segunda-feira, 20 de abril de 2009

Augusto dos Anjos (Poesias & Poesias)


A árvore da serra


— As árvores, meu filho, não têm alma!
E esta árvore me serve de empecilho...
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!

— Meu pai, por que sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pos almas nos cedros... no junquilho...
Esta árvore, meu pai, possui minh'alma! ...

— Disse — e ajoelhou-se, numa rogativa:
«Não mate a árvore, pai, para que eu viva!»
E quando a árvore, olhando a pátria serra,

Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!
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À mesa

Cedo à sofreguidão do estômago. É a hora
De comer. Coisa hedionda! Corro. E agora,
Antegozando a ensangüentada presa,
Rodeado pelas moscas repugnantes,
Para comer meus próprios semelhantes
Eis-me sentado à mesa!

Como porções de carne morta ... Ai! Como
Os que, como eu, têm carne, com este assomo
Que a espécie humana em comer carne tem! ...
Como! E pois que a Razão me não reprime,
Possa a terra vingar-se do meu crime
Comendo-me também.
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A minha estrela

A meu irmão Aprígio A.

E eu disse - Vai-te, estrela do Passado!
Esconde-te no Azul da Imensidade,
Lá onde nunca chegue esta saudade,
- A sombra deste afeto estiolado.

Disse, e a estrela foi p’ra o Céu subindo,
Minh’alma que de longe a acompanhava,
Viu o adeus que do Céu ela enviava,
E quando ela no Azul foi-se sumindo

Surgia a Aurora - a mágica princesa!
E eu vi o Sol do Céu iluminando
A Catedral da Grande Natureza.

Mas a noute chegou, triste, com ela
Negras sombras também foram chegando,
E nunca mais eu vi a minha estrela!
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A nau

A Heitor Lima

Sôfrega, alçando o hirto esporão guerreiro,
Zarpa. A íngreme cordoalha úmida fica. ...
Lambe-lhe a quilha a espúmea onda impudica
E ébrios tritões, babando, haurem-lhe o cheiro


Na glauca artéria equórea ou no estaleiro
Ergue a alta mastreação, que o éter indica,
E estende os braços de madeira rica
Para as populações do mundo inteiro!


Aguarda-a ampla reentrância de angra horrenda
Pára e, a amarra agarrada à âncora, sonha!
Mágoas, se as tem, subjugue-as ou disfarce-as...


E não haver uma alma que lhe entenda
A angústia transoceânica medonha
No rangido de todas as enxárcias!
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A noite

A nebulosidade ameaçadora
Tolda o éter, mancha a gleba, agride os rios
E urde amplas teias de carvões sombrios
No ar que álacre e radiante, há instantes, fora.

A água transubstancia-se. A onda estoura
Na negridão do oceano e entre os navios
Troa bárbara zoada de ais bravios,
Extraordinariamente atordoadora.

A custódia do anímico registro
A planetária escuridão se anexa...
Somente, iguais a espiões que acordam cedo,

Ficam brilhando com fulgor sinistro
Dentro da treva omnímoda e complexa
Os olhos fundos dos que estão com medo!
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A um mascarado


Rasga esta máscara ótima de seda
E atira-a à arca ancestral dos palimpsestos...
É noite, e, à noite, a escândalos e incestos
É natural que o instinto humano aceda!


Sem que te arranquem da garganta queda
A interjeição danada dos protestos,
Hás de engolir, igual a um porco, os restos
Duma comida horrivelmente azeda!

A sucessão de hebdômadas medonhas
Reduzirá os mundos que tu sonhas
Ao microcosmos do ovo primitivo...

E tu mesmo, após a árdua e atra refrega,
Terá somente uma vontade cega
E uma tendência obscura de ser vivo!
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Agonia de um filósofo

Consulto o Phtah-Hotep. Leio o obsoleto
Rig-Veda. E, ante obras tais, me não consolo...
O Inconsciente me assombra e eu nêle tolo
Com a eólica fúria do harmatã inquieto!

Assisto agora à morte de um inseto!...
Ah! todos os fenômenos do solo
Parecem realizar de pólo a pólo
O ideal de Anaximandro de Mileto!

No hierático areopago heterogêneo
Das idéas, percorro como um gênio
Desde a alma de Haeckel à alma cenobial!...

Rasgo dos mundos o velário espesso;
E em tudo, igual a Goethe, reconheço
O império da substância universal!
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Anseio

Que sou eu, neste ergástulo das vidas
Danadamente, a soluçar de dor?!
— Trinta triliões de células vencidas,
Nutrindo uma efeméride inferior.

Branda, entanto, a afagar tantas feridas,
A áurea mão taumitúrgica do Amor
Traça, nas minhas formas carcomidas,
A estrutura de um mundo superior!

Alta noite, esse mundo incoerente
Essa elementaríssima semente
Do que hei de ser, tenta transpor o Ideal...

Grita em meu grito, alarga-se em meu hausto,
E, ai! como eu sinto no esqueleto exausto
Não poder dar-lhe vida material!
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Ao luar

Quando, à noite, o Infinito se levanta
A luz do luar, pelos caminhos quedos
Minha tactil intensidade é tanta
Que eu sinto a alma do Cosmos nos meus dedos!

Quebro a custódia dos sentidos tredos
E a minha mão, dona, por fim, de quanta
Grandeza o Orbe estrangula em seus segredos,
Todas as coisas íntimas suplanta!

Penetro, agarro, ausculto, apreendo, invado,
Nos paroxismos da hiperestesia,
O Infinitésimo e o Indeterminado...

Transponho ousadamente o átomo rude
E, transmudado em rutilância fria,
Encho o Espaço com a minha plenitude!
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As cismas do destino

I

Recife. Ponte Buarque de Macedo.
Eu, indo em direção à casa do Agra,
Assombrado com a minha sombra magra,
Pensava no Destino, e tinha medo!

Na austera abóbada alta o fósforo alvo
Das estrelas luzia... O calçamento
Sáxeo, de asfalto rijo, atro e vidrento,
Copiava a polidez de um crânio calvo.

Lembro-me bem. A ponte era comprida,
E a minha sombra enorme enchia a ponte,
Como uma pele de rinoceronte
Estendida por toda a minha vida!

A noite fecundava o ovo dos vícios
Animais. Do carvão da treva imensa
Caía um ar danado de doença
Sobre a cara geral dos edifícios!

Tal uma horda feroz de cães famintos,
Atravessando uma estação deserta,
Uivava dentro do eu, com a boca aberta,
A matilha espantada dos instintos!

Era como se, na alma da cidade,
Profundamente lúbrica e revolta,
Mostrando as carnes, uma besta solta
Soltasse o berro da animalidade.

E aprofundando o raciocínio obscuro,
Eu vi, então, à luz de áureos reflexos,
O trabalho genésico dos sexos,
Fazendo à noite os homens do Futuro.

Livres de microscópios e escalpelos,
Dançavam, parodiando saraus cínicos,
Biliões de centrosomas apolínicos
Na câmara promíscua do vitellus.

Mas, a irritar-me os globos oculares,
Apregoando e alardeando a cor nojenta,
Fetos magros, ainda na placenta,
Estendiam-me as mãos rudimentares!

Mostravam-rne o apriorismo incognoscível
Dessa fatalidade egualitária,
Que fez minha família originária
Do antro daquela fábrica terrível!

A corrente atmosférica mais forte Zunia.
E, na ígnea crostra do Cruzeiro,
julgava eu ver o fúnebre candieiro
Que há de me alumiar na hora da morte.

Ninguém compreendia o meu soluço,
Nem mesmo Deus! Da roupa pelas brechas,
O vento bravo me atirava flechas
E aplicações hiemais de gelo russo.

A vingança dos mundos astronômicos
Enviava à terra extraordinária faca,
Posta em rija adesão de goma laca
Sobre os meus elementos anatômicos.

Ali! Com certeza, Deus me castigava!
Por toda a parte, como um réu confesso,
Havia um juiz que lia o meu processo
E uma forca especial que me esperava!

Mas o vento cessara por instantes
Ou, pelo menos, o ignís sapiens do Orco
Abafava-me o peito arqueado e porco
Num núcleo de substâncias abrasantes.

É bem possível que eu um dia cegue.
No ardor desta letal tórrida zona,
A cor do sangue é a cor que me impressiona
E a que mais neste mundo me persegue!

Essa obsessão cromática me abate.
Não sei por que me vêm sempre à lembrança
O estômago esfaqueado de uma creança
E um pedaço de víscera escarlate.

Quisera qualquer coisa provisória
Que a minha cerebral caverna entrasse,
E até ao fim, cortasse e recortasse
A faculdade aziaga da memória.

Na ascensão barométrica da calma,
Eu bem sabia, ansiado e contrafeito,
Que uma população doente do peito
Tossia sem remédio na minh'alma!

E o cuspo que essa hereditária tosse
Golfava, à guisa de ácido resíduo,
Não era o cuspo só de um indivíduo
Minado pela tísica precoce.

Não! Não era o meu cuspo, com certeza
Era a expectoração pútrida e crassa
Dos brônquios pulmonares de uma taça
Que, violou as leis da Natureza!

Era antes uma tosse úbiqua, estranha,
Igual ao ruído de um calhau redondo
Arremessado no apogeu do estrondo,
Pelos fundibulários da montanha!

E a saliva daqueles infelizes
Inchava, em minha boca, de tal arte,
Que eu, para não cuspir por toda a parte,
Ia engolindo, aos poucos, a hemoptisis!

Na alta alucinação de minhas cismas
O microcosmos líquido da gota
Tinha a abundância de tinia artéria rota,
Arrebentada pelos aneurismas.

Chegou-me o estado máximo da mágoa!
Duas, três, quatro, cinco, seis e sete
Vezes que eu me furei com um canivete,
A hemoglobina vinha cheia de água!

Cuspo, cujas caudais meus beiços regam,
Sob a forma de mínimas camândulas,
Benditas sejam todas essas glândulas,
Que, quotidianamente, te segregam!

Escarrar de um abismo noutro abismo,
Mandando ao Céu o fumo de um cigarro,
Há mais filosofia neste escarro
Do que em toda a moral do cristianismo!

Porque, se no orbe oval que os meus pés tocam
Eu não deixasse o meu cuspo carrasco,
jamais exprimiria o acérrimo asco
Que os canalhas do mundo me provocam!

II

Foi no horror dessa noite tão funérea
Que eu descobri, maior talvez que Vinci,
Com a força visualística do lince,
A falta de unidade na matéria!

Os esqueletos desarticulados,
Livres do acre fedor das carnes mortas,
Rodopiavam, com as brancas tíbias tortas,
Numa dança de números quebrados!

Todas as divindades malfazejas,
Siva e Arimã, os duendes, o In e os trasgos,
Imitando o barulho dos engasgos,
Davam pancadas no adro das igrejas.

Nessa hora de monólogos sublimes,
A companhia dos ladrões da noite,
Buscando uma taverna que os acoite,
Vai pela escuridão pensando crimes.

Perpetravam-se os actos mais funestos,
E o luar, da cor de um doente de icterícia,
Iluminava, a rir, sem pudicícia,
A camisa vermelha dos incestos.

Ninguém, de certo, estava ali, a espiar-me,
Mas um lampeão, lembrava ante o meu rosto,
Um sugestionador olho, ali posto
De propósito, para hipnotizar-me!

Em tudo, então, meus olhos distinguiram
Da miniatura singular de uma aspa,
A anatomia mínima da caspa,
Embriões de mundos que não progrediram!

Pois quem não vê aí, em qualquer rua,
Com a fina nitidez de um claro jorro,
Na paciência budista do cachorro
A alma embrionária que não continua?!

Ser cachorro! Ganir incompreendidos
Verbos! Querer dizer-nos que não finge,
E a palavra embrulhar-se no laringe,
Escapando-se apenas em latidos!

Despir a putrescível forma tosca,
Na atra dissolução que tudo inverte,
Deixar cair sobre a barriga inerte
O apetite necrófago da mosca!

A alma dos animais! Pego-a, distingo-a,
Acho-a nesse interior duelo secreto
Entre a ânsia de um vocábulo completo
E uma expressão que não chegou à língua!

Surpreendo-a em quatriliões de corpos vivos,
Nos antiperistálticos abalos
Que produzem nos bois e nos cavalos
A contracção dos gritos instintivos!

Tempo viria, em que, daquele horrendo
Caos de corpos orgânicos disformes
Rebentariam cérebros enormes
Como bolhas febris de água, fervendo!

Nessa época que os sábios não ensinam,
A pedra dura, os montes argilosos
Creariam feixes de cordões nervosos
E o neuroplasma dos que raciocinam!

Almas pigméas! Deus subjuga-as, cinge-as
A imperfeição! Mas vem o Tempo, e vence-O,
E o meu sonho crescia no silêncio,
Maior que as epopéas carolíngias!

Era a revolta trágica dos tipos
Ontogênicos mais elementares,
Desde os foraminíferos dos mares
À grei liliputiana dos polipos.

Todos os personagens da tragédia,
Cansados de viver na paz de Buda,
Pareciam pedir com a boca muda
A ganglionária célula intermédia.

A planta que a canícula ígnea torra,
E as coisas inorgânicas mais nulas
Apregoavam encéfalos, medulas
Na alegria guerreira da desforra!

Os protistas e o obscuro acervo rijo
Dos espongiários e dos infusórios
Recebiam com os seus órgãos sensórios
O triunfo emocional do regozijo!

E apesar de já ser assim tão tarde,
Aquela humanidade parasita,
Como um bicho inferior, berrava, aflita,
No meu temperamento de covarde!

Mas, reflectindo, a sós, sobre o meu caso,
Vi que, igual a um amneota subterrâneo,
jazia atravessada no meu crânio
A intercessão fatídica do atraso!

A hipótese genial do microzima
Me estrangulava o pensamento guapo,
E eu me encolhia todo como um sapo
Que tem um peso incômodo por cima!

Nas agonias do delíríum-tremens,
Os bêbedos alvares que me olhavam,
Com os copos cheios esterilizavam
A substância prolífica dos semens!

Enterram as mãos dentro das goelas,
E sacudidos de um tremor indômito
Expeliam, na dor forte do vômito,
Um conjunto de gosmas amarelas.

Iam depois dormir nos lupanares
Onde, na glória da concupiscência,
Depositavam quase sem consciência
As derradeiras forças musculares.

Fabricavam destarte os blastodermas,
Em cujo repugnante receptáculo
Minha perscrutação via o espectáculo
De uma progênie idiota de palermas.

Prostituição ou outro qualquer nome,
Por tua causa, embora o homem te aceite,
É que as mulheres ruins ficam sem leite
E os meninos sem pai morrem de fome!

Por que há de haver aqui tantos enterros?
Lá no "Engenho" também, a morte é ingrata...
Há o malvado carbúnculo que mata
A sociedade infante dos bezerros!

Quantas moças que o túmulo reclama!
E após a podridão de tantas moças,
Os porcos esponjando-se nas poças
Da virgindade reduzida à lama!

Morte, ponto final da última cena,
Forma difusa da matéria imbele,
Minha filosofia te repele,
Meu raciocínio enorme te condena!

Deante de ti, nas catedrais mais ricas,
Rolam sem eficácia os amuletos,
Oh! Senhora dos nossos esqueletos
E das caveiras diárias que fabricas!

E eu desejava ter, numa ânsia rara,
Ao pensar nas pessoas que perdera,
A inconsciência das máscaras de cera
Que a gente prega, com um cordão, na cara!

Era um sonho ladrão de submergir-me
Na vida universal, e, em tudo imerso,
Fazer da parte abstracta do Universo,
Minha morada equilibrada e firme!

Nisto, pior que o remorso do assassino,
Reboou, tal qual, num fundo de caverna,
Numa impressionadora voz interna,
O eco particular do meu Destino:

III

"Homem! por mais que a Idéa desintegres,
Nessas perquisições que não têm pausa,
jamais, magro homem, saberás a causa
De todos os fenômenos alegres!

Em vão, com a bronca enxada árdega, sondas
A estéril terra, e a hialina lâmpada ôca,
Trazes, por perscrutar (oh! ciência louca!)
O conteúdo das lágrimas hediondas.

Negro e sem fim é esse em que te mergulhas
Lugar do Cosmos, onde a dor infrene
É feita como é feito o querosene
Nos recôncavos úmidos das hulhas!

Porque, para que a Dor perscrutes, fora
Mister que, não como és, em síntese, antes
Fosses, a reflectir teus semelhantes,
A própria humanidade sofredora!

A universal complexidade é que Ela
Compreende. E se, por vezes, se divide,
Mesmo ainda assim, seu todo não reside
No quociente isolado da parcela!

Ah! Como o ar imortal a Dor não finda!
Das papilas nervosas que há nos tactos
Veio e vai desde os tempos mais transactos
Para outros tempos que hão de vir ainda!

Como o machucamento das insônias
Te estraga, quando toda a estuada Idéa
Dás ao sôfrego estudo da ninféa
E de outras plantas dicotiledôneas!

A diáfana água alvíssima e a hórrida áscua
Que da ígnea flama bruta, estriada, espirra;
A formação molecular da mirra,
O cordeiro simbólico da Páscoa;

As rebeladas cóleras que rugem
No homem civilizado, e a ele se prendem
Como às pulseiras que os mascates vendem
A aderência teimosa da ferrugem,

O orbe feraz que bastos tojos acres
Produz; a rebelião que, na batalha,
Deixa os homens deitados, sem mortalha.
Na sangueira concreta dos massacres;

Os sanguinolentíssimos chicotes
Da hemorragia; as nódoas mais espessas,
O achatamento ignóbil das cabeças,
Que ainda degrada os povos hotentotes;

O Amor e a Fome, a fera ultriz que o fojo
Entra, à espera que a mansa vítima o entre,
— Tudo que gera no materno ventre
A causa fisiológica do nojo;

As pálpebras inchadas na vigília,
As aves moças que perderam a asa,
O fogão apagado de uma casa,
Onde morreu o chefe da família;

O trem particular que um corpo arrasta
Sinistramente pela via-férrea,
A cristalização da massa térrea,
O tecido da roupa que se gasta;

A água arbitrária que hiulcos caules grossos
Carrega e come; as negras formas feias
Dos aracnídeos e das centopéias,
O fogo-fátuo que ilumina os ossos;

As projecções flamívomas que ofuscam,
Como uma pincelada rembrandtesca,
A sensação que uma coalhada fresca
Transmite às mãos nervosas dos que a buscam;

O antagonismo de Tifon e Osíris,
O homem grande oprimindo o homem pequeno,
A lua falsa de um parasseleno,
A mentira mateórica do arco-íris;

Os terremotos que, abalando os solos,
Lembram paióis de pólvora explodindo,
A rotação dos fluidos produzindo
A depressão geológica dos pólos;

O instinto de procrear, a ânsia legitima
Da alma, afrontando ovante aziagos riscos,
O juramento dos guerreiros priscos
Metendo as mãos nas glândulas da vítima;

As diferenciações que o psicoplasma
Humano sofre na mania mística,
A pesada opressão característica
Dos 10 minutos de um acesso de asma;

E, (conquanto contra isto ódios regougues)
A utilidade fúnebre da corda
Que arrasta a rês, depois que a rês engorda,
A morte desgraçada dos açougues...

Tudo isto que o terráqueo abismo encerra
Forma a complicação desse barulho
Travado entre o dragão do humano orgulho
E as forças inorgânicas da terra!

Por descobrir tudo isso, embalde cansas!
Ignoto é o gérmen dessa força ativa
Que engendra, em cada célula passiva,
A heterogeneidade das mudanças!

Poeta, feto malsão, criado com os sucos
De um leite mau, carnívoro asqueroso,
Gerado no atavismo monstruoso
Da alma desordenada dos malucos;

Última das criaturas inferiores
Governada por átomos mesquinhos,
Teu pé mata a uberdade dos caminhos
E esteriliza os ventres geradores!

O áspero mal que a tudo, em torno, trazes,
Análogo é ao que, negro e a seu turno,
Traz o ávido filóstomo noturno,
Ao sangue dos mamíferos vorazes!

Ah! Por mais que, com o espírito, trabalhes
A perfeição dos seres existentes,
Hás de mostrar a cárie dos teus dentes
Na anatomia horrenda dos detalhes!

O Espaço — esta abstração spencereana
Que abrange as relações de coexistência
E só! Não tem nenhuma dependência
Com as vértebras mortais da espécie humana!

As radiantes elipses que as estrelas
Traçam, e ao espectador falsas se antolham
São verdades de luz que os homens olham
Sem poder, no entretanto, compreendê-las.

Em vão, com a mão corrupta, outro éter pedes
Que essa mão, de esqueléticas falanges,
Dentro dessa água que com a vista abranges,
Também prova o princípio de Arquimedes!

A fadiga feroz que te esbordoa
Há de deixar-te essa medonha marca,
Que, nos corpos inchados de anasarca,
Deixam os dedos de qualquer pessoa!

Nem terás no trabalho que tiveste
A misericordiosa toalha amiga,
Que afaga os homens doentes de bexiga
E enxuga, à noite, as pústulas da peste!

Quando chegar depois a hora tranqüila,
Tu serás arrastado, na carreira,
Como um cepo inconsciente de madeira
Na evolução orgânica da argila!

Um dia comparado com um milênio
Seja, pois, o teu último Evangelho...
E a evolução do novo para o velho
E do homogêneo para o heterogêneo!

Adeus! Fica-te aí, com o abdômen largo
A apodrecer!. .. És poeira, e embalde vibras!
O corvo que comer as tuas fibras
Há de achar nelas um sabor amargo!

IV

Calou-se a voz. A noite era funesta.
E os queixos, a exibir trismos danados,
Eu puxava os cabelos desgrenhados
Como o rei Lear, no meio da floresta!

Maldizia, com apóstrofes veementes,
No stentor de mil línguas insurrectas,
O convencionalismo das Pandectas
E os textos maus dos códigos recentes!

Minha imaginação atormentada
Paria absurdos... Como diabos juntos,
Perseguiam-me os olhos dos defuntos
Com a carne da esclerótica esverdeada.

Secara a clorofila das lavouras.
Igual aos sostenidos de uma endeixa,
Vinha me às cordas glóticas a queixa
Das coletividades sofredoras.

O mundo resignava-se invertido
Nas forças principais do seu trabalho...
A gravidade era um princípio falho,
A análise espectral tinha mentido!

O Estado, a Associação, os Municípios
Eram mortos. De todo aquele mundo
Restava um mecanismo moribundo
E uma teleologia sem princípios.

Eu queria correr, ir para o inferno,
Para que, da psiquê no oculto jogo,
Morressem sufocadas pelo fogo
Todas as impressões do mundo externo!

Mas a Terra negava-me o equilíbrio...
Na Natureza, uma mulher de luto
Cantava, espiando as árvores sem fruto,
A canção prostituta do ludíbrio!
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Maurício Tuffani (A volta da ‘Literatura Ocidental’ de Carpeaux)


Uma das melhores notícias do ano que há pouco terminou foi a terceira edição da monumental História da Literatura Ocidental, de Otto Maria Carpeaux (1900-1978), lançada em quatro volumes pelas Edições do Senado Federal. Publicada originalmente em 1959, a obra foi elogiada e usada como referência por grandes críticos literários brasileiros, como Antonio Cândido, Álvaro Lins e Wilson Martins. O lançamento deve pôr fim às peregrinações, que se tornavam cada vez mais infrutíferas, de amantes da literatura pelos sebos em busca dessa obra. E o preço de R$ 200 deve também torná-la mais acessível, pois coleções completas de suas edições anteriores custam de R$ 500 a R$ 1.500.

Os quatro tomos da nova versão totalizam 2.879 páginas, além de outras 148 introdutórias, com a apresentação do poeta e escritor Ronaldo Costa Fernandes, um artigo do próprio Carpeaux sobre prefácios, fotografias, fac-símiles de laudas datilografadas com correções à mão e dois textos da primeira edição (Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1959, nove volumes), ambos suprimidos pelo autor na segunda (Rio de Janeiro, Alhambra, oito volumes).

Questões de método

Além do mérito intrínseco por ser a única obra do gênero em língua portuguesa — e uma das poucas no mundo —, História da Literatura Ocidental é fruto de um rigoroso trabalho metodológico cujo primeiro problema foi a delimitação de seu foco temático em sua multiplicidade. Como disse o próprio Carpeaux,

Para resolver o problema dessa multiplicidade, as obras de síntese coletivas justapõem simplesmente uma história separada da literatura italiana, uma da literatura francesa, uma da literatura inglesa, etc., etc.; evidentemente, isto não é síntese, e sim coleção incoerente. Daí não pode resultar jamais uma “história universal” da literatura universal. É necessário abolir as fronteiras nacionais para realizar a história da literatura européia (e americana).
[Vol. I, p. 38]

Nessa parte da introdução, cuja redação teve pequenas alterações na segunda edição, Carpeaux ressalta que a história da literatura universal se divide em grandes períodos, cujos nomes são consagrados pelo uso — Idade Média, Renascença, Barroco, Ilustração, Romantismo, Realismo, Naturalismo, Simbolismo etc. — e que já na primeira metade do século XX, graças à evolução da análise estilística e ideológica, não eram mais clichês sem significação precisa.

O segundo problema de método da obra diz respeito à cronologia. A esse respeito, naquilo que consegui constatar, parece-me que Carpeaux esteve à altura dos desafios de seu empreendimento no plano histórico. Nada melhor que suas próprias palavras para esclarecê-lo:

A literatura não existe no ar, e sim no Tempo, no Tempo histórico, que obedece ao seu próprio ritmo dialético. A literatura não deixará de refletir esse ritmo — refletir, mas não acompanhar. Cumpre fazer essa distinção algo sutil para evitar aquele erro de transformar a literatura em mero documento das situações e transições sociais.
[Vol. I, p. 39]

A terceira questão metodológica se refere á relação entre literatura e sociedade, que, como disse Carpeaux, não é de mera dependência, mas de dependência recíproca entre fatores espirituais (ideológicos e estilísticos) e materiais (estrutura social e econômica). Por traduzir ao longo de sua obra essa compreensão, o autor, em plena Guerra Fria, transcende a acirrada polarização entre direita e esquerda que já existia naquele período.

A literatura é, pois, estudada nas páginas seguintes como expressão estilística do Espírito objetivo, autônomo, e ao mesmo tempo como reflexo das situações sociais.
[Vol. I, p. 40]

Incorreções e generalizações

Por mais rigorosos que tenham sido os critérios metodológicos acima apontados, são de se esperar algumas generalizações que podem tender à incorreção e à superficialidade. No entanto, chegam a ser decepcionantes, principalmente por partirem de quem teria se formado em filosofia, afirmações equivocadas como:

Tampouco os mitos platônicos são axiomas filosóficos; por isso, Platão os expôs em diálogos de índole literária, dramática, com a pretensão de criar uma Cidade e talvez uma religião, mas sem a pretensão de defender um sistema filosófico. Nunca, na Antigüidade, os diálogos de Platão foram citados como obras de filosofia racional. O grande criador de fórmulas filosóficas entre os gregos foi Aristóteles, do qual não pode tratar a história da literatura (…).
[Vol. I, p. 78]

Ora, basta consultar as obras do próprio Aristóteles (384-322 a.C.) para constatar, logo entre os primeiros capítulos, que em várias delas esse discípulo Platão (427-347 a.C.) se posicionou em relação ao pensamento de seu antigo mestre, entre elas Ethica Nicomachea, Metafísica, Poética e Sobre a Alma. Nesta última, no capítulo II, dedicado ao exame de teorias anteriores sobre o mesmo tema, a passagem 404b16-17 registra sua afirmação de que “no Timeu, Platão construiu a alma fora dos elementos”. O mesmo Timeu — que contém uma teoria da natureza e do conhecimento sobre ela —, ao qual Carpeaux se refere como uma alusão ao “mito historiografico do cotinente da Atlântida, que se perdeu como está se perdendo a Grécia”, com o mesmo simplismo que comenta outras obras como República, Parmênides, Sofista (Vol I, pp. 79-80).

Não bastasse o equívoco dessa interpretação, Carpeaux entra em contradição com ela ao se referir a aspectos filosóficos de outros autores, como Lourenço de Médici, o Magnífico (1449-1492), no qual aponta uma “luta íntima” entre o “supranaturalismo platônico e outro platonismo, nostálgico do idílio homérico” [Vol. I, p. 335].

Ainda a respeito de Lourenço, o autor corrigiu o erro, na primeira edição, de mencioná-lo como “o único príncipe que foi um grande poeta”, esquecendo-se de Charles d’Orléans (1394-1645), como bem observou Wilson Martins em sua resenha “A literatura ocidental”, no jornal O Estado de S. Paulo, em 3 de outubro de 1959, na qual foram apontados diversos deslizes. Carpeaux, diligentemente, procedeu na edição de 1978 a várias correções. Ainda que permaneçam alguns erros, não há como discordar do que afirmou Martins nessa mesma resenha:

Mas, incorreções e generalizações dessa natureza são inevitáveis em livros que cobrem matéria tão vasta e nem de longe chegam a afetar-lhes o valor de conjunto. O que importa é que Otto Maria Carpeaux haja “dominado” espiritualmente o assunto e tenha conseguido transmitir ao leitor uma “idéia” da literatura ocidental em sua especificidade e riqueza.
[Wilson Martins, Pontos de Vista (Crítica Literária). São Paulo: T.A. Queiroz, 1992, volume 3, p. 511.]

Seleção de autores

Justamente por cobrir matéria tão vasta, uma obra como História da Literatura Ocidental não tem como ser completa a ponto de contentar a todos. Estranhei, por exemplo, a ausência de nomes de autores cujas obras tiveram repercussão em outras culturas, como o de Flávio Josefo (c. 37-100 d.C.), judeu assimilado ao mundo romano e escritor em língua grega, que escreveu A Guerra Judaica, Antiguidades Judaicas, Contra Ápion e outras obras.

Eventuais omissões, no entanto, são muito menos problemáticas que inclusões questionáveis do ponto de vista da universalidade dos autores, seja no que se refere à sua abordagem, seja em relação à repercussão de suas obras. Martins, por exemplo, ressaltou que, ao selecionar oito mil autores, Carpeaux “deixou-se dominar mais pelo espírito de erudição do que pelo espírito crítico. (…) há páginas e páginas desta História que lembram as velhas histórias da literatura brasileira com sua fastidiosa, inútil e injustificada enumeração de oradores sacros e poetas menores.” [Pontos de Vista, p. 509].

Independentemente de estas e outras observações, como ressaltou o próprio Wilson Martins,

É motivo de orgulho, para nós, que uma das mais completas, das mais sérias, das mais eruditas e das mais agudas dessas “histórias da Literatura Ocidental” tenha sido escrita no Brasil e por um brasileiro (…) Um brasileiro “ocidental”, para quem nada do que é humano e, notadamente, nada do que é literário, será estranho; o único brasileiro em condições de realizar esse trabalho, pois, sendo brasileiro, não deixou de ser europeu, vive conscientemente a condição de “cidadão da Europa”, que se torna cada vez mais rara desde a Renascença.

Filho de pai judeu e mãe católica, Otto Maria Karpfen nasceu e foi criado em meio à efervescência cultural de Viena, na Áustria, onde começou a estudar direito, mas redirecionou sua formação para a filosofia, física, sociologia e literatura comparada. Foi jornalista e trabalhou para o governo ditatorial do primeiro-ministro Engelbert Dolfuss (1892-1934) — assassinado numa tentativa de golpe nazista — e de seu sucessor Kurt Schuschnigg (1897-1977), deposto em 11 de março de 1938 na Anschluss (anexação) da Áustria ao III Reich.

Opositor aos nazistas, Karpfen fugiu para a Bélgica, onde ficou por cerca de um ano, e de lá partiu em 1939 em uma viagem de navio, durante a qual estourou a II Guerra Mundial. Naturalizou-se brasileiro e afrancesou seu sobrenome.

Sobre Mauricio Tuffani

Jornalista especializado em ciência e meio ambiente, é editor do blog "Laudas Críticas" e assessor-chefe da Assessoria de Comunicação e Imprensa da Reitoria da Unesp Universidade Estadual Paulista). Foi editor-executivo dos sites "PNUD Brasil" (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e "Nações Unidas no Brasil", editor-chefe e redator-chefe da revista "Galileu", editor de ciência e repórter da "Folha de S. Paulo". Foi professor convidado do Labjor (Laboratório de Estudos Avançados de Jornalismo Científico da Unicamp), atuou em diversos veículos de comunicação, editou revistas científicas da área médica e trabalhou também como assessor no Institutop Florestal da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, na Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembléia Nacional Constituinte e na Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados. Comnçou a trabalhar como jornalista em 1978 como revisor do "Jornal da Tarde" e de "O Estado de S. Paulo". Iniciou estudos de matemática e filosofia na Universidade de São Paulo e foi professor de Matemática e Física no ensino médio.

Fontes:
http://laudascriticas.wordpress.com/2009/01/17/carpeaux/
Foto de Mauricio = http://criacionista.blogspot.com

domingo, 19 de abril de 2009

Aniversário de Lygia Fagundes Telles

Lygia Fagundes Telles (Natal na Barca)



Não quero nem devo lembrar aqui por que me encontrava naquela barca. Só sei que em redor tudo era silêncio e treva. E que me sentia bem naquela solidão. Na embarcação desconfortável, tosca, apenas quatro passageiros. Uma lanterna nos iluminava com sua luz vacilante: um velho, uma mulher com uma criança e eu.

O velho, um bêbado esfarrapado, deitara-se de comprido no banco, dirigira palavras amenas a um vizinho invisível e agora dormia. A mulher estava sentada entre nós, apertando nos braços a criança enrolada em panos. Era uma mulher jovem e pálida. O longo manto escuro que lhe cobria a cabeça dava-lhe o aspecto de uma figura antiga.

Pensei em falar-lhe assim que entrei na barca. Mas já devíamos estar quase no fim da viagem e até aquele instante não me ocorrera dizer-lhe qualquer palavra. Nem combinava mesmo com uma barca tão despojada, tão sem artifícios, a ociosidade de um diálogo. Estávamos sós. E o melhor ainda era não fazer nada, não dizer nada, apenas olhar o sulco negro que a embarcação ia fazendo no rio.

Debrucei-me na grade de madeira carcomida. Acendi um cigarro. Ali estávamos os quatro, silenciosos como mortos num antigo barco de mortos deslizando na escuridão. Contudo, estávamos vivos. E era Natal.

A caixa de fósforos escapou-me das mãos e quase resvalou para o. rio. Agachei-me para apanhá-la. Sentindo então alguns respingos no rosto, inclinei-me mais até mergulhar as pontas dos dedos na água.

— Tão gelada — estranhei, enxugando a mão.

— Mas de manhã é quente.

Voltei-me para a mulher que embalava a criança e me observava com um meio sorriso. Sentei-me no banco ao seu lado. Tinha belos olhos claros, extraordinariamente brilhantes. Reparei que suas roupas (pobres roupas puídas) tinham muito caráter, revestidas de uma certa dignidade.

— De manhã esse rio é quente — insistiu ela, me encarando.

— Quente?

— Quente e verde, tão verde que a primeira vez que lavei nele uma peça de roupa pensei que a roupa fosse sair esverdeada. É a primeira vez que vem por estas bandas?

Desviei o olhar para o chão de largas tábuas gastas. E respondi com uma outra pergunta:

— Mas a senhora mora aqui perto?

— Em Lucena. Já tomei esta barca não sei quantas vezes, mas não esperava que justamente hoje...

A criança agitou-se, choramingando. A mulher apertou-a mais contra o peito. Cobriu-lhe a cabeça com o xale e pôs-se a niná-la com um brando movimento de cadeira de balanço. Suas mãos destacavam-se exaltadas sobre o xale preto, mas o rosto era sereno.

— Seu filho?

— É. Está doente, vou ao especialista, o farmacêutico de Lucena achou que eu devia ver um médico hoje mesmo. Ainda ontem ele estava bem mas piorou de repente. Uma febre, só febre... Mas Deus não vai me abandonar.

— É o caçula?

Levantou a cabeça com energia. O queixo agudo era altivo mas o olhar tinha a expressão doce.

— É o único. O meu primeiro morreu o ano passado. Subiu no muro, estava brincando de mágico quando de repente avisou, vou voar! E atirou-se. A queda não foi grande, o muro não era alto, mas caiu de tal jeito... Tinha pouco mais de quatro anos.

Joguei o cigarro na direção do rio e o toco bateu na grade, voltou e veio rolando aceso pelo chão. Alcancei-o com a ponta do sapato e fiquei a esfregá-lo devagar. Era preciso desviar o assunto para aquele filho que estava ali, doente, embora. Mas vivo.

— E esse? Que idade tem?

— Vai completar um ano. — E, noutro tom, inclinando a cabeça para o ombro: — Era um menino tão alegre. Tinha verdadeira mania com mágicas. Claro que não saía nada, mas era muito engraçado... A última mágica que fez foi perfeita, vou voar! disse abrindo os braços. E voou.

Levantei-me. Eu queria ficar só naquela noite, sem lembranças, sem piedade. Mas os laços (os tais laços humanos) já ameaçavam me envolver. Conseguira evitá-los até aquele instante. E agora não tinha forças para rompê-los.

— Seu marido está à sua espera?

— Meu marido me abandonou.

Sentei-me e tive vontade de rir. Incrível. Fora uma loucura fazer a primeira pergunta porque agora não podia mais parar, ah! aquele sistema dos vasos comunicantes.

— Há muito tempo? Que seu marido...

— Faz uns seis meses. Vivíamos tão bem, mas tão bem. Foi quando ele encontrou por acaso essa antiga namorada, me falou nela fazendo uma brincadeira, a Bila enfeiou, sabe que de nós dois fui eu que acabei ficando mais bonito? Não tocou mais no assunto. Uma manhã ele se levantou como todas as manhãs, tomou café, leu o jornal, brincou com o menino e foi trabalhar. Antes de sair ainda fez assim com a mão, eu estava na cozinha lavando a louça e ele me deu um adeus através da tela de arame da porta, me lembro até que eu quis abrir a porta, não gosto de ver ninguém falar comigo com aquela tela no meio... Mas eu estava com a mão molhada. Recebi a carta de tardinha, ele mandou uma carta. Fui morar com minha mãe numa casa que alugamos perto da minha escolinha. Sou professora.

Olhei as nuvens tumultuadas que corriam na mesma direção do rio. Incrível. Ia contando as sucessivas desgraças com tamanha calma, num tom de quem relata fatos sem ter realmente participado deles. Como se não bastasse a pobreza que espiava pelos remendos da sua roupa, perdera o filhinho, o marido, via pairar uma sombra sobre o segundo filho que ninava nos braços. E ali estava sem a menor revolta, confiante. Apatia? Não, não podiam ser de uma apática aqueles olhos vivíssimos, aquelas mãos enérgicas. Inconsciência? Uma certa irritação me fez andar.

— A senhora é conformada.

— Tenho fé, dona. Deus nunca me abandonou.

— Deus — repeti vagamente.

— A senhora não acredita em Deus?

— Acredito — murmurei. E ao ouvir o som débil da minha afirmativa, sem saber por quê, perturbei-me. Agora entendia. Aí estava o segredo daquela segurança, daquela calma. Era a tal fé que removia montanhas...

Ela mudou a posição da criança, passando-a do ombro direito para o esquerdo. E começou com voz quente de paixão:

— Foi logo depois da morte do meu menino. Acordei uma noite tão desesperada que saí pela rua afora, enfiei um casaco e saí descalça e chorando feito louca, chamando por ele! Sentei num banco do jardim onde toda tarde ele ia brincar. E fiquei pedindo, pedindo com tamanha força, que ele, que gostava tanto de mágica, fizesse essa mágica de me aparecer só mais uma vez, não precisava ficar, se mostrasse só um instante, ao menos mais uma vez, só mais uma! Quando fiquei sem lágrimas, encostei a cabeça no banco e não sei como dormi. Então sonhei e no sonho Deus me apareceu, quer dizer, senti que ele pegava na minha mão com sua mão de luz. E vi o meu menino brincando com o Menino Jesus no jardim do Paraíso. Assim que ele me viu, parou de brincar e veio rindo ao meu encontro e me beijou tanto, tanto... Era tamanha sua alegria que acordei rindo também, com o sol batendo em mim.

Fiquei sem saber o que dizer. Esbocei um gesto e em seguida, apenas para fazer alguma coisa, levantei a ponta do xale que cobria a cabeça da criança. Deixei cair o xale novamente e voltei-me para o rio. O menino estava morto. Entrelacei as mãos para dominar o tremor que me sacudiu. Estava morto. A mãe continuava a niná-lo, apertando-o contra o peito. Mas ele estava morto.

Debrucei-me na grade da barca e respirei penosamente: era como se estivesse mergulhada até o pescoço naquela água. Senti que a mulher se agitou atrás de mim

— Estamos chegando — anunciou.

Apanhei depressa minha pasta. O importante agora era sair, fugir antes que ela descobrisse, correr para longe daquele horror. Diminuindo a marcha, a barca fazia uma larga curva antes de atracar. O bilheteiro apareceu e pôs-se a sacudir o velho que dormia:

- Chegamos!... Ei! chegamos!

Aproximei-me evitando encará-la.

— Acho melhor nos despedirmos aqui — disse atropeladamente, estendendo a mão.

Ela pareceu não notar meu gesto. Levantou-se e fez um movimento como se fosse apanhar a sacola. Ajudei-a, mas ao invés de apanhar a sacola que lhe estendi, antes mesmo que eu pudesse impedi-lo, afastou o xale que cobria a cabeça do filho.

— Acordou o dorminhoco! E olha aí, deve estar agora sem nenhuma febre.

— Acordou?!

Ela sorriu:

— Veja...

Inclinei-me. A criança abrira os olhos — aqueles olhos que eu vira cerrados tão definitivamente. E bocejava, esfregando a mãozinha na face corada. Fiquei olhando sem conseguir falar.

— Então, bom Natal! — disse ela, enfiando a sacola no braço.

Sob o manto preto, de pontas cruzadas e atiradas para trás, seu rosto resplandecia. Apertei-lhe a mão vigorosa e acompanhei-a com o olhar até que ela desapareceu na noite.

Conduzido pelo bilheteiro, o velho passou por mim retomando seu afetuoso diálogo com o vizinho invisível. Saí por último da barca. Duas vezes voltei-me ainda para ver o rio. E pude imaginá-lo como seria de manhã cedo: verde e quente. Verde e quente.

Fontes:
Lygia Fagundes Telles. Antes do Baile Verde. Ed. Nova Fronteira, 1995.
Imagem = http://blog.seashepherd.org.br/

Lygia Fagundes Telles (1923)

1923
Nasce em 19 de abril, em São Paulo, Lygia de Azevedo Fagundes, quarta filha de Durval de Azevedo Fagundes e Maria do Rosário Silva Jardim de Moura.
Acompanhando o pai, advogado que exercia as funções de promotor público e delegado, Lygia passa a infância em cidades do interior paulista: Sertãozinho, Apiaí, Descalvado, Areias e Itatinga.
1931
Influenciada pelas histórias que ouvia das empregadas de sua família, a menina recheia de imagens aterrorizantes as suas primeiras narrativas, escritas em cadernos escolares e contadas em casa.
1936
Seus pais se separam, mas não se desquitam.
1938
Numa edição financiada por seu pai e assinando Lygia Fagundes, lança seu primeiro livro, “Porão e sobrado”, com 12 contos. A escritora nunca mais autorizaria a republicação deste livro.
1939
Conclui o curso fundamental no Instituto de Educação Caetano de Campos, em São Paulo.
1940
Começa a cursar a Escola Superior de Educação Física e o preparatório para a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP).
1941
Inicia o curso de Direito no Largo de São Francisco e conclui o de Educação Física. Participa de rodas literárias da faculdade em lugares como a Leiteria Itamarati, a Confeitaria Vienense e a Livraria Jaraguá. É apresentada a escritores como Oswald de Andrade e Mário de Andrade e conhece o crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes, com quem viria a se casar mais de 20 anos depois. Fazendo parte da Academia de Letras da faculdade, colabora nos jornais acadêmicos “Arcádia” e “O Libertador”. Consegue emprego como funcionária da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo.
1944
Ainda estudante de direito, publica pela editora Martins “Praia viva”, seu segundo livro de contos.
1945
Seu pai morre num hotel na cidade de Jacareí, interior paulista.
1946
Forma-se bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais.
1949
Publica outro volume de contos, “O cacto vermelho”, pela editora Mérito. O livro conquista o Prêmio Afonso Arinos, da Academia Brasileira de Letras, mas também não voltaria a ser reeditado, embora alguns desses contos estejam incluídos em “Antes do baile verde”, de 1970.
1950
Primeiro casamento.
1952
Volta a viver em São Paulo, onde começa a escrever seu primeiro romance, “Ciranda de pedra”.
1953
Sua mãe, Maria do Rosário, apelido Zazita, pianista, morre na capital paulista.
1954
Nasce em São Paulo Goffredo da Silva Telles Neto, seu filho. Sai pelas Edições O Cruzeiro “Ciranda de pedra”, que seria o marco de sua maturidade intelectual na opinião do crítico Antonio Candido.
1958
“Histórias do desencontro” é lançado pela editora José Olympio e premiado pelo Instituto Nacional do Livro.
1960
Separa-se do marido.
1961
É nomeada procuradora do Instituto de Previdência do Estado de São Paulo.
1963
Publica seu segundo romance, “Verão no aquário”, pela editora Martins. Começa a viver com Paulo Emílio Salles Gomes num apartamento da Rua Sabará, em São Paulo.
1964
Lança a coletânea de contos “Histórias escolhidas”, pela Martins, com prefácio de Paulo Rónai.
1965
Ainda pela editora Martins publica o livro de contos “O jardim selvagem”.
1967
Escreve de parceria com Paulo Emílio Salles Gomes um roteiro de cinema inspirado no romance “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, a pedido do diretor Paulo Cezar Saraceni. O roteiro acabaria publicado apenas em 1993, sob o título “Capitu”, pela editora Siciliano.
1970
É publicado pela Bloch “Antes do baile verde”, seleção de contos escritos e publicados entre 1949 e 1969. O conto-título conquista na França o Grande Prêmio Internacional Feminino para Estrangeiros.
1973
“As meninas”, seu terceiro romance, cujas primeiras linhas tinham sido escritas dez anos antes, é publicado pela editora José Olympio e recebe três prêmios:
Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro; Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras; e o de Ficção, da Associação Paulista de Críticos de Arte. A apresentação do livro é de autoria de Paulo Emílio Salles Gomes.
1977
“Seminário dos ratos”, livro de contos, é lançado pela José Olympio. Em setembro morre Paulo Emílio. Lygia recebe como herança a causa do marido na luta pelo cinema nacional. Assume a presidência da Cinemateca Brasileira.
1978
Sai pela editora Cultura o volume de contos “Filhos pródigos”, que a partir de 1991 passaria a se chamar “A estrutura da bolha de sabão”. Uma adaptação de seu conto “O jardim selvagem” é exibida no programa “Caso especial”, da Rede Globo.
1980
Lança “A disciplina do amor”, reunião do que classifica de “fragmentos” e que marca o início de um relacionamento de 17 anos com a editora Nova Fronteira.
1981
“Mistérios”, coletânea de contos fantásticos, é publicada. Entre maio e novembro, a Rede Globo exibe “Ciranda de pedra”, novela baseada em sua obra homônima.
1982
É eleita para a cadeira 28 da Academia Paulista de Letras.
1985
É eleita para a cadeira 16 da Academia Brasileira de Letras no dia 24 de outubro, por 32 votos a 7, na vaga de Pedro Calmon.
1987
Toma posse na ABL em 12 de maio.
1989
Lança seu quarto romance, “As horas nuas”.
1990
É tema do documentário “Narrarte”, dirigido por seu filho Goffredo e Paloma Rocha. O filme é premiado no Festival de Cinema de Gramado.
1991
Aposenta-se como procuradora do Instituto de Previdência do Estado de São Paulo.
1993
Adapta seu conto “O moço do saxofone” (do livro “Antes do baile verde”) para a série “Retratos de mulher”, da Rede Globo, num episódio chamado “Era uma vez Valdete”.
1994
Participa da Feira de Frankfurt.
1996
Lança o livro de contos “A noite escura e mais eu”. “As meninas” chega ao cinema num filme de Emiliano Ribeiro, que assume o projeto de David Neves depois da morte do cineasta.
1997
A editora Rocco adquire os direitos de publicação de toda a sua obra, que chega em novas edições às livrarias.
1998
Integra a delegação brasileira que vai ao Salão do Livro de Paris.
2000
É publicado pela Rocco o volume de contos “Invenção e memória”.
2001
Recebe o Golfinho de Ouro, o Grande Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte e o prêmio Jabuti por “Invenção e memória”.
2002
Lança "Durante aquele estranho chá - Perdidos e achados", com textos organizados pelo jornalista Suênio Campos de Lucena que relembram encontros, acontecimentos e emoções que viveu, ressaltando-se sua paixão pela literatura.
2003
Seu mais conhecido romance, “As meninas”, completa 30 anos e é tema de artigos e celebrações. Torna-se nome de prêmio literário criado pelo governo do Estado de São Paulo, que a homenageia, pelo conjunto de sua obra, com uma grande festa em 29 de setembro.
2004
Lança a antologia Meus contos preferidos, reunindo 31 textos que mesclam épocas, estilos e temas.
2005
Recebe o Prêmio Camões, o mais importante da literatura em língua portuguesa, no valor de € 100 mil. Entre os brasileiros laureados, estão João Cabral do Melo Neto, Rachel de Queiroz, Jorge Amado, Antonio Candido, Autran Dourado e Rubem Fonseca. Lança Meus contos esquecidos, depois que leitores se quixam da ausência de textos importantes na antologia publicada no ano anterior.
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Biografia mais detalhada = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/02/lygia-fagundes-telles-1923.html
Contos:
O Moço do Saxofone http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/01/o-escritor-com-palavra-lygia-fagundes.html
Venha ver o pôr do sol http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/03/lygia-fagundes-telles-venha-ver-o-pr-do.html

Lygia Fagundes Telles (A Mão no Ombro)



O homem estranhou aquele céu verde-cinza com a lua de cera coroada por um fino galho de árvore, as folhas se desenhando nas minúcias sobre o fundo opaco. Era uma lua ou um sol apagado? Difícil saber se estava anoitecendo ou se já era manhã no jardim que tinha a luminosidade fosca de uma antiga moeda de cobre. Estranhou o perfume úmido de ervas. E o silêncio cristalizado como num quadro, com um homem (ele próprio) fazendo parte do cenário. Foi andando pela alameda atapetada de folhas cor de brasa mas não era outono. Nem primavera porque faltava às flores o hálito doce avisando as borboletas, não viu borboletas. Nem pássaros. Abriu a mão no tronco da figueira viva mas fria: um tronco sem formigas e sem resina, não sabia por que motivo esperava encontrar a resina vidrada nas gretas, não era verão. Nem inverno, embora a frialdade limosa das pedras o fizesse pensar no sobretudo que deixou no cabide do escritório. Um jardim fora do tempo mas dentro do meu tempo, pensou.

O húmus que subia do chão impregnava do mesmo torpor da paisagem. Sentiu-se oco, a sensação de leveza se misturando ao sentimento inquietante de um ser sem raízes: se abrisse as veias não sairia nenhuma gota de sangue, não sairia nada. Apanhou um folha. Mas que jardim era esse? Nunca estivera ali nem sabia como o encontrara. Mas sabia - e com que força - que a rotina fora quebrada porque alguma coisa ia acontecer, o quê?! Sentiu o coração disparar. Habituara-se tanto ao cotidiano sem imprevistos, sem mistério. E agora, a loucura desse jardim atravessado em seu caminho. E com estátuas, aquilo não era uma estátua?

Aproximou-se da mocinha de mármore arregaçando graciosamente o vestido para não molhar nem a saia nem os pés descalços. Uma mocinha medrosamente fútil no centro do tanque seco, pisando com cuidado, escolhendo as pedras amontoadas em redor. Mas os pés delicados tinham os vãos dos dedos corroídos por uma época em que a água chegava até eles. Uma estria negra lhe descia do alto da cabeça, deslizava pela face e se perdia ondulante no rego dos seios meio descobertos pelo corpete desatado. Notou que a estria marcara mais profundamente a face, devorando-lhe a asa esquerda do nariz, mas por que a chuva se concentrara só naquele percurso numa obstinação de goteira? Ficou olhando a cabeça encaracolada, os anéis se despencando na nuca que pedia carícia. Me dá sua mão que eu ajudo, ele disse e recuou: um inseto penugento, num enrodilhamento de aranhas, foi saindo de dentro da pequenina orelha.

Deixou cair a folha seca, enfurnou as mãos nos bolsos e seguiu pisando com a mesma prudência da estátua. Contornou o tufo de begônias, e vacilou entre os dois ciprestes (mas o que significava essa estátua?) e enveredou por uma alameda que lhe pareceu menos sombria. Um jardim inocente. E inquietante como o jogo de quebra-cabeça que o pai gostava de jogar com ele: no caprichoso desenho de um bosque estava o caçador escondido, tinha que achá-lo depressa para não perder a partida, vamos, filho, procura nas nuvens, na árvore, não está ele enfolhado naquele ramo? No chão, veja no chão, não forma um boné a curva ali do regato?

Está na escada, ele respondeu. Esse caçador singularmente familiar que viria por detrás, na direção do banco de pedra onde ia se sentar, logo ali adiante tinha um banco. Para não me surpreender desprevenido (detestava surpresas) discretamente ele dará algum sinal antes de pousar a mão no meu ombro. Então eu me viro para ver. Estacou. A revelação o fez cambalear, esvaído numa vertigem: agora joelhos no chão. Seria como uma folha tombando em seu ombro mas se olhasse para trás, se atendesse o chamado. Foi endireitando o corpo. Passou as mãos nos cabelos. Sentia-se observado pelo jardim, julgado até pela roseira de rosas miúdas sorrindo reticente logo adiante. Envergonhou-se. Meu Deus, murmurou num tom de quem pede desculpas por ter entrado em pânico assim com essa facilidade, meu Deus, que papel miserável, e se for um amigo? Simplesmente um amigo? Começou a assobiar e as primeiras notas da melodia o transportaram ao menino antigo com sua roupa de Senhor dos Passos na procissão da Sexta-feira Santa. O Cristo cresceu no esquife de vidro, oscilando suspenso sobre as cabeças, me levanta, mãe, quero ver! Mas continuava alto demais tanto na procissão como depois, lá na igreja, deposto no estrado de panos roxos, fora do esquife para o beija-mão. O remorso velando as caras. O medo atrofiando a marcha dos pés tímidos atrás do Filho de Deus, o que nos espera se até Ele?!... A vontade de que o pesadelo passasse logo e amanhecesse sábado, ressuscitar no sábado! Mas a hora ainda era a da banda de batas pretas. Das tochas. Dos turíbulos atirados para os lados, vupt! vupt! até o extremo das correntes. Falta muito, mãe? A vontade de evasão de tudo quanto era grave e profundo certamente vinha dessa noite: os planos de fuga na primeira esquina, desvencilhar-se da coroa de falsos espinhos, da capa vermelha, fugir do Morto tão divino, mas morto~A procissão seguiu por ruas determinadas, era fácil se desviar dela, descobriu mais tarde. O que continuava difícil era fugir de si mesmo. No fundo secreto, fonte de ansiedade, era sempre noite - os espinhos verdadeiros lhe espetando a carne, ô! por que não amanhece? Quero amanhecer!

Sentou-se no banco verde de musgo, tudo em redor mais quieto e mais úmido agora que chegara ao âmago do jardim. Correu as pontas dos dedos no musgo e achou-o sensível como se lhe brotasse da própria boca. Examinou as unhas. E abaixou-se para tirar a teia de aranha que se colara despedaçada à bainha da calça: o trapezista de malha branca (foi na estréia do circo?) despencou do trapézio lá em cima, varou a rede e se estatelou no picadeiro. A tia tapou-lhe depressa os olhos, não olha, querido! mas por entre os dedos enluvados viu o corpo se debater sob a rede que foi arrastada na queda. As contorções se espaçaram até a imobilidade, só a perna de inseto vibrando ainda. Quando a tia o carregou para fora do circo, o pé em ponta escapava pela rede estraçalhada num último estremecimento. Olhou para o próprio pé adormecido, tentou movê-lo. Mas a dormência já subia até o joelho. Solidário, o braço esquerdo adormeceu em seguida, um pobre braço de chumbo, pensou enternecido com a lembrança de quando aprendera que alquimia era transformar metais vis em ouro, o chumbo era vil? Com a mão direita, recolheu o braço que pendia, avulso. Bondosamente colocou-o sobre os joelhos: já não podia fugir. E fugir para onde se tudo naquele jardim parecia dar na escada? Por ela viria o caçador de boné, eterno habitante de um jardim eterno, só ele mortal. A exceção. E se cheguei até aqui é porque vou morrer. Já? horrorizou-se olhando para os lados mas evitando olhar para trás. A vertigem o fez fechar de novo os olhos. Equilibrou-se tentando se agarrar ao banco, não quero! gritou. Agora não, meu Deus, espera um pouco, ainda não estou preparado! Calou-se, ouvindo os passos que desciam tranqüilamente a escada. Mais tênue do que a brisa um sopro pareceu reavivar a alameda. Agora está nas minhas costas, ele pensou e sentiu o braço se estender na direção do seu ombro. Ouviu a mão ir baixando numa crispação de quem (familiar e contudo cerimonioso) dá um sinal, sou eu. O toque manso. Preciso acordar, ordenou se contraindo inteiro, isto é apenas um sonho! Preciso acordar! acordar. Acordar, ficou repetindo. Abriu os olhos.

Demorou um pouco para reconhecer o travesseiro que apertava contra o peito. Limpou a baba morna que lhe escorria pelo queixo e puxou o cobertor até os ombros. Que sonho! Murmurou abrindo e fechando a mão esquerda, formigante, pesada. Estendeu a perna e quis contar-lhe o sonho do jardim com a morte vindo por detrás: sonhei que ia morrer. Mas ela podia gracejar, a novidade não seria sonhar o contrário? Viou-se para a parede. Não queria nenhum tipo de resposta do gênero bem humorado, como era irritante quando ela exibia seu humor. Gostava de se divertir à custa dos outros mas se encrespava quando se divertiam à sua custa. Massageou o braço dolorido e deu uma vaga resposta quando ela lhe perguntou que gravata queria usar, estava um dia lindo. Era dia ou noite no jardim? Tantas vezes pensara na morte dos outros, entrara mesmo na intimidade de algumas dessas mortes e jamais imaginou que pudesse lhe acontecer o mesmo, jamais. Um dia, quem sabe? Um dia lá longe, mas tão longe que a vista não alcançava essa lonjura, ele próprio se perdendo na poeira de uma velhice remota, diluído no esquecimento. No nada. E agora, nem cinqüenta anos. Examinou o braço. Os dedos. Levantou-se molemente, vestiu o chambre, não era estranho? Isso de não ter pensado em fugir do jardim. Voltou-se para a janela e estendeu a mão para o Sol. Pensei, é claro, mas a perna desatarraxada e o braço advertindo que não podia escapar porque todos os caminhos iam dar na escada, que não havia nada a fazer senão ficar ali no banco, esperando o chamado que viria por detrás, de uma delicadeza implacável. E então? Perguntou-lhe a mulher. Assustou-se. Então o quê?! Ela passava creme na cara, fiscalizando-o através do espelho, mas ele não ia fazer sua ginástica? Hoje não, disse massageando de leve a nuca, chega de ginástica. Chega também de banho? ela perguntou enquando dava tapinhas no queixo. Ele calçou os chinelos: se não estivesse tão cansado, poderia odiá-la. E como desafina! (agora ela cantarolava), nunca teve bom ouvido, a voz até que é agradável mas se não tem bom ouvido... Parou no meio do quarto: o inseto saindo do ouvido da estátua não seria um sinal? Só o inseto se movimentando no jardim parado. O inseto e a morte. Apanhou o maço de cigarro mas deixou-o, hoje fumaria menos. Abriu os braços: esse dolorimento na gaiola do peito era real ou memória do sonho?

Tive um sonho, ele disse passando por detrás da mulher e tocando-lhe o ombro. Ela afetou curiosidade no leve arquear das sobrancelhas, um sonho? e recomeçou a espalhar o creme em torno dos olhos, preocupada demais com a própria beleza para pensar em qualquer coisa que não tivesse ligação com essa beleza. Que já está perdendo o viço, ele resmungou ao entrar no banheiro. Examinou-se no espelho: estava mais magro ou essa imagem era apenas um eco multiplicador do jardim?

Cumpriu a rotina da manhã com uma curiosidade comovida, atento aos menores gestos, os gestos que sempre repetiu automaticamente e que agora analisava, fragmentando-os em câmera lenta, como se fosse a primeira vez que abria uma torneira. Podia também ser a última. Fechou-a, mas que sentimento era esse? Despedia-se e estava chegando. Ligou o aparelho de barbear, examinou-o através do espelho e num movimento carinhoso aproximou-o da face: não sabia que amava assim a vida. Essa vida da qual falava com tamanho sarcasmo, com tamanho desprezo. Acho que ainda não estou preparado, foi o que tentei dizer, não estou preparado. Seria uma morte repentina, coisa do coração - mas não é o que eu detesto? O imprevisto, a mudança dos planos. Enxugou-se com indulgente ironia: exatamente isso era o que todos diziam. Os que iam morrer. E nunca pensaram sequer em se preparar, até o avô velhíssimo, quase cem anos e alarmado com a chegada do padre, mas está na hora? Já?

Tomou o café em goles miúdos, como era gostoso o primeiro café. A manteiga se derretendo no pão aquecido. O perfume das maçãs de prazeres. Baixou o olhar para a mesa posta: os pequeninos objetos. Ao entregar-lhe o jornal, a mulher lembrou que tinham dois compromissos para a noite, um coquetel e um jantar, e se emendássemos? Ela sugeriu. Sim, emendar, ele disse. Mas não era o que faziam durante anos e anos, sem interrupção? O brilhante fio mundano era desenrolado infinitamente, dia após dia, sim, emendaremos, repetiu. E afastou o jornal: mais importante do que todos os jornais do mundo era agora o raio de sol entrando pela janela até repassar as uvas do prato. Colheu um bago cor de mel e pensou que se houvesse uma abelha no jardim do sonho, ao menos uma abelha, podia ter esperança. Olhou para a mulher que passava geléia de laranja na torrada, uma gota amarelo-ouro escorrendo-lhe pelo dedo e ela rindo e lambendo o dedo, há quanto tempo tinha acabado o amor? Ficara esse jogo. Essa acomodada representação já em decadência por desfastio, preguiça. Estendeu a mão para acariciar-lhe a cabeça, que pena, disse. Ela voltou-se, pena por quê? Ele demorou o olhar nos seus cabelos encaracolados, como os da estátua: uma pena aquele inseto, disse. E a perna ficar metálica na metamorfose final, não se importe, estou delirando. Serviu-se de mais café. Mas estremeceu quando ela lhe perguntou se por acaso não estava atrasado.

último? Beijou o filho de uniforme azul, entretido em arrumar a pasta do colégio, exatamente como fizera na véspera. Como se não soubesse que naquela manhã (ou noite?) o pai quase olhara a morte nos olhos. Mais um pouco e dou de cara com ela, segredou ao menino que não ouviu, conversava com o copeiro. Se não acordo antes, disse num tom forte e a mulher se debruçou na janela para avisar ao motorista que tirasse o carro. Vestiu o paletó: podia dizer o que quisesse, ninguém se interessava. E por acaso eu me interesso pelo que dizem ou fazem? Afagou o cachorro que veio saudá-lo com uma alegria tão cheia de saudade que se comoveu, não era extraordinário? A mulher, o filho, os empregados - todos continuavam impermeáveis, só o cachorro pressentira o perigo com seu faro visionário. Acendeu o cigarro, atento à chama do palito queimando até o fim. Vagamente, de algum cômodo da casa, veio a voz do locutor de rádio na previsão do tempo. Quando se levantou, a mulher e o filho já tinham saído. Ficou olhando o café esfriando no fundo da xícara. O beijo que lhe deram foi tão automático que nem sequer se lembrava de ter sido beijado.

Telefone para o senhor, o copeiro veio avisar. Encarou-o: há mais de três anos aquele homem trabalhava ali ao lado e quase nada sabia sobre ele. Baixou a cabeça, fez um gesto de quem se recusa e se desculpa. Tanta pressa nas relações dentro de casa. Lá fora, um empresário de sucesso casado com uma mulher na moda. A outra fora igualmente ambiciosa mas não tinha charme e era preciso charme para investir nas festas, nas roupas. Investir no corpo, a gente tem que se preparar como se todos os dias tivesse um encontro de amor, ela repetiu mais de uma vez, olha aí, não me distraio, nenhum sinal de barriga! A distração era de outro gênero. O doce distraimento de quem tem a vida pela frente, mas não tenho? Deixou cair o cigarro dentro da xícara: agora, não mais. O sonho interrompera o fluxo da sua vida no corte do jardim. O incrível sonho fluindo tão natural apesar da escada com seus degraus esburacados de tão gastos. Apesar dos passos do caçador embutido, pisando na areia da malícia fina até o toque no ombro: vamos?

Entrou no carro, ligou o contato. O pé esquerdo resvalou para o lado, recusando-se a obedecer. Repetiu o comando com mais energia e o pé resistindo. Tentou mais vezes. Não perder a calma, não se afobar, foi repetindo enquanto desligava a chave. Fechou o vidro. O silêncio. A quietude. De onde vinha esse perfume de ervas úmidas? Descansou no assento as mãos desinteressadas. A paisagem foi se aproximando numa aura de cobre velho, estava clareando ou escurecia? Levantou a cabeça para o céu esverdinhado, com a lua de calva exposta, coroada de folhas. Vacilou na alameda bordejada pela folhagem escura, mas o que é isso, estou no jardim? De novo? E agora, acordado, espantou-se, examinando a gravata que ela escolhera para esse dia. Tocou na figueira, sim, outra vez a figueira. Enveredou pela alameda: um pouco mais e chegaria ao tanque seco. A moça dos pés cariados ainda estava em suspenso, sem se decidir, com medo de molhar os pés. Como ele mesmo, tanto cuidado em não se comprometer nunca, em não assumir a não ser as superfícies. Uma vela para Deus, outra para o Diabo. Sorriu das próprias mãos abertas, se oferecendo. Passei a vida assim, pensou, mergulhando-as nos bolsos num desesperado impulso de aprofundamento. Afastou-se antes que o inseto fofo irrompesse de dentro da pequenina orelha, não era absurdo? Isso da realidade imitar o sonho num jogo onde a memória se sujeitava ao planificado. Planificado por quem? Assobiou e o Cristo da procissão foi se esboçando no esquife indevassável, tão alto. A mãe enrolou-0 depressa no xale, a roupa do Senhor dos Passos era leve e tinha esfriado, está com frio, filho? Tudo se passava mais rápido ou era apenas impressão? A marcha funeral se precipitou em meio das tochas e correntes soprando fumaça e brasa. E se eu tivesse mais uma chance? gritou. Tarde porque o Cristo já ia longe.

O banco no centro do jardim. Afastou a teia despedaçada e entre os dedos musgosos como o banco, vislumbrou o corpo do antigo trapezista enredado nos fios da rede, só a perna viva. Fez-lhe um afago e a perna não reagiu. Sentiu o braço tombar, metálico, como era a alquimia? Se não fosse o chumbo derretido que lhe atingia o peito, sairia rodopiando pela alameda, descobri! Descobri. A alegria era quase insuportável: da primeira vez, escapei acordando. Agora, vou escapar dormindo. Não era simples? Recostou a cabeça no espaldar do banco, mas não era sutil? Enganar assim a morte saindo pela porta do sono. Preciso dormir, murmurou fechando os olhos. Por entre a sonolência verde-cinza viu que retomava o sonho no ponto exato em que fora interrompido. A escada. Os passos. Sentiu o ombro tocado de leve. Voltou-se.

Fontes:
Lygia Fagundes Telles. Seminário dos Ratos. RJ: Rocco, 1977.
Imagem = http://nautikkon.blogspot.com

Matemática e Poesia

Raul Seixas (Os Números)
Adaptação: Erisvaldo Ferreira Silva

Meus amigos essa noite
eu tive uma alucinação
sonhei c'um monte de "número"
invadindo o meu sertão
vi tanta coincidência
que eu fiz essa canção

Falar do número um
não é preciso muito estudo
só se casa uma vez
foi um só deus que criou tudo
uma vida só se vive
só se usa um sobre-tudo

Entre dois o homem luta
por coisas diferentes
bem e mal, amor e guerra
preto e branco, bicho e gente
rico e pobre, claro e escuro
noite e dia, corpo e mente

E o quatro é importante
quatro pontos "cardeal"
quatro estações do ano
quatro pés tem o animal
quatro pernas tem a mesa
quatro dias o carnaval

Sete dias da semana
sete notas musicais
sete cores o arco-íris
das regiões divinais
e se pintar tanto o sete
eu já não aguento mais

E só de pensar no doze
eu então quase desisto
são doze os meses do ano
doze os apóstolos de Cristo
doze horas é meio dia
haja dito e haja visto

Eu falei de tanto número
talvez me esqueci de algum
mas as coisas que eu disse
não são lá muito comum
quem souber que conte outro
ou que fique sem nenhum.
========================

Fadlo Dualibi Neto (Coração Geométrico)

Um coração é um ponto solitário,
Em um plano cartesiano imaginário,
Vagando triste em busca de seu par.
Se encontra outro ponto, surge a reta,
Dois corações unidos numa meta,
Se amando par a par.

No entanto, se outro ponto aparece,
E em trajetória dessa reta desce,
Cruzando velozmente sem parar,
Não trio amoroso, isto é insano,
Geometricamente forma apenas plano,
Criado para os pontos abrigar.

E nesta harmonia estabelecida,
Os pontos formam retas, em partida,
Prá juntos, bem alegres caminhar.
Figuras hiperbólicas vão se formando,
Cilindros, cones, cubos, e girando,
Lindas esferas, doidas a bailar.

Miríades de ângulos adjacentes,
Perpendiculares, medianas e tangentes,
Formam cascatas a revolutear.
E nesse volitar de entes geométricos,
Eu me encontro, simples ponto a buscar,
Nos espaços infinitos, quilométricos,
De todos os quadrantes paramétricos,
Um coração a quem eu possa amar.
-----
Figura = montagem José Feldman

Lançamento do Livro Infantil 4ª Coletânea dos Sorocultinhos – Pelo amor aos animais



O Grupo Sorocult , lançará no dia 23 de abril de 2009 (Dia Mundial do Livro e do Direito Autoral) o livro infantil “4ª Coletânea dos Sorocultinhos – Pelo amor aos animais” e seu novo livreto educativo “1º Colorindo com os Sorocultinhos” (feito especialmente para as crianças que ainda não sabem ler mas que também adoram ganhar os livrinhos dos Sorocultinhos). Ambos os livros levam o selo da Ottoni Editora (www.ottonieditora.com.br ).

Eles trazem textos escritos seguindo as regras do novo acordo ortográfico, entre poesias, histórias, poesia em inglês, teoria literária infantil e desenhos para serem coloridos pelas crianças, tudo voltado à necessidade de se amar, respeitar e cuidar bem dos animais, abordando os direitos deles e os nossos deveremos para com eles.

Os livrinhos dos Sorocultinhos e o novo livreto educativo fazem parte do “PLRS – Projeto Leitura Responsável Sorocult”, um programa educativo de incentivo à leitura voltado à criança (principalmente a criança carente que é assistida pelas entidades assistenciais de Sorocaba e região) que visa também auxiliar a formação dela enquanto leitor, pessoa e cidadão.

Os livrinhos são sempre escritos por escritores do site www.sorocult.com que também fazem parte dos espaços infantis dos Sorocultinhos existentes no Sorocult.

Para a produção deste novo livrinho, o PLRS contou com a colaboração de vários amigos especiais e novamente do Grupo Samaritano (Hospital e Maternidade Samaritano e Mediplan Assistencial Ltda (www.samaritano.med.br e www.mediplan.med.br) que foram os patrocinadores do 3º livrinho dos Sorocultinhos em novembro de 2008.

Estas colaborações são importantíssimas para que os livrinhos possam chegar cada vez a mais crianças, por isso desde já o Grupo Sorocult agradece profundamente a todos estes amigos maravilhosos.

Conheçam mais sobre o PLRS e visitem os espaços do Sorocultinho e da Sorocultinha no Sorocult acessando o www.sorocult.com

Estes são os 15 co-autores da “4ª Coletânea dos Sorocultinhos” e do “1º Colorindo com os Sorocultinhos”
1- Angela Maria de Godoy Theodorovicz
2- Angela Cristina Santos de Jesus
3- Carmen Silveira de Abreu
4- Débora Valio Corrêa Fidêncio (10 anos de idade)
5- Daniela Larissa Madureira Salcedo (8 anos de idade)
6- Dorothy Jansson Moretti
7- Jairo Valio
8- Josefa Maria Portela
9- Isabela Maria Madureira Salcedo (11 anos de idade)
10- Maria Thereza Moreira Pereira
11- Mariana Domitila Padovani Martins
12- Marianice Straub Terra Barth
13- Neusa Padovani Martins
14- Nícolas Estevan Padovani Martins (17 anos de idade)
15- Therezinha Aparecida Válio Corrêa

Créditos / livros:
Capa e diagramação------------- Nícolas Estevan Padovani Martins
Ilustração---------------------------- Mariana Domitila Padovani Martins
Revisão ortográfica --------------- Angela Cristina Santos de Jesus
Tradução para o inglês----------- Lucas Diego Cesari Rizzo
Revisão do Inglês ----------------- Dorothy Jansson Moretti
Organização e Coordenação – Neusa Padovani Martins

Fonte:
Neusa Padovani Martins (Coordenadora e editora do Sorocult)

Kelly de Souza (Tupi or Not Tupi?)



A Identidade do Brasil Pré-Colonial na Obra de Autores Índios e Escritores Indigenistas

Diz a sabedoria popular que a história sempre tem duas ou mais versões. O Descobrimento do Brasil, em abril de 1500, não fugiu à regra. Cedo, aprendemos com Pero Vaz de Caminha, escrivão da expedição de Cabral, como se comportavam os índios da recém-descoberta terra. A carta de Caminha, considerada a primeira obra literária do país, descreve com deslumbramento ao rei Dom Manuel, essa “gente de tal inocência”. Empolgado com a “bela simplicidade” deles, Caminha faz sua aposta: “Se entendêssemos a sua fala e eles a nossa, (...) não duvido que imprimir-se-á facilmente neles qualquer cunho que lhe quiserem dar”.

Graças a este documento, conhecemos as impressões (e intenções) dos primeiros contatos entre portugueses e indígenas. A escrita, ferramenta fundamental nesse processo, não era dominada pelos índios, cuja oralidade funcionava como instrumento de transmissão das histórias vividas, dos mitos e das lendas criadas. Essa “memória ancestral”, passada de geração para geração, ficou bem escondida entre as matas e etnias dessa terra chã. A história do Descobrimento brasileiro ficou apenas com uma versão: a do homem branco.

O antropólogo Darcy Ribeiro dedicou grande parte de sua vida a contar o evento por outro ângulo, dessa vez, o do indígena. Com uma vasta obra etnográfica, o escritor deixou importantes livros sobre o tema, como Maíra, Os índios e a civilização e O povo brasileiro. Neste último, figuram de forma veemente as opostas visões entre colonizador e colonizados. “Os índios perceberam a chegada do europeu como um acontecimento espantoso, só assimilável em sua visão mítica do mundo. (...) Recém-chegados, saídos do mar, eram feios, fétidos e infectos.”

Se na antropologia o assunto ganhou densidade no século 20, foi a literatura que inaugurou a discussão. Já no 18, autores passaram a dedicar obras baseadas no mundo indígena, a partir de relatos de pessoas que tiveram contato com diferentes etnias e nas crônicas de viajantes dos séculos 16 e 17. O Uraguai, poema épico de 1769, escrito por Basílio da Gama, critica frontalmente os jesuítas em suas relações com os índios. Caramuru, escrito em 1781 pelo frei Santa Rita Durão, é outro exemplo de épico que relata a história de um náufrago português que viveu entre o povo indígena.

É na primeira geração de escritores do Romantismo, do século 19, que o índio vira foco da literatura brasileira, representando a pureza, o heroísmo, a coragem e o homem não corrompido pela sociedade. Nessa época, surgem diversos personagens-heróis que marcam a literatura indianista, como I-Juca-Pirama (Gonçalves Dias), O guarani, Iracema e Ubirajara (José de Alencar). O selvagem, de Couto de Magalhães, foi escrito a pedido de D. Pedro II para a Exposição Mundial de Filadélfia (EUA), em 1876. Já no século 20, o romance Quarup (esgotado), de Antônio Callado, se desenrola no Xingu.

CHOQUE CULTURAL?
Se o primeiro contato entre “homens brancos” e índios causou profundo estranhamento, mais de 500 anos depois – apesar de toda a evolução feita no campo das ciências sociais –, este choque cultural parece não ter sido resolvido. Ambos parecem se conhecer na mesma profundidade relatada em 1500. Não faltam motivos para a deficiência na comunicação e interação, porém a ausência da escrita formal, em português, figura mais uma vez como uma das responsáveis. Fica tudo como na época de Caminha: não índio contando a história de índio.

A literatura brasileira sempre esteve ligada aos indígenas, mas de forma dependente da escrita de não índios, o que configurou a chamada literatura indianista ou indigenista, desenvolvida por especialistas no assunto. A formação de uma escrita genuinamente indígena, ou seja, criada por autores índios, é um fenômeno atual, ocorrido há menos de 15 anos. De acordo com um dos pioneiros da literatura indígena, Daniel Munduruku, autor de Todas as coisas são pequenas, entre outros, a escrita é uma conquista recente para os 230 povos, que falam quase 200 diferentes línguas e dialetos, existentes no país. “A literatura indígena nasceu a partir do momento em que eles assumiram um papel mais político na sociedade brasileira.” Munduruku, que preside o Instituto Indígena Brasileiro para a Propriedade Intelectual (Inbrapi), defende que é pela oralidade que os povos mantêm sua tradição, mas só por meio da escrita será possível oferecer à sociedade uma visão histórica e atual deles.

O BRASIL É ACANHADO?
Para a professora Graça Graúna, potiguar de São José do Campestre (RN), sim, quando comparado a outros países da América Latina. “Falta abertura, leitura e informação para que possamos diminuir os preconceitos existentes. Muitos (não índios) exclamam: ‘Ah, eles escrevem, ah, eles pensam’. Temos ainda que brigar muito, essa é uma luta pela palavra. E ela é sagrada, seja indígena ou não.” Graça explica que o crescimento da literatura indígena representa um novo movimento das caravanas portuguesas, só que agora em sentido inverso. “Nós estamos redescobrindo o Brasil. Não chegaram aqui as caravelas de Cabral, Pero Vaz de Caminha e suas cartas? Agora é nosso momento de contar a história, de dizer o que estamos fazendo.

Quem tem feito esse caminho são os índios que vivem nas grandes cidades e trilharam o mundo acadêmico. Há um segundo tipo, que manteve contato maior com a cidade sem a academia. E, o terceiro perfil de escritor-indígena é aquele que vive em sua comunidade e faz o resgate da oralidade dos mais velhos. Para isso, existe hoje um movimento editorial nesses locais, financiado essencialmente por órgãos governamentais, como o Ministério da Educação e Cultura, que visa a formação de professores e a implantação de escolas nas aldeias.

A partir da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), esse trabalho formou no estado cerca de 300 professores em nível médio. “Com a capacitação de mais índios, cerca de 60 livros foram publicados, a maioria em língua indígena”, comenta Maria Inês de Almeida, professora da UFMG e coordenadora do projeto. Em 2006, ela também coordenou a criação do primeiro curso superior para professores indígenas, que formará uma turma de 140 alunos em 2010.

Dados do Censo Escolar INEP/MEC mostram que a oferta escolar para esses povos cresceu 48,7 % , entre 2002 e 2006, em cursos que vão da educação infantil ao ensino médio. A expansão anual da matrícula em escolas indígenas aproxima-se de 10% ao ano. Nenhum outro segmento da população no Brasil apresenta igual crescimento. Cerca de 100 escritores índios atuam hoje no país e, de acordo com Daniel Munduruku, esse número não para de aumentar. Prova disso é a realização da sexta edição do Encontro de Escritores Indígenas, que ocorre de 10 a 21 de junho, no Rio de Janeiro, durante o Salão do Livro, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.

LITERATURA ORAL
Não seria exagero citar a crise existencial de Hamlet, na peça de Shakespeare, para representar a “tragédia” que muitos estudiosos e críticos têm criado em torno da escrita indígena: afinal, é ou não literatura? Autor de 35 livros publicados, Daniel Munduruku diz que a justificativa dos opositores é que estes escritores não dominam o instrumental da escrita e é através da oralidade que são transmitidas as histórias, portanto, esta literatura seria inexistente. “A justificativa é um engodo, porque estão tentando definir o que é indefinível. Decifrar o que é indecifrável. Quem escreve textos literários não quer filosofar, nem teorizar, quer escrever e mostrar o que sabe.”

Graça Graúna explica que, quando um índio é apresentado como escritor, desperta a curiosidade da sociedade. “Ainda falta quebrar um monte de preconceito, e as noções de cultura, literatura e ancestralidade têm que existir sem essas amarras.” E não foi apenas a respeito disso que a escritora já sofreu preconceitos. “Fui muitas vezes questionada e impedida de ser vista como indígena por morar na cidade. Ora, você não precisa estar em uma aldeia para ser índio.”

Uma das mais atuantes defensoras da literatura indígena, a escritora Eliane Potiguara compara esse imbróglio à discussão de gênero. Formada em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, ela diz que um dia não será mais necessário questionar se é ou não literatura. “É parecido com o que aconteceu em termos da inserção feminina no mercado de trabalho.” Autora de três livros, Eliane diz que essa literatura tem sido bem recebida pela sociedade, e os índios se sentem valorizados. “Cada vez mais, precisamos provar que existimos para essa antropologia burguesa e que queremos mostrar o que temos.”

Quem também deve ouvir o que tais autores têm a dizer é a Academia Brasileira de Letras (ABL), que organiza um encontro inédito, em seu salão nobre, no próximo 16 de junho. “A ideia é abrir um diálogo com os imortais para aproximar as duas literaturas e mostrar que o que se produz na floresta – a oralidade – é também a literatura utilizando o mecanismo da palavra”, explica Munduruku.

DESBRAVANDO O MERCADO

Apesar de ocupar espaço crescente no segmento, ainda são poucos os autores que veem suas obras publicadas em grandes editoras comerciais. Publicado pela Companhia das Letras, Daniel Munduruku acredita que o mercado percebeu o nicho que precisa ser explorado. “Os indígenas estão produzindo porque existe demanda e o livro chega cada vez mais para esse público comprador.” Segundo ele, o problema é que essa literatura, como é pouco conhecida, não consegue disputar espaço nas livrarias com os grandes best-sellers.

Para Graça Graúna, a questão não é tão simples. O mercado editorial é construído por modelos. No geral, as editoras querem vender livros. “São aquelas obras que têm um grande campo de comercialização. Os grupos editoriais ainda mistificam a literatura indígena”, explica. Já Munduruku espera ainda mais a ampliação do mercado. “O Brasil nos conhece pouco. E os leitores precisam ler seus próprios autores e, quando o povo perceber isso, será o momento em que esta literatura despontará ainda mais.”

O grande filão é o público infanto-juvenil. A obrigatoriedade do ensino da temática tornou o governo e as escolas os maiores compradores dessas obras. Recentemente, a Secretaria Municipal de Cultura e Educação do Rio de Janeiro comprou 1.300 exemplares do livro Metade cara, metade máscara, de Eliane Potiguara, para distribuir nas bibliotecas da cidade. “É preciso sensibilizar outras secretarias municipais para ampliarmos o alcance da literatura indígena no Brasil. Neste ponto, o governo tem papel fundamental.”

O DESTINO DO JAGUAR

Se as editoras ainda têm reservas em relação à publicação em massa da produção indígena, o mesmo não ocorre com a indianista, escrita por não índios. Nunca se viu a publicação de tantas obras com tal temática. Uma delas é Couro dos espíritos, da respeitada antropóloga Betty Mindlin, que conta fábulas e relatos sobre a tribo gavião-icolen, de Rondônia. Outro lançamento badalado é Meu destino é ser onça, de Alberto Mussa, que estudou os fragmentos de registros feitos pelo frade André Thevet sobre a cultura indígena durante a ocupação da Baía de Guanabara, em 1550.

Ainda que dois escritores “veteranos” tenham movimentado o cenário cultural, foi um estreante que roubou a atenção. O mineiro Murilo Antonio de Carvalho venceu a primeira edição do concorridíssimo prêmio literário Leya, que pertence ao maior grupo editorial de Portugal. Seu primeiro romance O rastro do jaguar, ficou entre os 8 selecionados, num total de 448 romances recebidos de diferentes países de língua portuguesa. Com seis votos contra um, de um júri formado por nomes como Pepetela e Carlos Heitor Cony, o brasileiro venceu e receberá prêmio de 100 mil euros.

Como jornalista e documentarista, Carvalho teve contato durante muitos anos com diferentes etnias. “Nos últimos 30 anos, estive perto das principais nações indígenas brasileiras, presenciando situações de guerras, invasões, julgamentos etc. Esta certamente é uma das razões que me levaram a estar sempre atento à vida dos índios e as questões ligadas à cosmogonia”, conta.

O romance, que se passa no final do século 19, trata da vida de um índio brasileiro que foi criança para a Europa e passa por três guerras: a do Paraguai, a dos Guaranis e a dos Aimorés, em Minas Gerais – estes últimos praticamente extintos. O rastro do jaguar deve ser lançado em todos os países de língua portuguesa, além de Estados Unidos e Canadá. A edição portuguesa deve chegar às livrarias em abril, com tiragem de 70 mil exemplares.

Fontes:
Revista da Cultura – edição 21 – abril de 2009
Foto = Araquém Alcântara

Ignácio de Loyola Brandão (Mentira? Verdade?)

A molecada se reunia.

— A mentira vem chegando.

Era uma menina baixinha, quase anã. Todo mundo tirava o pelo dela. Uns gritavam:

— Vai anãzinha, vai pr’o circo.

— Vai ser comida pelo leão.

— Vai lá casar com o gigante.

Enquanto isso, outros a chamavam pelo apelido: Mentira. Um dia, na escola, a professora chamou um grupo. Estava irritada.

— Que história é essa de chamar a Creuza de Mentira? Acaso ela conta alguma mentira? Contou? Por que isso?

— Ora, professora, responderam todos, nossos pais não vivem dizendo que a mentira tem perna curta? Olha a perninha da Creuza!

A professora não conseguiu segurar o riso, mas pediu:

— Parem com isso, é maldade.

Outra vez, chamamos o Dioniso (assim mesmo, como se faltasse um i) Mentiroso para uma aposta. Ninguém mentia mais do que ele. Contava cada patacoada que dava vergonha ouvir, imaginem dizer. Ele afirmava que o pai tinha sido prefeito de uma cidade, quando todos sabiam que não tinha pai. Ou parece que tinha, mas ele tinha vergonha do pai, um ex-padre que fugira com a empregada. Contava sempre que ia receber uma herança aos 18 anos, só que ele era duro, emprestava dinheiro e não pagava, roubava da bolsa da mãe e das tias, comprava na quitanda e a mãe tinha de se virar.

— Qual é a aposta?

— Não é bem aposta, é uma corrida.

— Quem contra quem?

— Você contra o Nando Manquinho.

— Contra o Nando Manquinho?

O Nando Manquinho era um garoto bom, todo mundo gostava dele. Acho que gostavam por causa da irmã dele, uma gostosinha.

— Quem ganha, ganha o quê?

— Um sorvete de uvaia.

Fruta do interior, azedinha, deliciosa para suco e sorvete, só dá em certa época. Dioniso, interesseiro, topou. Por um momento, teve um leve aceno de consciência.

— Logo contra o Manquinho? Covardia! Claro que vou ganhar. Por que essa corrida?

— Queremos tirar uma dúvida. Nossas mães vivem gritando uma coisa para nós, queremos tirar a prova.

— Que coisa?

— É mais rápido e fácil pegar um mentiroso do que um manco.

Numa prova, a professora, que era exigente quanto ao português — tínhamos aulas todos os dias —, propôs.

— Vou dizer uma palavra, vocês dizem o contrário. E quanto mais palavras contrárias disserem, melhor a nota. Vai valer para a média do final de ano.

— Mentira, disse a professora.

— Verdade, dissemos todos.

— Essa é fácil demais. Quero outras. Ponham a cabeça a funcionar.

— Cabeluda, disse a Wanda-olho-azul.

— Cabeluda? O que é isso?

— Pois todo mundo diz mentira cabeluda...

— Está bem, valeu.

— Falsidade.

— Patrosca.

— Patrosca? Onde ouviu ?

— No armazém.

— Coisa de caipira. Esquisita, mas vale.

— Invenção.

— Inverdade.

— Conto da carochinha.

— Engano.

— Farsante.

— Farsante? De onde tirou isso?

— Minha mãe disse do meu pai, que chegou tarde em casa. Achei que farsante é mentiroso.

— Pois minha mãe disse que o meu pai é enganador.

— E a minha xingou o meu de embusteiro.

— A minha disse que meu irmão é cheio de patranhas.

— Meu pai disse que a vizinha é pulha. É o mesmo que mentira, mentirosa?

— O meu disse que a mulher do dono do bar é infiel. O que é infiel?

— O quê? Minha mãe? Reagiu o filho do dono do bar.

Parece que a professora viu que a coisa caminhava de maneira estranha, estava com cara de terminar mal. Decidiu parar, deu nota boa para todo mundo. Juro que ela estava rindo quando deixou a classe.

Fontes:
Revista da Cultura (Livraria Cultura) – edição 21 – abril de 2009

Antologia Roda Mundo 2009 (Inscrições Abertas)



Muito já se falou sobre a importância da Semana do Escritor, criada e organizada por Douglas Lara, já em sua quinta edição, por ser um evento que congrega escritores, jornalistas, artistas, editores, e público em geral, em torno de várias ações culturais como saraus de poesia, lançamentos de livros, performances, apresentações musicais etc.

A Semana do Escritor é uma grande oportunidade de encontro entre profissionais afins porque além de ser uma grande festa literária, propicia um clima para conversas inteligentes, criação de projetos, possibilidades de trabalho e parcerias, troca de informações sobre o mercado editorial, enfim, estabelece-se uma verdadeira rede de relacionamentos profissionais pautada em qualidade, experiência, seriedade e abertura para novos contatos. Um verdadeiro “networking”.

O Roda Mundo, coletânea de prosa e poesia, também organizada por Douglas Lara, publicada pela Ottoni Editora, é um grande veículo para realizar o desejo de publicar trabalhos e participar da Semana do Escritor, agendada para julho próximo. Esta obra contempla escritores nacionais e internacionais e conta com todo apoio da mídia e favorece mais visibilidade junto aos pares e leitores.

A cada nova edição do Roda Mundo amplia-se o universo de novos escritores e a sedimentação dos que já participaram. Com bom acabamento gráfico, capa criativa, apresentação feita por um grande nome do meio acadêmico, essa obra ocupa um lugar de destaque na produção editorial contemporânea.

Importante ressaltar que a 4a. Semana do Escritor rendeu bons resultados também fora do Brasil. Vários escritores estrangeiros demonstraram interesse em participar da próxima coletânea, o que ratifica o alcance obtido por essa publicação.


INFORMAÇÕES AOS PARTICIPANTES DA ANTOLOGIA “RODA MUNDO 2009”

Quanto aos textos:

1. Os participantes devem remeter seus trabalhos, de preferência, até dia 15 de maio de 2009.

2. A partir de 15 de maio estaremos também iniciando o envio dos textos já formatados e revisados aos autores para aprovação final.

3. De 30 de maio a 10 de junho os autores deverão devolver à Editora seus trabalhos com a aprovação.

Obs.: Os trabalhos não postados até 15 de junho não participarão da Antologia.

4. O lançamento ocorrerá em 23.07.09 e a conseqüente entrega dos exemplares aos participantes ocorrerá de 21 a 25 de julho de 2009 durante a “Semana do Escritor” de Sorocaba e Região.

5. A Antologia, a exemplo das anteriores, terá o formato de 21,5 cm de altura por 15,5 cm de largura, com capa a 4 cores, orelhas e quantas páginas forem necessárias para abrigar os escritos dos participantes.

Quanto aos pagamentos:

1. Os participantes deverão efetuar o pagamento de R$ 675,00 por cota em até 5 pagamentos efetuando o depósito na conta da Editora Ottoni Ltda-EPP.

BANCO DO BRASIL- ITU – SP - BRASIL
Agência: 0354-9
Conta Corrente: 37.309-5

O último pagamento deve ocorrer até o final de agosto de 2009.

2. O participante que na data do lançamento estiver com pagamento atrasado só receberá seus exemplares quando promover a normalização dos mesmos.

Outras informações importantes:

1. Cada cota dá o direito à 10 páginas, onde colocaremos o currículo e foto do participante e o texto escrito.

O participante pode adquirir até 4 cotas no máximo (40 páginas) e pagará proporcionalmente.

2. Cada cota dá o direito a receber 25 exemplares.

Exemplo: O participante que optar e pagar 3 cotas terá 30 páginas e receberá 75 exemplares.

3. O organizador, Douglas Lara, entende que a remessa do texto significa a autorização para a publicação por parte do autor.
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Interessados em participar do Roda Mundo 2009 deverão entrar em contato com Douglas Lara e/ou Mylton Ottoni

Contatos: Douglas Lara: douglara@uol.com.br
Mylton Ottoni: ottoni@ottonieditora.com.br

Fonte:
Douglas Lara.

Manuel Bandeira (1886 - 1968)