segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Ueda Akinari (Morada das Sarças)

conto integrante do livro: Os contos da Chuva e da Lua

Personagens Principais: Katsushirô, Miyagi
Local: Província de Shimoosa
Tema: Fidelidade

Katsushirô decide tentar uma vida melhor na cidade, para tanto, tem que deixar sua mulher, pois, não teria como leva-la junto consigo. Não querendo deixar a esposa, Katsushirô promete que voltará para casa, o mais breve conseguisse vender todas as sua peças de sedas e conseguisse um bom dinheiro e a esposa aceita e promete que estará esperando por ele, na mesma casa onde eles moravam.

Passam-se anos e a província de Shimoosa, passa por um período de guerra e todos os moradores da província fogem para salvar suas vidas e Miyagi, mesmo sabendo que sua vida corria risco, permanece na sua casa, na esperança de o marido voltar.

O marido, ao saber que a Província de Shimoosa, estava em guerra, acha que a mulher está morta e já não tem porque voltar, já que tudo o que tinha conseguido conquistar com a venda de sedas tinha sido furtado e sua casa, imaginava ele, já nem devia existir mais. Então ele permaneceu onde estava, pois para ele não restava mais aonde ir.

No entanto, a esposa persiste na Província de Shimoosa, ressentida pelo marido não ter cumprido a promessa, mas ao mesmo tempo, esperançosa de algum dia ter o marido de volta. Dessa forma, Miyagi persiste até o último dia de sua vida.

O marido, depois de um tempo, ressentido pelo remorso, regressa a Província de Shimoosa, a fim de ter notícias de sua esposa, porém sem esperanças de encontra-la viva. A sua surpresa ao chegar a sua casa foi tê-la encontrado na casa. A mulher o recebeu e Katsushirô emocionado pede perdão a esposa, que mostrou-se fiel a ele até o último momento.

Fontes:
http://www.netsaber.com.br/resumos/
Capa do Livro http://www.estampa.pt

Umberto Eco (O Nome Da Rosa)

Quando Eco publicou a sua primeira obra de ficção, em Setembro de 1980, um romance passado na Idade Média, ninguém (e menos ainda o próprio autor) era capaz de imaginar o sucesso internacional sem paralelo que teria. Em 1986, o realizador francês Jacques Annaud fez um filme com Sean Connery, Christian Slater e F. Murray Abraham. Assim, pouco tempo após a publicação do romance, já a reputação de Umberto Eco ultrapassara largamente o círculo relativamente pequeno de eruditos e intelectuais familiarizados com a sua obra teórica e ganhara fama internacional.

O livro tornou-se um best-seller no mundo inteiro, desencadeando um debate crítico acerca do seu significado e importância, que ainda hoje continua a inspirar comentários extremamente sofisticados. A literatura crítica sobre este romance transformou-se numa espécie de pequena indústria que vai desde os guias práticos com a tradução das muitas passagens em latim, para ajudar o leitor menos instruído, até volumes mais eruditos dedicados a questões teóricas implicitamente suscitadas pelo texto. Pela sua natureza pós-moderna o livro pelo menos três tipos de leitura:

A primeira categoria de leitores será seduzida pelo enredo e pelos golpes de teatro e aceitará igualmente as longas discussões livrescas e os diálogos filosóficos, pois aperceber-se-á de que é precisamente nessas páginas divagantes que Se aninham os signos, os indícios, os sintomas reveladores.

A segunda categoria deixar-se-á arrebatar pelo debate de ideias e tentará estabelecer conexões(que o autor se recusa a autorizar) com o presente.

A terceira dar-se-á conta de que este texto é um tecido feito de outros textos, um giallo de citações.

Seja como for, o autor recusa-se a revelar a qualquer destas categorias o que o livro significa. Se escreveu um romance é porque descobriu, chegado à maturidade, que essas coisas sobre as quais não se pode teorizar devemos narrá-las. O aspecto mais significativo da arte narrativa de Eco é o consumado talento com que muda constantemente de um nível para outro, com o objectivo de seduzir os seus três públicos.

A história passa-se em finais de Novembro de 1327 numa abadia beneditina no Norte de Itália, para a qual se dirigem um franciscano inglês, Guilherme de Baskerville, e o seu noviço beneditino alemão, Adso de Melk. Guilherme é ali enviado por Luís IV da Baviera (m. 1347) para encetar negociações entre o Papa João XXII (m. 1334) e um grupo de franciscanos críticos do Papa e da Igreja Católica por causa da atitude tolerante da Igreja para com as riquezas e da forma como negligencia a prática da pobreza pregada por Cristo. Quando Guilherme chega, depara com uma situação de emergência: um monge foi encontrado morto e em breve descobrem outros mortos, não se sabe se assassinados. Pedem-lhe que resolva os mistérios, antes de o grupo do Papa chegar, visto que faz parte dele um inquisidor, Bernardo Gui.

Então, Guilherme dedica-se a investigar o caso no gigantesco edifício da abadia e sua biblioteca construída como um labirinto com passagens secretas, alçapões e recessos obscuros. No decurso da sua investigação, o leitor fica a saber muitas coisas sobre a história eclesiástica da época, sobretudo os vários movimentos heréticos que se opõem às riquezas acumuladas pela Igreja no exercício do poder temporal, bem como grande cópia de pormenores a respeito dos variados tipos de manuscritos que nessa época se podiam encontrar numa biblioteca abacial verdadeira.

O romance acaba quando se descobre que um velho monge cego originário de Espanha, Jorge de Burgos, é a mente perversa que está por detrás de grande parte dos aterradores acontecimentos. Esta revelação, bem como a descoberta de que os crimes e maquinações de Jorge visavam ocultar o livro perdido de Aristóteles sobre a comédia, dá-se demasiado tarde para Guilherme, que com Adso escapa por pouco à morte num terrível incêndio que engole a abadia e a sua inestimável biblioteca (incluindo o manuscrito de Aristóteles.

Guilherme é um frademedieval particularmente anacrónico, e os seus anacronismos reflectem o sentido de humor pós-moderno de Eco.É adepto dos ensinamentos de Roger Bacon (e. 1214-c.1292), Guilherme de Occam (c. 1285-1349) e Marsilius de Padua (c. 1275-1342), o que é de esperar num erudito medieval. Mas também possuía um conhecimento mais que superficial da teoria semiótica contemporânea de Peirce e Eco! E Guilherme de Baskerville fumaria uma forma medieval de marijuana, usava óculos e estava equipado com um imã que lhe prestou bons serviços quando se perdia no labirinto da biblioteca. Assim, é uma combinação de Sherlock Holmes, de filósofo céptico, de semiótico e de frade. Esta combinação de características aparentemente díspares segue a melhor tradição dos mais famosos detectives da ficção policial, de Edgar Poe e Conan Doyle aos nossos dias. Uma das lições que Umberto Eco nos parece querer transmitir é que a procura da verdade não deve precisar de inquisição e outras ameaças às vidas das pessoas.

Fontes:
http://www.netsaber.com.br/
http://raquelsallaberry.com

Umberto Eco (Baudolino)

"Porque é verdade. Mas não penses que te censuro. Se queres transformar-te num homem de letras, e, quem sabe um dia escrever Histórias, deves também mentir, e inventar histórias, pois senão a tua História ficaria monótona.

Mas terás que fazê-lo com moderação. O mundo condena os mentirosos que só sabem mentir, até mesmo sobre coisas mínimas, e premia os poetas que mentem apenas sobre coisas grandiosas
."

Depois do estrondoso sucesso de "O nome da Rosa", Umberto Eco - o mais importante intelectual italiano deste século - retorna à Idade Média, dessa vez para homenagear sua cidade natal, a piemontesa Alessandria. Enquanto "O nome da Rosa", seu livro mais famoso, recria o clima soturno da Inquisição, "Baudolino" gravita em torno dos prazeres da corte de Federico Hohenstaufen, conhecido como Barbarossa, à época da Terceira Cruzada. A história engloba justamente o período entre 1152 e 1204, começando com a ascensão de Barbarossa ao trono e terminando com a conquista de Constantinopla pela temida ordem dos cavaleiros templários.

A trama é protagonizada por Baudolino - adolescente, criativo e mentiroso que dá título à obra - e Niceta Coniate, personagem inspirado em um historiador e orador que viveu na corte de Constantinopla. A narrativa retrocede, enquanto Baudolino conta a Niceta suas aventuras e desventuras, numa mistura de fantasia e realidade, História e faz-de-conta. Tudo isso temperado por inúmeras situações cômicas. No intervalo, Eco embaralha os seus personagens inventados e produz o mais recorrente efeito de seu texto: interferir em acontecimentos históricos conhecidos por meio de atos ou circunstâncias vividas pelos personagens fictícios. "Através deste romance," explica Eco, "releio o período medieval como fruto das invenções de um jovem."

Numa pequena aldeia do baixo Piemonte, onde mais tarde se fundará Alessandria, Baudolino, camponês fantasioso, cai nas graças de Federico Barbarossa e se torna seu filho adotivo. Mentiroso compulsivo, Baudolino tem a sorte que só os sonhadores possuem: tudo o que inventa e cria miraculosamente produz História. Assim, ele constrói uma carta fictícia de um padre que fala sobre um reino no Oriente, governado por um cristão. A missiva impressiona até mesmo o aventureiro Marco Pólo e instiga Barbarossa. Impelido por essa invenção, Federico parte em busca desse sonho.

Entre monstros que habitam o inconsciente medieval - como quimeras, unicórnios e dragões -, a história sofre reviravoltas inesperadas, a cada vez que Baudolino conta um pedaço de sua vida. "Baudolino" é uma aventura picaresca, um romance histórico no qual emergem os problemas da Itália contemporânea. Com sua narrativa fantástica, teatro de invenções lingüísticas, Umberto Eco celebra a força do mito e da utopia.

Fontes:
http://www.submarino.com.br
http://www.americanas.com.br

domingo, 5 de outubro de 2008

José Nicola (Uma aula de poesia)

O poema "Procura da poesia", de Carlos Drummond de Andrade, é o tema desta aula

Procura da poesia

Não faças versos sobre acontecimentos. Não há criação nem morte perante a poesia. Diante dela, a vida é um sol estático, não aquece nem ilumina. As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam. Não faças poesia com o corpo, esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica. Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro são indiferentes. Nem me reveles teus sentimentos, que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem. O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz. O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas. Não é música ouvida de passagem; rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma. O canto não é a natureza nem os homens em sociedade. Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam. A poesia (não tires poesia das coisas) elide sujeito e objeto.

Não dramatizes, não invoques, não indagues. Não percas tempo em mentir. Não te aborreças. Teu iate de marfim, teu sapato de diamante, vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.

Não recomponhas tua sepultada e merencória infância. Não osciles entre o espelho e a memória em dissipação. Que se dissipou, não era poesia. Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser escritos. Estão paralisados, mas não há desespero, há calma e frescura na superfície intata. Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. Convive com teus poemas, antes de escrevê-los. Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam. Espera que cada um se realize e consuma com seu poder de palavra e seu poder de silêncio. Não forces o poema a desprender-se do limbo. Não colhas no chão o poema que se perdeu. Não adules o poema. Aceita-o como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave?

Repara: ermas de melodia e conceito elas se refugiaram na noite, as palavras. Ainda úmidas e impregnadas de sono, rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Obra completa. 2. ed. Rio de Janeiro, Aguilar, 1967.)

O poeta, sua arte, sua época

"Procura da poesia" é um dos textos de abertura do livro A rosa do povo, que reúne poemas escritos entre 1943 e 1945, o que significa que Drummond tinha, como pano de fundo, os horrores da Segunda Guerra Mundial e, no plano interno, os últimos anos do Estado Novo de Getúlio Vargas. O outro texto de abertura é "Consideração do poema". O conjunto formado por esses dois textos resulta numa das mais belas e profundas reflexões sobre o "fazer poético", ou seja, sobre a arte e utilidade da poesia, sobre o trabalho do artista literário e sua função social.

A reflexão sobre a arte literária e o ofício de escrever sempre foi uma preocupação dos grandes escritores, conscientes de seu trabalho. No entanto, essa necessidade de pensar o "fazer poético" tornou-se verdadeira obsessão entre os escritores modernos, como é o caso de Drummond e João Cabral de Melo Neto, para citar apenas dois poetas brasileiros.

Uma aula de poesia

O poema apresenta um falante que se dirige, em tom professoral, próprio de quem já refletiu muito sobre o assunto, a um hipotético interlocutor, que escreve (ou pretende escrever) poesia sem refletir sobre o "fazer poético". O falante se dirige ao interlocutor sempre empregando verbos no imperativo, na segunda pessoa do singular ("não faças", "não cantes", "penetra", "convive", "espera", "não forces", "não colhas", "não adules", "repara"). O interlocutor, no entanto, não tem voz, não contra-argumenta nem aceita. Apenas ouve!

Podemos, para fins didáticos, dividir o poema em duas partes: a primeira, marcada pelos imperativos negativos, representa tudo aquilo que não deve ser feito por quem pretende escrever poesia. A segunda, marcada pelos imperativos afirmativos, realça o trabalho com a matéria-prima do poeta: a palavra.

Uma especial seleção e combinação de palavras

Num texto que exalta justamente a palavra, compete ao leitor compreender o significado exato das palavras e imagens empregadas pelo poeta. Esse trabalho de pesquisa deve ser feito sempre que se lê um texto: buscar a etimologia de uma palavra, referências sobre personagens ou fatos mencionados, a compreensão de uma palavra usada em sentido conotativo ou de uma figura de palavra. Apenas como sugestão, apresentamos a seguir um pequeno glossário.

infenso à efusão lírica: infenso significa "adverso, contrário"; efusão significa "demonstração clara e sincera dos sentimentos íntimos"; o verso opõe corpo e sentimento.

bile: é o mesmo que bílis, líquido esverdeado e amargo segregado pelo fígado; em sentido figurado, significa "mau humor, azedume".

elide: forma do verbo elidir, que significa "suprimir, eliminar"; o verso afirma que a poesia elimina as relações entre sujeito e objeto.

Teu iate de marfim... esqueletos de família: nesses versos, temos uma enumeração de posses (observe a força dos pronomes possessivos), numa seqüência que abrange desde o objeto mais idealizado (iate de marfim) até o mais material (esqueletos de família); mazurca é uma dança polonesa de salão; abusão é o mesmo que "erro, ilusão", "crendice".

merencória: é o mesmo que "melancólica".

ermas: abandonadas; no verso, significa que as palavras estão sem melodia e conceito.

Idéias, sentimentos e palavras

Segundo Alceu Amoroso Lima, "a palavra é o elemento material intrínseco do homem de letras para realizar sua natureza e alcançar seu objetivo artístico". Podemos relacionar esse conceito ao que afirma Ezra Pound: "a literatura é a linguagem carregada de significado até o máximo grau possível". Pois é exatamente sobre a palavra e sua carga significativa que reflete Drummond em seu poema.

O poeta nos ensina que não se faz literatura apenas falando sobre acontecimentos ou resgatando subjetivamente a infância ou idealizando. Literatura não se faz só com idéias e sentimentos: "O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia". "Ainda não é poesia", mas pode vir a ser. Para isso, é preciso penetrar "surdamente no reino das palavras", "lá estão os poemas que esperam ser escritos". Ainda não são poemas, porque "estão paralisados", "sós e mudos, em estado de dicionário". Pensemos: as palavras em estado de dicionário, ou seja, fora de contexto, têm apenas o sentido denotativo, frio e impessoal. Se contemplarmos as palavras atentamente, de perto, perceberemos que cada uma tem mil faces secretas (conotação) sob a face neutra (denotação).

Ora, se juntarmos as duas idéias, entenderemos que poesia não é apenas falar sobre algo, muito menos colocar palavra ao lado de palavra. Sem melodia e conceito as palavras se refugiam na noite. Só há canto, só há poesia, quando as palavras estão carregadas de melodia e conceito.

A matéria-prima do poeta

"Não faça versos sobre acontecimentos" - esse primeiro verso, tomado isoladamente, permite interpretações equivocadas. Drummond não está propondo uma poesia alheia aos fatos; ele apenas reitera o trabalho com a palavra, matéria-prima do poeta. É preciso entender o poema em seu contexto histórico: o mundo estava, literalmente, em decomposição - milhares de mortos, nações se esfacelando, a destruição de Hiroxima e Nagasáqui. No meio do turbilhão, como avaliar os acontecimentos, o que é efêmero, o que é permanente? A poesia pode (e deve) falar de qualquer coisa, mas o que a sustenta, o que a perpetua é o trabalho com a linguagem.

Fonte:
http://www.portrasdasletras.com.br

Palavras e Expressões mais Usuais do Latim e de outras Línguas Estrangeiras

Por ser extensa esta lista, dividirei em algumas partes. Nesta parte, a letra A.
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Abreviações:
_Lat - latim; fr = francês; ing = inglês; Dir = direito; esp = espanhol; gr = grego
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ab absurdo
lat Partindo do absurdo. Método de demonstração, usado principalmente em geometria.

ab aeterno
lat De toda a eternidade; sempre.

ab amicis honesta petamus
lat Só devemos pedir aos amigos coisas honestas.

abditae causae
lat Med Causas ocultas, desconhecidas. Diz-se das moléstias cujos sintomas não deixam entrever as causas que os produzem.

ab epistolis
lat Das cartas. Título de alguns funcionários da chancelaria romana.

aberratio delicti
lat Dir Desvio do delito. Erro por parte do criminoso quanto à pessoa da vítima.

aberratio ictus
lat Dir Desvio do golpe. Dá-se quando o delinqüente atinge, por imperícia, pessoa diversa da que visava.

ab hoc et ab hac
lat Disto e desta. Discorrer alguém sobre o que não entende.

ab imo corde
lat Do fundo do coração; sinceramente.

ab imo pectore
lat Do fundo do peito; do fundo da alma, com franqueza.

ab incunabulis
lat Desde o berço. Desde o princípio; desde a origem.

ab initio
lat Desde o começo.

ab intestato
lat Dir Sem deixar testamento. Diz-se da sucessão sem testamento, ou dos herdeiros que dela se beneficiam.

ab irato
lat Movido pela cólera; arrebatadamente.

ab ore ad aurem
lat Da boca ao ouvido; em segredo; discretamente.

ab origine
lat Desde a origem; desde o princípio.

ab ovo
lat Desde o ovo; desde o começo.

ab ovo (usque) ad mala
lat Do ovo até as maçãs (falando das antigas refeições romanas); do princípio ao fim; da sopa à sobremesa.

ab uno disce omnes
lat Por um conhece a todos. Pelas qualidades de um indivíduo podem ser avaliadas as qualidades de um povo.

ab urbe condita
lat Desde a fundação da cidade (de Roma). Cômputo usado pelos historiadores romanos, que datavam os fatos a partir da fundação de Roma (753 antes de Cristo). Empregavam na escrita as iniciais U. C. (Urbis Conditae), isto é, da fundação da cidade.

abusus non tollit usum
lat Dir O abuso não impede o uso. Princípio segundo o qual se pode usar de uma coisa boa em si, mesmo quando outros usam dela abusivamente.

abyssus abyssum invocat
lat Um abismo chama outro abismo. Expressão do Salmo 42, versículo 7, para indicar que uma falta cometida predispõe o pecador a cometer outras mais graves.

accipiens
lat Dir O que recebe. Pessoa que recebe um pagamento; recebedor.

acetum
lat 1 Nome latino do vinagre, usado sobretudo em linguagem farmacêutica. 2 Farm Medicamento acetoso.

acta est fabula
lat Terminou a peça. Expressão usada no teatro antigo. Foi também pronunciada pelo imperador Augusto na hora de sua morte.

ad argumentandum tantum
lat Somente para argumentar. Concessão feita ao adversário, a fim de refutá-lo com mais segurança.

ad augusta per angusta
lat Às coisas excelentes pelos caminhos estreitos. Não se vence na vida sem lutas.

ad calendas Graecas
lat Para as calendas gregas. Transferir alguma coisa para as calendas gregas é manifestar a intenção de não realizá-la. Os gregos não tinham calendas como os romanos.

ad cautelam
lat Por precaução. Diz-se do ato praticado a fim de prevenir algum inconveniente.

ad corpus
lat Dir Expressão usada para indicar a venda de imóvel sem a medida de sua área, por oposição à venda ad mensuram.

ad diem
lat Dir Até o dia. Prazo último para o cumprimento de uma obrigação.

ad duo
lat A duas vozes ou a dois instrumentos, expressão usada em Música ou canto: A sonatina de Mozart foi executada ad duo.

ad exemplum
lat Para exemplo: A medida foi tomada ad exemplum dos demais.

ad extra
lat Por fora, exteriormente: Em vista do serviço, ad extra recebeu mais.

ad extremum
lat Até o fim, até o cabo, até ao extremo: Levou sua teimosia ad extremum.

ad finem
lat Até o fim: Leu o relatório ad finem.

ad gloriam
lat Pela glória: Trabalhar ad gloriam, isto é, sem proveito material, só para conquistar glórias ou honrarias: Kepler dedicou-se à Astronomia ad gloriam.

ad hoc
lat Para isso. Diz-se de pessoa ou coisa preparada para determinada missão ou circunstância: secretário ad hoc, tribuna ad hoc.

ad hominem
lat Para o homem. Sistema de argumentação que contraria o adversário usando de suas próprias palavras ou citando o seu modo de proceder.

ad honores
lat Para as honras, como título de glória. Foi nomeado ad honores, isto é, para um cargo ou função meramente honorífico. Sin: honoris causa.

adhuc sub judice lis est
lat O processo ainda se acha em poder do juiz. A questão não foi definitivamente dirimida (refere-se a litígio ainda não julgado em última instância).

ad instar
lat À semelhança; à maneira de.

ad interim
lat Provisoriamente, de modo passageiro, interinamente: Ad interim vendia livros.

ad internecionem
lat Até o extermínio: Tito levou a guerra aos judeus ad internecionem.

ad intra
lat Por dentro, interiormente: Ria, mas ad intra toda ela era revolta.

ad judicem dicere
lat Falar ao juiz.

ad judicia
lat Dir Para os juízos. Diz-se do mandato judicial outorgado ao advogado pelo mandante.

ad libitum
lat Mús À vontade. 1 Indica que o trecho assinalado pode ser executado com movimento à escolha do intérprete. 2 No teatro indica falas que os atores podem improvisar em cena.

ad limina apostolorum
lat Aos limiares dos apóstolos. Visita qüinqüenal feita a Roma pelos bispos residenciais, a fim de prestar contas ao papa do estado de suas dioceses.

ad litem
lat Dir Para o litígio. Relativo ao processo em causa.

ad litteram
lat Conforme a letra; ao pé da letra; literalmente.

ad majorem Dei gloriam
lat Para maior glória de Deus. Lema da Companhia de Jesus, usado pelos jesuítas pelas iniciais A. M. D. G.

ad mensuram
lat Dir Conforme a medida. Venda estipulada de acordo com o peso ou a medida.

ad modum
lat Conforme a maneira, o uso: Celebrou-se a festa ad modum.

ad negotia
lat Dir Para os negócios. Refere-se ao mandato outorgado para fins de negócio.

ad nutum
lat Dir Segundo a vontade de; ao arbítrio de: Diz-se do ato que pode ser revogado pela só vontade de uma das partes; refere-se também à demissibilidade do funcionário que ocupa cargo de confiança.

ad patres
lat Para os antepassados. Expressão bíblica usada para indicar a morte: Ir ad patres (morrer).

ad perpetuam rei memoriam
lat Para lembrança perpétua da coisa. 1 Fórmula usada em bulas papais e em monumentos comemorativos. 2 Em jurisprudência designa a vistoria judicial realizada para resguardar ou conservar um direito a ser futuramente demonstrado nos autos da ação.

ad quem
lat Dir Para quem. 1 Diz-se do juiz ou tribunal a que se recorre de sentença ou despacho de juiz inferior. 2 Dia marcado para a execução de uma obrigação.

ad referendum
lat Para ser referendado. 1 Dir Diz-se do ato que depende de aprovação ou ratificação da autoridade ou poder competente. 2 Dipl Diz-se da negociação do agente diplomático, sujeita à aprovação de seu governo.

ad rem
lat À coisa. 1 Dir Diz-se do direito ligado à coisa. 2 Log Argumento que atinge o âmago da questão; opõe-se ao argumento ad hominem.

ad retro
lat Para trás. Dir Diz-se do pacto em que o vendedor tem o direito de reaver a coisa vendida, mediante a restituição do preço e despesas acessórias, dentro de prazo determinado.

ad solemnitatem
lat Para a solenidade. Dir Diz-se do requisito da lei necessário para a forma essencial ou intrínseca do ato e sua validade, e não somente para a sua prova.

ad substantiam actus
lat Dir Para a substância do ato. Diz-se do instrumento público, quando exigido como formalidade solene.

ad unguem
lat À unha. Alusão ao brilho que se obtém passando a unha sobre uma superfície: Versos ad unguem, versos polidos. Saber algo ad unguem: sabê-lo à perfeição.

ad unum
lat Até um só, até o último: Nas Termópilas, Leônidas e os seus fizeram-se matar ad unum.

ad usum
lat Para o uso; conforme o uso: ad usum dos alunos. Celebrar uma festa ad usum.

ad usum delphini
lat Para o uso do delfim. Designava as edições dos clássicos latinos, destinadas ao uso do delfim, filho de Luís XIV e ainda hoje se diz de qualquer edição expurgada.

ad valorem
lat Segundo o valor. Dir Diz-se da tributação feita de acordo com o valor da mercadoria importada ou exportada, e não, conforme o seu peso, volume, espécie ou quantidade.

aequo animo
lat Com ânimo igual; com serenidade e constância.

aequo pulsat pede
lat Bate com pé igual. Expressão de Horácio, referindo-se à morte, que esmaga tanto os habitantes dos palácios como os das choupanas. (Odes, 1, 4-13).

aere perennius
lat Mais durável que o bronze. Horácio falava de sua obra literária.

affaire
fr Negócio. Designa negócio escuso ou caso escandaloso. Sf em francês.

a fortiori
lat Com mais razão. Locução empregada para concluir do menos, para o mais evidente: se devo amar a inimigo, a fortiori amarei o meu amigo.

agenda
lat Que deve ser feito.

age quod agis
lat Faze o que fazes. Presta atenção no que fazes; concentra-te no teu trabalho.

Agnus Dei
lat Cordeiro de Deus. 1 Jesus Cristo. 2 Invocação usada durante a missa depois da fração da hóstia e no final das ladainhas. 3 Pequeno relicário de cera do círio pascal e óleo bento, moldado com a imagem do cordeiro, que o papa benze no sábado santo. Atribuem-lhe os devotos a virtude de salvaguarda nos perigos, doenças e tempestades.

agrément
fr Aprovação. Dir Consulta de governo a governo, a fim de saber se o agente diplomático, que pretende o consulente destinar para junto do consultado, convém a este.

aide mémoire
fr Seleção ou resumo de uma obra destinada à fixação dos dados mais importantes.

à la carte
fr Ao cardápio. Pratos não incluídos no cardápio de um restaurante.

à la diable
fr ao diabo. Desordenadamente; atabalhoadamente.

a latere
lat Ao lado. Diz-se de certos cardeais entre os mais cotados pelo papa, quando enviados em missões diplomáticas extraordinárias.

albo lapillo notare diem
lat Marcar o dia com pedra branca. Ser feliz durante o dia.

alea jacta est lat
A sorte foi lançada. Palavras atribuídas a César, quando passou o Rio Rubicão, contrariando as ordens do Senado Romano.

alibi
lat Dir Em outro lugar. Meio de defesa pelo qual o acusado alega e prova que, no momento do delito, se encontrava em lugar diverso daquele onde o fato delituoso se verificou.

all right
ingl Tudo bem; tudo certo.

alma mater ou alma parens
lat Mãe nutriz; mãe bondosa. Em linguagem poética, a pátria ou a escola.

alpha et omega
lat Alfa e ômega; primeira e última letras do alfabeto grego. No Apocalipse designa Cristo, princípio e fim de todas as criaturas.

alter ego
lat Outro eu. Significa o amigo do peito, de confiança, para quem não há segredos.

amicum perdere est damnorum maximum
lat Perder um amigo é o maior de todos os danos.

amicus certus in re incerta cernitur
lat O amigo certo se manifesta na ocasião incerta.

amicus humani generis
lat Amigo do gênero humano. Amigo de todos, ou seja, amigo de ninguém.

amicus Plato, sed magis amica veritas
lat Platão é amigo, porém a verdade é mais amiga.

amor et tussis non celantur
lat O amor e a tosse não se escondem.

amor vincit omnia
lat O amor vence todas as coisas. Parte de um verso de Virgílio (Écloga X, 69).

anch'io son' pittore
ital Eu também sou pintor. Exclamação atribuída a Corrégio (1494-1534), ao contemplar um dos quadros de Rafael.

ancien régime
fr Antigo regime. Locução com que, na França, se designa o governo existente antes da revolução de 1793.

animus abandonandi
lat Dir Intenção de abandonar.

animus abutendi
lat Dir Intenção de abusar.

animus furandi
lat Dir Intenção de roubar.

animus laedendi
lat Dir Intenção de prejudicar.

animus necandi
lat Dir Intenção de matar.

a non domino
lat Dir Por parte de quem não é dono. Diz-se da transferência de bens móveis ou imóveis, por quem não é seu legítimo dono.

ante litem
lat Dir Antes do litígio. Antes de proposta a ação ou como ato preparatório para ela.

ante mortem
lat Antes da morte.

à outrance
fr Sem tréguas; até o fim; a ferro e fogo; a qualquer preço.

aperto libro
lat De livro aberto. Em qualquer parte aberta do livro.

aplomb
fr Aprumo; segurança; desenvoltura.

a posteriori
lat A partir do que vem depois. Sistema de argumentação que parte do efeito para a causa. Opõe-se à argumentação a priori.

après moi le deluge
fr Depois de mim o dilúvio. Frase de Luís XV, segundo alguns, de Mme. Pompadour, segundo outros, pela qual esses personagens manifestavam seu desprezo pela coisa pública. Esperavam que a queda da monarquia só viesse após sua morte.

a priori
lat A partir do que vem antes. Prova fundada unicamente na razão, sem fundamento na experiência. Opõe-se a a posteriori.

à propos
fr Por falar nisso; a propósito.

apud
lat Junto a; em. Usada em bibliografia para indicação de fonte compulsada, nas citações indiretas.

apud acta
lat Dir Nos autos; junto aos autos.

aquae potoribus
lat Pelos bebedores de água. Palavras com que Horácio satirizava em uma de suas epístolas os poemas escritos pelos poetas sóbrios.

à quelque chose malheur est bon
fr A desgraça serve para alguma coisa. Muitas vezes a infelicidade produz um resultado benéfico inesperado.

aquilae non gerunt columbas
lat Águias não geram pombas. Segundo a ordem natural, os filhos herdam as qualidades e deficiências dos pais: tal pai, tal filho.

aquila non capit muscas
lat A águia não apanha moscas. Uma pessoa de espírito superior não se preocupa com ninharias.

a quo
lat Da parte de cá. 1 Na ignorância; sem entender, sem saber. 2 Dir Diz-se do dia a partir do qual se começa a contar um prazo. 3 Dir Diz-se do juiz de um tribunal de cuja decisão se recorre: Juiz a quo (opõe-se, neste caso, a ad quem, juiz, ou tribunal, para o qual se recorre). 4 Lóg Diz-se do termo ou princípio sobre que se fundamenta uma conclusão.

a ratione
lat Pela razão. Pela imaginação, por conjetura, por hipótese; sem fundamento nos fatos reais.

arcades ambo
lat Ambos são árcades. Virgílio nas éclogas se referia a dois pastores da Arcádia, lugar de onde se originavam bons cantores. Ironicamente se aplica a duas pessoas igualmente velhacas ou astutas.

arc-over
ingl Astronáut. Mudança de direção de um míssil guiado, ou foguete, no seu impulso ascensional, para entrar em sua trajetória predeterminada.

arcus nimis intensus rumpitur
lat O arco muito retesado parte-se. O rigor excessivo conduz a resultados desastrosos.

a remotis
lat À parte; em particular, em afastamento.

argot
fr Na França, linguagem usada pelos gatunos; gíria, calão.

argumentum ad crumenam
lat Argumento da bolsa. Emprego do suborno, na falta de razões convincentes.

argumentum baculinum
lat Argumento do porrete. Emprego da violência para a consecução de um objetivo.

arrière-pensée
fr Pensamento dissimulado através de outro que se manifesta. Restrição mental.

ars gratia artis
lat Arte pela arte.

ars longa, vita brevis
lat A arte é longa e a vida é breve. Tradução latina do primeiro aforismo de Hipócrates.

a sacris
lat Das coisas sagradas. Suspensão de exercício das ordens maiores imposta pela Igreja aos clérigos que cometeram faltas graves.

asinus asinum fricat
lat Um burro coça outro burro. Diz-se de pessoas sem merecimento que se elogiam mutuamente e com exagero.

asperges
lat Liturg 1 Antífona cantada ou recitada antes das missas dominicais, durante a aspersão e que começa pelas palavras: asperges me. 2 Aspersão com água benta durante a missa e em outras circunstâncias.

à tout seigneur tout honneur
fr A cada senhor cada honra. Cada um deve ser homenageado de acordo com a dignidade, posição social etc.

attaché
fr Adido (em diplomacia).

auctori incumbit onus probandi
lat Dir Ao autor cabe o trabalho de provar. Quem acusa que prove.

audaces fortuna juvat
lat A fortuna ajuda os audazes. O bom êxito depende de deliberações arriscadas.

audiatur et altera pars
lat Dir Que a outra parte seja também ouvida. Para haver imparcialidade e justiça no julgamento, deve-se ouvir a defesa depois da acusação.

au jour le jour
fr Dia a dia. 1 Viver de parcos recursos adquiridos diariamente. 2 Gastar todo o dinheiro ganho durante o dia sem pensar em economizar.

aunque la mona se vista de seda, mona se queda
esp Mesmo vestida de seda, a macaca é sempre macaca. Os adornos não encobrem grandes defeitos.

aura popularis
lat Brisa popular. Muito empregada nos clássicos latinos para significar a inconstância da opinião pública.

aurea mediocritas
lat Mediocridade áurea. Horácio exalta, com esta expressão, a situação da classe média, nem rica nem pobre.

aures habent et non audiunt
lat Têm ouvidos e não ouvem. Referência que o Salmo CXV faz aos ídolos, para depois concluir que aqueles que os fazem e os que neles confiam acabarão se assemelhando a eles.

au revoir
fr Adeus; até a vista.

auri sacra fames
lat Maldita fome de ouro. Expressão pela qual Virgílio condena a ambição desmedida.

auro suadente, nil potest oratio
lat Se o ouro persuade, nada vale a palavra. A eloqüência é inútil diante dos interesses pecuniários.

aut Caesar, aut nihil
lat Ou César, ou nada. Divisa ambiciosa de César Bórgia.

autem genuit
lat Porém gerou. 1 Relação longa e fastidiosa. 2 Narração enfadonha.

à vaincre sans peril, on triomphe sans gloire
fr Quando se vence sem perigo, triunfa-se sem glória. Verso de Corneille que condena o êxito fácil.

avant la lettre
fr Antes da letra. Diz-se da gravura tirada antes da legenda; figuradamente, idéia pioneira.

avant-première
fr Antes da primeira. Apresentação de filme ou peça teatral para público limitado, como críticos de arte, imprensa, autoridades etc. O neologismo pré-estréia foi lançado para substituir esta expressão.

ave Caesar, morituri te salutant
lat Salve César, os que vão morrer te saúdam. Palavras dirigidas pelos gladiadores ao imperador, antes de entrarem em luta.

avis rara
lat Ave rara. Para indicar a ausência de pessoa ou coisa que se tem em grande estima.

avoirdupois
ingl Com Nome por que é conhecido o sistema de pesos e medidas, inglês e norte-americano.

à vol d'oiseau
fr A vôo de pássaro. Pela rama; por alto.

Fonte:

Álvares de Azevedo (Noite na Taverna)

Análise da professora Célia A. N. Passoni

Em 1853-1855, surgiu a edição póstuma que recolheu as publicações esparsas de Álvares de Azevedo sob o título de Poesias. Foram sendo acrescentadas às sucessivas reedições, obras em prosa, cujos exemplos mais destacados são: Macário, narração dialogada. Próxima de escritos teatrais, e Noite na Taverna, coletânea de narrativas curtas que constitui a mais original produção de prosa de Álvares de Azevedo, ao mesmo tempo é a mais bem-sucedida obra em que se destaca a influência do clima romântico imposto pelo poeta inglês Lorde Byron.

Movido pela imaginação exacerbada, o volume apresenta os desvarios do poeta envolvido por uma conturbação febril, na qual se deixa influenciar por quase todas as grandes características das novelas mórbidas do século XIX. Visivelmente artificiais, as narrativas que constituem o cerne desta obra recebem certa dose de magia e coerência por envolver o leitor, prender-lhe a atenção, dirigi-lo ao final. E se as história relatadas não são verossímeis, pelo menos disfarçam suas incoerências pela atração com que o autor conduz sua imaginação, de modo que quase parecem reais, colocando-as envolvidas por uma onda infindável de orgias deboches, sátiras, paixões transfiguradas, relatadas pela pequena galeria de personagens boêmios que vão tomando a palavra. Das páginas de Noite na Taverna vão surgindo relatos impregnados de um clima inumano e anormal.

A indefinição percorre as páginas do volume. O leitor que procurar conhecer os limites do tempo e do espaço nada encontrará de seguro ou de definitivo. Os fatos acontecem em alguma taverna, em algum lugar, em algum tempo, tudo muito vago. Só uma coisa parece real: o vinho que enche as taças logo esvaziadas, em rodadas orgíacas de um grupo de jovens, já bastante bêbados, semi-inconscientes. Reunidos, eles contam histórias embaladas por assuntos diversos, mas com um elo comum: todas são trágicas, impregnadas de vícios, de crimes hediondos que vão de assassinatos a incestos, de infanticídios e fratricídios. Todos os casos são repassados de amor, pervertido, cujos pares se envolvem em relações delirantes absurdas e pouco reais.

Composto de sete quadros intitulados: "Uma noite do século", "Solfieri", "Bertram", "Gennaro", "Claudius Hermann", "Johann" e "Último beijo de amor".

O primeiro constitui uma espécie de apresentação do ambiente da taverna, da roda de bebedeira, de devassidão em que se encontram os personagens, do clima notívago e vampiresco. O tom declamatório anuncia a noitada e as história que estão por vir.

- Silêncio, moço! acabai com essas cantilenas horríveis! Não vedes que as mulheres dormem ébrias, macilentas como defuntos? Não sentis que o sono da embriaguez pesa negro naquelas pálpebras onde a beleza sigilou os olhares de volúpia?

- Cala-te, Johann! enquanto as mulheres dormem e Arnold - o loiro - cambaleia e adormece murmurando as canções de orgia de Tieck, que música mais bela que o alarido da saturnal? Quando as nuvens correm negras no céu como um bando de corvos errantes, e alua desmaia como a luz de uma lâmpada sobre a alvura de uma beleza que dorme, que melhor noite que a passado ao reflexo das taças?

- És um louco, Bertram! não é a lua que lá vai macilenta: é o relâmpago que passa e ri de escárnio às agonias do povo que morrem aos soluços que seguem as mortualhas do cólera!

As primeiras páginas deixam antever o clima das geração do mal do século, a irreverência incontida, a tendência a divagações literário-filosóficas, a vivência sôfrega e, principalmente, a morbidez e a lascívia.

- Estás ébrio, Johann! O ateísmo é a insânia como o idealismo místico de Schelling, o panteísmo do Spinoza - o judeu, e o histerismo crente de Malebranche nos seus sonhos da visão de Deus. A verdadeira filosofia é o epicurismo. Hume bem o disse: o fim do homem é o prazer. Dai vede que é o elemento sensível quem domina. E pois ergamo-nos, nós que amarelecemos nas noites desbotadas de estudo insano, e vimos que a ciência é falsa e esquiva, que ela mente e embriaga como um beijo de mulher.

A vivência que o escritor demonstra é mais cultural que real, daí buscar constantemente o reforço nas idéias de filósofos e literatos. De Álvares de Azevedo sabe-se que escreveu todas as suas obras sob o impacto de leituras diversas que vão da Bíblia a Byron, sendo as influências recebidas uma clara demonstração de toda conturbação que sua obra deixa transparecer.

Voltemos à taverna. Entre os "brados" e as taças que circulavam, são apresentados os personagens, e alguns deles tomas a palavra. Em primeira pessoa, relatam histórias pessoais. O primeiro a tomar a palavra é Solfieri que faz suas evocações, remontando-as a Roma, a "cidade do fanatismo e da perdição", onde "na alcova do sacerdote dorme a gosto a amásia, no leito da vendida se pendura o crucifixo lívido". Certa noite, Solfieri vê um vulto de mulher. Segue-a até um cemitério; o vulto desaparece e o personagem adormece sob o frio da noite e a umidade da chuva. A visão deste vulto de uma mulher atordoou o personagem durante um ano, nada o satisfazia na troca de amores com mundanas. Uma noite, após prolongada orgia, saio vagando pelas ruas e acaba entre "as luzes de quatro círios" que iluminavam um caixão entreaberto. Lá estava a mulher que lhe provocara tantas alucinações e insônias. Era agora uma defunta. O homem tomou o cadáver em seus braços, despiu-lhe o véu e...

Mas, para disfarçar o caso de necrofilia, a mulher não estava morta, apenas sofrera um ataque e catalepsia. Ao perceber que a mulher não havia morrido, Solfieri levou-a para seu leito, contemplou-a e ela, depois de breve delírio, vaio a falecer. Solfieri mandou fazer uma estátua de cera da virgem, guardou-a em seu quarto, conservou com uma grinalda de flores.

Bertram é o segundo personagem a tomar a palavra. Rapaz de cabeleira ruiva, tez branca que, com as mãos alvas na barba e olhos verde-mar fixos, pôs a falar de uma mulher o levara a perdição. Cadiz, na Espanha, é o cenário. Enamorado de Ângela, Bertram com elas se casaria se não fosse chamado para a morte do pai. Voltou após algum tempo e reencontrou Ângela, casada e com um filho. Mas o amor de ambos ainda era enorme e tornaram-se amantes. O marido descobriu a traição, quis se vingar, mas Ângela o mata. Com a mesma frieza que matou o marido, assassina o filho:

Sobre o peito do assassinado estava uma criança de bruços. Ela (Ângela) ergueu-a pelos cabelos... Estava morta também: o sangue que corria das veias rotas de seu peito se misturava com o do pai!

Fugiram ambos, numa vida insana, a vagar libertinos, até que Ângela partiu, deixando

os lábios ainda queimados doe seus e o coração cheio de verme de vícios que ela aí lançara. Partiu; mas sua lembrança ficou como um fantasma de um mau anjo perto de meu leito.

Para esquecê-la, tornou-se um libertino. Ébrio, machucado, perdido, foi recolhido por um velho e uma jovem de 18 anos. O velho acolheu-o, a jovem amou-o e por ele se perdeu. Fugiram. Confessa Bertram que se enjoou da mulher e

uma noite em que eu jogava com Siegfried - o pirata, depois de perder as últimas jóias dela, vendi-a. A moça envenenou Siegfried logo na primeira noite e afogou-se..."

Bertram se envolve em outra aventura. Após querer se matar, é salvo por um bondoso comandante. Em troca da acolhida, apaixonou-se pela mulher do benfeitor e teve seu amor retribuído. Mas o navio foi atacado por piratas e após sangrentas batalhas foi reduzido a uma jangada perdida no mar com quatro ocupantes além do narrador: o comandante, sua mulher e dois marinheiros. A comida tornava-se escassa e...

Dois dias depois de acabados os alimentos restavam três pessoas: eu, o comandante e ela.

Cumpria-se a lei do náufrago, a antropofagia. Mais um deveria morrer. Fez-se um sorteio e o comandante perdeu. Implorou por mais alguns dias, mas Bertram foi implacável, tinha fome e não hesitou em matá-lo. O cadáver serviu de alimento aos dois náufragos por mais dois dias. Outro dois dias de fome se passaram. A mulher lhe propôs morrerem juntos, e nesta última agonia amaram-se, deliraram, e ela enlouqueceu. Bertram apertou-a aos braços, convulsivo, e sufocou-a. Uma solidão modorrenta se apoderou dele, e quando acordou do pesadelo estava a bordo de um navio que o salvara.

O quarto episódio é relatado por Gennaro, o pintor. Ele entra como aprendiz do velho Godofredo Walsh, casado em Segunda núpcias com Nauza, uma jovem de vinte anos que lhe servia de modelo. Com Godofredo vive também Laura, de quinze anos, filha de seu primeiro casamento. Os acontecimentos narrados são de trinta anos passados.

Por circunstâncias alheias à vontade do narrador, Gennaro seduz Laura, que durante três meses freqüenta o quarto do rapaz. Grávida, Laura implora para Gennaro pedi-la em casamento e diante de sua recusa, a moça percebe que ele não a amava. O motivo era simples, Gennaro apaixonara-se por Nauza. Laura, por sua vez, enfraquecia e

Uma noite... foi horrível,,, vieram chamar-me: Laura morria. Na febre murmurava meu nome e palavras que ninguém podia reter, tão apressadas e confusas lhe soavam. Entrei no quarto dela: a doente conheceu-me. Ergueu-se branca, com a face úmida de um suor copioso: chamou-me. Sentei-me junto do leito dela. Apertou minha mão nas suas mãos frias e murmurou em meus ouvido:

- Gennaro, eu te perdôo: eu te perdôo tudo... Eras um infame... Morrerei.... Fui uma louca... Morrerei... por tua causa... teu filho... o meu... vou vê-lo ainda... mas no céu... meu que filho matei... antes de nascer...

Após um ano da morte de Laura, Gennaro torna-se amante de Nauza.

E as noites que o mestre passava soluçando no leito vazio de sua filha, eu as passava no leito dele, nos braços de Nauza.

Certa noite fria e escura saíram o mestre e o aprendiz. Godofredo pôs-se a contar um a história (a real) de sua vida, expondo o conhecimento que tinha dos fatos, sabendo que Gennaro fora amante da filha e agora é amante da mulher. Musculoso e forte, em contenda, Godofredo prostrou Gennaro que caiu de um despenhadeiro e só não morreu porque ficou preso nos ramos de uma "azinheira gigantesca que assombrava o rio". Após um dia e uma noite de delírios, acordou na casa de camponeses que o haviam salvado e logo que sarou, partiu. Encontrou no caminho o punhal com que o mestre tentara matá-lo. Munido da arma, procurou a casa de Godofredo que parecia abandonada, entrou pelos quartos escuros, tateando até a sala do pintor e daí dar vazão à sua vingança. Encontrando-a vazia, dirigiu-se ao quarto de Nauza e encontrou-a morta, envenenada pelo marido, que jazia morto também e de sua boca "corria uma escuma esverdeada"...

Claudius Hermann é o quinto conto do volume. Claudius Hermann, após preâmbulos em que discursa com os amigos de orgia acerca de diversos temas, expõe sua história. Viciado em jogo, Claudius Hermann chegou a apostar toda sua fortuna. Em uma das corridas, viu uma mulher passar a cavalo.

Víssei-la como eu, no cavalo negro, com as roupas de veludo, as faces vivas, o olhar ardente entre o desdém dos cílios transluzindo a rainha em todo aquele ademane soberbo!... víssei-la bela na sua beleza plástica e harmônica, linda nas usas cores puras e acetinadas, nos cabelos negros e a tez branca da fronte, o oval das faces coradas, o fogo de nácar dos lábios finos, o esmero do colo ressaltando nas roupas de amazona!... víssei-la assim, e à fé, senhores, que não havíeis rir de escárnio como rides agora!

Tal foi o fascínio que a dama exerceu sobre o rapaz que ele, quase com obsessão, perseguiu-a. Descobriu que a mulher misteriosa era a duquesa Eleonora.

(...) seis meses de agonia e desejo anelante, seis meses de amor com a sede da fera! seis meses! como foram longos!

Um dia, encorajado, abordou-a da forma mais vil possível. Eleonora era casada. Uma noite, após um baile, aproveitou-se do cansaço e sonolência da mulher e, com a chave comprada de um criado, entrou em seu quarto e lhe deu um narcótico misturado ao vinho. Em seguida, seduziu a inconsciente.

Uma semana se passou assim: todas as noites eu bebia nos lábios à dormida um século de gozo. Um mês! o mês delirantes iam os bailes do entrudo, em que mais cheia de febre ela adormecia quente, com as faces em fogo...

O marido, o belo e jovem Maffio, uma noite prometeu visitá-la em seu leito. O amante, corroído de ciúme, resolveu fugir com a mulher. Após ministrar-lhe o narcótico, saiu com a inconsciente pelos corredores, e partiram de carruagem. Ao acordar, Eleonora percebeu que estava em um local estranho, com um desconhecido, e ficou desesperada. Claudius decidiu revelar-lhe o segredo.

Escutai. - o libertino amou pois o anjo, voltou o rosto ao passado, despiu-se dele como de um manto impuro. Retemperou-se no fogo do sentimento, apurou-se na virgindade daquela visão - porque ela era bela como uma virgem, e refletia essa luz virgem do espírito, nesse brilho d'alma divina que alumia s formas - que não são da terra, mas do céu. (...)

A mulher argumentou ser impossível amá-lo, ele contra-argumentou dizendo-lhe não ser mais possível a vida dela nos padrões da normalidade, uma vez que estava desonrada. Ninguém a perdoaria. Inicialmente a mulhr concordou viver com ele, mas

(...) um dia Claudius entrou em casa. Encontrou o leito ensopado de sangue e num recanto escuro da alcova um doido abraçado comum cadáver. O cadáver era o de Eleonora: o doido nem o poderíeis conhecer tanto a agonia o desfigurava. Era uma cabeça hirta e desgrenhada, uma tez esverdeada, uns olhos fundos e baços onde o lume da insânia cintilava a furto, como a emanação luminosa dos puis entre as trevas...

Mas ele o conheceu... era o Duque Maffio...

Envolvidos pela história, ébrios e sonolentos, embalados pela lascívia e pela podridão da noite, os convivas da reunião orgíaca acabam por adormecer.

O mais desgraçado dos companheiros de conversa é Johann, personagem-narrador do sexto episódio do livro. O cenário é Paris. Johann e Artur jogavam num bilhar. Ao faltar um ponto para Artur ganhar e ao narrador muitos, houve um desvio de bola e Johann exaltou-se, provocando o adversário para um duelo de morte. Artur aceitou, mas antes de partirem para a morte, pediu ao adversário de jogo que o acompanhasse ao hotel. Lá, escreveu algumas linhas, depois pediu para Johann entregá-la a... juntamente com um anel, caso viesse a ser vítima. Antes do duelo, os contendores brindaram.

Artur foi à secretária, tirou duas pistolas, uma carregada e a outra não. Estava lançada a sorte. No duelo morreu Artur. Johann, como havia prometido, tirou o anel do defunto, recolheu dois bilhetes. O primeiro era uma carta para mãe; o segundo, apenas dizia:

À uma hora da noite na rua de ...nº 60, 1º andar: acharás a porta aberta.

e a assinatura era apenas um G. Johann teve uma idéia infame. Ele foi ao encontro.

Era escuro. Tinha no dedo o anel que trouxera do morto... Senti uma mãozinha acetinada tomar-me pela mão, subi. A porta fechou-se.

Ele seduziu a virgem. Ao sair, topou com um vulto à porta, voz levemente familiar. Desceu as escadas e sentiu uma lâmina resvalar-lhe os ombros. Uma luta horrível foi travada e houve mais um assassinato.

"Ao sair tropecei num objeto sonoro. Abaixei-me para ver o que era. Era um lanterna furta-fogo. Quis ver quem era o homem. Ergui a lâmpada...

O último clarão dela banhou a cabeça do defunto... e apagou-se...

Eu não podia crer: era um sonho fantástico toda aquela noite. Arrastei o cadáver pelos ombros... levei-o pela laje da calçada até o lampião da rua, levantei-lhe os cabelos ensangüentados do rosto... (...)

Aquele homem - sabei-lo!?... era do sangue do meu sangue, filho das entranhas de minha mãe como eu... era meu irmão!

Mas a desgraça maior ainda estava por lhe ser revelada: Johann havia possuído sua própria irmã.

Com Último beijo de amor, Álvares de Azevedo fecha o volume Noite na Taverna. Ao contrário dos outros,, traz a narrativa em 3ª pessoa. A noite ia alta e a orgia findara, pois os convivas dormiam embriagados. Entrou na taverna um a mulher vestida de negro, procurando um rosto conhecido. Quando a luz bateu em Arnold, a mulher ajoelhou-se, mas ergueu-se e dirigiu-se a Johann.

(...) A fronte da mulher pendeu e sua mão pousou na garganta dele. Um soluço rouco e sufocado ofegou daí. A desconhecida levantou-se. Tremia; ao segurar na lanterna ressoou-lhe na mão um ferro... era um punhal... Atirou-o no chão. Viu que tinha as mãos vermelhas, enxugou-as nos longos cabelos de Johann.

Voltando-se para Arnold, fez-se reconhecer. Era Giórgia que voltava depois de cinco anos. Arnold pediu para que o chamasse como antes - Artur - e pede-lhe beijos, enquanto ambos lamentam a sorte. A mulher somente vinha para dizer-lhe adeus e depois fecharia as portas de sua própria sepultura. Ante, porém, pede ao homem para que veja Johann morto. Confessa tê-lo matado e vingado aquele que a havia prostituído.

Geórgia a prostituta! vingou nele Geórgia - a virgem. Esse homem foi quem a desonrou! desonrou-a... a ela que era sua irmã!

Completando a cena de horror, entre Arnold e Giórgia aconteceu inevitáveis mortes que, de certa maneira, refletem a visão da geração de Álvares de Azevedo, o mal do século.

A mulher ajoelhou-se a seus pés.

- E agora adeus! adeus que morro! Não vês que fico lívida, que meus olhos se empanam e tremo... e desfaleço?

- Não! eu não partirei. Se eu vivesse amanhã haveria uma lembrança horrível em meu passado...

- E não tens medo? Olha! é a morte que vem! é a vida que crespucula em minha fronte. Não vês esse arrepio entre minhas sobrancelhas?...

- E que me importa o sonho da morte? Meu porvir amanhã seria terrível: e à cabeça apodrecida do cadáver não ressoam lembranças; seus lábios gruda-os a morte; a campa é silenciosa. Morrerei!

A mulher recuava... recuava. O moço tomou-a nos braços, pregou os lábios no dela... Ela deu um grito, e caiu-lhe das mãos. Era horrível de ver-se. O moço tomou o punhal, fechou os olhos, apertou-o no peito, e caiu sobre ela. Dois gemidos sufocaram-se no estrondo do baque de um corpo...

A lâmpada apagou-se.

Fontes:
http://www.portrasdasletras.com.br

III Jogos Florais de Cantagalo (Resultado Final)



sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Entrevista com Jafran Bastos (O olhar de um peregrino das letras)

O escritor fala do seu amor pela literatura e indica Fernando Pessoa como leitura obrigatória

Peregrino que sou, ando atrás de um cristal que pertencia ao Rei de Ibitiporã. Bastava alguém botar por sobre ele as mãos, e as dores e as tensões e as angústias findavam.

Em Ibitiporã, as coisas, lá, viviam em perfeita harmonia; e no âmago de tudo havia um deus de amor, de pazes, de alegrias. Graças, vê-se, à magia e ao calor do cristal.

Sombras na minha vida ocultaram meu sol. Minha alma é uma ilha afogada em ruínas. Desabei-me em meu mar. Mas a fome de ser me faz crer que ainda existe um cristal e um lugar. Preciso reencontrar esse país divino, pôr as mãos no cristal e andar num chão de céu.

O poema acima, O peregrino e o cristal, de autoria do escritor Jafran Bastos, define bem o olhar que ele tem por sua cidade e, também, o sentimento que o acompanha desde o dia em que, aos 21 anos, o menino de Santo Antônio de Pádua, na região noroeste do Estado, saiu da sua terra para estudar e se entregar à alegria do mundo das letras. Como bom entendedor que é, percebeu o tempo, amadureceu e graduou-se pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Hoje, o ilustre paduano é o entrevistado do JB Niterói. Com a riqueza de sua cultura, ele fala sobre o amor por sua cidade, por Niterói, pela literatura, família e trabalho.

Como foi sua infância?

Foi muito boa. Pobre, mas muito boa. Sempre que posso eu volto para rever os amigos e parentes que ficaram por lá. Às vezes, tenho vontade de voltar definitivamente. Mas não dá mais. Pádua é outra e eu também sou outro. Nada ficou igual. Mas sou muito feliz aqui. Tenho minha esposa, os filhos estão criados... Na verdade, enquanto eu morava no Rio, por conta dos estudos, pensava muito em vir para Niterói. Sempre quis morar aqui.

Por que literatura?

Eu aprendi a ler aos 5 anos. Meu pai, semi-analfabeto, que me ensinou. Então eu sempre tive contato com as letras. As coisas foram acontecendo e eu me apaixonei pela leitura. Já aos 7 anos eu escrevia textinhos e poemas infantis.

Você acredita que para ser escritor basta somente exercitar a escrita ou vocação é essencial?

As duas coisas, mas a vocação é o ponto de partida. O exercício da escrita te ajuda muito a melhorar a qualidade do texto, mas se você não tiver vocação, o que você está desenvolvendo não flui. O segredo do escritor é saber usar a palavra. Tem que saber aproveitar o que a palavra pode te proporcionar.

Como surge o momento de escrever um livro?

Olha, ninguém parte do nada. Eu entendo que escrever é um processo, um somatório de várias coisas que você vive, de experiências, tanto suas quanto dos outros. No meu livro, eu falo sobre a solidão e a angústia. Não é só sobre meus momentos, mas solidão e angústia do mundo. Todos já viveram momentos como estes. Até Jesus já passou por momentos de solidão. Na cruz ele perguntou: ‘Pai, por que me abandonastes?’ O maior homem da história da humanidade se sentiu angustiado, sozinho... porque os simples mortais não vão se sentir?

Quanto tempo você levou escrevendo o livro?

O grito da ilha foi escrito aos poucos. Na realidade, escrevi sete poemas para um concurso da faculdade, em 1979. Ganhei este concurso e achei que os sete poemas davam um livro. Com o tempo, eu fui escrevendo outros, até que esse ano eu pude reunir todos e lançá-los. Foi um livro que surgiu aos poucos.

Então esse livro é autoral, porque você passou boa parte da sua vida escrevendo-o?

É, a minha pessoa é parte desse livro.

Você acha possível um autor não se envolver com o que ele está escrevendo? Ser neutro?

Não. Acho impossível. Alguma coisa do autor vai ter no livro. Mesmo que seja um estudo científico ou jurídico o autor vai dar sua opinião.

O que você acha dessa moda, que chegou ao Brasil, de livros sendo digitalizados, narrados e gravados em mídia digital?

Eu acho que nada substitui o livro. Infelizmente, o brasileiro é um povo que não tem a cultura da leitura. Essa história toda de CD é boa porque desperta o interesse pela leitura. Mas, nada como ler! Lendo você está centrado, a emoção é toda sua. O sentimento tem que ser do leitor, principalmente quando é poesia.

Qual é a sua opinião sobre as Academias de Letras?

As Academias de Letras são muito importantes porque dão ao livro e ao autor a importância que eles têm. Elas mantêm a integridade da obra, protegem esse acervo literário. Principalmente em um país como o nosso, que não tem o hábito da leitura.

Na sua opinião, que livro da literatura da língua portuguesa deveria ser leitura obrigatória?

São muitos. A nossa literatura é riquíssima. Os Lusíadas, de Luís de Camões, é uma enciclopédia; os romances de Castro Alves; os de Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade, Graciliano Ramos; o nosso Bruxo do Cosme Velho, Machado de Assis; Olavo Bilac, é outro pilar da cultura brasileira; Cecília Meirelles; Clarice Lispector e Macunaíma, de Mário de Andrade. Mas o leitor brasileiro tem a obrigação de ler Fernando Pessoa.

E por que você indica esses escritores?

Porque eles têm uma qualidade literária mágica.

Paulo Coelho se encaixa nessa qualidade literária?

Eu não gosto do Paulo Coelho, acho o texto dele uma porcaria. No entanto, ele está aí vendendo milhões de exemplares pelo mundo, né? O texto dele é fácil, não precisa pensar muito.

Desses autores todos que você citou, tem algum que te emociona mais?

Fernando Pessoa. É um encanto de escritor!

Em Niterói, há algum escritor que você admira?

Gosto muito do Wanderlino Teixeira Leite Netto, que é muito meu amigo. Tem uma escrita bem elaborada, bem direta. E na poesia admiro a Neuza Peçanha.

Aqui em Niterói há um mercado solidificado para a literatura?

Eu tenho a impressão de que não. Hoje em dia a leitura não é valorizada. Infelizmente!

Como surgiu a oportunidade de trabalhar em jornal?

Eu trabalhava na Petrobras, como revisor de textos, no setor chefiado pelo Ismael Prestes, marido da Estela Prestes. Aí, ela me convidou para fazer a revisão de textos do extinto jornal 7 dias, de propriedade dela. O tempo passou e, há 28 anos, trabalho com a Estela, que é uma pessoa fantástica, sensacional!

Fonte:
http://jbonline.terra.com.br/editorias/textosdoimpresso/jornal/niteroi/2008/09/13/niteroi20080913025.html

Lena Jesus Ponte (A poética do sim e do não)

A obra de Jafran Bastos é dotada de qualidade incontestável. Com alto grau de criatividade e domínio dos recursos literários, esse escritor transita, de maneira competente, por prosa e poesia, por formas fixas e versos livres e/ou experiências de vanguarda, por textos ora de caráter lírico, ora místico, ora crítico, ora filosófico. Aparição de Teobaldo Luz, Vozvento e Terceiro Milênio, ainda infelizmente inéditos, revelam vertentes de escrita bem diversas, por vezes antagônicas, à maneira das várias identidades assumidas por Fernando Pessoa, apenas sem os heterônimos. Jafran é também um “fingidor”, com suas múltiplas faces inventadas.

Neste O Grito da Ilha, encontramos o poeta no ápice da maturidade literária. Em 1980, participou de um concurso de poesias com 7 poemas que, embora independentes, apresentavam um denominador temático comum – a solidão. Premiado, resolveu posteriormente ampliar esses textos e os reuniu neste longo poema em 8 cantos, que agora o público tem a oportunidade de fruir.

O presente livro, como toda obra de arte que ousa romper com cânones, ainda que os tenha como referenciais importantes, causa um estranhamento inicial. Pela sua estrutura em cantos, à primeira vista engana o leitor que espera um épico nos padrões tradicionais. Com o decorrer da leitura, percebe-se que o termo “canto” não se limita a referir-se a cada uma das partes de um longo poema, mas também remete ao significado de “lugar retirado”, contribuindo com todo um campo semântico de solidão que rasga, de ponta a ponta, o tecido do texto. O protagonista desta pseudo-epopéia apresenta características de anti-herói: sua imobilidade impede-o de lançar-se a um mar de aventuras e obstáculos; em lugar de partir para a ação heróica e superadora, encontra-se aferrado à ilha, enterrado em si mesmo, diferentemente dos antigos heróis gregos ou dos navegadores do início da Era Moderna. Ou mesmo dos contemporâneos argonautas de Caetano Veloso: “O barco, meu coração não agüenta/ Tanta tormenta, alegria,/ Meu coração não contenta/ O dia, o marco, meu coração/ O porto, não / Navegar é preciso, viver não é preciso...”. Em O grito da Ilha o personagem, chamado de “o poeta”, sofre de impotência existencial – qualquer mínima tentativa de saída de uma situação insatisfatória torna-se inútil. Para ele, navegar não é possível nem viver é possível.

Massaud Moisés, em seu Dicionário de Termos Literários, afirma: “Desde o século XIX o poema épico abandonou as regras mas preservou a base em que se amparava e a meta a que visava [...]: o impulso de visualizar toda a complexidade do Cosmos numa unidade fundamental, num sistema, composto da integração harmoniosa dos contrários e das antinomias observáveis no mundo da realidade. Livre, pois, da sujeição às regras, a poesia de Fernando Pessoa é tão épica quanto a de Camões, a de Carlos Drummond de Andrade quanto a de Homero ou Virgílio: identifica-os não a forma externa, o emprego do decassílabo, a presença do maravilhoso etc., mas a comum intenção de abranger a multiplicidade dinâmica do real físico e espiritual numa só obra, numa só unidade. Avizinha-os, ainda, a circunstância de convocarem o pensamento para o interior do poema, de molde a fundi-lo com a emoção da raiz: a emoção se detém e se transfigura graças ao pensamento que a indaga e desdobra, e o individual adquire foros de universalidade. Ao contrário do poeta lírico, que não ultrapassa os limites da emoção ou do sentimento, portanto da sua individualidade”. Eis aí o sentido para “épico” que podemos aplicar a esta obra de Jafran Bastos.

O “eu” presente em O Grito da Ilha não se utiliza dos versos como veículo apenas de extravasamento de emoções pessoais, com ênfase na função emotiva da linguagem. Trata-se de um “eu” pensante e também universal, como bem expressam os seguintes versos: “O que te pesa mesmo é o choro / De toda a humanidade”. Já no canto I, os leitores são “enganados” com o poema A Autobiografia, que nos faria identificar o “eu” com o autor. Camaleônico, esse “eu” aparece adiante ora ainda em primeira pessoa (desnudado a cada instante), ora em terceira (travestido em “outro”), ora em disfarçada segunda pessoa (um duplo espelhado com quem o primeiro dialoga). Essa multiplicidade fragmentada da personalidade lembra-nos, mais uma vez, os heterônimos de Fernando Pessoa ou o ser dividido e anulado de Mário de Sá-Carneiro (“Eu não sou eu nem sou o outro, / Sou qualquer coisa de intermédio:/ Pilar da ponte do tédio / Que vai de mim para o Outro”).

Esses dois poetas do modernismo português ecoam na poesia de Jafran Bastos, em especial o heterônimo Álvaro de Campos, na vertente não futurista (“A minha alma partiu-se como um vaso vazio, .../ Caiu, fez-se em mais cacos do que havia loiça no vaso”). E também ressoa nela a contundente dor dos versos do brasileiro Augusto dos Anjos (veja-se trecho do poema A Ilha de Cypango, com o qual a ilha de Jafran pode dialogar: “Estou sozinho!... Eis-me passeando como um grande verme / Que, ao sol, em plena podridão passeia”). Com uma sólida formação em Letras (Português e Literaturas), Jafran recebeu outras fortes influências na construção deste livro. Sua poesia remonta ao desespero dos ultra-românticos, mergulhados no “mal-do-século”; flerta com os simbolistas (por todo o livro há elementos altamente carregados de simbologia, a exemplo da própria ilha, além da musicalidade dos versos expressa por meio dos mais diversos recursos fônicos); passa pela angústia dos expressionistas (não por coincidência o título do livro remete à tela de Edward Munch); tangencia a liberdade de pesquisa do inconsciente conquistada pelos surrealistas, com suas (dele e deles) metáforas livres de quaisquer amarras; e deságua no niilismo de alguns pós-modernos. Como em muitos destes últimos, também o gosto por recorrentes referências metalingüísticas e metapoéticas (Este poema órfão, / Sem musa, / sem signos, / Sem nada!) e o gosto pelas referências intertextuais (a revisitação recriadora do gênero épico, o uso de epígrafes, as alusões a antigos mitos, entre outros procedimentos dialógicos).

Mas, a par dessas tantas influências, Jafran consegue impor-se em estilo próprio, marcante, rascante, maduro, escritor que prima pela profundidade do conteúdo filosófico e pela consciente ourivesaria formal. Lê-lo traz também à língua um gosto de sal de batismo, de espanto com o novo. Rompe com padrões preestabelecidos: suas metáforas são sempre ousadas, inesperadas; a todo momento surpreendem-nos ambigüidades expressivas, neologismos, construções sintático-semânticas que subvertem as estruturas gramaticais da língua em todos os níveis. Sem contar a diversidade rítmica e rímica, o livre uso de formas canônicas e não canônicas do soneto ao lado de formas modernas de poemas. E o paradoxo como elemento estruturador do texto, desequilibrando nossas falsas verdades e coerências... E as hipérboles que fazem gritar o grito da ilha... Em lugar de fornecer exemplos, sugerimos o prazer da leitura e da descoberta desses procedimentos.

Jafran explora outros dois campos semânticos essenciais além do já citado no terceiro parágrafo: o de ilha e o de negação. Basta realizar um levantamento do vocabulário para constatar que, no primeiro caso, as palavras e expressões ligadas a ilha longe estão de descrevê-la como o lugar paradisíaco que aparece em grande parte da tradição artística. No segundo caso, tal é o número de vocábulos e expressões conotadores de aspectos negativos (relativamente ao personagem e ao ambiente) e prefixos com significado de negação, que poderíamos chamar a estética jafraniana neste livro de “uma poética do Não”.

O grande poeta inglês John Donne (1572-1631) afirmou: “ Homem nenhum é uma ilha, completo em si; cada homem é uma parte do continente, uma parte do todo”. Essa, a visão do ser humano nos primórdios da Era Moderna, em uma perspectiva integradora. Já nestes nossos tempos em que globalização não corresponde necessariamente a integração, em que informação acessível nem sempre tem como conseqüência a comunicação verdadeira, Jafran Bastos revela-nos um homem metaforizado em ilha porque isolado, desgarrado do todo, feito de carências, frustrações, inadaptações, perdida a amada (canto VI, A Face Tatuada), sem amigos, família, pátria, crenças, perspectivas... à margem da sociedade e da vida. Um gauche drummondiano.

Ao poeta, personagem central do livro, nada resta além de um grito mudo ou um antigrito. Porém ao poeta Jafran Bastos a redenção se dá pelo Belo, pela qualidade e força da função poética de seu texto, que consegue o milagre alquímico de transformar o Não em Sim.

(Prefácio do livro O grito da ilha. Editoração Editora Ltda. RJ. 2008)

Fonte:
Revista da Academia Niteroiense de Letras. ano 2. n.4 (out/nov/dez 2008). Disponivel em http://www.academianiteroiense.org.br/

Antonio Augusto de Assis (Santuário da Poesia)

Carnaval

É sexta-feira,
véspera da folia.
Lá vai Maria.

Lá vai lavar em lágrimas
a vida ávida de vida,
sofrida vida dividida
em dívidas e dúvidas.

É sábado, é domingo,
é segunda, é terça gorda.
Roda no asfalto o samba,
geme o povo em sobressalto.
Roda rotunda a moça moma,
peitos nus lançando chamas.
Gemem bocas de crianças,
barrigas ocas
mendigando mamas.
Roda impávido o desfile
na avenida multicor.
Gemem pálidos
rostos esquálidos
desfilando a dor.
O sonho roda, geme o horror.

O samba-enredo, o medo em roda.
A serpentina, o ser penante.
A passarela, o pária ao lado.
O palanque, a pelanca.
O pandeiro, a pancada.
O sambeiro, o sem-nada.
O tamborim, o camburão.
O saxofone, o saque-sem-fundo.
A fantasia, a mão vazia.
A apoteose, a verminose.
A alegoria, onde a alegria?

O trilo do apito,
o grito do aflito,
o confete, o conflito.

É quarta-feira, cinzas.
Lá vai Maria.
Lavai, Maria.
Lavai o mundo, Maria.
Lavai o imundo,
mundo imundo vasto mundo,
lavai o mundo, Maria!

Luolhar

Duas luas
viu Ismália
na noite em que enlouqueceu:
“viu uma lua no céu,
viu outra lua no mar”.

Bem mais louco,
vejo três,
quando me ponho a cismar:
a terceira é a que flutua
tentadoramente nua
na noite do teu olhar.

Aurora bela

Da janela do meu quarto
vejo Aurora na janela.

Toda tarde, à mesma hora,
Aurora lá.
Que será que ela olhará?

Aurora, Aurora,
Aurora bela,
bela Aurora da janela,
Aurora
de olhar sem fim...

Se sobrar uma olhadinha,
por favor, olha pra mim!

Por um beijo

Por um beijo eu lhe dou o que sou e o que tenho:
os bons sonhos que sonho, as plantinhas que planto,
a pureza, a alegria, as cantigas que eu canto,
e o meu verso se acaso houver nele arte e engenho.

Por um beijo eu lhe dou, se preciso, o meu pranto,
as angústias da luta em que há tanto me empenho,
as saudades da infância e do chão de onde venho,
as promessas que eu faço em segredo ao meu santo.

Por um beijo eu lhe dou meus anseios de paz,
minha fé na ternura e no bem que ela faz,
meu apego à esperança e ao que a possa manter.

Por um beijo, um só beijo, um momento de amor,
eu lhe dou meu sorriso, eu lhe dou minha dor,
o meu todo eu lhe dou, dou-lhe inteiro o meu ser!

Fonte:
Revista da Academia Niteroiense de Letras, recebido por e-mail.

Exposição de Machado de Assis em Brasília

O Ministério da Previdência Social está com a exposição sobre o centenário de morte de Machado de Assis.

A mostra vai de 06 de outubro até 17 de outubro*.

Aberto à visitação. Entrada Franca.

Curadoria: Andrey do Amaral


Endereço: Esplanada dos Ministérios, Bloco F Brasília - DF, Cep 70059-900
Fone: (61) 3317-5000

*Datas sujeitas a alteração

Fontes:
E-mail enviado pela Assessoria de Imprensa
Retrato:
http://www.academia.org;br

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Poesia no Ônibus (Canoas/RS)

O projeto visa a divulgação dos poetas de Canoas, possibilitando a visibilidade dos trabalhos junto a população através da exposição de suas obras nos veículos de transporte coletivo da empresa Sogal. Os trabalhos selecionados foram impressos em cartazes no formato A4 que estão colocados no interior dos ônibus da empresa. Além da Sogal o projeto conta com o apoio da SMTSP - Secretaria Municipal de Transportes e Serviços Públicos.
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INSTANTE DE AMOR
Affonso Romano de Sant´Ana

Não me ame apenas
no preciso instante
em que me amas.

Nem antes,
nem depois.
O corpo é forte.

Me ame apenas
no imenso instante
em que te amo.
O antes é nada
e o depois é morte.
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Affonso Romano de Sant´Ana (1937 -)
Nasceu em Belo Horizonte, no dia 27 de março de 1937. Durante os anos 60 teve participação ativa nos movimentos que transformaram a poesia brasileira, sempre interagindo com grupos inovadores e construindo sua própria linguagem e trajetória. Considerado pela Revista Imprensa um dos dez jornalistas que mais influenciam a opinião de seu país, por desempenhar atividades no campo político e social que marcaram o país nos anos 60.Ele é considerado também pelo crítico Wilson Martins, como o sucessor de Carlos Drumonnd de Andrade. Seus textos e poesias,tem forte conteúdo social.
Seu primeiro livro,foi lançado em 1962, "O Desemprego da Poesia".
O poeta era tido como um ser boêmio, romântico, fora de época.
Cursou a faculdade de Letras de Belo Horizonte.
Casa-se, em 1971, com Marina Colasanti, escritora e jornalista, segundo ele sua melhor crítica e também musa inspiradora.
Nos duros anos na ditadura militar, Affonso Romano de Sant'Anna publicou corajosos poemas nos principais jornais do país reativando a reação do poeta com a vida política e social. Poemas como "Que país é este?" e "Sobre a atual vergonha de ser brasileiro" foram transformados em posters em todo o país. Também fez várias experiências sobre utilização da linguagem poética para a televisão.
Atualmente escreve colunas aos sábados para o JornalO Globo aos sábados e domingo no suplemento "Em cultura" do Jornal Estado de Minas
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LÁGRIMA
Ana Clades T. da Silva

Não esconda o sentimento
de uma lágrima tão preciosa
de tristeza ou contentamento.
Ela é igual ao orvalho da rosa,
ela é feita como a chuva.
Fertiliza, apaga a poeira,
molha a terra, nasce a uva
que dá vida à parreira.
Feliz é aquele que chora,
dizia o mestre Jesus.
A tristeza vai embora
e tudo se enche de luz.
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Ana Clades T. da Silva (1950)
Nasceu em 18/8/1950, em Cachoeira do Sul, RS, e reside em Canoas. Acadêmica da Faculdade de Letras do Unilasalle. Obteve o 1° lugar na categoria Trova Literária, pelo Grupo Cultural Mona Lisa de Esteio e o 2° lugar na categoria Conto, no 5° Concurso Nacional de Literatura da Fundação Cultural de Canoas.
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MARIA
Ana Lúcia Costa Batista


Ah! Minha doce Maria!
Não tenho mais a agonia,
pois tenho uma irmã
para comigo fazer folia.

Tenho-a no pedestal.
Uma amiga assim – eu não vi igual,
pois sei que é um amor celestial,
cujos anjos fazem o maior festival!

Ah! Minha linda Maria!
Nunca esqueças de mim,
pois uma amizade sincera
não pode jamais ter fim.
Eis que nosso Criador
quer que sejamos fraternos – assim!
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Ana Lúcia Costa Batista (1959)
Nasceu em 1°/12/1959, em Porto Alegre, RS, e reside em Canoas. Bacharel em Direito. Participou da I e da II Coletânea da Casa do Poeta de Canoas (2003/2005).

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INVERNO
Ancila Dani Martins


Chuvas aqui, ciclones, vendavais acolá.
Neve na serra... atração turística,
lareira, chocolate quente, hotéis finos.

Sob marquises, enovelam-se mendigos
em fino colchão, cobertor de papelão.
Comércio louco, lãs, peles e couro.
Crianças na rua à mercê dos ventos
virando lixo, buscando sustento.
Que responsabilidade tem a sociedade
por este desproporcional acontecimento?
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Ancila Dani Martins
É natural de Flores da Cunha, RS, e reside em Canoas. Graduada em História pela Unisinos, pós-graduada em Métodos e Técnicas de Ensino, pelo Unilasalle, com especialização em História do Rio Grande do Sul. Atua no ensino público estadual. Co-organizadora da I Coletânea Nas Asas da Poesia, dos alunos da EJA/SMEC/Canoas.
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SEREI
Benoni Couto

Nas lições da vida estão
Agruras de sentimento,
Incertas glórias que são
Reminiscência, lamento.

Queres revelar belezas
De não esquecer-se jamais
Com sonhos e sutilezas
Quando nascem os imortais.

Serei destino errante,
Serei glória, despedida,
Desejo alucinante.
Serei chegada, partida,
Serei começo de tudo,
Serei também fim da vida.
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Benoni Couto (1931)
Benoni Alves do Couto nasceu em 29/5/1931, em Cêrro Branco, RS, e reside em Canoas há 45 anos. Autor de Fagulha ( Poemas e Contos).
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CARTA DE UM ADMIRADOR
Bia Clos

Vai ser fácil esquecer você.
Basta não olhar o céu,
basta não pensar no mar,
nas estrelas e nos rios.

Vai ser fácil esquecer você.
Basta não pensar na alegria,
desistir da simpatia,
abandonar a ilusão e começar viver só.

Vai ser fácil esquecer você.
Basta não lembrar da cor de seus olhos,
não pensar no amor, na vida.

Vai ser fácil esquecer você.
Basta não sentir, não olhar, não viver.
Vou multiplicar momentos roubados
e felicidades impossíveis,
então, será fácil esquecer você!
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Bia Clos
Bia Clos reside em Canoas. Bacharel em Turismo pela Pucrs e graduada como Assistente Social pela Ulbra. Recebeu o 1° lugar (poesia livre) no 1° Concurso Nelson Fachinelli de Efemérides (Capori) e Menção Especial em concurso literário da Capolat - Casa do Poeta Latino-americano. Participou da II Coletânea da Casa do Poeta de Canoas (2005).
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GUERREIRO
Canabarro Tróis Filho


Quero levar minhas canetas
Agasalhadas no bolso
(aljava)
meu arco tenso
(rebeldias, indignações)
para caçar
com flecha d´agua
os sonhos falhados
(pássaros fugidios)
sobre o oceano
do Tempo e dos Ventos.
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Canabarro Tróis Filho (1926)
Antônio Canabarro Tróis filho nasceu em 27/11/1926, em São Francisco de Assis, RS, e reside em Canoas. Escritor, editor e jornalista, possui 12 obras publicadas. Co-fundador dos jornais O Momento e O Timoneiro. Foi redator e cronista da Folha da Tarde e co-diretor da revista Signo. Patrono da Feira do Livro de Canoas, em 1999. Participou da I, II e III Coletânea da Casa do Poeta de Canoas, sendo o poeta homenageado na II Coletânea (2005).
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PERCA UM MINUTO
Carmen Kennis

Perca um minuto da sua vida
para sentir o sol da manhã.
Quando abrir a janela
e ouvir o canto dos pássaros,

ao sentir o sol batendo no seu rosto,
você sentirá que a vida é maravilhosa
e que o mundo é belo.
Até o canto frágil dos pássaros
construindo seus ninhos,
no afã de poder viver,
assim tão livres.
Também o homem fica pequenino
ao admirar a tudo com carinho,
e se sente um gigante do Saber!
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Carmen Kennis
Carmem Maria Kennis nasceu em Camaquã, RS, e reside em Canoas. Aposentada. Participou da II e da III Coletânea da Casa do Poeta de Canoas - Poesia, Crônica e Conto (2005 - 2007).
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LUA
Diane Josair Straus Paz


Num dia estava tão cheia,
Noutro dia se encolheu.

Depois veio com preguiça
E, por fim, se escondeu.
Mas, pelo tempo que passou,
Meu amor por ti
Nada mudou.
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Diane Josair Straus Paz (1942)
Diane Josair Straus Paz nasceu em 23/9/1942, em Novo Hamburgo, RS, e reside em Canoas. Foi funcionária pública e atuou em trabalhos voluntários durante 8 anos no FAC São Cristóvão. Integra o Grupo de Teatro Sonho e Prosa. Participou da II e III Coletânea da Casa do Poeta de Canoas - Poesia, Crônica e Conto (2005 / 2007).
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A SAUDADE
Eva de Souza Rodrigues

A saudade é dor pungente
que faz sofrer intensamente
enlouquecendo o coração
que pula enfurecido de paixão.

A saudade aguça e aquece
a vontade louca
de beijar tua boca,
e, ao mesmo tempo, entristece.

O pensamento voa
em busca de tua imagem.
Em vão, procura à toa
encontrar-te nessa viagem.
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Eva de Souza Rodrigues (1946)
Eva de Souza Rodrigues nasceu em 21/8/1946, em São Miguel das Missões, RS, e reside em Canoas. Artista plástica e escritora. Possui três livros publicados: “Pampa e Romantismo”, “Arco-Íris de Luz” e “Scooby, o Cãozinho Fujão”. Participou da II e da III Coletânea da Casa do Poeta de Canoas - Poesia, Crônica e Conto, em 2005 e 2007
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GRADES DE PAPEL
Fernando Lima

Tardes de sol vistas de uma janela.
Prisão aberta,
grades de papel.

Coração ferido
de tantas esperas,
coração sofrido
de tantas quimeras.

Pensamentos sóbrios
em dias de muito sol.
Será o trabalho uma forma de escravidão?

Busco um modo de transcender ao tempo,
fazer com imagens a minha história
para que o futuro revele meu profundo ser
tornando viva minha memória.
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Fernando Lima
Fernando Lima reside em Canoas. Formado em Letras pelo Unilasalle e acadêmico de Artes Visuais na Feeevale. Artista plástico, desenvolve trabalhos em pintura, desenho, escultura e fotografia. Participou das três Coletâneas da Casa do Poeta de Canoas, em 2003, 2005 e 2007.
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Fonte:
http://www.casadospoetas.com.br/

Coleção Digital Machado de Assis

Obra completa do escritor está na rede e pode ser baixada gratuitamente

A obra completa de Machado de Assis em formato digital já está disponível ao público na Internet. A página eletrônica entrou na rede em 23 de setembro de 2008. O lançamento oficial aconteceu durante solenidade na Fundação Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, onde várias atividades foram realizadas para celebrar o centenário de morte do escritor carioca, com inauguração de exposição e lançamento de livros.

A coleção digital Machado de Assis é resultado de uma parceria entre o Portal Domínio Público, a Biblioteca Digital do Ministério da Educação (MEC) e o Núcelo de Pesquisa em Informática, Literatura e Lingüística (Nupill), da Universidade Federal de Santa Catarina.
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Segundo o coordenador-geral de Livro e Leitura do Ministério da Cultura, Jéferson Assumção, “a edição especial das obras de Machado de Assis em formato digital possibilita o acesso dos textos de nosso mais consagrado escritor. O site possibilita uma navegação rápida e eficiente para consulta e deverá ser muito útil para estudantes e leitores em geral.

No Ano Machado de Assis esta ação do portal Domínio Público, do MEC, ganha dimensão importantíssima, ao possibilitar, ainda, a contribuição de diversos especialistas à obra de Machado”.

A edição digital é composta por 246 arquivos, para leitura em tela e para downloads, nos formatos html e pdf. De acordo com o coordenador do Portal Domínio Público, Marco Antônio Rodrigues, “há na internet muito material relativo a Machado e sua obra, mas é a primeira vez que se faz um esforço concentrado de se publicar sua obra completa, em edições revisadas segundo critérios específicos. Na verdade, esse esforço relativo a Machado precisa ser replicado com outros autores da literatura de língua portuguesa de domínio público. É dever de todos cuidar desse patrimônio e de divulgá-lo”.

Conteúdo

Os títulos se apresentam em ordem cronológica, resultado da organização do projeto. Os romances Ressurreição (1872), A Mão e a Luva (1874), Helena (1876), Iaiá Garcia (1878) e assim por diante, até Memorial de Aires (1908) estão disponíveis para leitura e para serem baixados inteirinhos da Internet.

Da mesma forma os poemas, peças de teatro, traduções, crônicas, contos e as demais criações em outros gêneros somam-se ao conjunto da obra machadiana.

O site Machado de Assis apresenta várias seções, como Cronologia, O Autor e a Obra, Bibliografia, Obra Completa e Postagens, que facilitam a participação e a colaboração de usuários. Em Na Rede, o internauta vai encontrar endereços de outras páginas na internet com materiais de qualidade relacionados a Machado e sua obra, dentre as quais estão as páginas das fundações Casa de Rui Barbosa e Biblioteca Nacional, instituições vinculadas ao Ministério da Cultura.

Outra atração do site são os depoimentos de estudiosos e especialistas, que contribuem para o entendimento e a interpretação da obras literárias de Machado de Assis, considerado um dos maiores nomes da literatura brasileira.

O vídeo Machado de Assis: um mestre na periferia, produzido pela TV Escola, oferece informações sobre a vida do escritor e sobre o contexto histórico em que suas obras foram criadas.

Durante o desenvolvimento do projeto, tudo foi minuciosamente observado.

O objetivo foi organizar, sistematizar, complementar e revisar as edições digitais até então existentes na rede, e o resultado é a completa coleção digital Machado de Assis.

O projeto contou ainda com a cooperação de equipes da Universidade Estadual de Londrina e da Universidade Federal do Piauí.

Para acessar a Coleção Digital Machado de Assis, o endereço é:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=11300&Itemid=1338&sistemas=1

Fontes:
Colaboração do magnífico trovador maringaense e membro da Academia de Letras de Maringá, prof. Antonio Augusto de Assis
Desenho.
http://gilbertomarchi.blogspot.com