quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Francisca Júlia (O Senhor Cura)


O senhor cura era o homem mais caritativo e generoso que havia na aldeia.

Velho já, os cabelos brancos como a neve, quando o viam atravessar as ruas, a cabeça trêmula, o passo incerto, a velha batina de pano grosseiro cheia de rasgões e remendos, os aldeões acompanhavam-no com olhar respeitoso e cumprimentavam-no, sorrindo.

As crianças corriam a tomar-lhe a bênção. Ele afagava-as, alisando-lhes os cabelos; perguntava pela saúde dos pais e dava-lhes moedas em cobre. Todos o amavam.

Quando uma rapariga se ia casar, partia o cura a visitá-la, a dar-lhe bons conselhos, como si fosse pai. Se a moça era pobre, o cura ia de casa em casa angariando esmolas e presenteava-a com o enxoval e objetos úteis.

À cabeceira do doente, era, ao mesmo tempo, médico e enfermeiro: — preparava as tisanas e aplicava-as. No leito do agonizante era confessor e amigo: — aconselhava ao arrependimento, ensinando o caminho do céu, e chorava aos primeiros anseios da agonia.

Nas horas vagas, depois de haver rezado e feito as suas obras de caridade, ensinava às crianças a doutrina cristã e dava-lhes gulodices.

À noite, quer nas chuvas do estio ou no frio do inverno, ia visitar a miséria da aldeia. A este dava o azeite para a lamparina, àquele um pedaço de pão, e a todos, em geral, bênçãos, conselhos e carinhos.

E no entanto, quanta vez a velha criada que o servia não o ia encontrar sentado à beira da estrada, morto de fadiga e quase moribundo de fome! Ralhava-lhe então com palavras afetuosas e amargas:

— Isto já não tem jeito! Viver por aí a socorrer a pobreza, a pedir esmolas para dar aos outros e não se lembrar de que é pobre também, que está com a batina em trapos, o calçado roto e que em casa não há nem um naco de pão para a nossa boca! É de mais! Vamos, saia daí, apoie-se em meu braço e vamos para casa! Até parece que Deus vira seu santíssimo rosto!

E lá iam os dois, estrada fora, de braços dados, como dois mendigos.

Era assim o pobre cura — bom até à dedicação, caridoso até ao sacrifício.

Houve um dia em que uma febre contagiosa e mortal atacou os habitantes do lugar.

Os ricos fugiram; alguns abandonaram suas casas; muitos, porém, preferindo morrer da febre a sofrer miséria em terra estranha, ou, talvez, na esperança de ser protegidos pela providência, deixaram-se ficar na aldeia, a trabalhar.

Quem passava pela rua ouvia no interior das casas gemidos de dor e gritos de desespero.

O cura, então, saiu, foi de casa em casa em socorro dos doentes, consolando os aflitos, confessando os agonizantes, sempre solícito, sempre carinhoso, sem se importar com o cansaço que lhe invadia o corpo e nem com a fome que lhe devorava as entranhas.

Houve um instante em que, não podendo mais sofrer o cansaço e a fome, se deixou cair no chão, e, tirando do bolso um pedaço de pão duro, dispôs-se a comer.

Um mendigo, que passava, pediu-lhe a bênção e disse-lhe:

— Senhor cura, estou quase morto de fome e mal posso sustentar-me nas pernas. Socorrei-me.

— Toma, pobre homem, este pedaço de pão. É o único que me resta, mas a minha fome está satisfeita. — Toma.

O mendigo comeu e partiu.

Minutos depois o velho cura tinha morrido.

Fonte:
Iba Mendes

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Isabel Furini (Expelir)



Fonte:
Facebook da poetisa.

André Kondo (A Montanha)


Subo a montanha. Não procurei saber o seu nome, como costumava fazer. Nas montanhas que escalei, sempre havia algum sentido no esforço. Não era apenas pela vista ou mero exercício, que minhas pernas não obedeceriam a coisas tão vãs. No Japão, todas as montanhas são sagradas. No alto, encontrei portais xintoístas que separavam o profano do sagrado. No alto, o sagrado. Era isso o que eu buscava?

Hoje, a última subida. Sinto-a bem, mesmo sabendo que ainda não encontrei o que procurei durante toda a vida. Mas o que fazer, se as pernas me desobedecem? A montanha que subo agora não tem nome. Não para mim. Estou velho, é o que pensam. E, para os velhos, nomes são coisas raras. Ainda mais para quem passa a sofrer da memória, como dizem os médicos. Eu discordo do diagnóstico: sofrer. De fato, essa doença da qual não me recordo o nome, na verdade, não é sofrimento. Afinal de contas, esquecer é um consolo. Na vida, todo o sofrimento vem do ato de lembrar. Lembra-se de um trauma, de palavras duras vindas de pessoas amadas ou para elas proferidas, de fracassos, de dores. E a maior dor causada pelo ato de lembrar se chama saudade. Portanto, por não me lembrar, não sinto saudades de nada. Não há dor.

Porém, apenas uma coisa insiste em permanecer dentro de mim: esse desejo de subir montanhas. Talvez tenha sido apenas isso que me restou. A memória agora é um deserto, e a única coisa a se avistar é o alto de uma montanha no horizonte de areia.

Nunca havia compreendido totalmente o sentido de meus passos. Creio que a vida seja como subir montanhas. Alguns o fazem apenas pela vista lá do alto, outros o fazem pelo gosto da conquista e ainda há outros, como eu, que tentam alcançar algo além do que a vida pode proporcionar, como se o cume de uma montanha pudesse revelar o que a planície do cotidiano, vista de tão perto, esconde. O que parece grande — e importante — do chão, no alto toma-se apenas pequenina parte de algo muito maior. A vista do topo revela o todo.

Os homens se esgotam, sempre escalando montanhas, sempre procurando o alto das coisas. Sempre...

Muitos disseram que eu não conseguiria. Eu dizia que ainda escalaria a última montanha. Ainda descobriria o sentido da vida. Muitos riram. Não riram na minha cara, mas um velho sabe quando riem dele. Agora, sou eu quem ri. Sorrio.

Subo a montanha. Subo na horizontal.

Deitado na cama, corpo preso a estes tubos e fios... Todavia, meus olhos, espelhos da alma, refletem a liberdade. Vejo a montanha. Ela é linda, ela não tem nome. Subo a montanha.

Só quando, finalmente, fecho os olhos, eu chego ao topo, pela última vez. E compreendo que o destino de um homem não se prende aos seus passos. O destino de um homem é escalar a própria alma: é ser a própria montanha.

[Vencedor do Prêmio da Academia de Letras da Região Oceânica de Niterói/RJ; destaque do 3. Prêmio Literário Legislativo de Caçapava do Sul – Casa do Poeta (RS).]

Fonte:
André Kondo. Contos do Sol Renascente. Jundiaí/SP: Telucazu Ed., 2015.

Raílda Masson (Poemas Seletos)


AOS IMORTAIS

Não poderia confessar aos homens,
então segredo aos Imortais,
o motivo dos olhos perderem o viço.
Difícil falar de sentimentos aos comuns,
deixemos que eles vivam felizes em dúvida.
Para os Imortais das Letras é fácil explicar,
o negrume do pensamento quanto ao amado,
pois eles definharam pelo mesmo tormento.
Eis que na hora inquisitória do julgamento,
confesso aos algozes da alma,
que o "eu" poeta escreve aleatoriamente,
inspirado em histórias de desamor que ouve,
Eles acreditam na minha inocência
e seguem absortos em pensamento,
enquanto eu continuo rabiscando
o nome dele no subliminar de um escrito.
Aplausos ao "fingidor" e aos que creem
na soberania da mentira branca,
para serem os poetas isentos de pilhérias.

QUERO UM CANTO

Quero um canto.
Quem sabe em uma ilha com gaivotas,
num abrigo onde a razão fique,
impreterivelmente do lado de fora.
Quero o sossego do ventre ou do ninho,
com o burburinho do mar na encosta.
Pode ser num farol abandonado,
tendo apenas tocos de velas e livros;
nalgum ponto sem ordem de despejo
e sem a visita de navios à deriva.
Quero um canto.
Onde o pensamento não me atormente,
trazendo-me o passado como companhia.
Quisera seja na Ilha de Santa Helena,
ou até mesmo em Pasárgada!
E se porventura lá um Bandeira me espera,
que seja o ator Antônio ou o poeta Manoel.
Quero um recanto.

MEIGA E DOCE

Tu pedes para eu ser meiga e doce,
como se fosse possível longe de ti.
Aos olhos dos outros,
sou uma mulher independente,
em teus braços submissa e aprendiz.
Meiga e doce apenas sendo amada,
num dado momento emprestado.
No apogeu, digo que és meu dono
e enquanto me chamas tua escrava,
fico à disposição de suas carícias,
roubadas do fuso horário.
Longe de ti escondo as doçuras,
numa arca lacrada de fetiches,
empoeirada pelo desuso.
Constato no ínterim da ambiguidade:
Fui feminina, feminista e fêmea,
num caleidoscópio aos teus apelos,
Mediante a luz da realidade,
longe de teus afagos roubados:
Meiga e Doce que nada!

Fonte:
Poemas entregues pela poetisa

Camilo Castelo Branco (A Queda Dum Anjo)


Santa audácia! Bizarra índole de antigo cavaleiro, que abriga no peito a generosidade com que os heróis dos Lobeiras, Cervantes, Barros e Morais se lançavam às aventurosas lides, no intento de corrigir vícios e endireitar as tortuosidades da humana maldade!

Não desanimou Calisto Elói, tão desabridamente rebatido por D. Catarina Sarmento.

Averiguou quem fosse o galã daquela cega dama, e facilmente lho nomearam. Era um gentil moço, useiro e vezeiro de semelhantes baldas, enfatuado dela, e respondendo por si com sabre ou florete, quando gente intrometida em vidas alheias lhe falava à mão.

O informador do rogado explanou difusamente as qualidades do sujeito, relatando as vítimas, e os acutilados na defesa delas.

Ocorreu à memória de Calisto aquela apostólica e heroica intrepidez de Fr. Bartolomeu dos Mártires, quando foi a defrontar-se com um criminoso e valente comendador, que prometia engolir o arcebispo de Braga, e o colégio dos cardeais com o próprio papa, se necessário fosse!

Grande coisa é ter lido os bons clássicos, se desejamos saber a língua portuguesa, e criar alentos para atacar velhacos!

Aí vai o esforçado Calisto Elói de Silos em demanda de D. Bruno de Mascarenhas. Um escudeiro anuncia ao fidalgo um ratazana.

— Quem é um ratazana? — pergunta D. Bruno.

— É um sujeitório (indivíduo muito ordinário)— diz o criado — vestido ratonamente, e não diz o nome, porque V. Ex.a o não conhece.

— Que quer ele?

— Falar com V. Ex.a.

— Vai perguntar-lhe quem é, donde vem, e que quer.

Interrogou o criado com mau semblante o morgado.

Calisto escreveu numa página rasgada da carteira, e perguntou ao criado se sabia ler. Disse que não o interrogado.

— Pois entrega esse papel a S. Ex.a.

D. Bruno leu, meditou algum espaço, e perguntou:

— Sabes se em casa do desembargador Sarmento há algum criado chamado Custódio?

— Não, senhor, não havia até ontem; só se entrou hoje.

— Esse homem que aí está dá ares de criado? — Não, senhor: é assim um jarreta (quem se traja mal) vestido à antiga, com uma gravata que parece um colete.

— Manda o entrar para aqui.

D. Bruno releu a linha escrita a lápis, e disse entre si:

— Que Custódio é este!?

Nisto, assomou Calisto Elói.

Bruno de Mascarenhas adiantou-se a recebê-lo, e disse-lhe maravilhado:

— Eu já tive a honra de cumprimentar a V. Ex.a no escritório da Nação. V. Ex.a é o Sr. Calisto Elói de Barbuda.

— Sou, e agora me recordo que já tive o prazer de o encontrar...

— Mas V. Ex.a neste bilhete diz que é Custódio! — tornou Bruno.

— Custódio, que é sinônimo de anjo-da-guarda, ou anjo-custódio da Ex.ma Sr.ª D. Catarina Sarmento.

Abriu o moço a boca, e disse:

— Ah! ... Agora é que eu percebo ... Mas ... Queira V. Ex.a sentar-se... Eu não sei que alusão possa ser esta... Que... A respeito de... Calisto – sentou-se, estendeu o braço direito com a mão aberta, e atalhou o enleio de Bruno dizendo solenemente:

— Vou falar.

E, após curta pausa, relanceou discretamente os olhos à porta, como quem receia ser ouvido.

— Pode V. Ex.a falar, que eu fecho a porta — disse o confuso Mascarenhas.

— O Sr. Bruno de Mascarenhas — prosseguiu o morgado — é solteiro. Cedo ou tarde há de ser casado, porque é varão de preclaríssima linhagem, e duas forças invencíveis hão de compeli-lo a propagar-se: o sentimento congênito da espécie, e a glória, que vanglória não é, da prossecução da raça.

(Este exórdio abrupto envencilhou os espíritos de D. Bruno, os quais eram pouco entendidos em estilo garrafal.)

— Façamos de conta — prosseguiu Calisto — que V. Ex.a é hoje, como será, volvidos meses ou anos, casado com uma dama igual em sangue, de honrada fama, acatada do conceito geral, dama enfim, na qual V. Ex.a empregou suas complacências todas. À boa dita de esposo sucede-lhe a prosperidade de pai. Vê V. Ex.a em redor de si umas alegres criancinhas, que o beijam e o furtam, com graciosas meiguices, às graves cogitações nos negócios, e aos aborrecimentos que salteiam as existências mais descuidadas e desprendidas. A mãe dos filhinhos de V. Ex.a é o cofre de ouro; as crianças são as joias inestimáveis que V. Ex.a lá encontrou e lá encerra.

A mãe é a flor, os filhos são o fruto. V. Ex.a arde de amores deles e dela. Porque a sua família é não somente a sua alegria doméstica, senão que lhe é fora de casa um pregão da honestidade e honra que vai nela.

De repente, quando V. Ex.a está meditando nos júbilos da velhice, com seus filhos já homens com sua esposa laureada pelas cãs sem mácula, de repente, digo, há um amigo em lágrimas, ou um inimigo secretamente satisfeito, que lhe diz: "Tua mulher desonra-te; essas crianças, que tu afagas, e para quem estás multiplicando os teus haveres, podem não ser teus filhos, porque tua mulher prevaricou."

Pergunto eu ao Exmo. Bruno de Mascarenhas, a sua agonia, nessa hora de atroz revelação, como hão de expressá-la os que a não sentiram ainda?

— Não sei... — respondeu Bruno. — Só no caso de se darem as circunstâncias que V. Ex.a diz, é que se pode responder.

— Todavia, o seu entendimento e coração, já antes da experiência, podem antever qual deva ser a agonia do marido desonrado pela ignomínia de sua mulher...

— Sim...

— Até aqui a hipótese em V. Ex.a; agora o exemplo em Duarte de Malafaia, marido de D. Catarina Sarmento. Duarte era rico, e dos mais fidalgos; por excesso de amor casou com D. Catarina, filha de um nobilíssimo cavalheiro, porém magistrado empobrecido pelos desconcertos da política. Duarte entrou naquela casa, restaurou a decência antiga, e encostou ao seio as cãs do magistrado octogenário, assegurando-lhe o sossego e contentamentos dos anos últimos da vida.

Decorridos cinco anos, Duarte tem cinco filhos. São anjos que descem a povoar o paraíso daquela ditosa família. Brincam à volta de sua mãe, e como que lhe estão dando os alegres emboras da felicidade que ele está gozando, e lhe augura a eles.

É neste ensejo que o inferno se abre aos pés desta família honrada e ditosa. Surge das tenebrosas agonias um homem que despedaça às mãos os laços humanos e divinos da santa união do velho, da filha, do genro, e dos netos. Ora, o homem que os assaltou no seu éden foi o Sr. D. Bruno de Mascarenhas.

— Eu! ... — exclamou o moço com artificial espanto.

— V. Ex.a. Vejo-o admirado, não sei se da minha afoiteza, se da responsabilidade que lhe pesa, Sr. D. Bruno!

— Mas o que houve em casa do Sarmento? — perguntou alvoroçado o fidalgo. — O que eu antes de ontem vi foi a face do ancião lavada de lágrimas. O que eu vi ontem à noite foi Duarte de Malafaia fitar os olhos nas criancinhas, e escondê-los para que o não vissem chorar. O que hoje verei em casa do desembargador Sarmento, se V. Ex.a o não pressagia... Não temos tempo para conjecturas; a chaga deve ser cauterizada já, para não ser gangrena amanhã. Quer V. Ex.a ajudar-me a conjurar a nuvem negra que vai rasgar-se em torrentes de desgraças?

D. Bruno refletiu dois segundos, como se houvesse pejo de responder, no primeiro instante:

— Da melhor vontade. Eu desisto destas relações, para evitar desgostos sérios à Sr.ª D. Catarina.

— Fala-me um honrado português, que tem o apelido dos Mascarenhas? — perguntou com solenidade o Barbuda.

— Juro pela honra de meus avós.

— Que vai fazer V. Ex.a? — tornou Calisto.

— Antecipo um passeio que mais tarde tencionava fazer à Europa. Parto no paquete de amanhã para França.

— Sem dizer nem fazer saber à Sr.ª D. Catarina que esteve aqui um amigo do desembargador Sarmento.

— Nada direi, Sr. Barbuda.

— Aperto-lhe e beijo esta mão. Agradeço-lhe em nome dos cinco filhos de Duarte Malafaia, ou dos cinco anjos que lhe chamam pai.

E saiu com os olhos marejados.

Fonte:
Universidade da Amazônia

terça-feira, 1 de outubro de 2019

Leandro Bertoldo (Por que eu ainda acredito em livros?)


O motivo pelo qual eu ainda acredito em livros – mesmo com a última pesquisa do Instituo Pró-Livro, da 4a. edição dos “Retratos da Leitura no Brasil”, em 2016, apontar que 44% da população não é leitora e 30% nunca ter comprado um livro na vida – pode ser um tanto romântico, mas é verdadeiro: Eu ainda acredito em livros porque eu ainda acredito nas pessoas, e livros transformam pessoas.

A esse pensamento se juntou um outro, que se transformou no meu modelo de trabalho: a produção sob demanda. Você certamente já ouviu falar dela, mas realmente sabe o que ela significa?

Bem, a definição é simples. É aquela produção onde o produto é feito especialmente para o consumidor. Mas a ideia vai muito além disso. O que torna esse tipo de produção interessante é o fato que ela influencia diretamente o meio ambiente através do nosso comportamento, pois ela reduz significativamente a geração de lixo e melhora a qualidade de vida desta e das futuras gerações.

Sim, através da produção sob demanda diminuímos livros em estoque, e livros estocados são árvores mortas, trabalho perdido, esforços e tempo jogados fora, materiais desperdiçados, sonhos congelados.

Há outras consequências que poderíamos apontar, mas uma delas é fundamental: em um livro – seja um romance, um conto ou poesia – pode estar a solução tão procurada por alguma coisa, seja uma mudança de vida, a coragem que faltava para isso, o princípio de uma ideia, ou quem sabe a ideia completa para algo que você nunca havia pensado... Pois é, é como eu disse: livros transformam pessoas.

É por acreditar nessa ideia que me tornei escritor. E é por acreditar ainda mais nela que criei a minha própria produção sob demanda. Você pode conhecê-la aqui neste blog, em especial acessando https://arvoredasletras.com.br/vivenciando-a-linguagem-leitura-e-escrita/, e ver como os livros são feitos na máquina “Paula Brito” e todo o conceito construído, as etapas de desenvolvimento e tudo o que sustenta esse trabalho.

Tenho 4 livros publicados: Janelas da Alma: uma tempestade íntima, um conflito, um retorno, Entrelinhas Contos mínimos, Relicário Pessoal – haicais e o infantil O Menino que Aprendeu a Imaginar. Todos eles são feitos utilizando a produção sob demanda, ou seja, os livros são feitos para você na quantidade que desejar e enviados para a sua casa com toda segurança e conforto. Mas isso, por si só, seria comum. O que faz com que meus livros sejam diferentes é a matéria-prima utilizada. Todos eles são feitos com capa em papel ecológico inteiramente personalizada com fibras de material orgânico e tinta natural, numa verdadeira artesania literária, sendo o miolo do livro de papel reciclável, demonstrando um valor importante na preservação do meio ambiente, através do uso consciente de recursos renováveis.

É isso que faz da Árvore das Letras, além de uma escola, uma editora realmente independente e do selo Alforria Literária uma nova forma de fazer literatura. Conheça os livros, veja-os de perto, sinta-os e entenderão, através de sua leitura e de todo o trabalho envolvido, a materialização do pensamento de George Bernard Shaw: “Alguns homens observam o mundo e se perguntam “por quê?”. Outros homens observam o mundo e se perguntam “por que não?”.

Fonte:
Resumo Semanal da Árvore das Letras, enviado pelo criador do site, em 23 de setembro de 2019.

Júlio Ribeiro (A Carne – análise)


A obra A carne, de Júlio Ribeiro, é um romance naturalista publicado em 1888 que aborda temas até então ignorados pela literatura da época, como divórcio, amor livre e um novo papel para a mulher na sociedade. O lançamento de A Carne, em 1888, fez grande sucesso e causou escândalo entre as famílias paulistanas tradicionais. As jovens eram proibidas de ler a obra e muitos pediam segredo ao comprar.

O romance por muito tempo lhe figurou de obsceno, mas o livro é mais do que um mero escândalo sexual. Foi um dos livros mais discutidos e populares do país, e ainda hoje são vendidas edições antigas (porém mutiladas) da obra. A maior qualidade do romancista não está precisamente em sua ficção, mas em sua disposição para chocar uma sociedade moralmente hipócrita que veio por décadas lhe aprisionar à margem da grande Literatura.

A divergência de opiniões a respeito do romance tem fundamento. A temática naturalista de Júlio Ribeiro explicita manifestações de desejo sexual, sadismo, ninfomania, perversões, nudez e sexo. O olhar sobre o livro, enfim, sempre se dividiu entre a apreciação estética e o julgamento moral. Foram vários os vetos feitos ao livro, entre os quais o mais categórico partiu de Álvaro Lins que, em 1941, classificou a obra como "mediocridade intelectual". Manuel Bandeira lhe rendeu uma análise biográfica cercada de integridade moral, mas foi um dos poucos a lhe render glórias por sua posição didática e combativa.

Com uma personagem diferente, ativa com intensos desejos sexuais, Júlio Ribeiro foi alvo de infinitas ofensas e injúrias. Por causa de uma mulher "perigosa", quiçá, as outras denúncias de Júlio Ribeiro ficassem despercebidas ou os críticos não as queriam ver. A personagem principal Helena Matoso, mais conhecida pela alcunha de Lenita, sente fortes concupiscências. Para muitos críticos, esse intenso desejo, provocado pela carne, será considerado um “histerismo”, qualidade que advém de Magdá, a histérica personagem do romance de Aluísio Azevedo: O homem (1887). Muitos estudos tecem essa semelhança devido à irritabilidade ou ao nervosismo excessivo causado pela força da carne – do desejo sexual – em ambas. Para Magdá, seria certa a tese da histeria. Para Lenita, não.

A personagem Lenita chocou a sociedade do final do século XIX, causando-lhe incômodo, que ainda via a mulher como ser passivo, devendo ser sempre inferior aos homens. A Carne recebeu vários predicativos à época, a maioria depreciativos, por causa de cenas lúbricas. Ademais, o espanto se deu não só por causa do erotismo da trama, mas também por causa de uma mulher independente, rica e inteligente – mesmo que esta estivesse atrás da máscara do sexo apresentado no romance, sendo difícil sua aceitação para o mundo de então; essa mulher de vanguarda foi vista pela miopia enferma da sociedade cujas dimensões ultrapassavam o natural, e esta, querendo perenizar conceitos e tabus ultrapassados, deixou que os momentos eróticos e exóticos fossem o único ponto máximo do romance, encobrindo a importância da heroína ao contexto social brasileiro e mundial.

A cegueira da sociedade foi contaminada pelo tom “obsceno” do livro, e o mais importante foi esquecido: o surgimento de uma mulher independente, em todos os sentidos, mesmo que seja em romances. O livro era dissidente e, por isso, obteve alguns poucos panegíricos e muitas depreciações. Não houve parcimônia a Júlio Ribeiro. Ele foi um escritor que causou uma espécie de cissiparidade nos leitores: ao mesmo tempo em que desdenhavam o romance, liam-no em solipsismo. Todavia, mais tardar, as críticas de tom exageradamente leviano tão-somente ajudariam a promover a obra, pois, através dos julgamentos ferinos, A Carne foi ganhando mais e mais popularidade. Se não pelo seu “valor literário”, como julgavam e ainda julgam, pelo menos, pela polêmica que causou a obra, introduzindo aos leitores, mesmo sendo com suaves matizes, ideais progressistas que tanto defendia Júlio Ribeiro: modernização do Brasil, abolição da escravatura, a República, entre outros. Assim, até mesmo aqueles que repudiavam a obra, liam-na às escondidas, intencionando descobrir o proibido, querendo ter acesso ao que, socialmente, não era permitido.

Enredo

O livro conta a história da garota Lenita, cuja mãe morrera em seu nascimento e o pai educara-a ministrando-lhe instrução acima do comum. Lenita era uma garota especial, inteligente e cheia de vida. No entanto, aos 22 anos, após a morte de seu pai, tornou-se uma jovem extremamente sensível e teve sua saúde abalada. Com o intuito de sentir-se melhor, Lenita decide ir viver no interior de São Paulo, na fazenda do coronel Barbosa, velho que havia criado seu pai. Lá, conhece Manuel Barbosa, o filho do coronel. Manuel era um homem já maduro e exímio conhecedor das coisas da vida, vivia trancado no quarto com seus livros e periodicamente partia para longas caçadas; vivera por dez anos na Europa, onde se casara com uma francesa de quem separara-se há muito tempo. Lenita firmara uma sólida amizade com Manuel, que, aos poucos, vai se revelando uma tórrida paixão, no início, repelida por ambos, mas depois consolidada com fervor em nome do forte desejo da "carne".

O livro narra a ardente trajetória desse romance singular, marcado por encontros e desencontros, prazer e violência, desejo e sadismo, batalha entre mente e carne. A história caminha para um trágico desfecho a partir do momento em que Lenita, encontrando cartas de outras mulheres guardadas por Manuel, sente-se traída e resolve abandoná-lo; estando grávida de três meses, casa-se com outro homem. Manuel, não suportando tamanha traição, suicida-se, o que comprova o resultado final da batalha "mente versus carne". No início, triunfam os prazeres da carne, no trágico final, os desenganos da mente.

Comentários

Ronald de Carvalho lembra que o romance A Carne, não esteve à altura do seu talento. Ele contrabalança seus aspectos positivos e negativos:
"A Carne é um livro de exaltação, um hino dionisíaco ao prazer, ao gosto relativista, ao aproveitamento do momento que passa. Apesar do processo zolista, evidente que no arranjo das cenas, no exagero das paixões, na brutalidade das criaturas, e, até, num certo propósito de confundir o leitor ingênuo; apesar da grosseria da palavra e do gesto, notadamente violentos e estranhos, ásperos e pesados, há na Carne uma poesia instintiva, um penetrante perfume de selva exuberante e selvagem. É uma obra comprometida pelo tom geral e escandaloso e atrevido, mas onde, não se pode negar, sobressaem muitas qualidades apreciáveis e um forte lirismo."

Agripino Grieco retorna à linha do escândalo em sua análise sobre a evolução da ficção brasileira e a posição da obra de Júlio Ribeiro dentro da mesma:

"Com as patifarias de Lenita, esse professor da Paulicéia serviu pastilhas afrodisíacas aos estudantes ginasianos, embora depois lhes esfriasse o ânimo com as austeras lições de complicadíssima gramática. Pedagogo atacado de delírio erótico, Júlio Ribeiro pôs o seu casal frascário a vagar por entre as mais lindas paisagens, à maneira de um magarefe idílico, de um charcuteiro que amasse as árvores e as flores. Mas, examinando-se bem, haveria na publicação desse romance uma espécie de provocação aos puritanos da província que irritavam o evocador do padre Belchior de Pontes."

Na mesma linha concisa trabalha Antonio Soares Amora, que contrapões o tom polêmico do livro e seus deslizes estéticos:

"Desde o momento do seu aparecimento teve, A Carne, como não podia deixar de ser, o condão de despertar violentas críticas: é que o romance, intencionalmente naturalista, dedicado a Emilio Zola, vinha de consagrado mestre da língua; no entanto chocava, como ainda hoje choca, pela concepção materialista da vida, onde são falsos os caracteres, sobretudo Lenita, a protagonista, e má a tecedura gramatical. Boa no romance apenas a expressão literária, que é de um admirável escritor. Apesar de tudo o que evidentemente tem de mau o romance, enquanto romance, continua a despertar interesse de certo público, pelo que oferece, já no título, dos "segredos materialistas" da patologia sexual."

Bem mais cortante é a avaliação de Lúcia Miguel Pereira. Ela não ameniza os defeitos do livro e encontra nele qualidades mínimas. Lenita, em sua opinião, é a causa maior para o desarranjo estrutural da trama elaborada por Júlio Ribeiro:

"O caso de Júlio Ribeiro é típico. Filólogo e polemista de valor, autor de um romance histórico do mais desmarcado romantismo, com cenas à Eurico, deixou-se empolgar pelos famosos ‘estudos de temperamento’. E malgrado seu poder descritivo, só conseguiu compor um livro ridículo.

(...)
Lenita é tão inexistente, com seu corpo demasiadamente exigente, como as incorpóreas heroínas românticas. Como a maior parte das personagens do nosso naturalismo, foi uma romântica às avessas, isto é, construída, não segundo a observação, mas de acordo com fórmulas preestabelecidas, que prescreviam a substituição dos sentimentos pelos instintos."

A personagem mais famosa de Júlio Ribeiro também recebeu as agudas considerações de Silvio Romero. Ao comentar os livros naturalistas lançados em 1888, o eminente crítico chama a atenção para o papel da leitura na formação da personalidade difusa da amante de Barbosa:

"Lenita é uma preciosa de truz, uma pedantesca moça, a quem a leitura e o estudo desorientado não puderam sofrear os ímpetos da carne e que se prostituiu sofregamente com o primeiro que lhe apareceu e que lhe dava lições."

Fonte:

III Jogos Florais de Itaocara/RJ - 2019 (Classificação Final)



VENCEDORES:

NACIONAL

CATEGORIA NOVO TROVADOR 

TEMA: PRAÇA

Rubia Carla Sterza Versoza 
Londrina/PR

Alberto Valença Leal de Lima 
Recife/PE

José Arthur Basaglia 
São Paulo/SP

Sílvio Romero Ribeiro Tavares 
Campinas/SP

Cícero Matos de Castro Novo Trovador 
São Gonçalo/RJ

César Augusto Ribas Sovinski 
Curitiba/PR
____________________________________________

MUNICIPAL (Itaocara/RJ)

TEMA: PRAÇA

Jaime Gomes de Lima 

Luiz Carlos da Silva Câmara 

Maria Clara Vieira Câmara 

Josué Lima de Araújo 
____________________________________

NACIONAL

TROVA HUMORÍSTICA 

TEMA: DEMOCRACIA

VENCEDORES 

Carlos Alberto de Assis Cavalcanti 
Arcoverde/PE

Roberto Tchepelentyky 
São Paulo/SP

Hélio Castro 
São Paulo/SP

Ana Cristina
São Paulo/SP

José Almir Loures 
Astolfo Dutra/MG

Edy Soares 
Vila Velha/ES

Wanda de Paula Mourthé 
Belo Horizonte/MG

Jessé Fernandes do Nascimento 
Angra dos Reis/RJ

Roberto Nini 
Mogi Guaçu/SP

Sandro Pereira Rebel 
Niterói/RJ

NACIONAL

VETERANOS

TROVA LIRICA/FILOSÓFICA 

TEMA: LIBERDADE

VENCEDORES: 

Maria Helena Ururahy Campos Fonseca 
Angra dos Reis/RJ

Margarida Tanini 
Juiz de Fora/MG

Maria Alice Araújo Veloso 
São Gonçalo/RJ

Relva do Egypto Rezende Silveira 
Belo Horizonte/MG

Antônio Augusto de Assis 
Maringá/PR

Abílio Kac 
Rio de Janeiro/RJ

Maria Madalena Ferreira 
Magé/RJ

Magnus Kelly 
Natal/RN

José Antônio de Freitas 
Pitangui/MG

Aparecida Gianello dos Santos 
Martinópolis/SP

MENÇÕES HONROSAS:

Roderique Pedro Albuquerque 
Itaboraí/RJ

Edmar Japiassú Maia
Rio de Janeiro/RJ

Maria das Graças dos S. Vaz
Niterói/RJ

Jorge Roberto Vieira de Carvalho
Niterói/RJ

Fonte:
A. A. de Assis 

Academia Ituana de Letras (Convite: 5 de Outubro)

Convite

A Academia Ituana de Letras convida para o encontro cultural “Vida e obra do sociólogo Octávio Ianni” com a participação do Prof. Rodrigo Prando (Mackenzie) e a bibliotecária Priscila Carreira (UNESP Araraquara).

Na oportunidade será lançado o volume XXI da Revista da ACADIL.

05 de outubro de 2019, sábado, 10h30
Museu da Energia de Itu
Rua Paula Souza, 669, Itu/SP.

Fonte:
Email da ACADIL

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Cecy Barbosa Campos (O Malabarista)


Poderia ter uns quinze anos, mas sua fisionomia gasta e cansada e o olhar sem brilho demonstravam que a sua vivência não correspondia a tão curto período de vida.

Costumava encontrá-lo na mesma esquina, de segunda a sexta-feira, quando voltava do trabalho. O ônibus parava no sinal, e eu o via na pista lateral, a dos automóveis, fazendo os seus malabarismos com pequenas bolas que jogava para o ar e que pareciam lá permanecer, pois o toque em suas mãos era tão sutil, que quem o observava tinha dificuldade em perceber. Rapidamente, encerrava aquela apresentação relâmpago, para ter tempo de percorrer os carros, estendendo a mão aos motoristas antes que surgisse a luz verde que não representava esperança – ao contrário - muitas vezes, ela evidenciava o desapontamento pelo parco resultado da coleta ou o desgosto misturado à raiva, pelas admoestações que os motoristas frequentemente lhe dirigiam.

Houve tempo em que ele mesmo observava os malabaristas do trânsito e se encantava com a habilidade deles. A mãe puxava-o pela mão, apressada, pois tinha que deixá-lo na creche antes de continuar seu caminho para a casa, onde trabalhava como empregada doméstica. 

A vida parecia bem encaminhada para aquela família humilde. O irmão estudando no Grupo Escolar; a mãe, ativa e descontraída, limpando, com zelo, a casa dos patrões e o barraco em que habitavam. O pai era vigia e mostrava-se orgulhoso de suas responsabilidades.

De repente, da noite para o dia, tudo mudou. Um tiro certeiro atingiu o coração do pai quando, bravamente, ele enfrentou os bandidos que assaltaram a firma em que trabalhava. O desespero da mãe levou-a a um infarto fulminante alguns dias depois; o irmão, assediado pelos traficantes do morro, passa a ser usado por eles sem possibilidades de escapar e tomar outro caminho,

Edilson compreende que deve fugir daquele local e vai para o outro lado da cidade, onde aprende o jogo das bolas que passam a servir-lhe de ganha-pão.

Agora, não mais se encanta com os movimentos que se desenham no ar. Os insultos que ouve de alguns motoristas, ao mesmo tempo em que machucam seu coração, servem de alerta para a necessidade de conseguir algum tipo de serviço.

Fiquei sabendo de sua história porque, cedendo a um impulso, desci do ônibus naquele sinal e decidi-me a abordá-lo. Desconfiado, não queria conversa, mas, aos poucos, sua resistência foi diminuindo e acabou respondendo ás minhas perguntas.

Combinamos que eu tentaria arranjar-lhe algo que pudesse levá-lo ao aprendizado para alguma profissão. Consegui, através de alguns contatos, localizar um jardineiro que, há muitos anos servira aos meus avós. Aposentado, não mais trabalhava assiduamente, mas conhecia a arte da jardinagem como ninguém e mesmo sem os requintes de um paisagista tinha bom gosto para combinar diversos tipos de plantas e mãos de ouro que faziam a terra aceitar prazerosa mudas e sementes que nela inserisse.

Conversei com o bondoso ancião que, feliz, aceitou a incumbência.

Levei-lhe o Edilson. Os dois se entenderam às mil maravilhas. O experiente jardineiro, além de transmitir as manhas do ofício, praticamente completou a educação do outro neto que ganhara.

Por algum tempo, nada soube a respeito deles. Depois fiquei sabendo da partida do velho que, por certo, fora plantar flores ainda mais belas, em outros jardins. Anos mais tarde, li num jornal uma noticia pequena que falava de um rapaz que, levando ás costas um caixote com as flores que cultivava, fora atingido por uma bala perdida. Ao cair, sobre o seu corpo espalharam-se os pequenos buquês que, cuidadosamente, arrumava e vendia à porta de um restaurante próximo.

O caso não teve nenhuma repercussão. O Edilson fora apenas mais uma vítima de balas perdidas que, diariamente, aumentam as estatísticas das grandes cidades.

Fonte:
Cecy Barbosa Campos. Recortes de Vida. Varginha/MG: Ed. Alba, 2009.
Livro enviado pela autora.