sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Neusa Padovani Martins


Psicóloga, Pedagoga e Especializada em Educação . Durante mais de 25 anos dedicou-se ao trabalho nesta área. Proprietária do Centro de Desenvolvimento Infantil “ Potinho de Mel” onde fez um espaço de implantação de tantas idéias inovadoras e diferenciadas que tinha para época e que se fundamentavam nos pressupostos de Paulo Freire e Carl Rogers. Os aluninhos não tinham um uniforme para usar e muito menos tarefas rigidamente planejadas para realizarem, no entanto, tinham uma assistência ampla e irrestrita na deliciosa arte do brincar. Também nesta escola realizou o sonho da inclusão sócio-educacional, fazendo com que as várias formas de ser pudessem se mesclar.

Fechou a escola e depois desta muitas outras vieram, cada uma com uma necessidade única e especial. Em algumas implantou os mais diferentes trabalhos, desde os de inclusão até os de alimentação.

Neste tempo ministrou várias palestras para pais e professores, e alguns cursos também, sempre tendo como foco a criança, seu desenvolvimento e sua aprendizagem.

Para algumas escolas criou e apostilou materiais didáticos especiais, haja visto que naquele tempo ainda não era comum o apostilamento dos cursos educacionais.

Paralelo ao trabalho educacional sempre teve seu consultório para atendimento clínico, realizando um trabalho diferenciado que tirava de dentro da sala determinados clientes, auxiliando-os a transportar as barreiras da socialização, usando a rua como forma de inclusão.

Para cuidar e formar seus filhos quando eles chegaram em sua vida e insistindo em ser para eles aquilo que o curso de Psicologia tanto ensinara, decidiu diminuir seu ritmo encontrando na Consultoria Escolar uma ótima alternativa de trabalho.

Paralelo a isso tudo trabalhou com vários alunos na organização de monografias e trabalhos de pesquisas.

Há alguns anos, acompanha a filha pelos caminhos do mundo da Moda, atuando com ela na organização de eventos e na área da Psicologia da Moda. Há algum tempo criou dentro do site de seus filhos, o www.sorocult.com o ”Espaço Literário” com o objetivo de divulgar os trabalhos na área da literatura em Sorocaba e Região.

Decidiu colocar em um livro alguns de seus textos escritos após sua participação na 1ª Semana do Escritor de Sorocaba. Conforme suas palavras, seu marido e filhos a intimaram a abrir a gaveta e mostrar através de situações do cotidiano ora com nostalgia, ora com humor, que para ser feliz é preciso dançar conforme a vida. Sem medos e vergonhas, amando e deixando-se amar, respeitando e impondo respeito, Neusa escreve de forma fluida e agradável de ler.

Reuniu ainda alguns dos seus inúmeros textos num primeiro livro que lançou em julho de 2006, chamado “Dançando Conforme a Vida”, também co-autora do livro de coletâneas Roda Mundo 2006. Pertence ainda ao selecionado time de colunistas dos sites www.jornalecos.net e www.vaniadiniz.pro.br. É co-autora na 1ª Coletânea Literária do site www.sorocult.com

Em artigo para o Jornal'Ecos da Literatura Lusófona. Douglas Lara salienta:

Livros novos de autores sorocabanos como “Das Gavetas” ou “Dançando Conforme a Vida”, de Neusa Padovani Martins, lançados durante a 2ª Semana do Escritor Sorocabano, oferecem aos leitores uma visão diferenciada e muita criatividade da nossa realidade, principalmente o “Dançando”, que são textos que a autora escreveu no decorrer de sua existência.

Por isso, alguns deles fazem menção a um fato ou episódio particularmente especial em sua vida. Longe de ser um livro autobiográfico, é antes uma obra que fala das coisas simples e marcantes na vida de qualquer um de nós.

Para isso, a autora usou de uma linguagem que vem cheia de rimas suaves que dão leveza e fluidez ao texto. Mãe, pai, sobrinhos ou situações kafkianas, todo mundo tem na vida, porém, a forma de se retratar cada um deles é que acaba por fazer toda a diferença.

Quando Neusa conta a situação que viveu ao ficar presa no quintal de sua própria casa e ser salva por bombeiros, o leitor pode pensar no quanto corajosa foi a autora em expor o ridículo pelo qual passou. É exatamente neste ponto que a autora demonstra que as pessoas precisam aprender a rir de si próprias, procurando o encantamento do viver e ser feliz, dentro de sua própria vida, e não fora delas.

Este livro vem também quebrar um paradigma antigo que diz que um livro deve ter um único lado para começar. O “Dançando” tem dois começos com um tema específico para cada um deles. É um livro para ser lido, virado ao contrário e lido novamente, algo inovador dentro do universo das edições.

Assim, caro leitor, permita-me voltar a falar do poeta e professor Paulo Tortello, que foi homenageado pelo professor e um dos autores do livro “Das Gavetas”, o poeta e revisor de livros João Alvarenga, também antigo colaborador do “Fanletras”. A homenagem vem em boa hora, pois Paulo Tortello foi o criador do projeto “Poesia em Debate” que existe há mais de uma década, sendo uma bandeira de resistência da poesia em nossa cidade.

O “Das Gavetas” é inspirado no fanzine “FanLetras”, editado pelos autores nos anos 90, que tinha a função de veicular a produção de textos literários que não despertavam o interesse das grandes editoras.

Assim, leitor, pense e tire suas conclusões. Se esse grupo de jovens autores não tivesse a coragem de partir para a produção independente de tal livro, será que a cidade saberia que eles são cronistas e que têm textos que vão do irônico ao melancólico? Assim, iniciativas como essas associadas às antologias são soluções criativas para divulgar os nossos talentos e tirar a literatura da mesmice.

Logo, procure e, sempre que possível, ler autores novos. Eles são muitos e ainda não estão contaminados pela fórmula do sucesso fácil, divulgam o que escreve com dificuldade, tentando quebrar paradigmas da arte pronta, pois estão na fase inicial de sua produção e não sabemos se, depois do sucesso alcançado, poderão ter a liberdade deste momento ou se terão que escrever como mandam os editores que vislumbram apenas mais um novo sucesso de vendas.

Fontes:
http://www.sorocult.com/

Douglas Lara. in
http://recantodasletras.uol.com.br/

Douglas Lara. Jornal'Ecos da Literatura Lusófona. 10 de Outubro de 2006 - Edição N°50. in
http://www.jornalecos.net/

Neusa Padovani Martins (Aprendendo a gostar de ler)

Quem gosta muito de filmes sente um prazer imenso em freqüentar as salas de cinema, as vídeo locadoras e os inúmeros canais da TV por assinatura dedicados exclusivamente aos filmes dos mais variados gêneros. Um amante de Cinema ao entrar em uma vídeo locadora para escolher filmes para serem locados poderia ser comparado, a grosso modo , a um amante de pizza que entra numa pizzaria para escolher uma pizza num longo cardápio. Por isso é que se costuma dizer que um bom filme deveria ser degustado. A sensação que se tem ao escolher filmes para serem locados é uma experiência única onde a imaginação envolve-se com a emoção ante o simples ato de ler a sinopse do filme.

O mesmo acontece com quem é amante dos livros. Este ao avistar uma livraria com suas vitrinas forradas deles, sente um impulso imediato de tocá-los folheando suas páginas para vagarosa apreciação e avaliação. Há quem diga que o cheiro de uma livraria é algo de raro prazer e por isso mesmo ao escolher um livro, seja numa livraria ou numa biblioteca, o amante dos livros muitas vezes demora-se nesta tarefa de forma proposital. Através de um livro a pessoa viaja para outras culturas, conversa com personagens imaginários, forma opiniões, debate com suas próprias dúvidas, aprendendo a explorar novos conhecimentos, adquirindo outras visões de sua realidade.

Existem pessoas que não conseguem viver sem ler. Elas lêem com avidez tudo o que podem das mais diversas formas e nos mais diversos locais. Porém nem todos são assim e muito pouco apreciam a leitura. Quando isso ocorre deveria-se ter o cuidado para não se forçar ninguém a ler porque não é esta a forma correta de se formar um leitor de verdade. Basta que se veja a quantas anda a literatura dentro das escolas frente aos alunos.

O que se deve fazer é dar à pessoa condições de ter acesso aos livros de forma que ela possa escolher o livro certo para ser lido naquele momento de sua vida. Este livro certo não deve significar o último lançamento ou aquele que todos estão lendo e comentando. Mas sim aquele que possa ir de encontro às suas necessidades pessoais seja lá relacionadas ao que for.

Assim como os filmes, os livros são classificados por seus gêneros e assuntos centrais havendo quem aprecie mais um do que outro. Por isso pode soar de forma indelicada fazer uma indicação de leitura para alguém dizendo que um livro é melhor para ela do que um outro. Também não é correto dizer que certos livros são melhores que outros, porque desde que bem escritos, todos os livros podem ser bons, sendo que o que diferencia um do outro é o conteúdo que cada um tem.

Infelizmente hoje em dia vemos que além daquela pessoa que não teve chance de aprender a ler e escrever existe aquela que apesar de letrada e muitas vezes bem graduada, e que por pura preguiça e inércia mental, insiste em cultivar uma ignorância deliberada não dando importância aos assuntos relacionados à cultura e educação, correndo atrás de outros prazeres pessoais mais imediatos que aliviem sua ansiedade e angústia frente à vida que tem.
.
De qualquer forma quando alguém não gosta muito de ler, mas quer fazer uso de uma boa leitura, seria aconselhável que se buscasse aqueles livros que estão mais voltados às áreas de seu maior interesse, como por exemplo, se alguém gosta de música deve procurar livros cujo tema central esteja voltado para a música e assim por diante, até que a pessoa comece a sentir prazer em ler. Não é tarefa das mais fáceis, tampouco missão impossível de ser atingida, pois uitos se transformaram em bons leitores percorrendo este caminho.
Então, o que você está esperando para tentar? Comece hoje mesmo e “boa leitura”.

Fonte:
http://www.sorocult.com/

Neusa Padovani Martins (Visitando Dorothy e Mimi)

Há momentos na vida que determinam se uma nova amizade vai ou não dar certo. Comigo e com Dorothy foi assim. Não sei se por obra do próprio destino ou se realmente fizemos as duas com que tudo acontecesse como aconteceu, a verdade é que ficamos amigas por obra do destino sim e também porque escolhemos nos conhecermos mais naquela nublada e abafada manhã de domingo.

Mal a porta se abriu revi minha amiga que até aquele momento era mais um projeto de amiga do que outra coisa qualquer.Com seus olhos de um ofuscante azul celestial ela me recebeu com um abraço e em troca lhe dei outro também. Havíamos nos visto uma única vez no lançamento de um livro em forma de coletânea do qual ambas participamos e depois no lançamento do meu próprio também. Como sempre acontece neste tipo de evento, todos se conhecem e prometem se visitarem mesmo que morem em estados diferentes. Na verdade o desejo de travar conhecimento maior é sempre grande, mas como todo bom adulto vivido, sabe-se muito bem que o tempo e a distância são impedimentos muitas vezes para tantas situações assim.

Sinto-me estranha às vezes porque me diferencio da maioria em muitas situações, e esta foi certamente uma delas. Por isso também procurei Dorothy. Para tê-la perto de mim como coadjuvante literária, eu não precisaria visitá-la e passar pelos momentos divinos que passei. O primeiro deles foi sem dúvidas neste domingo em que a visitei. Fomos minha filha e eu até a casa dela depois da visita acertada via telefone.

Depois dos cumprimentos cerimoniosos de costume, passei pela porta de sua casa indo alojar-me, junto de minha filha, no sofá da sala de visitas. Também de forma cerimoniosa coloquei minha bolsa ao lado e as mãos sob as pernas à espera que a dona da casa se acomodasse também. Foi neste exato momento que a moradora mais ilustre da casa, a gata Mimi apareceu com ares de quem queria saber, afinal, quem eram as inoportunas visitas naquela morna manhã de domingo. – “Não teriam aquelas duas mais o que fazer? Um encontro religioso, uma feira, uma caminhada pelo bairro, um relax enfrente à televisão?”. Pelo jeito não, já que nos encontrávamos ali.

Depois das apresentações costumeiras entre visitantes e animal de estimação da casa, tratei de ser gentil com a tal gata Mimi. Tentei fazer-lhe um carinho do tipo que os gatos costumam tanto apreciar e ela até que pareceu aceitar bem. Enquanto Dorothy falava sobre as façanhas “gatais” da sua Mimi, a felina a olhava tal qual fazem os filhos quando as mães falam sobre eles para alguém. Neste exato momento entendi que para Dorothy a Mimi era mais que uma simples gata, e era mesmo uma amiga. E vice-versa. Só que pude perceber também que Mimi era o tipo de companheira enciumada da atenção que lhe é roubada em favor da visita presente.

Conhecedora que fui dos gatos por volta de minha infância e adolescência, tratei de dar à bichana atenção maior que à sua dona, motivo verdadeiro da minha visita.Mas não me preocupei em pensar que Dorothy não iria gostar de tamanha demonstração de estima pela gata e por ela não, porque amante dos animais como sou, gosto muito quando os que me visitam se deslumbram com meus filhos-cachorro, verdadeiros filhos do coração. Evidentemente, adoro que minhas visitas se debulhem sobre meus filhos-gente e isso é indiscutível, mas os animais sempre me fascinaram realmente. E era sobre isso que falávamos ali enfrente a uma Mimi séria e compenetrada.

Quando finalmente Dorothy acomodou-se na sua poltrona ao lado do gracioso sofá em que minha filha e eu havíamos nos sentado, percebi que Mimi também tratou de se acomodar à nossa frente olhando agora candidamente para sua amada dona. A roda de conversa estava fechada com três mulheres e uma gata cujos olhos azuis insistiam em combinar com os olhos da dona. Começamos, enfim, a conversar sobre tantos assuntos que pareciam à espera de tanto tempo para serem debatidos. Era como se fôssemos amigas há muitos anos e após um distanciamento forçado e longo tivéssemos nos reencontrado finalmente.

A cada palavra que dizíamos nossa intimidade e familiaridade só se faziam aumentar e sem que eu percebesse, enquanto falava, ainda continuava a afagar carinhosamente a cabeça de Mimi, sentada à minha frente de forma tão elegante e clássica como conseguem apenas os gatos.Enquanto meus dedos a alisavam, ela, parecendo cansada daquele meu lengalenga, começou a virar a cabeça tentando retirar minha mão dali, e a cada leve abocanhada tentava me dizer que não estava a fim daquele nhem-nhem meu.

Dorothy já se mostrando incomodada com os maus jeitos da filha-amiga-gata passou a chamar-lhe a atenção. Mas a danadinha da felina parecia não ligar, fazendo-me crer que aquele lindo animalzinho sequer poderia imaginar que não era gente e sim um bichinho de estimação. Então, entendi num lampejo, que parecia que Mimi me perguntava a cada abocanhada, por quê só a ela eu fazia carinhos passando a mão na sua cabeça? Por que não dispensava o mesmo gesto carinhoso a Dorothy e minha filha? Por que só a ela, então?

Desta forma sem titubear um só segundo, retirei a mão de sua cabeça cuidando de dar a ela a mesma e respeitável atenção que dava à sua dona e à minha filha, entendendo que, quisesse eu, ou não, aquela gata à minha frente estava ali sentada fechando a roda de conversação, participando com maestria de todos os assuntos ali tratados, como a pessoa que ela pensava ser.

Fonte:
http://www.sorocult.com/

Dorothy Jansson Moretti


Nasceu em Santa Catarina e aos 2 anos de idade passou a morar em Itararé quando seu pai Klas Gustaf Jansson instalou a foto Jansson na cidade.

Desde menina gosta de poesia e literatura, mas foi aos 16 anos que iniciou-se na poesia fazendo acrósticos em ábuns de recordações de pessoas amigas.

Professora de Inglês aposentada no Instituo Mackenzie.

Foi secretária da Casa do Poeta “ Lampião de Gás” de São Paulo.

Pertence à : Associação Paulista de Imprensa, Academia Sorocabana de Letras, União Brasileira de Trovadores, Casa do Poeta da Capital de São Paulo e sócia correspondente de várias academias de letras do país.

Escreve sonetos, trovas e crônicas para jornais e revistas do interior e para o “ Fanal”, órgão poético da Casa do Poeta “ Lampião de Gás” de São Paulo.

Faz parte de várias antologias poéticas e participa de muitos concursos literários, os quais lhe tem proporcionado vários troféus.

É autora da letra do hino do Colégio Estadual “ Amadeu Amaral”, da capital paulista e da letra do Hino à Itararé , da cidade do mesmo nome.

Publicou um livreto com suas trovas premiadas, intitulado “ Frasco Vazio” , quando residia na cidade de Curitiba, Estado do Paraná.

Atualmente vive já muitos anos em Sorocaba, Estado de São Paulo, onde publicou um livro de soneto “ Folhas Esparsas”, e um livrinho intitulado “ Trovas ao Vento” .

É autora dos seguintes livros:
Folhas Esparsas (Sonetos)
Trovas ao vento
Chá da Tarde (Trovas)
1a. Coletânea do Espaço Literário do site www.sorocult.com (Co-autora)

Antologia Roda Mundo 2006 (co-autora)

Fonte:
http://www.sorocult.com/

Douglas Maria Lara (1938)

Douglas Lara é coordenador da coletânea Roda Mundo; idealizador da Semana do Escritor de Sorocaba. Douglas Lara, nascido em 24 de janeiro em Sorocaba/SP/Brasil. Formado bacharel em ciências contábeis. Organizador da coletânea Roda Mundo 2006 e anteriores; idealizador da Semana do Escritor de Sorocaba.

A carreira profissional de Douglas Lara pode ser dividida em duas fases, completamente distintas. A primeira, que se estende por 35 anos, é a do alto funcionário de grandes corporações como a Price Waterhouse, DuPont e Toddy do Brasil, na área de contabilidade e auditoria. Já a segunda começa em 1995, quando Douglas Lara deixa a atividade empresarial e passa a trabalhar por conta, ministrando aulas de Inglês para executivos, realizando divulgação de escritores e iniciando, lentamente, a preparação para alçar vôo em um novo ramo: a edição de livros.

O currículo de editor começa em 2003, com a publicação da antologia "Onze Autores da Web". O projeto chamou a atenção da mídia pelo ineditismo, uma vez que carreou para o livro impresso escritores que desenvolveram suas carreiras em parte ou totalmente na internet. Com "Onze Autores da Web", Douglas Lara colocou em prática um sistema de produção cooperativado que se mostrou extremamente bem-sucedido. A cooperativa permite, de um lado, a divisão dos custos entre os autores, e, de outro, a somatória de esforços para a divulgação do livro.

Seguem-se outros projetos de antologias igualmente bem-sucedidos: "Roda Mundo, Roda Gigante - Antologia Internacional 2004" e "Antologia Internacional VMD" (com autores do portal Vânia Moreira Diniz), ambos lançados em 2004 e disponíveis no site da Livraria Cultura (www.livrariacultura.com.br) . "Roda Mundo, Roda Gigante..." firmou a reputação de Douglas Lara como um "movedor de montanhas": pacientemente, utilizando a internet, o editor conseguiu arregimentar nada menos que quarenta autores, residentes em doze países e quatro continentes, assinando textos em Português e Espanhol.

Com lançamento em julho e setembro de 2005, respectivamente, estão duas outras antologias: "Roda Mundo, Roda Gigante - Antologia Internacional 2005" e "Antologia de Textos Jurídicos" (título provisório). A primeira, promete repetir o sucesso da versão 2004, com a presença de escritores de diversos países, representando diferentes culturas e modos de ver o mundo. Já a segunda reflete uma primeira incursão temática, voltada exclusivamente para o universo das leis.

Atualmente, ao lado das atividades de editor, Douglas Lara desenvolve um trabalho de divulgação de escritores para jornais, revistas e sites especializados em Literatura. Em Sorocaba (SP), cidade onde nasceu em 1938, divide seu tempo entre projetos de livros, produção de contos e artigos e reuniões do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba, do qual é membro efetivo. Sua presença na internet faz dele uma personalidade internacional. Recentemente, recebeu o Lancaster House Award da Rickmarc Publishing (Londres).

Formou-se Mestre em Contabilidade (USP/PUC), Mestre em Gestão de Processos Comunicacionais (ECA/USP), bacharel em Ciências Contábeis (Universidade São Judas Tadeu).

Douglas Lara é sócio da The American Chamber of Commerce (Câmara Americana de Comércio) - São Paulo, desde outubro de 1960; sócio fundador do Institubo Brasileiro de Executivos Financeiros (IBEF); sócio fundador da Associaçao Brasileira de Aluminio (ABAL); sócio permanente do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba (IHGGS) e da Sociedade Amigos da Marinha (Soamar). Representando o IBEF, participou de congressos internacionais no Mèxico e na Itália.

Fontes:

Entrevista com Douglas Maria Lara

Jornal Ecos entrevista o divulgador e editor Douglas Lara

Jornal'Ecos: Douglas: Você nasceu em Sorocaba, uma grande cidade paulista, a origem de sua família é de Sorocaba mesmo?
Douglas: Vânia, que bom conversar contigo. Sim, nasci em Sorocaba em 24 de janeiro de 1938 que aproximadamente 70 anos atrás era uma cidade média do interior do estado de São Paulo, ficando a 90 quilômetros da capital.
Penso que não existia melhor lugar para nascer. A vida em Sorocaba era de pessoas ordeiras e do bem, amigas e nasci do casamento de minha mãe Victoria (com seis irmãos) e Ramon Lara Rodrigues (que também tinha seis irmãos). Meus pais foram morar com meus avós maternos Elias Salum e Henriqueta Dias Salum numa casa enorme com muita gente no centro de Sorocaba). Todos trabalhavam e vivíamos alegras e muito felizes.
Conheci e convivi durante muitos anos com minha avó Henriqueta que quando casei-me e tive meu primeiro filho, o Douglas Junior foi morar conosco em São Paulo, cidade que mudei-me em 1958 para fazer vestibular na faculdade de economia na USP.
Meus avós paternos foram imigrantes espanhóis que trouxeram 6 filhos primeiro para a Argentina onde nasceu em Buenos Aires e posteriormente decidiram imigrar para o Brasil na época com 7 filhos.
.
Jornal'Ecos: Como transcorreu sua infância? Tem alguma recordação de algum fato que o marcou com ênfase?
Douglas: Minha infância foi muito alegre e divertida no meio de muitos tios e primos.
Meu único irmão, o Dorival nasceu quando eu já tinha 7 anos de idade o que fez com que meus pais tivessem dois filhos únicos, dos mesmos pais.
Morava com minha vó e bisavó.
Como era comum na época, aos treze anos fui trabalhar com meus tios que tinham uma pequena manufatura de sapatos ... meu primeiro salário foi um dicionário de português.
Ai você pode ver que meus tios tinham sensibilidade e perceberam que teria que estudar muito a língua pátria.
Quando criança tudo era permitido, exceto não estudar.
E Sorocaba, chamada terra das escolas e das indústrias oferecia para todos seus moradores trabalho e estudo.
Vânia, agora irei contar um pouco de minhas peraltices.
Na minha infância, saia muito com meus tios que tinham 14 anos ou mais portanto moleques.
Uma das coisas que mais gostávamos de fazer era nadar no rio Sorocaba, que ficava bem próximo de onde morávamos.
Quem conhece Sorocaba sabe que o rio passa no centro da cidade ...
.
Jornal'Ecos: Douglas, explique um pouco mais isso e como seus pais controlavam estas peraltices de menino?
Douglas: Vânia, meu pai tinha um método infalível que era o de verificar minhas orelhas ao chegar do trabalho ... muito simples amiga ... as orelhas de quem vai nadar ficam brilhantes. Só que tinha como advogados de defesa, minha mãe, avó e bisavó, tios e tias que moravam sob o mesmo teto para defender o pequeno sobrinho, filho, neto e bisneto.
Recordo bem e agora conto para meu neto que eu era uma menino traquino que costumava perturbar os jogadores e torcedores nos jogos de várzea.
Recordo-me como se fosse hoje uma passagem no qual um jogador saiu do campo e veio para meu lado para me bater ... e iria bater se não fossem meus tios que pediram para ele deixar o 'moleque' em paz, ele é apenas uma criança ... rindo
.
Jornal'Ecos: Que faziam seus pais?
Douglas: Meu pai, Ramon Lara Rodrigues, era carpinteiro da Estrada de Ferro Sorocabana e minha mãe, Victória Salum Lara era tecelã na fabrica de tecidos Votorantim onde permaneceu durante uns quinze anos quando passou apenas a fazer os deveres domésticos e posteriormente cuidar de uma loja de calçados que eles tinham no centro de Sorocaba na rua Barão do Rio Branco.
.
Jornal'Ecos: Parece-me que você exerceu cargos em que liderava as ciências exatas, já naquela época se interessava pela literatura?
Douglas: Cursei contabilidade após terminar o ginásio, na OSE - Organização Sorocabana de Ensino vindo a concluir em 1957 e a literatura que conhecia estava relacionada com os estudos que era forçado para passar de ano.
Em 1957, um pouco depois da instalação da faculdade de medicina em Sorocaba decidi com apoio de meus pais preparar-me para o vestibular na USP. Ai tive a oportunidade de conhecer a literatura suficiente para o exame, tendo conhecido a escrita de Erico Veríssimo, Jorge Amado, Graciliano Ramos e outros autores que eram presença constante nas re;ações de livros que tínhamos que estudar para o exame de português.
Ao entrar na faculdade tive que ir trabalhar pois meus pais não tinham condições de manter um filho adulto, dentro dos padrões brasileiros apenas estudando.
E meu trabalho foi direcionado para trabalhos onde a contabilidade a a matemática financeira eram mais importante.
.
Jornal'Ecos: Gostava de ler e tem algum autor que leu com mais persistência?
Douglas: Tomei gosto pela leitura e principalmente pelos autores citados e outros importados que faziam sucesso na época, como Dale Carnegie ... do como vencer na vida e como fazer amigos que hoje são chamados de auto ajuda.
Comecei a ser influenciado pelas mocinhas colegas de escola e aprendi um pouco de poesia e literatura mais para não 'fazer feio' no meio dos jovens da época.
.
Jornal'Ecos: Quando começou a navegar já escrevia alguns textos e os divulgava?
Douglas: Colocava apensa alguns pensamentos e citações, mesmo sem base arriscava.
Durante muitos anos usei um 'lema', toda decisão é uma solução intermediária.
Isto tem muita verdade hoje no episódio da disputa do gás com a Bolívia, os dirigentes dos vários paises envolvidos não sustentam em pé o que falaram quando estavam sentados, desculpe Vânia ocupar seu espaço para um pequeno desabafo.
.
Jornal'Ecos: Qual foi a primeira antologia organizada por você e de que forma aconteceu?
Douglas: Onze Autores da Web, atendendo solicitação de uma amiga de Jacareí na base de vamos escrever um livro juntos.
Deveria serem dez, porém a idéia foi um sucesso entre os internautas que terminamos em onze.
Dos onze apenas o Adhemar Molon permaneceu em todas antologias que organizei e sempre falo em tom jocoso que ele escreve mais rápido que podemos ler. E, ele não deixou de comparecer em nenhum dos lançamentos. É o que chamamos de 'amigãó de todas as horas'.
.
Jornal'Ecos: Como realmente você faz para conciliar as notícias o trabalho de divulgação e a organização das antologias?
Douglas: Tenho muito tempo, tenho todos os dias e apenas uma ou duas antologias por ano.
A antologia fixa é sempre lançada na ultima quinta feira de julho de cada ano.
.
Jornal'Ecos: Poderia falar algo sobre os anseios dos escritores que se reúnem nas coletâneas?
Douglas: As antologias são as tribunas onde cada um escreve o que quer sem censura de tema ou de assunto. É como uma conversa entre amigos onde cada um perpetua no papel o que pensa e como escreve e expõe suas idéias e ideais.
.
Jornal'Ecos: E esse interessante trabalho tem realizado suas expectativas?
Douglas: Acredito ter conseguido atender as expectativas dos autores e poetas que participam da coletâneas o que é nosso objetivo e para isso conto com o suporte e respaldo seu e do Mylton Ottoni.
.
Jornal'Ecos: Atualmente qual o trabalho no qual está se empenhando?
Douglas: No Roda Mundo 2006, na segunda edição da semana do escritor e na antologia dos escritores do Jornalecos todos já com data marcada de lançamento.
Diariamente edito um jornal eletrônico 'Acontece em Sorocaba, no qual tento trazer noticias de interesse para amigos internautas.
.
Jornal'Ecos: Algum sonho a realizar?
Douglas: Nada em particular, apenas saúde para continuar ajudando quem me procura e desejo de ser procurado bastante para ser útil dentro de minhas possibilidades.
Estou realizando um sonho em poder ser entrevistado por escritora experiente e podendo contar algumas coisas que parecem causos misturado com a verdade.
.
Jornal'Ecos: Douglas agradeço ter aceito meu convite e o espaço é todo seu. Quer deixar algum recado aos seus leitores e àqueles que lhe procuram para a divulgação de seus textos literários? Parabéns pelo seu brilhante e belo trabalho.
Douglas: Sou uma pessoa feliz e realizada e considero estar nesta vida para ajudar.
Obrigado e votos de felicidades a todos escritores e editores do Jornalecos e principalmente você, Vânia querida que me acompanha durante alguns anos.

Fonte:
Vania Moreira Diniz. Jornal'Ecos da Literatura Lusófona - 10 de Maio de 2006 - Edição N°40
http://www.jornalecos.net/entrevistalara.htm

Douglas Maria Lara (Crônica: Leitura de Fim de Semana)

MACHADÃO CONTA

Capitulo de hoje - Leitura de fim de semana

Tudo indica que Machadão está saindo da fase melancólica e de louca paixão ...
Vilella já está no seu canto na redação fazendo palavras cruzadas.
Carlos Armário já está a postos verificando a inexistência de maridos ou Lindinhas carentes e dispostas a armar barraco.
Uma redação de jornal eletrônico deve estar sempre silenciosa como nos jornais impressos. Pouca conversa e muita produção e atividade.
João Alves chega perguntando qual o babado para hoje.
Machadão chega sorridente com montes de jornais impressos lidos antes de sair de casa.
Por que este sorriso? Terminou a declaração do imposto de renda? A Lindinha voltou da casa da dona Linda?
O terno para o baile de sábado no Clube da Amizade continua servindo ou os 3 quilos que engordou não permitem mais continuar usando o velho azul marinho, terno de entrevista de emprego e bailes?
Machadão cerra a testa e diz, se fizerem uma pergunta por vez respondo só que das trocentas perguntas que fizeram esqueceram o mais importante.
Aproveito e respondo: A Ciganinha está ótima e já escreveu varias poesias.
Uma delas foi traduzida para o castelhano de nome ´El vivir´ e foi por engano parar na redação de importante revista semanal. Estou torcendo para que publiquem. A que foi enviada ´sem querer mais querendo´ para a referida redação foi em HTML com foto desta incrível lindura de poeta.
Agora entendem porque estou feliz.
Continuemos então, desta vez precisamos um cobertura bem diferente da mídia para o assunto. Vamos fazer o assunto pagar imposto de renda como interessante, que faz bem prá pele e para os cabelos, e é bom para todo brasileiro. Vamos lançar uma campanha para o aumento de impostos para o bem do Brasil. Lembram do orgulho dos brasileiros que deram ouro para o bem do Brasil. Meu pai deu sua aliança de ouro e queria que minha mãe também o fizesse. Minha mãe quase mata o velho Machadão uns 25 anos antes só de ouvir falar. Aquilo sim foi um estelionato de proporções. Agora as coisas mudaram e os mais jovens se queixam de um período maravilhoso para todos.
A declaração de IR em outros paises é motivo de alegria, tanto é que é chamado de ´devolução de imposto de renda´ ou income tax return.
Tenho que tomar cuidado nas traduções para evitar uma que divulgamos hoje que dizia que um certo laboratório britânico iria produzir vinte porcento dos medicamento para colesterol ou vinte mil milhões de dólares (o problema é que não existem billions em inglês) Dai que o tradutor que não é bi-cultural ... enfim entenderam?
Entendi responde João Alves o jardineiro de madames, bi-cultural é a pessoa que planta num mesmo terreno mandioca e pepino, në?
Vilella para de olhar para a revista de palavras cruzadas e pergunta: afinal vamos bater papo inútil ou falar de pauta?
João Alves apresenta-se como voluntário para fazer a matéria do imposto renda dizendo: posso fazer um ótimo texto.
Machadão pergunta: você é jornalista formado em faculdade com estágio e todo mais?
Não, sou jardineiro responde João Alves. Jardineiro de madama!
Sei, continua Machadão ... então vamos precisar contratar um advogado para nos tirar da cadeia pois isto é crime de ... não sei o nome porem sei que jardineiro de madame não pode trabalhar como jornalista.
Vilella propõe: vamos parar e atacar as matérias do dia para poder atender nossa assinante poeta e escritora de Niterói a Bel. Ela quer o jornal Acontece em Sorocaba as 9 da manhã em ponto.
Carlos Armário entra na conversa e pergunta: Mais uma leitora?
Machadão pergunta o que o segurança da redação tem a ver com isso?
Carlos Armário que mais parece o rinoceronte que atacou o carro com ímpetos sexuais ...
Vamos parar e tocar os assuntos sem muito planejamento pois senão o Acontece em Sorocaba não sai ... Vamos tocando então.
João Alves pede licença para uma ultima pergunta: Qual a orquestra que irá tocar no baile
´perfume de rosas´ do primeiro de maio a noite?
Ninguém responde o que significa que a reunião de pauta acabou
===
Enquanto isso ... em Severina !!!
Lindinha, ao ler a aprovação do salário mínimo...fica toda alvoroçada. Claro que já não agüenta a vida em Severina...pacata demais para quem é tão exuberante quanto ela...
Dona Linda bem que percebe as sutis mudanças na filha...sua agitação, o brilho nos olhos negros, o constante vai e vem...Hum... isso não é nada bom... Já sabe que a menina é um tanto afeita a rompantes...Por isso não se espanta quando a vê arrumar as malas e comunicar que voltava pra Sorocaba.
Além da saudade louca, não ia deixar Machadão gastar sozinho o substancial aumento em seu salário...Ah mais não ia mesmo!!
Havia um sorriso, quase perverso em seus lábios...e a mente dava mais voltas que seus requebrados, imaginando o que tanto ganharia de prendas agora que Machadão tinha todo o aumento para lhe oferecer...
Assim, enquanto viajava ia maquinando suas artimanhas de sedução... sabia bem como encantar Machadão...e contava ainda com a saudade de ambos...Hum...Sorocaba que se preparasse...Ela estava voltando!!!
Enquanto isso em Sorocaba, Machadão se via as voltas com elucubrações mais sérias...Hum...A tristeza da ausência de filas para entregar o Imposto de Renda era algo que o abatia! Era o único abatimento que podia fazer com seu salário tão mínimo ...
Como a modernidade podia exterminar algo tão aprazível! Não gostava de admitir que era saudosista, mas francamente!...Acabar com a enorme fila em postos de entrega do I.R? Isso era demais! Tudo tinha limites e já estavam passando da conta...
Já pensou? Logo até os bancos acabariam com as filas e que seria de nosso povo então??!! Nem pensar algo assim...Era preciso agir com rapidez em defesa destes imbróglios saudáveis e extremamente sociais...Hum...Aliás, é a palavra de ordem não???? Tudo pelo social!!!!

Douglas Lara e Associadas

Fonte:
http://www.usinadeletras.com.br/

Artur da Tavola (O Galo e Suas Contradições)

Paro perto do galinheiro e fico tempos a observar o galo. Dou-me conta de que nunca prestara atenção devida em um galo. Ora, um galo! Bicho silencioso, antipático, autoritário, galhardo, com aquele seu ar de proxeneta, que nada faz a não ser galar as galinhas e ficar por ali, depois, inútil, mas triunfante com seu andar de delegado de filme de mocinho. Espanta-me saber que é símbolo da França por sua altivez. E no Japão, pela coragem. Ele é uma contradição só..

Mas no fim do dia e, depois na madrugada, ouço-o chamar o amanhecer e como naquela noite voejaram angústias sessentãs, inevitáveis nessa fase da vida, o galo me repôs na esperança de que sempre haverá um amanhecer e as sombras da noite, inevitavelmente passam. Ponho-me solidário com ele e penso que Deus lhe deu essa boa vida de cafetão das galinhas para executar de modo mais descontraído a tarefa de chamar a manhã e a esperança. Já não o considero tão inútil e começo também a compreender porque grande parte das igrejas do passado, tinha a figura de um galo no alto de suas torres. Galo é augúrio, símbolo do milagre diário da renovação da vida e isso é tradição simbólica que vem de Lucrécio, 90 anos antes de Cristo. No Islã ele representa a presença do anjo.

Câmara Cascudo. Com a capacidade genial de síntese que foi a sua marca, diz : “O vitorioso Chantecler, cantado em mil páginas, possui larga folha de serviços estranhos” . Ele tem razão: “larga folha de serviços estranhos” pois tanto é símbolo que o Cristianismo adotou como o precursor da aurora, logo da esperança e da luz, como o bicho também serve para lutas diabólicas em rinhas, com ferocidade de tigre, para gáudio de uns boçais que impotentes de coragem própria , compensam-se com a do galo.

Muitas lendas tornam assustador e ameaçador o canto do galo fora de hora. Dizem ser de mau presságio: alguns dizem ser sinal de moça que foge, outros, como lá no Minho, em Portugal, é agouro, informa Câmara Cascudo e acrescenta este dito popular: “Galo que fora de hora canta, cutelo na garganta.”.

Mas fora do Câmara Cascudo me lembro de frases que o povo consagrou, todas contraditórias. Umas lhe atribuem sabedoria quando dizem de algum bocó que “ouviu o galo cantar, mas não sabe onde”. Vai longe a simbologia paradoxal do galo: ”fulano é um galinho de briga”. Zico, um rei das canchas também era galo, o "galinho de Quintino" O machão brigador é aquele que “canta de galo”. Ao mesmo tempo o nosso populário conta que enquanto o galo passeia a sua arrogância pelo terreiro, o papagaio vai lá e "crau" nas galinhas..... “Salgar o galo” em linguagem de pinguço é dar o primeiro gole de álcool do dia. “Ser galo” é ter ejaculação precoce..., sabiam? Já “cantar de galo” é impor a vontade ou valentia; e “cozinhar o galo” é ficar embromando, sem nada de útil fazer.

Voltei ao galinheiro com mais simpatia pelo galo admirando as suas contradições e a dificuldade para ser compreendido, coitado. Mas ele estava todo pimpão, de lá para cá, as galinhas com o ar de que “soltaram a franga”.... Fiquei sem saber se era por causa do desempenho sexual dele.... ou o do papagaio da casa, que estava com um jeito muito sonso.

Fonte:
Publicado em 22-09-2007, in
http://www.vaniadiniz.pro.br/

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Franz Kafka (Resumo: O Processo)

O Processo é um romance de Franz Kafka (1883 - 1924), que conta a história de um bancário que é processado sem saber o motivo, este é Josef K.

O perfil de K. era de um funcionário exemplar, sendo que trabalhava num famoso banco e tinha um cargo de grande responsabilidade. Desempenhava sua função com muita dedicação, razão que o levou, em pouco tempo, a crescer na empresa.

Porém na manhã em que completara 30 anos, Josef K. foi detido em seu próprio quarto por dois guardas, que tomaram o café que devia ter sido dele, e depois, sugeriram estarem sendo subornados. Neste momento inicia o pesadelo de Josef K., que foi detido sem ter feito mal algum. De principio, imaginava ser uma brincadeira de seus colegas de banco, pois não podia acreditar no que estava acontecendo.

Josef K. acreditava que todo o mal entendido seria esclarecido e ao ser convocado para um interrogatório viu a oportunidade de isto acontecer. Estava errado. Deparou-se com um inspetor rude e agressivo que o ameaçava e fazia chantagens. Contudo K. exigia esclarecimentos, porém inutilmente, já que nem o inspetor e nem os guardas sabiam sobre o motivo de sua detenção.

E toda narrativa segue sem que se conheça quem teria denunciado Josef K. às autoridades e o motivo de estar sendo preso. Apesar disso, o personagem central luta o tempo todo para descobrir do que estava sendo acusado, quem o acusava e com embasamento em que lei. Contratou um advogado na esperança de ter alguma saída e também para obter informações sobre o seu caso, mas logo ele foi dispensado, pois não estava dando muita atenção ao processo dele.

Tentou entrar em contato com o judiciário, mas teve pouco sucesso, o que encontrou foram muitos processos, sendo o dele apenas mais um que ficaria esperando por muito tempo. Todo o desenrolar do processo não lhe parecia verdadeiro, os acusadores e as testemunhas tinham atitudes duvidosas e absurdas, até crianças eram chamados a prestar depoimentos.

No final, Josef K. se encontrava sem ânimo para prosseguir lutando contra um processo que ele nada conhecia, estava apático e indiferente. Pode-se interpretar que no capítulo X: O fim, Josef K. combinou para que dois senhores o matassem, e assim foi feito.

“(...) as mãos de um dos senhores seguraram a garganta de K. enquanto o outro lhe enterrava profundamente no coração a faca e depois a revolvia ali duas vezes.” (KAFKA, 2004, p. 254).

Este é o fim de Josef K.


A obra é uma crítica direta do sistema judiciário, mas ficar somente nesta interpretação limita a toda uma extensão de pontos de vista que pode ser analisado.

Como uma crítica ao sistema judiciário, podemos nos atentar a este aspecto, pois esta é a primeira interpretação que se observa. Na época e no local onde viveu Franz Kafka imperava um Estado autoritário (primeiramente Tchecoslováquia e logo o Império Austro-húngaro) e havia constantes lutas pelo poder e o ambiente da Primeira Guerra Mundial proporcionava ações arbitrárias pelas autoridades. Assim observamos que é compreensível esta obra ser apresentada de tal forma, como uma crítica ao sistema judiciário.

Contudo esta obra é não somente um retrato fiel do sistema judiciário despótico, e como a burocracia e a justiça são falhas, mas também fazendo um paralelo entre a vida de Josef K. e as nossas, seres humanos na prisão que é o mundo, apesar de não parecer. Sofrendo de alienação, e sendo controlados o tempo todo, sem achar respostas e explicações para nada, frente à um sistema doutrinador que estamos inseridos, e que a todo o momento lançam informações que nós temos de engolir sem ao menos revisar e saber o porquê.

Fonte:
http://www.coladaweb.com/

Carlos Carvalho Cavalheiro (1972)


Filho de Milton Dias Cavalheiro e de Neyde Carvalho Cavalheiro nasceu em São Paulo / SP aos 09 de maio de 1972, no Bairro da Liberdade (Maternidade São Lucas). Aos dois anos de idade mudou-se com a família para Sorocaba / SP, onde reside há desde então.

Formado em História pela UNISO, estudou nas escolas 'Baltazar Fernandes' e 'Genésio Machado', tendo cursado o segundo grau na Escola Técnica Estadual 'Rubens de Faria e Souza', onde se formou técnico em Eletrotécnica. Nessa escola participou ativamente do movimento estudantil, sendo um dos fundadores do Grêmio Estudantil em 1990, época em que foi redator do Jornal do Grêmio, espaço em que publicou vários textos.

Estreou na imprensa sorocabana em janeiro de 1993 publicando um artigo sobre o livro 'Sacy-Pererê - resultado de um inquérito', no Jornal Cruzeiro do Sul. No mesmo ano publicou o conto 'O violinista da beira da estrada', no Diário de Sorocaba. Teve publicado ainda vários artigos, contos, poesias e crônicas nos jornais Patubuiu (Fortaleza / CE), Jornal de Piracicaba, Jornal ECA (Sorocaba), Jornal A Nova Democracia (Rio de Janeiro), La Insígnia (Diário Ibero-americano), Jornal Cultural Pedaços entre outros.

Participou de várias exposições de poesias, entre elas: 'Mural do Museu Histórico Sorocabano' (1996), Mural da Biblioteca Municipal de Sorocaba (1997), Casa da Cultura de Piedade (1998), Oficina Cultural Grande Otelo (1998) e Arte-Mix (1999).

Em 1993 criou o jornal cultural mimeografado 'Movido à álcool' e em 1994 auxiliou na fundação do 'Sepé-Tiaraju' (cujo nome foi por ele assim batizado), jornal cultural que marcou época em Sorocaba.

Em 1998 publicou o folheto 'A greve de 1917 e as eleições municipais de 1947 em Sorocaba'. Publicou ainda os livros: 'Folclore em Sorocaba' (1999), 'Salvadora!' (2001) e 'Descobrindo o Folclore' (2002).

Em 1999 representou Sorocaba no Mapa Cultural Paulista com a poesia 'Inseto Voador', publicada em livro pela Secretaria de Estado da Cultura.

Produziu em 2000 o CD 'Cantadores - o folclore de Sorocaba e região', reunindo grupos folclóricos de Sorocaba e cidades circunvizinhas.

Em outubro de 2000 foi eleito sócio-efetivo da Comissão Paulista de Folclore (IBECC/UNESCO), sendo o primeiro coordenador do Núcleo Caipira de Sorocaba até abril de 2002.

Teve ainda poesias inseridas no livro 'Poesia em Debate fazendo história - 1995/2001' (2001) e 'Depoesia II' (2003).

Em novembro de 2003 idealizou a construção da Enciclopédia de Sorocaba.

Fonte:
http://www.sorocaba.com.br/enciclopedia/ler.shtml?1085360927

Carlos Carvalho Cavalheiro (Conto: O Violinista da Beira da Estrada)

Já faz cinco anos, mas ainda me lembro perfeitamente do caso do violinista da beira da estrada e que eu vou lhes narrar agora.

Eu estava numa feira de muares em Sorocaba, a primeira compra já havia sido feita há alguns minutos, os compradores desse gado se preparavam para partir. Mais ou menos uma hora depois partiam pelas ruas de Sorocaba e rumavam a caminho da ponte para São Paulo, seguidos dos gritos: “Rompeu a feira! Rompeu a feira!”. Mas não tinha essa compra se realizado em pouco tempo. Demorou e muito! Dia após dia, comprador e vendedor tentando fechar negócio.

E o comércio de animais continuou. O frio do inverno era compensado pelos divertimentos da feira, os jogos de cartas, os violeiros, as peças teatrais...

O que me deixava irritado era um violinista que pedia esmola, sentado no degrau de escada da porta do bar. Ele me dizia exatamente assim:

- Toco uma música que aos seus ouvidos vai agradar, sua viagem tornar-se-á mais agradável lembrando-se dessa melodia que por alguns cobres vou executar...

- Sinto muito, mas não tenho trocados.- respondi.

- Sou cego e outro modo de ganhar a vida não tenho!

- Já disse que não tenho trocados! – irritei-me.

- Por favor, senhor...

- Vosmecê é surdo?!

- Não, eu sou cego e...

Não o deixei terminar, dei um pontapé no seu violino, cuspi em seu rosto e ameacei-o de morte se não sumisse da minha frente.

Com o semblante triste e magoado ele apenas respondeu:

- O senhor quebrou o violino do meu pai. Deus ajude para que a assombração dele não o acompanhe em qualquer viagem solitária que vosmecê faça durante toda a sua vida! Deus o ajude.

Não dei importância para aquela praga que me rogava o pobre e cego homem. Ah, se eu soubesse...

Um mês depois parti. Solitário, como em todas as minhas viagens. Solitário não. Com a companhia de Deus e do meu cavalo malhado, bom de trote e forte como duas mulas.

A estrada por onde eu ia era pequena e poeirenta, cheia de curvas e com uma vegetação verdíssima em seu entorno. Acendi um cigarro de palha e fiquei pensando nas alegrias que tive na feira e planejando uma nova viagem para o próximo ano.

Ia chegando perto de uma curva quando o meu cavalo estacou sem que eu soubesse porque. Talvez tivesse se assustado com alguma cobra ou qualquer outro bicho matreiro. Passei a mão pelo seu pescoço, encorajando-o a continuar, ao mesmo tempo em que segurava a minha garrucha. Quem sabe o que tem atrás de uma curva de estrada? Podiam ser ladrões que procuravam viajantes desprevenidos.

A cada trote do meu cavalo, um arrepio surgia em minha pele. Meu coração começou a bater descompassadamente. “Meu Deus, que sorte me aguardava atrás daquela curva?”- pensei. De repente, surgiu uma ventarola e formou um redemoinho num capão de mato próximo.

Senti um frio que até hoje eu não sei se foi pela ventania ou se por medo.

A curva cada vez mais perto. Quando faltavam uns trinta metros para alcançá-la, adivinha o que eu fiz? Não, eu não fugi. Eu fui em frente, respirei fundo, armei a garrucha e disse para mim mesmo: “Tenha o que tiver naquela curva eu não vou me acovardar! Afinal de contas eu sou um homem e tou armado”.

Comecei a ouvir uma melodia que não modificou em nada a minha decisão. Segui em frente. Talvez essa melodia nem existisse, fosse fruto da minha imaginação, ou, se existisse, eu iria descobrir de onde provinha.

Medo?... eu não tenho medo de nada. Uma simples curva não pode intimidar um homem assim, só porque intimidou o seu cavalo!

A melodia cada vez mais nítida. Não era minha imaginação. Havia algo atrás daquela curva e eu iria, ou melhor, eu teria que descobrir o que era.

Finalmente a curva chegou e com ela a resposta para a minha pergunta. Era um violinista. Um velho e maltrapilho violinista. Acenei-lhe, dizendo:

- Que Nosso Senhor Jesus Cristo ilumine seus caminhos!

Não obtive resposta. O violinista parecia indiferente a tudo, como se não pertencesse a este mundo. Passei por ele. Não sei porque, mas não resisti à tentação de dar uma olhada com o canto dos olhos para trás. Inacreditavelmente o violinista sumira. Voltei o meu pescoço para olhar melhor. Ele realmente sumira. Procurei-o, voltei à curva e nada. Lembrei-me da praga do violinista cego da feira de muares de Sorocaba.

Coloquei a mão no saquinho de couro em que eu guardava as minhas moedas. Tinha ainda alguns cobres. Segurei firme a rédea do cavalo e num trote rápido voltei para Sorocaba. Encontrei o cego no mesmo degrau de escada do bar. Sem dizer nada, joguei-lhe o saco com as moedas. Era o suficiente para ele comprar outro violino e ainda sobrava algum para esmola. Ele em resposta deu-me um sorriso, como se dissesse: “Encontrou o meu pai?”.

Parti com a consciência limpa. Fui pela mesma estrada e o medo perdi ao chegar próximo àquela curva. Encontrei novamente, para o meu espanto, o mesmo violinista que havia sumido naquela beira de estrada. Passei por ele sem nada dizer. Quando estava de costas para ele, a música parou e uma voz disse:

- Que Nosso Senhor ilumine também os seus caminhos.

Não tive coragem de olhar para ver se ele ainda estava lá. Fui embora e no caminho, depois de muito pensar, resolvi fazer uma promessa: “Nem que for para salvar a minha vida, para Sorocaba eu não volto nunca mais”. E até hoje eu não voltei.

Fonte:
http://eptv.globo.com/caipira/int_causos.asp?id=1285

Carlos Carvalho Cavalheiro (Poesias: Poesia Engajada; Beatnick)

Poesia Engajada

A minha poesia não alcança
Os ouvidos dos oprimidos
Nem sequer é degustada
Pelo paladar dos famintos
E nem por sonho ou fantasia
É sentida pelos excluídos
A minha poesia, então, morreu
E esqueceram de enterrá-la.

Beatnick

Ouço uma música
É um jazz, blues ou samba?
Não sei.
A música não tem língua
Mas tem cor: é negra
E traz nas frases mudas
O lamento da história
Na esquina, sob a luz néon
Está Kerouac, sentado.
Além, pela calçada caminha
displicente Ginsberg
Ao meu lado, Noel Rosa.
Peço carona?
Estou preso na cela de carne
Há quem se admire de sua cela
A advertência de Eclesiastes:
Tudo é vaidade.
Se houvesse escolha
Teria nascido álcool
Evaporaria, antes de morrer
Sensação de liberdade
(ou embriaguês?)
Por estar disperso em milhares
De partículas por todo o ar.
Ubiqüidade.

Fonte:
http://www.crearte.com.br/carlos_poesias.htm

Carlos Drummond de Andrade (José)

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?


Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?


E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?


Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você coçasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Fonte:
http://virtualbooks.terra.com.br/

Francisco Adolfo de Varnhagen (1816 - 1878)


Francisco Adolfo de Varnhagen. Nasceu em São João do Ipanema, à época pertencente à Sorocaba, atualmente município de Iperó (S. Paulo) em 17 de fevereiro de 1816 de pai alemão, criou-se e educou-se em Portugal, onde passou a infância e juventude.

Seu pai Frederico Luis Guilherme de Varnhagen, engenheiro alemão, veio ao Brasil com o propósito de restaurar e ampliar a Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema. Varnhagen não passa muitos anos no Brasil, pois, em outubro de 1823, retorna para Portugal, juntamente com a mãe, portuguesa de nascimento. Realiza os primeiros estudos no Real Colégio da Luz e, a seguir, inicia sua formação militar, obtendo o título de engenheiro. Apesar dessa formação mais voltada para as ciências exatas, também realiza estudos em áreas relacionadas com sua posterior atividade como historiador, tais como diplomacia, paleografia e economia política.

Seu primeiro trabalho na área de história está relacionado às pesquisas sobre o colono e cronista quinhentista Gabriel Soares de Sousa, o qual cabe a Varnhagen o mérito de ter tirado da obscuridade. A boa acolhida junto à Academia de Ciências de Lisboa, certamente serve como incentivo para suas futuras realizações como historiador.

Um aspecto interessante e fundamental que marca a obra do famoso historiador é sua opção pela nacionalidade brasileira, algo que começa a cogitar em 1840. Para Nilo Odália, a escolha de Varnhagen pela nacionalidade brasileira está muito relacionada com o clima mental da época, marcada profundamente pelo romantismo. Época em que aflora com toda a força a questão do nacionalismo e de pertencimento a um povo. Ora, “para um jovem da época, pertencer a uma dessas nações, percorrer e participar de sua formação e de seu destino, deveria surgir aos seus olhos deslumbrados como a possibilidade única de concretizar o desejo de pertencer à história e ao seu tempo.”

Em 1840 viaja ao Brasil e conhece o Imperador-menino, apenas com 14 anos de idade, marcando o início de uma longa amizade. Obtém, finalmente, a nacionalidade brasileira, por decreto real, em 24 de setembro de 1841. A partir de então em suas obras e pronunciamentos o historiador se autodenominaria como “paulista de Sorocaba”. João Francisco Lisboa, outro grande historiador brasileiro do século XIX, daria um segundo cognome a Varnhagen, que igualmente se tornaria célebre, o de “pai da nossa história.”

Após o reconhecimento da nacionalidade brasileira, entra para o corpo diplomático brasileiro, função que ocupa até a morte. O trabalho como diplomata facilita suas pesquisas históricas.

Conquanto houvesse percorrido uma grande extensão do litoral e ainda do sertão brasileiro, em viagens de observação e estudo, nunca propriamente habitou o Brasil, quero dizer, nunca nele se demorou com ânimo de se domiciliar.

O fato de sua origem germânica e formação portuguesa e européia, da sua constante ausência e pouca convivência do seu país natal e mais tarde de ter constituído família fora dele, dão a Varnhagen uma fisionomia particular, um todo nada exótico. Da estirpe germânica tirava seu instinto de veneração e respeito dos magnates, dos poderosos, das instituições consagradas e das cousas estabelecidas.

É talvez o único brasileiro sem falha neste particular, justamente porque é em suma pouco brasileiro de temperamento, de índole e ainda de sentimento. Levou-o à pia batismal o próprio capitão general da província em que nasceu, o Conde de Palma. Desde aí é com tais próceres que anda. Como historiador, raro acha a censurar nos que têm o mando, ao contrário esforça-se por lhes encontrar sempre razões e desculpas. Do mesmo modo justifica sempre todas as instituições, descobre-lhes ou inventa-lhes virtudes e benefícios. Mal pode esconder o júbilo e a vaidade pela troca feita pelo imperador, seu amigo e protetor, do seu nome já glorioso de Varnhagen pelo de visconde de Porto Seguro.

Consagrou toda a sua laboriosa existência a estudar a história do Brasil, e a servi-lo com dedicação e zelo em cargos e missões diplomáticas. Sente-se-lhe, entretanto, não sei que ausência de simpatia, no rigor etimológico da palavra, pelo país que melhor que ninguém estudou e conhecia, e era o do seu nascimento. Não é patriotismo, entenda-se, que lhe desconhecemos, esse o tinha ele, como qualquer outro e do melhor. Faltava-lhe, porém, não lho sentimos ao menos, aquele não sei que íntimo e ingênuo, mais instintivo que raciocinado, sentimento da terra e da gente.

Ele não tem as idiossincrasias do país. Por isso Varnhagen não é de fato romântico, senão pela época literária em que viveu e colaborou; de todos os brasileiros seus contemporâneos no período inicial do Romantismo, é talvez o único que além de não ser indianista, isto é, de não ter nenhuma simpatia pelo índio como fator da nossa gente, ao contrário o menospreza, o deprime e até lhe aplaude a destruição. É também o único que altamente estima o português, lhe proclama a superioridade, oculta ou disfarça os defeitos do regime colonial e, propositadamente, lhe adota o pensamento e a língua. Só ele dos seus companheiros a escreveria vernaculamente, sem sequer o incoercível brasileirismo da posição dos pronomes, todos neles indefectivelmente postos à portuguesa. Mas a escreve apenas corretamente, de estudo e propósito, com esforço manifesto, sem espontaneidade, fluência ou elegância, nem os idiotismos por que o verdadeiro escritor revela a sua nacionalidade. Por tudo isto se não achou Varnhagen em simpatia com os seus confrades de geração, nem estes com ele. Enquanto por espírito de camaradagem e muito também de solidariedade na obra que juntos amorosamente faziam, eles se não regateavam mútuos encômios e acoroçoamentos freqüentemente desmerecidos e indiscretos, olvidavam a Varnhagen ou o tratavam como colaborador somenos.

Raramente se lhe acha o nome, e ainda assim parcamente elogiado, nos muitos escritos com que reciprocamente se sustentavam e à sua causa. Será porque não compreendessem a importância para esta da obra de erudição que ele fazia? Será porque a esses poetas, que todos sobretudo o eram, essa obra parecesse de pouco alcance literário e pouco gloriosa? No entanto quase todos eles faziam também história, mesmo literária. É verdade que a faziam de palpite, como poetas, sem investigação própria, sem acurado estudo, retórica e declamatoriamente, com a sua imaginação ou repetição do já feito pelos portugueses. Apenas Norberto, mas somente em parte da sua obra, escapa a este reproche.

O primeiro escrito considerável de Varnhagen, já da sólida erudição de que ele seria um dos raros exemplos nas nossas letras, foram as suas Reflexões críticas sobre a obra de Gabriel Soares, publicadas no tomo V da "Coleção de notícias para a história e geografia das nações ultramarinas" pela Academia Real das Ciências de Lisboa (1836). Começando a sua fecunda iniciativa da rebusca e publicação de monumentos interessantes para a nossa história geral, dá, em 1839, à luz, também em Lisboa, o Diário da navegação, de Pêro Lopes.

Em 1840 escreve no Panorama, o célebre órgão da renovação literária portuguesa, uma Crônica do descobrimento do Brasil, que seria o primeiro romance brasileiro se não fosse apenas uma dessaborida crônica romanceada sobre a carta de Caminha, cujo descobridor na Torre do Tombo foi Varnhagen. Sem falar em outros seus escritos de maior interesse português que brasileiro, dos anos imediatamente subseqüentes, enceta em 1845, com os Épicos brasileiros, nova edição prefaciada e anotada dos poemas de Santa Rita Durão e Basílio da Gama, as suas publicações diretamente relativas à nossa história literária, pouco depois prosseguidas com a do Florilégio da poesia brasileira ou coleção das mais notáveis composições dos poetas brasileiros falecidos, contendo as biografias de muitos deles, tudo precedido de um "Ensaio Histórico sobre as Letras do Brasil".

Pelo rigoroso e acurado da sua investigação e estudo e dos seus resultados, pela novidade das suas notícias, pelo inédito e seguro da sua informação, pelo número e justeza de algumas de suas idéias gerais, pela largueza de sua vista, esta obra de Varnhagen lançava os fundamentos, e o futuro provou que definitivos, da história da nossa literatura. Não valem contra este conceito a precedência meramente cronológica de alguns tímidos e deficientíssimos ensaios de Cunha Barbosa, de Pereira da Silva, de Norberto, de Magalhães e outros, que apenas repetiram as conhecidas notícias dos bibliógrafos e memorialistas portugueses, sem lhe acrescentar nada de novo, e ainda errando o que já andava sabido. Neste investigar dos nossos primórdios literários, continuado na sua História geral do Brasil, onde em vários passos se ocupa da nossa evolução literária, e em papéis e memórias diversas publicadas em periódicos e revistas, descobriu, noticiou, editou e fez editar Varnhagem alguns preciosos escritos. Tais foram os Diálogos das grandezas do Brasil, de Gabriel Soares, a Narrativa epistolar, de Cardim, a Prosopopéia, de Bento Teixeira, a História do Brasil, de Fr. Vicente do Salvador, sem contar quantidade de espécies novas para a vida e obra de outros escritores do período colonial.

A obra capital de Varnhagen é, porém, a sua História do Brasil, que ele chamou de Geral por abranger nela todas as manifestações da nossa vida e atividade, ainda a literária e a artística. Publicada primeiro em 1857 e reeditada em 1872, é um livro de primeira ordem, se não pela sua estrutura, ainda assim não de todo defeituosa, pelo bem apurado dos fatos, riqueza e variedade das informações, harmonia do conjunto e exposição geralmente bem feita. Sem imaginação, sem qualidades estéticas de escritor, sem relevo ou elegância de estilo, Varnhagen escreve, todavia, decorosamente. Merece igual apreciação outra considerável obra sua, a História das lutas com os holandeses, publicada já fora do período romântico. Na nossa literatura histórica, as obras de Varnhagen são certamente o que temos de mais notável.

Tentou ele, como vimos, pela sua Crônica romanceada do Descobrimento do Brasil, as obras de imaginação ou de ficção. Carecendo de qualidades de imaginação e fantasia e de estilo, não lhe podia suceder bem. O seu Amador Bueno, "drama épico-histórico-americano" (Lisboa, 1847, Madri, 1858), com o seu Sumé, "lenda mito-religiosa-americana", e o seu Caramuru, romance histórico brasileiro, em redondilhas de seis sílabas, saído primeiro no Florilégio e depois em separado, apenas lhe documentam a incapacidade para essa espécie de literatura. É pela sua obra de historiador e de erudito que Varnhagen merece, e tem, um distinto lugar na história da nossa literatura, da qual foi o criador e permanece o alicerce ainda inabalado.

Varnhagen veio a falecer longe do Brasil, como sempre tinha vivido, em Viena d’Áustria, a 20 de junho de 1878. Sua esposa, chilena, leva o corpo para o Chile; no entanto, o desejo de Varnhagen era ser enterrado em sua pátria de “nascimento e opção”, mais especificamente em Sorocaba. Assim, por ocasião do centenário de sua morte, em 1978, a Fundação Ubaldino do Amaral – jornal Cruzeiro do Sul, Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba e Prefeitura Municipal realizam uma série de esforços para transladar os restos mortais do historiador para Sorocaba, cumprindo, dessa forma, a sua vontade final. Tal empreitada é coroada de êxito, como se pode ler no jornal Cruzeiro do Sul de 30 de junho de 1978: “Dentro das solenidades que Sorocaba vem realizando para marcar a passagem do Centenário da morte de Varnhagen, realizou-se ontem [29 de junho], às 9 horas, no Gabinete de Leitura Sorocabano, o lançamento de um carimbo filatélico alusivo à data. Em seguida, um carro do Corpo de Bombeiros, acompanhado de autoridades, transportou os restos mortais do historiador, que desde sua chegada do Chile encontravam-se expostos no Museu Histórico, para a nova Praça Francisco Adolfo de Varnhagen [em frente a UNISO, campus Trujillo], onde foram solenemente depositados num pedestal de granito, sobre o qual foi assentado o busto do historiador.”

Filosofia

A filosofia da História de Varnhagen é a comum filosofia espiritualista cristã do seu tempo, com o pensamento moral e político da sua educação portuguesa. É em história um providencialista, em política um homem de razão de Estado, da ordem, da autoridade e do fato consumado. Depois de narrar as depredações do corsário inglês Cavendish nas costas do Brasil, diz que veio a "falecer no mar, dentro de pouco tempo, provavelmente ralado pelos remorsos" (Hist. geral, I, 391). Os remorsos matarem um corsário do século XVI! Duguay-Trouin, regressando do seu assalto feliz ao Rio de Janeiro, "sofreu temporais que lhe derrotaram a esquadra, como se a Providência quisesse castigar os que os nossos haviam deixado impunes" (ibid. II, 816). Malogrou-se a revolução pernambucana de 1817. "Ainda assim desta vez (e não foi a última) o braço da Providência, afirma seriamente Varnhagen, bem que à custa de lamentáveis vítimas e sacrifícios, amparou o Brasil, provendo em favor da sua integridade" (ibid. 1150, II). Esta filosofia tem ao menos a vantagem de não ser presunçosa e de dispensar qualquer outra. Era aliás a do tempo, e dela se serviram aqui todos os historiadores sem exceção de João Lisboa, o mais alumiado de todos. Varnhagen, porém, com abuso, piorando o seu caso com o carrancismo da sua educação portuguesa se não de seu próprio temperamento literário.

Fontes:
VERISSIMO, José. História da Literatura Brasileira. in http://virtualbooks.terra.com.br/

ODÁLIA, Nilo. (Org.). Varnhagen. São Paulo: Ática, 1979. (Coleção Grandes Cientistas Sociais, vol. 9); e FLEURY, Renato Sêneca. Francisco Adolfo de Varnhagen, Visconde de Porto Seguro. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 1978. in www.sorocaba.com.br/enciclopedia/

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Rodrigues de Abreu (1897 - 1927)

« 27 de setembro de 1897 - Capivari SP - † 24 de novembro de 1927 - Bauru - SP

Benedito Luis Rodrigues de Abreu nasceu na fazenda "Picadão".

Aos 7 anos passou a morar em Piracicaba, onde começou os estudos em "escola de sítio".

Aos 12 anos, foi para S. Paulo com a família, e morou no Brás, depois na Vila Buarque. Neste bairro passou a trabalhar em uma farmácia com entregas a domicílio, até ser internado no "Liceu Coração de Jesus", para aprender uma profissão.

Em 1918 voltou com a família para Capivari onde trabalhou na Caixa de Crédito Agrícola. O contato com a poesia aconteceu no colégio.

Abreu aprendeu métrica lendo Simões Dias e sua 1° composição, de acordo com amigos foi: "O Famélico". Para esta obra se inspirou no "Pedro Ivo" de Castro Alves.

As obras mais antigas do poeta capivariano foram descobertas pelo prof. Carlos Lopes de Mattos. Elas eram intituladas: "O Caminho do Exílio" e "A Virgem Maria", ambas publicadas na revista "Ave Maria", em 1916.

Em Capivari os poemas dele eram publicados nos jornais locais "Gazeta de Capivari" e "O Município".

O seu livro de estréia deveria ter sido "Folhas", que foi submetido à apreciação de Amadeu Amaral, que se referiu assim à obra: "Depois de Olavo Bilac e Martins Fontes, é o melhor livro de estréia que tenho visto". Contudo, devido a dificuldades de publicá-lo e levado pelo interesse de seu primeiro editor (Amadeu Castanho, redator da "Gazeta de Piracicaba") de publicar o que o jovem escritor desejasse, antes de "Folhas" surgiu "Noturnos", de junho de 1919, mas que tudo indica seja de junho de 1921.

Trabalhou com Amadeu Amaral em "A Cigarra", em S. Paulo, em 1921 onde participou da Semana de Arte Moderna de 1922.

Em 1922 foi para Bauru.

Dois anos depois foi internado em Campos do Jordão (tuberculose). É nessa época que lança "A Sala dos Passos Perdidos" e passa a assinar "Rodrigues de Abreu" por sugestão de Amaral.

Em 1925 mudou-se para S. J. dos Campos, viveu até 1927. Surge então, "Casa destelhada". Em maio foi para Atibaia e retornou a Bauru onde feleceu, devido à doença. Alguns atribuem o agravamento da tuberculose ao rompimento do noivado.

CURIOSIDADE

Além de poeta, Abreu era orador talentoso, grande ator e desportista. Foi centro-avante do "Capivariano F.C.", para o qual compôs o hino oficial. Ele fundou o "Grêmio Literário e Recreativo de Capivari", grupo que encenou "Capivari em Camisola" (versos de Rodrigues de Abreu). Doente desde 1924, Abreu já confessara o desejo de "ser tuberculoso". Segundo ele, esse era o mal que geralmente acometia os grandes poetas do passado.

MOVIMENTO LITERÁRIO
Romantismo (terceira geração)/Modernismo (primeira geração)

Fonte:
http://www.artemery.net/Poesia_Biografias_RodriguesDeAbreu.htm

Rodrigues de Abreu (Poesia: Aos Poetas)

In Memoriam

Mentimos a nós mesmos, embuçados
nessas mágoas irreais em que vivemos.
Mas, somos, a fingir esses extremos,
os maiores dos homens torturados.

Carregamos as dores e os pecados
dos homens; e por eles nós ardemos
em esperanças e êxtases supremos,
com todos os sentidos exaltados.

Tristes de nós que vamos, nos caminhos,
chorando as almas das torturas presas,
pondo as alheias dores em canções...

Mas, sangrando a nossa alma nos espinhos,
fazendo nossas todas as tristezas,
alegramos os tristes corações.

Fonte:
http://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/p00/p000801.htm

Rodrigues de Abreu (Poesia: Mar Desconhecido)

A Batista Pereira

Se eu tivesse tido saúde, rapazes,
não estaria aqui fazendo versos.
Já teria percorrido todo o mundo.
A estas horas, talvez os meus pés estivessem quebrando
o último bloco de gelo
da última ilha conhecida de um dos pólos.
Descobriria um mundo desconhecido,
para onde fossem os japoneses
que teimam em vir para o Brasil...
Porque em minha alma se concentrou
toda a ânsia aventureira
que semeou nos cinco oceanos deste mundo
buques de Espanha e naus de Portugal!
Rapazes, eu sou um marinheiro!

Por isso em dia vindouro, nevoento,
porque há de ser sempre de névoa esse dia supremo,
eu partirei numa galera frágil
pelo Mar Desconhecido.
Como em redor dos meus antepassados
que partiram de Sagres e de Palos,
o choro estalará em derredor de mim.

Será agudo e longo como um uivo,
o choro de minha tia e minha irmã.
Meu irmão chorará, castigando, entre as mãos, o pobre
rosto apavorado.
E até meu pai, esse homem triste e estranho,
que eu jamais compreendi, estará soluçando,
numa angústia quase igual à que lhe veio,
quando mamãe se foi numa tarde comprida...

Mas nos meus olhos brilhará uma chama inquieta.
Não pensem que será a febre.
Será o Sant Elmo que brilhou nos mastros altos
das naves tontas que se foram à Aventura.

Saltarei na galera apodrecida,
que me espera no meu porto de Sagres,
no mais áspero cais da vida.
Saltarei um pouco feliz, um pouco contente,
porque não ouvirei o choro de minha mãe.
O choro das mães é lento e cansado.
E é o único choro capaz de chumbar à terra firme
o mais ousado mareante.

Com um golpe rijo cortarei as amarras.
Entrarei, um sorriso nos lábios pálidos,
pelo imenso Mar Desconhecido.
Mas, rapazes, não gritarei JAMAIS!
não gritarei NUNCA! não gritarei ATÉ A OUTRA VIDA!
Porque eu posso muito bem voltar do Mar Desconhecido,
para contar a vocês as maravilhas de um país estranho.
Quero que vocês, à moda antiga, me bradem BOA VIAGEM!,
e tenham a certeza de que serei mais feliz.
Eu gritarei ATÉ BREVE!, e me sumirei na névoa espessa,
fazendo um gesto carinhoso de despedida.

Fonte:
http://www.revista.agulha.nom.br/roa01.html

Débora Bellentani de Oliveira

Cadeira numero 21 (Rodrigues de Abreu) da Academia Sorocabana de Letras.
Publicitária, jornalista, licenciada em Letras pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Sorocaba, Pós-Graduada em Propaganda pela Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo, Pós-Graduada em Administração de Marketing pela UNISO - Universidade de Sorocaba. Vencedora de vários concursos literários, participante em 8 livros de antologia, 3 deles pela Universidade de São Francisco (dois poemas em um deles - ed.1988), artigos e poemas publicados nos jornais Diário de Sorocaba e Cruzeiro do Sul. Publicitária há 21 anos, atualmente trabalhando na agência NucleoTCM. Filha de Aldo Bellentani e Lázara Clarinda Bellentani. Nascida em Sorocaba. Casada e mãe de três filhos.

Curriculum Literário:

Primeiro poema aos 10 anos. Não publicado, mas guardado com carinho num velho caderno, manuscrito - passado a limpo, é claro!

Poemas infantis, na antologia LiraGIEPVense do Ginásio Industrial Estadual Presidente Vargas, em Mogi das Cruzes, numa iniciativa do prof. José Veiga (in memoriam) da disciplina Língua Portuguesa, meu grande incentivador. Título dos poemas: PALAVRA SANTA: MÃE! e CRIANÇA. Outubro/1971.

Primeira experiência em prosa (não muito feliz) COLETÂNEA MOGIANA/73, com o texto REVOLTA - Coord. Prof. José Veiga - Mogi das Cruzes - 1973

Poema adolescente, na antologia RESENHA LITERÁRIA 1 - JUVENTUDE NAS LETRAS, iniciativa do Centro Mello Freire de Cultura, Mogi das Cruzes, sob o comando do prof. José Veiga. Título do Poema: A CHUVA - 1976.

1986 - Classificação em 2º lugar no concurso de poesias da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Sorocaba, com o poema MEU POVO.

Primeira publicação em coletânea, pela Crisalis Editora, edição cooperada, em 1987, com o poema PROCURA-SE.

Primeira premiação pela Universidade de São Francisco, com dois poemas classificados e publicados na ANTOLOGIA POESIA 1988, sob os títulos: ARTESÃO e BÊBADO.

1987 - Lançamento do meu livro de poesias LUA DE PAPEL, com o patrocínio das Indústrias Têxteis Barbero.

Classificação em 2º lugar no evento POETAS BRASILEIROS HOMENAGEIAM FERNANDO PESSOA, na Casa de Portugal em São Paulo (3 poemas participantes).

Classificação em 4º lugar na 1ª Bienal do Livro de Sorocaba.

1996 - Segunda premiação pela Universidade de São Francisco, com um poema classificado na ANTOLOGIA 96 - "INSENSIBILIDADE: UMA AMEÁÇA À VIDA", sob o título; REENCONTRO.

1997 - Terceira premiação pela Universidade de São Francisco, com um poema classificado na ANTOLOGIA 97 - "PENSAR EM ARTE E A ARTE NO PENSAR", sob o título TROCA.

1998 - Primeira experiência em texto, conto, em pré-seleção e classificação em antologia de contos - sistema de cooperativa, realizada pela Associação dos Escritores de Bragança Paulista, no IV Concurso de Contos - Prêmio Maria Augusta Vasconcellos Diniz, coletânea intitulada "AH! COMO EU ME LEMBRO..." cujo conto tem o mesmo título da obra.

Inúmeros poemas publicados nos jornais Cruzeiro do Sul, Diário de Sorocaba; reflexões publicadas em anúncios e panfletos do Colégio Universitário, inclusive usados em segmentos da Capital.

2001 - Livro MAX, romance, lançado em 31 de março.

2001 - Livro FERNANDO STECCA FILHO, O PEREGRINO DAS ESTRELAS, publicado em novembro.

2002 - Livro O SOL DA MANHÃ DE ONTEM não aprovado pela LINC - Lei de Incentivo Cultural da PM Sorocaba, já registrado na Biblioteca Nacional.

2002 - Participante da PRIMEIRA BIENAL DO LIVRO SOROCABANO, como escritora de obra publicada.

2006 - Poema QUANDO VIER ME VISITAR diagramado em formato de livro-foto, não publicado

Livro didático MAS SERÁ O BONIFÁCIO, também não aprovado pela Linc.

2007 - Livro de poesias TODAS AS HORAS, registrado na Biblioteca Nacional e não publicado.

Inúmeros poemas na gaveta e os livros UM CONTO - VÁRIOS POEMAS, COISAS DE MULHER, escondidinhos nas minhas intenções de publicá-los um dia.

Blog na Internet denominado ESCRITORA CAIPIRA – UM DEDO DE PROSA, na página http://dbellentani.blog.uol.com.br/

Fonte:
http://sorocult.com/el/colunistas/deb_b/biografia.htm

Débora Bellentani (Cronica: Um dia quase de domingo)

Estou com o coração apertado.
Precisei tomar uma decisão.
Foi um impulso.
Um gesto desesperado de quem já tentou de tudo e, sem encontrar respostas, acabou se cansando, desistindo.
Às vezes, é preciso dar asas ao pássaro para que ele voe, conheça novos horizontes, sinta-se livre.
Mesmo que fiquemos assim, na solidão da nossa gaiola, chorando todas as lágrimas que podemos – e até as que não temos – olhando o horizonte sem ver mais nada.
Não haverá retornos. Nem novas manhãs. Nem surpresas. Nem esperanças.
Não haverá mais a melodia silenciosa, o canto exclusivo, o verso próprio, a rima sem comparação.
Às vezes, a partida deu-se há tanto tempo: só não se tinha notado.
Nem sempre a presença física significa estar junto da gente. De repente, reina o silêncio, falta assunto, as piadas não têm a mesma graça... A distância fica mais presente do que nunca, o telefone não toca... O inesperado não acontece mais...
Quando vemos, temos apenas o que “gostaríamos de ter tido”. Não há mais nada do que projeções que se apagaram ao final da exibição. Esse é o pior momento: perceber que o filme acabou e não tem replay!
Não dá para ver de novo, e de novo, e de novo. Mesmo nas nossas lembranças, o filme se atenua e acaba. Logo, os rostos não têm definição, as cores se apagam, o som emudece. E, quanto mais procuramos, desesperadamente, em nós, cada imagem, mais elas se esvaecem... Fica a voz... Fica a canção... Como era mesmo o nome da canção? O que dizia mesmo a letra? “...Eu gosto tanto de você/Que até prefiro esconder/Deixo assim ficar subentendido/Como uma idéia que existe na cabeça/E não tem a menor obrigação de acontecer...” E aí acontece. E do mesmo jeito que acontece, perde-se no ar, evapora-se. Fica entre os obstáculos. O que podia ser administrado acaba abandonado, descartado. Mas nada é por mal. Nada é por acaso. As coisas são o que são. Ninguém tem culpa.
A vida é assim: um dia após o outro, sem que tenhamos a mínima idéia do que acontecerá amanhã. Os planos não são nossos: são de Deus. Ele nos coloca em todas as situações e nos mostra, através delas e por meio delas, o sentido de estarmos aqui. Ainda bem que sempre são bons os motivos. Pelo menos os meus.
Fiz o que tinha que ser feito. Esta era uma luta diária dentro de mim... Mesmo porque era algo tão antigo, tão passado, tão distante. Só que ficava cutucando, mexendo, indagando. Parecia uma voz na minha cabeça a me cobrar respostas. Respostas que eu não tinha.
Ao abrir meu coração e soltar o pássaro preso em mim, estou me dando a chance de recomeçar. De reconstruir. Confesso que gostaria de terminar a minha construção com os velhos tijolos... Mas sei que não será assim. Há no mínimo um milhão de razões para não ser. Mesmo que fosse possível. Porque o que está feito, está feito. Não se destrói o que é perfeito.
Da minha janela, vejo o céu. Daqui a pouco, um enorme avião passa sobre minha casa. Meu pensamento voa com ele. Para as nuvens. Nuvens que fazem desenhos de algodão na despedida. A escritora caipira, de certa forma, deixa de existir. Não faz mais sentido.

Fonte:
http://sorocult.com/el/colunistas/deb_b/domingo.htm

Roland Barthes (1915 - 1980)


Roland Barthes (Cherbourg, 12 de Novembro de 1915 — Paris, 26 de Março de 1980)
escritor, sociólogo, crítico literário, semiólogo e filósofo francês.
Canhoto num mundo de destros, protestante num país católico como a França e órfão de pai - um oficial de marinha falecido na primeira guerra ­ foi sustentado pela mãe que trabalhava como encadernadora de livros.

Expatriado nos anos 50, seguiu firme na contramão da sociedade conservadora assumindo abertamente sua homossexualidade. Assim foi Roland Barthes - escritor, semiólogo, pensador, crítico literário - nascido em Cherbourg, Normandia, em 2/11/1915.

Com a morte do Comandante Barthes, Henriette e o filho mudaram-se para Bayonne e, em seguida, para Paris onde Roland se formou na Sorbonne (1939) em literatura clássica, gramática e filologia.

Ao mesmo tempo em que estudava linguística e lexologia, Barthes participou do grupo "Defesa Republicana Anti-Fascista", reagindo aos movimentos de extrema direita que sacudiam a Europa.

A alma voa

A luta contra uma tuberculose renitente o obrigou entre 1934 a 1947, a ser internado em diversos sanatórios. Enquanto tinha que manter o corpo em repouso, a alma voava: lia as obras de Marx e produzia artigos para o "Combat" - importante jornal esquerdista na época da resistência aos nazistas. A partir de 1948, trabalhou como professor convidado e bibilotecário na Universidade de Bucarest (Romenia) e foi conselheiro literário na Universidade de Alexandria (Egito).

De 1952 a 1959, foi pesquisador de lexicologia e sociologia do Centre National de la Récherche Scientifique em Paris, participando do lançamento de revistas como "Argumentos" e "Quinzena Literária".

Fez parte da escola estruturalista, influenciado pelo lingüista Ferdinand de Saussure e Bloomfield animou o movimento da Nova Crítica e fundou a revista "Teatro Popular".

Reconhecimento oficial

Dificuldades materiais e questões de saúde o fizeram perder o exame agrégation, que o direcionaria às carreiras ditas "ortodoxas". No entanto, aos 44 anos, foi indicado - graças ao conjunto de sua obra - para ocupar um posto na École Pratique des Hautes Études. Aos sessenta, já consagrado mundialmente por mudar a forma de ver e entender os significados e significantes, passou a ensinar no prestigioso Collège de France.

Para Barthes, o significado seria a representação psíquica de uma "coisa" e não a "coisa" em si. O significado de uma imagem é sua representação gráfica. O significante materializaria a figura do significado (a figura propriamente dita) com seu significado segmentado e entendido de várias formas, segundo as diferenças culturais de cada leitor ou observador.

Publicou obras em linguagem acessível ao grande público, o que contribuiu para que suas idéias vanguardistas fossem divulgadas além da comunidade acadêmica, por exemplo: Mitologias, Ensaios Críticos, Roland Barthes por Roland Barthes (autobiografia irônica).

Foi figura de referência em semiologia, estruturalismo e crítica literária e é considerado por alguns estudiosos, baseados na vasta bibliografia sobre o assunto, um pensador e teórico do que se chama hoje "cultura gay".

Em 1976, criou a cadeira de Semiologia Literária no Collège de France. Suas aulas e conferências eram freqüentadas por um público sempre perplexo e extasiado.

A Semiótica (do grego semeiotiké ou "a arte dos sinais"), é a ciência geral dos signos e da semiose, que estuda todos os fenômenos culturais como se fossem sistemas sígnicos, isto é, sistemas de significação. Ocupa-se do estudo do processo de significação ou representação, na natureza e na cultura, do conceito ou da idéia. Em oposição à lingüística, que se restringe ao estudo dos signos lingüísticos, ou seja, do sistema sígnico da linguagem verbal, esta ciência tem por objeto qualquer sistema sígnico - artes visuais, música, fotografia, cinema, culinária, vestuário, gestos, religião, ciência, etc.

Arquiintelectual

A gama dos temas abordados pelo semiólogo era imensa: moda, o império dos signos (título de um livro), música, fotografia, mitologia, diversões, cinema, arte em geral e arte japonesa em particular, culinária, discurso amoroso (outro título de livro, no qual Barthes explica o que deve ser dito e quando, para incrementar um relacionamento amoroso), imagens visuais, literatura, teatro, as mensagens da propaganda e a força do marketing.

Pintor, músico, erudito, professor, escritor, teórico social, crítico e amante da vida, chocou a burguesia francesa, abordando de seu ponto de vista privilegiado, a política, a sociologia e a teoria literária. Barthes usou a análise semiótica em revistas e propagandas, destacando seu conteúdo político.

Dividia o processo de significação em dois momentos: denotativo e conotativo. Resumida e essencialmente, o primeiro tratava da percepção simples, superficial; e o segundo continha as mitologias, como chamava os sistemas de códigos que nos são transmitidos e são adotados como padrões. Segundo ele, esses conjuntos ideológicos eram às vezes absorvidos despercebidamente, o que possibilitava e tornava viável o uso de veículos de comunicação para a persuasão.

De acordo com seus textos autobiográficos percebe-se, muito discretamente, que teve uma vida amorosa infeliz.

Morte na Rue des Écoles

Henriette, mãe e companheira de toda vida, morreu em 25/10/1977 e Barthes sentiu, do ponto de vista de homem gay, a perda de uma permanente fonte feminina de amor. Barthes dizia que, sem a mãe, parecia "ter perdido a alma".

O interesse de Barthes pela fotografia passa pelo parodoxo de possuir uma prova material do objeto para sempre perdido (a presença da mãe, no caso). Jacques Derrida, filósofo recentemente falecido, comentando esta obra disse que se trata de "uma forma de vigília e de encarar a morte jamais capturada em toda a história da literatura"

Ao sair de uma aula em 25/2/1980, foi atropelado por um carro de entregas de uma lavanderia, nas Rue des Écoles, em frente ao Collège de France.
Em 6 de março, nove dias depois, morreu em conseqüência dos ferimentos e lesões.

Entre seus vários livros podemos citar O grau zero da escrita (1953), Mitologias (1957), Elementos de semiologia (1964), Crítica e verdade (1966), O prazer do texto (1973), Fragmentos de um discurso amoroso (1977) e A câmara clara (1980).

Fontes:
PIRES, Thereza. Roland Barthes Hoje. 26/11/2004. Disponível em
http://mixbrasil.uol.com.br/cultura/biografias/bio5/bio5.asp

http://www.estacaoliberdade.com.br/autores/barthes.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Roland_Barthes

Roland Barthes (Livro: Aula)

Roland Barthes, em seu livro Aula - produto de sua aula inaugural no Collége de France, pronunciada no dia 07 de janeiro de 1977 - afirma que a linguagem é o objeto em que se inscreve o poder. Todavia, a luta contra o estereótipo e seu reino é a tática mais segura para evitar que o discurso se enraíze nas tentações do autoritarismo. Todo o discurso, desde os proferidos pela escola, ou pelo Estado, na forma de suas várias instituições, até mesmo o que constitui as opiniões correntes, ou mesmo uma canção, encarrega-se de repetir a linguagem até o momento em que os sentidos das palavras nos pareçam naturais, como se a linguagem existisse antes mesmo do surgimento das sociedades e de suas construções de poder. É a palavra repetida, fora de qualquer encantamento ou magia, que Barthes chama de estereótipo: Os signos só existem na medida em que são reconhecidos. O signo é um seguidor gregário; em cada signo dorme esse monstro: o estereótipo (p. 15). A aula, a meu ver, é a demonstração da tentativa de subversão do discurso. É um convite ao jogo. Que jogo? Ora da caça, ora da fuga do estereótipo, ora das trapaças do narrador.

O semiólogo francês, ironicamente, inicia seu discurso, fazendo certas inferências em relação a como o Collége de France, o recebe sendo ele um sujeito incerto, pois na produção de seus trabalhos, a escritura rivaliza com a análise. Assim, questiona sua acolhida na ordem das instituições que é uma das últimas astúcias da história. O questionamento é em relação à honra, uma vez que essa é, subtração, parte intocada dentro do lugar onde ele trabalhará; e m relação às alegrias, tanto de reencontrar a lembrança ou a presença de autores que ensinaram e/ou ensinam nessa instituição, como de entrar em um lugar que pode ser dito rigorosamente: fora do poder.

Percebe-se que há uma certa ironia sobre onde se instaura o poder e, já que, a partir desse discurso, ele será professor nessa instituição, o seu dever não é sujeitar-se a um saber dirigido, porém, indagar sob que condições e segundo operações o discurso pode despojar-se de todo o desejo de agarrar (p.10). Na visão de Barthes, esse objeto em que se inscreve o poder, desde toda a eternidade humana, é a linguagem ou, para ser mais preciso, sua expressão obrigatória: a língua (p.12).Nesse ponto, o discurso é colocado como um desafio ao leitor (ou seria a um efeito leitor?), pois, apresenta uma forma tanto de servidão, quanto de poder. Isso se dá porque a linguagem implica uma relação de alienação.

Na concepção barthesiana falar é, com maior razão, discorrer, não é comunicar; é sujeitar: toda língua é uma reição generalizada (p.13). Então, penso eu, pobre mortal, como sobreviver a isso? Barthes indica um caminho: esse logro magnífico que permite ouvir a língua fora do poder, no esplendor de uma revolução, eu chamo, quanto a mim; literatura (p.16). Parece-nos, assim, que a liberdade humana só é possível fora da linguagem. No entanto, só existimos dentro dela, uma vez que não há separação entre homem e linguagem. Estudar a linguagem fora do humano é, explicitamente, destituir o sujeito da linguagem e vice-versa. Estaríamos desse modo, condenados à prisão perpétua, nessa rede de poder que constitui os discursos de saber? Essas vontades de verdade que há muito se perfilam e são formuladas, reformuladas e reempregadas no caminhar humano? E aqui entra, creio eu, a idéia barthesiana de trapaça, de logro magnífico com a língua. Não podemos destruí-la, nem viver em seu exterior, contudo, podemos desviá-la de seus sentidos articulados, estereotipados, destituindo, dessa maneira, os mecanismos de poder perpassados nos interstícios sígnicos, ou para ir mais longe ainda, nos vários conjuntos de enunciados.

Barthes nos leva a refletir sobre as forças de liberdade que existem na literatura a prática da escrita. Essas forças são articuladas sobre três conceitos gregos: mathesis, mimesis e semiosis. A primeira força corresponde à força dos saberes, visto que todas as ciências estão presentes no monumento literário. E nesse sentido, a literatura é o próprio fulgor do real. Ela faz girar os saberes não fixa, não fetichiza nenhum deles; ela lhes dá um lugar indireto, e esse indireto é precioso. Mas Barthes nos mostra os dois lados dessa força: a) a permissividade para designar saberes possíveis insuspeitos, irrealizados; b) o saber que mobiliza nunca é inteiro nem derradeiro.

A segunda força da literatura é sua força de representação. É, justamente, por querer representá-la que há uma história da literatura. Entretanto, o real pode ser apenas uma espécie de demonstração, e é por que há o real (pluridimensional) e a linguagem (unidemensional) que se produz a literatura. Barthes afirma: desde os tempos antigos até as tentativas da vanguarda, a literatura se afaina da representação de uma coisa. O quê? Direi brutalmente: o real (p.22). Ora, podemos fugir dessa história da literatura? Se rompermos com o elo entre o real e a linguagem. É possível? Talvez, através de existentes-não-reais somente existentes nas tentativas virtuais, na pluralidade de (im)possíveis olhares.

A terceira força da literatura é a que fora indagada acima; é um método de jogo. Teimar e deslocar-se, isto é, instituir no próprio seio da linguagem servil uma verdadeira heteronímia. Nessa perspectiva, surge a semiologia objetivando estudar a linguagem trabalhada pelo poder. Daí deslocou-se, coloriu-se. Este deslocamento se fez porque a sociedade intelectual mudou, quanto mais não fosse pela ruptura de maio de 68. Por outro lado, o próprio poder como categoria discursiva, se dividia, se estendia como uma água que escorre por toda parte... (p.34).

Uma reflexão torna-se necessária sobre a força de fugir da palavra gregária através do texto lugares, em que, a escritura e a semiologia se conjugam e se corrigem uma à outra. Fugir da palavra gregária não por que a semiologia negue o signo (apofática), mas porque nega que seja possível atribuir lhes caracteres positivos. fixos, a-históricos, a-corpóreos, em suma: científicos (p.36).

Segundo o pensador, esse apofatismo acarreta duas conseqüências que interessam, diretamente, ao ensino da semiologia: a) não pode ser uma metalinguagem; toda relação de exterioridade de uma linguagem com respeito a outra é insustentável. O que sou obrigado a assumir falando dos signos com signos é o próprio espetáculo dessa bizarra coincidência (p.37); b) ter uma relação com a ciência, mas não é uma disciplina. Mas, que relação? uma relação ancilar: ela pode ajudar certas ciências.

Ao fundamentar-se na Semiologia, Barthes abre, a meu ver, caminhos para libertar a linguagem para o prazer do texto e renova, desse modo, a maneira de manter um discurso sem o impor; pois o que pode ser opressivo em um ensino não é o saber ou a cultura que ele veicula, são as formas discursivas através das quais ele é proposto (p.43). Entendendo-se que para uma mesma formação ideológica há diferentes formas enunciativas, pois o enunciado pode ser repetido em situações estritas, a enunciação jamais; o que permite ao enunciador se deslocar de acordo com o seu(s) interlocutor(es), isto é, o discurso pode ser o mesmo, porem, sua forma enunciativa é diferente.

Desse modo, o autor desloca as palavras, desfocaliza significantes de significados, desnivela a enunciação estabelece um jogo marginaliza um assunto e enfatiza outro. É nesse domínio do léxico que ele age. É, ao mesmo tempo, polido, modesto e irônico. A sua prática de escrever se ritualiza não em uma comunicação imediata, o que justifica as várias vírgulas, dois pontos, hífens, paralelismos gramatical, etc. Porém, o discurso em Barthes se constitui, me é crível, na recusa de um modelo pragmático e, assim, trapaceia coma língua, fazendo do texto a Aula uma demonstração de como jogar com os signos lingüísticos. Ao mesmo tempo em que fala da semiosis, a usa como exemplo do que afirma, reafirma, teima, desloca-se e, até joga com a possibilidade de abjurar. E, essa competência, me faz vê-lo como uma espécie de singularidade mística enquanto discurso, é claro.

Fonte:
BARTHES, Roland. Aula. Trad. Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Cultrix, 1988.
artigo por Eliomar Rodrigues-Rocha, publicado em 23/04/2007 em
http://www.webartigos.com/
==========================
Sobre o autor do artigo
Eliomar Rodrigues-Rocha
Graduado em Letras/português pela UNESP e em Língua Inglesa pela Universidade Federal de Rondônia. Mestrando em Letras:Linguagem e Identidade pela Universidade Federal do Acre.