domingo, 22 de fevereiro de 2009

Adriana Falcão (O homem que só tinha certezas)

Nem o homem feliz de Maiakovsky nem o homem liberto de Paulo Mendes Campos, resolvi imaginar outra improbabilidade. Digamos que aparecesse agora, justo aqui no Brasil, no Rio de Janeiro, mais exatamente, bem aí na sua frente, um homem que só tivesse certezas.

O homem que só tinha certezas quase nunca usava ponto de interrogação, e em seu vocabulário não constavam as expressões: talvez, quiçá, quem sabe, porventura.

Parece que foi de nascença. Ele já teria vindo ao mundo assim, com todas as certezas junto, pulou a fase dos por quês e nunca soube o que era curiosidade na vida. Na escola, era uma sensação. Mas não ligava muito pra isso não. E cresceu achando muito natural viver derramando afirmações pela boca. Tinha resposta pra tudo, o homem que só tinha certezas, mas o maior orgulho do homem eram as certezas mais duvidosas que ele tinha. A certeza de que o mais fraco ia vencer, de que as coisas iam melhorar, de que o desenganado ainda teria muitos anos pela frente.

A notícia espalhou-se rapidamente. Como ele vivia no meio de pessoas, e pessoas vivem cheias de dúvidas, logo começaram a pedir sua opinião para os mais diversos assuntos, os triviais e os de grande importância, e ele, certo de que podia viver muito bem de suas certezas, virou um consultor. Pendurou em sua porta uma placa onde estava escrito "Consultor de tudo" e o negócio foi crescendo aos pouquinhos. Devido ao boca-a-boca favorável de clientes e a um único anúncio no rádio, passou a atender, sem nenhum exagero, milhares de pessoas por dia, até que limitou o número de consultas diárias para quatrocentos e oitenta, um minuto e meio por pessoa, o que era mais do que suficiente para uma resposta certa desde que a pergunta não fosse muito longa.

Chegava gente do país inteiro e depois de outros continentes, pessoas comuns, pessoas ilustres, todas elas indecisas, mas cada pessoa só tinha direito a uma pergunta por consulta, o que as deixava mais indecisas ainda. Certa vez uma moça chegou na dúvida se devia perguntar primeiro sobre o amor ou o trabalho, no que o homem respondeu, sobre o amor, é claro, senão você não vai conseguir trabalhar direito, e deu por encerrada a consulta. O homem que só tinha certezas aconselhou um garoto tímido a tomar quatro cervejas, encorajou um político receoso a aprovar um projeto esquisitíssimo que se destinava a melhorar a vida dos homens, avisou a uma senhora preocupada com os anos que no caso dela nada melhor do que beijos na boca, desentorpeceu um rapaz doente de amor por uma mulher que gostava de outro, convenceu o ministro da fazenda de que ou o dinheiro era pouco, ou eram muitos os homens, ou ele estava louco, ou alguém tinha se enganado nas contas.

Não demorou muito para se tornar capa de todas as revistas e personagem assíduo dos programas de TV. Para cada pergunta havia uma só resposta certa e era essa que ele dava, invariavelmente, exterminando aos pouquinhos todas as dúvidas que existiam, até que só restou uma dúvida no mundo: será que ele não vai errar nunca? Mas ele nunca errava, e já nem havia mais o que errar, uma vez que não havia mais dúvidas.

Num mundo que só tinha certezas, o homem que só tinha certezas virou apenas mais um homem no mundo. Melhor assim, ele pensava, ou melhor, tinha certeza.

Um dia aconteceu um imprevisto, e o homem que só tinha certezas, quem diria, acordou apaixonado. Para se assegurar de que aquela era a mulher certa para ele, formulou cento e vinte perguntas, que ela respondeu sem vacilar, mandou fazer mapas do céu, exames de sangue, contagem de triglicerídeos, planilhas complicadíssimas e finalmente apresentou a moça à sua mãe e ao seu cachorro. Os dois se amaram noites adentro, foram a Barcelona, tiraram fotos juntos, compraram álbuns, porta-retratos, garfos, facas, um escorredor de pratos, tiveram filhos e tal, e, desde então, por alguma razão desconhecida, o homem que só tinha certezas foi perdendo todas elas, uma por uma. No início ainda tentou disfarçar, por via das dúvidas, quem sabe era um mal passageiro? Mas as dúvidas multiplicavam-se como praga (dúvidas se multiplicam?), espalharam-se pelo mundo, e agora, meu Deus? Deus existe? Existe sim. Ou será que não? Ele não estava bem certo.

Fonte:
FALCÃO, Adriana. O doido da garrafa. SP: Ed. Planeta do Brasil, 2003.

Adriana Falcão (1960)



Solidão é uma ilha com saudade de barco
(Adriana Falcão)

Roteirista e escritora brasileira. Nasceu no Rio de Janeiro, e mudou-se para Recife aos 11 anos de idade. Teve uma história de vida trágica: o pai suicidou e a mãe, um tempo depois, tomou uma dose fatal de comprimidos para dormir.

Formada em Arquitetura, logo após formar-se voltou para o Rio de Janeiro junto com João Falcão, seu marido, que se mudou para lá a fim de fazer teatro. Lá começou a escrever os diálogos, e os atores começaram a gostar de seus diálogos e a usá-los nas peças. Nunca exerceu a profissão de arquiteta, pois logo descobriu sua vocação para a literatura.

Seu primeiro livro, voltado para o público infantil, "Mania de Explicação", teve duas indicações para o Prêmio Jabuti/2001 e recebeu o Prêmio Ofélia Fontes — "O Melhor para a Criança"/2001, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Em 2002, publicou "Luna Clara & Apolo Onze", seu primeiro romance juvenil. Seu romance "A Máquina" foi levado aos palcos por João Falcão. Na televisão, Adriana colaborou em vários episódios de "A Comédia da Vida Privada", "Brasil Legal" e "A grande família", todos da Rede Globo. Adaptou, com Guel Arraes, "O Auto da Compadecida", de Ariano Suassuna, para a TV, posteriormente levado ao cinema.

Outros livros da escritora:“Pequeno dicionário de palavras ao vento” (2003); “A tampa do céu” (2005)-ilustrações de Ivan Zigg e, em conjunto com outros escritores,”Histórias dos tempos de escola: Memória e aprendizado” (2002); “Contos de estimação” (2003); “A comédia dos anjos” (2004); “PS Beijei” (2004); “Contos de escola” (2005); “O Zodíaco – Doze signos, doze histórias” (2005); “Tarja preta” (2005); "Sonho de uma noite de verão" (2007) e "Sete histórias para contar" (2008).

Fontes:
http://www.releituras.com.br/
http://pt.wikipedia.org/
http://www.pensador.info/

Entrevista com Adriana Falcão


Por: Gabriela Cuzzuol em 25 de julho de 2007.

Os detalhes da trajetória de Adriana Falcão, são tão diferentes que poderiam ter sido extraídos de um de seus livros de ficção. Carioca, criou-se em Recife e voltou para o Rio, quando, depois de se formar em arquitetura resolveu passar a vida fazendo algo de que gostasse, ou seja, escrever. Embrenhou-se pelo universo da publicidade, até que Guel Arraes, diretor humorístico, pegou um de seus textos e resolveu utilizá-lo em teatro. Tempos depois, os dois adaptariam para TV e cinema, O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, que acabaria sendo um divisor de águas do cinema nacional.

Mais uma vez, fez o “caminho inverso” , tendo se firmado primeiro como roteirista, cronista e então embarcando para literatura. .Em 15 anos de carreira são 13 livros, 2 adaptações para cinema, uma peça de teatro e três séries para TV, entre as quais A Grande Família no ar há 7 anos e quarta maior audiência da emissora .

Nesta entrevista Adriana fala de sua trajetória, planos futuros e de “Sonhos de Uma Noite de Verão”, adaptação de Shakespeare “bem abrasileirada” assinada por ela:

Gabriela Cuzzuol: Você é arquiteta. Como enveredou pela literatura?

Adriana : Bem, para começar eu detestava muito arquitetura, não tinha nada a ver. Aí conheci o João, que largou o curso e foi fazer teatro. Fui com ele, mudamos para o Rio e eu comecei a escrever diálogos. Os atores de teatro gostavam e começaram a usar em peças.

Gabriela Cuzzuol: Já imaginava poder viver de arte?

Adriana Falcão: De forma nenhuma. Para qualquer menina brasileira era inimaginável viver qualquer forma de arte, imagine para uma que vivia em Recife! Eu sou carioca, mas fui criada lá! Então, trabalhava como redatora publicitária e me considerava bem feliz por poder ao menos, viver de escrever! O João (Falcão- esposo e sócio de Adriana),começou a trabalhar com isso profissionalmente encarando, inclusive as dificuldades da profissão. Eu,
colaborava, mas vivia de publicidade.

Gabriela Cuzzuol: Sim. E da redatora a roteirista...

Adriana: Pois é. Fui convidada a escrever umas crônicas para a “Veja São Paulo”, entre 1994 e 95. O Guel (Arraes) gostou e pediu para usar. Paralelamente, o João trabalhava com teatro e os atores gostavam dos diálogos que eu escrevia. Então foi assim. Até hoje sou especialista em diálogos, Na “Grande família” por exemplo, é essa a minha maior função e quando tenho que fazer adaptação para roteiro trabalho com um roteirista do lado.

Gabriela Cuzzuol: E com o Guel Arraes você adaptou “O Auto da Compadecida” ?

Adriana: Sim, foi. O Guel é um grande amigo e fizemos boas coisas juntas. Acho inclusive que um texto meu ter caído nas mãos dele, foi uma grande sorte minha.

Gabriela Cuzzuol: E o desenvolvimento da sua carreira passa pela do João Falcão, seu marido?

Adriana: Sim, sem dúvida. Fizemos e ainda fazemos muitas coisas juntas. A adaptação da “A Máquina” para teatro é dele a para cinema foi a parceria, a “Comédia da Vida Privada” e “A Grande Família” também No momento estamos adaptando o meu livro “A Comédia dos Anjos” para cinema . Somos casados há 19 anos e muito próximos.

G.C: Adriana, ainda falando de cinema, em sua opinião se fazem poucos filmes no Brasil?

Adriana: Pouquíssimos. Acho que nós estamos vindo de um período negro no cinema nacional, anos e anos sem produção nenhuma, estamos recomeçando todo um trabalho. João e eu sempre estivemos muito próximos a todo o processo de produção de filmes, no ‘A Máquina” por exemplo acompanhamos tudo bem de perto, e acho inclusive que o processo se parece bastante com o de Tv.

G.C: E isso é ruim?

Adriana: Não necessariamente. Existe esse preconceito de que diretor de TV não pode fazer cinema porque fica com cara de TV e isso não tem nada a ver. O cara que está ali fazendo TV há 20 anos tem todo um conhecimento técnico que pode e deve ser aproveitado. O Jorge Furtado, tem como elemento básico no currículo a experiência em Tv. O Guel também agrega as duas coisas e tal...acho isso muito válido. São inclusive dois grandes diretores, que juntam as experiências em veículos diferentes.

G.C:Ainda tratando de cinema, você acha que faltam roteiristas?

Adriana: Faltam , sobretudo bons . Acho que como passamos muitos anos sem produzir cinema, só agora as pessoas estão se interessando em estudar roteiro, aprender a fazer , se interessando mais aprimorar , investindo nisso. Eu acho que falta um pouco de formação, ou melhor que a formação é algo recente. O Guel costuma dizer que difícil no cinema brasileiro não é diretor, mas roteirista. Não é todo dia que eu olhe um roteiro e ache realmente surpreendente. É difícil de encontrar.

G.C: você as chances para estes novos roteiristas? Está mais difícil começar?

Adriana: Nossa, muito. É muito complicado porque você tem que dar sorte. Eu sinto as vezes que as pessoas têm até certa má vontade em ler um roteiro de alguém que está começando, sabe? Você tem que contar com a sorte de fazer um bom contato, de o roteiro cair nas mãos certas,e aí vai... Eu costumo dizer que tive muita sorte na vida, conhecer o Guel inclusive foi uma delas...
Eu não estaria aqui hoje se não fosse por sorte.

G.C:Então você acha que era o seu caminho?

Adriana: Tenho certeza de que em todo o caminho o importante é a persistência.Se você quer, se acredita, batalha porque um dia vai.
Como eu coloquei, há a necessidade de novos roteiristas.Na “Grande Família” trabalhamos com uma equipe de 7 pessoas que vieram da Oficina da Globo e tem dado muito certo.

G.C: O mercado de cinema necessita de maior produção?

O mercado precisa de mais produção, o país tem que filmar mais. Eu acho um prazer ler roteiro de iniciante porque é bom você ver algo novo, diferente, então leio tudo o que cai na minha mão e acho que não é favor.E tem ainda a ver com minha filosofia de “devolver a vida o que ela me deu”. Acho que tenho muita sorte não apenas no profissional, mas também no pessoal, tenho duas filhas lindas, um casamento bacana, uma profissão que amo. Então tenho mais é que me sentir honrada em poder ser gentil com as pessoas, ... não acho que seja favor não. Acho que o nosso cinema precisa de novidade, o nosso país precisa de gente nova , preparada e boa fazendo cinema.

G.C: E falando de literatura Adriana, você acaba de lançar uma releitura de Shakespeare. Como surgiu a idéia?

Adriana: A Editora Objetiva me ligou e falou que tinha o projeto “Devorando Shakespeare”,pelo qual eu, Veríssimo e Jorge Furtado adaptássemos as obras que preferíssemos do autor. Aí, fiquei nervosa duas vezes: primeiro por ser tratar de Shakespeare, segundo por estar ao lado do Veríssimo e do Furtado, que são dois ídolos para mim!
Eu pensei: Nossa, olha a responsabilidade! Vão digitar Veríssimo, Furtado e Shakespeare na Internet e lá estarei eu, ao lado deles! E para piorar, eu não sou profunda conhecedora da obra dele, há outros autores que conheço bem, mas ele não!
Gosto e tudo, mas sei o básico.

G.C:E como foi a opção pelo “Sonhos de uma Noite de Verão”?

Adriana: Pois é, eu gosto muito de realismo fantástico, aquela coisa meio Gabriel García Marques, Vargas Llosa e tal...
Então, pensei em fazer o “Sonhos” por ter essa coisa meio mágica, meio surreal, de quatro noites que parecem uma e no fim é tudo um sonho.

G.C:E a idéia da estória se passar no Carnaval da Bahia, foi simples?

Adriana: Não, foi bem complicado. A idéia da Objetiva era de adaptar o roteiro para uma realidade bem brasileira , então eu pensava, pensava, até que achei que esse negócio de quatro noites que parecem uma poderia acontecer no Carnaval da Bahia.

G.C: Já esteve lá?

Adriana: Sabe que nunca! Ouço falar, os artistas vão e me contam e acho até que nós vemos tanto pela TV que nem precisa ir para saber como é (risos)...

G.C: O “Sonhos...” ironiza essa cultura de celebridades. Coincidentemente, você e João Falcão não são comumente vistos na mídia. É temperamento ou opção?

Adriana: Acho que os dois. Eu sou mais caseira, até porque ando trabalhando demais e quando tenho um tempinho, prefiro curtir a família, reunir os amigos em casa e tal...
João é mais de tocar um violão, confraternizar aqui mesmo. É mais a nossa...

G.C: No Comédia dos Anjos (seu best seller) , você trata das relações familiares. Acha que isso manifesta um traço cultural latino?

Adriana: Totalmente. Eu e João estivemos na França, enquanto fazíamos a adaptação do livro para cinema, e reparamos em como essa relação é diferente lá. Essa coisa do filho em casa aos 30 anos chega a incomodar os pais...Aqui nós choramos quando eles vão embora.

G.C:Ainda falando sobre o “Comédia...”, você diz que ele foi inspirado na sua mãe. São pessoas que te inspiram ou vem mais de situações diversas?

Adriana: Olha tem umas pessoas bem engraçadas que acabam por ser referência.
Tenho um cunhado por exemplo, de quem me lembro quanto estou escrevendo o Agostinho da “Grande Família”. Tipo, ele não tem aquele estilo malandrão, meio irresponsável...mas o jeito “figura” do Agostinho é todo dele. Algo que vi na rua, algo que me contaram...na hora de escrever, vai tudo!

G.C: Você tem livros publicados para o público infantil e infanto-juvenil. Resolveu escrever para este filão por achar que há carência de mercado ou sua forma de narrativa tem elementos que facilitam o contato com esse público?

Adriana: Olha, eu acho que o mercado infanto-juvenil tem uma produção muito pequena. Há muitas coisas para crianças e adultos, mas poucas para aquele período entre uma fase e outra. Mas também acho que meu estilo de escrever tem essa característica de reinventar as coisas, repensar...isto facilita tudo, as coisas mais simples.

G.C: E os próximos projetos, quais são?

Adriana: Bem, João e eu adaptamos para cinema o “Comédia dos Anjos”, que está em fase de produção e terá a Marieta (Severo) como protagonista . Se tudo der certo será lançado em 2008. Estou terminado uma oficina de diálogo, no Teatro Poeira no Rio, que me demandou bastante energia. No fim do mês, quero tirar uns 10 dias para me concentrar apenas na “Grande Família” e depois pensar em futuro com calma.

Fonte:
http://www.overmundo.com.br/overblog/entrevista-com-adriana-falcao

IV Coletânea de Poesia, Conto e Crônica de Canoas (RS), prorroga inscrição até 20 de Março.


A CASA DO POETA DE CANOAS realizará a 4ª edição de sua coletânea de trabalhos literários, com a finalidade de incentivar e promover o talento de seus associados e simpatizantes. A obra abrangerá os gêneros Poesia, Crônica e Conto. A seguir o Regulamento e a Ficha de Inscrição

REGULAMENTO

1. Poderão participar autores do Brasil e de outros países, desde que as obras sejam em Língua Portuguesa.

2. A Casa do Poeta de Canoas receberá os textos da coletânea impreterivelmente até o dia 20 (vinte) de dezembro de 2008 (prorrogado até 20/3/2009), enviados para o e-mail coletanea@casadospoetas.com.br ou via postal para IV Coletânea Casa do Poeta de Canoas - Rua Araújo Lima, 150 - Canoas/RS - CEP: 992010-110.

3. Cada autor poderá participar com número ilimitado de cotas (páginas), ao valor unitário de R$50,00 (cinqüenta reais) para os associados da Casa do Poeta de Canoas e R$60,00 (sessenta reais) para os não associados. Os associados da Casa do Poeta de Canoas que não estiverem com a contribuição mensal em dia, pagarão a cota de não associado.

4. O material enviado por e-mail (textos, ficha de Inscrição e breve currículo) deverá ser digitado em fonte Times New Roman, corpo 12, entrelinhas 1,5, em formato .doc (Word), acompanhado da cópia do comprovante de depósito com a identificação do depositante.

5. Se enviados via postal, os textos, a Ficha de Inscrição e o breve currículo devem também estar gravados em CD (conforme o item 4) e acompanhados da cópia do comprovante de depósito com identificação do depositante.

6. A Ficha de Inscrição (para preenchimento e envio) e o Regulamento estão disponíveis no endereço www.casadospoetas.com.br

7. Os textos deverão ter no máximo a seguinte configuração por página:para cada conto ou crônica: 1ª página - 1.450 caracteres com espaço (toques); a continuação nas demais páginas - 1.650 caracteres com espaço (toques); Cada poesia: 1ª página - 28 linhas com um máximo de 45 caracteres com espaço (toques) por linha; excedendo este número as demais páginas poderão conter 34 linhas com um máximo de 45 caracteres com espaço (toques) por linha. Linhas de espaçamento entre versos são consideradas. Título não contabiliza caracteres nem linhas.

8. Para verificar o número de páginas que o texto ocupará na coletânea, o autor poderá utilizar o e-mail simulador no sítio da Casa do Poeta de Canoas: http://www.casadospoetas.com.br/

9. Por cada cota de R$ 50,00 (sócios) ou R$ 60,00 (não sócios) o autor receberá 3 (três) exemplares da coletânea. O valor da participação deverá ser depositado no Banco Real - Agência 0578 - conta nº 7719931/2, nominado à Casa do Poeta de Canoas - CNPJ 06.284.274/0001-36.

10. Para a participação com 3 (três) páginas ou mais, o pagamento poderá ser feito com até 3 (três) cheques nominais à Casa do Poeta de Canoas descontados até a data limite de 28 de fevereiro de 2009.

11. Os trabalhos serão revisados com autorização dos autores que poderão rever seus textos antes da publicação (através de provão), em reunião a ser marcada especificamente para este fim.

12. Os autores assumem inteira responsabilidade pelos textos e a Casa do Poeta de Canoas reserva-se o direito de recusar textos que configurem plágio, que sejam preconceituosos, de caráter político, étnico, pornográfico ou religioso.

13. Os originais não serão devolvidos.

14. O lançamento da coletânea realizar-se-á em data a ser fixada.

15. A participação dos autores na coletânea dependerá do integral cumprimento do presente Regulamento, cabendo à Comissão Organizadora julgar os casos omissos no mesmo.

E-mail para envio dos trabalhos, Ficha de Inscrição, currículo e comprovante de pagamento
coletanea@casadospoetas.com.br

Saiba quantas páginas ocuparão seus trabalhos!

Para saber com exatidão quantas páginas seu(s) trabalho(s) ocuparão na Coletânea, envie os arquivos (formato .doc - do Word) para o e-mail abaixo. Como cada texto sofre variantes em decorrência de parágrafos e quebra de linhas, a equipe responsável pela formatação da Coletânea fará uma simulação com seu(s) texto(s) e lhe informará o número exato de páginas.
simulador@casadospoetas.com.br

ATENÇÃO - Os textos, depois de realizadas as simulações, serão deletados, não caracterizando o envio oficial para participação na Coletânea. Os textos juntamente com a Ficha de Inscrição, o breve currículo e o comprovante de pagamento devem ser enviados para o e-mail: coletanea@casadospoetas.com.br

Fonte:
Casa do Poeta de Canoas.
www.casadospoetas.com.br

Wagner Ferreira (A Pedra Prole)

A pedra não se rompe nem se arrasta
É sólida, nossa última arma secreta.
Somos peregrinos nas mãos de todos
Sempre excitados para sermos atirados.
A vida: fardo caminho de pedregulhos.
O amor: a mais bela drusa, pepita mais rara.
Sentimo-nos empedrados, orgulhosos.
O mundo: penedo maior, cósmica pedreira.
Em cada sonho, o palpitar do átomo da pedra.
Enfileirando nossas casas, nossas lápides.
Cristalizando em gloriosas estátuas de lepra
Com seixos inférteis, dormentes, impunes.
Pérolas que não se divorciam nem se abortam.
Espreitam tácitas pelos nossos fracassos.
Na iminência elas esperam, se lapidam...
Proliferam pra vencer também nossos filhos.
Se elas falassem e calassem os homens...
Dinamitando a falésia da nossa paralisia,
Que nos transformou em vermes infames...
Ouro de tolo, poeira, veio da própria hipocrisia
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Sobre o Autor
Wagner Ferreira nasceu em Sorocaba, é poeta, romancista, cronista, contista, co-autor das antologias Sorocult e Rodamundo em 2008, também colunista do site Sorocult.com, cursou Direito na Fadi e Letras na Unicoc, é autodidata, acumulando várias atividades no comércio e exercendo várias profissões.
Autor do romance místico, “O caçador de milagres”. Um romance de auto conhecimento, que traz sabedorias milenares para a realidade brasileira.

Fonte:
Cenário Cultural. In http://www.cintianmoraes.com.br

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Neida Rocha (Caderno de Poesias)


PORQUE ESCREVO

Quando as palavras
vem à minha mente,
sinto necessidade
de colocá-las no papel.
Enquanto nascem,
sinto como se eu
as estivessem parindo,
pois doem muito,
mas o resultado
é maravilhoso.
Cada poema
é como um parto dolorido,
mas o fruto destes sentimentos
é um resultado
sem igual,
somente semelhante
ao nascimento
de um filho.
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MEDITAÇÃO

Quando
a tarde
vai embora,
o sol se esconde
e a noite
vem chegando,
surge no céu
a Lua
e as Estrelas.
Então olho
o firmamento,
e meus pensamentos
voam.
Penso
em algo distante
e indefinido.
Não sei
me expressar,
só sinto vontade
de chorar
e agradecer
por viver
e ser
tão
Feliz.
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ESPELHO

Olho no espelho
e percebo rugas
em minha alma.
Ouço minha alma
e percebo que estou só.
Meus fantasmas me visitam
para revelar-me
segredos esquecidos.
Quero gritar,
mas a voz cala,
fragmentada de soluços.
Toco minha pele
e busco a emoção adormecida.
Sinto a brisa do perfume ausente
e então volto à realidade,
pois a vida passou
e somente meus sentimentos
permaneceram.
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ESCREVER

Não escrevo
para me exibir.
Não escrevo
para te agradar.
Escrevo
apenas
e tão
somente
para me olhar.
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APENAS...VIVER

Penso
em pintar,
desenhar,
escrever,
filosofar,
cantar,
desejar,
amar,
sonhar.
E às vezes,
eu penso
se não seria
melhor,
apenas,
viver.
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GESTOS E OLHARES

Quando eu te conheci
não me prometeste nada,
mas teus olhos diziam
o que não falavas.
Teus carinhos demonstravam
o que não dizias.
Hoje teus olhos estão mudos
e teus braços ocupados.
Dá-me tua mão
para que eu te guie
em direção ao meu amor.
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Neida Rocha (1954)


NEIDA ROCHA (Neida da Costa Rocha) nasceu na Vila Harmonia, em Canoas/RS, dia 1º de fevereiro de 1954, Aquariana com ascedente em Peixes, filha de José Lopes da Rocha e Tereza da Costa Rocha, criada entre dois irmãos (Nei e Sidnei).
Em 1966, aos 12 anos sofreu queimaduras de 1º, 2º e 3º graus e em conseqüência, uma parada cardíaca, que deixou cicatrizes em seu corpo e sua alma.
Aos 18 anos foi Rainha do Colégio Comercial Protázio Alves.
Na Páscoa de 1973 seu irmão (Nei) passa pela transição.
Aos 19 anos iniciou a Faculdade de Nutrição (Unisinos/RS) o que interrompeu para casar.
Em 1977, grávida, mudou-se, com o marido, para Blumenau/SC.
Em 1978 deu a luz ao seu primeiro filho, Oliver Ney.
Em 1980 escreveu poema PÁSCOA em homenagem ao irmão falecido.

Era Páscoa!
Tu te foste sem um adeus,
sem uma despedida.
Tu te foste sem palavras.
Tu és sempre
motivo de lágrimas,
pois cada vez que em ti penso,
os meus olhos brilham
e há sempre
uma lágrima
querendo rolar.
Tu fizeste muito,
mas muito mais
poderias ter feito.
Como Jesus,
tinhas seguidores!
Era Páscoa!
Como Jesus,
que ressuscitava,
tu morrias
e nascias para
a Vida Eterna!!!

O poema foi publicado no Jornal Correio do Povo (Porto Alegre/RS), iniciando assim, sua vida literária.
Em 1987 deu a luz ao seu filho, Otávio Luis.
Sofreu alguns abortos e escreveu o poema: ANGEL.

Pequeno anjo
que busca a Luz.
Reflete
o Amor transcendente.
Busca a Paz
no convívio com os seus.
Alimenta-se
do Amor Fraterno.

Aos 45 anos retomou os estudos e aos 50 anos concluiu a Faculdade Letras (Português/Inglês) e aos 53 Pós Graduação (Língua Portuguesa) - FURB/SC.
Eterna Buscadora, é Rosacruz, foi Mestre e Monitora Regional em SC.
Em 2000 sua mãe sofreu um AVC e perdeu o movimento do lado direito do corpo e 80 % da fala. Para ela, Neida escreveu o poema: MÃEZINHA.

Tua Metade adormeceu!
Tua voz calou!
Teu braço caiu!
Tua perna parou!
Estás incompleta!
Estás pela metade!
No entanto,
teu coração está vivo
e a metade que funciona
é justamente onde está teu coração.
Agradeço por poder te dedicar
uma parcela do amor,
que tanto me dedicaste.
Sei que tudo isso é passageiro
e que tua garra e tua vontade
te levantarão mais cedo
do que todos pensam.
E sem ter que provar
nada, a ninguém,
breve estarás “inteira”.
E quero ainda dizer-te,
que mesmo estando incompleta,
és mais completa do que muitas “perfeitas”!

Em 2006, os pais visitaram a filha para o casamento de Oliver.
Seu pai, que cuidava de sua mãe, passou pela transição, me Blumenau, 5 dias antes do casamento do neto. Para o pai, Neida escreveu o poema: MEU PAI.

Meu pai não me pariu.
Meu pai não sofreu as dores do parto.
Meu pai não me amamentou.
Minha mãe padeceu no paraíso
e meu pai estava na porta.
Meu pai foi meu ídolo.
Meu pai foi meu algoz.
Meu pai foi meu sustento.
Meu pai calou nos momentos certos
e falou nos momentos necessários.
Meu pai deu-me sua bênção.
Meu pai foi um exemplo.
Meu pai plantou uma árvore.
Meu pai teve um filho, ou melhor, três.
Meu pai escreveu um livro.
Meu pai perdeu um filho.
Eu pari o livro do meu pai
e dei a luz aos meus dois filhos.
Meu pai foi sábio.
Sou o reflexo do meu pai.
Sou o reflexo do seu reflexo.
Meu pai, EU TE AMO!

Em 2007 abandonou um casamento de 32 anos e por isso alterou seu nome literário (Neida Wobeto).
Após 30 anos residindo em SC, retornou a sua terra Natal.
Hoje Neida alia as tarefas de cuidar da mãe com a prática literária.
Tem 8 publicações individuais e participação em 46 Antologias com Contos, Crônicas e Poemas.
EFEMÉRIDES (Poemas - 60 páginas - News Print - Xanxerê/SC – 2007)
MINHA NÃO METADE (Poemas - 110 páginas - Odorizzi - Blumenau/SC - 2005)
DANILO, SUA MOCHILA E SEUS AMIGOS (2ª ed. – revisada - Infantil - 32 páginas
Odorizzi - Blumenau/SC - 2004)
DANILO, SUA MOCHILA E SEUS AMIGOS (Infantil - 24 páginas - Nova Letra - Blumenau/SC - 2002)
SINTO MUITO AMOR (CD de Poemas - 23 poemas - 2002)
SENTI(MO)MENTOS (Poemas - 40 páginas - C.N.Editoria/ - Piracicaba/SP/2000)
CONTRONICAS (2ª edição) (Contos e Crônicas - 32 páginas - C.N.Editoria/ - Piracicaba/SP/2000)

Prêmios

Em 1999 - Menção Honrosa Conc. Conto sobre Animais da APA com o conto ILUSÃO.

Em 1999 - Menção Honrosa 1ª Conc Poemas da CAPOSAN com MEUS MEDOS.
Tenho medo
do esquecimento.
Tenho medo
de ser esquecida.
Tenho medo
que me esqueçam.
Quero estar viva
no coração
das pessoas que amo.
Quero estar presente
na lembrança dos meus.
Quero saber
que me amam.
Quero que sintam
minha presença,
em minha ausência.
Quero que me amem.


Em 1999 - Destaque Especial 1ª Concurso de Poemas da CAPOSAN pelo conjunto das obra: UMA MULHER DE MUITOS HOMENS, MEUS MEDOS E COBRANÇAS.

Em 1999 - Destaque Especial 1ª Concurso de Poemas da CAPOSAN com poema UMA MULHER DE MUITOS HOMENS.
Sou uma mulher de três homens.
Do mais velho sou a amante.
Do mais novo sou o amparo.
Do terceiro sou a cúmplice.
Para o mais velho dou prazer.
Para o mais novo dou carinho.
Para o terceiro dou conselho.
Do mais velho quero amor.
Do mais novo quero afago.
Do terceiro quero amizade.
Mas a todos quero amar
sem medir meu amor.

Em 2000 - Menção Honrosa IV Conc Internacional de Prosa – Mogi das Cruzes/SP.

Em 2002 - Menção Honrosa Sociedade Escritores de Blumenau.

Em 2002 - troféu Coruja, Clube Escritores Piracicaba/SP com o poema: TEU CHAMADO.

Em 2002 - 1º lugar no VIII PRÊMIO POESIA E DESENHO LILIA A PEREIRA DA SILVA
Prefeitura Municipal Itapira/SP com o poema: TEU CHAMADO.
Ouvi teu chamado!
Aqui estou!
A tarde é calma!
Minha alma é serena!
Não estamos próximos, fisicamente,
mas posso sentir tua presença.
A natureza nos une,
pois o ar que respiramos é o mesmo.
O sol que nos aquece é único.
Minha solidão é profunda,
mas gostosa de sentir.
Fecho os olhos
e sinto tua presença.
Teu clamor
chega a minha alma.
Sinto que me chamas.
Eu te respondo
e te aguardo,
para juntos realizarmos
o que já vai em nossas almas.
Quando te encontrar,
não serão necessárias palavras,
mas somente
o murmurar dos nossos olhares,
a serenidade do nosso toque
e a profundidade do nosso beijo.

Em 2003 - 3º lugar do Concurso Piracicaba com o Poema: VIAGEM ASTRAL
Planas sobre mim,
querendo descansar
teu corpo etéreo
sobre o meu físico.
Consegues me localizar
somente pela luz
da minha essência.
Queres partilhas
teus momentos comigo.
Nossas almas se encontram
e seguimos, de mãos dadas,
pelo espaço aéreo,
divagando lentamente,
deslizando suavemente pela noite.
Somos energia da mesma essência.
Somos feitos da mesma matéria
que não é física.
Nossa matéria-prima é o amor.
Quando estamos juntos,
em pensamento,
nossas almas se soltam
e flutuam pelo sempre.

Em 2003 – Destaque Literatura Infantil Sociedade Escritores de Blumenau.

Em 2004 – Menção Honrosa VI Concurso Nac. e Internac. De Contos e Poesia Nuno A Pereira Rio de Janeiro poema PORQUE SOU POETA.
Porque busco viver
os sentimentos da vida,
acreditando na felicidade
como meio para a vida.
Porque sinto a beleza de estar viva,
querendo apenas sentir o sabor do amor,
ouvindo a brisa que desce lentamente,
entregando minha alma ao cósmico.
Porque acredito que a vida vale a pena.
Porque sonho acordada
e vivo o sonho de ser feliz.
Porque vivo a felicidade eterna
com lacunas de alegria.
Porque agradeço
o poder de sentir e a liberdade
de dizer meus sentimentos
com a emoção de estar viva.

Em 2004 - 1º lugar do Concurso do Dia dos Namorados (Programa Conexão Direta, da TV Galega/SC) com a frase:
“SINTO SAUDADE DO QUE NUNCA DISSESTE”

Em 2005 Moção de Louvor Câmara Vereadores Blumenau/SC.

Em 2006 - 1º lugar Concurso Poemas nos Ônibus, em Gravataí/RS com CACHECOL.
Nas malhas da vida,
ponto a ponto,
tracei meus sonhos.
Fundi meus sentimentos
na rede de ilusões.
A malha trançada
resultou em longos braços
que se cruzam
para afagar-te.
Fecha os olhos
e sente meu abraço distante,
acompanhado pelo
aroma do meu amor.

Em 2006 - Troféu Gigantes em Blumenau/SC

Em 2006 – Comenda Letras Catarinenses.

Foi Presidente da Sociedade Escritores de Blumenau (2005 e 2006), publicou três livros da entidade (Um Rio de Letras II, III e Histórias de Natal) e mediou junto ao Prefeito, o espaço para as Artes e Letras (Kunstgarten) em Blumenau/SC.

Foi Vice-Presidente do Conselho Municipal de Cultura de Blumenau/SC (2007).

Em 2007 concorreu à vaga da Academia Catarinense de Letras.

Em 2008 - Menção Honrosa II Concurso Nacional de Poesias da Academia Itajubense Letras: VIVER SOLITÁRIO

Teu viver é solitário.
Buscas refúgio na labuta diária
ocupando teus dias
com tarefas necessárias.
Tua mente busca refúgio
no labirinto da memória,
desejando visualizar
a imagem transparente da mocidade.
Tens consciência da solidão
e permites divagar
nas veredas cintilantes do irreal,
procurando encontrar minha alma
no portal do alvorecer.
Nosso encontro
é concretizado em sonhos
e vagamos pelo etéreo,
confiantes
da concretude
do amor maior,
com a certeza
de que o amor
é transcendente.

Em 2008 - Participação no CONCURSO POESIA NO ÔNIBUS - 2008 da Casa do Poeta de Canoas em parceria com a Secretaria Municipal de Transportes de Canoas e Empresa de Transporte Coletivo SOGAL, com o pomea: BALA ACHADA.
Foi dada a partida!
O tiro foi ouvido
e seu som ecoou nos tímpanos.
O projétil seguiu seu caminho
e cumpriu seu destino
sem saber qual sua missão.
A violência urbana reflete a carência de sentimentos.
A bala inocente segue seu caminho
sem desviar-se de seu propósito.
A retidão (caminho reto) de conduta
deveria ser humana,
mas é a bala perdida que alcança seu objetivo
enquanto os homens desviam-se do seu,
até serem atingidos por uma bala achada.

Em 2008 recebeu o 10º lugar no XXVI Concurso Internacional Literário, na categoria de Poesia da Edições AG. com o poema ENTRE O NASCENTE E O POENTE e o O CAMINHO DE CADA UM.
ENTRE O NASCENTE E O POENTE
Entre o nascente
e o poento do Astro Rei,
as vidas se transformam.
Surgem novos amores,
novos valores
e a vida muda de cara.
Para muitos,
a rotina é a mesma,
dia a dia.
Para outros,
acontecem revoluções.
Vivemos a dualidade.
Podemos escolher as mudanças
ou aceitar o destino.
Ao findar de cada dia
somos diferentes.
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O CAMINHO DE CADA UM
Sigo um caminho
que foi traçado,
muito além do meu entender.
Fico horas meditando,
procurando uma resposta.
Tenho sede de saber.
E pergunto a mim mesmo,
por que sou feliz ou infeliz.
Sinto fome de viver.
Mas como sei que tudo passa,
só não passa o meu saber.
Fico horas meditando,
sem saber como e porque,
mas de tudo eu concluo,
sou eu que faço o meu caminho,
eu não posso ser você.
Já pensei em minha vida,
querendo ela mudar,
mas enquanto a vida passa,
não consigo mudar nada,
pois tudo que nela eu passo,
paro e penso:
"que o meu caminho eu traço",
e nesta vida sigo em frente,
eu só quero é viver.

Em 2008 recebeu "Troféu Coruja" - 2º lugar na Categoria Especial no X Concurso Nacional de Poesias do Clube dos Escritores de Piracicaba/SP com o poema "INTERNET DA NATUREZA".
Meu escritório é a praia.
Meu computador é o mar.
A Internet é invisível
e a conexão é perfeita
e permanente.
As ondas emocionais
fazem com que eu
comunique-me
com meu interior.
As mensagens são ouvidas
no interior de mim mesma.
Não envio mensagens
a ninguém em especial
e sim à humanidade.
Minha caixa
de mensagens recebidas
é infinita.
A mais importante de todas
é a assinatura personalizada
refletindo minha alma.
O papel de carta
de meus textos
é a Paz Profunda.

Em 2008 foi selecionada para a 17ª edição do Concurso Poemas no Ônibus e no Trem com o poema SONS DA NOITE.
Os sons da noite
me acalentam.
A brisa suave
envolve
meu corpo.
Ouço a madrugada.
Fecho os olhos
para pensar.
O dia inicia
com os mesmos
questionamentos
.

Em 2008 ficou entre os 20 finalistas do Prêmio UFF de Literatura com a crônica CARTA A MINHA NETA ADULTA (conversa de mulher para mulher).Em 2009 premiada no IV Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus de Poesia/2008 com o poema: REENCONTRO DE ALMAS
Nossos caminhos se cruzaram
e surgiu a amizade sincera.
A estrada solitária
refletia as emoções sentidas.
O destino nos afastou
e seguimos adiante.
Mesmo fatigados
e cobertos de chagas,
reflexo do sofrimento,
nos visitávamos em sonhos.
Nossa distância era rompida
pelos caminhos solitários
da tristeza adormecida.
Outro desatino abraçou-nos
e entre lágrimas nos consolávamos.
A distância desapareceu
e a virtualidade aproximou-nos.
Resgatamos a saudade
e o sentimento adormecido
despertou pulsante
enquanto aceitávamos
ressurgir das cores vibrantes,
reflexo da certeza infantil
na alegria madura.

Fonte:
http://www.neidarocha.com.br

I Concurso Pontos de Leitura



Todas as regiões brasileiras encaminharam iniciativas culturais ao MinC

As regiões Sudeste e Nordeste tiveram uma participação intensa no Concurso Pontos de Leitura 2008 - Edição Machado de Assis, realizado pelo Ministério da Cultura, por meio da Coordenação-Geral de Livro e Leitura.

A comissão de avaliação, composta por 15 titulares e 10 suplentes, reuniu-se em Brasília no início do mês de dezembro e aprovou 516 iniciativas de todo o país que promovem a prática da leitura dentro das mais diversas comunidades. Vários foram os critérios observados pela comissão, como, por exemplo, ações que democratizam o acesso ao livro e ações que também envolvam a comunidade na gestão do projeto.

Números

Do total de 702 inscrições efetivadas, 274 vieram do Sudeste, que alcançou 39% de participação no concurso. Foram selecionados 207 projetos da região, dos quais 113 são de Pessoas Jurídicas e 94 de Pessoas Físicas.

O estado de São Paulo teve aprovadas 84 iniciativas; Minas Gerais, 59; Rio de Janeiro, 47; e o Espírito Santo, 17.

O Nordeste também apresentou números bastante expressivos no concurso: 245 iniciativas inscritas, das quais 189 foram aprovadas (124 de Pessoas Jurídicas e 65 de Pessoas Físicas), o que garantiu que chegasse à marca dos 35% de participação.

Os nove estados da Região Nordeste tiveram o seguinte resultado em termos de iniciativas selecionadas: Alagoas (16); Bahia (40); Ceará (43); Maranhão (12); Paraíba (16); Piauí (8); Pernambuco (31); Rio Grande do Norte (19); e Sergipe (4).

A Região Sul teve 12% de participação no concurso. Foram 81 inscrições de projetos, dos quais 48 foram selecionados: Paraná (11); Santa Catarina (8); e Rio Grande do Sul (29).

As demais regiões brasileiras - Centro-Oeste e Norte - tiveram a mesma porcentagem de participação: 7% cada uma. O Centro-Oeste inscreveu 49 trabalhos e teve selecionados 30, sendo 11 do Distrito Federal, 8 do Mato Grosso; 7 de Goiás; e 4 do Mato Grosso do Sul.

Da Região Norte foram efetivadas 50 inscrições e aprovadas 44 iniciativas, sendo 7 do Acre; 2 do Amapá; 10 do Amazonas; 14 do Pará; 5 do Tocantins; 4 de Rondônia; e 2 de Roraima.

Critérios

Um dos mais importantes critérios observados para a escolha das iniciativas relaciona-se aos locais de execução das ações, que prioritariamente devem ocorrer nos municípios atendidos pelo Programa Territórios da Cidadania, nas áreas do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) e outros lugares prioritários do Programa Mais Cultura.

Os trabalhos selecionados incentivam a prática da leitura em locais como pontos de cultura, hospitais, presídios, associações comunitárias, residências e outros lugares, conforme mencionado em um dos itens da portaria que o instituiu - Portaria nº 60, assinada pelo ministro Juca Ferreira e publicada no Diário Oficial em 25 de setembro de 2008.

Os responsáveis pelas iniciativas aprovadas vão receber no próximo ano 500 livros, mobiliário básico e computador, visando à renovação/ampliação do acervo.

Fonte:
Gláucia Ribeiro Lira CGLL-Minéstiro de Cultura. In http://www.cultura.gov.br/site/2008/12/26/i-concurso-pontos-de-leitura-3/

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Antonio Roberto de Paula (Campeonatos da vida)



- Tem fogo?

- Tenho.

- Obrigado. Quer fumar?

- Não, fumei agora.

- Que fila, não?

- Já entraram uns trinta.

- E são só cinco vagas.

- Eu tô aqui de bobeira. Não tenho experiência.

- Trabalhei só uns três meses nisso, mas não tem mistério.

- Então você tem mais chances do que eu.

- Sei não. Depois dos 40 o pessoal tem má vontade.

- Que 40 nada. Com 35 já te olham meio atravessado.

- Faz tempo que você tá parado?

- Você diz: sem registro?

- É.

- Uns três anos.

- Eu já faz quatro. Só bico.

- Igual eu. Já vendi cartela de bingo, confecções, fita K-7. Até pão feito em casa eu já entreguei de bicicleta. Agora tô ajudando um amigo a construir uma casa. Não manjo nada. Fico o dia inteiro empurrando carriola e carregando balde de massa.

- Eu tô recolhendo jogo de bicho. O duro é que nunca fui bom de moto. Já passei cada sufoco. A gente tem horário. Sabe como é, né?

- Me avisa quando você for sair deste trampo.

- Tá a fim de encarar?

- Não, é pra um sobrinho meu. O cara é bom de moto e fica o dia inteiro coçando lá em casa.

- Tá, mas do jeito que a coisa anda, acho que não vou sair tão cedo.

- O que você fazia? Qual era a tua profissão de verdade?

- Jogador de futebol.

- Cê tá brincando?

- Não, é sério.

- Jogou onde?

- Interior de São Paulo.

- Em que time?

- Num monte. No Bragantino, Marília, Garça, Linense, Jaboticabal, Paraguaçuense...

- Você jogou no Bragantino?

- Mas saí um pouco antes do Luxemburgo chegar. Lembra daquele time que foi campeão paulista em 90? Tinha o Mauro Silva, Alberto, Mazinho, Gil Baiano, o Tiba...

- Lógico que lembro. Ganhou do Novorizontino na final. Gol do Tiba.

- Pois é. Joguei com aquele pessoal todo.

- Sério?

- Só que fui dispensado um pouco antes. Mas me considero um campeão paulista.

- Como é que é teu nome?

- No futebol a turma me chamava de Índio.

- Não vai me dizer que você é o Índio que jogou no Coritiba, que fez o gol do título brasileiro de 85, na final com o Bangu, no Maracanã?

- Não, aquele é o meu xará.

- O Londrina também tinha um...

- Não, nunca joguei lá.

- Já sei. Você é o zagueiro Índio que começou aqui, no Grêmio Maringá, e virou Ademir no Atlético Mineiro.

- Também não. Este é bem mais novo do que eu.

- Ah, me desculpe, mas não tô lembrado de você.

- Lembra a final do Paulistão de 85?

- Se lembro. O meu São Paulo detonou a Portuguesa. O Cilinho era o treinador. Tinha o Muller, o Silas, o Sidnei... Um timaço. Mas, o que é que tem a ver?

- Joguei a preliminar daquela decisão.

- Como é que eu vou me lembrar de preliminar de decisão?

- Cara, o Morumbi estava lotado. Fiz uma jogada pela lateral...

- Você jogava de lateral?

- Na direita.

- Então você é o Índio que começou no Santos, passou pelo Palmeiras, foi para o Goiás...

- Não, não. Este é outro. Deve estar jogando ainda. Mas como eu estava falando, avancei pela lateral passei por dois e cruzei na medida para o nosso centroavante fazer de cabeça. O Morumbi veio abaixo. Acho que fui um injustiçado. Cruzava melhor do que o Cafu.

- Grande vantagem cruzar melhor do que o Cafu.

- Acho que perdi pelo menos uns quinze anos da minha vida atrás da bola. Não tenho nem a 7ª Série.

- Não esquenta, não. Pelo menos você conheceu muita gente. Valeu como experiência de vida. Melhor do que eu. Fiquei afundado nesta cidade, conheço meio mundo aqui e não consigo um trampo de 300 paus.

- Você trouxe referências?

- Um monte. Mas acho que não vou conseguir emprego nem com o prefeito indicando.

- Tem que ter fé.

- Dê uma olhada para trás. Tem mais de cinqüenta na fila. Como é que você vai competir? Pode crer que tem cara formado aí atrás.

- Formado e que fala inglês.

- E morou nos Estados Unidos e na Europa.

- E não tem mais que 25 anos.

- Vou cair fora da fila.

- Agüenta aí.

- Quer um conselho: sai da fila também. É perda de tempo.

- Não, vou esperar. Vai que o cara lembra de mim.

- Esquece. O que tem de Índio jogando por aí e você é o Índio mais desconhecido de todos. Eu, que acompanho futebol, não me lembro de você. Imagine se eles vão saber quem você é. Além do mais, eles não estão precisando de gente pra cruzar bola.

- É, vamos embora. Tem uma loja de calçados que tá precisando de um vendedor e um faturista.

- Vendedor e o quê?

- Faturista.

- Vamos lá que eu vou pedir esta vaga de vendedor. Cê foi campeão alguma vez?

- Só de torneio início. Mas na 2ª Divisão Paulista nosso time chegou entre os quatro.

- Existem pessoas que nasceram para ser campeãs. Outras, não. Entram somente como figurantes.

- É a vida, meu caro, é a vida.

(livro Da minha janela, publicado em 2003)

Fontes:
http://blogdodepaula.blogspot.com/
Desenho = http://jardimdeurtigas.blogspot.com

Ulisses Tavares (Um Dia Típico de Um Escritor Brasileiro)



Há mais de quarenta anos (estou com 56, comecei cedo, aos 9) que me revezo entre oito profissões para ganhar a vida.

Me acostumei a, quando me interessa e preciso, exercer uma ou outra atividade e muitas vezes fazer tudo ao mesmo tempo.

Tenho sido jornalista, professor de pós-graduação, compositor, dramaturgo, roteirista de cinema e televisão, criativo publicitário, marketeiro político e treinador de executivos em web business e criatividade.

Nos intervalos, nunca deixei de ser poeta e, talvez por isso, ter uma montanha de livros de poesia para crianças, jovens e adultos, e estar com mais de quatro milhões de exemplares vendidos, o que, no Brasil, até a mim espanta.

Daí, de três anos para cá, resolvi ser apenas escritor profissional.

A decisão foi difícil mas estou satisfeito pelo seu principal efeito colateral: como meu status caiu de um carro importado para um fusquinha, nunca mais serei rico a ponto de atrair mulheres interesseiras.

Quem me amar vai me amar pelo que sou: um poeta tupiniquim, apaixonado, mas durango.

Meio chato é quando novos conhecidos me perguntam minha profissão e eu respondo que sou poeta.

Inevitavelmente, vem a pergunta seguinte:

- Tá bom, mas você trabalha em quê?

Como poeta não trabalha mesmo nunca, segundo o senso comum, acordo eu bem cedinho disposto a escrever meu artigo para esta revista, já atrasado.

Mas, antes, abro os e-mails e vejo se tem alguma coisa urgente para resolver.

Tem várias, pela ordem:

Uma editora não quer aceitar meu contrato de um novo livro porque não abro mão dos 10% de direitos autorais. Como a maioria dos escritores possui outra fonte de renda paralela, também a maioria das editoras se acostumou a pagar menos de 10% já que o autor não vai depender dessa renda para sobreviver. Ou seja, escritor brasileiro é mal pago por culpa dele mesmo, tsc, tsc.

Outra editora alega que é impossível adiantar um dinheiro para que eu escreva um livro histórico, ou seja, um projeto que vai me consumir um ano inteiro. Ao contrário dos estados desunidos e das ôropas, aqui a editora lança uma porção de livros sem custo autoral inicial. Se colar, colou. Se for sucesso, ótimo. Lá fora, o critério é mais rígido. Lança-se menos títulos, mas se investe no projeto do escritor rotineiramente. O Brasil é um dos países que maior quantidade de livros edita no mundo. Mais de 10 títulos novos por dia! E as tiragens são cada vez menores.

E finalmente outro e-mail me informa que minha agente literária é uma chata porque teima em discutir item por item dos meus contratos. Traduzindo: a Maria Moura, minha agente, é uma pentelha porque é profissional cuidadosa. As editoras gostam de escritor que assina tudo sem ler nada, como eu já fiz muitas vezes.

Para não ficar ainda mais careca de preocupação com esses problemas que já estou careca de saber, deixo de lado e me concentro em escrever.

Nem começo e já sou interrompido por dois telefonemas:

O primeiro, um convite para bolar um artigo para uma revista de educação, dirigida as professoras. Pedem minha compreensão para o fato que só podem pagar cem reais pelas quatro páginas de texto. Olho o pedreiro que contratei para consertar as telhas estragadas pelas últimas chuvas em Sampa, com inveja. Ele está me cobrando o preço de 3 artigos da revista!

O segundo telefonema é um convite da secretaria de cultura para um mega evento de poetas e escritores paulistanos. Acontecimento bonito, bem organizado e bem divulgado. O único detalhe dissonante é que o edital não prevê nenhum cachê para os participantes. A alma da festa não irá receber um tostão para o pão nosso de cada dia. Escritores e poetas devem se contentar com os aplausos, desde que tenham dinheiro para a passagem até o palco, claro.

Mas vamos escrever que essa é a vida que escolhi e quis.

Paro na primeira frase porque chegou o carteiro com uma pilha de cartas. Nenhuma cartinha simpática de leitor. Nenhum cartão de feliz aniversário atrasado. Apenas contas a pagar e malas-diretas me oferecendo cartões de crédito. O correio eletrônico tornou o carteiro apenas um portador de más notícias!

Desanimado, leio que esqueci de pagar uma conta de IPTU de anos atrás. Mas posso ficar tranqüilo que a Prefeitura me oferece parcelamento da dívida. Desde que eu perca metade do dia indo até a tesouraria, evidente!

E nem isso posso fazer porque meus rendimentos de direitos autorais não cobrem o valor do IPTU. Acho que nem minha modesta casa vale tanto assim. Como são férias escolares, meus livros infanto-juvenis despencam nas vendas. Há muito tempo que as escolas, via programas do governo, são as únicas e principais compradoras de livros infanto-juvenis. E evidentemente não compram nas férias. E se amanhã o governo deixar de dar verbas para aquisição de livros para distribuição gratuita aos alunos, a maioria das editoras fecha as portas em seguida. Todos os envolvidos nessa questão, se fazem de cegos em tiroteio. Afinal, é chocante saber que em mais de uma década de distribuição gratuita de livros para estudantes de escolas públicas…não se formou um leitor a mais! Simplesmente porque a educação continua uma porcaria frita e os alunos, coitados, mal passados, não aprendem a ler. Sem saber ler, vão fazer o que com os livros que ganham? É como dar rapadura para um banguela. Simples e trágico assim.

Já que não consigo escrever o artigo para a Revista Discutindo Literatura, relaxo e vou para o lançamento de amigos escritores num bar de Vila Madalena. Vai ser bom rir um pouco que não sou de ferro e minha coluna muito menos. Tenho a popular “coluna de escritor”. De tanto escrever horas a fio com a coluna torta, o escritor é um candidato à corcunda de Notre Dame.
O lançamento é interrompido violentamente, o bar fecha as portas, todo mundo sai correndo porque o PCC acabou de incendiar um ônibus na rua ao lado.

Volto pra casa, ligo a televisão e vejo o governador dizendo que a violência está sob controle, que ataques dos bandidos não irão intimidar as autoridades. Como não sou autoridade…fico intimidado.

O dia está terminando e talvez dê tempo de escrever, afinal este é meu ofício.

Mas, humanamente, durmo.

Quem sabe amanhã eu acorde e resolva mudar para uma profissão menos folgada que esta de típico escritor brasileiro.

Sei que minto para mim mesmo, para me consolar.

Escrever, para quem gosta, já não é ofício. Rimando sem querer, é um vício.

Fonte:
http://www.ulissestavares.com.br

Miriam Mermelstein (Sobre o gosto da leitura na escola)



A autora enumera alguns pressupostos para a introdução dos alunos no mundo da literatura, como a importância de ter um ambiente cultural no qual o livro esteja presente, de ampliar o repertório do aluno apresentando-o a uma diversidade de gêneros textuais, de ensinar a ler com prazer, de respeitar as escolhas dos jovens diante do universo desvelado pelos livros. Aborda ainda a estreita ligação entre o ler e o escrever, oferecendo sugestões de exercícios para o desbloqueio da escrita criativa.

O professor de literatura e crítico literário, Carlos Felipe Moisés, com quem estudo há 10 anos, na apresentação de seu livro “Poesia não é difícil” cita questões muito comuns de serem ouvidas na escola: ‘Como posso gostar de poesia se não a entendo?’ ‘E como entender sem gostar?’

Ficamos em um círculo vicioso, uma armadilha, afirma o autor, pois como saber se gostamos (ou não) se não a conhecemos? Aí entra o papel do professor educador e mediador da cultura em introduzir novos conteúdos e novas experiências no mundo do aluno.

Mas como? Eis a questão crucial. O objetivo deste texto é enumerar alguns pressupostos e algumas atividades de linguagem como idéias a serem adaptadas por vocês, professores, em seus planos.

Um pressuposto refere-se à significação de um ambiente cultural na formação do leitor. Desde muito pequenos, os alunos podem ‘ler’ textos, entendido o verbo de forma não literal: quando o professor lê para a classe, quando o aluno conta suas vivências na roda, quando o aluno ouve o colega contar ou descrever algo, quando o aluno ouve uma cantiga e sua letra, quando o aluno ‘lê’ ilustrações de um livro, quando ele tem acesso constante aos livros da sala ou da biblioteca, quando sabe que a leitura é uma atividade valorizada pelo professor.

Sabemos das dificuldades de obtenção e veiculação de livros nas escolas. Bibliotecas sem bibliotecários, livros não tombados e, portanto, não passíveis de circulação, mas sabemos também que existem outras formas de contornar essa situação. Saraus, pedidos em editoras, mutirões do livro, de organização das salas de leitura, feiras culturais, intercâmbios entre classes, cartas a autoridades competentes, etc. são alguns dos recursos que a escola deve utilizar para garantir o acesso do aluno ao livro.

Outro pressuposto refere-se ao grau de complexidade dos textos e das atividades com textos. Não devemos poupar os alunos de novos desafios. A função da escola é ensinar novidades, ampliar o repertório do aluno com exposição de maior diversidade de gêneros textuais. A dosagem e as exigências serão planejadas considerando que a formação do leitor é um processo de amadurecimento. Quanto antes começar, mais sentido fará na vida do aluno-leitor.

O livro é um objeto inserido em um contexto. Tem autoria, propósito, um tempo e um espaço delimitado (de criação e de circulação). Saber sobre o autor e sua época, conhecer suas condições de produção ajuda a inferir sobre outros tempos e outros espaços. Um exercício interessante é o de comparar textos literários de uma mesma temática, mesmo local e épocas diferentes, ou textos oriundos de culturas diferentes abordando o mesmo tema. “É a polifonia e a pluralidade contra o monólogo e a palavra autoritária”. (Sonia Kramer, 2001). Por exemplo, mixar conteúdos da História com textos literários também é um recurso em que ambas as áreas ficam enriquecidas.

Sabemos que a escola tem um plano a cumprir e dentro dele as atividades de linguagem que devem ser realizadas e avaliadas. Ensinar a ler com prazer, a tirar proveito pessoal da leitura esbarra quase sempre na questão do número de alunos na sala para acompanhar e na dificuldade em avaliar objetivamente o aproveitamento, o prazer e a fruição. Mas sem paixão não avançamos. Principalmente quando pisamos na seara da literatura. Ensinar as características estruturais dos gêneros, as combinações lingüísticas possíveis em um texto, a organização das palavras, a comunicação de idéias não devem matar o prazer, não podem impedir que a leitura faça sentido pessoal e íntimo na vida do aluno.

Outro pressuposto é respeitar a escolha do aluno. Imaginem uma pequena cidade em que seus habitantes só conhecem comida brasileira. Vivem tranqüilos sem saber ou sem querer saber o que existe de diferente lá fora. Aí chega um grupo de imigrantes do Oriente trazendo seus costumes, temperos e especiarias. O que pode acontecer?

A – os dois grupos não se comunicarem.
B – os dois grupos trocarem suas especificidades e criarem um terceiro grupo.
C – os dois grupos aceitarem as mútuas contribuições, mas manterem sua identidade.

Esse é um exemplo do que pode acontecer com quem tem contato com o conhecimento. Transformação. Mas não acontece de imediato, nem uniformemente. É um processo e, como tal, é variável. Especificamente na arte, e dentro dela na literatura, esse processo tem finalidade de aumentar a autoconsciência humana. “A literatura é um autêntico e complexo exercício de vida, que se realiza com e na linguagem”. (Nelly Novaes Coelho, 2000)

As possibilidades combinatórias são muitas e cada um responde de acordo com sua história, seus sentimentos e possibilidades.

Imaginem agora se todas as pessoas da mesma cidade só conhecessem histórias de saci e lobisomem. Chega na cidade o grupo do Oriente trazendo histórias de califas e odaliscas, nunca antes ouvidas.

Respondam: o que pode acontecer?

Essas analogias nos permitem entender o que muda quando o novo penetra em nosso mundo, as dificuldades de aceitação, o acréscimo que pode significar e a mudança que pode provocar.

Existe uma estreita relação entre produção de textos e leitura. Segundo Beatriz Citelli (2001), a escrita constante pode despertar maior interesse pela leitura. O pressuposto subjacente é que durante o percurso da escrita, os alunos tendem a se expressar cada vez melhor com menos clichês e mais identidade.

Nem tudo que nos apresentam ou que conhecemos tem unanimidade. Podemos falar em tendências, cada classe social, cada bairro, cada sala de aula têm características próprias pois vivem histórias de vida similares. Assim, o professor pode dizer: ‘- minha classe gosta de livros de aventuras’, ou ‘minha classe adora gibis’, como um bloco, mas devemos oferecer opções e respeitar as diferenças.

A leitura e a escrita são, portanto, construídas ao longo da vida escolar com respeito à individualidade, incentivo à narração pessoal, desejo de ser lido ou ouvido.

Os passos da escrita criativa:

1 – narrar e escrever tudo e sempre como uma rotina escolar.

2 – encontrar com o professor e colegas um assunto de interesse para escrever.

3 – começar com o que Lucy McCormick Calkins (1986) chama de ensaio, uma primeira escrita.

4 – esboço ou desenvolvimento da escrita. “Ponha no papel”, diz o escritor William Faulkner, “aproveite a chance. Pode ser mau, mas este é o único modo pelo qual você poderá fazer algo realmente bom”.

5 – revisão – ver novamente, ler para os colegas e professor e reescrever em todas as etapas.

6 – edição – fazer o texto excrito circular, mesmo entre os colegas. Quem escreve, escreve para ser lido e, às vezes, a escola engaveta e só corrige os escritos e esquece do seu autor.

Vamos descrever alguns exemplos de exercícios de desbloqueio da escrita criativa:

1 – o professor sugere: “Abri a gaveta e encontrei...”. O aluno continua o texto escrevendo com: palavras que tenham 2 ou 3 sílabas, comecem com p, m ou s, rime, etc.

2 – o professor leva um texto com ausência de pontuação para os alunos lerem e pontuarem.

3 – o professor dá um poema e pede paráfrase com modificações do personagem, do cenário, etc.

4 – imaginar um personagem não humano, descrevê-lo com características humanas.

5 – pensar o que existe no mar e adjacências e escrever um período combinando palavras pelo parentesco sonoro, ex: areia com ceia, alga com algo.

6 – o professor escolhe algumas palavras, ex. – dia – e os alunos devem atribuir um sentido comum e um sentido figura à palavra.

7 – ad-verso: o professor dá dois versos de uma quadra e pede que os alunos emendem com outros dois versos de um outro assunto.

Esses exercícios podem ser trocados, completados em duplas, dramatizados, tec. Nessa etapa ainda não está em pauta o conteúdo, mas o desbloqueio da escrita.

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*Miriam Mermelstein é pedagoga e autora de obras de Literatura Infantil, tendo ministrado as oficinas “A poesia em sala de aula” e “Abraçando a palavra” no CRE Mario Covas, durante o 1º semestre de 2004

Fonte:
http://www.crmariocovas.sp.gov.br/lei_a.php?t=019
Imagem = autor anônimo. Recebida por mail

Projeto Sábado Cultural (Sorocaba/SP)


O projeto "Sábado Cultural" é realizado no último sábado de cada mês na sede da sociedade localizada no Lageado em Sorocaba, tem por objetivo ser um novo espaço para manifestação da cultura e arte em Sorocaba, sempre com entrada franca. Peças teatrais, números musicais, literatura, poesia, cinema, artes plásticas, todos os setores da cultura terão um novo espaço a partir de agora em Sorocaba.

Bem localizado e com uma boa infra-estrutura, o projeto "Sábado Cultural" viabiliza o encontro do artista com o público, como explica Eliton Tomasi, vice-presidente da S.C.E. Irmãos de Caridade. "Muitos artistas, principalmente os iniciantes, não encontram espaços adequados para se apresentarem. O público mais carente, por sua vez, muitas vezes não tem verba para prestigiar os grandes espetáculos. O projeto Sábado Cultural vem como solução nesse sentido pois abre espaço para toda a classe artística de Sorocaba e região e os ingressos serão sempre em forma de alimentos a serem doados para entidades assistenciais da cidade, tornando assim os eventos 100% viáveis para todas as classes da sociedade, e uma via de colaboração direta com os mais necessitados".

A primeira edição do projeto teve a apresentação da peça teatral "Fases da Vida" do grupo da Terceira Idade do SESI. Sob a direção de Edna Harder, a peça faz uma reflexão a respeito da existência humana em suas diferentes épocas.

A Sociedade Cultural Espírita Irmãos de Caridade fica próximo à rodoviária de Sorocaba na rua Fagundes Varela, 15 no Lageado. Outras informações: (15) 3211-1621 / 3221-0449 / 9111-2234

Fonte:
Cenário Cultural. http://cintianmoraes.com.br/

Luciano Bonatti Regalado, novo integrante da Academia Sorocabana de Letras


Academia elege vencedor do Prêmio Literário 2008

O pesquisador Luciano Bonatti Regalado, ganhador do Prêmio Literário Anual Sorocaba de Literatura em 2008, com seu livro “Observando as Aves nas Áreas Verdes de Sorocaba e Região” (Linc: 2007, 198 páginas), é o mais novo integrante da Academia Sorocabana de Letras. Ele ocupará a nova Cadeira nº 34 da instituição, que tem como Patrono Afonso de Escragnolle Taunay. Doutor e Mestre em Engenharia Ambiental pela USP e graduado em Ciências Biológicas pela PUC-SP (Campus de Sorocaba), o novo acadêmico é analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e tem experiência na área de Ecologia, com ênfase em Ornitologia e Gestão de Unidades de Conservação. Atuando principalmente nas áreas de conservação, gestão ambiental, ecologia de comunidades, estudos faunísticos.

Em paralelo, desenvolve pesquisas de arquivo e de campo sobre a documentação primária da Fábrica de Ferro de São João do Ipanema, ajustando-se ao espírito da Cadeira Afonso de Taunay que dará ênfase aos estudos e pesquisas relativas à História Paulista.

Serviço:
Sessão solene de instituição da nova Cadeira nº 34 (Patrono: Afonso de E. Taunay) e posse de seu primeiro titular, Acadêmico Luciano Bonatti Regalado (Comemorando os 70 anos da eleição de Taunay como Membro da Academia Brasileira de Letras)
Data: 19 de fevereiro às 19h30

Fontes:
Cenário Cultural.
http://cintianmoraes.com.br/especiais/index.html
Capa do Livro =
http://www.novoambienteeditora.com.br

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Evandro Luiz Mezadri (Livro de Poesias)


Poeta de Votorantim lançou livro de poesias sobre o seu cotidiano

O “Lunático” de Evandro Luis Mezadri foi lançado na sexta-feira (13), contou com a presença de amigos, familiares, amantes da poesia em um evento emocionante na Biblioteca Municipal. Um orgulho para Votorantim, que a cada ano revela mais autores, Evandro é um exemplo, pois começou a escrever aos dezesseis anos, mesmo ano em que começou a ouvir Rock' n' Roll. É sensível aos fatos que o rodeiam, sua primeira obra mostra o paradoxo cotidiano existente dentro de si. Uma linha tênue entre esperanças e desilusões que mesclam todas as vertentes sentimentais como o amor, ódio, opinião social, viagens surreais e experiências pessoais, as quais, fundamentais para a formação do seu universo "Lunático".

O poeta deixa ao leitor um “livro aberto” de sua vida. “Lunático” expõe um pouco de suas vertentes, pois suas influências vão de Rimbaud a Paulo Leminski, passando por Jim Morrison, Baudelaire e Allen Ginsberg, desfilando ecléticas escolas em seu aprendizado poético.

Quem quiser obter o livro deve entrar em contato com o autor pelo email: evandromezadri@yahoo.com.br
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LUNÁTICO

Parte o lunático...
Vestido pela íntima solidão
Duelando com as sombras do passado
Ruas são labirintos de fogo
aquecidas por cobertores de ossos
Árvores são testemunhas
e suas folhas espiãs
brincando entre os galhos da madrugada

Morcegos voam
entre rasantes tentativas de alegria
Cães ladram
a fome angustiada dos mal-nascidos
Gatos esquartejados nas autovias
e seus cérebros pisoteados
pelos carros rumo ao sul

Parte o lunático...
O riso mórbido como guia
Abre-se uma fenda na abóbada
Raios selvagens estupram
as estrelas donzelas
e elas derramam pelas nuvens
lágrimas vermelhas
Como o gozo de um vinho barato
sobre o solo poeirento da cidade

Parte o lunático...
Em sua hipnótica caravela
Velejando pelos prolíferos mares da loucura
A lua a beijá-lo
Uma tempestade de anseios
derramada em pernas e seios
entrelaçando as veias pulsantes dos desejos
Filho do deleite
Em uma colheita
de douradas novidades
Caminhando pelos campos antes inóspitos
A música refletindo
o erótico flerte
da vida com a morte

Espasmo

Açoite

Finda mais uma luxuriosa noite
ao ser atravessada
pela espada flamante
do divino crepúsculo
E o lunático retorna...
ao seu frio reino de tijolos à vista
Pedindo em seus credos de arremedo
para a alma uma benção
e para o corpo um esteio
quando a amante embriaguez se foi
e a esposa ressaca veio!
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Versos Esquecidos

Voltem até mim, versos esquecidos
Estou pronto para recebê-los em meu cérebro desvalido
Peço-lhes perdão pela indiferença na noite passada
O descaso por não anotar-lhes em minha folha amassada

Trêmulo, atiro-me ao âmago do subconsciente
Rastejo pela tênue verve que ainda me resta acesa
Chamo-lhes em insanas regressões pela minha mente
Desregrado e em prantos, ardendo em incontida morbideza

Lembro-me em flashes, de suas doiradas vogais
Entrelaçadas as margens de púrpuras consoantes
Navegavam nos agitados oceanos de meus ideais
E agora, atracadas no fundo de uma memória gélida
e sufocante

Suplico que retornem, ó versos esquecidos
Reconduzam a alegria a este vate que lhes conclama
Embala novamente os papéis outrora esmaecidos
Com a rajada lírica de suas ecléticas chamas
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Vazio

Da vida, sou detento
Caminho sonolento
Guiado por um trevoso vento
Que enregelou meu sentimento
E deixou meu coração poeirento

Sou um sem talento
Sigo trôpego e lento
Escondo um negro sofrimento
Procuro um colorido alento

Sou um animal sarnento
Rastejo em uma selva de desalento
Vítima de um psíquico atormento
Despejo meu lamento

Sigo solitário e desatento
Criatura inerme que só estará a contento
A sete palmos da terra,
dentro de uma gaveta de cimento

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Ode a um amigo
Aperto no peito,
Boca seca apenas umedecida
pela saliva amarga
do crepúsculo final da vida

Pálpebras trêmulas
vertem visões derradeiras

À frente,
paisagens jubilosas
outrora ornando quadros de verdes campos
são substituídas por estéril e negra avenida
infinda e solitária peregrinação
ao reino do supremo supracitado

De joelhos,
tenta com suas imóveis arcadas
rezar orações improvisadas

As mãos querem tocar
a camisola alva
de uma dama imaginária que surge
em erótica leveza incendiária
envolvendo-o em seus seios
carnudos e plácidos

Acariciando em sua face febril
e impaciente
Esperando o enlace matrimonial
em um medo presente
de se entregar em noite de Fevereiro luzente

Não tenha medo!

A senda será transposta à transição final!
As mesquinharias abortadas,
atrasadas prestações,
falsos amigos,
fabris humilhações
Uma floresta é avistada
Corcéis negros, dragões,
gatos, cães,
albatrozes e felinos atrozes
Harmonia perfeita
regendo a celestial seita

Anjos com douradas harpas
sobrevoam um límpido oceano
onde negros e brancos banham-se juntos
esfregando o pútrido preconceito
destilado no outrora habitado planeta profano

Seu corpo apodrece abaixo do cimento
Sua alma rejuvenesce acima do firmamento

A missão foi cumprida,
e a eternidade é o seu legado
Oh! Saudoso dardo jogado
no alvo certeiro
do destino fecundado
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Dor Paternal...

O pai viu o sangue da vida ornando a criança
Pulou sobre nuvens coloridas até ficar farto
Derrubou uma lágrima alegre ao deixar o parto
Embalando-se em sonhos de esperança

Na vermelhidão de uma aurora, após anos vindouros
A criança cresceu, virou homem e irrompeu estradas,
Perpetuou sua independência em loucas jornadas,
Colhendo de experiências bizarras, negros louros

Amou o inferno a que foi acometido,
Duelou em sendas sinistras e perigosas
Viu mares rubros inundando avenidas fogosas
E uma rajada frontal beijar seu coração empedernido

O pai viu o sangue da morte ornando o filho
Pulou sobre o caixão florido até ficar farto
Derrubou uma lágrima triste ao sofrer um enfarto
Embalando sua alma em uma inerte viagem sem brilho!
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Mais um...

Ruminando capins em pastos melancólicos
Aprisionado em focinheiras hierárquicas
Bebendo no cálice dos sacramentos metódicos
Cordeiro desgarrado das criações anárquicas

Olhar parado, fronte amarelada, peito empoeirado
Coberto por um negro véu enlanguescido
Rastejando tal qual mendigo assombrado
Em seu caminho verdugo de mal-nascido

Servo cômodo sem incômodo pela falta de alento
Faz o sinal da cruz agradecendo a estéril chama de luz
Passa dez horas ao dia celebrando o pífio talento
De ser apenas mais um neste orbe que a todos conduz

E ao envelhecer, em prantos, começa a esmorecer
Enxerga pelo espelho d’alma a centelha de sua mocidade
A rotina arquejante que se prestou a obedecer,
Não lhe permitiu nessa única vida, viver de verdade!
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Enluarada Andança

Ébrio viajante, caminha sobre nuvens esparsas,
Tropeçando em devaneios, equilibrando-se em esperança,
Segue em companhia do cântico mavioso das alvas garsas,
Namorando a natureza, em enluarada andança.

Mantém-se calado, imaginando uma valsa jubilosa,
Em busca de um amor verossímil em cálida candura,
Para tomar nos braços uma musa majestosa,
E sair dançando pelo infinito jardim da brandura.
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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Antonio Brasileiro (1944) Caldeirão Poético



ANOTAÇÕES DO IMEMORIADO

A consciência, fiapo de quê,
no mar da alma?

(E o ter que contar os meus segredos,
que eu mesmo guardei
e esqueci.)
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O SIM & OUTROS ACHAQUES

A vida inteira anulada
por falta de outros desígnios,

eis que voltamos ao parque
onde os homens se congregam:

ninguém jamais sabe ao certo
onde o sim das grandes aves,

singramos por mares mansos
que julgáramos esquecidos —

mas eis que a vida se perde
por falta de outros desígnios.

Ou não se perde: é só isto.
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NUANÇA

Meus caminhos, meus mapas,
meus caminhos.

Tudo está em ordem
em minha vida.

Como se faltasse
alguma coisa.
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CÁLICE

A vida não tem roteiros,
só velas que nos acenam
do mar.

Escuta, amiga,
o desfiar das horas:
elas te dirão é tua
é tua a vida.

Toma-a (como se toma
um cálice de rosas)
na mão.
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SONETO DO AMOR PROFANO

Não me consinta o amor tanta alegria,
pois, por não merecê-la, me constrange
o peito (já uma dor, não longe, me
sussurra que este amor sem agonias
não há de consentir em tanta graça),
eis que, perdidamente, já pressinto
— e quanto, e quanto — que em amor, perdidos
todos os lances, não há como obtê-lo
de outro modo que não por sacrifícios /
e eis que este, pois, gratuita dádiva,
me chega às mãos de um modo tão profano,
que quase certo estou de que, se o tenho,
já não o tenho por justo e dadivoso
mas por amor que é fruto só de engano.

E não me engana um amor quando enganoso.
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CEM ANOS

Vejo mãos que me folheiam
buscando-me a fisionomia —
mas já passei, agora
sou apenas poesia.

Vejo rostos que me amam
tentando saber quem fui —
sou um retrato, miragem
que o tempo dilui.

Vejo braços que me acenam
chamando-me insistentemente —
para que, se a folha que passa
passa tão de repente?
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CONCERTO P/ FLAUTA DE CANUDO DE MAMÃO

Vou cativar um beija-flor.
E sairemos por aí:
ele faz poesias, eu vôo.
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A NOITE DAS NOVE LUAS

Deixai-me com meus lírios e minhas luas.
Andar é sempre a mesma
luz
à frente.

Vou explodir com os planetas
vou seguir a rota das galáxias
ai amor
estou prestes a me dissolver
no ar.

Mas deixai-me com meus lírios
e interlúdios
nestes mares nunca mares calmos mares.

Deixai-me com meus lírios
e sonetos.
Vou explodir de luz um dia desses,
amiga, um dias desses.
Deixai-me com meus lírios
e sonetos.

Hás de me encontrar
insone e louco
no meio dos trigais da inconsciência,
ai, declamando
os versos que Van Gogh
não escreveu.
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ARTE POÉTICA

Meus versos são da pura essência
dos poemas inessenciais.

Nada dizem de verídico
não querem nada explicar.

Não narram o clamor dos peitos
não encaram a dor do mundo.

Se por vezes falam alto
é por puro gozo, júbilo.

humor que brota de dentro
como se movem os astros.

Eles, meus versos, são pura
floração de irresponsáveis

flores nascidas nos mangues,
por nascer — mas multicores,

lindas, não importa que os homens
as conheçam ou não conheçam.

(A Pura Mentira, 1982)
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TUDO QUE SOMOS

Tudo que somos,
pouco sabemos.

Um poço imenso,
cheio de sonhos.

Quando choramos,
não nos perdemos.

Viver é um sonho,
Não esqueçamos.

Viver é a sombra,
o assombro, o apenas.

Tão frágeis somos!
Frágeis e imensos.
=======================

CONTEMPLAÇÃO DA NUVEM

p/ Luis Alberto

a vida é a contemplação daquela nuvem.
E o mundo
uma forma de passar, que inventamos
para não ver que o mundo não é o mundo,
mas uma nuvem
passando.

E uma nuvem passando
ensina-nos mais coisas que cem pássaros
mil livros um milhão de homens.

A vida é a contemplação daquela nuvem.
E o mundo
uma forma de passar, que inventamos
para não ver que o mundo não é o mundo,
mas uma nuvem.
Passando.

(Cantar de amiga, 1996)

=======================

A ESPUMA DAS COISAS

A grande ilusão do insustentável.
O lama e os não-desejos.
A imensidão de um cosmos de brinquedo.
O estrelejar do hoje versus
o princípio. Ou o
precipício.

Sossega, peito meu, és só a espuma
das coisas vãs gozadas uma a uma.
=======================

MNEMÓSINE REVISITADA

A memória do homem, coisa simples.
Esquece-se de que somos esquecidos
e cheios de saudades.
Saudades do que fomos e o que somos,
já esquecido em socavões de tardes.
Como se hojes fossem inacabáveis
e não viessem cobri-los outros sonos.

Ingratidão, memória, é teu nome.

Tudo que somos vai virar saudade
(não importa o peso, a pluma, a asperidade)
de tudo que não fomos — e, eis, esplende.
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O ESTIOLAR DAS COISAS

Os sonos estão parados
no portal do amplo oceano.

Eis meus touros minotauros
envoltos em vis novelos.

E a lágrima perdida
no amplíssimo deserto?
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O OFÍCIO

No fim dos tempos,
vou estar numa casinha de palha,
uns livros, um lápis,
papel almaço, a alma pura
e uns rabiscos pra ninguém ler,

me confessar.

Ao deus dentro de mim, primeiramente.
E a quem não interessar possa.
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QUADRA

Se alguém me espera?
Quem dera.

Se o bonde veio?
Mas cheio.

Se ganhei na vida?
Feridas.

Não vai dar? Deixa
estar.
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Sobre o Poeta
Pintor e poeta baiano: é assim que Antônio Brasileiro gosta de se definir. Mas não são essas poucas palavras que melhor o definem. Figura referencial entre os nomes surgidos a partir doa anos 60, Antonio Brasileiro, reconhecido nacionalmente pela sua produção poética, estreou na ficção com o romance Caronte é também figura de destaque como agitador cultural. Mente multifacetada, seu raio de ação inclui, além da literatura e das artes plásticas, um sólido estudo de filosofia. Com vinte e duas obras publicadas (poesia, ensaio, conto, romance, teatro), divide o resto do tempo entre o amor pelos livros e a música, a prática do tênis e o cultivo do ócio.

Brasileiro nasceu em 1944, em Rui Barbosa, no sertão baiano, onde viveu até 1955, quando se transferiu para Salvador. Desde 1972 vive em Feira de Santana. Tem uma fazenda de gado no Acre. É doutor em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais [1999]. Dedicado praticante de tênis. Faz ginástica e longas caminhadas diárias. “Se eu não me cuidar, quem vai cuidar de mim?” Seu cultivo do ócio inclui música, leituras filosóficas, do tao e do zen, e conversas com os amigos. Ensina Teoria da Literatura na graduação em Letras da Universidade Estadual de Feira de Santana. Mas não faz desse ensino a exposição do que é chato, porque tem os olhos e os ouvidos abertos para o que diz Goethe no Fausto: “Toda teoria é cinzenta, caro amigo. Só a verdadeira árvore da vida é verde”.

Quarenta e um anos de poesia — com incursões na ficção e no ensaio — e 43 de pintura. Dos 22 livros que publicou, considera como os mais importantes: Caronte [romance, 1995], Antologia poética [1996], A história do gato [conto, 1997], Da inutilidade da poesia [2002] e Poemas reunidos [2005].

Segundo Brasileiro "A rigor, a poesia nunca esteve “em alta”. Alguns nomes conseguem se tornar mais conhecidos, pouquíssimos ultrapassam sua própria geração. Mas quantas pessoas mesmo, dessas que você vê todos os dias trafegando por aí, sequer ouviram falar de Drummond, nosso maior poeta? E se ouviram, quantos dentre seus mil poemas conhecem? Dois? Três? Isso é conhecer um poeta? Não é só a poesia que resiste à mercantilização; há outros saberes."

Dir-se-ia que a voz do poeta, filtrada pelo sentimento do eu lírico, amplia-se à medida em que encontra ressonância no sentimento do mundo. (...) A inquietação de estar no mundo permeia esta poesia. Uma poesia metafísica, no sentido mesmo de perplexidade frente ao mistério da existência, da inutilidade de todas as coisas diante do tempo que passa, inexorável, em seu eterno fluir. A ironia como que a mascarar a angústia de saber que o canto é tão inútil e tão necessário e que nesta festa de dançarinos entediados, somos grãos de areia na ampulheta, sozinhos, frente à eternidade das coisas tão perenes, quando a vida é apenas um susto...” (Myriam Fraga)

Convidado oficial da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília, participa da antologia POEMÁRIO da I BIP.

Fontes:
http://www.antoniomiranda.com.br/
http://blogs.abril.com.br/lenidavid
http://www.litbr.com/entrevistas-antoniobrasileiro.htm