domingo, 14 de junho de 2015

Trovador Homenageado : Antonio de Oliveira


A esperança é aquele brio
com que a magia da vida
mantém aceso o pavio
sobre a cera derretida!

A fonte da vida orvalha
a tinta branca da idade
e a brisa do tempo a espalha
nos cabelos da saudade!

Ante a dor não retrocedas,
leva ao longe a tua história,
que é nas pedras, não nas sedas,
que se alicerça a vitória!

A saudade me emociona
quando me mostra à distância
o tempo baixando a lona
do circo da minha infância!

A solidão, de verdade,
inteira nunca se tem:
– Ser só é ter a metade
da solidão de outro alguém!

Beija meus lábios risonhos,
que os teus eu beijo também!
Quem tem a idade dos sonhos,
não mede a idade que tem!

De saudade, errante e solto,
meu amor é nada mais
que a espuma de um mar revolto,
lançada às pedras do cais!

É no garimpo do lixo,
do pão que o rico não come,
que a Miséria, com capricho,
põe-se a matar sua fome!

Entre a miséria do povo,
em cada mão que se tome,
haverá um pulso novo
algemado à velha fome!

Entre aqueles que se querem,
nos momentos de emoção,
o que os lábios não disserem,
por certo os olhos dirão!

Entre a opulência das ceias
as orações se reduzem,
que as bocas, quanto mais cheias,
menos palavras produzem!!!

Este é o homem: – Ser aflito,
que ao longo da História, a esmo,
busca encontrar o infinito,
mas não encontra a si mesmo!

Feito um lírio em minha sala,
o teu corpo sedutor,
quanto mais se despetala,
tanto mais parece flor!

Folhas caídas no outono,
são, na minha tradução,
sonhos, que as noites sem sono
vão derrubando no chão!

Meu coração é um menino
que, domando o tempo e a idade,
monta em pêlo o seu destino
e cavalga à eternidade!

Minha velhice, ao teu toque,
vai de assalto à meninez:
– toma-lhe um sonho do estoque
e ousa sonhá-lo outra vez!

Noite de inverno... Alguém geme...
Passam pessoas na praça...
Frio – o corpo do que treme.
Frio – o peito de quem passa!

Nos porões da Sociedade
há vertentes de excrescência
cuja fonte é a impunidade;
cuja foz é a violência!

Nosso beijo ao fim do baile,
ao nos levar aos extremos,
foi convite escrito a braile
que mesmo cegos nós lemos!

O amor é a grande avenida
com que a mão da divindade
liga os primórdios da vida
aos confins da eternidade.

O lençol, conforme o assentas,
traz-me a imagem fugidia
de um mar, que após as tormentas,
amanhece em calmaria!

Olho as nuvens que se embrenham
num céu de angústia e ansiedade
e nos rostos que desenham
vejo o rosto da saudade!

Onde o ensino é relegado
e as letras não têm valor,
há de pagar ao soldado
quem não paga ao professor!

O orgulho é uma das falhas
que mais tolhem horizontes,
quando insiste em pôr muralhas
onde é preciso haver pontes!

O palhaço - assim o creio -
é aquele artista, preciso,
que entalha no rosto alheio
a perfeição de um sorriso!

Por que, no mal que agasalho,
tenho de rir, gracejar,
se mesmo as plantas, no orvalho,
encontram como chorar?

Poucos brinquedos a idade
ora reserva a esta vida:
– Resta brincar de saudade
com quem brincou de partida!

Prato de vidro, vazio,
feito um espelho, em teu fundo
refletes o olhar sombrio
das injustiças do mundo!

Queimado, o arbusto parece
ter, nos galhos, a expressão
de mãos, que postas em prece,
rogaram clemência... em vão!

Sem portas, trancas ou chaves,
sem guardar um só guinéu,
eu quisera, como as aves,
residir no azul do céu!

Se tu dizes que é pecado
e eu nem sei mais o que digo,
esquece! Deita ao meu lado!
Peca de novo comigo!

Tempo, em meu rosto conjugas
os verbos “ser” e “sonhar”:
– um, na verdade das rugas;
outro, no brilho do olhar!

Tua beleza insinua,
em seu perfil sensual,
que uma orquídea, quando nua,
teria nudez igual!

Vive melhor quem caminha
buscando a melhor receita;
– quem não prova da farinha,
não vê de que trigo é feita!

Xícaras brancas na mesa
e o pão, cortado em fatias,
ornam de inútil beleza
nossas cadeiras vazias!
________________________




Antonio de Oliveira nasceu em Ribeirão Pires/SP, em 27 de março de 1965, filho de Oswaldo de Oliveira e Sílvia Ribeiro Gonçalves de Oliveira. Formado em Engenharia Mecânica, pela Universidade de Mogi das Cruzes. Trabalha na indústria desde os 14 anos. Começou como Aprendiz do SENAI, na Brosol, indústria de Carburadores, por 9 anos. Na Brastemp (hoje Whirlpool SA) por 21 anos e hoje é Gerente Industrial na Carhej Ltda., uma empresa metalúrgica de médio porte, na cidade de Rio Claro, onde reside atualmente.
            Começou na Trova em 1983, com o poeta sergipano Afonso Vicente Ferreira, na época, Delegado da UBT em Ribeirão Pires. Foi por algum tempo membro da diretoria da UBT Seção São Paulo e, desde que mudou para Rio Claro em 1997, foi nomeado Delegado da UBT.
            Tentou publicar um livro infantil, "Menina-Flor", tinha muitos desenhos, entre 1994 e 1996, mas não deu certo.
            Também é clarinetista, membro da Banda Sinfônica União dos Artistas Ferroviários de Rio Claro (fundada em 1896 pelo Grêmio dos Ferroviários da Companhia Paulista, posteriormente Fepasa).
            Possui um livro de trovas publicado, “Vinte e oito pétalas”. 

V Jogos Florais de Campos dos Goytacazes (Classificação Final)

V Jogos Florais de Campos dos Goytacazes - 2015



ÂMBITO NACIONAL

VETERANOS (por ordem alfabética):

Argemira Fernandes Marcondes  - Taubaté/SP
Antonio Augusto De Assis -  Maringá/PR
Cristina Cacossi  -   Bragança Paulista/SP
Eliana Ruiz Jimenez - Balneário Camboriú/SC
Glória Tabet Marson - São José Dos Campos/SP
Hélio Alexandre S. E Souza - Natal/RN
José Ouverney - Pindamonhangaba/SP
José Valdez C. Moura - Pindamonhangaba/SP
Matusalém Dias De Moura - Vitória/ES
Relva Do Egypto Resende Silveira - Belo Horizonte/MG

ÂMBITO ESTADUAL (por ordem alfabética):

Giovanelli  - Nova Friburgo/RJ
Josafá Sobreira  - Jacarepagua/RJ
Jota de Jesus  – Saquarema/RJ
Luiz Poeta – Rio de Janeiro/RJ
Mariana de Oliveira Dias – Camarão/RJ
Neiva Fernandes - Campos dos Goytacazes/RJ
Palmyra  Maria Goulart Duarte  - Praça Seca/RJ
Ruth Farah - Cantagalo/RJ
Sonia Sobreira - Jacarepaguá/RJ
Sérgio  Fonseca -  Mesquita/RJ

NOVOS TROVADORES (por ordem alfabética):

Alba Valéria Braga Gonçalves - Campos Dos Goytacazes/RJ
Carlos Henrique Da Silva Alves - Senhor Do Bonfim/BA
Eulinda Barreto – Bauru/SP
Lilia Maria Machado Souza – Curitiba/PR
Luzia Brisolla Fuim - São Paulo/SP
Maryland Faillace – Santos/SP
Nair Lopes Rodrigues – Santos/SP
Roderique Pedro Albuquerque – Itaboraí/RJ
Talita Batista - Campos dos Goytacazes/RJ
Valter Rodrigues Mota – Taubaté/SP

ÂMBITO MUNICIPAL (por ordem alfabética):

Agostinho Rodrigues
Alba Valéria Braga Gonçalves
Berenice Azevedo
Carlos Augusto Souto de Alencar
Diamantino Ferreira
Gleyde Costa,
Herbson Freitas
Marcília Rangel de Oliveira
Maria Zilnete Moraes Gomes
Neiva Fernandes

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Trovadora Homenageada: Eulinda Barreto Fernandes

Abra a janela da vida
e mostre o alegre viver!
Que essa saudade doída
não a faça se esconder.
Acumular sentimento
dentro do meu coração,
não deixar no esquecimento
o carinho ao nosso irmão.
A jovem que se escondeu
nas manhãs da minha aurora,
de repente apareceu
bem diferente de outrora.
A medalha pendurada
que está encostada em meu peito,
foi um presente da amada
hoje ... um romance desfeito.
A minha casa tem grade
servindo de proteção;
suspeitos em liberdade,
delinquente sem prisão.
A ponte do ódio e do amor,
precisa ser balançada
para que o amor, triunfador,
passe livre em caminhada.
Busco teu querer em vão,
e vou vagando sem rumo.
Tropeço na solidão...
meu produto de consumo.
Cai a tarde e vem à mente,
as que eu vivi no sertão:
– Meu pai, trazendo a semente,
que lhe cabia na mão.
Da cadeira que balança,
e dos seus olhos tristonhos,
trago, na minha lembrança,
a vovó no fim dos sonhos.
Da casinha... que saudade
- perto da linha do trem -
Faz lembrar a mocidade
e as rodas em vai e vem.
Desfolhei as margaridas
pra saber do bem querer...
Mal querer às escondidas,
estava sempre a vencer!
Em cada página um poema,
em cada verso a emoção
de encontrar, sem ter dilema,
estampada a inspiração.
Foi do campo de batalha ...
- que tristes lembranças traz! -
Trouxe consigo a medalha
e o que queria era a paz!
Foi no calor da lareira...
com seu cheiro em toda casa,
me tomaste por inteira
deixando meu corpo em brasa.
Folhas mortas ... e eu revivo,
a cada outono que vem,
o nosso laço afetivo
e desse amor sou refém!
Há um renovar de energia
e um futuro de esperança,
ao sentir, na mão macia,
o carinho da criança!
Minha idade vem rolando
como as pedras no caminho.
Pedra a pedra vou juntando,
edificando o meu ninho.
Minha trova aprisionei
em moldura colorida,
o fato é que ali deixei
um pouco de minha vida.
Murmúrio que vem no vento,
com certeza deve ser
a voz de Deus, em lamento,
querendo nos proteger.
Na travessia da vida
 enfrentamos a batalha:
 - Ora se perde a investida...
 - Ora se ganha a medalha!
Na vida de um trovador
há sentimentos variados
e é da alegria e da dor,
que faz seus versos rimados.
No jardim em que plantei
para decorar minha alma,
lindas flores cultivei...
Espinhos? Tirei com calma.
O adeus assina a sentença...
e eu vejo, em meu padecer,
quando a tua indiferença
vira a página...sem ler!
O descendente italiano
sempre tem um sonho a mais:
– atravessar o oceano,
ver a terra de seus pais.
Para matar a saudade,
o meu diário eu abri.
Recordei, da mocidade,
momentos bons que vivi!
Passaste por minha vida
e eu escrevi nossa história...
Na página envelhecida
eu te prendi...na memória!
Por medo de te perder
ou por falta de coragem,
procurei sempre esconder
a minha parte selvagem.
Quando o feitiço acontece,
na loucura da paixão,
o nosso corpo padece
e perdemos a razão.
Se dói voltar ao passado,
quero sentir essa dor.
Lembranças... de um namorado:
– único e primeiro amor.
Sentindo o peso da idade
e, agora em compasso lento
vem, em mente, a mocidade
que se foi... tal qual o vento.
Sobreviver nesta vida
é travar uma batalha:
– chora-se a cada partida;
vibra-se a cada medalha!
Tantos anos e eu ausente...
Anos que eu sobrevivi.
Hoje vivo intensamente
compensando o que perdi.
Tristeza de um pescador
com a canoa no rio,
pensando no lar... e a dor
da fome e também do frio.
 BRINCANDO COM A SAUDADE
Anos atrás, as crianças
criavam as brincadeiras.
Eu trago, em minhas lembranças,
algumas mais costumeiras.
A tampinha da garrafa
era o jogo de botão.
Figurinha em bafa-bafa
e sempre de pé no chão.
Cantava escravo de Jó,
sem largar minha boneca.
Da galinha carijó,
as penas viram peteca.
Salva, carrinho de lata,
aviãozinho de papel,
como era quente a batata...
melhor é passar anel!
Cinco Marias trazia,
guardadas em embornal
e também quando chovia
o barco era de jornal.
Chega à noite, ao me deitar
e estando muito cansada,
estória vou escutar,
contada por uma fada.