domingo, 17 de abril de 2022

LXIII Jogos Florais de Nova Friburgo (Trovas Premiadas)


Obs: Menções Honrosas e Menções Especiais os premiados estão por ordem alfabética.


NACIONAL

Tema: Engano (Humorística)


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VENCEDORES
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1. Lugar
CARLA ALVES DA SILVA
Curitiba/PR

- Oferta dos concorrentes!
- Ledo engano, cidadão ...
Óculos, sem par de lentes,
só pode ser armação.
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2. Lugar
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Melhor idade a velhice?...
Quem tal engano propala?
Só pode ser gaiatice
do vendedor de bengala...
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3. Lugar
ANTONIO COLAVITE FILHO
Santos/SP

“Para a tosse, eu dou purgante!”
E o doutor morreu de rir...
- “Eu não me engano, garante,
pois não pode mais tossir...”
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4. Lugar
JERSON LIMA DE BRITO
Porto Velho/RO

Intrigada com o assédio,
do vovô e tanta audácia,
vovó notou que o remédio
era engano da farmácia.
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5. Lugar
MARCIANO BATISTA DE MEDEIROS
Parnamirim/RN

Engana e o chama de “vida”,
mas ele ouviu num boato,
que a sua musa fingida,
tem mais “vidas” do que um gato...

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MENÇÕES HONROSAS
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ALBA HELENA CORRÊA
Niterói/RJ

Pelo engano... os dissabores,
trocou os cartões, garante:
para a esposa, mandou flores,
e a vassoura... para a amante!!!
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CÉLIA M. G. MENDONÇA DE MELO
Juiz de Fora MG

Bebum entrou na festança...
Ledo engano do simplório!
Chamou viúva pra dança,
bateu palmas pro velório.
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GERALDO TROMBIN
Americana/SP

Que fora Dona Gertrudes
deu... "mamada" de cerveja:
por engano postou "nudes"
no grupo da sua igreja!
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MARIA MADALENA FERREIRA
Magé/RJ

Passei mal – tive até febre! –
pois, “por engano”, o chinês
serviu-me gato por lebre
em vez de... frango xadrez!!!
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PEDRO MELO
União da Vitória/PR

A tribo toda é enganada,
quando o noivo canibal
pede a mão da namorada...
em sentido literal...!

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MENÇÕES ESPECIAIS
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GERSON SILVESTRE ALENCAR GONÇALVES
Belo Horizonte/MG

Na cena triste, um ator
gemeu de dor, mas eu ri,
pois na frase "Ai, não, doutor!",
por engano, disse "Aí ".
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JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR
Casei-me por mero engano,
num inverno, num abrigo
ofereci a um fulano:
- Você quer casaco, "migo"?

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MÁRCIA JABER
Juiz de Fora/MG

Com um nervosismo insano,
procura por um calmante
e a atendente, por engano,
dá para o noivo, um purgante.
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RENATA PACCOLA
São Paulo/SP

O dentista se desmancha
num engano crucial,
pois fez, no Canal da Mancha,
tratamento de canal!
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ROBERTO TCHEPELENTYKY
São Paulo/SP

Por enganos da memória,
com doutor me consultei...
E ao final da minha história,
"por engano"... Não paguei!
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NACIONAL

NOVOS TROVADORES

Tema: Confissão (Lírica/Filosófica)


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VENCEDORES
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1. Lugar
ADEMARCOS DANTAS SANTANA
Nossa Senhora Aparecida/SE

Hoje minha alma se encontra
em ato de confissão,
pois meu corpo pecou contra
minha lógica e razão!

2. Lugar
WANDA CUNHA
São Luiz/MA

Confissão: foi só tristeza
a saudade que deixaste.
Mas também tenho a certeza
de que no adeus me levaste.

3. Lugar
ANETE SIMÕES
Taubaté/SP

Minha vida está passando
e não mereço perdão,
é o futuro me lembrando
que falta uma confissão!
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NACIONAL

VETERANOS

Tema: Confissão (Lírica/Filosófica)


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VENCEDORES
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1. Lugar
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

Há um medo que me angustia
e à confissão, não me oponho...
É o temor de que algum dia
a idade me roube o sonho!
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2. Lugar
MARA MELINNI
Caicó/RN

Confissão é a dor da farsa
da mãe que, sem nada ter,
chora de fome e disfarça
para o filho não saber!
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3. Lugar
GILVAN CARNEIRO DA SILVEIRA
São Gonçalo/RJ

Confissão dos meus pecados...
Mas, como esconder enfim,
os silêncios camuflados
que gritam dentro de mim?...
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4. Lugar
ELIANA RUIZ JIMENEZ
Balneário Camboriú/SC

Na confissão me liberto,
ao declarar de bom grado
que conheço o rumo certo,
mas tomei o atalho errado.
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5. Lugar
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

Silenciosa, tu partiste
sem bilhete e eu, sem saber
que era a confissão mais triste
do silêncio a me escrever!

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MENÇÕES HONROSAS
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ADILSON COSTA
São Lourenço da Mata/PE

Quando o amor chegar, nem tente
enganar o coração,
pois se a voz aflita mente,
os olhos confessarão.
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ALINE RIBEIRO
Natal/RN

Deste um sim por covardia,
e a mentira evoluiu,
confessando, todo dia,
um sim que nunca existiu.
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ELIANA RUIZ JIMENEZ
Balneário Camboriú/SC

Confessa o espelho a razão
dos traços envelhecidos:
A vida esculpiu o “Não”
nesses sulcos ressequidos...
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MARA MELINNI
Caicó/RN

Nossos passos, pelo chão,
ante a estrada percorrida,
são a própria confissão
de quem nós somos na vida!
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PAULO CÉZAR TÓRTORA
Rio de Janeiro/RJ

Nem por um breve momento
soube ela o quanto eu a quis.
Hoje, sozinho, eu lamento
a confissão que não fiz.
 
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MENÇÕES ESPECIAIS
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ADILSON COSTA
São Lourenço da Mata/PE

Quando a noite abre as retinas
e põe no dia os grilhões,
resvalam, pelas esquinas,
sussurros de confissões.
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MARA MELINNI
Caicó/RN

O silêncio que palpita,
num beijo dado, sem pressa,
é uma confissão não dita
que ao amor tudo confessa...!
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MARIA HELENA OLIVEIRA COSTA
Ponta Grossa/PR

Meus tropeços eu confesso,
já que é longa a caminhada...
Não são as quedas que eu meço,
mas a fé na minha estrada!
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CÉZAR AUGUSTO DEFILIPPO
Astolfo Dutra/MG

A confissão que me vale
quando erras e ficas mudo,
mesmo que a boca se cale
teus olhos me contam tudo.
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CÉZAR AUGUSTO DEFILIPPO
Astolfo Dutra/MG

Nosso amor foi censurado,
ato falho, louco, em suma:
até confesso o pecado,
mas, sem contrição alguma.
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CONCURSO LOCAL (NOVA FRIBURGO)

Tema : Coragem (Lírica/Filosófica)


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VENCEDORES
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1. Lugar
SÉRGIO BERNARDO

Força e fraqueza interagem
dentro de nós, desde cedo;
e, assim, quem sabe a coragem
seja um disfarce do medo.
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2. Lugar
SÉRGIO BERNARDO

Num mundo que exalta o riso
e onde a dor não tem lugar,
muitas vezes é preciso
coragem para chorar.
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3. Lugar
CLENIR NEVES RIBEIRO

A coragem me permite
qualquer caminho transpor...
Um sonho não tem limite
nem limites um amor!
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4. Lugar
ELISABETH SOUZA CRUZ

De coragens e de medos
nosso amor é sempre assim:
quando a sorte cruza os dedos,
a razão faz o motim!
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5. Lugar
SÉRGIO BERNARDO

Com medo da consequência,
quantos, às vezes, não agem,
fazendo com que a prudência
mude o nome da coragem.

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MENÇÕES HONROSAS
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ADILSON CALVÃO
A coragem me fez ver
que sem a sabedoria,
eu não consigo vencer
as lutas do dia a dia!
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CLENIR NEVES RIBEIRO
Enfim, eu volto a lutar...
E a custo, me recomponho
na coragem de sonhar,
quando não se tem mais sonho!
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ELISABETH SOUZA CRUZ
Eu penso...invento e me iludo...
Faço planos, mas suponho:
- Sem coragem, falta tudo
para avançar no meu sonho!
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IVONE MARQUES MOREIRA
Neste mundo pequenino,
de percalços e de dor,
na balança do destino
pesa a coragem do amor!
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SÉRGIO FERRAZ DOS SANTOS
O orgulho bateu em mim,
mudou minha vida rica...
Faltou coragem de, enfim,
trocar o "vai" pelo "fica"!

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MENÇÕES ESPECIAIS
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ANTÔNIO ROSALVO ACCIOLY
Vejam só que bela imagem
- a imagem desse doutor-
que no amparo da coragem
rompe os mistérios da dor!
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IVONE M. MOREIRA
Ante a súplica vencida,
sem coragem de impedir,
pela porta de saída
deixei meu amor partir!
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JOÃO BATISTA VASCONCELLOS
Vivo a buscar na lembrança
a coragem destemida,
que, num fio de esperança,
trouxe luz a minha vida...
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THEREZINHA TAVARES
Pelo tempo e pelo espaço
na fantasia me ponho
e com coragem eu faço
a vida ser belo sonho!
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THEREZINHA TAVARES
Por onde fores passando
planta amor, planta carinho...
com coragem vai deixando
estrelas em teu caminho!
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CONCURSO LOCAL(NOVA FRIBURGO)

Tema: Medo (Humorística)


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VENCEDORES
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1. Lugar
CLENIR NEVES RIBEIRO

Diz o marido, sisudo,
que a esposa não tem segredo,
que confia nela em tudo,
mas, que tem medo, tem medo!
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2. Lugar
CLENIR NEVES RIBEIRO

O escuro não me seduz...
Na infância, medo e tristeza...
Mas, hoje, que eu pago a luz,
tenho medo é dela acesa!
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3. Lugar
IVONE MARQUES MOREIRA

Com a sogra ele se empenha,
enchendo a velha de joias,
pois seu medo é que ela venha
a entregar suas tramoias!
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4. Lugar
ELISABETH SOUZA CRUZ

A moça é tão precavida,
de barata é tanto o medo,
que ela pôs inseticida
na barata de brinquedo!
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5. Lugar
CLENIR NEVES RIBEIRO

Ela em moda é tão focada,
mas o medo do marido
é que ela saia pelada,
dizendo: “É moda, querido!”.

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MENÇÕES HONROSAS
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ELISABETH SOUZA CRUZ
Entra o rato na cozinha...
Foi aquele bafafá!
Com medo, grita a vizinha:
- Vá tapar o vatapá!!!
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ELISABETH SOUZA CRUZ
Agora virou rotina
sair de casa, e sem medo...
Diz que vai tomar vacina,
mas a picada é um segredo!
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IVONE MARQUES MOREIRA
É corajosa a donzela
ao contar sua façanha:
não tem grades na janela,
nem medo de homem aranha!
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SÉRGIO BERNARDO
De tanto medo, coitada,
não faz nem canja a vizinha,
porque crê que alma “penada”
é fantasma... de galinha.
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THEREZINHA TAVARES
Enfrento tudo, isso eu juro,
que medo não tenho não,
eu só não ando no escuro
por causa de assombração!

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MENÇÕES ESPECIAIS
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JOÃO BATISTA VASCONCELLOS
O namoro era atrevido
e sempre lá no escurinho...
Mas o medo do cupido
era o farol do vizinho!
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JOÃO BATISTA VASCONCELLOS
Na paquera da vizinha
debrucei sobre o telhado...
Mas todo medo que eu tinha,
era o marido estressado!
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SÉRGIO FERRAZ DOS SANTOS
– "Esse exame é "nóis" sozinho?",
pergunta o "véio", ao doutor.
– Tais com medo? - É rapidinho!
– "É no meu, não no senhor!!!"....
- - - - - - - - - - - - - - - -  

THEREZINHA TAVARES
Meu medo é tão esquisito,
não sei nem mesmo explicar,
quando me dá faniquito,
eu só quero é desmaiar!
- - - - - - - - - - - - - - - -  

THEREZINHA TAVARES
Com medo de estar obeso
se pesava todo mês,
mas largou de ver o peso...
da balança se desfez!
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MAGNÍFICOS TROVADORES

Tema: Confronto (Líricas/Filosóficas)

Conjunto de 5 trovas


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VENCEDORES
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1. Lugar
PEDRO MELO
União da Vitória/PR


Sou peão que, em desatino,
não viu que estava iludido...
Contra o touro do destino,
todo confronto é perdido...!
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A briga passa do ponto,
mas nosso beijo a termina...
O amor, depois de um confronto,
é movido a adrenalina...
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Eu tenho a resposta pronta
e digo que o Amor é findo...
Mas o espelho me confronta...
e sabe que estou mentindo...!
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A folha em branco é cruel...
O Nada é a sua artimanha...
Ao confrontar o papel,
nem sempre o poeta ganha...!
- - - - - - - - - - - - - - - -  

Tanto a Maldade se eleva
num mundo contrário e horrendo,
que, em confronto com a Treva,
hoje é a Luz que está perdendo...
- - - - - - - - - - - - - - - -   

2. Lugar
JOSÉ OUVERNEY
Pindamonhangaba/SP


Não confrontei a paixão,
fugi, prevendo o perigo...
Magoado, meu coração
nunca mais falou comigo...
- - - - - - - - - - - - - - - -  

Antes de dar os descontos
a uma culpa que carrego,
preciso calar confrontos
que atingem meu “ponto cego”...
- - - - - - - - - - - - - - - -  

Os confrontos decididos
no calor dos cobertores
mostram, no fim, dois vencidos
com ares de vencedores!
- - - - - - - - - - - - - - - -  

Esse confronto que eu travo
comigo mesmo é pungente:
toda vez que as mãos eu lavo,
vejo um Cristo à minha frente...
- - - - - - - - - - - - - - - -  

“Nunca mais” é “não” à beça,
você sabe: o tempo voa!
Nosso confronto tem pressa
de definir quem perdoa!
- - - - - - - - - - - - - - - -  

3. Lugar
ARLINDO TADEU HAGEN
Juiz de Fora/MG


Nos desafios do amor,
confrontar eu não confronto;
me declaro perdedor,
entrego os pontos e pronto!
- - - - - - - - - - - - - - - -  

Para que fui recordar
o passado de repente.
Não se pode confrontar
a saudade impunemente!
- - - - - - - - - - - - - - - -  

Cansado de confrontar
e sem vitória nenhuma,
estende na praia o mar
brancas bandeiras de espuma.
- - - - - - - - - - - - - - - -  

O poeta nasce pronto
mas só se sente completo
vivendo o eterno confronto
com as letras do alfabeto.
- - - - - - - - - - - - - - - -  

No amor encerro os confrontos
mas a saudade quer mais
e acrescenta outros dois pontos,
após meus pontos finais!
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MAGNÍFICOS TROVADORES

TROVAS ISOLADAS


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VENCEDORES
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1. Lugar
JOSÉ OUVERNEY
Pindamonhangaba/SP

Não confrontei a paixão,
fugi, prevendo o perigo...
Magoado, meu coração
nunca mais falou comigo...

2. Lugar
PEDRO MELO
União da Vitória/PR

A folha em branco é cruel...
O Nada é a sua artimanha...
Ao confrontar o papel,
nem sempre o poeta ganha...!

3. Lugar
SÉRGIO FERREIRA DA SILVA
São Paulo/SP

Tomado de insanidade,
num etéreo Coliseu,
eu confrontei a Saudade,
e a Saudade me venceu.
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MAGNÍFICOS TROVADORES

Tema: Cilada (Humorísticas)

CONJUNTO DE 5 TROVAS


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VENCEDORES
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1. Lugar
JOSÉ OUVERNEY
Pindamonhangaba/SP


Cilada: veio a polícia
e uma militar (loiraça!)
me agarrou (Ai, que delícia!)
e algemou (Ai, que sem graça!)
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- Amante no guarda-roupa?
É cilada e eu não sou tonto.
Ah, mulher, vê se me poupa:
me apresenta o cara e pronto!
- - - - - - - - - - - - - - - -  

Cilada, boa, não nego:
gêmeas, esposa e cunhada,
sei quem é quem, quando eu pego,
porque esta tem mais pegada!
- - - - - - - - - - - - - - - -  

Um perfume conhecido
passou por minha janela...
Que cilada: era o marido
usando o perfume dela!
- - - - - - - - - - - - - - - -  

A gravidez da empregada
me põe de cabelo em pé;
tá na cara que é cilada:
se o pai não é o pai... quem é???!
- - - - - - - - - - - - - - - -   

2. Lugar
SÉRGIO FERREIRA DA SILVA
São Paulo/SP


Foi de mão dupla a cilada
entre a Vovó e o Gatão:
ela, toda endividada;
e, ele, sem nenhum tostão.
- - - - - - - - - - - - - - - -  

Uma cilada fatal
o fez, no abismo, cair:
ele, morreu no hospital;
e, a sogra, morreu... de rir.
- - - - - - - - - - - - - - - -  

Transbordando seu veneno,
arma a cilada; e eu desdenho:
que a cobra é peixe pequeno,
perto da sogra que eu tenho.
- - - - - - - - - - - - - - - -  

Era perfeita a cilada
para caçar o leão...
Mas, por uma vacilada,
hoje, jaz um vacilão!
- - - - - - - - - - - - - - - -  

Ela: mal-intencionada...
Ele: idoso e milionário...
Ele: notou a cilada...
Mas otário... é sempre otário!
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MAGNÍFICOS TROVADORES
 
TROVAS ISOLADAS

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VENCEDORES
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1. Lugar
JOSÉ OUVERNEY
Pindamonhangaba/SP

- Amante no guarda-roupa?
É cilada e eu não sou tonto.
Ah, mulher, vê se me poupa:
me apresenta o cara e pronto!
- - - - - - - - - - - - - - - -  

2. Lugar
JOSÉ OUVERNEY
Pindamonhangaba/SP

Um perfume conhecido
passou por minha janela...
Que cilada: era o marido
usando o perfume dela!
- - - - - - - - - - - - - - - -  

3. Lugar
ARLINDO TADEU HAGEN
Juiz de Fora/MG

Que cilada a da vizinha:
toda vez que à praia vem,
põe biquini de bolinha
mas não dá bola a ninguém!

Humberto de Campos (As "meninas")

Há páginas de literatura tão de acordo com a verdade, com as lições severas e surpreendentes da vida, que a gente se fica, às vezes, a pensar horas e horas em semelhante duplicidade. Essa curiosa surpresa tenho-a eu tido de vez em quando, e tive-a ontem, mais uma vez, após uma leitura meticulosa da viagem feita por Stendhal à Suíça no ano de 1821.

Os jornais do Rio de janeiro aparecem, como é sabido, cheios, diariamente, de notícias de roubos, de assaltos audaciosos, à luz do dia ou no silêncio da noite, à propriedade alheia. Não se abre nesta capital uma folha da manhã, ou da tarde, sem encontrar a descrição da escalada de um muro ou de uma janela, por um dos numerosos ladrões que perturbam, zombando da policia, o sossego da cidade.

- É uma calamidade, conselheiro! - dizia-me, na tarde de ontem rumo da sua casa, onde íamos jantar com as suas exmas. filhas, o comendador Fulgêncio Gadelha da Cunha. - Raro é o mês em que me não penetra um gatuno no quintal, carregando-me com as galinhas, com os vasos de planta, com a roupa do tanque, enfim, com tudo que lhe fica ao alcance. Já não sei mais o que faça!

- O comendador não tem cachorros no quintal? - indaguei, penalizado daquela queixa.

O velho comerciante virou-se para mim e protestou, sacudindo a cabeça:

- Eu? Não!

- Pois, olhe, - insisti - se o senhor tivesse um ou dois cachorrões de raça, desses cães de guarda destinados a defender as habitações, ninguém lhe penetraria, sequer, no jardim, fora de horas.

- Deveras? - tornou o velho.

Eu confirmei, e ouvi, com espanto, esta resposta absolutamente inesperada:

- Nesse caso, não os quero.

- Nos os quer? - estranhei, arregalando os olhos.

- Absolutamente. Porque, se eu puser cachorros no quintal...

E concluiu, ao meu ouvido, rindo, e piscando um olho:

- As meninas... não se casam!

Nesse momento penetrávamos, os dois, no jardim da casa, onde uns pedreiros haviam deixado, por esquecimento, há seis meses, uma escada encostada ao prédio, ao lado, exatamente, da janela das "meninas"…

Fonte:
Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. Publicado originalmente em 1925.

sábado, 16 de abril de 2022

Dorothy Jansson Moretti (Album de Trovas) - 2

 

Leandro Bertoldo Silva [(Des)encontro]

Costuma-se dizer que ouvir conversa alheia é falta de educação. Concordo. Mas e quando a conversa vem até você? Vinícius de Moraes já dizia que “a vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida”. Vinícius era poeta ou profeta? Seguramente os dois. Não sei em quais circunstâncias os escritores, músicos, compositores criam suas obras… Humm, está certo! Não posso dar-me como o poeta de Pessoa a fingir dores ou mesmo dissabores! É porque durante certo período acreditava que esses magos da palavra entravam em estado de nirvana, banhavam-se em algum rio ou subiam alguma espécie de montanha imaginária, talvez até real, e acessavam o ápice da criação. Deuses da palavra ou escultores da controvérsia: eis a questão para, como Shakespeare, ficar entre o ser e o não ser. Todas essas possibilidades, porém, caíram por terra frente o acaso do meu copo de cerveja pousado ao lado do meu bloco de notas em um bar de quinta, onde tentava, até então em vão, escrever seja lá o que fosse a fim de tornar-me o novo best seller, como se isso representasse alguma coisa…

“Certa vez, a rosa se enfeitara de flores para ser percebida. Nem assim conseguia.”

Foi o que ouvi dito por uma mulher, muito bonita por sinal, a um homem supostamente seu marido ao se aproximarem da mesa em que eu estava. Não digo isso pelas alianças em seus dedos, mas pela experiência mística — porque não há outra forma de definir aquilo — revelada bem ao alcance dos meus olhos e ouvidos. Eles ainda nem tinham se sentado à mesa ao lado quando, ao fazerem, presenciei um curtíssimo diálogo ou, pelo menos, uma tentativa iniciada por aquela pérola de declaração muito, muito verdadeira:

— Certa vez, a rosa se enfeitara de flores para ser percebida. Nem assim conseguia.

— Como?!

— Certa vez, a rosa se enfeitara de flores para…

— O que? Só um minuto, por favor, o celular… […] Sim, agora pode falar.

— Certa vez, a rosa se enfeitara…

— Nossa, lembrei que tinha que ter postado aquela foto ontem! Desculpe, meu bem… Então…

— Certa vez, a rosa se…

— Preciso trocar esse telefone… Ah, desculpe. O que estava mesmo dizendo?

— Certa vez…

— Será que pedimos batata frita ou macarrão na chapa? Bem, parece que você estava dizendo alguma coisa…

— Certa… mente.

— O que?

— Nada. Quero ir embora.

— Você é sempre assim! Depois diz que não te dou atenção…

Saíram tão rápido quanto chegaram. Terminei meu copo de cerveja, guardei meu bloco de notas, paguei a conta e fui-me embora com essa — meu estado de nirvana — cantarolando o “Samba da bênção” enquanto outros best sellers da vida provavelmente estariam a serem escritos por aí, ou, quem sabe, cantados.

Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração…

A bênção, Vinícius.

“É melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe…”

Moreira Cardoso (Caderno de Trovas)


Contemplando as suas águas
a saudade vem-me então,
Capibaribe de mágoas
dentro do meu coração.
= = = = = = = = = = =

De tanto amar-te, Maria,
já não comporto este amor.
Tão grande é minha alegria
que eu invejo os que têm dor!...
= = = = = = = = = = =

De verme tu me chamaste
por eu ter-te contemplado.
Tu mesma me desculpaste,
inda te fico obrigado...

E ante o insulto fico inerte,
pois se olhei-te, assim de rastros,
é que o verme pra ser verme
precisa olhar para os astros.
= = = = = = = = = = =

Do amor a fera agonia
obriga a quem tem amor,
a ver na dor - alegria -
e a ver n'alegria dor.
= = = = = = = = = = =

Do que amantes hão contado
não se duvides porque
olhares de namorado
veem coisas que ninguém vê.
= = = = = = = = = = =

Lua, pandeiro de prata,
gemendo às mãos do infinito,
seja, ao fim da serenata,
pra ti meu último grito.
= = = = = = = = = = =

Maria, foge aos luares,
que em noites de lua cheia,
desata a lua os pesares
quando no espaço passeia.
= = = = = = = = = = =

Não sei, tão grande parece
a tristeza que padeço,
se a tristeza me entristece
ou se à tristeza entristeço! ...
= = = = = = = = = = =

Não tendo sal, a comida
não presta a qualquer pessoa;
precisa ter sal a vida,
pra que a vida seja boa.
= = = = = = = = = = =

No coração, disse um santo,
origens a mágoa tem.
Se vem da mágoa o teu pranto,
tua mágoa donde vem?
= = = = = = = = = = =

O céu é fita azulada;
e a lua, que em cismas fito,
é medalha pendurada
no pescoço do infinito.
= = = = = = = = = = =

O pesar tem tal voragem
que o prazer não tem valor,
não sendo mais que a passagem
de uma dor para outra dor.
= = = = = = = = = = =

O rio Capibaribe,
que é rio do meu país,
quando aos luares se exibe
sempre me faz infeliz.
= = = = = = = = = = =

Os corações namorados
devem a lua evitar:
são tanto mais desgraçados
quando mais lindo o luar!
= = = = = = = = = = =

Por mais que tentes, senhora,
tirar-me sempre a esperança,
mais a paixão me devora
e mais tormentos me lança.

Pois este amor que me inspira
é cova, mal comparando,
que tanto mais se lhe tira
tanto maior vai ficando.
= = = = = = = = = = =

Pra minha tristeza crua,
busco amparo em que me açoite,
tomando banhos de lua
dentro do tanque da noite.
= = = = = = = = = = =

Quando tu choras, me espanto
e os meus olhos se enchem d'água!
Vem a magoa de teu pranto,
não vem teu pranto da mágoa.
= = = = = = = = = = =

Que calor em teus olhares!...
Em teus lábios, que vulcão!...
Porém, para meus pesares,
que gelo em teu coração!...
= = = = = = = = = = =

Quem espera não é santo,
pois eu tanto te esperei
que assim, de esperar-te tanto,
desesperado fiquei.
= = = = = = = = = = =

Que no amor tudo se negue
pois se uma alma amorosa
pode ver a dor, alegre,
e a ventura, dolorosa.
= = = = = = = = = = =

Se o nosso pranto é salgado,
nosso pranto não faz mal,
quem nunca tiver chorado
não presta, pois não tem sal.
= = = = = = = = = = =

Tenho sofrido bastante...
Porém, quando penso em ti,
da dor me vejo distante.
Nem me lembro que sofri.

Fonte:
Adelmar Tavares et al. Descantes. Recife/PE: Tipografia da Imprensa Oficial. 1a. edição publicada em 1907.

Aparecido Raimundo de Souza (Coriscando) 23: Conversa de beira de piscina

Ananias (muito sério e com a fala compenetrada):

— Bertolto, meu amigo, deixa eu te contar, antes que me esqueça. Achei hilária a cena, até certo ponto. Depois cheguei a conclusão que a pessoa era completamente fora do juízo normal...

Bertolto (abrindo a caixa da abelhudice):

— Estou me mordendo de curiosidade. Vamos, canta a parada.

— No sábado fui almoçar na casa de um amigo meu, o Buferato, que não via há uns seis meses. Chegando lá, na hora dos comes e bebes, me deparei com um rapaz de modos estranhos. Fiquei passado como ele comia...

Bertolto (mostrando um espanto meio zombeteiro):

— Como assim passado, Ananias? Acaso o sujeito enfiava a comida pelos buracos do  nariz?

Ananias (furioso, com a observação maldosa):

— Fala sério, Bertolto. Tudo você leva na brincadeira... que saco!

Bertolto (apaziguando o amigo):

— Pra descontrair, meu prezado. Ok. Tá legal. Me perdoa. Por que ficou passado?

— Acredita que a criatura devorou, de uma só vez, na minha frente e diante de meus olhos esbugalhados e, claro, de outros figurões à mesa posta, dois bifes à milanesa sem fazer uso do garfo e da faca?

Bertolto (coçando o lóbulo da orelha direita e querendo rir):

— De que maneira? Com as mãos?  

Ananias (mais sério que lagartixa na parede):

— Com os cotovelos... e o mais espetaculoso. Com uma destreza jamais vista. Confesso à você, nunca me deparei com uma coisa igual. O sujeito é um gênio. Pelo menos eu o vi assim e o elegi herói. Não fosse estar envergonhado, e espantado, eu me levantaria do meu assento e daria os parabéns à ele.

Bertolto (novamente pretendendo cair na gargalhada e ponderando as palavras a serem ditas):

— Admiro você, meu caro Ananias, um homem viajado, chamar a isso, ou achar tal cena de comer fazendo uso dos cotovelos de modo estranho. Não vejo nada demais ou de anormal. Cada louco com a sua mania. Grosso modo, cada mania com seu louco. Eu mesmo adoro encher a barriga sem usar os apetrechos  normais. Você sabe disso. É feio? Sim!  É chato? Também! Pareço um neurastênico recém saído de algum manicômio. Entretanto, você que me conhece não é de hoje, tem pleno conhecimento de minha tara, e, inclusive, já cansou de me ver fazendo as refeições com os pés. Eu adoro comer com os pés...

— Concordo plenamente com você, Bertolto. Cada louco com a sua mania. Penso como você, ou seja, também sou adepto de comer dessa forma bem primitiva. Com os pés. Lembra meus pais e avós. Que Deus os tenha...

— Eles também comiam com os pés?

Ananias (rindo de maneira ponderada com a observação feita pelo amigo):

— Se liga, Bertolto. Eles nunca deixaram os pés em algum lugar escondido da casa, para se sentarem à mesa.

Bertolto (muito sério demonstrando não ter gostado nem um pouquinho da insinuação):

— Deixa de ser palhaço, Ananias. Não se faça de idiota. Você está mudando o rumo da prosa. Não respondeu ao que perguntei. E pior: por que todo esse espanto e alvoroço desnecessários com o pobre do indivíduo matando a sua fome com os cotovelos?

Ananias (voltando à seriedade e se fechando em copas):

— É que depois desse fato, o infeliz fez algo que considerei inusitado. Pasme, Bertolto. A figura mandou para dentro da barriga o garfo e a faca misturados com feijão  tropeiro, arroz, farinha de mandioca acompanhado de um copo de refrigerante.

Bertolto (desta feita, o olhar interrogativamente cético):

— Credo! Ai, realmente tenho que concordar com você. A coisa passou dos limites. Se você não estiver me sacaneando com suas pegadinhas... que situação incrível! Apenas uma pulguinha atrás da orelha me intriga. Peço que me esclareça esse pormenor. O abestalhado, em nenhum momento passou mal, ou, sequer se atrapalhou com essas peças?

— A certa altura, sim.

— Entendo!  E como foi?

— Imagine!

— Estou tentando desenhar um quadro da cena no interior de minha mente. Contudo,  realmente, não faço a mínima.

— Pense, Bertolto... cabeça não foi feita só pra usar chapéu... e juntar caspas...

— Sem chance. Fala de uma vez. Como o desajuizado se saiu dessa? Engasgou, se entalou, sei lá...?

— Na verdade, Bertolto, ele se sufocou. Igual quando uma espinha de peixe empaca no gogó. Começou a virar os olhos, ficou branco... passou a não respirar. Meu chapa, pensei com meus botões: esse doido varrido vai empacotar. Precisaram chamar o SAMU...

Bertolto (coçando a cabeça e tentando digerir aquele papo furado):

— Não enrola. Parta para os finalmentes, Ananias. Em consequência de todo esse vexame, como a confusão acabou...?

— Os socorristas conseguiram pinçar o garfo e a faca.

Bertolto (Soltando um suspiro de alívio):

— Graças à Deus! Dos males, o pior.

— Engano seu. Em questão de segundos tudo mudou da água para o vinho...

— Desenhe. Estou voando... acho que você está tirando uma com a minha cara...

— Jamais faria isso, Bertolto. O que estou lhe falando é a mais pura verdade.

— Ok. Então fale com mais clareza.

— Vou tentar...

— Estou esperando...

— No segundo à frente, Bertolto,  após um breve descuido dos socorristas, o maldito do rapaz engoliu o estetoscópio... e, de lambuja, o aparelho de medir pressão…

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Estante de Livros (Helena, de Machado de Assis)


Livro publicado em 1876. Ele se enquadra no gênero romance urbano. A história se desenvolve em redor de um amor proibido e da profanação de um dogma religioso.

Conselheiro Vale era um homem rico, com um caso amoroso com uma mulher que havia migrado do Rio Grande do Sul, possuindo uma filha, Helena, a qual ele adota. Morre, e em seu testamento declara que Helena era sua filha e que ela devia ter seu lugar na família. Todos acreditam nisso, mas Helena sabe que não é na realidade sua filha, mas querendo ascender socialmente aceita isso. À princípio, D. Úrsula reage com um certo preconceito à chegada de Helena, mas no decorrer do tempo vai ganhando o amor de D. Úrsula. Estácio era um bom filho, e faz a vontade do pai sem questionar.

Dr. Camargo acha aquilo um absurdo, pois ele queria casar sua filha, Eugênia, com Estácio para que eles se tornassem ricos às custas do dinheiro de Estácio, e mais um familiar só iria diminuir a parte da herança de Estácio. Padre Melchior, outro velho amigo da família e orientador espiritual, era conivente com o médico em seus propósitos. Também apoiava a ideia da união conjugal das duas famílias e tentou de tudo para dissuadir Estácio de sua rejeição à proposta do Doutor.

Helena toma seu lugar na família como uma mulher de fibra, uma verdadeira dona de casa, cuida muito bem de sua nova família, dirige a casa melhor do que D. Úrsula o fazia, e impressiona não só a família como toda a sociedade em geral, porque além de ser uma mulher equilibrada como poucas que existiam, era linda, sensível e rica. Em uma ocasião, o destino conspira a favor de Helena. Dona Úrsula adoece e a jovem cuida dela como se fosse sua própria mãe. A garota não se afastava um momento de seu lado, sempre entregue ao bem-estar da doente. Após se restabelecer, a tia passa a vê-la de outra forma e começa a cuidar dela como se Helena fosse sua própria filha. A partir dessa data Úrsula providenciou todo conforto para a jovem.

Ao longo da narrativa, Helena vai impressionando mais e mais Estácio, que acaba se apaixonando por ela, assim como ela por ele. Aí vem o X da questão, de um lado Estácio, se martirizando por estar apaixonado por sua suposta irmã, o que é um pecado, e do outro, Helena, apaixonada por Estácio. Esta sabia da verdade, mas não podia abandonar tudo e ficar com ele, já que tinha recebido uma fortuna de herança. Amigo de longa data de Estácio, Luís Mendonça, retornara do continente europeu e chega ao Brasil. Mendonça se apaixona por Helena, sempre incentivado pelo Padre Melchior. Ele já pensava em se casar com a jovem.

A família de Helena possuía uma chácara com um casarão, onde Helena costumava visitar sempre. Estácio saiu à caça de algum animal e acabou se ferindo. Então foi até o casarão pedir socorro. Ali um homem muito afável o recebeu, limpou os ferimentos de Estácio e contou que vivia na pobreza e por isso não tinha como ajudá-lo. O jovem vê seu anfitrião e seus temores crescem. Helena estará traindo a confiança de todos e se relacionando com esse indivíduo? Ou seu amante será o escravo?  Ele parte com essas dúvidas na mente e decide ir até o Padre, que ouve o rapaz e o acusa de estar alimentando um sentimento incestuoso. Ele afirma que o melhor caminho para eles é Helena se unir a Mendonça, pois assim os sentimentos de Estácio se tranquilizariam.

Estácio vai até o casarão. O homem se apresenta como Salvador e conta toda a história. Surpreende Estácio ao lhe revelar que Helena era sua filha, não de Conselheiro Vale, e toda a história da vida de Helena até ali. O homem morava com a mãe de Helena, Ângela, e ambos viviam na miséria. Eles sobreviveram graças a alguns bicos e às vezes passavam fome. Helena era sua filha verdadeira, não de Vale. Ela era a alegria de sua vida. Ele foi obrigado a fazer uma viagem que se prolongou por muito tempo. Assim que voltou, descobriu que sua mulher estava casada com o Conselheiro Vale. Ele ficou perdido e foi à procura de Ângela, exigindo que a filha ficasse com ele. A mãe dela respondeu aflita, alegando que em sua companhia a garota poderia estudar e ter mais futuro.  Ele então aceitou seu destino e partiu, mas sempre a observava à distância. Por sua vez, Vale acreditava que Salvador estava morto e, dessa forma, resolveu educar a menina como se fosse sua filha. Antes da morte de Ângela, ele procurou sua filha, então com 12 anos, e contou a verdade. Porém não queria se contrapor aos projetos de sua ex-esposa e sumiu mais uma vez. Vale tinha morrido e ele tinha certeza de que Helena ganharia parte da herança. Salvador sabia que teria de ficar longe dela. Ele fez tudo isso para que a filha não sofresse na vida, como ele e Ângela. A condição para Salvador era de nunca mais procurar Helena.

Todos optam por deixar tudo como está, até o casamento de Helena e Mendonça, mas ele rejeita a moça. Helena só deseja ficar longe de todo mundo. Mergulhada na solidão e na tristeza, ela após uma chuva forte fica debilitada, à beira da morte. Estácio, tomado por seu forte amor vai cuidar de Helena e lhe faz essa declaração. Helena morre. Estácio não se conforma. Úrsula também sofre com a partida da garota. Ela morre deixando dor e saudades nos corações de todos.

sexta-feira, 15 de abril de 2022

Edy Soares (Manuscritos (Di)versos) 05

 
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Milton S. Souza (Uma cadeira vazia)

Simbolizando a ausência do filho que o destino levou para longe, há mais de 10 anos, uma cadeira vazia dava um toque de tristeza nas refeições daquela humilde família do Passo da Caveira, em Gravataí. A decisão tinha sido da mãe: o lugar preferido do garoto não seria ocupado até que ele voltasse para casa. Mas o tempo ia passando, passando, e nem notícias do seu eterno “menino”.

O marido e os outros três filhos menores não concordavam, mas aceitavam a saudade da mãe. Saudade que virava pranto nas madrugadas, quando acordava sonhando com o filho e ficava de joelhos, rosário entre as mãos, mandando orações aos céus para garantir saúde e proteção para o seu “menino”.

Nestas horas, relembrava a história do garoto: aos 16 anos, se envolveu com drogas e com amigos bastante suspeitos. Foi parar na delegacia. A vergonha de encontrar o filho enjaulado foi substituída pelo medo, quando ela ouviu as duras palavras do delegado: “Se a senhora não quer ver o seu filho no cemitério, leve ele para bem longe da nossa cidade, pois não vai sobrar ninguém desta quadrilha de traficantes”.

O delegado estava certo. Os “amigos” do filho começaram a aparecer mortos nos becos da vila. “Desacerto entre traficantes causa mais uma morte”, repetia a manchete do Correio de Gravataí. E a pobre mãe ficava cada vez mais apavorada: o filho poderia ser o próximo. A decisão de mandar o rapaz para morar com uma irmã dela, em Cuiabá, no Mato Grosso, foi conjunta com o pai e aceita pelo o filho, que já estava consciente dos perigos que corria.

O embarque aconteceu na noite de Natal, na rodoviária de Porto Alegre. Quando o ônibus iniciou aquela viagem de mais de 40 horas, o coração da mãe disparou. Ela sabia que tão cedo não veria mais o seu “menino”. Nos primeiros meses ainda conseguiu falar por telefone com o rapaz, hospedado na casa da irmã. Um dia, porém, ficou sabendo que ele havia sumido. A história se repetia: o rapaz voltou a usar drogas e trilhar o mau caminho. Quando se sentiu ameaçado, fugiu sem deixar rastros. E ninguém mais soube dele...

Na noite do último Natal, não tinha festa na casinha do Passo da Caveira: o pai, desempregado, não conseguira comprar presentes para os filhos. O que a mãe ganhava com as faxinas dava somente para a comida. Apesar disso, tinham saúde.

Jantavam, pelas 11 horas da noite, quando um carro, dirigido por uma mulher, parou no portão da casa. Um Papai Noel, gordo e desajeitado, desceu e foi pedindo licença para entrar. A moça explicou que estavam entregando presentes para famílias carentes.

O Papai Noel entrou na casa humilde e sentou exatamente naquela cadeira que ficava eternamente vazia. Ela até ia protestar, mas foi impedida pelo marido. Antes de entregar os presentes para cada uma das crianças, o Papai Noel perguntava o nome, idade e outros detalhes. Por alguns segundos, os olhos que estavam por trás da máscara se cruzaram com os olhos daquela mãe sofrida. E ela sentiu um calafrio. Foi exatamente naquele momento que o Papai Noel, pegando nas mãos um pacote colorido, chamou pelo seu nome. Quando ela se aproximou, sem nem notar que o “velhinho” sabia o seu nome, o Papai Noel não aguentou mais: retirou a máscara e abraçou, em prantos, a mãe que não via há mais de 10 anos.

Choraram juntos, pai, mãe e filho, neste reencontro inesperado. Parecia um milagre de Natal. Em poucos minutos, tudo foi esclarecido: a moça que dirigia o carro era a esposa do filho, considerada por ele a responsável pelo seu afastamento do mau caminho. Moravam em São Paulo, estavam bem de vida, e resolveram voltar a Sul exatamente na noite de Natal, para terminar com aquela longa saudade. Nem foi preciso botar mais água no feijão: o filho trouxera um estoque de comidas prontas para garantir a ceia de Natal.

Ainda estavam abraçados, chorando, quando os primeiros rojões subiram aos céus avisando que o Deus Menino estava nascendo nos lares de Gravataí. E que um “menino”, que sempre foi deus no coração daquela mãe, já ocupava o seu lugar na mesa, onde não havia mais nenhuma cadeira vazia...

Manuel du Bocage (Sonetos) VII

De cima dessas pedras escabrosas
Que pouco a pouco as ondas têm minado,
Da lua co’ reflexo prateado
Distingo de Marília as mãos formosas:

Ah! Que lindas que são, que melindrosas!
Sinto-me louco, sinto-me encantado;
Ah! Quando elas vos colhem lá no prado,
Nem vós, lírios, brilhais, nem vós, oh rosas!

Deuses! Céus, tudo o mais que tendes feito
Vendo tão belas mãos, me dá desgosto;
Nada, onde elas estão, nada é perfeito.

Oh! Quem pudera uni-las ao meu rosto!
Quem pudera aperta-las no meu peito!
Dar-lhe mil beijos, e expirar de gosto!
= = = = = = = = = = = = =

Já o Inverno, espremendo as cãs nervosas,
Geme, de horrendas nuvens carregado;
Luz o aéreo fuzil, e o mar inchado
Investe ao Polo em serras escumosas;

Oh, benignas manhãs! Tardes saudosas,
Em que folga o pastor, medrando o gado,
Em que brincam no ervoso e fértil prado
Ninfas e Amores, Zéfiros e Rosas!

Voltai, retrocedei, formosos dias,
Ou antes vem, vem tu, doce beleza
Que noutros campos mil prazeres crias;

E ao ver-te sentirá minh'alma acesa
Os perfumes, o encanto, as alegrias
Da estação, que remoça a Natureza.
= = = = = = = = = = = = =

Mimosa, linda Anarda, atende, atende
Às doces mágoas do rendido Elmano;
C’um meigo riso, c’um suave engano
Consola o triste amor, que não te ofende.

De teus cabelos ondeados pende
Meu coração, fiel para seu dano,
Co’a luz dos olhos teus Cupido ufano
Sustenta o puro fogo, em que me acende.

Causa gentil das lágrimas que choro,
A tudo te antepõe minha ternura,
E quanto adoro o céu, teu rosto adoro:

O golpe, que me deste, anima e cura...
Mas ai! Que em vão suspiro, em vão te imploro:
Não pertence a piedade à formosura.
= = = = = = = = = = = = =

O Céu não te dotou de formosura,
De atrativo exterior, e a Natureza
Teu peito infeccionou co’a vil torpeza
De ingrata condição, falaz e impura.

Influiu-me os extremos da ternura
A Constância, o fervor, e a singeleza,
Esses dons mais gentis que a gentileza,
Dons, que o tempo fugaz não desfigura.

Apesar da traição , do fingimento
Que te inflama, e desluz, se envela e para
Em ti, alma infiel, meu pensamento;

Nas paixões a razão nos desampara,
Se a razão presidisse ao sentimento,
Tu morrerás por mim, eu não te amara.
= = = = = = = = = = = = =

O ledo passarinho, que gorjeia
D'alma exprimindo a cândida ternura,
O rio transparente, que murmura,
E por entre pedrinhas serpenteia.

O Sol, que o céu diáfano passeia,
A Lua, que lhe deve a formosura,
O sorriso da aurora alegre e pura,
A rosa, que entre os zéfiros ondeia.

A serena, amorosa Primavera,
O doce autor das glórias que consigo,
A deusa das paixões, e de Citera:

Quanto digo, meu bem, quanto não digo,
Tudo em tua presença degenera,
Nada se pode comparar contigo.
= = = = = = = = = = = = =
Fonte:
BOCAGE, Manuel Maria Barbosa Du. Soneto e outros poemas. SP: FTD, 1994. Disponível na Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro

Sílvio Romero (Cova da Linda Flor)

Folclore do Rio de Janeiro.

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HOUVE NOUTRO TEMPO um rei que tinha o hábito de jogar, e todos com quem jogava perdiam. Uma vez convidou a um outro rei para jogar, e, no dia marcado, este se apresentou; mas perdeu todas as mãos do jogo, até que se desenganou e despediu-se para se ir embora. O dono da casa, que o desejava matar, marcou-lhe um outro dia para ir a palácio, o que era seu costume fazer com todos com quem jogava.

O outro foi avisado disto, e dirigiu-se a um ermitão para lhe aconselhar o que havia de fazer para evitar a morte. Este, não sabendo o conselho que lhe havia de dar, mandou que fosse ter com outro segundo seu irmão, que ainda o enviou para terceiro. Este último aconselhou ao rei que se pusesse debaixo de uma árvore, que lhe indicou, e que tivesse cuidado nos pássaros que nela se assentassem, afim de apanhar um escrito que um deles levaria no bico e largaria no chão, e que ele seguisse o que o tal escrito ensinasse.

Assim fez. Encaminhou-se à árvore indicada, sentou-se debaixo, e daí a uma hora vieram chegando os pássaros, até que também chegou um que tinha o peito amarelo que trazia o escrito, e o largou. O rei apanhou o papel, e leu as seguintes palavras: “O rei com quem jogaste tem três filhas encantadas, que hão de ir se lavar no rio, virando-se em três patas. Põe-te escondido na beira do rio até que elas cheguem; depois que elas tirarem a roupa para se banharem, deves apanhar a roupa da última que se despir e esconder-te com ela. Depois do banho as princesas hão de procurar a sua roupa, e a mais moça, não encontrando a sua, há de ficar muito aflita e prometer livrar de todo o mal a quem lha restituir.”

Assim fez. Seguindo para a beira do rio, se escondeu até que chegaram as três princesas irmãs; tiraram todas três as suas roupas, puseram-se nuas, viraram-se em três patas e atiraram-se ao rio. Depois que se fartaram de banhar-se saíram da água para se vestirem e tornarem para o palácio.

As duas que tinham roupa vestiram-se; a mais moça, como faltasse a sua para fazer o mesmo, ficou desesperada por não poder seguir suas irmãs. Como desconfiasse que lhe tinham escondido a roupa, e não enxergando pessoa alguma, pediu a quem lhe a tivesse tirado que lhe entregasse; porém o rei se fez surdo e não apareceu. Pediu a princesa pela segunda vez e nada; pediu pela terceira, prometendo a quem lha entregasse de livrar do mal que tivesse de lhe acontecer.

Então saiu o rei do esconderijo onde estava e dirigiu-se para a princesa, dizendo: “Aqui está a vossa roupa que eu tinha escondido afim de me livrar, por vossos conselhos, da morte que vosso pai me quer dar.”

A moça respondeu: “Tenho por costume cumprir o que prometo, e disto não me afasto; meu nome é Cova da Linda Flor; hoje é o dia que tendes de ir à casa do rei meu pai; chegando lá batei na porta, ela vos será aberta; assobiareis até chegardes à porta da sala, a qual achareis também fechada; batei, por dentro vos abrirão, ao abrir encostai-vos na parede para vos esconder a dita porta; não vos assusteis com um foguetão que há de sair da sala, que é para dar fim à vossa vida; passando o foguetão, entrai na sala e falai com o rei, meu pai”.

Assim fez. Quando o rei julgava que o foguetão tinha dado cabo do outro, foi que este se apresentou em sua frente. Ficou o pai das princesas muito chateado por ser aquele o primeiro que tinha escapado daquele trama. Ordenou-lhe então que fizesse amanhecer o seu palácio no meio do mar, sob pena de perder a vida. O rei jurado recolheu-se ao seu aposento no palácio muito triste e pensativo, temendo perder a vida no dia seguinte.

Dirigindo-se então a princesa para onde estava ele, perguntou-lhe a causa da sua tristeza. Respondeu que tinha de perder a vida no dia seguinte, se não fizesse aparecer o palácio no meio do mar, conforme seu pai lhe tinha ordenado.

Ela  lhe prometeu que dessa vez ainda não morreria; que dormisse descansado, que quando amanhecesse estaria no meio do mar. O que tudo aconteceu com admiração de todos.

Como o pai da Cova da Linda Flor não pudesse desta segunda vez matar o rei, seu companheiro, ordenou-lhe que desse conta dum anel que sua mulher tinha perdido no mar, com pena de perder a vida no dia seguinte.

Retirou-se o hóspede ao seu aposento outra vez triste e pensativo; o que sabendo a princesa, para lá se dirigiu e perguntou-lhe o motivo. “Tenho de morrer amanhã se não der conta de um anel que a rainha vossa mãe perdeu no mar.” A moça prometeu-lhe que estivesse descansado, que tinha de achar o anel. Deu então ao rei uma varinha, indicando-lhe uma laje que havia no mar, que, quando amanhecesse, se dirigisse à dita laje e batesse com a varinha, que havia de começar a sair os peixes que estavam no fundo da laje, que havia de ver um de papo amarelo, que o agarrasse e o abrisse que dentro encontraria o anel.

Assim foi. Tudo se passou como a princesa ensinou; arranjado o anel o rei foi levá-lo ao outro que logo o reconheceu e percebeu que isto eram artes da Cova da Linda Flor, e resolveu acabar também com ela. Porém a moça adivinhando isto foi ter ao aposento do seu protegido e lhe disse que fosse à estrebaria de seu pai, que lá encontraria três cavalos, um muito gordo e grande que andava como a água, outro mais abaixo na figura que andava como o vento, e outro ainda mais abaixo que andava como o pensamento, que ele pegasse neste e viesse para fugirem ambos.

Indo o rei à estrebaria, não encontrou o que lhe disse a moça e pegou no cavalo do meio, que andava como o vento, o que desagradou bastante a princesa. Como já fosse perto do dia, montaram-se ambos no cavalo, e fugiram.

Amanhecendo, o rei achou falta de sua filha e indo ao quarto do outro rei, também o não encontrou, indo também à estrebaria não encontrou o cavalo que andava como o vento. Mandou aparelhar o cavalo que andava como o pensamento, e seguiu atrás dos fugitivos. Quando os estava para alcançar, a princesa fez virar o cavalo em que fugia num estaleiro, a sela num toro de pau, o freio numa serra, o rei em cima do estaleiro e ela embaixo, ambos com a serra na mão a serrar.

Chegando o rei,  perguntou se tinham visto passar um homem com uma moça na garupa. A resposta que teve foi: “Serra, serra, serrador. Eu também sei serrar.”

Cansado de perguntar e sem ter uma resposta, o rei voltou desapontado. Chegando contou à rainha o que tinha encontrado, ao que ela disse: “És muito inocente; o estaleiro é o cavalo, o toro a sela, o freio a serra, e os dois eram o rei e a nossa filha.”

O rei volta para ver se os pegava; no caminho já não encontrou mais os serradores. Seguiu, e quando já estava a pegar os fugitivos, estes se viraram numa ermida, dentro dela um altar, no altar uma imagem, ao pé do altar um ermitão rezando em um rosário. Perguntando-lhe o rei se tinha visto passar um homem com uma moça na garupa, a resposta do frade era: “Padre Nosso, Ave Maria.”

Cansado o rei de perguntar, voltou de rédea, e foi-se embora. Chegando à casa contou à rainha o acontecido, ao que esta respondeu: “És muito tolo; a ermida era o cavalo, o altar a sela, a imagem a princesa, o ermitão o rei, que voltes quanto antes.” O rei partiu, e pelo caminho não encontrou mais ermida, nem ermitão.

Depois de muito andar encontrou num cercado uma roseira com uma rosa, e uma mamangaba beijando a rosa; perguntou à mamangaba se tinha visto passar por ali um homem a cavalo com uma moça na garupa. A mamangaba voou em torno da rosa; assim uma segunda vez. Na terceira pergunta ela voou em cima do rei e deu-lhe uma ferroada.

O rei voltou desapontado, contou à rainha o que se tinha passado, e ela lhe respondeu: “És ainda muito tolo; a roseira era a sela, a rosa nossa filha, o cercado o cavalo, a mamangaba o rei, portanto volta quanto antes.”

O rei não quis voltar, e a rainha de zangada pediu a Deus que o rei fugitivo fosse ingrato com sua filha e a desprezasse.

Assim aconteceu. Depois que estiveram residindo numa cidade por algum tempo se separaram, e o rei esqueceu de todo a Cova da Linda Flor. Então ele contratou casamento com outra princesa, e quinze dias antes do casamento mandou fazer anúncios para se apresentarem as pessoas que melhores doces soubessem fazer. Entre as que se apresentaram apareceu uma moça que se encarregou de fazer um casal de pombas que falassem, com a condição de serem postas em cima de uma mesa diante de todo o povo na véspera do casamento.

O rei concordou e no dia marcado mandou chamar todo o povo da cidade para presenciar aquela fonção*. Estando todos presentes, disse a pomba para o pombo: “Pombo, não te lembras quando o rei, meu pai, te convidou para jogar, para procurar um meio de te matar, e tu para te livrares escondeste a minha roupa, quando fui me banhar no rio, e eu te prometi livrar de todo o perigo se me desses a roupa? Pombo, não te lembras quando meu pai te chamou ao seu palácio para te tirar a vida, e te salvaste por meus conselhos? Não te lembras quando ele te ordenou que fizesses amanhecer seu palácio no meio do mar, e depois que lhe desses conta de um anel que minha mãe tinha perdido também no mar, sob pena de perderes a vida, o que tudo conseguiste por meus conselhos? Não te lembras quando fugimos, para escapar da morte, no cavalo que corria tanto como o vento, e, sendo perseguido por meu pai, nos salvamos por meus encantos? Não te lembras que isto aconteceu por três vezes, que na última nos viramos numa roseira com uma rosa, e uma mamangaba, que tudo fiz para te salvar a vida, e tu ingrato me esqueceste e vais te casar com outra?”

O pombo ia levantando a cabeça à proporção que o rei se ia lembrando do que se tinha passado com ele, e o rei desfez o trato do casamento e recebeu por mulher aquela que o tinha livrado da morte.
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* Função, no sentido de festa, brincadeira, pagode. [N. do A.]

Fonte:
Sílvio Romero. Contos populares do Brasil. Coleção Acervo Brasileiro vol. 3. Jundiaí/SP: Cadernos do Mundo Inteiro, 2018. Publicado originalmente em 1954.

quinta-feira, 14 de abril de 2022

A. A. de Assis (Jardim de Trovas) 1

 

Dorothy Jansson Moretti (Amigo até debaixo d’água)

Mil novecentos e trinta e dois, em plena Revolução.

Minha família foi uma das poucas que permaneceram na cidade. O pânico geral fazia com que todo mundo a abandonasse.

Apesar dos protestos de Seu Victorino que também não queria sair, a insistência de seu sogro fez com que ele finalmente se decidisse, levando Dona Davina e Odette a refugiar-se no sítio do sogro.

Estava, contrariado. Não conseguia dormir à noite, devido ao ronco dos porcos, e não conseguia suportar o odor que vinha do chiqueirão. Mas em atenção a Seu Emídio, ali estava, firme.

A saúde de Seu Victorino era delicada. Passava às vezes a noite inteira puxando o fôlego em penosas crises de bronquite asmática. E por esse motivo era extremamente cauteloso, não tomava sol, não tomava chuva, nem vento, garoa, sereno...

No terceiro ou quarto dia de sítio, alguém levou-lhe uma notícia: seu amigo Claro Jansson estava doente. Não quis saber de mais nada. Partiu imediatamente em socorro do amigo.

O tempo era de chuvas intermináveis e as estradas eram péssimas. Ele encapotou-se como pôde para empreender a longa caminhada a pé. Ao chegar ao ribeirão, viu que a pinguela que o atravessava havia rodado com a enchente.

Sem hesitar um minuto, Seu Victorino — que não tomava sol, não tomava chuva, nem vento, garoa, sereno — tirou os sapatos, arregaçou as calças e corajosamente enfrentou a correnteza, passando o ribeirão e continuando a penosa jornada até o fim.

Chegando à nossa casa, viu com satisfação que meu pai já estava melhor. Dr. Onofre Di Giacomo, médico veterinário que havia ficado na cidade com a família, e que residia ao lado da farmácia de Seu Victorino, já o havia medicado. Ele arrombara uma das portas da farmácia e de lá tirara os remédios necessários. Meu pai estava fora de perigo, e até brincou com Seu Victorino, fazendo piada por ter sido tratado por um veterinário...

Eram assim as amizades daquele tempo.

Era assim o nosso querido Seu Victorino. Amigo - literalmente — até debaixo d'água!

(Tribuna de Itararé- 25/12/84)

Fonte:
Dorothy Jansson Moretti. Instantâneos. São Paulo: Dialeto, 2012.
Livro enviado pela escritora.

Luiz Carlos Abritta (Álbum de Trovas)


A natureza se vinga
de toda agressão sofrida
e essa revolta respinga
no centro de nossa vida!
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Aos jovens dou um conselho,
nesta vida tão incerta:
não se olhem tanto no espelho
pois Narciso é morte certa!
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Ao teu prazer eu me entrego
- seja lá o que quiseres –
pois te escolhi, eu não nego,
entre todas as mulheres.
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As tuas mãos - que brancura
 - que bonito de se ver,
 pois elas têm a ternura
 dos lírios do amanhecer.
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Busco de novo a verdade
na aspereza dos caminhos,
e só encontro a saudade,
a solidão dos sozinhos!
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Casaste... triste eu sofria,
pois vestiste, bem contente,
a camisola macia
que eu te dera de presente!
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Depois de fazer a ronda,
o galo ficou danado:
a galinha, tão redonda,
quis botar ovo quadrado!
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Desde que tu foste embora,
 tua saudade é açoite
 que já começa na aurora
 e dói mais durante a noite!
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Dessa forma Cristo pensa:
"maior será o perdão
quanto maior for a ofensa".
- Que bela e sábia lição!!
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De todo "não" que me deste,
 o que mais triste me fez
 foi aquele que disseste
 disfarçado num "talvez".
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Do meu verso é sempre a fonte
 essa cidade lendária
 chamada Belo Horizonte,
 a Capital centenária!
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Do simples pó eu procedo,
sei que a ele hei de voltar;
a vida não tem segredo:
é um eterno retornar.
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Em cada nota eu receio,
na pauta que a vida escreve,
que transformem nosso enleio
numa simples semibreve.
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É muito estranho, meu bem,
 o relógio do destino:
 vai de manso, vai e vem,
 depois bate em desatino!
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E se em tupi é “kiri”
e lá na Itália “bambino”,
no sul só falam “guri”:
diabruras de “menino’!
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Essa vitória alcançada
 nos obriga a meditar:
 sem o povo não há nada,
 que verdade singular!
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Eu bem sei que tu me esperas
 e, se te vejo, ao sol-posto,
 projeto um céu de quimeras
 na moldura do teu rosto!
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Eu confesso abertamente,
e disso não me envergonho,
que tu foste, simplesmente,
o amplo portal do meu sonho.
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Eu sei que o belo e a verdade
 caminham juntos na vida
 e atinjo a felicidade
 se a ternura é dividida.
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Eu te agrado, tu me agradas,
e, no doce cativeiro,
sem algemas, sem ciladas,
tu me prendes por inteiro!
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Eu te amo tanto, mas tanto
que já pus num pedestal
toda a glória desse encanto,
que se tornou imortal.
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Eu te digo, com alegria,
e a realidade comprova
que o melhor da poesia
é a beleza de uma trova.
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Eu tenho perseverança
e à tristeza me anteponho:
garimpeiro da esperança,
sempre vivi do meu sonho.
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Foi no tempo da janela
e do namoro à distância
que a vida, muito mais bela,
tinha tão grande importância!
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Jamais eu temo o fracasso
 pois me deste o teu amor
 e a simples força do abraço
 me transforma em vencedor!
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Na magia desse sonho,
 nessa noite calma e pura,
 a sonata que componho
 tem as notas da ternura.
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Não foi perto, nem distante:
o nosso amor, ideal,
nasceu da luz de um instante
e se tornou imortal!
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Não me queres... pouco importa...
Só penso no alvorecer,
pois ele sempre abre a porta
à sedução de viver!
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Nas horas mortas da noite,
sem luar e bem-querer,
tua ausência é puro açoite
que duplica o meu sofrer.
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Na tessitura do sonho,
vou cortar, sem mais tardança,
esse nó górdio que imponho
a um amor sem esperança.
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Navegador solitário,
singrando as águas do mar,
jamais pensa em numerário,
mas conjuga o verbo amar!
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Nem o sofista profundo
esta verdade falseia:
quem se julga rei do mundo
é um pequeno grão de areia!
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Nenhum amor se constrói
só com flores e ternura,
pois aquele que mais dói
certamente é o que mais dura.
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Nessa vereda que é a vida,
vou de tropeço em tropeço,
pois cada nova subida
é sempre um novo começo.
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Nesse exílio que me imponho,
não senti que era miragem
e dos pedaços de sonho
eu recompus tua imagem.
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Nosso amor já teve história
e, por isso, eu te proponho
seja posto na memória
do relicário do sonho.
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Novo estatuto vigora
nas leis do amor hoje em dia:
sei que vale mais o agora
do que a mais bela utopia!
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Numa alquimia de nume,
 à tristeza me anteponho,
 transformando teu perfume
 no perfume do meu sonho!
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O açougueiro viu passando
 a mulher que é só pele e osso
 e disse, a faca afiando:
 "Isso é carne de pescoço".
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Olhando o tempo passar,
no relógio da memória,
eu senti coisa invulgar,
pois revivi nossa história!
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O que conta nessa vida
não é tempo nem idade,
mas a procura renhida
da deusa felicidade.
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O tempo passa depressa
e tão rápido ele flui
que nunca mais recomeça:
– sou a sombra do que fui.
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Quando o cãozinho e o menino
se abraçam por um segundo,
solto o canto peregrino:
- Há salvação para o mundo!
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Quis esquecer-te... não pude:
 a saudade é traiçoeira
 e ela sempre nos ilude,
 pois nos prende a vida inteira!
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Quis retratar um romance
 que fosse mesmo um primor,
 e fiz, com tinta e nuance,
 uma aquarela de amor.
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Sempre foste minha amada
e, no doce cativeiro,
sem algema e sem mais nada,
tu me prendes por inteiro.
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Se não me dás teu carinho,
se não me queres amar,
sou barco triste e sozinho,
que já não quer navegar.
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Se navegar é preciso
e viver nem tanto assim,
vou partir com teu sorriso,
em busca do mar sem fim!
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Se todos temos defeitos,
se o mistério vem de Deus,
se nem os bons são perfeitos,
o que dizer dos ateus?
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Somos poeira que a vida
 sempre leva de roldão;
 em sua sanha atrevida,
 ela não vê coração.
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Só se louva a juventude,
porém jamais alguém disse
que só se atinge a virtude
quando se alcança a velhice.
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Tira o véu da hipocrisia,
joga longe esse teu manto,
e verás que a noite fria
se transforma em puro encanto.
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Todos querem sufocar,
 com disfarces atrevidos,
 e sordidez invulgar,
 o grito dos excluídos .
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Tudo ele faz com amor
e traz o céu na bagagem;
na verdade, o trovador
de Deus na Terra é a imagem.
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Tu partiste... e essa magia
 que deixaste no meu peito
 vai fazer que certo dia
 tu voltes de qualquer jeito.
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Vejo o mar em ondas mansas
- foto de rara beleza -
e, reforçando as lembranças,
um céu chamado Veneza!
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"Veredas, grandes sertões"...
a nossa vida é uma estrada
toda cheia de senões,
do início ao fim da jornada.
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Vou definir a saudade
e não sei se estarei certo:
saudade é aquela vontade
de que o longe fique perto.
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quarta-feira, 13 de abril de 2022

Adega de Versos 77: Carolina Ramos

 

Carlos Leite Ribeiro (Um Banco de Jardim)

O "Tio Paulo", como em todos os dias que o tempo lhe permitia, encontrava-se sentado no seu habitual banco de jardim, a ler o jornal...

- Ó homenzinho, chegue-se um pouco para lá, para eu me poder sentar.

O "Tio Paulo", muito surpreendido, olhou para uma jovem que estava na sua frente e pretendia partilhar consigo aquele banco de jardim.

– É para já, menina ... menina quê ...?.

– O meu nome é Antonieta - respondeu-lhe a jovem desembaraçadamente, e continuou: olhe lá homenzinho, você por acaso não sabe de ninguém que precise de uma empregada?

O "Tio Paulo" voltou a encarar aquela jovem de modos e de expressões descontraídas.

Já meio divertido, respondeu-lhe: – Olhe lá menina, ou não sou nenhum homenzinho - ouviu?

– Ah, não?!... pois olhe que eu estava convencida que era!

Pelos vistos, a resposta fácil estava sempre na ponta da língua da jovem.

– O meu nome é Paulo, mas também me chamam "tio".

E ele a dar-lhe!

– Olhe, se você é "tio" eu não sou sua sobrinha - ouviu?!

Pela máscara facial, Antonieta notou que o velhote não tinha ficado nada agradado por aquilo que ela lhe tinha dito. Para suavizar a situação, a jovem perguntou ao "tio Paulo":

– Senhor Paulo, quer comer da minha merenda? ... é chouriço e queijo que me mandaram lá da minha terra, no Minho.

– Muito obrigado, menina Antonieta. Que lhe faça bom proveito !

E já mais bem disposto, o "Tio Paulo" continuou: – A propósito, a Antonieta não tem emprego?

A jovem encarou o bondoso velhote e, com tristeza respondeu-lhe:

– Presentemente não. Vim do Minho para trabalhar numa casa, mas o patrão era muito abusador. Mais parecia um polvo do que um homem. Chateei-me e dei-lhe uma "toutiçada" na cabeça e com uma mocada, deitei-lhe uma asa abaixo. Resultado, fui despedida.

O "Tio Paulo" começou também a viver o drama da jovem.

– Olhe lá, Antonieta, então você não tem casa onde ficar enquanto não conseguir arranjar outro emprego?

– Pois não tenho. Esta noite terei que ficar a dormir neste banco. - disse-lhe a jovem.

O ancião olhou para ela horrorizado, e avisou-a:  – Tenha juízo, menina, pois é muito perigoso ficar aqui sozinha de noite!

– Eu não tenho medo e além disso, sei defender-me! - atalhou logo a jovem.

Mas o "Tio Paulo" não se deu por vencido e continuou: – Antonieta, eu moro sozinho, sou viúvo e os meus filhos estão casados e não moram cá. Se quiser podia ir para minha casa.

Não pôde terminar a frase, pois logo a jovem retorquiu-lhe:

– Mas você pensa que eu queria ir para sua casa?!... Você deve estar a pensar que eu sou....

Ao ouvir isto, o bom velhote "atirou-se" ao ar...

– Olhe, que eu não estou a pensar em ser um "polvo" como você diz que era o seu antigo patrão. Ofereço-lhe a minha casa, em troca de... de, por exemplo, de você arrumar a minha casa e de passar-me a roupa a ferro - valeu?!

A jovem hesitou, mas por fim acedeu ao amável convite do bom velhote.

– Está bem, aceito. Mas o "Tio Paulo" terá de tomar banho todos os dias, pois esses pés... (que cheiro!) e tem de deixar andar agarrado a essa bengala.

E lá foram os dois. Curiosamente, o "Tio Paulo" já não se apoiou na bengala para poder andar.