quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

ONE diploma novos associados em Sorocaba



Em novembro o presidente da Ordem Nacional dos Escritores, José Verdasca dos Santos, diplomou e entregou colares a novos associados junto ao diretor coordenador do núcleo de Sorocaba, Douglas Lara. A cerimônia aconteceu no salão de exposições da Fundação de Desenvolvimento Cultural – Fundec e contou com a presença de mais de uma centena de pessoas. Entre os diplomados, estavam cinco escritores adolescentes, todos com trabalhos já publicados na antologia "Rodamundinho 2008". A cerimônia contou também com o lançamento de três livros, o “O Lobvampiro” do jovem José Estevão Pinto de Oliveira, "Saudade e uma Canção Desesperada" do escritor Guilem Rodrigues da Silva e "Vidas Entrelaçadas" do escritor e poeta Nicanor Filadelfo.

Almoço e imposição de novos colares

José Verdasca do Santos estará novamente em Sorocaba no dia 19 de dezembro realizando mais uma cerimônia de imposição dos colares da ONE. O encontro será no Gabinete de Leitura Sorocabano às 10h, segue com um almoço junto aos escritores e novos associados, e às 14h com a cerimônia. Outros vários escritores, interessados na sociedade, receberão os colares e poderão contar com a Ordem para divulgar suas obras. Os jovens de até 15 anos participam gratuitamente e recebem o apoio e o incentivo para escrever e editar o seu trabalho literário.

Entre os novos associados estarão o escritor e criador do blog literário Singrando Horizontes, José Feldman, sua esposa, os jovens Serânia Silva, Maria Giulia Jacção Alves e Matheus Dantas, escritores da Antologia Rodamundinho. Também presente, estará o jornalista e escritor, Pedro Viegas que trabalhou no Jornal Cruzeiro do Sul, e que no episódio da “Noite do Beijo”, participou ativamente do protesto. O jornalista estará acompanhado pela sua esposa Elza Pereira Viegas que foi assessora de imprensa da Secretaria de Saúde e repórter fotográfica. Essa será uma oportunidade para os jornalistas da velha guarda rever e conversar com os jornalistas.

O Gabinete de Leitura Sorocabano fica na Praça Coronel Fernando Prestes nº 27, Centro - Sorocaba/SP. Os interessados devem entrar em contato com o coordenador do núcleo local, Douglas Lara pelo telefone: (15) 3227.2305 ou douglara@uol.com.br

Cintian Moraes - jornalista

Fonte:
Douglas Lara.
http://www.sorocaba.com.br/acontece

Itaú Cultural (Seminário Internacional Rumos da Literatura)


O Seminário Internacional Rumos da Literatura trata do diálogo entre a crítica literária, os meios de comunicação e as novas vertentes da literatura, entre outros temas. Realizado no Itaú Cultural, em São Paulo, entre 16 e 18 de dezembro, o evento reúne ensaístas, professores, sociólogos, poetas e tradutores.

Ensaístas, professores, sociólogos, poetas e tradutores examinam e questionam o ofício da crítica literária, cuja essência é, justamente, o exame e o questionamento.

Como se comporta a crítica diante de novos gêneros e, mais ainda, diante das metamorfoses da cultura literária? Qual o lugar da crítica nos novos meios e veículos de comunicação? Que direção tomaram as formas do discurso crítico?

Com curadoria de Samuel Titan Jr., o seminário encerra a edição 2007-2008 do Rumos Literatura com o lançamento do livro Protocolos Críticos, que traz o resultado e as reflexões dessa última edição do programa.

Uma oficina será realizada dias 16 e 17, na Casa das Rosas, com a convidada Heloisa Buarque de Hollanda, professora e coordenadora do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC) da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Também será lançado o livro Protocolos Críticos, resultante do programa.

Confira a programação e participe!

Terça 16

Oficina
14h30
Literatura ou práticas literárias
com Heloisa Buarque de Hollanda
[Ainda há vagas]

Seminário
19h30
Crítica literária e crítica cultural com José Miguel Wisnik e Martín Kohan mediação Natalia Brizuela
Seja a respeito da história, seja da música, da política ou do futebol, o crítico literário vive constantemente a tentação íntima - e a solicitação pública - de se pronunciar sobre temas que vão além da arte verbal. Como entender e avaliar esse ímpeto em tempos de crise da cultura letrada e da instituição da literatura? Nesta mesa reúnem-se Wisnik, músico, ensaísta e professor de literatura brasileira na Universidade de São Paulo (USP); Martín Kohan, professor de teoria literária na Universidade de Buenos Aires; e Natalia Brizuela, professora do Departamento de Espanhol e Português da Universidade Berkeley.

19h30
Lançamento livro Protocolos Críticos

Quarta 17

Oficina
14h30
Literatura ou práticas literárias
com Heloisa Buarque de Hollanda
[Ainda há vagas]

Seminário
17h30
Atualidade de Erich Auerbach com Earl Jeffrey Richards, Leopoldo Waizbort e Martin Elsky mediação Samuel Titan Jr
Nome central da crítica e da historiografia literária no século XX, Erich Auerbach sempre evitou formular um corpo de doutrina - ao mesmo tempo que encarnava com toda nitidez certa atitude intelectual diante do século e da literatura. Qual a atualidade de sua discrição e firmeza? Debatendo o tema, estão o alemão Earl Jeffrey Richards, professor de literaturas românicas na Universidade Bergische, em Wuppertal; Leopoldo Waizbort, professor de sociologia da USP; Martin Elsky, professor da City University de Nova York; e o curador do seminário, Samuel Titan Jr., tradutor, ensaísta e professor da USP.

Seminário
19h30
As formas da crítica com Flora Süssekind e Silviano Santiago mediação Lourival Holanda
Do tratado e da epístola à resenha e ao ensaio - a crítica das formas verbais viveu e vive uma contínua transformação verbal, a ponto de muitas vezes confundir-se com a própria criação literária. Por quais caminhos se deu essa reinvenção das formas críticas e o que devemos esperar pela frente? A mesa traz a pesquisadora da Casa de Rui Barbosa e crítica literária, Flora Süssekind; o escritor, crítico literário e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Silviano Santiago; e o ensaísta e professor da Universidade Federal de Pernambuco (Ufpe), Lourival Holanda.

quinta 18

Seminário
17h30
Crítica e poesia com Marco Lucchesi e Marcos Siscar mediação Gonzalo Aguilar
O século XX assistiu à transformação das relações tradicionais entre poesia e crítica: longe de se submeter como objeto passivo ao exame crítico, a poesia moderna, em suas várias vertentes, apresentou-se como lugar privilegiado do exercício da crítica. Lírica e crítica, poesia e reflexão constituem o objeto desta mesa, com a participação do poeta, tradutor de poesia e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marco Lucchesi; do professor da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Marcos Siscar; e do professor da Universidade de Buenos Aires, Gonzalo Aguilar.

Seminário
19h30
Atualidade de Machado de Assis com João Cezar de Castro Rocha e Pedro Meira Monteiro mediação Sandra Vasconcelos
Medalhão ou subversivo, figura veneranda ou agente provocador? Machado de Assis é o tema desta mesa, que reúne jovens críticos literários para discutir menos o legado e mais o enigma desse autor crucial para a formação da literatura brasileira. O brasileiro radicado na Inglaterra, professor de literatura na Universidade de Manchester, João Cezar de Castro Rocha; o brasileiro radicado nos Estados Unidos, professor de literatura brasileira na Universidade de Princeton, Pedro Meira Monteiro; e a professora de literatura de língua inglesa na USP, Sandra Vasconcelos, debatem sobre Machado de Assis.

Sala Itaú Cultural Avenida Paulista, 149 - Paraíso [próximo à Estação Brigadeiro do metrô]
195 lugares
entrada franca − ingresso distribuído com meia hora de antecedência

Casa das Rosas Av. Paulista, 37 - Paraíso [próximo à estação brigadeiro do metrô]
informações 11 2168 1777 http://www.itaucultural.org.br/

Fonte:
E-mail enviado pela Itaú Cultural

Casa do Poeta de Canoas (Sarau de Encerramento)


Contamos com o prestígio de sua presença.

Fone: (51) 3476.4431 / 9669.4615
http://www.casadospoetas.com.br/ poetas@casadospoetas.com.br

Fonte:
Casa dos Poetas de Canoas

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Lançamento do Livro "Saboreando Crônicas", de Luiz Eduardo Caminha

artigo de Tchello d'Barros

Luiz Eduardo Caminha é um homem do Renascimento. Só que atuando em plena contemporaneidade com seus vários talentos, seja cantando, tocando, pintando, escrevendo, gourmetiando ou ainda organizando encontros, sejam literários, gastronômicos ou culturais. Mas a tônica é sempre a mesma, a aproximação das pessoas em torno da amizade, como por exemplo o grande sucesso que é o mega evento Stammtische, de Blumenau/SC.

Bem, eu já conhecia a produção poética do rapaz, e quando, aqui em Maceió, abro seu recente livro Saboreando Crônicas, fiquei um pouco apreensivo com esse título tão singular, mas bastou ler a primeira crônica e a ficha caiu na hora. Trata-se de uma obra das mais saborosas, nos dois sentidos, pois não bastasse o fato de cada crônica vir acompanhada de uma receita gastronômica, o autor tempera suas contações de causos e histórias com uma linguagem que é praticamente o autor falando, conversando, coisa rara nos cronistas contemporâneos. Quem conhece o Caminha pessoalmente vai confirmar isso. Manuel Bandeira já dizia que o Brasil é o único país onde as pessoas escrevem de uma forma diferente da que falam. Taí um livro pra andar um pouco na contramão dessa afirmação.

Quanto a leitura do livro, talvez caiba uma metáfora culinária: sabe aquele almoço onde a gente já se alimentou o suficiente mas não consegue parar de comer porque a comida está muito saborosa? Pois é, assim é o Saboreando Crônicas. Havia me planejado pra ler uma crônica por dia, mas quem disse que a gente consegue parar de ler? É que o autor, com sua linguagem de bate-papo entre amigos, nos transporta para as historietas de uma forma que a gente se sente envolvido pelos causos e personagens, muitos deles hilários, e mal termina uma crônica, já se quer saber da próxima, como se fosse num rodízio de pizza ou churrasco.

É possivel que o livro seja recebido como uma coletânea de crônicas sobre causos, sobre culinária ou mesmo de humor, já que é impossível não rir sozinho ao ler as presepadas dos personagens do Caminha. Mesmo na escrita o autor consegue traduzir os sotaques de manezinhos de Floripa, dos alemães da germânica Blumenau, e até mesmo o inconfundível e musical sotaque de nossos irmãos nordestinos. Mas digo que esse trabalho vai além. É um livro de Crônicas no sentido mais amplo do termo, pois trata de costumes, hábitos e de vivências de uma época e de um lugar, de vários lugares. Nas entrelinhas dos fatos percebemos o modo de viver não apenas de alguns grupos de cidades catarinenses, mas também do Nordeste, onde esse escritor e agitador cultural é figurinha fácil, dadas as suas andanças e confessa paixão por várias cidades desse lado do país.

Saboreando Crônicas é um livro para se gostar e degustar. É ainda uma obra que surge como um acréscimo de qualidade para a literatura contemporânea de Santa Catarina.
----------------------------------

Release

"Estão todos convidados, afinal o livro tem tudo a ver com Florianópolis e Blumenau, já que muitas das crônicas retratam situações aqui vividas", assim o escritor e Poeta Luiz Eduardo Caminha convoca os interessados em literatura para o lançamento/noite de autógrafos, de seu livro, na Livraria Livros & Livros. FCB.

O novo livro de Luiz Eduardo Caminha marca sua estréia no universo das crônicas, gênero que, aliás, se diz um admirador. “Embora escreva romances e poemas, considero-me muito mais um cronista. Diria até que muito mais que um poeta, não obstante ame a poesia” refere o autor. “A crônica me faz viajar pelo dia-a-dia de minha vida, tanto passado, como presente, permitindo-me pincelar, muitas vezes, o momento que estou passando. É mais factual e, portanto, certas vezes, mais contusa, aguda ou cômica” continua Caminha.,

Nesta obra, Caminha reúne algumas divertidas – outras sérias – passagens de sua vivência com amigos, pacientes e, em especial, no seu quase que diário contato com os “Stammtische” (grupos de amigos), dos quais sempre foi um incentivador e cujo resgate histórico teve o autor como um dos responsáveis. Há também passagens sobre suas vivências de manézinho da ilha, “pois sou manézinho, de fato e de direito, desde criancinha, nascido na Maternidade Carlos Correa, quarto 21 e crescido nas bandas da Conselheiro Mafra e da Avenida Mauro Ramos”, acrescenta o autor.

De curiosidade em todas as crônicas, há referência a algum prato culinário – talvez por sua simpatia pelas artes da cozinha – Caminha dispõe aos leitores, ao fim de cada narrativa, receitas destes pratos, passo-a-passo, que, segundo ele mesmo afirma, foram todos experimentados antes de submetidos ao público.

São deliciosas crônicas e, não menos, saborosas receitas.

Conforme o autor, as coisas não ficarão por aí. “Por sugestão de meu amigo Tchello d’Barros. Estou preparando outros dois livros de crônicas com a mesma motivação do Saboreando. Cada um deles com receitas de entradas, sobremesas e outros pratos. Quem sabe não nasce aí uma Trilogia?”, indaga o autor de maneira divertida.
-----
Quem é Luiz Eduardo Caminha?
Luiz Eduardo Caminha é médico, proctologista, graduado em Florianópolis e pós-graduado no Rio de Janeiro, Inglaterra e Alemanha. Nasceu em Florianópolis, em 04/10/51, Dia de São Francisco de Assis. Residiu em Blumenau por 25 anos. Dedicou-se a inúmeras atividades sócio-comunitárias, religiosas, políticas, representativas de classe e culturais. Casado com Seluta, pai de 3 filhos, Alexandre, Luciano e Maria Eduarda e duas noras Elianir e Francielle, costuma dizer que estas são as maiores dádivas que Deus lhe concedeu.

Seus inúmeros amigos, pacientes e sua família são, para ele, “a maior alavanca para superar as dificuldades enfrentadas nos últimos 5 anos de minha vida, onde a doença me foi uma parceira infame, mas que ajudou a me lapidar”.

Exerceu estreita ligação com os meios de comunicação, uma paixão ladeada pela medicina. Foi co-responsável pelo movimento que resgatou a tradição germânica dos “Stammtische”, de seus encontros e dos encontros de amigos e patotas, em Blumenau e em Santa Catarina.

Publicou inúmeros artigos e crônicas na internet e na imprensa, onde foi colunista de “Opinião e Política” da Folha de Blumenau. Aventura-se, agora, em sua terceira produção literária, as duas primeiras com o livro de poesias Reflexos, de 1997 e o “e-book” Poemas, de 2007, editado por Iara Melo, do Portal CEN – Cá Estamos Nós (o maior site da lusofonia do mundo). É mentor e editor do site “Stammtisch, Confrarias e Patotas” http://www.stmt.com.br/ e foi Coordenador do III Encontro Luso-Brasileiro de Escritores, realizado em Blumenau entre 12 e 15 de Junho de 2008. É o atual Vice-Presidente do Portal CEN para o Brasil um Site que reúne mais de 1.200 escritores da língua portuguesa..

A par disto, é membro fundador do Capítulo Santa Catarina da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores; ocupa a Cadeira nº. 078, da Galeria dos Decanos do Conselho Acadêmico do Clube dos Escritores de Piracicaba; autor do Portal CEN - “Cá Estamos Nós”, e da Sociedade de Escritores de Blumenau (SEB).

Sua paixão por escrever vem dos tempos de Primário e aflorou em 1975 quando da aula magna proferida pelo poeta Lindolf Bell, no Curso de Artes e Comunicação da Universidade Federal de Santa Catarina. Pensava em fazer Jornalismo mas, com a transferência do Curso para Porto Alegre, desistiu e prestou novo Vestibular para Medicina. Graduou-se Médico em 1976, com especialização em Colo-Proctologia realizada no Rio de Janeiro, Londres (Inglaterra) e Wiesbaden (ex-Alemanha Ocidental).

Foi Presidente da Associação Médica de Blumenau no biênio 1992/93, Secretário de Saúde de Blumenau entre 1993 e 1996, Presidente do Conselho Estadual de Secretários Municipais de Saúde de 94 a 97 e Vice-Presidente do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde de 93 a 97.

De 1985 a 1989, editou, sozinho, o Jornal “Clarins do Vale”, impresso nas oficinas da Fundação Cultural de Blumenau. De 1989 a 1992 foi produtor e apresentador do Programa Canal Livre no Rádio, na então Rádio União AM, Rede Fronteira de Comunicação. Entre 1999 e 2002 produzia e apresentava o Programa Feliz Cidade, na TV Galega. De Abril de 2000 a agosto de 2004 produziu e apresentou o Programa Stammtisch, na mesma emissora.

Foi através deste programa que se iniciou o resgate da tradição dos “Stammtische”, em Blumenau e região. Como tal, foi um dos articuladores dos Encontros de Stammtisch (Strassenfest mit Stammtischtreffen).

Seu conhecimento e pesquisas sobre esta tradição germânica, além da estreita relação com a literatura e o jornalismo, motivaram-lhe a lançar um Sítio na Internet denominado “Stammtisch, Confrarias e Patotas” http://www.stmt.com.br/ , em 23 de dezembro de 2005. Desde abril de 2006 o site situa-se em 1º lugar entre todas as referências mundiais para o termo “stammtisch” nos principais sítios de busca do mundo (Google, Yahoo, Cadê, MSN Buscas, entre outros).

De março/2006 a julho/2007, escreveu a “Coluna Caminha” , no Jornal Folha de Blumenau.

Em 11/09/2007 foi inscrito como Jornalista no Serviço de Identificação e Registro Profissional – SIRP do Ministério do Trabalho, sob nº 2966SC.

Fontes:
Colaboração do autor

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Caldeirão Literário de São Paulo


Serginho Poeta (Largo e Profundo)

No instante
Em que o sino da igreja anuncia
A hora da Ave Maria
O Menino outra vez desafia
A Guarda Municipal
Precipita-se por entre o comércio informal
E o mar de gente confusa
Desce a alameda em queda livre
E vai se abrigar nos braços da Meretriz
O Ambulante canta a oferta
Abafando o alerta de pega ladrão
No instante seguinte
O Padre bendiz o Menino
No ato do seu sermão
E a Carola, samaritana boa
Que momentos antes
Perdera a bolsa e a fé nos meninos
Reza e perdoa
E tudo volta ao normal

Percebo um olhar de soslaio
No Largo Treze de Maio
Coberta de jóia falsa
A maquiagem realça
O rosto da Moça da Vida
E a pouca idade que tem
A Guarda esquece o menino
O Ambulante grita de novo
E o povo se agita na praça

É tudo pressa de novo
E o Ônibus passa
E passo Eu e o Menino
A Carola e a Puta
Só o Largo Treze não passa.
===================
Sobre o Autor
Serginho Poeta é Sergio Luis Oliveira Mesiano nas horas vagas. Morador do Campo Limpo (SP), nasceu em São Paulo, tem 38 anos e escreve poesia desde sempre. Sua descoberta como poeta se deu aos dezenove anos e a afirmação junto ao público, no antigo bar Ziriguidum, onde acontecia o Samba da Vela, comunidade que o lançou. Hoje é atuante em diversos movimentos e um dos organizadores da Expedición Donde Miras.
=========================

Paulo Almeida (Santo Amaro de Vários Artistas)

Nem todos os demônios se dissiparam
Na barra da manhã...
Quando amanheceu era sábado,
O sétimo dia,
E pouca coisa era sagrada :
Quem sabe a necessidade do camelô
Dizendo nunca se sabe ,
Atento à guarda municipal,
Quem sabe a pouca idade da menina
Calcando ruas já tão prostituídas,
Quem sabe a febre de Paulo,
Eiró,perseguindo noivas,poemas,
e represas entre ruas, catedrais
E hospícios .
Na casa amarela treze poetas
E treze visões se entrelaçam.
Colecionadores de pedras
Extravasam poemas e vidraças
Com um novo olhar .
Um planeja ornar com flores
A carabina de Borba Gato.
Outra ,poeta e menina,
Dança no coreto enquanto recita
Nua poesia sobretudo Santo Amaro.
Vamos ao largo de dvds , piratas ,
E da catedral sufocada,
Colocar versos na boca da estátua,
Ouvir o uivo dos albergados,
Confissões púbicas e sem preço
Da fantasia em hotéis baratos.
Vamos comungar o pão e a poesia,
Perecíveis artistas no monumental teatro das ruas.
======================
Sobre o Autor
Paulo Almeida, poeta tardio, obcecado e um tanto melancólico. Dado a extravasos, excessos, extravios e pensamentos vagos. Tudo sob uma capa de aparente normalidade. Respira como se de fato existisse. Não sabe mais o que sabia, às vezes intui e escreve e nomeia
======================


Laura Guimarães (Ecos do Largo Treze)

Que tipo de fé, seu moço,
consola as noites
desse pedaço de chão?

Sabe, seu moço,
um tipo de Deus diferente
passeia pelo Largo.

Pequenos milagres
escorrem pelas sarjetas
e abotoam as camisas
daqueles que não as têm.

O sopro de sarcasmo que falta
transborda dos copos cheios de mágoa
que toma conta do corpo
daqueles que não têm mais corpo, não.

Sabe, seu moço,
há um rio mudo
correndo, ao largo,
por entre as veias desse povo.

Correnteza forte, sim senhor!

Sabe, seu moço,
há um largo sorriso de medo
preso em suas gargantas.

Protestariam, se soubessem.
Contestariam, se pudessem.

Mas de que adianta força sem direção?

O pai de família corre atrás do pão.
A dona de casa faz milagre na ponta da faca.
A criança faz brinquedo do lixo que sobra.

Do pouco que sei,
sei que esse pedaço de chão
é como se fosse o mundo inteiro.
Santo Amaro.
.......................Meu mundo, meu chão.
=====================
Sobre a autora
Laurinha Guimarães tem 22 anos e cursa Letras na USP. Sua poesia é carregada de musicalidade e sonoridade, já que, além de poeta, é violonista, cantora e compositora. Já apresentou-se na Casa das Rosas, Teatro do Ator e no projeto "A Curva da Praça", que lhe rendeu o convite para participar deste projeto: "Treze visões do largo treze de maio".
========================
João Rosalvo (Ao Santo armado)

ajoelhado
devotado em oração
surge no banquinho inexistente da praça
um homem
na noite
que diante de sua devoção paulista
(a estátua do Borba Gato)
começa:

"Oh, meu Santo Armado,
de guerra construído e preparado,
que guardas a cidade amarga de barro,
bairro da grande metrópole, São Paulo,
meu tempo anti-lunar vem te pedir,
salve nossas noites de esperança
salve nossas boites, nossas danças,
nas ruas terminais de Santo Amaro
nas praças floreais de poucos atos,
nas casas da antiga: antigos fatos.

Fazei de nossa flor Matriz,
da alameda eira e da Eiró Meretriz,
a chave para acharmos o paraíso,
asfalto e carro e condutor divinos.

Com goles de cerveja, salvai as nossas almas padecidas
e as pobres caras, um tanto parecidas
dos jovens moços que roem o osso sujo e bebem do esgoto pútrido da cidade esquecida.

Aos maltrapilhos que cantam vícios
em coro triste no coreto limpo da Floriano,
dá menos planos e mais oportunidade
de fumarem um cigarro novo por noite
ou de cobrirem seus corpos poucos com lençóis de verdade.

Salve nossas Ladys e nossos End Nights.
E salve esta alma de homem pobre
que toda noite se cobre com manto de jornal
e diante da lua: silêncio sepulcral;
clama pelo povo sofrido
da noite querida
da Santo Amaro perdida
entre os becos e os beijos de suas meninas."
========================
Sobre o autor
João Rosalvo da Silva Júnior, tem 23 anos, é natural da capítal paulista e nela mora desde que nasceu, mais precisamente no distrito de Santo Amaro (região de Guarapiranga). Há 4 anos se mudou para o Jardim Catanduva, na região de Campo Limpo, mas não perdeu suas ligações com Santo Amaro. Está no último ano do curso de letras na (falida) Universidade de São Paulo (USP).
Como poeta participou do movimento Sarauê, além da organização dos dois Festivais de Música e Literatura da Faculdade de Filosofia , Letras e Ciências Humanas (FFLCH - USP), tendo um poema (SONIFESTO) publicado no livro do primeiro festival. Ao ser convidado para participar das "Treze visões" relutou, pois não sabia exatamente qual a proposta, mas hoje se entusiasma com as dimensões que um movimento como esse pode ter e espera que seja um forte sopro para reavivar a chama da cultura para a região santamarense e com essa chama incendiar a cultura de uma maneira mais ampla.
====================================
Indiara Nicoletti ("Ciclo de Vida")
.
Gira rodopia
a criança no coreto
Menina que dorme
de olhos semiaberto

No relento da calçada
O plástico preto
que sonora ao vento

Pode ser o cobertor
Pode ser a cama
Para o mijar
Embriagado

Os olhos fecham-se
Na esperança de um sono
Continuo ...

Mas o som da praça
Adormecida
De gritos de liquidações
Mudas

Na voz muda de garças
Que migram em direção
As águas represadas

A menina passeia
As margens da Guarapiranga

Muitas crianças
Pulam se jogam
Nas águas em
Um dia de sol

A mãe pede ao filho
Que não arrisque
A pele na sombridez
Da água turva

Mas o menino vê o verde
Do parque da mata
Do corredor de arvores
Ao lado da hípica

O céu azul
Refletido nas
Águas

Ora mansa recheada de peixes
Ora redemoinho que engole gente
Nas turbinas da Sabesp

A menina sonha
Os cabelos acariciados
Pelo vento

Pelas mãos de vento
Da Donzela Guaianazes
Moça que também
Habita a praça

Viajante de outros tempos
Raiz plantada nestas terras
Aos pés da árvore tombada
Para a construção do camelódromo

Plásticos brandam
Mortos, matéria
descartada

Olhares esquecidos
Na calçada composta
De passos ligeiros

Marcas nas mãos
Ciclo de vida

Reciclar as relações
Corriqueiras, fugazes
Como as promessas
Da cidade das luzes modernistas

Um dia no coreto
Habitou uma princesa
Bonecas de porcelana
Na jazida casa alemã

Bomba de chocolate
No rosto emnuviado
Da menina
Na jazida doceria Yramaia

Ecos de vozes do papagaio
No corredor da madrugada
Na também jazida pensão
Talvez uma Espanhola

Sonha a menina
Travesseiro de colo materno
Da donzela Guaianazes

Ela seria mãe
Se não fosse
Interrompida por
Fogo azul

Jaz Borba ao vento
Duro concretizado
No mosaico de Júlio Guerra

Borba andarilho de ladrilhos
Dá as costas para o fruto
Da semente mal plantada

Cayubi olha sua filha
Hoje mãe acariciando
Os cabelos da menina

Gira a menina no coreto
Ciclo de vida
Ciclo das águas
Que levam as lágrimas de mazelas

Julio Guerra limpa as pedras
De mármore e basalto
Julio Guerra lava o painel
Poluído por tinta preta

Em casas de outrora
Espanhóis, Portugueses
Alemães... habita uma tela
De Júlio que observa
A porta Veneziana do teatro

Lava as pedras no painel
Com lágrimas derramadas

Descansa Júlio Guerra

As lágrimas que brotam da terra
Na construção do metro
Fura o lençol freático

Com sede, do alto
A menina observa
Acompanhada
Pela donzela Guaianazes

Na igreja
Vultos de um jazido cemitério
Assustada ela volta para o coreto

Cayubi limpa o sono
De quem dorme ao relento
Guaranis com suas maracás
Hoje em Parelheiros

Cayubi abençoa a praça
Terebê planta ao pé
Da grande arvore
A semente de um povo

Útero da Terra
Aqüífero Guarani
Jorrando água
Na calçada

Cayubi guardião de toda a Terra
Olha a praça de frente
Com sua gente
Sua casa amarela

Onde em uma madrugada
Uma cidade virou bairro
Promessa fugaz...

Cayubi olha Borba
Olhar concretizado
Pelo chumbo
Olhar amolecido
Pelas lágrimas

Água Guarani
Sangue da Terra
Água cíclica
As margens da represa

Ciclo de vida na matéria ignorada
Trabalho de mãos calejadas
Jorrando o desperdício na calçada

Hoje são poucas as arvores
São diferentes os frutos
Plástico brotando no concreto

A donzela Guaianazes
Puxa um galho de Jasmim
E abençoa sua filha tão pequena
Tão sofrida

Com um beijo deixa a praça
Ciclo de vida na calçada

Criança gira no coreto
No tempo sonha
E com o vento
Se despede
=========================
Sobre a autora:
Indiara Nicoletti Ramos nasceu dia 9/7/1979 em Santo Amaro, São Paulo – SP. Passou boa parte de sua infância neste bairro, participando de atividades culturais na Casa de Cultura de Santo Amaro (antigo CACE) quando era criança. Estudou no Colégio ENSEL – Externato Nossa Senhora De Lourdes, na Rua: São José.
No colegial aprendeu fotografia, formando-se como técnico em Publicidade e foi também no colegial que começou a escrever poesia e a desenhar e pintar...
Participou do projeto de pintura de postes(intervenção urbana): Totens da Paz, no bairro da Lagoa da Conceição em Florianópolis, coordenado por Lis Figueiredo.
Atualmente estuda Artes Plásticas na UDESC(Universidade do Estado de Santa Catarina), aonde vem realizando trabalhos em Artes Visuais utilizando-se de diversas técnicas e linguagens como: gravuras(metal, litogravura, serigrafia), fotografia, vídeo-arte e vídeo-poesia, desenhos...
Em Janeiro de 2006 participou da exposição "Feliz aniversário Nelson Leirner", com um trabalho em Litogravura na galeria Casa da Xiclet em São Paulo.
E entre Junho e Julho de 2006 participou da exposição"Emparedados" no MHSC Museu Histórico de Santa Catarina (Palácio Cruz e Souza), com um trabalho coletivo juntamente com Gabriela Dreher e Fernanda Junqueira um site-arte tendo como foco o próprio Museu Histórico, Palácio Cruz e Souza.
Em 2007 e 2008 vem participando do Sarau Boca de Cena, em Florianópolis. Projeto de Extensão Universitária pela UFSC (Universidade do Estado de Santa Catarina) coordenado por Juliana Impaléa.
Em 2008 teve poemas publicados nas revistas: "Sarau Boca de Cena em revista" Florianópolis-SC e revista "Não Funciona" – São Paulo-SP.
========================
Carlos Galdino (A Curva da Praça)

A curva da praça
é curva de rio
Tem gente com fome
Tem gente com frio

Na curva da praça
Tem gente que fica
Tem gente que passa
Tem gente esquisita

Na curva da praça
Tem gente que joga
E gente jogada
Tem gente com tudo
Gente sem nada

A curva da praça
Tem crime e segredo
Tem gente esperta
E gente com medo

A curva é de um só
A curva é de massa
A curva tem preço
A curva é de graça

A curva da praça...
===================
Sobre o Autor
Carlos Galdino é poeta e produtor musical, atuante na cena artística de São Paulo, tem seis coletâneas de poesia publicadas, entre elas: "Novos poetas da Biblioteca Mario de Andrade", "Notas Poéticas", "Versos Versus Versos", todas pela Meireles Editorial. Ministra oficinas de cultura popular, literatura e cordel. Apresenta-se em saraus e eventos artísticos em geral. É líder do grupo Candeeiro Incendiário (mistura de cultura popular, cordel, aboio, repente e percussão) e do Coletivo S.A.M.P.A - Serviço Ambulante de Música Poesia Alternativa, coletivo que se apresenta com performances poéticas, realiza eventos, edita zines, e a Revista Subsolo – voltada para artes e cultura.
===================
Poetas integrantes de Treze Poetas, de Treze Visões do Largo Treze de Maio.
===================
Fonte:
http://www.trezevisoes.blogspot.com/

sábado, 6 de dezembro de 2008

Emiliano Perneta (1866-1921)



VENCIDOS

Nós ficaremos, como os menestréis da rua,
Uns infames reais, mendigos por incúria,
Agoureiros da Treva, adivinhos da Lua,
Desferindo ao luar cantigas de penúria?

Nossa cantiga irá conduzir-nos à tua
Maldição, ó Roland? ... E, mortos pela injúria,
Mortos, bem mortos, e, mudos, a fronte nua,
Dormiremos ouvindo uma estranha lamúria?

Seja. Os grandes um dia hão de cair de bruço ....
Hão de os grandes rolar dos palácios infetos!
E gloria à fome dos vermes concupiscentes!

Embora, nós também, nós, num rouco soluço,
Corda a corda, o violão dos nervos inquietos
Partamos! inquietando as estrelas dormentes!

Ilusão (1911)
-----------------------
GLÓRIA

Ao I. Serro Azul

Quando um dia eu descer às margens desse lago
Estígio, onde Caron, mediante uma parca
Moeda de estanho vil 0ll cobre, que eu lhe pago,
Há de me transportar numa sombria barca ...

Quando sem um sinal, sem uma prova ou marca
De afeição, eu me for por esse abismo vago,
Vendo que sobre mim funebremente se arca
O céu, e junto a mim esse Caron pressago ...

E envolvido na mais completa obscuridade,
Abandonado, e só, e triste, e silencioso,
Sem a sombra sequer do orgulho e da vaidade,

Eu tiver de rolar no olvido, que me espera,
Que ao menos possa ver o palácio radioso,
Feito de louro e sol e mirto e ramis de hera!

Ilusão (1911)
------------------------
DOR

Ao Andrade Muricy

Noite. O céu, como um peixe, o turbilhão desova
De estrelas e fulgir. Desponta a lua nova.

Um silêncio espectral, um silêncio profundo
Dentro de uma mortalha imensa envolve o mundo

Humilde, no meu canto, ao pé dessa janela,
Pensava, oh! Solidão, como tu eras bela,

Quando do seio nu, do aveludado seio
Da noite, que baixou, a Dor sombria veio.

Toda de preto. Traz uma mantilha rica;
E por onde ela passa, o ar se purifica.

De invisível caçoila o incenso trescala,
E o fumo sobe, ondeia, invade toda a sala.

Ao vê-la aparecer, tudo se transfigura,
Como que resplandece a própria noite escura.

É a claridade em flor da lua, quando nasce,
São horas de sofrer. Que a dor me despedace.

Que se feche em redor todo o vasto horizonte,
E eu ponha a mão no rosto, e curve triste a fonte.

Que ela me leve, sem que eu saiba onde me leva,
Que me cubra de horror, e me vista de treva.
-------------------------------------

METAMORFOSES

A Mme. Georgine Mongruel.

Sei que há muita nudez e sei que há muito frio,
E uma voracidade horrível, um furor
Tão desmedido que, quando eu acaso rio,
Quantos não estarão torcendo-se de dor.

Conheço tudo, sim, apalpo, indago, espio...
Tenho a certeza que vá eu para onde for,
Como o escaravelho, hei de o ódio sombrio
Ver enodoar até o seio de uma flor.

Mas sei também que há mil aspirações estranhas,
Que havemos de subir montanhas e montanhas,
Que a Natureza avança e o Homem faz-se luz...

Que a Vida, como o sol, um alquimista louro,
Tem o dom de poder mudar a lama em ouro,
E em límpidos cristais esses rochedos nus!
--------------------------------

CORRE MAIS QUE UMA VELA...

Corre mais que uma vela, mais depressa,
Ainda mais depressa do que o vento,
Corre como se fosse a treva espessa
Do tenebroso véu do esquecimento.

Eu não sei de corrida igual a essa:
São anos e parece que é um momento;
Corre, não cessa de correr, não cessa,
Corre mais do que a luz e o pensamento...

É uma corrida doida essa corrida,
Mais furiosa do que a própria vida,
Mais veloz que as notícias infernais...

Corre mais fatalmente do que a sorte,
Corre para a desgraça e para a morte...
Mas que queria que corresse mais!
-----------------------------------

SÚCUBO

Desde que te amo, vê, quase infalivelmente,
Todas as noites vens aqui. E às minhas cegas
Paixões, e ao teu furor, ninfa concupiscente,
Como um súcubo, assim, de fato, tu te entregas...

Longe que estejas, pois, tenho-te aqui presente.
Como tu vens, não sei. Eu te invoco e tu chegas.
Trazes sobre a nudez, flutuando docemente,
Uma túnica azul, como as túnicas gregas...

E de leve, em redor do meu leito flutuas,
Ó Demônio ideal, de uma beleza louca,
De umas palpitações radiantemente nuas!

Até, até que enfim, em carícias felinas,
O teu busto gentil ligeiramente inclinas,
E te enrolas em mim, e me mordes a boca!
--------------------
O BRIGUE
.
Num porto quase estranho, o mar de um morto aspecto,
Esse brigue veleiro, e de formas bizarras,
Flutua há muito sobre as ondas, inquieto,
À espera, apenas, que lhe afrouxem as amarras ...

Na aparência, a apatia amortece-lhe o esforço;
Se uma brisa, porém, ao passar, o embalsama,
Ei-lo em sonho, a partir e, então, empina o dorso,
Bamboleia-se mais gentil do que uma dama ...

Dentro a maruja acorda ao mínimo ruído,
Deita velas ao mar, à gávea sonda, o ouvido
Alerta, o coração batendo, o olhar aceso ...

Mas a nau continua oscilando, oscilando ...
Ó quando eu poderei, também, partir, ó, quando?
Eu que não sou da Terra e que à Terra estou preso?
=======================
DAMAS

Ânsia de te querer que já não tem mais fim,
Meu espírito vai, meu coração caminha,
Como uma estrela, como um sol, como um clarim,
Mas tudo em vão, sei eu! Tu és uma rainha! ...

És a constelação maravilhosa, a minha
Aspiração, de luz magnífica, ai de mim!
A nudez, o clarão, a formosura, a linha,
O espelho ideal! Ó Torre de Marfim!

Nunca me hás de querer, batendo-me por ti,
Pomo duma discórdia infrutífera, beijo
Todo em fogo, e a arder, assim como um rubi...

Mas é por isso que eu, ó desesperação,
Amo-te com furor, com ódio te desejo,
E mordo-te, Ideal, e adoro-te, Ilusão!
---------------------

HÉRCULES

Homem, acorda! O sol, como um fruto de Outubro,
Acaba de explodir no seio de uma flor.
Mais alacre, porém, mais ardente e mais rubro,
Com toques de clarim, com rufos de tambor...

Tudo acordou, a abelha, o plátano e a rosa,
A folha, a brisa, o lago azul, a estremecer.
Ao fogo dessa boca, ideal, voluptuosa,
Como se a terra fosse, ó sol, uma mulher...

Nos espelhos do mar, de grande voz sonora,
Nesta manhã sutil e de um louro saxão,
As naus, que vão partir por esse mundo fora,
Miram vaidosamente as caudas de pavão...

Homem, levanta e vem para a campanha rude,
Ergue-te para a luz, ergue-te para o bem,
Tu que inda sentes n'alma o ardor da juventude,
A sede desse azul, a fome desse além...

Homem, levanta! Esquece a perfídia medonha,
O desígnio feroz de Juno, quanto quis
No teu sangue inocente a baba e a peçonha,
Um dia inocular, de monstros e reptis...

Homem forte, homem são, homem rude e diverso
Dos outros, vem mostrar que tu tens ideais;
Vem carregar aqui o peso do Universo
Sobre esses ombros nus, rijos e colossais...
--------------------------------

ORAÇÃO DA MANHÃ

Amanheceu. A luz de um claro e puro brilho
Tem a frescura ideal de uma roseira em flor :
Antes de tudo o mais, ajoelha-te, meu filho,
Ajoelha-te e bendize a obra do Criador.

Ajoelha-te aqui, e sorvendo esse aroma
De feno, e rosa, e musgo, e bálsamo sutil,
Que vem do seio azul dessa manhã, que assoma,
Na radiosa nitidez de uma manhã de Abril,

Bendize a força, a graça, a seiva, a juventude,
A hercúlea robustez daqueles pinheirais,
Que resistem, de pé, dentro da casca rude,
Aos mugidos do vento e aos rijos temporais.

Ama essa terra como um fauno que por entre
A silva agreste vive; ama tudo o que vês;
Todos somos irmãos, filhos do mesmo ventre,
Filhos do mesmo amor e da mesma embriaguez.

Abraça os troncos nus, beija esses ramos de ouro,
Ajoelha-te aos pés dos que te querem bem :
Que riqueza, Senhor, que límpido tesouro!
Que grande coração que o arvoredo tem!

Pede a Deus que conhece os bons e maus caminhos
Que conhece o passado e conhece o porvir,
Que te aponte de longe os cardos e os espinhos,
E que te estenda a mão, quando fores cair...
==============

PARA UM CORAÇÃO

Um dia, vi-te, assim, bailando,
E a uma pergunta, que te fiz,
Tu respondeste : "Eu amo, e quando,
E quando eu amo, eu sou feliz!"

Por uma noite perfumada,
Cantaste, sobre o teu balcão.
E eu disse, ouvindo a áurea balada :
- Ah! Que feliz é o coração!

Quanta felicidade, quanta,
Não há ninguém feliz assim :
Um dia baila e noutro canta,
Como se fosse um arlequim...

Eu disse .. Mas agora vejo,
Nesse silêncio tumular,
Que estás sofrendo, e o teu desejo
Já não é mais o de bailar...

Nem de bailar, e nem, de certo
De nada mais, de nada mais...
Que fazes, pois, triste deserto,
Que fazes pois, que não te vais?

Mas, choras, creio, choras? Onde?
Se viu chorar um Lucifer?
Pobre diabo, vamos, esconde
Essas fraquezas de mulher...
===========================

SETEMBRO

Eu ontem vi chegar, quase que à noitezinha,
Apressada e sutil, a primeira andorinha...

É a primavera, pois, em flor, que se anuncia,
É setembro que vem, bêbedo de ambrosia.

Mãos doiradas, a rir, mãos leves e radiosas,
Semeando à luz e ao vento as papoulas e as rosas...

Como foi para nós de um esquisito gozo,
Ó minha alma! esse doce, esse breve repouso,

Que entre o nosso viver tumultuário e incerto
Surgiu como se fosse o oásis do deserto...
========================
Sobre o Poeta
Emiliano David Perneta (Curitiba, 3 de Janeiro de 1866 - 21 de Janeiro de 1921) foi um poeta brasileiro.
Nascido em um sítio de Pinhais, na zona rural de Curitiba, incorporando ao sobrenome um apelido de seu pai.
Considerado maior poeta paranaense, começou influenciado pelo parnasianismo. Republicano no Império, tanto que no dia 15 de novembro de 1889 formou-se em direito, sendo escolhido orador da turma, fez um discurso inflamado em defesa da República, sem saber que a mesma havia sido proclamada horas antes no Rio de Janeiro.
Foi abolicionista, continuando nos ideais da liberdade, passa a fazer palestras, publica artigos políticos e literários, assim como passa a incentivar, em Curitiba, a leitura do escritor Baudelaire, fato marcante para o surgimento do simbolismo no Brasil. Publicou seus primeiros poemas em O Dilúculo, de Curitiba, em 1883.
Mudou-se para São Paulo em 1885, onde fundou a Folha Literária, com Afonso de Carvalho, Carvalho Mourão e Edmundo Lins, em 1888. No mesmo ano publicou as obras poéticas Músicas, de versos parnasianos, a Carta à Condessa d’eu. Foi também diretor da Vida Semanária, com Olavo Bilac, e colaborador do Diário Popular e Gazeta de São Paulo.
Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1890. Lá, colaborou com vários periódicos e , em 1891, foi secretário da Folha Popular, na qual foram publicadas as manifestações inicias do movimento simbolista, assinados pelos poetas B. Lopes, Cruz e Sousa e Oscar Rosas.
De volta ao Paraná, criou a revista simbolista Victrix em 1902. Em 1913 publicou o poema livreto Papilio Innocentia, para a ópera do compositor suíço Léo Kessler, sobre o romance Inocência de Visconde de Taunay.
Sua obra poética inclui Ilusão (1911), no qual se faz presente a estética simbolista, Pena de Talião (1914), os póstumos Setembro (1934) e Poesias Completas (1945).
Pelo seu dinamismo e obras, foi homenageado por diversos contemporâneos, entre eles, Nestor Victor, Lima Barreto, Andrade Muricy. Tais homenagens aconteceram em vida e também após a sua morte, ocorrida no dia 21 de Janeiro de 1921 na pensão de Otoo Kröhne, na Rua XV de Novembro, 84.

Principais Obras
• Ilusão (poemas – 1991),
• Pena de Talião (1914),
• Setembro (poemas – 1934) (póstumo).
--------------------------------
Fontes:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/parana
http://livrosparatodos.net/biografias/emiliano-perneta.html
http://livrosparatodos.net/biografias/emiliano-perneta.html
http://br.geocities.com/poesiaeterna/poetas/brasil/emilianoperneta.htm

Julieta de Godoy Ladeira (Contos Brasileiros Contemporâneos)


Feliz Aniversário
Clarice Lispector

Postada à cabeceira da mesa, a senhora, que completa 89 anos, assiste a chegada de seus filhos e noras. Um a um vão sentando-se ao redor da mesa para a comemoração. A velha senhora, ressentida com a fraqueza de seus filhos, reflete na razão pela qual “os frutos foram tão diferentes árvore que os engendrou”. O único que lhe dá prazer é Rodrigo, neto de sete anos, de rosto viril e corajoso.

Depois de cantarem “Feliz Aniversário”, aumenta a indignação da aniversariante, que cospe ao lado da mesa, afrontando a todos, depois do que pede um copo de vinho, servido com ressalvas pela nora Dorothy: “Vovozinha, não vai lhe fazer mal?” - “Que vovozinha que nada! Que o diabo vos carregue, corja de maricas, cornos e vagabundas! Explode a aniversariante.”

À hora das despedidas, a nora mais nova, Cordélia, olha uma última vez para a sogra, sentada à cabeceira: “o punho mudo e severo, fechado sobre a mesa, dizia para a infeliz nora que sem remédio amava talvez pela última vez: É preciso que se saiba. É preciso que se saiba. Que a vida é curta. Que a vida é curta.”

Superado o momento das despedidas, resta a velha, “erecta, definitiva”, à cabeceira da mesa. “A morte era seu mistério”.

O caráter epifânico é uma das marcas registradas de Clarice Lispector. Em todos os seus relatos, os personagens vivenciam experiências que os despertam para determinadas verdades como que encobertas por um véu de mediocridade. A situação vivenciada por Dorothy em uma fração de segundo teve esse caráter. A atitude após a descoberta é que permanece uma incógnita.

Desvendando toda a hipocrisia que permeia as relações familiares, a autora também põe em relevo a situação na qual se encontra a aniversariante. Praticamente abandonada por todos os filhos, que reúnem-se em sua casa a cada aniversário, vivendo com Zilda, a filha solteira, espera a morte, inconformada com este tratamento.

Clínica de Repouso
Dalton Trevisan

Maria mora com a mãe, dona Candinha, que começa a implicar com a presença de um hóspede: João. Ao descobrir os dois aos beijos no sofá, e sendo informada que João é noivo da filha, pressiona a filha para mandá-lo embora. Assustado com a situação, João vai-se embora, e as brigas entre mãe e filha põem dona Candinha doente. Sob os cuidados da filha, sente-se bem, mas continua de cama, gostando do tratamento que está recebendo.

Com o passar dos dias, Maria decide internar a mãe no Asilo Nossa Sra. da Luz, entre doidos, epiléticos e alcoólatras, no qual um sistema de alto-falantes (o dr. Alô) ameaça com choques e injeções na espinha a quem reclamar. “D. Candinha sustentava-se a chá de mate e biscoito duro”.

Ressentida com o tratamento que a filha que criara lhe devota, a velha, internada no asilo, vê os dias passarem tratando uma mosca grande que, afeiçoada a ela, vem alimentar-se sobre sua mão.

Daton Trevisan consegue captar o poético a partir de textos extremamente objetivos. Dona Candinha, abandonada pela filha, encontra consolo em uma última companheira: a mosca. É importante perceber que a atmosfera construída pelo autor resgata o lirismo a partir de um final absolutamente insólito.

Os Músculos.
Ignácio de Loyola Brandão


(...) os fatos
Em uma manhã de domingo, ao passar o rastelo pelo terreno reduzido de sua horta de 4 metros quadrados, Danilo depara com um arame de fio de aço inoxidável entranhado na terra. Surpreso, escava e não encontra a origem da estranha “planta”. Aos poucos o arame cresce e toma conta de toda a horta, e a plantação de arame produz o suficiente para cercar casas, cidades e o país.

Acossado por acusações de vizinhos, perseguido por processos movidos por grandes casas do ramo, que o acusam de não recolher impostos pela produção de arame, que continua a crescer em seu quintal, o homem abre uma brecha por entre a floresta de arame buscando refúgio. Ninguém teria coragem de penetrar ali para buscá-lo, e ele se dá conta que os reflexos do sol reluzindo sobre os fios de arame formam desenhos inusitados; o vento soprando, produz sons agradáveis, agradáveis o suficiente para embalá-lo.

Sob o jugo da vida na cidade, os personagens das obras de Inácio de Loyola Brandão sujeitam-se ao isolamento que esta vida lhes impõem. Entretanto, no auge do desespero, surge uma saída: adentrar à “floresta de arame”, e tentar discernir o belo mesmo naquelas condições. Apercebendo-se dos desenhos e da música que o sol e o vento produzem, o personagem também encontra um refúgio para a vida opressiva que lhe é imposta.

Guardador
João Antônio

Jacarandá tenta ganhar a vida como guardador de carros. Mora (ou se esconde) no oco do tronco de uma árvore. Às vezes, bebendo, começa a pensar sobre os tipos de pessoas que dão esmola. São três: o primeiro - uns poucos - dá por entender o “misere”; o segundo, para ver-se livre do pedinte; o terceiro tipo, “otários de classe média”, dá esmola para não parecer “duro” - “Para eles, não ter cai mal”.

Domingo, saída de missa , ele pensa nos dois tipos de piedade: o de dentro e o de fora da igreja; “por quê resistem ao pagamento da gorjeta?”.
Volta e meia Jacarandá é preso. Umas duas semanas de cadeia, desintoxicado, volta ao trabalho. Agora é outro. Movimentos rápidos, o corpo magro, lembra o corpo do jovem passista que ele foi.. Mas não passa-se uma semana e ele volta à cachaça.

Certa noite, “um bacana enternado, banhado de novo” lhe estende uma moeda. Altaneiro no seu porre, Jacarandá recusa: “trabalho com dinheiro; com esse produto não, doutor.” O carro sai cantando pneus, “Xará, eu ganho mais que ele. É que não saio do botequim”.

Dedicando-se ao submundo daqueles que não têm nenhuma perspectiva, João Antônio desvenda a personalidade de uma figura deste ambiente. Jacarandá, o bêbado guardador de carros, consegue perceber as razões pelas quais os que lhe dão gorjetas o fazem. Não há espaço para ilusões neste mundo, mas o personagem principal encontra uma maneira de rebelar-se: o tratamento que dirige ao motorista nos sugere um homem que, mesmo em situação crítica, procura manter a dignidade.

Há que se perceber também o trabalho de linguagem. A gíria do guardador é utilizada ao longo do texto, em expressões como “uca, pé-de-cana, muquiras, chué”, que sugerem uma distância intransponível entre o guardador e aqueles a quem cobra seus serviços.

A Máquina Extraviada
José J. Veiga

Mandando notícias do sertão para seu compadre, o narrador fala do último grande acontecimento: a chegada de uma máquina descarregada defronte à Prefeitura.
Depois de montada, “a máquina ficou ao relento, sem que ninguém soubesse quem a encomendara nem para que servia”. As crianças, aos poucos, começam a brincar na máquina, tiram o encerado que a cobre, e pulam entre suas engrenagens.

Apesar de estar na cidade há tempos, a máquina continua causando sensação. Não há quem passe sem olhá-la; até mesmo as velhinhas que saem da igreja, ao passar pela máquina, fazem uma curvatura reverente.

Ninguém sabe quem a comprou, mas o prefeito designou um funcionário da prefeitura para zelar pela máquina. Ela tornou-se o orgulho da cidade. O antigo coreto, no qual realizavam-se as festividades foi abandonado. As festas são realizadas defronte à máquina, que ocupa cada vez um espaço maior na vida da cidade.

O único acidente ocorreu com um jovem bêbado, que, ao sair de uma serenata, decidiu dormir no alto da máquina. Rolou lá de cima, e com a queda, acionou algumas engrenagens que “comeram” sua perna. Hoje ele ajuda a zelar pelas partes baixas da máquina.

“Minha maior preocupação é alguém chegar aqui e dizer para que serve a máquina. Ao fazê-la funcionar, quebrar-se-á o encanto, e não existirá mais máquina”.

Traço importante deste conto é a ambientação em um contexto rural, no qual a máquina surge como elemento estranho aos poucos absorvido. José J. Veiga utiliza o episódio de forma a ilustrar a capacidade de o homem aceitar o estranho e respeitá-lo, enquanto estranho. Por isso, a explicação da serventia da máquina faria com que esta perdesse a magia capaz de suscitar o respeito.

A Caçada
Lygia Fagundes Telles

Em uma loja de antiguidades, um homem encontra uma grande tapeçaria, suspensa sobre a parede. Admirado, tenta lembrar-se de onde, ou em que tempo, já havia assistido àquela cena: um caçador de arco retesado, apontando para uma touceira espessa; outro caçador, este uma figura mais apagada, também espreitava a caça. “Teria sido uma personagem da tapeçaria? Mas qual? O caçador em primeiro plano? O outro?”

Tão viva é a gravura, que ele pressente o arquejar da caça escondida. Talvez tivesse sido o pintor da tapeçaria, “mas se detesto caçadas! Por quê tenho de estar aí dentro?”
Saindo da loja, a imagem não desaparece. Ao dormir, sonha com a tapeçaria, ele entrelaçado à paisagem. Apalpa o rosto, procurando a barba do primeiro caçador, mas ao invés disso, sente a viscosidade do sangue, e acorda com um grito.

Na manhã seguinte, volta à loja. Ao defrontar-se com a tapeçaria, vê a loja sumindo e a tapeçaria se alastrando pelo chão, até tomá-lo por inteiro. Agora estava dentro da tapeçaria. Era importante correr. Era a caça? O caçador? “Gritou e mergulhou em uma touceira. Ouviu o assovio da seta varando a folhagem, a dor! “Não ... - gemeu de joelhos. Tentou ainda agarrar-se à tapeçaria. E rolou encolhido, as mãos apertando o coração”.

Lygia Fagundes Teles é uma contista que prima por trabalhar o aspecto psicológico em suas obras. A angústia do personagem criado pela autora pode ser interpretada como a angústia despertada pela busca de si mesmo, processo que pode fazer com que o homem passe da situação de caça à de caçador em um instante.

Luz sob a porta
Luiz Vilela

Nélson está com alguns amigos bebendo chopp em uma festa. Preocupado com as horas, decide ir-se. É o aniversário de sua mãe e já são onze e vinte.

É com muita dificuldade que à consegue desvencilhar-se dos amigos, e ao chegar a casa de sua mãe já são cinco para a meia-noite. “Havia luz sob a porta, ela estava esperando-o”.

A recepção é triste. A mãe reclama da idade e do esquecimento a que foi relegada. Fala-lhe do medo que tinha que ele não viesse.
Desculpando-se por não haver trazido um presente, Nélson consola a mãe que chora.

Todo o conto é desenvolvido através de diálogos. A economia do autor é expressa de forma a criar situações nas quais o diálogo seja suficiente para evocar o almejado. Assim, à futilidade dos diálogos entre os amigos do bar ( “Imaginem só: me deu a maior cantada!” - Kafka? Estou lendo. O processo.”) sobrepõe-se a densidade do diálogo entre mãe e filho ( “Quer dizer que a senhora passou o dia sozinha?” - “Passei, mas não teve importância; arrumei uma costurinha pra fazer.”).

Ao mesmo tempo que explicita a dramaticidade do relato, esta estratégia também coloca o trabalho com a linguagem em um plano privilegiado.

A Moça Tecelã
Marina Colasanti

A cada amanhecer, a moça, com seu tear, passava os dias tecendo. “Linha clara para começar o dia.(...) Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava”.

Com o passar do tempo, sentindo-se sozinha, pensa que seria bom ter um marido a seu lado. “Com capricho de quem tenta uma coisa desconhecida” ela vai tecendo sua companhia. Ao fim do trabalho, batem a sua porta: “Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando na sua vida”.

Aos poucos, a moça vai tecendo a casa, que não basta ao marido. Ele agora quer um palácio, que toma meses de trabalho da tecelã. Na torre mais alta deste palácio fica a moça trabalhando, e com o passar do tempo, sente-se sozinha, tecendo as riquezas que o marido exige.

Uma noite, enquanto o marido dorme, ela levanta-se e desmancha todo o tapete, tornando a sua solidão.

Note-se que a autora coloca nas mãos da moça tecelã o poder de começar e romper a relação. É ela que “tece” o marido e engendra o meio familiar. Mas também é ela que “tece a própria solidão”. Tendo o universo feminino como fonte, Marina Colasanti desvela a alma da mulher que prefere, a uma relação que a subjuga, a antiga solidão.

No retiro da Figueira
Moacyr Scliar

Angustiada com a violência da cidade, uma família recebe pelo correio o prospecto de um condomínio fechado chamado Retiro da Figueira, “um dos últimos lugares onde você pode ouvir um bem-te-vi cantar”.

Holofotes, cerca eletrificada, vigilantes, sistema de alarmes, tudo remetia à idéia de segurança absoluta. A família mudou-se, e uma das primeiras exigências do chefe dos vigilantes foi uma lista de parentes e amigos dos moradores, “questão de segurança, para qualquer emergência”.

Uma segunda-feira, soa a sirene de emergência, e todos reúnem-se no salão de festas, onde são informados que a fuga de alguns presidiários impossibilitará a saída dos moradores do condomínio; “questão de segurança” informa-lhes o chefe dos vigilantes.
Quatro dias depois, o condomínio cercado, desce um jatinho no aeroporto do condomínio e uma mala cheia de dinheiro é entregue ao chefe de segurança, que decola com o dinheiro, acompanhado de sua equipe. “Nunca mais vimos o chefe e seus homens, mas estou certo que estão gozando o dinheiro pago por nosso resgate”.

O isolamento a que se sujeita o homem que se cerca é tratado ironicamente pelo autor gaúcho. As cercas que tornam o espaço seguro, também distanciam o homem, e o absurdo da situação torna ainda mais cômico um final inesperado: aqueles responsáveis pela segurança tornam-se os algozes dos que preferiram o ambiente cercado.

Botão-de Rosa
Murilo Rubião

Numa segunda-feira de março, todas as mulheres da cidade amanhecem grávidas, e o músico Botão-de-Rosa é acusado. Ouve a chegada da multidão: “vinham pegá-lo”. Ao sair à janela para deixar clara sua intenção de entregar-se é apedrejado.
Escoltado, segue até a prisão onde José Inácio é designado seu defensor. Todo o processo, repleto de falhas é analisado, e a resignação do acusado, negando-se a declarar sua inocência, colocam o advogado em uma situação delicada.

À acusação de sevícia, soma-se a de tráfico de entorpecentes, e Botão-de-Rosa continua impassível, enquanto José Inácio, pressionado pelo povo da cidade, tem uma atuação medíocre na defesa, o que colabora para a sentença de morte do acusado.
A produção de Murilo Rubião caracteriza-se pela exploração de um recurso desenvolvido por diversos autores latino-americanos: o Realismo-Mágico. Botão-de-Rosa abre mão da oportunidade de defender-se por saber-se condenado de antemão. Sua situação marginal (músico em uma cidade pequena) é que sofre a condenação.

A atitude adotada pelo advogado José Inácio cristaliza esta situação. Sua atuação é medíocre por que entre indispor-se com as autoridades comprometendo seu futuro e permitir a condenação do músico, escolhe a segunda alternativa.

Noivado
Osman Lins

Giselda e Mendonça conversam sobre as perspectivas deste último, que está prestes a aposentar-se de seu trabalho na repartição pública. Namorados há vinte e oito anos, Giselda já habituou-se a manter nas malas seu enxoval, enquanto recebe periodicamente a visita dos antigos “Mendonça”. Seu preferido é o Mendonça sensível, aos dezessete anos, muito diferente daquele aos trinta e nove anos que abriu mão dos sonhos para mergulhar em uma vida medíocre de funcionário público.

Conversando com o noivo sob o olhar silencioso dos dois outros “Mendonça”, a noiva comenta, em tom de despedida: “um homem, para ser saqueado, precisa abrir as portas”, referindo-se à entrega do amante à vida de burocrata.
“Passa por mim, com seu barulho de correntes arrastadas, de arame farpado rasgando couro de bois.”

Noivado é trabalhado de forma que possamos perceber as três perspectivas: a do noivo, da noiva, e dos momentos a dois. Esta diversidade de focos narrativos faz com que saibamos o que se passa com cada um dos interlocutores, e é uma maneira que nos coloca imersos no relato, como parte atuante.

Giselda sabe que o afastamento entre ela e o noivo ocorreu há muito tempo atrás, e todo o questionamento a que se propõe Mendonça é incapaz de resgatar o homem que já existiu onde hoje há um funcionário público.

Circuito Fechado
Ricardo Ramos

Circuito Fechado - 1 -

Trabalhando exclusivamente com substantivos (Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água.) Ricardo Ramos foca o despertar do homem no ambiente urbano completamente tomado pela rotina. Preso ao relógio, este homem não consegue romper o circuito, que fecha-se com a volta aos chinelos: (Chinelo. Coberta, cama travesseiro.)

Circuito Fechado - 2 -

Fechado em sua “memória intermediária” (“não a de muito longe, nem a de ontem”), o personagem sente o desbotar que ocorre com o passar dos anos refletido no retrato. Vem dessa memória intermediária a sensação de perda. “Os dias, não as noites, são o que mais ficou perdido”.)

Circuito Fechado - 3 -

Em um monólogo apressado, no qual inferimos respostas monossilábicas de diversos interlocutores, o autor expõe o isolamento ao qual o personagem vai se sujeitando, na medida que aumenta sua insensibilidade.

Tudo nos sugere uma distância intransponível, e os diálogos impessoais mantidos com secretárias e atendentes, repete-se com a esposa: “Vamos dormir? É, leia que é bom. Ainda agosto e esse calor. Me acorde cedo amanhã, viu?”.

Circuito Fechado - 4 -

Tematizando o sentimento de posse (“Ter, haver”) o autor demonstra como este sentimento de posse apropria-se do personagem, e como este, objeto dessa sensação, torna-se incapaz de fugir ao círculo vicioso. “Uma prisão que segura” e ao mesmo tempo evoca as diversas lembranças de infância, na qual não havia este tipo de preocupação.

Circuito Fechado - 5 -

Retornando à rotina evocada em Circuito Fechado - 1 - , o autor condensa o sentimento de impotência expresso nos outros episódios. Perceba-se o caráter pessimista desde o começo do texto, iniciado com uma negativa, “Não. Não foi o belo” .

Aos poucos, aprofundando-se em muitas outras negativas, o texto nos suscita a sensação da perda absoluta de concretude, de inversão total de valores, culminando com a constatação do erro de avaliação na inversão desses valores: “Não foi sempre, nem faltou, foi mais às vezes. Não foi o que, foi como e onde, e quando. Não, não foi.

Composição II
Sérgio Sant’Anna

Uma Sala.
Descrevendo a sala (paredes, mesa, sofá, gramofone e televisão, na qual a imagem de uma moça anunciando uma televisão idêntica repete-se infinitamente), um homem albino sentado na sala em posição de ioga segura uma guitarra elétrica, “apontada para o observador como se fosse uma metralhadora (...) mas da ponta da metralhadora - ou guitarra - saem balas de confeitaria e escorre, fracamente, um líquido amarelado”.

Duas mãos rompem o papel celofane que envolve toda a cena, retirando um disco e colocando-o em um toca-discos em uma outra sala, nova e bem organizada. “Desliga-se a televisão e apaga-se a luz”. E ouve-se a letra da canção: “Estou farto de tudo e vou tomar o ônibus vinte e sete e viajar para outra galáxia”.

Como uma cena, o universo do artista impassível é maculado pela mão que rompe o celofane para ouvir a música do disco. É importante perceber os dois ambientes (uma sala desarrumada coberta por papel celofane na qual o guitarrista medita e a outra, extremamente organizada na qual o disco será reproduzido),como que ilustrando dois ambientes diversos e incomunicáveis.

Nunca é Tarde, Sempre é Tarde
Sílvio Fiorani

Su acorda-se e maquia-se para o trabalho. Olha-se apressadamente no espelho, não se preocupando com beleza, “Beleza é pra fim de semana”. Ao colocar a mão na maçaneta, ouve o ruído da campainha de seu relógio Westclox, “e se deu conta de que sequer havia-se levantado. Tudo por fazer”. Repete os mesmos gestos mecanicamente, e a situação torna a acontecer: novo despertar com a campainha do relógio. Decide apelar para a mãe que, “envolta pelos vapores da cozinha”, promete à filha acordá-la.

Submetida à rotina que torna todos seus gestos automáticos, Su necessita de alguém que a desperte. É importante perceber que o auxílio de outra pessoa é necessário para “acordar” a personagem de um sonho que teima em acontecer e que a desgasta.

Fonte:
http://www.pvsinos.com.br/jornal/edicao99_1/ed99_1_contos_br_contemporaneos.htm

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Membro fundador da Academia é o mais novo Patrono do Instituto Histórico de Sorocaba



Membro fundador da Academia é o mais novo Patrono do Instituto Histórico. Membro Efetivo Fundador da Academia Sorocabana de Letras e seu ex-Presidente, o escritor Armando Oliveira Lima foi escolhido pelo novo integrante do quadro de Sócios Efetivos do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba, advogado Anderson Santos, como seu Patrono naquele silogeu.

Nascido em Sorocaba, em 30 de outubro de 1934, Armando Oliveira Lima é funcionário público aposentado da Justiça do Trabalho.

Licenciado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Sorocaba, exerceu o magistério superior na Faculdade de Comunicação Social de Itapetininga (FKB) e na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Tatuí.

Membro da Associação Sorocabana de Imprensa, foi um dos 14 membros efetivos fundadores da Academia Sorocabana de Letras e seu presidente no biênio 1993/1995. Coincidentemente, presidiu o Conselho Municipal de Cultura.

No período, a Academia co-editou, com o Conselho Municipal de Cultura, o Fundo de Assistência à Cultura e à Educação (Faced) e a OSE, vários opúsculos, entre os quais Tudo começou na Escola Profissional, de Afonso Celso de Oliveira (1995), Estórias populares de São Paulo (Piracicaba – Sorocaba – Botucatu), de Waldemar Iglésias Fernandes, com prefácio de Hernâni Donato (1994) e Sorocaba, urgente! (1995), de Valter Luiz da Silva.

Armando Oliveira Lima presidiu o Gabinete de Leitura Sorocabano (1979/1981), numa das mais dinâmicas gestões da centenária instituição cultural. Na ocasião, coordenou, juntamente com o advogado Antônio R. Figueiredo e o jornalista Geraldo Bonadio, a “Semana das Liberdades”, promovida conjuntamente pelo Gabinete, Associação Sorocabana de Imprensa e Associação dos Advogados de Sorocaba que trouxe a Sorocaba personalidades como Fernando Moraes, Gianfrancesco Guarnieri, Hélio Bicudo e Fernando Henrique Cardoso.

É consultor do Núcleo de Cultura Afro-Brasileira, da Universidade de Sorocaba.

Colaborador assíduo da imprensa sorocabana foi durante vários anos cronista do Diário de Sorocaba.

Teve ativa participação no teatro amador sorocabano, como autor de várias peças, entre as quais “Espoletildo”; co-fundador do Teatro dos Três e presidente da Federação de Teatro Amador da Baixa Sorocabana (FETABAS).

Foi fundador e coordenador da Elu (Editora Literatura Universal), o mais bem sucedido clube do livro do mês de nossa cidade. Como editor, deu ênfase à publicação, por aquela casa, de autores sorocabanos como Messias P. de Paula (Histórias de 2000 anos) e Benedito Walter Marinho Martins (Praia da Banana), que obtiveram grande sucesso editorial. Em 1972, quando do Sesquicentenário da Independência, coordenou e foi um dos autores de A Luta pela Independência, também publica do por aquela casa editora.

Como escritor, publicou o livro de poemas Pés no chão (Elu, 1973); os opúsculos Ave, Cristo (1982); Pesquisa escolar (OSE, 1982), Emília no mundo dos livros (OSE, 1982) e Impróprios culturais (Academia Sorocabana de Letras, 1997).

É autor dos artigos “Escravidão na história e na literatura brasileira” (v. 9/1, 1983) e “Do espírito universitário” (v. 16/1, 1990), publicados na Revista de Estudos Universitários, da Uniso.

Atualmente preside o Instituto Darcy Ribeiro, de Sorocaba, que tem homenageado anualmente personalidades culturais importantes da cidade e da região.

Criou e organizadou do concurso de poesia “Depoesia” de Sorocaba que, sob sua direção, vem tendo edições anuais regulares.

Foi também co-fundador da Academia Sorocabana de Música e, por curto período, patrono, por eleição direta, do Centro Acadêmico da Faculdade de Filosofia de Sorocaba.

Foi co-fundador do MUE – Movimento Universitário Espírita e da Revista “A Fagulha”. Nessa época foi difusor do espiritismo, proferindo palestras e escrevendo artigos sobre o tema.

Recebeu da Câmara Municipal o título de Cidadão Emérito, a ele outorgado por indicação do saudoso vereador Horácio Blazeck.

Fonte
artigo de Geraldo Bonadio para Acontece em Sorocaba

Armando Oliveira Lima (Tropeiro Véio)



Na margem esquerda do rio Sorocaba, pertinho da ponte Nova, ali nos Pinheiros, moravam nhô Madô e nhá Carlota. Ele, tropeiro velho e aposentado e ela, mãe de muitos filhos, dona de casa, boa cozinheira.

Nhô Madô, apesar de não mais trabalhar com tropa, não tinha parado com os costu­mes das tropeadas. Quase todo dia encilhava seu burro bem cedinho, atravessava a ponte Nova, e nhá Carlota ficava na janela espiando o velho montado no burrico, sumir por detrás dos grandes tambores da Alcoléa. No alforje levava alguma velharia que, atraísse algum compadre interessado em fazer alguma 'breganha'.

Pois é, a barganha é a herança que o tropeirismo le­gou a Sorocaba, basta ver que esse costume é mais evidente nas cidades da rota dos tropeiros.

Era breganhado com alguma coisa que, por sua vez, era breganhada com outra.

Nhô Madô era um “breganheiro incorrigível” . Tudo o que lhe caía nas mãos era breganhado com alguma coisa que, por sua. vez, era breganhada com outra.

Assim, passaram por suas mãos partidas de batata, sacos de arroz, cebola, relógios, bombardino, botas, gaiolas, com e sem passarinhos, etc...

Todas essas breganhas traziam uma alegria momentânea à nhá Carlota: era uma chaleira, uma vassoura caipira, uma ratoeira... Mas tudo tinha seu dia de chegada e seu dia de partida. Nada esquentava lugar... Até mesmo o gramofone, que animou baile de casamento de uma de suas filhas, teve sua despedida.

Nhá Carlota disse, então, ao nhô Madô, quando da 'transferência' do gramofone:

- Intão num vô vê mais a Patativa?

Indiferente, nha Madô levou o gramofone e os discos do Vicente Celestino, tudo em cima do Pingo.

Pingo era o nome do burrinho de estimação de nha Madô. Muitas coisas Nhô Madô tinha breganhado: muitos cavalos, muitas vacas, burros, mas a velha calçado tropeiro e o burrinho Pingo continuavam com ele, resistindo, até que porque Madô não era homem de voltar sem calças para calça. Além do mais, cada vez que saía, Madô ouvia de Nhá Carlota :

- Nhô! Pode breganhá o que quisé, menos o Pingo!

Nhá Carlota, afinal, tinha seus motivos. Pingo era um animal tão dócil que até ela conseguia atrelar o bichinho numa charretinha feita só para ele e, sem muitas dificuldades, ia até a Campos Sales buscar alfafa pras vaquinhas e, às vezes, até se aventurava em ir nos Rosas buscar milho para as galinhas.

Naquela manhã de inverno, nhô Madô, como de costume, tomou seu cafezinho na beira do fogão, apanhou uma pata botadeira e partiu, com o Pingo escorregando no barro, não sem antes ouvir, como sempre, de Nhá Carlota :

-O Pingo não!

E lá vai ela cumprir seus afazeres domésticos durante o dia todo. À tardinha quando o sol já começa a ser no horizonte,pintando o céu daquele avermelhado de todos os dias, nhá carlota começa a demonstrar uma dosezinha de preocupação.

- Por que será que o véio tá demorando?...

Já de há muito não se sentia o cheirinho de feijão se espalhando pela casa. Nhá Carlota se dirige à cachoeira de onde pode ver as duas bandas do rio e nada...Nem sombra do Nhô!

Quase à noitinha, o sol se despedindo pra dar lugar à lua, aparece nhô Madô, com uma espingarda nas mãos, uma gaiola com um avinhado e a sela do burrico nas costas. Antes que Nhá Carlota possa fazer qualquer coisa, ele vai dizendo :

- É ...o Pingo já foi...

Fonte:
http://sorocult.com/el/colunistas/arm/tv.htm
Pintura = http://www.klepsidra.net/

Rita Rosa Bertelli (A Herança de nossas vidas)



Próximo das comemorações dos 400 anos de Itu, a cidade ganha um livro que conta a história de uma família ituana desconhecida. É justamente esta a riqueza da obra: falar de pessoas que não são celebridades: seus hábitos, costumes, crendices e até preconceitos de ituanos, alguns do sítio e outros da cidade. São alegrias e discórdias entre as personagens da própria família, dificuldades, coragem e fraqueza; enfim, o dia-a-dia de ituanos comuns. O livro descreve situações dramáticas e engraçadas, conservando a linguagem regional.

"A Herança de nossas vidas" é de autoria de Rita Rosa Bertelli, ituana que morou muitos anos na Vila Ianni e retrata em sua obra passagens que ocorreram em seu bairro, com fatos verídicos e alguns traços autobiográficos.

No mesmo dia será aberta a Exposição "Mãe Natureza", da própria autora do livro, que também é artista plástica e professora de Artes da rede pública de ensino. O evento contará ainda com a apresentação dos músicos Bruna Barbosa, Roni Rosa e Douglas Gimenez.

O lançamento será no dia 13 de dezembro, às 19 horas, na Biblioteca Comunitária Prof. Waldir de Souza Lima, que fica à Rua Floriano Peixoto, 238 – Centro – Itu/SP. Para mais informações e reserva de livros, ligue (11) 7599-7848 ou envie e-mail para bibliotecacomunitariaitu@gmail.com . A entrada para o evento é gratuita.

SERVIÇO
Lançamento do livro "A Herança de Nossas Vidas", de Rita Rosa Bertelli
Abertura da exposição "Mãe Natureza", de Rita Rosa Bertelli
Quando: 13 de dezembro de 2008, às 19 horas
Quanto: entrada gratuita
Local: Biblioteca Comunitária Prof. Waldir de Souza Lima
Rua Floriano Peixoto, 238 – Centro – Itu/SP
Contato: (11) 7599-7848 (Nathalia) / (11) 8445-6122 (Renato)
E-mail: bibliotecacomunitariaitu@gmail.com
Blog: http://bibliotecacomunitaria.wordpress.com

Fonte:
Colaboração da Biblioteca Comunitária Prof. Waldir de Souza Lima

Sandra M. Júlio (Você tem o dom de brincar com o meu coração... )


Você tem o dom de brincar com o meu coração...

Não sabe quão tolo ele é, acredita nas rimas dos seus versos, e passeia sereno por doces lembranças, lascivas ondas beijando areias de solidão...

Apesar da distância, o magnetismo do seu olhar entreabre devaneios, quimeras que não me pertencem, porém encobrem o perfume da minha nudez.

Quando as entrelinhas dos seus poemas florescem sonhos, acredito meus, seus desejos. Então acendem-se fantasias onde me faço princesa d'um conto sem final.

Neste compasso pulsa sua ausência, caminha entre os ecos do seu olhar e da ilusão, onde deságuo órfãos versos que negam a verdade de só a você pertencer.

É, você tem o dom de brincar com meu coração...

Quando seu profano olhar entreabre os lábios do tempo para pousar em reticentes sonhos, derrama a noite no veludo da memória seu abraço, iluminando hesitantes e tímidas estrelas.

Num ritmo de saudade e espera, à mercê das horas, pulsa solitário e triste este inquieto coração ouvindo no grito do silêncio, palavras nunca ditas mas que, no sereno desvario da noite ecoa em minh'alma seu nome.

Fonte:
Colaboração de Douglas Lara.
http://www.sorocaba.com.br/acontece

Fábio Pestana Ramos (Por mares nunca dantes navegados)

A árdua conquista dos mares. Há mais de quinhentos anos, os portugueses iniciaram um processo que mudaria a face do mundo: lançaram-se à empreitada marítima. A coragem de desbravar e encontrar novas rotas era marca dos aventureiros portugueses, que se lan

A árdua conquista dos mares. Há mais de quinhentos anos, os portugueses iniciaram um processo que mudaria a face do mundo: lançaram-se à empreitada marítima. A coragem de desbravar e encontrar novas rotas era marca dos aventureiros portugueses, que se lançaram em águas tão inóspitas quanto as terras que descobriram nos séculos XV, XVI e XVII. A Editora Contexto iça as velas da história e apresenta o livro Por mares nunca dantes navegados: a aventura dos Descobrimentos, escrito pelo historiador Fábio Pestana Ramos. Ele leva o leitor a uma fantástica viagem pelos oceanos, a bordo de naus e caravelas, passeando ao lado de passageiros e marujos, prostitutas e religiosos, oficiais e degredados, comerciantes e escravos. Portanto, Ramos buscou documentação manuscrita inédita, coletada nos arquivos portugueses.

O que os motivava? Como era o cotidiano a bordo? O que encontraram no trajeto? Chegariam? Realizariam seus sonhos? Em Por mares nunca dantes navegados, o leitor acompanhará os dramas pessoais e coletivos da gente embarcada nos navios lusitanos, no tempo dos Descobrimentos e das Grandes Navegações. Conhecerá as ambições de Portugal e dos portugueses, explicadas dentro do contexto da época.

O inferno podia se instalar durante tempestades, calmarias e naufrágios. Mas o inferno também podia se instalar dentro das embarcações. O 'marinheiro' convidado a ler esse livro sentirá na pele, dos outros, as privações, os perigos e os invariáveis conflitos sociais enfrentados em alto mar. As doenças, provindas da falta de higiene e a alimentação, quase sempre insuficiente para todo o trajeto, eram constantes. Mulheres e crianças embarcadas muitas vezes não escapavam da 'sede' dos marujos, já que violações eram práticas comuns. As leis da terra não eram empregadas no mar. Os oficias faziam vistas grossas para os abusos, isso quando não participavam deles.

E se a travessia marítima não era fácil, o desembarque, na África, na Ásia ou na América, também podia reservar surpresas e situações perigosas. Deparando-se com realidades totalmente diversas da vivida no Velho Mundo, esses viajantes tornaram-se os principais protagonistas de encontros e desencontros culturais, violências e conflitos com nativos, em cenários de destruição, exploração e extermínio. E ao mesmo tempo em que foram desenvolvidas relações comerciais, surgiram povoados e cidades, e a paisagem foi modificada.

A paisagem brasileira começou a ser modificada oficialmente em 1500, mas hoje quase ninguém contesta a presença portuguesa antes dessa data. Entre os navegadores Bartolomeu Dias (1488) e Vasco da Gama (1497) existem diversas possibilidades de um possível Descobrimento ou 'achamento' como preferem alguns, que só não foi anunciado porque havia um entrave diplomático entre Espanha e Portugal. Fábio Pestana Ramos conta em detalhes a manobra política feita para garantir tal feito. Com a parte jurídica acertada, coube a Pedro Álvares Cabral oficializar o 'achado', antes de cumprir a sua verdadeira missão: acertar um tratado de paz com os governos indianos. Com o Brasil oficialmente descoberto, Cabral partiu para as Índias, onde não obteve muito sucesso, o que acabou frustrando toda a missão e o rei D. Manuel. Depois disso, nunca mais esse fidalgo comandou sequer um navio.

Indicada a todos os interessados em embarcar nesta jornada recheada de aventuras, a obra é uma leitura divertida e muito bem fundamentada historicamente. Paraíso ou inferno? É o que veremos em Por mares nunca dantes navegados. Todos a bordo!
==================================
Fábio Pestana Ramos possui Bacharelado e Licenciatura Plena em Filosofia pela Universidade de São Paulo e Doutorado em Ciências (História Social) também pela USP, onde foi orientado pela profa. Dra. Mary Del Priore. Já atuou como docente no curso de história da PUC de Campinas e como professor titular na Uniban, onde, além de lecionar nos cursos de história, pedagogia e administração de empresas, entre outros, exerceu o cargo de coordenador dos cursos de letras e pedagogia e fez parte do corpo docente do mestrado em educação; tendo também exercido atividade de ensino em outras grandes universidades particulares e como pesquisador da FAPESP. Atualmente é professor, na graduação e especialização, em universidades privadas como colaborador e docente concursado na autarquia municipal Fundação Santo André. Tem experiência docente na área de Educação, História, Filosofia, Sociologia e Antropologia; com intensa atividade de pesquisa e passagens por arquivos históricos no Brasil e em Portugal, tal como a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, o Arquivo Público do Estado da Bahia, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo Histórico Ultramarino, Biblioteca Nacional de Lisboa e Biblioteca Central da Marinha Portuguesa. Já recebeu pelos seus trabalhos de pesquisa uma menção honrosa da USP e, na qualidade de co-autor, o prêmio Jabuti e o prêmio Casa Grande e Senzala. Possui farto volume de publicações, em revistas Acadêmicas e na mídia impressa de grande circulação, tal como Jornal do Brasil, Folha de São Paulo e as Revistas Superinteressante e Aventuras na História; participou, como co-autor, de vários livros, como, por exemplo, a obra clássica História das Crianças no Brasil ; é autor dos livros "Por mares nunca dantes navegados", "No tempo das Especiarias" e "Naufrágios e Obstáculos", amplamente citados pela mídia e utilizados como material didático em nível superior.

Fonte:
Colaboração de Douglas Lara. http://www.sorocaba.com.br/acontece
Curriculo Lattes.