terça-feira, 2 de novembro de 2021

A. A. de Assis (Saudade em Trovas) n. 14: Aparício Fernandes

 


Olivaldo Júnior (Revoada de Palavras) 2

A LANTERNA DA AMIZADE


O Poeta jamais podia supor que encontraria um amigo. Mas, numa esquina de sua vida, num dezembro longínquo, o Músico apareceu em seu caminho e acendeu a luz.

Desde então, por onde quer que vá, uma lanterna, flutuante e amarela luz, o acompanha, dando a ele um sol só seu, mesmo quando a chuva cai, mesmo a interior.

Faz muito tempo que o Músico não visita o Poeta. Mas a lanterna da amizade ainda pisca em certas datas, na esperança de que o Músico, lá de longe, a redescubra.
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O OLHAR DAQUELE HOMEM

Éramos dois homens e um elo eterno a nos ligar: o da amizade. Havíamos nos encontrado por acaso (se é que existe mesmo o acaso). Seu olhar me dizia tudo de si.

Assim, por um tempo, nos víamos sempre que dava, e quase nunca era fácil. Agendas difíceis, amigos sem Face, fomos ficando longe, você na “China”, e eu, só.

O olhar daquele homem, no entanto, se entranhou no meu e, durante o meu dia, várias vezes é com os olhos dele que eu vejo a vida. Poderia chorar... Mas, hoje, não.
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VINIL

Era o apartamento de um homem de quarenta e poucos anos de vida. E que vida! Estudara Direito, Biologia e se especializara em... Não sei, alguma coisa a ver com Bioética. Mas, no fundo, gostava mesmo era de música. Era um homem lindo. Por dentro e por fora. Sempre chamava a atenção de todas e de todos. Por onde ia, não ia em vão, era sempre visto. Mas sua alma, seu âmago, não estava nos diplomas que a duras penas conquistou. Não, senhor! Seu pedaço mais puro de si mesmo, sua pena delicada que seu anjo lhe deixara, sua luz era um pequeno vinil preto em que os Beatles entoavam a canção Hey Jude. Como adorava aquela música! Muito mesmo!

A vida era um sintoma da doença de existir. Meio forte, isso, comparar a vida e a existência a uma, uma dor. Mas que é a vida senão a sucessão de pequenos partos até que se parta de vez para... Para onde mesmo? Ah, para o Paraíso! É, para o Paraíso. Será que lá, onde Judas perdeu as botas, Pedro as reencontrou e Paulo as calçou de novo, será que lá no Paraíso tinha vitrola? Não sei, amigo.

O dono do apartamento de que falo era o Paulo. Ou Paul, para os que sabiam de sua adoração pelos Beatles. Sabe que tem gente mais nova que não sabe nem quem foram John, Paul, George e Ringo? Pois é, sinal dos (maus) tempos... Sabia que estava ficando velho e que, mais dia, menos dia, estaria ainda mais só do que já estava. O som da vida era um disco de vinil tocando os Beatles, fosse estéreo, fosse mono. O mais legal era ter alguém com quem ouvir. Não tinha, mas soltava a franga ouvindo os discos no domingo. Depois lhe dava uma tristeza, uma onda de saudade que soava em puro banzo na segunda.

Sua luz era um pequeno vinil. Hey Jude, seu hino de amor. Quer escutar?

Fonte:
Textos enviados pelo autor.

Auta de Souza (Poemas Escolhidos) – 6

MEDITAÇÃO

Alma cansada de chorar, cansada
De sofrer nas agruras do caminho,
Há quem te veja no Celeste Ninho
Os tristes pesadelos da jornada...

Se além da noite brilha a madrugada,
Resplende, além do túmulo escarninho,
Nova aurora de paz e de carinho
Para a glória da vida torturada.

Não te detenhas, sob a ventania.
Vence o pavor da senda escura e fria,
Guardando o bem por arma em teus combates...

Segue buscando o Amor do Eterno Amigo
E encontrarás a Luz do Céu contigo
Nas aflições dos últimos resgates.
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ROGATIVA

Abençoa, Senhor, o brando ninho
Em que este lar de amor se transfigura,
Entretecendo em fios de ternura
Agasalho aos que choram no caminho

Mergulhados no escuro torvelinho
De nossa própria senda estranha e dura
Avançamos nós mesmos à procura
Do asilo tutelar de Teu Carinho!...

Ensina-nos, assim, em toda a parte
A exprimir-te as lições ao reencontrar-te
Em nosso irmão que a dor punge e governa!

E faze desta casa o doce abrigo
Em que possamos trabalhar contigo
No culto vivo da Bondade Eterna.
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SEGUE, AMIGO

Fatigado romeiro da fé pura,
Sem bordão de conforto a que te arrimes,
Por mais cansado, não te desanimes
Na jornada de pranto e de amargura.

Além do Grande Além, na imensa Altura,
Brilham no Eterno Amor em que te exprimes
As pátrias generosas e sublimes
Da beleza, da graça e da ventura!

Na subida de pedra, cinza e lama,
Sangrem-se os pés embora, nutre a chama
Que arde, incessante, no teu peito aflito;

Sonha acima da escura tempestade
E chegarás, cantando, à Eternidade
Sob a glória celeste do Infinito!…
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SIGAMOS JUNTOS

Enxuga o pranto que te molha o rosto,
Emudece a revolta e vem comigo
Para o vale onde a noite abre o postigo
Da vida que respira a contragosto.

Fita o rude semblante descomposto
Dos que sonham debalde um peito amigo,
A solidão, a fome, o desabrigo,
O assombro e o desespero do desgosto...

Ampara a multidão ansiosa e tarda,
A desfazer-se em sombra áspera e fria,
Dos corações no fel da retaguarda.

Semeia a caridade humilde e franca
E esquecerás a mágoa que te espanca
Por transformá-la em bênção de alegria.
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UNIÃO SEM ADEUS

Converte o pranto em que dilaceras
Em fonte de bondade, alma querida,
Transfigura em trabalho, paz e vida
A saudade que trazes de outras eras...

Espalha o bem, por mais que a dor coincida
Com teu sonho de novas primaveras,
Eleva-te a caminho, enquanto esperas,
Quanto mais alto, tanto mais subida.

Segue e serve, de pés sangrando embora,
Esquece-te, perdoa, lida, chora,
Luta, vence-te, sofre mas porfia!...

E encontrarás o reino do amor puro
Da união sem adeus ante o futuro
Na beleza perpétua da alegria

Fonte:
Francisco Cândido Xavier. Auta de Souza. Ebook obtido na Biblioteca Espírita.

Aparecido Raimundo de Souza (De nascença)


Assim que o garoto acorda e após ter tomado o café matinal, corre até onde esta sua mãe e manda a pergunta:

— Mamãe, mamãe, me leva para ver o mar?

— Não, meu filho...

Duas horas depois o moleque volta a insistir:

— Mamãe, mamãe, chegou um circo aqui no bairro. Foi armado logo ali na pracinha. A senhora me leva para ver o leão e o elefante?

— Não, meu filho...

Dia seguinte logo após o almoço a mesma cena se repete:

— Mamãe, mamãe, me leva pra ver o cara que morreu ali no beco, essa noite, com cinco tiros?

— Não, meu filho...

Passa algum tempo e o garoto retorna. Sempre eufórico e sorridente:

—Mamãe, mamãe, me leva pra ver o novo campo de futebol que acabou de ser inaugurado?

— Não, meu filho...

O pobrezinho sai cabisbaixo. Tranca sua solidão no quarto e ali permanece por toda a tarde.

A mãe, condoída, resolve ir até ele. Aproveita para levar o prato que o guri mais gosta:

— Filho!

— Sim, mamãe?

— Trouxe uma coisa pra você...

— ... Já sei. Batatinhas fritas!

— Sim.

— Legal.

— E de lambuja um copo de refrigerante.

— Uau...!

— Promete não ficar ai pelos cantos de tromba e com a cara amuada?

— Só se a senhora me levar na casa do Toninho hoje, às oito horas da noite?

— O que vai ter lá?

— Ele vai reunir a galera e mostrar o brinquedo novo que ganhou do pai. A senhora me leva?

— Não, filho...

Novamente o garoto se fecha num mutismo impenetrável:

— Não quero as batatinhas...

— Mamãe fez com carinho. Coma!

— Não.

— Tome o refrigerante. Está geladinho, como você gosta.

— Não quero, não quero. Prefiro ir na casa do Toninho.

— Não, filho...

No domingo o piá faz a última tentativa:

— Mamãe, mamãe, me leva no cinema?

— Não, filho.

— Está passando o Sherek.

— Não, filho...

— Mas mãe, eu quero ir no cinema. Todos os meus amigos vão ver o Sherek.

— Já disse que não. Por favor, não insista.

O desditoso, não aguenta mais as negativas de sua genitora e se abre, finalmente, num choro convulso:

— Me leva, mãe. Toda a turma aqui do bairro vai ao cinema pra ver esse filme.

— Não, não, e fim de papo.

— Mãe, eu quero ver o Sherek... Eu quero... Me leva por favor, mãe, por favor...

A mulher, indignada e fora de si, esbraveja, furiosa:

— Para de encher minha paciência, seu desgraçado! Não me peça para ir a lugar nenhum... Você não está cansado de saber que é cego?

Fonte:
Aparecido Raimundo de Souza. Como matar sua mulher sem deixar vestígios. SP: Sucesso, 2012

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Adega de Versos 54: Luiz Poeta (Luiz Gilberto de Barros)

 Fonte:

Luiz Poeta. Nuvens de Versos. Maringá/PR: Editoração por José Feldman, 2020. p.9-10.

Fernando Pessoa (Diário de Bernardo Soares) "2"

Tenho diante de mim as duas páginas grandes do livro pesado; ergo da sua inclinação na carteira velha, com os olhos cansados, uma alma mais cansada do que os olhos. Para além do nada que isto representa, o armazém, até à Rua dos Douradores, enfileira as prateleiras regulares, os empregados regulares, a ordem humana e o sossego do vulgar. Na vidraça há o ruído do diverso, e o ruído diverso é vulgar, como o sossego que está ao pé das prateleiras.

Baixo olhos novos sobre as duas páginas brancas, em que os meus números cuidadosos puseram resultados da sociedade. E, com um sorriso que guardo para meu, lembro que a vida, que tem estas páginas com nomes de fazendas e dinheiro, com os seus brancos, e os seus traços a régua e de letra, inclui também os grandes navegadores, os grandes santos, os poetas de todas as eras, todos eles sem escrita, a vasta prole expulsa dos que fazem a valia do mundo.

No próprio registro de um tecido que não sei o que seja se me abrem as portas do Indo e de Samarcanda, e a poesia da Pérsia, que não é de um lugar nem de outro, faz das suas quadras, desrimadas no terceiro verso, um apoio longínquo para o meu desassossego. Mas não me engano, escrevo, somo, e a escrita segue, feita normalmente por um empregado deste escritório.
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Pedi tão pouco à vida e esse mesmo pouco a vida me negou. Uma réstia de parte do sol, um campo próximo, um bocado de sossego com um bocado de pão, não me pesar muito o conhecer que existo, e não exigir nada dos outros nem exigirem eles nada de mim. Isto mesmo me foi negado, como quem nega a esmola não por falta de boa alma, mas para não ter que desabotoar o casaco.

Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo mais porque vivo maior. Sinto na minha pessoa uma força religiosa, uma espécie de oração, uma semelhança de clamor. Mas a reação contra mim desce-me da inteligência... Vejo-me no quarto andar alto da Rua dos Douradores, assisto-me com sono; olho, sobre o papel meio escrito, a vida vã sem beleza e o cigarro barato que a expender estendo sobre o mata-borrão velho. Aqui eu, neste quarto andar, a interpelar a vida! A dizer o que as almas sentem! A fazer prosa como os gênios e os célebres! Aqui, eu, assim!...

Fonte:
Fernando Pessoa. Livro do Desassossego. Disponível em Domínio Público.

Carolina Ramos (Poesias Esparsas) 2

ÁRVORE
 
Verde bandeira desfraldada ao vento,
árvore amiga, o olhar que te procura
busca repouso e vai achar alento
na sombra que lhe estendes lá da altura!

A sede abrasa! E o fruto sumarento
entregas, com requintes de ternura,
a quem poda a raiz, que é teu sustento
e do solo te traz a seiva pura!

Ramos erguidos, a abraçar o espaço,
tua ânsia de dar não tem cansaço!
Tua bênção de amor não tem medida!

E embora tanto dês e nada colhas,
com o verde pincel de tuas folhas,
vais colorindo de esperança a vida!
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HOJE É UM DIA DE SOL!

Esquece a mágoa, a dor... Esquece a própria vida,
nesse afã de vivê-la alheio aos seus porquês!
Hoje é um dia de sol! O amor é quem convida
para a festa triunfal, que é tua... e tu não vês!

Hoje é um dia de sol! Deixa a angústia esquecida!
Abre as janelas da alma... agora é tua vez!
Tão doce é a sensação de encontrar refletida,
no brilho de um olhar, a esperança em que crês!

Hoje é um dia de sol! Tempo cheio de luz!...
Tenta amar e sorrir... hás de ver como encanta
transformar em fulgor a sombra de uma cruz!

O céu faz-se aquarela...há cores no arrebol...
Vão-se as nuvens embora... a natureza canta
e canta o Amor com ela! – Hoje é um dia de sol!
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SER EMÍLIA...

Ah! Lobato, bom amigo,
que minha infância enfeitaste...
Os caminhos que hoje sigo,
sem querer, delineaste!

Eu já fui menina arteira,
que brincava com boneca.
Narizinho” reinadeira,
cheia de sonhos!... Moleca!

Tal qual “Pedrinho”, eu, também,
pelos campos cavalgava!
Sem caçadas!... sou do bem...
E amiga da bicharada!

Sem “Pó de Pirlimpimpim”,
fiz muita viagem gostosa!
Do saber, ao vê-lo afim,
conquistou-me o “Sabugosa”!

Lobato, só coisa linda,
de ti me veio, portanto,
guardo, com ternura infinda,
saudades por todo canto!

E tive um Príncipe, sim!
Lindo “Príncipe Encantado”!
Hoje... tão longe de mim...
Para os céus arrebatado...

Já fritei muitos bolinhos,
como “Anastácia” fazia...
E rodeada de netinhos,
agora, com alegria,

sou qual feliz “Dona Benta”,
entre anjos vindos do céu,
mas... a paz... nenhum alenta,
ao correr de déu-em-déu!...

Lobato... Os teus personagens,
Rabicó, a Cuca, o Anjinho,
a Emília a contar vantagens...
floriram o meu caminho!

E ao ver seres perturbando
os rumos da Pátria nossa,
tal qual Saci “sacizando”,
lembro os Sacis lá da roça!

Os daqui...duas pernas têm...
os da roça têm só uma!
Mas diabruras de ambos vêm,
e ...coisa boa? - Nenhuma!

Ah!... queria ser agora
essa Emília irreverente!
- Bonequinha que não chora,
mas... pensa... E diz o que sente!

Fonte:
Poemas enviados pela autora.

Figueiredo Pimentel (A moça encontrada no mar)

As leis do reino de Sarinhã – grande e riquíssima nação, que há séculos e séculos deslumbrou o mundo pelos altos feitos do seus príncipes e pela sua opulência, – obrigavam o soberano reinante a casar-se assim que completasse quinze anos de idade.

O príncipe Altir, que governava Sarinhã, na época em que se passa esta história, querendo conformar-se com as leis, resolveu casar-se. Para realizar o seu desígnio, ordenou que lhe apresentassem as moças mais famosas que existissem no país, embora morassem nos confins do reino.

Os emissários, já haviam corrido todas as cidades, vilas, aldeias, povoados de casa em casa, e nenhuma das jovens apresentadas a Altir lhe tinham agradado. Tinha ele perdido a esperança de casar com a moça mais linda do país, conforme desejava, e por isso vivia muito triste, quando se deu um fato interessante.

O batalhão que dava a guarda de honra do palácio, unicamente composto de moços fidalgos, escolhidos entre os mais ricos, instruídos, famosos e valentes do reino, tinha ido assistir à missa na capela real. Entre os soldados, havia um jovem marquês, nascido numa província longínqua, filho de nobilíssima e antiga família, e que pouco antes fora admitido nas guardas do rei.

Era a primeira vez que ele entrava na real capela, pois não havia ainda um mês que chegara à capital. Estava admirando o luxo, o esplendor, a arquitetura do templo, um dos mais elegantes e célebres do mundo inteiro e percorria com o olhar as imagens, nos altares, cada qual mais primorosamente executada por afamado artista, quando fitou a de N. S. do Rosário, que ficava justamente a seu lado.

Não pôde deixar de soltar um grito de espanto, ao mesmo tempo que de seus olhos jorravam lágrimas abundantes.

O general comandante, que era o príncipe Seraf, estranhando aquele procedimento, indagou do jovem marquês, cujo nome era Odern, a causa da exclamação que soltara e do pranto que derramava.

Odern disse que chorava porque havia se lembrado de repente de sua família, de sua casa, situada havia um mês de viagem, e lembrara-se ao ver a imagem de N. S. do Rosário, que era o retrato exatíssimo, perfeito, de uma de suas quatro irmãs, Gabi, a mais moça.

A notícia correu de boca em boca. Muita gente zombava, não acreditando, porquanto essa imagem era uma perfeição, um primor de escultura, um ideal de beleza, e não podia existir uma criatura humana que se parecesse com ela, quanto mais que fosse a mesma coisa, o modelo vivo.

No entanto a notícia chegou aos ouvidos do príncipe Altir, que mandou chamar Odern, a quem falou:

– Se tua irmã é assim tão bonita, dize-me onde mora tua família, que quero mandar buscá-la para minha esposa.

– Saberá vossa real majestade, respondeu o marquês, que meus pais moram nos desfiladeiros do monte Camocim, distante daqui dez mil léguas por terra e cinco mil por mar.

O rei mandou imediatamente preparar uma esquadra par ir buscar a jovem Gabi, enviando para isso embaixadores ao pai, pedindo-a em casamento. Odern fez parte dessa embaixada.
***

Ao cabo de três meses de viagem, os navios aportaram finalmente em Camocim. Todos, ao verem a moça, ficaram maravilhados com sua beleza extraordinária.

O embaixador entregou a carta do rei ao velho duque Odern, que aceitou o honroso pedido do rei Altir, e deixou a formosa Gabi partir, em companhia de seu irmão.

Regressava a esquadra, quando caiu um grande temporal, que obrigou os navegantes a procurar o primeiro abrigo que se lhes deparou. Era uma enseada desconhecida, que não figurava em mapa algum.

Mas ninguém se importou com aquilo, e todos saltaram em terra, indo pedir pousada à casa de uma velhinha que ali morava. Era uma velhinha com perto de noventa anos, magra, baixa, e horrorosamente feia, caolha e aleijada. Devia ser com certeza uma bruxa, mas disse que se chamava Sarda.

Em conversa indagou donde vinham e para onde iam tão ilustres navegantes, e soube assim o destino da embaixada real. Aproveitando-se de uma ocasião favorável, convidou Gabi para dar um passeio pela horta, e aí chegando atirou a pobre menina no poço que ali havia. Para não darem por falta dela, pôs em seu lugar uma filha que tinha, moça em verdade, mas horrível de feia.

Como já era noite os viajantes não deram pela troca, e conduziram-na para bordo. Quando os navios levantaram ferro, a velha foi ao poço, tirou dele a moça, cortou-lhe os cabelos, furou-lhe os olhos e deitou-a num caixão, que atirou ao mar.

Mas o caixão, em vez de afundar, flutuou, e foi chegar ao reino primeiro que a esquadra real. Pedro, um pescador, achou-o. Vendo-o muito pesado, julgou ter dinheiro, e começou a gabar-se que havia achado uma fortuna no fundo do mar, e que por isso seria mais rico que o rei.

Sendo chamado à presença do monarca, Pedro disse que de fato tinha achado um caixão com dinheiro.

Altir mandou que os guardas fossem se certificar o que havia de verdade no que dizia o pescador. Aberto o caixão, deram com a moça dentro, ficando todos com pena, de ver uma jovem formosíssima. divinamente bela, mas cega e com os cabelos cortados.

Os soldados voltaram conduzindo a moça, chegando ao palácio, um dia depois de ter aportado a embaixada trazendo a filha da velha. O embaixador, dando conta da missão, disse ao rei:

– Real majestade, fui alegre e volto triste; sujeito-me, porém, à pena que me quiserdes dar.

Quanto ao marquês Odern, ao ver a irmã ficar tão feia, de um dia para o outro, receando a justa cólera de vossa majestade, lançou-se ao mar.

– Não há remédio, disse o rei, casar-me-ei com essa mulher feia.

Efetuou-se o casamento, mas o rei conservou-se sempre triste. No outro dia, quando lhe apresentaram a moça dos olhos furados e cabelos cortados, todos da embaixada reconheceram sem demora a formosa Gabi Odern.

Contando-se-lhe o que havia ocorrido com o temporal e a hospedagem na casinha da velha Sarda, Altir desconfiou da infame bruxa, e mandou buscá-la por um navio veloz.

Sarda a princípio negou tudo, e até fingiu desconhecer sua própria filha, mas esta era muito parecia com ela, de sorte que se descobriu toda a falsidade das duas malvadas feiticeiras.

Por castigo, o rei mandou furar os olhos da velha e cortar-lhe os cabelos. Assim que cumpriram a ordem real, os olhos de Gabi ficaram perfeitos, e cresceram-lhe os cabelos, tornando-se ela ainda mais formosa, mais deslumbrante, o verdadeiro tipo da beleza.

O marquês Odern não havia morrido afogado. Tenho sido lançado à praia, foi recolhido pelo mesmo pescador Pedro. Sabendo que sua irmã estava viva e sã, e que casara com o rei Altir, apresentou-se no palácio, sendo magnificamente recebido pela rainha, sua irmã, e pelo seu real cunhado.

A família do duque de Odern deixou os desfiladeiros de Camocim, e veio residir na capital do reino de Sarinhã, onde viveu sempre feliz e considerada.

Fonte:
Alberto Figueiredo Pimentel. Histórias da Avozinha. Publicado em 1896.

domingo, 31 de outubro de 2021

Solange Colombara (Portfólio de Spinas) 7

 

Silmar Böhrer (Croniquinha) – 35 –

Belo instante junto à natureza, olho para cima, contemplo o horizonte e observo as vizinhanças. Sinto-me assim contagiado por este início de tarde mirífica, grandiosa, panda de luz.

De todos os cantos parece brotar inspiração - do azul do céu, do canto dos  pássaros, da claridade do dia.

Do azul do céu vem a harmonia que há em mim; do canto dos pássaros, a música que anda pelos ares; da claridade do dia, a visão mais ampla paa os olhos.

Duas pombas passam em voo rasante, um tico-tico chilreia seu solilóquio alegre, um eucalipto sacode os galhos levemente, suavemente, gostosamente, impulsionado pela aura fresquinha que navega no espaço.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

II Concurso de Trovas de Irati/PR (Trovas Premiadas)

 
Homenagem à trovadora Mafalda de Sotti Lopes

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Âmbito Nacional / Internacional
VETERANOS

Tema: Constelação (L/F)

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1º lugar
Cipriano Ferreira Gomes
São Paulo/SP

Éramos dois inocentes...
duas estrelas no chão...
Deus com as nossas sementes
fez uma constelação.
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2º lugar
Antonio Colavite Filho
Santos/SP

Tal qual a constelação,
de uma forma bem discreta,
minhas "Três Marias" são
minha esposa, a filha e a neta!!!
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3º lugar
Antonio de Oliveira
Rio Claro/SP

Minhas mãos buscando as tuas...
E eu, vivendo assim, sem tê-las,
sou um planeta sem luas,
constelação sem estrelas!
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4º lugar
Márcia Jaber
Juiz de Fora/MG  

Noite escura, de céu limpo,
de constelações ornada,
é qual mina de garimpo
de diamantes cravejada.
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5º lugar
Alba Helena Corrêa
Niterói/RJ  

Vates mortos, são estrelas:
formam, pois, constelações!
Lá, no céu, podemos vê-las,
refletindo inspirações!
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5º lugar
Lúcia Edwiges Narbot Ermetice (Lu Narbot)
Campinas/SP

A constelação brilhante
do nosso perene amor,
nem mesmo por um instante
perdeu seu brilho e fulgor.

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MENÇÃO HONROSA (ordem alfabética)
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Antonio Francisco Pereira
Belo Horizonte/MG

Teus olhos, como diamantes,
tão bonitos eles são,
que parecem mais brilhantes
que qualquer constelação.
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Fernando Antônio Belino
Sete Lagoas/MG

O céu, divina aquarela,
desperta a imaginação,
lendas e mitos revela,  
em cada constelação.
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Geraldo Trombin
Americana/SP

A minha saga não finda!
Na constelação de brilhos
dos meus olhos falta ainda
o dos que não tive: filhos!
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Gilvan Carneiro da Silva
São Gonçalo/RJ

Numa harmonia de afins
que há entre os projetos Seus,
Constelações são jardins
no grande quintal de Deus...
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Jaqueline Machado
Cachoeira do Sul/RS

A constelação vigente
no brilho do teu olhar,
lembrou-me a doce nascente
sonhando alcançar o mar.
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Paulo Cezar Tórtora
Rio de Janeiro/RJ

Nas constelações silentes
o pulsar longe e sozinho,
são os círios reluzentes
de Deus, mostrando o caminho.
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Romilton Faria
Juiz de Fora/MG

Saudoso em minha varanda,
mirando a constelação,
vêm as noites de ciranda,
apertar meu coração.

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MENÇÃO ESPECIAL (ordem alfabética)
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Maria Dulce de Lima Pessoa
Tabira/PE

Eu amava aquela estrela
de tantos sonhos... em vão.
Hoje, triste, choro ao vê-la...
luz de outra constelação.
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Renata Paccola
São Paulo/SP

Há quem se sinta um cometa,
mas nada somos senão
um pontinho num planeta
da imensa constelação!

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Âmbito: Nacional /Internacional
VETERANOS

Tema: Nuvem (Humorística)

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1º lugar
Paulo Cezar Tórtora
Rio de Janeiro/RJ

A comissária de bordo,
ela, sim, um “avião”,
pôs-me nas nuvens, concordo,
e estou ainda sem chão.
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2º lugar
Mariângela Tavares
São Gonçalo/RJ

Feito nuvem passageira
é o amor de um ancião.
Sai fumaça da chaleira...
Mas nada de ebulição!
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3º lugar
Jerson Lima de Brito
 Porto Velho/RO

- Já foste às nuvens comigo...
A moça: - Não me recordo!
E ele, cutucando o amigo:
- Sou comissário de bordo!
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4º lugar
Magnus Kelly
São Gonçalo do Amarante/RN

- “Vou invadir tua praia”!
Disse o vovô, empolgado...
E o broto de mini-saia:
- Teu dia nasceu nublado!
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5º lugar
Edweine Loureiro
Saitama/Japão

“Sai das nuvens, ó menino!”
era criticado em casa.
Saiu, sim, de modo fino:
tornou-se chefe da NASA.

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Nacional/Internacional
NOVO TROVADOR

Tema: Constelação (L/F)

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1º lugar
Jorge Ribeiro Marques
Rio de Janeiro/RJ

Todas as constelações,
Aquário, Câncer, Cepheus,
encantam os corações
por serem obras de Deus.
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2º lugar
Maria Natael Alves Pego
São Paulo/SP

Quando surge no infinito
divina constelação,
é o que há de mais bonito
na suprema criação.
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2º lugar
Neusa Aparecida Moreira Maia
Angra dos Reis/RJ

Que bela constelação -
nosso Cruzeiro do Sul!
À noite, orientação
pra quem singra o mar azul.
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3º lugar
Mônica Monnerat
Santos/SP

Uma estrela tão sozinha,
no céu sem constelação,
parece até que adivinha
como está meu coração...
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4º lugar
Antônio Rosélio Nunes Pacheco
Nova Itaperuna/RJ

No céu vejo o cinturão
e as formosas Três Marias,
formando a constelação
na aurora desses meus dias.
= = = = = = = = = = =

5º lugar
Fabiano Fechine Torres Clemente
Natal/RN

Em minha face, de açoite,
à luz da constelação,
raja o bafejo da noite,
que aquece o meu coração.
= = = = = = = = = = =

5º lugar
Francisco Maia dos Santos (Prof. Maia)
Caicó/RN

Nessa imensidão infinda,
vejo uma constelação;
contendo uma estrela linda
que lembra a tua feição.

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MENÇÃO HONROSA
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Aparecida Militão Kugelmeier
Campinas/SP

Na constelação celeste
tem estrelas a brilhar,
mas a luz que te reveste
vai sempre me iluminar.

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Nacional / Internacional
NOVO TROVADOR

Tema: Nuvem (Humorística)

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1º lugar
Júlio Augusto Gurgel Alves
 Fortaleza/CE

O seu noivo prometia:
- às nuvens, vou te levar!
Lua de mel... grande dia!
De avião foram voar.

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Estadual (somente Paraná)
VETERANOS

Tema: Estrela (L/F)

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1º lugar
Maria Lúcia Daloce
Bandeirantes

Não sou astro iluminado,
sou uma estrela e, também,
tenho luz própria e um cuidado:
- não roubo a luz... de ninguém!
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2º lugar
Antônio Augusto Assis (A. A. de Assis)
Maringá

Tantas estrelas em cena
- um espetáculo lindo.
E, todavia, que pena,
tão pouca gente assistindo...
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3º lugar
Maria Helena Oliveira Costa
Ponta Grossa

Minha fé transpõe espaços
e em Deus procuro mantê-la:
que sempre guie meus passos
a eterna luz d'Essa Estrela!
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4º lugar
Silvia Maria Svereda
Irati

São tantas... milhões de estrelas
isto ainda me inquieta.
Se o mundo pudesse vê-las,
com os olhos de um poeta!
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5º lugar
Lucília Alzira Trindade Decarli
Bandeirantes

Não se enverga o trovador
que, do amor, canta a alegria;
no sonhar rejeita a dor,
faz da trova a estrela-guia!

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MENÇÃO HONROSA (ordem alfabética)
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Albano Bracht
Toledo

Nesta vida peregrina
o amor guia os passos meus.
Uma estrela me ilumina.
O nome da estrela é Deus.
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Carla Alves da Silva
Curitiba

Amor, agora distante,
do passado faz açoite,
qual estrela, tão brilhante,
vagando só pela noite ...
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Célia Terezinha Neves Vieira
 Irati

Quem tem Deus no coração,
lume da sabedoria,
jamais teme escuridão
pois tem sua estrela guia.

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Estadual (Paraná)
VETERANO

Tema: Nuvem (Humorística)

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1º lugar
Antonio Augusto Assis (A. A. de Assis)
Maringá

A nuvem no céu se move,
tromba em outra... um barulhão.
Por mais que trovar eu trove,
jamais trovejo um trovão.

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Estadual (Paraná)
NOVO TROVADOR

Tema: Estrela

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 1º lugar   
Sinclair Pozza Casemiro
Campo Mourão

Flagrar a boca da noite
beijando o céu, sem pudor,
faz com que a estrela se afoite
e brilhe com mais fulgor!
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2º lugar
Maria Silvana Prado
Imbituva

Quando pelas luas novas,
cai da noite o negro véu,
as estrelas são as trovas,
que Deus escreve no céu.
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3º lugar
Davi Pereira
Toledo

Ontem era um fogaréu,
clareando minha estrada;
hoje ela vive no céu,
numa estrela eternizada.

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Estadual (Paraná)
NOVO TROVADOR  

Tema: Nuvem (Humorística)

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1º lugar
Vinicius Fonseca
Londrina

Uma nuvem cinza olhei
vem vindo uma chuva aí!  
Guarda chuva não levei
e no pé d'água eu caí.
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Fonte:
Resultado enviado por A. A. de Assis

Carlos Drummond de Andrade (Trem de Contos) 40 e 41


PODER DA ETIMOLOGIA


Quando o professor Nemésio explicou a Cacilda que o nome dela, segundo Zambaldi, quer dizer “a que combate com lança”, a moça ficou triste. É tão doce esse nome (experimentem pronunciá-lo) e tão meiga a sua portadora, que a revelação lhe pareceu a mais injusta possível.

O pior é que os irmãos começaram a brincar com ela de maneira provocadora, dizendo a cada instante: “Cacilda, onde você escondeu sua lança?”. Ou: “O amolador de facas está na esquina da rua Júlio de Castilhos. Leve a lança para ele afiar, Cacilda”.

De aveludada que era, Cacilda tornou-se suscetível e mesmo agressiva. O namorado rompeu com ela, dizendo que tinha medo de uma lanceira polonesa. E Cacilda quedou, fera e tristinha, em seu quarto onde havia gravuras de guerras napoleônicas.

A família procurou o professor Nemésio que, benevolamente, se dispôs a pacificar a moça: “Minha filha, isso de etimologia é muito discutível, cada uma diz uma coisa, e esse tal de Zambaldi já foi desacreditado por pesquisas recentes. O verdadeiro significado do nome de uma pessoa é o que lhe confere a pessoa que o tem. Você é tão encantadora que seu nome só pode significar você mesma, isto é, encantos mil”.

Cacilda acreditou e voltou ao estado gentil, mas sucede que, de vez em quando…
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RICK E A GIRAFA

No Jardim Zoológico, neste domingo azul, a girafa olha do alto para as crianças, e parece convidá-las a um passeio no dorso. Há uma escada perto, e se for encostada ao animal, Ricardo (Rick é o seu apelido) poderá chegar até lá.

O garoto mede a distância que vai do chão ao lombo, e julga-se em condições de vencê-la. Uma vez lá em cima, cavalgando o pescoço, e segurando-lhe os chifres, pedirá à girafa, depois de umas voltas pelo Jardim, que o leve por aí, percorrendo o mundo.

Presa há tanto tempo, a girafa há de estar ansiosa de liberdade. Não será difícil transpor a cerca. Ela espera que Rick lhe proponha a aventura. Ninguém se atreverá a travar-lhe os passos, e Rick vai dirigi-la nos rumos que aprendeu no atlas escolar.

O problema é descer de vez em quando, para Rick alimentar-se de biscoitos, fazer necessidades e dormir. Camarada, a girafa irá se deitando aos poucos, primeiro dobrando devagar as pernas, depois se inclinando lentamente para o lado, e afinal arriando com suavidade a carga infantil.

Mas para subir outra vez, como se arranjaria ele? Escada não haverá. Mesmo deitada, a girafa é difícil de subir. A imaginação não lhe fornece recurso plausível. O sonho frustrou-se. Rick levanta o braço direito e, com a mão espalmada em gesto de adeus à girafa que gentilmente o convidara, esclarece:

— Muito obrigado. Fica para outra ocasião, quando eu crescer.

Fonte:
Carlos Drummond de Andrade. Contos plausíveis. Publicado em 1981.

Minha Estante de Livros (Cleveland Amory e Charles Dickens)


O GATO QUE VEIO PARA O NATAL


O gato que veio para o Natal é o primeiro livro de uma trilogia escrita por Cleveland Amory, um autor americano que escreveu extensivamente sobre os direitos dos animais. Amory relata seu resgate e adoção do Urso Polar, um gato que ele apresentará em dois livros futuros. Foi publicado pela primeira vez pela Little, Brown and Company em 1987 e depois em brochura pela Penguin Books em 1988.

Amory, escritor e ativista dos direitos dos animais, encontra um gato de rua enquanto caminhava por um beco em uma véspera de Natal com neve. Amory leva o gato para seu apartamento e o aclimata a viver dentro de casa. Polar Bear (Urso Polar) conhece vários amigos famosos e conhecidos de Amory, incluindo Cary Grant , Walter Cronkite e George C. Scott . Amory também detalha seu trabalho com os direitos dos animais na época.

Kirkus Reviews escreveu que o livro era "totalmente encantador e bem-humorado, e um tesouro para qualquer um que já foi 'propriedade de um gato'."

A Publishers Weekly escreveu: "Amory oferece uma divertida, embora preciosa, recriação de seu primeiro ano com o Urso Polar (seu relato sobre a seleção de um nome leva 20 páginas)."

Mary Daniels, do Chicago Tribune, escreveu: "Amory faz transições perfeitas entre o que poderia ser material não relacionado, usando Urso Polar como um subtema ao longo do livro."

A primeira edição ficou em 8º lugar na lista de bestsellers do New York Times em 1987, 20 semanas na lista. A edição de brochura de 1988 foi a 3ª posição na lista de bestsellers do New York Times em 1988. Alcançou a 1ª posição, permanecendo naquele lugar por 5 semanas. O New York Times o listou como o quinto livro de não-ficção mais vendido de 1988.
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UM CONTO DE NATAL

Um Conto de Natal é um livro da autoria de Charles Dickens. Com várias traduções em Português, sendo uma delas Um Conto de Natal, o livro foi escrito em menos de um mês originalmente para pagar dívidas, mas tornou-se um dos maiores clássicos natalinos de todos os tempos e uma das mais célebres obras de Dickens. O autor descreveu-o como o seu "livrinho de Natal", e foi primeiramente publicado em 1843, com ilustrações de John Leech. A história transformou-se instantaneamente num sucesso, vendendo mais de seis mil cópias apenas numa semana.

Ebenezer Scrooge é um homem avarento que abomina a época natalícia. Trabalha num escritório em Londres com Bob Cratchit, o seu pobre, mas feliz empregado, pai de quatro filhos, com um carinho especial pelo frágil Pequeno Tim, que tem problemas nas pernas. Numa véspera de Natal Scrooge recebe a visita do seu ex-sócio Jacob Marley, morto há sete anos naquele mesmo dia. Marley diz que o seu espírito não pode descansar em paz, já que não foi bom nem generoso em vida, mas que Scrooge tem uma chance, e que três espíritos o visitarão.

O primeiro espírito chega, um ser com uma luz que emana da sua cabeça e um apagador de velas debaixo do braço à guisa de chapéu. Este é o Espírito dos Natais Passados, que leva Scrooge de volta no tempo e mostra a sua adolescência e o início da sua vida adulta, quando Scrooge ainda amava o Natal. Triste com as lembranças, Scrooge enfia o chapéu na cabeça do espírito, ocultando a luz. O espírito desaparece deixando Scrooge de volta ao seu quarto.

O segundo espírito, o do Natal do Presente, é um gigante risonho com uma coroa de azevinho e uma tocha na mão. Ele mostra a Scrooge as celebrações do presente, incluindo a humilde comemoração natalícia dos Cratchit, onde vê que, apesar de pobre, a família do seu empregado é muito feliz e unida. A tocha na mão do espírito tem a utilidade de dar um sabor especial à ceia daqueles que fossem "contemplados" com a sua luz. No fim da viagem, o espírito revela sob o seu manto duas crianças de caras terríveis, a Ignorância e a Miséria, e pede que os homens tenham cuidado com elas. Depois disso vai-se embora.

O terceiro espírito, o dos Natais Futuros, apresenta-se como uma figura alta envolta num traje negro que oculta o seu rosto, deixando apenas uma mão aparente. O espírito não diz nada, mas aponta, e mostra a Scrooge a sua morte solitária, sem amigos.

Após a visita dos três espíritos, Scrooge amanhece como um outro homem. Passa a amar o espírito de Natal, e a ser generoso com os que precisam, e a ajudar o seu empregado Bob Cratchit, tornando-se um segundo pai para Pequeno Tim. Diz-se que ninguém celebrava o Natal com mais entusiasmo que ele.

Adaptações

O mais conhecido personagem inspirado nesta obra é o Tio Patinhas, da Disney, que em inglês se chama Scrooge McDuck. Patinhas toma o nome do personagem que lhe deu nome na versão animada Mickey's Christmas Carol. O Pica-Pau também tem um tio chamado Scrooge.

Em 1992, Os Muppets adaptaram a obra no filme The Muppet Christmas Carol, que estrelou Michael Caine no papel de Scrooge e Caco, o Sapo no papel de Bob Cratchit. Gonzo aparece no papel do próprio Charles Dickens, que é o narrador do filme.

Em 1994, Os Flintstones adaptaram a obra no filme A Flintstones Christmas Carol, com Fred Flintstone no papel de Ebenezer Scrooge e Barney Rubble no papel de Bob Cratchit.

Uma outra homenagem às obras de Natal de Dickens é pouco conhecida. À luz da morte do escritor, uma menina que vendia flores às portas de um teatro de Londres falou: "Morreu Dickens? E o Papai Noel, será que morreu também?"

Outra referência feita é no filme O Expresso Polar, com Tom Hanks. Nele o protagonista que não acredita em Natal passa por um vagão no trem atulhado de bonecos. Uma marionete de nariz aquilino apresenta-se como Ebenezer Scrooge e o chama de cético.

Houve também em 1988 uma releitura moderna em Scrooged, onde Bill Murray interpreta o presidente arrogante e sádico, de uma grande empresa de comunicação que é visitado na véspera de natal pelos três fantasmas do natal.

O filme Barbie em a Canção de Natal é considerada a versão feminina de A Christmas Carol. A história fala de Eden Starling, uma cantora famosa (porém egoísta) que odeia o Natal. Há personagens que são análogos: Eden Starling (Ebenezer Scrooge), Catherine Britto (Bob Cratchit) e Marie (Jacob Marley).

Existe também uma versão dos Looney Tunes em que Patolino é dono de uma empresa e odeia a época natalícia.

Em 2009, a Disney lança o filme em 3D, Os Fantasmas de Scrooge, no qual Jim Carrey interpreta Scrooge e todos os fantasmas.

No dia 25 de dezembro de 2010, foi ao ar um especial de Natal da série britânica Doctor Who, que levou o nome "A Christmas Carol", adaptando mais uma vez o conto de natal de Charles Dickens.

E em 2007 um filme de natal do Dennis, o Pimentinha, chamado "O Natal do Pimentinha" (A Dennis the Menace Christmas) onde o Sr. Wilson (Robert Wagner) fala que odeia tudo e todos no Natal, e acaba ignorando sua esposa Martha Wilson (Louise Fletcher), que gosta do Natal, e estragando o Natal de Denis (Maxwell Perry Cotton). Na noite de Natal, é visitado pelo fantasma do natal passado, do presente e do futuro, representado por Bob, o Anjo do Natal (Godfrey Danchimah). Ao vislumbrar o futuro onde Denis é um velho avarento que odeia tudo no Natal, Wilson então volta ao presente e vai se retratar com Martha, a família de Denis e tentar salvar o Natal.

No final de 2011, a DC Comics lançou a graphic novel Batman: Noel. Escrita e desenhada por Lee Bermejo, Batman: Noel mostra o Cavaleiro das Trevas como um amargurado e sem-esperanças Scrooge, Mulher Gato como o fantasma do passado, Superman como o fantasma do presente, e Coringa como o fantasma do futuro.

Fontes:
https://stringfixer.com/pt/The_Cat_Who_Came_for_Christmas
https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Christmas_Carol

sábado, 30 de outubro de 2021

Varal de Trovas n. 531

 

Júlia Lopes de Almeida (Incógnita)

– Ah! O senhor conheceu-a?

– De vista.

– Devia ter sido feia!

– Não! Era formosa.

– Que nome tinha, sabe?

– Ignoro... Faz-me o favor do seu fogo?

– Pois não...

Houve uma pausa e, enquanto um dos interlocutores, o que perguntava, examinava com interesse o interior do Necrotério, o outro ia acendendo muito pachorrentamente o seu cigarro.

Em frente deles, sobre o mármore branco de uma das quatro mesas, estava o cadáver de uma mulher.

A claridade frouxa de um dia de inverno entrava pela larga porta e pelas janelas, indo cair sobre o corpo seminu da infeliz, a envolvê-la, como uma grande mortalha transparente.

Tudo triste, tudo cor da neve, tudo frio!

O vento entrava, cortante como uma lâmina bem afiada. No seu nicho, sobre fundo azul, a Virgem da Piedade, sustendo nos joelhos o corpo inerte do Cristo morto, evocava, como um exemplo de profunda agonia, a sua grande dor.

– Infeliz, dizia um dos espectadores, encostado ao umbral, olhando para aquele pavoroso espetáculo, numa fixidez de animal magnetizado.

O cadáver estava inchado pela absorção da agua e já manchado da gangrena. Os cabelos enovelados empastavam-se sobre as clavículas, numas madeixas pretas, curtas, ásperas, sujas de areia e de partículas de algas. Os olhos, entreabertos, pareciam, na sua névoa sinistra e glacial, feitos da água que os havia apagado e que se tivesse coagulado em dois grandes glóbulos gelatinosos e opacos. Expressão medonha, feita pelo terror da onda e pelo terror da morte!

O diálogo continuava:

– O senhor diz que ela não era feia! No entanto parece horrorosa! Como a morte transfigura... como a morte é má!

O outro sorriu-se, respondendo:

– Se estivesse, como eu, habituado a olhar para isto, já se não impressionaria assim. Vá-se embora... está pálido e não convém abusar de uma impressão nervosa.

Separaram-se. E o sujeito que conhecera a desgraçada morta, noutros tempos, em que ela era talvez alegre, jovial, risonha, ia andando despreocupadamente, a bambolear a grossa bengala de castão de prata, e a pensar no almoço do hotel, nas ostras frescas e no vinho leve. O outro, ao contrário, tremia, sentia as palmas das mãos úmidas e gélidas, como se as tivesse passado sobre a carne mole da defunta; olhava com raiva para o mar azul franjado de espuma alvinitente e semeado aqui e além por umas velas brancas como asas de cisne; sentia um cheiro de cadáver e de ácido fênico em tudo, na rua, no próprio fato, no chapéu, no lenço, nas mãos...

Todo esse dia foi para ele de sofrimento; numa obsessão doentia, cismava continuamente nessa morta desconhecida, por quem talvez tivesse passado e a quem talvez tivesse podido socorrer ou aconselhar.

A sua responsabilidade de ente humano ofendia-se àquela revelação de padecimento sem consolo. A felicidade depende às vezes de tão pouco!

Querendo reagir, procurou em vão entreter o espírito, arejá-lo com outras ideias. Afinal, não fora por causa dele que aquela mulher se matara! Depois, não lia ele todas as manhãs, já sem abalo à força do costume, tantas notícias de crimes, tão dolorosas revelações nos jornais?

Por que haveria agora este fato de o impressionar mais que tantos outros? Então, só porque os seus olhos tinham visto aquele corpo imundo, já a sua impassibilidade dava lugar a uma tamanha vibração de nervos?

Devia pensar em outra coisa; queria-o, mas era vão o esforço, à resistência acudia a curiosidade:

– Coitada, por que se teria matado?

Desgraças de amor, naturalmente. Uma paixão; sim, devia ter sido isso mesmo... Quando voltasse para casa passaria outra vez pelo Necrotério... esperava já lá não encontrar o cadáver, sabe-lo reconhecido pela família, tirado dali, daquela exposição ignominiosa.

Àquela hora alguém choraria a seu lado, já haveria flores sobre o seu corpo imundo, e o perdão da família sobre o seu crime nefasto!

Ainda dois dias antes ela devia ter sido bonita, fresca, louçã... Naturalmente aquele por quem ela se matou foi procurá-la, e, humilhado, arrependido, irá acompanhá-la ao cemitério, fazendo-lhe um enterro bonito e espargindo violetas sobre o seu túmulo, com saudosa ternura.

Talvez a matasse uma traição... o amante casaria... o marido amaria outra... a vergonha... o ciúme... Fosse o que fosse, ela estava morta, desfigurada, repugnante, e não lhe podia sair do pensamento, numa obstinação cruel.

E as mãos, e o fato e o lenço cheiravam a defunto e a ácido fênico!

Saiu de novo; girou pelas ruas; aqui um amigo alegre detinha-o, contando-lhe uma anedota picaresca. Os outros riam, ele sorria apenas, condescendentemente, pensando nuns olhos vítreos, parados, e num corpo hirto e manchado de escuro. Entrou num botequim: muita confusão. Gente e música estrepitosa. Mas todas aquelas pessoas, quase todas homens, pareceram-lhe tétricas, sombrias, pensativas. Nem uma gargalhada! Nem um dito de espírito faiscando no ar; bulha de passos, tilintar de vidros e metais, unicamente rostos amarelados, olhos fixos no café das xícaras, e ao fundo uns músicos, vibrando os seus instrumentos com desespero, num interesse de ganho mercenário.

Achou estúpido aquilo e saiu.

Mas na rua, como em casa, sentia o mesmo cheiro e o mesmo desgosto. Sempre aquela mesa de mármore branca, inclinada, a Virgem no seu nicho de madeira, e o cadáver da afogada, com os olhos abertos e as algas mirradas presas no cabelo.

Entretanto o outro, que a conhecera, já nem pensava nela...

E no espírito do impressionado rapaz voltava de vez em quando a impertinente pergunta:

– Por que se mataria... por quê?...

Voltando para casa, parou de novo no Necrotério. A morta já lá não estava. Sobre a mesa que ela tinha ocupado, agora vazia, o sol punha, através dos vidros vermelhos e amarelos das janelas, umas rosas de luz cor de ouro e cor de sangue. Trouxe-lhe aquilo algum sossego, mas não se coibiu de perguntar com interesse ao guarda se a infeliz fora, enfim, reclamada pela família.

– Não, senhor, respondeu-lhe o guarda com amabilidade, ajeitando no pescoço um lenço de lã azul.

– Então ninguém a reconheceu?!

– Ninguém.

– Ninguém a procurou?

– Ninguém.

– Coitada!

O guarda espantou-se de ver brilharem de comoção os olhos daquele importuno perguntador, que no entanto ia dizendo:

– Não teve a desventurada pai, irmão ou amigo que lhe viesse dizer um último adeus! Que coisa triste...

– Ninguém, repetiu o guarda; foi daqui para o cemitério.

– Antes a tivessem deixado no mar...

– Sim, mais valia...

O rapaz não respondeu; olhou outra vez para a mesa, onde tremulavam as rosas de sol, e seguiu.

Talvez se tivesse matado por ser sozinha. A mulher é uma eterna criança, precisa sempre que a conduzam pela mão... Sem lar, sem amor, sem amparo e sem conselhos, como poderia resistir e viver neste mundo? Faltou-lhe talvez o esposo... um amigo dedicado... talvez a mãe... um braço salvador, enfim, que a sustivesse em um outro nível.

Pobre rapariga! fascinou-a naturalmente a cor misteriosa do oceano, ora verde, ora azul... Supôs poder dormir entre os corais e as conchas nacaradas, enquanto as ondas rolassem sobre o seu corpo, marulhosamente!

Seria louca? É possível. Um pouco de espuma aparecendo e sumindo-se assemelhar-se-ia a um aceno que a chamasse...

Incógnita! passando pela terra sem deixar ninho nem vestígio, afundou-se no mar repentinamente, com todas as suas desilusões, ou quem sabe? Com todas as suas esperanças!

Talvez que ele, ele mesmo, já a tivesse visto e beijado!

Esta ideia fê-lo estremecer. Viu fixarem-se nos seus os olhos terríveis e impenetráveis da morta, nublados de cinzento, a cor sombria e muda.

Interrogou as suas reminiscências. E a voz do guarda pareceu dizer-lhe de novo, ao ouvido:

– Ninguém...

No caminho percorrido da sua vida, não a vira nunca. Antes assim! E ele respirou.

Por que se obstinava em pensar nela? Que estranho poder era esse, prendendo-o de tal forma a uma desconhecida? Vira-a pela primeira vez já morta, já putrefata e asquerosa. Acabou-se. A vida é bem pouca coisa para que a gente se ocupe tanto dela!...

Entrando em casa, a esposa correu a recebê-lo com a filhinha; ele beijou-as com ternura, demoradamente, sentindo como nunca a alegria inefável de proteger alguém.

Depois contou-lhes tudo, a sua dolorosa impressão, diante da mesa inclinada do Necrotério, onde um cadáver de mulher mostrava o rosto amarelo e os cabelos ásperos, sujos de areia e de algas secas.

Acabada a narração, a esposa tinha os olhos rasos d’água, e a vozinha débil da filha murmurava:

– Logo à noite, mamãe há de me fazer rezar pela afogada, sim?

Fonte:
Júlia Lopes de Almeida. Ânsia eterna. 2. ed. rev. Brasília : Senado Federal, 2020. Publicada originalmente em 1903.

Francisca Júlia (Cristais Poéticos) 5


AS DUAS IRMÃS


Vem a primeira a fala-lhe em segredo:
“Amiga, vê, (nem sei como isto conte!)
Como correm as águas desta fonte:
Tal corre a vida, e acaba-se tão cedo!

Ama, pois!” A segunda, em cuja fronte
Brilha um raio de luz, murmura, a medo,
Apontando-lhe o chão: “Este é o degredo
Perpétuo e atroz do teu amor insonte.

Contudo, espera.” E somem-se a Esperança
E a Saudade. E ela fica, como doida,
A olhar o rastro dessas deusas belas...

E ela fica esperando-as.... Cansa, cansa
De esperá-las assim, a vida toda,
Sem jamais receber notícias delas!
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BALADA

“Eu vou partir. A noite já desmaia.
Parto; por isso, cândida princesa,
Venho beijar as mãos à Vossa Alteza...
Botes e naus esperam-me na praia.

Tenho, decerto, de sofrer azares,
Dores sofrer; mas hei de, com denodo,
Pugnas vencer e conquistar de todo
Terras estranhas e remotos mares...

Não sei se morrerei; mas se, princesa,
Através de procelas e de escolhos
A negra morte me fechar os olhos,
Eu morrerei pensando em Vossa alteza.

Mas, forçoso é partir; adeus, senhora...”
“Conde, adeus...” murmurou, baixando a fronte.
A noite desmaiava. No horizonte
Já se movia o séquito da aurora.

E ela, a princesa, imersa num letargo,
Ficou olhando a vastidão do oceano.
Rompeu, enfim, o sol. E, a todo o pano,
A aventureira nau se fez ao largo...
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ESTELA

Como dormes feliz, anjo adorado,
Nesse teu berço, assim... tu, cujos olhos
Nunca viram misérias nem abrolhos,
Mas as vêm somente o maternal cuidado.

O anjo da guarda está velando ao lado
Do teu berço, a sorrir.... Os teus antolhos
São, por enquanto, os ondulantes folhos
Do teu bercinho de ébano lavrado.

Dorme, que enquanto o querubim de vela,
Ele te envolve nessa etérea veste
Que usam no céu os querubins, Estela;

Dorme; o teu sono cheio de fulgores
De certo eleva-te a um país celeste
Todo cheio de pássaros e flores.
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INCONSOLÁVEIS

Almas, por que chorais, se ninguém vos responde?
Almas, por quê? Deixai as lágrimas! Empós*
Do ideal correi, correi a longes plagas, onde
Não exista ninguém que escarneça de vós.

Lançai o vosso olhar a longínquas paragens,
Bem distantes daqui, cheias de ideais risonhos,
Onde as aves do amor, sacudindo as plumagens,
Passem cantando ao longe a música dos sonhos...

A longes plagas onde estas misérias todas
Não consigam deixar o mínimo sinal;
Paragens onde, em meio às delirantes bodas
Dos sonhos e do amor, exulte e cante o Ideal...

Mas não, almas! Soltai a vossa queixa triste;
Contai ao mundo inteiro a vossa mágoa justa;
Essa terra de ideal, ó almas, não existe;
Inventei-a somente, e inventá-la não custa.

Pobres almas, lançai em torno a vossa vista:
Sempre haveis de encontrar essa miséria atroz.
Almas, chorai, que embora esse país exista,
Nele há de haver alguém que escarneça de vós.
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* Empós = (antigo) após, depois.
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NO BOUDOIR*

Aguarda o jovem conde há quase uma hora,
Mudo, a agradável ocasião de vê-la.
A um canto de boudoir, altiva e bela,
Está sentada a viscondessa Aurora.

Entra e murmura: “Que brilhante estrela!
Vou confessar-lhe o meu amor agora...”
Depois, aproximando-se: “Senhora,
Tenho muito prazer em conhecê-la...”

E segreda baixinho: “Viscondessa,
É por Vossa Excelência que deliro...”
E ela, soerguendo, tímida, a cabeça,

Fita-o, sorrindo, nada lhe responde...
Solta apenas um trêmulo suspiro
Ao ver os olhos do formoso conde.
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*Boudoir = é uma sala de estar ou salão de beleza privado para mulheres em um alojamento mobiliado, geralmente entre a sala de jantar e o quarto, mas também pode se referir a um quarto privado feminino.

Fonte:
Francisca Júlia da Silva. Mármores. Brasília: Senado Feder4al, 2020. Publicado originalmente em 1895. .

Contos e Lendas do Paraná - 5 (Jaguariaíva: Assombração da antiga Serrinha)


Esta história eu ouvi no norte do Paraná, quando ainda era menino. Meu avô materno Miguel Oleranos estava relatando a outra pessoa e eu memorizei a história. Antigamente, a estrada que dava acesso a Jaguariaíva saía pela Chácara Santa Luíza, hoje propriedade da família Nanni, em frente ao Bairro Samambaia, e subia aquela serra das pedras, até ao topo do morro. Passava pela fazenda de Juviniano Carneiro Lobo, hoje Fazenda Santa Rosa, até o pouso dos tropeiros, no lugar conhecido como Cinco Pinheiros, fazenda de João Pivovar.

Esta propriedade pertenceu antigamente à falecida mãe do Átila Xavier, hoje sede da Fazenda Rincão da Serra. E ia em frente, rumo ao bairro Pesqueiro e Fazenda Diamantina.

Um cidadão antigo, das bandas do Barreiro, do qual não me lembro o nome, vinha seguindo para Jaguariaíva a cavalo e lhe disseram que embaixo da serra, depois que anoitecia, era mal-assombrado.

Este se exaltou e disse:

– Qual o quê? Eu não tenho medo! Pois vou a Jaguariaíva e volto de noite de lá, com meu revólver na cintura, no lombo do meu cavalo. Não tenho medo de nada.

E veio para a cidade. Ficou até tarde e altas horas da noite pegou seu destino, rumo ao Barreiro.

Quando passou o portão que dava acesso às terras do então Coronel Antônio Roque de Lima, percebeu que alguém montou na garupa de seu cavalo. O animal, sentindo o peso no lombo, diminuiu seus passos e o valente começou a sentir arrepios. Mas ainda tinha que subir a serra. Olhava de relance sobre seus ombros e via que havia alguém na garupa. Ao terminar de subir a serra, o pobre animal estava arquejando e ao chegar no próximo portão, que dava acesso à fazenda do Pivovar, o cidadão invisível desmontou.

O pobre animal sentindo-se aliviado, deu um arranco pra frente. Nosso amigo, que era valente, passou o portão aliviado, desmontou e foi apertar os arreios que estavam todos frouxos. Foi-se embora e nunca mais passou à noite por essa estrada.

Passaram-se muitos anos. Um dia o senhor Valfrido Wallis me contou que o senhor Luís Cava foi pescar no rio da serrinha, rio Sabiá, e levou uma cortadeira para tirar minhocas. Ao voltar, altas horas da noite, sei lá, onze horas ou meia-noite, ao abrir o portão, quando levou a mão na tronqueira* recebeu um tapa no rosto. E o gringo, do estopim bastante curto, disse, no escuro, a quem lhe bateu:

– Bate outra vez, seu filho da...!!!. Tomou outro tapa, tornou a repetir a ofensa, levou outro “pé de ouvido”. Na quarta vez o camarada se materializou e disse:

– Embaixo do mourão, isto é, da tronqueira do portão, existe um pote de moedas de ouro enterrado! Tire que é teu.

Foi só tirar do lugar a tronqueira, estava lá embaixo o pote.

Dizem que dali em diante sumiu a assombração do local, pois a alma penada se salvou. Sei lá. Nunca estive no inferno, nem no céu pra averiguar!!!
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* Tronqueira – mourão no qual se prende a tranca do portão.


Fonte:
Renato Augusto Carneiro Jr (coordenador). Lendas e Contos Populares do Paraná. Curitiba : Secretaria de Estado da Cultura , 2005.

Minha Estante de Livros (“Ao correr da pena”, de José de Alencar)


O que é hoje denominado crônica tem seu surgimento datado do ano de 1836, pela publicação do primeiro número do jornal francês La Presse, de Émile de Girardin, no espaço de rodapé da página do jornal, designado como feuilleton, entre nós denominado folhetim.
 
As relações entre a literatura e o jornalismo foram intensas no Brasil do século XIX. Escritores como José de Alencar e Machado de Assis não construíram sua reputação intelectual e literária apenas com os romances que escreveram, mas também com os textos que estamparam nos jornais do Rio de Janeiro.
 
Ao correr da pena, do escritor brasileiro José de Alencar, publicado em 1874 pela editora Typografia Allemã em São Paulo. A obra é uma reunião dos folhetins publicados por Alencar no jornal Correio Mercantil entre 3 de setembro de 1854 e 8 de julho de 1855, e no Diário do Rio de Janeiro, de 7 de outubro a 25 de novembro desse mesmo ano.
 
Sobre os temas preferenciais e as experiências exigidas de um cronista do Segundo Império, escreveu Brito Broca o seguinte, como tentativa de explicar a pequena produção de Alencar nesse gênero: "condição essencial para ser um bom folhetinista na época era frequentar os salões, os teatros e as galerias da Câmara e do Senado. Os folhetins giravam frequentemente em torno de três assuntos que polarizavam o interesse e as atenções da sociedade brasileira do Segundo Reinado: o mundanismo (bailes, festas, recepções), a vida teatral (principalmente os espetáculos líricos) e a política (a eterna torcida provocada pelo revezamento dos partidos e a queda dos ministérios)".
 
Aos vinte e cinco anos, em setembro de 1854, ele publicou o primeiro folhetim da série "Ao correr da pena", no Correio Mercantil. Dez meses depois, o prestígio conquistado abriu-lhe as portas do Diário do Rio de Janeiro, no qual continuou por algum tempo o trabalho de folhetinista.
 
Alencar testemunhou as transformações da sociedade e escreveu, com entusiasmo, sobre o progresso e as mudanças na fisionomia da cidade do Rio de Janeiro. Os folhetins escritos eram abrangentes, abordavam fatos políticos e econômicos e redesenhavam a cidade do Rio de Janeiro com os primeiros traços de progresso capitalista.
 
O folhetim, espécie de texto-avô da crônica dos nossos dias, tinha como regra fundamental comentar os principais acontecimentos da semana. Por esse lado, era essencialmente jornalístico. Mas, como devia ser escrito com leveza e graça, favorecia também o exercício da literatura. Alencar soube como ninguém harmonizar esses dois aspectos. Seus folhetins são um documento histórico de inegável valor literário sobre o Rio de Janeiro de meados do século XIX.

Fontes:
Wikipedia
Amazon
UNESP

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Versejando 84


Ademar Macedo, poeta, trovador, cordelista, nasceu em 1951, em Santana do Matos/RN e faleceu em 2013, em Natal/RN.

Durante muitos anos ele enviava nos nossos emails logo que amanhecia o dia suas Mensagens Poéticas, compostas de: Uma trova de Ademar; Uma trova nacional; Uma trova potiguar; Uma trova premiada; …E suas trovas ficaram; Uma poesia; Soneto do dia.

Fonte da pintura do amanhecer: Pinterest

Dorothy Jansson Moretti (Vivendo um Sonho)

Durante toda a minha infância e boa parte da juventude, ao observar aquelas velhas casas do Cruzeiro, eu me punha a romancear: Quem teria vivido nelas? Quantas gerações as haveriam habitado? Teria havido escravos? Como seriam as pessoas?

Tanta curiosidade, e nunca fiz perguntas a quem pudesse me informar. No dia do aniversário da cidade, entretanto, a convite da escritora Dona Eunice, tive a grata surpresa e o enorme prazer de adentrar uma delas, o que me pareceu — pelo romance e mistério com que eu sempre as envolvi — uma aventura maravilhosa!

É a chácara que fica à esquerda do caminho velho do Cruzeiro, hoje transformado em bela e larga avenida. Incrível eu ignorar durante tanto tempo que esse fora o lar dos Tatit, e que eles haviam quase todos nascido ali!

Eu queria ir a p[e, fanática que sou por boas caminhadas, mas Beth e Tamara fizeram questão de levar-me de carro, dizendo que depois eu poderia voltar a pé.

Dona Eunice e Seu João estavam me esperando. Já de chegada eu me senti vivendo um sonho encantado. Que lugar! Que jardim! Que paineira! Que casa!... Eu não sabia o que mais admirasse. Minha imaginação começou fertilmente a trabalhar. E fomentada pelos relatos minuciosos de ambos... como foi longe!

Levaram-me a todos os recantos, e eu só tinha exclamações de admiração.

O pomar, plantado por Seu João, é lindo e muito grande, estendendo-se até o Córrego dos Tatit. Há uma variedade de árvores frutíferas, dentre as quais uma de que eu nem mais me lembrava. Ele perguntou-me:

"Você conhece esta? Garanto que nunca ouviu falar… é um jambeiro".

Como não haveria de conhecer? Tínhamos um no fundo do quintal, na divisa com a Prudente de Morais... que era um tormento! O dia inteiro batiam palmas à nossa porta ou tocavam a campainha. Moleques, naturalmente.

Minha mãe ia atender.

"A senhora me dá um jambo?"

Papai encheu-se daquilo, e como a árvore estivesse muito grande, já misturando a copa com a da ameixeira e incomodando os vizinhos... o pobre jambeiro teve de ser sacrificado. Nunca mais vi um jambo em minha vida. E agora ali, diante dos meus olhos, um igualzinho!

Seu João contou que o jambeiro estivera muito doente e que somente à custa de pacientes cuidados seus, conseguira sobreviver.

A casa conserva, com algumas alterações exigidas pelo conforto, os elementos principais com que foi construída. Batentes, portas, trincos, janelas... tudo evoca um tempo que eu desejara ter vivido... poético, poético...

O galpão, cheio de velhos arreios, máquinas antigas, carrocinhas, rodas, paiolzinho de milho atopetado, pilão, máquina de fazer garapa... tudo isso rendeu-me totalmente, completando o romance em minha imaginação.

E a hospitalidade dos donos, o cafezinho servido na velha sala, nós três sentados, e eu tendo à vista um quadro natural em cada porta ou janela, os gansos chapinhando alegremente a água do pequeno tanque... reportei-me aos fascinantes contos de fazenda do velho Lobato... sonhando... sonhando.

Acordei somente no momento de ir embora. Despedi-me do amável casal sumamente agradecida pela oportunidade, e encantada com o carinho que ambos devotam à velha chácara da família, procurando preservar-lhe tanto quanto possível as características originais. Ali se dá — literalmente — uma "volta às raízes".

Retornei a pé, curtindo as belezas do caminho, o córrego, o campo, as casas, as ruas, o novo panorama com o prédio de andares, e o Fórum novo, parcialmente coberto de hera... Se eu antes já era "vidrada" naquela paisagem... depois dessa visita nunca mais vou conseguir tirá-la da imaginação.

(Tribuna de Itararé— 25/10/1989)

Fonte:
Dorothy Jansson Moretti. Instantâneos. São Paulo: Dialeto, 2012.
Livro enviado pela escritora.

Luiz Damo (Trovas do Sul) XVIII

Águas claras, cristalinas,
ou turvas em profusão,
alimentam as turbinas
pela força da vazão.
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Aguerrido, forte e bravo,
seja todo o brasileiro,
jamais venha ser escravo
da cobiça e do dinheiro.
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À indústria tão resoluta
não tem tarefas banais,
'transforma a matéria bruta
em produtos usuais'.
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À janela o olhar perpassa
vendo um cenário incomum,
se fechada ou sem vidraça
não se vê cenário algum.
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Consolai todo o que chora
e com quem canta, exultai!
Não tem dia, não tem hora
pra partir... Perseverai!
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Meu sonho pode não ser
qual uma flor no jardim,
mas dele ascende o viver
florescendo a vida em mim.
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Nas plantações da existência
cresce o trigo e cresce o joio,
temos que agir com prudência
tendo firme o pé de apoio.
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Na vida nem sempre temos,
tudo o quanto desejamos,
mas com trabalho podemos,
alcançar o que almejamos.
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Ninguém transite na vida
sem deixar algum sinal,
ou mensagem a ser lida
do começo até o final.
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Nos canteiros desta vida
se uma roseira cresceu,
deve ser sempre mantida
no lugar que era só seu.
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Num sepultamento, alguém
chora lágrimas de dor,
pois morre um pouco também,
frente a quem deu tanto amor.
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O aluno na formatura
se enche de satisfação,
mas não vê aquela futura
depender da execução.
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O mal espalha a semente
do joio em lugar do trigo,
o homem que não for prudente
cai nos laços do inimigo.
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O mosquito, tão pequeno,
tem grande poder de ação,
gerando com seu 'veneno'
indigesta infestação.
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O mundo pertence aos vivos
e aos mortos a luz divina,
que Deus nos conserve altivos
sendo à fé quem ilumina.
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O rosto do Deus-humano
quando ferido sangrava,
impresso, ficou no pano,
que Verônica o secava.
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Para o produto chegar
pelo caminho normal,
ao comércio, cabe dar,
o seu destino final.
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Pelas janelas do bem
nossas virtudes são vistas,
possam ser luzes também
para as almas altruístas.
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Pobre raposa enroscada
se faz morta astutamente,
para fugir da emboscada
numa morte só aparente.
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Primeiras horas do dia
a mesa toda arrumada,
um café gera energia
no limiar da jornada.
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Que o potencial do saber
produza conhecimentos!
Fonte de onde irão beber
nossos filhos, tão sedentos!
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São tantos esconderijos
que o réptil se refugia,
alguns por serem mais rijos
quer de noite, quer de dia.
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Somente atravesse a rua,
num local muito agitado,
se a preferência for sua
mesmo assim, tenha cuidado!
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Surgindo, o sol nos comove
de manhã com luz radiante,
mas é a terra quem se move,
ao redor do sol brilhante.
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Toda a música desvela
um toque sentimental,
em qualquer língua revela
seu valor universal.
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Toda estrela dá suporte
pigmentando o firmamento,
faz o homem se sentir forte
nas noites de isolamento.
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Todo centavo ofertado
é tão pouco, vais dizer!
Mas para o necessitado
muito bem pode fazer.

Fonte:
Luiz Damo. A Trova Literária nas Páginas do Sul. Caxias do Sul/RS: Palotti, 2014.
Livro enviado pelo autor.