terça-feira, 12 de julho de 2011

Lú Oliveira (Entre Cadernos e Vitrines)


Na última sexta-feira, logo pela manhã, após participar da missa na Catedral, fui até o Mc Donald's para usar o banheiro e uma cena me chamou a atenção: um grupo formado por 6 adolescentes ocupava algumas mesas na estabelecimento.

Até aí, nada anormal, concordam? Como a lanchonete também oferece o serviço de café, é perfeitamente possível que alguém a escolha para o seu desjejum.

Mas era um dia letivo e todos vestiam uniformes do Instituto de Educação, um colégio público localizado a poucas quadras dali; já passava das 8 e todos sabemos que as aulas começam às 7h30.

Eles conversavam animadamente; riam e se mostravam descontraídos, sem pressa, como se fosse um sábado à tarde.

Pois bem.

Pouco tempo depois, por volta das 9, enquanto eu caminhava pelo centro da cidade, coincidentemente vi mais um grupo de adolescentes, só que formado apenas por meninas. Elas também estavam uniformizadas, mas desta vez o emblema das camisetas era do Colégio Brasílio Itiberê, também uma instituição pública.

E então senti que, naquele momento, nascia mais uma crônica. Sabem por quê? Porque fiquei pensando nas famílias daqueles estudantes.

Sei que, nessa idade, certas "artes" são típicas e cabular aula é uma delas (embora eu nunca tenha feito isso...).

Entretanto, além de todos os prejuízos por conta de faltarem ao colégio naquele dia, fiquei pensando se seus pais - ou qualquer outro responsável que zele por eles - um dia imaginariam que seus filhos "fazem de conta" que vão à escola, mas na verdade estão saboreando um belo café no Mc Donald's - enquanto os colegas já está estudando - ou então apreciando as vitrines em busca de novidades.

Em um primeiro momento, confesso que julguei apenas a atitude dos adolescentes; julguei aquela "escolha" irresponsável, considerei a ação um desrespeito aos familiares que se preocupam com eles.

Por outro lado, também refleti sobre outro aspecto: será que esses jovens têm adultos que se preocupam - de verdade - com eles? Será que têm em suas casas pessoas que conversam sobre os "convites" que o mundo faz?

Eu sempre respeitei meus pais enquanto vivi com eles, mas não por medo ou "obrigação"; respeitava porque os amava, admirava-os e reconhecia o esforço que faziam por mim e por minhas irmãs.

Será que aqueles jovens ainda foram para a escola naquela manhã? Será que inventaram alguma desculpa para entrarem atrasados? Ou será que passaram a manhã "curtindo" e depois foram para suas casas?

Nunca vou saber...

Só sei que, naquele dia, alunos cabulando aula foram os responsáveis pelo nascimento desta crônica.

Fontes:
Portal de Cianorte
Imagem = Professor Carrasco, mau e ruim

Lú Oliveira (Lançamento do Livro "Primeira Impressão", em Maringá )


Qualquer semelhança com a sua vida não terá sido mera coincidência.

Autora: Lu Oliveira - Editora Clichetec - 136 páginas

À venda na Livraria Espaço Maringá Park - Shopping Maringá Park - Maringá - PR -

Crônicas que retratam o cotidiano sob um olhar simples, sensível, crítico, bem-humorado e saudosista.

As palavras servem para a autora mostrar a vida como ela é ( e como a vida poderia ser...).

O livro apresenta três partes: "Memórias" / "Educação e Família" / "Política e Sociedade".

O prefácio é do jornalista e escritor José Antonio Pedriali (autor de "Fuga dos Andes", publicado pela Editora Record).

As orelhas foram escritas por Cláudia Donná Hila, doutora em Estudos da Linguagem pela Universidade Estadual de Londrina - UEL e pelo pai da autora, um homem sem instrução acadêmica, mas apaixonado pela leitura.

Lu Oliveira começou a escrever no primeiro ano do curso de Letras da UEM. Ela diz que foi incentivada a escrever pelos professores da faculdade, que elogiavam seus textos. Em casa, a família, principalmente o pai, sempre a incentivou a ler e a estudar.

Em 1997, ela publicou seus primeiros textos no Diário. Quando se formou, começou a trabalhar como professora e se casou. Nesse momento, publicar um livro era apenas um sonho.

Quando criou o blog, passou a escrever crônicas diárias e publicá-las no odiario.com, Lu Oliveira colocou o desejo de publicar um livro como uma meta.

"Publicar um livro físico é algo que vem da paixão pela literatura. Eu não consigo ver o livro como uma coisa que vai desaparecer com a internet".

No blog, além das crônicas, Lu também publica um capítulo semanal de seu romance "Setembrina", que ela pretende que seja seu segundo livro publicado.

O blog é Escrever é preciso… http://www.odiario.com/blogs/luoliveira/

Fontes:
Texto e imagem enviados pela autora
ADUEM

Jogos Florais de Cambuci /RJ 2011 (Resultado Final)


ÂMBITOS INTERNACIONAL/ NACIONAL E ESTADUAL. TEMA LIVRE VENCEDORES:

AILSON CARDOSO DE OLIVEIRA
Magé - RJ

DIAMANTINO FERREIRA
Campos Dos Goytacazes-RJ

MESSIAS DA ROCHA FILHO
Juiz De Fora - MG

CAMPOS SALES
São Paulo - SP

CLENIR NEVES RIBEIRO
Nova Friburgo - RJ

ÉLBEA PRISCILA DE SOUZA SILVA
Caçapava - SP

ELEN DE NOVAIS FELIX
Niterói - RJ

FABIANO DE CRISTO M. WANDERLEY
Natal – RN

GILVAN CARNEIRO DA SILVA
São Gonçalo – RJ

IZO GOLDMAN
São Paulo - SP

JOSÉ MOREIRA MONTEIRO
Bom Jardim - RJ

JOSÉ LUCAS DE BARROS
Natal - RN

JORGE ROBERTO DE CARVALHO
Niterói - RJ

LAÉRSON QUARESMA DE MORAES
Campinas – SP

NEIVA FERNANDES
Campos Dos Goytacazes -RJ

OLYMPIO DA CRUZ SIMÕES COUTINHO
Belo Horizonte - MG

POMPÍLIO O. VIEIRA
São Vicente - SP

RELVA DO EGYPTO REZENDE SILVEIRA
Belo Horizonte - MG

VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba - PR

VERA MARIA PUGET BLANCO
Rio De Janeiro - RJ
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ÂMBITO REGIONAL Tema Sonho VENCEDORES :

ALMIR PINTO DE AZEVEDO
Cambuci – RJ

ANA HELENA MONTEIRO VIEIRA
Cambuci – RJ

CELMA LEAL DE AZEVEDO
Cambuci

CELSO LUIZ FERNANDES CHAVES
Cambuci – RJ

DEJALMA MATOLLA DE MIRANDA
Cambuci – RJ

DINAH TERRA PEIXOTO
Cambuci – RJ

ÉSTIA BAPTISTA LIMA
Cambuci – RJ

IRACI PIETRANI
São Sebastião Do Alto – RJ

JOSÉ MOREIRA SOBRINHO
São Fidélis – RJ

JOSÉ CARLOS QUEIROZ CONCEIÇÃO
São Sebastião Do Alto – RJ

MARIA JOSÉ GOMES DE CARVALHO
Cambuci – RJ

MARIA LUIZA PERES CAMPOS
Cambuci – RJ

MARIA DA PENHA MAIA BRANDÃO
Cambuci – RJ

MARIA STELLA GOMES MOREIRA
Cambuci – RJ

ODETE ALVES MACIEIRA
Cambuci – RJ

SÔNIA MARIA POSSIDENTE BASTOS
Santo Antônio De Pádua – RJ

WALDEMAR BASTOS PINHEIRO
Cambuci – RJ

Fonte:
Pedro Ornellas

Monteiro Lobato (Viagem ao Céu) VIII – A Terra vista da Lua


— Mas o mais bonito da Lua — disse depois São Jorge — é a Terra, a nossa Terra que daqui vemos perpetuamente no céu, girando sobre si mesma. Olhe como está linda!

Parece incrível, mas só naquele momento os meninos ergueram os olhos para o céu e lá viram a Terra. Tão entretidos desde a chegada estiveram com as coisas do chão, que só naquele instante deram com o espetáculo mais belo da Lua — a Terra vista de lá.

— Que beleza! — exclamou Narizinho. — Só para ver este espetáculo vale a pena vir à Lua...

A Terra é a lua da Lua. Mora permanentemente no céu da Lua, sempre girando sobre si mesma e a mostrar os seus continentes e mares. Um verdadeiro relógio. Quem quer saber das horas é só olhar para a Terra em seu giro sem fim e ver que continentes vão aparecendo.

Naquele momento a face que a Terra exibia estava completamente escura, porque era dia de eclipse do Sol. Mas depois de findo o eclipse, quando o Sol voltou a iluminar a Terra, os meninos se regalaram. Lá estava bem visível, como num mapa, o continente americano, composto de dois grandes “VV”, um em cima do outro. No alto do V de cima aparecia uma brancura vivíssima — as terras de gelo do pólo norte; e igual brancura aparecia embaixo do segundo V — as terras de gelo do pólo sul. E apareciam umas imensidades escuras — os oceanos. E também grandes zonas de verdura.

— Aquela verdura enorme — disse Pedrinho — é o Brasil e os países que ficam perto dele — Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile, Peru, Bolívia, etc. Está vendo aquelas minhocas que varam o continente de ponta a ponta, com brancura em certos trechos do dorso? Pois são os Andes, a grande cordilheira cheia de picos de neves eternas, e a cordilheira do México e as montanhas Rochosas. E lá em cima estão o Canadá, os Estados Unidos, o México e a América Central... Aqueles pontinhos de outra cor na imensidão do mar são as ilhas — Cuba e tantas outras...

São Jorge não estava entendendo coisa nenhuma, porque todos aqueles nomes lhe eram novidade.

— Meu Deus! — exclamou em certo momento. — Será possível que haja no mundo tantos países novos que eu não conheça?

— Se há! — exclamou Pedrinho. — Isso de países é como broto de árvore. Uns secam, apodrecem e caem — e surgem brotos novos. Quais eram os países do seu tempo?

São Jorge suspirou.

— Ah, no meu tempo o mundo era bem menor. Havia Roma, a grande Roma, cabeça do Império Romano — e o Império Romano era tudo. Quase todos os povos da Europa estavam dominados pelos romanos — como a Espanha, a Aquitânia, a Bretanha, a Macedônia, a Grécia, a Trácia, a Panônia, a Arábia Petréia, a Galácia, a Cilícia, a Mauritânia lá na costa da África...

— E a tal Capadócia onde o senhor nasceu? — perguntou a menina.

— A minha Capadócia ficava entre um país de nome Ponto e outro de nome Cilícia — junto da Mesopotâmia.

Pedrinho contou que estava tudo muito mudado. O tal Império Romano já não existia; em vez dele surgira o Império Britânico, cuja cabeça era a Grã-Bretanha.

Ao ouvir falar em Grã-Bretanha São Jorge arregalou os olhos. Percebeu que era a mesma Bretanha do seu tempo, um país que na era dos romanos não valia nada. E também muito se admirou quando Pedrinho se referiu à Rússia como o maior país do mundo, e à China, e à índia e ao Japão.

— Onde fica a tal Rússia? — perguntou ele.

Pedrinho explicou como pôde, e por fim São Jorge descobriu que a famosa Rússia devia ser numas terras muito desconhecidas dos romanos e às quais vagamente eles chamavam Sarmácia. Da China e do Japão o santo não tinha a mais leve idéia.

— Como tudo está mudado! — exclamou ele. — Se eu voltar à Terra, não reconhecerei coisa nenhuma.

— Também acho — concordou Pedrinho. — Há continentes inteiros que no seu tempo eram totalmente ignorados, como as Américas e o continente australiano. As Américas foram descobertas mais ou menos ali em redor do ano 1.500, e a Austrália em redor do ano 1.800.

— Onde fica essa Austrália?

— Nos confins do Judas! — berrou Emília. — Nem queira saber. Existem lá uns tais cangurus que carregam os filhotes numa bolsa da barriga. E há o boomerang, que a gente joga e ele volta para cima da gente.

A ignorância de São Jorge era natural, visto como vivera no tempo de Diocleciano, cujo reinado fora entre os anos 284 e 313. De modo que fez muitas perguntas a Pedrinho, grandemente se assombrando com as respostas.

Emília estava com cara de quem quer dizer uma coisa, mas não se atreve. Por fim afastou-se de Narizinho (para evitar o beliscão) e de repente disse:

— Santo, desculpe o meu intrometimento — mas lá no sítio, quando alguém quer dizer que um gajo não presta, e é vadio ou malandro, sabe como diz? Diz que é um capadócio!...

Narizinho fuzilou-a com os olhos, mas São Jorge não se zangou, até sorriu, e foi suspirando que explicou:

— Meus patrícios lá da Capadócia sempre tiveram má fama — e fama exatamente disso, de mandriões, de fanfarrões, de mentirosos. Mas o que admira é que apesar de tantos séculos, a palavra “capadócio” ainda esteja em uso até num país que nem existia no meu tempo...

— Pois existe — continuou Emília sempre com o olho em Narizinho — e acho que o senhor não deve andar dizendo que é um capadócio, porque não há o que desmoralize mais...

— Emília!... — gritou a menina ameaçando-a com um tapa. Mas São Jorge acalmou-a e, chamando Emília para o seu colo, alisou-lhe a cabeça.

— Vou seguir o seu conselho, bonequinha. Não contarei nem ao dragão que sou um capadócio...
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Continua … IX – Tia Nastácia
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Viagem ao Céu & O Saci. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. II. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

Pedro Ornellas (Setilhas “Na Roça tem…”) Parte 3

Pintura a óleo, por Angela Kelly Topan

(foto: José Feldman)

Lá tem causos de arrepiar,
muitas mortes pra lembrar...
Em noites de assombração
geme os mortos no porão!
Dona Maria, contando,
diz que os mortos vão voltando
pra cobrar a escravidão!
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Um preto velho cantando
e o seu cachimbo fumando,
fica a admirar a roça
da porta de sua palhoça,
se reúne a molecada
"causos" são d'alma penada
a se levantar da poça...
(SÔNIA TARASSIUK)

E quando chega a tardinha
e a noite já se avizinha,
a molecada, com medo,
prefere dormir mais cedo
do que se chegar pro fogo,
para ouvir o velho jogo
de contar causos... que enredo!
(SELINA KYLE)

Lá tem banana no cacho
murici no pé, eu acho...
moça prendada bordando,
senhora de fé rezando...
Tem um descaroçador
que é missão de Valdonor
que dizem, nasceu trovando...
(DÁGUIMA VERÔNICA)

No dia de marcar gado
buscava rês no cerrado,
punha o ferro no fogão
e gritava pro peão:
-Traz rápido o ferro quente
pra marcar o que é da gente,
aqui também tem ladrão.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tem numa lasca do rancho
lampião suspenso num gancho,
sanfoneiro de respeito
marcando um xote a seu jeito...
E lembrando a mocidade
tem uma baita sodade
escrafunchando em meu peito!
(PEDRO ORNELLAS)

Tem tomate, tem quiabo,
tem rabanete, tem nabo,
tem salsa, tem cebolinha,
tem coentro e abobrinha,
repolho, batata doce,
capim-limão, erva doce,
e um pé de pimentinha.
(MARILU MOREIRA)

Vivi, quando era pequena,
uma roça mais amena,
a estrada não tinha asfalto
tropeiro cantava alto
tangendo sua boiada
e eu sentia, encantada,
meu coração dar um salto.
(ILNEA MIRANDA)

Tem coração de mocinha,
que, largando a bonequinha,
já quer ter um namorado,
que venha enfatiotado
levá-la à missa e ao forró,
que peça "a bença" à vovó
e a faça rir, de engraçado!
(SELINA KYLE)

O matuto que é safado,
(que nunca comeu melado)
tem na vila uma “polaca’
que ginga como matraca
no plantio de feijão
na roça de chapadão
onde não pode entrar vaca.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

No mato,a jaguatirica,
tem cachaça na barrica,
tem historias de saci,
tem canto de bem-te-vi
domingo, jogo de malha,
água fresca numa talha
tem coisas que nunca vi
(MARILU MOREIRA)

No alto de uma colina
a quaresmeira se inclina
pintando o céu de lilás,
numa mensagem de paz,
e a brisa, soprando mansa,
nos traz de volta à lembrança
o que já ficou pra trás.
(SELINA KYLE)

Em noite de dia santo
sanfona geme num canto
pra fazer peão chorar,
pensa ele: a quem amar?
as moças vão pra cidade
em busca da tal vaidade
pra nunca mais voltar!
(DÁGUIMA VERÔNICA)

...Café no bule e pinhão,
vó Dita amassando o pão!
...Um franguinho de panela,
cotovelos na janela!
Pombinho arrulhando a toa,
muito banho de lagoa...
Vida boa além de bela!
(VÂNYA DULCE)

Bota o gado na invernada,
tropeiro com pé na estrada
tem matula no embornal:
uma pamonha de sal
e farofa de galinha
bem socada na latinha
pra caber o essencial.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

em missa, tem ladainha,
tem queimada, amarelinha,
bola de gude, peteca,
tem o jogo de sueca,
em noite de lua cheia
tem sempre festa na aldeia
à tarde tem a soneca.
(MARILU MOREIRA)

Tem cabra, tem boi mugindo
tem até vaca no cío,
tem, como nunca se viu,
um campo todo florindo
depois tem chuva caindo,
tem correnteza no rio,
e andorinhas indo e vindo.
(RAYMUNDO DE SALLES BRASIL)

Na varanda tem cutelos
muitos pregos e martelos,
foices de todo tamanho
e marcas para o rebanho.
Porteiras de pororoca,
cabaças pra por minhoca
e as tais chumbadas de estanho.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tem tocadô de sanfona,
tem plantação de mamona
e tem cantiga de grilo...
e eu que deixei tudo aquilo
um dia ao sair de lá
quando alembro chega dá
um nó no meu grugumilo!
(PEDRO ORNELLAS)

No pomar tem tangerina,
beirando a cama, a botina.
Tem primavera florindo,
e quanto mais sol... mais lindo;
à noite os grilos cantando,
e as nuvens vão se esgarçando
nesse seu passeio infindo.
(SELINA KYLE)

Lá tem água cristalina,
tem o sol que descortina
e anuncia o alvorecer,
tem jardins a florescer
tem pedaço, tem remendo,
de vidas, tem dividendo
tem homens a envelhecer....
(MARILU MOREIRA)

Nuvens formando figuras,
graciosas esculturas
que parecem de algodão...
Tem pipoca, tem quentão,
abobrinha no refogo
e a gente 'quentando' fogo
junto à taipa do fogão!
(PEDRO ORNELLAS)

Estilingue pra caçar
passarinho pro jantar,
garrucha de bambu fino,
-arma de todo menino-
pra dar tiro bem ligeiro
preparando o cavaleiro
desde muito pequenino.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Lá tem cantiga de roda
que nunca saiu de moda,
tem picada, tem ataio;
Capim moiado de orvaio,
água fresca na moringa
e talagada de pinga
- mas só dispois do trabaio!
(PEDRO ORNELLAS)

O arrebanhar de peões
pra mostrar, em mutirões,
o Deus Menino tão pobre
que pra ser um Rei tão nobre
basta ser mui caridoso
ser um peão amoroso
que pra Deus o joelho dobre.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tem torrador de café,
chiqueiro, bicho-de-pé,
água escorrendo na calha...
amigo que nunca falha,
lá tem poço com sarilho
tem torta e broa de milho
botina e chapéu de palha!
(PEDRO ORNELLAS)

Fogão de lenha esquentando,
batata doce assando,
reza do terço na sala,
roupa guardada na mala!
Tem linguiça no "fumero",
cachaça feita com esmero,
rapadura e muita bala!
(VÂNYA DULCE)

Lá tem espontaneidade
quero dizer, na verdade,
gente de coração puro,
seja claro ou seja escuro,
é sempre do mesmo jeito
tem a verdade no peito
não fica em cima do muro.
(DÁGUIMA VERÔNICA)
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Fonte:
Setilhas enviadas por Pedro Ornellas

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 270)


Uma Trova Nacional

Quando a chuva do Céu desce
e o ventre da Terra alcança
a Vida se reverdece
e tem o tom da Esperança.
–SÔNIA MARTELO/PR–

Uma Trova Potiguar

Meus sonhos da mocidade,
hoje são meus pesadelos;
lembrados, sinto saudade,
mas é tolice esquecê-los!
–PROF. GARCIA/RN–

Uma Trova Premiada

2008 - Bandeirantes/PR
Tema: AUDÁCIA - Venc.

De um modo bem singular,
há quem, nesta vida breve,
tenha audácia de cobrar
da vida... o que ela não deve!
–JOÃO FREIRE FILHO/RJ–

Uma Trova de Ademar

Ao me tornar Trovador
eu pus dentro do meu ser,
lenitivos para a dor
e mais razões pra viver!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Meu palhaço de brinquedo,
meu talismã de retalhos
hoje é cofre de um segredo
destes meus sonhos grisalhos!...
ADELIR MACHADO/RJ–

Simplesmente Poesia

–ANTONIO M. A. SARDENBERG/RJ–
Presa

Quero ser a sua presa,
Enroscar-me em sua teia
Sem reação ou defesa,
Ser manjar em sua mesa,
Deixar sugar o meu sangue
Até secar minha veia...

Quero ser seu alimento,
Provisão de cada dia,
Ser o seu pão, seu sustento,
E depois do acalento,
Ser sua noite de orgia.

Eu quero ser o seu vinho,
O cálice que inebria.
Ser madrugada, seu dia,
Ser seu parceiro no ninho.

Quero ser a sinfonia
Mais suave e maviosa,
Ser seu verso e sua prosa
Seu delírio e fantasia...

Quero ser a sua rima,
Sua trova e sextilha,
Sua estrada, sua trilha,
Seu fogo ardente, seu clima.

Estrofe do Dia

Vejo de cima dos montes
as obras da natureza,
feitas por Deus com capricho
e com tamanha grandeza;
a tudo deu esplendores
aos arco-íres deu as cores
de exuberantes beleza.
–HÉLIO PEDRO/RN–

Soneto do Dia


–CARMO VASCONCELOS/PT–
Já Fui…

Já fui… Não serei mais a complacente!
Rompi co’a tese alvar do faz-de-conta,
Cansei de aparentar a lassa tonta
Pra dar sono de paz a falsa gente.

Na negativa firme, inabalável,
Sem engolir dilemas, reticências,
Darei meu não pra incómodas cedências,
Meu claro sim, somente ao desejável!

Ficar… Não ficarei a contra-gosto!
E calma no repúdio darei fora
A quem traga ao meu ser pranto e desgosto!

D’ alma leve, sem peso que a atormente,
Serei, por fim, inteira desde agora!
Já fui… Não serei mais a complacente!

Fontes:
Textos enviados pelo Autor
Orkugifs

Afonso Felix de Sousa (Abecê do Garimpeiro)


Ah, vida! Ah, vida sem graça!
Não ter terras, nem dinheiro.
Não ter mais, por mais que faça,
que trabalho o dia inteiro.

Bem sei que o céu que o céu cobre
é dos que aqui não têm sorte.
Mas coisa triste é ser pobre,
e pobre esperar a morte.

Cuidar, cuidei de ser rico,
mas feito um burro-de-carga.
Dor de lembrar ... Até fico
como a beber água amarga.

Do acender do dia à noite,
fosse chuva, ou sol, ou vento,
era a canseira, era o aloite
por pouco mais que o sustento.

E fui pensar que era fácil
morar no meu próprio ninho,
com mulher que me cuidasse
e – quem sabe? – um pançudinho.

Flor do sertão ... Quem queria
por achar mais do meu gosto,
casei com ela num dia
cinzento do mês de agosto.

Ganhei – mas quê? Nem dois anos
passaram ... e há quem suporte?
Ah, vida! Ah, carga de enganos!
Vida mais dura que a morte.

Homem ter sonhos – e vê-los
rolarem todos na areia;
depois, queixas e atropelos
de mulher que ficou feia ...

Isso não, que eu tinha peito
e era bamba no gatilho.
Quem vive mal dá um jeito.
Ah! deixei mulher e filho.

Já no ombro as coisas que eu tinha
(e era pouco mais que nada)
assim como uma andorinha
saí, saí pela estrada.

Léguas e léguas de mundo ...
e sempre a lâmpada acesa
no meu peito, bem no fundo
dos suspiros por riqueza.

Mãos que escavam esperanças.
A quem apenas a pisa
que dá a terra? Ah, lembranças!
Ah, garimpos de Balisa!

Noites sem sono, em que abertos
meus olhos a cada instante
viam brilhar, sempre perto,
uma pedra de diamante.

Os sonhos entre cascalhos.
O revolver de mil nadas
na terra – em que ânsia de galhos!
E a dor das buscas baldadas.

Pobre de mim! Não ter onde
mais ir atrás do que ofusca
mesmo o sol, e mais se esconde
se mais queima quem o busca.

Quantas vezes vi brilhando
no chão a pedra que ardia
no meu peito! – E eis senão quando
um raio (e de onde?) fugia.

Raios de espera e de fogo
que vão e vêm feito o vento,
qual milhões de caga-fogos
no escuro do pensamento.

Sempre a querer, sempre a sede
de que me desse o garimpo
ao corpo – a vida na rede,
e à alma – o céu sempre limpo.

Talvez, se não desistisse ...
Talvez com mais alguns meses ...
Talvez a sorte sorrisse.
Talvez ... e quantos talvezes!

Último sol que se deita ...
Último sonho de lava
queimando o chão, que a maleita
em febre já me acabava.

Voltar ... Mas, ir para casa?
Ah, não, que tinha vergonha.
Ah, vida, por que pões asa
no sonho e não em quem sonha?

Xadrez nem nada me prende.
Sem destino o mundo corro.
Mas um fogo em mim se acende,
e a buscá-lo sei que morro.

Zanzar assim sem ter onde.
Morrer – e nem sepultura.
E a sorte, como se esconde
se dá sonho ao que a procura.

O til é letra esquecida,
mas o não ela é que cobre.
E de nãos se cobre a vida
de quem sonha e nasceu pobre.

Fontes:
SOUSA, Afonso Felix de. Chamados e escolhidos. RJ: Record, 2001.
Imagem = Justino Filho

Afonso Félix de Sousa (1925 – 2002)


Afonso Félix de Sousa (Jaraguá/GO, 5 de julho de 1925 - Rio de Janeiro, 7 de setembro de 2002) foi um poeta, cronista, jornalista e tradutor brasileiro.

Aos nove anos se mudou para Pires do Rio (GO), onde seu pai foi exercer o cargo de agente fiscal de rendas estaduais.

Em 1942 publicou os primeiros poemas no jornal Voz Juvenil do Ginásio Anchieta, da cidade de Silvânia, onde estudava. No ano seguinte, mudou-se para Goiânia, onde iniciou sua atividade literária, colaborando em jornais como O Popular e a Folha de Goiaz e na revista Oeste.

Em 1944 matriculou-se no curso de Comércio e Contabilidade do Ateneu Dom Bosco e ingressou, por concurso, no quadro de funcionários do Banco do Brasil. Com outros escritores goianos fundou, em 1946, a Associação Brasileira de Escritores — Seção de Goiás. Um ano depois, transferido para a Direção Geral do Banco do Brasil, mudou-se para o Rio de Janeiro.

Foi contemplado, em 1953, com bolsa de estudos para um curso de especialização em Economia na École Pratique des Hautes Études, da Sorbonne, em Paris. Dois anos depois, terminado o curso, retornou ao Brasil.

Em 1959, casou-se com a poetisa Astrid Cabral, com quem teria cinco filhos.

Mudou-se para Brasília em 1962.

Designado, em 1970, pelo Ministério das Relações Exteriores e pelo Banco do Brasil, serviu como assistente de promoção comercial na Embaixada Brasileira em Beirute por dois anos e meio, regressando ao fim da missão para o Rio de Janeiro.

Em 1975, aposentou-se no Banco do Brasil, onde trabalhou por muitos anos nos setores de câmbio e comércio exterior. Passou a residir em Chicago a partir de 1986.

A estréia em livro foi com O túnel, coletânea de poemas editada pela revista Orfeu, em 1948.

Em 1991, foi agraciado com o Diploma de Mérito de Goianidade, da Associação Goiana de Imprensa.

Afonso Felix e Sousa é um poeta da chamada terceira fase do Modernismo Brasileiro, ao lado de João Cabral de Melo Neto. Estes autores, sem deixar de ser modernos, cultivam uma poesia tradicional na forma e no conteúdo, resgatando uma tradição que as fases anteriores do Modernismo se esforçaram por esquecer. Não é à-toa que a memória é uma das principais fontes de criação desses artistas. Afonso Felix faz uma poesia lúcida, policiada pela razão, despida do subjetivismo exacerbado e do sentimentalismo piegas, resgatando, especialmente o soneto, a balada, o vilancete e a canção, dentre as formas da lírica, ao lado de elementos básicos do épico de fundo social, como se vê em poemas como “A moça de Goiatuba” e “A nau do Comboja”. Poeta-crítico, Afonso Felix faz uma poesia para se ler e refletir. (Humberto Milhomem)

Atividades profissionais

Funcionário concursado do Banco do Brasil, aposentado em 1975;
Jornalista do Diário Carioca;
Adido comercial na Embaixada do Brasil em Beirute.

Atividades literárias

Fundador da Revista Agora;
Fundador da Revista Ensaio;
Fundador da Associação Brasileira de Escritores;
Fundador da Associação Nacional de Escritores.

Livros publicados

O túnel, 1948;
Do sonho e da esfinge, 1950;
O amoroso e a terra, 1953;
O memorial do errante, 1956;
Íntima parábola, 1960;
Caminhos de Belém, 1962;
Do ouro ao urânio, 1969;
Pretérito imperfeito, 1976;
Chão básico & itinerário leste, 1978;
Antologia poética, 1979;
As engrenagens do belo (Coroa de sonetos), 1981;
Rio das almas, 1984;
Quinquagésima hora & horas anteriores, 1987;
À beira do teu corpo, 1990;
Nova antologia poética, 1991;
Chamados e escolhidos, 2001.

Prêmios

Prêmio Olavo Bilac, do Departamento de Cultura da Secretaria de Educação do então Distrito Federal, em 1957, com o livro Íntima parábola;
Prêmio Álvares de Azevedo, da Academia Paulista de Letras, em 1960, com o livro Íntimas parábolas;
Prêmio Tiocô, da União Brasileira de Escritores, seção Goiás, em 1979, com o livro Antologia poética;
Prêmio de poesia do Pen Club do Brasil, em 1981, com a coroa de sonetos As engrenagens do belo;
Troféu Jaburu, do Conselho Estadual de Cultura de Goiás, em 1990, como Personalidade do ano.
Prêmio Nacional de Poesia 2001 da Academia Brasileira de Letras.

Fontes:
Wikipedia
Vestibulendo

Cantando ao Som das Setilhas (Debate pela Internet) Parte 3


Observação: na postagem de ontem estava parte 21, corrijam para parte 2.
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29 - ZÉ LUCAS
Bom poeta vende os frutos
Na feira da honestidade:
No entanto sabemos de um
Que tem medo da verdade,
Porque, em vez de bons decretos,
Assinou "atos secretos"
Com tinta de improbidade.

30 - GISLAINE CANALES
Sabemos que, na verdade,
o poeta é um sonhador,
e por isso ele é feliz.
Planta a semente do amor
nos seus versos, e a alegria,
suplantando a nostalgia,
traz à vida, nova cor!

31 - PROF. GARCIA
Graças a Deus, que o amor,
é fonte que não se esgota:
sendo um mistério divino
de todo canto ele brota.
Seja na voz das cascatas,
ou nos gemidos das matas
faltando amor, ele bota!

32 - DELCY CANALLES
O amor é como a gaivota,
que voa em nosso caminho,
num bailado tão bonito,
que nos inspira carinho!
Amemos, pois, cada irmão,
guardemos no coração,
para o amor, sempre, um cantinho!

33 - A. A. DE ASSIS
Sim, sim, mas há tanto espinho
que, com dó da humanidade,
ando "pálido de espanto"
ante a tal da realidade.
Tanta coisa triste ocorre
que aos poucos o sonho morre,
sem levar sequer saudade.

34 - ARLINDO TADEU HAGEN
Seria a felicidade
se a gente encontrasse a rosa
sem ao menos um espinho.
A vida, às vezes maldosa,
se, após um rumo tristonho,
a gente conquista um sonho
passa a ser maravilhosa!

35 - THALMA TAVARES
Uma vida radiosa,
sem percalços, sem espinhos,
nem mesmo os anjos tiveram
nos seus etéreos caminhos.
Na Terra, a bem da verdade,
não sobra felicidade,
sequer para os passarinhos.

36 - ZÉ LUCAS
Temos de andar em caminhos
que nem sempre são risonhos:
buscamos os mais alegres
fugimos dos mais tristonhos,
porque a vida vale a pena,
mas felicidade plena,
só no domínio dos sonhos.

37 - GISLAINE CANALES
Serão sempre bem risonhos
nossos caminhos, sonhando,
faremos nosso destino
cheio de gente se amando,
onde não caiba a tristeza,
onde vigore a beleza,
que vai desse amor brotando!

38 - PROF. GARCIA
Uma flor desabrochando
enche a vida de esplendores,
enfeitiça os nossos olhos,
encanta o mundo de cores;
onde o amor se justifica
em cada gota que fica
de orvalho beijando as flores!

39 - DELCY CANALLES
O mundo é cheio de cores,
mostrando sua beleza!
A paisagem nos encanta
numa constante surpresa:
seja em lindo pôr-do-sol
ou cantar de um rouxinol!
Amemos a natureza!

40 - A.A. DE ASSIS
Certamente a natureza
merece máximo amor,
visto que, além da poesia
sintetizada na flor,
ela é o sustento da vida:
é o ar, é a água, é a comida,
é o banquete do Senhor.

41 - ARLINDO TADEU HAGEN
Às vezes nos causa dor
ver tanta desolação
que o próprio homem fomenta.
Sem outra motivação,
a raça humana devia
defender a ecologia
por autopreservação!

42 - THALMA TAVARES
Se o homem em sua ambição
nada ao futuro reserva
devastando o meio ambiente,
é certo que não conserva
a fonte da própria vida
ao tornar-se o genocida
que a si mesmo não preserva.
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continua…
–––––––––-
Fonte:
José Lucas e parceiros. Cantando ao som das setilhas. Natal/RN: 2011.

Ialmar Pio Schneider (Soneto para Guilherme de Almeida)

Guilherme de Almeida, retrato
por Dimitri Ismailovitch
– homenagem póstuma – falecimento em 11.07.1969

Dos poetas maiores que conheço,
um deles despertou-me alta emoção,
sua poesia trouxe-me o começo
para amar a saudade e a solidão...

Cantou que neste mundo de ilusão,
têm horas de prazer e de tropeço,
falando da fumaça e do carvão,
nos versos simples que jamais esqueço...

Também foi príncipe dos menestréis,
respeitado por todos seus fiéis
leitores dos poemas preferidos;

ó Guilherme de Almeida, nobre vate,
que aceitando reunir, num arremate,
nos brindou com “Meus Versos mais Queridos”!

Fonte:
Soneto enviado pelo autor

Guilherme de Almeida (1890 – 1969)


Guilherme de Almeida (G. de Andrade e A.), poeta e ensaísta, nasceu em Campinas, SP, em 24 de julho de 1890, e faleceu em São Paulo, SP, em 11 de julho de 1969.

Filho do jurista e professor de Direito Estevam de Almeida, estudou nos ginásios Culto à Ciência, de Campinas, e São Bento e N. Sra. do Carmo, de São Paulo. Cursou a Faculdade de Direito de São Paulo, onde colou grau de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, em 1912. Dedicou-se à advocacia e à imprensa em São Paulo e no Rio de Janeiro. Foi redator de O Estado de São Paulo, diretor da Folha da Manhã e da Folha da Noite, fundador do Jornal de São Paulo e redator do Diário de São Paulo.

A publicação do livro de poesias Nós (1917), iniciando sua carreira literária, e dos que se seguiram, até 1922, de inspiração romântica, colocou-o entre os maiores líricos brasileiros. Em 1922, participou da Semana de Arte Moderna, fundando depois a revista Klaxon. Percorreu o Brasil, difundindo as idéias da renovação artística e literária, através de conferências e artigos, adotando a linha nacionalista do Modernismo, segundo a tese de que a poesia brasileira “deve ser de exportação e não de importação”. Os seus livros Meu e Raça (1925) exprimem essa orientação fiel à temática brasileira.

A essência de sua poesia é o ritmo “no sentir, no pensar, no dizer”. Dominou amplamente os processos rímicos, rítmicos e verbais, bem como o verso livre, explorando os recursos da língua, a onomatopéia, as assonâncias e aliterações. Na época heróica da campanha modernista, soube seguir diretrizes muito nítidas e conscientes, sem se deixar possuir pela tendência à exaltação nacionalista. Nos poemas de Simplicidade, publicado em 1929, retornou às suas matrizes iniciais, à perfeição formal desprezada pelos outros, mas não recaiu no Parnasianismo, porque continuou privilegiando a renovação de temas e linguagem. Sobressaiu sempre o artista do verso, que Manuel Bandeira considerou o maior em língua portuguesa.

A sua entrada na Casa de Machado de Assis significou a abertura das portas aos modernistas. Formou, com Cassiano Ricardo, Manuel Bandeira, Menotti del Picchia e Alceu Amoroso Lima, o grupo dos que lideraram a renovação da Academia.

Em 1932 participou da Revolução Constitucionalista de São Paulo e esteve exilado em Portugal. Distinguiu-se também com heraldista. É autor dos brasões-de-armas das seguintes cidades: São Paulo (SP), Petrópolis (RJ), Volta Redonda (RJ), Londrina (PR), Brasília (DF), Guaxupé (MG), Caconde, Iacanga e Embu (SP). Compôs um hino a Brasília, quando da inauguração da cidade.

Em concurso organizado pelo Correio da Manhã foi eleito, 16 de setembro de 1959, “Príncipe dos Poetas Brasileiros” (4o do título).

Era membro da Academia Paulista de Letras; do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo; do Seminário de Estudos Galegos, de Santiago de Compostela; e do Instituto de Coimbra.

Traduziu, entre outros, os poetas Paul Géraldy, Rabindranath Tagore, Charles Baudelaire, Paul Verlaine e, ainda, a peça a peça Huis clos (Entre quatro paredes) de Jean Paul Sartre.

Terceiro ocupante da Cadeira 15, da Academia Brasileira de Letras, eleito em 6 de março de 1930.

Bibliografia

Obras:
Nós, poesia (1917);
A dança das horas, poesia (1919);
Messidor, poesia (1919);
Livro de horas de Soror Dolorosa, poesia (1920);
A flor que foi um homem: Narciso (1921);
Era uma vez..., poesia (1922);
Natalika (1924);
A flauta que eu perdi, poesia (1924);
Meu, poesia (1925);
Raça, poesia (1925);
Encantamento, poesia (1925);
Do sentimento nacionalista na poesia brasileira, ensaio (1926);
Ritmo, elemento de expressão, ensaio (1926);
Simplicidade, poesia (1929);
Gente de cinema (1929);
Carta à minha noiva (1931);
Você, poesia (1931);
Poemas escolhidos (1931);
Cartas que eu não mandei (1931);
Hino paulista (1932);
Nova bandeira (1932);
O meu Portugal (1933);
A casa (1935);
Acaso, poesia (1938);
Cartas do meu amor (1941);
Estudante poeta (1943);
Tempo (1944);
Poesia vária (1947);
Gonçalves Dias e o romantismo (1948);
Joca (1948);
Histórias talvez (1949);
O anjo de sal (1951);
Toda poesia (1952);
Acalanto de Bartira (1954);
Camomiana (1956);
Pequeno romanceiro (1957);
A rua (1961);
Cosmópolis (1962);
Rosamor (1966);
Os sonetos de G. A (1968);
O sonho de Marina (s.d.).

Fonte:
Academia Brasileira de Letras

Castro Alves (A Canoa Fantástica)


Pelas sombras temerosas
Onde vai esta canoa?
Vai tripulada ou perdida?
Vai ao certo ou vai à toa?

Semelha um tronco gigante
De palmeira, que s'escoa...
No dorso da correnteza,
Como bóia esta canoa!...

Mas não branqueja-lhe a vela!
N'água o remo não ressoa!
Serão fantasmas que descem
Na solitária canoa?

Que vulto é este sombrio
Gelado, imóvel, na proa?
Dir-se-ia o gênio das sombras
Do inferno sobre a canoa!...

Foi visão? Pobre criança!
À luz, que dos astros coa,
É teu, Maria, o cadáver,
Que desce nesta canoa?

Caída, pálida, branca!...
Não há quem dela se doa?!...
Vão-lhe os cabelos a rastos
Pela esteira da canoa!...

E as flores róseas dos golfos,
— Pobres flores da lagoa,
Enrolam-se em seus cabelos
E vão seguindo a canoa!…

Carlos Leite Ribeiro (Solidão)


Bem cedo habituei-me a estar só.

Já várias vezes tentei descrever a palavra "solidão" por gestos.

Fingi que chorava, assumi um ar desamparado e até murmurei o que pensei que fossem sons solitários. Mas a definição "solitário" é muito difícil de descrever - é mais fácil senti-la.

Saber distinguir entre sozinho e o solitário, pode ser importante, mas eu encontro alívio e paz na solidão.

Habituei-me à solidão.

Um escritor gosta de estar só, escrever como se tivesse a falar consigo próprio, sem precisar de gente para arrumar as cenas.

A solidão na juventude é triste porque até então não se aprendeu a arte de viver confortavelmente com ela. Em geral, só na maturidade é que a solidão se torna deliciosa.

Hoje, quando me sinto perplexo, procuro na solidão, na eloquência do silêncio, e espero que as respostas cheguem. E elas chegam ...

O escritor - um eremita na caverna da sua mente - muitas vezes é uma pessoa solitária. Mas a solidão também pode ser um doce sofrimento, ao que dizem, torna-nos mais sinceros.

Ao passarmos por uma rua movimentada, em geral passamos pelas pessoas sem olhar para elas. Porém, numa rua tranquila, quando nos aproximamos de uma pessoa sozinha, a cumprimentamos, e até falamos com ela. É um acto estranho, provocado pelo magnetismo inexplicável de duas pessoas que se sentem sós.

A ideia que eu tenho de um lugar perfeito para morar, é uma casa no meio dum pinhal, à beira de um lago, com muitos animais em redor, e da qual eu não pudesse ver outra qualquer. Nem mesmo uma chaminé distante, para não destuir a minha sensação de tranquilidade. De noite, as janelas iluminadas, são olhos curiosos que me espreitam.

Aqueles que vivem compreensivamente com a solidão, acham-na uma companheira tolerável, simpática e até empolgante.

Para quem gosta, a solidão tem os seus encantos.

Hoje, na minha idade, se eu fosse representar a solidão, havia de sorrir e fazer um ar satisfeito.

Fonte:
Texto enviado pelo autor

Pedro Ornellas (Setilhas “Na Roça tem…”) Parte 2

Saudade da Roça, por Agnaldo Silva
E, à noite, o céu estrelado
vem compensar o cansado
sertanejo que, à varanda,
vê o seu gado que anda
pelo pasto, à luz da lua,
e a vida, assim, continua...
... como Deus do Céu nos manda!
(SELINA KYLE)

Lá na roça tem penico,
menstruação se chama Chico,Adicionar imagema diarréia é caganeira
e é folha de bananeira
que se limpa no “local”.
Arma de vaqueiro é pau
pra fechar vaca Faceira.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Cafezinho de comadre
aprovado pelo padre
tem biscoito de polvilho
e tem cavaca de milho
dura de quebrar o dente
se comida de repente
enquanto faz trocadilho.
(ILNEA MIRANDA)

Na roça tem fazendeiro
muito disposto e faceiro
que no campo, passa o dia.
Mas à noite se agonia
querendo amor a granel
na rede, olhando pro céu
estrelando com a Maria.
(CIDA)

O pão de queijo quentinho,
hoje tem no meu cantinho
que Deus sempre abençoou!
Mal a alvorada soou,
eu levanto e vou pra roça,
tocando o boi da carroça
que me leva aonde eu vou.
(SELINA KYLE)

Ah! quando chega o domingo
tem até “pé de cachimbo”,
nada de pito de palha,
dia santo, não trabalha,
vão à missa pra rezar
é dia de se arrumar,
fazer barba com navalha.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tem numa lasca do rancho
lampião suspenso num gancho,
sanfoneiro de respeito
marcando um xote a seu jeito...
E lembrando a mocidade
tem uma baita sodade
escrafunchando em meu peito!
(PEDRO ORNELLAS)

No bom sentido, ó xente
foi isso aí, de repente,
pois que a roça é uma beleza
é cheia de gentileza
é cheia de coisa boa
do empregado à patroa
é fartura e natureza.
(ILNEA MIRANDA)

Lá tem paredes caiadas
bate o sol, estão douradas,
água fresca tem na talha,
lá não tem nego que “falha”,
pois tem ovos de codorna
e gemada na água morna
a tisnar lá na fornalha.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tem café em pilão batido
que foi torrado e moído
e passado no coador
hum! cheirinho encantador
feito no fogão de lenha
não há ninguém que desdenha
dessa riqueza, o sabor!
(SÔNIA TARASSIUK)

No quintá um poço raso
Onde nasceu pur acaso
Certa feita um pé de ipê
Tão bonito como quê...
E uma istória interessante
Numa estrofe mais adiante
Eu vô contá pra vancê!
(PEDRO ORNELLAS)

Tem patos nadando em lama,
malas debaixo da cama.
Cercas de arame farpado,
mulher no cabo de arado.
Pão-de-queijo na gamela,
macaúba na panela...
e buraco, só no trado!
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tem nas lembranças do ausente
uma saudade insistente
que corta igual canivete...
no peito, pintando o sete,
inspira versos e rimas
verdadeiras obras-primas
que a gente vê na Internet!
(PEDRO ORNELLAS)

Tem o sotaque "maneiro"
do caipira hospitaleiro...
Doce d'abóbra no tacho
que hoje procuro e não acho...
Tem as mangueira frondosas
de frutas deliciosas...
E as bananas só em cacho...
(SÔNIA TARASSIUK)

Tem violeiro entoado
cantando o seu passado
nas cordas d'uma viola,
no quintal da fazendola,
chamando num assobio
"cumpadi prum desafio"
não aprendido na escola.
(MARILU MOREIRA)

Numa toada bem matreira,
canta, o moço, a noite inteira,
o que vai no coração.
As cordas do seu violão
já estão pra lá de bem gastas,
mas as donzelas, tão castas,
nem chegam no janelão.
(SELINA KYLE)

E tem mais: lá tem viola,
que no ponteio consola
as mágoas do sofredô...
e um pé de ipê, seu dotô,
que dexa na primavera
o teiado da tapera
atapetado de frô!
(PEDRO ORNELLAS)

No meio-dia, cansado,
larga o cabo do machado,
o sertanejo... e a labuta.
Senta e fica só na escuta
do tropel da cavalhada,
que vem pisando na estrada
trazendo o almoço... oh, que luta!
(SELINA KYLE)

Tem a colcha de retalho
tem ranger do assoalho
tem toalha de crochê
Cozinha com fumacê
tem cebola e muito alho,
na roça tem espantalho
e tem saci-pererê....
(MARILU MOREIRA)

Lá na roça, tem bodega
- de graça, ninguém não pega -
pode ler na tabuleta:
Fiado? Na caderneta!
Bodegueiro cinquentão,
tem de querosene a pão;
bola, pião e corneta.
(CIDA)

Uma colcha de retalho,
bem grossa, como agasalho,
para ficar na varanda
vendo a lua olhar de banda,
iluminando o terreiro,
e o vaga-lume ligeiro
que voa, acende e "se manda".
(SELINA KYLE)

O povo ajuda contente,
é fiel e nunca mente,
comida farta na mesa
com sorriso na pobreza.
Cada um tem seu jardim,
no perfume do jasmim
conserva toda riqueza!
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tem no meu peito de ausente
uma sodade insistente
que me estraçaia e me corta...
pur isso é que sem revorta
carrego a roça no peito
pru módi tê desse jeito
tudo o que eu tive de vorta!
(PEDRO ORNELLAS)

Fontes:
Setilhas enviadas por Pedro Ornellas
Agnaldo Silva Artes

Monteiro Lobato (Viagem ao Céu) VII – Coisas da Lua


— Quem é você, criaturinha? — perguntou São Jorge parando diante dela.

— Eu sou a Emília, antiga Marquesa de Rabicó, sua criada — respondeu a boneca, muito lampeira e lambeta.

O santo ficou na mesma. E ainda estava na mesma, sem compreender coisa nenhuma, quando viu aparecerem Pedrinho e Narizinho com Tia Nastácia atrás, de mãos postas, rezando atropeladamente quantas orações sabia.

— Como conseguiram chegar até aqui? — perguntou ele. Isto me parece a maravilha das maravilhas.

— Foi o pó de pirlimpimpim que nos trouxe — respondeu Pedrinho — e dessa vez São Jorge ficou na mesmíssima.

— Não conheço semelhante droga — disse ele — mas deve ser das mais enérgicas, porque a distância da Terra à Lua é de 64.000 léguas — um bom pedaço!

Pedrinho riu-se e respondeu numa gíria que o santo não podia entender:

— Para o nosso pó essa distância é a canja das canjas. Num pisco devoramos essas 64.000 léguas como se fossem uns biscoitinhos de polvilho dos que derretem na boca.

O santo admirou-se da maravilha e disse:

— Estimo muito, mas saiba que inúmeros homens têm tentado vir à Lua e bem poucos o conseguiram. O último veio dentro duma bala de canhão, num tiro mal calculado. A bala passou por cima da Lua e ficou rodando em redor dela. Não sei quem foi esse maluco.

— Eu sei! — gritou Pedrinho. — Foi um personagem de Júlio Verne, no romance Da Terra à Lua. Vovó já nos leu isso.

São Jorge estava ali desde o reinado do Imperador Diocleciano sem outra companhia a não ser o dragão, de modo que ficava muito alegre quando alguém aparecia por lá. Mas como era raro! Um dos “lueiros” mais interessantes foi um tal Cyrano de Bergerac, que por lá andou e escreveu a respeito uma obra célebre. E agora apareciam aquelas criaturas — duas crianças, uma negra velha, uma bonequinha... Foi com imenso prazer que o santo começou a indagar de tudo — quem eram, como se chamavam, onde moravam, e que negra tão esquisita era aquela.

— E o senhor? — quis saber Emília depois que tudo foi explicado. — Agora que sabe a nossa história, conte-nos a sua.

São Jorge contou que nascera príncipe da Capadócia e tivera no mundo vida muito agitada. A sua luta contra o poderosíssimo mágico Atanásio ficou histórica. Por fim fez-se cristão e em virtude disso padeceu morte cruel numa das matanças de cristãos ordenadas pelo Imperador Diocleciano. Depois da morte veio morar na Lua.

— E sabe que é hoje o patrono da Inglaterra? — lembrou Narizinho. — Vovó diz que o senhor é o santo mais graúdo de todos, porque dá o nome a muitas ordens de cavalaria e tem aparecido até em moedas de ouro.

São Jorge não sabia nada daquilo, nem sequer que era santo, porque só depois de sua morte é que começou a virar tanta coisa. Também não sabia o que era ser “patrono da Inglaterra”, nem o que significava isto de “ordens de cavalaria”. Os meninos tiveram de dar-lhe uma lição de tudo.

— Mas não posso compreender donde vem a minha importância, o meu “graudismo”... — declarou ele com toda a modéstia, pensativamente.

— Eu sei! — berrou Emília. — É por causa do dragão e dessa tremenda e bonita armadura de guerreiro. Santos de camisolão e porretinho podem ser muito milagrosos, mas não impressionam. Diga-me uma coisa: onde é que descobriu esse dragão?

O santo contou que era um monstro que ele havia matado certa vez em que o encontrou prestes a devorar a filha do rei da Líbia.

— Mas se o matou, como é que o dragão está vivinho aqui?

— Mistérios deste mundo de mistérios, gentil bonequinha. Eu também fui morto e no entanto todos lá da Terra (segundo vocês dizem) me vêem aqui nesta Lua, a cavalo, de lança erguida contra o dragão. Mistérios deste mundo de mistérios.

Enquanto as crianças se entretinham com São Jorge, Tia Nastácia o espiava de longe, fazendo volta e meia um trêmulo pelo-sinal. A pobre negra não entendia coisa nenhuma do que estava se passando.

Pedrinho começou a fazer perguntas sobre a Lua, que São Jorge respondia com verdadeira paciência de santo.

— Pois isto aqui, meus meninos, é o satélite da nossa querida Terra. Satélite vocês devem saber o que é...

— Eu sei! — gritou Emília. — É como um cachorro que segue o dono!...

São Jorge riu-se.

— Sim. Satélite é uma coisa que segue outra, e na linguagem astronômica é um planeta que gira em redor de outro.

— Eu também sei o que é planeta -— disse Emília com todo o oferecimento (parecia até que estava namorando São Jorge). — É um astro que gira em redor do Sol, e é também o nome duns arados que Dona Benta tem lá no sítio...

— Muito bem — aprovou o santo. — O planeta gira em redor do Sol e o satélite gira em redor do planeta. A Lua é o satélite da Terra; é uma filha da Terra, hoje mais velha que a mãe.

Os meninos admiraram-se.

— Mais velha como? — indagou Pedrinho. — De que modo uma filha pode ser mais velha que a mãe?

— Há filhas que envelhecem mais depressa que as mães — respondeu o santo — e Emília confirmou essa idéia com a citação do caso duma Nhá Viça que morava perto da casinha do Tio Barnabé. — “A Nhá Viça é filha da Nhá Tuca e está dez vezes mais velha que a mãe por causa dum tal reumatismo.”

São Jorge riu-se e explicou:

— A velhice dos astros não se mede pelos anos que eles têm e sim pelo grau de resfriamento a que chegaram. O Sol, por exemplo, é o pai de todos os planetas e no entanto mostra-se muito mais jovem que esses filhos. Por quê? Porque está custando muito a resfriar.

— Eu sei a razão — declarou Pedrinho. — É por causa do tamanho. Já fiz a experiência lá em casa. Esquentei no fogão uma bola de ferro grande e uma pequenininha. A grande levou muitíssimo mais tempo para esfriar.

— Exatamente — aprovou o santo. — O Sol também há de acabar tão resfriado quanto esta Lua, mas isto só daqui a milhões de séculos. O Sol, que é muitíssimas vezes maior que a Terra, levará muito mais tempo para resfriar. A Lua sendo 49 vezes menor que a Terra tinha de resfriar-se muito mais depressa.

— E não há vida por aqui? — indagou Pedrinho. — A opinião geral entre os homens é que a Lua é um astro totalmente morto, sem vida humana.

— Eu também julguei que assim fosse — disse São Jorge. — mas ao vir para cá verifiquei o contrário. Ainda há alguma vida na Lua. Acontece, porém, que a vida está muito mais adiantada na Terra, de modo que nós nem reconhecemos os animais e as plantas daqui. São diferentíssimos. Também o ar é muito rarefeito, de modo que os animais e as plantas tiveram de adaptar-se a essa situação.

— Então o ar da Lua é rarefeito assim? — perguntou Pedrinho, já com um começo de falta de ar — e quando soube que era várias vezes mais rarefeito que o ar da Terra, ficou numa grande aflição, a respirar precipitadamente — e todos fizeram o mesmo. Emília chegou a dar escândalos com a sua falta de ar...

Depois São Jorge contou que a Lua gasta um mês para dar uma volta em redor da Terra; mas como gira sobre si mesma no mesmo espaço de tempo, está sempre com a mesma face voltada para a Terra.

— Isso eu sei — gritou Emília — porque desde que vim ao mundo sempre vi a Lua com a mesma cara. E é por isso que gosto da Lua. Tenho ódio às criaturas de duas caras...

São Jorge explicou que pelo fato de a Lua gastar um mês para dar uma volta em redor da Terra, os dias ali eram compridíssimos e as noites também.

— Cada dia aqui equivale a quatorze dias lá da Terra; e cada noite equivale a quatorze noites de lá. E por causa disso só há duas estações: verão e inverno. O verão é o dia; o inverno é a noite. O dia é quentíssimo e a noite é geladíssima.

— Nesse caso, quantos dias de 24 horas tem o ano aqui? — perguntou Narizinho.

— Tem doze dias — cada dia correspondendo a um mês lá da Terra.

Todos se admiraram.

— Quer dizer então — lembrou a menina — que se eu fosse nascida na Lua teria apenas 120 dias de idade — quatro meses?

— Exatamente. Se lá na Terra você tem dez anos, aqui teria quatro meses. Seria uma nenezinha...

— Que graça! — exclamou Emília. — E Dona Benta? Que idade teria Dona Benta, se fosse lunática?

— Dois anos e quatro meses — mas “lunático” quer dizer “maluco” e não “habitante da lua”. Os habitantes da Lua chamam-se “selenitas”.

— Por quê?

— Porque em grego o nome da Lua é “Selene”. Selenita e uma palavra derivada do grego.

Pedrinho quis saber das montanhas e mares da Lua, e contou que num livro de Flammarion vira um mapa da Lua cheio de nomes de mares e montanhas. E com grande admiração do santo foi dizendo os nomes daqueles mares e montes. Falou no mar da Serenidade, no mar dos Humores, no mar das Chuvas, no mar das Nuvens, no mar do Néctar...

— Esse eu quero conhecer! — berrou Emília. — Tomar banho no mar do Néctar deve ser batatal!...

São Jorge franziu a testa. “Batatal?” Nem batata ele sabia o que era, quanto mais batatal! Pedrinho teve primeiro de contar a história da batata, que apareceu no mundo depois da descoberta da América, para depois explicar o que Emília queria dizer com o tal “batatal”.

— Quando uma coisa é muito boa, mas boa mesmo de verdade, Emília vem sempre com esse “batatal”...

Em seguida Pedrinho desfiou o nome das montanhas da Lua que havia visto no mapa do Flammarion.

— Há inúmeras montanhas — disse ele — batizadas com o nome de astrônomos e sábios célebres. Há a montanha de Fabrício, a de Clávio, a de Plínio, a de Platão, a de Aristóteles, a de Copérnico... Vovó diz que a Lua é o cemitério dos astrônomos. A ciência os vai enterrando nestas montanhas aqui.

São Jorge admirou-se daquilo e contou que a montanha que dali avistavam era a mais alta da Lua. “Então deve ser o monte Leibniz, com 7.610 metros de altura, o mais alto de todos”, explicou Pedrinho.

São Jorge achou muito interessante a idéia que os homens faziam da Lua, mas declarou que havia erros.

— Os mares, por exemplo, parecem mares vistos lá da Terra; mas não são mares, sim imensas florestas das plantas que existem aqui.

— E que plantas são essas? — quis saber Pedrinho.

— São as plantas que a nossa Terra vai ter quando ficar velhinha como a Lua. Hoje você olha e nem entende essas plantas. Como também não entende os animais daqui, de tão diferentes que são dos da Terra. Isso de quatorze em quatorze dias a Lua passar dum terrível verão para um terrível inverno fez das plantas e dos animais lunares umas coisas que nem entendemos. E também muito influiu a rarefação do ar. Os animais tiveram que tornar-se quase que só pulmões. São verdadeiros “pulmões animalizados”. A Emília há pouco manifestou vontade de ver um gatinho e um cachorrinho da Lua — mas se os visse nem sequer os reconheceria. São mais pulmões-bichanos do que gatos...

— Eu quero ver um pulmão-bichano! — berrou Emília. — Eu quero ver um pulmão-totó!...

— É difícil — informou o santo. — Além de serem raros, esses animais andam muito bem ocultos no fundo dessas crateras, onde ainda há uns restos de água.

— Por falar em cratera, como há disso por aqui! — observou Pedrinho. — Parece que antigamente a Lua não fazia outra coisa senão brincar de vulcão.

— Realmente — concordou o santo. — O número de crateras na Lua é prodigioso, mas estas crateras não são de vulcões. São de bolhas que arrebentaram, quando isto aqui era tudo pedra derretida.

— Como bolhas de sabão de cinza no tacho — exemplificou Emília.
–––––––––––-
Continua … VIII – A Terra vista da Lua
–––––––––––-
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Viagem ao Céu & O Saci. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. II. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

domingo, 10 de julho de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 269)


Uma Trova Nacional

Se a liberdade gozamos,
em nosso amor sem dilemas,
é que os anéis que trocamos
não foram jamais algemas!
-HERMOCLYDES S. FRANCO/RJ-

Uma Trova Potiguar

Ouvi o mar soluçando
antes da tarde morrer,
e a vela branca enxugando
o pranto do entardecer...
–JONAS RAMOS/RN–

Uma Trova Premiada

2010 - Curitiba/PR
Tema: MADRUGADA - Venc.

Pelas noites desoladas,
minha saudade, sem sono,
vai contando, em madrugadas,
os meus dias de abandono...
–MARINA BRUNA/SP–

Uma Trova de Ademar

O mar, sem ter embaraços,
em noites de lua cheia,
carrega a praia nos braços
para deitá-la na areia...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Hoje, a infância me recorda
esse velho amigo meu:
um palhacinho de corda
tão sem corda quanto eu!...
–ELTON CARVALHO/RJ–

Simplesmente Poesia

MOTE:
Os meus sonhos de poeta
Já foram realizados.

GLOSA:
Nunca fui um bom esteta,
Mas fiz da forma uma lei
E na trova não frustrei
Os meus sonhos de poeta;
O que falta, Deus completa
Pra redimir os pecados
Dos versos desengonçados
Que discrepam dos demais,
Por isso meus ideais
Já foram realizados.
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Estrofe do Dia

Repentista, poeta e cantador,
teu cantar livremente se levanta;
é teu grito holocausto da garganta
como quem quer matar a própria dor.
Há um toque de sonho e de amor
e um namoro de musa passageira,
teu cantar rasga o peito a vida inteira
na tangente da lira nordestina;
e tua voz tem o som de concertina
musicando a poesia brasileira.
–OLIVEIRA DE PANELAS/PE–

Soneto do Dia

–RAIMUNDO CORREIA/MA–
As Pombas...

Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada...

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Cantando ao Som das Setilhas (Debate pela Internet) Parte 2


15 – ZÉ LUCAS
Aqui, se instala o verão
quando as nuvens vão embora;
inverno, prá nós, é chuva
que veste de verde a flora.
Quase todo o tempo é quente,
e o frio é como um presente,
mas, quando vem, não demora.

16 – GISLAINE CANALES
Tempo ruim, não vigora,
quando se ama e se é amado,
as chamas do coração
ficam num cofre fechado,
aquecendo o mundo inteiro,
e como um bom timoneiro,
buscam com fé, seu pescado!

17 – PROF. GARCIA
No meu sertão castigado
sem chuva é bem diferente.
O sertanejo sofrido
na terra escaldante e quente,
mete a enxada e cava o chão,
planta o próprio coração
mas perde a própria semente!

18 – DELCY CANALLES
O nordestino é paciente,
não perde, jamais, a crença;
continua, sempre à esperança
de ver, da chuva, a presença,
que lhe renova a esperança,
pois faz crescer-lhe a confiança,
que, na verdade, é imensa!

19 – A. A. DE ASSIS
O que assusta é essa doença,
essa tal gripe ruim;
todo mundo resfriado,
atichim, tichim, tichim…
Que venha logo a vacina
e permita à medicina
dar a esse pânico um fim.

20 – ARLINDO TADEU HAGEN
A gripe – tenho prá mim -
fez um estrago daninho
na pobre vida do porco.
Em protesto, eu encaminho
um protesto à Medicina:
– Retire o nome “suína”
para alívio do porquinho.

21 – THALMA TAVARES
Essa história do porquinho
grande remorso me atiça.
O porco é nosso alimento
e o exemplo da preguiça.
Seu nome virou má fama
e além de fuçar na lama
o pobre vira linguiça.

22 – ZÉ LUCAS
Com a derradeira missa,
partimos pra eternidade,
depois das dores da morte,
eis a dura realidade!
Morrer é nosso destino,
mas, com gripe de suíno,
meu Deus, que infelicidade!

23 – GISLAINE CANALES
Eis nossa realidade:
A vacina vai chegar,
bem antes do que pensamos,
e vamos nos animar,
pois é gostoso viver;
continuemos a escrever
versos, que fazem sonhar!

24 – PROF. GARCIA
O instante é de repensar
em tudo que a gente faz;
esquecer gripe suína,
e em casa viver em paz,
que a ciência em seus denodos,
descobrirá seus engodos,
e o mal por si, se desfaz.

25 – DELCY CANALLES
Vamos sonhar com a paz
e pensar com otimismo,
pois somos todos poetas,
unidos pelo lirismo,
capazes de, coma poesia,
viverem seu dia-a-dia,
sem a cruz do pessimismo!

26 – A. A. DE ASSIS
Que bom que em volibolismo
e em futebol “nós é mil”…
No treininho contra a Estônia
deu vitória do Brasil.
Se assim fosse a gente em tudo,
seria um país sortudo
nossa amada mãe gentil.

27 – ARLINDO TADEU HAGEN
Imaginem o Brasil
com lideranças corretas!
Verdadeiro paraíso
governado por estetas:
na Câmara – os trovadores;
no Senado – os escritores,
num Congresso de poetas!!!

28 – THALMA TAVARES
Os poetas são patetas
prá políticos astutos.
Nosso ideal os assusta
porque somos impolutos…
Queremos os três poderes
cumprindo com seus deveres
e condenando os corruptos.
===========
continua…
–––––––––-
Fonte:
José Lucas e parceiros. Cantando ao som das setilhas. Natal/RN: 2011.

Pedro Ornellas (Setilhas “Na Roça tem…”) Parte I

"A Roça" de Gustavo Salgado.
Ao receber do amigo e grande poeta Thalma Tavares o livro "Cantando ao Som das Setilhas", que traz o resultado de um exercício poético entre trovadores, pela internet, resolvi enviar a vocês uma iniciativa nossa parecida.

Na comunidade do orkut "Sou Trovador", do José Ouverney, propus setilhas com o tema "Na Roça Tem..." que oferece mil possibilidades. O resultado me alegrou e surpreendeu, com as maravilhas criadas na hora por diversos poetas.

As regras: obedecer rigorosamente o tema e a disposição das rimas.

Na roça tem cafeeiro,
tem milharal, galinheiro,
tem terreiro e pé no chão,
mas shopping... isso não tem não!
Tem alambique, aguardente,
tem um cheiro... (e a gente sente)
que alegra o meu coração!
(SELINA KYLE)

Lá tem forno de tijolo,
tem fubá pra fazê bolo,
tem arroz doce, canjica...
lá tem grama tiririca...
na baixada tem neblina,
lá se bebe água da mina
que a gente apara na bica!
(PEDRO ORNELLAS)

Tem ovos frescos nos ninhos
umas dúzias de pintinhos...
Tem o forno de assar pão
perto do caramanchão...
E lá pras bandas do açude
reina a paz e a quietude,
que inspira a minha canção!
(SÔNIA TARASSIUK)

Tem vaqueiro corajoso
que laça o boi trabalhoso,
escondido lá na mata...
Tem plantação de batata,
de milho, cana e algodão,
riacho, lavando o chão
que a enxada tanto maltrata.
(CIDA)

No portal um candeeiro,
dentro do colchão, dinheiro.
Tem gaiola nas janelas
e nas portas tem tramelas.
Carne de porco na banha,
nas paredes tem aranha
e biscoito nas gamelas.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tem no pé fruta fresquinha,
tem gabiroba, tem pinha,
tem mixirica, mamão...
tem melancia, pinhão,
laranja-lima, pitanga;
tem caqui, banana, manga,
jabuticaba e melão!
(PEDRO ORNELLAS)

O piso da casa é chão,
tem nos fundos um pilão.
Forno de torrar farinha
e um poleiro de galinha.
“Combinação” no varal,
carro de boi no curral,
canivete na bainha!
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Faz xixi na bananeira,
na parede tem peneira,
colchão de palha de milho,
caminho da roça é trilho,
a comida é na marmita!
leite gordo de cabrita
pra fazer Lei no Gatilho!
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Na roça, tem a porteira
entre o cercado e a ladeira,
e açudes transbordando...
onde o caipira pescando
tem o almoço garantido.
Depois, na rede, estendido
o rádio, fica escutando.
(CIDA)

Tem carinho e muito amor,
tem roupa no quarador ,
lavada em água de anil,
tem flores no peitoril
tem muita ave no campo
tem sapo, tem pirilampo
nas lindas noites de abril.
(MARILU MOREIRA)

Tem casinha de sapé,
bolo de fubá,café,
mandioca frita e pamonha
e,a Mariazinha que sonha,
com um casório bonito
na igrejinha,com Nhô Dito!
Nessa...Coitada da "Tonha!"
(VÂNYA DULCE)

Lá na roça tem porão,
pinguela com guarda-mão,
capanga pra guardar prego,
( muito suja, eu não nego),
café pronto na chaleira,
tem pinga na prateleira
pra deixar matuto "cego."
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Em casa simples da roça
tem coisa com muita bossa
tem peneira de taquara
tem bode que é a minha cara
tem poço d'água, bem fundo
com a melhor água do mundo
que nada se lhe compara.
(ILNEA MIRANDA)

Uma rede na varanda
Uma roda de ciranda
A mesa farta e comprida
Onde senta muita vida
Fartura lá do quintal
Para se encher o bornal
Tem na roça, tão esquecida!
(SÔNIA TARASSIUK)

Na caneca de latinha
café ralo com farinha
tem biju feito pra mim
tem mandioca e aipim
batata assada na brasa
do fogão que aquece a casa
lá na roça é bem assim.
(ILNEA MIRANDA)

Tem janela pro luar,
serenata pra beijar,
tem poltrona de madeira,
muita uva na videira.
De carinho tem fartura,
dos avós tem a moldura
para amar a vida inteira!
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tem vaquinha no curral
roupa limpa no varal
leite fresco a qualquer hora
e a viola que consola
o caboclo seresteiro
no banquinho do terreiro
quando o sol está indo embora!
(SÔNIA TARASSIUK)

Tem cachorro perdigueiro,
tem um galo no poleiro,
tem galinha garnisé,
tem até um pangaré...
Tem noite de lua cheia
tem viola que ponteia
pra animar o arrasta-pé.
(MARILU MOREIRA)

Lá tem contador de história
que cisma em contar vitória;
tem gado preso em cercado
bem tangido e bem cuidado.
Tem tocador de sanfona
que deixa a lua chorona
e o caboclo apaixonado.
(CIDA)

Monjolo pilando milhos,
comadre com treze filhos,
compadre cortando palha
raspando fumo em navalha.
“Neguinha” picando lenha
de novo a patroa “prenha”
se ocupa em coser a malha.
(DÁGUIMA VERÔNICA)

Tem muito bicho mansinho,
tem gato, tem cachorrinho,
tem chaleira no fogão...
... pamonha, curau, quentão.
Tem cortina na janela
e à noite a luz de uma vela
me ilumina o coração.
(SELINA KYLE)

Tem torradô de café,
tem tomém bicho de pé,
jogo de truco e de maia...
botina, chapéu de paia...
tem monjolo, tem pilão,
tem festa, tem mutirão
e amigo bom que não faia!
(PEDRO ORNELLAS)

Sanfona marcando o som,
a viola no mesmo tom,
e o cantador a cantar
que a saudade quer matar...
Vim da roça pra cidade,
mas não aguento a saudade,
e acho que hoje vou voltar!
(SELINA KYLE)

Tem trator e tratorista
e cana a perder de vista,
tem vaca com bezerrinho,
marreco pequenininho.
Tem rio cheio no inverno
(que pena, não é eterno)
empatando o meu caminho.
(CIDA)

Tem comadre faladeira
que não fica de bobeira
Fala mal do que não sabe
mas nem a culpa lhe cabe
pois se não for repetido
tudo será esquecido...
talvez... a fofoca acabe.
(ILNEA MIRANDA)

Na roça tem passarada
em sublime revoada,
tem árvores, plantação,
fertilidade no chão,
tem água pura na fonte
bem ali no pé do monte...
tem vida, amor e paixão.
(JOÃO COSTA)

Tem também a dura lida
que é trabalhosa e sofrida...
Pois nem sempre o semeado
traz resultado esperado...
Mas a fé do sertanejo
reaviva o seu desejo,
e toca pra frente o arado...
(SÔNIA TARASSIUK)
----------
continua...

Fontes:
Setilhas enviadas por Pedro Ornellas
Imagem = http://cachulhoa.blogspot.com/

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Poetas de Ontem e de Hoje II)


Felicidade
Vicente de Carvalho
1866 - 1924


Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada:
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa, que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim : mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.

Biografia
Vicente de Carvalho (V. Augusto de C.), advogado, jornalista, político, magistrado, poeta e contista, nasceu em Santos, SP, em 5 de abril de 1866, e faleceu em São Paulo, SP, em 22 de abril de 1924. Eleito em 1o de maio de 1909 para a Cadeira n. 29, na sucessão de Artur Azevedo, foi recebido na sessão de 7 de maio de 1910, por carta.

Era filho do major Higino José Botelho de Carvalho e de Augusta Bueno Botelho de Carvalho. Fez o primário na cidade natal e, aos 12 anos, seguiu para São Paulo, matriculando-se no Colégio Mamede e, depois, no Seminário Episcopal e no Colégio Norton, onde fez os preparatórios. Aos 16 anos matriculou-se na Faculdade de Direito. Em 1886, com 20 anos, era bacharel em Direito. Republicano combativo, cursava ainda o 4o ano quando foi eleito membro do Diretório Republicano de Santos. Em 1887, era delegado a Congresso Republicano, reunido em São Paulo. Em 1891, era deputado ao Congresso Constituinte do Estado. Em 1892, na organização do primeiro governo constitucional do Estado, foi escolhido para a Secretaria do Interior. Por ocasião do golpe de estado de Deodoro, abandonou o cargo que vinha exercendo. Mudou-se, então, para Franca, município do interior paulista, e tornou-se fazendeiro. Em 1901, regressou a Santos, dedicando-se à advocacia. Em 1907, mudou-se para São Paulo, onde foi nomeado juiz de direito. Em 1914, passou a ministro do Tribunal da Justiça do Estado.

Vicente de Carvalho foi, durante toda a sua vida, um jornalista combativo. Até 1915, sua atuação na imprensa foi quase ininterrupta. Em 1889, era redator do Diário de Santos, fundando, no mesmo ano, o Diário da Manhã, de Santos. Ali manteve ainda colaboração em A Tribuna e fundou, em 1905, O Jornal. Até 1913 colaborou no Estado de S. Paulo. No fim da vida, cansou-se do jornalismo, mas continuou em contato com seus leitores através dos versos que publicava nas páginas de A Cigarra.

Poeta lírico, ligou-se desde o início ao grupo de jovens poetas de tendência parnasiana. Foi grande artista do verso, da fase criadora do Parnasianismo. Da sua produção poética ele próprio destacou poemas que são de extrema beleza, como: "Palavras ao mar", "Cantigas praianas", "A ternura do mar", "Fugindo ao cativeiro", "Rosa, rosa de amor", "Velho tema", "O pequenino morto".

Obras: Ardentias (1885); Relicário (1888); Rosa, rosa de amor (1902); Poemas e canções (1908); Versos da mocidade (1909); Verso e prosa, incluindo o conto "Selvagem" (1909); Páginas soltas (1911); A voz dos sinos (1916); Luizinha, contos (1924); discursos e obras políticas e jurídicas.

Solenemente
Hermes Fontes
1888 - 1948


Juro por tudo quanto é jura...Juro,
Por mim, por ti, por nós...por Jesus Cristo,
Que hei de esquecer-te! Vê-me ...Estou seguro
Contra teu sólio cuja dor assisto.

E visto que dúvidas tanto...visto
Que ris do que é solene, te asseguro,
Juro mais: pelo ser em que consisto!
Por meu passado! Pelo teu futuro!

Juro pela Mãe Virgem Concebida!
Pelas venturas de que vou ao encalço!
Por minha vida...Pela tua vida!

Juro por tudo que mais amo e exalço:
E depois de uma jura tão comprida
Juro...Juro qu'estou jurando falso!...

Biografia
Hermes fontes, compositor e poeta, nasceu em Buquim SE, em 28/8/1888 e faleceu no Rio de Janeiro RJ, em 25/12/1930. Filho de lavradores, formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais no Rio de Janeiro, para onde se mudou com a ajuda do governador da Província de Sergipe. Foi oficial de gabinete do Ministério da Viação durante o governo de Washington Luiz. Suicidou-se no Rio de Janeiro.

Em 1908, publicou Apoteoses, sua primeira obra poética. Em 1913 publicou Gênese, seu segundo livro de poesias. No mesmo ano, teve gravada pelo cantor Roberto Roldan, na Odeon, a modinha Constelações, parceria com Cupertino de Menezes. Colaborou com o jornal "O Fluminense", de Niterói (RJ), e mais tarde fundou o jornal "A Estréia", trabalhando ao mesmo tempo nos Correios e Telégrafos.

Em 1922, o cantor Baiano lançou na Odeon, o fado-tango Luar de Paquetá, composta dois anos antes, em parceria com Freire Júnior e que alcançou enorme sucesso, tornando-se no ano seguinte, título de uma revista que logrou mais de uma centena de apresentações. Regravada várias vezes, entre outros por Francisco Alves, logrou repetir o sucesso em 1944, quando foi regravada em dueto por Dircinha Batista e Déo, com acompanhamento de orquestra e coro.
Publicou ainda os livros de poesias Ciclo da perfeição, Mundo em chamas, Miragem do deserto, Epopéia da vida, Microcosmo, Despertar, A lâmpada velada e A fonte da mata.

Tu...
Humberto de Campos
1886 - 1934


Quando alguém me pergunta, por ventura,
Quem me faz de outros tempos diferente,
Pensas tu que teu nome se murmura,
Que o exponho à ânsia voraz de toda gente?

Não; digo apenas o seguinte: é pura,
Casta, simples e meiga: é uma dolente
Cauta rola de tímida candura,
Flor que menos se vê do que se sente.

Mimo de graça e de singeleza;
Clara estrela arrancada a um céu profundo:
Doce apoteose da Delicadeza...

Nesse ponto, de súbito, me calo;
E, sem dizer teu nome, todo mundo
Fica logo sabendo de quem falo!

Biografia

Nasceu Humberto de Campos em Miritiba, Maranhão, em 25.10.1886, filho de Joaquim Veras e Anna de Campos. Em 1910, publica seu primeiro livro de poesias, "Poeira", ao qual se seguiram mais dois, que, em 1933, são agrupados num só volume sob o nome de "Poesias Completas".

Em 1918, publica seu primeiro livro de prosa "Seara de Booz", constituído de pequenos artigos escritos entre 1915 e 1916, sob o pseudônimo de Micromegas.

A este se seguiram, entre outros, Mealheiro de Agripa, Crítica ( em 4 volumes), Carvalho e Roseiras, Sombras que sofrem, Os Párias, Destinos, Memórias, Memórias Inacabadas, O Monstro e outros contos, Sepultando os meus mortos, Lagartas e Libélulas, À sombra das tamareiras e Notas de um diarista..

Humberto de Campos, sob o pseudônimo de "Conselheiro X.X.", exerceu a chamada literatura fescenina.

Em 1919, entra para a Academia Brasileira de Letras. Trabalhou em vários jornais, tais como "O correio da manhã", "O Diário Carioca", "A Noite" e "O Jornal" Em 1926 foi eleito deputado federal pelo Estado do Maranhão, sendo reeleito em 1926. Com a revolução de 1930, perde o mandato. Ë nomeado pelo Governo Provisório, instalado no país, Inspetor de ensino federal e é feito Diretor interino da Casa de Rui Barbosa.

Sempre teve uma saúde frágil e em 1928, é diagnosticado o seu mal, Hipertrofia da hipófise, doença progressiva que o acompanhará até seu falecimento.

"Dele, seu biógrafo Macário de Lemos Picanço diz o seguinte: "Poeta, anedotista, contista, ensaísta, cronista, autobiografista, a obra literária de Humberto de Campos apresenta altos e baixos, mas o que é alto tem a claridade da luz e a simplicidade das almas sãs. Possuidor de estilo fácil, corrente, sem as frases empoladas, qualquer pessoa podia compreendê-lo.
Não tinha artifícios, não tinha preocupação de retumbância. Ao contrário, escrevia com a maior naturalidade e as fantasias, as imagens, as expressões poéticas lhe vinham sem esforço. Faleceu em 5.12.1934, aos 48 anos de idade
.

Você Nunca Está Só
Olegário Mariano
1889 - 1958


Você nunca está só. Sempre a seu lado
Há um pouquinho de mim pairando no ar.
Você bem sabe: o pensamento é alado...
Voa como uma abelha sem parar.

Veja: caiu a tarde transparente.
A luz do dia se esvaiu... Morreu.
Uma sombra alongou-se a seus pés mansamente...
Esta sombra sou eu.

O vento ao pôr do sol, num balanço de rede,
Agita o ramo e o ramo um traço descreu.
Este gesto do ramo na parede
Não é do ramo: é meu.

Se uma fonte a correr, chora de mágoa
No silêncio da mata, esquecida de nós,
Preste bem atenção nesta cantiga da água:
A voz da fonte é a minha voz.

Se no momento em que a saudade se insinua
Você nos olhos uma gota pressentiu,
Esta lágrima, juro, não é sua...
Foi dos meus olhos que caiu...

Biografia

Olegário Mariano (O. M. Carneiro da Cunha), poeta, político e diplomata, nasceu em Recife, PE, em 24 de março de 1889, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 28 de novembro de 1958.

Era filho de José Mariano Carneiro da Cunha, herói pernambucano da Abolição e da República, e de Olegária Carneiro da Cunha. Fez o primário e o secundário no Colégio Pestalozzi, na cidade natal, e cedo se transferiu para o Rio de Janeiro. Freqüentou a roda literária de Olavo Bilac, Guimarães Passos, Emílio de Meneses, Coelho Neto, Martins Fontes e outros. Estreou na vida literária aos 22 anos com o volume Angelus, em 1911. Sua poesia falava de neblinas, de cismas e de sofrimentos, perfeitamente identificada com os preceitos do Simbolismo, já em declínio.

Foi inspetor do ensino secundário e censor de teatro. Representou o Brasil, em 1918, como secretário de embaixada à Bolívia, na Missão Melo Franco. Foi deputado à Assembléia Constituinte que elaborou a Carta de 1934. Em 1937, ocupou uma cadeira na Câmara dos Deputados. Foi ministro plenipotenciário nos Centenários de Portugal, em 1940; delegado da Academia Brasileira na Conferência Interacadêmica de Lisboa para o Acordo Ortográfico de 1945; embaixador do Brasil em Portugal em 1953-54. Exerceu o cargo de oficial do 4o Ofício de Registro de Imóveis, no Rio de Janeiro, tendo sido antes tabelião de Notas.

Em concurso promovido pela revista Fon-Fon, em 1938, Olegário Mariano foi eleito, pelos intelectuais de todo o Brasil, Príncipe dos Poetas Brasileiros, em substituição a Alberto de Oliveira, detentor do título depois da morte de Olavo Bilac o primeiro a obtê-lo.

Além da obra poética iniciada em livro em 1911, e enfeixada nos dois volumes de Toda uma vida de poesia (1957), publicados pela José Olympio, Olegário Mariano publicou durante anos, nas revistas Careta e Para Todos, sob o pseudônimo de João da Avenida, uma seção de crônicas mundanas em versos humorísticos, mais tarde reunidas em dois livros: Bataclan e Vida Caixa de brinquedos.

Sua poesia lírica é simples, correntia, de fundo romântico, pertinente à fase do sincretismo parnasiano-simbolista de transição para o Modernismo. Ficou conhecido como o “poeta das cigarras”, por causa de um de seus temas prediletos.

Só Tu
Paulo Setúbal
1893 - 1937


Dos lábios que me beijaram,
Dos braços que me abraçaram
Já não me lembro, nem sei...
São tantas as que me amaram!
São tantas as que eu amei!

Mas tu - que rude contraste!
Tu, que jamais me beijaste,
Tu que jamais abracei,
Só tu, nest'alma, ficaste,
De todas as que eu amei.

Biografia

Paulo Setúbal (P. S. de Oliveira), advogado, jornalista, ensaísta, poeta e romancista, nasceu em Tatuí, SP, em 10 de janeiro de 1893, e faleceu em São Paulo, SP, e, 4 de maio de 1937. Eleito em 6 de dezembro de 1934, sucedendo a João Ribeiro, foi recebido em 27 de julho de 1935, pelo acadêmico Alcântara Machado. Órfão de pai aos quatro anos, sua mãe cuidou sozinha de nove filhos pequenos. Ela colocou o pequeno Paulo como interno no colégio do seu Chico Pereira e começou a trabalhar para viver e sustentar os filhos. Transferindo-se com a família para São Paulo, o adolescente Paulo entrou para o Ginásio Nossa Senhora do Carmo, dos irmãos maristas, onde estudou durante seis anos. Aí começou o interesse pela literatura e pela filosofia. Leu Kant, Spinoza, Rousseau, Schopenhauer, Voltaire e Nietzsche. Na literatura, influenciou-o sobretudo a leitura de Guerra Junqueiro e Antero de Quental. Muitas passagens do seu primeiro livro de poesias, Alma cabocla, lembram a Musa em férias de Guerra Junqueiro.
Esse período de sua vida é de franco e desenfreado ateísmo. Fez o curso de Direito em São Paulo. Ainda freqüentava o 2o ano quando decidiu fazer-se jornalista. Era a época da campanha civilista quando foi procurar emprego no diário A Tarde. Lá ingressou como revisor; logo a seguir, a publicação de uma de suas poesias naquele jornal deu-lhe notoriedade imediata, e ele ganhou sua primeira coluna como redator. Já nessa época começava a sentir os sinais da tuberculose que iria obrigá-lo a freqüentes interrupções no trabalho, para repouso.

Concluído o curso de Direito em 1915, iniciou carreira na advocacia em São Paulo. Em 1918, devido à gripe espanhola, Paulo Setúbal partiu para Lages, em Santa Catarina, onde morava o irmão mais velho, e lá tornou-se um advogado bem-sucedido. Levava, porém, uma vida dissoluta, às voltas com mulheres e com o jogo. Cansado de tudo, voltou para São Paulo, e também lá se estabeleceu como advogado.

Iniciou-se, então, a principal fase de sua produção literária, que o levaria a ser o escritor mais lido do país. Destaca-se, especialmente, pelo gênero do romance histórico, com A marquesa de Santos (1925) e O príncipe de Nassau (1926). Sabia como romancear os fatos do passado, tornando-os vivos e agradáveis à leitura. Os sucessivos livros que escreveu sobre o ciclo das bandeiras, a começar com O ouro de Cuiabá (1933) até O sonho das esmeraldas (1935), tinham o sentido social de levantar o orgulho do povo bandeirante na fase pós-Revolução constitucionalista (1932) em São Paulo, trazendo o passado em socorro do presente.

Em 1935, Paulo Setúbal chegou ao apogeu, sendo consagrado pela Academia Brasileira de Letras. Mas, nesse mesmo 1935 ele ingressa em nova fase da crise espiritual que vinha de longe e que terá repercussão em sua literatura. O temperamento sociável, expansivo e alegre; o freqüentador de festas e reuniões dava lugar ao homem introspectivo, vivendo apenas cercado da família e dos amigos mais próximos. Aos problemas crônicos de saúde acrescentava-se a minagem psicológica ocasionada pela desilusão com os rumos da política e consigo mesmo. Entrou a freqüentar fervorosamente a igreja da Imaculada Conceição, perto de sua residência em São Paulo, e a ler a Bíblia e livros como a Psicologia da fé e A imitação de Cristo. É quando escreve o Confíteor, livro de memórias, a narrativa de sua conversão, que ficou inacabado.

Obras: Alma cabocla, poesia (1920); A marquesa de Santos, romance-histórico (1925); O príncipe de Nassau, romance histórico (1926); As maluquices do Imperador, contos-históricos (1927); Nos bastidores da história, contos (1928); O ouro de Cuiabá, história (1933); Os irmãos Leme, romance (1933); El-dorado, história (1934); O romance da prata, história (1935); A fé na formação da nacionalidade, ensaio (1936); Confíteor, memórias (1937).


Alma
Antonio Manoel Abreu Sardenberg
São Fidélis "Cidade Poema"


Quando a vida vem sussurrar baixinho
Dizendo coisas que se quer ouvir,
Deixe o recado chegar de mansinho,
Que toda a alma também quer sentir.

Prepare o peito para uma festa,
Faça um convite para ela entrar,
Reparta o resto todo que inda resta,
Pois dividir é muito mais que dar.

E deixe o amor enaltecer a vida
Dando guarida ao pobre coração.
Quando chegar a hora da partida,
Que nos sussurre a voz da emoção.

E que o acalanto de linda cantiga
Deixe que venha a paz que tanto acalma
Trazendo junto a esperança antiga
Que ainda vive dentro dessa alma.

Nunca Mais
Maria Nascimento Santos Carvalho
Rio de Janeiro


Não sei de onde é que vem tanta ansiedade
e essa angústia que me comprime o peito,
torturando, porque, na realidade,
nem de pensar em ti, tenho o direito.

E, como todo o ser mais que imperfeito,
que não doma os caprichos da vontade,
eu luto, mas sequer encontro um jeito
de me livrar das garras da saudade...

Bem sei que não entrei na tua vida,
e, mesmo tendo sido preterida,
meu amor floresceu, criou raiz...

Mas fui punida com severidade,
porque deixaste em mim tanta saudade
que nunca mais eu pude ser feliz!

Ao Mais Antigo Cidadão de São Fidélis
Luiz Poeta - Luiz Gilberto de Barros
Rio de Janeiro

Sem que o relevo desta terra te proíba,
Com sedutora imponência…e mansidão…
Tu atravessas nossa história, Paraíba,
Abençoando muito mais que um coração.

Tua corrente é poesia em movimento
E por cruzares nossa Cidade Poema,
Quem te navega com o olhar, vê num momento,
Que és o verso…São Fidélis é o tema.

Numa das ruas que te abraçam, da matriz
Duzentos anos te miram…o campanário
Geme estridências solidárias e te diz
Que o teu matiz é sempre um novo itinerário.

Se retornasses há alguns tempos passados,
As tuas margens…de tão líricos caminhos,
Enlaçariam teus Puris e Coroados
E reveriam teus sublimes capuchinhos.

Quando anoitece, a cidade se emoldura…
E na ternura dos olhares solidários,
A luz da Lua se mistura…com brandura,
À escultura dos seus prédios centenários.

Das luminárias do presente fidelense…
Às lamparinas dos casebres ribeirinhos,
A poesia se dilui…sublimemente
Na agitação dos teus eternos torvelinhos.

E quando o sol, pela manhã, te ilumina,
Cada retina comovida que te chora
Reflete em tua solidão mais…mais cristalina…
A repentina emoção de quem te adora.

Os flamboiants fazem a corte quando passas,
Porque eles sabem que sempre reverencias
Cada poeta que passeia pelas praças
De São Fidélis, respirando fantasia.

Na solidão das tuas águas mais douradas,
Quando teu ímpeto…perene…nos completa,
Teu coração, em pulsações cadenciadas
Fala de amor com a ternura de um poeta.

Nós te louvamos, porque és o nosso irmão,
E quem visita nossa lírica cidade,
Sempre te vê, atravessando um coração
E desaguando em nossa sensibilidade.

Expiação
Diamantino Ferreira
Campos dos Goytacazes

- Choras?...Pois é melhor que não lastimes
um passado feliz que desprezaste;
cumpre em silêncio a pena de teus crimes,
a mesma dor de quem jamais amaste...

Se antes calcavas aos teus pés, sublimes
palavras que malévolas julgaste,
à sentença do tempo não te eximes
tão facilmente como me enganaste!

E se a virtude, que perdeste um dia,
hoje te aponta a mácula sombria,
às ilusões mantém fechada a porta;

Esquece tudo... Menos a verdade:
evita a todo custo uma saudade
- não se desperta uma saudade morta!...

Extraído do livro IX Antologia Internacional palavras no 3º Milênio

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