terça-feira, 16 de agosto de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 304)


Uma Trova Nacional

Se há caridade nos lábios,
Juntam-se a fé e a esperança.
São três palavras que os sábios,
percebem só nas crianças!
JOSIAS ALCÂNTARA/PR–

Uma Trova Potiguar


Natal é rica de tudo,
tem beleza e esplendor,
Desde a obra de Cascudo
Aos versos do cantador.
–MARCOS MEDEIROS/RN–

Uma Trova Premiada

2000 - UBT-Natal/RN
Tema: DESTINO - M/H

Que não me julguem culpado
por não achar a saída...
Meu destino está traçado,
nos labirintos da vida!
FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE–

Uma Trova de Ademar

Minha mente é qual jazida
onde o verso prolifera...
De poesia eu pinto a vida
com cores da primavera!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Ao partir para a outra vida,
aquilo que mais receio,
é deixar nessa partida,
tanta coisa pelo meio ...
–LUIZ OTÁVIO/RJ–

Simplesmente Poesia

"Angustias D'Alma"
–MARIVA/PB–

Estou pensando
indeciso, inseguro, pensando
qual o trilho da minha vida !!! ???
com as mãos estendidas para o nada
escondendo um grito calado no peito
na solidão de um caminho deserto
com o olhar angustiado no infinito
e a alma perdida nos labirintos da vida.

Estrofe do Dia

Favela, recanto cheio
de casas de papelão,
apitos de camburão
fumaças de tiroteio;
de mãe sem leite no seio,
marido desempregado,
fogão de fogo apagado,
mesa sem ter pão no prato;
a favela é o retrato
de um povo discriminado.
–JOÃO PARAIBANO/PB–

Soneto do Dia

Te Amo
SÁ DE FREITAS/MA

Amo-te tanto...mais que a própria vida,
E te desejo tanto, na certeza,
De que me queres quanto és tão querida,
De que me prendes n'alma o quanto és presa.

Amo-te mais que o amor permite amar-se;
Amo-te além do além que o amor desperta;
Translúcido te amo sem disfarce;
Te amo com a loucura de um poeta.

Amo-te como deve amar quem ama,
E cercado por essa imensa chama,
Do amor que me aprisiona em fortes laços:

Quero que o coração, no amor, se farte;
Quero viver para poder amar-te...
Quando eu morrer, que eu morra nos teus braços.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Concurso de Trovas de Magé (Resultado Final)

Clique sobre cada uma das imagens para ampliar
Fonte:
Colaboração de A. A. de Assis

Ialmar Pio Schneider (Soneto à Lila Ripoll)


- In Memoriam – Nascimento: 12 de agosto de 1905

Quem pode me ajudar nesta tarde sombria,
em que o sol vai partindo e a treva vem chegando,
eu que procuro ter para minha alegria
um raio de esperança ao destino nefando?

Lila Ripoll, poetisa, ela vivia amando
a cidade e seu lago e a noite que descia,
traz-me a tranquilidade e fico meditando
nos versos geniais de serena poesia...

Poemas que compôs em ritmo de ansiedade,
sentindo na tristeza o travo da saudade,
para se comover ao som do seu piano...

Quantas vezes, talvez, tocou sua ternura,
amenizando a dor da mansa desventura,
na pauta musical vinda de um desengano !...

Fontes:
Soneto enviado pelo autor
Montagem da Imagem por José Feldman

Lila Ripoll (Antologia Poética)


CANÇÃO DA CHUVA

Cai uma chuva tão fina
que quase nem molha a gente.
É uma música em surdina
que apenas a alma sente.

Junto meu rosto à vidraça
e olho a rua sem pensar.
Fico em estado de graça,
como quem vai comungar.

Senhora dos mundos vivos,
Nossa Senhora da Vida,
quantos dias negativos
na minha estrada perdida!

Senhora tu não devias
permitir tantos enganos.
Há excesso de alegrias,
e excesso de desenganos.

Por onde andaram meus passos
vi sinais de desalentos.
Vaguei por muitos espaços
e senti todos os ventos.

Ventos do sul, vento norte,
ventos do leste e do oeste,
tão diversos como a sorte
que tu, na vida, nos deste.

Senhora dos mundos vivos,
Nossa Senhora da Vida —
quantos dias negativos
na minha estrada perdida!

CANÇÃO DE AGORA

Ontem meu peito chorava.
Hoje, não.
Também cansa a desventura.
Também o sol gasta o chão.

Estava ontem sozinha,
tendo a meu lado, sombria,
minha própria companhia.
Hoje, não.

Morreu de tanto morrer
a pena que em mim vivia.
Morreu de tanto esperar.
Eu não.

Relógios do tempo andaram
marcando o tempo em meu rosto.
A vida perdeu seu tempo.
Eu não.

Também cansa a desventura.
Também o sol gasta o chão.

CANTIGA DE RODA

"Bota terra no meu lenço,
pra plantá manjericão."
— Ai! versos da minha infância,
meus anos não volverão.

"Atirei um limão verde
por cima da sacristia."
— Ai! vozes que me prenderam
a um passado de alegria!

"Menina, minha menina,
cinturinha de retrós."
— Ai! balcão de nossa loja,
onde andarão meus avós?

"O cravo brigou com a rosa
defronte de uma sacada."
— Ai! cantigas esquecidas,
crianças de mãos trançadas.

"Roda, roda cirandinha,
vamos todos cirandar."
— Ai! prendas da minha infância,
deixem meus olhos chorar!

"Lá vem o sol, vem chegando
redondo como um botão."
— Ai! joguem terra em meu corpo
mas deixem meu coração.

Ai! joguem terra em meu corpo
mas poupem meu coração.

Botem terra no meu corpo
mas plantem manjericão!

NO CASARÃO

Nasci num casarão velho, de esquina,
Escondido entre salsos pensativos.
E foi lá que a minha alma, ainda menina,
Olhando dia e noite os poentes vivos,
Aprendeu a viajar no pensamento.
Eu fui uma criança sem infância.
Senti, desde pequena, esse tormento
Que o sonho traz depois de cada ânsia,
E que é o maior dos males que conheço!
Às vezes, noite alta, eu levantava,
Vestia minha roupa pelo avesso
E saía sozinha (a lua espiava!)
Para olhar as estrelas e os céus altos...
O quintal era um mundo diferente,
Que eu percorria sem temer assaltos.
Meu corpo, que já era um pobre doente,
Tiritava de frio e de emoção
Quando o vento arrepiava os velhos salsos
Que arrastavam os braços pelo chão...
Meia-noite... Fantasmas... Bruxas brancas...
Eu sozinha vagando pelo escuro...
Minha casa fechada com mil trancas,
E as pedras a cair do velho muro...
Quando a lua fugia, já cansada,
Meus passos, silenciosos, apagados,
Voltavam pelas pedras da calçada
Que a nossa casa tinha de um dos lados.
De manhã: os olhares, as perguntas...
(Eu estava tão branca. Tão sem cor.
As olheiras iguais às de defuntas...)
— "Era o vento!" "Era o frio!" "Era o calor!":
A mentira que achava na ocasião...
E de noite, outra vez, às escondidas,
Abandonava o velho casarão...

PRIMAVERA

Setembro entrou pela janela adentro,
com um puro frescor de primavera.
Inunda-se de luz toda a paisagem
e o meu canto transborda à tua espera.

A doçura da tarde é uma carícia.
Entreabrem-se flores docemente.
As nuvens estão nítidas e imóveis
no céu azul aberto à minha frente.

Há murmúrios e vozes pela rua.
Frescos risos distraem meus ouvidos
e ficam borbulhando como fonte
ou como choque de cristais partidos.

A ternura contida de meu peito
ameaça transbordar dentro da tarde.
como um rio fugindo de seu leito.

Minha pobre ternura ignorada,
minha heróica ternura impressentida,
teima em mostrar-se como a primavera,
pensa em tocar de leve a tua vida.

É difícil ser poeta e ser mulher.
É difícil cantar sem revelar.
Pode o poeta contar o seu segredo,
mas a mulher o seu deve guardar.

A ternura contida de meu peito
ameaça transbordar dentro da tarde,
como um rio fugindo de seu leito.

Fecharei a janela à primavera
e calarei o poeta nesta tarde,
para que o sonho em nada me perturbe,
nem meu canto transborde à tua espera.

Fontes:
RIPOLL, Lila. Antologia poética. Rio de Janeiro: Leitura; Brasília: INL, 1968.
RIPOLL, Lila. Ilha difícil: antologia poética. Sel. e apres. Maria da Glória Bordini. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1987

Lila Ripoll (1905 – 1967)


Nascida a 12 de agosto de 1905 em Quaraí (RS), e falecida a 7 de fevereiro de 1967 em Porto Alegre - vítima do câncer - Lila Ripoll percorre caminhos já conhecidos pela poesia ocidental contemporânea: o confessionalismo, o intimismo, a investigação lírica de temas como a morte e o amor, as reminiscências ligadas à infância e às perdas, e a lírica socialmente engajada. Essa diversidade de vertentes poéticas praticadas pela escritora filia sua obra aos mesmos caminhos percorridos por Cecília Meireles e Mario Quintana.

Formou-se em Piano no Conservatório de Música, atual Instituto de Artes da UFRGS, em Porto Alegre.

Em 1930, ela se tornou professora de Canto Orfeônico no Grupo Escolar Venezuela, hoje Escola Estadual Venezuela, no bairro Medianeira. Foi nesse período que se aproximou de escritores e intelectuais gaúchos como Reinaldo Moura, Manuelito de Ornelas, Dyonélio Machado, Carlos Reverbel e Cyro Martins, os quais compõem a chamada Geração de 30.

Em 1934, com o assassinato de seu primo Waldemar Ripoll, jornalista e membro do Partido Libertador, por ordem de pessoas ligadas a Flores da Cunha, Lila Ripoll decidiu se engajar na luta política e na causa comunista. Ela participou da Frente Intelectual do Partido Comunista e do Sindicato dos Metalúrgicos, de cujo departamento cultural foi diretora.

Em 1938, Ripoll publicou seu livro de estreia, De Mãos Postas, o qual foi bem recebido pela crítica. Três anos depois, veio Céu Vazio, vencedor do Prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras. Em 1944, Lila desposou Alfredo Luís Guedes, também militante político. Com a legalização do Partido Comunista, no ano seguinte, passou a lutar mais ativamente pelas reivindicações dos operários e, simultaneamente, publicou textos na revista A Província de São Pedro.

Em 1949, Lila Ripoll ficou viúva e, mesmo deprimida, continuou a se engajar na militância política e em campanhas pacifistas. Foi candidata a deputada pelo Partido Comunista em 1950, mas não foi eleita.

Em 1951, colaborou na revista Horizonte publicando poetas latino-americanos como Pablo Neruda e Gabriela Mistral. No mesmo ano, publicou Novos Poemas, que lhe outorgou o Prêmio Pablo Neruda da Paz, em Praga, na Tchecoslováquia.

Participou, em 1951, no grupo Partidários da Paz, vinculado ao Conselho Mundial da Paz, com Graciliano Ramos, Dyonelio Machado e Laci Osório.

Em 1954, o longo poema Primeiro de Maio, que tem como tema o massacre ocorrido no Dia do Trabalhador na cidade de Rio Grande, foi publicado. Em 1958, sua única peça teatral, Um Colar de Vidro, foi apresentada no Theatro São Pedro.

Em 1964, logo após o golpe militar, Lila Ripoll foi presa, mas rapidamente libertada em função de sua saúde — sofria de um estado avançado de câncer. Sua última obra poética foi Águas Móveis (1965). Faleceu em Porto Alegre, aos sessenta e um anos, e seu corpo foi enterrado por seus companheiros partidários no Cemitério da Santa Casa de Misericórdia.

Sua obra poética inclui os livros Por quê? (1947), Primeiro de Maio (1954), O Coração Descoberto (1961) e Águas Móveis (1967), entre outros.

A poesia de Lila Ripoll vincula-se à segunda geração do modernismo e é profundamente marcada pelo engajamento político. No entanto, segundo o crítico Cyro Martins, ela "soube preservar o seu lirismo, as suas cismas de poeta autêntico, mesmo quando seu estro serviu a motivos de civismo heróico como no longo poema 'Primeiro de Maio', em que chama pelos nomes os operários que caíram chacinados durante uma passeata dissolvida a bala.”

A poesia de Ripoll nasce entre a perda e a transcendência, onde o amor brota como um tema em excesso, que vem somente a ser compreedido entre os oprimidos. A escritora alcança o clímax de sua produção quando trabalha a condição feminina na sua lírica quando (em suas últimas obras), ao invés da plenitude da existência, admite a degradação das coisas e do outro. Nesse ponto de sua produção poética, tudo desaba, sedimenta-se, fossiliza-se.

Tal como os neo-simbolistas do sul nos anos 30 e 40, Ripoll privilegia o Eu em relação ao mundo. A impossibilidade de uma convivência harmônica com aquilo que é transitório e as perdas que a todos os homens afligem levam o eu-lírico a uma identificação com os despossuídos, em virtude da glorificação das angústias existenciais dos mesmos; assim, ao compartilhar o sofrer, a autora vê-se liberta do ensimesmamento, buscando a compreensão da própria dor.

Em homenagem à poetisa, criou-se em 2005 o Prêmio Lila Ripoll de Poesia, promovido pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. O prêmio é aberto a todas as pessoas que desejarem se expressar sobre temas vinculados às causas sociais e ao gênero.

OBRAS

De mãos postas (poesia). Porto Alegre: Livraria do Globo, 1938.

Céu vazio (poesia). Porto Alegre: Livraria do Globo, 1941 (Obra vencedora do prêmio Olavo Bilac Da Academia Brasileira de Letras).

Por quê? (poesia). Rio de Janeiro: José Olympio, 1947.

Novos poemas (poesia). Porto Alegre: Horizonte, 1951 (Obra vencedora do prêmio Pablo Neruda da Paz).

Primeiro de maio (poesia). Porto Alegre: Horizonte, 1954.

Poemas e canções (poesia). Porto Alegre: Horizonte, 1957.

Um colar de vidro (peça teatral inédita). Porto Alegre: s/ed., 1958.

O coração descoberto (poesia). Rio de Janeiro: Vitória, 1961.

Águas móveis (poesia). Inédito de 1965.

“Poesias”. In: Cadernos do extremo sul. Alegrete: s/ed., 1967.

Antologia poética Rio de Janeiro: Leitura; Instituto Nacional do Livro / MEC, 1968 (edição póstuma organizada por Walmyr Ayala).

Ilha difícil: antologia poética. Porto Alegre: Editora da Universidade / UFRGS, 1987 (organizado por Maria da Glória Bordini).

Fontes:
http://www.astormentas.com/din/biografia.asp?autor=Lila+Ripoll
http://www.amulhernaliteratura.ufsc.br/catalogo/lila_vida.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lila_Ripoll

Cantando ao Som das Setilhas (Debate pela Internet) Parte 7


120 - Zé Lucas
Nestes versos pequeninos,
homenageio a grandeza
das almas superiores,
cheias de brilho e nobreza,
que, tendo amor sem medida,
voam acima da vida,
sem dar espaço à fraqueza.

121 – Gislaine Canales
Eu falo, então, da beleza,
seja do Sul ou do Norte,
ou do Meio do Brasil!
A Poesia é o passaporte
que chega com emoção,
trazendo-lhe a inspiração!
Poeta é cabra –de –sorte!

122 – Prof. Garcia
Neste mundo a minha sorte,
vem das esferas do além,
chega nas asas do vento
de todo canto ela vem;
desperta ao nascer do sol,
dorme na luz do arrebol
mas não pertence a ninguém!

123 – Delcy Canalles
Quisera ser esse alguém,
cuja sorte me fascina,
que, às vezes, chega com a brisa
e tem origem divina,
que aumenta com a luz da aurora
ou com a do Sol que vigora,
em verdadeira rotina!

124 – A. A. de Assis
Que bom que o frio termina...
Volta à rua a minissaia,
volta à rosa o beija-flor,
volta a moçada à gandaia.
É hora de quem puder
pegar a prole e a mulher
e se mandar para a praia!

125 – Arlindo T. Hagen
Como faz falta uma praia
aqui nas Minas Gerais!
Um espaço democrático
feito a praia não há mais
pois, de chinelo e calção,
na areia ou no calçadão,
os homens são mais iguais!

126 – Thalma Tavares
Os homens são mais iguais
quando igualam sentimentos
de paz, de fraternidade,
de saudáveis pensamentos.
Meus mais iguais são poetas
que buscam em suas metas
dar sentido aos seus talentos.

127 - Zé Lucas
O Pai não deixou talentos
iguais para os filhos seus.
Os seres não são iguais
na família dos pigmeus
nem também na dos gigantes,
e, se somos semelhantes,
já damos graças a Deus.

128 - Gislaine Canales
Sem ser cristãos ou ateus,
somos iguais, na verdade;
em nosso mágico mundo
vivemos em liberdade,
com versos, por companhia,
cheios de paz e alegria,
que nos dão felicidade!

129 – Prof . Garcia
Mesmo com tanta maldade
eu alimento a esperança,
de ver um mundo feliz
sabendo que não se alcança;
mas esta fé que me guia,
vem da força da poesia
que trago desde criança.

130 – Delcy Canalles
O bálsamo da esperança
nos vem com a Primavera,
que chega alegre em setembro,
depois de uma fria espera,
pois ela é a estação das flores,
dos perfumes, dos amores,
dos sonhos e da quimera!

131 – A. A. de Assis
Quanto sonho o verso opera...
Da Argentina a Portugal,
de Porto Alegre ao Caribe,
da Venezuela a Natal.
Sonho que une as nossas mãos
numa corrente de irmãos
tecendo um lindo ideal.

132 – Arlindo T. Hagen
A linguagem fraternal
que nos une em acalanto
facilita o entrosamento
com irmãos de qualquer canto.
Deste modo, versejar
é quase como falar
uma espécie de Esperanto!

133 – Thalma Tavares
Bem lembrado! O Esperanto,
por Zamenhof criado,
é uma língua universal
e pode ser comparado
como espécie de linguagem
de toda nossa mensagem
neste debate encantado.

134 - Zé Lucas
Nós damos nosso recado
na linguagem da poesia,
que fala a todos os povos
na mais clara sintonia;
tem a beleza da prece,
e o mundo inteiro conhece
a sua geografia.

135 - Gislaine Canales
É sempre grande a alegria
e infindável a emoção
sentidas ao escrever.
As musas do coração
nos irmanam, é verdade,
e temos, com liberdade,
uma eterna inspiração!

136 - Prof. Garcia
Cada verso é uma canção
que se escreve em cada tema,
a estrofe tem tanta graça,
riso de beleza extrema,
que cada gota de orvalho
que escorre de cada galho
cai escrevendo um poema.

137 – Delcy Canalles
Para mim são um dilema
as setilhas do Garcia,
que chegam lá do Nordeste!
Têm alma e têm alegria,
e as imagens que ele emprega
são tão lindas, ninguém nega,
que chora a minha poesia!

138 – A. A. de Assis
Thalma Tavares, Gislaine, Garcia,
Zé Lucas, Delcy Canalles, Arlindo T. Hagen,
que bom ler a cada dia
o que o sexteto escreveu.
O sétimo, o A. A. de A. A. de Assis,
agradece-lhes, feliz,
tais bênçãos que Deus lhe deu.

139 – Arlindo T. Hagen
Pela bênção que me deu
desta atenção recebida
dos amigos escritores
a Deus, de alma agradecida,
louvo, com felicidades,
pois melhores amizades
não conheci nesta vida!

140 – Thalma Tavares
Ando de alma agradecida
pelo tempo já vivido,
pelas bênçãos conquistadas,
por este amor repartido
entre o meu lar e a poesia:
fontes de paz, de alegria,
que ao meu viver dão sentido.

141 - Zé Lucas
Muito já tenho aprendido
nesta longa caminhada,
que me mostra novos rumos
em cada idéia trocada,
e isso é tão estimulante,
que eu, sozinho, doravante
talvez me perca na estrada.

142 - Gislaine Canales
Pois a cada madrugada,
só nos resta agradecer
toda a alegria e o amor
que o poema faz nascer
ao crescer dentro de nós,
não nos deixando tão sós,
nos ensinando a viver!

143 - Prof. Garcia
Cada manhã, que prazer,
olhar o romper da aurora,
a noite dizendo adeus
ao triste orvalho que chora;
como quem sente ciúme
da beleza e do perfume
que a luz da manhã devora!

144 – Delcy Canalles
Gosto de olhar para a aurora
e receber seu "Bom-dia" !
Gosto de olhar a tardinha
em vespertina alegria!
E gosto do pôr-do-sol
com a beleza do arrebol!
Todos me inspiram poesia!

145 – A. A. de Assis
Poesia é irmã da alegria...
Cada rima que se faz,
seja rica ou seja pobre,
um grande prazer nos traz.
Rimando a gente comprova,
na setilha ou numa trova,
que o verso promove a paz.

146 – Arlindo T. Hagen
Quem faz versos é capaz
de, com trabalho fecundo,
semear a paz e o amor
e é com respeito profundo
que devemos aceitar
esta missão de tornar
um pouco melhor o Mundo!

147 – Thalma Tavares
O poeta é um ser fecundo
que tem a missão sagrada
de libertar seus irmãos
da ignorância e da espada.
E em sua nobre missão
pode calar um canhão
com simples trova inspirada.

148 – Zé Lucas
O poeta faz do nada
o seu mundo diferente,
longe da realidade
que às vezes perturba a gente,
e, com visão colorida,
dá novo sentido à vida,
sentindo o que ninguém sente.

149 – Gislaine Canales
Ser poeta me faz gente:
eu gosto de tudo, enfim,
do mar, do céu, do luar ,
do perfume do jasmim.
Eu gosto até da saudade,
que lembra a felicidade
que existe dentro de mim!

150 – Prof. Garcia
Toca um anjo querubim,
cantando lindos cordéis,
despertando as madrugadas
sem inverter seus papéis;
dedilhando serenatas,
ao som de antigas cascatas,
refúgio dos menestréis!

151 – Delcy Canalles
Defendamos os papéis
dos amigos das setilhas,
que aproximam, neste mundo,
diferentes maravilhas:
relembram suas infâncias,
encurtam longas distâncias,
visitam nossas coxilhas!

152 – A. A. de Assis
Pois é, meus filhos e filhas,
a Olimpíada é no Rio:
brinquedo pra lá de caro,
mas que aquece o nosso brio.
Faz festa o Brasil inteiro
pelo fato alvissareiro,
tão sonhado anos a fio...

153 – Arlindo T. Hagen
Sempre a cada desafio
o mundo inteiro descobre
a garra do nosso povo
cuja miséria se encobre
com máscaras de "feliz".
Tão rico é nosso país
e, ao mesmo tempo, tão pobre!

154 – Thalma Tavares
Há sempre um motivo nobre
nos versos de um trovador.
Seja de aplauso ou censura,
de protesto ou dissabor.
Arlindo T. Hagen, em teu verso novo,
pintas a face de um povo
campeão de paz e amor!
---------------
continua...

Fonte:

Colaboração de Zé Lucas. José Lucas e parceiros. Cantando ao som das setilhas. Natal/RN: 2011.

Rubem Braga (Ela Tem Alma de Pomba)


Que a televisão prejudica o movimento da pracinha Jerônimo Monteiro, em todos os Cachoeiros de Itapemirim, não há dúvida. Sete horas da noite era hora de uma pessoa acabar de jantar, dar uma volta pela praça para depois pegar uma sessão das 8 no cinema. Agora todo mundo fica em casa venda uma novela, depois outra novela.

O futebol também pode ser prejudicado. Quem vai ver um jogo do Estrela do Norte F. C. , se pode ficar tomando cervejinha é assistindo a um bom Fla-Flu, ou a um Inter x Cruzeiro, ou qualquer coisa assim?

Que a televisão prejudica a leitura de livros, também não há dúvida. Eu mesmo confessa que lia mais quando não tinha televisão. Radio, a gente pode ouvir baixinho, enquanto está lendo um livro. Televisão e incompatível com livro - e com tudo mais nesta vida, inclusive a boa conversa, até o making love.

Também acho que a televisão paralisa a criança numa cadeira mais do que o desejável. O menina fica ali parado, vendo e ouvindo, em vez de sair por aí, chutar uma bola, brincar de bandido, inventar uma besteira qualquer para fazer.

Só não acredito que televisão seja máquina de fazer doido. Até acho que é o contrário, ou quase o contrário: é máquina de amansar doido, distrair doido, acalmar, fazer doido dormir.

Quando você cita um inconveniente da televisão, uma boa observação que se pode fazer é que não existe nenhum aparelho de TV, a cores ou em preto e branco, sem um botão para desligar. Mas quando um pai de família o utiliza, isso pode produzir o ódio e rancor no peito das crianças e até de outros adultos.

Quando o apartamento é pequeno, a família é grande, e a TV é só uma - então sua tendência é para ser um fator de rixas intestinas.

- Agora você se agarra nessa porcaria de futebol...

- Mas, francamente, você não tem vergonha de acompanhar essa besteira de novela?

- Não sou eu não, são as crianças! - Crianças, para a cama!

Mas muito lhe será perdoado, à TV, pela sua ajuda aos doentes, aos velhos, aos solitários. Na grande cidade - num apartamentinho de quarto e sala, num casebre de subúrbio, numa orgulhosa mansão - a criatura solitária tem nela a grande distração, a grande consolo, a grande companhia. Ela instala dentro de sua toca humilde o tumulto e o frêmito de mil vidas, a emoção, suspende, a fascinação dos dramas do mundo.

A corujinha da madrugada não é apenas a companheira de gente importante, e a grande amiga da pessoa desimportante e só, da mulher velha, do homem doente... É a amiga dos entrevados, dos abandonados, dos que a vida esqueceu para um canto... ou dos que estão parados, paralisados, no estupor de alguma desgraça... ou que no meio da noite sofrem o assalto de dúvidas e melancolias... mãe que espera filho, mulher que espera marido... homem arrasado que espera que a noite passe, que a noite passe, que a noite passe...

Fonte:
BRAGA, Rubem. 200 Cronicas Escolhidas. RJ: Record, 2002.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 303)


Uma Trova Nacional

Rasguei carta, telegrama,
fotos, bilhetes de amor,
mas ao deitar nesta cama,
rasga-me o peito esta dor!
–CONCEIÇÃO ASSIS/MG–

Uma Trova Potiguar

Fui moleque brincalhão
pescoço cheio de grude
calça curta, pé no chão
jogando bola de gude
–DJALMA MOTA/RN–

Uma Trova Premiada

2010 - Curitiba/PR
Tema: MADRUGADA - M/H

- Deus Pai: Protege os meus filhos!
Meu medo é tal – que nem sei! –
de que se percam nos trilhos
das madrugadas sem lei!...
–MARIA MADALENA FERREIRA/RJ–

Uma Trova de Ademar

Quem tem Deus em sua vida
a todo momento é forte.
Não tem batalha perdida
nem sente medo da morte!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Num constante desafio
vão medindo os seus valores,
a fúria do mar bravio
e a calma dos pescadores!
–ALFREDO DE CASTRO/MG–

Simplesmente Poesia

Desencanto
–SUELY NOBRE FELIPE/RN–

Estou agora percebendo
Que de vazio em vazio
Preenchi a minha vida de solidão
Quando na verdade o que eu queria
Era roubar dois tantinhos de prosa
Catar delas as palavras mais doces
E deixar a vida seguir descompassada
Como os ponteiros de um relógio esquecido
E mesmo quando adormecida
Da prateleira azul dos meus sonhos
Extrair todo o seu encanto
Pois já não me espanto com os dias,
Apenas descanso.

Estrofe do Dia


Se a gente reviver o calendário,
tem vergonha do século que passou.
Onde os índios morreram de malária
e o pulmão do planeta incendiou;
a fumaça cresceu verticalmente
e a camada de ozônio se furou.
–ISMAEL PEREIRA/CE–

Soneto do Dia

Chegaste...
–LUIZ ANTONIO CARDOSO/SP–

Chegaste em meu destino, de repente,
com poucas palavrinhas, a sorrir.
Chegaste no meu mundo e docemente,
fizeste a minha vida refulgir.

Chegaste, completando o meu presente...
traçando com detalhes meu porvir.
fazendo renascer, efervescente,
a vida - que queria inexistir !

Chegaste, numa noite irretocável,
alimentando sonhos magistrais
de um tempo de carícia incomparável.

Chegaste... e amanheceu neste jardim...
e aquele que era triste? Não é mais...
fizeste florescer dentro de mim !

Recomendo:
http://cantopotiguar.blogspot.com/
http://poeiraecantos.blogspot.com/
http://www.ubtrova.com.br
http://www.falandodetrova.com.br

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Monteiro Lobato (Viagem ao Céu) XXIII – As Impressões de Tia Nastácia


Os meninos tinham tanta coisa a contar, que depois de tomado o café ainda ficaram na mesa até tarde.

— Que beleza, vovó! — dizia Narizinho. — Se a senhora pudesse imaginar o que é a Via-láctea, vendia este sítio e mudava-se para lá. Uma verdadeira horta cósmica de estrelas e cometas novinhos, calcule! E, por falar nisso, onde estão as estrelinhas que você trouxe, Emília?

— Aqui! — respondeu a boneca tirando do bolso do avental um punhado de astros do tamanho de grãos de ervilha, que espalhou sobre a mesa.

Que assombro! Aquelas ovas de estrelas brilhavam mais que diamantes — brilhavam tanto que Dona Benta teve de tapar os olhos com as mãos.

— E que vai fazer com elas, Emília? — perguntou Pedrinho. — Quer trocar três por um cometa? — e com grande espanto da vovó também tirou do bolso mais estrelas — estrelas não: cometas! Como estivessem com as caudinhas enroladas sobre os núcleos, à primeira vista pareciam estrelas.

— Estrelas! Cometas!... Mas isto é demais, meus filhos! Nunca imaginei uma coisa semelhante. E ainda há o anjinho. Onde anda ele?

Todos saíram correndo em procura do anjinho, que havia fugido dali e estava na cozinha conversando com Tia Nastácia e provando um bolinho de frigideira. A negra, plantada diante dele, babava-se de gosto.

— Este mundo está perdido! — dizia ela. — Quando eu havia de pensar que até os santos e os anjos haviam de comer os meus bolos fritos? Credo...

Nisto a voz de Dona Benta soou lá na sala, chamando-a.

— Já vou, sinhá! — respondeu a preta, e depois de lavar as mãos na bica foi ver o que a patroa desejava.

— Escute, Nastácia — disse Dona Benta. — Você ainda não me contou as suas impressões. Estou curiosa de saber como se arranjou lá por cima.

A boa negra botou as mãos como quem reza e revirou os olhos para o céu.

— Nem queira saber, sinhá! Credo! De manhãzinha, naquele dia, os meninos me empulharam — me deram para cheirar o tal pó mágico dizendo que era rapé. Eu, muito boba, cheirei, e no mesmo instante perdi os sentidos — e quando abri os olhos estava num lugar esquisito, que a votação disse que era a Lua.

— Parece incrível! — exclamou Dona Benta. — Não foi à toa que os astrônomos não acreditaram em coisa nenhuma e lá se foram danados com a Emília. Mas continue. E depois?

— Depois? Ah, nem queira saber, sinhá!... Depois apareceu aquele estupor do dragão que São Jorge vive matando com a lança lá na Lua — um bicho horrendo, sinhá, que a Emília diz que é mestiço de lagarto com flecha de índio.

— Por quê?

— Porque tem a língua e o rabo em ponta de flecha. Mas o tal bicho, que era verde, adiantou-se para o burro, lambendo os beiços, imagine! E então Emília, que é uma danada, avançou sem medo e esfregou o tal pó mágico no nariz do burro. E o coitado, vupt!... — se sumiu da Lua, ventando. Narizinho disse que ele tinha caído no “ete...”.

— É espantoso o que você me conta, Nastácia, e difícil de acreditar. Pobres dos astrônomos! Como poderiam engolir tudo isto? E depois?

— Depois, quer saber quem apareceu? Apareceu São Jorge em pessoa, sinhá, vivinho, com uma espécie de pratão de ferro — prato-travessa — no braço...

— Devia ser o escudo, Nastácia.

— ...e um pau comprido de ponta pontuda na mão...

— Devia ser a lança, Nastácia.

— ...e os meninos, sem medo nenhum, garraram a falar com ele como se falassem com Tio Barnabé lá na casinha da ponte. E o santo respondia com a maior delicadeza. Foi uma conversa que não tinha fim. Depois São Jorge me chamou e perguntou se eu queria ficar cozinhando para ele. Eu me atrapalhei toda na resposta; e então Narizinho respondeu e disse que eu ficava só por uns dias — e fiquei, sinhá, fiquei feito cozinheira de São Jorge, eu, uma pobre de mim, e ele aquele santo tão prepotente, com a fisolustria de escudo e espeto, numa correspondência da corte celeste...

A pobre negra estava outra vez falando difícil. Dona Benta fê-la voltar ao simples e perguntou:

— E você lá ficou a cozinhar? ...

— Que remédio, sinhá? Fiquei, apesar do medo que tinha do dragão. Que bicho feio, credo! Dava cada zurro de se ouvir nas estrelas. Acho que é por isso que elas piscam tanto...

— E onde mais estiveram os meninos?

— Não sei, sinhá. Eles que contem. É uma embrulhada que não entendo. Estiveram até num tal mundo que tem anéis do dedo — será possível?

— Sim, o planeta Saturno.

— Mas sinhá acredita que tenha anéis? — Eu... eu não sei. Eu acredito e desacredito tudo, porque acho tudo possível e impossível. Mas os meninos dizem que tem. E depois eles andaram galopando pelo “ete...”

— Éter, Nastácia.

— ...montados num cometa xucro, sinhá, de rabo dum tamanho sem fim.

— E onde acharam o anjinho?

— Eles dizem que foi na via de leite, que não sei o que é.

— Por falar no anjinho, Nastácia, como vai ser ele aqui? — perguntou Dona Benta.

— Vai ser muito bem, sinhá. Além da galanteza que é, não pode haver pessoinha mais bem-comportada e boa.

— Está claro. Desde que é anjo, tem que ser bom e bem-comportado.

— Podia ser anjo mau, sinhá — filho daquele tal Lúcifer... Mas sinhá pode ficar sossegada. Hei de tomar conta dele direitinho.

Nesse momento soou uma gritaria no pomar.

— Corra, Nastácia! Vá ver o que aconteceu — disse Dona Benta assustada.

A negra disparou na direção do barulho. Minutos depois reapareceu furiosa.

— Não foi nada de grave, sinhá — disse ela. — Foi o frango sura que deu outro pega no Doutor “Livinsto” e comeu o resto dos milhos que ele tinha no peito. Hoje mesmo esse frango vai para a panela. O diabo me paga...

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Viagem ao Céu & O Saci. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. II. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Paulo Leminski (A História faz Sentido)


Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 302)

Entardecer na floresta
Uma Trova Nacional

Uma dose de estesia,
um "motivo" na janela,
a despedida do dia...
eis aí uma aquarela.
–ADAMO PASQUARELLI/SP–

Uma Trova Potiguar

Sempre te amei como um louco
bem mais do que se permite;
para quem é amado, é pouco,
pra quem ama é sem limite!
–MANOEL CAVALCANTE/RN–

Uma Trova Premiada

2007 - Bandeirantes/PR
Tema - ENCANTO - Venc.

Diante do encanto desfeito
por promessas não cumpridas,
eu sempre encontro outro jeito
de entrelaçar nossas vidas.
–OLGA AGULHON/PR–

Uma Trova de Ademar

Linda e nua, em desalinhos,
na paixão que a gente vive;
cobri-la com meus carinhos
foi a única opção que tive.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Em passos e contrapassos,
ao som de acordes tristonhos;
sempre foges dos meus braços
no bailado dos meus sonhos.
–ALVES DA COSTA FILHO/PI–

Simplesmente Poesia

Ausência
–JAÉCIO CARLOS/RN–

Às vezes sinto saudade
de mim mesmo,
quando estou ausente
pensando em você.

Estrofe do Dia

Escutei um passarinho
cantando no arvoredo,
meu pai se acordando cedo
e seguindo pelo o caminho,
no curral um bezerrinho
escramuçava e corria,
quando a cancela se abria
disparava na carreira;
chorei no pé da porteira
do curral da vacaria.
–JÚNIOR ADELINO/PB–

Soneto do Dia

Deus
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Faz mais de vinte séculos, que nós,
os homens – os católicos, ateus,
discutimos, se existe ou não, um Deus,
e neste embate, não estamos sós.

Eu creio! ... até escuto a sua voz.
Ele responde a todos que são seus,
mas, quem faz do seu dólar, semideus,
tem nele, o seu carrasco, seu algoz.

Quem "nega", simplesmente bastaria,
olhar dentro de si, e então veria,
que a prova está no amor, ciência e fé.

Estudei qual Pasteur, tão conhecido.
Sei que não foi criado, e ao não ter sido,
vos digo: Deus não existe, Deus É.

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Vicência Jaguaribe (Mas a Vida... a Vida não se Passa a Limpo)


A velha senhora entrou no compartimento que sempre lhe servira de biblioteca e de gabinete. Em um tempo em que a maioria das mulheres se dedicava às tarefas domésticas, aos cuidados com os filhos e com o marido, ela passava horas naquela sala lendo e escrevendo. Quando o noivo mandara construir a casa onde morariam depois de casados, ela só fizera uma exigência: um aposento onde pudesse guardar seus livros, onde pudesse isolar-se para ler e escrever. Nem ao menos perguntara quantos quartos ou quantos banheiros teria a casa, nem quisera saber o tamanho da cozinha. A casa tinha quintal, ficava do lado da sombra ou do sol? Disso ela não quisera saber. Não desperdiçaria seu tempo com coisas desse tipo.

Puxou a cadeira do birô, sentou-se e aproximou o porta-retrato com uma fotografia do dia do casamento: ela e o noivo... não, ela e o marido. Quando tiraram aquela foto já eram marido e mulher, fora logo depois da cerimônia. Passou a mão sobre a imagem do marido e recordou como ele fora apaixonado por ela. Uma paixão que a rotina do casamento não conseguira esfriar. Diante do desinteresse dela pelos assuntos domésticos, das horas que roubava da convivência com ele e com os filhos para dedicar à leitura e à composição de seus textos, sua paciência era uma fonte inesgotável, que parecia renovar-se todos os dias.

Sabia não ter sido uma boa mãe. Não se enquadrava nos parâmetros que determinavam se uma mulher era uma boa mãe. Nunca se entusiasmara com a maternidade e não escondera isso do noivo. Chegara mesmo a dizer, para escândalo dos futuros sogros, que não pretendia ter filhos. Seus pais não se horrorizavam mais com suas opiniões e posições fora dos eixos, conforme diziam. Ela fora assim desde pequena. Fazia tudo diferente das irmãs. Não obedecia ao horário convencional de dormir nem de comer, nunca se adaptou às imposições da escola, não gostava do que as outras meninas de sua idade gostavam. Era um astro que determinava sua própria rotação, não lhe importando se as leis da Física mandavam ir para a direita ou para a esquerda. Diante do inexorável, os pais tiveram que capitular.

Ele, o marido, nunca reclamara de seus desvios do eixo da rotina. Amara-a incondicionalmente até o fim da vida. Ela lhe davaa impressão de que estava sempre na expectativa de que algo acontecesse. A si mesmo ele dizia que a mulher vivia sempre de véspera; para ela nunca chegava o dia D. Sabia que escrevia muito, mas nunca conseguira que ela lhe mostrasse – a ele ou a outra pessoa – os textos que produzia. Quando entrava no gabinete e surpreendia-a escrevendo, pedia-lhe permissão para ler o produto da vez. A resposta era sempre a mesma:

- Não, agora não. Ainda está no rascunho, quando passar a limpo, você o lerá.

E ele não insistia. Respeitava-a e amava-a demais para forçá-la a fazer qualquer coisa que a deixasse contrariada ou constrangida.

A velha senhora levantou-se e passou em revista as estantes com seus livros. Diante dos seus preferidos, parava. Retirava um ou outro, folheava-o rapidamente e recolocava-o no lugar. Aproximou-se da estante em que guardava os livros infantis – alguns de seu tempo de criança, outros comprados para os filhos. Era uma das poucas coisas que a incomodavam na vida. Falhara com as suas duas crianças, porque não conseguira passar-lhes seu amor pelos livros, sua devoção à literatura, seu gosto pela prática da escrita. Parece até que trabalhara no sentido contrário – fizera-os afastar-se dos livros. Era como se, agindo assim, eles se vingassem das horas que ela lhes roubava para dedicar à leitura e à escrita.

A família inteira – a dela e a do marido – ironizava o seu comportamento. De vez em quando, em tom de chacota, perguntavam pelos livros que ela sempre dissera que, um dia, publicaria. Quando pediam que lhes mostrasse algo escrito por ela, qualquer coisa que fosse – um conto, um poema –, nem que estivesse inacabado, ela dava a mesma resposta:

- Ainda está no rascunho. Quando passar a limpo, eu mostro.

Aproximou-se do arquivo – grande e trancado a chave – onde todo mundo sabia que ela guardava as produções literárias que ninguém nunca lera. Tirou do bolso a chave e abriu-o. Dentro, inúmeras pastas, todas elas identificadas e datadas. Sabia que muitas pessoas duvidavam de que ela, algum dia, houvesse realmente escrito alguma coisa. Quem escreve, escreve para ser lido. Ela, não. Nunca tivera coragem de mostrar a alguém um texto seu. Quantas vezes o marido não tentara convencê-la a selecionar uns manuscritos para publicação. Ele financiaria. Mas ela tinha a mesma resposta:

- Não. Ainda não está na hora. Ainda está no rascunho, ainda tenho que passar a limpo.

Por que agia assim? Não sabia ao certo. Nos outros setores da vida era resolvida, independente, não aceitava imposição de ninguém. Que mistério era esse que só existia quando se tratava de sua produção literária? Depois que o marido morrera, ela jurara a si mesma que faria o que ele tanto lhe pedira: daria a forma definitiva a alguns contos, a algum romance, isto é, os arrancaria da condição de rascunho, e os levaria a uma editora. Mas, quando pegava uma pasta e tentava fazer a versão final de um texto, por mais simples que fosse, fazia não a versão final, mas uma nova versão, cheia de emendas, cheia de palavras riscadas e substituídas. Produzia outro rascunho.

E o tempo foi passando. E a cada dia ela se sentia mais angustiada, mais insatisfeita, mais incompleta. Enquanto era nova, achava que daria tempo. Um rascunho a mais, um a menos... teria muito tempo ainda. O que a levava a agir dessa maneira? perguntava-se com frequência. Agora, nos últimos anos, mais do que antes. Nunca exigira dela mesma – nem dos outros – que fizessem as coisas com perfeição. Não era nem um pouco perfeccionista. Não, pelo menos nas outras esferas de sua vida. Ao contrário, era até meio desleixada. Mas também nunca se entusiasmara realmente por nada, a não ser pelos seus livros e pelos seus escritos. Não amara o marido como ele merecia ter sido amado; não agira como uma boa mãe;não fora nem era uma mulher feliz; nunca se sentira plena, realizada. Sabia que sua realização dependia de sua capacidade de vencer o medo – o medo da opinião dos outros, das críticas especializadas e não especializadas, sobre o que produzia. Dependia da ousadia de desengavetar seus escritos e expô-los. Enquanto não tivesse a coragem suficiente de tirá-los da condição de rascunho, enquanto não lhes desse uma versão final, seria como se estivesse esperando também da vida uma versão definitiva.

Será que, se conseguisse a façanha de sair da estação do rascunho, estaria realizada, chegaria à conclusão de que a vida valera a pena? Resgataria alguma coisa que se perdera no tempo?

Tentou abrir a segunda gaveta do arquivo e alcançar uma pasta que ostentava, em letras grandes, o rótulo Minha vida em rascunho. Foi esforço demais.Ela sentiu uma pontada no peito e uma forte dor espalhando-se pelo braço esquerdo. Ainda conseguiu puxar a pesada pasta, mas desequilibrou-se e caiu. Não de uma vez, mas lentamente. Tentou evitar que os papéis guardados na pasta se espalhassem, mas não conseguiu. Já meio inconsciente, ela via um livro em cada folha que caía da pasta – eram livros de várias cores e tamanhos, que se acumulavam ao seu redor. E esboçou um sorriso quando o último livro se abriu diante de seus olhos, como se alguém o estivesse segurando para que o visse – e era ela a autora.

Seu último pensamento traduziu algo que ela sempre soubera, mas nunca tivera coragem de admitir – seus escritos em rascunho eram a representação de sua vida incompleta. Tirar da forma de rascunho aquilo a que dedicara toda a existência seria uma maneira de dar plenitude à vida. Seria transformar em realidade um sonho por meio do qual sua vida adquiriria sentido. Nesse momento, no entanto, um diabinho pulou no seu ombro e soprou no seu ouvido: Um texto pode ficar em forma de rascunho até alcançar sua forma definitiva. Com a vida é diferente. A vida não nos oferece uma chance de passá-la a limpo. A vida fica sempre no rascunho.

Algumas horas depois, quando a empregada entrou no gabinete para fazer a arrumação diária, encontrou-a coberta por folhas de papel, cheias de emendas e de riscos, umas escritas a lápis, outras a caneta. Por baixo daqueles rascunhos, a empregada perscrutou o semblante da velha senhora – nem ela nem ninguém poderiam dizer se havia em seu rosto sinais de um sorriso ou de um esgar.

Fonte:
Texto enviado pela autora
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Ialmar Pio Schneider (Soneto a Euclides da Cunha)


In Memoriam – Assassinato do escritor em 15.8.1909

Culto escritor, escreveu “Os Sertões”,
que na Literatura é um monumento,
pleno de incomparáveis descrições,
sendo fruto de genial talento.

Quem o ler há de viver emoções
só comparáveis com o sentimento
de conhecer imensas solidões,
onde possa estar em recolhimento...

Uma tragédia o atingiu, atroz,
e cruelmente lhe ceifou a vida
com quarenta e três anos tão-somente.

Pela traição da esposa e seu algoz,
teve a existência honrada interrompida,
mas sua obra não morre, é permanente !

Porto Alegre – RS, 15 de agosto de 2011,

Fontes:
Soneto enviado pelo autor
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Antonio Brás Constante (Engarrafamentos (sem álcool) )


Quer conhecer um pedaço do inferno? É fácil (você nem precisa fazer um pacto com o “Tinhoso” para saber como é), basta sair com o seu automóvel e ficar preso em algum engarrafamento.

Entramos nos engarrafamentos como alguém que entra em uma garrafa, pois os dois casos acabam sendo um porre. Diferentes de um drinque, que pode ser destilado, os engarrafamentos são amontoados de carros deste lado, daquele lado, de todos os lados. Você fica ali parado, preso naquele lugar por um longo tempo, sentindo-se como um vinho que fica em uma adega para ser envelhecido, porém, ao contrário do vinho, aquela situação não melhora os seus atributos ou lhe faz uma pessoa mais doce e especial; ao contrário, a única coisa que consegue é deixá-lo extremamente azedo.

Os engarrafamentos, assim como as bebidas, nos deixam em uma situação complicada aos olhos de nossos empregadores, que não gostam de funcionários cheirando a álcool, do mesmo modo que não gostam de funcionários chegando atrasados. Seu veículo acaba se transformando em uma garrafa de luxo (pois, novo ou velho, ele ainda custa uma bela grana), onde nesta metáfora você é o líquido ali aprisionado, molhado, suado e exalando o odor de sua própria transpiração. Louco para “vazar” dali.

Se pudesse escolher, iria preferir virar um pouco de uísque em um copo para beber, em vez de ter que ficar literalmente “virando roda” na estrada. Nessas horas, lembra da frase onde orientam: “se beber não dirija”, e fica pensando que o engarrafamento causa o mesmo efeito, pois o impede de dirigir, de seguir o seu caminho. Atrapalhando sua vida. Trazendo sentimentos de frustração, impaciência e raiva, que são servidos de forma seca para você. Sem direito sequer a umas pedrinhas de gelo e rodelas de limão.

Somos pequenas gotas humanas dentro dos engarrafamentos. Somadas a uma infinidade de outras gotas que se encontram na mesma situação que a nossa, esperando o trânsito fluir, para enfim seguirem suas vidas, e quem sabe acharem um rumo melhor para seus destinos do que aqueles reservados para as tais bebidas em nosso organismo.

Fonte:
CONSTANTE, Antonio Brás. Hoje é seu aniversário: prepare-se. Porto Alegre: AGE, 2009.

Cantando ao Som das Setilhas (Debate pela Internet) Parte 6


85 - Zé Lucas
Nós vivemos a beleza
de um país superdotado:
cidades encantadoras,
o Cristo do Corcovado,
nossos rios e cascatas,
a exuberância das matas
e o Pantanal encantado!

86 – Gislaine Canales
Num céu de estrelas bordado,
o Brasil é todo lindo,
Sul a Norte, Leste a Oeste,
com belos Ipês florindo
a perfumar nosso dia,
eles parecem poesia,
para os céus, sempre sorrindo!

87 - Prof. Garcia
De fato, este mundo é lindo
em toda a sua estrutura,
à noite, no céu flutua
a mais linda criatura;
e a coruja em seus anseios,
dá rasante em seus passeios
caçando na noite escura

88 - Delcy Canalles
Vejo com muita ternura
a coruja em seus anseios,
pois eu adoro essa ave
que, à noite, dá seus passeios,
e, notívaga, eu diria,
vem me fazer companhia
e alegrar meus devaneios!

89 - A. A. de Assis
E aqui, nesses entremeios,
hoje está chuva com sol,
prevendo, qual diz o dito,
"casamento de espanhol".
Ou então, se é sol com chuva,
"casamento de viúva",
cantadinho em si bemol...

90 – Arlindo T. Hagen
Se, em meio ao dia de sol,
vem a chuva de repente,
surge o arco-íris no céu.
Assim é a vida da gente:
que, após o pranto contrito,
traga um sorriso bonito
o arco-íris de presente!

91 – Thalma Tavares
Não há mais belo presente
que os olhos que Deus nos deu.
Ao menos por esta graça
ninguém deve ser ateu.
Quem não percebe a beleza
de nossa mãe Natureza
não é feliz como eu.

92 - Zé Lucas
Eu ouço as notas de Orfeu
compondo mil cavatinas,
vejo pássaros e flores
embelezando as campinas,
e o que passa em minha mente
é que isso tudo é um presente
que desce das mãos divinas.

93 - Gislaine Canales
Mesmo adentrando neblinas,
o sorriso é, na verdade,
o arco-íris de nossas almas,
transmite felicidade,
nos conquista num momento
lançando, com força, ao vento,
a dolorida saudade!

94 – Prof. Garcia
Vou de saudade em saudade
alimentando os meus ais;
ouvindo os ecos matutos
dos arpejos matinais,
vindos da voz caipira
das cordas de minha lira
nos versos dos imortais.

95 - Delcy Canalles
Há poetas bons demais
entre os nossos trovadores;
alguns nem são do Nordeste,
a "Terra dos Cantadores!"
É que escrevem maravilhas,
em setilhas ou sextilhas,
esses grandes sonhadores!

96 - A. A. de Assis
São sempre azuis, meus senhores,
as estrofes da Delcy Canalles,
todas elas tão suaves,
como iguais eu nunca vi.
É que a nossa irmã do Sul
tem decerto a alma azul,
qual se fosse um colibri.

97 – Arlindo T. Hagen
Meu orgulho é estar aqui
em setilhas salutares.
Depois das irmãs do Sul,
dos Nordestinos cantares,
aguardo os versos do A. A. de Assis
e entrego a deixa, feliz,
ao grande Thalma Tavares Tavares.

98 – Thalma Tavares
Irmão Arlindo T. Hagen, teus olhares
sobre nós são como flores
que não enfeitam vaidades,
mas estimulam pendores.
São reparos instigantes
que nos tornam mais confiantes
em nossos próprios valores.

99 - Zé Lucas
Somos sete trovadores
afeitos ao bom combate,
cujo empenho é produzir
versos do melhor quilate,
por isso, de vez em quando,
nós estamos elevando
a beleza do debate.

100 - Gislaine Canales
Termina sempre em empate,
todos são grandes e eu digo,
sou feliz por fazer parte
desse cantar tão amigo,
onde a mais pura poesia,
surge, assim, como magia,
para, às rimas, dar abrigo!

101 – Prof. Garcia
Na caminhada eu prossigo,
porque seguir me convém,
se a poesia é infinita
mostra a grandeza que tem;
e em cada verso que faço,
dou um nó em cada laço
e amarro as pontas também.

102 – Delcy Canalles
Cada setilha que vem
provocar este meu ego,
me faz olhar para dentro
e constatar que era cego,
pois quero ser "cantador",
quero ser bom "pajador"
e o meu desejo, não nego!

103 – A. A. de Assis
Um palavrão quase emprego:
chuvinhenta chuvarada...
Água e mais água alagando
metade da pátria amada.
Nunca vi chover assim,
chuva sem pausa, sem fim,
sem dar trégua para nada...

104 – Arlindo T. Hagen
A chuva lembra enxurrada
e me recorda a corrida
dos meus barcos de papel.
Meia vida já vivida,
meus sonhos vou comparando
aos barquinhos naufragando
nas enxurradas da vida!

105 – Thalma Tavares
Nas enxurradas da vida,
também eu, meu caro irmão,
soltei meus barcos de sonhos,
carregados de ilusão.
Hoje os barcos são poesias,
que eu solto todos os dias
nas águas da inspiração.

106 - Zé Lucas
Quantas noites de emoção
embalaram meu viver!
Momentos que já vão longe
me fazem compreender
que, entre a luz da vida e a treva,
há coisas que o tempo leva
pra nunca mais devolver!

107 – Gislaine Canales
Mesmo assim, vamos viver,
vamos continuar sonhando
vida a fora, até o fim!
Nós sairemos ganhando
em emoção e alegria!
Colheremos em poesia,
frutos que iremos plantando.

108 – Prof. Garcia
Feliz eu sigo cantando
meu fado pelo caminho,
do jeito que sempre faz
o mais feliz passarinho,
que bem cedo se levanta,
quanto mais sofre, mais canta,
na ternura do seu ninho!

109 – Delcy Canalles
Num lar de muito carinho,
eu nasci e me criei!
Hoje, vivo bem sozinha,
com saudades do que amei!
Meus filhos são um tesouro;
os bisnetos valem ouro;
no coração, os terei!

110 – A. A. de Assis
Pausa na chuva. Gostei.
Aproveitam-se as florinhas
para alegres se exibirem
quais festivas menininhas.
De múltiplas cores elas,
brancas, azuis, amarelas,
auspiciosas rainhas.

111 – Arlindo T. Hagen
Quem já teve umas plantinhas
numa terra ressecada
não reclama assim da chuva.
Pelo contrário, lhe agrada
sentir, do solo fecundo,
o melhor cheiro do mundo:
cheiro de terra molhada!

112 – Thalma Tavares
No sertão, terra molhada
tem um cheiro promissor.
É esperança de fartura,
ao caboclo plantador...
Dá bom milho e bom café
que a gente colhe de pé
rendendo graça ao Senhor.

113 - Zé Lucas
Nós temos tanto calor
e poeira em nosso chão,
que recebemos em festa
toda chuva no sertão,
e eu sinto, nessa bonança,
uma chuva de esperança
lavando meu coração.

114- Gislaine Canales
Vemos com grande emoção:
se aproxima a primavera,
cheia de cor e beleza;
se vai a estação severa.
Nascem novas esperanças,
ansiosas como crianças...
Terminou a nossa espera!

115 - Prof. Garcia
Como é linda a primavera
mostrando os seus esplendores,
os campos ficam mais belos
e as plantas mudam de cores;
e a natureza sagrada,
já desperta embriagada
com o perfume das flores!

116 - Delcy Canalles
Chega setembro e os odores
perfumam nossas estradas!
A Primavera sorrindo
embeleza as madrugadas,
e há flores pelos caminhos,
e há convites de carinhos
em noites enluaradas!

117 - A. A. de Assis
Se o do Nordeste, moçadas,
é chamado nordestino,
por que quem é do Sudeste
não é dito sudestino?
A quem der a explicação,
desde agora a gratidão
de um sudestino-sulino...

118 – Arlindo T. Hagen
O falar do nordestino
estranhamos no Sudeste
mas sempre nos faz pensar:
se é dito em todo Nordeste
que cabra-da-peste é macho,
a mulher, pelo que eu acho,
deve ser bode-da-peste!

119 – Thalma Tavares
Caro Arlindo T. Hagen, lá no agreste
cabra e bode são caprinos.
Por extensão, cabra-macho
figura entre os masculinos.
E mesmo sendo a mulher
“pau pra o que der e vier”,
conserva os dons femininos.
----------
continua...
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Fonte:
Colaboração de Zé Lucas. José Lucas e parceiros. Cantando ao som das setilhas. Natal/RN: 2011.

Antonio Candido, Anatol Rosenfeld, Decio de Almeida Prado e Paulo Emílio Sales Gomes (A Personagem de Ficção) Parte IV


A personagem nos vários gêneros literários e no espetáculo teatral e cinematográfico

Em termos lógicos e ontológicos, a ficção define-se nitidamente como tal, independentemente das personagens. Todavia, o critério revelador mais óbvio é o epistemológico, através da personagem, mercê da qual se patenteia — às vezes mesmo por meio de um discurso especificamente fictício — a estrutura peculiar da literatura imaginária. Razões mais intimamente “poetológicas” mostram que a personagem realmente constitui a ficção.

A descrição de uma paisagem, de um animal ou de objetos quaisquer pode resultar, talvez, em excelente “prosa de arte”. Mas esta excelência resulta em ficção somente quando a paisagem ou o animal (como no poema “A pantera”, de Rilke) se “‘animam” e se humanizam através da imaginação pessoal. No caso da poesia lírica, através da fusão do Eu, do foco lírico, com o objeto. No fundo, é isso que Lessing pretende dizer no seu Laocoonte ao criticar um poema descritivo por lhe faltar o que chama — segundo a terminologia do século XVIII — a “ilusão” (Taeuschung), ou seja, a impressão da “presença real” do objeto. Tal ‘ilusão” somente é possível pela colocação do leitor dentro do mundo imaginário, mercê do foco “personal” que deve animar o poema e que lhe dá o caráter fictício. No poema isto é conseguido, antes de tudo, através da fôrça expressiva da linguagem, que transforma a mera descrição em “vivência” duma personagem que erradamente se costuma confundir com o autor empírico. Mas, enquanto a poesia, na sua forma mais pura, se atêm à vivência de um “estado”, o gênero narrativo (e dramático) transforma o estado em processo, em distensão temporal. Somente assim se define a personagem com nitidez, na duração de estados sucessivos. A narração — mesmo a não-fictícia —, para não se tornar em mera descrição ou em relato, exige, portanto, que não haja ausências demasiado prolongadas do elemento humano (este, naturalmente, pode ser substituído por outros seres, quando antropomorfizados) porque o homem é o único ente que não se situa somente “no” tempo, mas que “é” essencialmente tempo (6).

Se Lessing recomenda, no ensaio acima citado, a dissolução da descrição em narração porque a palavra, recurso sucessivo, não pode apreender adequadamente a simultaneidade de um objeto, ambiente ou paisagem (que a nossa visão apreende de um só relance), o que no fundo exige é a presença de personagens que atuam. Homero, em vez de descrever o traje de Agamenon, narra como o rei se veste, e em vez de descrever o seu cetro, narra-lhe a história desde o momento em que Vulcano o fez. Assim, o leitor participa dos eventos em vez de se perder numa descrição fria que nunca lhe dará a imagem da coisa.
Antes de abordar, mesmo marginalmente, a ficção dramática, convém ressaltar que verbos como “dizer”, “responder” etc., desempenham na ficção em geral função semelhante aos que revelam processos psíquicos (recear, pensar, duvidar), particularmente quando acompanham uma fala em voz direta, referida a momentos temporais determinados (determinados no tempo irreal da ficção). Tais verbos indicam em geral a presença do foco narrativo no campo fictício. Ademais, personagens, ao falarem, revelam-se de um modo mais completo do que as pessoas reais, mesmo quando mentem ou procuram disfarçar a sua opinião verdadeira. O próprio disfarce costuma patentear o cunho de disfarce. Esta “franqueza” quase total da fala e essa transparência do próprio disfarce (pense-se no aparte teatral) são índices evidentes da onisciência ficcional.

A função narrativa, que no texto dramático se mantém humildemente nas rubricas (é nelas que se localiza o foco), extingue-se totalmente no palco, o qual, com os atores e cenários, intervém para assumi-la. Desaparece o sujeito fictício dos enunciados — pelo menos na aparência —, visto as próprias personagens se manifestarem diretamente através do diálogo, de modo que mesmo o mais ocasional “disse ele”, “respondeu ela” do narrador se torna supérfluo. Agora, porém, estamos no domínio de uma outra arte. Não são mais as palavras que constituem as personagens e seu ambiente. São as personagens (e o mundo fictício da cena) que “absorveram” as palavras do texto e passa a constituí-las, tornando-se a fonte delas — exatamente como ocorre na realidade. Contudo, o mundo mediado no palco pelos atores e cenários é de objectualidade puramente intencionais. Estas não têm referência exata a qualquer realidade, determinada e adquirem tamanha densidade que encobrem por inteiro a realidade histórica a que, possivelmente, dizem respeito. A ficção ou mimesis reveste-se de tal fôrça que se substitui ou superpõe à realidade. É talvez devido à velha teoria da “ilusão” da realidade supostamente criada pela cena, devido, portanto, ao altíssimo vigor da ficção cênica, que não se atribui ao teatro o qualificativo de ficção.

Contudo, o diálogo tem na dramaturgia a mesma função do “amanhã era Natal”. Compõe-se, para o público, de quase-juízos, embora os atores se comportem como se tratasse de juízos, já que as personagens levam os enunciados a sério. Embora seja apresentado ao público em forma semelhante às condições reais, o diálogo é concebido de dentro das personagens, tornando-as transparentes em alto grau. É verdade que, no teatro moderno, esta convenção da franqueza dialógica ficou abalada ao ponto de se tornar temática (Tchecov, Pirandello, Th.Wilder, Ionesco, Beckett etc.). Temos aqui uma das razões para a mobilização de recursos “épicos”, narrativos. Quando Brecht pede ao ator que não se identifique com a personagem, para poder criticá-la, põe um foco narrativo fora dela, representado pelo ator que assume o papel de narrador fictício. Isso indica claramente que a identificação do ator com a personagem significa que o foco se encontra dentro dela: a aparente ausência do narrador fictício, no palco clássico, explica-se pelo simples fato de que ele se solidarizou ou identificou totalmente com uma ou várias personagens, de tal modo que já não pode ser discernido como foco distinto. É por isso também que, o palco clássico depende inteiramente do ator-personagem, porque não pode haver foco fora dele. O próprio cenário permanece papelão pintado até surgir o “foco fictício” da personagem que, de imediato, projeta em torno de si o espaço e tempo irreais e transforma, como por um golpe de magia, o papelão em paisagem, templo ou salão.

No que se refere ao cinema, deve ser concebido como de caráter épico-dramático; ao que parece, mais épico do que dramático. É verdade que o mundo das objectualidades puramente intencionais se apresenta neste caso, à semelhança do teatro, através de imagens, como espetáculo “percebido” (espetáculo visto e ouvido; na verdade quase-visto e quase-ouvido; pois o mundo imaginário não é exatamente objeto de percepção). Mas a câmara, através de seu movimento, exerce no cinema uma função nitidamente narrativa, inexistente no teatro. Focaliza, comenta, recorta, aproxima, expõe, descreve. O close up, o travelling, o “panoranomizar” são recursos tipicamente narrativos.
Em todas as artes literárias e nas que exprimem, narram ou representam um estado ou estória, a personagem realmente “constitui” a ficção. Contudo, no teatro a personagem não só constitui a ficção mas “funda”, onticamente, o próprio espetáculo (através do ator). É que o teatro é integralmente ficção, ao passo que o cinema e a literatura podem servir, através das imagens e palavras, a outros fins (documento, ciência, jornal). Isso é possível porque no cinema e na literatura são as imagens e as palavras que “fundam” as objectualidades puramente intencionais, não as personagens. É precisamente por isso que no próprio cinema e literatura ficcionais as personagens, embora realmente constituam a ficção, e a evidenciem de forma marcante, podem ser dispensadas por certo tempo, o que não é possível no teatro. O palco não pode permanecer “vazio”.

Estes momentos realçam o cunho narrativo do cinema. A imagem (como a palavra) tem a possibilidade de descrever e animar ambientes, paisagens, objetos. Estes — sem personagem — podem mesmo representar fatores de grande importância. A fita e o romance podem fazer “viver” uma cidade como tal. Ademais, no teatro uma só personagem presente no palco não pode manter-se calada; tem de proferir um monólogo.

Uma personagem muda não pode permanecer sozinha no palco. Já no cinema ou romance, a personagem pode permanecer calada durante bastante tempo, porque as palavras ou imagens do narrador ou da câmara narradora se encarregam de comunicar-nos os seus pensamentos, ou, simplesmente, os seus afazeres, o seu passeio solitário etc. o homem é centro do universo. O uso de recursos épicos — o coro, o palco simultâneo etc., são recursos épicos — indica que o homem não se concebe em posição tão exclusiva.
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Nota:
(6) Pode-se escrever — e já se escreveram — contos sôbre baratas. Mas há de se tratar, ao menos, de uma “baratinha”. O diminutivo afetuoso desde logo humaniza o bicho. O mais terrível na Metamorfose de Kafka é a lenta “desumanização” do inseto. As fábulas e os desenhos cinematográficos baseiam-se nesta humanização. O homem, afinal, ‘só pelo homem se interessa e só com ele pode identificar-se realmente.
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continua… A pessoa e a personagem
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Fonte:
Antonio Candido, Anatol Rosenfeld, Decio de Almeida Prado e Paulo Emílio Sales Gomes. A Personagem de Ficção. 2. ed. SP: Perspectiva.
Este livro é digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source com a intenção de facilitar o acesso ao conhecimento a quem não pode pagar e também proporcionar aos Deficientes Visuais a oportunidade de conhecerem novas obras.

Monteiro Lobato (Viagem ao Céu) XXII – O café dos astrônomos


Os meninos, mais o burro, o Doutor Livingstone, Tia Nastácia e o anjinho desceram no pasto, perto do cupim grande e, depois de passada a tontura, foram correndo para casa, ansiosos por abraçar a vovó — todos, menos o burro, que ficou por ali pastando avidamente. Assim que entraram na varanda e deram com as cartolas e bengalas dos sábios, entrepararam.

— Gente importante aqui em casa! Quem será? — exclamou a menina. E foi espiar. — Xi, Pedrinho! A sala de jantar está cheia de corpos estranhos...

Pedrinho também espiou e viu que sim — e foi entrando, seguido pelos outros. Dona Benta ergueu-se da mesa, numa grande alegria.

— Ora graças! — exclamou. — Bom susto vocês me pregaram... Não quero mais isso, não. Quando saírem para novas aventuras, não deixem de me avisar.

E voltando-se para os sábios:

— Meus senhores, permitam-me que eu faça a apresentação de meus netos. Este é Pedrinho, filho de minha filha Tonica. Esta é Narizinho, sobre a qual já muito conversamos. E esta bonequinha é a tal Emília do chifre furado, que anda revolucionando o mundo.

— E aquele cidadãozinho ali, de chapéu de explorador africano? — perguntou o maioral.

— Ah, esse é o Doutor Livingstone, avatar daquele antigo Visconde de Sabugosa que morreu afogado em nossa aventura no País da Fábula.

Os astrônomos gostaram do “avatar”, mas ficaram na mesma. Nisto o maioral deu com o anjinho e enrugou a testa.

— E essa criança linda? — perguntou, apontando. Dona Benta, que estava sem óculos, não havia reparado no anjinho, que, muito atrapalhado com tantas novidades, ficara atrás de todos, de dedinho na boca. Mas pôs os óculos e olhou, e com o maior dos espantos deu com a maravilha. Ficou tonta. Nem pôde falar. Só pôde abrir a boca — e de boca aberta ficou.

— Não tente adivinhar que não consegue, vovó! — gritou Narizinho. — É um anjo de asa quebrada — a esquerda — que Emília encontrou perdido na Via-láctea...

Dessa vez quem arregalou os olhos foi o maioral e o mesmo fizeram todos os outros sábios. Na Via-láctea! Que absurdo!

— Como é isso, menina? — volveu o maioral. — Faça o favor de repetir o que disse porque não entendi bem. Parece que falou em Via-láctea...

— Sim — respondeu Narizinho. — Via-láctea, sim. Que tem isso? Encontramos este anjo no nosso passeio pela Via-láctea.

O espanto dos astrônomos subiu mais uns pontos. A linguagem daquela menina era nova para eles. Mas como fossem “adultos” de sobrecasaca e cartola, desses que tratam as crianças como seres inferiores e não acreditam em nada, breve voltaram a si do espanto e sorriram com ironia, como quem diz:

“Bobagens de criança!” Ofendida com aquele sorriso, a boneca empertigou-se toda e replicou:

— Estou vendo que os senhores marmanjos não acreditaram em nossa história. Estamos pagos. Nós também não acreditamos nas suas “hipóteses” muito sem jeito...

Os astrônomos não esperavam por aquela resposta, de modo que abriram de novo as bocas. Uma boneca que falava que nem gente e sabia o que era hipótese! Maior assombro era impossível. Mas em vez de apenas assombrar-se, só sem mais nada, o maioral caiu na asneira de sorrir de novo, com superioridade ariana, e de dizer, como que ofendido:

— Bravo! Com que então não acredita em nossas hipóteses? Muito bem. E que vem a ser hipótese, senhora bonequinha impertinente?

Emília pôs as mãos na cintura.

— Hipótese são as petas que os senhores nos pregam quando não sabem a verdadeira explicação duma coisa e querem esconder a ignorância, está ouvindo, seu cara de coruja? Pouco se me dá que os senhores acreditem ou não que estivemos ou não estivemos na Via-láctea. Estivemos e acabou-se. E estivemos também em Marte e Saturno, e até brincamos de escorregar naqueles anéis. E na Lua conversamos com um santo muito bom, que ouvia tudo quanto dizíamos sem esses sorrisos que estamos vendo nessas reverendíssimas caras cheias de crocotós dos ruins...

— Emília! — ralhou Dona Benta, levantando-se. — Não posso admitir que você insulte em nossa casa estes luminares da ciência.

— Então também não admita que esses besourões casacudos duvidem do que estamos dizendo. Amor com amor se paga. Comigo é ali na batata...

Emília tinha perdido as estribeiras e estava que nem uma vespa. Dona Benta quis de novo ralhar com ela, mas calou-se. Lá por dentro estava lhe dando razão. Quem não respeita as idéias dos outros não pode esperar que respeitem as suas.

Os astrônomos, vendo que a velha havia parado de ralhar com a boneca, ofenderam-se. O maioral ergueu-se da mesa, e sem mais explicações retirou-se da sala seguido dos demais.

— Passe muito bem! — foi tudo quanto disseram lá na varanda, depois de tomarem as cartolas e bengalas.

Emília, vitoriosa, plantou-se de mãos à cintura no topo da escadinha para vê-los sair. E quando o chefe dos astrônomos, já no terreiro, olhou para trás, ela botou-lhe uma língua deste tamanho.

— Ahn!...

O maioral, furiosíssimo, perdeu a compostura e também botou para ela um palmo de língua. Uma língua muito feia e preta. Mas para fazer isso teve de virar a cabeça mesmo andando — e tropeçou na Vaca Mocha, sempre deitada no mesmo lugar, caindo um grande tombo no chão.

Emília estava mais que vingada, mas mesmo assim ainda lhe gritou:

— Passe muito bem, seu cara de coruja que comeu amora!...
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Continua … XXIII – As Impressões de Tia Nastácia
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Viagem ao Céu & O Saci. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. II. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 301)


Uma Trova Nacional

Prazer que enriquece e acalma
nesta humana travessia:
sentir em chama a minha alma
quando arde em chama a poesia!
–ROZA DE OLIVEIRA/PR–

Uma Trova Potiguar

As coisas boas da vida,
que nos dão felicidade
passam sempre de corrida,
deixando eterna saudade.
–JOAMIR MEDEIROS/RN–

Uma Trova Premiada

2005 - Nova Friburgo/RJ
Tema - MOTIVO - M/H

No lençol que era perfeito,
entre os “motivos florais”,
o tempo foi, sem respeito,
bordando... saudade a mais.
–WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ/PR–

Uma Trova de Ademar

Sei que vou partir, não tardo!
Mas, enquanto Deus quiser,
vou carregando o meu fardo
do tamanho que eu puder!...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Busquei definir a vida,
não encontrei solução,
pois cada vida vivida
tem uma definição...
–LUIZ OTÁVIO/RJ–

Simplesmente Poesia

Sentir Poesia
–ARTHUNIO MAUX/RN–

Alma minha gêmea:
A fêmea
Em ti
Me enlouquece.
Se há trevas
Amanhece.
E o sol
Me desperta
E ilumina a escuridão
De todos os sentidos.
Alvorece.

Estrofe do Dia

O meu verso vai cortando
o sertão abrasador,
e chega na mesma hora
que o caboclo agricultor
abre a camisa e se abana
para esfriar o calor.
–MOACIR LAURENTINO/PB–

Soneto do Dia

Santa
–HERMETO LIMA/PA–

Essa que passa por aí, senhores,
de olhos castanhos e fidalgo porte,
é a princesa ideal dos meus amores,
a mais franzina pérola do Norte.

Contam que, numa noite de esplendores,
a essa que esmaga o coração mais forte
hinos cantaram e jogaram flores
as estrelas, em mágico transporte.

Acreditais, talvez, ser fantasia!...
Eu vos direi que não... Em certo dia,
quando ela entrou na festival capela,

eu vi a Virgem mergulhada em pranto,
e o Cristo de Marfim fitá-la tanto,
como se fosse apaixonado dela!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Correção de Trova


No Livro de Trovas dos Pais (http://singrandohorizontes.blogspot.com/2011/08/livro-de-trovas-dos-pais-homenagem-ao.html), em minha trova

Num retrato amarelado,
a saudade em mim se deu.
Ontem tinha o pai ao lado
Hoje, sem ele…o pai sou eu.
JOSÉ FELDMAN – PR

existe uma inversão de palavras no último verso, a trova passa a ser:

Num retrato amarelado,
a saudade em mim se deu.
Ontem tinha o pai ao lado
Sem ele, hoje, o pai sou eu.
JOSÉ FELDMAN – PR

domingo, 14 de agosto de 2011

José Feldman (Cadeira Vazia)


(Soneto Póstumo a Meu Pai 1915-1980)

Um bandolim no fundo do armário,
uma cadeira vazia,
lágrimas por um velho cenário,
saudades de um outro dia.

A música que reinava, se cala
a palavra dita e não dita,
a solidão em meio a sala,
um coração cuja saudade habita.

O tempo que houve, se dissipou,
deixando uma lágrima pendida.
Como uma peça de teatro, se findou,

gravando na alma, sua partida.
Tempos de abraços, sorrisos e certezas,
um fio esticado que desenrolamos na vida.

Maringá, 14 de agosto de 2011.