terça-feira, 28 de agosto de 2012

Alcy Cheuiche (Poemas Avulsos)

ANITA GARIBALDI
(gravada em forma de canção por Marlene Pastro
com arranjo musical do Maestro Adolph Hülsberg)

 Na beira da praia
na longínqua Itália
Anita contempla
as ondas do mar
A mão poderosa
de um louro pirata
levou-a pra longe
da terra natal

Anita morena
da pele macia
amante de noite
soldado de dia
um filho num braço
no outro um fuzil

Guerreira farrapa
guerreira uruguaia
guerreira italiana
rolando na cama
nos braços de um homem
com cheiro de mar

Anita morena
da pele macia
amante de noite
soldado de dia
um filho num braço
no outro um fuzil

Anita menina
da verde Laguna
mulher farroupilha
legaste teu sangue
fizeste tuas filhas
a todas mulheres
do sul do Brasil

Anita morena
da pele macia
amante de noite
soldado de dia
um filho num braço
no outro um fuzil

PAYADA DOS CHIMANGO

 CHIMANGO é gavião campeiro
da planície americana,
ave nativa que irmana,
no lenço branco altaneiro,
um partido brasileiro
que abriu picadas na História,
dividindo sua glória
com o lenço colorado,
irmãos do mesmo passado
que vive em nossa memória.

CHIMANGO é também poesia,
o livro de um payador,
versos de ódio e amor,
gauchesca rebeldia.
Um protesto que recria,
cantada junto ao bandônio,
"a vida de um tal Antônio,
Chimango por sobrenome,
magro como o lobisomem,
mesquinho como o demônio.

 Nos cerros de Caçapava
foi que viu a luz do dia
esta chucra confraria,
que há muito tempo sonhava
clavar a suerte na tava
da união continentina:
BRASIL irmão da ARGENTINA,
da BOLÍVIA e PARAGUAI,
irmanado ao URUGUAI e
à AMÉRICA LATINA.

 CHIMANGOS são payadores,
dançarinos, mesnestréis.
Acima de tudo fiéis
à terra dos seus amores.
Mas voam com os condores
que passam na Cordilheira,
a montanha feiticeira
que vai unir nossa gente,
ELOS DA MESMA CORRENTE,
PÁTRIAS DA MESMA BANDEIRA.

 ARGENTINA! Pátria amada
do grande José Hernandez.
Da Patagônia até os Andes,
a mesma terra adorada.
Milongas na madrugada
cruzando a nossa fronteira
e a DANÇA DA CHACARERA
erguendo pó nos fandangos.
Carlos Gardel e seus tangos
no rádio de cabeceira.

 Teu nome é feito de prata,
teu nome é feito de luz.
A lança, a espada e a cruz,
que a tua História retrata.
Índios da pampa e da mata,
europeus vindos dos mares,
mesclando-se em avatares
de alma e sangue guerreiro:
El pueblo de Martín Fierro
que só ajoelha nos altares.

 PARAGUAI das reduções
do socialismo cristão,
tua capital, Assunção,
arrebata os corações.
São lindas tuas canções,
no azul do Ipacaraí,
e o idioma guarani
conosco não tem fronteira:
bailando LA GALOPERA
llegamos cerca de ti.

 BOLÍVIA! Das tuas alturas,
tradição Quíchua e Aimara.
Flautas feitas de taquara,
vento frio e pedra dura.
Misteriosas criaturas,
herdeiras de antigos templos
cantando amor e lamentos
na força de seus bailados.
Vestindo ponchos bordados
com as cores do firmamento.

 Gauderiamos na cultura
das Nações do Continente,
não para ser diferentes,
mas em busca de água pura.
E a tradição que perdura,
mostrada em forma de dança,
é um bailado de esperança,
de fé e de liberdade,
unindo o campo à cidade,
num laço da mesma trança.

 Do Forte da nossa terra,
nenhuma pedra rolou,
apenas se desgarrou
algum gaúcho na guerra.
E qual um touro que berra
no centro do seu rodeio,
o Forte ficou no meio
da cidade que se expande
testemunha do RIO GRANDE
nos tempos do pastoreio.

 CAÇAPAVA! Terra linda
como as mulheres do pago!
Tua presença é um afago
em nossa paisagem infinda.
Voltar a ti é ainda
o que mais nos arrebata.
E se a saudade maltrata,
se dói no peito esta ausência:
VOLTA O CHIMANGO À QUERÊNCIA!
Verde Clareira da Mata.

QUE DIACHO! EU GOSTAVA DO MEU CUSCO

Entendo. Envelheci entendendo.
Bicho não tem alma, eu sei bem,
mas será que vivente tem?

Que diacho! Eu gostava do meu cusco.
Era uma guaipeca amarelo,
baixinho, de perna torta,
que me seguiu num domingo,
de volta de umas carreira.

Eu andava meio abichornado,
bebendo mais que o costume,
essas coisa de rabicho, de ciúme,
vocês me entendem, ele entendeu.

Passei o dia bebendo
e ele ali no costado
me olhando de atravessado,
esperando por comida.

Nesse tempo era magrinho
que aparecia as costela.
Depois pegou mais estado
mas nunca foi de engordá.

Quando veio meu guisado,
dei quase tudo prá ele.
Um pouco, por pena dele,
e outro, que nesse dia,
só bebida eu engolia
por causa dos pensamento.

Já pela entrada do sol,
ainda pensando na moça
e nas miséria da vida,
toquei de volta prás casa
e vi que o cusco magrinho
vinha troteando pertinho,
com um jeito encabulado.

Volta prá casa, guaipeca!
Ralhei e ralhei com ele.
Parava um puco, fugia,
farejava qualquer coisa,
depois voltava prá mim.
O capataz não gostou,
na estância só tinha galgo,
mas o guaipeca ficou.

Botei o nome de sorro,
as crianças, de brinquinho,
mas o nome que pegou
foi de guaipeca amarelo.

Mas nome não é o que importa.
Bicho não tem alma, eu sei bem.
Mas será que vivente tem?

Ficou seis anos na estância.
Lidava com gado e ovelha
sempre atento e voluntário.
Se um boi ganhava no mato,
o guaipeca só voltava
depois de tirá prá fora.

E nunca mordeu ninguém!
Nem as índia da cozinha
que inticava com ele.
Nem ovelha, nem galinha,
nem quero-quero, avestruz.
Com lagarto, era o primeiro
e mesmo piquininho
corria mais do que um pardo.

E tudo ia tão bem...
Até que um dia azarado
o patrãozinho noivou
e trouxe a noiva prá estância.

Era no mês de janeiro,
os patrão tava na praia,
e veio um mundo de gente,
tudo em roupa diferente,
até colar, home usava,
e as moça meio pelada,
sem sê na hora do banho,
imagino lá no arroio,
o retoço da moçada.

Mas bueno, sou doutro tempo,
das trança e saia rodada,
até aí não tem nada,
que a gente respeita os branco,
olha e finge que não vê.
O pior foi o meu cusco,
que não entendeu, por bicho,
a distância que separa
um guaipeca de peão
da cachorrinha mimosa
da noiva do meu patrão.

Era quase de brinquedo
a cachorrinha da moça.
Baixinha, reboladera,
pêlo comprido e tratado,
andava só na coleira
e tinha medo de tudo,
por qualquer coisa acoava.

Meu cusco perdeu o entono
quando viu a cachorrinha.
E les juro que a bichinha
também gostou do meu baio.
Mas namoro, só de longe
que a cusca era mais cuidada
que touro de exposição.

Mas numa noite de lua,
foi mais forte a natureza.
A cadela tava alçada
e o guaipeca atrás dela
entrou por uma janela
e foi uma gritaria
quando encontraram os dois.

Achei graça na aventura,
até que chegou o mocito,
o filho do meu patrão,
e disse prá o Vitalício
que tinha fama de ruim:
Benefecia o guaipeca
prá que respeite as família!
Parecia até uma filha
que o cusco tinha abusado.

Perdão, le disse, o coitado
não entende dessas coisa.
Deixe qu'eu leve prá o posto
do fundo, com meu cumpadre,
depois que passá o verão.
Capa o cusco, Vitalício!
E tu, pega os teus pertence
e vai buscá teu cavalo.

Me deu uma raiva por dentro
de sê assim despachado
por um piazito mijado
e ainda usando colar.
Mas prometi aqui prá dentro:
mesmo filho do patrão,
no meu cusco ninguém toca.
Pego ele, vou m'embora
e acabou-se a função.

Que diacho! Eu gostava do meu cusco.
Bicho não tem alma, eu sei bem.
Mas será que vivente tem?

Campiei ele no galpão,
nos brete, pelas mangueira
e nada do desgraçado.
No fim, já meio cansado,
peguei o ruano velho
e fui buscá o meu cavalo.

Com o tordilho por diante,
vinha pensando na vida.
Posso entrá numa comparsa,
mesmo no fim das esquila.
Depois ajeito os apero
e busco colocação,
nem que seja de caseiro,
se nã me ajustam de peão.
E levo o cusco comigo
pois foi o único amigo
que nunca negou a mão.

Nisso, ouvi a gritaria
e os ganido do meu cusco
que era um grito de susto,
de medo, um grito de horror.
Toquei a espora no ruano
mas era tarde demais.
Tinham feito a judiaria
e o pobrezinho sangrava,
sangrava de fazê poça
e já chorava fraquinho.

Peguei o cusco no colo
e apertei o coração.
O sangue tava fugindo,
não tinha mais esperança.
O cusco foi se finando
e os meus olho chorando,
chorando como criança.

Que diacho! Eu gostava do meu cusco.
Bicho não tem alma, eu sei bem.
Mas será que vivente tem?
Nessa hora desgraçada
o tal mocito voltou
prá sabê pelo serviço.
Botei o cusco no chão,
passei a mão no facão
e dei uns grito com ele,
com ele e com o Vitalício!

Ele puxô do revólver
mas tava perto demais.
Antes que a bala saísse,
cortei ele prá matá.
Foi assim, bem direitinho.
Não tô aqui prá menti.
É verdade qu'eu fugi
mas depois me apresentei.
Me julgaram e condenaram
mas o pior que assassino,
foi dizerem que o motivo
era pouco prá o que fiz...

Que diacho! Eu gostava do meu cusco.
Bicho não tem alma, eu sei bem.
Mas será que vivente tem?

Fonte:
http://www.alcycheuiche.com.br/poesias.htm

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 650)

Uma Trova de Ademar 

Na minha dor, pus de pé,
com esperanças sem fim,
a Fortaleza de fé
que existe dentro de mim.
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional 


Tanta gente em si perdida
entre sombras se escondendo,
cada dia é uma outra vida
que em disfarces vai morrendo…
–José Feldman/PR–

Uma Trova Potiguar 


A inspiração não me veio
trazer um verso feliz,
mas em teus olhos eu leio
a trova que não te fiz.
–José Lucas de Barros/RN–

Uma Trova Premiada 


1985  -  Porto Alegre/RS
Tema  -  CORAGEM  -  4º Lugar


Meu Senhor, quero sentir,
de uma forma singular,
a coragem de sorrir
quando o dia é de chorar.
–Flávio Roberto Stefani /RS–

...E Suas Trovas Ficaram 


Não tive infância risonha,
mas em meu peito ainda vive
um guri que brinca e sonha
com brinquedos que não tive...
–João Freire Filho/RJ–

U m a P o e s i a 


O carro de boi cantado,
o meu pai com seu peão,
– um na frente outro tocando
cada um com seu ferrão.
O carro cheio de milho,
rasgando parte do trilho,
deixando marcas no chão.
–Dáguima Verônica/MG–

Soneto do Dia 

AMIZADE.
–Haroldo Lyra/CE–


Depois de salpicada uma amizade,
por leve farpa num fugaz momento,
traz o fato, humana realidade,
carência de afeto e entendimento.

Se à prosa que se faz se põe maldade,
perde, a amizade, o doce encantamento.
Há de perder também sinceridade
e lesto se avizinha o rompimento.

Mas, valham as que têm, irrelevante,
o dardo que feriu por um instante
involuntariamente a fidalguia.

Nisso, aquela que impõe severa norma,
inexoravelmente se transforma
em triste olá de falsa cortesia.

domingo, 26 de agosto de 2012

Paulo Vinheiro (Revoada de Poemas)

Paulo Vinheiro, é o pseudônimo de Paulo Vieira Pinheiro, poeta de Monteiro Lobato/SP

ATENÇÃO

Recordo, lembrança, achado
Um conto criado de fato suposto
Que é? Não sei. Só sei que perfaz
Completo, segue caminho seu
Por quê? Não interessa mais
Só peço atenção...
Uma delicadeza, afeto
Isso feito, um universo talvez.

POESIA

Quanta força os dedos fazem para digitar?
Pra qual objetivo eles trabalham?
O que querem dizer quando dizem?
Qual conteúdo emocional tem os dedos?
Escrever só com o corpo é incompleto
Escrever só com letras é muito pouco
Poetizar não é o mesmo que historiar
Relatar um fato e depois esquecê-lo

Há razão entre a intenção e a ação
Uma revelação depois da reflexão
Propor uma leitura maior que a grafia
Provocar encanto no exercício de ler
Ligar sem escravizar o leitor ao sentido
Da página, linhas, palavras, letras, sinais
Não há por que complicar o tão simples
Para ler temos de ter mais que os olhos

Para se fazer poesia há de um que a leia

VIVER DÓI
Mais que querer
Mais que bem-me-quer
Respirando fundo
Amando demais

Andando pela vida com a venda

Tateando os caminhos
Vencendo os medos
Transformando horrores
Menos horrores

Seja qual idade se tenha
O mais cruel de tudo
É viver sem saber por quê.

MONARKA

Esquece intensa e leve pelas veredas
Azulando e crispando o tempo espaço
Zero é seu nome, ou será, quem sabe
Dentro, tudo ou nada, ambicionam ser

Sem projetos, sem programas, ela só
É borboleta azul que natural impera
É sutil o processo que nos encasula
Fecho a porta e abocanho a chave

Para transformar o padecer é certo
Por isso não pode haver uma rotina
Nada paira como ela monarca alada
Que remanchada volta a seu casulo

Liga a sua TV e atualiza o programa
Uma noite mal dormida e está findo
Muitos traumas ajustarão sua psique
Um dia intenso cumprindo instruções

Dizem quanto vai viver e onde morar
Data de ativação e expectativa de vida
Tamanho da prole, número do sapato
Limite de crédito, carro de uso, e mais

Sem sentido, sem porque, sem sossego
Sem propósito seu, assim, mais nada
Sem poder só preenche o desígnio
Um dever sem motivo seu, apenas isso

Um estímulo do nada e faz tudo diligente
Um click, um plim, um splash, e aí vai
Às vezes é rápido, outras é progressivo
Um gatilho, estopim, estouro, finalmente

Sem cura, e por isso que a cura é o final
Aguarda um comando para se desfazer
Integral, não linear, partido, sem sentido
Morto desde o berço pode, até, se libertar

TIRANA

Tomar uma coca-cola, adorando, ingenuamente
Ir ao “maquedonalde” num fim de tarde e talvez comer
Ir ao teatro e assistir mais que uma peça
Ler Amado, Oswald, Saramago e se alimentar

Ouvir uma tirana a nos cantar sem encantos
Dobrar-nos às ordens de um tio distante
Darmos atenção à infâmia do dia
Mentiras que diminuem o nosso tamanho

Entendo que não entendamos os porquês
Ignorar os porquês é importante
Não viver alienado ou alienante
Instrumentos do indizível abandono

O nosso destino é o abandono programado
Para repetirmos aquilo que ouvirmos
Para vivermos a mentira ditada
Acreditarmos num salvador que não virá

Transformaram-nos ateus e foi escolhido um novo deus
Aquele que adoramos e adoraremos
Nos dias escuros e noites em claro
Dobrados, insanos, dementes... nos querem

O que queremos? Ninguém se importa
Você se importa? Mesmo? Será?
Não fomos criados para pensar
Afinal pensar cansa e temos quem pense por nós

Para que nascemos? Pra que nasceu todo esse gado?
Garantidos estão os votos e os consumidores, só
Não servimos a nós mesmos e sim ao novo deus
Incorpórea figura quem dita as regras e nos amaldiçoa

Enquanto isso no reino da pastelândia
Nos McColas da vida e da morte
Recolhendo os mortos entre os fracos
Há quem pense em você e em mim

Será você também?

SABOR

Uma sucessão de palavras
Ásperas macias, quentes frias
Salgadas doces, noites dias
Grandes pequenas, brancas negras
Formando a vida e a poesia
Desafiando o possível até o limite
Até que desalente a fantasia

Uma porta aberta leva as palavras
Leves as palavras voam soltas
Há quem as junte, quem dê sentido
Um bêbado do bê-a-bá
Contador de letras
Caçador das palavras perdidas
Você ou eu quando escreve

Um sentido que alucina e lancina
Outra forma de ver o vulgar
Explica e dá sentido à sombra
Quem vai ou quem vem de algum lugar
Ensina, divulga, assombra
Canta e conta o chão que se pisa
E faz mais macio o caminho
Ilumina com poesia

O poeta é um herege

Fonte:
Textos enviados pelo autor
Criação da Imagem por José Feldman

Alfredo Monteiro Filho (Memória e Coração de um Cão)

Varando a névoa do anoitecer, o vulto de um homem bastante esguio, montado num mulo e acompanhado de um vira-latas adentrou a Grande Porteira, para, lentamente, vir na nossa direção, com a montaria trotando e ziguezagueando entre os corpos das reses que rotineiramente pernoitavam no grande pátio da fazenda Engenho Novo.

Se, naquela tarde-noite, fosse outra a minha idade e outros os meus conhecimentos, eu teria certamente fantasiado o cavaleiro, como o faço atualmente, mais de seis décadas depois, quando sua figura me invade a memória com um elmo na cabeça, armadura cobrindo-lhe o corpo e uma longa lança numa das mãos, montado num rocinante, e emparelhado com um cachorro bem pançudo. Mas estas imaginações de agora não devem emoldurar um quadro real, que, vindo de tão longe, ficou-me dependurado neste meu brumoso e exorcizante memorial. Entretanto, ainda que tentando ser fiel à realidade, retomo, nas descendentes linhas, a minha narrativa, sem ser também demasiadamente avesso à ficção.

Após vários "Quem será?...", "Será algum conhecido?...", "Será que vem pedir para pousar?...", além de outras cogitações da platéia que o aguardava, o viajante, já a uns cinco metros do casarão, puxou o freio da montaria e, do alto da sela e de uma fidalguia incomum, estranha mesmo naquele sertão, indagou: "É com o Coronel Totonho que tenho a satisfação de falar?...".

- Às suas ordens!... - respondeu meu pai, que, juntamente com o nosso capataz e alguns dos agregados, já se posicionara para a recepção.

- Martinho Lobo Penteado, seu criado!... - apresentou-se o desconhecido.

- Obrigado!... Vamos apear, seu moço!...

Só após o convite do meu pai, o homem pisou o chão e tirou o chapéu, não só para reverências não menos incomuns, mas também para as necessárias preocupações com o seu cachorro, o "Leão", que já estava tendo dos nossos três fiéis cães uma recepção de rosnados e ranger de dentes.

Curta foi a prosa ali no pátio, tendo o senhor Martinho, com gestos e palavras que lhe davam credenciais de pessoa educada e respeitável, recusado aceitar qualquer alimento ou mesmo a água que lhe foram oferecidos, já que se dizia bem abastecido de matula e de provisão de líquidos.

Cerca de meia hora depois, o Sr. Martinho Lobo Penteado e seu cão já estavam acomodados num galpão que ficava no lado direito da nossa casa, e que proporcionava, em redes, sono para alguns agregados da nossa fazenda e para rudes viajantes que, com certa freqüência, nos pediam uma pousada. Naquela noite, o Sr. Martinho Lobo Penteado, pelos seus requintados modos, pela seriedade e serenidade, e até mesmo pela impostação com que declinava o seu nome, era uma raríssima exceção na nossa fazenda - um nobre pernoitando numa rústica estalagem.

Recomposta a nossa platéia, o inesperado visitante, cujo nome tinha curiosa sonoridade, transformou-se no tema do resto das conversações daquela noite. "Martinho Lobo Penteado, seu criado!... O Lobo e o Leão!... Não é engraçado?!..." - comentou meu pai, sorrindo e adivinhando a jocosidade que aquela apresentação havia provocado em praticamente todos os que, liderados por ele, compunham a rotineira assembléia vespertina da fazenda, na calçada do casarão.

No dia seguinte, logo cedo, o Sr. Martinho Lobo Penteado, depois de esclarecer que, vindo do norte do estado, estava indo para a Capital, resolveu deixar conosco o Leão, com o compromisso de recambiá-lo quando estivesse em viagem de volta, que deveria ocorrer dentro de poucas semanas.

E "Martinho Lobo Penteado, seu criado..." ficou como expressão jocosa não só na noite da sua chegada, mas também durante muito tempo, uma vez que muito tempo se passou sem que o Sr. Martinho sequer desse quaisquer notícias suas. Tanto tempo que, quando dele se lembravam, durante os soturnos bate-papos, na porta do casarão, quase que o transformavam num personagem meio mítico, de origem e destino nebulosos, uma vez que nem meu pai nem os agregados da fazenda se lembravam da cidade de onde ele viera, nem punham muita fé naquela história de estar indo para a Capital, a negócios.

Tanto tempo que, aos poucos, eu e meus irmãos fomos esquecendo as nossas zombarias e as tentativas de nos apelidarmos de "Martinho Lobo Penteado, seu criado". Tanto tempo que o Leão se apegou à nossa família, enturmou-se com os nossos cachorros, engordou, e passou a fazer parte das nossas vidas.

E assim foi até que, num entardecer não muito nebuloso, um cavaleiro no dorso de um belo corcel surgiu lá na porteira de entrada do grande pátio da fazenda, para provocar mais uma rodada daqueles "Quem será?...", "Será algum conhecido?...", indagações estas que foram prematuramente interrompidas porque, quando o forasteiro estava a uns trinta metros do casarão, um dos nossos cachorros ergueu-se e correu em sua direção abanando prazerosamente a cauda.

– É o seu Martinho!... Como é que pode?... Fazendo mais de dois anos e o cachorro já farejou ele... – exclamou o nosso capataz.

– E você já viu um Leão esquecer um Lobo?... Ainda mais quando os dois se dão muito bem um com o outro!... Mesmo que fossem dez anos, o Leão estaria com o suor do Lobo nas ventas...

– Isso é verdade, patrão!... – asseverou o capataz.

Nessa noite, quando eu e meus dois irmãos mais velhos fomos dormir, levamos o Sr. Martinho para o nosso quarto, pelo menos durante o tempo que durou nossos protestos contra ele, que, nas nossas cogitações, cometeria uma grande ingratidão se quisesse reaver o Leão, depois de tão longa temporada de hospedagem e dos bons tratos que demos ao cachorro. Antes do mergulho no sono, ainda ouvi um dos meus irmãos afirmar: "Se ele quiser mesmo levar o cachorro, o papai devia cobrar dele um dinheirão".

No dia seguinte, cedo, depois de mais um pernoite na nossa fazenda, o Sr. Martinho Lobo Penteado manteve, com o meu pai e o capataz, próximo do casarão, longa e meio sussurrada cerimônia de despedida e de uma certa negociação a que eu e meus irmãos assistíamos de longe, muito apreensivos, aguçando os ouvidos e captando apenas algumas palavras. O esquálido mulo, da primeira visita, fora substituído por um belo cavalo de ancas robustas, apetrechado com arreio novo e sofisticado, testemunhando que a capital do estado havia sido, naqueles dois anos, praça de bons negócios para aquele homem cujo reaparecimento não mais esperávamos, muito menos desejávamos. Mas, se ele, pronto para retornar às suas origens no norte do estado, confabulava com meu pai e o capataz, eu, meus irmãos e os nossos cachorros, inclusive o Leão, éramos apenas uma platéia agitada e ansiosa, à espera de uma decisão, que acabou chegando pela voz do Sr. Martinho, propositadamente alteada:

– Os senhores querem saber de uma coisa?... Ele é quem vai decidir!...

Após renovados agradecimentos e repetidas reverências, o Sr. Martinho, já com as rédeas nas mãos, ficou, por alguns instantes, do alto do seu trono e da sua fidalguia, a olhar para o Leão, lançando-lhe o anunciado desafio.

Como ansiosos espectadores, mais sentimos do que vimos o cão a olhar, com um ganido sofredor, ora para o seu antigo dono, ora para nós. Entretanto, o Sr. Martinho não lhe concedeu muito tempo. Manobrando as rédeas, fez com que sua montaria se virasse e saísse trotando em direção à Grande Porteira. Na verdade, ele, não o cachorro, acabava de tomar a decisão. E definitivamente o cão ficaria e ele se iria...

 Fonte:
O Conto Brasileiro Hoje – vol. II.

Roberto Pinheiro Acruche (Ela e o Violoncelo)


Moacyr Scliar (História Portoalegrense)

Não penses que eu estou reclamando, não. Estou só contando a verdade e contar a verdade não pode fazer mal a ninguém. E a verdade é que a porto-alegrense sou eu; o orgulhoso és tu, mas a porto-alegrense sou eu. Eu já morava nesta cidade quando tu apareceste, o altivo filho de um fazendeiro da fronteira. Faz tempo isto, não é? Petrópolis nem existia, Três Figueiras era mato. Os bondes eram poucos... - Te lembras dos bondes? Bem. Eu era a modesta caixeirinha de um armarinho da Cidade Baixa. Tu, o garboso estudante que varava as madrugadas no Café Central ou no Alto da Bronze, declamando em voz alta os teus poemas. Tu eras o rapaz rico que vinha à loja onde eu trabalhava, trazendo imensos buquês de rosas.

Foi um escândalo, te lembras? O que se cochichava na Rua da Praia! É que desfilavas de braços comigo, desde a Praça da Alfândega até a Igreja da Conceição. Eu nem gostava desses passeios, mas tu ias de cabeça alta, desafiador - enquanto as senhoras e os cavalheiros nos olhavam, escandalizados. Se escandalizavam? Foste mais longe: alugaste para mim uma casa no Menino Deus. E que casa! O antigo palacete de um barão, situado no meio de um verdadeiro parque, com árvores, e estátuas, e um lago com peixinhos vermelhos. Instalaste-me ali porque eu era, dizias, a tua rainha; e de fato, como rainha eu vivia, com criados à disposição e até um carro - um dos primeiros automóveis de Porto Alegre, te lembras? - Um Edsel. Teu pai pagava tudo. Teu pai, o rico fazendeiro, achava que o filho tinha direitos de macho, não importava o que dissessem. Ou o que custasse. Pagava tudo.

E eu? Bem, eu gostava de ti. Gostava mesmo. Por tua causa, saí da casa de meus pais, na Cidade Baixa, e fui morar no palacete como uma cortesã. Mas eu gostava de ti, esta era a verdade.

Teus parentes - ricos fazendeiros como o teu pai, mas fazendeiros da cidade, dos Moinhos de Vento - deixaram de te convidar para festas. O que te irritou mais ainda. Te vingaste, alugando uma casa nos Moinhos de Vento, no reduto dos inimigos. Nos instalaste lá, eu e todos os empregados (só despediste a cozinheira, porque achavas que eu cozinhava melhor do que ela). Vinhas seguido. Não querias morar comigo, porque preferias a tua liberdade, mas vinhas seguido.

Moinhos de Vento... Lindo bairro, de casas finas. Teus parentes estavam furiosos; não te cumprimentavam. Se te encontravam na rua, viravam a cara.

Menos a tua prima, a Rosa Maria. Ela te olhava de esguelha, piscava o olho, travessa que era... Tu sorrias. Vocês se trocavam bilhetinhos. Pensas que eu não sabia? Eu sabia. Mas gostava de ti, esta é que era a verdade. E gostava da casa nos Moinhos de Vento. Um paraíso.

Um paraíso que durou pouco... Decidiste que eu deveria me mudar. Gostavas da casa, e a querias para ti, de modo que tive de sair. Fui para uma casa em Petrópolis. Comigo foram a empregada e o motorista que era também uma espécie de guarda. O jardineiro foi dispensado, porque a casa não tinha jardim; era uma casa relativamente modesta; e depois, para que jardim - era o que perguntavas, e ponderavas: jardim só dá trabalho. Eu gostava de jardim, mas não te respondi nada. Porque gostava de ti.

Casaste com a tua prima Rosa Maria e assumiste um cargo na direção da firma do pai dela. E aí começaste a aparecer cada vez menos; a vida de um homem de negócios é muito atarefada, dizias. Eu concordava, me lembrando da loja de armarinhos.

A cidade progredia e a esta altura eu já não tinha mais motorista, porque Petrópolis contava - me disseste entusiasmado - com transporte abundante, digno de uma cidade moderna: bondes, ônibus.

Petrópolis era realmente um bairro bom, mas com o passar dos anos começou a apresentar inconvenientes. Muitos de teus amigos - médicos, advogados, homens de negócio - moravam ali, além disto, a escola de balé que tuas filhas - duas garotinhas encantadoras - freqüentavam, também era em Petrópolis... Decidiste que eu deveria me mudar.

Me mandaste para Três Figueiras, um lugar que já não era mato, mas que ainda estava pouco povoado. Me instalaste numa casinha simpática. De madeira, mas muito simpática. Chovia dentro, mas eu não te incomodaria me queixando destes pequenos problemas. Vinhas me ver tão pouco que não era justo. Realmente não era justo. E a casa não era feia. Eu me distraía com as lides domésticas - a esta altura já não tinha mais empregada. (Para que empregada, numa casa pequena? - perguntaste, e estavas com a razão. Realmente, estavas com a razão).

Uns anos depois - me lembro muito bem, porque já estava costurando para fora - começaram a aparecer as primeiras casas elegantes nas Três Figueiras. Casas bonitas, as fachadas com pedra decorativa... Achaste que eu deveria me mudar para a Vila Jardim. Um pouco mais afastado, disseste, e tinhas razão; um verdadeiro jardim, disseste, o jardim que te faltava. É verdade que a casa não tinha água nem luz; mas eu não queria te incomodar. Passavas por uma fase de profunda depressão, de angústia existencial. Que é o dinheiro? - me perguntavas. Estávamos os dois com sessenta anos. Qual o sentido da vida? - teus olhos cheios de lágrimas. Eu, quase sem dentes, pensava numa dentadura nova - mas não ousava te pedir nada.

Me disseste para sair da Vila Jardim. O bairro estava ficando muito conhecido, poderiam te ver por lá. Me mandaste morar numa espécie de casa-barco que estava atracada no Guaíba, num lugar deserto, perto do Porto das Pombas. Interessante a casa-barco. Mais barco do que casa; esta, na verdade, era uma simples cabina de madeira coberta com uma lona.

Sacudida pelos temporais de inverno eu te esperava. Em um ano vieste só uma vez, no dia do teu aniversário. Estavas muito deprimido: Rosa Maria tinha morrido, tuas filhas não queriam saber mais de ti, só pensavam em viagens para a Europa. Procuravas as respostas para as grandes questões da vida no zen-budismo. Dizias que deveríamos mergulhar no nada. Eu olhava para a água que entrava no barco e concordava.

Um dia recebi um bilhete teu - trouxe-o o teu motorista, aliás o nosso antigo motorista... Dizias, numa letra muito trêmula, que a vida não tinha mais sentido para ti; que eu deveria soltar as amarras do barco e deixar que as correntes do Guaíba me levassem ao sabor do destino.

Pela primeira vez pensei em não te obedecer. É que eu gosto demais desta cidade, desta Porto Alegre que só avisto de longe e que mal reconheço. Lembro-me que gritei, não! não vou abandonar a minha cidade! E aí resolvi te escrever, lembrando toda a nossa história e te pedindo para voltares atrás em tua ordem.

Espero que recebas esta carta. É que estou escrevendo já do meio do rio - e é a primeira vez que mando uma carta numa garrafa jogada às águas. Mas espero que a recebas e que ela te encontre gozando saúde junto aos teus, nessa linda cidade de Porto Alegre.

 Fonte:
O Moderno Conto Brasileiro.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 649)

Uma Trova de Ademar 

Numa combatividade,
cheia de brilho e de glória,
saber perder, na verdade,
é também uma vitória!
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional 


Poeta nenhum se priva
de certos dengos vitais:
- sem pão, talvez sobreviva,
mas sem ternura.. jamais!
–A. A. de Assis/PR–

Uma Trova Potiguar 


A ausência é tanta, em verdade,
que a minha desilusão
tem a forma da saudade
e os braços da solidão!
–Mara Melinni/RN–

Uma Trova Premiada 


2001  -  UBT-Minas Gerais/MG
Tema  -  FILHO  -  3º Lugar


Da sorte nada reclamo,
pelo direito que exerço
de ter a mulher que eu amo
e um fruto nosso... no berço!
–Edmar Japiassu Maia/RJ–

...E Suas Trovas Ficaram 


A fraqueza é um artifício
que leva alguém, sem escalas,
a abrir as portas do vício
e não saber mais fechá-las!…
–Hermoclydes S. Franco/RJ–

U m a P o e s i a 

Para mim, Ademar é
um poeta diferente,
pois tenho uma opinião
enraizada na mente;
a de que ele hoje em dia
não é poeta, é poesia,
poesia em forma de gente!
–Luis Dutra/RN–

Soneto do Dia 

QUEM?...
Florbela Espanca/PORT


Não sei quem és. Já não te vejo bem...
E ouço-me dizer (ai, tanta vez!...)
Sonho que um outro sonho me desfez?
Fantasma de que amor? Sombra de quem?

Névoa? Quimera? Fumo? Donde vem?...
- Não sei se tu, amor, assim me vês!...
Nossos olhos não são nossos, talvez...
Assim, tu não és tu! Não és ninguém!...

És tudo e não és nada... És a desgraça...
És quem nem sequer vejo; és um que passa...
És sorriso de Deus que não mereço...

És aquele que vive e que morreu...
És aquele que é quase um outro eu...
És aquele que nem sequer conheço...

Fontes:
Textos selecionados por Ademar Macedo
Imagem formatada por Dáguima Veronica

Nilton Manoel (O Poema de Três Versos)

Aproveitei-me deste final de semana chuvoso, para colocar em ordem minha estante de arte-poética, separando os volumes que me servirão de ponto de referência no correr deste ano ímpar. Em meio desta tarefa encontrei o “Itinerário”- livro de autoria de Jacy Pacheco, premiado em 1972, pela secretaria da Cultura, Esporte e Turismo da Guanabara e, editado no ano seguinte elo Instituto Niteroiense de Cultura. O volume foi-me ofertado pelo autor, durante a minha estada em Nova Friburgo-RJ, participando dos Jogos Florais da localidade. O Itinerário tem 66 páginas, sendo que 51 estão divididas entre trovas, sonetos, poemas e haicais. No verso de uma das páginas de apresentação, encontrei um haicai de Luiz Antônio Pimentel:

“Que é um haicai?
É o cintilar das estrelas,
Num pingo de orvalho!”


Daí resolvi envolver-me um pouco mais neste poema e parti para a mineração da arte indo até Hêni Tavares (“Teoria Literária”, Ed.Itatiaia, BH,1971) onde consegui a afirmação de que “poema é o nome genérico de toda composição com intenção poética”. Folheando Aurélio B. Holanda encontrei: “ Haicai - poema japonês formado de três versos dos quais dois de cinco sílabas e um (o 2º) de sete sílabas poéticas”.
 
Além, na “Antologia Luso Brasileira de Wagner Ribeiro”- FTD, Adelino R. Ricciardi (irmão do Sílvio Ricciardi, da ARL) diz-me que Guilherme de Almeida jurava que esse gênero tinha sido criado especialmente para
nós. Eis um exemplo:

“Noite. Um silvo no ar;
Ninguém na estação. E o trem
passa sem parar” (Guilherme)

Na mesma antologia, em crônica extraída do jornal dos Municípios, 1959, Altino de Castro informa que, coube a Guilherme de Almeida, a introduzir rimas (1º e 3º) na composição. Adiante escreve: “Quando foi eleita em Long Beach, miss Universo, a japonesa Akiko Kojima - nome que significa - alegre pequena ilha -, eu me lembrei que não existia melhor modo de homenageá-la, do que compondo, à feição do Oriente, um colar de haicais, para o seu lindo pescoço pagão”. Do colar prendo-me em duas das sete contas:

“Agora são ricos
quimponos, leques, o sonho,
os olhos oblíquos...”

“Na concha do verso
alegre pequena ilha,
o sol do Universo.”


Voltando ao Itinerário de Jacy Pacheco releio alguns deles com rimas ou sem elas:

“Livre é o pensamento,
é porém à flor dos lábios
pássaro detento”.

No exemplo acima o primeiro verso rima com o terceiro e, neste outro, há rima paralela no primeiro com o segundo verso:

“Com sabedoria,
tu pouparás alegria,
para as horas más”.
Já este outro não tem rimas:

“Lagartas e tanques,
apagam sulcos de arados
e semeiam sangue”.

“Uma folha morta,
um galho no céu grisalho.
Fecho a minha porta”.


O verso leonino, como o segundo deste haicai, é o que tem rima nos hemistíquios ou nos membros métricos. Sendo o haicai pequeníssimo poema, o poeta se obriga a um grande poder de síntese para que dentro dessa forma possa revelar com originalidade, mensagem poética que cative o leitor e, perpetue-se através dos tempos.

Fonte:
O Autor

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Manhã)

Hoje resolvi sair para dar uma pescada e andar a cavalo com o Luquinhas.

Como estava aqui no pc com ele, aguardando a chegada de alguns amigos, resolvi mandar esse poema Manhã para vocês.

Esse poema me lembra muito a vida do campo... das manhãs de minha infância.

Um forte abraço.
Sardenberg


Manhã
Antonio Manoel Abreu Sardenberg
São Fidélis/RJ “Cidade Poema”


Boceja o sol nessa manhã risonha
No céu brilhante de nuvens esparsas.
E no cenário do alto da montanha
Em revoada bailam lindas garças.

Na estrada estreita desponta um vaqueiro
Pelo aceiro tocando a boiada
Sob o comando de um feitor faceiro
Todo enfeitado para a namorada.

A manhã rompe enquanto a tarde brota,
E mais um dia foge se esvaindo...
O lusco – fusco no sertão se aporta,

E a cigarra, com seu cantar tão triste,
Dá boas – vindas à noite surgindo
O tempo avança - meu sonho persiste...

Fonte:
O Autor

Paulo Mendes Campos (Menina no Jardim)

Menina no Jardim (Tela de Cícero Dias)
Em seus 14 meses de permanência neste mundo, a garotinha não tinha tomado o menor conhecimento das leis que governam a nação. Isso se deu agora na praça, logo na chamada República Livre de Ipanema.

Até ontem ela se comprazia em brincar com a terra. Hoje, de repente, deu-lhe um tédio enorme do barro de que somos feitos: atirou o punhado de pó ao chão, ergueu o rosto, ficou pensativa, investigando com ar aborrecido o mundo exterior. Por um momento seus olhos buscaram o jardim à procura de qualquer novidade. E aí ela descobriu o verde extraordinário: a grama. Determinada, levantou-se do chão e correu para a relva, que era, vá lá, bonita, mas já bastante chamuscada pela estiagem.

Não durou mais que três minutos seu deslumbramento. Da esquina, um senhor de bigodes, representante dos Poderes da República, marchou até ela, buscando convencê-la de que estava desrespeitando uma lei nacional, um regulamento estadual, uma postura municipal, ela ia lá saber o quê.

Diga-se, em nome da verdade, que no diálogo que se travou em seguida, maior violência se registrou por parte da infratora do que por parte da Lei, um guarda civil feio, mas invulgarmente urbano.

- Desce da grama, garotinha - disse a Lei.

- Blá blé bli bá - protestou a garotinha.

- É proibido pisar na grama - explicou o guarda.

- Bá bá bá - retrucou a garotinha com veemência.

- Vamos, desce, vem para a sombra, que é melhor.

- Buh buh - afirmou a garotinha, com toda razão, pois o sol estava mais agradável do que a sombra.

A insubmissão da garotinha atingiu o clímax quando o guarda estendeu-lhe a mão com a intenção de ajudá-la a abandonar o gramado. A gentileza foi revidada com um safanão. “Dura lex sed lex”.

- Onde está sua mamãe?

A garotinha virou as costas ao guarda com desprezo. A essa altura levantou-se do banco, de onde assistia à cena, o pai da garota, que a reconduziu sob chorosos protestos à terra seca dos homens, ao mundo sem relva que o Estado faculta ao ir e vir dos cidadãos.

A própria Lei, meio encabulada com o seu rigor, tudo fez para que o pai da garotinha se persuadisse de que, se não há mal para que uma brasileira tão pequenininha pise na grama, isso de qualquer forma poderia ser um péssimo exemplo para os brasileiros maiores.

- Aberto o precedente os outros fariam o mesmo - disse o guarda com imponência.

- Que fizessem, deveriam fazê-lo - disse o pai.

- Como? - perguntou o guarda confuso e vexado.

- A grama só podia ter sido feita, por Deus ou pelo Estado, para ser pisada. Não há sentido em uma relva na qual não se pode pisar.

- Mas isso estraga a grama, cavalheiro!

- E daí? Que tem isso?

- Se a grama morrer, ninguém mais pode ver ela - raciocinou a Lei.

- E o senhor deixa de matar a sua galinha só porque o senhor não pode mais ver ela?

O guarda ficou perplexo e mudo. O pai, indignado, chegou à peroração:

- É evidente que a relva só pode ter sido feita para ser pisada. Se morre, é porque não cuidam dela. Ou porque não presta. Que morra. Que seja plantado em nossos parques o bom capim do trópico. Ou que não se plante nada. Que se aumente pelo menos o pouco espaço dos nossos poucos jardins. O que é preciso plantar, seu guarda, é uma semente de bom-senso nos sujeitos que fazem os regulamentos.

- Buh bah - concordou a menina, correndo em disparada para a grama.

- O senhor entende o que ela diz? - perguntou o guarda.

- Claro - respondeu o pai.

- Que foi que ela disse agora?

- Não a leve a mal, mas ela mandou o regulamento para o diabo que o carregue.

 Fonte:
Para Gostar de Ler. antologia escolar.

Arthur Azevedo (A Capital Federal)

Análise por Orestes da Silva Chaves Neto

Quando eu morrer, não deixarei meu pobre nome ligado a nenhum livro, ninguém citará um verso meu, uma frase que me saísse do cérebro; mas com certeza hão de dizer: "Ele amava o teatro", e este epitáfio moral é bastante, creiam, para a minha bem-aventurança eterna
Arthur Azevedo - 1903
–––––––
 Sempre envolvido em questões nacionais, seja no teatro, como no jornalismo e na vida pública, Azevedo registra com "A Capital Federal" sua visão crítica do crescimento urbano e suas contradições através de personagens estigmatizados. E apoiado nesses estereótipos de alguns segmentos sociais, que seguem uma seqüência de quadros que representam uma panorâmica da cidade, o texto mostra eficiência no seu objetivo de apresentar com humor os costumes urbanos do final do século XIX. Seguindo regras de conduta moral, que sublinha a visão do autor da realidade, como também na busca do efeito histriônico, que subverte essa mesma visão, "A Capital Federal", enquanto literatura teatral, propõe leituras que, em princípio, parecem contraditórias. Se concessões são feitas à moralidade vigente, como a punição das personagens que violam as regras do convívio social e com um desfecho que apela para o sentimentalismo, por outro lado o texto explora uma renovação da linguagem teatral, que combina os modelos da cena burlesca com uma composição das personagens, que enquanto tipos, supõe-se baseados na realidade.

 Onde? - A cidade do Rio de Janeiro, se afirmando como a capital do governo republicano, o Grande Hotel, o Largo da Carioca, os Arcos da Lapa, o Largo do São Francisco, a casa de Lola, um salão de baile, o Belódromo Nacional, a Rua do Ouvidor e um sótão fazendo às vezes de moradia.

 Quem? - Uma família do interior de Minas Gerais, uma cortesã, um aposentado, jogadores, comerciantes, cocotes, literatos decadentistas, serviçais e velocistas.

 O Que? - A família chega à capital federal a procura de um rapaz que prometera casamento à filha e nunca mais apareceu. O tal rapaz está envolvido com Lola, a espanhola que tudo faz para lucrar com os homens. E um desses homens será Eusébio, o pai e fazendeiro de Minas, fazendo o percurso do ingênuo mundo rural para o imoral, corrompido e neurótico urbano.

 Quanto às personagens, podemos notar o recurso de oposição, como por exemplo o que ocorre entre a cocote espanhola Lola e o fazendeiro Eusébio, e também o deslocamento de algumas personagens do ambiente rural para o urbano, como no caso da família que chega do interior de Minas, em especial em Benvinda,- na qual é operada uma transformação, tornando o desajuste entre a sua origem de escrava e a nova posição de cocote uma seqüência em que o humor está presente na impossibilidade da sua mobilidade social.

 O primeiro quadro, ambientado no Grande Hotel da Capital Federal, cantado nas coplas da abertura como excepcional pelo gerente, criados e hóspedes, em meio a uma marcação de movimentos ágeis, é também o lugar que serve de ponto de partida dos personagens, onde apresentam suas características e intenções.

 Revelado isso, partem em busca dos seus objetivos, que para Lola é encontrar Gouveia, um jogador que, em função de ser seu amante, exige que a presenteie com bens materiais. Encontrar o jogador quer também Eusébio, o fazendeiro, para cobrar uma promessa de casamento que fez à filha Quinota, quando passou por São João do Sabará como um caixeiro viajante. E correndo por fora está Figueiredo, aposentado que aprecia mulatas e se empenha em lançá-las socialmente, interessando-se portanto por Benvinda, a agregada da família interiorana.

 Dada a partida, os tipos já intensamente caracterizados, e assim compondo a encenação com base no estereótipo, atravessam a representação cenográfica de lugares que representam a capital federal, recorrendo a meios para conquistar seus objetivos que denotam, em alguns casos, total ausência ética e moral. Nesse campo fértil, Azevedo, já experiente na expressão cômica, tanto no teatro como em sua produção literária, combina gêneros de teatro popular, e assim expressa, entre buscas e fugas desabaladas, através de questão relevantes da época, como os vícios, a corrupção e os amores venais.

AS PERSONAGENS:

 Lola, a inescrupulosa cortesã, metaforizada a partir de suas relações econômicas, em que o seu valor de troca é a própria sexualidade, manipulando os desejos masculinos para o seu proveito material, atinge o mais alto grau de mordacidade da peça e assim oferece ao público uma inversão de valores, trazendo ótimos resultados cômicos. Suas investidas são sempre voluptuosas, como podemos notar nas suas aparições, primeiro em busca por Gouveia, no Grande Hotel e em lugares públicos, depois na festa à fantasia, que traz uma referência clara a um tipo de espetáculo comum da época nos quais prepondera o apelo erótico, e por fim no Belódromo, o quadro onde todas as personagens se reencontram.

 Integrando os tipos femininos está a mulata Benvinda, ou como diz o aposentado Figueiredo: "trigueira, por ser menos rebarbativo" , - em um jargão que anuncia suas intenções , que de serviçal é promovida à dama de sociedade, mas nas entrelinhas revela o papel de cortesã. A personagem, em suas novas atitudes e vestimentas quando muda de classe social,- sempre inadequadas ao contexto, estiliza a gafe como efeito cômico a partir das possibilidades de contraste entre a raça negra e o estilo europeu,- que seriam um figurino com exagero de cores e formas, e também sua inabilidade com os termos em francês, exibindo uma seqüência de disparidades. Vale lembrar que o grande sucesso que esse tipo teve fez proliferar nos palcos brasileiros, nos primeiros decênios do século XX, o estereótipo da mulata faceira e sensual.

 Fortunata, a mãe de família rural, avessa às veleidades da vida urbana, busca a reintegração do seu lar, seja pelo casamento da filha com Gouveia ou na busca pelo marido, que a abandona para se envolver com Lola. Reagindo com estranhamento às relações instituídas pelos vícios da cidade, que dela tiraram o noivo da filha Quinota, a agregada Benvinda e o marido Eusébio, mantém no desenrolar do espetáculo uma certeza moral, mesmo expressa de forma rude, e consegue a façanha de ser a grande redentora final. Mas essa vitória se deve mais ao insucesso dos planos das outras personagens que as suas atitudes, norteadas pela vontade de retorno à vida rural. Prejudicada por toda espécie de exploração, seja quanto à moradia, que a leva a viver em uma espelunca, quanto à estrutura familiar, com a ausência do pai provedor, envolvido com a sedutora espanhola, sua participação toma importância no final. É quando, em um desfecho inverossímil, recolhe as "ovelhas desgarradas do seu rebanho", para junto a ela retornar ao seu meio, que sendo rural, representa na peça virtudes perdidas com a degenerescência da ordem urbana.

 Dos personagens masculinos, podemos dizer que geralmente são acometidos pelo "micróbio da pândega", expressão da época para definir a susceptibilidade dos homens aos amores venais e ao jogo, e assim desestruturando a família. E é nessa área de conflito, entre a tradição moral e a licenciosidade, que os homens transitam, deflagrando toda uma série de movimentos, por vezes por serem procurados, outras por estarem à procura. Essa dualidade é nítida nas palavras de Décio de Almeida Prado (in "O Tribofe", posfácio, 274):

 "...A malícia de "A Capital Federal", peculiar ao teatro da passagem do século, nasce precisamente dessa ambigüidade, desta luta meio escondida, meio declarada, entre a força do sexo e a percepção aguda das convenções sociais, entre o que o indivíduo quer e o que a sociedade solicita dele em termos de compostura moral".

 Dentro dessa perspectiva moral temos Eusébio, o fazendeiro, em princípio defensor da tradicional família (mineira) "descendo ao inferno" para buscar o já corrompido noivo fujão Gouveia. Eusébio, personagem do ator Brandão, que fizera tanto sucesso em "O Tribofe", e que o teria feito a insistir para que Azevedo criasse um novo texto, que viria a ser "A Capital Federal", é quem em suas peripécias faz que extratos sociais apresentem suas intenções, nem sempre as melhores. O seu envolvimento com Lola, que viria depois a ser desmascarada como falsa espanhola, sua incursão no mundo das regras sociais, rendendo muita comicidade, que atinge o ponto alto da peça na festa à fantasia e, por fim, o seu retorno (arrependido) à tradição familiar, confere ao personagem uma posição de destaque em relação aos outros. Suas decisões e atitudes refletem no movimento cênico, sempre desencadeando outras ações: a chegada à capital federal com a missão de procurar o noivo da filha, que por sua vez irá possibilitar a relação de Benvinda e Figueiredo e a dele próprio com Lola, que o faz abandonar a família.

 Figueiredo, logo no início apresentado pelo gerente do hotel como "o verdadeiro tipo do carioca: nunca está satisfeito", e que justifica sua especialidade em lançar mulatas pelo fato de ser "solteiro, aposentado e independente", assedia insistentemente a mulata Benvinda, para depois encarregar-se da sua transformação de serviçal roceira em uma dama da sociedade. Suas tentativas de ensinar a mulata, como na passagem em que se encontram no Largo de São Francisco, em que o próprio Figueiredo caminha como uma dama como demonstração, alcançam proporções hilariantes. A entrada dos dois personagens na festa à fantasia na casa de Lola, vestidos de Radamés e Aída, e a sucessão de gafes cometidas por Benvinda, rebatizada Dona Fredegonda, deixando Figueiredo apreensivo, resultam em diálogos carregados de humor. Este, aliás, que tem como único objetivo lançar mulatas, mesmo sendo um dos personagens principais, não interfere diretamente no enredo. Sempre esquivo às investidas de outras personagens, principalmente de Lola, cheio de exigências quantos às regras, o que o torna irritadiço, e com apartes sarcásticos, Figueiredo atravessa toda a ação paralelamente; interagindo com todos os outros personagens formalmente, que se altera nas suas cenas com Benvinda, revelando toda a sua ironia. Além disso, sua presença serve para "costurar" as cenas da trama principal e algumas vezes chegando a concluí-la, quando na passagem que encontra e lê a carta do cocheiro Lourenço para a patroa Lola, avisando que tinha roubado todas as jóias e dinheiro da falsa espanhola.

 Gouveia, o galã enrascado, sendo procurado por todos os lados, tanto pela família mineira, como por Lola, e dividido entre a compulsão ao jogo e o amor romântico de Quinota, entra em um processo de decadência decorrente do vício. As passagens que aparece pontua a sua descida à completa miséria, que logo será percebida por Lola, que o expulsa de casa, no começo do quadro da festa à fantasia, adequadamente vestido de "Mefistófeles". Daí, aparece redimido com Quinota e Fortunada no quadro do Belódromo, para depois, completamente falido, novamente sumir. E o seu retorno deve-se ao encontro com o arrenpedido Eusébio, que juntos resolvem voltar ao convívio da família. E nos momentos finais, em uma solução arbitrada pelo fazendeiro,- que o faz sócio na fazenda e se case com Quinota, que Gouveia se livra definitivamente do tal "micróbio da pândega".

 Completando o painel social, temos vários personagens secundários, sendo os mais expressivos: Quinota, a mocinha romântica, Lourenço, o serviçal cúmplice e amante da cortesã, Duquinha, o pretenso poeta decadentista, Pinheiro, o agiota e pai de família falso-moralista e Juquinha, a criança mimada e irrequieta. E também a exigência constante de um grande número de figurantes na maioria das cenas, como por exemplo os hóspedes e criados do hotel, cocotes, transeuntes, velocistas, apostadores e convidados do baile à fantasia.

O CENÁRIO:

 A cenografia representava, no teatro popular brasileiro do final do século XIX, um recurso indispensável para a realização de gêneros que necessitavam de efeitos espetaculares e grandiosos cenários, e assim criando momentos apoteóticos, para delírio da platéia. Com o crescente interesse do público pelos efeitos cenográficos e todas as novidades que eles podiam proporcionar, toma importância, em alguns casos mais que o autor e o diretor do espetáculo, a figura do cenógrafo, que podemos citar como os mais importantes os italianos radicados no Brasil: Gaetano Carrancini e Oreste Oliva. Acerca dessa forte tendência plástica do teatro, vale registrar a avaliação de Décio de Almeida Prado (in "O Tribofe", 266):

 "... mais que a maestria do autor e dos intérpretes, o talento criador e os conhecimentos técnicos do cenógrafo, a sua engenhosidade em tirar proveito daquelas complicadas máquinas que no século dezenove cercavam o palco, escondendo-se por trás dos bastidores, acima das gambiarras e por baixo do tablado. A função delas era produzir uma espécie de realismo ingênuo, material, que o realismo fotográfico do cinema, muito mais convincente, logo tornaria obsoleto, dando outros rumos ao teatro".
 Azevedo, mesmo preocupado com a importância do texto que a cenografia tornava menor, conta com a colaboração desses profissionais para a montagem de suas revistas e operetas cômicas. Em "A Capital Federal", que tinha Carrancini como cenógrafo, encarregado de criar uma panorâmica sobre a cidade do Rio de Janeiro, com mutações constantes que desencadeia uma ação ágil, encurtando as falas e assim não permitindo um aprofundamento das personagens, e, nesse aspecto, aproximando-se do espírito do teatro de revista. O final confirma essa vocação com a ausência total de atores, em uma "apoteose à vida rural", na qual a música e os efeitos cênicos suprimem o texto. Quanto a essa questão das "modalidades de teatro musicado ter presidido a elaboração da "A Capital Federal"", acrescenta muito a transcrição de Prado (O Tribofe, 277) das palavras de Olavo Bilac, cronista e crítico, sobre o espetáculo de estréia:

 "E há uma pancada seca no bombo e nos timbales da orquestra, e abre-se o fundo da cena, e, por uma tarde batida de sol, aparecem os arcos da Carioca, e, sobre eles, o bonde elétrico voando - numa esplêndida cenografia de Carrancini... E o pano cai, ao reboar dos aplausos."
 Bilac refere-se, é claro, ao final do primeiro ato, no último quadro que têm apenas uma cena e uma única fala de Eusébio (- Oh! A Capitá Federá! A Capitá Federá!...), em um momento que a maquinaria teatral, exibindo sua exuberância com finalidade apoteótica, minimiza a importância do texto, equiparando-se à mágica, que se utilizava desses recursos cênicos nas suas temáticas sobrenaturais.

FIGURINO E ADEREÇOS:

 Ao propor a composição de tipos, e por isso basear-se na observação dos costumes, a burleta de Arthur Azevedo recorre aos mais diversos padrões de vestuário, de acordo com as personagens e as situações que se encontram. Em princípio uniformizadas em suas funções sociais, como caipiras, cocotes, burgueses, serviçais, para depois falsear a representação da realidade, no caso da transformação de Benvinda, e, mais longamente, envolvendo várias personagens, na festa à fantasia, com pretexto de criar a ilusão, revela verdades subjacentes, que surge na inadequação dos tipos rurais às suas fantasias, em contraponto ao glamour oferecido pelos representantes do meio urbano. Eusébio, vestido de pricês, se embebedando com ponche flamejante, e Benvinda, como Aída, sendo conduzida e "lançada" por Radamés ( Figueiredo), em meio à cocotes e convidados fantasiados, possibilitam tonalidades berrantes, que, juntamente com a música e a dança, confirmando semelhança com a opereta.

 E no quadro do Belódromo, quando a todo momento uma personagem sente a aproximação da chuva, anunciando uma apoteose onde guarda-chuvas abertos, agitados por perseguições e fugas, mais do que acessórios de cena, servem para compor plasticamente o espetáculo. Recurso, aliás, que estará sempre presente conforme as situações apresentadas: como as malas dos hóspedes do hotel na abertura, a bagagem da família caipira chegando à capital (malas, trouxas e embrulhos), as lunetas (face-en-main) de Figueiredo e Benvinda, a bicicleta de Juquinha, os indispensáveis chapéus, muitas jóias e, mesmo sem indicação no texto, um leque para completar o disfarce de espanhola de Lola.

A MÚSICA E A FALA:

 No final do século XIX, as influências lingüísticas na sociedade brasileira lutavam com a imposição da língua padrão. Nesse aspecto, Azevedo, mesmo sendo um erudito, registra em sua obra uma forma de falar próxima da realidade da personagem, como recurso de caracterização. Em "A Capital Federal", a fala das personagens, cristalizadas em seus próprios erros, no caso das personagens rurais, ou nos estrangeirismos, nas urbanas, conferem aos diálogos o maior recurso de efeito cômico. O exemplo de Benvinda, alçada a uma nova condição social, sendo ensinada por Figueiredo a mudar da rudimentar fala rural para o modo de falar da capital, cheio de galicismos, é um dos pontos altos da peça, entre outros, que usam desse recurso.

 Essencial à realização do espetáculo, a música, em "A Capital Federal", que se encontrava entre o erudito e o popular e sem correspondente aos padrões atuais, foi composta por quem possuía formação profissional apurada. Rejeitando as formas de música popular, cantado nos circos, por seresteiros e trovadores de rua e que só eram aproveitadas, vez ou outra nas revistas, para caracterizar a origem humilde da personagem, a música de teatro da época adaptava ao limite artístico nacional o modelo europeu para revistas e operetas. E inspirada na opereta de Offenbach: La Vie Pariense, compara Prado (in "O Tribofe", 278),"a opereta ganhava intensidade em um momento de alegria furiosa" quando "no instante em que os fios do enredo, tendo atingido o auge do entrelaçamento, começam a caminhar para a tranqüilidade do desenlace", e apropriadamente colocado no centro da peça, como nesta cena:

 Lola:
 Dancem! Dancem! Tudo dance
 Ninguém canse
 No cancã
 Pois quem se acha aqui presente
 Tudo é gente
 Folgazã!
 (cancã desenfreado em torno à mesa)
 E em La Vie Pariense, a cena correspondente:

 Tous, reprenant:
 Fez partout!
 Lâchez tout!
 Qu'on s'élance,
 Que l'on danse! etc. etc.
 E Azevedo, explicando a criação de uma opereta cômica a partir de "O Tribofe", uma revista do ano, e suas opções musicais, conclui com essas palavras, conforme transcrição de Prado (in "O Tribofe", 271):

 ..., resolvi escrever uma peça espetaculosa, que deparasse aos nossos cenógrafos, como deparou, mais uma ocasião de fazer boa figura, e recorri também ao indispensável condimento da música ligeira, sem contudo, descer até o gênero conhecido pela característica denominação de maxixe. 
 Foram conservados alguns bonitos números da partitura do Tribofe, escrita pelo inspirado Assis Pacheco, e introduzida uma linda valsa, composta por Luís Moreira. Da composição de todos os demais números, que não são poucos, em boa hora se encarregou o jovem Nicolino Milano, talento musical de primeira ordem, a quem está reservado um grande futuro na arte brasileira.

 Mais uma vez, o autor maranhense, ao louvar os seus colaboradores, revela a receita da sua grande popularidade, ao se aliar, sem preconceitos, aos meios de expressão artística ora definidos como comerciais. Sempre defensivo quanto ao estigma de agente da decadência do teatro brasileiro em suas respostas à crítica que o condenava, Azevedo conseguiu, em sua enérgica trajetória de homem de teatro, transpor os limites que os gêneros populares impunham, e registrar, em "A Capital Federal", um padrão para o humor nacional e uma valiosa descrição dos costumes de uma época decisiva na formação da sociedade urbana brasileira. Hábil na caricatura de personagens, e com isso manipulando-os para alcançar o seu maior objetivo: comunicar-se com grandes platéias, o autor constrói tipos anedóticos, antecipando um conceito de humor que tanto proliferou no teatro popular brasileiro, calou-se no getulismo e voltou licencioso no pós-guerra, rebatizado de "Teatro de Revista". A mulata faceira e sensual, o caipira ingênuo, a cortesã estrangeira, o corrupto e tantos outros, são tipos que habitam o imaginário popular e até hoje encontram espaço no cenário do humor nacional. Em meio a todas as inovações tecnológicas, Arthur Azevedo mantém-se firme no seu maior desejo: fazer o povo rir.

Fonte:
http://www.mafua.ufsc.br/orestes.html

Jacqueline Aisenman (Convite do Varal do Brasil)

VARAL ESTENDIDO!

Convidamos as pessoas que gostam de escrever para falar da infância e o convite foi aceito por muitos! Então aqui estamos, falando não só da Nossa Infância, mas da infância de todos. Desde as infâncias felizes até a mais triste delas.

Lembrar da infância não é fácil para todo mundo, assim também é falar dela. O que para muitos é algo gostoso e que pode se repetir escrevendo o que vem da memória, para outros pode ser doloroso demais. Por isto agradecemos a tantos que vieram, atenderam o apelo e falaram da infância com alegria ou com tristeza.

Quando se pensa em criança é automático: pensamos em doces! Vida doce, festa, tudo doce! Então fomos buscar algumas receitas culinárias que visitassem nosso paladar infantil, aquele que, como um pequeno pecado, muitas vezes ainda provamos e adoramos!

Como vocês devem ter percebido nossas férias foram alegremente interrompidas pela edição de um especial, o Varal do Amor. Foram publicados cinquenta autores. Mas recebemos muitos, muitos mais. E a sugestão de fazer uma sequência. Quem sabe? Quem sabe não faremos em breve?

Atendemos com alegria, em meio a todas as histórias e poemas sobre a infância, o chamado da seriedade de uma publicação científica e publicamos o artigo de André Valério Sales intitulado Particularidade, Universalidade e Singularidade: definindo conceitos fundamentais para a Metodologia da Pesquisa em Ciências Sociais e que por ele será apresentado na universidade que frequenta. Talvez um sonho de criança que se realiza!

Em meio a tantas alegrias, uma notícia triste vem fazer parte do Varal. Nossa Livraria, infelizmente, encerrou suas atividades. Não foi possível manter o sonho de comercializar nossa nova literatura, nossos novos autores aqui na Europa! Constatamos que pouquíssimos brasileiros aqui na Suíça buscam esta literatura. A grande maioria ainda se atém aos autores consagrados ou prefere apenas adquirir os livros diretamente no Brasil quando vai em visita. Desta forma, profundamente tristes, fechamos as portas desta livraria que tinha o sonho de ver seus autores brilhando por aqui! Mas nem tudo foi perdido, pois depois do sucesso que foi nossa participação no 26o. Salão Internacional do Livro de Genebra, os livros, cedidos por grande parte dos escritores presentes na livraria, estão sendo doados a várias bibliotecas suíças que demonstraram imenso interesse nos exemplares. São os novos autores brasileiros cruzando fronteiras através do Varal do Brasil!

Estamos com as inscrições abertas para a seleção de textos para o livro Varal Antológico 3. Surpresos com a variedade e quantidade de textos a ler, nossos examinadores estão felizes de observar a qualidade destes mesmos textos. E começamos a lamentar que as vagas sejam limitadas! Você ainda tem tempo para se inscrever e pode solicitar o regulamento através do nosso e-mail varaldobrasil@gmail.com . O livro Varal Antológico 3 terá revisão completa incluída e editoração pela Design Editora, símbolo de qualidade na edição de livros no Brasil.

Amigos do Varal, nos preparamos para, em novembro, festejar nossos três anos de revista. Traremos o tema livre, festejaremos juntos. Esperando você para a festa de novembro.

Sua equipe do Varal

Jacqueline Aisenman
Editora-Chefe
Varal do Brasil

http://www.varaldobrasil.com
http://varaldobrasil.blogspot.com
http://www.facebook.com/jacquelineaisenman
Representante da REBRA na Suíça
Conselheira Interanacional da LITERARTE
Embaixadora Universal da Paz -Cercle des Ambassadeurs Univ.de la Paix-Genebra, Suiça,
Delegada da UBT (União Brasileira de Trovadores)
Membro da União Brasileira de Escritores (UBE)
Membro Correspondente da Academia de Teófilo Otoni
Membro do Grupo de Escritores Lagunenses Carrossel das Letras
Membro Correspondente da Academia de Artes de Cabo Frio (ARTPOP)
http://www.facebook.com/pages/VARAL-DO-BRASIL/107298649306743


Fonte:
Varal do Brasil.

Fábio Lucas (Lançamento de “Peregrinações Amazônicas - História, Mitologia, Literatura”) em São Paulo, 30 de agosto

LETRASELVAGEM e ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS convidam para o lançamento do livro "PEREGRINAÇÕES AMAZÔNICAS - HISTÓRIA, MITOLOGIA, LITERATURA", de FÁBIO LUCAS.

LOCAL: Átrio da Academia Paulista de Letras (APL) –

Largo do Arouche, 324 – São Paulo / SP / Brasil.

DATA: 30 / agosto / 2012 (quinta-feira), a partir das 18h30 horas.

O LIVRO

A “realidade amazônica” desponta, neste livro de Fábio Lucas, autêntica e íntegra, como relembrança de uma “viagem” mais sentimental do que geográfica. Não mais o olhar alienígena – autossuficiente, arrogante e muitas vezes deformador – do naturalista, aventureiro ou “turista”, que insistia em afirmar que a Amazônia era apenas um espaço vazio e acéfalo, infestado de insetos, répteis e índios indignos de continuarem vivos.

Em suas “peregrinações”, Fábio Lucas escutou (e “eufonizou”, como diria Abguar Bastos, o paraense que propagou o Modernismo na Amazônia) as melhores vozes deste Brasil das catedralescas florestas e de uma malha fluvial com cerca de 4.000 rios; um Brasil muito falado e ainda tão pouco conhecido, embora represente 60% do território brasileiro; um Brasil que gera “preocupação” e desperta a cobiça nacional e estrangeira.

A Amazônia aguardava um livro como este de Fábio Lucas, que a interpretasse com senso crítico e sensibilidade, lançando luzes sobre questões mal-resolvidas. O estilo “grandíloquo e aliciante” de Euclides da Cunha, que ainda causa perplexidade em muitos, não paralisou o pensador social, o crítico literário meticuloso, que não titubeia em apontar-lhe os acertos – como, por exemplo, a atitude crítico-assimilativa que Euclides utilizou, “sem passividade e sem basbaquice”, em face da ciência estrangeira (p.68). Mas também mostra os erros, como o de considerar o sertanejo uma “sub-raça”, o negro e o índio “raças primitivas” e o cruzamento étnico “um desastre genético” (p.65).

Fábio Lucas observa que, não raro, o contexto de uma natureza física “grandíloqua e majestática” termina por invadir o texto da maior parte dos que se atrevem a movimentar personagens no cenário amazônico.

Com um olhar seletivo sobre o que já se pensou e escreveu “na” e “sobre” a Amazônia, Fábio Lucas estabelece um roteiro seguro e indispensável para quem quiser tomar posse do conhecimento existencial e filosófico dessa outra Amazônia que o Brasil e o mundo desconhecem – uma Amazônia pensante, sensível, inteligente, representada por escritores, poetas, ficcionistas, historiadores, sociólogos e filósofos de grande valor, como João de Jesus Paes Loureiro, Olga Savary, Thiago de Mello, Jorge Tufic, Astrid Cabral, Aníbal Beça, Age de Carvalho, Márcio Souza, Ferreira de Castro, Abguar Bastos, Inglez de Souza, Dalcídio Jurandir, Benedicto Monteiro, Nicodemos Sena, Leandro Tocantins, José Veríssimo, Arthur Cezar Ferreira Reis, Benedito Nunes... e tantos outros nomes significativos que passam pelas páginas deste livro imprescindível.

Fábio Lucas também amplia e enriquece o painel das ‘letras amazônicas’, tornando-o ainda mais representativo, ao incluir no seu campo de análise as obras de Ferreira Gullar e Nauro Machado, dois ícones da poesia do Maranhão, Estado situado em zona de transição entre o Norte e o Nordeste brasileiros, e que, histórica e geograficamente, mantém fortes vínculos com a Amazônia.

O AUTOR

Fábio Lucas nasceu em Esmeraldas (MG), no dia 27 de julho de 1931. Professor, ensaísta, tradutor, crítico e teórico da Literatura, lecionou em seis universidades norte-americanas, cinco universidades brasileiras e uma portuguesa. Dirigiu o Instituto Nacional do Livro em Brasília, bem como a Faculdade Paulistana de Ciências e Letras. É autor de mais de 50 obras de crítica e ciências sociais. É considerado um dos mais importantes críticos e conferencistas internacionais da Literatura Brasileira.

Em seu discurso de posse na Academia Mineira de Letras, em 19 de outubro de 1961, disse: “O livro é o objeto de quase todas as horas de que disponho”. Com tal paixão tornou-se um dos principais membros da geração literária mineira que fundou, em Belo Horizonte, as revistas “Vocação” (1951) e “Tendência” (1957), em cujas equipes participaram o poeta Affonso Ávila e o romancista Rui Mourão.

Em 1953, Fábio Lucas graduou-se em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais, e, em 1963, concluiu doutorado em Direito Público, em Economia e História das Doutrinas Econômicas pela Fafich/UFMG. Na mesma Universidade, tornou-se professor de Teoria da Renda e Repartição da Renda Social na Faculdade de Ciências Econômicas, em que teve mestres como Emílio Moura e Francisco Iglésias como colega, sofrendo perseguições durante os sombrios anos da ditadura militar (1964-1975), quando lhe retiram a cadeira em que lecionava, o que o obriga a partir para o exterior.

Em sua extensa produção, destacam-se: Poesia e prosa no Brasil: Clarice, Gonzaga, Machado e Murilo Mendes (1976), Vanguarda, História e ideologia da literatura (1985), Fontes literárias portuguesas (1991), Do barroco ao moderno (1989), Mineiranças (1991), Cartas a Mário de Andrade (1993), Jorge de Lima e Ferreira Gullar, o longe e o perto (1995), Luzes e Trevas, Minas Gerais no séc. XVIII (1998), Murilo Mendes, poeta e prosador (2001), Literatura e comunicação na era da eletrônica (2001), Expressões da identidade brasileira (2002), O poeta e a mídia: Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo (2004), O poliedro da crítica (2009), O centro e a periferia de Machado de Assis (2010), Ficções de Guimarães Rosa: perspectivas (2011). Na ficção, produziu o romance A mais bela história do mundo (1996). Com O caráter social da literatura brasileira (Paz e Terra, 1970) conquistou o Prêmio Jabuti de Literatura, no setor “Estudos Brasileiros”, concedido pela Câmara Brasileira Livro. (Obs: O caráter social da literatura brasileira oferece um roteiro ímpar, seguro e obrigatório, para quem busca os melhores caminhos na brumosa seara das narrativas de cunho social no Brasil). Razão e emoção literária recebeu o Prêmio Crítica, “Os Melhores do Ano de 1982”, da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Em 1992, Fábio Lucas ganhou o Prêmio Juca Pato, como Intelectual do Ano, concedido pela União Brasileira de Escritores, juntamente com o jornal “Folha de São Paulo”. Em 2006 obteve o Prêmio Conrado Wessel na área de Literatura.

Quando da comemoração de seu aniversário, em 1997, em homenagem prestada pela grande imprensa de Minas Gerais, o escritor e jornalista Roberto Drummond definiu Fábio Lucas como o que há de melhor na Crítica no Brasil, ao lado de Antonio Candido e de Wilson Martins.

Acrescente-se que o compromisso do crítico Fábio Lucas, ao longo de seis décadas de intensa militância intelectual, estendeu-se para o campo das lutas cívicas. Todas as vezes em que a liberdade de organização e de expressão do pensamento esteve ameaçada, Fábio Lucas repudiou publicamente o autoritarismo.

Em 1984, por exemplo, participou do movimento político que exigia a redemocratização do Brasil. Como presidente, por cinco vezes, da União Brasileira de Escritores (UBE-SP), Fábio Lucas manteve a independência da instituição frente aos setores do livro ligados ao “mercado”, bem como resistiu às pressões do Estado – quer o Estado totalitário, implantado pelos militares em 1964, quer o Estado “democrático” que se lhe seguiu, o qual, já não com as armas impopulares da ditadura, mas com o emprego “simpático” (e legal!) do dinheiro público, tem aliciado e silenciado consciências.

Vice-Presidente da primeira Diretoria da Associação Brasileira de Direitos Repográficos (ABDR) como representante dos escritores, notabilizou-se pelo combate à pirataria e à fraude ao direito autoral. Foi membro titular do Conselho Nacional de Direito Autoral (CNDA) de 1989 a 1991.
Organizou, em 1985, o Congresso Internacional de Escritores do Brasil, em São Paulo, com a presença de 1200 escritores. Esteve, em 1995, na organização do primeiro Congresso de Escritores do interior de São Paulo. Também, em 1995, participou da organização do Congresso de Escritores do Mercosul.

Mais recentemente, Fábio Lucas presidiu a comissão de escritores que redigiu o Manifesto dos Escritores Brasileiros, que resultou das discussões, análises e deliberações do Congresso Brasileiro de Escritores, que se realizou de 12 a 15 de novembro de 2011, na cidade de Ribeirão Preto (SP).

Saindo da pequena Esmeraldas, Fábio Lucas soube conquistar – com trabalho, inteligência e a notória “prudência mineira” – todos os lugares por onde foi passando, até fixar-se na cosmopolita São Paulo, que acolheu a este ilustre mineiro e concedeu-lhe assento na Cadeira 27 da Academia Paulista de Letras (APL).

Fonte:
Letra Selvagem

Neida Rocha (Lançamento de Tres Livros) 6 de Outubro em Canoas/RS



AMOR DE ALMA de Neida Rocha
Coletânea do Concurso Literário – Núcleo UBE – Canoas/RS
Coletânea Delasnieve Daspet & Amigos – Núcleo UBE – Canoas/RS

Fonte:
Neida Rocha