruno Grunig (Dez Dicas para Escrever um Livro)


Se você pretende escrever um livro, não custa nada pesquisar um pouco aqui e ali. Principalmente se for marinheiro de primeira viagem. E procure não levar tão a sério tudo o que vê por aí. Inclusive as dicas abaixo. Porque nem sempre o que funciona para um, funciona para outro. Você precisa dar uma “peneirada” nas informações. Testar algumas coisas, e assim por diante.

Eu mesmo já vi informações, dicas por aí, que descartei logo de cara. Para mim. Para você talvez não seja o caso.

Acima de tudo, lembre-se que existe uma espécie de “aura” em torno do assunto. Escrever livros pode parecer coisa feita só para uma meia dúzia de privilegiados. Mas não é. Você pode escrever um livro, sim senhor. E hoje em dia, publicar é bem fácil. Caso não consiga uma editora, não engavete seu projeto. Publique o livro em PDF. Divulgue na internet. Garanto que você vai pular de alegria ao entregar o primeiro livro ao primeiro leitor. Mesmo que seja de graça.

Vamos então às

Dez dicas para escrever um livro

1 - Aprenda tudo o que puder sobre escrever livros antes de encarar a empreitada. Enquanto aprende, vá “ensaiando”. Ou seja, escrevendo mini-livros – digamos assim. Pequenas histórias, com poucas páginas.

2 - Leia, leia e leia. Ler está para escrever assim como escutar está para falar. Se você não lê, não vai saber escrever.

3 - Para os primeiros trabalhos, escolha assuntos que já conhece bem. Por exemplo: suponhamos que você entenda bastante de motocicletas. Nada mais óbvio que escrever sobre motocicletas.

4 - Não perca meses, anos, no primeiro livro. Faça algo bem feito, mas não fique enchendo de salamalaques e detalhes, achando que aquele vai ser “o cara”. Provavelmente não vai ser. O primeiro livro geralmente não é “o cara”. Aí, saber que você perdeu – por exemplo – um ano e meio para escrever algo que não serve…

5 - Não queira agradar gregos e troianos. Querer parecer bacana pra todo mundo é o jeito mais fácil de não agradar ninguém. De preferencia, escolha um “nicho de mercado”. Quanto mais você focar seus livros num determinado público, melhor.

6 - Procure obter feedback, ou seja, opiniões de terceiros. Mas não a mamãe, o papai e os amigos. Estes podem até te atrapalhar. Vai dar mais trabalho, mas é melhor procurar alguém imparcial. Que lhe diga algo que preste.

7 - Não se iluda. Ao invés de ficar sonhando em ser o maior escritor do universo, trabalhe. Escreva, aprenda. Talvez você seja mesmo, no futuro, um escritor famoso. Mas primeiro faça o dever de casa.

8 - Escreva porque gosta. Assim seu trabalho sai mais espontaneo. Escrever com uma mão esquanto faz as contas “dos livros que vai vender” com a outra, só vai te atrapalhar.

9 - Quando tiver um livro pronto, não tenha medo de mostrar. É melhor ouvir críticas negativas do que não ouvir nada. E saiba de uma coisa: se alguém cair de pau, e falar um montão na sua orelha por causa do livro, você provavelmente está no caminho certo. O primeiro sinal de que você fez algo interessante é alguém baixar a ripa.

10 - Se for mandar o livro para uma ou mais editoras, procure saber antes as regras de cada uma delas. Muitas fazem inclusive a exigencia de que a obra seja registrada. É… o caminho das editoras é árduo. E quando mandar o livro, prepare-se para esperar. As editoras demoram meses para responder. Mas respondem. Infelizmente, a maior parte das respostas é não. Mas não se acanhe por causa disso. A cada não talvez você esteja mais perto do sim. Lembre-se também que livros já publicados de outra maneira geralmente não são aceitos.

É claro que tem muito mais que isso. Mas acredito que estas dez dicas já servem para dar uma luz, se é que aí do teu lado estava meio escuro.

Fonte:
http://comoescrever.com.br/dez-dicas-para-escrever-um-livro/

Ademar Macedo (Mensagens Poética n. 489)


Uma Trova de Ademar

É dando que se recebe,
digo sempre aos meus irmãos:
quem não dá... logo percebe
que não tem nada nas mãos!...
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Para a Família Macedo,
nobre gente potiguar,
fazer Poesia é brinquedo
de uma beleza sem par!
–AMILTON MACIEL/SP–

Uma Trova Potiguar


E a vida vai me orvalhando
sonhos bons da mocidade
que os anos foram deixando
no silêncio da saudade...
–REVOREDO NETTO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Meu coração, hoje em dia,
desfeito, cansado e mudo,
lembra uma feira vazia,
depois que venderam tudo!
–PE. CELSO DE CARVALHO/MG–

Uma Trova Premiada


2009 - Cambuci/RJ
Tema: POETA - Venc.


Eu creio na honestidade,
na justiça clara e reta,
no fim da desigualdade...
- Não sou louco... Eu sou poeta!
–OLYMPIO COUTINHO/MG–

Simplesmente Poesia

Estranha Loucura
–DOMITILLA BORGES BELTRAME/SP–


Que estranha loucura é esta
que faz de minha vida uma festa,
um mundo de cores,
canto de passarinho
e perfume de flores?

Que estranha loucura é esta
que me faz, tão consciente,
perder a razão e o juizo,
desejar o paraíso
a qualquer preço e de qualquer jeito?!

Que estranha loucura faz o meu peito
bater tão descompassadamente,
verter tanta ternura?!

É a paixão pela vida
que me torna atrevida,
descobrindo-me poeta,
fascinada pelo verso,
apaixonada pelo AMOR!

Estrofe do Dia

Tudo quanto na vida a gente cria
tem o santo mistério divinal,
porque vendo a poesia em todo canto,
e a beleza do reino universal;
acredito que Cristo foi poeta,
e escreveu a poesia mais completa
na lapela da aurora matinal.
–PROF. GARCIA/RN–

Soneto do Dia

Quarta-feira de Cinzas
–HENRIQUE MARQUES SAMYN/RJ–


E quando a Quarta-Feira enfim chegou
e em cinzas transformou toda a folia,
rasgou, despudorada, a fantasia
que tantos mascarados deslumbrou;

e quando a Quarta-Feira enfim chegou,
fingiu não ver o mais cinzento dia;
e, em meio à rua clara e tão vazia,
cantou marchinhas e canções de amor.

No corpo nu calou toda a tristeza:
deitou-se, doida de melancolia,
na cama de confetes da calçada.

Se fez na quarta-feira, uma Tigresa:
lançou-se, incontrolável, sobre o dia –
bebeu, sedenta e só, a madrugada.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

J. G. de Araújo Jorge (Poesia, De Longe)


Ana Amélia (Ana Amélia Queiroz Carneiro de Mendonça) é uma das mais ricas sensibilidades que conheço. Sua obra, de feição clássica, neo-romântica, a coloca entre os maiores nomes femininos de nossa poesia, ao lado de Gilka machado, Adalgisa Nery, Benedicta de Melo, Beatrix dos Reis Carvalho, Ilka Sanches, Seleneh de Medeiros, Maria José Giglio, e tantas outras. Seu soneto “Mau de Amor” tornou-se peça natológica. Incluí-o em minha antologia “Os mais belos sonetos que o amor inspirou”, volume I, dedicado à poesia brasileira.

Minha admiração por Ana Amélia vem de longe, de meus tempos de estudante secundarista do Pedro II. Ela era nossa “rainha dos estudantes”, e me lembro de que participou da festa que escolheu os “príncipes da poesia e da prosa” do velho colégio. Festa memorável a que compareceram muitos acadêmicos, e entre eles Coelho Neto e Alberto de Oliveira, então os “príncipes da prosa e poesia” brasileiras.

Mas, além de sua própria poesia, Ana Amélia é uma excelente tradutora. Talvez nenhum outro poeta tenha conseguido passar para o nosso idioma, com tanta facilidade, os versos de Shakespeare, mas de outros poetas ingleses e norte-americanos.

Nesta pequena nota quero destacar uma das traduções de Ana Amélia, em que sua capacidade de transferir para o nosso idioma, intactas, todas as belezas do original, acabou por nos oferecer uma obra-prima, de lirismo inigualável. Trata-se de sua tradução do soneto XIX da poetisa norte-americana Edna St. Vincent Millay, que, com outros trabalhos de Ana Amélia, figuram no volume III de “Os mais belos sonetos que o amor inspirou”. Não me poupo a alegria de oferecê-lo aos leitores.

SONETO XIX

Tu também morrerás, cinza adorada.
Essa beleza é certo que pereça,
essa mão, essa esplêndida cabeça,
esse corpo de argila iluminada.

Sob o gume da morte, ou sob a geada,
serás mais uma folha que estremeça
e com as outras te vás, verde e travessa,
depois morta, sem cor, desintegrada.

De nada o meu amor terá valido,
apesar deste amor, tu chegarás
ao fim do dia e tombarás vencido,

obscuro como a flor que cai, por mais
que tenhas sido belo, e tenhas sido
mais amado que todos os mortais.

Edna St. Vincent Millay


* * *

A maior sonetista contemporânea de Portugal desapareceu há apenas dois anos: Virgínia Victorino. Depois de Florbela Espanca, e ao lado de Maria Helena, forma a trindade das grandes vozes do lirismo português de nossos dias. É a poetisa de maior público em sua terra, e seus livros esgotam edições sucessivas. Perfeita na forma, simples e comunicativa na linguagem, despida de quaisquer artificialismo, a poesia de Virgínia Victorino é uma flechada no coração. Dos três livros que deixou: “Namorados”, “Apaixonadamente” e “Renúncia”, possuo os dois primeiros.

Quando selecionava sonetos portugueses para o volume II de “Os mais belos sonetos que o amor inspirou” vi-me em dificuldades diante da obra de Virgínia Victorino: Tinha vontade de incluir todos os seus trabalhos. Como Guilherme de Almeida, que foi nosso “príncipe dos poetas”, seus sonetos são pequenas jóias, inconfundíveis, singulares, e não se pode tentar escolher uns poucos sem se correr o risco de cometer injustiças. E, por isso mesmo, excepcionalmente, Virgínia Victorino figura na antologia com o maior número de trabalhos: onze sonetos.

Ao preparar estas notas, estou atendendo a uma leitora que me pediu para que citasse algumas poesias de poetisas estrangeiras, das que mais gosto, tal como fiz aqui com as poetisas brasileiras.

Eis, portanto, um soneto de Virgínia Victorino, talvez o de minha preferência:

MÁGOA

Eu que cheguei a ter essa alegria
de junto ao meu possuir teu coração,
eu que julgara eterna a duração
do voluptuoso amor que nos unia,

sou,- apagada a última ilusão,
morto o deslumbramento em que vivia,
- um cego que ao lembrar a luz do dia
sente mais negra ainda a escuridão.

Tu me deste a ventura mais perfeita,
perdi-a, e dei-te a chama insatisfeita
dessa imensa paixão com que te quis...

Hoje, o que sinto, inútil, revoltada,
não é mágoa de ser tão desgraçada,
é pena, de ter sido tão feliz.

Virgínia Victorino


Ela é cognominada Joana da América, pela projeção literária de seu nome em todo o continente, e até no Brasil.Nasceu na pequena vila de Melo, em Cerro Largo, no Uruguai, e tem hoje mais de 70 anos. Poetisa de grande expressão lírica, seus primeiros livros são de versos exaltados, sensoriais, apaixonados, em linguagem clássica e pura. Ultimamente sua poesia ganhou certa expressão mística e até religiosa. A panteísta, algo pagã, de “Cântaro fresco” e “Raiz salvage”, hoje pinta vitrais em “Estampas de la Bíblia”.

Minha velha e grande admiradora pela sua poesia levou-me a procurá-la em Montevidéu, quando, ainda estudante, participei de uma caravana, e fui a Buenos Aires e ao Chile. Infelizmente ela estava em visita à sua terra natal, e não a encontrei.

Ao selecionar os sonetos de poetas latino-americanos para o volume II de “Os mais belos sonetos que o amor inspirou”, apesar de contar com traduções de trabalhos seus, feitas por Murilo Araújo, Melo Nóbrega e Othon Costa, fiz questão de transladar para nosso idioma algumas de suas páginas. E, sem nenhum favor, um dos seus mais lindos sonetos é este:

A PROMESSA

...E todo o ouro do mundo parecia
diluído na tarde luminosa.
Apenas um crepúsculo de rosa
a alta copa das árvores tingia.

Súbito amor a minha mão unia
à tua mão morena, carinhosa.
Éramos Booz e Ruth, ante a formosa
terra que aos nossos olhos se estendia.

-- Me amarás? Perguntaste. Lenta e grave
veio-me aos lábios a promessa suave
da amante moabita, tão querida;

e foi como um “Amem!” que nesse instante
se ouviu, num toque de oração, vibrante
bater o sino da pequena ermida!


Fonte:
JG de Araujo Jorge. "No Mundo da Poesia " Edição do Autor -1969

Nilto Maciel (A Pálida Visitante)


Como qualquer leitor, dediquei alguns anos a ler um pouco das literaturas antigas, especialmente a grega e a latina. Conheci também parte da literatura egípcia: o Livro dos Mortos, os Contos do Harpista, as epopéias das Aventuras de Sinuhé e das Desventuras de Unamon, o conto mítico O náufrago, e outros. Antes disso, havia lido estudos como A Literatura no Egito Antigo, de Thorbjörn Ling. E aqui se inicia minha visita ao mistério da morte de cinco homens de diferentes latitudes. Talvez por um acaso tenha lido uma página da biografia de Ling. E então minha curiosidade se voltou exclusivamente para a vida (e a morte) do lingüista sueco, me fazendo esquecer os seus estudos. Vasculhei bibliotecas imensas em busca de outras biografias dele. Interessavam-me a morte de Ling e, especialmente, a doença que o matou. Como podia um europeu ter morrido de lepra no Egito?

Thorbjörn Ling me levou a Jacob Grillparzer, autor de uma História do Egito Antigo. Em um dos capítulos mais curiosos e interessantes narra pragas de insetos ocorridas no Egito Antigo. Uma dessas pragas de gafanhotos é narrada com refinada arte e com tantos detalhes que não tive como não voltar ao Êxodo: “Estendeu, pois, Moisés a sua vara sobre a terra do Egito, e o Senhor trouxe sobre a terra um vento oriental todo aquele dia e toda aquela noite; quando amanheceu, o vento oriental tinha trazido os gafanhotos. E subiram os gafanhotos por toda a terra do Egito, e pousaram sobre todo o seu território; eram mui numerosos; antes destes nunca houve tais gafanhotos, nem depois deles virão outros assim. Porque cobriram a superfície de toda a terra, de modo que a terra se escureceu; devoraram toda a erva da terra, e todo fruto das árvores, que deixara a chuva de pedras, e não restou nada de verde nas árvores, nem na erva do campo, em toda a terra do Egito”.

A narração de Jacob é muito mais rica, mais minuciosa do que a bíblica. Parece-nos ver as nuvens de insetos sobrevoando as plantações e o chão. Ouve-se o chiar medonho dos gafanhotos devorando tudo, num craque-craque incessante, como se se visse o desfolhamento contínuo das árvores. Sente-se o odor da seiva no momento de sua sucção pelos acrídios.

O livro de Jacob transcreve trechos de inúmeros clássicos, assim como de obras menos conhecidas. Uma destas é O Egito e os Hebreus, de Gustav Hus. Segundo o biblicista tcheco, o capítulo bíblico da praga dos gafanhotos se referia, originalmente, a um tipo de gafanhoto já desaparecido. Não seria apenas uma figura de retórica o trecho seguinte: “Antes destes nunca houve tais gafanhotos, nem depois deles virão outros assim”. Na verdade, tais gafanhotos teriam existido somente naquele tempo, naquela estação do ano, naqueles dias de praga, ou naquele dia e naquela noite terríveis. O nome dessa espécie teria constado de manuscritos hebraicos, gregos e latinos. Estaria mencionado em uma versão da Bíblia, tendo sido dela extirpada por volta do terceiro século da era cristã. Consoante Hus, os insetos teriam sido transmissores de uma doença, espécie de lepra, que teria acometido populações inteiras do Egito e de toda a região desde o Rio Nilo até a Assíria.

O latinista Juan Carnicer afirma desconhecer, em textos latinos, qualquer alusão ao gafanhoto de Gustav Hus. Faz referência aos primeiros documentos latinos do século VII a.C. e transcreve trechos de obras de diversos escritores romanos, como Lívio Andrônico, Névio, Plauto e Ênio. Dedica algumas linhas a Plínio e sua locusta, e ainda descreve a anatomia de animais como a lagosta-gafanhoto.

Denis Papineau publicou numa revista científica um estudo intitulado Origem e Evolução dos Gafanhotos. Apesar do título, o biólogo francês não se limita aos gafanhotos — refere-se também às lagostas, aos grilos e às esperanças. E lembra algumas doenças, como gafa, sarna e lepra. Porém não afunda na História e muito menos nas origens da palavra locusta.

Recentemente tive um sonho esquisito. Eu me encontrava no Egito, como turista. Já havia visitado a Esfinge, as pirâmides e outros templos da cultura egípcia. Acompanhava-me sempre um homem branco, louro, cinqüentão, robusto, alto, com quem eu conversava o tempo todo. Falávamos de faraós, dinastias, deuses. Ao despertar, tive a idéia de o homem do sonho ser Thorbjörn Ling, cuja fisionomia nunca tinha visto, por mais que a buscasse nas enciclopédias. Dias depois, porém, consegui um exemplar da edição sueca de seus ensaios dedicados à literatura no Egito Antigo. Numa das primeiras páginas está estampada uma fotografia de Ling. Não tenho dúvida de que retrata exatamente a fisionomia e o corpo do personagem do meu sonho. Há no livro também uma biografia dele: nasceu em 1833 e faleceu em 1893. Dedicou sua vida a estudos de literaturas asiáticas e africanas. Matou-o uma espécie de lepra, uma doença de pele, que o consumiu em poucos dias, quando visitava o Egito. Nem sequer conseguiu voltar à Europa. O corpo de Ling, inteiramente desfigurado, foi embalsamado e conduzido à sua terra natal.

Renovei correspondência com estudiosos da Literatura Egípcia antiga. Pietro Landini, professor de Literatura em Roma, me enviou uma longa carta. Eu o tinha conhecido em 1994, quando visitei a Universidade onde lecionava. Convidou-me a voltar à Itália. O resto do escrito é dedicado a Gustav Hus e sua obra: nascido em 1764, viveu quase sempre na miséria. Faleceu em 1824, quando de uma epidemia ocorrida em Praga. O professor dedica algumas linhas à importância do biblicista, ao seu livro citado no início deste comentário e a uma coletânea de lendas por ele publicada. Uma dessas lendas teria como enredo uma praga de gafanhotos. Talvez se tratasse da mesma narrativa estudada por Jacob. A curiosidade me levou a solicitar a Pietro um exemplar da coletânea. Ou, se isto lhe custasse muito trabalho, pelo menos uma cópia da lenda. No entanto, não obtive resposta. Pietro faleceu exatamente no dia em que me escreveu a carta.

Como Jacob Grillparzer conhecera a obra de Hus? Reli alguns capítulos de sua História, especialmente o das pragas de insetos ocorridas no Egito Antigo. Como da primeira vez, achei-o interessantíssimo, uma obra de arte literária. Li também uma pequena biografia do historiador alemão: primeiro filho de um casal de judeus, nasceu em 1821, em Bremen, e faleceu em 1881. De que morreu Jacob? De uma febre terrível, possivelmente causada por picadas de insetos. A informação é concisa e vaga. Que insetos teriam matado o historiador?

Dediquei-me, a seguir, a Juan Carnicer e os escritores latinos por ele estudados. Essas leituras me fizeram recordar o meu pobre latim e minha antiga paixão pelo Império Romano. No entanto, Carnicer não me saía da cabeça. Queria saber mais dele, de sua vida e sua morte. O ano de seu nascimento é 1907; o de seu falecimento, 1967. Matou-o uma indigestão. Havia jantado com amigos num restaurante de Barcelona. Segundo os seus amigos e o garçom que os serviu, o prato escolhido por Juan havia sido lagosta. Durante todo o jantar falaram de crustáceos, romanos e latim. Ao se despedirem, ele se queixou de muito sono. Encontraram-no morto, no dia seguinte, as mãos retorcidas, os dedos feito garras, e todo o seu sangue derramado no chão do quarto.

Restava-me Denis Papineau. Folheei revistas de biologia e enciclopédias. Não encontrei qualquer referência a ele. Procurei biólogos brasileiros. Nenhum deles conhecia o francês. Telefonei a um amigo parisiense, Charles Sautet, e falei-lhe de minhas buscas. Ele me prometeu descobrir o paradeiro de seu compatriota. Alguns dias depois, telefonou-me: iria mandar livros que me interessariam muito. Um desses livros é uma biografia de Denis: nascido em 1912, faleceu em 1972. Matou-o um câncer de pele.

Ontem regressei do Cairo. Trouxe livros e fotografias. E mais mistérios. Lembram-se do meu sonho, do homem com quem conversava o tempo todo? Pois lá o encontrei novamente. Apresentou-se a mim como Jacob. Falava alemão, tendo nascido em Praga. Não me falou de literatura nem de história nem da Bíblia. Disse-me ser professor de latim. Perguntei-lhe se conhecia Juan Carnicer. Ele sorriu: “Quem dii oderunt, paedagogum fecerunt”*. Indaguei se a praga dos gafanhotos ocorrida no Egito Antigo havia sido registrada por escritores romanos. Ele conduzia exemplar da revista onde Denis Papineau publicou o estudo sobre os gafanhotos. Fez-me doação dele. E se pôs a citar Horácio: “Pallida mors aequo pulsat pede pauperum tabernas regunque turres (...)”**. Depois olhou para mim com um olhar de eternidade, e prometeu: “Quando chegares à tua terra, eu te visitarei”. E desapareceu atrás de uma pirâmide.

Eu o espero.
–––––––
Notas:
(*) A quem os deuses odeiam, fazem-no professor.
(**) A pálida morte bate com pé igual nas barracas dos pobres e nos palácios dos reis (...)

Fonte:
Nilto Maciel. Pescoço de Girafa na Poeira: contos. Brasília: Secretaria de Cultura do Distrito Federal/Bárbara Bela Editora Gráfica, 1999.

Dora Dimolitsas (Poesias Avulsas)


A REVOLTA DOS DEUSES

Transbordo ópera na espreita
Explosão nuclear, começo e fim
Medos, tsunami, violação do estante

Abro as cortinas e entulhos se sobrepõem
Transformações profundas sísmicas
Medos ,lágrimas e espanto

Já é tarde demais
Os deuses já despem os véus

SANGRA O SANTO SUDÁRIO

a espada é o elo,
esbarra nas distorções,
fazem os abismos de Breton
no caracol do rebento
não há lamentos
Microcefalia, cólera, massas profanas
( os impúberes-psíquicos )
deixam expostos o brilho
dos olhos,
nos ossos do crânio sagrado

SÃO PAULO À NOITE

São Paulo de noite nas ruas
Parece nua com suas cores, suas luzes piscando
Todas no mesmo ritmo, como um grande coração.
As luzes parecem pulsação.
Nos bares a vida noturna embala
As caras que encaram no peito a noite.
Não tem jeito, a noite é linda e leve,
Leva-nos a muitas reflexões.
Aqui, acolá, uma pessoa passa cantando, falando, sorrindo.
Olhando pra longe bem ao longe,
A existência do que parece vazio,
Do que nos fala ao ouvido, baixinho.
Através do vento que bate no rosto
Cochichando palavras inexplicáveis.

A noite em São Paulo é mágica
Ando na Avenida Paulista
Preocupada, pensativa, mas feliz,
Bebendo a brisa que passa
Abraçando a noite que fala...
Pensando em Você, como está:
Pensa em nós, ou faz tudo
Para me afastar de suas lembranças?
Lamento dizer, mas você está impregnado
Em mim, assim como estou em você.
Somos ligados não sei por quê acordo
No Céu, mas sei que são laços eternos.
Por isso já aprendi a amá-lo
Na incerteza das suas lembranças, mesmo de longe,
Morrendo de ciúmes de quem está perto.

NOITE DE SOL

Na noite,
Lençóis macios testemunham imagens
Que em teu olhar pasmo se formam.

O corpo nu, inteira cobiça,
Um busto que faz as mãos tremer
Deixando transpirar.

Desejos no beijo, no abraço,
Bombolinar, sonhar entre os lençóis,
Amar, deixar o sol brilhar.

AMOR EM ECO

Havia astros refletindo
Com a luz do luar
Em sinfonia pronuncia
O nome do amor em eco.

O relógio marcando a hora
Do dia que logo vai clarear,
Mãos prontas para estrelas pegar
Num reflexo da luz
Que a noite está sempre mostrando.

Nas cantigas grito,
Em sinfonia pronuncio
O teu nome ao cantar o amor.

NOS BARES

Nos finais de semana os bares ficam lotados.
À noite, bandas de garotos
Iniciando uma carreira promissora,
Fazem suas demonstrações.

Muitas luzes piscando,
Muitas jovens adolescentes com seus ficantes.

A noitada está só começando,
Dança agarradinho, cochicho no ouvido
Dança sensual fazendo a garotada sonhar.

A sedução faz parte da noite, fala macia,
E dois jovens vão parar na cama.
Aos pais, a quase certeza do neto chegando.

POETAS EM SARAU

Da sacada do prédio ao lado
Vejo poetas em deliciosos saraus,
Muita gente circulando
Bebendo as palavras poéticas,
Vejo os rostos das pessoas
Que na noite deixam a alma falar
Transitando nos corredores.

Paro e me pergunto
A poesia é sonho ou é real?
Chego à conclusão:
Bem vivida a vida é poesia

A LINGUAGEM POÉTICA

Traz o envolvimento perceptivo,
Criativo e principalmente belo.
Capaz de abraçar nossa alma por inteiro.
Ilustra e da cores a nossa imaginação,
O poeta em sua capacidade de ver e comunicar
Constrói todo um universo
Faz viagens, permitindo que sua criação
Tenha vida própria e alma...
as imagens transitam entre um elo e outro.
E assim o Poeta se comunica, cumprindo
Seu compromisso social de levar beleza e cores
A todo espaço que pareça vazio..
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Dora Dimolitsas (Convite: Poemas à Flor da Pele)

Dora Dimolitsas


Nascida no Acre em Sena Madureira, criada em colégio de freiras.

Trabalhou e se preparou profissionalmente no 5º Batalhão de Engenharia e Construção em Porto Velho, Rondônia.

Atuando na área de Saúde, estando presente na construção da cidade de Vilhena ,indo para São Paulo em 69, prestando concurso para o governo federal ( hoje aposentada.)

Prestando serviço no Hospital Brigadeiro, em São Paulo, Laboratorista com vários cursos de especialização em hematologia ,bioquímica, hemoterapia, citologia e citoquimica, bacteriologia.

Também com curso de puericultura e educação sanitária, participou de varias atividades nacionais de vacinas contra a poliomielite, membro da CIPA, com estagio em Analises Clinicas na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de São Paulo. Trabalhou também no Hospital Ipiranga no período de epidemia de meningite, atuando ativamente na elaboração de exames para definição da meningite.

Tem diversos cursos de Poesia e Teatro cursados na Casa das Rosas, Espaço Haroldo de Campos.

Escritora,poetisa,atriz,escritora,produtora Cultural, e Jornalista.

Representante dos Projetos Culturais: Poemas a Flor da Pele, Proyecto Cultural /Sur/Paulista, com eventos dentro dos hospitais públicos, para pacientes, funcionários, e crianças leucêmicas, e hemofílicas.

Cônsul de Poetas Delmundo.

Colunista do Jornal o Rebate e o São José

Produtora de eventos no Centro Cultural de São Paulo e na Biblioteca Alceu Amoroso Lima pela Prefeitura.

É poeta Prata da Casa das Rosas

Membro da
Academia de Letras da Mantigueira
Academia de Letras Itapirense de Letras e Artes
Academia de Cabo Frio,
Academia de Arte de Cabo Frio-ArtPop
Academia Cabista de Letras, Artes ,
Academia de Letras de Niteroiense de Belas Artes, Letras e Ciencias,

Membro da Literarte com o Premio Literarte de Cultura de 2012
Guardiã do Cinquecentenário:
Premio da Academia Brasileira de Honrarias ao Merito
varias medalhas e Premios do Proyecto Cultural Sur
varios Premios da Companhia de Teatro Loucos do Taró, e CICESP

Autora das peças: Dama de Vermelho Por intenção, e Cortejo de Baco, além do Roteiro do filme: Os Druidas e o Segredo da Pedra da Luz (em parceria)

Auitora de dois livros Solos

- Coruja Mitologica
– Poesias e Fractais.

Mais 120 antologias, Entre elas:
- Destaques na Poesia em 2011
– de Raimundo Nonato, Delicatta,
– Poemas A Flor Da Pele,Varias Cronicas,
– Mais 20 Plaquetes

Fonte:
Rebra

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Hermoclydes S. Franco/RJ (Calendário: As Flores de Maringá) Janeiro/Fevereiro/Março

O poeta Hermoclydes, do Rio de Janeiro em homenagem a Maringá, fez um calendário denominado as Flores de Maringá, em Trovas.

Hoje posto Janeiro, Fevereiro e Março. Para ampliar e/ou mesmo imprimir, é só clicar sobre a imagem. Ao finalizar dezembro, colocarei o Calendário disponível aqui no site para download.






Esmeraldo Siqueira (Livro de Trovas e Poemas)


TROVAS

Amou o belo e a verdade
Sem crer no Céu nem no Inferno
Do mundo, em vez de saudade.
Sente agora alívio eterno.

Dão-se prêmios repetidos
a livros que valem nada,
de versos desenxabidos
ou prosa vazia e aguada

De amor os versos que fiz
dariam mais de um milheiro.
Toda mulher que me quis
foi por amor... ao dinheiro!

Larápios de mil padrões
há neste mundo, dispersos.
Até conheço ladrões
que roubam frases e versos...

Os asnos são divertidos,
asnos bípedes, é claro,
todos se julgam sabidos,
dotados de senso raro.

Retornado ao pó obscuro,
coração, urna de pranto,
quem saberá, no futuro,
que amaste e sofreste tanto?

Se eu respeitasse o jumento
mesmo o bravio e coiceiro,
adeus meu divertimento,
alegre humor galhofeiro…

POEMAS

CREDO PANTEÍSTA

Creio em ti, Natureza, que és meu culto.
Creio, sem ritos místicos e altares.
No resplendor pleorâmico dos mares,
Onde assoma a grandeza do teu vulto.

Creio na tua força, e pasmo, e exulto,
Vendo, através de lentos avatares,
A gradação das formas singulares,
Até à maravilha do homem culto.

Creio em tuas florestas, nos teus montes,
Na poesia dos rios e das fontes,
Na beleza da terra reflorida.

Creio nas lindas noites estreladas,
No refúgio das brancas alvoradas,
Na sinfonia universal da vida.

(Caminhos sonoros/1941)

OFERENDA À POESIA

Um trono eu te erguerei, um trono, escuta bem,
De esmero original,
Como, em tempo nenhum, na terra, houve ninguém
Que tivesse outro igual

A púrpura - será do meu sangue inda vivo,
Ardente e palpitante.
O ouro - da áurea prisão do meu verso cativo,
Aos teus pés suplicante

Às estrelas irei, na asa da inspiração,
De uma a uma escolhe-las,
Para cingir-te a fronte a reverberação
Das mais lindas estrelas

Que valerão do mundo efêmeras grandezas,
Ante o teu resplendor?
Vencerás imortal rainhas e princesas,
Pela glória do amor.
(Novos poemas/1955)

Fontes:
Colaboração da Profa. Dione de Souza/RN
http://www.geraldo2006.com/arte4.html#Esmeraldo%20Siqueira

Esmeraldo Siqueira (1908 – 1987)


Médico, professor, poeta, crítico literário potiguar, nasceu em 16 de agosto de 1908 e morreu em 20 de junho de 1987.

"Expressão mais alta da nossa vida literária e científica", nas palavras de Veríssimo de Melo, Esmeraldo Homem de Siqueira nasceu em Vila Nova, hoje Pedro Velho (Rio Grande do Norte), filho do juiz Joaquim de Siqueira Cavalcanti e de dona Maria Joaquina de Siqueira Cavalcanti. Transferiu-se com seus pais para Natal em 1913, iniciando no mesmo ano seus estudos primários no Grupo Escolar Augusto Severo. Depois, estudou no colégio Santo Antônio e no Ateneu Norte-rio-grandense.

Em 1928, matriculou-se na Faculdade de Medicina do Recife onde colou grau na turma de 1933. Começou a exercer a profissão em Jardim do Seridó. De lá, nas horas vagas, escrevia e mandava para A República os seus "Intentos", série de artigos sobre literatura e filosofia. A partir de 1936, transferiu-se para Natal e passou a lecionar na Escola Normal a disciplina de História Natural. Em 1941, ingressa no quadro de professores do Ateneu Norte-rio-grandense ensinando Língua e Literatura Francesa. Para essa cadeira publicou "Letras de França" (1969), que é uma espécie de excursão didática erudita nas obras e nas vidas dos grandes autores franceses.

Intelectual polêmico e contestador, portador de uma vasta cultura científica e humanista, colaborou assiduamente nos jornais A República, Diário de Natal, Correio do Povo e Tribuna do Norte. Neste último, manteve uma coluna semanal sobre literatura e filosofia entre os anos de 1954 e 1955.

Era um homem de temperamento arredio, contrário às reverências aos poderosos e aos círculos de privilegiados, preferindo o trabalho intelectual solitário que exercia habitualmente à noite, encerrada a jornada diária pelos colégios onde ministrava aulas. Deixou dezenas de livros editados versando sobre temas da literatura clássica européia, sobretudo francesa, mas também sobre temas da cultura brasileira.

A maioria desses livros foi paga por ele próprio. Na poesia, deixou uma produção vasta e variada, lírica, satírica, romântica.

Descrevendo-o em artigo, assim se expressa seu filho Juliano Siqueira: "Esmeraldo escreveu seus poemas de acordo com seu credo literário: romântico, parnasiano, simbolista, moderno. Um humanista."

Em 1949 funda, com outros colegas, a Faculdade de Farmácia e Odontologia - primeira escola superior da Universidade Federal no Rio Grande do Norte - onde lecionou a cadeira de Botânica Farmaceutica. Foi também um dos fundadores da Faculdade de Filosofia à qual vinculou-se depois que essa instituição acadêmica foi incorporada à Universidade Federal.

Em 1957, fundada a Faculdade de Filosofia de Natal, passa a lecionar Língua e Literatura Francesa. Aposenta-se em 1958 na cadeira que ocupava na Faculdade de Farmácia. Suas aulas, cultas e descontraídas, ficaram famosas por atraírem grande número de alunos, inclusive vindos de outros cursos. Ingressou, a convite, na Academia Norte-rio-grandense de Letras, em 1949, ocupando a cadeira número 29, cujo patrono é Armando Seabra.

Obras:

Caminhos Sonoros (versos), Tipografia A. Lira, Natal, 1941;
Roteiro de uma Vida, editora Pongetti, Rio, 1968;
Música no Deserto, editora Pongetti, Rio, 1968;
Fauna Contemporânea - Sátiras, editora Pongetti, Rio, 1968;
Novos Poemas (versos), Departamento Estadual de Imprensa, Natal, 1950;
Taine e Renan (ensaios), editora Pongetti, Rio, 1968;
Sugestões da Vida e dos Livros (crítica literária) Imprensa Universitária, Natal, 1973;
Caminhos Sonoros (poesias) editora Pongetti, Rio 1941;
Poemas do Bem e do Mal (poesia), editora Pongetti, Rio, 1984;
Pretéritas (poemas) editora Pongetti, Rio, 1984;
Jorge Fernandes Desconhecido in "Revista da ANL", número 15, voluma 27, novembro de 1979/80.

Fonte:
Enciclopédia Nordeste

J. G. de Araújo Jorge (Os Últimos Reflexos de Uma Época)


A minha geração também poderia falar de uma belle époque. Nossa formação literária vinha de escritores que vivem ou participaram desse período. Julio Verne, Pierre Loti, Rostand, Zola, Heredia, Maupassant, Anatole France, Proust, cada um contriuiu com seu traço pessoal para aquela paisagem do espírito batizada com o nome vago de art nouveau.

Ainda agora leio nos jornais que Carlos Maul vai publicar um novo livro: O Rio da Bela Época. Ele próprio esclarece o título da obra:

“Era assim que na Europa, no princípio do século, se denominava o período entre 1898 e 1914, quando a humanidade parecia feliz e despreocupada, e não pressentia que a guerra a surpreenderia. O Brasil também pagou seu quinhão à calamidade, mas não tanto como os países devastados. Por isso, nossa “bela época” durou de 1900 a 1930.”

Eu prolongaria essa data por mais alguns anos. Minha geração ainda vislumbrou as suas últimas claridades. Em que pese as agitações políticas que refletiram posteriormente as lutas dos extremismos na Europa, vivíamos aqui, literariamente, como se fossemos uma longínqua província onde não tinham chegado as perturbações da metrópole.

Adolescentes, acordando para as letras, pertencemos ao tempo dos “cafés sentados”, os “cafés literários”, quando se tinha mais tempo para perder. Ainda se fará um dia a crônica dessa fugaz belle époque dos cafés do Rio de Janeiro. Primeiro, o velho Belas-Artes, na esquina da Avenida com a Rua Almirante Barroso. Lá nos reuníamos -a novíssima geração-, em longos “papos”, nos fins das tardes, a propósito de tudo.

Joaquim Ribeiro, que ampliou, no tempo, a inteligência e a obra do pai, João Ribeiro, Joaquim, talvez a maior cultura de nossa geração; Guilherme Figueiredo, então ainda e apenas o poeta de “um violino na sombra”; Edmundo Moniz, também poeta, engolfado sempre em estudos políticos e sociólogos; Odilo Costa Filho, recém-chegado do Norte; Henrique Carstens, poeta desaparecido; Augusto Rodrigues, que apenas começava seus desenhos, seus primeiros bonecos; Jair, figura exótica, com seus estranhos bigodes, extraordinário desenhista, autodidata, o penúltimo boêmio autentico que conheci (o último foi Antônio Maria, o pastor das madrugadas); Garibaldi, então pintando interiores do Mosteiro de São Bento, em fase mística, e que se perderia durante anos por Paris.

Lembro-me de uma tarde, ao chegar ao grupo que rodeava a mesa, repleta de xícaras vazias, transformadas em cinzeiros, Joaquim Ribeiro, antes que me sentasse, me apresentou a um novo companheiro:

- Araujo Jorge, este aqui é o Josué Montelo. Acaba de chegar do Maranhã Reverente, sacudindo ainda o pó das sandálias, Josué levantou-se, humilde e cordial:

- Araujo Jorge? J.G.? Admiro-o muito. Seu nome é muito conhecido em minha terra, não só pelos seus livros como pela colaboração no Correio da Manhã.

E enquanto me sentava a seu lado, foi logo retirando do bolso um trabalho:

- Gostaria de ouvir sua opinião.

Era um artigo sobre Celso Vieira. Um belo artigo, por sinal.
Disse-lhe minha impressão e me referi à sua letra, miúda, muito certa, que me lembrava a de Coelho Neto, que eu conhecia de vários manuscritos.

Alguns momentos depois, levantou-se e se despediu.

Quando Josué saiu, Joaquim voltou-se para nós da mesa, e com aquele espírito e senso de humor que o caracterizava, sem nenhuma maldade:

- O Josué trouxe quarenta artigos prontos, um sobre cada acadêmico. Vocês vão ver, enquanto nós vamos continuar aqui na “academia” do Belas-Artes, ele acaba na Academia.

O Café Belas-Artes foi realmente nossa “academia” durante alguns anos. Na esquina seguinte, frente para a antiga Galeria Cruzeiro, era o Café Nice, ponto de reunião de cantores, músicos, compositores da velha-guarda.

Eram dois mundos que não se misturavam. Quando instalaram a Caixa Econômica no local do Belas-Artes, levantamos vôo e fomos pousar na Cinelândia. Iniciava-se a fase do Café Amarelinho. O café existe até hoje, mas p erdeu definitivamente aquelas características de QG literário.

O mesmo grupo do Belas-Artes estava agora acrescido de outros elementos, alguns mais velhos, de outras gerações. Era comum, nas cadeiras de palhinha, na calçada, encontrarmos Murilo Araújo, Álvaro Moreira, Mário de Andrade, (quando de passagem pelo Rio), Raquel de Queirós, José Lins do Rego, Portinari, Graciliano Ramos, Jorge de Lima. Uma tarde fui apresentado a Julio Salusse, o poeta de Os Cisnes.

Jorge de Lima tinha consultório no mesmo edifício do café e era o médico dos escritores e artistas do Amarelinho. Hoje, depois de tantos anos, só lastimo não ter me aproximado do Jorge, participado mais de sua convivência. O grande poeta me pareceu sempre esquivo, silencioso, distante.

No mesmo edifício ficava também a redação de Dom Casmurro, o jornal literário de Brício de Abreu. Quem desejar escrever a história dessa época terá que consultar as coleções de Dom Casmurro. Lembro-me que, na ocasião, um nome novo se projetava ? Joel Silveira, que acabara também de chegar do Norte, e que à maneira de Sergio Porto, depois lírico e satírico, tirava do dia-a-dia da vida da cidade a substância de suas crônicas.

No Amarelinho, reuniam-se ao nosso grupo jovens músicos cheios de idealismo e de planos. Eleazar de Carvalho e José Siqueira são velhos amigos, com quem troquei muitas vezes idéias. Eu estivera na Alemanha, freqüentara a Filarmônica de Berlim, então sob a regência de Furtwaengler, fora a Bayreuth, assistira a Wagner em seu teatro, e muitas vezes lhes sugeri a criação de nossa Orquestra Sinfônica Brasileira, da qual Álvaro Ladeira, cronista de arte, outro amigo, foi secretário por muitos anos.

Falar do Amarelinho é recordar nomes e amigos, poetas, romancistas, jornalistas, pintores, compositores, caricaturistas, cuja convivência, nessa época, enriqueceu de lembranças minha memória: Armando Pacheco, eram dois, o pintor e o jornalista; os Condes, Mendes, Alvarus, Wilson W. Rodrigues, D’Almeida Victor, Cursino Rapôso, Paulo Mac-Dowell, Nélio Reis, Nélson Ferreira, alguns desaparecidos, como Osório Borba, Augusto de Almeida Filho, Amadeu Amaral Júnior, Martins Castelo. Era a minha geração. Não ficou marcada cronologicamente: de 35 ou de 40 -Mas teve seu tempo, foi bem um prolongamento do que se poderia chamar a belle époque.

Como poetas, apenas dois nos fixamos: eu e Vinicius de Morais. Os outros perderam-se na vida, e, distraídos da poesia, enveredaram por múltiplos atalhos. Que sejam felizes!

Fonte:
JG de Araujo Jorge. "No Mundo da Poesia " Edição do Autor -1969

Ademar Macedo (Carnaval em Trova e Soneto e Uma Setilha)


De sábado a terça-feira
cai na folia o país...
Diverte-se a pátria inteira,
sem medo de ser feliz!
–A. A. DE ASSIS/PR–

Quando encontrei desbotado
seu retrato de arlequim
no carnaval do passado,
senti saudade de mim!
–ALFREDO DE CASTRO/MG–

Ah! Esse amor eu queria...
Mas o destino, afinal,
pôs fim em nossa folia,
logo em pleno carnaval!
–CLENIR NEVES RIBEIRO/RJ–

Na loucura de três dias,
vai-se tentando afogar
as frustrações, nostalgias
que a vida deixa ficar...
–CONCEIÇÃO A. C. DE ASSIS/MG–

Nos quatro dias de momo
ante tanta bebedeira,
eu estarei, não sei como,
quando chegar quarta-feira!
–FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE–

Foliões encantadores,
fantasias colossais...
um mesclado de mil cores,
só nos nossos carnavais!
–GLÓRIA MARSON/SP–

Nos três dias de folia,
aquela atração fatal,
não passou da fantasia
de um amor de carnaval!
–GUILHERME MACHADO/RJ–

Os poetas foliões
vestiram as fantasias,
desfilaram nos cordões
declamando poesias.
–HELOISA CRESPO/RJ–

No carnaval da paixão
no quesito “nosso amor”
a nota da comissão
foi um “dez” e com louvor!
–LARISSA LORETTI/RJ–

Sem amor e sem carinho
no carnaval da ilusão,
vou pular frevo sozinho
no bloco da solidão.
–LUIZ GONZAGA ARRUDA/CE–

Na passarela dos sonhos,
num desfile de magia,
passam pierrôs tristonhos,
num carnaval sem folia...
–MARIA CARRIÇO/RN–

Carnaval!... Grande folia.
Vou mostrar o meu segredo,
vou rasgar a fantasia,
cantando meu samba-enredo.
–MIFORI/SP–

Carnaval exige estudo
para quem busca namoro:
escolha bem, pois nem tudo
que está reluzindo é ouro!!!
–MILTON SOUZA/RS–

Nos carnavais desta vida
muitos desfilam, risonhos,
uma versão colorida
dos seus malogrados sonhos.
–ZENAIDE MARÇAL/CE–

UMA SETILHA DE ADEMAR

Hoje eu faço do “repente”
minha grande alegoria;
nos versos de uma setilha
ponho a minha fantasia
para a festa ser completa;
pois carnaval de poeta
não pode faltar poesia.
–ADEMAR MACEDO/RN–

SONETOS:

Uma Vez Sambista... Sempre Sambista
DE: DARLY O. BARROS/SP
PARA: CARMEN OTTAIANO/SP


Se o sangue ferve e a pele se arrepia,
ao som da Escola, em novo samba-enredo,
sem mais rodeios, veste a fantasia
e a máscara, que é bom guardar segredo!

Esquece os males, entra na folia
que é tempo de alegria e de folguedo,
só não te atrases, nossa bateria
vai esquentar seus tamborins mais cedo!

Quero te ver de novo na Avenida,
suada, sorridente, enrouquecida,
rememorando antigos carnavais

e então, findo o desfile, em plena rua,
te ver sambando, ainda, à luz da lua,
com alma leve e um ar de quero mais!...

Poema da Apoteose
–ELISABETH SOUZA CRUZ/RJ–


Tem gente que se diz carnavalesca
pensando no vestir da fantasia...
Há gente com ideia gigantesca
de mascarar a dor numa folia...

Outras existem, de ilusão dantesca,
às margens de uma suposta euforia,
não indo além da gula romanesca
de saciar o sonho por um dia...

O Carnaval, não mais de antigamente,
anda mesclado de prazer urgente,
com gente que não tira os pés do chão!

Mas Carnaval não tem dia nem mês...
é aquele em que se perde a sensatez
na apoteose de uma inspiração!

Perdi Meu Carnaval
–AMILTON MACIEL MONTEIRO/SP–


Brinquei nos carnavais lindos de outrora,
Um tempo bom e muito diferente
De tudo o que se escuta e vê agora
No modo de folgar de tanta gente.

As graciosas marchas, feito a “Aurora”
E a “Jardineira”, mais que de repente
Sumiram da folia, foram embora,
Expulsas num barulho “ensurdecente”...

O romantismo todo que existia
No jogo de confete e serpentina,
Em busca do romance tão sonhado,

Suponho até que entrou em agonia...
Agora é a adrenalina o que domina...
Pra que xodó?... Tá tudo liberado!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Clevane Pessoa (A Boneca de Pano)


O retalho de fino veludo preto, na banca das “Casas Regente”, tradicional loja de tecidos em “Juiz de Fora” , atraiu a moça. Pensou em cortá-lo em retângulos e neles aplicar flores de fita varicor, o que estava em voga naqueles anos sessenta. Gostava de trabalhos manuais e de criar peças para o seu enxoval. As claras mãos, muitos finas, destacaram-se no negro. O anel bonito, que terminava numa pérola encaixada em garras de ouro branco, faiscou. Presente de Pete, com quem namorava “firme”, como diziam então.

Acabou mandando embrulhar o retalho, pagou e, como sempre, foi à sorveteria da loja, onde os fregueses podiam servir-se gratuitamente de um delicioso sorvete, mais cremoso que o de qualquer outro lugar.

Professorinha recém-nomeada, foi dar aulas em um grupo escolar. Muito ocupada fazendo todo o material didático, já que as escolas estaduais da época possuíam-no muito pouco – confeccionava desde as cadernetas de notas mensais, feitas de cartolina dobradas e decoradas com seus caprichosos desenhos, às provas mimeografadas... Mapas, quadro de pregas para ensino de unidades, dezenas, centenas... Flanelógrafos, corpo humano, fauna e flora! Tudo feito em casa, na grande maioria, mais o plano dos testes... Nas datas comemorativas, dezenas de pequenos brindes e enfeites, alusivo: dia da páscoa, em abril, dia das mães em maio, dias de festas juninas, dia dos pais em agosto, dias da árvore e da entrada da primavera em setembro, dias das crianças e de N. Sra. Aparecida, padroeira do Brasil, em outubro, dia da bandeira em novembro e, em dezembro, as festas de fim de ano, com suas formaturas ou despedidas. Haja papel-cartão, papel-cetim, papel-de-seda, papel fantasia, papel kraft! Haja isopor, cola, aquarela e lápis cera e de cor! Os dedos, machucados de tanto usar tesoura, o rosto com pontos luminosos de brocal, purpurina, as unhas estragando-se.

Mas o prazer de lecionar, agradar à criançada, ver os resultados, mesclado à criatividade que recebera como dom, sobrepujava em muito aquela canseira toda.

Também ganhava presentes, em certas datas, mas, principalmente, no seu aniversário e no dia do professor. Alguns, feitos a capricho, pelas mães, como panos de prato, toalhinhas de crochê. Outros, terríveis, certos bibelôs de porcelana branca, com traços informes e riscos dourados. Alguns insuportáveis perfumes baratos, brincos de plástico vagabundo. Os simplórios ou baratos, como sabonetes. Bichinhos de pelúcia, bombons, cosméticos, principalmente se a mãe era uma “revendedora Avon”.

E broa com carinho, empadinhas sem azeitonas... De vez em quando, havia um pai dono de padaria, uma prendada tia, avó ou mãe confeiteira, doceira, costureira, florista... e, falando em flores, elas vinham aos montes, as de jardins e horta, as arrancadas pelo caminho ou roubadas de vizinhos...

Voltava para casa carregada com esses troféus do carinho que lhe dedicavam, feliz da vida. Uma vez, um aluno quis dar a ela algo inusitado:

- Um gato-coelho, fessora.

- Que é isso, Serginho?

- Um gato com rabo de coelho, todo branco, que pula como coelho.

A mãe dela adorava animais e, acompanhada do garoto, foi à casa dele após a aula. A mãe de Sérgio achou graça porque o animal – uma linda aberração – era a paixão da criança e da família.

- Olha, Eva, ele gosta muito mesmo da senhora, porque em casa é muito ciumento do bichinho.

Sérgio, nos dias de início das aulas, chorava tanto, que, literalmente, ficava com a camisa do uniforme encharcada. Chorava pelos olhos, pelo nariz, pela boca. Às vezes, pela bexiga. Eva fora tão carinhosa, que o conquistara “para sempre”.

- Fessora, eu amo você para sempre!

- Que bom, Serginho, eu também, mas agora, vá para o recreio merendar e brincar...

Se deixasse, ele ficaria olhando-a, sem ir ao pátio com os coleguinhas...

Ele chegou com um sorriso de melancia no rosto moreno, olhos cheios de estrelinha:

- Olha tia, meu gato-coelho!

Ou então, um coelho-gato. O menino tinha razão. Um mistério de cruzamento. Deixou-o contentíssimo, aliviado, quando declinou do presente, com uma desculpa.

- Ah, Serginho, não vou poder levá-lo, porque na minha casa temos dois cachorros e ele vai correr perigo...

Num feriado, arrumando seus guardados, encontrou o retalho, já retalhado, em cinco retângulos menores. Teve a idéia de fazer uma boneca e foi costurando, com ponto caseado miúdo, braços, pernas, tronco.

Braços e pernas, após enrolar cada tecido sobre si mesmo, como rocambole, os primeiros mais apertados para ficarem mais finos e não precisarem de enchimento. Já as pernas, tronco e rosto, receberam espuma de nylon por dentro.

A cabecinha fez com um pedaço de cetim preto. Olhos de botões, boca e nariz bordados, cabelos de lã preta em mil trancinhas, vestido xadrez vermelho “vichy”, avental marinho.

Fez por fazer, talvez para os filhos que tivesse, uma garotinha ou garotinho – afinal, estavam descobrindo que os meninos também podem gostar de brincar de pais. Mas, pronta a Maria Pretinha, pensou nos “filhos diários e resolveu levar a boneca para a escola.

A Maria ficou na bolsa enorme do tipo que as professoras usam para caber toda a tralha didática. De repente, Lu e Marcos saíram aos tapas, sem ouví-la quando pediu que parassem com a encrenca. Aí, lembrou-se da boneca e tirou-a, expondo-a aos olhos curiosos da criançada, que dela se aproximou. Quando os briguentos perceberam que não tinham platéia, também se chegaram. Aí, quase sem mover a boca, como fazem os ventríloquos, mas deixando o som formar-se naturalmente, admoestou Lu e Marcos e então começou a incrível história de amor, empatia imediata, entre os pequenos e Maria Pretinha.

A partir daí, tudo que queria, pedia através da boneca. Num dia em que esqueceu de colocá-la na bolsa, deixando-a pendurada no varal, para tomar um solzinho, foi uma decepção geral. Aninha, de sobrenome alemão e incríveis olhos azuis, passou todo a tarde a olhar para o lugar, sobre a escrivaninha, onde Maria Pretinha ficava sentada, costas apoiadas em livros. Eva notou que, após as perguntas iniciais, o resto da turma, compreendendo sua explicação de que ontem chovera dentro da grande bolsa de palha e, se não secasse, a boneca iria mofar, aquietou-se, participando das atividades do dia. Aninha, não: ora suspirava, ora enchia os belos olhinhos de lágrimas, olhando de vez em quando para o lugar sem bonequinha.

Após a aula final, a garotinha a esperou:

- “Fessora”, amanhã a senhora jura que traz a Maria Pretinha?

- Claro, Aninha! Quando eu chegar em casa, vou contar a ela que você sentiu sua falta...

- Eu fiquei morrendo de saudades dela...

- “Vivendo de saudade”, pensou Eva, fazendo um carinho nos cachos cor-de-mel e preparando-se para ir embora: não podia perder o ônibus, pois Pete saía do trabalho e corria para esperá-la no ponto final, de onde iam caminhando de mãos dadas, lentamente, ele falando de uma tal CLT, ser ou não optante da lei e ela contando dos aluninhos do pré-primário.

No fim do ano, quando as aulas iam encerrar-se, ela sabia que não ia voltar porque, casando-se, ia mudar de cidade. Fez uma festinha para sua classe, entregou a “Aninha Cachinhos de Ouro”, como chamava a sensível menina, um pacote embrulhado em papel fantasia. Havia levado um presentinho para cada um dos alunos, deixando-a por último. Aí, abraçando-a, disse-lhe ao ouvido:

- Só abra quando chegar em casa, porque seu presente é especial, eu não tinha para todo mundo.

Aninha entendeu, surpresa, mas com medo de acreditar, correu para casa e no caminho rasgou um pedaço do embrulho... Acertara: os pés de Maria Pretinha apareceram fazendo seu coração bater mais forte.

Eva, parece que adivinhou ao lhe dar o presente; só teve dois filhos, homens, que, ensinados pelo avô, tinham horror a bonecas, “coisa de menina, mãe”... Mas Eva nunca esqueceu Aninha, nem esta a sua Maria Preta…

Fonte:
Jornal de Poesia