domingo, 16 de dezembro de 2018

Roberto Pinheiro Acruche (Poemas Diversos)



NOSSO AMOR

O nosso amor quero vivê-lo intensamente
A cada dia, noite, não importa a hora
Quero mesmo, como no passado e presente
No futuro, te amar tanto quanto agora

Sonhar ainda, os mais lindos sonhos, embora
Incida sobre nós, o que presentemente
Coisa nenhuma incomoda e preocupa a gente
Porquanto em nosso amor a formosura aflora

Por mais que no tempo transcorre tempestade
Não haverá nenhuma que seja tão forte
 Que nosso grande amor não enfrente e resista

O segredo de nosso amor foi o aporte
Em cada caminhar dúvida ou conquista
Abençoado por ser amor de verdade.

MUITO MAIS QUE AMIZADE

Amiga, querida amiga.
Era assim que a olhava
Via e admirava.
A cada encontro
A alegria permanecia
Estampada em nossa face.

Ela com um sorriso doce
Encantava o tempo
O teu semblante brilhava
E teus olhos
Espelhavam a minha imagem.
Era sempre assim
Quando por acaso
Encontrávamos
Em qualquer lugar.
Certo dia
Era uma tarde 
Calma, sossegada
O sol sombreado no horizonte
Ocorreu um novo encontro...
Ela apressou os passos
Vindo me abraçar...
Seus braços tremiam
O coração tocava forte
E sua voz macia dizia
Amo te encontrar...
Com o rosto encostado
No meu peito
A mão docemente
Alisando meu rosto 
Falava baixinho...
Adoraria te encontrar sempre
E te amar muito a cada encontro.
Parecia ser imaginação...
Flechado o coração
De um abraço forte
Brotou um sonho
Aspiração que ficou
Perpetuada, refletida 
A cada encontro.

MENINO

Se eu voltasse a ser menino
com meus sonhos de infância,
reencontraria a felicidade
dos meus tempos de criança...
Percorreria os pomares,
perambularia pelos campos,
soltaria pipa sem cerol,
jogaria bola de gude
e brincaria de futebol.
Meu cãozinho de estimação
tão alegre e comportado
parecia saber de tudo...
E pelas estradas, do meu mundo,
corria sempre ao meu lado.
Ah... Se eu voltasse a ser menino
ouviria nas manhãs, o meu sabiá,
que do alto da laranjeira
não parava de cantar.
Receberia carinho, no colo da mamãe,
Ouviria as histórias, contadas pelo papai.

Ah... Mundo... Que Pena... 
Não posso voltar a ser menino,
sonhar meus sonhos de infância,
e meus tempos de criança,
não viverei, jamais!

MORRO DE CIÚMES

Sou ciumento, confesso;
mais ciumento
que o imaginável;
tenho ciúme até
do que não é meu, e queria que fosse.

Tenho ciúme dela,
sem jamais haver sentido
o doce beijo dos seus lábios;
jamais sentido o calor do seu abraço;
amor que não me pertence,
sequer sabe
que o tenho em segredo;
contudo, ela é, dona do meu
apaixonado coração!

Tenho ciúmes do seu passado
e do seu presente!
Tenho ciúme
do seu perfume,
do seu porte sublime
e do seu jeitinho de caminhar,
da sua voz, da roupa que veste,
das músicas que prefere,
das suas mãos, seu olhar,
sorriso, da rua por onde passa
e do vento que sopra os seus cabelos!
É por demais fortes, o ciúme que tenho
da cama que ela deita,
do travesseiro que dorme,
da poltrona que repousa
e até de tudo, mesmo
sem haver qualquer motivo!

Ah... Que ciúme eu tenho
do seu cachorrinho e
do gatinho de estimação;
da sua fotografia, do sol que a aquece,
da chuva que molha seu corpo;
do chuveiro que ela usa para se banhar;
do sabonete que passa com toda intimidade
por suas curvas!

É um ciúme que quase me enlouquece;
e explode no coração;
do pente que penteia os
seus longos e lindos cabelos;
do calçado que acaricia os seus pés,
do desodorante e da colônia que
a deixa, ainda mais cheirosa
e perfumada;
do zelo exagerado
pelo carro, apego pelas jóias,
e do celular seu constante companheiro!

Estou morrendo de ciúmes
das suas fantasias,
dos seus sonhos,
do visível, e por força da paixão...
Até do invisível,
que está vivo, na imaginação.

TENTEI DE TUDO

Já tentei de tudo
para resistir a distância...
A dor da distância
que nos separa!

Ainda que seja difícil,
não posso desistir,
nem continuar nessa angústia;
não posso perder a esperança
pois seria o mesmo que perder
parte de mim.

Quero voltar, preciso voltar,
é desmedida a saudade dos seus beijos,
do conforto dos seus braços,
do encontro do nossos corpos
esbanjando amor,
vivendo a felicidade
que sempre sonhamos sentir!

A estrada é longa,
tortuosa, perigosa...
Mas é o caminho
que me levará até você.

E juntos; ao seu lado
quero ver o céu estrelado,
o beija-flor cortejando as flores
as borboletas sobrevoando
pelos segredos dos jardins.

Vai ser lindo, muito lindo
estar junto de você; e você
bem juntinho de mim!

Fonte:

Vinicius de Moraes (O Conde e o Passarinho)



Rubem Braga é, sabidamente, um conhecedor de passarinhos. Suas crônicas alegram-se e se entristecem com frequência de nomes de pássaros nacionais que eu só conheço de ouvir dizer - o que me dá um certo complexo de inferioridade. Já andei, certa vez, planejando estudar ornitologia por causa disto, e lembro-me de que na viagem que fiz com ele à sua Cachoeiro do Itapemirim, quando da homenagem que lhe prestou a cidade, foi com um sentimento de gula que recebi o maravilhoso disco de pios artificiais de passarinhos, feito pela família Coelho, que disso criou uma pequena indústria local. Tais projetos nunca foram adiante, como vários outros, entre os quais um de estudar carpintaria: e este, inclusive, concertado com o próprio Rubem - e que resultou em arrancarmos, ato contínuo, a porta da garagem da minha antiga casa, sairmos meia hora depois para matar o calor com uma cerveja gelada, e nunca mais voltarmos à dita porta, que se quedou jazente por dias a fio, vítima de nossa impostura.

O Braga conhece bem sua passarada, isso ninguém lhe tira. O que não impede, porém, que tenha dado um "baixo" ornitológico que merece registro, segundo me conta minha irmã Lygia, testemunha ocular do mesmo. Pois o que se deduz da história é que o Braga pode conhecer muito bem tico-tico, curió, sanhaço, cardeal, tiê-sangue, sabiá, gaturamo, cambaxirra e até mesmo vira-bosta - mas em matéria de canário trata-se de um otário completo e acabado. Dito o quê, passemos à narrativa.

Parece que o Braga vinha um dia assim muito bem pela Cinelândia, quando topou com um vendedor de passarinho oferecendo a preço de ocasião um casal de canários dentro de uma gaiola cuja bossinha era ser dividida por uma separação levadiça em dois compartimentos, um para o macho, outro para a fêmea. A gracinha era abrir a portinhola do macho, deixá-lo fugir e depois vê-lo voltar docemente, no pio da fêmea. O Braguinha, que além de gostar de pássaros não é tolo (imagina para quanta mulherzinha ele não ia poder fazer aquele truque!), assistiu com o maior interesse a mais essa demonstração de que, como diz o samba, o homem sem mulher não vale nada, entregou o dinheiro, meteu a gaiola debaixo do braço e tocou-se para o Leblon, sequioso de mostrar seu novo brinco ao aborígene. E deu-lhe a sorte de encontrar minha irmã Lygia, que além de ser uma esplêndida assistência para demonstrações desse teor, é pessoa mais de se apiedar que de caçoar da desdita alheia.

O Braga colocou a gaiola em posição, abriu a porta e lá se foi o canarinho pelo azul afora, em lindas evoluções. A fêmea, como previsto, abriu o bico e o canário, ao ouvi-la, fez direitinho como mandava o figurino: voltou e posou junto à porta aberta. Mas o divórcio entrou? Nem o canário. O bichinho ficou prudentemente à porta, mas entrar dentro mesmo da gaiola que é bom... ahn-ahn. O Braga animou a ave canora com milhões de piu-pius, fez-lhe mentalmente enérgicas perorações contra a sua calhordice - tudo isso, conta minha irmã Lygia, com olhos onde se começava a notar uma certa apreensão. O canário, nada.

Quem sabe, ponderou minha irmã, um elemento verde qualquer colocado junto à porta, uma folha de alface, por exemplo, não animaria o bichinho? Foi trazida a folha de alface e colocada junto à porta. Durante essa operação o canário levantou voo, e a canarinha, aproveitando-se da ocupação dos dois, fez força com o biquinho e acabou por erguer a portinhola da separação; dali para o Jardim Botânico, não teve nem graça.

Diz minha irmã que o Braga ficou triste, triste. E como a esperança é a última que morre, antes de ir embora ainda ajeitou a gaiolinha para uma espera: quem sabe os pilantras não voltariam à noite...

Canário, hein Braguinha?...

Fonte:

Margaret Atwood (Poemas Diversos)



SOMOS DUROS UM COM O OUTRO 

I

Somos duros um com o outro
e chamamos-lhe honestidade
escolhendo as nossas verdades dentadas
com cuidado e apontando-as através 
da mesa neutra

As coisas que dizemos são
verdadeiras: é o nosso alvo 
retorcido, são as nossas escolhas 
que nos tornam criminosos.

II

Claro que as tuas mentiras 
são mais divertidas:
porque as fazes novas de cada vez

As tuas verdades, dolorosas e chatas
repetem-se continuamente
se calhar porque és dono 
de tão poucas

III

Uma verdade deveria existir
não deveria ser usada 
assim. Se eu te amo
é isso um fato ou uma arma?

O corpo mente 
ao mover-se assim, são estes 
toques, cabelos, o mármore
macio e úmido que a minha língua percorre
mentiras que me estás a dizer?

O teu corpo não é uma palavra,
nem mente 
nem fala a verdade

Apenas 
estás aqui ou não estás.

DIVAGAÇÃO SOBRE A PALAVRA DORMIR

Gostava de te olhar a dormir
mesmo que isso nunca aconteça.
Gostava de te olhar,
a dormir. Gostava de dormir
contigo, entrar
no teu sono, sentir seu fluxo suave e nebuloso
a deslizar sobre a minha cabeça

e caminhar contigo nessa floresta luminosa
ondulante de folhas fluorescentes
com um sol aquoso e três luas
até à caverna onde terás que descer,
em direção ao teu pior medo

Gostava de te oferecer o ramal de prata,
a pequenina flor branca, 
aquela palavra que te protegerá
da dor a meio
do teu sonho, do desgosto central. 
Gostava de te acompanhar
até ao cimo da longa escadaria
mais uma vez e de ser
o barco para te transportar de volta
com cuidado, uma chama
entre duas mãos em concha
onde o teu corpo se deita
ao lado do meu, e tal como nele entras
com a facilidade com que se respira

Gostava de ser o ar
que te habita  durante um breve momento. 
Gostava de ser tão imperceptível
e tão necessária.

CIRANDA

Estar contigo
aqui neste quarto

é como tatear um espelho
onde o vidro derreteu
até a consistência
de gelatina

 tu recusas ser
(e eu)
um reflexo exato, mas
não te afastas do vidro,
separado.

 De qualquer maneira, o certo
é que puseram
imensos espelhos aqui
(lascados, tortos)

neste quarto com a sua janela alta
e o guarda-roupa vazio;  até mesmo
por trás da porta
está um.

 Há gente no quarto ao lado,
discutem, abrem e fecham gavetas
(as paredes são finas)

Tu olhas para além de mim, ouves
o que dizem, talvez, ou
contemplas
o teu próprio reflexo em algum lugar

atrás da minha cabeça,
por cima do meu ombro

Voltas-te, e a cama
cede abaixo de nós, perdendo o foco

há alguém no quarto ao lado

há sempre

(o teu rosto
distante, escuta)

alguém no quarto ao lado.

HISTÓRIAS VERDADEIRAS

I

Não me peças a história verdadeira;
para que precisas tu dela?

Não é com isso que me levanto
nem o que transporto.

Aquilo com que vou navegando,
uma faca, fogo azulado,

sorte, algumas palavras boas
que ainda funcionam, e o instante.

II

A história verdadeira perdeu-se
durante o caminho para a praia, é alguma coisa

que nunca tive, esse negro emaranhado
de ramos numa luz evanescente,

as minhas pegadas apagadas
cobrem-se com sal

 água, esta mão cheia
de pequenos ossos, a matança daquela coruja;

uma lua, papéis amassados, uma moeda,
o brilho de um antigo piquenique,

as covas feitas pelos amantes
na areia, cem
 anos atrás: nenhuma pista.

III

 A história verdadeira existe
no meio das outras histórias,

uma confusão de cores, como roupa despida
amontoada ou atirada fora,

como corações em mármore, como sílabas, como
despojos de carniceiros.

A história verdadeira é viciosa
e múltipla e falsa

afinal de contas. Para que precisas
tu dela? Não me peças nunca
a história verdadeira.

Fonte:

Contos e Lendas do Mundo (Japão: A luta de sabres)


Essa história transcorre no século 17, no Japão, durante um período de fome.

Um camponês não tinha com o que alimentar sua família e se recorda do costume que promete forte recompensa àquele que seja capaz de desafiar e vencer o mestre de uma escola de sabre.

Ainda que nunca houvesse tocado numa arma em sua vida, o camponês desafia o mestre mais famoso da região. No dia fixado, diante de público numeroso, os dois homens se enfrentam. O camponês, sem se mostrar impressionado pela reputação do adversário, o espera com firmeza, enquanto o mestre de sabre estava um pouco perturbado por tal determinação. 

Quem será este homem? - pensa - Jamais nenhum vilão teria coragem de me desafiar. Não será uma armadilha de meus inimigos?

O camponês, acuado pela fome, se adianta resolutamente até seu rival. O mestre vacila, desconcertado pela total ausência de técnica de seu adversário. Finalmente, retrocede movido pelo medo. Antes do primeiro assalto, o mestre sente que será vencido. Baixa seu sabre e diz:

- Você é o vencedor. Pela primeira vez na vida seria abatido. Entre todas as escolas de sabre, a minha é a mais renomada. É conhecida com o nome de "A que num só gesto dá dez mil golpes". Posso perguntar-lhe, respeitosamente, o nome de sua escola?

- A escola da fome! - responde o camponês.

Fonte:

sábado, 15 de dezembro de 2018

Vanice Zimerman (Poemas Escolhidos)


VENTO MENINO

Vento menino
Despenteia meus cabelos
Brinca de Destino
E espalha as reticências...
Vento Menino
Faz com que eu viaje em sonhos
E reencontre meu  Amor...

AS LINHAS MÁGICAS DO AMOR

Observo as linhas que o vento desenha nas águas do lago,
Os desenhos das ondulações  lembram seus braços
E o aconchego de seus abraços que não mais me pertencem...
As linhas do coração são fortes, laços tecidos com fios mágicos,
Coloridos de amor e saudades,
Impossíveis de serem desfeitos,
Com o tempo, suavizam a tramas, porém continuam firmes,
Presença que se esconde, se disfarça, mas não desocupa seu lugar em meu coração.
Encontro-o só em meus sonhos...

MANDALAS DE FOLHAS

Em uma das mãos seguro
Uma folha  do Plátano
Lembranças do Outono...
Na fragilidade da folha,
Ainda sinto o toque das tuas mãos,
E, de um tempo em que fazíamos
Mandalas de folhas...
E depois ficávamos juntinhos,
Observando a brisa
Acariciar as folhas,
E as cores do pôr do sol.
Não resisto e...
As lágrimas escapam.

O PORTÃO E O VENTO

Num piscar de olhos
Distancia-se o pensamento,
Busco encontrar-te
Em cada folha do Plátano
E pétalas de rosa que guardei...
Imagino que esteja próximo a esquina
Vindo em minha direção,
Mas, num piscar de olhos.
Você retorna aos meus sonhos,
E o portão abre-se com o vento...

O ABRIDOR DE CARTAS

O antigo abridor de cartas,
Ainda guarda o calor da tua mão.
Há tantos caminhos
Nas linhas das tuas mãos
Que ficaram suavemente impressos
Em meu corpo e alma...
Saudade que se aconchega,
Buscando respirar  a tua presença
Em cada objeto,
Cada sorriso,
E nas palavras de amor,
Que ainda sobrevivem a distância,
Lembram páginas
De  um perfumado pergaminho
Feito de pétalas de rosas...

CALEIDOSCÓPIO

Noite de setembro,
Num canto da sala
As peças do jogo de xadrez,
Apenas observam...
O silêncio desenha tuas lembranças,
Feito um caleidoscópio surreal,
Repleto de saudade...

JAZZ E NOSTALGIA

Noite de setembro
Ao som do Jazz
Inesquecível, teu olhar,
Nostalgia em notas musicais...
E na janela,
A companhia das gotas d'água
Num bailado surreal
Envolvem a última rosa vermelha
Que, quase sem vida, ainda sonha
Com tua volta...

A MÁQUINA DE ESCREVER

Noite de abril,
À meia-luz.
Uma fresta na janela espia
A antiga máquina de escrever
Que em tons de sépia
Permanece em silêncio,
Silêncio repleto das carícias da tua voz...
Uma fresta na janela observa
Os móveis da sala,
O autorretrato inacabado, ainda no cavalete,
E as rosas imóveis no vaso de cristal,
Vermelhas pétalas que perfumarão
Um livro de poesias...
Uma fresta na janela espia
E curiosa, não entende as lágrimas,
Quando olho tua fotografia
E a aconchego em meu coração.
Uma fresta na janela não imagina
O significado da Saudade
Da tua ausência, do Amor tão distante,
E da outra xícara de café vazia...

Fonte:

Vanice Zimerman (Cadeira n. 16 da AVIPAF)


Vanice Elizabeth Zimerman Ferreira, nasceu em Curitiba/PR, em 1962. Escritora, Artista Plástica e Fotógrafa. Em 2010 concluiu o Curso de Letras (FTC-EAD) da Faculdade Machado de Assis - FAMA, na capital paranaense. 
Escreve crônicas, contos e poemas. Trabalha com Leitura de Imagem, desenho e pintura de quadros inspirados nas crônicas que escreve. 

Estuda Artes Visuais na Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP).

Membro de: 
- Academia Virtual Internacional de Poesia, Arte e Filosofia - AVIPAF, Cadeira n. 16, Patrono: Mário Quintana
- Academia Poética Brasileira (APB)
- Centro de Letras do Paraná
- International Writers and Artists Association

Prêmios:
- Troféu Revista Carlos Zemek Arte e Cultura (Curitiba), destaque em Poesia.
- Certificado da Editora Mágico de Oz
- Medalha Monteiro Lobato - 2015, na Casa das Beiras, no Rio de Janeiro.
- Certificado "Amigo da Arte, da Poesia, da Vida e da Paz". 
- Movimento Paz e Poesia de Belo Horizonte.

Participação em Exposições de Arte.

Poemas, Crônicas e Contos  publicados em dezenas de livros.

Blogs:
http://vaniceferreira.blogspot.com.br/
http://arvoredossentimentos.blogspot.com.br/
Biblioteca Virtual dos Escritores:
http://escrita.com.br/escrita/leitura.asp?Texto_ID=15078

Fonte:

Mário Quintana Em Prosa e Verso 2


DATA E DEDICATÓRIA

Teus poemas, não os dates nunca... Um poema
Não pertence ao Tempo... Em seu país estranho
Se existe hora, é sempre a hora extrema
Quando o Anjo Azrael nos estende ao sedento
Lábio o cálice inextinguível...
O que tu fazes hoje é o mesmo poema
Que fizeste em menino,
É o mesmo que,
Depois que tu te fores,
Alguém lerá baixinho e comovidamente,
A vivê-lo de novo...
A esse alguém,
Que talvez nem tenha ainda nascido,
Dedica, pois, teus poemas,
Não os date, porém:
As almas não entendem disso…

NOTURNO

Apenas, aqui e ali, uma janelinha de arranha-céu... Perdida... Enquanto, do fundo do único terreno baldio, um grilo insiste em transmitir, na sua frágil Morse de vidro, não se sabe que misteriosa mensagem às estrelas ausentes.

INTERIOR

As persianas, entrefechadas, deixam passar uma réstia de sol, onde zumbe uma mosca. Silêncio.

Somente, na última prateleira, há um velho boião que diz: " Viva Dom Pedro Segundo!" - única nota exclamativa neste silêncio tecido (e não interrompido) pelo zumzum da mosca em seu vaivém. Tudo é definitivo, tudo é tão agora que até o relógio, o velho bruxo, está parado.

CAMINHO DA FONTE

A linha casimiriana da poesia brasileira começou antes, em Tomás Antônio Gonzaga. É um regato límpido, por vezes interrompido aparentemente, mas que reponta sempre, quando tudo parecia perdido

QUANDO ME PERGUNTAM

Quando me perguntam por que não aderi a essa história de "estória", respondo (e não evasivamente) que é simplesmente porque, para mim, tudo é verdade mesmo. Acredito em tudo. Acreditar no que se lê é a única justificativa do que está escrito. Ai do autor que não der essa impressão de verdade! Que é uma história? É um fato - real ou imaginário - narrado por alguém. O contador de histórias não é um contador de lorotas. Ou, para bem frisar a diferença, o contador de histórias não é um contador de estórias. E depois, por que hei de escrever "estória" se eu nunca pronunciei a palavra desse modo? Não sou tão analfabeto assim. Parece incrível que talvez a única sugestão infeliz do mestre João Ribeiro tenha pegado por isso mesmo... Também um dia parece que Eça de Queirós se distraiu e o Conselheiro Acácio, por vingança, lhe soprou esta frase pomposa: "Sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia". Tanto bastou para que lhe erguessem um monumento, com a citada frase perpetuada em bronze! Pobre Eça...

O mundo é assim.

LIMITES DA CONVERSAÇÃO

Há certas coisas que não haveria mesmo ocasião de as colocarmos sensatamente numa conversa - e que só num poema estão no seu lugar. Deve ser por esse motivo que alguns de nós começaram, um dia, a fazer versos. Um modo muito curioso de falar sozinho, como se vê, mas o único modo de certas coisas caírem no ouvido certo.

Fonte:
Mário Quintana. Caderno H. Porto Alegre/RS: Globo, 1973.

Vanice Zimerman (A Gaveta Entreaberta)


É madrugada, num canto da sala, o pinheiro enfeitado ainda aguarda a estrela ser colocada no galho mais alto. Quem o observa é a gaveta de uma antiga mesa de madeira branca, que está entreaberta, algumas florezinhas que parecem flocos de neve permanecem nesse espaço, e no silêncio da gaveta, antigos cartões de Natal, ainda sobrevivem, mantendo as cores dos sinos, das árvores repletas de bolinhas, e rostos rechonchudos de Papai Noel envolvidos por luzes das velas, impressas com beleza nos cartões.

As lembranças dos Natais passados, dos sons e aromas da casa, dos sorrisos das crianças dialogam com cada detalhe das imagens, num tempo mágico contido na textura do papel e na tinta da caneta, tingindo as mensagens de “Boas Festas!” Em letras desenhadas com carinho com votos de amor à vida, paz e felicidades.

Há mistério em encanto nessas sensações de voltar no tempo de vivenciar o Espírito do Natal, que ele possa permanecer vivo nas gavetas entreabertas dos nossos corações e sonhos...

Fonte:

Contos e Lendas do Mundo (China: O Homem que vendia fantasmas)

(Do "Soushenchi", século IV) 
__________________________

Quando Sung Tingpo, de Nanyang, era ainda rapaz estava passeando certa noite quando encontrou-se com uma fantasma. Perguntou à aparição quem era e ela respondeu que era um fantasma. 

- "Quem é você ?" perguntou por sua vez o fantasma. 

Tingpo mentiu e respondeu 

- "Eu também sou um fantasma." 

O fantasma então quis saber para onde ele ia e Tingpo informou 

- "Estou a caminho para a cidade de Wanshih." 

- "Também vou para lá!" - afirmou a aparição. 

Assim puseram-se a caminhar juntos. Após uma milha, se tanto, o fantasma disse que era estupidez estarem andando ambos quando um podia carregar o outro, por turnos. 

- "Ótima idéia," achou Tingpo. 

O fantasma pôs Tingpo às costas e depois de ter andado uma milha disse 

- "Você é pesado demais para um fantasma. Tem certeza de que é um fantasma mesmo ?" 

Tingpo explicou que ainda era um fantasma novo e que, por conseguinte, ainda pesava um pouco. Tingpo, por sua vez, pôs-se a carregar o fantasma, mas esse era tão leve que tinha a impressão de não estar carregando nada. Assim foram caminhando, revezando-se, até que Tingpo perguntou ao companheiro qual era a coisa que metia mais medo aos fantasmas. 

- "Os fantasmas têm um medo horrível da saliva humana", afirmou o fantasma. 

Assim foram andando, andando até que chegaram a um rio. Tingpo deixou que o fantasma fosse adiante e observou que ele não fazia barulho algum ao nadar, mas quando ele entrou n’água, o fantasma ouviu o estalar na água e pediu-lhe uma explicação. 

Tingpo explicou novamente: - "Não se surpreenda, pois ainda sou muito novo e não estou ainda acostumado a atravessar a correnteza." 

No momento em que se aproximavam da cidade, Tingpo começou a carregar o fantasma nas costas apertando-o fortemente. O fantasma pôs-se a gritar e a chorar lutando para apear-se, porém Tingpo o apertou com mais força ainda. Ao chegar às ruas da cidade, soltou-o e o fantasma se transformou num bode. Tingpo cuspiu no animal a fim de que não pudesse transformar-se outra vez, vendeu-o por mil e quinhentos dinheiros e foi para casa. 

Eis a razão do ditado de Shih Tsung: "Tingpo vendeu um fantasma por mil e quinhentos dinheiros.”

Fonte:
http://www.capparelli.com.br/contos.php

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Concurso Nacional de Poesias Carlos Drummond de Andrade 2017 (Poesias Vencedoras)


Natália Alves Drummond
(Itabira/MG)

O CORAÇÃO FALA AO POETA

Montanhas de ferro, baixada da serra,
jabuticaba, manguito, banana da terra.
O tempo quer ser cavalo manso, sussurra o coração ao menino Drummond,
quer ser bodoque, bola de meia, gangorra de vaivéns,
andar no chão de pedra brilhante, brincar na Fazenda dos Doze Vinténs.
Fogem-se as horas, tem pressa o tempo, já não se deixa arrear,
acabou a brincadeira, faz pirraça, não quer esperar.
Passa, perpassa, ameaça:
chegou a hora, Drummondzinho, de se agigantar.

Drummond, Drummond...
Bate e repica o seu coração.
Drummond, Drummond...
O destino faz a rota, aponta a mira,
leve em tuas mãos as bênçãos de Itabira.
Saudade é lembrança, é memória, impregna, ninguém tira.

Drummond, Drummond...
Esse é o som que cutuca o seu peito, acorda o seu dom.
Liberte as palavras, sem altivez,
viaje no improvável, marque o tom, desfaça a sensatez.
Denuncie o mundo, ria, sopre a ferida, fale da vida.

O homem Drummond e o seu coração,
às vezes se entendem, às vezes não.
Mas intrépidos seguem a procurar
as palavras certas para contar
o que vem de fora para dentro e de dentro para qualquer lugar.

Só Deus sabe as voltas que essa vida pode dar,
e a Minas de tropeiros, oratórios e belos horizontes,
dá as mãos à terra do Santo Guerreiro, salve Rio de Janeiro!
Drummond pausa a cidade: boa prosa, tarde inteira,
Mário e Oswald de Andrade, Vinícius de Morais e Manoel Bandeira.
(A poesia a lhe elevar).
José! Amar!
No meio do caminho...
(A poesia a lhe eternizar).

Calmaria de alma inquieta.
Rosto de fácil desenho, singularidade.
Olhar saudoso, sorriso de lado, coração poeta,
Para sempre, Carlos Drummond de Andrade.

Conceição Ribeiro de Araújo

UM BRINDE, POETA!

Poeta,
Vem brindar conosco tua eternidade!
A infância emoldurada no tempo onde passeiam sonhos
renascem pessoas, causos, contos, cacos,
hiatos.
Vem percorrer teu vasto mundo
em cuja memória habitam histórias,
o ranger de portas e porteiras
que guardam as lembranças mais profundas
de um tempo onde pairam as fazendas,
bois, carrapatos e contendas.
O estalar dos chicotes,
o mugido do garrote, e o cheiro bom do café
preto como a preta velha a embalar gerações.

Vem!
Ainda tocam os sinos
é hora de acordar.
Ouve, então, as badaladas
esse sonoro cantar das notas mais afinadas
que conduzem os fiéis
até mesmo os infiéis
para as graças do Senhor
ou para um Anjo encontrar.
Então, toma as mãos do Anjo
visita, também, os arcanjos
não apenas os mais puros que tocam os seus flautins.
Mas, aquele em cujas asas a luz do sol se furtou.
Porque as palavras guardadas anunciadas estão.
Escuta o som das trombetas
é hora do anúncio, afinal.
Carlos, o gauche no tempo
atravessa gerações
que mostram as sete faces
e a fragmentação.

Ah, poeta...
Que linguagem perspicaz!
E isto é modernidade que consagrada estará.
E dizem que morto estás.
Como pode-se acreditar?
Seus versos mais que perfeitos
comovem, instigam, enfurecem,
outros com eles adormecem
porque se de fel se enchem
de mel também se preenchem.

Cabem todos no espaço de um branco ou manchado papel
vão delineando vidas, pedras no meio do caminho,
confidências, esperanças, rosas que brotam no asfalto,
apitos dos guardas ou trens, as flores mais belas de maio,
e do nascer ou morrer
o ensaio.
Cabem as paixões humanas que permanecem no tempo
os encantos do cinema e as belezas de Ipanema.
Cabe o grito mais profundo que dita a norma perene
do sentimento do mundo.
Levantemos, então, a taça
brindemos o infindável
que retrata os teus dizeres:
“E como ficou chato ser moderno.
Agora serei eterno”

Sílvia Tatiana Miranda

CARTA AO POETA

A sua ausência ainda é saudade
É falta instalada no silêncio da máquina de escrever,
É Memória na coluna do Jornal, por suas crônicas da vida.
O poema declamado no noticiário ainda ecoa...
“E agora José”? Mas você, você nunca morreu.

Dos poemas mais famosos aos livros póstumos;
Seu mundo infantil,
Povoado por paquidermes em histórias de circo;
As entrevistas, fotos pessoais;
Tudo é ouro da herança que nos deixaste.

A imprensa faz notícia em cima de seus versos.
Críticos Literários publicam pesquisas.
São inúmeras Discussões: Drummond x Sua pedra no caminho.
Correspondências com outros escritores,
Memórias da Infância,
Tudo veio à superfície pública.

As suas palavras ressaltam
Os poemas viram Música, Teatro e Cinema.
Copacabana tem hoje uma réplica, de sua presença na praia.
Belo Horizonte fechou um quarteirão,
Para celebrar seu encontro com Pedro Nava.
Itabira é ainda pequena, mas, existem os “Caminhos Drummondianos”.

No Teatro com Paulo Autran,
Perguntei sobre Carlos, o amigo que ele relembrava.
E me emocionei ao ouvir histórias do amigo,
Que te conheceu de perto,
Dizendo sobre suas sinceras manifestações
Confirmando sua timidez.

E eu continuo a procurar respostas
Para as perguntas que você fazia ao José;
Ao mundo que os ombros suportam;
A Itabira de ferro, aos burocratas, a culpa de Deus.
Mas minhas indagações não cabem aqui,
Pois você Drummond,
Você é um poeta insondável.
É um poema de infinitas respostas.

Também não cabe na classificação de Modernista ou Cronista
Um observador do cotidiano simples;
Da vida que passa, para virar poesia.
Mesmo sem encontrar todas as suas respostas,
É maravilhoso deparar com as marcas Drummondianas,
Que deixastes nos versos desta vida.
Obrigada,
Carlos Drummond de Andrade

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