quarta-feira, 16 de maio de 2012

2º CIELLI da UEM/PR (Resumo de Simpósio de Teoria Literária) Parte 4


2º CIELLI - Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários

Diariamente estão sendo postados Resumos dos Simpósios que serão apresentados em 13 a 15 de junho, até totalizar os 25 a serem apresentados.

O resumo havia sido publicado na UEM em parágrafo único, mas para facilitar a leitura dos leitores do blog, dividi em parágrafos.


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José Nicolau Gregorin Filho
Thiago Alves Valente
LITERATURA INFANTIL E ENSINO: ROTAS, DESVIOS E DESAFIOS


As discussões sobre a natureza de qualquer campo de estudos são constantes e necessárias. Entretanto, nota-se, quanto aos estudos sobre literatura infantil ou juvenil, a estabilidade no meio acadêmico referente à ideia de existência de subsistemas literários ou culturais que têm nas crianças e jovens suas marcas mais evidentes. A mesma situação ocorre com a relação entre o literário e o pedagógico, discussão que, por mais pertinente que seja, aponta para o predomínio, nos meios legitimadores do “literário”, da obra de caráter estético.

Apesar dessas duas situações de estabilidade que podem indicar a conquista efetiva do espaço acadêmico e cultural por parte dos estudos em literatura “infantil”, foco deste simpósio, observa-se que essas discussões ainda estão distante das escolas de Educação Básica (Ensino Fundamental e Médio). O quadro se torna ainda mais agravante à medida que a articulação entre obras de reconhecido valor literário, estudadas e devidamente abordadas por metodologias atualizadas, encontram-se à disposição nas bibliotecas e não são lidas pelo público escolar. A isso se acrescenta a ausência de mecanismos de veiculação da crítica literária voltada à literatura infantil no meio midiático. Observa-se, porém, uma situação anterior à escola como espaço de divulgação e concretização do texto literário. Trata-se do papel da pesquisa, isto é, no Brasil, do meio acadêmico majoritariamente universitário frente ao problema de se divulgar, mas, sobretudo, de constituir e manter uma crítica literária ativa, engajada com a árdua tarefa de trazer ao público não especializado questões de qualidade literária quando o assunto é livro para crianças.

É notória a ausência de publicações de ampla circulação sobre o tema. Também é perceptível que o mercado ocupa esta posição num processo de autopromoção das qualidades de seus produtos, conclamando para isso, contraditoriamente, a própria academia e agentes culturais muito próximos dela. Surgem, assim eventos de divulgação de livros, palestras com escritores, projetos de leitura institucionalizados ou não, entre muitas outras práticas muitas vezes custeadas pelas próprias editoras.

Este simpósio, enfim, busca discutir justamente a ocupação deste espaço, lançando questionamentos sobre:

1) a relação entre a universidade e a sociedade de modo geral, o que traz à baila o problema dos limites entre o conhecimento desinteressado e a ausência de engajamento ou alienação dos problemas sociais;

2) o engajamento do meio acadêmico com o “direito à literatura”, premissa posta à margem de discussões aparentemente mais substanciais para a educação brasileira;

3) a relação entre texto literário de qualidade reconhecida com as práticas de leitura realizadas em sala de aula;

4) as perspectivas artísticas, culturais e educacionais para o tratamento do texto literário infantil como espaço de emancipação pessoal e formação do leitor;

5) as tendências estéticas, temáticas e formais, quanto à produção nacional e internacional direcionada ao público infantil.

14
Paulo Astor Soethe
Wolf-Dietrich Sahr
LITERATURA SEM MORADA FIXA - ESPAÇOS E MOBILIDADES


As expressões literárias muitas vezes conformam, além do seu conteúdo estético e social, a construção de espacialidades sociais. Dessa maneira, configurações de trajetos temporal-espaciais ambientam e interligam elementos textuais e realidades vividas.

A partir do século XVIII, na fase da globalização capitalista, desenvolveu-se uma gama de textos cujos recortes temáticos e princípios estruturadores concentram-se sobre espaços que ultrapassam largamente o lugar fixo: são romances e relatos de viagem (em parte marcados pela dicção científica), baladas e dramas sequenciais, ensaios e diários. Inspiradas por abordagens de Friedrich Nietzsche (Geofilosofia) e reflexões mais recentes como as de Gilles Deleuze e Félix Guattari, estabelecem-se noções, como desterritorialização e reterritorialização, espaço liso e espaço estriado, que permitem refletir sobre a relação entre texto e paisagem, entre formas textuais e tradições culturais, entre atitudes de leitura e lugares de enunciação.

Assim, esperamos poder discutir uma Geoliteratura que se propõe criar, acompanhar, aprofundar e criticar espaços literários e seu diálogo com diferentes vivências socioespaciais. Inclui-se nessa perspectiva a reflexão do romanista alemão Ottmar Ette (Universidade de Potsdam), que, sobretudo em sua trilogia ÜberLebenswissen [SaberSobreViver], ZwischenWeltenSchreiben [EscreverEntreMundos] e Zusammenlebenswissen [SaberConviver], propõe a concepção de uma “literatura sem morada fixa”. A fim de superar as limitações metodológicas e conceituais presentes no par opositivo “literatura nacional” / “literatura mundial” (Weltliteratur), e para evitar classificações identitárias excludentes como “literatura de migração”, Ette propõe privilegiar no exercício da leitura os elementos textuais e contextuais ligados à mobilidade de personagens, mercadorias, tecnologias, ideias, linguagens.

Os textos em si mesmos, ao transitar e fazer transitar, provocam mobilidades e trajetos reflexivos no interior de sua arquitetura e orquestração formal. Para além de aspectos temáticos ou formais intrínsecos, os textos transitam de uma comunidade interpretativa para outra (por exemplo, por meio da tradução) e criam com isso dinâmicas de comunicação e não-comunicação diferenciais que projetam novas espacialidades. Nessas configurações, inserem-se novas formas textuais e consolidam-se novas bases midiáticas, tais como literatura virtual, street poetry, manifestações performáticas (presenciais ou midiáticas), que se movem de maneira imediata no espaço físico e virtual, onipresente e ilimitado.

Em síntese, o simpósio pretende discutir, a partir de exemplos e considerações teóricas, tendências interpretativas e de pesquisa acerca das categorias de espacialidade e mobilidade em textos literários (seja de matriz hermenêutica, seja de matriz descontrucionista, seja de matriz não-representacional), a fim de apontar traços comuns e disparidades entre essas tendências, os ganhos reflexivos ou as incompatibilidades que resultem da tentativa de se estabelecer um tal diálogo.

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Divanize Carbonieri
Alvany Rodrigues Noronha Guanaes
NARRATIVAS DE SUPERAÇÃO E DE ANIQUILAÇÃO NAS LITERATURAS AMERÍNDIAS, AFRICANAS E AFRO-DESCENDENTES


Este simpósio pretende enfocar a prosa de ficção das literaturas ameríndias, africanas e afrodescendentes, preferencialmente, mas não de forma exclusiva, nas línguas portuguesa e inglesa. O recorte empreendido nessa ampla produção literária abrange as narrativas que representam situações individuais ou coletivas de violência ou sofrimento. De que estratégias esses autores lançam mão para ir além do que seus personagens e/ou coletividades vivenciam historicamente? É possível alguma transcendência do trauma histórico? Ou, ao contrário, existe um esgotamento de todos os recursos, inclusive os narrativos, aniquilando qualquer possibilidade de redenção, qualquer esperança de futuro, qualquer retorno a um passado mais feliz? O ato de narrar confirma ou contraria a ideia de que a obra literária pode ser vista como um mecanismo de compensação para a imobilidade da vida extraliterária?

Diante desses questionamentos, a abordagem teórica proposta para essa análise é, em grande parte, dada pelo referencial dos estudos pós-coloniais. Apesar das diversas possibilidades de definição, é possível entender as literaturas pós-coloniais no seu aspecto amplo, que envolve tanto as manifestações literárias de grupos oprimidos espalhados pelo mundo quanto aquelas produzidas pelas culturas que passaram e foram além do jugo da colonização imposto a elas pelas nações europeias. A existência de fluxos e deslocamentos constantes parece marcar essas produções, desestabilizando certezas a respeito da construção de identidades e da experiência de tempos e espaços. Partindo da conceituação de Zygmunt Bauman (1998) de uma pós-modernidade líquida, em que existe a necessidade de não se adotar nenhuma identidade com excessiva firmeza porque todas elas estão em processo de liquefação, pensamos que o atributo do transitório é um traço característico dessas realizações estéticas.

Assim, as experiências temáticas e estilísticas dos movimentos, trânsitos e fluxos tornam-se também um objeto de estudo especial neste simpósio. Se esses deslocamentos geram verdadeiras transformações ou se apenas aniquilam o já existente é uma das questões que se levantam no exame dessas obras. Em outras palavras, o que pretendemos é o exame de alguns eixos temáticos principais, como as questões de pertencimentos e não pertencimentos, movimentações, trânsitos e mesmo imobilismos de diversas naturezas, identificações e diluição das identidades, resistências, transformações e abandonos da agência transformadora.

No campo estilístico e formal, busca-se o desvendamento das configurações espaciais e temporais dessa produção literária, com o escrutínio dos novos cronotopos propostos, além do delineamento de seus modos, estratégias e soluções narrativas. Ainda são levados em consideração os elementos contextuais que surgem das relações entre literatura, história, política e sociedade.

Portanto, serão aceitos trabalhos que tratem dessas relações e que reflitam sobre os processos de mudança ou estagnação sofridos por sujeitos que se encontram em situações de opressão. Investigações a respeito das possíveis pedagogias estabelecidas pelos autores em suas tentativas de demonstrar caminhos de saída viáveis aos leitores também são esperadas. Além disso, como não poderia deixar de ser, também serão contempladas discussões acerca da impossibilidade de superação diante de alguns tipos de devastação histórica e psicológica.

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Antonio Carlos de Melo Magalhães
Salma Ferraz
O DEMONÍACO NA LITERATURA


Na relação que se estabelece entre os diferentes estilos, gêneros e tradições de textos literários, um dos temas recorrentes é o do demoníaco na literatura, mesmo na literatura que pode ser interpretada como crítica da religião. Seja na literatura antiga, chamada muitas vezes de religiosa, como são os textos da Bíblia,do Alcorão, da Bíblia hebraica e cristã em suas diferentes versões, da vastíssima literatura hebraica fora da circunscrição teológico-literária mais institucional, dos textos denominados apócrifos, etc, seja na literatura considerada não religiosa, a presença do tema do demoníaco e suas mais diversas representações, tais como o diabo, o mal, satanás, o demônio, etc. são constantemente retomadas, reescritas, ampliadas, criticadas.

Da literatura antiga, o primeiro grande exemplo é o texto bíblico hebraico e cristão, mas também os muitos textos denominados apócrifos, já que não importa ao simpósio nenhum tipo de canonicidade prévia, até porque o canônico manifesta tradições afins a outras tradições consideradas não-canônicas. Além destes textos, o simpósio acolherá trabalhos para análise que contemplem textos chamados religiosos ainda não amplamente conhecidos, mas que já tenham recebido ou que possam receber interpretações baseadas na crítica e na teoria da literatura. Abre-se, portanto, a possibilidade de sermos confrontados com textos religiosos em novas versões literárias e culturais. Nas muitas literaturas recentes não faltam exemplo da temática do demoníaco. Assim sendo, o demoníaco não está circunscrito à religião formal e institucional, antes se tornou um tema constitutivo de muitas narrativas literárias, além de fazer parte de imaginários e representações das mais diferentes camadas da cultura brasileira.

O tema deste simpósio assume a tarefa de trabalhar o tema do demoníaco no chamado texto religioso e no texto literário, ou também na relação entre ambos, ainda que seja necessário e importante destacar que alguns dos textos antigos, denominados de religiosos, sejam em sua constituição, escrita, formação, desenvolvimento e recepção textos literários e, por conseguinte, passíveis de serem compreendidos na vasta história da literatura e a partir de enfoques teóricos da crítica e da teoria da literatura.

Os trabalhos do simpósio estarão focados nas diversas manifestações do demoníaco na literatura e poderão ser desenvolvidos e apresentados a partir de textos de diferentes épocas, estilos e gêneros. O foco será o tema, não o período, não o estilo, não o gênero. Parte-se do pressuposto que os textos a serem apresentados incluirão enfoques teóricos oriundos de correntes como os da intertextualidade, da interdiscursividade, da literatura comparada, de teorias da cultura voltadas para literatura marcada pela oralidade no Brasil,assim como as teorias voltadas para os textos clássicos religiosos, como são os textos bíblicos e os chamados apócrifos.

O fundamental será desenvolver leituras e interpretações que garantirão competência e domínio do tema, além de busca de acuidade e profundidade na análise literária, na crítica e na teoria da literatura. Outrossim, é importante destacar que o demoníaco evoca os resquícios do mítico na história do pensamento, ainda que a alusão a ele se dê em esferas não tradicionalmente religiosas, como pode ser o caso do pensamento filosófico e mesmo científico.

O demoníaco permite, portanto, esta fronteira do pensamento, esta linha tênue entre o religioso, o literário, outras formas de criar e desenvolver o pensamento e sedimentar as culturas. Se as figuras do diabo, de satanás são figuras tradicionalmente religiosas, em grande parte cultivadas e interpretadas na história das religiões, o demoníaco, por sua vez, estabelece uma fronteira criativa com essas figurações do mal, mas também continua a constituir a criatividade em outras tradições do pensamento, sem deixar de manter certo vínculo com as muitas formas de sua representação na história da cultura, das civlizações e da religião.

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Alexandre Villibor Flory
Allan Valenza da Silveira
O PAPEL DO TEATRO NA LITERATURA BRASILEIRA


Quando estudamos a teoria dos gêneros literários, nenhum pesquisador cogitaria deixar de lado o gênero dramático, até mesmo porque a teoria literária não prescinde da Poética, de Aristóteles, para ficar apenas em um exemplo eloquente.

Mas o teatro brasileiro não goza do mesmo prestígio, ficando relegado a um papel meramente indicativo na maioria dos cursos de Letras. Isso levaria a pensar que, no Brasil, o teatro não estaria à altura da poesia e da narrativa. Porém, com um olhar mais acurado sobre a qualidade da produção dramática brasileira, esse rebaixamento mostra-se falso. Mas, não podemos negar que a qualidade do texto teatral brasileiro não lhe rendeu, academicamente, o mesmo espaço que os outros gêneros receberam tanto em termos de história como de teoria e crítica.

Entretanto, esse pouco interesse sobre a dramaturgia brasileira não é diretamente proporcional a uma baixa qualidade de investigação, bem pelo contrário. O jovem Machado de Assis, na quadra dos vinte anos, estava tomado pelas perspectivas formadoras do teatro no Brasil, desdobrando-se como autor teatral, crítico e parecerista do Ginásio Dramático; José de Alencar e Gonçalves Dias também participaram ativamente de nossa vida teatral, em capítulos pouco estudados de nossa história literária. Tudo isso corrobora a autoavaliação de Antonio Candido, em um dos prefácios de sua Formação da literatura brasileira, de que faltou o teatro em suas páginas.

O século XX, dentro de sua característica metalinguística, viu o surgimento, especialmente a partir dos anos 40, de grupos relativamente estáveis, com propostas estéticas ousadas e uma busca formal incessante, discutindo a função social da arte por obras de elevado interesse formal e temático. Essa perspectiva não se restringe ao eixo São Paulo - Rio de Janeiro, mas também ocorre um diálogo importante no interior do Brasil e em outras regiões, como no Nordeste. Esses são alguns poucos exemplos do que costuma ficar à margem de nossa história literária, até mesmo porque sua ênfase recai sobre autores individuais e obras específicas. Essa historiografia se vê diante de enormes dificuldades – metodológicas, epistemológicas e, por que não, ideológicas – no trato com o teatro vivo, seja entendido como processo criativo (concepção do texto dramático), como organização da atividade artística (processo de trabalho em grupo) e encenação propriamente dita (com recepção imediata), níveis esses dificilmente isoláveis no campo teatral.

Como se vê por esse breve apanhado, por vários motivos ocorre uma espécie de apagamento dessa história que precisa ser compreendida, e essa lacuna, paulatinamente, preenchida, o que é dificultado pelo espaço reservado nos cursos de Letras à literatura dramática. Esse Simpósio pretende contribuir para essa atualização de nossa história literária, ao abrir um espaço para discutir o papel do teatro em nossa literatura, em todas as frentes em que ela se desdobra: como história, crítica, teoria e interpretação de obras ou de encenações.

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Rosana Cássia Kamita
Regina Célia dos Santos Alves
O ROMANCE BRASILEIRO


Considerado híbrido, em constante transformação, ora um gênero menor, ora visto como possuidor de um caráter político com atuação direta na sociedade, o romance tornou-se referencial devido ao seu caráter livre e multiforme, com intensa capacidade de se modificar ao longo do tempo, adaptando-se a diferentes momentos e lugares. Bakhtin pensava o romance como um gênero em constante renovação, e se pode compreender sua posição ao apontar que a teoria dos gêneros serve como critério e é constantemente reavaliada a partir das obras produzidas e não o contrário. Ou seja, é a própria produção dos textos literários em suas variadas formas que impulsiona o estudo dos gêneros.

Numa outra linha de investigação, mas também tentando compreender o gênero, Ian Watt (A ascensão do romance. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.) aponta o realismo formal, embora também responsável pelo aspecto amorfo do romance, como um de seus principais traços distintivos, que se faz observar, por exemplo, na visão circunstancial e cotidiana da vida, com alto grau de individualização das personagens e detalhamento de seu ambiente. O ser humano e a vida são, portanto, suas preocupações centrais, vinculando romance à determinada sociedade, em dado tempo e lugar.

No Brasil, não obstante as controvérsias acerca da origem do romance, é sem dúvida a partir do século XIX, com o movimento romântico, que o gênero toma fôlego, passando a ser uma das formas literárias mais importantes no país não só naquele momento, mas também nos subsequentes.

No século XIX, em especial durante o Romantismo, passa a ser um importante instrumento na descoberta do país, na medida em que toma como uma de suas principais tarefas não só o entretenimento ou a fruição estética, mas o conhecimento do Brasil no tocante ao passado histórico, mítico e lendário, bem como aos costumes, às paisagens e vidas quase desconhecidas do sertão e à vida urbana, a qual, no país daquele momento, se resumia à vida na corte. Os romances de Alencar são flagrantes nesse sentido e nessa espécie de missão em que parecia se achar envolvido o gênero quando, então, a nação carecia com urgência de formas de identidade e de legitimação.

O final do século XIX acentua o traço analítico já ensejado no romance romântico. O apoio, não raro, no arsenal científico e filosófico que formava as bases do pensamento ocidental à época - afastando-se portanto da visão idealizante romântica -, leva o gênero a acentuar as preocupações acerca das mazelas sociais, expondo um mundo repleto de vícios e corrupções. Não apenas os romances naturalistas apontam para essa direção, mas inclusive, e certamente de maneira muito mais aguda, os romances machadianos.

Distante dos preceitos ortodoxos naturalistas, o romance de Machado de Assis, como afirma João Alexandre Barbosa, inaugura a modernidade do romance brasileiro, ao trazer para primeiro plano a tensão entre realidade e representação. Sua singularidade, assim, estaria na capacidade de transformar “a linguagem da realidade em realidade da linguagem” (A modernidade do romance. IN: PROENÇA FILHO, Domício (org.) O livro do seminário. São Paulo:LR Editores, 1983, p.25.). Essa consciência do fazer literário acompanharia, ora em grau maior, ora menor, toda a produção romanesca do século XX, desde aquelas formas mais radicais e experimentais àquelas de traçado mais convencional e conservador.

No cenário nacional, portanto, o romance mostra-se em constante processo de transformação, como parece ser próprio do gênero, mesmo quando se evidenciam alguns traços que o marcaram fortemente no século XIX e também em alguns momentos do século XX, como o naturalismo e o regionalismo. Na dinâmica de sua evolução, abre-se para diferentes possibilidades, revela-se fluido e de difícil caracterização, adaptando-se a diferentes intenções, mimetizando finalidades diversas.

No século XXI, o gênero apresenta alguns contornos e características ao mesmo tempo em que se mostra ainda em formação, difuso em suas várias potencialidades, o que incentiva seu estudo. Nesse sentido, a proposta para este simpósio é a de tentar compreender as manifestações de obras no gênero romance, de autores brasileiros, e procurar estabelecer as características assumidas pelo gênero, sua construção e elaboração, experimentações, traços que possam vir a ser considerados específicos em determinados períodos, além das principais temáticas abordadas.

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Raquel Lazzari Leite Barbosa
Sérgio Fabiano Annibal
O SUJEITO LEITOR, A LEITURA E O ATO DE LER NA LITERATURA, NA EDUCAÇÃO E NAS MÍDIAS


Procuraremos trazer a discussão acerca da leitura como habilidade capaz de contribuir na performance do sujeito na cultura. Trata-se de uma proposta ampla, que visa compreender de que forma os estudos da leitura e as representações sociais sobre o ato de ler vêm sendo discutidos em diversas áreas:

Educação, no que diz respeito à formação de professores e gestores, nas abordagens feitas pelos livros didáticos e nas relações didáticas implícitas neste processo;

Literatura, uma vez que, a partir da leitura literária, sua análise e refração em ambientes escolares, suas contribuições para a estética e para o fomento do gosto literário estarão em voga para se pensar o ato de ler;

Linguística, ciência de que lançaremos mão para entender de que maneira o texto é arquitetado pela linguagem, no que tange à produção do ato de ler tanto nos aspectos sintáticos quanto semânticos da língua e seus efeitos de sentido tanto para quem ensina como para quem aprende, ou seja, como a leitura é engendrada no texto a fim de produzir um sentido na cultura;

Comunicação, que será utilizada para situar de que maneira a leitura midiática se processa e vem sendo representada nesta área do conhecimento;

Educomunicação, campo novo e em pleno debate tanto na Comunicação como na Educação, e que consistirá na busca de compreensão da leitura neste novo campo e o olhar sobre o sujeito que lê as mídias e sua constituição linguística e cultural.

Ademais, outras áreas podem contribuir para este debate, como, por exemplo, a Fonoaudiologia, a Psicologia e a Neurociência, dentre muitas outras áreas dispostas a pensar o ato de ler, o sujeito leitor e suas representações. Para tanto, a metodologia também será hibrida e advinda destas áreas: História, Comunicação, Semiótica, Estudos Literários, dentre outras.

Neste contexto, o ato de ler apresenta relação direta com as representações sociais dos sujeitos, podendo produzir um movimento de construção e reconstrução destas representações por meio da leitura e, consequentemente, interferindo nas maneiras pelas quais o sujeito enfrenta e concebe o espaço cultural em que transita. Esta abertura nas apresentações sobre Leitura é justificável pelas tentativas demonstradas por meio das produções acadêmicas oriundas de diversos campos do conhecimento. São opções teóricas para se conhecer mais sobre o assunto e, dessa forma, ampliar a pesquisa e o debate sobre o tema, configurando várias entradas teóricas para a leitura, cada uma com suas particularidades e sistematizações, pois não basta nos debruçarmos apenas sobre os resultados, isto é, se o indivíduo apresenta ou não um bom desenvolvimento de leitura. É preciso mapear os processos que conduzem ao ato de ler em vários suportes e, sobretudo, captar quais os sentidos que estes estudos e seus impactos apresentam e até que ponto eles conseguem corroborar os esforços de entendimento e desenvolvimento da leitura como prática social capaz de oferecer maior transito social para o sujeito.

Portanto, dentre os resultados esperados estão a tentativa de se repensar velhos paradigmas – muitas vezes restritos e reducionistas –, a possibilidade de rever o conceito de leitura e a dinâmica do ato de ler e também compreender o que se chama de dificuldades de leitura e, talvez, com isso, buscar caminhos para superá-las. Este debate sobre leitura e as relações implícitas em seus processos tanto no suporte digital quanto no impresso espera reunir pesquisadores de diferentes regiões e instituições brasileiras para que tenhamos oportunidades de discussão sobre a concepção da leitura como resultado de um processo histórico materializado pela linguagem e suas possibilidades de operar em gêneros.

Logo, este trabalho busca compreender de que forma o ato de ler, independentemente do suporte, refrata as práticas culturais. Finalmente, parece se encontrar nestas reflexões a chance de se ver o leitor como mediador e regulador da linguagem que o constitui, deixando-o, talvez, menos vulnerável aos não ditos do discurso social e cultural.

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Rosana Cristina Zanelatto Santos
Susylene Dias de Araújo
PSICANÁLISE E TEORIA CRÍTICA ARTICULADAS PARA A LEITURA E ANÁLISE DO TEXTO LITERÁRIO: O MAL ESTAR E A VIOLÊNCIA EM QUESTÃO


Freud, desde seu ensaio Além do Princípio do Prazer (1920), dá indícios do encaminhamento e da confirmação da Psicanálise como um campo crítico acerca do humano e que se estendia para além do âmbito do indivíduo, alcançando as relações pertinentes para uma crítica da Cultura, como se lerá adiante em suas formulações encontradas em ensaios como Psicologia das Massas e Análise do Eu (1921), O Futuro de uma Ilusão (1927), O Mal-Estar na Civilização (1930) — esta última que se constituiu no eixo central de suas discussões — e Moisés e o Monoteísmo (1939). Suas considerações têm sido pertinentes para os estudos que pretendem dar conta dos limites representacionais tanto da “catástrofe” quanto de sua dissolução no cotidiano do mundo contemporâneo, chegando ao esvaziamento de significados.

Sem dúvida, delineia-se uma linha de pensamento sobre um “mal-estar” que contém em seu campo semântico-discursivo as diferentes configurações da violência e da agressividade. Por outro lado, a Teoria Crítica desenvolvida pela Escola de Frankfurt apresenta uma percepção que possibilita, pela aliança entre a teoria e a prática, o esclarecimento, sem o cunho iluminista, e uma visão alargada dos conflitos e dos debates em sociedade. Sendo assim, em hipótese, a Teoria Crítica ofereceria bases para estudos críticos e de autocrítica no que concerne às múltiplas faces da política, da ética, da cultura e da arte e ao entrelaçamento delas.

Esses estudos colocarão em crise inclusive alguns postulados psicanalíticos, não para negar sua importância para a leitura da humanidade senão para – a partir de sua posição epistemológica – relacionar-se com a metapsicologia naquilo que aproxima Psicanálise e Teoria Crítica e, principalmente, no que as faz “olhar diferente” para o ser e sua presença no e como mundo. Adorno e Horkheimer, na Dialética do Esclarecimento (1947), dirão que Freud tinha muito mais razão do que supunha quando disse que a civilização produz a anticivilização e a reforça progressivamente, tendo em vista que os impulsos encontram-se longe da satisfação de suas necessidades, que são cotidianamente subordinadas aos anseios do consumo.

Como podemos compreender que a “dialética do esclarecimento” diz respeito a todo progresso material e espiritual obtido mediante a divisão social do trabalho (a qual, por sua vez, não caminhou numa “rua de mão única”, pois a humanidade, apesar de cada vez mais esclarecida, é forçada a assumir posturas próximas da barbárie e esquecer-se de como devem ser lidos os vestígios deixados pelo passado), não se pode deixar de pensar no conceito de pulsão de morte, desenvolvido por Freud, que carrega em si a metáfora do movimento em direção ao estado primitivo como elemento fundamental para a constituição da subjetividade e, por extensão, da cultura e de suas ramificações em sociedade, incluindo-se aí a literatura.

Este Simpósio pretende, portanto, propiciar debates no entre-lugar entre as relações de Psicanálise e Teoria Crítica para a leitura e análise da obra de arte literária, de modo a dar lugar a trabalhos que objetivem tratar desse “mal-estar” e também da violência. Serão aceitos trabalhos que busquem estabelecer relações entre as perspectivas teóricas adotadas ou que se vinculem a apenas uma delas (Psicanálise ou Teoria Crítica) contanto que tenham como objeto o texto literário.

Fonte:
http://www.cielli.com.br/programacao_geral

domingo, 13 de maio de 2012

Trova de Dia das Mães - Orlando Brito (São Luiz/ MA)

Wagner Marques Lopes/MG (O PERDÃO em trovas), parte 5


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Prova a própria resistência
quem ao perdão se dedica,
e revela a sua essência:
a parte nobre, a mais rica.

18

Sempre encontrou um desvio
para não dar o perdão;
até que um dia, com brio:
- Perdoo... Cansei do “não”!...

19

O perdão é bom auxílio,
garantindo a boa rota.
Sem ele, resta o exílio
em ilha agreste, remota.

20

O perdão sempre acontece
em gestos de bons irmãos:
tem começo numa prece,
finda em apertos de mãos.

Fonte:
Trovas enviadas pelo autor

Ciranda de Trovas (Mãe) Parte 2, final


Para mãe, não há uma rima,
no idioma português,
pois ser mãe é obra prima,
- foi assim que Deus a fez.
Luiz Hélio Friedrich – Curitiba/PR

Dizes que és pobre ... E eu, coitado,
inveja tenho de ti ...
- Tens tua mãe a teu lado,
e a minha - eu nem conheci!
Luiz Otávio – Rio de Janeiro/RJ

Tendo ao seio o meu menino,
tudo em volta é luz, é brilho.
Nem sei mesmo onde eu termino
e onde começa o meu filho!
Magdalena Léa Barbosa Correia – Rio de Janeiro/RJ

A mãe é esta criatura
que mil vezes dá perdão.
E tem paciência e ternura
sobrando no coração.
Milton Souza – Porto Alegre/RS

Apesar de mim distante,
lembro de ti, mãe querida;
porque foste a mais brilhante
estrela da minha vida!
Nemésio Simas – Raul Soares/MG

Guarda no olhar a doçura
com que me embalou um dia.
Mãe lembra sempre a figura
e a ternura de Maria.
Nilci Guimarães – Rio de Janeiro/RJ

Das dores que o tempo aguça
a mais triste, eu desconfio,
ser a da mãe que soluça
junto de um berço vazio...
Nilo Aparecido Pinto

Mãe, com divina bondade,
inteligência e com brilho,
faz tudo que ao filho agrade,
sem nada exigir do filho.
Orlando Woczikosky – Curitiba/PR

Em paz o mundo estaria,
se governassem a Terra
apenas mães que algum dia
perderam filhos na guerra!
Osmar Godinho - PR

Como de um eixo central,
desde a manhã à noitinha,
a vida toda de um lar
gira em torno da mãezinha.
Pedro Coltro – Ribeirão Preto/SP

Minha Mãe – frase sagrada
da mais sublime expressão,
para ser perpetuada
no fundo do coração.
Pedro Paulo de Lemos – RJ

Mamãe foi feliz morrendo,
foi feliz porque morreu!
pois se me visse sofrendo,
sofria mais do que eu !
Renato Caldas - Açu/RN.

À minha mãe que voou,
nas asas de um querubim,
pedindo hoje aqui estou
que do céu vele por mim.
Sara Furquim – Rio Branco do Sul/PR

Carinhos de filhos, quero!
Fazem bem ao coração:
São frutos do amor sincero;
São frutos da gratidão!
Selma Patti Spinelli – São Paulo/SP

Penso ouvir teu acalanto,
minha mãe, lá de onde estás,
querendo enxugar meu pranto
e ninar-me, em horas más.
Thereza Costa Val – Belo Horizonte/MG

Amor.... assim eu defino:
Mamãe tão velha... e eu, marmanjo,
tratado igual a um menino:
-Veste o agasalho, meu anjo!...
Vanda Fagundes Queiroz - Curitiba/PR

Apesar da longa ausência,
sinto a sua vibração...
que marcou minha existência
e tatuou meu coração!
Vânia Ennes – Curitiba/PR

Rosto negro, alma de neve,
ternura de risos francos,
o Brasil muito de deve,
mãe - preta dos filhos brancos.
Vasco de Castro Lima – Lavrinhas/SP

Eu rememoro a saudade
de minha mãe, as carícias:
serena necessidade
de seu carinho e delícias...
Vidal Idony Stockler – Curitiba/PR

Ser mãe, é ser o que encerra
tudo que é nobre e bendito :
- é ter a alma na terra
e o coração no infinito ...
Virgílio G. Assumpção

Almejo trilhas sem fim,
ornamentadas de rosas!...
Mãe, vais à frente de mim,
cultivando as mais formosas!
Wagner Marques Lopes – Pedro Leopoldo/MG

Transcendo o sonho e refaço
minhas rotas do passado,
para ter de novo o abraço
do ventre em que fui gerado.
Wandira Fagundes Queiroz - Curitiba/PR

Mamãe é um sono desperto,
é uma estrela que reluz,
é oásis num deserto,
é bondade, é paz, é luz.
Zeni de Barros Lana – Itaverava/MG

Fonte:
Nilton Manoel. Portal Movimento das Artes
Imagem obtida no site de A. M. A. Sardenberg. Alma de Poeta.

Trova de Dia das Mães - Severino Uchoa (Aracajú/SE)

Kideniro Teixeira (Livro de Poemas)


ADOÇAO – A Manaus

Para Ricardo Roriz – Mestre de Gerações

Esta terra foi minha...
Muito lhe quero, quanto ela me amou!
És de minha alma a formosa Rainha,
ah, minha terra, Mãe que me adotou!

Cheguei com os maltrapilhos,
órfãos de tudo, vindo aos escarcéus,
estropiado como os andarilhos,
estendendo-lhe as mãos e olhando os céus.

E amei... e fui amado!...
Como uma árvore ali criei raízes
no doce embalo que me acalentou.

E parti... Fui gladiado
em batalhas por dias mais felizes...
Ah, minha terra! Mãe que me adotou!

A MINHA MESTRA

"Possa ao menos sentir tua presença
nestes versos que escrevo, amargurado,
ante a profunda, ante a sombria e imensa
saudade de teu vulto idolatrado."
Homero de Miranda Leão

Foi minha mãe a minha Mestra
que me ensinou a ler, em nosso humilde ninho;
eu era um menininho,
uma criança...
De minha mãe, exímia trovadora,
é de quem guardo esta divina herança.

Recordo agora,
que a sua voz se erguia,
branda e sonora,
como se fosse um sino
tangendo na alvorada fria
do meu Destino:

- Lê! Estuda! Lê, menino!
Era este o heróico estribilho
de cada dia:
- Lê! Estuda! Lê, meu filho!

Como era bela a minha Professora,
no seu vestidinho branco!
O coque alto, olhos castanhos
e esguias mãos da Virgem Redentora!

Somente agora sinto, e guardo, e tranco
no peito esta saudade imorredoura,
como se ouvisse. ainda. a sua voz sonora:
- Lê! Estuda! Lê, meu filho!

E eu que jamais velara o meu Destino,
quanto sofro e me deploro
para cantar minha procela...

E nem sabia, que um dia,
eu sentiria,
tanta saudade dela!

VISITANDO MANAUS

Para Arlindo Porto

Você, minha cidade, foi tão boa,
tão amável, sem nem me conhecer
quando eu vagava no seu seio, à toa...
abrindo os braços pra me proteger.

Você sabia? Creio que sabia
que eu era um "Arigó" que aqui chegava...
E você, cristãmente, me sorria
e até cantar cantou, quando eu chorava.

Aqui cheguei carente de carinho
e de logo a sua mão me abençoou;
e eu tive muito amor, tive outro ninho,
tive outra Mãe, – a Mãe que me adotou.

Deu-me um leito, tirou-me dos retraços
onde estava a minha alma ainda em flor;
e ofereceu-me os seus morenos braços,
como os braços de um Cristo Redentor.

Para mim era tudo um desafio,
um desafio, em tudo, tudo! Enfim,
o Rio Negro não era só um rio,
era um mundo de amor rolando em mim.

A ingratidão, de todos, é o pecado
maior. Deus não concede a remissão;
se fora embora o filho desalmado,
visitando-a espera o seu perdão.
********************************

Olhando o céu, beijei Nossa Senhora,
para a beijar, também, com humildade;
já estou mais velho, a vida se evapora!
Vê-la de novo eu vim, minha Cidade.

Vim recordar de minha mocidade
tudo aquilo que amei e guardei de cor;
– para matar, meu Deus, esta saudade;
– para voltar, talvez, muito pior!

Aqui vivi e amei... e fui amado
pela Princesa a quem beijei o rosto
e vi nascer minha primeira Flor!

E nunca houvera em versos consagrado
seu nome augusto, assim, nesse antegosto,
Cidade Nobre de meu grande amor!
Manaus (Japiim I, 1991)

NA AMAZÔNIA

Para Clóvis A. da Mata

"As sepulturas ficam abertas nas florestas à
beira dos barrancos, sem cruzes e sem recordações,
protegidas, apenas, pela esmola e pela claridade da luz.”
Álvaro Maia

Nessas umbrosas, vírides florestas
que se levantam no Setentrião,
há pomos fartos e riquezas lestas,
e há ouro em tudo ao desdobrar da mão.

É para ali que corre a multidão
de párias nus, nas levas indigestas,
o lar deixando, a alma e o coração,
ao canto de Sereias desonestas.

Como um gado passivo se despede...
Há um acento de dor na despedida,
lamento triste que nem outro o excede!

E segue estosa e sôfrega a coorte,
pois ali todos vão tentar a vida,
mas, ali quantos vão achar a morte?!

EMIGRANTE

À memória de César Coelho

De um mundo vim, um Mundo malfadado,
de torpezas, de sustos, de agonias,
onde purguei, nas longas noites frias,
as angústias do tédio e do pecado.

Quis ser outro e ser bom. Quis ser amado
e milênios levei nessas porfias...
Minha alma discorreu coreografias
antagônicas nesse aprendizado.

Mas, se hoje vejo as Luzes no Infinito,
nas distâncias sem fim desse esquisito
turbilhonar de sóis – nos olhos meus,

cuido avistar as lúcidas lanternas
que hão de levar-me às Perfeições Eternas,
para enxergar em tudo isso, – Deus!

MODÉSTIA À PARTE

Eu faço versos como se rezasse
e sem ligar que alguém assim os faça;
porque fazê-los como os vi fazê-los,
só uns irmãos que tenho, analfabetos.

Eles não sabem se existiu Bilac,
Camões, Petrarca, Dante ou Baudelaire...
Pois que de escola à porta jamais foram,
mas são poetas, são; sem saber ler.

Eu faço o verso ao jeito que eles fazem,
sem pedantismo, assim como respiro,
ando, paquero, assobio ou falo
de minha própria, ou da vida alheia.

São versos feitos sem contar nos dedos,
e sem Tratado em "Ver se fica são",
sem "rimas ricas", feitos da pobreza
de fechaduras sem "chaves de oiro".

Lendo esses versos, muitas vezes, tinha
da Glória estar nos cumes cobiçados;
e então da Glória ia beijar-lhe o Trono,
"embebedado do sinistro vinho".

Pois que da Glória já fui seu fanático,
julgando nela não morresse nunca;
mas, quando a Glória evitou meu rosto,
"eu fui caindo como um sol caindo..."

São versos velhos, feitos de retraços
das ruínas remotas de Pompéia
e das cinzas lascivas de Gomorra;
porém nasceram do meu grande amor.

E tanto os quero porque são meus filhos,
diletos filhos do útero da alma,
para voarem – pássaros queridos,
por este mundo consolando aflitos.

OS QUE ENCONTREI

Para o Poeta Walfredo dos Anjos

I

Eu fui na vida o Poeta embevecido
no meu divino Reino da Ilusão:
– Dando o vinho do Sol ao desvalido
e, após, a Lua-Cheia em comunhão.

Imprimi no meu canto um sustenido
de amor, e paz, e prece, e redenção...
Fui Mensagem, fui fruto repartido
entre os filhos da desconsolação.

A todos prometi a minha palma
e dividir o que eu tivesse na alma,
com quem vivesse, por aí, sozinho...

Já dei tudo o que tinha... e sem ter nada,
minha alma dou em rimas, orvalhada,
aos que passem com sede em meu caminho.

II

E fui, de fato, o Poeta dos amores,
vendo em mim mesmo, toda a humanidade;
dei muito amor, carinho e caridade,
minha fazendo a dor dos sofredores.

o meu canto vibrou como tambores
divinos nas falanges da orfandade;
consolei-as pregando a piedade,
como pregam no Templo os Pregadores.

Para os que vinham atirei meus louros;
dos cofres de minha alma seus tesouros,
pus entre as mãos do que avistei sozinho...

Acabei com o que eu tinha nas andadas;
E, em recompensa, recebi pedradas,
de muitos que encontrei no meu caminho.

ETERNlZANDO VIDAS

II

Não há fugir à dor que desconforta,
nem retorcer o mal que em si concentra...
Se hoje a Morte bater em tua porta,
abre-a, de vez, a convidá-la, - entra!!

Diluto em tudo o que a verdade exorta,
expõe o peito à adaga que se adentra
nele, ferindo-o e, torturante, corta
fibra por fibra e a tudo mais descentra...

E quando as tuas células morrerem,
e dezenas de glândulas pararem,
e, cruzadas, as mãos apodrecerem,

naquelas cames rotas, diluídas...
Certos dirão os que te carregarem:
– Hoje ele é vida etemizando vidas!

ÁGUAS BELAS

Fazia anos que eu não visitava
a vilazinha onde nasci e aquelas
paragens todas a que tanto amava...
Minhas Águas-Belas, tão humilde e boa,
com a sua igrejinha iluminada a velas.

Ali vi-me criança, outra vez, correndo
pela campina, olhando o prado em flor
e em tosco engenho a gotejar, moendo...
me vi menino e uma menina loura,
que fora, ó Deus, o meu primeiro amor!

Fui ver o “Tanque”, o poço onde eu nadava
tempo de inverno, arisco como um potro,
a ver se ali ainda eu me encontrava;
mas ao mirar-me nesse espelho de água,
já não vi meu rosto alegre — um outro.

Também não vi aquelas coisas santas:
– rebanhos brancos a beber nos rios
que deslizavam ao longo das gargantas;
nem os velhinhos de cabeças brancas,
aos quais, a todos, lhes chamava tios.

Nem mansos bois a ruminar, tristonhos,
à sombra augusta de augustos juazeiros,
como quem cisma em inocentes sonhos...
Nem as siriemas de olhos amarelos,
cantando, longe, pelos tabuleiros.

Triste saudade amortalhou minha alma,
olhando a velha casa que foi nossa,
toda arruinada e como quem se ensalma...
Ó relembrança, foste uma fiala,
jorrando um vinho que, se amarga, adoça!...

Senti vontade de correr, gritando,
pelo rincão de minha peraltice
e a tudo, por ali, interrogando:
– Quem escondeu a minha mocidade?!
– Quem pôs tão longe a minha meninice?!

Fonte:

Kideniro Teixeira (1908–2008 )


O poeta Kideniro Flaviano Teixeira nasceu em Águas Belas, município de Ipueiras, no Ceará, em 16 de agosto de 1908. Faleceu em Fortaleza, a 18 de agosto de 2008.

Morou por longos anos em Manaus, AM. Naquela cidade diplomou-se em Direito, advogou, foi jornalista em A Tarde e professor na Escola Técnica Federal e no Colégio D. Bosco.

Posteriormente, retornou ao Ceará, onde passou a atuar como Promotor de Justiça.

Residia na cidade de Santa Quitéria, em seu Estado natal.

Após prolongado silêncio, que esteve a trabalhar de modo obscuro e sem que ninguém o pressentisse, eis que, para a surpresa de todos e alegria da numerosa falange dos seus amigos e admiradores, KIDENIRO FLAVIANO TEIXEIRA surge diante de nós, a ostentar as primícias de sua nobre inteligência, encerradas num relicário de beleza e deslumbramento. Intitula-se MANDACARUS o novo manancial que temos sobre a mesa, onde (...) deixou as pinceladas fortes e incisivas de sua tenacidade forte e intelectiva. Realmente em MANDACARUS, de 114 páginas, encontra-se contínuo desfilar de rimas e de ritmos tudo isto em meio a surpreendentes surtos de imaginação, o que toma o volume referto de encanto e sonoridade. Delineou aspectos de nossa terra e paisagens do Inferno Verde, onde o ilustre poeta permaneceu por algum tempo, não se podendo afirmar, em meio a tantos poemas de incontestável beleza, qual o mais formoso e surpreendente.(...) Pelo que aí fica, podemos aquilatar que MANDACARUS é livro dos mais radiosos dos últimos tempos (...). Nossas felicitações a Kideniro (...), cujo livro nos deixou a impressão, não de um feixe de mandacarus, mas de um roseiral esplendente capaz de a todos embevecer.
CARLYLE MARTINS, Tribuna do Ceará, 30/07/1977

Ao completar 100 anos, estava lúcido e em atividade literária, tendo antecipado que finalizava mais um livro de poesia, que se intitularia CARDOS-SANTOS.

Obra poética publicada:
LANTERNA AZUL (1944),
MANDACARU (1976) e
ILUMINURAS DA TARDE (2000).

Fonte:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/amazonas/kideniro_teixeira.html

Trova de Dia das Mães - Sinésio Cabral (Fortaleza/CE)

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 553)


Uma Trova de Ademar

Mãe é um ser tão profundo,
mãe é palavra tão bela,
que não há outra no mundo
que possa rimar com ela.
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Oh! minha mãe, quando eu falho,
tua lágrima rolada,
é qual pérola de orvalho
sobre a rosa machucada!...
–DOMITILLA B. BELTRAME/SP–

Uma Trova Potiguar


Frases de eterna pureza,
mamãe sempre me revela;
porém as de mais beleza
eu leio nos olhos dela.
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Uma Trova Premiada


1990 - São Paulo/SP
Tema: RIMA - M/H


Mãe – palavra que aproxima
criador e criatura;
tão singular que só rima
com a palavra... Ternura!
–ANTONIO JURACI SIQUEIRA/PA–

...E Suas Trovas Ficaram


Palavra Mãe, não tem rima,
porque nada existe igual,
ela é fruto e obra-prima
do arquiteto universal.
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Uma Poesia


Mãe tem uma alma sensata
e um coração que não finge,
grosseria não lhe atinge
ingratidão não lhe mata;
filho ruim e filha ingrata
trata tudo com amor,
seu conselho é um primor
onde a paz se consolida;
toda mãe é parecida
com a Mãe do Salvador.
–GERALDO AMÂNCIO/CE–

Soneto do Dia

..À Nobília, Minha Mãe
–FRANCISCO MACEDO/RN–


Dominando as palavras e os fonemas,
as regras e também todos acentos,
pela arte, eu as transformo em sentimentos,
com os quais vou fazer os meus poemas.

Unir versos, escolas e sistemas,
falar sobre mamãe e seus momentos,
resgatar sua vida e sofrimentos
da mulher, minha mãe, ternura extrema.

Na homenagem, que presto, como filho,
ela foi para mim, com muito brilho...
Quase santa... Uma mãe, quase divina!

Um símbolo do amor, maternidade,
vinte e um filhos legou à humanidade,
Nobília, minha Mãe, minha Heroína.

Trovas em Homenagem às Mães


Com que suave ternura
tece a canária o seu ninho!
- Mãe é assim, dengosa e pura,
a nossa e a do passarinho...
A. A. de Assis

Mãe é ternura infinita
e ainda que a alma lhe doa,
ante um filho não hesita,
enxuga o pranto e...perdoa!
Carolina Ramos

Quando a mãe beija seu filho
- tesouro herdado de Deus -
quanto fulgor! Quanto brilho
espelha nos olhos seus!
Diamantino Ferreira

Tricotando o sapatinho,
a mamãe pára um momento
e acaricia o pezinho,
no seu ventre, em movimento...
Domitilla Borges Beltrame

Se "Mãe" não tem com que rime,
não desistas, trovador...
Troca a palavra sublime
pelo sinônimo "Amor"!
Dorothy J. Moretti

Lampadário de bonança,
luzente, formoso e terno,
nada supera a esperança
que existe no olhar materno!
Elen De Novais Felix

Minha mãe, foram teus braços,
refúgio dos meus segredos,
onde deitei meus cansaços
e adormeceram meus medos!
Ercy M. Marques Faria

Deus, em toda sua glória,
com tanta grandeza e brilho,
pra completar sua história,
quis ter mãe e quis ser filho!
Gislaine Canales

Ser mãe é trabalho insano
que tal carinho irradia
e te faz, por todo o ano,
ser a mãe de cada dia!...
Hermoclydes S.franco

Minha mãe partiu e agora
na saudade que me envolve,
eu sou criança que implora:
-Por favor, Senhor...devolve...
Izo Goldman

Minha Mãe. Minha alegria.
Meu amor. Minha santinha.
Deu-me tudo o que eu queria
mas levou tudo o que eu tinha.
José Gilberto Gaspar

Vou ser mãe...ela murmura...
e o seu ventre, com nobreza,
aos poucos, forma a figura
de um templo da natureza...
Marina Bruna

Louvo as mães, o sol caindo,
vão à igreja, levam velas,
à Virgem sempre pedindo
pelos filhos...não por elas.
Moacyr Figueiredo

Te amando, mãe, desde o berço,
eu nem te amei tanto assim,
pois não te dei nem um terço
do amor que tu deste a mim!
Regina Célia de Andrade

Fecunda o ventre rosado
do amor, a fértil semente
e, a mãe, abriga um legado
que é futuro em seu presente...
Relva do Egypto R. Silveira

Minha mãe, do amor escrava,
com seu carinho e constância,
era a fonte que irrigava
o jardim de minha infância!
Renata Paccola

Quando piso, descuidado
as trilhas do coração,
sinto, a cada passo dado,
minha mãe me dando a mão!
Roberto Resende Vilela

Penso ouvir teu acalanto,
minha mãe, lá de onde estás,
querendo enxugar meu pranto
e ninar-me, em horas más.
Thereza Costa Val

É noite!... E, num desvario,
na dor que a sufoca e invade,
chorando - o berço vazio -
a mãe embala a saudade!
Therezinha Dieguez Brisolla

Além de toda a alegria
de ser mãe, eu penso assim:
- Que bênção lembrar que, um dia,
anjos moraram em mim...
Vanda Fagundes Queiroz

Fonte:
http://www.recantodasletras.com.br/homenagens/3664419
Colaboração de Olga Agulhon (repassando de A. A. Assis / J. B. Xavier)

Walter Gonçalves Horta (Coração de Mãe)


Que seja eterno enquanto dure,
Então que dure eternamente.
Que seja válido enquanto vale,
Então que valha para sempre.

Que seja como a luz solar,
Tendo muito brilho e amor,
Que seja como uma caricia,
Meiga e suave em seu fulgor

Que seja leve como a pluma,
Que não carregue culpa nenhuma.
Que seja alvo como a neve,
E tão veloz como a puma.

Que seja forte como um touro,
E mais valioso que o ouro.
Que seja brilhante como uma estrela,
E precioso como um diamante.

Só é possível comungar
Todos estes elementos num altar.
Que é muito bonito mas discreto,
Embora enorme como o mar.
Capaz de todos abrigar.
Coração de mãe é este encantado lugar!

Fonte:
Poema enviado pelo autor

Trova de Dia das Mães - Nei Garcez (Curitiba/PR)

XXV Jogos Florais de Ribeirao Preto (Classificação Final)


Tema Nacional: “Cidadão” (Lirica)

Categoria: Vencedor (Troféu)


1º lugar

Não se ata pelas algemas,
mazelas ao cidadão,
que enfrenta tantos dilemas
doando vida à nação.
VANDA ALVES DA SILVA - Curitiba/PR

2º lugar

Um aviso ao cidadão
sedento em me conquistar:
só me prendo a um coração
com elos do verbo amar.
MARINA DE OLIVEIRA DIAS - São Gonçalo/RJ

3º lugar

No bom cidadão encerra,
coragem que evidencia
em dar, exemplos na terra,
de bravura e galhardia.
IVONE TAGLIALEGNA PRADO - Belo Horizonte/MG

4º lugar

Sê cidadão! Pois é rara,
a virtude de quem sonha
em primeiro por na cara
os adornos da vergonha.
MANOEL CAVALCANTE DE SOUZA CASTRO - Pau dos Arcos/ RN

5º lugar

Trabalhador digno, honrado,
vai à luta sem receio,
é cidadão bem formado
e para a nação o esteio.
THEREZINHA TAVARES - Nova Friburgo/ RJ

Categoria Menção Honrosa (Medalha Dourada)

1º lugar

Perde o nome, um cidadão,
passa a “morador de rua”,
tão comum é a situação...
que o mundo até se habitua!
VANDA FAGUNDES QUEIROZ - Curitiba/PR

2º lugar

Cidadão, cabeça erguida
é aquele que, na passagem,
coloca os lixos da vida
nos latões da reciclagem.
FLÁVIO ROBERTO STEFANI - Porto Alegre/RS

3º lugar

No patrimônio moral
que enriquece um cidadão,
honestidade é vital
pra lhe dar sustentação.
SANDRO PEREIRA REBEL - Niterói/RJ

4º lugar

Sou cidadão e homem forte
no alcance às metas que traço...
o impulso quem dá é a sorte;
o resto sou eu que faço!
EDMAR JAPIASSU MAIA - Nova Friburgo/ RJ

5º lugar

Meu amor é um cidadão
que tal qual, se ainda houver,
faz dar nó no coração
da mais pudica mulher!
MARINA DE OLIVEIRA DIAS - São Gonçalo/RJ

Categoria Menção Honrosa (Medalha Prateada)

1º lugar

Cidadania se exerce
com base na educação,
e o cidadão é o alicerce
que sustenta uma nação.
WANDA DE PAULA MOURTHÉ - Belo Horizonte/MG

2º lugar

Num pleito mais que perfeito,
o cidadão sonha um bem:
-cidadania é o direito
que o povo ainda não tem!!!
EDUARDO A O TOLEDO - Pouso Alegre /MG

3º lugar

O ideal da educação,
no sentido mais profundo,
deve ser a formação
do “cidadão para o mundo”.
ALBA HELENA CORRÊA - Niterói/RJ

4º lugar

A cidadania é um sonho
distante da realidade...
e dá um trabalho medonho
ser cidadão de verdade.
MILTON SOUZA - Porto Alegre/MG

5º lugar

Por que um cidadão direito,
muito honesto e sem malícia,
logo após ter sido eleito
vira caso de polícia?
IZO GOLDMAN - São Paulo/SP
………………………………..
Tema Nacional: “Tropeço” (Humorístico)

Categoria Vencedor (Troféu)


1º lugar

Certo dia madruguei,
ao sair, um bom começo,
porque dinheiro encontrei
no chão, após um tropeço.
FLÁVIO FERREIRA DA SILVA - Nova Friburgo/RJ

2º lugar

Cai o idoso num tropeço,
derrubando uma guria,
depois... paga um alto preço
por uma noite de orgia.
RELVA DO EGYPTO RESENDE SILVEIRA - Belo Horizonte/MG

3º lugar

Sogra nem sempre é tropeço,
e nem sempre o genro pena.
-Basta que desde o começo
ele faça o que ela ordena...
ANTÔNIO AUGUSTO DE ASSIS - Maringá/PR

4º lugar

Na idade estou afundado
e o peso eu sinto no lombo,
por mais que eu tenha cuidado
cada tropeço é um tombo.
ARGEMIRA FERNANDES MARCONDES - Taubaté/SP

5º lugar

Deixando nome e endereço,
de “tropeços” faz seguro...
e de tropeço em tropeço,
vai garantindo o futuro!
RODOLPHO ABBUD - Nova Friburgo/RJ

Categoria Menção Honrosa (Medalha Dourada)

1º lugar

Um político eloquente,
num tropeço vai ao chão:
limpa a boca e exclama: Gente,
quis beijar este torrão!
WALTER LEME - Pindamonhangaba/SP

2º lugar

Pobre chefe! Que cilada
no tropeço acontecido!
A calça descosturada
com ele desprevenido.
MARIA APARECIDA PIRES - Curitiba/PR

3º lugar

Correu atrás de estrupício
e o tropeço foi fatal,
conseguiu só sacrifício:
mais um belo pré-natal!
THEREZINHA TAVARES - Nova Friburgo/RJ

4º lugar

Fingindo que foi tropeço,
garantiu o seu futuro...
O figurão paga o preço:
pensão para o nascituro!
ELIANA RUIZ JIMENEZ - Balneário Camboriú/SC

5º lugar

Meu tropeço foi hilário,
caí de quatro, babando,
por um travesti; que otário!
até agora o estou amando.
LUIZ MORAES SANTOS - São José dos Campos / SP

Categoria Menção Honrosa (Medalha Prateada)

1º lugar

Sai de mim, tropeço antigo...
Vai procurar o teu canto...
/se tropeço fosse amigo
eu teria amigo... e tanto!
DARI PEREIRA - Maringá/PR

2º lugar

De político do “avesso”,
a gente já tem calombo...
pois, quando ele dá tropeço,
é o povo que leva o tombo!!!
ROBERTO TCHEPELENTYKY - São Paulo/SP

3º lugar

Sou pão duro, mas caminho
sem tropeço nem trapaça...
bebo até sobra de vinho,
desde que seja de graça!
RENATA PACCOLA - São Paulo/SP

4º lugar

Depois de um tropeço o João
caiu de pernas pra cima
e soltou um palavrão
que eu nem posso usar na rima!
JOSÉ OUVERNEY - Pindamonhangaba/SP

5º lugar

No enterro do Geraldão,
Levei flores pro defunto,
Dando um tropeço no chão,
Por bem pouco não fui junto...
RUTH FARAH NACIF LUTTERBACK - Cantagalo/RJ
……………………
A premiação será em 2 de junho.

A Feira do Livro foi antecipada e as datas ja haviam sido divulgadas.

Quanto maior for a participação dos premiados, melhor será o retorno ao Movimento da Trova.

Conto com todos. A hospedagem e refeições estão conforme regulamento oficial (1,2 e 3).

abraços do Nilton Manoel

Fonte:
Nilton Manoel

Esopo (Fábula 11: A Raposa e o Corvo)


Uma raposa viu um corvo empoleirado numa árvore, com um naco de carne no bico, e cresceu-lhe água na boca. A manhosa da raposa, que queria roubar a carne ao corvo, começou a lisonjear a ave. "Que lindo que tu és!", disse a raposa. "Que penas delicadas!
Nunca vi outras mais belas do que as tuas! Que esbelto e gracioso que és e que voz deliciosa!"

O corvo ficou muito satisfeito ao ouvir estas belas palavras e começou a saltitar no ramo. Então, para provar a si mesmo que tinha uma voz maravilhosa, abriu a boca para cantar. Imediatamente, o naco de carne caiu-lhe da boca, mesmo na direção da raposa, que o engoliu, toda contente com a sua brilhante ideia.

Moral da história

Há no mundo pessoas que não se deixam vencer pela lisonja.

Fonte:
Fábulas de Esopo. Coleção Recontar. Ed. Escala, 2004.

Trova de Dia das Mães- Maria Nascimento (Corupire/AL)

Érico Veríssimo (Um Certo Capitão Rodrigo)


Análise da obra

A novela Um Certo Capitão Rodrigo, do ponto de vista cronológico, é o terceiro episódio do primeiro volume de O continente, parte da trilogia O tempo e o vento, que compreende também O retrato (parte II) e O arquipélago (parte III). A obra é do escritor gaúcho Érico Veríssimo, e foi escrita na segunda fase de sua carreira.

A ação da narrativa se inicia em outubro de 1828, quando o capitão Rodrigo, uma das personagens mais marcantes e popularizadas pela obra de Érico Veríssimo, chega à cidade de Santa Fé, ao fim de uma das tantas guerras contra “os castelhanos” da Banda Oriental, hoje Uruguai. Girando em torno do casal composto por Rodrigo e Bibiana, a narrativa apresenta, na composição do seu quadro histórico, a agitação sócio-política da pacata Santa Fé como efeito principal do início da Revolução Farroupilha, cujas batalhas percorreram os pampas do sul por dez anos, em confrontos que colocaram em lados radicalmente opostos republicanos e governistas.

Sua leitura é de fato, um mergulho no universo histórico da época, em que os pensamentos das pessoas eram de indignação pelos abusos do governo na cobrança dos altos impostos, contando paralelamente parte Revolução Farroupilha e da chegada dos primeiros imigrantes alemães no país.

E é nesse contexto cheio de atribulações civis que a história do Capitão Cambará se inicia. Ele, um homem de destino incerto, que ama sua liberdade, de repente se depara apaixonado por uma linda santa fezense poucos dias após apear seu cavalo no pequeno povoado. Uma moça chamada Bibiana Terra, que apesar de ser fortemente cortejada pelo filho do coronel, logo se rende aos olhares sedutores do forasteiro e se apaixona. E como de costume em quase todas as histórias de amor eles se casam e têm três filhos.

Destacando duas cenas espetaculares do livro temos a do duelo entre Rodrigo e Bento Amaral e a marca incompleta do R que o Capitão deixa no rosto filho do coronel e também a cena da extrema unção que o Padre Lara oferece a Rodrigo quando ele está entre a vida e a morte, exigindo antes que seu amigo se arrependesse de todos os pecados, o Capitão como resposta faz uma figa que deixa o padre horrorizado.

Um dos destaques nessa obra é o forte sopro épico que ocorre em todo o episódio, a exemplo de Ulisses e de outros heróis das epopéias gregas, o Capitão Rodrigo Cambará acreditava que só a ação guerreira dá sentido a vida de um homem. A domesticidade e o cotidiano são os maiores inimigos desses personagens. A paixão instintiva que o Capitão experimenta pela vida e seus prazeres, além de haver em sua conduta um substrato ético, misto de bravura, fanfarronice, generosidade e pensamento libertário.

Toda a trajetória do Capitão Rodrigo Cambará em Santa Fé desde da primeira conversa com Juvenal, o duelo com Bento Amaral, seu casamento com Bibiana, até a sua morte na guerra é cheia de pormenores que prende o leitor do princípio ao fim, página por página, fazendo desse romance de Veríssimo uma história já tornada mitológica e fascinante.

Em Um Certo Capitão Rodrigo vemos uma forte influência naturalista que se alastra por todo o romance O tempo e o vento, contaminando-o com um materialismo impressionante.

A ótica panfletária permeia uma estética que beira o romantismo o tempo todo. Em 28 capítulos acompanhamos a chegada do Capitão Rodrigo a Santa Fé.

Personagens

Bibiana - Neta de Ana Terra, mulher do capitão Rodrigo Cambará. Como a avó, Bibiana é a mulher generosa, sólida, sofrida.

Capitão Rodrigo - Encarna o código de honra do gaúcho, mediante os atributos de coragem, impetuosidade, machismo, violência física e um relativo conceito de moral.
Juvenal Terra - irmão de Bibiana.

Destaques da obra

1. O fato do personagem central ter se transformado - mesmo que não fosse a intenção de Érico Veríssimo - no símbolo do gaúcho, com seu misto de bravura, fanfarronice, generosidade e pensamento libertário. Talvez os gaudérios da época não tivessem o mesmo carisma. Documentos da época pintam esses homens "sem rei nem lei" quase como párias. No caso de Rodrigo, contudo, "a mentira histórica vira verdade artística".

2. A paixão instintiva (próxima do mundo animal) que o Capitão experimenta pela vida e seus prazeres, especialmente os da cama e da mesa. Apesar disso, há em sua conduta um substrato ético que o leva, por exemplo, a se posicionar contra os tiranos e a respeitar sua mulher, Bibiana.

3. O forte sopro épico que percorre todo o episódio. A exemplo de Aquiles e de outros heróis das epopéias gregas, Rodrigo Cambará acredita que só a ação guerreira dá sentido à vida dos homens. A domesticidade e o cotidiano são os maiores inimigos desses personagens, que só se sentem felizes no fragor das batalhas e das conquistas. Antológica é a cena do Capitão, transformado em dono de venda:

Rodrigo foi até a porta (da venda) e olhou para o alto. O vento trazia um cheiro bom de capim e, aspirando-o, ele como que se embriagava. O fedor de cebola, alho e banha que havia dentro de casa nauseava-o. Meter-se naquele negócio tinha sido a maior estupidez de sua vida.

4. A criação de um modelo de Cambará: o macho audacioso, mulherengo e sempre metido em revoluções. O Dr. Rodrigo Cambará, em O retrato e em O arquipélago, será a reduplicação quase que perfeita do bisavô, apesar de já ser um caudilho ilustrado. Porém, mesmo Bolívar e Licurgo, filho e neto respectivamente, apresentarão traços do Capitão Rodrigo. De certa forma, os valores caudilhescos e machistas desse personagem cristalizam o ideal de hombridade vigente na província até meados do século XX.

5. A cena espetacular da extrema-unção que o padre Lara oferece a Rodrigo moribundo, exigindo antes que o seu amigo se arrependesse de todos os pecados. Reunindo suas últimas forças, o Capitão Cambará faz uma figa ao sacerdote que sai dali horrorizado.

6. Igualmente importante é a cena - já citada - do duelo entre Rodrigo e Bento Amaral, e a marca incompleta que o Capitão deixa no rosto do último.

7. A paixão de Bibiana pelo gaudério é a melhor realizada entre todos os casos amorosos que povoam O tempo e o vento. Independentemente dos adultérios de que é vítima, do abandono e do desprezo do marido pela vida doméstica, ela continua amando-o como no primeiro dia em que o viu. "Queria vê-lo mais uma vez, só uma vez" - pensa ela durante a Revolução e um pouco antes do último encontro amoroso, numa sublime confissão de desejo e afeto.

8. O fato de Bibiana reproduzir sua avó, Ana, tanto na obstinação, nos silêncios, no ódio à guerra e às revoluções, na profissão de parteira e na lembrança dos mortos, dando seqüência ao arquétipo feminino do romance.

Enredo

Gaudério de bela figura física e não menor carisma pessoal, Rodrigo Cambará conquista a vila de Santa Fé com seus ditos espirituosos: "Buenas e me espalho! Nos pequenos dou de prancha e nos grandes dou de talho!" Ou ainda: "Cambará macho não morre na cama!"

Juvenal, filho de Pedro Terra, é o primeiro a simpatizar com o estranho. Bibiana, sua irmã (e reprodução da avó, Ana Terra) logo se apaixonará pelo forasteiro, reafirmando sua indiferença a Bento Amaral, filho do coronel que manda no povoado. Já Pedro Terra, homem reservado e circunspecto, detesta desde o início aquele gaudério anarquista, cujo único propósito na vida parece ser o de atender aos seus impulsos básicos, especialmente os guerreiros e os eróticos.

O Coronel Ricardo Amaral Neto exige que Rodrigo parta de Santa Fé, mas este se recusa. Em seguida, o alegre capitão desentende-se - por causa de Bibiana - com Bento Amaral. No duelo que se segue, Rodrigo Cambará consegue colocar sua marca à faca na cara do rival, não conseguindo concluir a perna do R. Vencido e humilhado, Bento atira com arma de fogo, ferindo gravemente o Capitão. Este oscila entre a vida e a morte e, nessas circunstâncias, solidifica sua amizade com o padre Lara que vai ajudá-lo e tentar convertê-lo ao cristianismo. Rodrigo se safa da morte, tão ateu quanto antes, mas completamente apaixonado (desejo físico, acima de tudo) por Bibiana. Juvenal e o padre auxiliam-no em sua tarefa, facilitada pelo ardoroso sentimento que a moça (tem vinte e dois anos) nutre por ele. Com a visível discordância de Pedro Terra, Rodrigo e Bibiana acabam se casando no Natal de 1829.

Após os ardores dos primeiros meses, Rodrigo começa a se entediar. A nova profissão (tornara-se "bodegueiro" em sociedade com o cunhado Juvenal) lhe parece intolerável. Os próprios cheiros da venda lhe causam aborrecimento. Mesmo os filhos que vão nascendo - Anita, Bolívar e Leonor - não lhe restituem a perdida alegria de viver. Trai Bibiana, torna-se um jogador e um bêbado, recusa-se a voltar para casa quando o chamam por causa da doença da filha Anita. Ao retornar, enfim, já pela madrugada encontra a menina morta. Mesmo assim, Bibiana continua apaixonada pelo "seu" capitão.

A chegada dos primeiros alemães em Santa Fé, no ano de 1833, é o grande assunto da vila. Rodrigo obviamente enlouquece por uma jovem imigrante, Helga Kunz, e com ela se relaciona, mas para sua surpresa a alemã abandona-o, partindo para São Leopoldo a fim de casar-se com um conterrâneo alemão.

Em 1835 estoura a Revolução Farroupilha. Rodrigo, que é amigo de Bento Gonçalves, adere imediatamente e desaparece de Santa Fé. Em 1836, o Capitão a frente de tropas revolucionárias retorna para enfrentar os Amarais e sua gente, que permaneceram fiéis ao Império. Antes do cerco ao casarão dos inimigos, Rodrigo ama pela última vez sua esposa Bibiana. Depois parte para o combate. Os farroupilhas triunfam, mas no ataque o Capitão Rodrigo encontra a morte. O episódio termina no dia de Finados, quando Bibiana vai ao cemitério com seus dois filhos:

"Ergueu Leonor nos braços, segurou a mão de Bolívar, lançou um último olhar para a sepultura de Rodrigo e achou que afinal de contas tudo estava bem. Podiam dizer o que quisessem, mas a verdade era que o Capitão Cambará tinha voltado para casa.”

Fonte:
Passeiweb

2º CIELLI da UEM/PR (Resumo de Simpósio de Teoria Literária) Parte 3


2º CIELLI - Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários

Diariamente estão sendo postados 4 Resumos dos Simpósios que serão apresentados em 13 a 15 de junho, até totalizar os 25 a serem apresentados.

O resumo havia sido publicado na UEM em parágrafo único, mas para facilitar a leitura dos leitores do blog, dividi em parágrafos.



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Wellington Ricardo Fioruci
Ana Maria Carlos
LITERATURA, CINEMA E TELEVISÃO: CONFLUÊNCIAS INTERSEMIÓTICAS


Este simpósio insere-se na vertente de estudos próprios da intersemiótica, já que busca estabelecer pontos de convergência entre as linguagens da literatura, do cinema e da televisão. Ao pensarmos no caráter literário, na inter-relação sígnica e nas possibilidades tradutórias do texto, notamos que, desde os primórdios, o texto literário mantém uma intensa relação com a imagem. Se nos reportamos às inscrições rupestres, encontradas nas cavernas, podemos verificar que os desenhos já se encontravam organizados numa estrutura narrativa linear, constituindo um sistema de linguagem, que objetivava contar uma história.

A imagem tem possibilidades de construção narrativa, de caráter sintético, enquanto a escrita, analítico. Neste sentido, serão aceitos trabalhos para este simpósio que promovam o diálogo comparativo entre obras destas diferentes formas de expressão artística, desde que fundamentados no princípio da adaptação ou tradução semiótica. Assim sendo, obras literárias de qualquer natureza no que tange ao gênero, incluindo-se nesta ampla categoria contos, romances, poemas, novelas, HQs, roteiros, adaptadas para o cinema ou televisão, em formas de filmes ou minisséries, ou vice-versa, isto é, obras de natureza sonoro-visual que foram transformadas em textos literários.

O presente simpósio parte dos estudos comparativos entre as diferentes modalidades de expressão artística, cujas raízes encontram-se nos princípios teóricos da Semiótica Moderna fundada por Pierce, compreendida como “a doutrina formal dos signos”, ou, na opinião de Nöth, vista como a ciência dos signos e dos processos significativos (semiose) na natureza e na cultura. Assim sendo, com base na Semiótica e, mais precisamente, em sua variação, denominada Intersemiótica, a qual, segundo Julio Plaza, deve ser vista a partir de um “pensamento com signos, como trânsito dos sentidos, como transcriação de formas na historicidade”, abre-se caminho para uma diversidade de estudos que aproximam diferentes códigos estéticos, com vistas a compreender os processos de simbiose e dissidência entre eles, os quais tendem a redimensionar significativamente as diferentes áreas de estudo implicadas nestas abordagens interdisciplinares.

Colocar-se-á em debate temas pertinentes à Intersemiótica, tais como, os valores e a função social das obras artísticas, o conceito de fidelidade, a tradução de sistemas sígnicos e o processo de transcriação ou transculturação, a relação entre objeto artístico e mercado e a participação do leitor/espectador na construção dos sentidos.

Tendo em vista amplo arcabouço teórico inerente a esta linha de pesquisa, considera-se, com efeito, em consonância às observações de Lúcia Santaella, que todo fenômeno de cultura só funciona culturalmente porque é também um fenômeno de comunicação, e considerando-se que esses fenômenos só se comunicam porque se estruturam como linguagem, pode-se concluir que todo e qualquer fato cultural, toda e qualquer atividade ou prática social constitui-se como prática significante, isto é, como prática de produção de linguagem e sentido.

10
Edison Bariani Junior
Márcio Scheel
LITERATURA E CIÊNCIAS HUMANAS: LIMITES, APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS


As relações entre literatura e ciências humanas sempre foram mais estreitas, complexas e profícuas do que parte considerável dos cientistas e dos críticos literários gostaria de admitir. Platão, por exemplo, que por julgar os poetas imitadores afastados em três graus da verdade do mundo, dos seres e das coisas, acaba por lançar mão dos mitos, elemento essencial ao discurso poético, como forma alegórica de expressão do conhecimento filosófico. Aristóteles, por sua vez, defende, na Poética, a ideia de que a diferença fundamental entre o poeta e o historiador não está na forma de expressão de suas obras, mas naquilo que expressam: o historiador remete-se aos acontecimentos tais como foram, ao passo que o poeta concebe os fatos como poderiam ter sido. É possível perceber, nas afirmações de Aristóteles, uma certa supremacia do poeta diante do historiador, já que, para ele, a Poesia concentra em si mais filosofia e elevação ao enunciar verdades gerais, do que a História e seus fatos particulares.

Em fins do século XVIII, os românticos alemães, na esteira da influência que Kant e Fichte exerceram sobre suas reflexões, tornam-se representantes fundamentais do pensamento idealista da época, solicitando que poesia e filosofia se aproximassem novamente, exigindo uma criação literária cada vez mais aberta à reflexão crítica, ao exercício do pensamento. A literatura realista-naturalista da segunda metade do século XIX adere fortemente aos princípios cientificistas do período, dando origem, inclusive, à noção de romance experimental de tese, sendo que o conceito de experimental não está de nenhum modo associado aos ideais modernos de experimentalismo formal, mas sim aos princípios científicos estabelecidos pelo médico e fisiologista francês Claude Bernard. Experimental como parte de um processo empírico de recolher fatos, estabelecer uma hipótese, isolar um ambiente, experimentar, observar, analisar, verificar, explicar e descrever. Nesse sentido, o século XX viu desenvolver-se, no campo dos estudos literários, um amplo conjunto de métodos críticos que pressupunham, desde seus fundamentos teóricos, a utilização de um arsenal conceitual e metodológico estreitamente articulado com a ciência.

Também a literatura, a partir da modernidade, preocupa-se não somente em narrar, mas, sobretudo, em interpretar o mundo que narra, mormente as relações entre os homens, já tão distantes da natureza, e sua existência num mundo que já é eminentemente social, ‘puramente social’, segundo Ferenc Fehér. Também as ciências sociais, desde seu nascimento no séc. XIX, lançaram mão do texto e da visão literários para recolher informações e mesmo explicar a vida social; Marx, por exemplo, recorre a Balzac para entender e exercitar sua crítica à vida e atitudes burguesas, a Shakespeare para discutir aspectos humanos da transformação do capitalismo, etc. Mais ainda, as ciências sociais (e a sociologia em particular) – a despeito de posições naturalistas, positivistas e cientificistas – tomadas como formas de geração de conhecimento por meio da criação, da originalidade, da invenção, da renovação e da interpretação específica, também aproximam-se da forma estética, especificamente, literária, como já o afirmaram Robert Nisbet, ao asseverar a sociologia como uma forma de arte, e Richard Brown, ao mencionar uma “poética da sociologia”.

Assim, a criação estética e literária permeia o fazer científico seja como fato, elemento de informação/descrição, documento, interpretação, criação e mesmo estilo. Em obras como as de Marx, Weber, Mannheim, Wright Mills na sociologia já clássica; como as de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, no Brasil; e, atualmente, escritos de Mafesoli, Elias, Bauman, configuram a proximidade e distanciamento, o diálogo rico e crítico entre ciência (social) e estética (literária). Sendo assim, nosso interesse é pensar de que modo se dão essas aproximações entre literatura e ciências, bem como os limites que elas insistem em romper.

11
Emerson da Cruz Inacio
Jorge Vicente Valentim
LITERATURA E HOMOEROTISMO


Tentar definir as formas com que as manifestações de Eros se apresentam constitui tarefa ingrata e praticamente impossível, dada as múltiplas possibilidades de suas representações. A diversidade dos caminhos adotados para a constatação dos impulsos, dos desejos e das reações tem gerado uma gama significativa de veios metodológicos para a pesquisa e a leitura de tal temática.

Sem querer fechar num único caminho esquemático para a sua reflexão, a proposta do presente Grupo Temático é abrir um amplo espaço de discussão e debate sobre as múltiplas rotas eróticas, presentes nas literaturas de língua portuguesa, abrangendo a produção literária de Portugal, Brasil e África, assim como as perspectivas teóricas que atendam às especificidades destes povos. Se entendermos tais rotas eróticas como manifestações da ordem daquela “sexualidade plástica”, de que nos fala Anthony Guiddens, ou seja, de uma “sexualidade descentralizada, liberta das necessidades de reprodução”, então, poderemos caminhar tanto por uma via de liberdade entre os gêneros e as escolas literárias a que os textos propostos para leitura pertencem, quanto pelas vias de sua representação temática, entendendo-a nas linhas do hetero e/ou do homoerótico, da escrita de lésbicas, transexuais, queer ou das textualidades que tematizem aspectos das sexualidades não-normativas.

Nesse sentido, pretende-se ainda procurar estabelecer um balanço dos Estudos Homoeróticos e da Diversidade Sexual no Brasil, tomando como marco a realização dos três encontros \"Literatura e Homoerotismo\", promovidos na Universidade Federal Fluminense entre os anos de 1999 e 2001, momento em que pesquisadores e pesquisadoras visaram a visibilidade crítica, estética e literária daqueles estudos. Nos anos que separam a última realização do evento e a atualidade, muitas perguntas se impuseram aos pesquisadores e interessados na área: pode-se pensar em uma estética homoerótica em Língua Portuguesa? Há um cânone paralelo, representativo da produção de temática e autoria homossexual em nossas literaturas? As premissas teóricas, muitas delas importadas da Europa e dos EUA atendem com destreza às especifidades dos discursos literários que tangenciam ou tematizam as experiências homoeróticas? Os avanços políticos têm contribuído para uma oxigenação dos cânones em Língua Portuguesa, no que se aplica à tematização dos (homo)erotismos?

Na relação entre sujeito e objeto, como fica a produção e autoria: gays e lésbicas são ainda apenas objetos ou já constituem uma subjetividade no campo literário? A partir de tal premissa, respeitando, porém, os pressupostos teóricos propostos pelos seus leitores, o Grupo Temático expande a possibilidade de um encontro também entre os pensamentos de Freud, Bataille, Guiddens, Alberoni e Foucault, a Teoria Queer, David Halperin, Eve Kosofsky Sedgwick, dentre outros, e suas possíveis aplicações nas literaturas de língua portuguesa, bem como de teóricos e estudiosos de tais questões nos territórios abrangidos por este GT.

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Jaison Luís Crestani
Daniela Mantarro Callipo
LITERATURA E IMPRENSA


A implantação e o desenvolvimento da imprensa promoveram a comercialização da literatura e deram início ao processo de profissionalização do escritor, que passaria a alcançar, assim, uma relativa autonomia na sua produção, deixando de se submeter à tutela de um mecenas. Consequentemente, a instauração de um mercado livre e anônimo para as manifestações artísticas e culturais teria um efeito duplo sobre o trabalho do escritor, instituindo o que se poderia denominar como dialética da liberdade e da alienação.

Com a abertura de um mercado dos bens simbólicos, aciona-se todo um “sistema de condicionamentos” com os quais o escritor deverá defrontar-se obrigatoriamente no decurso de sua produção artística. A introdução de novos meios de produção e de transmissão da cultura não só estimulam formas de escrita igualmente renovadas, como também contribuem decisivamente para a formação de um novo modo de raciocínio e, por conseguinte, de maneiras inovadoras de se relacionar com os produtos artísticos a serem assimilados.

Desse modo, este simpósio propõe-se a fomentar a interação de estudos e pesquisas empenhados em promover a compreensão das confluências dinâmicas entre as operações criativas e os mecanismos de produção e difusão cultural. Dispensando dicotomias simplistas, esta proposta prioriza abordagens dialéticas das contradições inerentes à simbiose entre literatura e imprensa, fundamentadas na combinação da apreciação de soluções estético-literárias com a análise da materialidade das obras e com a historicidade das práticas de escrita e de leitura.

Assim, o exame crítico das produções culturais deve considerar a complexidade inerente à sua composição material que, embora usualmente negligenciada, também se constitui em formas de expressão. Os meios de divulgação não são simples instrumento de difusão da virtualidade do texto literário, mas participam determinantemente da construção da identidade e do universo de sentido das obras publicadas. Portanto, o conhecimento das condições de enunciação vinculadas a cada contexto de produção define consideravelmente o percurso da leitura, indicando as normas que presidem ao consumo da obra.

Da confluência entre a constituição material e a componente textual resultam maneiras particulares de fruição do objeto escrito, determinadas pelos protocolos de leitura, categorias de leitores e horizontes de expectativas próprios de cada contexto. Com base nesses pressupostos, este simpósio pretende promover a interlocução entre estudos críticos sobre as interações dinâmicas que se articulam entre a criação artística e os fatores de produção (instituições culturais, meios de comunicação, concepções ideológicas, práticas mercadológicas etc.).

Com o intuito de propiciar a reflexão teórica e metodológica sobre a pesquisa em periódicos, planeja-se ressaltar a importância de jornais e revistas como fontes primárias fundamentais para o estudo da história literária e como agentes da atividade intelectual e da renovação estética, política e cultural do país.

Fonte:
http://www.cielli.com.br/programacao_geral