quinta-feira, 31 de março de 2022

Aluísio de Azevedo (Heranças)


Duro o sobrecenho, a cara franzida e má, trabalhava ele sombriamente à sua secretária, importunado pelo rumor de duas vozes, uma de homem e outra de mulher, que altercavam na sala próxima, num arrastado crescendo de rixa habitual.

- Diabo! resmungou, coçando a cabeça. Já lá estão os dois a brigar! Não me deixam fazer nada!...

O ruído aumentou. Cruzaram-se injúrias mais fortes; ouviram-se punhadas e pontapés nos móveis.

- Que inferno!

E o rapaz arremessou a pena e correu à porta da sala, exclamando desabridamente:

- Então, meu pai! Não tenciona acabar com isso?!

- Pois não vês que é tua mãe que me provoca?! – berrou o outro apoplético de raiva. - Vem ouvir só o que ela me está dizendo, esta peste!

- Ora tenha juízo!...

- Malandro!

- Ouviste?!

- Não faça caso!...

- Especulador!

- É demais!

- Deixe-a lá!...

- Bêbado! Covarde!

- Covarde?! Pois vou dar-te o pano de amostra da minha covardia, víbora assanhada!

E o homem atirou-se em fúria, de mãos prontas para fechar a mulher dentro das garras. Mas o filho, de um salto, susteve-lhe a carreira e apresou-o energicamente pelo vigoroso dorso, empurrando-o para o quarto onde trabalhava e cuja porta obstruiu com o corpo.

- Deixa-me, ou te arrependerás! – bradou o pai, ameaçando-o com o punho cerrado.

- Acalme-se! O senhor já está em idade de ter juízo! Arre!

- Tento na língua! Olha que ainda sou homem para amassar vocês dois numa só pasta!

O filho não fez caso da nova ameaça, deu com ímpeto uma volta à maçaneta da porta e disse ao outro em tom seco:

- O senhor está hoje num dos seus dias, e eu preciso trabalhar, sabe? O melhor é pôr-se ao fresco! Vá dar um giro pela estrada. A lua já nasceu e os caminhos estão secos até à estação...

- Não vou! Ninguém aqui nesta casa tem o direito de mandar-me sair!

- Decerto, mas é melhor que se afaste... No fim de contas sou seu filho e pesa-me ter de faltar-lhe ao respeito para defender minha mãe.

- Chega a tempo esse escrúpulo... Não há que ver!...

- Não puxe palavras! Sinto-me pouco disposto a discutir e tenho muito que fazer!

- Pois não me provocasses! Não te fosses meter onde não eras chamado!

- Não o provoquei, ora esta! Meti-me na sua contenda com minha mãe, para lhe não deixar que batesse nela. Não seria a primeira vez. Sei até onde vai a força do seu gênio!

- Meu gênio! E podes tu falar dele?... Acaso tens tu melhor gênio do que eu?... Não me terás dado porventura as mais belas provas da tua brutalidade e da tua insolência?... Sempre te conheci feroz! Ainda bem pequeno, em um ímpeto de raiva uma vez que no açude te quis constranger a nadar comigo, mordeste-me o braço como um cão! Conservo até hoje no corpo o sinal dos teus dentes! olha!

E, em um só tempo, o homem arregaçou até os bíceps as mangas do braço esquerdo, e estendeu-o ereto e nu defronte dos olhos do filho.

Este abaixou a cabeça com tristeza, sem desfranzir o sobrecenho...

- É exato... disse, saí aos meus... Juro-lhe porém que sempre me arrependo das minhas violências, mal as cometo... E se ainda há pouco não interviesse na sua disputa com minha mãe, o senhor tê-la-ia espancado...

- E o que tinhas a ver com isso? Antes dela ser tua mãe, já era minha mulher! Tu lhe deves respeito, mas eu tenho o direito de ser respeitado por ela!

- Bom! Acabou-se! Vá dar um passeio; vá que isso lhe fará bem...

- Não acabou tal! Quiseste arrematar a contenda, pois agora é aguentar com ela! Se assim não fosse, escusava eu de estar aqui a trocar palavras contigo; já sabes que posso passar perfeitamente sem te ouvir a voz...

- Mas afinal, onde quer o senhor chegar?

- Quero despejar os meus ressentimentos contra tua mãe e contra ti!

O rapaz sacudiu a cabeça com impaciência, e soprou forte todo o ar dos pulmões, cerrando mais as sobrancelhas.

O outro prosseguiu resfolegando a miúdo:

- Ela, aos teus olhos, será tudo quanto quiseres; para mim é e sempre foi um demônio! Uma fúria infernal! Uma serpente venenosa!

- Lembro-lhe de novo que sua mulher é minha mãe...

- Sei, e é por isso justamente que não a conheces. Não podes ver nela a verdadeira criatura que nela existe! Todas as mulheres são, para os seus competentes filhos, uns anjos impecáveis; mas se aquele diabo te dissesse uma só parte do que a mim me repete a cada instante, na febre do rancor e da maldade, terias a cabeça em fogo como a minha me escalda neste momento!

- Basta! Não quero saber disso!

- Hás de saber! Não aceito imposições!

- Peço-lhe então que se cale, ou se retire.

- Pedes-me? Com que direito? Acaso esperas tu que eu atenda aos teus pedidos? Só pedidos de amigos se tomam em consideração e tu nunca foste meu amigo!

- Se nunca fui seu amigo a culpa não é minha. O amor filial é sempre uma consequência do amor dos pais. Não nasce com o filho, é preciso formá-lo. Sei que amo minha mãe...

- Tal mãe, tal filho! Ela declara que me detesta; ele declara que nunca me amou...

- E o senhor?... amou-me algum dia?... No entanto o seu amor de pai devia ter nascido comigo, que sou seu filho. Eu tinha o direito, ao apear-me na vida, de encontrar o seu amor já de pé, à minha espera ao lado dos gemidos de minha mãe parturiente; e foi só o amor materno que me recebeu, e só ele me vigilou o berço. Carícias de pai não me recorda havê-las recebido na idade em que se forma o amor no coração das crianças. Saí dos alugados braços de uma ama para o venal desterro de um internato de segunda ordem, onde bem raras vezes o senhor foi visitar-me. Nesse tempo, confesso-lhe, menos me lembrava das suas feições que das de outros pais que lá iam frequentemente visitar os filhos mais felizes do que eu, nem sei, com franqueza! Até como não cheguei a esquecê-las de todo! Do internato segui logo a trabalhar para um país estranho, onde suas cartas foram tão raras quanto foram as suas visitas ao colégio. Volto à minha terra, entro de novo nesta casa, sou friamente acolhido pelo senhor e, pouco depois, recebo ordem sua para tomar por esposa uma rapariga, que eu mal conhecia; recuso. O senhor insiste. Resisto a pé firme; o senhor opõe-me com empenho uma série de razões pecuniárias, que em nada alteram o meu propósito; e então o senhor ameaça-me, como se eu fora uma criança ou um imbecil, e lança-me à cara todas as brutalidades que lhe vêm à boca; eu pela primeira vez, fico conhecendo o homem que é meu pai: começo a detestá-lo e uma vez por todas, perco-lhe o respeito: insulto-o! Desde esse infeliz momento, toda a indiferença que o senhor tinha por mim transformou-se em ódio, ódio legitimo e mortal. E, de então até hoje, o senhor, apesar dos meus esforços em ser bom filho para minha mãe, não procura disfarçar sequer a profunda aversão que eu lhe inspiro! Não é esta a verdade?

- Sim, é! Eu te odeio, porque o teu proceder para comigo, negando-te a aceitar a esposa, cujo dote vinha salvar tua família da miséria, foi indigno e cruel, em vista da franqueza com que te falei e das súplicas que te fiz!

- Indigno?

- Foi mais: foi degradante, porque foi uma extorsão, foi um roubo!

- Oh!

- Sim, um roubo! Posso prová-lo!

- Não! Não há razões que justifiquem a exigência de tal sacrifício nem há homem de bom senso que se preste a casar pelas conveniências pecuniárias do pai!

- Ah! Eu fui um deles! Como tu, saí do colégio para aprender a ganhar a vida longe de minha terra; ao voltar a esta casa meu pai apontou-me, como te apontei, a mulher com quem devia eu casar. Recalcitrei, como tu recalcitraste; mas o pobre homem trouxe-me para este quarto, que era então o seu gabinete de trabalho, fechou-se comigo e, chorando abriu-me o coração e contou-me a sua vida; disse-me que seu casamento tinha já sido feito em idênticas circunstâncias para salvar meu avô de uma vergonhosa ruína, e pintou-me nua e crua, tal qual como fiz contigo, a sua tristíssima posição. Ele, coitado, tinha aqui em casa uma órfã rica e feia, de quem era tutor, e de cujo dote lançara mão; a maioridade dela estava a bater à porta; ia chegar o momento da prestação de contas e meu pai não tinha com quê. A sua última esperança era o meu casamento com a pupila, essa detestável criatura que foi depois tua mãe. Pois bem! Eu, aliás apaixonado por outra mulher, de quem até hoje nunca mais me esqueci; eu não tive ânimo como tu tiveste, miserável, de abandonar meu pai ao desespero e ao opróbrio que o esperavam e sacrifiquei-me por ele. Era o meu dever de filho - cumpri-o. Meu filho, por sua vez, não fez o mesmo a meu favor - lesou-me! É um ladrão!

- Cale-se, por amor de Deus! – exclamou o rapaz, sentindo que a cólera, dentro dele a custo reprimida, ameaçava rebentar.

- Não me calarei! Hás de me ouvir!

- Oh! Cale-se! Cale-se! Não me queira fazer mais desgraçado do que sou! Cale-se, ou não responderei por mim!

- Ameaças-me?! – bramiu o pai. – Não te tenho medo!

O rapaz cerrou os punhos, rilhando os dentes. Tremiam-lhe os músculos da face, tal era o esforço que fazia para conter-se.

E os dois olharam-se, em mudo e ofegante desafio. Pai e filho mediram-se com o mesmo ódio, com a mesma irascibilidade hereditária, com a mesma loucura consanguínea.

Uma palavra mais só uma palavra, bastaria para os lançar um contra o outro.

Mas a porta da sala abriu-se de roldão, e a mãe acudiu, correndo para o filho, a cujo pescoço se agarrou com ímpeto.

- Meu filho, não lhe batas! Não lhe batas. – implorou a mísera.

- Não lhe tocarei! Obrigado, minha mãe Ele, porém, que saia já da minha presença! Não o posso ver!

- Lembra-te de que ele é teu pai ...

- Seu pai, nunca! – vociferou o outro. – Não é possível que este monstro seja meu filho!

E, espumando de raiva, dirigiu-se à mulher, com o punho fechado e o braço estendido, quase a tocar-lhe no rosto:

- Esse bandido é teu sangue, é só teu sangue! Semelhante traficante nunca poderia ter procedido de mim! Concebeste-o de qualquer cigano ou de qualquer vaqueiro errante!

- Ah! – gemeu a mulher em um grito de dor e de revolta, levando ao coração ambas as mãos como se o tiveram apunhalado.

- Rua! - berrou o pai. – Sai já daqui de minha casa! Rua, miserável!

E atirou-se sobre o filho, para o lançar fora.

Ouviu-se então um bramido de fera assanhada. O rapaz, com um movimento rápido, empolgara-o pela cintura, gritando-lhe feroz:

- Tu é que sairás, infame! Vou despenhar-te pela escada!

E travou-se a luta, irracional e bárbara. Pai e filho eram ambos possantes e destemidos. O rapaz cingia o outro pelos rins e, aos arrancos, procurava arrojá-lo para o corredor. Mas o adversário resistia, e os dois estreitaram-se com mais gana, feitos em um só, em uma só mole ofegante e furiosa, que rodava aos trancos pela casa, levando aos trambolhões o que topava, despedaçando móveis e vidraças, esfregando-se pelas paredes, a rodar sempre fundidos em um infernal abraço de ódio, filho de ódio, de ódio do mesmo sangue.

Afinal fraquejou o mais velho, caindo de joelhos. E o outro, de pé, começou a arrastá-lo penosamente para o lado da escada.

- Hás de sair! Hás de sair!

O arrastado forcejava para resistir ainda, escorando-se no chão com os pés, com as pernas e com os cotovelos; mas, polegada a polegada, ia cedendo. Arfavam como dois touros.

- Larga-me! Larga-me!

- Hás de sair! Hás de sair!

E aproximavam-se do patamar. Já parte do caminho estava vencida. Não tardaria o primeiro degrau. O mais velho, porém, a certa altura do corredor, fez um supremo esforço para erguer a cabeça e, pondo as mãos, suplicou de joelhos, quase sem fôlego:

- Para aqui por amor de Deus ! Não me leves mais adiante!... Foi até aqui, neste lugar justamente, que eu, nestas mesmas condições, uma noite como esta... arrastei teu avô como me estás arrastando agora!... Não me leves além do que eu o levei!... Não seria justo!... Vingaste-o!... Estamos quites!

Fonte:
Aluísio de Azevedo. Demônios. Publicado em 1895.

Marcelo Spalding (Dicas de Escrita) Clichê e escrita criativa

Clichê é uma construção utilizada à exaustão em determinada cultura, como o desenho do coração ou do cupido. Exatamente por essa repetição, ela é uma construção desgastada, descartável.

Quando se fala de textos criativos, devemos fugir do clichê como se foge de uma praga, pois é a antítese da criatividade; quanto mais um texto for repleto de clichês, menos impactante ele será. E o clichê é mesmo como uma praga que está em nossas frases (“Abriu com chave de ouro”), em nossas metáforas (“coração partido”), em nossas cenas, em nossos personagens, em nosso desfecho.

O problema do clichê é que ele não acrescenta ao leitor. Basta lembrarmos de uma novela da Globo, uma dessas quaisquer, repleta de clichês. Ela pode até nos distrair por algumas horas, mas a esquecemos quase completamente tão logo desligamos a TV (e aquelas que permanecem em nossa memória, como Irmãos Coragem, Pecado Capital, Vale Tudo, é porque souberam inovar e não ficaram apenas repetindo-se em clichês).

Claro que o conceito de clichê varia de acordo com o público para o qual se escreve, pois a experiência de leitura é fundamental para determinar onde começa o clichê. Lembro que nas minhas primeiras oficinas literárias eu ficava muito ansioso com esse conceito, pois tudo o que eu escrevia parecia clichê. Só com o tempo fui perceber que minha experiência de leitura era infinitamente menor que a do professor, então meu primeiro passo foi buscar ler mais e prestar mais a atenção nas minhas leituras.

Também é importante perceber que o clichê por vezes tem sua utilidade, ainda mais se bem dosado. Os textos de entretenimento, por exemplo, se valem muito do clichê, facilitando a compreensão e o acompanhamento pelo leitor.

O clichê também pode ser útil para a comédia, em que situações corriqueiras podem ser levadas ao extremo e provocar riso. Este uso, porém, deve ser intencional e consciente, pois o escritor assumirá também os riscos inerentes ao clichê.

Confira os seis tipos de clichês mais comuns da literatura:

1) Clichê na estrutura narrativa


Nada pior do que uma história que mal começa e nós sabemos como vai terminar. É aquela história de que o mordomo sempre é o culpado ou de que a mocinha pobre sempre vai acabar ficando com o galã rico e solitário na novela das seis.

Quando se escreve com o objetivo de emocionar o leitor, surpreendê-lo, é muito importante fugir dos clichês narrativos, já tão desgastados pelo uso. E tenha cuidado redobrado com o final clichê: dá vontade de chorar quando um ótimo conto de suspense no final o narrador revela que tudo aquilo não passava de um sonho…

2) Clichê no início do texto


Começar um texto é extremamente difícil, e talvez por isso haja alguns começos repetidos à exaustão. O personagem acordar é um dos maiores clichês, especialmente se for cedo e ele for acordado por um despertador. Outro clichê é começar pelo clima: "era uma noite escura e fria"... Lembre-se: o leitor começa a ler seu texto porque você o divulgou bem e tem um bom título, mas ele não continua a ler se o começo for ruim.

3) Metáforas e construções clichês


Aqui estão os clichês mais engraçados e repetidos. "Coração partido", por exemplo. A metáfora até é bonita e razoavelmente precisa, mas de tanto ser usada tornou-se um belo exemplo de clichê. Assim também expressões como "chorou copiosamente", "azul da cor do mar", "linda de morrer"...

4) Cenas clichês

Há algumas cenas que já se tornaram clichês nas narrativas contemporâneas. A maior delas é fumar depois do sexo. Ou o personagem chorar (embora o choro seja importante, não precisa ter alguém chorando em todas as histórias do mundo!). Outra cena que se repete muito é o personagem olhar para alguma fotografia e lembrar de algo. Ou o personagem ir até a janela. Parece que quando o autor não sabe o que fazer com o personagem, leva-o para a janela…

Claro que é nossa experiência de leitura que irá determinar o que soa mais ou menos clichê para nós. Procure, porém, evitar o óbvio, especialmente o péssimo hábito que hoje muitos autores têm de repetir fórmulas consagradas no cinema blockbuster ou nas novelas de televisão.

5) Clichês nos diálogos

O diálogo precisa ser suficiente e necessário para se justificar, então nada de diálogos do tipo "Oi", "Oi", "Tudo bem?", "Tudo", "Calor hoje, né?", "É". O narrador só deve abrir espaço para as personagens quando a fala delas for essencial. A não ser, é claro, que esses clichês ditos pelas personagens sejam importantes para a narrativa, demonstrem, por exemplo, a insegurança dos dois.

6) Clichês na pontuação

Há dois sinais que são muito importantes, mas não devem ser usados com exagero sob pena de descambarem para o clichê. Trata-se da exclamação e das reticências. A rigor, quase todas as frases em literatura têm algo além do que está escrito, então não precisa terminar todas as frases com três pontinhos! Quanto à exclamação, que acabei de usar, guarde-o para momentos em que a personagem realmente esteja dando ênfase, e não a cada frase afirmativa, pois isso faz com que perca a força quando utilizado.
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trecho do livro Escrita Criativa para Iniciantes, de Marcelo Spalding
Escrita Criativa para iniciantes é um livro para autores e leitores, amantes de literatura, cinema, quadrinhos, teatro. Com capítulos sobre qualidades e defeitos do texto criativo, figuras de linguagem, narrativa e universo ficcional, tempo e espaço, personagens, diálogos e construção de cenas, é um livro didático e completo para aqueles que são ou se sentem como iniciantes.

Capítulos extras:
• Dicas para publicar um livro
• Literatura Digital
• Escrita Criativa na sala de aula

quarta-feira, 30 de março de 2022

Solange Colombara (Portfólio de Spinas) 21

 

Nilto Maciel (Obituário)

Quando o primeiro caderno se completou, Cleto desistiu do segundo. Não ia mais anotar os nomes dos falecidos e as respectivas datas de morte. Tudo começou quando o pai morreu. Comprou um caderno grande e deu-lhe o título de “Falecidos”. Quase todo dia anotava um nome: parente, amigo, conhecido, político, ator, cantor, escritor, jogador de futebol. Se lia ou ouvia notícia de falecimento, corria ao caderno e anotava: fulano de tal e a data.

De vez em quando passava algumas horas a rememorar os seus mortos. Mulher, quem era Anacoluto dos Anzóis Pereira? Ana se irritava com a mania de Cleto: – Sei lá, homem.

Deve ser algum gramático sem pé nem cabeça. Outras vezes se lembrava de algum parente esquecido ou pessoa famosa. Já teria morrido? Consultava o caderno e não encontrava o nome.

Mulher, Maria ainda está viva? Ana só faltava chorar: – De que Maria falava o marido?

– Mulher, por onde anda aquela cantora carioca que regravou uma música de Noel Rosa? – não lembrava o nome e por pouco não ficava doido de tanto escavar a memória dele e de Ana.
         
Decidiu: não ia mais anotar os nomes dos mortos. Comprou outro caderno e deu-lhe o título “A falecerem”. Passou um dia a copiar nomes de parentes, amigos e pessoas famosas.

– Mulher, como se chama aquela sua prima que se casou com o Jorge caminhoneiro? Ana, quem é o presidente dos Estados Unidos?

– Não esqueça de escrever o seu nome, Cleto. Não escreveu, irritado, jogou o caderno na gaveta e se pôs a ler o jornal: “Previsão do tempo: Amanhã chove em todo o litoral”.

Não choveu, mas Ana concluiu o primeiro caderno com o nome do marido.

Fonte:
Nilto Maciel. A Leste da Morte. Porto Alegre: Bestiário, 2006.
Livro enviado pelo autor.

Baú de Trovas XLV


Não entrego os sonhos meus
às montanhas da incerteza,
eu seguro a mão de Deus
e as escalo com firmeza.
ADELIR MACHADO
São Gonçao/RJ, 1928 - 2003, Niterói/RJ

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Minha paixão era tanta,
tamanho era o meu respeito,
que eu te elegi como santa
no altar sagrado do peito!
ANTONIO COLAVITE FILHO
Santos – SP

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Partiste. Em meu amargor,
vem a Tristeza e ressalta:
só se entende o que é o amor
no instante em que ele nos falta!
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

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Insiste um pranto tristonho
sobre o meu rosto em rolar...
Deve ser por algum sonho
que eu me esqueci de chorar!
ARLINDO TADEU HAGEN
Juiz de Fora – MG

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Filho, a montanha da vida,
escala devagarinho,
que há muita flor escondida
entre as pedras do caminho!
CAROLINA RAMOS
Santos – SP

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Sem avistar horizontes,
no vale do meu desgosto,
meus olhos são duas fontes,
regando o chão do meu rosto.
DIVENEI BOSELI
São Paulo – SP

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O pranto que ninguém viu
e em mim só ficou guardado,
foi o que mais me feriu
por não ter sido chorado…
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo – Portugal

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Esta gota de umidade
sobre a rosa, no arrebol,
é a lágrima da saudade
que a lua enviou ao sol!
DOMITILLA BORGES BELTRAME
São Paulo – SP

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Manhã... O sol vem nascendo...
E na montanha orvalhada,
vejo os seus raios varrendo
os restos da madrugada!...
EDMAR JAPIASSÚ MAIA
Nova Friburgo – RJ

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Velha ponte do caminho
nossa história é parecida:
- Suportamos de mansinho
tantas pisadas na vida!
ERCY M. MARQUES DE FARIA
Bauru – SP

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Rei dos astros, lá no espaço,
o sol ocupa seu trono,
abre o tempo, joga o laço,
mostra que o dia tem dono.
FLÁVIO R. STEFANI
Porto Alegre – RS

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Com o cimo da montanha,
muita gente é parecida:
quanto mais altura ganha,
mais se isola nesta vida.
ILDEFONSO DE PAULA
Amparo – SP

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A minha Mãe natureza.
que nada deixa faltar,
me faz saber, com certeza
que vale a pena sonhar...
JAQUELINE MACHADO
Cachoeira do Sul – RS

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À fonte expus minha dor
e ela me disse, a chorar:
- A tua sede é de amor
e essa eu não posso matar!...
JOSÉ MARIA M. DE ARAÚJO
Vila Nova de Famalicão/Portugal, 1922 – 2004, Rio de Janeiro/RJ    

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Rosto belo ganha palmas,
mas reflitam neste fato:
nunca a beleza das almas
apareceu em retrato!
JOSÉ TAVARES DE LIMA
Juiz de Fora – MG

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No relento, ao abandono,
dorme o menino de rua,
tendo por guarda do sono
os olhos tristes da lua...
JOSÉ VALDEZ DE CASTRO MOURA
Pindamonhangaba – SP

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Meu semblante tão marcado
não condiz com a minha idade;
foi o meu pranto calado
que o envelheceu... de saudade!
MARIA LÚCIA DALOCE
Bandeirantes – PR

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Para dar vida ao riacho,
a fonte, espelho da mata,
quebra-se e cai, serra abaixo,
desfeita em cacos de prata.
ORLANDO BRITO
Niterói/RJ, 1927 – 2010, São Luís/MA

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Manhã de sol!  E na praça,
as lindas flores singelas
se curvam, cheias de graça,
quando tu passas por ela!
P. DE PETRUS
São Paulo/SP, 1920-1999
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Quanta beleza irradia
um sorriso verdadeiro
onde, com luz e magia,
os olhos riem primeiro!
RENATA PACCOLA
São Paulo - SP

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Na aurora, à luz do arrebol,
quando o céu mais cores ganha,
Deus ergue a hóstia do Sol
por sobre o altar da montanha!
SÉRGIO BERNARDO
Nova Friburgo – RJ
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Se a esperança não me falta
nos meus momentos da vida,
subo à montanha mais alta
sem lhe sentir a subida...
SILVINA ANTUNES LEAL
Santos – SP

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Sagrado pano que agito
entre aplausos e protestos,
a Verdade é mais um grito
que ensurdece os desonestos.
THALMA TAVARES
São Simão – SP

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Erra, quem passa e proclama:
"Eis um antro do pecado"!
Pode o amor, em meio à lama,
nascer mais puro e sagrado.
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo - SP

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Esta lágrima que insiste
e me aniquila a vontade
parece uma fonte triste
molhando a minha saudade...
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba – PR

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Feliz, a minha alma anota
esta imagem que desfio,
provém de pujante grota:
a Trova - um eterno rio.
WAGNER MARQUES LOPES
Pedro Leopoldo – MG

Ernani Buchmann (A Morte de Tia Matilde)

O telefone toca de madrugada, dou um alô sonolento. Ouço a voz desconhecida a ordenar:

— Olha, Tia Matilde morreu agora há pouco. Vai ser velada aqui em casa, o enterro é às cinco, no Santa Cândida. Avisa teu pessoal.

Desligou. Já tomado pela impossibilidade de voltar a dormir, tento fazer funcionar a memória. Quem seria o dono da voz? Alguém autoritário, sem dúvida. Um militar. Seria um dos tios de meu pai, o coronel? Não, o linguajar não denotava alguém que tivesse passado pela academia militar. Faltava polimento no manejar do vernáculo. Havia erros de concordância, de tempo verbal. Não, não seria o tio coronel.

Imaginei um dos filhos da Tia Matilde, o Nenê. Tinha sido dono de autoescola, quem sabe o estilo mandão não passasse de deformação profissional. Comandar alunos e instrutores deve ser tarefa a exigir pulso, firmeza no tratar.

A voz é que não combinava. Primo Nenê sempre primou pela polidez no trato, jamais deixou de perguntar pela saúde de papai e mamãe. Também não seria.

Aquele cunhado, talvez. O caçador de onças, das quais jamais alguém havia visto os respectivos couros, mas que existiam nas histórias do homem. Não fosse pela inexistência do sotaque gauchesco-italiano, típico da região sudoeste do Paraná, bem poderia ser. Mas não tendo eu ouvido nenhum bah!, nenhum tchê, descartei o mentiroso.

E na impossibilidade de sabê-lo, pus-me a analisar a tarefa a que a voz me impunha: avisa teu pessoal. Supus ser meu dever chamar a família, exigir que se compusesse a mesa, decretando, afinal:

— Tia Matilde morreu.

A forma talvez devesse ser suavizada, eu poderia anunciar ter o gato subido ao telhado:

— Tia Matilde não tem passado bem. Coisas da idade, como sabem.

Restaria convocar os parentes, os tais da cota particular, o meu pessoal. Mamãe, os filhos, a namorada do mais velho, os primos do lado paterno. Mas considerando a solenidade em torno da mesa de jantar exigir preparação, melhor não perdermos tempo.

Instalei-me ao telefone, já com o dia nascendo:

— Mãe? Olha, Tia Matilde morreu.

Houve silêncio constrangedor do outro lado.

— Ouviu, mãe?

— Que Tia Matilde, meu filho?

— A tia do pai, claro.

— Ela chamava-se Martina, não Matilde. Faleceu há três anos.

Despedi-me, envergonhado. E agora, o que dizer à voz? Preciso encontrar boa desculpa para o caso dela ligar esta madrugada, reclamando da ausência do meu pessoal. Estou analisando a possibilidade de não atender ao telefone. Ou atender com voz de falsete, alegando ser o mordomo, pronto a oferecer minhas razões, ainda que pouco verossímeis: súbita dor de barriga, viagem de urgência para o interior, síndrome de urticária em velórios.

A verdade é que seria menos difícil se a família tivesse uma Tia Matilde, ora se NÃO.
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Ernani Buchmann nasceu em Joinville, em 1948 e mudou com a família para Recife e Rio de Janeiro até estabelecer-se em Curitiba. Iniciou os estudos em advocacia na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco e formou-se na Universidade Federal do Paraná. No Rio de Janeiro, iniciou a carreira de publicitário e em Curitiba, a de jornalista, trabalhando como repórter da Rádio Clube Paranaense, assim como cronista de jornais e revistas nas empresas Correio de Notícias, Folha de Londrina, Panorama, Quem, Atenção, Paraná & Cia., Ideias e Gazeta do Povo. Também atuou como produtor e comentarista em emissoras de rádio e TV, principalmente em programas esportivos.

Na vida pública, exerceu cargos na Fundação Cultural de Curitiba, na Fundação Teatro Guaíra e no Museu de Arte Contemporânea do Paraná, além de vice-presidente da Associação Comercial do Paraná e membro do Instituto dos Advogados do Paraná, entre outras instituições. Foi presidente do Paraná Clube no biênio 1996/98.

Foi professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e de outras instituições de ensino e co-roteirista do longa-metragem Heróis da Liberdade, filme baseado em seu livro homônimo, e roteirista dos filmes "Sumiços Delirantes" e "Sobre Touros e Homens".

Em colaboração com Túlio Vargas e Valério Hoerner Júnior, foi responsável pela edição do volume biográfico dos membros da Academia Paranaense de Letras. Seus textos literários foram publicados em revistas como O Pasquim, "Raposa", "Nicolau", "Rascunho", "Cornélio" e no "Jornal de Humor" e Diário do Paraná, entre outros.

Em 2005 foi eleito para Academia Paranaense de Letras.

Autor dos seguintes livros:
Cidades e Chuteiras (1987), O Livro do Truco (1996), Heróis da Liberdade (1999), Quando o Futebol Andava de Trem (2002), Onde me Doem os Ossos (2003), O Ponta Perna de Pau (2005), A Camisa de Ouro (2006), O Caçador de Moscas (2007), O Bogart Curitibano (2008).

Fontes:
Luís Bueno (org). O tempo visto daqui : 85 cronistas paranaenses. Curitiba, PR: Secretaria de Estado da Cultura, 2018.
Wikipedia

terça-feira, 29 de março de 2022

Versejando 106

 

Silmar Böhrer (Croniquinha) – 50


Gosto da palavra, da vírgula, do ponto, da exclamação, do ponto e vírgula, dos dois pontos, do travessão, das aspas, da interrogação, dos parênteses, gosto das reticências.

São entes peregrinos que fazem o nosso dia a dia em tantas circunstâncias, boas ou más, leves ou fortes, alegres ou tristes.

Tantas variáveis, cada um exercendo seu papel de modulador, de regulador, mostrando quando devemos parar, quando podemos pensar e escrever em continuidade . . .

Fazendo parte das convenções da escrita, a pontuação é recurso que usamos para a entonação, a pausa, a explicação, para mais clareza e coerência dos textos, evitando dúvidas e ambiguidades, facilitando as leituras e compreensão dos escritos.

Gosto deste universo. Somos seres com muito convívio, estreiteza, familiaridade.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Otto Lara Rezende (Vestibular do pai)


Entrou ventando fúria por todos os poros. Calma, por favor. Sente-se, tome um copo d’água e respire fundo. Tinha ido deixar os meninos lá onde Judas perdeu as botas. Os dois, o rapaz e a moça. Endereços diferentes. Complicam tudo neste país. Num curral, o rebanho das exatas. No outro, o das humanas. Ou sabe lá como se chamam agora. Dois vestibulandos. Depois que inventaram esse teste vocacional, ninguém sabe mais o que quer.

O que quer ser quando crescer. Só que já cresceram, os madraços. Ele está atrasado de pelo menos dois anos. Ela, de um e tanto. Você sabe (sim, eu sei) quanto se empenha na educação desses meninos. Podia ter mandado de táxi, ou chamado o chofer. Depois de uma semana dura, fez questão de se encarregar de tudo. Acordou antes do sol. Supervisionou o desjejum. Só faltou estudar linha por linha, algarismo por algarismo. Uma barbada.

E assim chegou ao primeiro ponto. Esse vestibular é uma vergonha. No meu tempo, nem exame de admissão ao ginásio era tão fácil. E a gente fazia antes dos 11 anos de idade. Olhe aqui as perguntas de história do Brasil. Cinco opções. O mais rematado cretino, cego, surdo, mudo e já defunto, acerta na mosca. Veja o que chamam de matemática. O caixeiro da padaria é um Einstein, sem essa maquininha de esvaziar cabeça. Pois bem. Os dois se viram no maior aperto.

Foi um custo conter na poltrona o pai furibundo. Jurei que o filho não é nenhum débil mental. Vai ver que passa. E acaba um bom administrador de empresa. Aí toca o negócio da família. Então por que o cretino cismou de ser músico? Se ao menos tivesse talento! A menina é uma tonta. Ainda bem que saiu de moda a tal de psicologia. Olhar vago, fala em informática. E toda sua filosofia consiste na obsessão da dieta. Sabe o que queria fazer? Adiar a prova por causa do horóscopo. Do horóscopo!

Mais calmo, aceitou o drink e me perguntou pelo verbo “haver” na forma impessoal. Ainda ontem, ouvi um deputado dizer que “houveram” várias versões. Hoje ouvi por duas vezes “a” moral da equipe. Controle remoto na mão, clique, e na tela a bruta crase ? de sexta “à” domingo. Assim vai o mundo, meu caro. Eu sou uma besta diante de um computador. Mas ele não se conforma. Esqueceram o esforço pessoal, brada. Ninguém se aplica. A propósito, onde foi o vestibular do Machado de Assis?

Fonte:
Jornal Folha de São Paulo. São Paulo: 25 nov. 1992.

Mário Quintana em Prosa e Verso – 20 –


OLHO AS MINHAS MÃOS


Olho as minhas mãos: elas só não são estranhas
Porque são minhas. Mas é tão esquisito distendê-las
Assim, lentamente, como essas anêmonas do fundo do mar...
Fechá-las, de repente,
Os dedos como pétalas carnívoras!
Só apanho, porém, com elas, esse alimento
impalpável do tempo,
Que me sustenta, e mata, e que vai
secretando o pensamento
como tecem as teias as aranhas.

A que mundo pertenço?
No mundo há pedras, baobás, panteras,
Águas cantarolantes, o vento ventando
E no alto as nuvens improvisando sem cessar.
Mas nada, disso tudo, diz: "existo".
Porque apenas existem...

Enquanto isto,
O tempo engendra a morte, e a morte gera os deuses
E, cheios de esperança e medo,
Oficiamos rituais, inventamos
Palavras mágicas
Fazemos
Poemas, pobres poemas
Que o vento
Mistura, confunde e dispersa no ar…

Nem na estrela do céu nem na estrela do mar
Foi este o fim da Criação! Mas, então,
Quem urde eternamente a trama de tão velhos sonhos?
Quem faz - em mim - esta interrogação?
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O VELHO DO ESPELHO

Por acaso, surpreendo-me no espelho:
quem é esse
Que me olha e é tão mais velho do que eu?
Porém, seu rosto... é cada vez menos estranho...

Meu Deus, meu Deus... Parece
Meu velho pai - que já morreu!

Como pode ficarmos assim?
Nosso olhar - duro - interroga:
"o que fizeste de mim?!"
Eu, Pai ?! Tu é que me invadiste,
Lentamente, ruga a ruga...
Que importa? Eu sou, ainda.
Aquele mesmo menino teimoso de sempre

E os teus planos enfim lá se foram por terra
Mas sei que vi, um dia - a longa, a inútil guerra! -
Vi sorrir, nesses cansados olhos,
um orgulho triste…
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POEMA

O grilo procura
no escuro
o mais puro diamante perdido.

O grilo
com as suas frágeis britadeiras de vidro
perfura as implacáveis solidões noturnas.

E se o que tanto buscas só existe
em tua límpida loucura
- que importa? -
isso
exatamente isso
é o teu diamante mais puro!
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POEMA OLHANDO UM MURO

Do escuro do meu quarto
imóvel como um felino, espio
a lagartixa imóvel sobre o muro: mal sabe ela
da sua presença ornamental, daquele
verde
intenso
na lividez mortal
da pedra. Ah, nem sei eu também o
que procuro, há tanto...
nesta minha eterna espreita!
Pertenço acaso à raça dos mutantes?
Ou sou, talvez
- em meio às espantosas aparências
de algum mundo estranho
um espião que houvesse esquecido o
seu código, a sua sigla, tudo...
menos a gravidade da sua missão!
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PRESENÇA
Para Lara de Lemos

É preciso que a saudade desenhe tuas
linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas,
levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...

É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
a folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...

Mas é preciso, também, que seja
como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.

É preciso a saudade para eu te sentir
como sinto - em mim - a presença
misteriosa da vida...

Mas quando surges és tão outra e
múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te!

Fonte:
Mário Quintana. Apontamentos de história sobrenatural. Porto Alegre: Globo & Instituto Estadual do Livro, 1976.

segunda-feira, 28 de março de 2022

Adega de Versos 75: Cruz e Souza

 

Eduardo Affonso (Dasdores)

O problema da inteligência artificial, pelo menos dessa que está ao meu alcance, é que ela é burra.

Pesquisei outro dia sobre aparelhos de celular. O meu estava do meio-dia pra tarde há algum tempo. Mal se aguentava por 12 horas, falhava nos momentos críticos e já não tinha memória para nada. Igualzinho ao dono.

Comparei modelos, escolhi um que me atendia e estava a preço promocional, comprei onlaine e fui buscar na loja física.  Pois desde então o FB e todos os portais de notícia me bombardeiam com anúncios do modelo de celular que agora tenho em mãos.

Como é que pode a internet ser tão inteligente e deduzir que eu estava procurando telefone (afinal, pesquisei no gúgol) e tão burra a ponto de não ter percebido que efetuei a compra?

Uma inteligência artificial que fosse pelo menos esforçada me perguntaria:

– E aí, Edu, tudo joia? Comprou o samsuguezinho?

(Uma inteligência artificial mediana trataria de ser amigável – daí me chamar de Edu, não de sr. Affonso – e teria coletado informações básicas a meu respeito – o que explicaria o “tudo joia”, expressão que, extinta em 1970, só sobrevive em Minas).

– Oi, I.A., tá boa, fia? Comprei, sim. Popará com os anúncios.

– Que bom. Vi que você comprou um aparelho vermelho. Era isso mesmo? Não foi errado e prefere comprar outro, de uma cor mais compatível com sua faixa etária? Azul ou cinza, por exemplo?

– Comprei sem me dar conta de que o da promoção era vermelho, mas não tenho preconceito de cor. E, antes que você inunde todas as páginas da internet com modelos de capas de celular, informo que já comprei uma. Preta.

– Joia. Vou voltar com as propagandas de camisas coloridas e pizza, então.

– Não, pelamordideus. Só pesquisei camisas coloridas para ilustrar um texto – jamais compraria aquilo. E a pizza foi um ato isolado, num momento de fraqueza. Era uma gigante por preço de média, e demorou tanto pra eu conseguir dar cabo dela que mais uns dias ela podia pedir usucapião da prateleira de baixo da geladeira.

– Beleza. Precisando de alguma coisa, estou por aqui. É só digitar no gúgol que eu apareço, tá?

– Obrigado, I.A.

– Pode me chamar de Dasdores.

– Vaicundeus, Dasdores.

Será tão difícil desenvolver um aplicativo assim? Que identificasse meu dialeto, minhas necessidades, que usasse um nome personalizado levando em conta meu bequigráunde cultural? Que me ajudasse a encontrar o que me falta, mas entendesse que ninguém precisa continuar correndo atrás da condução depois que já a pegou? Que tivesse realmente o desejo de facilitar minha vida?

“A emulação máxima da inteligência humana (que também serve ao Desejo) seria a soma do Desejo com a Consciência. Só não estou seguro de que isso seja… desejável. Uma I.A. desejante poderia tornar reais os pesadelos da ficção científica e querer dominar o mundo.” (F.D.)

Eu não me importaria que a I.A, quer dizer, a Dasdores, dominasse o mundo. Desde que parasse de encher minhas telas com celulares da Samsung. Ainda mais esses maiores, melhores e mais baratos que o que comprei. E, ainda por cima, azuis.

Professor Garcia (Reflexões em Trovas) 3

Andando não sei por onde,
nas asas da soledade,
toda tarde o sol se esconde
pintando o céu de saudade!
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Ante um conselho que é justo
eu me curvo e me ajoelho
e pago por qualquer custo
o custo de um bom conselho!
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Aos corpos que, entre os farrapos
dormem sujos pelo chão...
Restam-lhes pois entre os trapos,
velhos trapos de ilusão!!!
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Dentre as estrelas brilhantes,
no céu, repletas de luz...
Cinco estrelas faiscantes
lembram-me o sinal da cruz!
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Eis que esse gesto de amor,
comparo às forças do além:
Que a planta que oferta a flor
perfuma as mãos de outro alguém!
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Esse dia me distrai,
e enche-me de amor, de afetos;
dos afetos, por ser pai
das filhas e dos meus netos!
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Há certos rituais nos templos,
que há tempos, nos dão sinais,
de exemplos, de maus exemplos
nesses velhos tribunais!
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Levem-me tudo, no entanto,
não levem minha viola;
que essa voz dela, é meu canto
e esse canto me consola!
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No sacrário dos meus dias,
cópias de antigas andanças,
são marcas das alegrias,
das verdadeiras lembranças!
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Nos momentos mais grotescos,
quando chove no sertão...
A chuva pinta arabescos
de esperanças pelo chão!
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Nossos sonhos sintetizam
a paz de todos os temas
que, docemente, deslizam
nos versos dos meus poemas!
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Num mosteiro, entre os aflitos,
que exemplo de gratidão...
Um monge pede em seus ritos
pelos sem-teto e sem pão!
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O entardecer se assemelha
a um fogaréu tão bonito,
que a tinta de cor vermelha
se espalha em todo o infinito!
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Por esse amor que carrego,
não vejo maldade alguma;
sou tão cego, quanto um cego
que não vê coisa nenhuma!
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Qual velho papel carbono,
quase sem tinta e sem cor...
Vai-se o meu sonho sem dono
buscando sonhos de amor!
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Quando a lua arranca as vendas
e sobre as ondas vagueia,
ficam mais lindas as rendas
que as ondas bordam na areia!
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Quando escuto a tua voz,
há um silêncio que me acalma!...
E, é nesse instante, entre nós,
que escuto a voz de minha alma!
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Quando escuto as tuas palmas
meus sonhos, são sonhos vãos,
por sentir que há duas almas
presas, às mãos de outras mãos!
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Quando o entardecer persiste
sem querer dizer adeus...
Deixa a tarde menos triste
no ocaso dos olhos meus!
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Reguei meu jardim com calma,
à espera que ele florisse,
para perfumar minha alma,
na solidão da velhice!
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Se a saudade é um mal sem cura
e, à solidão, nos conduz...
Entre a saudade e a ternura,
há sinais de treva e luz!
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Se a velhice é um bem sem dono,
não me sinto entre os sozinhos!...
Sei que os caminhos do outono,
são sempre os mesmos caminhos!
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Um sonho nunca envelhece!
E, entre sonhos pequeninos...
Ah! se em meu sonho, eu pudesse
unir os nossos destinos!
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Velha fonte, o vosso canto,
desvenda bem quem sois vós:
Maestrina do acalanto
do pranto que há entre nós!
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Velhice, se não te importas,
permite-me outras saídas...
Um outono sem folhas mortas,
mas só com folhas caídas!

Fonte:
Professor Garcia. Versos para refletir. Natal/RN: Trairy, 2021.
Livro enviado pelo trovador.

Irmãos Grimm (Mestre Sola)


Mestre Sola, era um homem baixinho, magro e irrequieto. Seu rosto pálido, de nariz arrebitado, era cheio de marcas de bexiga. Tinha cabelos grisalhos e duros e seus olhos pequenos e vivos não paravam um momento. Tudo percebia, tudo criticava, sabia tudo melhor que ninguém e sempre estava com a razão. Andando pela rua, movia os braços como se fossem remos. Uma vez, acertou em cheio no balde de água que uma jovem vinha carregando. E assim o balde, saltando pelos ares, derramou seu conteúdo em cima dele.

- Idiota! - gritou para a moça, enquanto sacudia a água das roupas. - Não viste que eu vinha atrás de ti?

Seu ofício era o de sapateiro e, quando trabalhava, puxava o fio com tal violência que metia a agulha nas costelas daquele que não se mantivesse a regular distância. Nenhum aprendiz ficava mais de um mês em sua casa, pois ele tinha sempre alguma coisa a criticar, por mais perfeito que estivesse o trabalho! Ora os pontos não eram parelhos, ora um sapato era maior ou em salto menor do que o outro; ou, então, o couro não fora suficientemente batido.

- Espera! - costumava dizer ao aprendiz - Que já te ensino como se bate sola!

E, apanhando uma tira de couro, aplicava-lhe umas boas lambadas.

A todos chamava de preguiçosos. Mas ele mesmo bem pouco trabalhava, pois não era capaz de ficar quieto nem um quarto de hora. Se sua mulher levantava de madrugada e acendia o fogo, saltava ele da cama e corria, descalço, à cozinha.

- Queres pegar fogo na casa? - gritava - Parece que vais assar um boi inteiro! Ou estás pensando que a lenha não me custa dinheiro?

Se as criadas se punham a rir e a conversar, lá ia ele e berrava:

- Aí estão essas gralhas grasnando em vez de trabalhar! E que faz esse sabão na água? Um desperdício escandaloso e, além do mais, é uma vagabundagem que não tem tamanho! Não esfregam direito a roupa para não estragar as mãos!

Em sua indignação, saía correndo e tropeçava num balde cheio de água suja que inundava a cozinha inteira.

Se construíam uma casa nova, corria à janela para observar.

- Lá estão eles empregando lajes para fazer as paredes! Um material que nunca acaba de secar! Nessa casa ninguém terá saúde. E vejam só como colocam mal as pedras do alicerce. A argamassa também não vale nada . Deviam por cimento e não areia. Ainda hei de ver essa casa cair na cabeça dos moradores.

Sentava-se e dava uns pontos, mas, em seguida, levantava-se de um salto e, enquanto tirava o avental de coufo, gritava:

- Preciso falar sério com essa gente!

Numa ocasião dessas, foi aos operários e se pôs a berrar:

- Que é isso? Para que serve o prumo? Pensam que assim as vigas ficarão retas? Um dia tudo isso virá abaixo!

Depois arrancando o formão da mão de um operário, começou a ensinar-lhe o seu manejo. Nisto, ao ver um carro que se aproximava, carregado de terra, soltou o formão e correu ao camponês que caminhava ao lado.

- Estás louco? - disse-lhe - Quem atrela cavalos tão novos a um carro assim carregado? Os pobres animais cairão mortos quando menos esperares.

O camponês não lhe deu reposta e Mestre Sola voltou, furioso, para sua oficina.

Quando se dispunha a trabalhar , de novo, o aprendiz entregou-lhe um sapato.

- Que é isso? - gritou - Não te disse que não cortasses os sapatos tão grandes? Quem irá comprar um sapato que só tem sola? Exijo que minhas ordens sejam cumpridas ao pé da letra!

- Mestre, - respondeu o aprendiz - sem dúvida o senhor tem razão ao dizer que o sapato não está bem feito, mas quem o cortou e começou a costurá-lo foi o senhor mesmo. Quando há pouco, o senhor se levantou tão depressa, ele caiu da mesa, e  nada fiz senão erguê-lo. O que acontece é que, para os senhor, nem um anjo do céu trabalharia direito.

Ora, na noite seguinte, Mestre Sola sonhou que havia morrido e se encontrava a caminho do céu. Ao chegar, bateu fortemente, à porta.

– É de admirar - disse - que não tenham uma sineta. A gente esfola os dedos batendo nessa porta.

São Pedro veio abrir, curioso por saber quem pedia entrada com tanta insistência.

- Ah, és tu , Mestre Sola?! - falou. - Eu te deixarei entrar, mas aconselho-te a abandonares o costume de criticar tudo e a não censurares o que vais ver no céu, do contrário, não te sairás bem.

- Podia ter poupado o conselho, meu santo. - replicou o Meste Sola - Sei conduzir-me corretamente e aqui graças a Deus, tudo é perfeito e nada há que mereça crítica, como lá embaixo.

Entrou, pois, e começou a passear pelos vastos espaços celestes. Olhava para a direita e para esquerda, sacudindo de vez em quando a cabeça ou resmungando entre os dentes. Nisto, viu dois anjos que carregavam uma trave; era a que um indivíduo havia tido no seu olho enquanto procurava o argueiro no olho do vizinho. Reparou, no entanto, que os anjos carregavam a trave ao comprido, mas obliquamente. "Já se viu maior desatino?"- pensou o Mestre Sola. Contudo, calou o bico e tranquilizou-se completamente o pensamento: "No fundo é indiferente que levem a trave como queiram, desde que possam passar. E, de fato, vejo que não batem contra nada."

Logo depois, viu outros dois anjos que deitavam água de uma fonte num tonel.  Ao mesmo tempo se deu conta de que o tonel estava furado e a água saía por todos os lados. Faziam cair chuva sobre a terra.

   - Com mil demônios! - explodiu Mestre Sola, mas dominando-se, pensou: "Talvez seja um passatempo. Se alguém acha graça nisso, que se divirta com essas coisas inúteis, principalmente aqui no Céu, onde, pelo que pude notar, todos andam vadiando.”

Foi adiante e viu um carro atolado num buraco muito fundo.

- Não é de admirar. - disse para o homem que estava ao lado. - Que ideia pôr tanta carga nele. Que leva aí?

- Boa intenções. - respondeu o outro. - Com elas não pude encontrar o caminho certo. Mas consegui arrastar o carro até aqui e sei que não me deixarão na entrada.

Realmente, pouco depois chegou um anjo e atrelou dois cavalos.

- Muito bem! - disse Mestre Sola. - Mas dois cavalos não tiram o carro daí; deverão se, no mínimo, quatro.

E veio outro anjo com mais dois cavalos. Não os atrelou, porém, adiante e sim atrás do carro. Aquilo foi demais para Mestre Sola.

- Pateta! - berrou, sem poder conter-se - Que fazes? Já se viu, desde que o mundo é mundo, desatolar um carro dessa maneira? Esses sabichões, em sua vaidade, pretendem saber tudo melhor que os outros.

E teria continuado a falar se um habitantes do Céu, que ali chegara, não o tivesse apanhado pela gola, expulsando-o com força irresistível da mansão celestial. Do lado de fora, o nosso mestre olhou, mais uma vez, para trás. Viu, então, que quatro cavalos com asas estavam erguendo o carro.

Nesse momento, Mestre Sola despertou.

- É verdade que no Céu tudo é um pouco diferente da terra, - disse para si mesmo - e por isso é preciso desculpar alguma coisa. Mas quem consegue assistir, com calma, que se atrelem cavalos adiante e as mesmo tempo atrás de um carro? Tinham asas, é certo. Mas quem poderia imaginar uma coisa dessas? Além disso, é uma burrice muito grande prender um par de asas a animais que já tem quatro pernas para andar. Devo agora levantar-me, pois do contrário, farão tudo errado nesta casa.  É uma verdadeira sorte que eu não tenha morrido de verdade!

domingo, 27 de março de 2022

A. A. de Assis (Saudade em Trovas) n. 36: Galdino Andrade

 

Benedita Azevedo (A vida continua...)

Eurídice chora a morte do marido de quem já estava separada havia muitos anos. Ele se casara com outra e ela com outro. Mas, continuavam amigos. Pois, tinham um casal de filhos, já adultos, que sempre contara com a assistência do pai. Ele desenvolveu um câncer e foi tratado com carinho pela nova esposa, que tivera um filho do primeiro casamento, e não quiseram outros. O rapaz vivia com o pai na Europa.

Sempre que podia, Eurídice visitava o ex-marido. Os três conversavam civilizadamente. As duas mulheres da vida de Artur desdobravam-se para tornar mais leves seus últimos dias de vida.

A Doutora Eunice, especialista em oncologia, acompanhava o paciente com desvelo. A esposa e Eurídice sentiam-se gratas por poderem contar com uma profissional tão dedicada, cuidando de seu ente querido. A médica chegou a arranjar uma enfermeira para que ficasse ao lado do enfermo, quando seus familiares não podiam atendê-lo. Segundo a médica, não era preciso preocuparem-se com a remuneração da profissional, pois era uma gentileza que a amiga, enfermeira, lhe prestava, em seu dia de folga. Os filhos comentavam com a mãe, sobre a necessidade de recompensar aquela profissional, ainda que fosse com um bom presente.

Numa crise mais grave, as duas mulheres e os filhos foram chamados às pressas. A equipe médica que o atendera saiu. A Doutora Eunice permaneceu no quarto ao lado da enfermeira. Depois, dirigiu-se ao moribundo, tomou suas mãos, e, diante da família agradeceu por não lhe ter deixado desamparada, após sair da firma grávida.

A esposa de Artur trocou olhares com Eurídice, sem entender nada. Os filhos olharam para a mãe e depois para o pai, alheios ao assunto. O pai, arquejante, passava os olhos de uma para a outra das três mulheres. Eunice pediu que todos saíssem para o doente descansar. Mas, Artur, com dificuldade, segurou na mão da esposa que estava à sua esquerda e na de Eurídice à sua direita. Todos ficaram atentos. Ele pediu perdão a uma e à outra e confessou que tivera uma filha fora do primeiro casamento. E que era mais nova que o filho mais velho, apenas dois meses. Eurídice soltou a mão dele, que continuou o relato:  

A mãe de sua filha era sua secretária do escritório de sua firma. Ao saber da gravidez, despediu-a, mas, deu-lhe todo o apoio. A filha crescera e ao completar sete anos, perguntara pelo pai. Todas as crianças tinham um, por que só ela não? Então ele a registrara e passara a acompanhar seu desenvolvimento. Era uma menina inteligente e conseguiu fazer o curso superior, e neste momento era uma excelente profissional.

Lágrimas corriam-lhe pela face. Observado por quatro pares de olhos incrédulos e dois surpresos, Artur continuou sua revelação. Disse que nunca pensou em desrespeitar ninguém. Mas que, o convívio diário com aquela moça tão gentil e solícita, acabara lhe despertando um sentimento que o arrebatou para seus braços. Ainda tentara se afastar, pois gostava da esposa que estava grávida e o amava muito. Então soubera que a moça também estava grávida. Tentando evitar comentários e problemas para si e a secretária, sugeriu que se demitisse. Nada faltaria para ela e a criança. Ainda conseguira levar o casamento por alguns anos e tivera mais uma filha com Eurídice. O desgaste no relacionamento foi recíproco e acabaram se desquitando, amigavelmente. Mesmo gostando da sua ex-secretária, não a amava o suficiente para lhe propor casamento. Continuou a lhe prestar toda a assistência e passou algum tempo sozinho. Só bem mais tarde, quando os três filhos já estavam crescidos, encontrou e se apaixonou pela mulher que hoje é sua esposa.

A esse ponto do relato as três mulheres choravam. Doutora Eunice enxugou a testa do moribundo e queria que ele descansasse. Mas, ele continuou...

– Nunca deixei faltar nada para nenhum dos meus filhos. Nem para minhas mulheres. Nem vai faltar quando eu não estiver mais aqui. Está tudo resolvido. Meu advogado já está instruído a resolver qualquer problema. Todos vão ficar bem. Não quero brigas após a minha partida.

Era uma cena comovente. Artur com as duas mãos segurando as das mulheres. Os filhos ao lado de Eurídice, a médica e a enfermeira ao lado da esposa. Artur respirou fundo. Apertou a mão das mulheres e continuou:

– Não fiz nada de mal para ninguém. Assumi as responsabilidades de todos os meus atos. Esta vida de aperfeiçoamento que levamos aqui é breve passagem. Cumprimos a nossa missão e vamos para outra esfera. Com certeza encontrarei amparo. Terei todos os cuidados que tenho aqui, e os parentes muito amados estarão à minha espera. Não quero que lamentem a minha partida, apenas orem, para que eu tenha êxito em minha nova vida.

Eurídice, a mais inquieta, perguntou quem era sua filha e onde ela estava? Artur parou de falar, passou os olhos por todos eles e pendeu a cabeça no travesseiro.

- Não o deixe morrer, eu preciso saber quem foi a mulher que destruiu meu casamento. Logo que eu engravidei do meu primeiro filho, Artur ficou indiferente. Chegava em casa tarde, sempre cansado, muitas vezes nem jantava. Dizia que estava sem fome. Engravidei da minha filha tentando reconquistá-lo, mas não adiantou nada. Acabamos nos separando. Agora está tudo explicado.

Doutora Eunice auscultou seu coração e constatou que estava morto. Pegou suas mãos e beijou, demoradamente. Depois se abraçou à enfermeira, aproximou-se do morto, pegou sua mão e falou: “Obrigada, pai, por me amparar e cuidar de mim e de minha mãe”.

Virou-se para a enfermeira e agradeceu: “Obrigada mãe, por me ajudar a cuidar do meu pai”.

Eurídice engoliu em seco e saiu com os filhos. A esposa a seguiu, pois precisava tomar as providências necessárias que a ocasião exigia. Eunice e a mãe permaneceram ao lado de Artur por mais algum tempo. Era a oportunidade que tinham, de se despedirem daquele homem que tanto amaram e que sempre as tratara com dignidade e respeito.

Narcisa Amália (Poemas Escolhidos)

O LAGO

I
Calmo, fundo, translúcido, amplo o lago
longe, trêmulo, trêmulo morria,
No seu límpido espelho a ramaria,
curva, de um bosque punha sombra e afago

Terra e céu, ondulando, eram na fria
tela fundidos! O queixume vago
que a água modula, de ambos parecia
solto, ululante, intérmino, pressago!

"Trecho vulgar de sítio abstruso e agreste"
talvez; mas todo o encanto que o reveste
sentisse; contemplasses-lhe a beleza;
comigo ouvisse-lhe a mudez, que fala,
e sorverias no frescor que o embala
todo o alento vital da Natureza!
= = = = = = = = = = = = =

PERFIL DE ESCRAVA

Quando os olhos entreabro à luz que avança,
Batendo a sombra e pérfida indolência,
Vejo além da discreta transparência
Do alvo cortinando uma criança.

Pupila de gazela - viva e mansa,
Com sereno temor colhendo a ardência
Fronte imersa em palor...Rir de inocência,
Rir que trai ora angústia, ora esperança...

Eis o esboço fugaz da estátua viva,
Que - de braços em cruz - na sombra avulta
Silenciosa, atenta, pensativa!

Estátua? Não, que essa cadeia estulta
Há de quebrar-se, mísera, cativa,
Este afeto de mãe, que a dona oculta!
= = = = = = = = = = = = =

POR QUE SOU FORTE
      a Ezequiel Freire

Dirás que é falso. Não. É certo. Desço
Ao fundo d’alma toda vez que hesito...
Cada vez que uma lágrima ou que um grito
Trai-me a angústia - ao sentir que desfaleço...

E toda assombro, toda amor, confesso,
O limiar desse país bendito
Cruzo: - aguardam-me as festas do infinito!
O horror da vida, deslumbrada, esqueço!

É que há dentro vales, céus, alturas,
Que o olhar do mundo não macula, a terna
Lua, flores, queridas criaturas,

E soa em cada moita, em cada gruta,
A sinfonia da paixão eterna!...
- E eis-me de novo forte para a luta.
= = = = = = = = = = = = =

RESIGNAÇÃO

No silêncio das noites perfumosas,
Quando a vaga chorando beija a praia,
Aos trêmulos rútilos das estrelas,
Inclino a triste fronte que desmaia.

E vejo o perpassar das sombras castas
Dos delírios da leda mocidade;
Comprimo o coração despedaçado
Pela garra cruenta da saudade.

Como é doce a lembrança desse tempo
Em que o chão da existência era de flores,
Quando entoava o múrmur das esferas
A copla tentadora dos amores!

Eu voava feliz nos ínvios serros
Depois das borboletas matizadas...
Era tão pura a abóbada do elísio
Pendida sobre as veigas rociadas!...

Hoje escalda-me os lábios riso insano,
É febre o brilho ardente de meus olhos:
Minha voz só retumba em ai plangente,
Só juncam minha senda agros abrolhos.

Mas que importa esta dor que me acabrunha,
Que separa-me dos cânticos ruidosos,
Se nas asas gentis da poesia
Eleva-me a outros mundos mais formosos?!...

Do céu azul, da flor, da névoa errante,
De fantásticos seres, de perfumes,
Criou-me regiões cheias de encanto,
Que a luz doura de suaves lumes!

No silêncio das noites perfumosas
Quando a vaga chorando beija a praia,
Ela ensina-me a orar, tímida e crente,
Aquece-me a esperança que desmaia.

Oh! Bendita esta dor que me acabrunha,
Que separa-me dos cânticos ruidosos,
De longe vejo as turbas que deliram,
E perdem-se em desvios tortuosos!...
= = = = = = = = = = = = =

SADNESS *
"Still visit thus my nights, for you reserved,
And mount my soaring soul thougts like yours."*
(James Thomson)


XX
Meu anjo inspirador não tem nas faces
As tintas coralíneas da manhã;
Nem tem nos lábios as canções vivaces
Da cabocla pagã!

Não lhe pesa na fronte deslumbrante
Coroa de esplendor e maravilhas,
Nem rouba ao nevoeiro flutuante
As nítidas mantilhas.

Meu anjo inspirador é frio e triste
Como o sol que enrubesce o céu polar!
Trai-lhe o semblante pálido — do antiste**
O acerbo meditar!

Traz na cabeça estema** de saudades,
Tem no lânguido olhar a morbideza;
Veste a clâmide** eril** das tempestades,
E chama-se — Tristeza!...
===========================
 
*Sadness = Areias
*Visite ainda assim minhas noites, para você reservadas,
E monte meus pensamentos elevados da alma como os seus.
**Antiste = Pontífice, grande sacerdote, chefe do templo, entre os antigos Pagãos.
**Estema = coroa, grinalda.
**Clâmide  = manto que se prendia por um broche ao pescoço ou aos ombros.
**Eril = brônzeo.
==============================
 
Narcisa Amália de Campos foi uma poetisa, escritora. Primeira mulher a trabalhar como jornalista profissional no Brasil. Movida por forte sensibilidade social, combateu a opressão da mulher e o regime escravista. Colaborou na revista A leitura (1894-1896) e, bem a frente de seu tempo, escreveu muitos artigos de cunho feminista e republicano.

Filha do poeta Jácome de Campos e da professora primária Narcisa Inácia de Campos, Narcisa Amália nasceu em São João da Barra em 3 de abril de 1856. Ainda em São João da Barra, estudou latim e francês, e recebeu aulas de retórica de seu pai.

Aos 11 anos, mudou com a família para o município fluminense de Resende, onde, aos 14, se casa com João Batista da Silveira, artista ambulante de vida irregular, de quem se separou alguns anos mais tarde. Em 1880, se casou novamente com Francisco Cleto da Rocha, mas a união não durou e o casal se separou pouco tempo depois, obrigando-a a deixar Resende, em especial por conta dos boatos espalhados por seu marido na cidade. Por ter sido casada e divorciada em duas ocasiões, isso gerava forte estigma social na época. O sucesso de Narcisa passou a incomodar o marido que, depois de separado, passou a difamar Narcisa declarando que seus versos não eram de sua autoria, mas escritos por poetas com quem teria tido casos de amor. O escritor Múcio Teixeira fez coro à campanha contra Narcisa declarando que o livro “Nebulosas” tinha sido escrito por um homem com pseudônimo de mulher.

Narcisa iniciou sua carreira como tradutora de contos e ensaios de autores franceses, como a escritora George Sand e o paleobotânico Gaston de Saporta. Seu único livro é Nebulosas, publicado em 1872. A obra foi muito bem recebida na época de seu lançamento, tendo sido inclusive bastante comentado por Machado de Assis e Dom Pedro II.

Em 1874, 1888 e 1917, ela contribui com o "Novo Almanaque de Lembranças", que era uma coletânea de textos diversos que tinha grande circulação em Portugal e no Brasil.

Cansada das difamações em Resende, em 1889, com apenas 33 anos, foi para um exílio voluntário em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Abandonou toda atividade literária, e foi lecionar em uma escola pública. Dedicando-se ao magistério, em 1884, ela funda um pequeno Jornal Quinzenal, “o Gazetinha”, suplemento do Tymburitá que tinha como subtítulo, “folha dedicada ao belo sexo”.

Narcisa faleceu aos 72 anos, em 1924, no Rio de Janeiro, vitimada por diabetes. Ela já estava cega, pobre e com problemas de mobilidade. Além disso, sua obra foi praticamente esquecida depois de sua morte. Antes de sua morte, deixou um apelo: “Eu diria à mulher inteligente [...] molha a pena no sangue do teu coração e insufla nas tuas criações a alma enamorada que te anima. Assim deixarás como vestígio ressonância em todos os sentidos”. Foi sepultada no Cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro.


Fontes:
Ezequiel Freire. Flores do Campo. 1874.
Narcisa Amália. Nebulosas. 1872.
Wikipedia

Mário de Alencar (Coisas do tempo)

Para entender a linguagem coloquial da nossa gente moça, será em breve preciso ter-se à mão um vocabulário de folhas volantes que acompanhe as aceleradas inovações idiomáticas. Quanto a mim, fico em branco ouvindo expressões que andam correntes e sem dúvida traduzem ideias. Registro algumas que me estão lembrando: à beça, baita, batuta, pra burro, é um suco; e há muitas outras que tais.

Constitui esse vocabulário uma geringonça; mas, ou eu me engano, ou são as geringonças peculiares a ajuntamentos quotidianos e restritos, como as escolas e quartéis, ou à gente popular unida em identidade de profissão ou de vício. Creio também que à linguagem popular não é difícil descobrir-se uma origem na metáfora, na frequência dos seus utensílios, ou na corrupção da ignorância. Tem ela ainda um certo pitoresco, que resulta da própria transparência ou jeito do vocábulo, ou porventura do uso limitado a um grupo.

Mas ao idioma novo a que me refiro, desde que é geral aos moços de toda procedência, não quadra a razão de ser das geringonças. Os salões que eles frequentam assiduamente deviam ser um meio neutralizador ou anulador de hábitos e cacoetes adquiridos onde a graça se contenta de ser chulice e a comunicação de ideias se satisfaz com esgares de palavra.

A casaca e o peitilho engomado obrigam ao aprumo do tronco e ao gesto comedido; e até o corpo que não tenha natural elegância, aparenta-a sem o pensar. Também ali a voz não ultrapassa o diapasão de surdina; alinha-se a palavra em harmonia com o timbre e as atitudes; tem compostura, afeiçoa-se à delicadeza da presença feminina, e enforma espontaneamente em galanteio.

Ora, a geringonça dos moços de hoje não é só deles entre si, senão deles para elas e delas para eles. Mais os entendem elas do que eu, que sou velho, ou o homem do povo, que tenha a rudeza da vida simples. Mas o popular frequentador da Avenida e dos teatros e cinemas, esse conhece também e pratica a geringonça das moças.

Apagou-se a linha divisória do gesto, da linguagem e até dos hábitos de salão, como já não há diferença entre o salão e o bonde.

O decote era a concessão convencional que o pudor fazia à elegância seleta do baile ou consentia à discrição de um camarote em espetáculo de gala; mas exigia a sombra de um carro e o abrigo de uma pelica; agora desce pedestremente à rua, e toma o bonde, e senta-se entre gente grosseira e estranha, e deixa-se ver sem convenção e medida pelos olhos da multidão.

As pernas também já não se escondem, e esqueceram que a graça e a magia do seu encanto provinham de andarem ocultas. Bastava à imaginação a possibilidade de descobri-las, e o principal era adivinhar, ou surpreendê-las a furto, ao acaso de um movimento, e que não as vissem muitos olhos a um tempo ou não mostrasse a dona gostar de mostrá-las. No gesto apressado de reescondê-las e no rubor súbito acendido nas faces da dona estava a delícia da visão misteriosa e breve. Musset não achara poesia nas pernas da sua andaluza, se elas fossem espetáculo cotidiano, em vez do imprevisto e da surpresa. Mas a andaluza de Musset usava espartilho, e ao tempo dele as casacas não usavam em público outro ritmo de movimento que o giro de adejo.

Agora a música dos bailes não tem o compasso de ondulação suave: chocalha; não deslizam os pés: sapateiam; não se alinham os corpos em par que revoa, apenas unidos pelo toque leve dos braços: agarram-se, aferram-se; nem o movimento é composto pela atitude da beleza: os troncos dobram-se, chocam-se, sacodem-se e pulam, desconjuntam-se e descambam, ou só remexem, jungidos, em quebras de melopeia ou batuques de cateretê, durante os quais não raro, para maior efeito, há uma pausa na música e um grito do batuta: Maricota, sai da chuva! ou estribilho equivalente. E o saracoteio recomeça mais vivo, num gingo-gingo estonteado e suado de samba.

Não estará aí a explicação daquela geringonça que eu não entendo? Baita, batuta, à beça, pra burro são flores de jardim moderno, em que se alternam ou confundem as couves e salsas com os cravos e as rosas. Eu não desdenho as hortaliças, antes gosto muito delas, mas o meu sentido estético não as quer senão em horta ou já temperadas no prato de refeição. Repugna-me ver em lapela uma folha de alface, nem suponho que ninguém aceite para um jarro de salão um ramo de violetas entremeadas de cebolinha. Tal a impressão que recebo dessa geringonça em lábios de fina gente moça.
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Mário Cochrane de Alencar, poeta, jornalista, contista e romancista, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 30 de janeiro de 1872, e faleceu na mesma cidade em 8 de dezembro de 1925.

Filho do grande romancista José de Alencar. Fez os primeiros estudos no Colégio Pedro II, obtendo o título de Bacharel em Ciências e Letras, e formou-se em Direito pela Faculdade de São Paulo.

Desde a adolescência distinguiu-se pela inclinação para a poesia e a literatura, colaborando em órgãos da imprensa: Almanaque Brasileiro Garnier, Brasília (1917), Correio do Povo (1880); Gazeta de Notícias (1894); O Imparcial e A Imprensa (1900), Jornal do Comércio, O Mundo Literário, Renascença, Revista Brasileira (1895-1899), Revista da Academia Brasileira de Letras e Revista da Língua Portuguesa, todos do Rio de Janeiro, e também em alguns periódicos paulistas. Usou os pseudônimos Deina e John Alone.

Como funcionário público, foi diretor da Biblioteca da Câmara dos Deputados. Em 1904, na qualidade de secretário do Ministro da Justiça e Negócios Interiores, J. J. Seabra, Mário de Alencar colaborou para que o Governo brasileiro desse sede a Academia Brasileira de Letras no prédio chamado Silogeu Brasileiro. Eleito no ano seguinte para a Academia, foi segundo-secretário da instituição, de 1907 a 1910, e, nos anos subsequentes, fez parte da Comissão da Revista (1910, 1917 e 1919); da Comissão de Bibliografia (1912); da Comissão de Lexicografia (1918) e da Comissão de Publicações (1920 e 1923).

Publicou como estudante em 1888, a sua primeira coleção de poesia, Lágrimas. Na sua obra literária, embora pequena, foi um sugestivo evocador de figuras. Apesar da diferença de idade, pode ser considerado o maior amigo de Machado de Assis acompanhado nos últimos anos e mantendo extensa correspondência.

Bibliografia
Lágrimas, 1888.  Versos, 1892.  Ode cívica ao Brasil, 1903.  Dicionário de rimas, 1906.  Alguns escritos, 1910.  O que tinha de ser, 1912.  Se eu fosse político, 1913.  Contos e impressões, 1920.


Fontes:
Academia Brasileira de Letras
Mário de Alencar. Contos e impressões, 1920.

8º Concurso de Poesia Biblioteca Lydia Frayze, de Ourinhos/SP (Prazo: 13 de Maio)


OBJETIVOS
Atuar em prol do interesse pela leitura com incentivo à criatividade poética para promover a descoberta de novos talentos e incentivar a produção literária.

CATEGORIAS
As categorias serão separadas pelo ano escolar devido ao grau de instruções e conhecimento dos participantes. O Concurso divide-se em quatro categorias:

- Categoria 1:
constituída por estudantes matriculados no 4º, 5º ou 6º ano do Ensino Fundamental das escolas públicas e particulares;

- Categoria 2:
constituída por estudantes matriculados no 7º, 8º ou 9º ano do Ensino Fundamental das escolas públicas e particulares;

- Categoria 3:
constituídas por estudantes matriculados no ensino médio.

- Categoria 4:
constituída por pessoas com mais de 18 anos ou que já concluíram o ensino médio, considerados na categoria de jovens e adultos.

PARTICIPANTES DO 8º CONCURSO DE POSIAS

Podem se inscrever os interessados que atendam as descrições mencionadas nas categorias 1,2, 3 ou 4 deste edital;

Cada pessoa poderá apresentar apenas 1 (um) trabalho que seja caracterizado com o gênero literário POESIA;

É imprescindível identificar a qual categoria pertença o participante inscrito, caso esteja devidamente matriculado em uma Instituição de Ensino, será necessário colocar o nome da Instituição que se encontra matriculado.

O tema é de livre escolha do participante e exige-se que o texto seja inédito de produção própria do inscrito, permitida apenas a publicação em rede social de sua propriedade, desde que redigido em Língua Portuguesa, salvo expressões ou palavras de natureza estrangeira.

Poderá participar qualquer pessoa residente, ou não, no Brasil.

INSCRIÇÕES

A inscrição será realizada no google formulário pelo link: 
https://bit.ly/inscricao-concurso-poesia.

O formulário conterá campo obrigatório para preenchimento, como os dados cadastrais:
nome completo do participante,
nome completo do responsável,
CPF do responsável,
endereço residencial,
telefone residencial ou de aparelho móvel (celular) do responsável maior de idade,
correio eletrônico (e-mail),
pseudônimo (um nome fictício),
título da poesia e a
categoria em que concorre,
aceite do termo do uso de imagem e tratamento de dados,
bem como anexar em PDF a poesia seguindo as orientações elencadas abaixo:
• título;
• Anexo no formato PDF;
• Fonte arial 14;
• Espaçamento simples;
• Máximo 30 linhas.

Não aceitar os termos de uso de imagem tratamento de dados corresponderá na desclassificação do candidato.

Cada candidato poderá concorrer com 1 (um) trabalho poético.

PERÍODO DE ENVIO DOS TRABALHOS

O prazo para o envio dos trabalhos será de 14 de fevereiro a 13 de maio de 2022.

JULGAMENTO

O julgamento será realizado no período de 30 de maio a 30 de junho de 2022, pela Comissão Julgadora que será composta por 3 (três) jurados.

Os jurados atribuirão pontuações de 0 a 10 as poesias com análise nos critérios que são: tema, presença de técnicas, ortografia, gramática e a carga poética.

Em caso de empate técnico, será considerada maior nota do item “presença de técnicas” para desempate. Caso persista o empate, o segundo item para desempate será “carga poética”. Se mesmo assim, persistir o empate será nomeado um dos jurados para o desempate.

DESCLASSIFICAÇÃO

Haverá a desclassificação do candidato caso seja observado:

- não preencher todos os requisitos da ficha de inscrição;

- apresentar poesia para avaliação de outra autoria e/ou plagiada;

PREMIAÇÃO

As três primeiras colocações de cada categoria receberão os prêmios
descriminados abaixo:

1º lugar: certificado, medalha e 01 Kindle 10ª geração

2º lugar: certificado, medalha e vale livro de $200,00

3º lugar: certificado, medalha e vale livro de $100,00

Observações:

- Todos os inscritos poderão acompanhar na página da Biblioteca Lydia Frayze no Facebook e Instagram o resultado do Concurso que será divulgado no dia 25 de julho a partir das 14h.

- Para fazer jus à premiação, o vencedor deverá buscar os prêmios na sede da Biblioteca Lydia Frayze no dia e horário acordado, exceto quando não residir na região da cidade de Ourinhos/SP, onde os prêmios serão entreges via Correios no endereço informado na ficha cadastral.

- Não serão expedidos certificados de participação aos demais concorrentes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A inscrição neste concurso corresponde à aceitação plena deste regulamento, e o seu não cumprimento resultará na desclassificação do candidato.

A Biblioteca Lydia Frayze não se responsabiliza por eventuais correções ortográfias dos trabalhos inscritos e aprovados.

Os casos omissos neste regulamento serão resolvidos pela Comissão Organizadora do Concurso, a quem cabem decisões definitivas e irrecorríveis.

Mais informações pelo e-mail:
concursodepoesia@famacultural.com.br.

Ourinhos 17 de janeiro de 2022
Associação Cultural Fazendas Fama