quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Fernanda de Castro (Caderno de Poemas)



“Testamento”

Sem lápides, sem chumbo, sem jazigo;
 caixão de tábuas, derradeira casa,
 onde repousarei, frágil abrigo,
 até me libertar num golpe de asa.

Então, quando estiver a sós comigo,
 que ninguém chore porque o choro atrasa,
 mas que alguém, se quiser, num gesto amigo,
 ponha roseiras sobre a campa rasa.

Será medo o que sinto? Não é medo.
 Serei, não serei digna do Segredo?
 Ah, meu Deus, para lá das nebulosas,

Mereça ou não a expiação, a dor,
 entrego-Te a minha alma sem temor.
 O que resta, o que sobrar, é para as rosas.

“Ah, que bela manhã de Primavera”

Ah, que bela manhã de Primavera!
 Abram ao sol as portas, as janelas!
 Cheira a café com leite, a sabonete,
 a goivos, a sol novo, a vida nova!

A Rua canta!… sinos e pregões,
 apitos e buzinas, vozes claras.
 –”Gostas de mim?” — “Gosto de ti” — e o céu
 cobre a Cidade com seu manto azul.

Ah, que bela manhã de Primavera!

Pousam no Tejo barcos e gaivotas,
 com velas novas, belas asas novas.
 Os eléctricos voam, transbordantes,
 a tilintar, a rir nas campainhas,
 e os automóveis, como borboletas,
 circulam, tontos, nas ruas sonoras.

Ah, que bela manhã de primavera!

No Tejo, os vaporzinhos de Cacilhas
 brincam aos barcos grandes, às viagens,
 e o pequeno comboio vai e vem,
 como um brinquedo de menino rico.
 Confundem-se nas árvores, ao sol,
 folhas e asas, pássaros e flores.
 É festa em cada rua. Em cada casa,
 um canário a cantar, uma cortina,
 um craveiro florido na janela.

Despejaram-se armários e gavetas,
 frasquinhos de perfume…Toda a gente
 foi para a rua de vestido novo,
 de fato novo, de gravata nova,
 e tudo canta, a Rua é uma canção.

Ah, que bela manhã de Primavera!

–”Gostas de mim?” — é o tema da canção.
 –”Gostas de mim?” — pergunta-lhe ele a ela.
 –”Gostas de mim?” — pergunta à flor o vento
 e a flor ao rouxinol… — “Gostas de mim?”
 –”Gostas de mim?”, “Gostas de mim?”
 Cheira a goivos, a sol, a vida nova…

Ah, que bela manhã de Primavera!

“A Pedra”

Deus fez a pedra rude, a pedra forte,
 e depois destinou: -Serás eterna.
 Mostrarás a altivez de quem governa,
 Não ousará tocar-te a própria morte.

E a pedra julgou linda a sua sorte.
 Foi palácio, foi templo, foi caverna,
 foi estátua, foi muralha, foi cisterna,
 viveu sem coração, sem fé, sem norte.

Mas viu morrer o infante, o monge, a fera,
 o herói, o artista, a flor, a fonte, a hera,
 e humildemente quis também morrer.

Não grita, não se queixa, não murmura,
 guarda a mesma aparência hostil e dura
 mas sofre o mal de não poder sofrer.

“Asa no espaço”

Asa no espaço, vai, pensamento!
 Na noite azul, minha alma, flutua!
 Quero voar nos braços do vento,
 quero vogar nos braços da Lua!

Vai, minha alma, branco veleiro,
 vai sem destino, a bússola tonta…
 Por oceanos de nevoeiro
 corre o impossível, de ponta a ponta.

Quebra a gaiola, pássaro louco!
 Não mais fronteiras, foge de mim,
 que a terra é curta, que o mar é pouco,
 que tudo é perto, princípio e fim.

Castelos fluidos, jardins de espuma,
 ilhas de gelo, névoas, cristais,
 palácios de ondas, terras de bruma, …
 Asa, mais alto, mais alto, mais!

“Amar”

O segredo é Amar… Amar a Vida
 Com tudo o que há de bom e mau em nós.
 Amar a hora breve e apetecida,
 Ouvir todos os sons em cada voz
 E ver todos os céus em cada olhar..

Amar por mil razões e sem razão…
 Amar, só por amar,
 Com os nervos, o sangue, o coração…
 Viver em cada instante a eternidade
 E ver, na própria sombra, claridade.

O segredo é amar mas amar com prazer,
 Sem limites, sem linha de horizonte…
 Amar a Vida, a Morte, o Amor!
 Beber em cada fonte,
 Florir em cada flor,
 Nascer em cada ninho,
 Sorver a terra inteira como um vinho…

Amar o ramo em flor que há-de nascer
 De cada obscura e tímida raiz…
 Amar em cada pedra, em cada ser,
 S. Francisco de Assis…

Amar o tronco velho, a folha verde,
 Amar cada alegria, cada mágoa,
 Pois um beijo de amor jamais se perde
 E cedo refloresce em pão, em água!

Fonte:

Fernanda de Castro (1900 – 1994)



Maria Fernanda Teles de Castro e Quadros Ferro (Lisboa, 8 de Dezembro de 1900 – 19 de Dezembro de 1994), foi uma escritora portuguesa.

Fernanda de Castro, filha de João Filipe das Dores de Quadros (oficial da marinha) e de Ana Laura Codina Telles de Castro da Silva, fez os seus estudos em Portimão, Figueira da Foz e Lisboa, tendo casado em 1922 com António Joaquim Tavares Ferro. Deste casamento nasceu António Gabriel de Quadros Ferro que se distinguiu como filósofo e ensaísta e Fernando Manuel Teles de Castro e Quadros Tavares Ferro. A sua neta, Rita Ferro também se distinguiu como escritora.

Foi juntamente com o marido e outros, fundadora da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses, actualmente designada por Sociedade Portuguesa de Autores.

O escritor David Mourão-Ferreira, durante as comemorações dos cinquenta anos de actividade literária de Fernanda de Castro disse: “Ela foi a primeira, neste país de musas sorumbáticas e de poetas tristes, a demonstrar que o riso e a alegria também são formas de inspiração, que uma gargalhada pode estalar no tecido de um poema, que o Sol ao meio-dia, olhado de frente, não é um motivo menos nobre do que a Lua à meia-noite”.

Parte da vida de Fernanda de Castro, foi dedicada à infância, tendo sido a fundadora da Associação Nacional de Parques Infantis, associação na qual teve o cargo de presidente.

Como escritora, dedicou-se à tradução de peças de teatro, a escrever poesia, romances, ficção e teatro. Escreveu o argumento do filme Rapsódia Portuguesa (1959), realizado por João Mendes, documentário que esteve em competição oficial no Festival de Cannes.Índice  

Prémios

Prémio do Teatro Nacional D.Maria II – (1920) com a peça “Náufragos”.
Prémio Ricardo Malheiros – (1945) com o romance “Maria da Lua”, foi a primeira mulher a obter este prémio da Academia das Ciências.
Prémio Nacional de Poesia – (1969).

Obras

Náufragos (1920) (teatro)
Maria da Lua (1945) (romance)
Antemanhã (1919) (poesia)
Náufragos e Fim da Memória (poesia)
O Veneno do Sol e Sorte (1928) (ficção)
As aventuras de Mariazinha (literatura infantil)
Mariazinha em África (1926) (literatura infantil) (fruto da passagem da escritora pela Guiné Portuguesa)
A Princesa dos Sete Castelos (1935) (literatura infantil)
As Novas Aventuras de Mariazinha (1935) (literatura infantil)
Asa no Espaço (1955) (poesia)
Poesia I e II (1969) (poesia)
Urgente (1989) (poesia)
Fontebela (1973)
Ao Fim da Memória “(Memórias 1906 – 1939)" (1986)
Pedra no Lago (teatro)
Exílio (1952)
África Raiz (1966).
Tudo É Príncípio
Os Cães não Mordem
Jardim (1928)
A Pedra no Lago (1943)
Asa no Espaço (poesia)

Fonte:

António Torrado (A Gota com Sede)


Ilustração: Cristina Malaquias

(Da Seleção de Contos Infantis)

Era uma vez uma gota cheia de sede. Não faz sentido, mas acreditem que assim era.

Esta gota de água queria matar a sede a alguém que tivesse muita sede. Desejo grande, desejo único que a arredondava mais e mais, e a enchia de fé como um coração palpitante. Mas não havia meio. 

Cavalgando uma nuvem, correu o deserto, à cata de um viajante sequioso. Não encontrou nenhum.

Depois, percorreu, por cima dos mares, as ondas revoltas dos oceanos. Talvez um náufrago de boca salgada precisasse dela e da sua ajuda doce. Assim que o visse, ela caía lá do alto e poisava nos lábios do náufrago como uma última bênção. Mas não encontrou nenhum.

Queria ser útil. Não conseguia.

Até que a nuvem em que vinha, de carregada que estava, não podendo mais, se desfez em chuva. Ela precipitou-se para a terra, no meio das outras.

– Vou lavar as pedras da calçada – dizia uma.

– Vou mergulhar até à raiz de uma planta e dar-lhe vida – dizia outra.

– Vou acrescentar água a um rio quase seco. Vou ajudar uma azenha a trabalhar. Vou alimentar uma barragem. Vou empurrar um barco encalhado.

Isto diziam várias gotas, todas generosas, enquanto caíam.

Se cada uma cumpriu ou não o seu destino, não sabemos, porque nesta história só nos ocupamos da gota com sede de matar a sede.

Caiu na copa de uma árvore e foi escorrendo de ramo em ramo, pling, pling, pling, como uma lágrima feliz.

Até que chegou a uma folha, mesmo por cima de um ninho. Caio? Não caio? Deixou-se ficar, a ver no que dava. 

A casca de um ovo estalou e um passarinho rompeu, aflito, lá de dentro, de bico aberto, num grito mudo.

– Caio – decidiu a gota.

Soltou-se da folha para a garganta aberta do passarinho, que a engoliu e, logo em seguida, piou, agradecido.

Foi o passarinho, tempos depois, que me contou esta história.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 721)



Uma Trova de Ademar  

Com o dom que Deus lhe envia, 
no riso o palhaço aflora 
um semblante de alegria... 
Que ele só sente por fora! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Com pincel remanescente
que a saudade me legou,
pinto a vida, sem presente,
que o passado me roubou. 
–Dáguima Verônica/MG– 

Uma Trova Potiguar  

Procurei felicidade 
por este mundo sem fim, 
sem saber que, na verdade, 
estava dentro de mim! 
–Eva Yanni Garcia/RN– 

Uma Trova Premiada  

2004   -   Nova Friburgo/RJ 
Tema   -   ERRO   -   2º Lugar 

Este amor, mal necessário,
que a insensatez fez surgir,
é o erro mais arbitrário
que eu não quero corrigir! 
–Elisabeth Souza Cruz/RJ– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Há caprichos diferentes 
em certas cartas lacradas: 
são os gritos contundentes 
das reticências caladas... 
–Helvécio Barros/RN– 

U m a P o e s i a  

Em todos os meus momentos, 
vou louvar até o fim 
tudo o que a Trova me deu 
e o porquê de agir assim 
é saber que a Trova fez 
um homem melhor de mim! 
–Arlindo Tadeu Hagen/MG– 

Soneto do Dia  

AMOR CIGANO. 
–Sônia Sobreira/RJ– 

Na imensidão de um céu azul, sereno, 
onde o luar rebrilha soberano, 
o vento leve corre doce, ameno, 
nas belas noites de um amor cigano. 

E no mistério de um fugaz aceno, 
ouve-se a voz vibrante de um gitano 
que, a sorrir, em leve tom verbeno, 
canta o prelúdio de um amor cigano. 

É a magia de um momento lindo! 
Onde as estrelas lá no céu infindo, 
unem as almas sem nenhum engano. 

E entrelaçados ao sabor do vento, 
vivem o encanto de mais um momento 
nos belos sonhos de um amor cigano. 

António Torrado (A Ferradura)


Ilustração: Cristina Malaquias

(da Seleção de Contos Infantis)

Era uma vez uma velha ferradura.

Um senhor encontrou-a, levantou-a do chão e meteu-a no bolso do sobretudo.

– É para dar sorte – disse o senhor de si para si, muito convencido do que dizia.

Quando chegou a casa e a mulher foi pendurar o sobretudo no cabide é que foram elas.

– Tens o sobretudo tão pesado, homem - intrigou-se ela.

O senhor explicou o porquê:

– É para dar sorte.

– Se dá sorte, não sei – repontou a ela. – O que sei é que o peso da ferradura rompeu o bolso do sobretudo. Tirá-la de dentro do forro vai ser o cabo dos trabalhos.

O senhor, pacientemente, recuperou a ferradura do sobretudo, que foi para coser, e pendurou-a num prego atrás da porta.

– É para dar sorte.

No dia seguinte, ia ele a entrar em casa com a mulher, e a porta não se abriu. Porque seria, porque não seria…

Tiveram de entrar em casa, a muito custo, por uma janela.

A ferradura tinha caído e entalara-se em cunha na porta, impedindo-a de abrir-se.

– Estou a ver que a ferradura só dá trabalhos – comentou a mulher.

O senhor não ligou e foi meter a ferradura numa gaveta:

– É para dar sorte.

Passado tempo, a mulher veio mostrar-lhe umas camisas todas manchadas:

– Puseste a maldita da ferradura na gaveta, encheu-se de ferrugem e deu cabo destas camisas. As melhores que tinhas…

Então o senhor aborreceu-se. Estava desiludido com a ferradura que só o metera em trabalhos.

– Vou desfazer-me do raio da ferradura. Para dar sorte… – e atirou-a pela janela.

Por pouca sorte, a ferradura foi bater no capot de um automóvel que ia a passar. Pior seria se tivesse acertado em alguma cabeça. Mesmo assim amolgou o automóvel. Veio o automobilista pedir explicações:

– Quem é a besta que anda a atirar os sapatos para o meio da rua?

O senhor, que achara a ferradura, teve de pedir muitas desculpas e pagar uma indemnização, para que o caso ficasse por ali. E para que a história acabasse aqui.

Silvia Araújo Motta (A Flor na Trova) Parte 5


131-É vermelha, a CELOSIA,
 chamada crista PLUMOSA.
 Veio lá da Índia e da Ásia,
 gosta da terra arenosa.

132-Folha oval a CINERÁRIA
 com muitos cachos de flores,
 tem beleza extraordinária,
 nos jardins são multicores.

133-Atraindo os beija-flores,
 chamadas BANANEIRINHAS,
HELICÔNIAS, dos amantes,
 vivem sempre agarradinhas.

134-A GAZÂNIA é cultivada
 no continente Africano,
 mas cresce sempre isolada
 e floresce durante o ano.

135-Porte perene há na GÉRBERA
 que exige poucos cuidados;
 gosta de estar em touceira,
 representa os bem-amados.

136-A GLOXÍNIA avermelhada
 ninho da praga pulgão,
 precisa ser bem cuidada
 na primavera e verão.

137-É planta tipo palmeira
IXORA, amiga de abelhas,
 pequeninas, dos chineses,
 são laranja ou vermelhas.

138-Reprodução espontânea,
SEM-VERGONHA é esta florzinha
 família balsaminácea,
 nasce à toa, a MARIAZINHA.

139-LANTANA oferta carinhos,
 floresce perseverança,
 dá frutos aos passarinhos
 e simboliza esperança.

140-(a)Florescem o ano inteiro
 e são nativas da Índia
LANTANAS têm pouco cheiro
 principalmente no dia.

141-ESTRELÍCIA, em todo lado,
 é herbácea, exótica. Queira
 mostrar gosto refinado
 buscando-a em zona costeira.

142-VIOLETA viaja o mundo
 tem folhagem aveludada,
 revela o Amor profundo
 da mulher noiva ou casada.

143-AZALÉA, flor do Oriente
 faz declaração de Amor.
 Quanto ao clima é persistente,
 bem resistente ao calor.

144-Greta Garbo, sem vaidades,
 foi CAMÉLIA universal
 mas a planta ornamental
 tem dez mil variedades.

145-Tal qual o perfume que esvai
 de uma GARDÊNIA a secar,
 no adeus, vejo o pai que vai
 na Casa do Além morar.

146-VERBENA do amor eterno,
 cura a tristeza ferida,
 é bálsamo sempiterno
 tem o perfume da vida.

Fonte:
Silvia Araújo Motta . A flor na trova. Editora: AVBL, www.avbl.com.br. Ebooknet - Bibliotecas Virtuais. www.ebooknet.com.br, 2006

José de Alencar (Ao Correr da Pena) 26 de novembro. O Fim do Ano e as Despedidas


O tempo corre, passam-se os dias, e o ano vai rapidamente chegando a seu termo; mais algumas semanas e ele cairá na eternidade como um grão de areia na ampulheta das horas.

A comparação não tem nada de novo, é muito antiga; mas por isso mesmo acho-a excelente para um ano velho e caduco, que está tão próximo a deixar-nos, que os historiadores já se preparam para disseca-lo e fazer-lhe autópsia.

Assim, esse pouco tempo que nos resta é consagrado ao adeus e às despedidas. Tudo se despede, e os dias vão correndo de despedida em despedida até que chegue o momento de dizermos a este ano, como se diz no Barbeiro de Sevilha ao massante D. Basílio: Buona sera, mio signor.

A primeira despedida foi a do Cassino na segunda-feira. Pela última vez o baile aristocrático abriu os seus salões aos convidados. Para o não – se é exato o que nos prometem – em lugar desta casa antiga e desses repartimentos acanhados, veremos elevar-se nesse mesmo lugar algum palácio de fadas, que nos dará uma vez por mês, e sem ser preciso irmos ao Oriente, uma cópia  fiel das Mil e uma noites.

Talvez isto faça reviver os belos tempos do Cassino, quando reunia nos seus salões a fina flor da sociedade desta corte. É verdade que então não se tinha ainda introduzido a moda elegante das moças não gostarem de baile, provavelmente porque isto é um prazer comum, e ordinariamente têm quase todas as meninas aos dezoito anos.

Uma mocinha do tom – que se quer distinguir – deve aborrecer o baile, e gostar de alguma coisa que não seja trivial, como, por exemplo, de rezar, de ler anúncios, e sobretudo conversar com os diplomatas sobre questões de alta política internacional.

Por isso, naquele tempo o salão do Cassino foi uma espécie de palácio encantado, que a fada do prazer e da alegria criava por uma noite com um toque de sua varinha mágica; não era a todos que se revelava as palavras mágicas que serviam de chave à porta misteriosa desse recinto: Abre-te, Sésamo!

Apesar disto, porém, o último baile não esteve como era de esperar, à vista dos outros que houve este ano. Assim devia ser: era um baile de despedida, e os antigos freqüentadores não podiam deixar de sentir o desejo de dizer um último adeus a estas salas, a estas paredes, que foram testemunhas de tantos momentos deliciosos, cuja lembrança ainda o tempo apagou.

Outros, que ainda não têm tão remotas reminiscências, despediam-se da sociedade brilhante que se achava reunida aquela noite, e que daqui a alguns dias se irá dispersando como as folhas de uma árvore, que voam à discrição e aos dos ventos.

A força do verão já se vai fazendo sentir; e aqueles que não estão presos a vida da cidade estão já tratando de fugir desse clima ardente, e de procurar algures um refrigério aos calores da estação.

Petrópolis – a alva e graciosa Petrópolis, com suas brumas matinais, com suas casinhas alemãs, com seus jardins, seus canais, suas ruas agrestes – lá nos envia de longe um amável convite aos seus passeios poéticos, à vida folgazã que se passa nos seus hotéis, à missa dos domingos na capelinha da freguesia, e a tantos outros passatempos campestres, que se gozam durante esses dias em que aí vivemos como aves de arribação, prontas a bater as asas ao primeiro sorriso da primavera.

Quanta cabecinha loura ou morena já não se está recordando do verão passado e refazendo na mente os gozos desses dias alegres e descuidosos! Quanta imaginação não começou já a fazer esta pitoresca viagem, e não vai singrando pelas águas límpidas e azuis da nossa linda baía, a contemplar o formoso panorama que desenham as ribeiras do mar sobre a areia da praia e os recortes das montanhas nas fímbrias escarlates do horizonte!

Além de Petrópolis, muito ale, lá estão as serras, as matas ainda virgens, as florestas sombrias de nossa terra, as árvores seculares, os lagos, e as correntes d’água que atravessam os lagos e as planícies.

Aí se eleva a espaços pelas abas das montanhas, ou pelas margens de algum rio, a fazenda do agricultor, onde se vive a verdadeira vida do campo, onde as horas correm isentas de cuidados e de tribulações, no doce remanso de uma existência simples e tranqüila.

Como Petrópolis, como a Tijuca, como todos os arrabaldes da cidade, a serra também nos vai roubar uma a uma as mais belas flores da nossa cidade, as mais preciosas jóias dos nossos salões, as mais lindas estrelas do nosso céu. Uma bela noite, quando levantardes os olhos, tereis de vê-las deslizarem-se no horizonte, como esses astros de que fala Virgílio, deixando apenas nas trevas um longo rasto de luz:

Stellas
Praecipites coelo labi, noctisque per umbram
Flammarum longos a tergo albescere tractus.

No outro dia, quando procurardes por elas, terão completamente desaparecido. Irão caminho de mar ou de terra, buscar longe da cidade os ares puros que dão vida e saúde, que fazem voltar às faces empalidecidas, as cores frescas e rosadas.

Quanto a vós, que ficais curtindo as mágoas da ausência, consolai-vos com essa idéia; e, se durante a ausência encontrardes por acaso nalgum passeio pelos jardins uma linda florzinha azul, que os jardineiros chamam miosótis, e a que os alemães deram um nome de vergiss mein nicht, fazei, como Alfredo de Musset, alguma bela poesia à saudade, e mandai-ma, que eu a publicarei nas Páginas Menores.

Se isto ainda não vos consolar de todo, lede as notícias da guerra do Oriente, que cada vez se vão tornando mais interessantes. O último vapor trouxe-nos a notícia de que em honra de Saint-Arnaud se tinha levantado em Constantinopla uma cruz – a primeira depois de quatrocentos anos. Ora, se é exato que o diabo foge da cruz, como diz um rifão português, é de crer que a esta hora toda caterva de turcos, principiando pelo sultão, tenham abandonado a formosa Estambul.

Quanto à tomada de Sebastopol, não se realizou ainda; mas pelo vapor seguinte teremos por aí infalivelmente esta portentosa notícia, que, a falar a verdade, já vai se parecendo alguma coisa com os anúncios do nosso Teatro Provisório.

De manhã os jornais avisam aos leitores que à noite haverá espetáculo lírico; à tarde aparece uma moléstia qualquer, e o espetáculo fica transferido para o dia seguinte. Novo anúncio de manhã, nova transferência de tarde.

Ora, isto não tem senão uma explicação, e é que os diretores entenderam que, sendo o teatro provisório, apesar do batismo, precisavam de vez em quando, principalmente neste tempos de chuva, publicar um anúncio para fazer constar que o edifício ainda existe, e não veio à terra.

Cumpre, porém, advertir que com isto não me refiro à transferência e ontem, a qual teve um motivo justo. Com aquele tufão que desabou sobre a cidade, arrancando árvores e fazendo estragos, qual seria o dilettante capaz de deixar o seu teto hospitaleiro para arrostar um tempo tão desabrido?

É verdade que a esta mesma hora, quando as rajadas do vento caíam mais forte e com mais violência, alguns atravessavam as ruas da cidade, e a um  e um se iam reunir na sala das sessões do Instituto Histórico. Pouco depois chegou Sua Majestade, e a sessão se abriu com sete membros.

Se eu não tivesse lido há tempos que Metternich, ou não sei que outro diplomata, havia dito que a pontualidade é a política dos reis, quando de hoje em diante me sucedesse ouvir semelhante palavra, seria capaz de apostar que tinha sido lembrança de algum dos sete membros do Instituto, que, para fazer honra ao tempo, se entretiveram com a leitura de um trabalho sobre terremotos.

Achava-me muito disposto a terminar aqui, mas lembro-me que estou na obrigação de afirmar aos meus leitores que este artigo é escrito por mim mesmo, e não por um pseudônimo que me descobriram, e que se acha arvorado em redator de um periódico intitulado – O Brasil Ilustrado.

Quando a princípio me contaram semelhante coisa, quando me disseram que eu ia redigir um novo periódico literário, duvidei; porém o fato é exato, e, o que mais é lá se acha a assinatura de um dos nossos literatos, o Sr. Porto alegre, que afirmou não ter assinado semelhante coisa.

Ora o Brasil, sendo tão ilustrado como se intitula, não pode ignorar certa disposição do Código Criminal que fala de assinaturas fingidas; por conseguinte, não há dúvida que os homens que se acham assinados naquela lista a que me refiro são nossos homônimos, os quais até hoje eram completamente desconhecidos.

Em tudo isto, pois, só temos a lamentar uma coisa, e é que o novo tão ignorados e obscuros, deixando de parte os verdadeiros Otavianos, Porto Alegres e Torres Homens.

Fonte:
José de Alencar. Ao Correr da Pena. SP: Martins Fontes, 2004.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Cecilia Meireles (Aqui Está Minha Vida)


Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 720)



Uma Trova de Ademar  

Depois do beijo, um aceno, 
e, sofrendo em demasia, 
bebo doses de um veneno 
que a sua ausência me envia. 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Fitando o manto estrelado, 
fica fácil compreender, 
a pequenez de meu fado 
perante o Divino Ser. 
–Luiz Antonio Cardoso/SP– 

Uma Trova Potiguar  

A força do sertanejo 
é feita de sofrimento. 
Chega o tempo, eu antevejo, 
de resgatar seu talento. 
–Gonzaga da Silva/RN– 

Uma Trova Premiada  

2011   -   Ribeirão Preto/SP 
Tema   -   VÍCIO   -   4º Lugar 

Ser dotado de Razão,
Um homem adulto sabe:
-não há virtude em vão;
-nem vício que não se acabe!
–Selma Patti Spinelli/SP–

...E Suas Trovas Ficaram  

Louco artista é o Trovador
que o sofrimento renova
quando exibe a própria dor
no palco de sua trova.
–Alonso Rocha/PA– 

U m a P o e s i a  

Uma rolinha "ariada"
Bate no oitão e morre
Uma vaca magra corre
Por um cachorro acuada
Um peba numa baixada
Cava um buraco e se enterra
Um agricultor encerra
As fadigas do roçado.
Parece um quadro pintado
Das tardes de minha terra.
–Brás Ivan/PE– 

Soneto do Dia  

A SOLIDÃO. 
–Gabriel Bicalho/MG–

Trago comigo, neste corpo lasso,
as marcas do que fui, meu desatino.
Se tive uma mulher em cada braço,
não tive o grande amor do meu destino.

A solidão me sobe, passo a passo,
quando subo as ladeiras do Divino
e pesa mais que fardo este cansaço,
como dobres de morte em cada sino.

Ai!, quem me dera, nesta noite fria,
qual vate ilustre que também vadia,
revê-la agora como outrora a vi!

Tamborilava os dedos na agonia
de quem morre um pouquinho todo dia,
compondo os versos que não lhe escrevi!

Silvia Araújo Motta (A Flor na Trova) Parte 4


91-Toda flor de SABUGUEIRO
 para a erisipela é usada
 qualquer índio curandeiro
 mostra a ferida curada.

92-É tão triste a QUARESMEIRA
 pois, ao pé da cruz nasceu.
 E pela dor verdadeira
 lá no Calvário cresceu.

93-Para a face refrescar,
 ponha ROSAS perfumadas
 no leite para gelar...
 use as pétalas molhadas.

94-Ao militar corajoso
CALÊNDULA se oferece.
 Monsenhor ROXO é perigoso
 e a ninguém você oferece.

95-Planta bem policromada,
 qualquer cor nela é amena.
 Fica sempre admirada
 quem recebe uma DRACENA.

96-Persistência no desejo,
 deus Dionísio a elegeu
 e aproveitando o ensejo,
 pôs sua HERA no apogeu.

97-Simbolizando a eloqüência
 a flor LOTO no oriente,
 é equívoco na vivência,
 mas no Egito, é flor nascente.

98-BUXO, no ciclo da vida
 traduz a perseverança.
 Pequena flor preferida
 de Afrodite, com Esperança.

99-Lindo BRINCO-DE-PRINCESA
 és flor da graça e elegância.
 Símboliza a gentileza,
 és FÚCSIA - sem fragrância.

100-Honra, vergonha, riqueza,
 flor dileta de Morfeu,
 lá na China, com certeza,
 é PEÔNIA o nome seu.

101-Flor de AMÊNDOA é a esperança,
 desde o inverno à primavera...
 Traz com o anjo da bonança,
 segredos da nova era.

102-A SÁLVIA é uma linda flor
 de utilidades afins,
 como chá...é saborosa
 é a médica dos jardins.

103-PRIMAVERA é também flor,
 família da buganvilia,
 é da juventude o amor
 nos cachos mostra a alegria.

104-Símbolo do professor
 é a RESEDÁ - paciência
 pela vocação de amor,
 floração de competência.

105-Se os Jasmins lembram a Espanha,
 e os Girassóis vêm da Hungria...
 revelação de artimanha:
 traz VERBENAS de alegria.

106-As VIOLETAS lembram Parma
 JUNQUILHOS, a covardia,
 timidez, mesmo sem arma,
 tira o sol de cada dia.

107-MALVA é o símbolo do médico
 que, por seu perfume, acalma,
 se estiver doente, indico:
 só uma folha basta à alma.

108-Linda IPOMÉIA VERMELHA
 na amizade dá seu laço;
 à corrente se assemelha,
 pois simboliza o abraço.

109-ROSA BRANCA, ó flor divina,
 és símbolo da pureza,
 da virtude peregrina
 do bom Deus - a realeza.

110-ROSA AMARELA suspeita
 traição e infidelidade,
 ciúme que não respeita,
 faltando sinceridade.

111-Na decoração campestre
 desde a Idade Média, o ACANTO.
 tem arte, a folha silvestre,
 crescimento, vida e encanto.

112-É de origem mexicana
 a ADÁLIA da dignidade.
 Na elegância não engana
 apesar da variedade.

113-Na Holanda, a TULIPA um dia,
 ganhou fama retumbante,
 mas, nativa da Turquia
 tem a forma de um turbante.

114-Amor tão puro, inocente
 só mesmo o CRAVO traduz
 na lapela...quem não sente,
 a força que ele conduz?

115-No Egito das tradições
ALECRIM tem flor azul.
 Da Virgem, recordações
 das flores, no manto azul.

116-Nos campos o AMOR-PERFEITO
 desperta mil pensamentos,
 no amor que não tem defeito,
 dono dos meus sentimentos.

117-O LÍRIO é depois da rosa
 preferido pelo artista.
 É flor de vida amorosa,
 em casamento altruísta.

118-Na frieza de uma HORTÊNCIA
 vejo a pessoa golpista
 que é educada na aparência
 mas um fingido e egoísta.

119-Atributo de Maria
 da graça e amabilidade,
 o JASMIM traz alegria:
 -Tem graça e simplicidade.

120-Um suflê bem diferente
 contém na VIOLETA, a essência.
 Coma delicadamente,
 doce e assado, com paciência.

121-ÁLAMO, ramagem e flor
 é verde à luz da lua...
 Negro é de grande valor,
 esconde a saudade tua...

122-A MURTA é amor, nascimento
 de flores brancas somente,
 é a deusa do encantamento
 que os gregos têm a semente.

123-Pureza de coração,
NENUFAR é encantadora,
 resistiu a tentação
 é uma flor bem sedutora.

124-A ALCACHOFRA é flor famosa
 pela cor extraordinária.
 Bem cozida é apetitosa
 rainha, na culinária.

125-ALAMANDAS são usadas
 nos muros, é trepadeira.
 Tem flores amareladas
 é uma flor bem brasileira.

126-Da Colômbia, esta flor cresce
 nos vasos, em clima quente.
ANTÚRIO, em sombra, floresce,
 vermelho, de amor ardente.

127-BEGÔNIA é de folha oval,
 flores vermelhas ou rosas,
 herbácea e o solo ideal,
 arenoso, mas às sombras.

128-BEIJO gosta do verão.
 Dos Mares do Sul, chegou.
 Dos ventos quer proteção.
 Pequeno porte encantou.

129-Em vasos é cultivada!
 água, uma vez por semana.
 à sombra e bem cuidada.
BROMÉLIA, sul-americana.

130-A Flor que a fortuna atrai
CALANCHOE de hastes florais,
 quem a tem, jura não cai
 em dívidas nunca mais...

Fonte:
Silvia Araújo Motta . A flor na trova. Editora: AVBL, www.avbl.com.br. Ebooknet - Bibliotecas Virtuais. www.ebooknet.com.br, 2006

Centro de Letras do Paraná (Centenário e Programação)


OS FESTEJOS DO CENTENÁRIO DO CENÁCULO

Divulgue a nossa Cultura, 
que o verso e a prosa nos dá, 
alçando a literatura 
e as Letras do Paraná. 

Nei Garcez 
Academia Paranaense da Poesia 
UBT-Curitiba/Paraná/Brasil

Muito nos ufana vivenciar o “Centenário do Centro de Letras do Paraná”, modelar e tradicional entidade cultural que congrega o que há de melhor no seio da intelectualidade de nossa terra.

Volvendo no tempo, deparamos com o 19 de dezembro de 1912, quando um grupo de idealistas, sessenta e cinco ao todo, inclusive quatro damas, reuniu-se no Salão de Honra do Diário da Tarde, Euclides Bandeira à frente, criando o Sodalício.

Dez anos depois, o mesmo Euclides assim justificava o acontecimento, verbis: “A ideia básica do Centro de Letras do Paraná consistia, em suma, na organização de uma biblioteca paranaense, porque ocorria fato interessante: muito se falava no Paraná Literário, na pujança espiritual e numérica de seus poetas, prosadores, dramaturgos, comediógrafos, etc. enfim, proclamava-se em todos os tons o estranho brilho com que o Estado exsurgia no convívio intelectual do país, mas em verdade, a produção representante em livros não correspondia a tamanho ruído” (.In “Euclides Bandeira, Biografia e Antologia”, de Paulo Roberto Karam).

E, para remover a desproporção, eis que apenas “as magnificas revistas de artes, legítimos primores que na radiosa esfera do pensamento prestaram ótimos serviços ao Estado”, o nosso primeiro presidente declarava, “... que não era a falta de operosidade, nem de capacidade criadora de nossos plumitivos, pois muitos até possuíam dois ou três volumes, carinhosamente escritos, ao fundo da gaveta. O óbice era de ordem pública e foi o que o Centro de Letras do Paraná se propôs a remover pela conjugação da vontade de todos, numa sorte de cooperativismo literário” (obra citada, página 44).

Agora, cem anos passados, quando, eufóricos festejamos, relembramos, com extrema gratidão, todos aqueles que nos legaram tão precioso acervo, cumprindo-nos preservá-lo a todo custo, a fim de que atual e as futuras gerações dele possam usufruir!

O mês de novembro ensejará outros tributos em hosanas a própria História do Centro de Letras do Paraná, certo que os Poderes Legislativos Municipais e Estaduais, homenagearão o nosso Centenário, como consta da programação respectiva.

Urge, porém, que os caríssimos confrades e confreiras prestigiem todos os eventos, tal como tem acontecido com aqueles até agora realizados. 

PROGRAMAÇÃO

DIA 06
16 HORAS
Reunião da Diretoria e do Conselho Fiscal.

17 HORAS
Tribuna Livre. Oportunidade para manifestação dos associados e convidados.

DIA 13
17 HORAS
Palestra do presidente da Rádio/TV Educativa, Dr. Paulo Vítola.
Tema: “O papel da Rádio e Televisão Pública na cultura em geral”.

17hrse45min.
Lançamento da “Coleção Tagarela, composta de cinco livros de história infantil”.
Autora: Poetisa e confreira Adélia Maria Woellner.

DIA 20
09hrse30min.
Homenagem da Câmara Municipal de Curitiba ao Centro de Letras do Paraná.
Local: Palácio Rio Branco.

17 HORAS
Terça da Poesia, a cargo da Academia Paranaense da Poesia.

18 HORAS
Término do prazo para indicação de novos associados, na forma estatutária.

DIA 27
14hrse30min.
Homenagem da Assembleia Legislativa do Estado ao Centro de Letras do Paraná.
Local: Edifício Anibal Khury, Praça Nossa Senhora do Salete, Centro Cívico.

Luís Renato Pedroso
Presidente.

Candy Saad (Nomeação no Portal CEN)

A Direção do Portal CEN
“Cá Estamos Nós”
Carlos Leite Ribeiro – Carmo Vasconcelos – Henrique L. Ramalho
Tem o prazer de nomear a Escritora e Poetisa
Candy Saad
para o cargo de:
ASSESSORA DE DIVULGAÇÃO CEN E APOIO ÀS ARTES DO PORTAL CEN
“CÁ ESTAMOS NÓS”
Esta nomeação é, também, um reconhecimento pelo trabalho de divulgação do CEN, que temos vindo a observar desempenhado dedicadamente pela prezada poetisa, apenas a título de gentileza, e pelo qual manifestamos a nossa gratidão.

Competirá a este título, para além da divulgação de todas as Edições do CEN, a captação de novos autores e a elaboração de eventuais Antologias Literárias, bem como a continuação do seu apoio às artes no CEN.


Em 05 de Novembro/2012
Pela Direcção do Portal CEN - "Cá Estamos Nós",
Carlos Leite Ribeiro
Responsável pelo Portal CEN
www.caestamosnos.org

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Raquel Ordones /MG (Meu Mar de Amar)


Silvia Araújo Motta (A Flor na Trova) Parte 3



51-É glória, imortalidade,
 o AMARANTO entristecido;
 aos heróis da humanidade
 no sepulcro é oferecido.

52-Imponente como o sol,
 a Glória, a Fé e Dignidade,
 paixão louca é GIRASSOL
 pleno de felicidade.

53-BOTÃO-DE-OURO todos querem,
 disso nós temos certeza;
AMARELO...alguns preferem,
 mas simboliza a avareza.

54-Símbolo da permanência
 e portal da eternidade,
SEMPRE-VIVA, na existência,
 reporta à imortalidade.

55-PINHEIRO-sobremaneira,
 conserva o verde no inverno,
 tal qual BAMBU e AMEIXEIRA,
 simboliza o amor eterno.

56-As flores da LARANJEIRA
 traduzem felicidade,
 mas para a noiva faceira
 provocam fecundidade.

57-Se AÇAFLOR você ganhar,
 saiba que é sinal de alerta.
 Traz tempero a amarelar:
 fim de amor tem porta aberta.

58-TAGETES avermelhadas,
 com CRAVOS são parecidas,
 se, diariamente, molhadas,
 por todo ano estão floridas.

59-PIETROS são margaridas,
 em vasos...Que coisa bela!...
 Tem pétalas coloridas
 vermelha, branca e amarela.

60-ESCABIOSA traz saudade
 que enfeita caixões na morte,
 também afasta a maldade
 trazendo-nos toda a sorte.

61-Simbolizando a mentira,
 a BUGLOSA é falsidade,
 desperta no mundo a ira,
 pois é contrária à verdade.

62-CICLAME é flor colorida
 que só floresce em setembro,
 é a XIMENÉSIA...da vida
 é a flor linda de novembro.

63-DÍCTAMO pode brindar
 o nascimento da vida,
 se o tiver pode mandar,
 para pessoa querida.

64-Quando eu morrer, solidão
 deixe a MALVA no jardim
 para que eu tenha a ilusão
 de alguém a chorar por mim.

65-Na Praça da Liberdade,
 as DAMAS-DA-NOITE exalam...
 escondem-se na humildade,
 mas seus perfumes nos falam.

66-Simboliza amor secreto
 se a ACÁCIA for AMARELA,
 mas se for ROSA, discreto
 mostra a elegância e é bela.

67-CIPRESTE?-Fúnebre ação
 na vida é longevidade,
 evoca a ressurreição
 e a incorruptibilidade.

68-O CARDO tem floração
 mas é uma planta espinhosa:
 simboliza a desunião,
 na discussão, é famosa.

69- AMBROSIA, manjar dos Deuses,
 néctar da imortalidade,
 ingerido muitas vezes,
 produz a vitalidade.

70-A BÉTULA inspira a vida.
 Tê-la sempre, ai quem me dera!
 Na Rússia é a mais escolhida:
 simboliza a primavera.

71-AZALÉIA dá romance,
 só quando branca é a flor.
 Rosada é a outra nuance
 da natureza e do amor.

72-A medicinal CIDREIRA
 é símbolo da bondade,
 usada sobremaneira,
 posta em infusão...a dor... cura.

73-Quando "Ajax" faleceu
 em Tróia, em tempos de guerra,
ESPORINHA apareceu
 pôs seu sangue sobre a terra.

74-FLOR-DE-MAIO representa
 a beleza virginal,
 que qualquer maldade enfrenta
FLOR-DE-SEDA é sempre a tal.

75-Na terra do "sol nascente"
CRISÂNTEMO tem tradição.
 Do Japão pra toda a gente,
 simboliza a perfeição.

76-HELIOTRÓPIO tão amável,
 ninfa que Apolo adorou.
 Clítia, sendo insaciável
 Zeus, em flor a transformou.

77-VIUVINHA ou "Quem-me-quer"
 tem seus frutos coloridos,
 saudades roxas:-Quem quer,
 dividir dias sofridos?

78-Quatro folhas? TREVO tem,
 todas com felicidade,
 amor e sorte também:
 -Um sonho na realidade!

79-As ROSAS cristalizadas
 lindos bolos a enfeitar,
 secas bem adocicadas,
 agradam ao paladar.

80-AMOREIRA vem do Amor
 dos jovens apaixonados.
 Sangue verteram.Que horror!
 Morrendo os dois abraçados.

81-Zéfiro se apaixonou,
 por ANÊMONA e sem dor,
 sua esposa o transformou:
 -E que bela ninfa, em flor!

82-O JACINTO é flor de afeto
 simbolizando a constância.
 Do amor de Apolo repleto
 é a flor da fé e da arrogância.

83-Vênus, brilhante e formosa,
 pelo ADÔNIS, sem ação,
 viu nascer, toda chorosa,
 a flor da separação.

84-Com delicioso perfume,
 o GERÂNIO representa
 vitalidade sem lume.
 Toda a estupidez lamenta.

85-Muito belo e delicado,
HIBISCO é flor tropical,
 em clima bem temperado,
 tendo amor não se dá mal.

86-OLIVEIRA é branca flor,
 de paz, purificação.
 na China...por seu valor:
 gentileza no Japão.

87-É símbolo do Advogado,
CRAVO da felicidade,
 com VERÔNICA ao seu lado
 esquerdo...é felicidade.

88-Com JUCERI faz compressa...
 É bálsamo que alivia!
 Cicatrização apressa
 tira a dor dia após dia.

89-É muito usada na guerra:
 -A AQUILÉIA traz saudade.
 Planta nativa da serra;
 que seca é adversidade.

90-Quero da AGÁVEA a certeza
 do teu amor duvidoso,
 mesmo com toda a incerteza
 tens meu amor carinhoso.

Fonte:
Silvia Araújo Motta . A flor na trova. Editora: AVBL, www.avbl.com.br. Ebooknet - Bibliotecas Virtuais. www.ebooknet.com.br, 2006

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 719)



Uma Trova de Ademar  

Na construção do desgosto 
de um casamento desfeito, 
criei rugas no meu rosto 
e pus mágoas no teu peito... 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Ademar é um mensageiro,
mais que isso: um porta-voz.
É quem passa o ano inteiro
dizendo as trovas por nós! 
–José Ouverney/SP– 

Uma Trova Potiguar  

Sem teus beijos sedutores, 
procurei bocas errantes... 
Só revolta e dissabores 
encontrei nesses instantes. 
–Ubiratan Queiroz/RN– 

Uma Trova Premiada  

2011 - ATRN-Natal/RN 
Tema - VERTENTE - 3º Lugar 

Numa montanha de mágoas
há uma vertente escondida
por onde correm as águas
dos prantos da minha vida!
–Renato Alves/RJ– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Fortuna bem merecida, 
nas mãos de quem faz o bem, 
multiplica os bens da vida, 
depois divide o que tem. 
–Aloísio Alves da Costa/CE– 

U m a P o e s i a  

A música adentra n’alma 
enche a vida de emoção, 
inspira a cena da calma 
tem toda repercussão; 
começa pelos ouvidos, 
depois por outros sentidos 
termina no coração. 
–Marcos Medeiros/RN– 

Soneto do Dia  

JUDEU ERRANTE. 
–Rogaciano Leite/PE– 

Somente hoje, tristíssimo, descubro 
(pelas poucas notícias que me envia) 
a falência das juras da judia 
cujo nome de beijos inda cubro. 

Naquela noite azul do mês de outubro, 
quando a boca de tâmara me abria, 
gulosamente meu amor bebia 
na carne fina de seu lábio rubro. 

“Juro ficar cristã!” – disse, a meus pés. 
E eu jurei, pelas Tábuas de Moisés, 
que seria um hebreu – dess’hora em diante... 

Vejo agora a loucura do meu ato: 
a judia mentiu!... Mas, eu, de fato, 
serei – por seu amor – Judeu Errante!