terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Lima Barreto (Cinco mulheres) I - Marcelina


Aqui vai um grupo de cinco mulheres, diferentes entre si, partindo de diversos pontos, mas reunidas na mesma coleção, como em um álbum de fotografias.

Desenhei-as rapidamente, conforme apareciam, sem intenção de precedência, nem cuidado de escolha.

Cada uma delas forma um esboço à parte; mas todas podem ser examinadas
entre o charuto e o café.

I
MARCELINA

Marcelina era uma criatura débil como uma haste de flor; dissera-se que a vida lhe fugia em cada palavra que lhe saía dos lábios rosados e finos. Tinha um olhar lânguido como os últimos raios do dia. A cabeça, mais angélica do que feminina, aspirava ao céu. Quinze anos contava, como Julieta. Como Ofélia, parecia que estava destinada a colher a um tempo as flores da terra e as flores da morte.

De todas as irmãs - eram cinco -, era Marcelina a única a quem a natureza tinha dado tão pouca vida. Todas as mais pareciam ter seiva de sobra. Eram mulheres altas e reforçadas, de olhos vivos e cheios de fogo. Alfenim era o nome que davam a Marcelina. Ninguém a convidava para as fadigas de um baile ou para os grandes passeios. A boa menina fraqueava depois de uma valsa ou no fim de cinqüenta passos do caminho.

Era ela a mais querida dos pais. Tinha na sua fragilidade a razão da preferência. Um instinto secreto dizia aos velhos que ela não havia de viver muito; e como que para desforrá-la do amor que havia de perder, eles a amavam mais do que às outras filhas. Era ela a mais moça, circunstância que acrescia àquela, porque ordinariamente os pais amam o último filho mais do que os primeiros, sem que os primeiros pereçam inteiramente no seu coração.

Marcelina tocava piano perfeitamente. Era a sua distração habitual; tinha o gosto da música no mais apurado grau. Conhecia os compositores mais estimados, Mozart, Weber, Beethoven, Palestrina. Quando se assentava ao piano para executar as obras dos seus favoritos, nenhum prazer da terra a tiraria dali.

Chegara à idade em que o coração da mulher começa a interrogá-la secretamente; mas ninguém conhecia um sentimento só de amor no coração de Marcelina. Talvez não fosse a hora, mas todos que a viam acreditavam que ela não pudesse amar na terra, tão do céu parecia ser aquela delicada criatura.

Um poeta de vinte anos, virgem ainda nas suas ilusões, teria encontrado nela o mais puro ideal dos seus sonhos; mas nenhum havia na roda que frequentava a casa da moça. Os homens que lá iam preferiam a tagarelice insossa e incessante das irmãs à compleição frágil e à recatada modéstia de Marcelina.

A mais velha das irmãs tinha um namorado. As outras sabiam do namoro e o protegiam na medida dos seus recursos. Do namoro ao casamento pouco tempo mediou, apenas um mês. O casamento foi fixado para um dia de junho. O namorado era um belo rapaz de vinte e seis anos, alto, moreno, de olhos e cabelos pretos. Chamava-se Júlio.

No dia seguinte em que se anunciou o casamento de Júlio, Marcelina não se levantou da cama. Era uma ligeira febre que cedeu no fim de dois dias aos esforços de um velho médico, amigo do pai. Mas, ainda assim, a mãe de Marcelina chorou amargamente, e não dormiu uma hora. Nunca houve crise séria na moléstia da filha, mas o simples fato da moléstia bastou para que a boa mãe perdesse a cabeça. Quando a viu de pé regou de lágrimas os pés de uma imagem da Virgem, que era a sua devoção particular.

Entretanto seguiam os preparativos do casamento. Devia efetuar-se dali a quinze dias. Júlio estava radiante de alegria, e não perdia ocasião de comunicar-se a todos o estado em que se achava. Marcelina ouvia-o com tristeza; dizia-lhe duas palavras de cumprimento e desviava a conversa daquele assunto, que lhe parecia penoso. Ninguém reparava, menos o médico, que um dia, em que ela se achava ao piano, disse-lhe com ar pesaroso:

- Menina, isso faz-lhe mal.

- Isso quê?

- Sufoque o que sente, esqueça um sonho impossível e não vá adoecer por um sentimento sem esperança.

Marcelina cravou os olhos nas teclas do piano e levantou-se a chorar.

O doutor saiu mais pesaroso do que estava.

- Está morta, dizia ele descendo as escadas.

O dia do casamento chegou. Foi uma alegria na casa, mesmo para Marcelina, que cobria a irmã de beijos; aos olhos de todos era a afeição fraternal que se manifestava assim num dia de júbilo para a irmã; mas a um olhar experimentado não escaparia a tristeza escondida debaixo daquelas demonstrações tão fervorosas.

Isto não é um romance, nem um conto, nem um episódio; - não me ocuparei, portanto, com os acontecimentos dia por dia. Um mês se passou depois do casamento de Júlio com a irmã de Marcelina. Era o dia marcado para o jantar comemorativo em casa de Júlio. Marcelina foi com repugnância, mas era preciso; simular uma doença era impedir a festa; a boa menina não quis. Foi.

Mas quem pode responder pelo futuro? Marcelina, duas horas depois de estar em casa da irmã, teve uma vertigem. Foi levada para um sofá, mas tornada a si achou-se doente. Foi transportada para casa. Toda a família a acompanhou. A festa não teve lugar.

Declarou-se uma nova febre.

O médico, que sabia o fundo da doença de Marcelina, procurou curar-lhe a um tempo o corpo e o coração. Os remédios do corpo pouco faziam, porque o coração era o mais doente. O médico quando empregava uma dose no corpo, empregava duas no coração. Eram os conselhos brandos, as palavras persuasivas, as carícias quase fraternais. A moça respondia a tudo com um sorriso triste - era a única resposta.

Quando o velho médico lhe dizia:

- Menina, esse amor é impossível...

Ela respondia:

- Que amor?

- Esse: o de seu cunhado.

- Está sonhando, doutor. Eu não amo ninguém.

- É debalde que procura ocultar.

Um dia, como ela insistisse em negar, o doutor ameaçou-a sorrindo que ia contar tudo à mãe.

A moça empalideceu mais do que estava.

- Não, disse ela, não diga nada.

- Então, é verdade?

A moça não ousou responder: fez um leve sinal com a cabeça.

- Mas não vê que é impossível? perguntou o doutor.

- Sei.

- Então por que pensar nisso?

- Não penso.

- Pensa. É por isso que está tão doente...

- Não creia, doutor; estou doente porque Deus o quer; talvez fique boa, talvez não; é indiferente para mim; só Deus é quem manda estas coisas.

- Mas sua mãe?...

- Ela irá ter comigo, se eu morrer.

O médico voltou a cabeça para o lado de uma janela que se achava meio aberta.

Esta conversa reproduziu-se muitas vezes, sempre com o mesmo resultado.
Marcelina definhava a olhos vistos. No fim de alguns dias o médico declarou que era impossível salvá-la.

A família ficou desolada com esta notícia.

Júlio ia visitar Marcelina com sua mulher; nessas ocasiões Marcelina sentia-se elevada a uma esfera de bem-aventurança. Vivia da voz de Júlio. As faces se lhe coloriam e os olhos readquiriam um brilho celeste.

Depois voltava ao seu estado habitual.

Mais de uma vez quis o médico declarar à família qual era a verdadeira causa da moléstia de Marcelina; mas que ganharia com isso? Não viria daí o remédio, e a boa menina ficaria do mesmo modo.

A mãe, desesperada com aquele estado de coisas, imaginou todos os meios de salvar a filha; lembrou a mudança de ares, mas a pobre Marcelina raras vezes deixava de arder em febre.

Um dia, era um domingo de julho, a menina declarou que desejava comunicar alguma coisa ao doutor.

Todos os deixaram a sós.

- Que quer? perguntou o médico.

- Sei que é nosso amigo, e sobretudo meu amigo. Sei quanto sente a minha doença, e como lhe dói que eu não possa ficar boa...

- Há de ficar, não fale assim...

- Qual doutor! eu sei o que sinto! Se lhe quero falar é para dizer-lhe uma coisa. Quando eu morrer não diga a ninguém qual foi o motivo da minha morte.

- Não fale assim... interrompeu o velho levando o lenço aos olhos.

- Di-lo-á somente a uma pessoa, continuou Marcelina; é a minha mãe. Essa sim, coitada, que tanto me ama e que vai ter a dor de me perder! Quando lhe disser, entregue-lhe então este papel.

Marcelina tirou debaixo do travesseiro uma folha de papel dobrada em quatro, e atada por uma fita roxa.

- Escreveu isto? Quando? perguntou o médico.

- Antes de adoecer.

O velho tomou o papel das mãos da doente e guardou-o no seu bolso.

- Mas, venha cá, disse ele, que ideias são essas de morrer? Tão moça! Começa apenas a viver; outros corações podem ainda receber os seus afetos; para que quer tão cedo deixar o mundo? Pode ainda encontrar nele uma felicidade digna da sua alma e dos seus sentimentos... Olhe cá, ficando boa iremos todos para fora. A menina gosta da roça. Pois toda a família irá para a roça...

- Basta, doutor! É inútil.

Daí em diante Marcelina pouco falou.

No dia seguinte à tarde Júlio e a mulher vieram visitá-la. Marcelina achava-se pior. Toda a família estava ao pé da cama. A mãe debruçada à cabeça chorava silenciosamente.

Quando veio a noite fechada, declarou-se a crise da morte. Houve então uma explosão de soluços; porém a menina, serena e calma, a todos procurava consolar dando-lhes a esperança de que iria orar por todos no céu.

Quis ver o piano em que tocava; mas era difícil satisfazer-lhe o desejo e ela facilmente se convenceu. Não desistiu porém de ver as músicas; quando elas lhas deram distribuiu-as pelas irmãs.

- Quanto a mim vou tocar outras músicas no céu.

Pediu algumas flores secas que tinha numa gaveta, e distribuiu-as igualmente pelas pessoas presentes.

Às oito horas expirou.

Um mês depois o velho médico, fiel à promessa que fizera à moribunda, pediu uma conferência particular à infeliz mãe.

- Sabe de que morreu Marcelina? perguntou ele; não foi de uma febre, foi de um amor.

- Ah!

- É verdade.

- Quem era?

- A pobre menina pôs a sua felicidade num desejo impossível; mas não se
revoltou contra a sorte; resignou-se e morreu.

- Quem era? perguntou a mãe.

- Seu genro.

- É possível? disse a pobre mãe dando um grito.

- É verdade. Eu o descobri, e ela mo confessou. Sabe como eu era amigo dela; fiz tudo quanto pude para desviá-la de semelhante pensamento; mas tinha chegado tarde. A sentença estava lavrada; ela devia amar, adoecer e subir ao céu. Que amor, e que destino!

O velho tinha os olhos rasos de lágrimas; a mãe de Marcelina chorava e soluçava que cortava o coração. Quando ela pôde ficar um pouco calma, o médico continuou:

- A entrevista que ela me pediu nos seus últimos dias foi para dar-me um papel, disse-me então que lho entregasse depois da morte. Aqui o tem.

O médico tirou do bolso o papel que recebera de Marcelina e lho entregou intacto.

- Leia-o, doutor. O segredo é nosso.

O doutor leu em voz alta e com voz trêmula:

Devo morrer deste amor. Sinto que é o primeiro e o último. Podia ser a minha vida e é a minha morte. Por quê? Deus o quer. Não viu ele nunca que era eu a quem devia amar. Não lhe dizia acaso um secreto instinto que eu carecia dele para ser feliz? Cego! foi procurar o amor de outra, tão sincero como o meu, mas nunca tão grande e tão elevado! Deus o faça feliz!

Escrevi um pensamento mau. Por que me hei de revoltar contra minha irmã? Não pode ela sentir o que eu sinto? Se eu sofro por não ter a felicidade de possuí-lo não sofreria ela, se ele fosse meu? Querer a minha felicidade à custa dela, é um sentimento mau que mamãe nunca me ensinou. Que ela seja feliz e sofra eu a minha sorte.

Talvez eu possa viver; e nesse caso, ó minha Virgem da Conceição, eu só te peço que me dês a força necessária para ser feliz só com a vista dele, embora ele me seja indiferente. Se mamãe soubesse disto talvez ralhasse comigo, mas eu acho que...

O papel achava-se interrompido neste ponto.

O médico acabou estas linhas banhado em lágrimas. A mãe chorava igualmente. O segredo confiado aos dois morreu com ambos.

Mas um dia, tendo morrido a velha mãe de Marcelina, e procedendo-se ao inventário, foi achado o papel pelo cunhado de Marcelina... Júlio conheceu então a causa da morte da cunhada. Lançou os olhos para um espelho, procurando nas suas feições um raio da simpatia que inspirara a Marcelina, e exclamou:

- Pobre menina!

Acendeu um charuto e foi ao teatro.
_________
continua... II - Antônia

Fonte:
Publicado originalmente em Jornal das Famílias, 1865.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Olivaldo Júnior (Clarice)


10 de dezembro de 2018.

Hoje, pela manhã, o Google me lembrou que, se Clarice Lispector estivesse viva, estaria completando noventa e oito anos de idade. Clarice, essa ucraniana radicada no Brasil, é uma das maiores escritoras da Língua Portuguesa de todos os tempos. Tempo. Talvez, o tempo tenha sido o maior mote da obra de Clarice, que buscava em suas personagens a face perdida de si mesma. Lembrou-se do famoso verso de Cecília Meireles?! Pois é, onde anda a nossa face?

A face de Clarice se metamorfoseou em cada uma das mulheres às quais deu vida e trouxe à luz. Eu, que sou homem, me identifico muitas vezes com Macabéa, sua famosa personagem de A hora da estrela, cujo destino, assim como a sua vida, foi trocado no embaralhar de cartas de uma cartomante que mal sabia de si mesma. A cartomante da história também era Clarice. Clarice, aliás, era muitas, era todas, não cabia em si de tantas que foi, era e ainda é.

Macabéa, com seu nada de existência, carregava tanto significado em suas costas, no seu quartinho dividido com outras, tão pobres e tão ricas de sentido quanto ela, que me comove saber que ainda existem Macabéas por aí, sem eira e nem beira, à espera de sua hora da estrela de cinema. Também espero a minha. Tenho muito de Macabéa. Sua ingenuidade, sua crença no outro, sua trégua com a maldade e sua obtusa configuração de tempo e espaço, tão singela!

Clarice, você que renasce a cada vez que um texto seu é lindamente dito por Beth Goulart, Maria Bethânia, Aracy Balabanian e tantas outras intérpretes brasileiras, você, Clarice, eu convidaria para um chá com meus fantasmas, que Quintana me ensinou a preparar. Você, Clarice, eu gostaria de encontrar num café celestial, onde os anjos param toda tarde a fim de dar descanso às grandes asas que o deus fizera. Também invento Deus, Clarice. E a mim.

Fonte:
O Autor

Maria da Glória Colucci (Poemas Recolhidos)


APENAS UMA GOTA... 

Com a suavidade de uma pétala. 
Com a doçura do mel. 
Apenas uma... 
Gota! 
Com a beleza de um pássaro. 
Com a leveza de uma nuvem. 
Apenas uma... 
Gota! 
Com a pureza do orvalho. 
Com a alegria de um sorriso. 
Apenas uma... 
Gota! 
Incomparável! Indescritível! 
Maravilhosa! Perfeita! 
Apenas uma...Só uma 
Gota! 
De teu precioso Amor... 
Perdoa...Purifica...Transforma... 
Eternamente, Senhor! 

BANAL

Nenhuma palavra é banal!
Tem força, tem energia, tem impulso.

Banal é quem a usa mal.

Perigosa é a palavra injusta,
desperdiçada, leviana, sem cor,
vazia, sem afeto, sem amor,
que fere como seta fervente, mortal.

Banal é quem a usa mal.

Pedra aguçada, agressiva,
ou pérola preciosa, que anima,
produz conforto e dá alegria!

Não esqueças a cada dia:
- Nenhuma palavra é banal...!

ILUSÃO

Podes partir, já não te quero 
mais !... 

Podes seguir teu caminho 
em paz!... 

Chegaste como passageira 
tormenta em primavera, 
súbita e inesperada quimera. 

Deves partir, já não me 
fazes falta! 

Envelheci mil dias em poucas 
e amargas horas! 

Deves partir, já não te quero 
mais!... 

LIVRES?

Somos todos frágeis seres 
Em triste desalinho. 
Vivemos entre o trágico, 
O translúcido e o divino. 

Tropeçamos no fútil e mágico, 
Movidos pelo admirável... 
Paralisados pelo aceitável. 
Livres sempre para escolher; 
Mas, sem saber o que fazer... 

PASSA O TEMPO

Tudo passa a seu tempo.
Passa o tempo
das dores, das nuvens, das trovoadas.
Passa, passa o tempo
da indiferença, das tristes revoadas.
Tudo... tudo sempre passa!

Tudo passa a seu tempo.
Passa o tempo
das alegrias, das paixões, dos amores.
Passa, passa o tempo
correndo no relógio, marcado por temores.
Tudo... tudo sempre passa!

Tudo passa a seu tempo.
Passa o tempo.
da beleza, do encanto, da lembrança.
Passa, passa o tempo
das dores, do perdão, da saudade.
Tudo... tudo sempre passa?

Não. Só não passa a Esperança!


Fontes:

Maria da Gloria Colucci (Cadeira n. 9 da AVIPAF)

AVIPAF - Patronesse: Cecília Meireles

Maria da Gloria Lins da Silva Colucci, Mestre em direito público pela UFPR. Especialista em Filosofia do Direito pela PUCPR. 

Professora titular de Teoria do Direito do UNICURITIBA. 

Professora Emérita do Centro Universitário Curitiba. 

Orientadora do Grupo de Pesquisas em Biodireito e Bioética - Jus Vitae, do UNICURITIBA, desde 2001. 

Professora adjunta IV, aposentada, da UFPR. 

Foi membro do corpo editorial dos periódicos: Revista Jurídica (Curitiba), 2001 - 2002 e Direito Privado (UFPR), 2001 - 2003.

Entidades as quais pertence: 
- Sociedade Brasileira de Bioética (Brasília). 
- Colegiado do Movimento Nós Podemos Paraná (ONU, ODS). 
- IAP (Instituto dos Advogados do Paraná). 
- AVIPAF (Academia Virtual Internacional de Poesia, Arte e Filosofia)
- Titular do Comitê de Ética em Pesquisa do Unicuritiba (2018).
- Comissão do Pacto Global da OAB/PR (2018).

Premiações: 
1976 - 1º lugar no Prêmio Augusto Montenegro (OAB, Pará); 
1977 - 3º lugar no Prêmio Ministério da Educação e Cultura; 
1997 - 1º lugar Pergaminho de Ouro do Paraná (Jornal do Estado). 
2016 - Troféu Carlos Zemek: Destaque Poético.
2017 - Troféu Imprensa Brasil e 
2017 - Top of Mind Quality Gold.

Fontes:

Malba Tahan (A Raposa e a Vinha)


Recompensou-me o Senhor segundo a minha justiça, retribuiu-me segundo a pureza de minhas mãos.
Porque guardei os caminhos do Senhor; nem pecando me afastei do meu Deus.
Davi

Uma raposa se pusera a namorar avidamente uma vinha tão bem cercada que não havia brecha por onde entrasse. Deu voltas e mais voltas, até que topou com um resquício da cerca entre os mourões. Lança-se por ele, impetuosamente, mas era tão estreito que mal pôde colocar a cabeça. Esforça-se daqui, tenta dali, mas tudo em vão. Veio-lhe, então, à ideia um plano singular: “Se eu pudesse”, monologava ela, “emagrecer bastante passaria por esta brecha.” 

Resolvida a vencer a prova, submeteuse a um estranho teor de vida: ficou três dias sem provar alimento, e pôs-se tão fina e magrinha que mais parecia um palito. Toda satisfeita com o sucesso, esgueira-se pelo delgado vão e entra radiante na vinha. Ali pôde recompensar-se de tudo quanto sofrera e passou alguns dias na mais regalada abundância.

Chegado o tempo de sair, receosa dos donos do vinhedo que não podiam tardar, corre à brecha por onde entrara e tenta meter-se por ela. Aconteceu, porém, que a infortunada, naqueles poucos dias de regabofe, engordara tanto que não mais cabia ali. Mais triste do que um mocho, desiste do intento e resolve repetir a provação por que passara, pondo-se de novo em rigoroso jejum até que, novamente magra como um esqueleto, lhe foi possível safar-se pelo agulheiro. Estava, porém, tão fraca e debilitada que parecia um cadáver.

Livre daquele cativeiro, olhou melancolicamente para a vinha e disse-lhe: “Adeus, não me apanharás mais. És sedutora e deliciosa. Tens, em abundância, frutos saborosos, mas que importa? De ti saio, como entrei.”

Assim o homem em relação aos prazeres efêmeros da vida terrena. Ensinava o sábio Rabi Meir: O homem quando nasce tem os braços estendidos para a frente, como se dissesse: “É meu o mundo. Todo mundo é meu!” Quando morre, os traz ao longo do corpo, como a prevenir os que se aferram aos bens materiais: “Nada levo deste mundo. Deixo da vida o que a vida me deu!”

Fonte:
Malba Tahan. Lendas do Bom Rabi. Rio de Janeiro: Record, 2011.

Projeto Sacola Literária Pomerodense (Participe!)


A criança que inicia no mundo das letras, tem sede de leitura, pois nessa etapa da vida, ela quer ler o mundo. Partindo dessa realidade, observa-se que esse é o momento oportuno para inseri-la no contato com os livros, ampliando o saber que recebe na escola e aproximando-a de autores contemporâneos, tornando a leitura um hábito.

Essa leitura torna-se mais prazerosa ainda quando envolve toda a família.

Visando criar ações para ampliar esse fazer literário, com suporte dos familiares e dando continuidade à ação criada em 2016, é apresentada a 4ª edição da SACOLA LITERÁRIA POMERODENSE, com empréstimo de livros infantis das Escritoras Andrea Gustmann, Neida Rocha e convidados, onde os alunos levam para casa, durante uma semana, a sacola contendo os livros e o CADERNO DE MEMÓRIAS, no qual são registradas as opiniões do aluno e da família a respeito do livro escolhido. Neste momento, um canal direto com o público leitor se estabelece, no qual registros importantes são realizados durante este feedback.

No final do ano letivo ou quando findar o ciclo de leitura, o CADERNO DE MEMÓRIAS será recolhido pela CLiP Mulher e os livros sorteados entre os alunos participantes do Projeto. O feedback será emitido aos escritores convidados,  de acordo com o apontamento realizado para cada autor.

Os Centros de Educação Infantil (CEIs) receberão a SACOLINHA LITERÁRIA POMERODENSE com livros direcionados a esse público específico, contemplando assim, os alunos em idade pré-escolar.

Durante o ano, os autores poderão ser chamados para participar de rodas de bate-papo com as crianças das escolas e realizar a venda de seus livros, desde que autorizado pela Direção. Este é um projeto social e portanto prevê a ida voluntária e gratuita dos escritores,  não sendo repassadas às escolas a responsabilidade por qualquer pagamento, exceto quando negociados livros para a ampliação do acervo de suas bibliotecas. Neste sentido, o aceite dependerá tão somente da agenda da escola e da disponibilidade dos escritores.

Os autores convidados fornecerão 1 (um) exemplar de cada título e o mesmo será apresentado previamente à Secretaria de Educação para aprovação. Após aprovada a inserção da obra no Projeto, cada escritor fornecerá 22 livros de cada título e o valor de R$ 100,00 (cem reais) por título, como forma de patrocínio. A aprovação da obra junto à Secretaria de Educação e Formação Empreendedora do município levará em consideração o conteúdo apropriado à faixa etária correspondente.

NEIDA ROCHA
47 99227-2202
clipmulher@terra.com.br

domingo, 16 de dezembro de 2018

Roberto Pinheiro Acruche (Poemas Diversos)



NOSSO AMOR

O nosso amor quero vivê-lo intensamente
A cada dia, noite, não importa a hora
Quero mesmo, como no passado e presente
No futuro, te amar tanto quanto agora

Sonhar ainda, os mais lindos sonhos, embora
Incida sobre nós, o que presentemente
Coisa nenhuma incomoda e preocupa a gente
Porquanto em nosso amor a formosura aflora

Por mais que no tempo transcorre tempestade
Não haverá nenhuma que seja tão forte
 Que nosso grande amor não enfrente e resista

O segredo de nosso amor foi o aporte
Em cada caminhar dúvida ou conquista
Abençoado por ser amor de verdade.

MUITO MAIS QUE AMIZADE

Amiga, querida amiga.
Era assim que a olhava
Via e admirava.
A cada encontro
A alegria permanecia
Estampada em nossa face.

Ela com um sorriso doce
Encantava o tempo
O teu semblante brilhava
E teus olhos
Espelhavam a minha imagem.
Era sempre assim
Quando por acaso
Encontrávamos
Em qualquer lugar.
Certo dia
Era uma tarde 
Calma, sossegada
O sol sombreado no horizonte
Ocorreu um novo encontro...
Ela apressou os passos
Vindo me abraçar...
Seus braços tremiam
O coração tocava forte
E sua voz macia dizia
Amo te encontrar...
Com o rosto encostado
No meu peito
A mão docemente
Alisando meu rosto 
Falava baixinho...
Adoraria te encontrar sempre
E te amar muito a cada encontro.
Parecia ser imaginação...
Flechado o coração
De um abraço forte
Brotou um sonho
Aspiração que ficou
Perpetuada, refletida 
A cada encontro.

MENINO

Se eu voltasse a ser menino
com meus sonhos de infância,
reencontraria a felicidade
dos meus tempos de criança...
Percorreria os pomares,
perambularia pelos campos,
soltaria pipa sem cerol,
jogaria bola de gude
e brincaria de futebol.
Meu cãozinho de estimação
tão alegre e comportado
parecia saber de tudo...
E pelas estradas, do meu mundo,
corria sempre ao meu lado.
Ah... Se eu voltasse a ser menino
ouviria nas manhãs, o meu sabiá,
que do alto da laranjeira
não parava de cantar.
Receberia carinho, no colo da mamãe,
Ouviria as histórias, contadas pelo papai.

Ah... Mundo... Que Pena... 
Não posso voltar a ser menino,
sonhar meus sonhos de infância,
e meus tempos de criança,
não viverei, jamais!

MORRO DE CIÚMES

Sou ciumento, confesso;
mais ciumento
que o imaginável;
tenho ciúme até
do que não é meu, e queria que fosse.

Tenho ciúme dela,
sem jamais haver sentido
o doce beijo dos seus lábios;
jamais sentido o calor do seu abraço;
amor que não me pertence,
sequer sabe
que o tenho em segredo;
contudo, ela é, dona do meu
apaixonado coração!

Tenho ciúmes do seu passado
e do seu presente!
Tenho ciúme
do seu perfume,
do seu porte sublime
e do seu jeitinho de caminhar,
da sua voz, da roupa que veste,
das músicas que prefere,
das suas mãos, seu olhar,
sorriso, da rua por onde passa
e do vento que sopra os seus cabelos!
É por demais fortes, o ciúme que tenho
da cama que ela deita,
do travesseiro que dorme,
da poltrona que repousa
e até de tudo, mesmo
sem haver qualquer motivo!

Ah... Que ciúme eu tenho
do seu cachorrinho e
do gatinho de estimação;
da sua fotografia, do sol que a aquece,
da chuva que molha seu corpo;
do chuveiro que ela usa para se banhar;
do sabonete que passa com toda intimidade
por suas curvas!

É um ciúme que quase me enlouquece;
e explode no coração;
do pente que penteia os
seus longos e lindos cabelos;
do calçado que acaricia os seus pés,
do desodorante e da colônia que
a deixa, ainda mais cheirosa
e perfumada;
do zelo exagerado
pelo carro, apego pelas jóias,
e do celular seu constante companheiro!

Estou morrendo de ciúmes
das suas fantasias,
dos seus sonhos,
do visível, e por força da paixão...
Até do invisível,
que está vivo, na imaginação.

TENTEI DE TUDO

Já tentei de tudo
para resistir a distância...
A dor da distância
que nos separa!

Ainda que seja difícil,
não posso desistir,
nem continuar nessa angústia;
não posso perder a esperança
pois seria o mesmo que perder
parte de mim.

Quero voltar, preciso voltar,
é desmedida a saudade dos seus beijos,
do conforto dos seus braços,
do encontro do nossos corpos
esbanjando amor,
vivendo a felicidade
que sempre sonhamos sentir!

A estrada é longa,
tortuosa, perigosa...
Mas é o caminho
que me levará até você.

E juntos; ao seu lado
quero ver o céu estrelado,
o beija-flor cortejando as flores
as borboletas sobrevoando
pelos segredos dos jardins.

Vai ser lindo, muito lindo
estar junto de você; e você
bem juntinho de mim!

Fonte:

Vinicius de Moraes (O Conde e o Passarinho)



Rubem Braga é, sabidamente, um conhecedor de passarinhos. Suas crônicas alegram-se e se entristecem com frequência de nomes de pássaros nacionais que eu só conheço de ouvir dizer - o que me dá um certo complexo de inferioridade. Já andei, certa vez, planejando estudar ornitologia por causa disto, e lembro-me de que na viagem que fiz com ele à sua Cachoeiro do Itapemirim, quando da homenagem que lhe prestou a cidade, foi com um sentimento de gula que recebi o maravilhoso disco de pios artificiais de passarinhos, feito pela família Coelho, que disso criou uma pequena indústria local. Tais projetos nunca foram adiante, como vários outros, entre os quais um de estudar carpintaria: e este, inclusive, concertado com o próprio Rubem - e que resultou em arrancarmos, ato contínuo, a porta da garagem da minha antiga casa, sairmos meia hora depois para matar o calor com uma cerveja gelada, e nunca mais voltarmos à dita porta, que se quedou jazente por dias a fio, vítima de nossa impostura.

O Braga conhece bem sua passarada, isso ninguém lhe tira. O que não impede, porém, que tenha dado um "baixo" ornitológico que merece registro, segundo me conta minha irmã Lygia, testemunha ocular do mesmo. Pois o que se deduz da história é que o Braga pode conhecer muito bem tico-tico, curió, sanhaço, cardeal, tiê-sangue, sabiá, gaturamo, cambaxirra e até mesmo vira-bosta - mas em matéria de canário trata-se de um otário completo e acabado. Dito o quê, passemos à narrativa.

Parece que o Braga vinha um dia assim muito bem pela Cinelândia, quando topou com um vendedor de passarinho oferecendo a preço de ocasião um casal de canários dentro de uma gaiola cuja bossinha era ser dividida por uma separação levadiça em dois compartimentos, um para o macho, outro para a fêmea. A gracinha era abrir a portinhola do macho, deixá-lo fugir e depois vê-lo voltar docemente, no pio da fêmea. O Braguinha, que além de gostar de pássaros não é tolo (imagina para quanta mulherzinha ele não ia poder fazer aquele truque!), assistiu com o maior interesse a mais essa demonstração de que, como diz o samba, o homem sem mulher não vale nada, entregou o dinheiro, meteu a gaiola debaixo do braço e tocou-se para o Leblon, sequioso de mostrar seu novo brinco ao aborígene. E deu-lhe a sorte de encontrar minha irmã Lygia, que além de ser uma esplêndida assistência para demonstrações desse teor, é pessoa mais de se apiedar que de caçoar da desdita alheia.

O Braga colocou a gaiola em posição, abriu a porta e lá se foi o canarinho pelo azul afora, em lindas evoluções. A fêmea, como previsto, abriu o bico e o canário, ao ouvi-la, fez direitinho como mandava o figurino: voltou e posou junto à porta aberta. Mas o divórcio entrou? Nem o canário. O bichinho ficou prudentemente à porta, mas entrar dentro mesmo da gaiola que é bom... ahn-ahn. O Braga animou a ave canora com milhões de piu-pius, fez-lhe mentalmente enérgicas perorações contra a sua calhordice - tudo isso, conta minha irmã Lygia, com olhos onde se começava a notar uma certa apreensão. O canário, nada.

Quem sabe, ponderou minha irmã, um elemento verde qualquer colocado junto à porta, uma folha de alface, por exemplo, não animaria o bichinho? Foi trazida a folha de alface e colocada junto à porta. Durante essa operação o canário levantou voo, e a canarinha, aproveitando-se da ocupação dos dois, fez força com o biquinho e acabou por erguer a portinhola da separação; dali para o Jardim Botânico, não teve nem graça.

Diz minha irmã que o Braga ficou triste, triste. E como a esperança é a última que morre, antes de ir embora ainda ajeitou a gaiolinha para uma espera: quem sabe os pilantras não voltariam à noite...

Canário, hein Braguinha?...

Fonte:

Margaret Atwood (Poemas Diversos)



SOMOS DUROS UM COM O OUTRO 

I

Somos duros um com o outro
e chamamos-lhe honestidade
escolhendo as nossas verdades dentadas
com cuidado e apontando-as através 
da mesa neutra

As coisas que dizemos são
verdadeiras: é o nosso alvo 
retorcido, são as nossas escolhas 
que nos tornam criminosos.

II

Claro que as tuas mentiras 
são mais divertidas:
porque as fazes novas de cada vez

As tuas verdades, dolorosas e chatas
repetem-se continuamente
se calhar porque és dono 
de tão poucas

III

Uma verdade deveria existir
não deveria ser usada 
assim. Se eu te amo
é isso um fato ou uma arma?

O corpo mente 
ao mover-se assim, são estes 
toques, cabelos, o mármore
macio e úmido que a minha língua percorre
mentiras que me estás a dizer?

O teu corpo não é uma palavra,
nem mente 
nem fala a verdade

Apenas 
estás aqui ou não estás.

DIVAGAÇÃO SOBRE A PALAVRA DORMIR

Gostava de te olhar a dormir
mesmo que isso nunca aconteça.
Gostava de te olhar,
a dormir. Gostava de dormir
contigo, entrar
no teu sono, sentir seu fluxo suave e nebuloso
a deslizar sobre a minha cabeça

e caminhar contigo nessa floresta luminosa
ondulante de folhas fluorescentes
com um sol aquoso e três luas
até à caverna onde terás que descer,
em direção ao teu pior medo

Gostava de te oferecer o ramal de prata,
a pequenina flor branca, 
aquela palavra que te protegerá
da dor a meio
do teu sonho, do desgosto central. 
Gostava de te acompanhar
até ao cimo da longa escadaria
mais uma vez e de ser
o barco para te transportar de volta
com cuidado, uma chama
entre duas mãos em concha
onde o teu corpo se deita
ao lado do meu, e tal como nele entras
com a facilidade com que se respira

Gostava de ser o ar
que te habita  durante um breve momento. 
Gostava de ser tão imperceptível
e tão necessária.

CIRANDA

Estar contigo
aqui neste quarto

é como tatear um espelho
onde o vidro derreteu
até a consistência
de gelatina

 tu recusas ser
(e eu)
um reflexo exato, mas
não te afastas do vidro,
separado.

 De qualquer maneira, o certo
é que puseram
imensos espelhos aqui
(lascados, tortos)

neste quarto com a sua janela alta
e o guarda-roupa vazio;  até mesmo
por trás da porta
está um.

 Há gente no quarto ao lado,
discutem, abrem e fecham gavetas
(as paredes são finas)

Tu olhas para além de mim, ouves
o que dizem, talvez, ou
contemplas
o teu próprio reflexo em algum lugar

atrás da minha cabeça,
por cima do meu ombro

Voltas-te, e a cama
cede abaixo de nós, perdendo o foco

há alguém no quarto ao lado

há sempre

(o teu rosto
distante, escuta)

alguém no quarto ao lado.

HISTÓRIAS VERDADEIRAS

I

Não me peças a história verdadeira;
para que precisas tu dela?

Não é com isso que me levanto
nem o que transporto.

Aquilo com que vou navegando,
uma faca, fogo azulado,

sorte, algumas palavras boas
que ainda funcionam, e o instante.

II

A história verdadeira perdeu-se
durante o caminho para a praia, é alguma coisa

que nunca tive, esse negro emaranhado
de ramos numa luz evanescente,

as minhas pegadas apagadas
cobrem-se com sal

 água, esta mão cheia
de pequenos ossos, a matança daquela coruja;

uma lua, papéis amassados, uma moeda,
o brilho de um antigo piquenique,

as covas feitas pelos amantes
na areia, cem
 anos atrás: nenhuma pista.

III

 A história verdadeira existe
no meio das outras histórias,

uma confusão de cores, como roupa despida
amontoada ou atirada fora,

como corações em mármore, como sílabas, como
despojos de carniceiros.

A história verdadeira é viciosa
e múltipla e falsa

afinal de contas. Para que precisas
tu dela? Não me peças nunca
a história verdadeira.

Fonte:

Contos e Lendas do Mundo (Japão: A luta de sabres)


Essa história transcorre no século 17, no Japão, durante um período de fome.

Um camponês não tinha com o que alimentar sua família e se recorda do costume que promete forte recompensa àquele que seja capaz de desafiar e vencer o mestre de uma escola de sabre.

Ainda que nunca houvesse tocado numa arma em sua vida, o camponês desafia o mestre mais famoso da região. No dia fixado, diante de público numeroso, os dois homens se enfrentam. O camponês, sem se mostrar impressionado pela reputação do adversário, o espera com firmeza, enquanto o mestre de sabre estava um pouco perturbado por tal determinação. 

Quem será este homem? - pensa - Jamais nenhum vilão teria coragem de me desafiar. Não será uma armadilha de meus inimigos?

O camponês, acuado pela fome, se adianta resolutamente até seu rival. O mestre vacila, desconcertado pela total ausência de técnica de seu adversário. Finalmente, retrocede movido pelo medo. Antes do primeiro assalto, o mestre sente que será vencido. Baixa seu sabre e diz:

- Você é o vencedor. Pela primeira vez na vida seria abatido. Entre todas as escolas de sabre, a minha é a mais renomada. É conhecida com o nome de "A que num só gesto dá dez mil golpes". Posso perguntar-lhe, respeitosamente, o nome de sua escola?

- A escola da fome! - responde o camponês.

Fonte: