sexta-feira, 11 de maio de 2012

A. A. de Assis (Estados do Brasil em Trovas) Roraima

Wagner Marques Lopes / MG (O PERDÃO em trovas), parte 3


9

O rancor é tarde triste
precedendo a escuridão...
Rancoroso - alguém que existe
com trevas no coração.

10

Ao percorrer várias terras
eu descobri um senão:
o início de muitas guerras
vem da falta do perdão.

11

Autoperdão – que valia!...
A um novo tempo conduz.
Quem deseja um novo dia
guarda esperança na luz.

12

Feliz em qualquer lugar!...
Não há outra condição:
humilde, se eu perdoar.
Humilde, ao pedir perdão.

Fonte:
Trovas enviadas pelo autor

Moacyr Scliar (Era uma Vez um Conto, parte 1) O Conto se Apresenta


Olá!

Não, não adianta olhar ao redor: você não vai me enxergar. Não sou uma pessoa como você. Sou, vamos dizer assim, uma voz. Uma voz que fala com você ao vivo, como estou fazendo agora. Ou então que lhe fala dos livros que você lê.

Não fique tão surpreso assim: você me conhece. Na verdade, somos até velhos amigos. Você já me ouviu falando de Chapeuzinho Vermelho e do Príncipe Encantado, de reis, de bruxas, do Saci-Pererê. Falo de muitas coisas, conto muitas histórias, mas nunca falei de mim próprio. É o que eu vou fazer agora, em homenagem a você. E começo me apresentando: eu sou o Conto. Sabe o conto de fadas, o conto de mistério? Sou eu. O Conto.

Vejo que você ficou curioso. Quer saber coisas sobre mim. Por exemplo, qual a minha idade.

Devo lhe dizer que sou muito antigo. Porque contar histórias é uma coisa que as pessoas fazem há muito, muito tempo. É uma coisa natural, que brota de dentro da gente. Faça o seguinte: feche os olhos e imagine uma cena, uma cena que se passou há muitos milhares de anos. É de noite e uma tribo dos nossos antepassados, aqueles que viviam nas cavernas, está sentada em redor da fogueira. Eles têm medo do escuro, porque no escuro estão as feras que os ameaçam, aqueles enormes tigres, e outras mais. Então alguém olha para a lua e pergunta: por que é que às vezes a lua desaparece? Todos se voltam para um homem velho, que é uma espécie de guru para eles. Esperam que o homem dê a resposta. Mas ele não sabe o que responder. E então eu apareço. Eu, o Conto. Surjo lá da escuridão e, sem que ninguém note, falo baixinho ao ouvido do velho:

- Conte uma história para eles.

E ele conta. É uma história sobre um grande tigre que anda pelo céu e que de vez em quando come a lua. E a lua some. Mas a lua não é uma coisa muito boa para comer, de modo que lá pelas tantas o grande tigre bota a lua para fora de novo. E ela aparece no céu, brilhante.

Todos escutam o conto. Todo mundo: homens, mulheres, crianças. Todos estão encantados. E felizes: antes, havia um mistério: por que a lua some? Agora, aquele mistério não existe mais. Existe uma história que fala de coisas que eles conhecem: tigre, lua, comer - mas fala como essas coisas poderiam ser, não como elas são. Existe um conto. As pessoas vão lembrar esse conto por toda a vida. E quando as crianças da tribo crescerem e tiverem seus próprios filhos, vão contar a história para explicar a eles por que a lua some de vez em quando. Aquele conto.

No começo, portanto, é assim que eu existo: quando as pessoas falam em mim, quando as pessoas narram histórias - sobre deuses, sobre monstros, sobre criaturas fantásticas. Histórias que atravessam os tempos, que duram séculos. Como eu.

Aí surge a escrita. Uma grande invenção, a escrita, você não concorda? Com a escrita, eu não existo mais somente como uma voz. Agora estou ali, naqueles sinais chamados letras, que permitem que pessoas se comuniquem, mesmo à distância. E aquelas histórias - sobre deuses, sobre monstros, sobre criaturas fantásticas - vão aparecer em forma de palavra escrita.

E é neste momento que eu tenho uma grande idéia. Uma inspiração, vamos dizer assim. Você sabe o que é inspiração? Inspiração é aquela descoberta que a gente faz de repente, de repente tem uma idéia muito boa. A inspiração não vem de fora, não; não é uma coisa misteriosa que entra na nossa cabeça. A boa idéia já estava dentro de nós; só que a gente não sabia. A gente tem muitas boas idéias, pode crer.

E então, com aquela boa idéia, chego perto de um homem ainda jovem. Ele não me vê. Como você não me vê. Eu me apresento, como me apresentei a você, digo-lhe que estou ali com uma missão especial - com um pedido:

- Escreva uma história.

Num primeiro momento, ele fica surpreso, assim como você ficou. Na verdade, ele já havia pensado nisso, em escrever uma história. Mas tinha dúvidas: ele, escrever uma história? Como aquelas histórias que todas as pessoas contavam e que vinham de um passado? Ele, escrever uma história? E assinar seu próprio nome? Será que pode fazer isso? Dou força:

- Vá em frente, cara. Escreva uma história. Você vai gostar de escrever. E as pessoas vão gostar de ler.

Então ele senta, e escreve uma história. É uma história sobre uma criança, uma história muito bonita. Ele lê o que escreveu. Nota que algumas coisas não ficaram muito bem. Então escreve de novo. E de novo. E mais uma vez. E aí, sim, ele gosta do que escreveu. Mostra para outras pessoas, para os amigos, para a namorada. Todos gostam, todos se emocionam com a história.

E eu vou em frente. Procuro uma moça muito delicada, muito sensível. Mesma coisa:

- Escreva uma história.

Ela escreve. E assim vão surgindo escritores. Os contos deles aparecem em jornais, em revistas, em livros.

Já não são histórias sobre deuses, sobre criaturas fantásticas. Não, são histórias sobre gente comum - porque as histórias sobre as pessoas comuns muitas vezes são mais interessantes do que histórias sobre deuses e criaturas fantásticas: até porque deuses e criaturas fantásticas podem ser inventados por qualquer pessoa. O mundo da nossa imaginação é muito grande. Mas a nossa vida, a vida de cada dia, está cheia de emoções. E onde há emoção, pode haver conto. Onde há gente que sabe usar as palavras para emocionar pessoas, para transmitir idéias, existem escritores.

Alguns deles - grandes escritores - você vai conhecer agora. O José Paulo Paes, que já morreu, escrevia poemas, escrevia artigos, escrevia contos... Ele adorava crianças e adorava palavras: e, por causa disso, escreveu “A Revolta das Palavras”. Você já imaginou isso, as palavras se revoltando? Pois é. Se o Conto pode falar, as palavras podem se revoltar, não é verdade? Isso é o que José Paulo Paes diz. E depois tem o Milton

Hatoum. Ele é do Norte, de Manaus. E escreve uma linda história que se passa em Xapuri, no Acre. E o Marcelo Coelho, que é jornalista, fala sobre o primeiro dia na escola. Lembram disso? Lembram do primeiro dia na escola? O Marcelo vai ajudar vocês a lembrar. Já o Drauzio Varella é médico, um grande médico que é também escritor. Mas os médicos, e os escritores, também tiveram infância, também fizeram travessuras, e é disso que o Drauzio vai falar para vocês.

E, já que eles estão aqui, posso ir embora, porque agora vocês estão em muito boa companhia. Vou em busca de outros garotos e outras garotas. Para quem vou me apresentar:

- Eu sou o Conto.

Fonte:
Era uma vez um conto. São Paulo : Companhia das Letrinhas, 2002.
Moacyr Scliar; José Paulo Paes; Milton Hatoum; Marcelo Coelho; Drauzio Varella

Augusto Frederico Schmidt (Poemas Escolhidos)


CARAS SUJAS

Ao longo destas avenidas,
recordação de velhas lendas,
cantam as chácaras floridas
com suas líricas vivendas.

Lá dentro, há risos, jogos, danças,
crástinas, módulas fanfarras,
um pandemônio de crianças,
um zangarreio de cigarras.

Fora, penduram-se na grade
os pobres, como gafanhotos;
têm dos outros a mesma idade.

mas estão pálidos e rotos.
Chora a injustiça da cidade
na cara suja dos garotos.

OS PEQUENOS VARREDORES

Pela escura avenida arborizada,
ninguém. Lá para cima,
escuta-se um rumor que se aproxima,
nuvens rolando pelo chão, mais nada...

Depois, enche-se a noite de pavores,
há risos, pragas, uivos;
dançam, ao longe, contra o vento, ruivos
de poeira, pequeninos varredores.

De ombros estreitos e de faces cavas,
lutam com seus destinos,
nas horas em que todos os meninos
dormem e sonham com princesas flavas.

Há, entre eles, alguns que são precoces,
fumam e bebem. Vários,
transitam para a noite dos ossários,
têm o pulmão comido pelas tosses.

Arrastando o esqualor destas sarjetas,
dirão, olhos em brasa,
que é melhor acabar na Santa Casa
do que viver assim, como grilhetas.

E lá se vão. A nuvem se adelgaça;
um senhor, na alameda
sem luz, toma do lenço, que é de seda,
tapa o nariz, inclina a fronte, e passa...

O POEMA DA CASA QUE NÃO EXISTE

Onde a cidade acaba em chácaras quietas
e a campina se alarga em sulcados caminhos
achei a solidão amiga dos poetas
numa casa que é ninho, entre todos os ninhos.

Térrea, branquinha, com portadas muito largas,
desse azul português das antiquadas vilas
e uma decoração de laranjas amargas
que perfumam da tarde as aragens tranqüilas.

Ergue-se no pendor suave da colina,
escondida por trás dos eucaliptos calmos;
tem jardim, tem pomar, tem horta pequenina,
solar de Liliput que a gente mede aos palmos ...

Neste ponto, a ilusão, a miragem, se some;
olho para você, eu triste, você triste.
Enganei uma boba! O bairro não tem nome,
a estrada não tem sombra, a casa não existe!

QUANDO EU MORRER

Quando eu morrer o mundo continuará o mesmo,
A doçura das tardes continuará a envolver as coisas todas.
Como as envolve agora neste instante.
O vento fresco dobrará as árvores esguias
E levantará as nuvens de poesia nas estradas...

Quando eu morrer as águas claras dos rios rolarão ainda,
Rolarão sempre, alvas de espuma
Quando eu morrer as estrelas não cessarão de acender-se
no lindo céu noturno,
E nos vergéis onde os pássaros cantam as frutas
continuarão a ser doces e boas.

Quando eu morrer os homens continuarão sempre os mesmos.
E hão de esquecer-se do meu caminho silencioso entre eles,
Quando eu morrer os prantos e as alegrias permanecerão
Todas as ânsias e inquietudes do mundo não se modificarão.
Quando eu morrer os prantos e as alegrias permanecerão.
Todas as ânsias e inquietudes do mundo não se modificarão.
Quando eu morrer a humanidade continuará a mesma.
Porque nada sou, nada conto e nada tenho.
Porque sou um grão de poeira perdido no infinito.

Sinto porém, agora, que o mundo sou eu mesmo
E que a sombra descerá por sobre o universo vazio de mim
Quando eu morrer..."

SONETO A CAMÕES

As tuas mágoas de amor, teus sentimentos
Diante das leis que regem nossas vidas,
Desses fados que dão e logo tiram,
E a que estamos escravos e sujeitos.

As tuas dores de amar sem ser amado,
De procurar um bem que não se alcança,
E no canto clamar desesperado
Pelo que nunca vem quando se busca.

Poeta de enamoradas impossíveis
E que num negro amor desalteraste
Essa sede de amar dura e terrível,

As tuas mágoas de amor, tuas fundas queixas,
Como uma fonte ficarão chorando
Dentro da língua que tornaste eterna

OUÇO UMA FONTE

Ouço uma fonte
É uma fonte noturna
Jorrando.
É uma fonte perdida
No frio.

É uma fonte invisível.
É um soluço incessante,
Molhado, cantando.

É uma voz lívida.
É uma voz caindo
Na noite densa
E áspera.

É uma voz que não chama.
É uma voz nua.
É uma voz fria.
É uma voz sozinha.

É a mesma voz.
É a mesma queixa.
É a mesma angústia,
Sempre inconsolável.

É uma fonte invisível,
Ferindo o silêncio,
Gelada jorrando,
Perdida na noite.
É a vida caindo
No tempo!

SONETO CIGANO

Lembra-me sempre a viagem, a grande, a estranha viagem.
As mulheres brincavam e riam ao pé das enormes fogueiras.
Rostos da cor do bronze, olhares misteriosos,
E mãos escuras para todos os misteres.

Lembra-me sempre a viagem, as estradas perdidas
Por onde seguíamos atrás das auroras ingênuas
Que corriam cantando, e atrás das horas fugidias
— Horas que pareciam dançar ao ruído de pandeiros.

Era tudo uma grande inocência e descuido.
O futuro sombrio, as ambições, os medos,
Não me lembro de os ter sentido nesses tempos.

Colhíamos, então, flores e frutos nos caminhos,
Amávamos o amor nas morenas mulheres,
E adormecíamos à mercê dos ventos e das chuvas.

V (SONETOS)

Noites, estranhas noites, doces noites!
A grande rua, lampiões distantes,
Cães latindo bem longe, muito longe.
O andar de um vulto tardo, raramente.

Noites, estranhas noites, doces noites!
Vozes falando, velhas vozes conhecidas.
A grande casa; o tanque em que uma cobra,
Enrolada na bica, um dia apareceu.

A jaqueira de doces frutos, moles, grandes.
As grades do jardim. Os canteiros, as flores.
A felicidade inconsciente, a inconsciência feliz.

Tudo passou. Estão mudas as vozes para sempre.
A casa é outra já, são outros os canteiros e as flores
Só eu sou o mesmo, ainda: não mudei!

VEJO A AURORA SURGIR

Vejo a aurora surgir nesses teus olhos
Ainda há pouco tão tristes e sombrios.
Vejo as primeiras luzes matutinas
Nascendo, aos poucos, nos teus grandes olhos!

Vejo a deusa triunfal chegar serena,
Vejo o seu corpo nu, radioso e claro,
Vir crescendo em beleza e suavidade
Nas longínquas paragens dos teus olhos.

E estendo as minhas mãos tristes e pobres
Para tocar a imagem misteriosa
Desse dia que vem, em ti, raiando;

E sinto as minhas mãos, ó doce amada,
Molhadas pelo orvalho que roreja
Do teu olhar de estranhas claridades!

ESTRELA MORTA

Morta a Estrela que um dia, solitária,
Nasceu em céu sem termo.
Morta a Estrela que floriu nos meus olhos.
Morta a Estrela que olhei na noite erma.
Morta a Estrela que dançou diante dos nossos olhos,
A Estrela que descendo acendeu este amor
Morta a Estrela que foi para o meu coração,
Como a neve para os ninhos
Como o pecado para os santos
Como a ausência de Deus para os condenados.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 551)


Uma Trova de Ademar

Eu só queria entendê-las!
Mas não me julgo capaz;
no céu, que tem mil estrelas...
Tem uma que brilha mais!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Palavras de amor são folhas...
são folhas que o vento arrasta...
Talvez uma só recolhas
e uma só... é o quanto basta!
–CAROLINA RAMOS/SP–

Uma Trova Potiguar


Lua de corpo celeste,
majestosa e singular;
de quatro formas se veste,
refletindo a luz solar.
–DJALMA MOTA/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Quem o bem fez bem espere,
e o mal também, se é devido:
Porque — Quem com ferro fere
com ferro será ferido.
–SOARES BULCÃO/CE–

Uma Trova Premiada

2012 - Nova Friburgo/RJ
Tema: PASSAGEM - 1º Lugar


A passagem mais sofrida
que nós fazemos, a sós,
é ver o alcance da vida
sair do alcance de nós...!
–MARA MELINNI/RN–

Uma Poesia

Olhando o campo sem flores
pendão de milho que afina,
mães faminta, filhos tristes
os pais lamentando a sina,
são as cenas da tragédia
de uma seca nordestina.
–GERALDO AMANCIO/CE–

Soneto do Dia

Ao Coração
–FRANCISCA CLOTILDE/CE–


Porque suspiras, coração dorido?
Ermo de afetos, cheio de amargura!
Fugiu de ti a plácida ventura!
Eis-te sozinho, a suspirar descrido!

Não mais no mundo pérfido, iludido.
Serás de afetos vãos da criatura,
brilha em teu céu uma esperança pura,
é Deus que atenta o ser desiludido!

Busca o conforto místico, que vem
trazer-te a luz, que dimanou do bem,
e que fulgiu nos braços de uma cruz;

despreza os bens efêmeros da terra,
busca o tesouro que somente encerra
o amor perfeito que sonhou Jesus.

2º CIELLI da UEM/PR (Resumo de Simpósio de Teoria Literária) Parte 1


2º CIELLI - Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários

Diariamente serão postados 4 Resumos dos Simpósios que serão apresentados em 13 a 15 de junho, até totalizar os 25 a serem apresentados.

O resumo havia sido publicado na UEM em parágrafo único, mas para facilitar a leitura dos leitores do blog, dividi em parágrafos.

1
Mônica Luiza Socio Fernandes
Marly Gondim Cavalcanti Souza
(A LITERATURA EM DIÁLOGO COM OUTRAS ARTES)


Este simpósio é um espaço para reunir as pesquisas, as reflexões e as discussões centradas nas relações entre a Literatura e as outras artes (música, pintura, dança, cinema, teatro). Um tema cada vez mais discutido, especialmente, por trazer ampliação da perspectiva crítico-interpretativa e aprofundamento dos estudos da Literatura Comparada. O assunto tem assumido destaque no Brasil, terra mestiça por excelência, encontrando-se no cerne do tema da sexta edição da FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty (RJ), acontecida no período de 2 a 6 de julho de 2008, colocando “a literatura em diálogo com diversas áreas do conhecimento” (UOL, on line). Porém, não somente no Brasil esse tema é atualidade: em 2001, o IV Congresso Internacional da Associação Portuguesa de Literatura Comparada (APLC), acontecido na cidade de Évora (Portugal), com o tema: “Estudos literários/estudos culturais”, produziu nada menos que um volume (o III) publicado com o título: “Literatura e Outras Artes”.

Várias são as publicações surgidas sobre o assunto, envolvendo pesquisadores amantes das artes e da literatura. Como exemplo, podem ser citados: Pierre Brunel & Yves Chevrel (Orgs.). Compêndio de Literatura Comparada (2004), cujo capítulo intitulado: Literaturas e Outras Artes expõe uma linha de evolução desses estudos, teóricos, escolas e publicações; o livro Angulos: literatura e outras artes, de autoria de Evandro Nascimento (UFJF, 2002), com textos sobre literatura e cultura brasileira, explorando não somente a teoria, mas a obra de Guimarães Rosa e Machado de Assis; os livros Diálogo entre literatura e outras artes (UFPB/Realize, 2009) e Diálogo entre a literatura e outras artes, Vol.2 (UFPB/Realize, 2011) , organizados por Marly Gondim Cavalcanti Souza, reunem textos de autores de várias partes do Brasil, focalizando estudos aplicados a obras literárias em interação com outras artes (cinema, música, dança, pintura); a revista JIOP, lançada no dia 7 de outubro de 2010, na Universidade Estadual de Maringá, mais uma empreitada na divulgação de trabalhos realizados na área.

Por tais razões, não se pode mais pensar em uma expressão artística sem que se considere a relação de complementaridade existente entre as mais diversas formas usadas pelo ser humano para comunicar suas ideias e sentimentos, chamadas de “arte”. As artes surgem como uma alternativa prática de estudo e de análise de obras literárias, fundada na relação interartística, tanto pela capacidade de envolver e seduzir o leitor, na sua dinamogenicidade, e de constituir o ponto inter-relacional para o diálogo entre obras literárias na perspectiva da intertextualidade, bem como entre a literatura e outro sistema semiótico artístico, considerando a presença de outros sistemas semióticos no texto literário e/ou a relação metafórica, de similaridade estrutural.

Este simpósio propõe-se a dar continuidade a um trabalho de pesquisa iniciado em 2007, cujos resultados podem ser observados em diversas publicações, troca de experiências e participação de pesquisadores em grupos de pesquisa em outros centros acadêmicos, enriquecendo o conhecimento mútuo da Literatura Comparada.

2
Alice Áurea Penteado Martha
Vera Teixeira de Aguiar
A LITERATURA JUVENIL: DO MERCADO ÀS INSTÂNCIAS DE LEGITIMAÇÃO


A literatura juvenil, fenômeno recente, cuja produção se fez maciça nas últimas décadas, com publicação de inúmeros títulos e circulação marcante no contexto escolar, em meio aos muitos produtos culturais que inundam o mercado e disputam avidamente a atenção dos jovens, destaca-se dentre os subsistemas que alimentam o sistema literário. Estudos acadêmicos mais recentes têm considerado a questão do “específico juvenil”, ainda que os trabalhos sistemáticos sobre a produção e a circulação dessas obras não se mostrem suficientemente significativos.

Embora a oposição “literatura”/“literatura infantil” se faça presente na absoluta maioria dos textos que compõem a bibliografia teórica sobre o assunto, as oposições “literatura”/“literatura juvenil” ou “literatura infantil”/“literatura juvenil” são quase que deixadas de lado pelos estudos que se dispõem a tratar desse polêmico subsistema literário. Sob a ambígua rubrica “literatura infantojuvenil”, utilizada, aliás, até este ponto sem maior questionamento, todos os problemas parecem estar resolvidos, ainda que depois se revelem contradições internas nas obras teóricas, que acabam – explícita ou implicitamente – trabalhando com a diferenciação de conceitos.

A complexidade do assunto amplia-se quando o foco é dirigido à significação do termo “juventude”, uma vez que o conceito é construído a partir de múltiplos olhares, notadamente das ciências médicas e humanas – história, sociologia, psicologia, educação, biologia. Apesar do peso significativo que possui atualmente a literatura juvenil no campo editorial, movimentando cifras consideráveis; da vasta produção de títulos em níveis de literariedade dos mais artísticos aos mais “comerciais”; do grande número de autores já consagrados ou novatos que produzem no gênero; da legitimação que a literatura juvenil acaba por receber de diferentes instituições (prêmios, diretrizes curriculares, disciplinas de graduação e pós-graduação, congressos), é possível constatar que a pesquisa sobre o assunto é ainda bastante precária, o que propicia uma reflexão sobre a noção de lugar de fronteira da literatura juvenil no sistema literário brasileiro.

O estabelecimento de um diálogo entre os elementos do campo literário mostra-se fundamental no reconhecimento da produção literária dirigida aos jovens como subsistema de obras, ligadas por certos fatores comuns que permitem reconhecer seus traços dominantes, como as características internas (língua, temas, imagens) e alguns elementos de natureza social e psíquica que, ao se organizarem literariamente, manifestam-se historicamente e transformam a literatura, concedendo-lhe aspecto orgânico. A discussão sobre as fronteiras da literatura juvenil, demarcadas por estudos de natureza diversa – historiografia, sociologia, psicologia e estética -, não tem a pretensão de esgotar as possibilidades para o estabelecimento de critérios para o reconhecimento da produção para jovens como subsistema de obras literárias.

Desse modo, e considerando a extensa e diversificada frente de trabalho que se abre com a discussão, tanto no que se refere a pesquisas teóricas e críticas quanto aquelas voltadas à questão da leitura e à superação gradativa dos problemas relativos à formação de leitores literários permanentes, a proposição deste simpósio justifica-se pelo empenho em compreender melhor as especificidades da produção para jovens nas suas múltiplas dimensões, bem como os modos de sua circulação e recepção. Assim, o simpósio deverá receber trabalhos que levantem obras que circulem, em diferentes suportes, sob a rubrica de literatura juvenil; debatam a produção em seus elementos estético/formais; realizem reflexão teórica sobre a existência de um específico juvenil no campo mais amplo da literatura; discutam e proponham questões relativas ao ensino da literatura juvenil; analisem o processo de mediação e recepção dos textos literários no contexto escolar, em suas múltiplas variáveis; discutam políticas públicas voltadas à leitura.

3
Marisa Corrêa Silva
Acir Dias da Silva
AS ARTES NARRATIVAS E O PANDEMÔNIO DA CONTEMPORANEIDADE


Este simpósio objetiva reunir e promover o debate entre estudiosos de teorias que vêm ganhando espaço nos círculos acadêmicos no início do século XXI. Embora a análise literária e/ou as reflexões sobre a narrativa sejam o ponto de convergência dessa proposta, as teorias não precisam ser, originalmente, criadas para se pensar especificamente o texto (entendido num sentido amplo) narrativo. Trata-se de abrir o leque acadêmico, expandindo-o, aceitando contribuições de diferentes campos – fenômeno tradicional no pensamento crítico.

Como é sabido, várias vertentes importantes da crítica literária, da comunicação e da estética beberam em fontes como Adorno e Benjamin, bem como outros filósofos da Escola de Frankfurt; o pós-colonialismo emana de autores como Hommi Bhabbha e Edward Said; a crítica feminista, de pensadoras como Hélène Cixous, cujo contributo é tão significativo quanto o de nomes como Virgínia Woolf e Simone de Beauvoir, que eram também romancistas. Portanto, serão bem-vindas contribuições que lidem com o pensamento de filósofos como Alain Badiou, francês de origem marroquina, cujo conceito de Evento (Évenement ou Acontecimento) reinstalam a discussão sobre metafísica num novo patamar, propondo, na contramão do mainstream do pensamento contemporâneo, que a Verdade, sob determinadas condições, é uma categoria prática; o italiano Giorgio Agamben, cujas leituras sobre a profanação provocaram polêmica, embora seu contributo para a crítica da biopolítica seja consagrado.

Slavoj Zizek, cujo materialismo lacaniano propõe uma nova leitura de Marx, voltando a Hegel e buscando soluções para a chamada “crise das esquerdas” do final do século XX, também é um dos nomes que buscamos.

Também serão bem-vindos trabalhos que retomem questões do feminismo, contemplando o contributo de pensadoras como, por exemplo, as anglófonas Kalenda C. Eaton, Laura Gillman, Judith Butler e outras que repensam o feminismo e articulam-no com questões raciais, trabalhando uma nova visão, o womanism, surgido da nomenclatura criada por Alice Walker.

O francês de origem tunisiana Pierre Lévy e suas contribuições mais recentes sobre a Internet também encontrarão espaço em nosso forum de discussões. Esses nomes e outros, que não mencionamos aqui, bem como teóricos que se propuseram a pensar especificamente a literatura, devem ser a base dos trabalhos recebidos. A condição de aceite das propostas é, portanto, que a(s) obra(s) teórica(s) principais que compõe(m) a metodologia do trabalho proposto tenha(m) sido produzida(s) originalmente (e não republicadas ou traduzidas) a partir de 1990, e que se encaixem em uma ou mais das seguintes modalidades: análises críticas de textos literários, reflexões sobre a aplicabilidade da(s) teoria(s) abordada(s) no campo literário, diálogo e contraponto com o estado anterior da questão (desde que devidamente ligado à questão literária).

A nossa preferência é por questões que:
a) enfoquem leituras e análises críticas de diferentes textos (literários, pictóricos, fílmicos etc)
b) proponham teorizações mais atuais, estrangeiras ou brasileiras.

4
Antonio Augusto Nery
Rosana Apolonia Harmuch
DIÁLOGOS COM A LITERATURA PORTUGUESA


Eduardo Lourenço em seu clássico artigo “Da Literatura como interpretação de Portugal”, presente no volume O Labirinto da Saudade – Psicanálise Mítica do Destino Português (1978), realiza uma análise da produção literária portuguesa que vai de Almeida Garrett (1799-1854) a Fernando Pessoa (1888-1935), propondo que no espaço temporal que separa os dois autores, a literatura de ficção portuguesa “foi orientada e subdeterminada consciente ou inconsciente pela preocupação obsessiva de descobrir quem somos e o que somos como portugueses”.

Segundo o crítico, essa busca pela identidade caracterizou-se, nos séculos XIX e XX, pelo constante repensar do conceito de nacionalidade e pela constatação, por parte de diversos autores, de que “as contas a ajustar com as imagens que a nossa aventura colonizadora suscitou na consciência nacional são largas e de trama complexa demais”.

As proposições de Lourenço expõem a situação de alguns escritores, especialmente do contexto finissecular do Oitocentos e dos primeiros anos do século XX, que, ao refletirem sobre a questão da identidade nacional, deparavam-se com o impasse do passado glorioso que perseguia a realidade presente, não permitindo vislumbrar claramente o que estava porvir.

Mesmo dedicando especial atenção à literatura produzida entre Garrett e Pessoa, a análise de Eduardo Lourenço dialoga com toda a tradição literária de Portugal que vai das cantigas medievais até a contemporaneidade, deixando entrever que a busca pela identidade do ser português é, de fato, um anseio permanentemente perceptível na produção literária portuguesa. E tal anseio necessita ser (re) pensado na contemporaneidade, se considerarmos que a discussão sobre o conceito de identidade nacional, ao longo do século XX e agora no século XXI, é perpassada por conceitos/discursos que a problematizam a ponto de se poder entendê-la, à luz de Zygmund Bauman em Modernidade Líquida (2000) e Stuart Hall em A Identidade Cultural na Pós-modernidade (1992), como algo fluido, líquido, “sem fronteiras” - concepções que descontroem práticas discursivas, muitas vezes oficiais, interessadas em criar e alimentar uma hegemonia identitária e cultural que não existe.

Ainda no sentido de problematizar essa discussão, cabe mencionar o que Leyla Perrone-Moisés propõe em seu recente livro Vira e Mexe, Nacionalismo: Paradoxos do Nacionalismo Literário (2007): “aquilo que chamamos literatura é uma prática universalizante, que ensina a superar os escolhos dos nacionalismos”.

Levando em consideração as ponderações realizadas por esses e outros teóricos, propomos este simpósio com o intuito de abrigar trabalhos que tenham como foco a Literatura Portuguesa e temas relacionados aos questionamentos e a (re)interpretação da nação e do conceito de identidade nacional, bem como leituras críticas que problematizam tais temas como possibilidade para a interpretação do texto literário. Pressupõe-se, nos trabalhos apresentados, um esforço em revisar a crítica canônica/tradicional que se \"cristalizou\" em torno de várias obras e autores dessa literatura, interferindo/delimitando leituras e análises futuras desses textos.

Pretende-se também priorizar análises comparatistas que buscam novas perspectivas sobre a produção ficcional portuguesa, em suas relações com o cinema, a história, a filosofia, a pintura, a fotografia, entre outras interfaces, à luz de diversas linhas teóricas. Além do intuito de abrir espaço para revisões e releituras críticas, o simpósio também pretende dar visibilidade a pesquisas envolvendo obras de autores contemporâneos de países lusófonos.

Fonte:
http://www.cielli.com.br/programacao_geral

quinta-feira, 10 de maio de 2012

A. A. de Assis (Estados do Brasil em Trovas) Rondônia

Moura Tukano (Não somos donos da teia da vida, mas um de seus fios)


O Mundo foi tecido por um Criador. Sem limites e sem fronteiras. Nossos atos têm conseqüências imediatas por sermos fios dessa teia. Ele deu-nos a cada um a porção de responsabilidade própria de conduzir o seu fio de modo a garantir a sintonia com os demais, proporcionando todo o possível para a Teia se manter sólida, aconchegante, prazerosa. Bem tecida com amor, fartura e musicalidade ela foi deixada começada no Plano Original para Mãe Terra.

Uma Teia bem tecida, com a beleza da matéria-prima que inclui as cores, os rumores, os aromas, os sabores e as notas musicais e todos os elementos proporcionados pela Mãe-Terra com as garantias do seu Fundador, depende muito da solidez e da responsabilidade própria de cada fio que fará a segurança, a proteção e a manutenção da vida num eterno movimento comemorado em cada fase da Lua. Em cada plantio, cada colheita, cada dança, cada noite de luar. Nos acasalamentos e nos nascimentos. Nas festas da despedida e na grandeza da continuidade em todas as estações do tempo e do espaço.

Quando um fio irresponsável se rompe, certamente enfraquecerá ou afetará outros sensivelmente ao redor. Cada abandono é um fio rompido. Cabe ao homem manter limpo e fortalecido este elo inato. Isto se chama dignidade, integridade. Isto também se chama: alimentar o espírito. Urge de cada um a conservação fundamental da Teia, matriz que os ancestrais passaram de geração a geração.

São fios que ligam o passado ao futuro e que estão nas mãos do presente. Eles não podem se romper. São permanentes. São guardados na área sagrada da memória e no porta-jóias do coração. São sementes escolhidas bem embaladas no cantinho sagrado aguardando o êxtase da fecundação. Fio que começa como cordão umbilical oxigenando a vida. Guardá-los, é responsabilidade de cada um. A história não pode ser interrompida tragicamente por causa do rompimento de qualquer fio. O tênue fio de uma teia possui a força do Grande Tecelão, o Grande Espírito. Cabe a nós, que viemos como sementes guardadas e amadas, a responsabilidade de produzir sementes puras para o equilíbrio, paz, alegria desta teia formada por três inesquecíveis tempos da eternidade: o passado, o presente e o futuro. Não saia da Teia. E ajude a tecê-la cada vez que um fio pueril, doente ou enfraquecido precisar de você.

Fonte:
Mundurukando. http://danielmunduruku.blogspot.com.br/

Wagner Marques Lopes/ MG ( O PERDÃO em trovas), parte 2


5

O réu jamais burla a Lei -
(paga quem dá prejuízo).
Porém, por tudo o que sei,
perdoa quem tem juízo!

6

No horizonte, o Sol se dobra...
Reflito sobre a jornada...
Para trás, a boa obra:
perdoei... Alma lavada!

7

Ante o caluniador
tenha fé e muita fibra.
Trapezista de valor
é o que melhor se equilibra.

8

Quem conhece a Lei Divina
não receia perdoar.
Ao faltoso a Lei ensina;
quem perdoa, sabe amar.

Fonte:
Trovas enviadas pelo autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 550)

Pintura do Trovador Potiguar Pedro Grilo Neto

Uma Trova de Ademar

Hoje eu culpo a mocidade
que ao encher-me de alegrias
deu-me um cofre de saudade
e um milhão de fantasias!...
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


A tormenta, que atordoa,
não distingue, em mar bravio,
a humildade da canoa...
da soberba do navio!
–JOÃO FREIRE FILHO/RJ–

Uma Trova Potiguar


Embora sejam, bisonhos,
e esperanças me leguem,
eu não persigo meus sonhos;
são eles que me perseguem...
PEDRO GRILO/RN–

Uma Trova Premiada


2010 - Caxias do Sul/RS
Tema: TRILHO - M/H


Quando o percurso é distante
e os trilhos correm sem fim,
é bem nesse exato instante,
que Deus alia-se a mim!
–LISETE JOHNSON/RS–

...E Suas Trovas Ficaram


A brisa mansa e fagueira,
que sopra no meu jardim,
é a fiel mensageira
que beija as flores por mim.
–INÁCIO DE MEDEIROS DIAS/RN–

Uma Poesia


MOTE :

–José Ouverney/SP–
BASTA SER INTELIGENTE
PARA SER BOM TROVADOR.


GLOSA :
–GILSON MAIA/RJ–

Quando eu nasci, bem contente,
procurando a poesia,
o caminho eu conhecia:
basta ser inteligente,
ser um filho obediente
a Deus Pai, o Criador,
desejar plantar o amor,
ser irmão da natureza,
em Deus buscar fortaleza,
para ser bom trovador.

Soneto do Dia

Poeta
–DOROTHY JANSSON MORETTI/SP–


Nunca lhe falta a sensibilidade,
a sutileza, o dom de transferir
às palavras toda a expressividade
na alegria ou na mágoa de sentir.

O poeta é assim, é versatilidade...
Seja o que for que intente traduzir,
mergulha em vida, em sonho, em realidade,
faz de uma noite a aurora reflorir.

Transcende as dores de um mundo sofrido,
pisa os mistérios do desconhecido,
traz as estrelas para o nosso chão.

E quem o escuta, exclama, fascinado:
“Era assim que eu queria ter cantado,
se soubesse escrever minha canção!”

Academia de Letras e Artes Buziana – ALAB (Anfitriã do II Seminário Acadêmico Cultural Internacional)


Conforme divulgado no I Seminário Acadêmico Cultural, realizado no ano passado pela ARTPOP em Cabo Frio, a Academia de Letras e Artes Buziana – ALAB será a anfitriã do II Seminário Acadêmico Cultural Internacional. Trata-se de um encontro cultural para o aperfeiçoamento do artista em suas mais diversas modalidades. Um encontro multidisciplinar, composto por muito intercâmbio de informações.

Dentre os conferencistas convidados, a ALAB contará com o Catedrático e Patrono da ALAB, Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras – ABL e muitos outros. Durante o final de semana, além da Cerimônia Acadêmica da ALAB, acontecerá também a I Semana de Artes e Culturas Internacionais – “I SACI - 2012”, onde as várias nacionalidades existentes na cidade apresentarão a arte e cultura de seus países. Será um encontro imperdível, cheio de atividades.

As atividades do Seminário e SACI serão totalmente gratuitas para os participantes, portanto, agende-se para compartilhar conosco de mais esse momento cultural.

Visite o BLOG Oficial do evento, onde os participantes tem à disposição todas as informações pertinentes ao final de semana, tais quais, programação, hotéis e restaurantes credenciados, formulário de inscrição e turismo em Búzios.

http://culturalbuzios.blogspot.com.br

Participe da Feira Literária e lance seu livro! Participe da Exposição de Artes Plásticas! Não tem custo!Não fique de fora desta oportunidade de conhecer uma das cidades mais lindas - a sexta mais visitada do Brasil - e ainda fazer um intercâmbio cultural incrível!.

Dúvidas: dyandreia@gmail.com.br ou alab@mar.com.br

Fonte:
Clevane Pessoa

Bibliotecas Públicas de São Paulo (Programação)


Projeto Canto Livro.

Canto Livro: De Amor e Solidão - Gabriel García Márquez


Neste espetáculo da série “Canto Livro”, Joana e Jean Garfunkel narram trechos de Cem Anos de Solidão e O Amor nos Tempos da Cólera, de Gabriel Garcia Márquez, ilustrados com canções caribenhas. Eles se apresentam acompanhados pelo violonista Natan Marques.

12 de maio (sáb) – 19h – Biblioteca Pública Cassiano Ricardo
=====================
Prof. João Jonas Veiga Sobral.
ENCONTRO

Nova ortografia


O professor João Jonas Veiga Sobral apresentará as principais mudanças propostas pelo Novo Acordo Ortográfico e as ilustrará com exemplos extraídos de mídias impressas e canções populares. Haverá espaço para debate e esclarecimento de dúvidas acerca das novas solicitações. 2h10.

14 de maio (seg) – 15h – BIBLIOTECA PÚBLICA Camila Cerqueira César
17 de maio (qui) – 15h – BIBLIOTECA PÚBLICA Amadeu Amaral
=======================
CURSOS

Os contos de fadas: tradição oral e educação de sensibilidade
Com Fabiana Rubira


O objetivo é entender melhor a natureza e as funções dos contos de fadas na formação do ser humano e refletir sobre por que essas narrativas da tradição oral, muitas delas milenares, e, ao mesmo tempo atuais, são ainda significativas para nós. Público alvo: educadores, contadores de histórias, estudantes de pedagogia e interessados.

12 de maio (sáb) – 10h – BIBLIOTECA PÚBLICA Hans Christian Andersen
===================

TEATRO

Lado de Lá
Com Cia Luarnoar


O infantil relata um pouco das histórias africanas contadas a partir das curiosidades e das observações que este povo faz na natureza. Esses questionamentos e inquietações viraram lendas, que revelam a riqueza do povo africano. Livre. 50 min.

12 de maio (sáb) – 14h – BIBLIOTECA PÚBLICA Mário Schenberg
13 de maio (dom) – 11h – BIBLIOTECA PÚBLICA Cora Coralina

Cidade Azul
Com Cia Truks


O espetáculo conta como nasce e cresce uma amizade entre duas crianças de realidades diferentes: um menino das ruas e uma menina perdida pelas ruas. Livre. 50 min.

13 de maio (dom) – 11h – BIBLIOTECA PÚBLICA Padre José de Anchieta
16 de maio (qua) – 14h30 – Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato

Leitura encenada do texto “Macaco peludo”
Com Cia. Triptal. Dir: André Garolli


A rica Mildred desce ao porão de navio para conhecer os trabalhadores das fornalhas. Lá conhece Yank, que ao ir atrás da jovem, descobre que Mildred é apenas uma dentre outros, para quem homens como ele são insignificantes. A apresentação será seguida de debate com o público.

16 de maio (qua) – 19h30 – BIBLIOTECA PÚBLICA Alceu Amoroso Lima

Visite nosso site: www.bibliotecas.sp.gov.br

Fonte:
E-mail recebido pela Coordenadoria do Sistema Municipal de Bibliotecas. Secretaria de Cultura. Prefeitura de São Paulo | www.bibliotecas.sp.gov.br

8º Concurso de Contos Infantis "As crianças do MERCOSUL" (Resultado Final)


1º lugar:
¡Déjenme dormir!
Ninah Basich - Guadalajara, México

2º lugar:
Orgullo
Angélica Sonia Barrenechea Arriola - Bahía Blanca, Buenos Aires, Argentina

3º lugar:
A gata Glória e Dona Bruna
Aline Maria Freitas Bussons - Fortaleza, Ceará, Brasil

Menções honrosas:

Lucas tiene pajaritos en la cabeza
Silvia Beatriz Iorio - Palomar, Buenos Aires, Argentina

El río de Juan
Valeria Allegrucci - La Plata, Buenos Aires, Argentina

A menina que queria escrever todas as coisas do mundo
Solange Bonifácio - São Paulo, Brasil

Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com

quarta-feira, 9 de maio de 2012

A. A. de Assis (Estados do Brasil em Trovas) Rio Grande do Sul

Daniel Munduruku (O Menino Que Não Sabia Sonhar)


O escolhido

O pajé olhou com muito amor aquela criança que acabara de nascer. Sorriu e pensou na grande tarefa que teria pela frente: educar o menino na arte da pajelança, na tradição de seu povo. Ele seria o herdeiro da cultura que atravessou os séculos, passada de geração a geração pela memória dos antepassados, que contavam as histórias da criação do mundo.

Chegando a sua “uk'a”, (1) o pajé chamou os pais do menino e disse:

- Meus parentes, ouçam com atenção o que lhes vou dizer: em meus sonhos os espíritos dos sábios disseram que nosso povo será perpetuado graças à criança que hoje nasceu. Ela será um Grande Espírito. Para isso é preciso que vocês concordem com a educação que pretendo passar a ela.

Os pais se entreolharam e sorriram, pois sabiam que isso fazia parte da tradição milenar.

- Não podemos nem queremos contrariar a vontade do Grande Espírito. Entregaremos nosso filho quando chegar a hora.

A nominação

Inspirado pelos antepassados em sonho, Karu Bempô, o pajé, deu à criança o nome de Kaxi, a lua que brilha sobre os homens. Na cerimônia em que batizou o garoto, ele disse:

- Há muitas forças negativas que visam exterminar nosso povo. Os “pariwat” (2) dizem que somos os mais importantes habitantes desta terra, mas o que fazem é sempre o contrário do que falam. Querem comprar nossa terra e trazem a dor, a divisão e a inimizade. Poluíram
nosso “idibi”, (3) derrubaram o espírito de nossas árvores, expulsaram nossa caça. Mesmo assim, a cada ano nosso povo cresce e se fortalece. Nosso povo nunca será exterminado. Renasceremos das cinzas, se preciso for, para manter nossa história.

O modo de vida

Kaxi foi crescendo e passou a participar da vida social da aldeia Katõ. Quando não estava aprendendo a fazer artesanato, brincava com outras crianças. Na época da seca ou na meia-estação - entre abril e setembro -, acompanhava sua “ixi” (4) no plantio de “musukta”, (5) “wexik'a”, (6) “akoba”, (7) milho, cará, “kagã”. (8)

Isso acontecia após a coivara, trabalho masculino que consistia na derrubada e queimada de um pedaço de terreno a que a comunidade chamava de roça.

As mulheres cuidavam da “ku” (9) e das tarefas domésticas e os homens se ocupavam da caça, pesca, coivara, e dos arcos e flechas. Eles se reuniam nos fins de tarde para conversar e contar piadas. Era um povo muito alegre e cheio de disposição.

Kaxi participava dessas conversas. Desde pequeno, ouvia com atenção a história do contato entre brancos e índios, que resultou em muitas desgraças para seu povo. Um espírito de tristeza pairava sobre os presentes quando narravam as atrocidades que os “pariwat” cometiam contra os “baripnia” (10) de outras nações para se apossar das riquezas que havia no chão sagrado deles.

Algumas vezes Kaxi acompanhava as mulheres em suas andanças pelo mato atrás de folhas para fazer remédio. Passou a conhecer as propriedades de cura das plantas e ervas. Aprendeu a respeitar a natureza e a conversar com ela.

Ele brincava boa parte do dia. Logo pela manhã ia até o igarapé nadar, brincar ou competir. Depois, ocupava-se de alguma tarefa com a mãe ou o pai. Quando acabavam seus afazeres, as crianças se reuniam e contavam o que tinham feito: pescar com o pai, ir à roça com a mãe, ralar mandioca para fazer beiju ou jogar massa no tipiti. Então, tomavam um banho de rio, imitando “wasuyu”, (11) “poy'iayn” (12) e outros bichos.

Após o banho todos se reuniam em torno da fogueira para conversar. Um dia, seu pai lhe dissera que os brancos aprendem o seu modo de ser indo a um lugar a que chamam de escola. Kaxi achava estranha essa maneira de aprender, uma vez que as crianças não andavam pela floresta, não imitavam os pássaros, não sabiam fazer arapuca ou armadilha, e tudo lhes era dado pelo papel pesado a que chamavam dinheiro.

Os rituais religiosos

À medida que crescia, Kaxi ia sendo iniciado nos costumes de seu povo. Caçava, pescava, plantava e colhia junto com os adultos. Aprendia sempre mais sobre a história dos antepassados, as guerras travadas entre as várias nações, as pinturas e tatuagens corporais. E ficava atento aos vários rituais que aconteciam na aldeia. A maioria era dirigida pelo pajé: nominação, ou batismo, cura de doenças, ritos de iniciação e purificação, cerimônias de casamento, enterro dos mortos.

Nos seus dez anos de idade, considerava extremamente bonita a índole do seu povo quando se tratava de resgatar os ideais míticos, alcançar o estado de êxtase e adquirir sabedoria. Era assim que Kaxi se sentia quando participava dos rituais: em êxtase!

Um dia, após a sessão de cura do pajé, Kaxi se aproximou dele e perguntou à queima-roupa:

- Padrinho, o que o senhor estava fazendo no corpo daquela mulher?

O pajé, cansado do trabalho que realizara, sorriu para o menino e disse-lhe:

- Pequeno pajé, passe amanhã em minha “uk'a”. Antes, porém, vá até o mato e traga algumas folhas de fumo para mim.

Kaxi respondeu:

- Amanhã estarei lá quando o sol se encontrar no seu ponto mais alto.

Naquela noite, Karu Bempô teve o presságio de que havia chegado a hora de começar a preparar o garoto para a missão que o esperava. O pajé sonhou que era uma grande ave e sobrevoava a Amazônia. Durante o vôo viu grandes clareiras na mata, máquinas que comiam árvores, rios sujos. Visitou vários povos, amigos e inimigos, e viu a deterioração da sua cultura. Voou para junto de seu povo e o viu desnorteado pela aproximação dos brancos; sua gente fugia pela ausência de um espírito forte que lhe desse coragem de lutar pelo chão.

Aproximou-se mais do solo e viu a si mesmo agonizando, incapaz de auxiliar sua gente. Assustado, ele acordou. Caminhou até o terreiro e chorou. Chegara a hora de preparar o espírito de Kaxi para ajudar o povo a lutar.

No dia seguinte, o pajé disse a Kaxi:

- Pequeno pajé, é hora de contar-lhe um segredo. Estamos vivendo um momento delicado. Nosso povo corre o risco de não ter continuidade. Há pessoas que querem acabar com nossa cultura, roubando as riquezas de nossa mãe Terra. Você sabe que nosso povo sempre foi amistoso com os “pariwat”. Isso enfraqueceu nosso espírito guerreiro, e os brancos se aproveitaram dessa fraqueza para criar rivalidade entre nós. Precisamos de alguém que tenha a sabedoria dos antepassados e a juventude do guerreiro, e ajude o povo a resistir com bravura. Os espíritos dos antepassados escolheram você para ser esse líder. Não precisa assustar-se, vai demorar um pouco, ainda; mas você deve começar sua instrução a fim de saber mais e, acima de tudo, aprender a sonhar.

- O que tenho que fazer? - perguntou o jovem índio.

- A partir de agora, ficará sob minha guarda. Serei seu guia e lhe passarei o conhecimento necessário para enfrentar tudo com coragem e certeza.

- E meus pais?

- Seus pais já sabiam que isso iria acontecer.

- Por que eu?

- Não sei - disse o pajé. - O destino não é determinado por nós mesmos: somos guiados pelos antepassados.

- Tenho condições para me tornar um líder? - perguntou, curioso.

- Todos têm. Aprender não é difícil. É mais difícil dispor-se a aprender e a aprender com vontade, e saber que o que se faz não é para si mesmo e sim para toda a comunidade.

Kaxi levantou-se, olhou com carinho para o pajé e disse:

- Estou pronto, padrinho. Que seja como querem os espíritos.

A iniciação

- O pajé é um líder religioso. É ele quem preside os rituais mais importantes da aldeia, pois está investido do poder das forças cósmicas que atuam por meio dos antepassados. O pajé é uma grande energia. Sem ele, a gente se enfraquece, perde o alicerce que mantém o equilíbrio das forças espirituais, e se divide.

A partir daquele dia Kaxi passou a acompanhar o pajé em toda parte. Muitas vezes ficava dias e dias na casa dos homens sozinho a pensar sobre os ensinamentos do pajé. A cada dia aprendia coisas novas e agora, com doze anos, era o momento de passar pelo ritual da maioridade. Teria de provar a todos que já era um homem, um guerreiro e estava pronto para o matrimônio. Durante um mês, ele e mais vinte e quatro ficaram em retiro na casa dos homens, onde eram iniciados pelos pais e padrinhos na arte da caça, pesca e sobrevivência na mata. Kaxi sabia que o teste consistia em permanecer alguns dias sozinho na floresta e
dela tirar a sobrevivência necessária para vencer a prova e voltar para casa como um bravo, trazendo nas mãos alguma caça grande.

Terminado o retiro, os vinte e cinco adolescentes cantaram e dançaram por um dia inteiro no centro da aldeia. Ao despontar a lua, os homens se reuniram e o cacique assim se expressou:

- É hora de novos guerreiros provarem que são dignos de pertencer a esta nação. Encontrarão perigos e armadilhas feitas pela mãe Natureza, mas lembrem-se de que a Natureza é nossa irmã e não nossa inimiga. Vão com o Grande Espírito que anima nossa luta, vão com coragem, e que Deus os acompanhe.

Na floresta

Nos primeiros dias de viagem, o grupo permaneceu unido. Aos poucos, foram se separando. Segundo a tradição, quanto mais sozinhos ficassem, mais coragem teriam.

Após seis dias de viagem sem encontrar carne para alimentar-se, Kaxi armou a rede, chamada uru, deitou-se e recordou as palavras de Karu Bempô:

- Sonhar é a mais antiga forma de aprendizado do nosso povo. Resistimos a muitas batalhas porque soubemos ouvir a voz dos antigos, que nos falavam em sonhos. É pelo sonho que nos metamorfoseamos nos seres da natureza para ver mais adiante, viajar para longe e reconhecer os perigos que nos rodeiam. O pajé é o intérprete oficial dos sonhos na comunidade. Sem ele, o espírito das pessoas fica fraco e facilmente é vencido pelas forças inimigas.

- Mas como interpretarei o sonho de outras pessoas?

- Há tempo para tudo, meu rapaz. Um dia, você dominará os símbolos naturais dos sonhos. As pessoas não precisarão contar seus sonhos, porque você mesmo os contará a elas. É o que acontece comigo.

Quando Kaxi sonhava, não conseguia entender o sonho; bastava contá-lo ao pajé e já recebia respostas prontas. Recordou também uma noite em que os dois saíram para colher plantas na beira da floresta.

Kaxi afastou-se um pouco do pajé e, quando voltou, percebeu que o padrinho cantava uma melodia triste contando que estava chegando a hora de se reunir ao Grande Espírito. Uma intensa luz o rodeava.

- Estou prestes a passar para outra realidade. Estou triste porque não pude fazer mais pelo nosso povo, mas feliz porque ele fica em boas mãos, pois você tem se mostrado um ótimo discípulo, capaz de grandes sacrifícios.

Kaxi não quisera entabular conversa com o pajé naquele dia. Sabia que ele estava triste e não desejava perturbá-lo. No dia seguinte, aproximara-se do velho e indagara sobre a função de um líder religioso na aldeia. Karu Bempô respondera:

- Um pajé é como um médico, um profeta. Cura as feridas do corpo, pois as doenças são espíritos ruins, “cauxi”, (13) que habitam o corpo do doente. E cura as feridas da alma, procurando unir o que está desunido. O pajé, meu filho, é alguém que mostra caminhos. Os “pariwat” acham que o pajé é um enganador, porque tira da floresta os remédios que curam o corpo. Eles acham que o mal vem de fora: são comidas mal digeridas, cansaço, preocupação. Nós, pajés, acreditamos que a doença possui alma própria; ela entra no espírito da pessoa para desarmonizá-la.

A rede de Kaxi balançava num ritmo lento e constante. Ele só tinha em mente a fala do pajé antes de partir para a floresta:

- Quando você voltar, não estarei mais aqui, mas meu coração o acompanhará sempre. Enquanto estiver na floresta provando sua coragem, o Grande Espírito virá me buscar. Continuarei a ser seu guardião, pois nosso espírito continua a viver com os outros espíritos num plano mais elevado que este para proteger os que caminham nesta vida. Você já está preparado. Este é o seu momento.

Kaxi sentia-se desmotivado, enfraquecido, solitário. Não sentia a mínima vontade de prosseguir no rito de iniciação para a vida adulta. Além disso, ainda não aprendera a “jexeyxey”. (14) Como dar conta de tamanha responsabilidade?

Finalmente, o sonho

Pensando nisso, o pequeno pajé adormeceu e sonhou. Seu padrinho o guiou pelos caminhos do sonho. Kaxi entrou no espírito de uma “jakora”, (15) felino comum na floresta amazônica. Percorreu grande extensão de mata e viu homens e máquinas destruindo árvores; em seguida transformou-se em águia, sobrevoou os rios e inquietou-se. Foi cobra, entrou no espírito das árvores e ouviu sua dor. Transformou-se em “idibi” para sentir a dor dos rios, encharcados de detritos. Kaxi inquietou-se, mas não deixou de ver a inquietude de seus irmãos. Muitos usavam “doti” (16) para cobrir o corpo, envergonhados de andarem harmonizados com a mãe Terra; outros, fascinados pela tecnologia do homem branco, ouviram a caixa que fala e engana. Viu a luta de um irmão com outro por causa do papel pesado; viu seu povo com vergonha de acreditar no Grande Espírito; viu seus irmãos com medo de morrer porque se sentiam culpados de terem nascido "selvagens".

O pequeno pajé viu muitos guerreiros fortes atirados pelo chão por uma água de fogo que os deixava fora de si. Viu homens brancos que traziam essa água e negociavam para comprar suas terras. Kaxi voltou para o seu corpo e ao despertar chorou muito. Em seguida sentiu-se fraco e abatido, como se muitos dias houvessem passado. Sentia, porém, que agora estava mais preparado.

Nesse momento Kaxi viu um grande clarão na floresta. Em torno dele pairavam luzes maravilhosas. Notou um rosto conhecido a sorrir-lhe. Era Karu Bempô. Diante de tanta felicidade por se saber detentor de um conhecimento secular, Kaxi sentiu as pernas enfraquecerem e desfaleceu.

Acordou depois de algumas horas. O cansaço havia desaparecido, a fome não. Sabia que tinha uma grande missão a cumprir junto a seu povo. Sentou-se à beira da rede e ficou pensando em tudo o que tinha visto e sentido, e percebeu que era uma sensação muito agradável poder visualizar o futuro e ver com clareza os pontos que deveria atacar. Sentia-se harmonizado, completo e unido ao espírito do velho pajé que havia lhe passado todo o conhecimento que agora possuía.

Com esse espírito de gratidão Kaxi percebeu que estava na hora de retornar para o seio de sua gente. O ritual tinha sido um sucesso, pois descobrira sua verdadeira vocação. Mas ainda era preciso encontrar uma caça grande para servir à comunidade como pagamento. Ali perto encontrou uma manada de “bio”; (17) caprichou na pontaria, ferindo uma delas bem no coração. No entanto, ainda sentia fome. A uns cem metros viu uma pequena cutia à procura de alimento. Desferiu uma mortal flechada sobre o animal, que caiu desfalecido. Acendeu o fogo, assou a carne e comeu, tranqüilo. Em seguida se pôs a caminho da aldeia.

Estava cumprida uma missão: o aprendizado com seu querido padrinho Karu Bempô... Teria que iniciar outra bem mais difícil, a de conduzir seu povo rumo ao futuro e à sobrevivência...
============
Nota:
(1) Uk'a é uma palavra munduruku que significa "casa".
(2) Homem branco (não índio).
(3) Água, rios.
(4) Mãe.
(5) Mandioca.
(6) Batata-doce.
(7) Banana.
(8) Cana.
(9) Roça.
(10) Parentes.
(11) Pássaros
(12) Macacos.
(13) Feitiço.
(14) Sonhar.
(15) Onça.
(16) Roupas.
(17) Anta.


Fonte:
Conta que eu conto (Ana Maria Machado, Angela-Lago, Daniel Munduruku, Heloisa Prieto, Roger Mello ; apresentação de Tatiana Belinky ; ilustrações de Mariana Massarani. - 1a. ed. - São Paulo : Companhia das Letrinhas, 2002. (Coleção Literatura em minha casa ; v. 2)

Daniel Munduruku (1964)


Daniel Munduruku (Belém do Pará, 28 de fevereiro de 1964) é um escritor e professor brasileiro. Pertence à etnia indígena mundurucu.

Graduado em filosofia, história e psicologia.

Tem mestrado em antropologia social pela Universidade de São Paulo.

Doutor em educação pela Universidade de São Paulo.

Relações-públicas do Instituto Indígena Brasileiro da Propriedade Intelectual.

Diretor-presidente do Instituto Uk'a - a casa dos saberes ancestrais.

Conselheiro-executivo do Museu do Índio do Rio de Janeiro.

Como escritor, se destaca na área da literatura infantil.

Membro da Academia de Letras de Lorena.

Recebeu diversos prêmios no Brasil e Exterior entre eles o Prêmio Jabuti, Prêmio da Academia Brasileira de Letras, o Prêmio Érico Vanucci Mendes (outorgado pelo CNPq); Prêmio Tolerância (outorgado pela UNESCO).

Muitos de seus livros receberam o selo Altamente Recomendável outorgado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).

Obras publicadas

A primeira estrela que vejo é a estrela do meu desejo e outras histórias indígenas de amor
Você lembra, pai?
Sabedoria das águas
Contos indígenas brasileiros
Parece que foi ontem
Outras tantas histórias indígenas de origem das coisas e do universo
A caveira-rolante, a mulher-lesma e outras histórias indígenas de assustar
O banquete dos deuses
A velha árvore
As peripécias do jabuti
As serpentes que roubaram a noite
Caçadores de aventuras
Catando piolhos contando histórias
Coisas de índio
Crônicas de São Paulo
O diário de Kaxi
Um estranho sonho de futuro
Os filhos do sangue do céu
Histórias de índio
Histórias que eu ouvi e gosto de contar
Histórias que eu vivi e gosto de contar
Kabá Darebü
Meu vô Apolinário
O homem que roubava horas
O olho bom do menino
O onça
O segredo da chuva
O sinal do pajé
O sumiço da noite
Parece que foi ontem
Sobre piolhos e outros afagos
Tempo de histórias
O sonho que não parecia sonho
Uma aventura na Amazônia

Fonte:
Wikipedia
Mundurukando

Alberto Bresciani (Livro de Poemas)


ACUSAÇÃO

Você me acusa
pelas sombras
que nos cobrem

Não tenho a quem culpar
Guardamos a chave
quando passou a vigésima quinta hora

e os deuses de que fala
nunca souberam de nós
Estamos abandonados

na última vez
na impossível desdobradura
E eu afirmo:

amanhã ainda seremos
somente os dois
o verbo coagulando no escuro.

HARMONIZAÇÃO

Demorasse a tua mão
um pouco mais
sobre o meu ombro

e me nasceriam asas

Em silêncio
logo o pressentimento
o pacto e o voo:

grades e escarpas
ruindo sob as pernas
cúmplices, entrelaçadas

as nossas.

REINVENÇÃO

Vertendo do branco:
eu, o anti-herói
preso a ganchos de ar
por sobre as fragas da razão

duras lâminas
que evisceram
a argamassa do corpo
a desbordar de mim

banal, rude, rala argila
não reluz. Só o que destila
por trás do que me é oculto
se esconde à vista

É grampo no avesso
— até a secreção
vir à voz, exposta
aos anjos e algozes

Então o instante que espero
quando me reinventam os dias
e as aves planam
sob o vulto explícito e sem sede

Gritem medos e mentiras
para o estômago do nunca
(o julgamento está surdo
e a tentação de não ser

para hoje
está morta
afogada).

POSSE

O ar é só pele:
teu corpo expira
das dobras do mapa

aquece os dedos
saliva doce na boca
as esferas do sal

A falta é tensão
teu vulto invasivo
conturbando o pulso

em pedras candentes
nas farpas da noite

O ventre esfria
e explode em tentáculos
da fluida água marinha

vertigem que plana e pesa
por sobre as vozes
os cortes do dia

— teu sempre
no fundo de mim.

METAMORFOSE

Era seu rosto
um campo de trigo
e manso se entregava
ao passeio da boca

Braços me protegiam
e enlaçavam
e devolviam ventos
que ninguém sentiu

Desdobrava-se
o seu consentimento
e sem proposições
uma supernova em mim

Talvez reencontrasse o destino
respirasse sem deformidades
talvez fosse apenas como voltar

E já não chovia
E era tão bom.

INVERSÃO

O esgotamento vem
do vazio
esse fundo
enredo de vozes
que uma só valem —

atrás dos nódulos do espanto
das folhas da súplica
e da sequência de sombras
sem volta,

a ilusão habita
a insônia
vergonha e ridículo
do homem parado
diante da pedra.

MIRAGEM

Somos ficção
Simulamos o invisível
e a imagem

no reflexo
do espelho — ali nada há
como nada somos

Onde encontrar
a verdade
ou a real essência

desses fantoches
de nós mesmos
se os mistérios

não estão em lugar
mas no que mais fundo
escondemos?

FILME

I

Ao mundo invisível
ao avesso do que é

onde fôssemos sólidos
no todo em transparência

que nos puxasse a planta mágica
retorno cauterizado para sempre

No ar eu sentiria
só o teu sentir meu corpo

um esquecimento cheio de ti
da pele de doces frutas

na boca o sumo e do mundo só
o teu corpo todo meu

como voar pelas voltas do pescoço
e dos ombros

volta ao torso e teus quadris
de volta sobre as pernas

agora nas minhas mãos
nos teus cabelos

II

Funda imersão
dessas que um filme

guarda caleidoscópico
sussurrado, ardente.

NUNCA

Um dia encontrei o nunca
preso ao teto
para onde nunca olhei

Tinha a aparência terrível
de uma gárgula
úmida de sangue

Mas sob os flagelos
era apenas
um pardal

tão sem pressa
desses que banais habitam
as árvores, a cegueira

Com voz serena e doce
disse que sendo nunca
era eterno, letra em todo nome

Soube quem era o nunca
e meu peito, arfando
pelo que não se esquece

aprendeu a respirar assim
um pouco menos
seca a parte que nunca mais.

PULO DO GATO

Recostado
à porta do tempo
esperava a transfiguração

a clareza nos olhos
voo, mergulho, fogo

(viria a revelação
troca de pele)

Mas terras e nomes
disseram flores e ainda
flechas e farsas

e a hora foi mais veloz
do que os sentidos

Perdi o momento de partir
o norte da migração

Agora
nas pausas da noite

fica o gosto pouco
de raízes

a tênue respiração
de pequenas asas

o desconhecimento
da vontade dos pés
e das mãos.

Fontes:
- Poemas enviados por Carlos Machado, de poesia.net.
- Alberto Bresciani. Incompleto Movimento. RJ: José Olympio, 2011.
- Antonio Miranda.

Alberto Bresciani (1961)


Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira (Rio de Janeiro, 4.7.1961) é ministro do Tribunal Superior do Trabalho. Ministro é o cargo. O trabalho é ser juiz, aliás, um trabalhão que o põe diante de milhares de processos e que, somado a uma severa autocrítica, não lhe deixa brechas para pensar em algum dia poder publicar poesias. E poesia para ele é uma das vias de salvação.

No entanto, Bresciani viveu mais de vinte anos anos sem a revelar, até ir para o TST e lá encontrar um grupo de juízas e juízes que a cultuavam. Juntos, passaram a pesquisar os poetas clássicos e os contemporâneos, chegaram à poesia portuguesa e fizeram amizade com nomes de expressão e talento, de lá e de cá – ele conta. Pois, quem vê cargo nem sempre vislumbra o ser humano, ou o poeta, sensível que se que se esconde sob a toga, afogado na responsabilidade que o trabalho austero lhe exige.

Um carioca há mais de duas décadas integrado às avenidas e superquadras brasilienses. Magistrado de profissão, Bresciani investe muito de suas horas livres na leitura de poesia. Conhece não apenas os clássicos, mas está sempre à escuta de novas vozes e mais recentes refinações da palavra.

Embora escreva e se sinta envolvido com a poesia há bastante tempo, Bresciani publicou seu livro de estreia, Incompleto Movimento, somente em 2011, quando completou 50 anos. Autor de poemas curtos e frases parcimoniosas, o poeta parece perseguir a essência do que pretende exprimir.

O que se encontra em Incompleto Movimento é uma poesia de perquirição do avesso das coisas. “Só o que destila / por trás do que me é oculto / se esconde à vista // É grampo no avesso / ― até a secreção” (Reinvenção). Para essa tarefa de levantar véus e tentar expor à luz o lado obscuro de nossos passos e vivências, o poeta se arma com a curiosidade e a obstinação de um microbiologista.

Essa observação minuciosa está em cada um dos poemas. Até mesmo num poema levemente erótico, percebe-se o silêncio e, num crescendo, “o pressentimento / o pacto e o voo” (Harmonização). É sempre a sutileza, o cisco, o grão de pó, a nota breve e leve, quase inaudível para ouvidos menos atentos e afinados.

Essa característica domina a maioria dos poemas enfeixados no livro de Bresciani. As indagações existenciais percorrem a mesma pauta, sempre em tom menor: “Somos ficção / Simulamos o invisível / e a imagem / no reflexo / do espelho”.

A poesia de Alberto Bresciani não é de leitura fácil nem de comunicação imediata. Exige certa disposição do leitor para debruçar-se sobre o texto. Os apressados, os que procuram extrair efeitos explosivos e imediatos, talvez se cansem antes de alcançar o nível das sutilezas.

Fontes:
Texto enviado por Carlos Machado in poesia.net. www.algumapoesia.com.br
Antonio Miranda.

Marcelino Freire (Muribeca)


Lixo? Lixo serve pra tudo. A gente encontra a mobília da casa, cadeira pra pôr uns pregos e ajeitar, sentar. Lixo pra poder ter sofá, costurado, cama, colchão. Até televisão. É a vida da gente o lixão. E por que é que agora querem tirar ele da gente? O que é que eu vou dizer pras crianças? Que não tem mais brinquedo? Que acabou o calçado? Que não tem mais história, livro, desenho? E o meu marido, o que vai fazer? Nada? Como ele vai viver sem as garrafas, sem as latas, sem as caixas? Vai perambular pela rua, roubar pra comer? E o que eu vou cozinhar agora? Onde vou procurar tomate, alho, cebola? Com que dinheiro vou fazer sopa, vou fazer caldo, vou inventar farofa? Fale, fale. Explique o que é que a gente vai fazer da vida? O que a gente vai fazer da vida? Não pense que é fácil. Nem remédio pra dor de cabeça eu tenho. Como vou me curar quando me der uma dor no estômago, uma coceira, uma caganeira? Vá, me fale, me diga, me aconselhe. Onde vou encontrar tanto remédio bom? E esparadrapo e band-aid e seringa? O povo do governo devia pensar três vezes antes de fazer isso com chefe de família. Vai ver que eles tão de olho nessa merda aqui. Nesse terreno. Vai ver que eles perderam alguma coisa. É. Se perderam, a gente acha. A gente cata. A gente encontra. Até bilhete de loteria, lembro, teve gente que achou. Vai ver que é isso, coisa da Caixa Econômica. Vai ver que é isso, descobriram que lixo dá lucro, que pode dar sorte, que é luxo, que lixo tem valor. Por exemplo, onde a gente vai morar, é? Onde a gente vai morar? Aqueles barracos, tudo ali em volta do lixão, quem é que vai levantar? Você, o governador? Não. Esse negócio de prometer casa que a gente não pode pagar é balela, é conversa pra boi morto. Eles jogam a gente é num esgoto. Pr'onde vão os coitados desses urubus? A cachorra, o cachorro? Isso tudo aqui é uma festa. Os meninos, as meninas naquele alvoroço, pulando em cima de arroz, feijão. Ajudando a escolher. A gente já conhece o que é bom de longe, só pela cara do caminhão. Tem uns que vêm direto de supermercado, açougue. Que dia na vida a gente vai conseguir carne tão barato? Bisteca, filé, chã-de-dentro - o moço tá servido? A moça?Os motoristas já conhecem a gente. Têm uns que até guardam com eles a melhor parte. É coisa muito boa, desperdiçada. Tanto povo que compra o que não gasta - roupa nova, véu, grinalda. Minha filha já vestiu um vestido de noiva, até a aliança a gente encontrou aqui, num corpo. É. Vem parar muito bicho morto. Muito homem, muito criminoso. A gente já tá acostumado. Até o camburão da polícia deixa seu lixo aqui, depositado. Balas, revólver 38. A gente não tem medo, moço. A gente é só ficar calado. Agora, o que deu na cabeça desse povo? A gente nunca deu trabalho. A gente não quer nada deles que não esteja aqui jogado, rasgado, atirado. A gente não quer outra coisa senão esse lixão pra viver. Esse lixão para morrer, ser enterrado. Pra criar os nossos filhos, ensinar o nosso ofício, dar de comer. Pra continuar na graça de Nosso Senhor Jesus Cristo. Não faltar brinquedo, comida, trabalho. Não, eles nunca vão tirar a gente deste lixão. Tenho fé em Deus, com a ajuda de Deus eles nunca vão tirar a gente deste lixo. Eles dizem que sim, que vão. Mas não acredito. Eles nunca vão conseguir tirar a gente deste paraíso.

Fonte:
FREIRE, Marcelino. Angu de Sangue. Ateliê Editorial, 2000.

Wagner Marques Lopes/MG (O PERDÃO em trovas), parte 1


1

- Ofendi-me... Estou magoado
e só penso em revidar!...
- Mantenha o Cristo ao seu lado
e saberá perdoar.

2

O perdão é tão-somente
o antídoto da loucura:
chuva boa, paciente,
rega a terra, o ar depura...

3

Negaceia a fera; rente...
Some a Lua, faz-se o escuro...
Quem traz ódio persistente
é caçador em apuros.

4

Ave jamais surpreendida
pelo ímpio caçador:
perdão é Ave da Vida,
dos altiplanos do amor.


Fonte:
Trovas enviadas pelo autor

Amosse Mucavele (Poesia: Uma Realidade Supra Sensível)


Amosse Mucavelle pertence ao Movimento Literário Khupaluxa, em Moçambique.
-------
A poesia é o sol da imaginação que ilumina o nosso mundo real; um sol que já há séculos vêm queimando o iceberg dos sentimentos do poeta vs leitor.

Mas este aquecimento da poesia, diga-se, Global, sente-se no árduo trabalho de limar a matéria-prima que fabrica o poema, e esta está ao alcance de todos seres viventes, vividos e ente-viventes.

António Carlos Cortez diz o seguinte: “ Ao fabricar um poema há ainda uma sensação de que a escrita se autonomiza, não para se tornar nossa por separação do autor, mas para se tornar um corpo orgânico que vive por si só”.

Cabe a nós leitores “atentos” da nossa realidade, seja ela tangível ou intangível, aperfeiçoar a técnica do saber: “ ver o que está à frente dos nossos olhos” pois “exige uma luta constante”

George Orwell subscreve a ideia da “luta constante” sem tréguas com a realidade que nos circunda; uma vez que a produção poética tem como seu paraíso um mar de águas profundas, onde a sensibilidade das geografias imaginárias e a insensibilidade das geometrias reais fazem o cerco ao mar que encarcera o poeta. E é neste cárcere que o poeta sente-se livre como um pássaro no chão do seu vertiginoso voo, onde antes da partida o mesmo acaricia os 4 ventos das grades que o prendem.

Dentro das grades o poeta cria uma pluralidade de espaços, de convívios, de interrogações, e afectos que desaguam na singularidade da poesia detentora de um “Estatuto Topológico (um lugar onde e donde) ” (COELHO, 1972. pag 299.)

“Um lugar onde” “a linguagem poética se fala e se escreve”( BLANCHOT,97,pag 47); ”um lugar donde” a imaginação resplandece e espalha-se no reino da realidade.

Segundo Leyla Perrone Moisés, “A poesia não pretende mais a primazia entre os discursos; assume-se como linguagem à parte não comunicativa, hermética, passando a ter um valor em si mesma, torna-se núcleo irradiador de sentidos infinitos, desafiando o leitor a dar prosseguimento ao acto criativo.” (2000,pag 27 in A inutil Poesia de Mallarmé)

ILUSÃO

O espelho não reflecte os medos que encharcam o meu silêncio. Muito menos as alegrias que degolam o meu sorriso.

As Vezes

O espelho mente a dizer verdades na inocência das incertezas que se amotinam na vista alegre das minhas angústias.

A tocar flautas. Ao som do triste olhar da lupa

A atirar pedras. Para os olhos que se olham a procura da verdade das certezas pintadas a vermelho dos semáforos.

Paragem! Miragem?

As 4 rodas roncam (a morte, a angústia, o silêncio, a memória) na abstracta estrada da ilusão, onde

Flores apodrecem no verão esburacado da objectiva da maquina fotográfica. Múltipla visão (ordem e caos, verdades e mentiras) de olhos bem abertos na fechadura da alma amedrontada pela doce aparição do labirinto.

As flores atravessam a primavera (que a muito clama por elas) com sapatos de neve (cuidado o Verão e eterno) chutam o silêncio que habita a escuridão. e lá lá e lá .

E lá do outro lado da margem, em pleno suar do inverno uma flor (esta) sem arvores nega de dar a voz as pedras.

Insiste. Persiste em aprender a ética da memória das flores que se escondem na estacão última do tempo (o sono) com amarguras de alegrias e angústias. Deitadas no prato hasteado nas lágrimas da bandeira do futuro.

E no presente? Vejo a minha face multiplicada por 2 no quadro dos olhos deste Deus da Carnificina chamado espelho.

Assim sendo este poema toma de forma subjectiva uma realidade tangível a poesia que se instala nos olhos do leitor faz nos crer que a mesma é feita de inutilidades que no decorrer da sua digressão nas mãos do leitor a tornam útil para humanidade.

É neste prisma que apraz me dizer o seguinte: escrever poesia é colher perigos no covil do leão, onde parte-se com o conhecimento de causa dos dois destinos predefinidos

1º Assumir esta “morte vil” viagem sem volta, internacionalizar as duvidas, e procurar o suicídio desta voz rizomatica no rugir do leão.

2º procurar (sobre) na eternidade desta perigosa realidade, e afirmar a coragem de que é possível plantar sonhos nas garras do leão.

Há aqui indubitavelmente no poema acima lido uma paixão, uma sensibilidade supra sensível, com as coisas que a priori do ponto vista de um cidadão comum não tem nenhuma missão neste universo, e este poema vem mais uma vez mostrar, dar a conhecer os sentimentos do silêncio, as lágrimas das pedras, os sonhos das flores, os labirintos da memória e o tropel que a morte provoca.

Por exemplo: quando uma pedra estatela-se na poltrona da sua arca e um homem a pisa ou a chuta e em seguida o mesmo fica a contorcer-se de dores, com a pedra acontece o contrário ela fica alegre pois conseguiu mostrar ao homem a sua grandeza, a sua capacidade de o fazer chorar, e a sua forca aglutinadora, consequentemente fê-lo ouvir a sua voz e dentro dela diz - eu sou capaz.

Estas coisas sem vida, mas com vida, convidam e transportam todas as musas para o infindável teorema da poesia. Um espaço impar onde a inutilidade das coisas e a utilidade dos sonhos reais procuram o aconchego para as suas vozes; vozes de medo, vozes de solidão, vozes de alegria cavalgam em constante mutação para o silencio onde de forma (in)consciente tomam de assalto a folha em branco:

As abelhas fabricam o seu zumbido ao anoitecer dos dias

E ao clarear da noite vendem a dor na matriz do mel amargo que as nossas bocas chupam

O zumbido das abelhas é multiritmico como a marrabenta.

Doce como os desenhos afiados da navalha em linhas horizontais que a cada tracejado a vida calha e a morte não falha.

Mais uma vez assistimos um dialogo entre o zumbido da abelha e a malevolência da navalha e assim sendo surge a seguinte questão:

Como é que estas duas vozes que falam silêncios podem apagar a ternura da folha em branco?

Cesariny responde –“ pela saturação duma personalidade a disparar em todas as direcções, e não só nos textos

Quando fala-se de todas as direcções refere-se a sensibilidade do poeta, a super realidade que vem de dentro (a transpiração) e a realidade que nos circunda (a inspiração).

Fonte:
Texto enviado pelo autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 549)

Crepúsculo na Lagoa do Camurupim - Caucaia/CE

Uma Trova de Ademar

Era um homem abastado
mas botou tudo a perder,
pois Deus mandou-lhe um recado
que ele mesmo, não quis ler!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


A morte com seu negrume
é por demais atrevida,
além de apagar o lume
desfaz o brilho da vida!!
–CARLOS AIRES/PE–

Uma Trova Potiguar


Como no amor me concentro,
só envelheço, em verdade,
por fora, porque por dentro
está viva a mocidade.
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Uma Trova Premiada


2008 - Nova Friburgo/PR
Tema: ESCOLHA - M/E


Quis conquistar teu carinho,
mas tu não quiseste o meu...
- Escolheste outro caminho...
e a solidão me escolheu...
–PEDRO MELLO/SP–

...E Suas Trovas Ficaram


Entre o orgulho e a solidão,
no meu mundo, hoje pequeno,
guardo um “sim” de prontidão,
esperando o teu aceno!
–ULYSSES CARVALHO JÚNIOR/RJ–

Uma Poesia


MOTE :
MORRE DE FOME OU DE SEDE,
NO INVERNO MORRE AFOGADO.


GLOSA :
Um velho homem numa rede,
sem comida e sem bebida,
no Nordeste é esta a vida,
morre de fome ou de sede,
Enroscado na parede,
de palha ou barro amassado,
como que desesperado,
molha os seus lábios com a língua.
Na seca ele morre à mingua,
no inverno morre afogado.
–BOB MOTA/RN–

Soneto do Dia

Reflexões
–AMILTON MACIEL MONTEIRO/SP–


Quando a emenda é bem pior do que o soneto,
esquecê-la é o melhor a se fazer...
E deixar que o enjeitado poemeto
curta a vida que sonha, a bel-prazer.

Se a banha não faz bem ao esqueleto,
deixe a glutonaria e o mais querer...
Que é bem melhor ser magro igual espeto,
mas cheio da alegria de viver!

Se a busca por riqueza é o que atrapalha
curtir sua família, enquanto pode
não faça desse amor, fogo de palha!

Dê mais valor também às amizades..
se tempo lhe faltar, não se incomode,
pois o melhor de tudo... é ter saudades!

Nota: Queridos poetas e amigos, neste link abaixo o meu irmãozinho e poeta Gilberto Cardoso, colocou algumas entrevistas minhas e algumas pequenas participações na “98 Fm” com meu amigo Riva Junior (Raposa do Nordeste)
http://apoesc.blogspot.com.br/2012/05/viver-de-poesia-ademar-macedo.html