sábado, 7 de novembro de 2009

Palavras e Expressões mais Usuais do Latim e de outras linguas (Letra R)


rapere in jus
Latim: Conduzir a juízo.

rapel de ton
Francês: Chamada de cor. Retoques distribuídos em um quadro para salientar a tonalidade principal dele.

rari nantes in gurgite vasto
Latim: Poucos nadando no imenso abismo. Verso de Virgílio (Eneida, I, 118), que descreve a situação de alguns náufragos. Aplica-se diversamente no sentido figurado, citando-se, muitas vezes, apenas as duas primeiras palavras.

ratio juris
Latim: Razão do direito. Direito: Motivo que o hermeneuta encontra no direito vigente para justificar a interpretação ou solução que dá a uma regra jurídica ou a certo caso concreto.

ratio legis
Latim: A razão da lei. Direito: Espírito que inspira a lei e deve ser objeto de investigação dos intérpretes e comentadores que procuram esclarecer o seu texto.

ratio summa
Latim: Razão superior. Direito: Espírito de eqüidade que deve determinar a escolha da solução mais benigna, dentre as duas resultantes da interpretação estrita de determinada regra jurídica.

ratione materiae
Latim: Em razão da matéria. Direito: Razão resultante da matéria.

ratione officii
Latim: Direito: Em razão do ofício.

regis ad exemplar
Latim: A exemplo do rei. Citada para satirizar aqueles que pautam seus atos pelos do rei ou do chefe.

relicta non bene parmula
Latim: Abandonado vergonhosamente o escudo. Refere-se Horácio à fuga por ele empreendida na batalha de Filipos (Odes, II, 7-10).

rempli de soi-même
Francês: Cheio de si; convencido.

requiescat in pace
Latim: Descanse em paz. Prece recitada no ofício dos mortos e muitas vezes gravada em pedras tumulares.

res integra
Latim: Direito: A coisa inteira.

res inter alios judicata aliis neque nocet neque prodest
Latim: Direito: A coisa julgada não pode aproveitar nem prejudicar senão às próprias partes.

res judicata est quae finem controversiarum pronuntiatione judicis accipit
Latim: Direito: Coisa julgada é a que, pelo pronunciamento do juiz, põe fim às controvérsias.

res judicata pro veritate habetur
Latim: A coisa julgada é tida por verdade. Axioma jurídico, segundo o qual aquilo que foi objeto de julgamento definitivo não pode ser novamente submetido a discussão.

res non verba
Latim: Fatos e não palavras. Citada quando se pleiteia a ação imediata e não promessas.

res nullius
Latim: Direito: Coisa de ninguém, isto é, que a ninguém pertence.

res sacra miser
Latim: O infeliz é coisa sagrada. Palavras de Sêneca que patenteiam o seu respeito para com os infelizes.

restons telles que Dieu nous a faites
Francês: Fiquemos como Deus nos fez. Máxima que serviu de base a campanha das mulheres francesas contra o uso do espartilho.

rira mieux qui rira le dernier
Francês: Ri melhor quem ri por último.

risum teneatis?
Latim: Sofrereis o riso? Pergunta feita por Horácio, após descrever um quadro cuja figura se compõe de partes disparatadas (Arte Poética, 5).

rudis indigestaque moles
Latim: Massa confusa e informe. É como Ovídio (Metamorfoses I, 7) descreve a matéria caótica.

rule, Britannia
Inglês: Governa, Inglaterra. Palavras iniciais de uma canção patriótica inglesa que exalta o domínio britânico nos mares.
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Fonte:
Por Tras das Letras
http://www.portrasdasletras.com.br

Hans Christian Andersen (O Duende da Mercearia)


Era uma vez um estudante, um autêntico estudante; vivia num sótão e não possuía nada. E era uma vez um merceeiro, um autêntico merceeiro; vivia no rés-do-chão e era dono do prédio inteiro. E foi por isso que o duende decidiu morar com o merceeiro. Além disso, todos os Natais recebia uma tigela de papa de aveia com um grande pedaço de manteiga lá dentro. O merceeiro tinha posses para isso, de maneira que o duende continuava a morar na loja. Há por aqui algures uma moral, se a procurarem bem.

Uma noite, o estudante entrou na mercearia pela porta das traseiras para comprar um pedaço de queijo e velas. Fez as compras e depois pagou, e o merceeiro e a mulher acenaram-lhe com a cabeça e disseram «boa noite». A mulher, contudo, era bem capaz de fazer mais do que acenar; era muito faladora — falava, falava, falava. Tinha o que se chama o hábito de falar pelos cotovelos, disso não havia dúvida. O estudante também fez um aceno — e foi nessa altura que viu qualquer coisa escrita no papel que embrulhava o queijo e parou para ler. Era uma página de um velho livro de poemas, uma página que nunca devia ter sido arrancada.

— Tenho aqui mais desse livro, se quiser — disse o merceeiro. — Dei a uma velhota alguns grãos de café por ele. Pode ficar com o resto por seis dinheiros, se estiver interessado.

— Obrigado — respondeu o estudante. — Dê-mo em vez do queijo. Passo bem só com pão. É uma pena usar um livro destes para papel de embrulho! O senhor é muito boa pessoa e bastante prático, mas percebe tanto de poesia como aquela banheira ali ao canto.

Ora isto foi uma frase indelicada, especialmente aquela parte respeitante à banheira, mas o merceeiro riu-se, e o estudante também; afinal de contas, fora apenas uma brincadeira. Mas o duende ficou aborrecido por alguém se atrever a falar assim com o merceeiro — ainda por cima o senhorio, uma pessoa importante que era dono do prédio todo e vendia manteiga da melhor qualidade.

Nessa noite, quando a loja estava fechada e toda a gente, exceto o estudante, estava na cama, o duende entrou no quarto do merceeiro em bicos de pés e roubou à mulher do merceeiro o dom de falar pelos cotovelos, porque ela não precisava dele enquanto dormia. A seguir, fez com que cada objeto em que tocava ficasse capaz de exprimir as suas opiniões tão bem como a mulher do merceeiro. Mas só podia falar um de cada vez, o que era uma bênção, se não desatavam todos a falar ao mesmo tempo.

Primeiro, o duende deu o dom de falar pelos cotovelos à banheira onde se guardavam os jornais velhos.

— É mesmo verdade que não percebes nada de poesia? — perguntou.

— Claro que percebo! — respondeu a banheira. — A poesia é uma coisa que vem no fim das folhas dos jornais e que as pessoas costumam recortar. Acho até que tenho mais poesia dentro de mim do que o estudante; e, apesar disso, sou apenas uma humilde banheira, comparada com o merceeiro.

Depois, o duende deu o dom de falar pelos cotovelos ao moinho de café. Meu Deus, que confusão! Depois, deu-o ao pote de manteiga, e depois à caixa registadora. Todos eram da mesma opinião da banheira e as opiniões da maioria têm de ser respeitadas.

— Agora posso pôr o estudante no seu lugar! — exclamou o duende.

E lá foi em bicos de pés, pela escada das traseiras acima, até ao sótão onde morava o estudante. Havia luz lá dentro. O duende espreitou pelo buraco da fechadura e viu o estudante a ler o velho livro da loja.

Que grande claridade havia no quarto! Do livro saía um brilhante raio de luz, que se tornou num tronco de árvore, de uma nobre árvore que subiu e espalhou os seus ramos por cima do estudante. As folhas eram novas e verdes, e cada flor tinha o rosto de uma linda rapariga, algumas com olhos escuros e misteriosos e outras com olhos azuis cintilantes. Cada fruto era uma estrela luminosa e o ar estava impregnado de um belo som de canções.

O duende nunca tinha visto nem ouvido falar de tais maravilhas; e muito menos seria capaz de as imaginar. Portanto, ficou ali à porta, em bicos de pés, a espreitar, de olhos muito abertos, até que a luz se apagou. O estudante devia ter assoprado a vela e ido para a cama — mas o duende continuava sem ser capaz de arredar pé. Parecia-lhe ouvir a linda música, que ainda ecoava no ar, ajudando o estudante a adormecer.

— Isto custa a crer — murmurou o duende para consigo. — Nunca esperei nada do gênero. Acho que vou ficar no sótão com o estudante. — Depois pensou um bocado e suspirou: — Tenho de ser sensato; o estudante não tem papas de aveia.

E portanto, é claro, voltou para baixo, para a mercearia. Ainda bem que o fez, porque a banheira tinha quase esgotado o dom de falar pelos cotovelos, contando todas as notícias dos jornais que estavam guardados dentro dela. Tinha falado para um lado e estava prestes a virar-se para o outro e a continuar quando o duende devolveu o dom de falar pelos cotovelos à mulher do merceeiro adormecida. E, a partir dessa altura, todas as coisas da loja, desde a caixa registadora até à lenha, seguiram as opiniões da banheira; tinham-lhe tanto respeito que, depois daquilo, quando o merceeiro lia nos jornais críticas de peças ou de livros, pensavam que ele tinha aprendido tudo com a banheira.

Mas o duende já não aguentava ficar ali sentado a ouvir toda a sabedoria e bom senso pronunciados na loja; assim que via luz através das frestas da porta do sótão, parecia ser atraído para lá por cordelinhos, e tinha de subir a escada e pôr-se a espreitar pelo buraco da fechadura. Sempre que o fazia, sentia-se invadido por uma sensação de indizível grandeza — a espécie de sensação que se tem quando se vê o mar encapelado com ondas tão fortes que o próprio Deus podia vir montado nelas! Que maravilha seria sentar-se debaixo da árvore com o estudante! Mas era impossível.

Entretanto, contentava-se com o buraco da fechadura. Olhava através dele todas as noites, ali parado no patamar deserto, mesmo quando o vento do Outono começou a soprar pela clarabóia, fazendo-o quase morrer de frio. Mas ele nem o sentia até a luz se apagar no quartinho do sótão e a música se calar a pouco e pouco, ficando apenas o uivar do vento. Brr! Então, sentia como estava gelado e descia sem fazer barulho para o seu canto secreto da loja, quente e confortável. Em breve viria a tigela de papas de aveia do Natal, com o seu grande pedaço de manteiga. Sim, o merceeiro era a escolha certa.

Mas uma noite, já bem tarde, o duende acordou com uma grande agitação à sua volta. Estavam pessoas a bater nas persianas, o guarda-noturno apitava: havia fogo, e toda a rua parecia estar em chamas. Que casa é que estava a arder? Aquela ou a do lado? Onde era o fogo? Que gritos! Que pânico! Que agitação! A mulher do merceeiro estava tão desorientada que tirou os brincos de ouro das orelhas e meteu-os num bolso, para salvar pelo menos alguma coisa… O merceeiro foi a correr buscar os seus valores, a criadinha foi buscar o seu xale de seda que tinha comprado com o ordenado. Toda a gente foi a correr buscar aquilo a que dava mais valor.

E o duende fez o mesmo. Num pulo ou dois subiu a escada e entrou no quarto do estudante, que estava calmamente à janela, vendo o incêndio na casa em frente. O duende pegou no livro maravilhoso, que estava em cima da mesa, meteu-o dentro do boné vermelho e agarrou-se a ele com os dois bracinhos. A coisa mais preciosa da casa estava salva!

Depois, foi a correr para cima do telhado, mesmo para o alto da chaminé, e ficou ali sentado, iluminado pelas chamas da casa a arder do outro lado da rua, sempre firmemente agarrado ao boné vermelho com o tesouro lá dentro.

Agora sabia para onde o seu coração o puxava: estudante?, merceeiro? — a escolha era clara.

Mas, quando o fogo ficou extinto e o duende já tinha tido tempo para pensar com mais calma, bem…

— Divido o tempo entre eles — decidiu. — Não sou capaz de abandonar o merceeiro, por causa das papas de aveia.

Mesmo coisa de ser humano, francamente! Também nós gostamos de nos dar bem com o merceeiro por causa das papas de aveia.

Fonte:
ANDERSEN, Hans Christian. Historias do Cisne. Companhia das Letrinhas.

José Feldman (Paraná em Trovas)



1
Numa tarde tu chegastes,
viestes bem de mansinho.
Meu coração envolvestes
no calor de teu carinho.

2
Doce flor que desabrocha
Perfumando seu cantinho
Envolvendo toda rocha
Com doçura e carinho.

3
Vivi em busca de carinho
Em castelos de ilusão
Tanto tempo estou sozinho
Quem me aquece é a solidão.

4
Uma chave carregamos
Porta de um mundo melhor
Entretanto não largamos
A muleta de um bem pior.

5
Música na madrugada
Chovia em meu coração
Ao saber que minha amada
Perdeu-se numa canção…

6
Num retrato amarelado,
a saudade em mim se deu.
Ontem tinha meu pai ao lado
Hoje, sem ele…o pai sou eu.

7
Nas minhas tardes de criança
Brincadeiras de corrida.
Hoje danço em outra dança,
Danço no circo da vida.

8
Tanto mal nós infligimos
Em todos que bem nos queira,
E o perdão que lhes pedimos
É uma nuvem passageira.

9
Tanta gente só num canto
Perdidos no desamor
Contendo em si tanto encanto
No coração de um sofredor.

10
Tanta gente em si perdida
Entre sombras se escondendo
Cada dia é outra vida
Em disfarces vai morrendo…

11
Ah! Nos meus tempos de criança
Brincadeiras sem cansar.
Foi-se o tempo de balança
E fazer castelos no ar.

12
No teu corpo perfumado,
No brilho de teu olhar
Tem um castelo encantado,
Castelo do eterno amar.

13
No imenso palco, o amor
Destaca nos jardins meus
Um carvalho com fulgor
Na ponte entre mim e Deus…

14
Ontem plantaste uma flor
Na rocha da solidão.
Hoje dou-te com amor
Um postal do coração.

15
Caminhei por esta rua
Procurando o teu calor.
Ontem te prometi a lua
Hoje te prometo meu amor.

16
Tantos passos caminhei
Por labirintos incertos
Hoje nas trovas achei
Como vencer os desertos.

17
Jardineira de meu amor
Regaste-me em seus canteiros.
Hoje dou-te o meu calor
Na alameda de pinheiros…

18
Ontem…Florestas…Encanto…
Flores a desabrochar.
Hoje pinheiros em pranto
Um grito parado no ar.

19
Vejo o mar beijando a areia
No raiar de um novo dia
Ouço o canto da sereia
Com promessas de alegria…

20
Meu coração em pedaços
Tinha um céu tão estrelado
A esperança em teus abraços
E brisa de apaixonado.

21
Quando se faz a tolice
De entregar-se na paixão
Vive-se tanta meiguice
Mas, no fim… só decepção!
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Isaac Asimov (Uma Noite de Música)



Tenho um amigo que insinua, às vezes, que é capaz de conjurar espíritos do além.

Ou pelo menos um espírito. Um espírito pequeno, com poderes limitados. Na verdade, ele só fala a respeito depois do quarto uísque com soda. É um equilíbrio delicado: com três drinques, não sabe nada a respeito de espíritos; com cinco ele pega no sono.

Naquela noite, achei que ele estava bem no ponto, de modo que puxei o assunto:

- Você se lembra daquele espírito seu amigo, George?

- Hein? – disse George, olhando para o seu drinque como se não soubesse do que eu estava falando.

- Aquele pequeno espírito de dois centímetros de altura, que uma vez você disse que era capaz de chamar na hora que quisesse. Aquele que possui poderes paranormais.

- Ah! – exclamou George. – Está falando de Azazel! é o nome dele, é claro. Não seria capaz de pronunciar o nome verdadeiro. É por isso que o chamo de Azazel. Sim, eu me lembro.

- Você recorre muito a ele?

- Não. É perigoso. Muito perigoso. Há sempre a tentação de brincar com o poder. Sou muito cauteloso com isso.

- Sabe, tenho altos padrões morais. Foi por isso que me senti na obrigação de ajudar um amigo em dificuldades. Foi grande erro! Não gosto nem de pensar…

- Que aconteceu?

- Acho que estou mesmo precisando desabafar cora alguém – disse George, pensativo. – Talvez isso faça com que eu me sinta melhor…

Eu era bem mais moço [disse George], e naquele tempo as mulheres eram uma parte importante da vida dos homens. Parece tolice agora, mas me lembro nitidamente de pensar, naquela época, que não me interessaria por qualquer mulher.

Hoje em dia, a gente fica com que a que aparecer, não faz muita diferença, mas naquele tempo…

Eu tinha um amigo chamado Mortenson. Andrew Mortenson. Acho que você não o conhece. Há anos que não o vejo.

Acontece que Mortenson estava caído por uma mulher, uma mulher em particular. Ela era um anjo, dizia meu amigo. Não podia viver sem ela. Era um ser único no universo. Você sabe como falam as pessoas apaixonadas.

O problema é que ela o havia deixado, e de uma forma particularmente cruel e humilhante. Começara um namoro com outro homem bem na frente dele, estalando os dedos na cara dele e rindo impiedosamente das lágrimas dele.

Não estou falando de forma literal. Estou apenas tentando transmitir a impressão que ele me causou. Estava aqui sentado, bebendo comigo, neste mesmo bar. Fiquei com muita pena e disse para ele:

- Sinto muito, Mortenson, mas você não deve se deixar abalar desse jeito. Quando puder pensar com clareza, verá que ela é apenas uma mulher. Se olhar para a calçada, verá centenas como ela.

Ele protestou, com amargura:

- De agora em diante, meu amigo, não quero saber mais de mulheres…, com exceção, é claro, da minha esposa, que de vez em quando não consigo evitar. Só que eu gostaria de fazer alguma coisa para ela.

- Para sua mulher? – perguntei.

- Não, não, por que eu estaria querendo fazer alguma coisa para minha esposa? Estou falando daquela mulher que me tratou de forma tão impiedosa.

- O que você faria com ela?

- Sei lá…

- Talvez eu esteja em condições de ajudá-lo – disse eu, ainda com pena do meu amigo. – Posso recorrer a um espírito com poderes extraordinários. Um espírito pequeno, é claro – mostrei-lhe o polegar e indicador, separados por uma distância de uns dois centímetros, para ter certeza de que estava me entendendo -, que também tem suas limitações.

Contei-lhe a respeito de Azazel e ele, é claro, acreditou. Já reparei que quando conto uma história, todos acreditam em mim. Agora quando você conta uma história, amigo velho, o ar de incredulidade que paira sobre a sala é de dar gosto. Nada como uma reputação de probidade e um ar de decência.

Quando lhe contei sobre Azazel, seus olhos brilharam. Perguntou-me se ele poderia fazer alguma coisa para a ex-namorada.

- Depende do que for, amigo velho. Espero que não esteja pensando em algo como fazê-la cheirar mal ou cuspir um sapo toda vez que tentar falar.

- Claro que não! – protestou, indignado. – Quem pensa que sou? Ela me deu dois anos de felicidade e quero recompensá-la. Você disse que os poderes do seu espírito são limitados?

- Ele é deste tamanhinho – disse eu, mostrando de novo o polegar e o indicador.

- Poderia dar a ela uma voz perfeita? Nem que fosse temporariamente? Nem que fosse para uma única apresentação?

- Vou perguntar a ele.

A proposta de Mortenson parecia muito cavalheiresca. Sua ex-namorada cantava na igreja. Naquela época, eu tinha um bom ouvido e costumava freqüentar a mesma igreja (mantendo distância da caixa de oferendas, é claro). Gostava de ouvi-la cantar e acho que os outros fiéis também. Talvez a sua conduta moral não estivesse de acordo com o ambiente, mas Mortenson me explicou que, no caso de sopranos, eles estavam dispostos a ser bastante compreensivos.

De modo que consultei Azazel. Estava ansioso para ajudar. Nada daquelas bobagens de exigir minha alma em troca. Lembro-me de que uma vez perguntei a Azazel se ele queria minha alma e ele me perguntou o que era alma. Não soube o que responder. Acontece que ele é um ser insignificante em seu próprio universo e se sente muito importante podendo fazer coisas grandiosas no nosso universo. Ele gosta de ajudar.

Azazel me disse que poderia fazer com que ela cantasse com perfeição durante três horas. Contei a Mortenson, e ele me disse que estava ótimo. Escolhemos uma noite em que ela estaria cantando Bach, Haendel ou outro daqueles velhos batucadores de piano, e daria um solo longo e difícil.

Mortenson foi à igreja naquela noite e, naturalmente, eu fui também. Sentia-me responsável pelo que estava para acontecer e achei que era melhor ver a situação de perto.

Mortenson me disse, em tom sombrio:

- Assisti aos ensaios. Ela estava cantando da mesma maneira que antes. Você sabe, como se tivesse um rabo e estivessem pisando nele.

Não era assim que costumava descrever a voz da moça. A música das esferas, era como se referira a ela em várias ocasiões. Daí para mais. Naturalmente, ele tinha sido passado para trás, o que pode distorcer o senso crítico de um homem.

Olhei-o com ar de censura.

- Isso não é jeito de falar de uma mulher a quem você está prestes a oferecer um grande presente.

- Aí é que está. Quero que a voz dela seja perfeita. Simplesmente perfeita. E agora compreendo, agora que meus olhos estão livres do manto diáfano do amor que os cobria, que a voz dela está longe da perfeição. Acha que seu amigo pode fazer isso para mim?

- A mudança vai ocorrer exatamente às 8:15 da noite. – Senti uma ponta de suspeita. – Você não estava pretendendo usar a perfeição no ensaio para depois desapontar a audiência?

- De jeito nenhum – disse ele.

A coisa começou antes da hora, e quando ela se levantou para cantar, toda vestida de branco, eram 8:14 pelo meu velho relógio de bolso, que nunca está errado mais que dois segundos. Ela não era um daqueles sopranos raquíticos; pelo contrário, tinha um físico avantajado, com muito espaço interno para conseguir aquele tipo de ressonância que se torna necessário para sustentar uma nota aguda sem se deixar abafar pela orquestra. Quando inspirou profundamente para dar o primeiro agudo, pude ver o que Mortenson via nela, mesmo descontando as várias camadas de tecido.

Ela começou a cantar normalmente, mas, exatamente às 8:15, foi como se uma segunda voz tivesse entrado em cena. Vi quando leve um sobressalto, como se não acreditasse no que estava acontecendo; a mão, que estava na altura do diafragma, começou a tremer.

A voz aumentou de volume. Era como se tivesse se transformado em um órgão. As notas eram perfeitas, límpidas, irretocáveis. Diante delas, todas as notas anteriores pareciam imitações grosseiras.

Cada nota era emitida com o vibrato correto, se é esta a palavra, aumentando ou diminuindo de intensidade com um controle perfeito da emissão.

E ela melhorava a cada nota. O organista não estava olhando mais para a partitura, e sim para ela, e não posso jurar, mas acho que parou de tocar. Mesmo que estivesse tocando, ninguém notaria. Ninguém ouviria nenhum outro som enquanto ela estivesse cantando.

O olhar de surpresa desapareceu do rosto da moça e foi substituído por uma expressão de júbilo. Ela também pôs de lado a partitura que estava segurando; não precisava mais dela. Cantava sem nenhum esforço, sem pensar no que estava fazendo. O maestro estava paralisado, e os membros do coro pareciam atônitos.

Afinal, o solo acabou e o coro começou a cantar de forma tímida, titubeante, como se estivessem com vergonha de que suas vozes fossem ouvidas na mesma igreja e na mesma noite.

O resto do programa foi todo dela. Quando cantava, era a única a ser ouvida, mesmo que o coro e a orquestra a estivessem acompanhando. Quando calava, era como se estivessemos no escuro e não pudéssemos suportar a ausência da luz.

E quando a audição terminou… eu sei que não é costume aplaudir na igreja, mas todo mundo bateu palmas. Todos se puseram de pé como se fossem marionetes e aplaudiram freneticamente. Era evidente que continuariam aplaudindo até que ela cantasse de novo.

Ela cantou de novo; desta vez, sozinha, acompanhada apenas pelo órgão e iluminada pelo projetor de luz. O coro tinha desaparecido.

Cantava sem nenhum esforço. Era impressionante. Tento observar sua respiração, surpreendê-la tomando fôlego, descobrir quanto tempo conseguiria sustentar uma nota a todo volume com apenas um par de pulmões para fornecer o ar.

Mas não podia durar para sempre, e não durou. Até os aplausos cessaram. Só então me dei conta de que, ao meu lado, Mortenson parecia estar em transe, com o olhos fixos, todo o seu ser concentrado no sentido da audição. Só então comecei a compreender o que havia acontecido.

Afinal de contas, sou uma pessoa reta, sem nenhuma malícia, de modo que posso ser desculpado por não perceber qual era a intenção real de meu amigo. Você, por outro lado, um tipo tão tortuoso que é capaz de subir uma escada em espiral sem virar o corpo, já deve saber há muito tempo o que ele pretendia.

A ex-namorada havia cantado com perfeição… mas nunca mais seria capaz de repetir a façanha.

Era como se fosse cega de nascença e de repente, por apenas três horas, fosse capaz de ver. Ver tudo que existe para ver, todas as cores, formas e maravilhas que nos cercam e que não nos despertam a atenção porque já estamos acostumados. Suponha que você pudesse ver tudo que existe durante três horas… e depois ficasse cego outra vez!

É relativamente fácil suportar a cegueira se você nunca enxergou. Mas saber por alguns instantes o que é ver e depois ficar cego de novo? Ninguém suportaria isso.

Aquela mulher nunca mais tornou a cantar, naturalmente. Mas isso é apenas parte da história. A tragédia real foi para nós, para a platéia.

Tivemos uma música perfeita durante três horas. Uma música perfeita. Acha que desse dia em diante podemos nos contentar com menos que isso?

Até hoje, meus ouvidos se recusam a ouvir música. Recentemente, fui a um desses festivais de rock, que estão tão na moda, só para experimentar. Você não vai acreditar, mas não consegui distinguir uma nota musical. Para mira, era apenas ruído.

Meu único consolo é que Mortenson, que escutou com mais ansiedade e concentração do que todo mundo, foi a pessoa mais atingida da platéia. Ele passa o tempo todo usando tampões nos ouvidos. Qualquer som o deixa nervoso.

Bem feito!

Fontes:
ASIMOV, Isaac. Azazel. RJ: Record, 1988
Imagem = http://besalielmania.zip.net

Paulo Monteiro (A Trova no Espiríto Santo – Parte X, final)

Água Doce do Norte, ES
SILVANO THOMES

Silvano César Thomes nasceu no dia 24 de agosto de 1964, em Cariacica, Espírito Santo. Reside em Vila Velha. É estudante, tendo sido revelado para a trova com o CTC.

Adeus, escola querida,
eu digo com muito amor;
nesta hora de despedida
enalteço o Seu valor.

Vitória, és um encanto
e cidade de esplendor!
Presépio maravilhoso
que eu amo com muito ardor!

SOLIMAR DE OLIVEIRA

Mineiro de Juiz de Fora e filho de poeta, Solimar Braga de Oliveira, nasceu no dia 5 de agosto de 1913. Desde menino reside no Espírito Santo. Pertence a diversas entidades culturais do país. É um dos melhores trovadores e sonetistas do Espírito Santo. Jornalista e funcionário público. Há muitos anos vem divulgando a trova no Estado em que reside. Sua produção literária é vasta e valiosa.

Anda a honra tão sem jeito,
neste mundo camuflada,
que, agora, qualquer sujeito
a exibe como fachada!

As pessoas geralmente
deixam seu rastro no chão;
- o teu rastro unicamente
ficou no meu coração...

Na velhice a gente vela,
talvez pensando, acordado:
- a vida não era aquela
que eu esbanjei no passado...

As redondilhas que amamos,
e têm realce e frescor,
são sempre aquelas que armamos
com o cimento do amor...

Chegando ao fim da jornada,
sem passado e sem futuro,
no presente encontro o nada
porque nada mais procuro...

A verdade seja dita
numa trova sem valor:
- em cada mulher bonita
se encontra um verso de amor.

Conhecerás pelos frutos
as plantas, boas ou más:
- vê que os homens dissolutos
não darão frutos de paz...

Meu destino nesta vida
há de sempre ser assim:
- sempre a lembrar-te, querida,
sempre a fugires de mim...

Na vida, oceano inclemente,
de engano e tantos escolhos,
navega a infância inocente
tendo a esperança nos olhos.

Cultiva, amigo, a bondade,
E algum dia entenderás
que a maior felicidade
está no bem que se faz...

Tudo ilude, tudo mente,
na vida cheia de escolhos:
muita gente há descontente
com um sorriso nos olhos...

Eu levo a vida cismando
no tempo todo perdido
do tempo em que andei sonhando
um tempo nunca vivido.

Uma verdade parece
muita gente definir:
- quem muito sobe se esquece
que também pode cair...

Tenho o coração magoado,
não que me julgue infeliz,
mas por nunca ter amado
como devia e não quis...

VALSEMA RODRIGUES DA COSTA

Nascida em Sacramento, Minas Gerais, no dia 5 de novembro de 1943, Valsema Rodrigues da Costa é professora, especialista em musicaterapia. Reside em Vila Velha e tem desenvolvido trabalhos de divulgação e prática da trova entre estudantes daquela cidade. Tem duas filhas pequenas que já fazem trovas.

Minha vida, nossa vida...
oh, meu Deus! que confusão!
Todo mundo na cabeça,
só você no coração!

O mundo está sempre em guerra,
mas todos querem a paz.
Se a vida faz nossa terra,
a morte... o que ela faz?

VICENTE VASCONCELOS

Nascido em Campos, Rio de Janeiro, no dia 29 de maio de 1905, o poeta e trovador Vicente Vasconcelos, que também usa o pseudônimo De Vivas, reside há muito tempo no Espírito Santo, onde publicou diversos trabalhos em prosa e verso. Magistrado, foi desde Promotor de Justiça até Presidente do Tribunal de Justiça do Estado.

Mandam princípios gerais,
para grandes e pequenos:
- dar menos a quem tem mais
e dar mais a quem tem menos.

Para haver bom julgamento
boa regra sempre ouvi:
agir com discernimento,
julgar os outros por si...

Proclama o "mandão" sisudo
que é preciso economia,
mas sobe o preço de tudo
e não cessa a mordomia...

Não há quem não tenha errado,
pois o erro em todos medra:
- quem se julgar sem pecado
atire a primeira pedra.

O homem manda em todo mundo,
em quase tudo que quer,
mas, na verdade, no fundo,
quem manda mesmo é mulher.

É preciso distinguir
da palavra o seu sentido:
- para não se confundir
um cúpido com cupido.

ZEDÂNOVE TAVARES

Zedânove Tavares Sucupira nasceu em Vila Velha, no dia 11 de outubro de 1948. É funcionário do Banco do Brasil. Presidiu a UBT de Vitória, há vários anos. É autor do três centenas de poemas.

O besouro, na vidraça,
pulula, esbate-se, lida,
tal qual o homem na desgraça,
nessa muralha da vida.

Ao ver na novela, enfim,
o "cara" e a empregada - a sós -
a Maria olhou pra mim,
e minha mulher... pra nós!?...

Fontes:
http://www.usinadeletras.com.br/
Imagem = http://www.gazetaonline.globo.com/

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Carlos Drummond de Andrade (Caso Pluvioso)


A chuva me irritava.
Até que um dia descobri que maria é que chovia.

A chuva era maria.
E cada pingo de maria ensopava o meu domingo.

E meus ossos molhando, me deixava
como terra que a chuva lavra e lava.

Eu era todo barro, sem verdura...
maria, chuvosíssima criatura!

Ela chovia em mim, em cada gesto,
pensamento, desejo, sono, e o resto.

Era chuva fininha e chuva grossa,
matinal e noturna, ativa...Nossa!

Não me chovas, maria, mais que o justo
chuvisco de um momento, apenas susto.

Não me inundes de teu líquido plasma,
não sejas tão aquático fantasma!

Eu lhe dizia em vão - pois que maria
quanto mais eu rogava, mais chovia.

E chuveirando atroz em meu caminho,
o deixava banhado em triste vinho,

que não aquece, pois água de chuva
mosto é de cinza, não de boa uva.

Chuvadeira maria, chuvadonha,
chuvinhenta, chuvil, pluvimedonha!

Eu lhe gritava: Pára! e ela chovendo,
poças d’água gelada ia tecendo.

Choveu tanto maria em minha casa
que a correnteza forte criou asa

e um rio se formou, ou mar, não sei,
sei apenas que nele me afundei.

E quanto mais as ondas me levavam,
as fontes de maria mais chuvavam,

de sorte que com pouco, e sem recurso,
as coisas se lançaram no seu curso,

e eis o mundo molhado e sovertido
sob aquele sinistro e atro chuvisco.

Os seres mais estranhos se juntando
na mesma aquosa pasta iam clamando

contra essa chuva estúpida e mortal
catarata (jamais houve outra igual).

Anti-petendam cânticos se ouviram.
Que nada! As cordas d’água mais deliram,

e maria, torneira desatada,
mais se dilata em sua chuvarada.

Os navios soçobram. Continentes
já submergem com todos os viventes,

e maria chovendo. Eis que a essa altura,
delida e fluida a humana enfibratura,

e a terra não sofrendo tal chuvência,
comoveu-se a Divina Providência,

e Deus, piedoso e enérgico, bradou:
Não chove mais, maria! - e ela parou.
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Fontes:
CD Carlos Drummond de Andrade por Paulo Autran. Coleção Poesia Falada – vol 13. 1988.
Imagem = http://essenciafeminina1.spaces.live.com/

Gruta da Poesia (Parte II)



Raquel Gastaldi
VOAR

Hoje eu quis
Voar,
Como a andorinha
Azul e branca
Que baila
Ao meu olhar.
Só isso,
Quis voar e
Abraçar o mundo,
E com gigantes braços
Amparar
As crianças sem lar.
Só isso,
Quis voar,
E a todas dar um
Pouco do verbo amar,
Mas como humana
Que sou,
Só fiquei a sonhar,
Só isso,
Quis voar,
Para quem sabe
Um mundo futuro
Nossas crianças abrigar...


Carmen Lucia da Silva Cardoso
FALAR COM O ECO

Falar com o vácuo
vazio, solitário.
falar sem palavras,
falar com incógnitas,
falar para o triste,
para o distante.
Instante que olho sem ver
o olhar que lanço,
que com dedos danço,
transfiguro, figuro,
em figuras, que não vejo,
imagino, idealizo,
não sinto, pressinto.
Seres solitários,
ausentes, carentes,
fracos, covardes,
misto de letras,
digitando sonhos,
que criam, recriam,
idealizam, desfazem,
porque não fazem,
não procuram,
não querem,
não mostram.
E a sós, calam-se.


Tânia Regina da Silva Guimarães
MURO!

Pedras quadradas,
lado a lado
erguidas,
na vertical
dividem
dois mundos,
inutilmente.
Tolas, rígidas, frias...
Não percebem
a árvore
de copa rala
que tenta,
também, inutilmente,
esconder
a lua cheia.
Ela, solitária
e soberana,
mostra-se e
mostra-me
o mundo,
o qual pertenço,
verdadeiramente!


Juraci da Silva Martins
INCENSAÇÃO

Contemplo a natureza em seus alvores,
É toda um hino de louvor intenso
Que vai surgindo gradativamente
Qual fumaça perfumada do incenso
Que ao céu se eleva em santo ofertório
De risos e prantos de humanos seres,
Pra que no mundo haja mais amores
E a vida seja um jardim em flores...
A incensar caminhos na busca da paz!
Ergue-se a fumaça sacrossanta
Como oferta em nossas liturgias
De tantos risos e de muitos prantos
Que dão sentido ao viver em busca
Do sonho maior: a paz e a alegria.
E nos rituais de petição e gratuidade
O incenso que perfuma e purifica,
Retorna em bênçãos para o bem que apraz!


Diva Helena da Silva Fontana
TOQUE DE AMOR

Ouço o amor.
Da janela sinto a suavidade de seu toque,
Numa melodia harmônica,
Porém indecifrável,
Que toca de leve a alma,
E faz o coração bater mais forte.
O tempo de chuva se faz dia ensolarado,
E aumenta a vontade de estar perto.
Se essa música soubesse que mexe comigo,
Entenderia o que sinto,
Mas um dia hei de olhar o infinito,
Junto daquele que me encanta;
E talvez a incompreensão que me fere,
Faça-me sorrir perto de meu grande amor.


Natália Lohmann Mendel
O MAR

Ao acordar, fui ao mar
olhar as ondas.
Lá pensei na vida
e me questionei:
“- O que fazer
a partir de agora?
Todos os dias,
ao voltar ao mar,
uma resposta ele me dava.
Encantada, deixo-me
molhar pelas ondas.
Certa tarde, o mar
trouxe até mim, alguém
que lá, no fundo, surfava.
Esbarramo-nos,
Leve e enfeitiçada fiquei.



Pedro Jorge Pedersen Baptista
O MEU LINDO JARDIM

Há muitos anos, vivo numa casa
onde minha mãe dez, antes de morrer,
um lindo jardim, onde crescem
os mais lindos tipos de flores e plantas.

Em um dos canteiros, a orquídea
que plantei quando menino
dá, a cada dia, flores belíssimas
que me faz lembrar de minha mãe.

Todos os dias, converso, no jardim,
com a natureza, e ela me dá
de volta o lindo frescor das plantas.

Quando elas morrem, fico muito triste;
contudo, não entro em depressão;
pois sei que logo renascerão outras flores.


Daniela Wainberg
AS ROSAS

Com suas graciosas pétalas
iluminam e dão mais alegria
aos nossos corações.
Dependendo da cor,
as rosas nos transmitem
valores diferentes.
Todas elas: brancas, vermelhas,
rosas, amarelas, brilham nos jardins
com intensa beleza e exalando
agradabilíssimo brilho.
As rosas brotam com suavidade
e delicadeza, exibindo
lindos brotos ao amanhecer
tal qual inúmeros pergaminhos
que, ao serem desenrolados,
revelam-nos expressivas surpresas
e alegrando nossa vida.


Diego Carvalho Duarte
DELICADA

Traços vindos da Sicília
alguns talvez de Veneza
saudade minha que não concilia
tamanha falta pela tua beleza.

Cabelos que desenham rios
vermelhos como o pôr do sol refletido
tamanho sentimento de falta
que tenho sentido
que transforma meus dias
sem ela sombrios.

Figura alva divina
trago a ti mil rosas celestes
pois somente tu me fascina.

Formosa dos cabelos ao vento
dos beijos quentes
pelos quais me derreto.


Felipe Araújo Mendes
EMOÇÕES E SENTIMENTOS

Transpassam movimentos
e canções
tal qual um lindo jasmineiro
num lindo jardim.
Seu perfume espalha-se no ar
e suas flores,
no gramado do prédio,
formam um majestoso tapete.
Envolvido pela beleza
da natureza
e pelas agradáveis emoções,
sou tomado por doces sentimentos.
Nesse clima de magia,
vou ao encontro do vento,
chegando sorridente ao mar,
sendo acariciado e envolvido
por sedutora brisa.
E como não poderia ser diferente,
revelo algumas de minhas fantasias
nesta poesia com muita alegria.
Quantos sentimentos e emoções!


Tobias Tres
DOCES LEMBRANÇAS

Lembrar de momentos
felizes e alegres
é resgatar o passado,
trazendo a memória
antigas paixões,
amizades íntimas,
festas inesquecíveis
e momentos especiais.
Memória cheia
de doces lembranças
é alimentar o presente
e o futuro,
fazendo do passado
uma agradável melodia.
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Fonte:
Gruta da Poesia. Ano V. Outubro de 2009 in Portal CEN. http://www.iaramelo.com

Paulo Monteiro (A Trova no Espiríto Santo – Parte IX)

Pedra do Itabira, em Cachoeiro do Itapemirim, ES

LUIZ CARLOS BRAGA RIBEIRO

Luiz Carlos Braga Ribeiro firma-se entre os trovadores mais atuantes das terras capixabas. Nasceu em Vila Velha, no dia 11 de agosto de 1951. Tem curso de tecnologia mecânica superior pela Universidade Federal do Espírito Santo.

Com bondade e muito amor
Ele a todos satisfaz...
Chico Xavier com louvor
Merece o Nobel da Paz.

Esta criatura tão doce
Minha mulher, minha amante,
Jamais pensei que ela fosse
De um amor tão abundante.

LUIZ SIMÕES JESUS

Autor de livros em prosa e verso, Luiz Simões Jesus, nasceu em Guarapari, no Espírito Santo, e reside no Rio de Janeiro. É advogado e professor, pertencendo a diversas entidades culturais do país.

Tirem-me tudo na vida,
Até do sol o calor,
Mas estarei sem guarida,
Se ficar sem teu amor.

Vi morrer a pobre flor,
Entre espinhos, sufocada.
No jardim do nosso amor,
Que vejo? Espinhos, mais nada.

De um amor tive lembrança
E de outro lembranças tive:
Um - o amor que não se alcança,
Outro - o amor que não se vive.

O frescor em ti impera,
Eu padeço um frio eterno:
Tu vives na primavera,
Eu morro no meu inverno.

MARCOS TAVARES

Marcos Tavares nasceu em 16 de janeiro de 1957. Estudante de Matemática e Estatística, na Universidade Federal do Espírito Santo. É um dos trovadores revelados pelo CTC.

HOMENINO
Não sou dado a milícias,
nem milito em partidos.
Sou menino sem malícias,
e igual homem, repartido.

NATAL
É Natal e sou tão pobre:
Não possuo nova veste.
Mas feliz, pois não me cobre
a pele nenhuma peste.

NEALDO ZAIDAN

Pernambucano de Caruaru, Nealdo Zaidan, que usa o pseudônimo de Matuto, reside no Espírito Santo desde 1973. Técnico em Contabilidade, é um dos mais dinâmicos trovadores do Estado capixaba. Nasceu no dia 25 de fevereiro de 1939.

Não falo por picardia
Mas é verdade no duro.
Mulher e fotografia
Só se revelam no escuro.

Seu batom é de carminho,
Tire o seu rosto do meu.
Se manchar meu colarinho...
Chego em casa: apanho eu.

PAULO FREITAS

Paulo Athayde de Freitas é o nome desse consagrado poeta e trovador capixaba. Nasceu em Rio Novo, Espírito Santo, no dia 28 de janeiro de 1902. Pertence, entre outras entidades culturais, à Academia Espírito-Santense de Letras. É uma das figuras mais representativas da Magistratura de seu Estado.

Vejo a imagem de Maria
nas luzes da Catedral,
tendo Jesus entre os braços
numa noite de Natal.

Vejo a imagem de Maria
envolta num lindo véu,
numa divina alegria
por entre os anjos do céu.

Vejo a imagem de Maria
na luminosa manhã
inspirando a poesia
nas plagas de Canaã.

Vejo a imagem de Maria
no templo, no céu, nos mares,
ouvindo suave harmonia:
- voz dos anjos nos altares.

Na brancura do luar,
na Prece, na Poesia,
na linda Estrela do Mar,
vejo a imagem de Maria.

ROOSEVELT DA SILVEIRA

Capixaba de Alegre, Roosevelt Flávio da Silveira, é funcion6rio do Banco do Brasil, residindo em Guaçuí, em seu estado natal. Formado em Direito, não exerce a advocacia. Pertence a diversas entidades culturais. Nasceu em 5 de setembro de 1947.

Muitas amizades temos
que não traduzem verdades!
A verdadeira só vemos
em nossas dificuldades.

Se os povos querem que a paz
reine sempre em toda a terra,
por que é que cada vez mais
fabricam armas de guerra?

A mulher quer igualdade,
que diz ser direito seu,
mas é escrava da idade:
não fala quando nasceu.

Um casebre num recanto,
um casal... felicidade.
Para que maior encanto
que amor e tranqüilidade?

A cobra, em bote certeiro,
mostra as presas, de repente...
Um amigo interesseiro
também age assim com a genie.

Em nossa terra é assim:
um homem só é lembrado
depois de chegar ao fim,
quando estiver enterrado.

Fontes:
http://www.usinadeletras.com.br/
Imagem = http://www.verdeamarelo.ning.com

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Shrike (Acordando como Lázaro)

De autoria de poeta sob pseudônimo Shrike, da cidade de Campo Mourão (PR) para o I Premio Talentos de Poesia 2009
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Então certa vez
Dormi como Lázaro
Sob a ponte que conduzia
Até um rincão pobre,
Onde ao longe luzia
Tapetes de soja e outras lentilhas
E não soube qual pássaro nobre
Cantou na manhã que acordei
Pálido, ou apenas sonhei?

Havia um homem em pé ao lado
Recitando um cordel
De renome cruel, pensava poder podar o sol
Com rimas e falácias sertanejas
E não avistou ao longe o vendaval.

Avezinha frágil adejava o prado
Asa partida, peito arfante, longe o céu
Ao seu encalço célere como
As falanges das trevas
O falcão.
Seu peso de penas pendentes
Assombrava os pasmos abaixo.
Por que falcão voando premente
Nas alturas com asas em fachos
Esplendidos se abate sobre ossos?

Um homem tangia um gado de homens
Com um cajado pintado de sangue nas mãos
O velho do cordel assoprou ao léu quatro rimas
E não entendi nenhuma, ainda derrotado pelo sono
Ainda mais estúpido do que outrora fui.

Choveu penas sobre mim que fiquei sozinho
Tive que andar novamente olhando com desalento
O meu nicho sob a ponte se dissolvendo, cedendo
Lugar a uma bruma que me impeliu para a trilha de pedras.

O homem do cordel ficou no meu lugar
O falcão foi caçar a oeste da ponte
E aboiando com a miséria dos meus pés
Fiquei chutando chão para alinhar horizonte.
A estrada se pressentia de uma chegada ausente
E só ela sabia a grande distância da fonte.
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III Edição da Feira Pan-Amazônica do Livro



III edição da Feira Pan-Amazônica do Livro espera receber mais de meio milhão de visitantes este ano

Evento acontecerá entre os dias 6 e 15 de novembro no Hangar -Centro de Convenções da Amazônia

A XIII edição da Feira Pan-Amazônica do Livro, que traz como país homenageado a França, será o evento oficial de encerramento do Ano da França no Brasil. A Aliança Francesa de Belém, em parceria com o Governo Francês e o Governo do Pará através da Secretaria de Cultura do Governo do Pará trazem a Belém uma grande variedade de eventos culturais vindos da França e seus territórios ultramarinos. Cinema, música, teatro e dança serão os eixos da programação francesa. Quem passar pelo Hangar poderá participar de oficinas, assistir a performances de teatro e aos espetáculos com artistas de várias regiões da França, além de conhecer escritores convidados exclusivamente pela AF de Belém, entre eles o premiado Stephane Audeguy, autor francês de grande sucesso literário em todo o mundo.

Desde o lançamento no Hangar- Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, realizada no dia 16 deste mês, Belém espera receber nesta XIII edição da Feira Pan-Amazônica do Livro mais de meio milhão de visitantes, entre os dias 6 e 15 de novembro.

E como não poderia deixar de ser, o país homenageado nesta XIII edição da Feira é a França. E a novidade fica por conta da ampliação na quantidade de estandes e no espaço físico que garantirá mais diversidade e conforto com o aumento de 176 estandes e cerca de 500 m2 de praça de alimentação.

A Feira Pan-Amazônica será o evento oficial de encerramento do Ano da França no Brasil. Para isso, nesta edição, tanto pratos típicos paraenses, quanto franceses farão parte do cardápio no espaço. A decoração será especial no Hangar com a exposição de réplicas do Arco do Triunfo e da Torre Eiffel, além de exposições fotográficas, espetáculos teatrais, oficinas de arte, teatro, dança e circo com artistas franceses. Também o público terá oportunidade de conhecer escritores franceses convidados exclusivamente para o evento.

Mas o estande com os escritores paraenses continuará seguindo na programação e contará com a presença de autores regionais como Eliana Barriga, Juracy Siqueira, Salomão Larêdo e João de Jesus Paes Loureiro. Os professores poderão contar mais uma vez com o CredLivro para aquisição de livros durante o evento.

O Salão B concentrará toda a programação infantil e o palco externo será ampliado, aos moldes do que foi o Natal Hangar.Os custos do evento deverão ultrapassar os R$ 6 milhões.

Uma das principais novidades já confirmadas é o Parque da Turma da Mônica, um espaço infantil que trará temática especial sobre a Amazônia e também contará com a ilustre presença de Maurício de Souza. Além dele, já estão confirmados Zeca Camargo, Frei Beto, Emir Sader, Moacyr Sclyar e Laurentino Gomes, que participarão de encontros abertos ao público e transmitidos para diversos municípios do Estado por meio do projeto NavegaPará.

O premiado autor francês Stephane Audeguy é a estrela da programação literária francesa. Considerado um autor único, Audeguy nasceu em Tours em 1964. É formado em letras modernas, com especialização em inglês. Foi assistente na Universidade de Charlottesville, nos Estados Unidos. Depois de ter ensinado durante anos história do cinema e das artes, deixou o magistério para se dedicar exclusivamente à literatura. Filho único ganhou forte cobertura da mídia francesa à época de seu lançamento, tendo recebido enorme acolhida literária. A obra foi indicada ao Goncourt, além de ter sido agraciada com o Prêmio Deux Magots 2007. No dia 6 acontece a noite de autógrafos de Audeguy no stand do país homenageado. No dia 7 de Novembro Audegui fala com o público às 10h15, em uma das salas de conferência do Hangar. Oportunidades únicas de conhecer o autor, uma vez que o mesmo volta para Paris no dia 7/11 após o meio-dia.

Os territórios ultramarinos franceses também serão representados pela Associação Literária Promolivre, que traz entre suas estrelas os escritores Jean Marc Rosier, Serge Mam-Lam-Fouk, Françoise James Loe-Mie, Odile Armande Lapierre e Gerty Dambury.

Os shows serão atração à parte, sempre buscando artistas que tenham conexão com a literatura. O cantor Lenine já está agendado para o show de abertura, no palco montado à beira do lago do Hangar para receber atrações regionais e nacionais.

Com tantos atrativos, espera-se bater mais um recorde na feira deste ano, aumentando o número de visitantes, que foi de 350 mil pessoas em 2007, 470 mil em 2008 e, projeta-se, 500 mil em 2009.

O reflexo do sucesso da Feira Pan-Amazônica do Livro são os Salões do Livro, que acontecem em Santarém e Tucuruí, chegando em breve a mais dois municípios do Estado e possibilitando que todos tenham acesso à cultura, aos livros e à informação.


Serviço:

XIII edição da Feira Pan-Amazônica do Livro
Local: Belém -No Hangar- Centro de Convenções e Feiras da Amazônia

Fonte:
http://www.portalcultura.com.br/

Erros Mais Comuns da Lingua Portuguesa (Parte III)



41 – Ele foi um dos que “chegou” antes. Um dos que faz a concordância no plural: Ele foi um dos que chegaram antes (dos que chegaram antes, ele foi um). / Era um dos que sempre vibravam com a vitória.

42 – “Cerca de 18″ pessoas o saudaram. Cerca de indica arredondamento e não pode aparecer com números exatos: Cerca de 20 pessoas o saudaram.

43 – Ministro nega que “é” negligente. Negar que introduz subjuntivo, assim como embora e talvez: Ministro nega que seja negligente. / O jogador negou que tivesse cometido a falta. / Ele talvez o convide para a festa. / Embora tente negar, vai deixar a empresa.

44 – Tinha “chego” atrasado. “Chego” não existe. O certo: Tinha chegado atrasado.

45 – Tons “pastéis” predominam. Nome de cor, quando expresso por substantivo, não varia: Tons pastel, blusas rosa, gravatas cinza, camisas creme. No caso de adjetivo, o plural é o normal: Ternos azuis, canetas pretas, fitas amarelas.

46 – Lute pelo “meio-ambiente”. Meio ambiente não tem hífen, nem hora extra, ponto de vista, mala direta, pronta entrega, etc. O sinal aparece, porém, em mão-de-obra, matéria-prima, infra-estrutura, primeira-dama, vale-refeição, meio-de-campo, etc.

47 – Queria namorar “com” o colega. O com não existe: Queria namorar o colega.

48 – O processo deu entrada “junto ao” STF. Processo dá entrada no STF. Igualmente: O jogador foi contratado do (e não “junto ao“) Guarani. / Cresceu muito o prestígio do jornal entre os (e não “junto aos“) leitores. / Era grande a sua dívida com o (e não “junto ao“) banco. / A reclamação foi apresentada ao (e não “junto ao“) Procon.

49 – As pessoas “esperavam-o”. Quando o verbo termina em m, ão ou õe, os pronomes o, a, os e as tomam a forma no, na, nos e nas: As pessoas esperavam-no. / Dão-nos, convidam-na, põe-nos, impõem-nos.

50 – Vocês “fariam-lhe” um favor? Não se usa pronome átono (me, te, se, lhe, nos, vos, lhes) depois de futuro do presente, futuro do pretérito (antigo condicional) ou particípio. Assim: Vocês lhe fariam (ou far-lhe-iam) um favor? / Ele se imporá pelos conhecimentos (e nunca “imporá-se”). / Os amigos nos darão (e não “darão-nos”) um presente. / Tendo-me formado (e nunca tendo “formado-me”).

51 – Chegou “a” duas horas e partirá daqui “há” cinco minutos. Há indica passado e equivale a faz, enquanto a exprime distância ou tempo futuro (não pode ser substituído por faz): Chegou há (faz) duas horas e partirá daqui a (tempo futuro) cinco minutos. / O atirador estava a (distância) pouco menos de 12 metros. / Ele partiu há (faz) pouco menos de dez dias.

52 – Blusa “em” seda. Usa-se de, e não em, para definir o material de que alguma coisa é feita: Blusa de seda, casa de alvenaria, medalha de prata, estátua de madeira.

53 – A artista “deu à luz a” gêmeos. A expressão é dar à luz, apenas: A artista deu à luz quíntuplos. Também é errado dizer: Deu “a luz a” gêmeos.

54 – Estávamos “em” quatro à mesa. O em não existe: Estávamos quatro à mesa. / Éramos seis. / Ficamos cinco na sala.

55 – Sentou “na” mesa para comer. Sentar-se (ou sentar) em é sentar-se em cima de. Veja o certo: Sentou-se à mesa para comer. / Sentou ao piano, à máquina, ao computador.

56 – Ficou contente “por causa que” ninguém se feriu. Embora popular, a locução não existe. Use porque: Ficou contente porque ninguém se feriu.

57 – O time empatou “em” 2 a 2. A preposição é por: O time empatou por 2 a 2. Repare que ele ganha por e perde por. Da mesma forma: empate por.

58 – À medida “em” que a epidemia se espalhava… O certo é: À medida que a epidemia se espalhava… Existe ainda na medida em que (tendo em vista que): É preciso cumprir as leis, na medida em que elas existem.

59 – Não queria que “receiassem” a sua companhia. O i não existe: Não queria que receassem a sua companhia. Da mesma forma: passeemos, enfearam, ceaste, receeis (só existe i quando o acento cai no e que precede a terminação ear: receiem, passeias, enfeiam).

60 – Eles “tem” razão. No plural, têm é assim, com acento. Tem é a forma do singular. O mesmo ocorre com vem e vêm e põe e põem: Ele tem, eles têm; ele vem, eles vêm; ele põe, eles põem.

Fonte:
http://www.culturatura.com.br/

Andreev Veiga (Caldeirão Literário do Pará)



RESTANDO-SE SOB O SOL

não pude perceber o litoral
durante o que eu imaginava daquilo que era o silêncio.

como ocupando uma cadeira
topei entre vagos destinos
igual a esses rios
que caem junto com a chegada do outono.

comecei acreditar
que ter nascido do tamanho errado
me bastaria andar
sem atalhos que fossem
andar
de pernas às esquecidas
tamanho calo que herda até o fim seu espaço.

era indiferente a solidão
que continham meus ossos acesos
era desnecessário existir
e usar de um outro lugar
que não coubesse no mundo.

daquilo sentirei infelicidade...

e de parte do meu corpo
rumo a imaginá-lo
como corpo restante de um frenesi
tornei-me como sacrifício de sonhar
em outros sonhos uma viagem.

esperei no dia
cada porto
cada miragem de conforto
que me deixasse como o vento...

...despercebido da solidão

era exposto.

o céu ardia tanto
restando-se sob o sol desse outono
que nu e anônimo
de minhas mãos
o aceno se derramava...

eu não tive de onde tirar uma lágrima.

era ferrugem.
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PERSIANA

a luz listrada acende o mofo que ilustra a vida no estreito da cama
minha mãe atravessa a morte sem fazer barulho
me assusto com o copo d'água
pousa uma gaivota em meus lábios se afogando

a morte surge sempre suave para os mortos
deus não haverá de conceber a saudade ao mar
só aos que ficarão
pois estes não têm barcos nem são deuses
mas
suficientemente estúpidos como o céu de pessoa

a persiana retém os desfiladeiros neste cômodo
o que escrevo desaparece com a noite
fica na memória o eco
fragmentando o pouco do café

os vendavais precisam das chuvas
para que as horas revelem às montanhas
o suicídio que as habita

já não atento migrar para o imenso da areia

(tudo é indefinido até a hora das ondas)
==============================

EQUINÓCIO

Á beira do medo
me agarro sobre a guimba do cigarro
instintos quentes
e lábios debruçados no pão
se abrem como uma vagina ao vácuo
penetrada
pelo sopro diurno
da colisão com a vida

ao norte
ouço o lugar perdendo altura
numa imagem indecifrável de fogo
correndo sobre mim,
até a boca

o mundo ainda esconde muitas águas
entre os gestos das flores
e entre as coisas que se tem
apesar de tanto
antigas e comuns
o tempo não pode curar
a altura da queda

o perfume desses verões
a bebida derramada sobre o mundo
pesa mais que o cheiro deste lugar
(não é só de silêncio que é feito o desejo)
é de sangue
é de algo maior que este pátio
é de borra na cabeceira
com seus ombros em silêncio.
a sanidade.

quando a ópera resvala nos galhos
e as folhas em coro
pronunciam-se livres para a noite
quando o presente abre sua porta
e deixa o vento fazer-se disposto
no rosto
quando cada botão
em seu tempo se abre
fumegando
por dentro
a tristeza

o verão
a noite
toma-me inerte
à posse desses rios
que flutuam inescrupulosos
sob a mínima distância
de miséria e poema

o peso dos disfarces
à medida em que tudo se perpetua
evapora os olhares
e as coisas se distanciam
(é um ato capaz)
a vida se torna um alvo fácil
a pulsar
sozinha entre as folhas

a ópera acabou,
inteira
derramada sobre a noite
dormindo o mundo
lado-a-lado
com o medo

não é a solidão que abandona,
é o caminho.

o tempo a casa a beleza dos quintais

achei que a vida
fosse um grito
que começassem em luz
onde eu pudesse descobrir
todas as manhãs
que minha voz não existe
ou é uma outra cor
sem o gosto das palavras
sem o instante do abraço
apenas água

o verão termina
e junto vão-se os pássaros
e as longas caminhadas pela ilha
o único minuto deixado
descreve o que as ondas tem em excitação com o homem:
o vento
que descampado pela madrugada
toma rumo ao desconhecido
passo-a-passo
pelos saguões de meus limites

sento à sombra
gargarejo qualquer coisa inofensiva para mais tarde...
a manhã
num aquário seguinte
o frio se desfaz
e o silêncio se acende imponderável entre as nuvens


o galo canta
e mergulha em cânticos às margens deste rodeio

se num intervalo de vida
pudesse envelhecer mais rápido que a fadiga
como homem
de minha própria fome e carniça
falaria para o coração
o que de mortos e vivos aprendi
mas que de mortos e vivos
hei de adiar
ante
a exata ocupação do dia
ou
tarde demais...

...até a primeira enchente
escorrer suas guimbas pelo chão.

este poema é parte integrante da antologia poética do 9º concurso de poesias da universidade federal de São João Del-Rei - UFSJ 2009 no estado de Minas Gerais.
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Sobre o Autor
Andreev Veiga trabalha com a palavra desde os treze anos de idade. Além de poeta, ele é escritor e compositor. Seu primeiro livro, “Letrários”, reúne uma coletânea das poesias que considera poder provocar sensações e sentimentos no leitor. Entre as preferidas do autor estão as denominadas “Restando-se sob o sol”, “Poema calado” e “Para o poema ficar repleto de saudade”.

“Escrever poesias é um grande êxtase”, afirma Andreev Veiga. “O que sei fazer é escrever. É uma necessidade que tenho de relatar sobre o tempo, amores, desamores, solidão, sensações, reações, rotina do dia-a-dia, enfim, sobre tudo que tem algum significado para mim”.

O poeta paraense Andreev Veiga foi um dos vencedores do Premio Literário Valdeck Almeida de Jesus de Poesia – Edição 2008, com a poesia “Reinventando a Morte”.

Para o escritor suas obras são densas e fazer poesia é uma forma de não se sentir sozinho. Andreev gosta de pensar que cada leitor terá uma resposta diferente sobre suas obras. “Para mim, o ato de escrever representa a liberdade de pensamento e de expressão”. Entre as metas para 2009 estão a participação em feiras literárias, novos concursos e a publicação de seu primeiro livro.

Fontes:
http://andreevveiga.blogspot.com/
http://www.difundir.com.br
Imagem = montagem por José Feldman

José Araújo (O Lago das Batatas)

Todo mundo não via a hora de partir para as férias e ela se lembra ainda hoje, quantas e quantas noites de véspera de viagem ela passou sem dormir de tanta excitação e quantas vezes ao chegar lá ela sentiu como se seu estomago estivesse vazio, aquela mesma sensação estranha, que a gente sente quando se apaixona por alguém. A fazenda tinha nela um grande lago que havia recebido o nome de Lago da Batata, ele tinha este nome não porque você podia pescar batatas nele, mas porque a propriedade de Nhá Maria sua avó, tinha uma enorme plantação de batatas que abastecia grande parte das cidades vizinhas e região. Ana Maria lembra de quando aprendeu a ler e começou a compreender as coisas, ela achava lindo e adorava ver todos aqueles barquinhos na beira do lago, cada qual com um nome que sugeria uma ligação profunda com o nome do lugar, tais como, “Batata Frita”, “Batata Chips”, “Batata Palha” “Batata Boat” e havia tambem os pedalinhos, cada um uma cor que eram chamados de batatinhas, além do que, para alegria da criançada, todos os dias o almoço era servido em mesas de madeira, colocadas estrategicamente às margens do lago, embaixo de frondosas arvores de eucalipto, de onde se podia ter uma vista ampla do lugar e a comida, bem, esta então, era a grande atração, a paixão de todo mundo, sua avó servia a todos, arroz, feijão, bife e é claro, batata frita. Nhá Maria era uma figura constante na vida de todo mundo que freqüentava o lugar, fossem parentes ou amigos, seu sorriso que iluminava totalmente seu rosto encantava a todos que a conheciam e a partir daí, jamais deixavam de vir visitá-la, de trazer seu carinho, amor e respeito por ser tão especial.

Aos 78 anos de vida ela era talvez a pessoa mais ativa na fazenda quando chegava a época das férias, pois queria sempre que tudo estivesse perfeito para a chegada da família e dos amigos que lhe traziam tanta alegria e calor ao coração. Ela sempre foi de planejar brincadeiras paras crianças, jogos e passatempos para os adultos, mas dava sempre uma maior atenção ao inventar atividades que envolvessem tanto as crianças, quanto adultos, para que de uma forma sutil, cada um pudesse perceber que mesmo quando já adultos, há sempre uma criança adormecida dentro de nós, apenas esperando que em algum momento alguém nos chame para brincar de “Amarelinha”. Nhá Maria era baixinha, tinha 1,60m de altura, era magrinha, usava seus cabelos sempre presos num coque bem arrumadinho no alto de sua cabeça e usava vestidos de chita estampados e coloridos, sempre com motivos de flores que eram sua grande paixão. Com sua pele morena, seus cabelos brancos e olhos azuis da cor do céu, a faziam ainda mais do que especial, não havia que não admirasse e destreza e rapidez com que ela executava todas as tarefas diárias, alem de dar atenção, carinho e amor a todos que a rodeavam. Ela era extremamente sentimental e parecia sempre ter uma lágrima nos olhos quando ouvia uma musica no rádio, quando ouvia um pássaro cantar pela manhã em sua janela ou quando assistia o sol nascer por detrás das montanhas, mas certamente muitas outras lágrimas vinham quando ela recebia um beijo ou um abraço de uma criancinha. Ela sempre soube encontrar algo positivo em todo mundo que ela conhecia, mesmo que de vez em quando isto fosse muito difícil, mas com seu amor ela sempre descobriu belezas há muito escondidas nos corações mais duros e sempre deu um jeitinho de fazer desabrochar neles uma linda flor, mesmo que para isto, ela tivesse que surgir do meio de um lamaçal.

Ana Maria sempre se lembrará do que ela dizia quando encontrava alguém mais duro, mais frio e séptico com relação á vida, ela dizia com uma voz que transmitia toda a força da fé e dor amor, que Deus nos fez a todos e esta dentro de todos nós. As prioridades na vida de Nhá Maria sempre foram Deus, a família, os amigos e uma vida simples e feliz e para isto, ela diversificava suas atividades, fazia parte do grupo de senhoras de sua igreja, onde podia ajudar outras pessoas de formas diferentes e isto lhe trazia muita alegria em poder se doar um pouco mais. Todos os anos ela fazia uma grande festa na fazenda para angariar donativos para a ajudar a população carente de muitas cidades vizinhas e era tão ativa ainda aos 78 anos, que participava efetivamente na competição de barcos, remando como se daquilo dependesse sua vida e atravessava o lago de ponta a ponta, sem demonstrar nenhum cansaço, sempre sorrindo, abraçando e beijando a todos, pois para Nhá Maria, a vida sempre foi uma festa e ela sempre envolveu a todos neste espírito positivo e por isto as pessoas se sentiam outras ao lado dela, como tinha que ser. No outono de 1990, ela teve diagnosticado um câncer e é claro, todo mundo ficou absolutamente devastado com isto, mas no coração de Ana Maria, de alguma forma ela sabia que no final, tudo seria de acordo com a vontade de Deus. Ano após ano, desde a descoberta da doença, durante todos os tratamentos e sofrimentos com a quimioterapia, com perda de seus cabelos, com a tristeza da família, ela nunca perdeu a fé em Deus e a vontade de viver, sempre que alguém lhe parecia triste ela dizia que Deus sabe o que faz e que o que quer que ele houvesse designado para ela, todos deviam aceitar com respeito, pois era a vontade de Deus e nestes momentos, o sorriso que brotava em seu rosto, fazia com que lágrimas sentidas corressem livremente no rostos de quem a estivesse ouvindo, tendo seus corações mais uma vez, preenchidos pela fé e pelo amor que ela tinha o poder de transmitir.

Em 1993 Nhá Maria foi parar numa cadeira de rodas e a esta altura já tinha que ser alimentada por tubos, mas seu olhar, ele era o mesmo de antes, havia neles o brilho da vida e da crença na existência de um Deus todo poderoso e mesmo sabendo que sua morte estava próxima, todos já estavam acostumados com a idéia, era questão de tempo e quando a hora se aproximou, ela pediu para ver o padre da capela da cidade e quando ele chegou ela parecia estar vendo um anjo e disse a ele com uma voz que poderia derrubar por completo todas as barreiras que são compostas pelo ódio, pelo rancor, pela inveja e pelo ceticismo e suas palavras foram:

“Padre, o senhor sabe que nunca tive medo da morte porque eu sei para onde estou indo, eu não quis partir antes porque eu sabia que minha família ainda não estava pronta para aceitar minha partida, mas agora eu sei que eles estão e por isto vou partir padre, mas antes peço sua benção em nome do Senhor”.

E enquanto recebia a benção do Padre, Nhá Maria partiu calmamente, foi morar lá no céu, foi ficar ao lado de Deus nosso senhor, onde é o lugar de todos aqueles que acreditam nele e tem fé de que a vida não é passageira, que ela é muito mais do que a maioria enxerga, que ela em si, é uma benção divina, que aqueles que a recebem dele, é porque foram escolhidos para trazer ao mundo, mais uma prova de seu poder. Hoje já não há mais a presença física de Nhá Maria na fazenda, porém seu espírito iluminado esta presente o tempo todo nas mentes e nos corações daqueles que sempre a amaram e a tradição que se iniciou há séculos atrás não foi interrompida, a vida segue seu caminho e agora, outra avó tomou o lugar de Nhá Maria no Lago da Batata, sua filha, Albertina, mãe de Ana Maria, que aprendeu com ela os caminhos da luz e os filhos de Ana Maria, assim como todos as outras crianças da família ao longo das gerações, nem dormem na véspera da viagem de férias, de tanta excitação.
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José Araújo, é autor do livro por um mundo melhor, publicou nos livros entrelinhas, Universo Paulistano, dimensões.br (Andross Editora), Enigmas do Amor, Delicatta IV (Scortecci Editora) em SP, coletânea 10 anos de usina de letras, antologia especial XIV Bienal do Rio All Print, poesia e prosa verão 2009, preces e reflexões (taba cultural) no R.J. estará no lançamento da antologia cidade volumes I,II e III em Belém na Feira Panamazônica do Livro dia 07/11 às 19hs.
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Foto no alto da página = Lago de Bled, na Eslovênia

XI Feira do Livro de Marabá (PA)


A Fundação Casa da Cultura de Marabá realiza, de 26 a 28 de novembro deste ano, a XI Feira do Livro de Marabá e I Salão Nacional de Humor de Marabá. Os eventos acontecem nas dependências do ginásio Poliesportivo “Renato Veloso”, na Folha 16, Nova Marabá.

Para o presidente da Fundação, Noé von Atzingen, a feira do livro vai proporcionar ampla aquisição de novas títulos, além de abrir espaço aos artistas da região, dando oportunidade para que o público conheça e valorize seus trabalhos. Segundo Atzingen, esse é um evento que visa, principalmente, resgatar a importância do livro e do ato de ler, fazendo com que a população regional conheça a abrangência da leitura como instrumento de cidadania e como direito individual.

Feira do Livro de Marabá, que terá lugar no Ginásio Poliesportivo da Folha 16, tem prevista a seguinte programação:

– I Salão Nacional de Humor de Marabá;
– Exposição de Artesanatos e Artes Plásticas;
– Mostra de Cinema;
– III Exposição Lúdica - UFPA Universidade Federal do Pará;
– Fantoche, teatro, dança e outras apresentações;
– Lançamento de Livros, Bate-Papo, Oficinas, Palestras;
– Programação Cultural, Visita de Escolas;
– IV Sarau do PROLER;
– Café Literário entre outras atividades.

Fonte:
http://www.maraba.pa.gov.br

Paulo Monteiro (A Trova no Espiríto Santo – Parte VIII)

Convento da Penha, em Vila Velha, ES. Pintura de Sérgio Câmara
J. CABRAL SOBRINHO

O poeta José Cabral Sobrinho nasceu em Afonso CIáudio, Espírito Santo, em 30 de março de 1935. Há mais de 20 anos vive longe de sua terra natal, mas não perdeu o contato com a literatura espírito-santense. Trovador atuante e hábil sonetista. É militar da ativa do Exército Brasileiro.

Nesses sertões sofredores,
onde a seca se renova,
com a Fé dos sonhadores
cultivo safras do trovas.

Voando por entre as flores,
o beija-flor, todo dia,
numa profusão de cores,
é um exemplo de harmonia.

- Se o colega me permite
que um conselho seja dado,
é sempre bom que se evite
a trova de pé-quebrado.

Não há quem não fique roxo
de agonia, na parada,
ao ver um soldado coxo
marchando em cadência errada.

JOÃO MOTTA

João Motta nasceu em Cachoeiro de Itapemirim em 1881. Foi apenas jornalista e poeta, sendo que a maioria de suas produções literárias foram perdidas. Informa Evandro Moreira que, no ano do 1966, o jornalista Trófanes Ramos reuniu o que pode da vasta produção do poeta no livro "Poesias do João Motta". Foi um poeta marcado pelos ideais libertários, tanto que o jornal "O Cachoeirense”, por ele dirigido, foi empastelado em 1906. Faleceu no dia 14 de fevereiro de 1914.

Aos sons da meiga cantiga,
folgava, sonhava e ria...
Muitas vezes, boa amiga,
chorando mesmo, sorria...

Sonhos do amor ela teve,
eu creio... também passaram,
ligeiros, e, nem de leve,
um rastro sequer deixaram...

No céu de sua existência
nenhuma nuvem tristonha...
Havia em toda a esplendência,
ridente manhã risonha...

Que te importa que desabe
o mundo? A vida seguindo,
padeces rindo! E, quem sabe?
Talvez que morras sorrindo..

Ide, sonhos de venturas,
saudosos, idos amores,
quero esposar as torturas,
dormir nos braços das dores.

Andei em plagas formosas,
vivi em mundos diversos,
singrando mares de rosas,
em barcos feitos de versos...

Ide, meus sonhos dispersos,
presos às asas dos anos;
deixai-me só com meus versos,
unido aos meus desenganos!

JOSÉ DE ANDRADE SUCUPIRA FILHO

Nascido em 9 de março de 1954, na Capital do Espírito Santo, José de Andrade Sucupira Filho é analista químico e concluiu diversos cursos técnicos.

Se a vida fosse sem lutas,
sem vitória. Só prazer.
Sem empecilhos. Escuta:
Teria razão viver?

Querendo saber a causa
do acidente de avião
teve a resposta sem pausa:
Esbarramos na inflação.

Pestes, fomes, mendicâncias,
não haveria, nem guerra,
se em todas as circunstâncias
dominasse o amor na terra.

Assombrou sábios nos templos
(Quanta maldade ao seu lado),
pregou o amor, deu exemplos,
depois foi crucificado.

JOUBERT DE ARAÚJO SILVA

Um dos mais conhecidos trovadores do Espírito Santo, Joubert reside há vários anos no Rio do Janeiro, onde faz parte da alta direção da União Brasileira de Trovadores. É um dos trovadores brasileiros mais premiados em concursos de trovas e jogos florais. Nasceu em Cachoeiro de Itapemirim no dia 29 de novembro de 1915 e tem prontos para publicação dois livros do trovas.

Ela não anda, flutua...
mas com tanta e tanta graça,
que até os postes da rua
se inclinam, quando ela passa!

Enganam-se os ditadores,
que, no seu furor medonho,
mandam matar sonhadores,
pensando matar o sonho

Muita gente que eu não gabo
lembra a pipa colorida:
- quanto mais comprido o rabo
mais alto sobe na vida!...

Aquela aranha paciente,
que tece despercebida,
lembra o destino da gente
e as armadilhas, da vida!

Minha alma lembra um menino
pobrezinho e de ar tristonho,
que estende a mão ao Destino,
pedindo a esmola de um sonho!

Ela se foi... E esta espera,
pouco a pouco, transformou
o moço feliz que eu era,
no poeta infeliz que eu sou!

Sejam "brotos” ou “coroas”
- Isto dispensa argumentos -
São sempre as mulheres "boas”
que inspiram "maus” pensamentos...

Pra botar fogo na gente
É assim que a mulata faz:
em cima estufa pra frente;
em baixo estufa pra trás!

Linda viuvinha, a Anacleta
nos deixa de vistas turvas..
Não pode ter vista reta
a dona daquelas curvas...

O segredo que o Biscalho
soube da esposa travessa
deu, por fim, “aquele galho"
que não lhe sai da cabeça...

"Só com o Zé se casaria...”
Jurou, e foi verdadeira:
Já tem três filhos Maria,
e continua solteira!..

Fontes:
http://www.usinadeletras.com.br

Concurso Pão e Poesia (Resultado)


CATEGORIA SONETO

Abaixo os classificados por ordem alfabética

Nome: Adelaide Amorim
Soneto: Te deum
Tijuca – RJ
...
Nome: Diego de Figueiredo Braga Pereira
Soneto: Retraro
Rio de Janeiro – RJ
...
Nome: Dodora Galinari
Soneto: Sonet-ando
Belo Horizonte - MG
...
Nome: Edmar Japiassú Maia
Soneto: Prece
Rio de Janeiro – RJ
...
Nome: João Paulo Lopes de Meira Hergesel
Soneto: Voo de borboleta
Alumínio - SP
...
Nome: Líria Porto
Soneto: Pedra-sabão
Belo Horizonte - MG
...
Nome: Octávio Egydio Roggiero Junior
Soneto: Elegia
São Paulo – SP
...
Nome: Paulino José Pereira de Lima
Soneto: Energia das manhãs
Santa Luzia - MG
...
Nome: Reginaldo Costa de Albuquerque
Soneto: Alerquinada
Campo Grande – MS
...
Nome: Renata Paccola
Soneto: Corda bamba
São Paulo - SP
...
Nome: Sérgio Ferreira da Silva
Soneto: Doce Flagelo
São Paulo - SP
...
Nome: Wanda de Paula Mourthé
Soneto: Espelho da alma
Belo Horizonte - MG

CATEGORIA TROVA

Abaixo em ordem alfabética os selecionados. As classificadas, estão identificadas pelo primeiro verso.

Participaram do juri a poetisa e trovadora Conceição Abritta, o poeta, trovador e presidente da UBT - MG Luiz Carlos Abritta e o poeta e trovador José Ouverney.

Nome: Andra Mara Valladares Sarmento
Trova: “Salta aos olhos a saudade”
Vila Velha - ES
...
Nome: Angélica Maria Vilella Santos
Trova: “Planta nas leiras da lida”
Taubaté - SP
...
Nome: Angela Togeiro
Trova: “Pão doado com humildade,”
Belo Horizonte – MG
...
Nome: Antônio Augusto de Assis
Trova: “Deus fez a Terra... e, ao fazê-la,”
Maringa - PR
...
Nome: Antônio de Oliveira
Trova: “O amor é a grande avenida”
Rio Claro - SP
...
Nome: Camilo de Lélis Furlin
Trova: “Outra vez se estende o facho,”
Porto Alegre - RS
...
Nome: Dáguima Verônica de Oliveira
Trova: “Tem que existir o conflito”
Santa Juliana - MG
...
Nome: Dodora Galinari
Trova: “De costas, nessa apatia,”
Belo Horizonte – MG
...
Nome: Eliana Dagmar
Trova: “Aplauso é luz de dois gumes...”
Amparo - SP
...
Nome: Edmar Japiassú Maia
Trova: “Quem por cigarros se entrega”
Rio de Janeiro - RJ
...
Nome: Élbea Priscila Souza e Silva
Trova: “No meu Natal é rotina”
Caçapava - SP
...
Nome: Elizabeth Souza Cruz
Trova: “Feito internauta voraz,”
Nova Friburgo - RJ
...
Nome: Flávio Roberto Stefani
Trova: “Abaixo a guerra entre irmãos!”
Porto Alegre - RS
...
Nome: Francisco Garcia de Araújo
Trova: “Segue, filho, o teu caminho,”
Caicó - RN
...
Nome: Geralda Majelita Borges Ladeira
Trova: “Estrela-do-mar na areia”
Belo Horizonte – MG
...
Nome: Ilá Aragão
Trova: “As luzes dos pirilampos”
Belo Horizonte – MG
...
Nome: Iraí Verdan
Trova: “Todo dia, bem cedinho”
Piabetá - RJ
...
Nome: Istela Marina Gotelipe de Lima
Trova: “As lembranças de nós dois”
Bandeirantes - PR
...
Nome: Izo Goldman
Trova: “No abismo da solidão,”
São Paulo - SP
...
Nome: João Costa
Trova: “Ante os problemas da vida,”
Saquarema - RJ
...
Nome: José Lucas de Barros
Trova: “Agora entendo o porquê”
Natal - RN
...
Nome: Luiz Antonio Cardoso
Trova: “Meu pai forte... a velha enxada...”
Tremembé - SP
...
Nome: Maria Aparecida Vilhena
Trova: “Tranco no cofre o segredo,”
João Pessoa - PB
...
Nome: Newton Vieira
Trova: “Ficou mais lento o meu passo?”
Curvelo - MG
...
Nome: Pedro Mello
Trova: “O botox em profusão”
São Paulo - SP
...
Nome: Renata Paccola
Trova: “Curupira é o que tu és,”
São Paulo - SP
...
Nome: Rita Bernadete Sampaio Velosa
Trova: “São, com os ventos passantes,”
Araraquara – SP
...
Nome: Sérgio Ferreira da Silva
Trova: “Nem só de pão se ressente”
São Paulo - SP
...
Nome: Octávio Roggiero Neto
Trova: “que nesta manhã de vento,”
São Paulo - SP
...
Nome: Olimpio da Cruz Simões Coutinho
Trova: “Ao homem Deus deu a Terra,”
Belo Horizonte – MG
...
Nome: Relva Egipto Silveira
Trova: “A bengala que rastreia”
Belo Horizonte – MG
...
Nome: Sílvia Maria Leite Mota
Trova: “Se o teu destino bendiz,”
Rio de Janeiro - RJ
...
Nome: Thalma Tavares
Trova: “Em minha vida sem graça”
São Simão - SP
...
Nome: Therezinha Dieguez Brisolla
Trova: “Querendo ver o acidente,”
São Paulo - SP
...
Nome: Wanda de Paula Mourthé
Trova: “Percebo, com desconforto,”
Belo Horizonte – MG
...
Nome: Vanda Fagundes Queiroz
Trova: “Se temos pão sobre a mesa,”
Curitiba - PR

CATEGORIA VERSO LIVRE

Abaixo em ordem alfabética os selecionados. O poeta e tradutor Leonardo de Magalhaes e Diovvani Mendonça, idealizador do projeto Pão e Poesia, foram os responsáveis pela difícil escolha dos poemas desta categoria, onde vários poemas alcançaram notas 9 e 10.

Nome: Arianne Pirajá
Poema: From Belesma Central Party
Teresina - PI
...
Nome: Bruno Lopez Molinero Gomes
Poema: marcela, 43, casada
São Paulo - SP
...
Nome: Cláudio Alves da Silva
Poema: Separação de Sílabas
São João de Meriti - RJ
...
Nome: Daniel Elias Ferreira Barbosa
Poema: Precaução
Juiz de Fora - MG
...
Nome: Edson Cesar de Ousa Sobrinho
Poema: Patético
Salvador – BA
...
Nome: Emerson Mário Destefani
Poema: “HEROÍSMO”
Indianópolis - PR
...
Nome: Lecy Pereira Sousa
Poema: Fake
Contagem - MG
...
Nome: Lívia Porto Zocco
Poema: “CORAÇÃO-NAVIO”
Ribeirão Preto – SP
...
Nome: Lucas de Castro Lisboa
Poema: Carteado
Belo Horizonte – MG
...
Nome: Lucíola Silva Oliveira
Poema: Lanterneiros e afins
Contagem – MG
...
Nome: Luiz Otávio Oliani
Poema: Partilha
Vasconcelos - RJ
...
Nome: Marcello Cabral de Souza
Poema: Do pó ao pó
Brasília-DF
...
Nome: Marcelo de Luca
Poema: Carta à Peggy Lee
Florianópolis - SC
...
Nome: Marcos Roberto Moraes de Moura
Poema: Lápide
Jaboatão dos Guararapes - PE
...
Nome: Ricardo Martins de Carvalho
Poema: Homenagem A Drummond
Contagem – MG
...
Nome: Bar do Pianista
Poema: Vinícius Fernandes Cardoso
Contagem – MG

Fonte:
http://paoepoesia2009.blogspot.com/

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Alibi (A Quarta Dimensão)



Poesia de autor de pseudônimo ALIBI, da cidade de Ibiporã (PR) para o I Premio Talentos de Poesia 2009

Sim
o tempo está passando

O tempo está passando
nos passos apressados
descompassado
o tempo passa

Na batida
disritmada
dos corações
sem tino

No rosto impávido da minha mãe
na papada empapuçada
no pescoço

O tempo passa
nas crianças que correm
de volta do colégio

Na cabeça cândida dos idosos
no lento lançar de cartas
nos bancos
nas praças
o tempo passa

Mais uma vez
como ontem
neste mesmo horário
o tempo está passando

Bate à porta do meu escritório
esfomeia meu estômago
põe-me a pensar

A passagem do tempo
o dinheiro
o deus
a quarta dimensão
que o tempo é?

Não dá tempo
de questionar
o tempo
está passando
por dentro
por fora de mim

O tempo me acordou às sete
o tempo me fará dormir
o tempo está circulando
preciso
de tempo

Aqui, acolá
a hora de partir
agora é de chegar
a cor dar
ao tempo

A onipotência
transparente
do tempo
a me conduzir de cabresto
pela vida

Escorre o tempo
ampulheta
do meu pó
passa

O tempo está passando
sobre os meus ideais
sombras
sobre as minhas vontades
sobras
sobre os meus sonhos

Feito rolo
compressor
o tempo passa

E deixa rugas
quando não nos mata
a gente mata
o tempo.
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