domingo, 15 de maio de 2011

Carlos Lúcio Gontijo (1952)


CARLOS LÚCIO GONTIJO, filho de Betty Rodrigues Gontijo e José Carlos Gontijo, nasceu a 27 de abril de 1952, em Santo Antônio do Monte, município do Centro-Oeste de Minas Gerais. Cursou o primário no Grupo Escolar Waldomiro de Magalhães Pinto. Fez o ginásio e parte do Curso de Contabilidade na Escola Senhora de Fátima (mais conhecida como Colégio da Dona Maria Angélica de Castro).

Acompanha-lhe vida afora o amor por Santo Antônio do Monte, onde diz que veio à luz intelectualmente, pois ali passou a infância e viveu a juventude e a alegria de vestir a camisa do Flamengo, o inefável rubro-negro local, formando um grandioso feixe de aprendizagem emocional, que lhe enraizou no peito o torrão montense, ao qual ele muitas vezes cantou (e canta) em seus artigos jornalísticos e em versos, como é o caso do poema Sangue Montense, que se encontra inserido, com declamação e paisagens do município, na página de abertura de seu espaço virtual na internet.

O autor complementou o último ano de Contabilidade no Colégio Visconde de Cairu, na capital mineira. Em seguida, diplomou-se em Jornalismo pela FAFI-BH, hoje UNI-BH, no ano de 1976, passando então a atuar como jornalista – durante 30 anos –, no “Diário da Tarde”, veículo de comunicação impressa que circulou, ininterruptamente, de 14 de fevereiro de 1931 a junho de 2007.

Foi revisor, supervisor de revisão (no IV turno/”Diário da Tarde”, em horário que invadia madrugada adentro), articulista, secretário de página, subeditor e, depois, editor de Opinião do “Diário da Tarde”.

Trabalhou, também, nos jornais “PrOeste”, do qual foi um dos fundadores e redator-chefe (1976); “Tribuna de Mariana”, onde foi editor; “Diário de Minas”, como revisor e articulista; e “Hoje em Dia”, como revisor.

  • É portador de título de Honra ao Mérito da Prefeitura de Santo Antônio do Monte (1977), por indicação do então vereador José Magela Couto, diploma que lhe foi passado às mãos pelo ex-governador de Minas Gerais e ex-ministro de Estado, José de Magalhães Pinto;
  • do “Troféu Magnum de Cultura”, homenagem do Colégio Magnum Agostiniano, em comemoração aos 100 anos de Belo Horizonte (1997);
  • Destaque Profissional Regional 2003/Conselheiro Lafaiete-MG;
  • membro titular e correspondente da Academia Interamericana de Literatura e Jurisprudência e da Academia de Estudos Literários e Linguísticos (ambas de Anápolis/GO);
  • dá nome à biblioteca comunitária do Bairro Flávio de Oliveira e, também, à biblioteca do Instituto Maria Angélica de Castro (Imac), ambas em Santo Antônio do Monte.
  • É membro da Academia de Letras do Brasil-Mariana (ALB-Mariana), onde ocupa a cadeira nº 15 cujo patrono é o poeta Bueno de Rivera.
  • Possui assento, também, na Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores (Avspe), com sede no Balneário Camboriú/SC;
  • na Academia de Letras de Teófilo Otoni (ALTO) e
  • na Academia Santantoniense de Letras (ACADSAL).
Foi presidente da Associação Mineira de Imprensa – AMI (2002/2005), à qual retornou, como vice-presidente, na diretoria administrativa de 2008/2012.

Em março do ano 2000, expôs alguns de seus poemas, emoldurados e acompanhados das respectivas ilustrações com que foram impressos em livro – trabalho batizado por ele de “telaescrita” –, na galeria do ICBEU, em Belo Horizonte. A mostra, que deveria ficar aberta ao público por 15 dias, acabou sendo estendida por 35 dias, devido à intensa receptividade obtida.
Nos anos de 2005 e 2007, seu romance Cabine 33 foi indicado e adotado no vestibular da Faculdade de Administração de Santo Antônio do Monte – FASAM.

Gontijo morou na cidade de Contagem/MG (de 1985 a dezembro de 2010), onde foi agraciado com o título de cidadão honorário.

O poeta e escritor é contemplado com mais de uma página de referência no site de busca “Google”, conceituado arquivo mundial de informação, bastando digitar o seu nome para encontrá-lo presente em várias páginas virtuais, dentre elas o “cama-redonda/maria beatriz soares” (www2.uol.com.br/camaredonda/center/favoritos/poesias/poesias.htm – 89k -), ao lado de nomes consagrados como Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes, Mário Quintana, Pablo Neruda, Chico Buarque, Caetano Veloso, Carlos Lyra etc.

O autor participa da coletânea Poetas Del Mundo em Poesias (Volume I), nas páginas 46 e 47, publicada em 2008; e do Guia de Autores Contemporâneos – Galeria Brasil 2009.

Integra o Movimento Poetas del Mundo; é verbete do Dicionário Biobibliográfico Regional do Brasil, de Mário Ribeiro Martins, via internet, dentro de ENSAIO, no site www.usinadeletras.com.br; e mantém no ar o site Flanelinha da Palavra (www.carlosluciogontijo.jor.br), no qual disponibiliza aos internautas toda a sua obra literária (13 livros), fotos, músicas e alguns artigos jornalísticos etc.

OBRA LITERÁRIA

· Ventre do Mundo (Poesia – 1977).
· Leite e Lua (Poesia – 1977).
· Cio de Vento (Poesia – 1987).
· Aroma de Mãe (Poesia – 1993).
· Pelas Partes Femininas (Poesia e prosa – 1996).
· “Coletânea” (Editada em dois volumes, no ano de 1998, contendo os cinco primeiros do autor).
· O Contador de Formigas (Romance e poesia – 1998/1ª edição; 1999/2ª edição).
· O Ser Poetizado (Poesia e prosa – 2002).
· O Menino dos Olhos Maduros (Novela e poesia – 2002).
· Virgem Santa sem Cabeça (Romance e poesia – 2002).
· Cabine 33 (Romance e poesia – 2004). Foi indicado para o vestibular da Faculdade de Administração de Santo Antônio do Monte (FASAM) nos anos de 2005 e 2007.
· Lógica das Borboletas (Romance e poesia – 2007).
· Duducha e o CD de Mortadela (Livro infantil – 2009).
· Jardim de Corpos (Romance e Poesia – 2009)

Fonte:
Carlos Lúcio Gontijo

Luiz de Miranda (Lançamento de Vozes do Sul do Mundo)

Clique sobre a imagem para ampliar
Fonte:
Convite enviado por Luiz de Miranda

Ialmar Pio Schneider (Soneto a Omar Khayyäm)


Nascimento do poeta em 15.5.1048

Omar Khayyām, poeta e trovador,
do vinho e das mulheres mais formosas,
símbolo de fenomenal amor,
lembrará sempre as donzelas gostosas !

Nunca se considerou pecador,
todas as horas tem que ser ditosas,
porquanto no prazer espanta a dor,
não enxerga espinhos, apenas rosas...

Faz muito tempo li o Rubaiyat,
tradução fiel de Manuel Bandeira,
vi que obra mais romântica não há !...

E o que me disse o mestre da poesia,
foi que se deve amar a vida inteira,
na realidade e até na fantasia !

Fonte:
Soneto enviado pelo autor.

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XXXII – O Jabuti e a Caipora


O jabuti entrou num oco de pau e começou a tocar a sua gaitinha. A caipora, lá longe, ouviu e disse: "Não pode ser outro senão o jabuti. Vou agarrá-lo."

Veio vindo. Parou perto do oco, a escutar.

Li, ri, li, ri...
Lé, ré, lé, ré...

— Olá, jabuti!

— Oi! — respondeu o tocador de gaita.

— Saia do buraco, jabuti, para vermos qual de nós dois tem mais força.

O jabuti saiu, enquanto a caipora cortava um cipó.

— Eu puxo uma ponta e você outra — eu em terra e você n'água.

— Pois vamos a isso, caipora — respondeu o jabuti.

O jabuti entrou na água e amarrou a ponta do cipó no rabo dum pirarucu, que é o peixe de rio maior que há. A caipora, lá em terra, puxou o cipó — mas o pirarucu a arrastou para a beira d'água; e como não tinha mais força, foi puxando-a para dentro do rio. O jabuti, que já estava em terra, bem escondidinho no mato, ria-se, ria-se.

Não podendo mais de tão cansada, a caipora gritou:

— Basta! Você venceu.

O jabuti, sempre a rir-se, entrou n'água e foi desatar o cipó do rabo do pirarucu. Em seguida voltou para terra.

— Está cansado, jabuti? — perguntou a caipora.

— Cansado, eu? Nem um tiquinho! — e a caipora viu mesmo que nem suado estava. Não teve remédio senão confessar que o jabuti era mais valente do que ela — e lá se foi muito desapontada.
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— Sempre a esperteza vencendo a burrice! — observou Emília. — Mas que bicho caipora é esse?

— A caipora — explicou dona Benta — é um dos monstros inventados pela imaginação da nossa gente do mato. Vocês bem sabem que para o povo existem na natureza muito mais coisas do que os naturalistas conhecem, como lobisomens, sacis, mulas-sem-cabeça que vomitam fogo pelas ventas e também caiporas.

— Mas como é a caipora?

— Dizem que é um bicho peludo que gosta muito de fumar. Cerca os viajantes nas estradas, de noite, para pedir fumo para o cachimbo. Descrever como é a caipora não é fácil, porque as coisas que só existem na imaginação do povo variam de lugar em lugar. Aqui é dum jeito, ali é do outro. Se querem saber como é a caipora, perguntem ao tio Barnabé. Só negro velho entende bem disso.
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Continua… XXXIII – O Jabuti e a Onça
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.

Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 215)

Francisco José Pessoa (CE) e Ademar Macedo (RN)
Uma Trova Nacional

Os meus amigos são tantos,
de uma bondade sem fim,
que não preciso ter prantos
pois eles choram por mim!
–FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE–

Uma Trova Potiguar

Demonstra afetividade,
quando é preciso, te acolhe,
um amigo é na verdade...
Um irmão que a gente escolhe.
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Uma Trova Premiada

2002 - Amparo/SP
Tema: FOME - Venc.

Num mundo de ódio repleto
há tanta fome de amigo
que um pequeno grão de afeto
vale por mil grãos de trigo!
–ANTONIO JURACI SIQUEIRA/PA–

Uma Trova de Ademar

De alma pura, Deus decreta
que assim seja o trovador:
bom amigo e bom poeta,
sem jamais guardar rancor!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Quando a vida se complica
nas horas de solidão,
amigo é aquele que fica
depois que os outros se vão!
–ALOÍSIO ALVES DA COSTA/CE–

Simplesmente Poesia

–HENRIQUE MARQUES/RJ–
Cantiga de Amigo

Meu amigo é feito uma ave
que meu corpo sobrevoa
e me canta sem cessar.

Meu amigo é feito um tigre
que me rasga, me maltrata,
cala os meus cálidos gritos.

Meu amigo é feito um rio
que, sem margens, corre solto,
e, quando quer, me naufraga.

Estrofe do Dia

Amigo, tens boa imagem,
és um Trovador querido,
bom poeta e bom marido,
um marujo de coragem;
mereces minha homenagem
no céu azul, verde mar,
teus versos vou proclamar,
falo com sinceridade;
eu quero a tua amizade
oh! Meu confrade Ademar.
–SEVERINO CAMPÊLO/RN–

Soneto do Dia

– THAMA TAVARES/SP –
Soneto da Amizade

Eis que a vida me deu grandes riquezas!...
Não me refiro à prata nem ao ouro,
mas a amigos que tive nas tristezas,
que são ainda o meu maior tesouro.

São amigos no incerto e nas certezas,
no efêmero e também no duradouro,
que sabem perdoar minhas fraquezas,
e rir e ser na dor ancoradouro.

Assim, quando eu partir para o outro lado
após pagar, talvez, algum pecado
recobrarei a paz na consciência...

Mas lá, no Céu, serei quem nunca dorme,
só por velar, numa saudade enorme,
os amigos que fiz nesta existência.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

sábado, 14 de maio de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 214)


Uma Trova Nacional
O que fez o Zé sofrer,
não foi ele ter ouvido
alguém na moita gemer,
foi conhecer o gemido!
–CAMPOS SALES/SP–

Uma Trova Potiguar

Sapateiro não “esquenta”,
fabrica até pra exportar;
só faz sapato quarenta
pra calçar parlamentar.
–SEVERINO CAMPÊLO/RN–

Uma Trova Premiada

2002 - Nova Friburgo/RJ

Tema: BOTECO - 1º Lugar.


Ao chegar no beleléu,
mostra, o bebum, seu espanto:
- Não tem boteco no céu"?
E as pingas que eu dei pro santo ?!?
–SÉRGIO FERREIRA DA SILVA/SP–

Uma Trova de Ademar


Anote o que eu vou dizer:
Deus já fez tudo... E, de resto,
só falta mesmo fazer
político bom e honesto.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Era uma bruxa sem graça!
Não me dava paz nem trela.
Eu, então, só por pirraça,
me casei com a filha dela.
–CÉLIO GRUNEWALD/MG–

Simplesmente Poesia


MOTE:

Numa receita de Joça.

GLOSA:

Tinha raspa de juá,
raiz de urtiga, cardeiro,
cipó de sapo, pereiro,
ovo, milona e jucá,
jurubeba, manacá,
tinha suco de taboca,
crueira de mandioca,
fedegoso e vassourinha;
era tudo o que continha
numa receita de Joca.
–MOYSÉS SESYOM/RN–

Estrofe do Dia


Só vive numa oficina
deixando seu dono em pânico,
levando Riva a ruína
e enriquecendo o mecânico;
não tô querendo ser chato,
mas jogue o carro no mato
para não perder de tudo;
pois assim disse o seu fã:
carro velho e sutiã
só compra quem é peitudo.
–ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

–ÁUREA MIRANDA/BA–

Aparências Sociais


Chegou tarde ao trabalho – então, foi dispensado:
porque os olhos vazios no fundo das olheiras
deviam-se, decerto, a uma das bebedeiras,
às quais (também, decerto...) estava acostumado.

Estômago vazio, bolsos vazios e as beiras
dos chinelos quase um papel mal laminado,
resvalou na sarjeta – e o corpo, ensangüentado,
deixou sobre a calçada as últimas carteiras.

Uma era a de trabalho; a outra, a identidade
– ambas também vazias: já não tinha idade
pra ser trabalhador e nem pra ser alguém...

Mas, antes de o baixarem para a sepultura,
a esposa extraiu-lhe a frouxa dentadura
que há muito não usava: “Era um homem de bem.”

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Ialmar Pio Schneider (Soneto Lobo da Estepe)


Por que adotei o nick Lobo da Estepe
para escrever poemas na Internet?
Foi Hermann Hesse com seu livro ingente,
que suscitou a fantasia ardente !

Também andei buscando pela noite
alguém que compreendesse onde me acoite,
para encontrar, enfim, felicidade
e conseguir a minha identidade.

Que mais quero, vivendo na ilusão,
se tudo me parece um mundo louco
e tenho que amargar a solidão?!

São meus sonhos de receber um pouco
de esperança que traga a redenção
para sair, então, desse sufoco !

Fontes:
O Autor
Imagem = http://oslobosdaestepe.blogspot.com

A. A. de Assis (Onidos da Osina)


Mariquitinha Duas Bolas ganhou o apelido por conta daqueles arredondados quadris onde farta saúde formava um par de robustas esferas sacolejantes. Num sábado de fevereiro, anos atrás, cedinho acordou a patroa pedindo recesso de trabalho:

– Vorto na quinta-feira de cinzas. Agora vou passar no Sovaco da Penha, grunir umas biribas e ajeitar a fachada aqui da menina pra sair no OO. Senhora vai me ver num luxo no OO.

– E que coisa é OO?

– Onidos da Osina... Rancho Carnavalesco Onidos da Osina, sabe não?...

Mariquitinha Duas Bolas tinha passado ilustre na crônica do carnaval. Seu currículo incluía itens como pastorinha da Escola de Samba Caçadoras da Floresta, destaque da Recordação das Magnólias, além de canja nos melhores blocos: Deslumbrados da Aurora, Cocada de Coco, Vila Sete dos Passarinhos, Rapadura Quente, Batuqueiros da Lua...

Mas a glória dela era sair no OO. Talvez, quem sabe, pelo fato mesmo de esse OO lembrar-lhe as duas bolas do festejado apelido. O Onidos da Osina, naquele ano, prometia botar pra quebrar. Primeiríssimo lugar, ninguém ousaria opor dúvidas. A patroa que desculpasse, mas em tão distinguido momento não dava para choferar fogão. Era entrar na fantasia e deixar cair.

Mariquitinha Duas Bolas era figura histórica, rainha máxima. Casar jamais pensara: tinha medo de arranjar marido chato. Marido ia incomodar. Ia querer que ela não fosse mais biritar no Sovaco da Penha. Ia ficar com ciúme do seu sucesso no OO. Melhor continuar solteira, mesmo cinquentona quase. Uma rainha não pode ser impedida de reinar. Marido atrapalha. Com a patroa é bem mais fácil conseguir licença.

– Vorto na quinta de cinzas...

– Tá bem, quarta é pouco, divirta-se. Nesses dias a gente manda trazer marmita.

Mariquitinha foi lá dentro, vestiu-se de festa. Se mandou. De noite o Onidos da Osina sairia com seu carro surpresa. A cidade reuniu-se na Rua do Café, esperando o desfile. Passaram as primeiras escolas, os ranchos... nada do OO.

A comissão julgadora nervosa no palanque. O prefeito, o delegado, a mulher do deputado, os importantes do lugar em exposição diante do povo que torcia, gritava, cantava, pulava. O Onidos aguardado como a grande atração da noite. Desfilaria num enorme carro alegórico em forma de navio, obra do velho Domingos Turco. Mas, cadê?...

O prefeito, presidente da comissão, chamou um auxiliar e mandou ver lá no Domingos Turco o que acontecera. Veio rápido o relatório:

– Sabe, doutor? Houve um pequeno engano. Fizeram o navio dentro do armazém do Amaro Alexandre, só que não dá pra passar na porta. Eles se esqueceram de tirar a medida, e agora estão lá discutindo se desmancham o navio ou derrubam a parede...

O prefeito aproveitou para iniciar sua nova campanha política. Pegou o microfone e anunciou: “Autorizo derrubarem o armazém inteiro se preciso for. Depois mando construir de novo, com dinheiro do meu bolso. O que não podemos é ficar sem a presença do OO neste garboso desfile!”

Aplausos, foguetes, vivas. Marreta na parede. E o Onidos da Osina entrou triunfalmente na Rua do Café, Mariquitinha Duas Bolas sacolejando na primeira fila, os tamborins repicando, a tuba pomponando, as frigideiras ritmando o samba, o povo em delírio, gritando...

Vitória retumbante do OO, medalha de honra para Mariquitinha, retrato nos jornais. Na quinta-feira a patroa esperou o retorno da cozinheira famosa. Que entretanto só apareceu no sábado.

– Senhora adescurpe, vou ter que deixar o emprego. Tinha um viúvo holandês vendo o OO na rua, gamou ni mim, vai me levar pras Oropa. Quer casar...

– Ué, você não dizia que marido incomoda?

– Incomodar, incomoda. Mas tem hora que a gente não reseste...

Fontes:
ASSIS, A. A. De. Vida, verso e prosa. Maringá/PR: EDUEM, 2010.
Imagem = Educa Ja

Acionildo Albuquerque Silva (Poesias Avulsas)


DESTE-NÓ

Incertos são os acertos
de certos sentimentos.

COMUNICAMOS QUE ACABARAM DE ESCREVER
um manuscrito
Comunicamos que foi roubado
um manuscrito
Comunicamos que encontraram
um manuscrito
Comunicamos que estão vendendo
um manuscrito

QUEBRA MOLA

Subiu, nunca viu nada.
Sempre foi acostumado
a olhar de cima
passar pelos sonhos
atropelando os nossos desejos.

Queria apenas saber quantos
centímetros são necessários
para deter seu burgo e carruagem.

COM AXIOMA NÃO SE BUSCA EXISTÊNCIA

Como se o fogo não pudesse ser aceso...
e o inusitado não ofuscasse a lógica.
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Nasceu em Caruaru, agreste setentrional pernambucano. Reside em Recife desde 1987. Tem os seguintes folhetos poéticos publicados: O apogeu da insignificância e outros poemas; Odemas e instantes.

Fonte:
Antonio Miranda
Imagem do poeta por Jorge Lopes

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XXXI – O Jabuti e o Homem


Um jabuti estava em sua toca, tocando gaita. Um homem ouviu e disse: "Vou pegar aquele malandro" — e chamou: "Ó jabuti!"

— Oi! — respondeu o jabuti.

— Vem cá, jabuti.

— Já vou — disse o jabuti — e botou a cabecinha na abertura do buraco. O homem foi e agarrou-o e levou-o para casa, onde o fechou numa caixa. No dia seguinte, de manhã, antes de ir para o serviço, disse aos meninos:

— Não me vão soltar o jabuti, ouviram? — e foi trabalhar.

O jabuti pôs-se a tocar a sua gaitinha lá dentro da caixa. Os meninos aproximaram-se, curiosos. Ele parou.

— Toque mais, jabuti — pediram os meninos.

O jabuti respondeu:

— Vocês estão gostando da minha gaita. Imaginem se me vissem dançar...

Os meninos abriram a caixa para verem o jabuti dançar. O jabuti saiu e dançou pela sala.

Lé, lé, lé, lé...
Lé, ré, lé, ré...

Depois pediu para dar um pulinho ao quintal.

— Vá, jabuti, mas não fuja.

O jabuti foi ao quintal e fugiu para o mato.

— O jabuti fugiu! — gritaram os meninos. — Como será agora?

Um deles teve uma lembrança: botar na caixa uma pedra com a forma do jabuti, para enganar o pai.

Assim fizeram.

À tarde o pai voltou da roça e disse' "Ponham a panela no fogo e preparem-me o jabuti."

Os meninos obedeceram, pondo a pedra na panela. Quando chegou a hora do jantar, o homem sentou-se à mesa, lambendo os beiços. Mas ao botar o jabuti no prato, viu que era pedra.

— Vocês deixaram o jabuti fugir!

Os meninos disseram que não, mas nesse momento soou lá no mato a gaitinha do fugitivo:

Tim, tim, tim...
Olô, olô, olô...

O homem foi lá.

— Ó jabuti!

O jabuti respondeu: "Oi!" Por mais que o homem procurasse, não o achava.

— Vem cá, jabuti!

E o jabuti: "Oi!" Cada vez respondia dum lugar diferente, até que o homem danou e voltou para casa, muito desapontado.
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— Só isso? — gritou Emília. — É pouco...

— Não, tem mais coisas — respondeu tia Nastácia. — Há uma porção de histórinhas do jabuti, que é um danado de esperto. Ninguém logra ele.

— É verdade — disse dona Benta. — O jabuti, ou cágado, como o chamamos aqui no sul, é um animalzinho que muito impressiona a imaginação dos homens do mato — os índios; daí todo um ciclo de histórias do jabuti, onde ele aparece com umas espertezinhas muito curiosas.

— E é mesmo uma galanteza — disse Narizinho — sobretudo uns verdes, do tamanho duma bolacha Maria. Já vi dois em casa da mãe do Tônico.

— Mas são mesmo espertos como querem os índios ou é história? — indagou Pedrinho.

— O cágado parece que tem alguma inteligência e que faz mesmo umas coisinhas jeitosas. Além disso possui aquela casca onde esconde a cabeça e as pernas assim que se vê em apuros. Isso deu aos índios a idéia de esperteza.

— Arranje, vovó, arranje um jabuti para nós! — pediu a menina. — Deve ser tão interessante...

— Hei de arranjar, mas agora vamos ouvir outras histórias dele. Continue, Nastácia.

E tia Nastácia continuou.
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Continua… XXXII – O Jabuti e a Caipora
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

sexta-feira, 13 de maio de 2011

A. A. de Assis (Silvinha da Silva)


Silvinha da Silva empinou a cabeça, encarou a criançada, falou quente: “Quero fossa não, pessoal. O pai docês se foi pra melhor, mas a mãe tá aqui e garante o rango... Quero choradeira não!”

Tonico, o pai, sofrera desastre, a jamanta despencara na pirambeira, o coitado morrera de susto antes mesmo de remorrer prensado na cabine. Sorte da família que o caminhão dava conserto e o seguro cobria. Então Silvinha derramou sofrimento até a hora do enterro, depois enxugou a mágoa, jurou que de fome ninguém iria padecer na casa dela.

Mulher fêmea na hora do carinho, dera nove filhos ao Tonico. Mulher macha na hora de peitar os desafios da vida, prometeu aprender a guiar a jamanta, enfrentar a estrada, arrancar na marra o sustento da meninada. O mais velho, 16 anos, seria seu ajudante; os mais novos cuidariam uns dos outros na ausência da mãe; os vizinhos dariam lá uma olhada de vez em quando: “Não tem tempo ruim comigo não”, repetia firme Silvinha da Silva, mulher de raça forte e tutano no muque.

No parachoque a frase-grito: “Se segura que lá vai eu!”. Lá ia Silvinha, Silvinha da Silva, fé em Deus e pé na tábua, sobe morro, desce morro, vira curva, os braços parrudos, morenos, domando o baita no asfalto, o rádio ligado tocando as modas da moda. Silvinha era de vencer muito veterano do volante.

Partia de Santa Violeta recomendando juízo aos meninos, deixando o necessário para as despesas, dando adeus até o mês que vinha. Ia longe, até onde a carga a levasse: Belzonte, Salvador, Recife... na volta poderia ir até Porto Alegre... o que viesse ela traçava.

Se meter com Silvinha da Silva era caçar encrenca feia. A fama dela começou logo a correr: derruba cinco valentes numa só pernada... bebe uma garrafa inteira de pinga e nem tonta fica... vence qualquer campeão na queda de braço...

Lenda que eles inventam”, dizia ela, “mas deixa que é bão... assim eles me respeitam mais e não abusam...” Ninguém ousava assaltar Silvinha na estrada. Um, que tentou, levou tamanha canivetada no umbigo que quase desparafusou as vergonhas. Levava tranquila a bolsa cheia de dinheiro, dormia onde dava sono. O caminhão dela, pintado de cor-de-rosa, de longe era reconhecido. A cor, explicava rindo, “era homenagem ao charme da mulher brasileira”, que ela queria continuar mulher, embora boa de briga. Pensava até se casar de novo, só que ia escolher com rigor: homem para ela não podia ser qualquer um; tinha que ser de Tonico para melhor, um cara raçudo e direito, caminhoneiro como o falecido, de preferência bonito, de boniteza lá ao jeito dela. Se aparecesse um nos moldes, topava amarrar com ele os trapos, começar outra penca de garotos.

Conheceu Zé Marimbondo, ex-peão de rodeios, agora cinquentão pacato, criador e negociante de cavalos. Se ele aceitasse virar jamanteiro, se casariam. Boa lábia, Zé Marimbondo convenceu a mulher a mudar de ramo: “Nós vende o caminhão, compra mais terra vizinha da que eu tenho, a gente monta uma criação maior... será que tem vida melhor?...”
Silvinha resmungou, teimou, tomou uns goles, não resistiu. Zé Marimbondo tinha jeito de mexicano, o chapelão sombreando fartos bigodes, violeiro de voz macia, bastou serestear pra ela numa noite de lua e Silvinha se derreteu de vez. “Vou buscar a criançada em Santa Violeta, volto em duas semanas com os trens de sala, quarto e cozinha; aí a gente vai no padre e no cartório. Mas olha que sou mulher ciumenta... abusa não, que tem pancadaria.

Vendido o caminhão, começaram vida nova. Silvinha, inquieta, lá um dia quis aprender a montar. Em pouco tempo ganhava longe do marido; burro chucro que o assustava, ela amansava em dois galopes. Zé Marimbondo avexou, complexou, definhou, deu de beber, morreu. Silvinha da Silva, com mais dois filhos nas costas, chamou de novo a garotada, empinou a cabeça, falou quente: “Tem fossa não, pessoal. A mãe docês garante o rango... A criação tá crescendo, a cavalada aumentando, tem choradeira não!” E um ano depois comprava mais terras vizinhas, partia para a grande pecuária... já tem gente até querendo lançar Silvinha pra prefeita do lugar...

Fonte:
ASSIS, A. A. De. Vida, verso e prosa. Maringá/PR: EDUEM, 2010.

Lilia Momplé (A Voz que Expande a Consciencia Literaria Moçambicana)


Eduardo Quive, do Movimento Literário Kuphaluxa entrevista Lilia Momplé.

Ida dos remotos tempos da dominação colonial portuguesa nas terras moçambicanas e voltada dos horizontes do mundo fora, a escritora moçambicana Lília Momplé, encontrou-se com amantes da literatura para falar de si, da sua obra e do protagonismo em que dedica a sua escrita nos leitores. Lília Momplé fora voz do nacionalismo, mas hoje, aos 76 anos de vida, é a palavra que se exalta na nova consciência e inspira as novas gerações. Mas não abandonou o seu nacionalismo literário. Na conversa promovida pelo Movimento Literário Kuphaluxa, em Maputo, a escritora brincou com as palavras e educou os literatos novatos, afinal de contas Lília, fora também professora.

De nome completo Lília Maria Clara Carriére Momplé, natural da Ilha de Moçambique, esta mulher que escreve o que lhe vai na alma, inspira os jovens e, nas suas obras, revela os mistérios da sua força nacionalista e pela justiça social. Há quem diga que cada escrito da Lília Momplé, é uma denúncia, mas a escritora prefere dizer que é um momento de desabafo, revelação, confidências e só o faz quando não aguenta mais se calar.

Há uma necessitada de se fazer valer a literatura oral. Esta forma literária é riquíssima e corre o risco de se esquecer. Com a literatura, há oportunidade de se criar riqueza. A literatura é a base para o conhecimento e criação, e num país onde há criação, já sabemos que se pode alcançar o desenvolvimento.

Em seguida o teor da sua conversa com jovens em um breve resumo:

Como é que surge a vontade de escrever?

Lília Momplé - Quanto ao ser escritora, sempre sobe que um dia ia escrever, só não sabia quando. O gosto pela literatura herdei da minha avó. Ela era Macua e habitualmente contava-nos estórias lindas da tradição em volta da fogueira. Nesse momento eu dia para mim, «um dia vou escrever estas estórias».

E houve um outro acontecimento que significou muito para mim: aos 13 anos, estudei no Liceu Luís Salazar, uma escola que era apenas para brancos e pessoas com as melhores condições. Eu era a única negra e minha mãe teve que fazer muito sacrifício para que eu estudasse lá. Ela passava noites a costurar para poder pagar a minha escola, foi uma fase muito difícil. Foi mesmo um acto heróico estudar lá.

Tive um professor de que o nome não posso me esquecer: o seu nome é Rodrigues Pinto, era professor de língua portuguesa. Mandou-nos fazer uma redacção sobre o último de dia de férias.

Feita a redação e chegada a hora de entrega dos trabalhos depois de avaliadas, ele foi chamando cada aluno para buscar o seu trabalho e o meu foi último. Confesso que fiquei com medo quando não chamaram-me. Quando terminou a entrega aos outros ele disse chamou-me e disse que o meu trabalho foi magnífico. E dali, ele passou a ler a redação em, toda escola. Fiquei muito orgulhosa. Toda escola apontava no pátio por ter feito o melhor trabalho. Isso marcou-me muito e cada vez mais acreditava que um dia ia escrever.

E porque escreve?

L. M. - Escrevo porque me sinto honrada! Escrevo pelo desejo de contar e de descarregar os meus segredos.

E o primeiro livro… “Ninguém Matou Suhura”, como é que surge?

L. M. - Escrevi o primeiro livro porque tinha uma carga muito grande sobre o colonialismo em Moçambique. Eu tinha raiva do colonialismo. Muita raiva. Tinha a raiva da injustiça. Eu nunca me conformava por tudo que via: massacres sofrimento, opressão isso incomodava-me.

Mesmo quando casei-me, embora com um branco, ele porque também não suportava ver a injustiça disse que tínhamos que sair do país. Foi assim que acabei vivendo no Brasil por muito tempo.

Escrevi o Ninguém Matou Suhura porque eu queria conversar com alguém sobre o que vi e vivi durante aquele tempo. Tinha que me revelar.

As outras obras «Os olhos da Cobra Verde» e um Romance, intitulado «Neighbours» não fogem muito do quem caracterizou a primeira…

L. M. - O segundo livro também se baseou em factos reais. Da morte de uma amiga que era muito boa gente. Ela tinha muita vida, se não mesmo ela era a própria vida. Isso foi muito doloroso e marcou-me. Eu tinha que escrever. O terceiro também foi mais uma revelação.

Vivemos uma sociedade de negócios o “Business Society”, onde o que vale é o medíocre e não desenvolvimento. Tem em vista mais uma obra?

L. M. - Estou a preparar mais um livro, talvez seja o último. Ele vai retratar o que chamo de “Business Society” (sociedade de negócios). O título poderá ser “Fantoches de Aços”.

Nesta obra vai sair muitas verdades. É mais uma revelação de algo que me vai na alma, sobre os dias que vivemos. Onde as pessoas são insensíveis pelos negócios. Tudo eles fazem pelo dinheiro. Pobres que sofrem e só discursos políticos vazios. Só para fazer negócios. É o Business Society a que me refiro. Essa sociedade não é a verdadeira moçambicanidade, isso nos tira a identidade e aconselho-vos a sair dela. São Fantoches porque são; e são de Aço porque não tem piedade. No Business Society o que vale é o medíocre e não o desenvolvimento.

Como é que se define Lília Momplé?

L. M. - Essa é uma pergunta muito difícil. Acho que não sei me definir, mas vou tentar. Penso que sou uma pessoa coerente, que, por exemplo, não se pode adaptar ao Business Society. Porque não suporto injustiça. Sou coerente.

A caminho dos 80 e com percursos brilhantes na sua vida literária, pensa ainda em fazer alguma coisa na literatura, para além do livro que vai lançar em breve?

L. M. - Essa também é muito difícil de responder. Engraçado que nunca pensei nisso. Sinceramente que não. Mas é assim… Não escrevo porque quer fazer alguma coisa na literatura, aliás eu nunca quis fazer nada na literatura. Quando não tenho nada para dizer não escrevo. Então não quero fazer nada na literatura, por isso não falta nada para fazer. Eu escrevo porque tenho que escrever.

Qual é o segredo que quer deixar para uma nova geração de escritores?

L. M. - Que amem a literatura antes de querer ser escritor, porque só assim poderão ser os verdadeiros escritores. Eu não acredito em quem quer ser escritor, pois escrever tem que ser por força de alguma coisa. Uma emoção forte. Você é um enviado especial de algum sentimento. Mas se os jovens amarem a literatura, farão algo por ela e nessa convivência, podem ser escritores e bons escritores. Que sinceramente o nosso Moçambique precisa.

Tem mais alguma coisa a dizer?

L. M. - Quero agradecer a oportunidade que o vosso movimento (Movimento Literário Kuphaluxa) me deu de estar aqui em conversa com os jovens e devo dizer que vos admiro. Realmente vocês são amantes da literatura e esta conversa que aqui tivemos é muito significativa para mim. Já passei por mais de 20 países para falar da literatura de mim e das minhas obras, mas a emoção que estar a falar com os verdadeiros mensageiros da literatura e que são jovens muito novos do meu país, que mostram o verdadeiro interesse pelas artes, isso me deixa muito feliz. Obrigado Kuphaluxa.

E mais… se querem realmente crescer nesta área, leiam. Leiam muito. Assim o podem ser de facto uma nova geração de escritores e eu tenho fé, que daqui a mais quatro anos ou menos. Um de vocês vai aparecer no sucesso e lembrar-se das minhas palavras.

Continuem assim. Convidem mais escritores para estes encontros, que não seja apenas a Lília Momplé, os jovens precisam destes momentos e eu sempre estarei ao vosso dispor, para qualquer momento destes e outros.
* * *

Breve biografia

Lília Maria Clara Carriére Momplé, nascida a 19 de Março de 1935 na Ilha de Moçambique, província de Nampula, a norte de Moçambique, é Assistente Social de profissão, com licenciatura em Serviços Sociais.

Lília Momplé, foi professora de Inglês e Língua Portuguesa na Escola Secundária de Ilha de Moçambique e diretora da mesma escola entre 1970 e 1981.

Trabalhou como assistente social em Lisboa, Lourenço Marques (actual cidade de Maputo) e em São Paulo, Brasil, em 1960 a 1970.

Em outras missões, Lília Momplé foi, de 1992 a 1998, diretora do Fundo para o Desenvolvimento Artístico e Cultural de Moçambique (FUNDAC) e de 2001 a 2005, membro do Conselho Executivo da UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura.

No seu percurso literário, dirigiu a Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO) de 1991 a 2001, como secretária geral, de seguida ficou presidente da Mesa da Assembleia-geral da mesma agremiação.

O seu primeiro livro veio ao público em 1988, editado pela AEMO, com o título «Ninguém Matou Suhura», uma coletânea de Contos; «Neighbours» romance publicado em 1995 e «Os Olhos da Cobra Verde» obra de contos publicada em 1997, também sob a chancela da AEMO.

Ainda na arte, a escritora publicou o «Muhipiti-Alima» um vídeo de drama, editado pela PROMARTE em 1997.

As obras da Lília Momplé, já foram editadas em Inglês, Italiano, Francês e Alemão.

Neste momento, a escritora faz parte do «Internacional Who´s Who of Authores and Writeres» e desde 1997 é membro de «Honorary Fellow in Literature» da universidade IOWA dos Estados Unidos da América (EUA).

Prêmios

Em termos de prêmios, Lília Momplé, conquistou o primeiro prêmio do concurso literário comemorativo da cidade Maputo, intitulado Prêmio 10 de Novembro com o conto «Caniço» em 1987.

Melhor vídeo-drama moçambicano em 1998, com o vídeo «Muhipiti-Alima».
Foi nomeada o Caine Prize for Africaan Writing, edição de 2001. fez parte dos cinco nomeados entre 120 escritores de 28 países.

NOTA: Este foi o resumo da conversa que jovens amantes da literatura tiveram com a escritora Lília Momplé, na galeria do Centro Cultural Brasil – Moçambique em Maputo e não se trata de uma entrevista conduzida por uma pessoa.

Fonte
Colaboração de Amosse Mucavele Movimento Literário Kuphaluxa

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 213)


Uma Trova Nacional

Apesar desta certeza
de que somos tão iguais,
alma gêmea, que tristeza,
chegaste tarde demais!...
–ERCY Mª MARQUES DE FARIA/SP–

Uma Trova Potiguar


Sem saber o que fazer,
a prostituta, perdida,
vende prazer p’ra viver,
mesmo sem prazer na vida...!
–MANOEL CAVALCANTE/RN–

Uma Trova Premiada

2007 - UBT-Natal/RN

Tema: TEMPO - M/H.

Chora, entre as pedras, um rio,
seu pranto cheio de mágoas
porque o tempo, em desvario,
foi manchando as suas águas...
–MARINA BRUNA/SP–

...E Suas Trovas Ficaram
O receio que me alcança,
ao ver inverno chegar,
é que, perdida a esperança,
eu já nem possa sonhar!...
–MARIA DOLORES PAIXÃO/MG–

Simplesmente Poesia

MOTE:
“É mais feliz a velhice
Que é por alguém amparada.”

GLOSA:
Distante da meninice,
Nos remansos da saudade,
Havendo fraternidade
É mais feliz a velhice;
Há mais encanto e meiguice
Sobre a fronte esbranquiçada...
Mais branda se torna a estrada
Que é pisada com amor,
Como dói menos a dor
Que é por alguém amparada.
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Estrofe do Dia

Eu que sempre fui robusto,
forte que nem um lajedo,
de nada sentia medo,
hoje com tudo me assusto;
até pra dormir eu custo,
achando a noite comprida,
a alma desiludida
e o corpo cheio de dor;
todo dia muda a cor
do quadro da minha vida...
–ZÉ DE CAZUZA/PB–

Soneto do Dia

–DOROTHY JANSSON MORETTI/SP–
Um Olhar sobre Sorocaba

Em pleno ciclo de tantas tropeadas,
quer de mulas, ou quer também de bois,
Sorocaba levanta as mãos armadas...
Mil oitocentos e quarenta e dois.

Passa o século. A poeira das estradas
vai-se apagando e vão florir, depois,
as lindas laranjeiras carregadas…
Mil novecentos e quarenta e dois.

Os ciclos vão-se de outros distanciando...
Do bandeirante ao têxtil se afastando,
a indústria abre, imponente, o seu roteiro.

E hoje, aos ventos do tempo e seus avanços,
Sorocaba levanta os braços mansos
e torna irmãos... filhos do mundo inteiro.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

José Faria Nunes (Zezinho e o Pé do Frango)


Dona Maria está apressada, tem que terminar a prenda para o leilão.

Zezinho, o menor dos sete filhos, quer um pedaço do frango cheiroso que deixa água na boca.

Dona Maria não pode satisfazer os desejos do filho, o frango é para o leilão, é para a Igreja, é para o Santo.

Zezinho não entende disso, fica confuso, não compreende porque a Igreja, o Santo, o leilão são mais importantes que ele. Ele, coitado, como os irmãos maiores, nem se recorda mais do sabor de um bom pedaço de frango. Os pais são pobres, não podem comprar guloseimas gostosas, aquele frango é da Igreja.

- Igreja come frango? - indaga Zezinho a si mesmo, sabendo que não terá resposta. Ah! Igreja é o povo de Deus. Não foi isso que o padre falou na missa antes do leilão de ontem?

Zezinho duvida se é filho de Deus, mas quer um pedaço do frango. Não entende que sua mãe apenas obedece à tradição religiosa. Seu nome apareceu no anúncio das novenárias, fica feio se não colocar a prenda.

E o novenário?

Também deve ter feito suas concessões para sobrar-lhe o dinheiro para o leilão, para ouvir dou-lhe uma, duas e três, para o leiloeiro humilhar o rival, mandar fazer vaquinha. O dinheiro da prenda será para ajudar a construir a Casa de Deus de sua vila.

Zezinho não entende. Acha que matar sua fome é mais importante que levar a prenda para a Igreja. Lá tem padre que mora no centro da cidade, que tem casa com telefone, tem janela com tela para não entrar mosquito.

Isso Zezinho sabe porque o irmão mais velho lhe contou.

Zezinho não entende por que levar prenda para dar dinheiro para padre que tem carro, comida boa, muita coisa boa. Padre que até vai para o estrangeiro de avião ou de navio. Não foi o que o padre falou ontem no final da missa e a platéia até bateu palmas? Sabia que a platéia da igreja se chama de fiéis? Quem falou foi seu irmão mais velho. Foi também o irmão que questionou se as pessoas da igreja tem esse nome porque são fiéis em dar prenda e comprar prenda para dar dinheiro para a igreja. Ou é por que dão dinheiro na coleta da missa? Mas se nem todo mundo põe prenda e compra prenda no leilão e nem dão dinheiro na coleta, estes não são fiéis? A pergunta fica sem resposta.

Zezinho quer saber também se as pessoas de outras igrejas são do mesmo jeito. Será que as mães de lá deixam de dar um pedaço de frango para os filhos para levar para o leilão da festa da igreja? As outras igrejas também fazem festas com leilões de prenda? Fazem coleta que nem na igreja da vila? Lá os chefes são tratados pela igreja ou trabalham para se sustentarem, para comprarem seus carros, construírem suas casas? Zezinho quer compreender muita coisa, mas não pode. É ainda muito pequeno. Os irmãos mais velhos explicam alguma coisa. Zico, o maior deles, até já foi sozinho ao centro da cidade. Passou em frente à casa do padre. Viu muita coisa bonita. Ele disse que um dia vai levar Zezinho, que só anda sozinho na vila. A cidade fica do outro lado do córrego e tem uma rodovia para atravessar. Os pais dizem que é perigoso criança atravessar a rodovia sem gente grande acompanhando. O irmão mais velho é corajoso, atravessa lá sozinho, correndo para não ser atropelado pelos carros, carretas, o diabo a quatro. A mãe de Zezinho disse que quando mudaram para a vila não existia asfalto na rodovia, era tudo muito tranqüilo. Foi só asfaltar que virou um terém esquisito. Um Deus nos acuda. Zezinho fica pensando no dia em que crescer. Vai ser pedreiro como o pai. Só que diferente. Se é que vai ser pedreiro vai fazer uma casa para ele. Uma também para os pais e para os irmãos.

Coitado do Zezinho. Não entende por que sua casa é pobre, não tem janela, é de pau-a-pique e chão batido. E o pior é que o pai tem que pagar aluguel. Por que o pai não faz paredes de tijolos, se é pedreiro?

Zezinho pergunta demais, ainda que para si próprio. A mãe dele acha aquilo esquisito, tem hora que até parece gente grande. A mãe não sabe que ele é superdotado, tem inteligência superior à média dos demais meninos de sua idade. Tem hora que ele pergunta coisa que ela não sabe responder. As mulheres da tal Pastoral da Criança da Igreja Católica diziam que tudo iria mudar na vida da família a partir de quando começasse a usar aqueles produtos da multimistura, folha de mandioca, casca de ovo, coisas que sempre jogava fora e que agora sabe que faz bem à saúde. Até as constantes dores de barriga, as desidratações, se curaram com um simples soro caseiro: uma pitada de sal e duas medidas de açúcar em um copo d'água.

Zezinho, ao se lembrar do padre estrangeiro, que viaja para visitar parentes na Europa, pergunta a si próprio e ao futuro: será que um dia vai entrar num avião, ou num navio?

Aviões passam diariamente por cima da casa de Zezinho. Mas navio, nunca viu, a não ser em sonho ou em alguma figura.

Nem na escola, talvez, Zezinho poderá entrar. Lá estudam crianças de pais que tem casa igual à do padre, tem carro igual ao do padre, talvez até mais bonito, como o do dono do armazém. Sabia que pastor de igreja também tem carro? Tem casa boa? Será que é dele ou é da igreja? Mas se tudo é da igreja e quem usa é o chefe da igreja, como é o caso da casa do padre e do carro do padre, quer dizer que igreja é o chefe?

Zezinho fica intrigado porque a mãe dá frango para a igreja mas nunca pôde usar nada da igreja. Quando vai à casa do padre só chega até a cozinha, pela porta dos fundos. Nem vai até a sala que tem as coisas modernas, como disse a professora de um amiguinho do bairro. Será que os pobres das outras igrejas se beneficiam do carro da igreja, entram na casa do pastor, comem frango com o pastor, vê TV na casa do pastor, escuta música ou vê filme na casa do pastor?

A mãe de Zezinho nunca fez isso na casa do padre. Aliás, o padre está sempre com pressa, tem pouco tempo para conversar. Até parece político depois que passa a eleição. Não tem tempo para nada.

Zezinho se lembra de que, nas campanhas das últimas eleições, até candidato a vereador visitou o barraco dele. A mãe aprendeu a desenhar o nome e fez o título de eleitor. Foi bem tratada pelo candidato, que até deu um abraço no Zezinho, sem se preocupar com a sujeira em que ele estava. Depois da eleição? Tiau e bênção.

O menino fica intrigado porque os meninos da escola usam roupas bonitas. Ele não entende porque em sua casa todos usam roupas ruins, com remendos e nem comem carne. Não sabe porque vem cobrador à porta de seu barraco e nem porque o armazém não quer mais vender fiado para seu pai.

Zezinho não sabe porque o seu pai estava enxugando uma lágrima que lhe escorria no rosto.

Coitado do Zezinho. Sua mãe vai levar a prenda para o leilão. Para consolar o garoto, a mãe dá-lhe o pé do frango.

Os filhos mais velhos já têm consciência da miséria.

Fonte:
Texto enviado pelo autor

Imagem = http://www.alimentacaoecultura.com.br

Editorial Paco (Publique seu Livro de Poesias)


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Fonte:
Colaboração da Paco Editorial .

Folclore Português = Fernanda Frazão (Lenda da Fundação de Santarém)


Santarém, à qual já se chamou «Varanda do Ribatejo», é uma cidade de antiquíssimo povoamento. Crê-se que a sua fundação remonta a uns dez séculos antes da era cristã.
Segundo a lenda , o seu nome terá sido, de início, Esca-Abidis.

Nos meados do século X antes de Cristo foi tentada a sua conquista por Fenícios e Gregos; quatro séculos depois, foi a vez de os Cartagineses tentarem, igualmente sem resultado, o assalto ao pequeno burgo. No início do século IV antes da era cristã, povos de raça céltica atacaram a cidadela e depois de longo assédio acabaram por conseguir a sua conquista. Juntaram-se então aos autóctones, lusitanos ao que consta, e, mediante uma política de alianças, acabaram sendo integrados e assimilados pela população.

Quando os Romanos invadiram a Península, Santarém, pela sua situação estratégica, foi um dos pontos no qual incidiu o desejo de conquista dos invasores.

Ao fim de longos esforços, a praça foi conquistada e quando Júlio César pacificou a terra ibérica foi-lhe dado o nome de Proesidium Jullium. No início da era cristã, Octávio mudou-lhe o nome para Scalabicastrum, e fez dela sede de uma das províncias em que dividiu a Península.

Desde sempre considerada uma das povoações mais importantes da sua região, não só pela situação quase inexpugnável das suas muralhas, como pela riqueza dos campos circundantes, Santarém veio a ser presa cobiçada pelos povos bárbaros que invadiram o Império Romano. Assim, os Alanos e os Vândalos chamaram-lhe Escalabis, os Suevos, mais tarde, Calabicastrum, e os Visigodos mudaram-lhe o nome para Santa Irene ou Santa Helena, em memória a uma virgem sacrificada cujo corpo foi encontrado a boiar nas águas do Tejo, frente à cidade.

Anos mais tarde, quando da invasão árabe da Península, a cidade caiu nas mãos dos Mouros, que lhe chamaram Chantarin, Chantirein ou Xantarin. Com a reconquista cristã, Santarém, umas vezes moura, outras cristã, ao fim de muitos anos de cobiça e luta, acabou por ser reconquistada para os cristãos, definitivamente, por Afonso Henriques, que a tomou de assalto em 13 de Março de 1147.

A LENDA

Segundo conta a lenda, em 1215 a. C, reinava sobre a próspera Lusitânia um príncipe chamado Gergoris ou Gorgoris. Chamavam a este homem «o Melícola», porque ensinara os seus a extrair o mel dos favos das abelhas.

Certo dia, Ulisses de Ítaca, que navegava pelos mares na sua penosa Odisséia de uma década, chegou à foz do Tejo com alguns navios. Achando a amenidade e o encanto do país ideais para o seu descanso, decidiu fixar-se na região, a fim de recuperar as forças perdidas e aguardar a melhor ocasião de tornar à Grécia.

Hóspede de Gorgoris, Ulisses, como visitante de honra, tinha permissão de vaguear por onde fosse o seu desejo. Deste modo, acabou conhecendo a bela Calipso, filha única do seu hospedeiro. E do longo e descuidado convívio dos dois jovens foi nascendo a paixão. Segundo conta a lenda, destes amores com Ulisses teve Calipso um menino, ao qual chamou Ábidis.

Gorgoris, mal soube do caso, ficou furioso e procurou Ulisses para o castigar. Este, porém, avisado da fúria de «o Melícola», juntara à pressa os companheiros e zarpara rápido, rumo à Ítaca.

Entretanto, o príncipe lusitano, incapacitado de exercer o seu legítimo desejo de vingança, querendo apagar os traços da passagem do grego e para que não ficasse memória do acto impensado de Calipso, mandou que encerrassem a criança num cesto e a lançassem ao Tejo. O rio encarregar-se-ia de destruir aquele vestígio dos amores de sua filha e a justiça far-se-ia!

A maré subia na hora em que o cesto foi deixado sobre as águas e, em vez de a criança ser atirada para a foz pela corrente, foi empurrada rio acima até encalhar numas brenhas, perto da gruta que servia de covil a uma cerva, ou, segundo outras versões, a uma loba.

O animal, ouvindo o choro da criança, acercou-se do cesto, farejou e, vendo que era apenas uma cria esfomeada, amamentou-a e criou-a.

O menino foi crescendo até que se fez homem. Alimentava-se de frutos silvestres e de peixe do rio, e à noite, quando lhe chegava o sono, embrenhava-se em qualquer gruta juntamente com a fera que a habitasse, porque de todas era familiar. Durante o dia corria pelas brenhas, tomava banho no rio e brincava com os animais selvagens, aprendendo a viver naqueles ermos.

Certa manhã, caçadores lusitanos embrenharam-se mais nos silvados da margem do Tejo e, de súbito, viram aquele rapaz saltando valados como se fora veado. Acharam estranho o espetáculo insólito daquele homem vivendo só, por ali e, cheios de curiosidade, decidiram tentar capturá-lo. Armaram-lhe uma cilada com redes e esperaram calmamente a sua passagem. Desprevenido, Abidis acabou por ser capturado, apesar da resistência feroz que opôs aos caçadores, e levado à presença de uma mulher: Calipso, sua mãe.

Esta, depois do primeiro espanto, observou atentamente o homem selvagem que lhe traziam e acabou por descobrir, por uma cicatriz que lhe ficara de nascença, que aquele era o seu filho abandonado. Hesitou a princesa no que fazer, recordando a fúria de Gorgoris há vinte anos atrás.

A notícia, porém, chegou ao velho «Melícola» antes que Calipso decidisse o que fazer, pois os próprios caçadores se encarregaram de a espalhar pela Lusitânia. Mas haviam passado vinte longos anos sobre aquele dia em que Gorgoris mandara deitar a criança ao rio. Velho de setenta anos e sem herdeiro varão, o príncipe ponderou no que fazer do rapaz e acabou por se decidir a educá-lo como seu sucessor.

Segundo conta a lenda, em boa hora «o Melícola» educou Abidis, porque por sua morte o jovem foi rei dos Lusitanos e ficou nos anais do seu povo como rei justo, sábio e humano. E não esquecendo os acontecimentos ligados ao seu nascimento, decidiu construir naquele local inculto e silvestre uma cidade que lembrasse para sempre os seus primeiros vinte anos de vida. E à bela povoação que mandou construir chamou Esca-Abidis, que significa manjar do príncipe Abidis.
–––––-
Voce pode ouvir esta lenda e várias outras na voz de Luiz Gaspar, no Estúdio Raposa, http://www.estudioraposa.com/index.php/category/historias/

Fonte:
Estudio Raposa

IV Festival de Poesia Falada do Rio de Janeiro (Prêmio Francisco Igreja)


A APPERJ - Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro convida todos os poetas a participarem do IV FESTIVAL DE POESIA FALADA DO RIO DE JANEIRO - PRÊMIO FRANCISCO IGREJA.

O tema do concurso é livre, sendo aceitos todos os estilos poéticos. Poderão participar poetas residentes no país, de qualquer nacionalidade, exceto os diretores da APPERJ.

Cada concorrente poderá enviar até três poemas inéditos, em língua portuguesa, digitados, de no máximo 30 linhas (espaços inclusive), em 3 (três) vias de cada, acompanhados da taxa de inscrição: 10 reais por poema (cópia do depósito feito em nome de APPERJ, Banco Real/Santander, ag. 0894, cc 2017863-5, até o dia 31 de julho de 2011, para:

IV Festival de Poesia Falada do Rio de Janeiro - Prêmio Francisco Igreja
Rua Pereira da Silva, 586/304,
Cep: 22221-140, Laranjeiras, Rio de Janeiro/RJ,
valendo como data de entrega o carimbo do correio.

O trabalho deverá ser apresentado com pseudônimo e os dados do autor deverão ser enviados em envelope lacrado, digitado (não serão aceitos poemas manuscritos), constando de: nome completo do autor; nome literário; pseudônimo; título da obra; endereço completo - CEP inclusive; telefone para contato - indicar DDD; e-mail. O envelope lacrado com os dados do autor deve ser enviado dentro do envelope maior contendo o(s) poema(s) para o concurso. Colocar como remetente, o nome Francisco Igreja e o mesmo endereço do destinatário. A identificação indevida do poeta, assim como o não atendimento a qualquer item do regulamento, acarretará na desclassificação do mesmo.

Os poemas serão julgados por literatos reconhecidamente idôneos da comunidade poética brasileira, cuja decisão será irrevogável e irrecorrível. Serão considerados na decisão: a correção da linguagem, a beleza das imagens poéticas e a originalidade com que o tema for tratado.

Premiação:

Categoria Única - serão selecionados os 20 melhores textos, cujos autores receberão certificado de Menção Honrosa e prêmios no valor de mil reais, assim distribuídos: 1° lugar: R$400,00; 2° lugar: R$300,00; 3° lugar: R$200,00 e melhor intérprete: R$100,00.

O poeta 1° lugar em texto receberá o Prêmio Francisco Igreja, que constará de: além do prêmio em dinheiro; publicação sem ônus na coletânea PERFIL e medalha Francisco Igreja.

Ao apperjiano mais bem classificado dentre todos os concorrentes selecionados ou não (e em dia com a Tesouraria da associação), será oferecido certificado, o Troféu Francisco Igreja, sendo seu poema publicado graciosamente – sem ônus, na Coletânea PERFIL.

A seleção dos poemas será feita por associados, especialmente, convidados para este mister. A classificação dos poemas selecionados será feita por júri presente ao evento que, também, considerará a oralidade na seleção do melhor intérprete (tempo máximo de apresentação de 10 minutos, a ultrapassagem do tempo estimado acarretará em desclassificação). Concorrerão todos os intérpretes, autores ou não. Os poemas selecionados para a cerimônia de premiação serão publicados nos sites da APPERJ e da OFICINA Editores (apoio cultural).

O encerramento do concurso acontecerá dia 16 de setembro de 2011 (6ª feira), a partir das 17h, no Auditório Machado de Assis, da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Pedimos a todos os concorrentes, que indiquem a intenção de comparecer ao encerramento ou o nome de um poeta carioca que possa representá-lo. A Diretoria da APPERJ garante, antecipadamente, a apresentação dos poemas selecionados, durante a festa de encerramento.

Outras informações pelos tel: Marcia Agrau (21) 2265-3934 / Sérgio Gerônimo (21) 3328-4863.

Apoio cultural: www.oficinaeditores.com.br

Fonte:
Texto enviado por APPERJ

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 212)

Devido a manutenção do blogger, as postagens de ontem estão sendo postadas em conjunto com as de hoje
Uma Trova Nacional

No oceano do meu peito,
há um grande mar de paixão,
que eu chego a ficar sem jeito
com as ondas que vêm e vão!
–DELCY CANALLES/RS–

Uma Trova Potiguar

Na praia, a noite, o luar
tranquilo no céu passeia...
E nós dois à beira mar,
brincamos de amor na areia!
–MARIA ANTONIETA BITTENCOURT/RN–

Uma Trova Premiada

2009 - Ribeirão Preto/2009
Tema: Lápis - 5º Lugar

O lápis tem cores lindas
Arco-íris que vem do além
Como saudades infindas
Que nos fazem muito bem.
GUILHERME DE ALMEIDA CAMARGO/SP
7ª A – EMEF “Professor Anísio Teixeira”

...E Suas Trovas Ficaram

Ó trovas simples quadrinhas
que têm sempre um quê de novo...
- Como podem quatro linhas
trazer toda a alma de um povo?!
–LUIZ OTÁVIO/RJ–

Simplesmente Poesia

–CAVALCANTI BARROS/AL–
Eu Sou a Vida

Não se enganem, sou a Vida.
Magicamente contida
num corpo que Deus me deu.
Tudo simples, sem mistério:
corpo morre. Cemitério.
Vida não morre. Sou eu.

Estrofe do Dia

O que o verso é para mim,
é difícil de dizer.
O céu? O mar? Um jardim?
Tudo isso pode ser.
Pode ser um vaga-lume,
a flor que brota do estrume,
ou um pesadelo medonho,
e pode até ser tristeza,
se eu vir pela correnteza,
descer meu último sonho.
–RAIMUNDO DE S. BRASIL/BA–

Soneto do Dia

–CRUZ E SOUSA/SC–
Madona na Tristeza.

Quando te escuto e te olho reverente
e sinto a tua graça triste e bela
de ave medrosa, tímida, singela,
fico a cismar enternecidamente.

Tua voz, teu olhar, teu ar dolente
toda a delicadeza ideal revela
e de sonhos e lágrimas estrela
o meu ser comovido e penitente.

Com que mágoa te adoro e te contemplo,
à da Piedade soberano exemplo,
flor divina e secreta da Beleza!

Os meus soluços enchem os espaços,
quando te aperto nos estreitos braços,
solitária madona da Tristeza!

Fonte:
Texto enviado pelo autor

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Sérgio Napp (Onde se Esconde a Poesia?)


I

esta pedra em minha mão
pedaço de um pedaço de outra pedra
não uma pedra qualquer

só ela
entre outras
em minha mão

também eu
pedaço de um pedaço de outros tantos
não me sinto qualquer
em tuas mãos

II

porque sabes a fogo
trago a noite
e seus ardores

porque as labaredas se armam
na lucidez do gozo
destroem-se cidadelas
sucumbimos

porque te alimenta a febre
teu ventre
incendeia
me


III

sento para espiar a lua
em uma dessas cadeiras simples
de palha e madeira clara
sem braços
e ela vem

clara
enorme
plena
colorida

a lua circunda
os vultos
a lua indulta
as tumbas
a lua inunda
os ventres
a lua

IV

os pardais não valem
tanto quanto o
homem
no entanto proclamam
seus cantos
no alto dos telhados

teus cabelos estão contados
homem
fio a fio
os pardais no entanto
não caem ao chão sem o consentimento
Dele

na escuridão revelas
homem
queixas silenciosas
os pardais por sua vez
colorem o coração das pessoas

ensombreces de medo
homem
bebem o orvalho da noite
os pardais

V

na casa vazia
o que menos se ouve
é o silêncio

o vento beija as canecas
de alumínio
e elas cantam

um gato mia
pelos corredores
papéis amarelecidos
escorregam pelo piso

o sol aquece
a panela-de-ferro
sobre o fogão à lenha

neste momento uma rola pousa
no alpendre

enquanto na sala
o chapéu sobre a poltrona
conversa com o retrato do homem
na parede

VI

não se beija o morto
ao morto se agradece
pela vida
cerca de pedra
subitamente interrompida

não se lamenta o morto
do morto se registram
as virtudes
e o inúmeros vícios

não se culpa o morto
ao morto se perdoa
o que ficou nas entrelinhas
e os silêncios

não se julga o morto
do morto guarda-se
o último registro
carteira de identidade
um anel de pedras falsas

não se purga o morto
o morto é quadro
na parede das lembranças
saudade
que acontece em repentes

do morto não te despeças
o morto é tempo
que não te abandona

VII

demasiada luz
nessa manhã
e os olhos poucos

eu sou apenas
Adeuses

Jussara Gabin (Poesias Avulsas)

Corredeira. Pintura de R. O. Peixoto
TODO DIA

TODO O DIA,
no mesmo compasso,
toco minha vida.
Curo as feridas
e busco um espaço.
Não guardo rancor,
nem mágoa de amor,
tristeza ou cansaço.
Tenho na algibeira
pedrinhas preciosas,
nas mãos, um rosa,
colhida no jardim.
Sou peça importante
neste mundo inconstante
que escolheram pra mim.

SE VOCÊ CHEGAR DE REPENTE

e não me encontrar,
é porque Eu me encontrei
e, finalmente, soltei minhas asas.
Voei.
ONDE MORO

a beleza tem muitas formas,
o som faz muitas melodias,
o vento passsa faceiro,
o gavião voa ligeiro,
tem festa todos os dias.
A água canta lá embaixo,
o galho dança brejeiro,
e do alto do pinheiro,
salta a pinha com alegria.
Cá onde eu moro,
tristeza não faz parada
e tem tudo o que eu preciso,
dispensando o dinheiro.
Não é o céu por inteiro,
mas é um pedaço do paraiso.
___________________________________________
Jussara Gabin escreve em Colônia Faria, na cidade de Colombo, Pr.

Fonte:
Boletim Guatá

A. A. de Assis (A Moça do Jipe)

Primeiro jipe montado
Seu Nando vivia ali pacato e bom, baixinho, redondo, discreta calva, solteirão encalhado, atendendo a aldeia na vendinha de secos e molhados. Se deu que porém a moça passante brecou o jipe lhe passando um susto, não muito pelo de-repente do impacto, mas pela explosão da imagem. Aquela coisa louca, aquele jeitão de rir. Seu Nando tremeu total.

Queria a moça informação sobre a estrada que levava a uma praia próxima, onde haveria reunião de surfistas e de agitadas meninas que nem ela, a que parecendo vir das nuvens caíra na porta dele.

– Tem de voltar até o trevo e repegar o rumo.

– Será que acerto?

– Se quiser vou junto. Posso mostrar o caminho. Preciso mesmo ir lá, volto de ônibus. Me dá carona?

– Sobe aí, tiozão!

Zuuuuuuuuuuuuummmmmmmm... Tremeu de novo Seu Nando. Agora sim de medo. Moça maluca, 140 por hora naquele jipe trotão. Só não pediu pra descer por encabulação. Olhando as pernas dela, se distraiu. De agradecimento, ela deu-lhe na chegada um beijo. Na boca. Seu Nando ensandeceu de vez. Retribuiu grudando a moça, que todavia gostou. Rolaram na areia, rolaram no mar, a noite chegou.

Na aldeia, no dia seguinte, o bochicho. Sumiu Seu Nando. Os vizinhos estranharam aquela coisa de ele na véspera haver fechado a venda cedo. Uns, que o viram entrar no jipe da moça, se espantaram mais ainda. Agora já era meio-dia, e de Seu Nando nada. Seria acidente? Seria acaso aquela moça alguma parenta dele? Um galho dele? Seria?...

Mandaram o aviso a um compadre que vivia em cidade próxima, único mais-íntimo que se sabia dele. Comunicaram às autoridades, botaram notícia no rádio, espalharam de boca em boca o misterioso evento.

Ele tão bom homem, nunca perturbara ninguém, vendeiro prestativo. Chegaram a supor que a moça do jipe fosse extraterrestre.

Quase um mês mais tarde, já davam Seu Nando por inencontrável: afogado, engolido por tubarão, levado para um planeta distante... Até que noutro de-repente reapareceu ele, a barba crescida, a roupa em trapos, a cara de quem andara metido em muito complicada encrenca.

– Depois eu conto o que aconteceu. Agora quero é tomar um banho, comer um bife enorme, dormir umas 24 horas. Avisem por aí que estou vivo.

Geral curiosidade, só satisfeita no outro dia, com a presença de repórteres, fotógrafos, e os ouvidos atentos da aldeia inteira. Seu Nando tinha ido com a tal garota litoral acima, até a Bahia. Nem chegara a saber o nome dela, dizia apenas “Coisinha”, o resto era o fascínio.

– Voltei de carona num caminhão, ajudando a carregar-descarregar em troca da comida. Desci no trevo e de lá vim caminhando.

Os cartões de crédito que havia levado, duas semanas depois já acusavam ultrapassagem de limite. Foi a grana acabar e a moça sumir, sem ele imaginar para que destino nem se ela era gente mesmo, talvez fosse irreal. Sabia só que nas alegrias era mulher ao máximo.

Sorte dele que o gerente do banco entendeu a história, refez-lhe o crédito. E o bom homem se reinstalou atrás do balcão, de onde oito meses passados ouviu outra freada.

– Olhe aqui, tiozão! Trouxe pra você a sua obra.

Ela desceu do jipe mostrando a barriga prenha. Voltara para ter o bebê onde ele começara a ser feito. Seu Nando acolheu-a, guloso dela, pouco se importava se a criança era sua ou não. Pagou as despesas do parto, do berço, das roupinhas.

Porém cadê a “Coisinha”?... Ninguém sabe, ninguém viu. Do jeito que rechegou, de novo magicamente sumiu.

Criou-se a criança engatinhando ali na venda, assistida pela bondade de umas senhoras vizinhas. Ele um homem de tão generoso coração, baixinho, redondo, discreta calva, pela segunda vez abandonado no pique dos seus melhores sonhos.

Se valeu? Ora se...

Fonte:
ASSIS, A. A. De. Vida, verso e prosa. Maringá/PR: EDUEM, 2010.
Imagem = Ao Chiado Brasileiro