domingo, 21 de maio de 2023

Baú de Trovas LXIV



Ah, se o amor fosse comprado
tal como se compra um pão,
se eu não fosse afortunado,
seria um grande ladrão!...
A. A. DE PAULA
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Treinando, o punguista Zeca,
enquanto dança uma valsa,
consegue tirar a cueca
sem antes despir a calça!...
APARICIO FERNANDES
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Se há noites frias, escuras,
também há noites formosas;
há riso nas amarguras,
entre espinhos nascem rosas.
AUTA DE SOUZA
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Bem pouca gente procura
aceitar esta verdade:
— antes ser bom sem ventura,
que ser feliz sem bondade.
BATISTA NUNES
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O mérito da questão
foi por demais discutido,
e durante a confusão
o juiz tinha dormido...
BENTO VIEIRA DE MOURA
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Caro doutor, saiba disso:
se esse transplante malogra,
eu pago em dobro o serviço,
pois a velha é minha sogra...
CARLOS GUIMARÃES
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Um anjo veio e deu vida
ao peito de amores nu;
Minha alma agora remida
adora o anjo — que és tu!
CASIMIRO DE ABREU
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Não te deixes deslumbrar
pelo brilho da cidade;
podes ferir teu sonhar,
pois nem tudo é de verdade,..
DINA MARCHETTI ABAD
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É inverno… mas que me importa?
Estou sempre à tua espera…
Quando chegas e abro a porta
entra junto a Primavera!
DÉSPINA ATHANÁSIO PERUSSO
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Dona do maior afeto,
minha amiga doce e terna!
Eu vou baixar um decreto:
- toda mãe vai ser eterna!
DEYSE GOTTARDELLO
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Criança, crescida és,
vives de sonhos, também,
Tu, que tens o mundo aos pés,
serás o mundo de alguém!
DILCEU AMARAL
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Nosso abismo mais profundo,
que no universo se espalma,
são as tristezas do mundo
nas profundezas da alma.
DILMA SUERO
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Quando a mulher o encontrou
atracado na empregada,
o cara-de-pau berrou:
— Me larga, negra tarada!
ÉLTON CARVALHO
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Jornalista dá notícia
sem fazer dela mistério.
E se é linguagem fictícia
usa seu melhor critério.
EMÍLIO SOARES DA COSTA
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Tem tudo; fortuna imensa,
honras, prestígio, nomeada,
Com o amor… indiferença,
Pobre rico! Não tem nada!…
ESMERALDO SIQUEIRA
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Não tenho televisão,
mas tenho "televizinha"...
E numa programação
que vai a noite inteirinha!
ENÉAS NUNES DE BARROS
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No universo da poesia
desejei veredas novas,
e encontrei o que eu queria,
ao lançar o anzol nas trovas.
ENIVALDO BORGES DA SILVA
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É nas horas do langor,
quando o sonho faz-se extinto,
que se troca um grande amor
por um cálice de absinto!
ÉRICO MAGALHÃES DO AMARAL
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Nesta casa, que é só minha,
onde eu mesmo sou a lei,
obedeço a uma rainha,
muito embora eu seja o rei...
ERNÂNI RUSHEL
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Ajuda aos pobres, amigo,
sem mesquinhez ou ambição.
— O pobre, ao cruzar contigo,
é Deus que te estende a mão!...
GALDINO ANDRADE
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No momento da partida
deixaste por maldição,
uma saudade dorida
dentro do meu coração.
ISAIAS TEVES
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Esquecendo a Lei Divina,
aquele padre — essa é boa! —
Abandonou a batina,
mas... conservou a coroa!
JOUBERT DE ARAÚJO SILVA
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A morte é o triste momento
de uma dívida assumida.
É o dia do vencimento
das quatro letras da vida!
LAMARTINE BABO
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Eis que o destino descobre
a sorte que Deus me deu:
- Ninguém na vida é mais pobre
e nem mais feliz que eul
LATOUR AROEIRA
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Sonhando novas auroras,
no meu viver sem ninguém,
me embala a dança das horas
pelo amanhã que não vem..,
LAVÍNIO GOMES DE ALMEIDA
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Fim da estrada... hoje tristonho
eu constato e a voz se cala;
a mão que agarrava o sonho,
hoje segura a bengala…
LEDA BECHARA
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Sei que o Inferno é muito grande,
cabe mais um ou mais dois.
— Se por acaso eu for antes,
tu poderás ir depois...
OZIEL PEÇANHA
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Da morte ninguém escapa,
por isso não tenho medo.
Só peço que ela não venha
me procurar multo cedo...
ROBERTO FERNANDES
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Lágrimas em meu rosto
Demonstram dor, fraqueza.
Só as paredes do meu quarto
Sabem minha tristeza.
SOLANGE COLOMBARA
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Seis horas... Vem a Saudade...
Rio antigo... Praça Onze...
Os sinos, pela cidade,
choram lágrimas de bronze...
VASCO DE CASTRO LIMA
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Na demanda da ternura,
motivo... meus sonhos lassos,
indo de encontro à ventura
na curva dos teus abraços...
VANDA ALVES DA SILVA
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Aprecio o casamento,
mas num plano secundário.
Casou? Deu festa? Eu frequento,
mas fico celibatário...
ZEDANOVE TAVARES
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Jaqueline Machado (Quincas Borba humano / cão)

No romance Quincas Borba, de Machado de Assis, o leitor recebe uma cartilha, quase uma enciclopédia sobre o jogo de interesses humanos. 

Rubião queria que sua irmã, Piedade, casasse com Quincas, que era um homem rico, assim, poderia ele se favorecer em parte, da vida luxuosa do amigo, que passaria a ser seu parente, mas a moça era muito tímida e rejeitou o matrimônio.

Rubião levava uma vida simples de professor. No entanto, apesar do golpe não ter dado certo, ficou rico. E vestido em seu chambre, de frente para uma janela de um imenso apartamento no Botafogo, orgulhava-se de si. Entusiasmava-se ao lembrar da vida simplória de seu passado recente e de tudo o que agora podia desfrutar, sendo bem servido pelos seus serviçais.

Rubião tinha um amigo chamado Cristiano Palha, também muito interesseiro, que o ensinava como ser um rico de verdade, que o aconselhou a contratar um novo serviçal que fosse estrangeiro e branco. ( Aqui a narrativa enfatiza a cruel questão do racismo de um Brasil que acabava de sair de um período escravocrata).

Mas afinal, por qual meio Rubião, que era um homem de vida simples, teria ficado rico?

Quincas era um mendigo filósofo, que estava para morrer de uma doença pulmonar. Tinha consigo um cãozinho que levava o seu nome. Rubião era o amigo que ouvia sobre as ideias de Humanitas de Quincas.

Humanitas é um sistema filosófico criado por Quincas para explicar o sentido da existência. A filosofia de Quincas Borba afirma que a substância da qual emanam e para a qual convergem todas as coisas é Humanitas. Portanto, Humanitas é o princípio único de tudo o que existe. E se esse princípio está em tudo, está também no seu cãozinho de estimação, que terá como herança o seu nome. 

Humanitas, segundo sua filosofia, também significa que essa substância não se esvai com a morte do corpo. É uma espécie de célula da imortalidade, portanto, o fenômeno (matéria) se desfaz, mas a essência fica. Os que morrem em batalha, nas disputas pelas batatas na sobrevivência da vida, permanecem vivos em um outro estado de existência.

Quincas propôs a Rubião o seguinte: caso ele aceitasse cuidar do seu cãozinho, se tornaria seu herdeiro universal. Rubião, bajulador e interesseiro, aceitou. Logo que o velho morreu, tomou posse da herança e do cachorro. 

Ele não conseguia nutrir muita estima pelo animal, que uma hora era cuidado, e instantes depois, desprezado por ele. 

Rubião passou a desfrutar da chamada “Vida boa”. Vida essa a qual não conseguiu se adaptar, pois eram muitas normas e requintes a seguir para ser considerado um bom rico. 

Ele era um homem atrapalhado, se apaixonou pela mulher do seu melhor amigo, e emprestava dinheiro para todo mundo que o enxergava como um bobo da corte. 

Não suportando a falta de adaptação exigida pela sociedade e perdido de amor por uma mulher que o ignorava, aos poucos, foi enlouquecendo. 

Ao ser dominado pelos sintomas da loucura, perdeu a herança. Com isso, os amigos sumiram e ele terminou seus dias sem família, sem amor, sem amigos, com fome e sozinho. 

Fonte:
Texto enviado pela autora.

Ismael Garcia (Três elementos essenciais para o sucesso literário do novo escritor)

Em 2017, compartilhei o texto abaixo com milhares de escritores e muitos deles foram beneficiados em seus resultados de lá para cá.

Isso ocorreu porque esses escritores entenderam o recado por meio de uma experiência que eu vivi e que também me trouxe (e ainda me traz) excelentes resultados (E são mesmo excelentes!).

O texto é um pouquinho longo, mas como os benefícios que ele pode proporcionar são satisfatórios, o compartilho com você também, na expectativa de que você também compreenda que o seu livro realmente pode te trazer muitas realizações.

TRÊS ELEMENTOS ESSENCIAIS PARA O SUCESSO LITERÁRIO DO NOVO ESCRITOR

Eu não acredito que a simples publicação de um livro seja a realização de um sonho, pois, na minha opinião, para que o sonho se realize completamente, é necessário algo mais. Além de ser publicado, o livro tem que causar algum resultado, tanto na vida das pessoas que o compram quanto na vida do próprio escritor. Porém, para que esse resultado (seja ele qual for, desde que seja algo bom) possa realmente acontecer, é necessário que o escritor aprenda definitivamente a integrar os três elementos essenciais do sucesso literário, sendo que, o terceiro, é o mais importante de todos.

Para explicar quais são esses poderosíssimos elementos, vou usar um exemplo pessoal:

Quando meu primeiro livro estava em processo de publicação, eu sentia a euforia e a ansiedade que permeia o coração de todo novo escritor. Minha mente imaginava as mais diversas situações e, para mim, era como se um novo mundo estivesse para existir. Foram semanas de espera para que fossem realizados todos os serviços editoriais e, por fim a impressão. Até que, certo dia, fui surpreendido por um empregado de uma empresa de correio expresso italiana, a Bartolini, que tocava o interfone da minha casa na Itália, dizendo: “Spedizione per il signor Garcia”. Desci as escadas apressadamente, recebi aquela encomenda e voltei para a casa com as caixas, sabendo que eram meus lindos e maravilhosos livros. Fiquei muito feliz… Contudo, foi uma felicidade que durou apenas alguns minutos. Logo, essa felicidade foi sucumbida por uma pergunta que eu fiz a mim mesmo, para a qual, naquele momento, não havia nenhuma resposta: Quem vai comprar esses livros se os únicos que sabem da existência dele é você e a sua família?

Numa questão de segundos, percebi que, se realmente quisesse ter sucesso com aquele meu livro, precisaria fazer com que as pessoas passassem a saber da existência dele. E foi ali a partir dali que eu comecei a cultivar o 

PRIMEIRO ELEMENTO ESSENCIAL DO SUCESSO LITERÁRIO: 
A DIVULGAÇÃO.

Para mim, passou a ser de extrema importância que o meu livro fosse conhecido ou, pelo menos, visto pelo maior número de pessoas possível. Então, passei a divulgá-los por todos os meios imagináveis: facebook, site, marcadores, folhetos, boca a boca, revistas, jornais, blog e tudo mais o que encontrasse pela frente. Como a cidade onde eu morava era pequena, por onde as pessoas passassem elas tinham a possibilidade de almenos visualizar qualquer coisa a respeito do meu livro.

Ao mesmo tempo, surgiu o 

SEGUNDO ELEMENTO ESSENCIAL DO SUCESSO LITERÁRIO: 
OS CANAIS DE VENDA. 

Eu imaginava que, se algumas daquelas pessoas que vissem meu livro quisessem comprá-lo, então ele deveria estar disposto para a venda em algum lugar, além de simplesmente no site da editora, visto que, sendo uma editora nova, que estava nascendo com a publicação daquele livro, era totalmente desconhecida. As ações que pratiquei foram: visitei pessoalmente cada uma das livrarias da cidade pedindo que eles vendessem meu livro (muitas não aceitaram, mas a maioria concordou em firmar uma parceria comigo, mesmo sabendo que eu era um escritor desconhecido). Fiz parceria com uma instituição e consegui colocar meu livro à venda nos principais distribuidores onlines da Itália (Fazendo uma busca no google - Le lacrime della felicita, Ismael Garcia - ainda é possível encontrar alguns canais que vendem meu livro, mesmo tendo já passado 13 anos). Intensifiquei a divulgação do site, onde o livro estava sendo vendido. Coloquei o livro à venda em diversas bancas de revistas. Lembro que teve até um restaurante que aceitou vender meus livros ao seus clientes!!! E ainda, fiz acordo com algumas pessoas para que vendessem meu livro no boca a boca em troca de uma comissão.

OBS: Hoje, para auxiliar neste ponto crucial, que é o segundo elemento essencial para o sucesso do escritor, estamos tendo a oportunidade de conceder a alguns escritores a possibilidade de divulgar o seu livro não só no Brasil, mas também no exterior, em 24 países.

Fazendo a divulgação de uma forma ampla e tendo vários canais de vendas, o meu desejo era que ele agora fosse vendido na maior quantidade possível. De alguma forma eu entendia que para isso era necessário algum impulso a mais. Foi então que identifiquei o 

TERCEIRO ELEMENTO ESSENCIAL DO SUCESSO LITERÁRIO: 
O INTERESSE DO LEITOR PELO LIVRO.

Um leitor só compra um livro quando o acha interessante, mas no conteúdo do meu livro não tinha nada de interessante que pudesse convencer alguém a comprá-lo. Não desanimei porque sabia que existiam outros livros que também não tinham conteúdo interessante, mas que eram bem vendidos. E fui perceber que eram bem vendidos porque, de alguma forma, os leitores se interessavam por eles, ou por causa da editora que era famosa, ou por causa do escritor que era influente, ou por causa da capa e por vários outros motivos.

E, pelos comentários das primeiras pessoas que compraram meu livro, notei que, o que o tornava interessante, era o fato dele ter sido escrito diretamente em italiano, por um brasileiro, e por ter sido publicado pela minha editora que, na concepção da maioria, era uma coisa impossível de acontecer, visto que eu era um estrangeiro.

Então comecei a divulgar amplamente essa situação, despertando curiosidade nas pessoas, que por sua vez se dirigiam aos diversos canais de venda, comprando meu livro, dando assim, início ao sucesso da editora Garcia.

Portanto, o meu conselho é:

1) Divulgue amplamente o seu livro, por todas as formas imagináveis. Nunca se canse de fazer isso, pois o maior número de pessoas possível precisa saber que seu livro existe.

2) Coloque seu livro à venda no maior número de canais de venda possível: livrarias, bancas de revista, lojas, distribuidores e livrarias online, facebook, Instagram, marketplaces, etc. Onde você souber que vende livros, tente colocar seu livro lá. Vai por mim, você não vai se arrepender pelo esforço realizado.

Os canais de venda que estão á nossa disposição no momento é uma excelente oportunidade para isso. Leia a página com calma, reflita e entenda os benefícios.

3) Acima de tudo, descubra você primeiro o que torna seu livro interessante. Faça-se a pergunta: Por que alguém se interessaria pelo meu livro? E divulgue isso. Pare de perder tempo divulgando o que não vai despertar os interesses nos leitores.

INTERESSE DO LEITOR - DIVULGAÇÃO - CANAIS DE VENDAS 
INTERESSE DO LEITOR - DIGULGAÇÃO - CANAIS DE VENDAS
INTERESSE DO LEITOR - DIGULGAÇÃO - CANAIS DE VENDAS

É um ciclo que se repete.

Se faltar um desses elementos, o trabalho é todo perdido!

Faça acontecer e realize seu sonho!
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SOBRE O AUTOR/EDITOR:
Ismael Garcia atua há mais de 10 anos no mercado editorial como escritor, editor e empresário de sucesso. É consultor editorial para novos escritores e editores iniciantes e idealizador de diversos projetos editoriais. Já assessorou diretamente mais de 2000 escritores e apoiou indiretamente (por meio da realização de serviços editoriais, impressão e venda de livros) mais de 5000 obras.

Viveu na Itália por 10 anos, onde formou-se em Economia Empresarial pela Università degli Studi di Torino (Itália). Formado em Direito pelas Faculdades Doctum de Juiz de Fora (Brasil). Faz MBA em Gestão Empresarial.

Fonte:
Enviado pelo autor, proprietário da Garcia Editorial Ltda, em Juiz de Fora/ MG. https://www.editoragarcia.com.br, em 26 fevereiro de 2023.

sábado, 20 de maio de 2023

Ademar Macedo (Ramalhete de Trovas) 5

 

Monsenhor Orivaldo Robles* (Um inculto e nobre amigo)

Nenhum professor de História poria no filho o nome de Teglatfalasar, Vercingétorix ou Nabucodonosor. Na certa compraria briga com a mulher e pretexto para o divórcio. Contudo, de vez em quando, nos assustam nomes que mais parecem palavrões. Onde os pais os descobriram? E por que marcaram assim os filhos para o resto da vida?

Em Jales (SP), no meu segundo ano escolar, em 1949, transferido não sei de onde, entrou em minha sala um colega chamado Heliobas (com “o” fechado). Bizarro, sem dúvida, o nome; mais bizarro o dono. Não se via, entretanto, no grupo escolar inteiro, um estudante que lhe negasse a mais rasgada simpatia. Era uma figura rústica, quase selvagem. Ao mesmo tempo, de uma doçura ingênua e um coração tão puro que se tornava impossível não amá-lo. Não revelava preocupação alguma de ocultar sua procedência de uma família com recursos mais limitados até do que as nossas. E olhe que nós já éramos pobres o suficiente para atender à categoria socioeconômica de classe D. Até inferior, se houvesse. Para ele, no entanto, pobreza não constituía problema. Nela nascera e com ela se acertava muito bem, desde o berço. Ela era como um componente natural de sua vida.

Taludo, de compleição física superior à nossa, era também mais velho. Ainda assim, acompanhar a classe custava-lhe indisfarçável esforço. Não tinha sido boa sua escola anterior, se é que acaso tivesse frequentado uma. Possivelmente trabalhasse duro na roça. Na certa, residia longe do amontoado de casas a que dávamos o pomposo nome de cidade. Com paciência de pai, o professor Oscar Aidar cuidava de lhe respeitar a lentidão do ritmo. De certa feita, observando que toda a classe tinha copiado as dez questões do quadro, mandou um aluno apagá-lo. Lá do fundo, irrompeu a voz grossa de Heliobas: –“Pera um pouco, professor. Ainda tô na novena”. Ninguém riu. Não fosse ele, a reação teria sido outra. Mas dele ninguém caçoava. Era puro demais para sofrer atos de “bullying”, do qual nem ainda tínhamos ouvido falar.

Numa das caminhadas dominicais – atrás de frutas silvestres e banho nas águas cristalinas do riacho que corria pelo matagal ao fundo da chácara do tio Vito –, meu irmão Eraldo, alguns vizinhos e eu nos aventuramos além das vezes anteriores. De súbito, demos com um rancho. Naquela área nunca tínhamos pisado. Nem visto pobreza igual. Heliobas aceitou bem nossa presença anunciada pelos cachorros. Não demonstrou constrangimento pela choupana em que sua família morava. No meio do mato. Literalmente.

Passado pouco tempo, nos mudamos. Nunca depois consegui dele sequer notícia. Estará ainda vivo? Em que parte deste Brasilzão rico, desigual e injusto? Melhorou a dura vida que suportava sem queixa? Desfruta de saúde e de uma boa aposentadoria? Goza de paz interior e vive feliz, rodeado de bastantes amigos? Criou uma linda família, com filhos e netos que lhe confortam a velhice? Seria o mínimo para compensar-lhe a infância (e juventude?) tão sofrida(s).

Ah, caro amigo Heliobas, sabe Deus quantos, como você, arrastam a nosso lado a sua cruz. Em silêncio. Nós desviamos o rosto. Como se não nos dissessem respeito. Nem revestissem a mesma dignidade que para nós reivindicamos. Deus queira que um dia, tremendo de pavor, não tenhamos que ouvir: “Tive fome e não me destes de comer, sede e não me destes de beber…” (Mt 25,42).
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* Biografia do autor:
Filho de Antônio Robles (1914-1982) e de Luzia Gonsales Robles (1916-2010), monsenhor Orivaldo nasceu em Polôni (SP) em 6 de maio de 1941. Estudou em Jales e Poloni e ingressou no Seminário Nossa Senhora da Paz, em São José do Rio Preto, em 1953. Com a mudança da família para o Paraná (1957), veio concluir o antigo segundo grau no Seminário São José, em Curitiba. Cursou Filosofia no Seminário Rainha dos Apóstolos, em Curitiba (PR), graduando-se na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, de Mogi das Cruzes SP), com diploma reconhecido pela USP, São Paulo. Graduou-se em Teologia no Studium Theologicum de Curitiba, afiliado à Pontifícia Universidade Lateranense, de Roma.

Lecionou no Colégio Estadual Dr. Gastão Vidigal, e no Instituto de Educação, em Maringá (PR) (1967-1969). No Colégio Estadual e na Escola Normal de Paranacity (PR) (1970-1972). Por quase onze anos trabalhou como pároco de Marialva, de onde saiu no início de 1983 para assumir, por seis anos, o cargo de reitor do Seminário Arquidiocesano Nossa Senhora da Glória – Instituto de Filosofia de Maringá. Em 22 de janeiro de 1989 assumiu a Paróquia Santa Maria Goretti, em Maringá, onde trabalhou por mais de 20 anos. Desde 2009, trabalhou na Catedral Metropolitana de Maringá, exercendo a função de vigário paroquial.

Foi palestrante convidado a discorrer, em colégios ou outros núcleos humanos, sobre temas ligados à cidadania, formação pessoal e sobre ética pessoal ou pública.

Por ocasião do cinquentenário da Diocese de Maringá, em 2007, publicou o livro “A Igreja que Brotou da Mata – Os 50 anos da Diocese de Maringá”, com 352 páginas, sobre a presença da Igreja Católica na região de Maringá. 

Em 2012 teve publicado o livro “Celeiro Desprovido”, com 270 páginas, contendo 118 crônicas e artigos escritos desde 1995. Em 2017, foi publicado o livro dos 60 anos da Diocese de Maringá, também de sua autoria. 

Foi articulista mensal ou semanal, por mais de quinze anos, de jornais editados em Maringá, além de ter matérias reproduzidas em revistas ou blogs da região.

Faleceu de enfisema pulmonar. Há vários anos o presbítero estava com a saúde debilitada, realizando tratamento médico por problemas pulmonares.

Fontes:
Crônica
Biografia

Luiz Damo (Trovas do Sul) XLII

A água dança na cascata,
nos encanta enquanto cai,
de noite faz serenata
de dia encantando vai…
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A fauna se torna escassa
porque flora já não tem,
aos homens, grave ameaça,
de não resistir também.
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A tenda vende banana,
outras frutas e verduras,
às vezes, caldo de cana
e as gostosas rapaduras.
= = = = = = = = = 

A vida, quando imatura,
mais parece uma comédia,
começa numa aventura
e acaba numa tragédia.
= = = = = = = = = 

Escuto o choro do vento
na vidraça a se ferir,
mais se parece ao lamento
vendo um sonho sucumbir.
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Faltando água na banheira
banho não dá pra tomar,
pior se for na torneira
nem as mãos podes lavar.
= = = = = = = = = 

Mesmo rude sendo a estrada
que vamos seguir na vida,
se tiver porta de entrada
também deve ter saída.
= = = = = = = = = 

Muitos momentos vivemos
de augusta felicidade,
mas a plena, só teremos,
um dia na eternidade.
= = = = = = = = = 

Na cadência dos meus passos
vou traçando o meu caminho,
nele vão ficando os traços
de quem nunca o fez sozinho.
= = = = = = = = = 

Não faça do preconceito
um conceito descabido,
se o fizer fere o direito
pela lei reconhecido.
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Ninguém pague um alto preço
por ser morador de rua,
vive mudando o endereço
mas sem teto continua.
= = = = = = = = = 

Nos caminhos da existência
temos medo de encontrar,
a intrigante decadência
sem poder nos levantar.
= = = = = = = = = 

Nunca aceitamos perder,
ganhar também não sabemos,
bem pior que não saber
é culpar quando perdemos.
= = = = = = = = = 

O mundo vive com sede
de justiça e liberdade,
jamais deve haver parede
que divida a humanidade.
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Parte da população
deita sem se alimentar,
sobre a mesa falta o pão
e o leite suplementar.
= = = = = = = = = 

Qualquer água sendo pura
é inodora e não tem cor,
totalmente sem mistura
também não guarda sabor.
= = = = = = = = = 

Quando a vida em oração
parece se transformar,
nosso humilde coração
se transforma num altar.
= = = = = = = = = 

Quem somente planta ventos
pelos campos das vontades,
pode estar entre lamentos
colhendo só tempestades.
= = = = = = = = = 

Se à vida ficas a olhar
frutos não puderes ver,
é porque no teu lugar
alguém passou pra colher.
= = = = = = = = = 

Seguindo sem direção
tal um trem fora dos trilhos,
os pais, na separação,
quem mais sofrem são os filhos.
= = = = = = = = = 

Se na rocha construir
o vento pode soprar,
que jamais fará ruir
a casa, nem abalar.
= = = = = = = = = 

Tem o ferro, com certeza,
grande aplicabilidade,
contendo por natureza
'dureza e tenacidade'.
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Temo na vida, somente,
os que dizem ser amigos.
Também a Deus sou temente:
vem livrar-me dos perigos!
= = = = = = = = = 

Toda construção desaba
se não tem planejamento,
e o seu construtor acaba
tendo um aborrecimento.
= = = = = = = = = 

Tudo de bom acontece
quando o bem for cultivado
e o ramo que mais floresce,
não se chamasse 'pecado'.
= = = = = = = = = 

Tudo o que formos comprar
neste mundo consumista,
temos um preço a pagar,
seja a prazo, seja à vista.
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Um túnel em linha reta
dispensa qualquer sinal,
tem no começo uma seta
e uma luz no seu final.
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Fonte:
Luiz Damo. A Trova Literária nas Páginas do Sul. Caxias do Sul/RS: Palotti, 2014.
Enviado pelo autor.

Aparecido Raimundo de Souza (Pontos e sinais)

QUANDO OLHEI para a moça que acabara de subir e cruzar a catraca dentro do coletivo e que depois de pagar a passagem viera se sentar frente a mim, não pude deixar de olhar para seu corpo escultural, suas pernas longas e bem-feitas metidas num vestidinho azul extremamente curto. Imaginei, em pensamento, aquele pedaço de mau caminho totalmente despido de um leve pedacinho de pano que resguardava o mais delicioso de todo o conjunto: a sua nudez. 

Desde que a bela se acomodara, notei que colocara a mão esquerda no rosto, tampando o parcialmente. Esse gesto ligeiro, meio que opressivo, me chamou mais ainda a atenção, e, então, eu me dei conta do real motivo daquilo que para ela deveria permanecer oculto. Longe das vistas de todos, escondido mesmo, como algo que não carecesse de estar ao exposto de terceiros. O desencanto da sua desdita: ele se constituía num ponto medonho que ela não queria mostrar à curiosidade de terceiros, possivelmente por vergonha. Esse lado da sua mágoa se fixava na sua abertura oral. Era totalmente desconexa e torta, o que deformava o encanto da sua magia e colocava um tremor mórbido em seus lábios. Os olhos de um azul muito claro pareciam extremamente tristes. O aleijo, talvez de nascença, ou quem sabe causado por alguma enfermidade mal curada, deixara à sanha do desvairo público uma consternada sequela. 

Um desfecho que ela, por ser jovem, não conseguia engolir. E isso, visivelmente gritava alto e em som manifesto. Constrangia, sobremaneira, aquela boneca impecavelmente linda e inimitável. Obcecada pela vergonha, horrorizada pelo fato de não se sentir à vontade, deduzi que ela não se ponderava feliz, embora o albor da sua juventude dissesse exatamente o contrário. O tempo todo da viagem, quase duas horas e meia, ela seguiu de rosto tapado. Vez em quando trocava de mão, sempre escondendo o pejo da cicatriz malvada que lhe tirava o viço e a diminuía na dor e na agonia, o que evidentemente a levava a se sentir feia ou talvez, por essa razão, se via excluída das pessoas ao seu redor.  Que desdita! 

Olhei para ela com ternura. Com um carinho especial. Tão linda e perfeita, todavia atormentada, no âmago da sua insatisfação, por uma deformidade inverossímil. Apesar disso, seja qual for o nosso problema, não devemos sentir vergonha de certos desconfortos, por mais feios e sinistros que possam parecer. Todos nós temos pequenos mutilos. Alguns desses amputos, visíveis. Outros nem tanto. Entretanto, quero crer, e, em verdade abono piamente o que agora penso e escrevo. Não importa onde o nosso ponto fraco, o nosso aleijo, ou a nossa flagelação esteja manifesta, ou, via outra, onde a nossa desgraça se faça estropiada. 

O fato de sabermos que alguma anormalidade, por menor que seja, nos diminui e tira o nosso viço, bem ainda, atormenta a nossa alma, apavora o nosso espírito e afasta a nossa sensibilidade do sermos felizes (e entenda aqui felicidade) na sua melhor forma de expressão, não devemos nos preocupar. Mesmo norte, jamais nos deixarmos ser levados pela leviandade de quem nos julga e nos coloca numa visão dúbia e desconfigurada do que entendemos por dentro da “normalidade”. Por conta de pequenas ou grandes cissuras, por levarmos em conta opiniões infames e ignóbeis, ficamos divorciados de nós mesmos, e, sobretudo, deixamos de viver a plenitude casta e honrável da verdadeira razão de sermos completamente realizados. 

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

sexta-feira, 19 de maio de 2023

Daniel Maurício (Poética) 52

 

Cecy Barbosa Campos (Síntese de um amor)

A primeira vez em que o viu, ele se encontrava semiencostado ao balcão do correio, de maneira 
displicente, parecendo não ter pressa. Contrastava com o burburinho do local, onde as pessoas entravam e saíam rapidamente, empenhadas na resolução de seus problemas, sem enxergar os circunstantes.

Quando seus olhos se encontraram, ela sentiu que algo estranho acontecia. De relance, percebeu detalhes que, usualmente, seriam imperceptíveis: o relógio prateado, a camisa creme que aparecia por baixo do pulôver marinho de decote em V, os sapatos esportivos, adequados ao conjunto.

Ele sorriu levemente, e ela. desconcertada, deixou que seu envelope escorregasse pela primeira das caixas, sem verificar a indicação do estado ou se ali era o local apropriado para as cartas destinadas ao exterior.

Passou-se algum tempo, até que se defrontaram novamente. Aproximou-se, como um velho conhecido, e tudo aconteceu como se estivesse apenas continuando, como se estivessem ligados por um grande amor, que existia desde sempre, sem interrupções.

Um dia, sem avisos nem explicação, houve o adeus.

— Não posso continuar vivendo aqui. Estou partindo não sei para onde. — Foram as palavras dele, entrecortadas por um beijo apaixonado, misturado às lágrimas, que jorravam dos olhos da jovem, afogando os dois num ímpeto fremente.

A cidade, como todo o país, tornava-se a cada dia mais agitada e confusa, com notícias de perseguição a estudantes e intelectuais. No período em que estiveram juntos, não conversavam sobre os acontecimentos, que sacudiam o país. Ela se deixara alienar, pois nada mais lhe interessava além de viver aquele amor.

Só depois da despedida inopinada, ela se apercebeu do fato de não conhecer suas atividades ou sua posição política. Os sentimentos que os uniam era a única coisa que a preocupava, alheia aos sérios incidentes que preocupavam a todos os brasileiros.

Aos poucos, ela começou a entender. Sua cidade se elevara acima das montanhas e ultrapassara a mineirice silenciosa que a caracterizava, tornando-se foco da atenção nacional, já que de lá foram dados os primeiros passos para a Revolução de 1964. À medida que a ditadura militar ampliava seus tentáculos, em busca daqueles que, verdadeira ou presumivelmente, se insurgiam contra ela, notícias de perseguição e do desaparecimento de pessoas conhecidas ou desconhecidas se espalhavam, cochichadamente. Pessoas que, de uma forma ou outra, faziam parte do cotidiano da cidade: um artista, um bancário, um vendedor de livros etc.

Juntando as partes, gradualmente, ela ficou sabendo que ele era considerado "subversivo" e que exercia influências no meio estudantil por sua capacidade de liderança. Os Diretórios Acadêmicos das faculdades eram vasculhados, e os nomes de seus participantes devidamente anotados, não exatamente para investigação, mas para perseguição, prisão e tortura.

Mais tarde, ela soube que ele saíra do país e, passados alguns anos, com a volta da democracia, soube de seu retorno.

Encontraram-se um dia, em outra cidade, por acaso. Um desses acasos que o destino prepara para cada ser humano. Intensa emoção aflorou ao se depararem. A mesma emoção que surgira naquele primeiro dia em que se viram.

Entretanto, outros rumos tinham sido tomados, direcionando suas vidas. Agora maduros, eram capazes de analisar suas diferenças e entender que seu "momento" havia passado. Restava a profunda melancolia das lembranças da juventude, misturadas ao ideal de justiça que o movera, interrompendo a trajetória daquele amor esfuziante.

Não mais se viram, mas, vez por outra, o nome dele aparecia nos jornais. Continuava ativo na defesa das minorias e da justiça social. Ela o admirava e ficava feliz pelo seu desprendimento e por saber que, em sua luta contínua, ele encontrava a felicidade.

A última notícia que teve dele, também veio pelos jornais: "Bimotor explode em seu destino à Amazônia, para demarcação de terras". A descrição do corpo despedaçado, confundido com os pedaços do avião era terrível.

Uma dor inexprimível apertou seu peito naquele momento. A dor das lembranças que ficariam para sempre, corroendo o seu coração.

Fonte:
Cecy Barbosa Campos. Recortes de Vida. Varginha/MG: Ed. Alba, 2009.
Livro enviado pela autora.

Fábio Siqueira do Amaral (Trovas Dispersas)


Ao que vive de promessa,
ouça bem o que lhe opino:
– Pense mais no que professa
e fabrique seu destino.
= = = = = = = = = 

Aos meus caros notifico,
com claros sons de clarim,
toda a paz que lhes dedico
vem do céu, não vem de mim!
= = = = = = = = = 

Com toda esta minha idade
aventurei-me no amor
e a desgraça da saudade
não me fez nenhum favor…
= = = = = = = = = 

Contemplo meu sol de outono
e as borrascas deste mar;
confesso o triste abandono
num amargo lamentar…
= = = = = = = = = 

Da antiga infância... que sinto?
Juventude?  Não provei...
Se falo em saudade... eu minto!
Lembro só... quanto chorei...
= = = = = = = = = 

De alegria singular
governante tem a glória
persistente e popular
quando faz da paz, história...
= = = = = = = = = 

De tornar ao meu passado,
sonho até com mais vontade;
mas do amar sem ser amado
é impossível ter saudade.
= = = = = = = = = 

Deus dos céus, oh! sol fulgente,
santa paz da eternidade;
dá-nos esse grão presente:
a luz da fraternidade!
= = = = = = = = = 

E do amor tanto se fala,
se escreve e nada se sente;
esta trova não se cala
e haverá quem a desmente?!
= = = = = = = = = 

Enrugado e impopular
como fole de sanfona,
corre o risco de ficar
quem o amor só coleciona.
= = = = = = = = = 

Gostaria de esquecer...
Ser-lhe igual... Nada sentir...
Mas... Qual! Bem sei que vou ter 
a saudade a me oprimir!
= = = = = = = = = 

Há nos céus menos estrelas
do que os versos que eu cantei;
nosso amor vai surpreendê-las
com os beijos que lhe dei...
= = = = = = = = = 

Há quem culpe seu destino
pelas desgraças que enfrenta,
mas esquece o desatino
da má vida que fomenta!
= = = = = = = = = 

Lancei sementes de paz
para ver da guerra o fim
e o triunfo que perfaz
toda fé que existe em mim...
= = = = = = = = = 

Livros teus, abraça forte
se cultura queres ter;
coisas fúteis, dá-lhes corte
deixa de moleque ser!
= = = = = = = = = 

Melancólica estação
das cores esmaecidas
gera alguma inspiração
no outono de nossas vidas…
= = = = = = = = = 

O destino pode ser 
a desculpa do fracasso 
daquele que julga ter
uma pedra em cada passo.
= = = = = = = = = 

O sincero sentimento
faz cantar nova canção,
sopra à vida o vivo alento,
quando o amor cala a razão.
= = = = = = = = = 

O vento derruba as folhas,
fez o tapete no chão
do outono que, sem escolhas,
pôs rimas numa canção…
= = = = = = = = = 

Quem a paz deseja ter,
honra e valor conquistar,
procura não se envolver
no ato que o mal lhe insuflar!
= = = = = = = = = 

“Queres paz? Prepara a guerra!”
Funesto lema romano!
Faze assim e... pobre Terra...
e... do que é chamado humano!
= = = = = = = = = 

Sem meus pais e irmãos aqui;
e os amigos que partiram,
por saudade traduzi
tanta dor que me impingiram...
= = = = = = = = = 

Sempre foi o meu destino
ser calado e assim sofrer;
nem a fé, num descortino,
fez-me a vida bendizer...
= = = = = = = = = 

Somos todos criaturas
pelo amor de Deus gerados;
Ele nos vê das alturas
e nos faz apaixonados...
= = = = = = = = = 

Temos o exemplo no mundo,
 – livre de qualquer domínio –
da paz, de um jeito profundo,
dos seres sem raciocínio!
= = = = = = = = = 

Todo afeto se alivia
no cantar ou no sofrer
e a saudade, em sintonia,
faz-nos trovas escrever...
= = = = = = = = = 

Um amor ou outro eu tive...
Conto-os nos dedos da mão;
me foram joias de ourives
que perdi por precaução.
= = = = = = = = = 
Fonte:
https://www.asesbp.com.br/TROVADORES/indice%20trovadores.html