quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Nilto Maciel (O Bom Selvagem) 2a. Parte

COLÉGIO

Carrego sempre comigo meu álbum de fotografias. No entanto, não gosto de mim no passado nem de meu passado. Como fui tolo e enganado! Fizeram-me crer em tantas ilusões!

Talvez me fascine o mistério do retrato. A gente poder perenizar-se, rever-se. Também o espelho me encanta. A gente duplicar-se, multiplicar-se. Copiar-se. A máquina fotográfica, seu mecanismo, sempre me inquietou. Antes eu fazia muitas perguntas a estranhos sobre ela. Hoje não tenho mais a inocência de perguntar. Ora, vão dizer, um homem tão estudado não devia fazer tantas perguntas.

Uma das fotografias que mais me fazem pensar é aquela onde apareço vestido de colegial . A primeira tirada com pose e logo após chegar ao colégio de Cuiabá. Eu tinha 12 anos de idade.

De início, estranhei a nova vida, o clima da cidade, os colegas, o colégio, apesar de ter sido apresentado como aluno exemplar. Pouco a pouco fui me adaptando ao novo ambiente, mesmo sem dispor de muito tempo para conversar e brincar. Os mestres exigiam demais de mim e eu conseguia estar sempre adiante de suas exigências. O latim aprendi com grande facilidade, a ponto de dentro de um ano já ler trechos clássicos, sem nenhuma dificuldade. Gutta cavat lapidem.

Quantas e quantas expressões decoradas e aprendidas! Melior canis virus leoni mortuo.

Não deixei o francês para trás. E como era gostoso ler e falar francês!

“Un loup n'avait que les os et peau,

Tant les chiens faisaient bonee garde.”

As fábulas de La Fontaine. Até inglês já nos ensinavam. E eu aprendia a gostar de sandwich, jazz, girls e dos United States e da England.

Ensinaram-se também números arábicos e romanos, operações, frações, álgebras. E tudo eu aprendia com distinção e louvor. Até as histórias de Sodoma e Gomorra, as vidas de Rebeca, Raquel e Lia, José e seus irmãos.

– Então fez o Senhor chover enxofre e fogo.

– A moça era mui formosa de aparência, virgem, a quem nenhum homem havia possuído. À tarde, vindo Jacó do campo, saiu-lhe ao encontro Lia, e lhe disse: Esta noite me possuirás.

– Teve José um sonho, e o relatou a seus irmãos; por isso o odiaram ainda mais.

Minha cabeça se enchia de palavras. Um, duo, trois, four. Eu todo me compunha de lições. Acordava ainda com os sonhos numerais, históricos, linguísticos, para rezar a Deus e aos santos, e depois ler, copiar e estudar lições que nunca meus pais viveram.

– Senhor, posto que o Capitão-mor desta vossa frota...

Hoje me abraço de novo àquelas palavras, a parte daquelas lições, por ofício, razão daquele mesmo aprendizado ou talvez por ironia do destino. Não mais decoro o texto que me deram. Vou mais adiante: traduzo para minha antiga língua a história do aniquilamento de meus próprios antepassados. História de heróis estrangeiros. Vasco da Gama, D. Manuel, o Venturoso, Pedro Álvares Cabral (e eu não descendo dele, meus filhos!), Gaspar de Lemos, Martim Afonso de Souza, Diogo Álvares Correia, o Caramuru (nem deste herdei nada). Uma fileira de nomes, antes tão estrangeiros. Eu, Bokodori, tradutor, professor.

VIAGEM À EUROPA

Nunca me preocupei com fazer um paralelo entre a História do Brasil e a minha. Não quero me perder em análises, sobretudo porque prefiro contar simplesmente minha vida. Além do mais, não vivi os grandes acontecimentos históricos. Eles não me despertaram sequer a atenção. Nem hoje consigo interessar-me por eles. O passado do Brasil e da Humanidade são para mim apenas textos ou lições escolares. Se aceitei traduzi-los para minha primeira língua, o fiz por qualquer motivo, menos pelo de ser um cidadão ocupado com a História.

Tenho notado o quanto escrever é traiçoeiro. Ora, eu não queria me perder em análise e cá estou perdido.

Escrever é desmentir, é negar hoje a afirmação de ontem. É contradizer-se, brigar consigo mesmo.

Meu primeiro intento hoje é, no entanto, situar a quarta fase mais importante de minha vida no contexto da História do Brasil. Aos 15 anos de idade viajei à Europa. Governava o Brasil o Marechal Hermes. No Ceará um padre comandava uma revolta. Fala-se agora da importância daqueles fatos. Eu, porém, ainda me sabia menino, apesar de toda a sabedoria e da ambição que me empurrava. Ler e falar francês não me custavam nada. E atravessei os mares e fui passear na capital do mundo moderno. Eu me sentia grande, notável, excelente. Um ex-selvagem brasileiro transitando pelas ruas e praças mais cultas da Terra, como um intelectual europeu. Depois eu soube: há mais de quatrocentos anos alguns índios brasileiros desfilaram nus pelas ruas de Ruão, para gáudio do rei Henrique II e sua pomposa corte. Não me senti um animal exótico, digno dos olhares concupiscentes de nobres ou burgueses. Antes, um homem até mais inteligente do que eles, pois não falavam bororo e nunca ouviram falar de Ké-Marugodu, enquanto eu também falava francês e sabia da história de Adão e Eva. Além do mais, eles sempre me pareceram uns macacos, todos fracos, baixos, magros, horríveis.

Conheci também Roma, vi o papa e todas as fantasias da Igreja Católica.

Paris e Roma me encantaram. A história e a arquitetura. Notre-Dame, Versalhes, Via Appia, Arco de Tito, Catedral de Reims, Place Royale, Coliseu, Basílica de São Pedro.

Foram dois anos de intensa vida social. Conheci Louises e Luigis, Françoises e Francescas, frequentei as mais luxuosas e burguesas casas, sempre bem tratado e acompanhado. Recitavam-me versos dos mais distintos poetas franceses, antigos e modernos, numa incessante chuva de belas palavras. Presentearam-me livros e mais livros e alguns poemas até consegui decorar. Hoje restam-me apenas fragmentos deles, perdidos nos cantinhos da memória:

Dictes-moy où, n'en quel pays,
est Flora, la belle Romaine?”


Nunca pude esquecer um soneto que todas as noites uma bela parisiense me dizia:

“Quand vous serez bien vieille, au soir à la chandelle,
Assisse aupres du feu, deuidant & filant,
Direz chantant mes verses...”


Em Paris aprendi a ser romântico e, quando me via só, rabiscava versos para a moça com quem me casaria. Chamava-se Aroia. Depois, os padres arranjaram-lhe um nome português: Lucina. Disto, porém, falarei adiante. Quero, agora, recordar versos que escrevi para ela. Alguns deles consegui reter na memória, como estes:

Ah! quantas vezes, quantas! junto dela
Não senti tremer sua mão na minha.
Até um soneto cheguei a compor:
Em seu leito de flores bem deitada,
Palidamente bela e escurecida,
Ela dormia, a minha doce amada,
E sonhava, de tudo esquecida.

Pela maré das águas embalada,
Era a virgem do mar adormecida.
Em maravilhosos sonhos banhada,
Mais parecia um anjo de outra vida.

Como eram aqueles seios belos!
Ah! seus negros olhos me fascinavam.
Ah! suas formas nuas me enlouqueciam.

Não te rias de mim, de meus anelos.
Por ti – vivi noites que me matavam,
E morrerei como os loucos morriam.


Já se foram vinte anos. Meus livros de poetas franceses perderam-se, rasgaram-se, queimaram-se, levaram-nos os ventos fortes de todas as desilusões. Para que conhecer Gérard de Nerval ou Leconte de Lisle, Victor Hugo ou Ronsard, se até os padres que me ensinaram francês me enxotavam? Para que guardar versos, ainda mais cheios de nymphes, amours, spectres, se só me restavam homens duros, ódios e a vida nua e crua? Meu desejo é esquecer o que aprendi e pôr para fora minhas verdadeiras emoções, ser eu mesmo, Bokodori e não Daniel Álvares.

Não me fazem falta François Villon ou Baudelaire, Mallarmé ou Apollinaire. Não sinto saudades da mademoiselle do soneto de todas as noites. Nem sequer lhe recordo o nome. Talvez seja Caroline, Marguerite ou mesmo Jeane D'arc. Se estiver viva, será uma quarentona gorda, cheia de filhos e varizes, e certamente nem se lembrará mais de um selvagem chamado Daniel Álvares, que em 1913 conheceu Paris. Provavelmente também esqueceu os versos do poeta e, à luz da vela, sentada ao pé do fogo, aflita e decadente, contará apenas sua solidão.

Onde andará certo Henri Barrès que também escrevia poesia e me chamava de “bon sauvage”? Apaixonado de Jean-Jacques Rousseau, tudo lhe servia de pretexto para citar seu mestre. Sonhava com viajar ao Brasil e conviver com os índios. Terá se casado com mademoiselle Caroline? Ou vive no Amazonas, com uma silvícola? Talvez seja deputado pelo Parti Socialiste, não faça mais versos e nem se lembre mais do “bon sauvage Bokodori”.

E por que estou eu, neste relato breve e simples, a recordar-me dele, de seu entusiasmo estudantil, e da bela senhorita que declamava sonetos? Por que relembro Paris, poetas franceses, meus 15 anos, ora bolas? Hoje sou de novo apenas um selvagem brasileiro, já quase velho, cão sem dono, professor de inutilidades para meus pobres descendentes, historiador de segunda mão, que um dia acreditou em tudo, inclusive na Beleza da palavra. Je suis. Coitado de mim! Sou apenas um fantasma que se refugia na solidão da natureza. Contra a solidão, porém, nada se pode fazer.

Fonte:
Nilto Maciel. Vasto Abismo. Brasília: Ed. Códice, 1998.

Lygia Fagundes Telles (A Noite Escura e Mais Eu)

“Ela ficou mas a gota de sangue que pingou na minha luva, a gota de sangue veio comigo” - assim começa a coletânea de nove contos, A Noite Escura e Mais Eu, de Lygia Fagundes Telles, na primeira frase de "Dolly". E termina, na última frase de "Anão de Jardim", história que encerra o livro: “Seja feita a Vossa vontade e (...) então aceito também ser a estrela menor da grande cauda levantada no infinito no infinito deste céu de outubro”. Como dentro de um parêntese, todo o universo de Lygia concentra-se entre essas duas frases, o sangue inevitável das dores da condição humana e a talvez redentora aceitação não só do Divino, mas também da insignificância e humildade que essa condição impõe. A repetição da palavra “infinito” acentua a idéia de eterno retorno, e a referência ao “céu de outubro” remete à primavera e ao renascimento de tudo. Ou seja: o sangue pode ser transmutado, alquimicamente, em luz. Ou pelo menos em ótima literatura.

A Noite Escura e Mais Eu, entre todos os livros de contos de Lygia, talvez seja a sua obra-prima. Pela unidade, pela densidade, pela extraordinária dignidade que confere à língua portuguesa, mesmo quando trata de temas ou situações sórdidas, perversas, violentas.

Lygia volta a temas recorrentes de sua obra, como a morte, a solidão, o amor, a velhice, envolvendo-nos em um mundo riquíssimo em experiências humanas, povoado por anjos e demônios, angústias e alegrias, medos, ilusões e desilusões. A autora está de volta ao seu leque de perplexidades, e suas personagens, aqui, são garotinhas, cachorros, anões, que espiam os homens e suas extravagâncias.

Esse universo misterioso das histórias de Lygia pode ser observado e sentido logo no primeiro conto, "Dolly", ambientado nos anos 20. A personagem é uma moça na faixa dos vinte anos que queria ser artista de cinema mudo. O conto é narrado por Adelaide, da mesma idade, mas de personalidade ingênua e conservadora, com quem Dolly quer dividir a moradia enquanto não alcançava as luzes da ribalta. Adelaide encontra o cadáver de Dolly violentada depois de uma noite de farra e suja suas luvas de sangue ficando, aparentemente, apavorada.

Personagens em crise diante da velhice são apresentados no conto "Boa noite, Maria", que enfoca o amor de uma mulher de sessenta e cinco anos por um homem de cinqüenta. É um conto sobre um possível direito à eutanásia, sobre o horror da decomposição e a fuga da morte como aviltamento. A solidão é o pano de fundo dessa história, a mesma solidão que permeia quase todas as personagens deste livro que, a exemplo dos anteriores da autora, traz enredos ambíguos que às vezes se aproximam do realismo fantástico.

Em "Anões de jardim", um dos melhores da coletânea, o narrador é um ser de pedra que tem alma e quer sobreviver à demolição da casa cujo jardim habita. Fala de uma perseguição à imortalidade, de uma continuação da vida em qualquer forma, mesmo a mais vil. Neste conto, Lygia Fagundes Telles rompe com a linearidade do tempo, calça a sua escritura com “botas de nuvens” e revela a vida como um pesadelo envolvido pela crueldade do homem de todos os tempos a contrastar (fantástico paradoxo!) com a ‘humanidade’ de uma estátua de pedra que pensa e sofre, como testemunha muda e memória dos dramas vividos em uma casa.

Nos outros contos, a autora desliza em verdadeiros instantâneos das relações humanas, como o da mãe à beira do túmulo da filha tentando compreender como ela foi capaz de ter como amante uma outra mulher. Ou a história de Kori, mulher rica e infeliz no casamento, que vai para a cama com o homem que ela sabe que é apaixonado pelo seu marido.

Lygia aposta no absurdo, mantém seu estilo intimista em suas reflexões sobre as fraquezas humanas nesses nove contos de mistério e paixão de A noite escura e mais eu, cujo título nasceu de um poema de Cecília Meirelles: "Ninguém abra a sua porta / pra ver o que aconteceu: / saímos de braço dado / a noite escura e mais eu."

As histórias não se esgotam no enredo. Terminadas de ler pela primeira vez, deixam a vontade de reler uma segunda ou terceira, por suas inúmeras camadas de significados e pela carga de mistério sempre deixada no ar. Às vezes, todo um conflito revela-se numa frase aparentemente perdida no meio do texto, num detalhe. Assim é, por exemplo, em "Dolly"; na perfeição de "Você não Acha que Esfriou?" ou na ousadia do tema lésbico de "Uma Branca Sombra Pálida".

Títulos como "Você não Acha que Esfriou?" e "Papoulas em Feltro Negro" têm um adensamento do ceticismo das mulheres maduras e de sua capacidade de reação. Em "Papoulas em Feltro Negro", por exemplo, uma professora de piano coloca em dúvida o passado de criança perseguida que construíra para si ao reencontrar uma mestra megera, ainda destrutiva, que acusa a ex-aluna de mentirosa e gaga, as falhas da comunicação tornando ambígua a própria memória, roubando-lhe as certezas, ocultando-as sob trevas espessas. Na cama fria do amante improvisado, uma mãe de 45 anos ergue-se para a vingança verbal que derrubará a pose do amigo do marido. Neste conto admiração e respeito à sensibilidade do outro são confundidos com ódio e desprezo. No final, a velha professora Elzira evita de todas as maneiras o olhar da ex-aluna.

Fonte:
Passeiweb

Lima Barreto (A Mulher de Anacleto)

Este caso se passou com um antigo colega meu de repartição.

Ele, em começo, era um excelente amanuense, pontual, com magnífica letra e todos os seus atributos do ofício faziam-no muito estimado dos chefes.

Casou-se bastante moço e tudo fazia crer que o seu casamento fosse dos mais felizes. Entretanto, assim não foi.

No fim de dois ou três anos de matrimônio, Anacleto começou a desandar furiosamente. Além de se entregar à bebida. deu-se também ao jogo.

A mulher muito naturalmente começou a censurá-lo.

A princípio, ele ouvia as observações da cara metade com resignação; mas, em breve, enfureceu-se com elas e deu em maltratar fisicamente a pobre rapariga.

Ela estava no seu papel, ele, porém, é que não estava no dele.

Motivos secretos e muito íntimos, talvez explicassem a sua transformação; a mulher, porém, é que não queria entrar em indagações psicológicas e reclamava. As respostas a estas acabaram por pancadaria grossa. Suportou-a durante algum tempo. Um dia, porém, não esteve mais pelos autos e abandonou o lar precário. Foi para a casa de um parente e de uma amiga, mas, não suportando a posição inferior de agregada, deixou-se cair na mais relaxada vagabundagem de mulher que se pode imaginar.

Era uma verdadeira "catraia" que perambulava suja e rota pelas praças mais reles deste Rio de Janeiro.

Quando se falava a Anacleto sobre a sorte da mulher, ele se enfurecia doidamente : — Deixe essa vagabunda morrer por aí! Qual minha mulher, qual nada ! E dizia coisas piores e injuriosas que não se podem pôr aqui.

Veio a mulher a morrer, na praça pública; e eu que suspeitei, pelas notícias dos jornais, fosse ela, apressei-me em recomendar a Anacleto que fosse reconhecer o cadáver. Ele gritou comigo: — Seja ou não seja! Que morra ou viva, para mim vale pouco ! Não insisti, mas tudo me dizia que era a mulher do Anacleto que estava como um cadáver desconhecido no necrotério.

Passam-se anos, o meu amigo Anacleto perde o emprego, devido à desordem de sua vida. Ao fim de algum tempo, graças à interferência de velhas amizades, arranja um outro, num Estado do Norte.

Ao fim de um ano ou dois, recebo uma carta dele, pedindo-me arranjar na polícia certidão de que sua mulher havia morrido na via pública e fora enterrada pelas autoridades públicas, visto ter ele casamento contratado com uma viúva que tinha " alguma coisa", e precisar também provar o seu estado de viuvez.

Dei todos os passos para tal, mas era completamente impossível. Ele não quisera reconhecer o cadáver de sua desgraçada mulher e para todos os efeitos continuava a ser casado.

E foi assim que a esposa do Anacleto vingou-se postumamente. Não se casou rico, como não se casará nunca mais.

Fonte:
Lima Barreto. Contos Completos. Companhia das Letras.

Carlos Leite Ribeiro (Vinte Anos Depois ...)

Vinte anos na vida de uma pessoa é muito tempo. 

Recordou-se dos momentos difíceis que passou quando a morte de seus pais. Primeiro morreu-lhe a mãe e, um mês depois, foi a vez do pai deixar este mundo. A situação financeira tornou-se então insustentável. A vida assim era impossível.
Foi então que resolveu escrever a um velho tio, que há muitos anos vivia na Venezuela.

Contou-lhe tudo e, na resposta, o bondoso homem mandou-a ir ter com ele. O tio era dono de um moderno e bem frequentado restaurante dos arredores de Caracas.
A Rosa, a Rosita, como carinhosamente era tratada por todos, conseguiu que o casal Gomes, que tinha uma pequena mercearia, lhe emprestasse o dinheiro necessário para a viagem e, assim, num belo dia meteu-se a caminho e só parou em Caracas.
Conforme lhe ia sendo possível, ia mandando dinheiro para pagar a sua dívida, que em menos de dois anos, estava completamente saldada.

Já há muito tempo que não devia nada a ninguém, além da gratidão àqueles que a tinham ajudado, numa hora tão crítica.

Vinte anos, tanto tempo!

No avião, em viagem Caracas / Lisboa, não parava de pensar nesta frase.

Horas depois o avião aterrou em Lisboa. Depois das formalidades alfandegárias, apanhou um táxi para a Estação Ferroviária do Rossio, e apanhou um comboio para sua terra natal, onde contava passar o Fim-de - Ano e só regressar a Caracas depois do Carnaval.

O comboio já entrara na curva que antecede a gare de desembarque, e o ruído dos freios cada vez eram mais intensos. Por fim a carruagem imobilizou-se. Lentamente levantou-se, agarrou a sua bagagem, e já com alguma ansiedade, saiu daquele comboio que a tinha trazido da capital.

- Precisa de um táxi?... Virou-se lentamente e encarou o homem que a interpelava, e, que novamente repetiu:

- Precisa de um táxi?

Rosa, como saísse de um sonho, respondeu-lhe:

- Sim, preciso de um táxi.

O motorista pegou então na bagagem e enquanto a arrumava, Rosa foi sentar-se dentro do táxi. Parecia um sonho estra na sua terra. Vinte anos depois, regressava.

- É para São Pedro que a senhora deseja ir? - Perguntou-lhe o taxista.

- Não, leve-me ao centro da cidade a uma pastelaria, pois ainda não tomei o pequeno-almoço.

Como a cidade tinha mudado, como estava diferente, como estava bonita!
Ainda absorta nos seus pensamentos, chegou quase sem dar por isso ao centro da urbe.

- Há pouco, disse-me que queria tomar o pequeno-almoço? - Lembrou-lhe o motorista.

- Pois disse. É aqui a pastelaria?

- É sim.

- Pode-me levar a bagagem para o hotel, que fica ali naquelas esquina? Já tenho aposento reservado.

- É um prazer, minha senhora. Desculpe a minha curiosidade, mas a senhora é natural daqui desta terra? Desculpe-me...

- Sou. Nasci nesta terra há 36 anos mas, já há vinte anos que não vivo cá.

- Desculpe-me. Vou já pôr a sua bagagem no hotel.

Rosa, antes de entrar na pastelaria, hesitou, mas por fim resolveu entrar.
Era um estabelecimento moderno, agradável, onde outrora existia um belo quintal de uma casa que, entretanto, fora demolida.

Pediu o pequeno-almoço enquanto acendia um cigarro.

Vinte anos... Quantas recordações lhe vinham à mente. Parecia um filme que lentamente se desenrolava na sua cabeça, em que ela, a Rosa, era ao mesmo tempo a argumentista, a realizadora e a intérprete.

Lembrou-se do simpático casal Gomes, que confiara nela e lhe proporcionaram a sua ida para a Venezuela.

O que teria sido feito deles?

Com a pressa de vir passar férias a Portugal. Até se tinha esquecido de lhes trazer uma prenda.

Mas que esquecimento o seu!

Entretanto, começou a ouvir a sirene dos Bombeiros, e, tal como outrora, os nervos começaram a encrespar-se.

Não tardou a começar a ouvir o barulho dos Soldados da Paz que fazem a apagar um fogo. E também ouviu um popular exclamar:

- A mercearia dos Gomes está a arder!

Ficou atônita com o que ouvira.

Levantou-se e correu até chegar à loja daqueles amigos que um dia a tinham ajudado. A loja, nessa altura já era um mar de chamas. Nada se podia aproveitar de seu recheio.

No passeio em frente, rodeados por muitos populares, estavam os velhotes que, com ar apavorado olhavam para o que tinha sido a sua loja, o seu ganha-pão.
Para eles, mais parecia um pesadelo do que a realidade.

- Com o negócio tão mau como tem estado, e ainda por cima nos acontece uma desgraça destas... Sem termos seguro, estamos desgraçados! - lamentavam-se os velhotes.

Foi então que a Rosa se abeirou deles, que não a conheceram, e a moça aproveitou para lhes dizer:

- Senhor Gomes, acabo de chegar da Venezuela e, uma amiga minha incumbiu-me de vos entregar este cheque, já visado para a Caixa Geral de Depósitos.

O velhote, maquinalmente agarrou o cheque e apenas balbuciou:

- Da Venezuela? Será da Rosa, da Rosita? Há, mas eu não posso aceitar este dinheiro todo…

- Aceite - retorquiu-lhe a jovem - pois, senão a Rosita ficava muito zangada comigo, e isso eu não quero. E agora, desculpem-me, mas tenho que me ir embora. Apesar do que vos aconteceu, eu desejo-vos muita saúde e muitas felicidades. Até à próxima amigos!

E a Rosa afastou-se rapidamente, sem esperar que os velhotes lhes respondessem.

Naquele cheque tinha entregado ao casal Gomes o dinheiro que tinha posto de parte para passar férias em Portugal. E o mais engraçado é que, por essa entrega, tinha terminado as suas férias mesmo antes de as ter começado.

Já no avião a caminho novamente da Venezuela, sorriu e pensou alto:

- Meu Deus, como a vida é tão dura...

Fonte:
Carlos Leite Ribeiro - Marinha Grande - Portugal

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 442)



Uma Trova Nacional

É com olhos inocentes
que nos vê toda criança;
do futuro são sementes,
recheadas de esperança.
–MIFORI/SP–

Uma Trova Potiguar


Sem passado e sem futuro,
a criança abandonada
vive num mundo obscuro,
sem esperança de nada...
–JOAMIR MEDEIROS/RN–

Uma Trova Premiada
2006 - São Paulo/SP
Tema: RESPEITO - Venc.


Desavenças de rotina;
palavras duras ao leito
o casamento termina
quando termina o respeito!
–SELMA PATTY SPINELLI/SP–

Uma Trova de Ademar

Confesso: tenho esperanças,
antes de ficar senil,
de ver, nas mãos das crianças,
o Progresso do Brasil!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Rezar é belo, criança,
não há mistério na prece...
Deus dá o pão da esperança
Enquanto o trigo não cresce!...
–ADELIR MACHADO/RJ–

Simplesmente Poesia

M O T E :
ADELMAR TAVARES/PE


É nossa alma uma criança,
que nunca sabe o que faz,
quer tudo que não alcança,
quando alcança, não quer mais.

G L O S A:
GILSON MAIA/RJ

É nossa alma uma criança,
vive no mundo dos sonhos.
Busca o amor, busca a esperança,
mesmo em caminhos tristonhos.

Meu coração, coitadinho,
que nunca sabe o que faz,
quer teu amor, teu carinho,
desde os tempos de rapaz.

Meu pensamento balança,
das paixões, aos vendavais.
quer tudo que não alcança,
por isso eu sofro demais.

Sobe o alpinista, procura
sucessos eventuais.
Busca o pico com bravura,
quando alcança, não quer mais.

Estrofe do Dia

Ao despertar deste ano
Uma vontade me veio
Do ar... do céu... do oceano...
De Deus, na verdade, veio,
De falar sempre do amor,
Sem preconceito, qual for,
Falar de um amor sublime,
Visando a paz das pessoas,
Falando de coisas boas,
Do grande amor que redime.
–RAIMUNDO SALLES BRASIL/BA–

Soneto do Dia

A Fome
–NILTON MANOEL/SP–


Pobre carrega em seu triste fadário
angústias amargas, broncas e pesares,
enquanto os barões arrotam pelos ares
que a inflação engorda em face do salário.

e o artesão da pátria, escravo do patrão,
com medo da fome que o leve a miséria,
mantém-se de pé, a morte é bem mais séria,
são juros e juras na hora do caixão

e pelos palanques, um tribuno eterno
na fome do voto em promessa, arrepia,
a vida do pobre em quimeras do inferno;

sem leite, sem pão, pagando a moradia,
devendo no empório os seus dias tristonhos,
o que pode ser quem não pode ter sonhos?

--
Fonte:
Textos e imagem enviados pelo Autor

Guerra Junqueiro (Como um Camponês Aprendeu o Padre-Nosso)

Tinha um coração duro, e não era esmoler. Foi-se confessar uma vez, e o confessor deu-me por penitência rezar sete vezes o Padre-Nosso.

– Não o sei, e nunca o pude aprender, respondeu o aldeão.

– Pois nesse caso, tornou o confessor, imponho-te por penitência dar a crédito um alqueire de trigo a todas as pessoas que te forem pedir da minha parte.

No dia seguinte de manhã apresentou-se o primeiro pobre.

«Como te chamas? perguntou-lhe o camponês.»

«Padre – Nosso – Que – Estais – No – Céu, respondeu o pobre.»

«E o teu apelido?»

«Seja – Santificado – O – Vosso – Nome.»

E o pobre foi-se embora com o seu alqueire de trigo.

Ao outro dia chega segundo pobre.

«Como te chamas?»

«Venha – A – Nós – O – Vosso – Reino.»

«E o teu apelido?»

«Seja – Feita – A – Vossa – Vontade.»

E partiu com o seu alqueire de trigo.

Veio terceiro pobre.

«Como te chamas?»

«Assim – Na – Terra – Como – No – Céu.»

«E o teu apelido?»

«Dai-nos – Hoje – O – Pão – Nosso – De – Cada – Dia.»

E levou o seu alqueire.

Vieram ainda dois pobres sucessivamente, e passou-se tudo da mesma forma até chegar ao Amém.

Pouco tempo depois o confessor encontrou o aldeão.

– Então já sabes o Padre-Nosso?

– Não, senhor cura, sei só os nomes e apelidos dos pobres a quem emprestei o meu trigo.

– Quais são? tornou o padre.

E o aldeão enumerou-mos a seguir, e pela ordem em que cada um se tinha apresentado.

– Já vês, disse o confessor, que não era muito difícil aprender o Padre-Nosso, porque já o sabes perfeitamente.

Fonte:
Guerra Junqueiro. Contos para a infância.

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) O Irmão de Pinóquio – IV – A zanga de Emília

Narizinho foi espiar o que Emília estava fazendo. Encontrou-a no cantinho da sala onde era o seu “quarto”, muito atarefada em botar os seus vestidos e brinquedos nas caixas de papelão que lhe serviam de mala. Mas notou que Emília só botava os vestidos e brinquedos que ela, Narizinho, lhe havia dado. Os outros, dados pela negra, jaziam no chão, amarrotados e pisados aos pés. Emília estava seriamente ofendida e sem dúvida nenhuma preparava-se para alguma viagem. Ia arrumando as malas, ao mesmo tempo que dialogava com o cavalinho.

— Não é à-toa que ela é preta como carvão.

— ?

— Mentira de Narizinho! Essa negra não é fada nenhuma, nem nunca foi branca. Nasceu preta e ainda mais preta há de morrer.

— ?

— Boa? Está muito enganado. Mais malvada que ela só o Barba Azul. Você é porque é novo nesta casa e não a conhece. Tia Nastácia não tem dó de nada. Pega aqueles frangos tão lindos e — zás! torce-lhes o pescoço. Mata patos, mata perus, mata camundongos — não há o que não mate. Outro dia, no Natal, a diaba assassinou um irmão de Rabicó, tão bonitinho! Pegou naquela faca de ponta que mora na cozinha e — fugt! enfiou dentro dele, até no fundo. E pensa que foi só isso? Está enganado! Depois pelou o coitadinho numa água fervendo e assou o coitadinho num forno tão quente que nem se podia chegar perto.

— ?

— Como não? Você não é melhor do que os frangos, perus e leitões. Essa é uma das razões porque quero ir-me embora: para tira-lo daqui antes que a malvada o mate e asse no forno. Que pena não ser você grande como o cavalo de Tróia!...

— ?

— Para quê? É boa. Para dar um coice de Tróia no nariz dela.

Nesse ponto Narizinho, que estava escondida a escutar o diálogo, apareceu.

— Que é isso, Emília? Parece louca!...

— É que estou arrumando minhas malas para me mudar desta casa. Não gosto de velhas, nem brancas nem pretas.

— Ir para onde, boba? Pensa que é só ir saindo?

— Vou para a casa do Pequeno Polegar. Quando lhe dei de presente o pito de barro, ele me disse: “Muito obrigado. Dona Emília. Tenho lá uma casa às suas ordens. Apareça.” Chegou o dia. Vou aparecer e ficar morando lá.

— E você pensa que cabe na casinha do Pequeno Polegar? Já se esqueceu, boba, de que ele é deste tamanhinho?

Emília pôs o dedo na testa, refletindo. Afinal caiu em si e viu que realmente seria uma grande asneira. se mudasse para a casa do Pequeno Polegar, teria, sem dúvida, de ficar no terreiro e dormir ao relento, com perigo de ser atacada por quanta coruja e morcego existirem no mundo. E como tinha medo horrível de morcegos e corujas, resolveu ficar.

— Nesse caso fico, mas você há de me dar um vestido novo, de seda, com um laço de fita aqui e um babado. Dá?

— Dou, diabinha, dou. Mas com uma condição!...

— Qual é?

— Fazer as pazes com tia Nastácia. A coitada está lá na cozinha chorando de arrependimento de haver ameaçado você com palmadas.

A cólera de Emília já havia passado, cedendo lugar a sentimento muito mais rendoso. Por isso tratou imediatamente de tirar vantagem da situação, pedindo uma coisa que era o seu encanto.

— Só se ela me der aquele alfinete de pombinha que você sabe.

— Dá, sim. Eu digo a ela que dê e ela dá.

— Neste caso, fico de bem com ela outra vez. Aquele alfinete andava deixando Emilia doente. Era um alfinete do tempo de dantes, que já não se encontra em loja nenhuma de hoje. De aço azul, tendo em vez de cabeça uma pombinha de vidro colorido. Tia Nastácia possuía três, um de pombinha azul, outro de pombinha verde, outro de pombinha carijó. Era este o que Emília queria — mas queria desesperadamente, como nunca neste mundo uma boneca quis qualquer coisa.
––––––––––––––

Continua… V – João Faz-de-Conta

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

Casa do Editor (Publique sua Obra)

Prezado Autor,

Quer aumentar suas chances de ver sua Obra publicada? Então mude sua estratégia. A evolução e a inovação digital lhe permitem divulgar sua obra a centenas de editoras ao mesmo tempo sem sair de casa e sem ter de ficar telefonando para as editoras perguntando se elas publicam obras do mesmo Gênero Literário que o seu.

Conheça o site Casa do Editor. Um site cuja proposta é revolucionar, com uma metodologia inédita, a comunicação do autor com o editor, e vice-versa. No portal Casa do Editor o autor poderá, por um pequeno valor anual ou semestral, divulgar suas obras não publicadas à centenas de editoras; em breve serão milhares.

Nossas pesquisas confirmam que o autor, ao anexar sua obra para divulgá-la no website Casa do Editor, as chances de encontrar uma editora para publicar sua obra aumentam em 11 (onze vezes), se comparado a outros sites e ao método tradicional de envio de obras. Além disso, o valor da Assinatura Anual no portal Casa do Editor equivale a apenas 8% do valor gasto, anualmente pelo autor, com o envio de cópias da obra às editoras pelo método tradicional.

A maneira tradicional de o autor se comunicar com o editor, e vice-versa, é extremamente falha, pois eles se comunicam somente no nível de Categoria de Gênero; por esse motivo, apenas 2% de obras são publicadas. O website Casa do Editor entra a fundo nessa comunicação.

Acesse o portal Casa do Editor, veja Como Funciona e cadastre-se.
www.casadoeditor.com.br

QUEM É A CASA DO EDITOR

Este site é uma ferramenta de extrema ajuda ao Autor em sua difícil tarefa de publicar sua Obra. O objetivo da Casa do Editor é conectar o Autor com a Editora, facilitando, e muito, para ambos, a concretização de seus sonhos, ideais e realizações. Portanto, a Casa do Editor é uma vitrine para sua Obra, expondo-a aos Editores e intermediando o contato entre ambos.

O Autor, ao cadastrar sua Obra no Banco de Dados da Casa do Editor, estará disponibilizando-a a milhares de Editoras do Brasil e de Portugal (tal quantidade de Editoras é o nosso objetivo a ser atingido em curtíssimo prazo). Após cadastrar-se, o Autor irá informar o Gênero de sua Obra, bem como a Categoria de Gênero e suas Subcategorias, seu Resumo Biográfico, dentre outros dados, facilitando a localização de sua Obra pelas Editoras que publicam Obras do seu Gênero.

O Editor, ao cadastrar-se, gratuitamente, na Casa do Editor, terá em mãos uma poderosa ferramenta de Busca avançada que o ajudará em sua difícil tarefa de encontrar Obras que se enquadram em sua Linha Editorial (Gênero de Publicação). Ao pesquisar uma Obra por Gênero, por Categorias de Gênero e suas Subcategorias, em seus quatro níveis de pesquisa, o Portal Casa do Editor mostrará as Obras que realmente se enquadram em sua Linha Editorial, proporcionando economia de tempo e de dinheiro às Editoras.

A Casa do Editor é uma ferramenta extremamente segura, útil e eficaz para Autores de todos os Gêneros literários existentes. É simples, fácil e barato fazer parte deste site, cujo objetivo é tornar-se o maior e melhor Portal do gênero no Brasil e no exterior.

São mais de 50 mil Categorias e Subcategorias de Gêneros literários. Nosso objetivo é ter no Banco de Dados da Casa do Editor mais de 100 mil Categorias e Subcategorias de Gêneros, pois o Autor, ao cadastrar sua Obra, se ela não se enquadrar em uma das Categorias de Gêneros e em suas Subcategorias, ele terá a liberdade de criar uma nova Categoria ou Subcategoria. Portanto, a Casa do Editor será um site inteligente, pois cada nova Categoria de Gênero e/ou Subcategoria inserida pelo Autor, ou pelo Editor, ela passa a fazer parte do Banco de Dados de Categorias de Gêneros da Casa do Editor.

Além de Autores e Editoras, o Distribuidor de livros e o Livreiro também terão acesso ao site. Ao cadastrar-se gratuitamente, o Distribuidor e o Livreiro estarão se mostrando às Editoras e aos Autores. As Editoras também terão acesso à relação de Distribuidores e Livreiros de todo o País.

Por um pequeno valor semestral ou anual, o Autor se conectará ao mundo editorial, ganhando tempo, economizando dinheiro e aumentando, em muito, suas chances de publicar sua Obra. Editoras, Distribuidores e Livreiros terão acesso gratuito à Casa do Editor.

Clique em Como Funciona e conheça o funcionamento deste site. Cadastre-se já e usufrua dos benefícios que a Casa do Editor lhe proporcionará!

Quem somos

Nós somos um grupo composto por dois Escritores e um Editor. Todos com uma vasta experiência no ramo literário brasileiro.

Cientes das dificuldades que tanto o Autor quanto o Editor enfrentam para publicar uma Obra, trabalhamos arduamente durante dois anos para oferecer uma forma eficaz de comunicação entre Autores e Editores.

Visando facilitar e intermediar o casamento entre Autor e Editor, desenvolvemos uma forma inédita de comunicação entre ambos. Essa comunicação, viabilizada por intermédio do site Casa do Editor, dará uma grande contribuição à Literatura brasileira, bem como à estrangeira. Veja maiores detalhes em Como Funciona.

A Casa do Editor pertence à Editora Leste Minas Ltda.

Prezado Autor,

Ao Anexar uma Obra no Portal Casa do Editor, ela ficará disponível para ser vista e acessada pelas Editoras que publicam Obras cujos Gêneros são os mesmos de sua Obra. Logo ao Anexar uma Obra na Casa do Editor, e assim que você escolher as Categorias de Gêneros, o sistema faz a busca de Editoras cujos Gêneros se enquadram os Gêneros de sua Obra e, automaticamente, envia um e-mail para as Editoras comunicando que uma Obra anexada no site se enquadra na Linha Editorial delas.

Ao cadastrar-se, você, após fazer o pagamento da Opção de Divulgação escolhida (se Anual ou Semestral), suas Obras poderão ser anexadas no Banco de Dados da Casa do Editor para serem acessadas por milhares de Editoras do Brasil e de Portugal cadastradas neste site (tal quantidade de Editoras é o nosso objetivo a ser atingido em curtíssimo prazo). São quatro os tipos de Obras que podem ser anexadas no Banco de Dados da Casa do Editor, a saber:

Livro, Texto Avulso, Intenção, Coletânea

Intenção é se você tem um plano concreto de escrever determinada Obra e está à procura de uma Editora que banque a publicação. Coletânea é um Livro normalmente composto por um conjunto de contos, crônicas, poemas, poesias, etc. Coletânea deverá ser usada também por aqueles escritores que desejam divulgar na Casa do Editor um conjunto de Obras ou uma Coleção.

Para anexar uma Obra, basta entrar com seu login e sua senha e, depois, clicar no botão Obras. Em seguida, você deverá escolher o Tipo de Obra e assinalar o Tema de Gênero, a Categoria de Gênero e suas Subcategorias.

Dividimos os Gêneros em onze Temas para facilitar o enquadramento de sua Obra nos devidos Temas, bem como para facilitar, também, a Busca de Obras feita pelas Editoras. São eles:

Temas de Gêneros:
01 Ficção
02 NF: Ciências Biológicas e Naturais
03 NF: Ciências da Saúde
04 NF: Ciências Exatas e Aplicadas
05 NF: Ciências Humanas e Sociais
06 NF: Diferenciados
07 NF: Gêneros Clássicos
08 NF: Incomuns
09 NF: Pseudociências e Religiões
10 NF: Textos Avulsos
11 NF: Coletânea

A Casa do Editor lhe oferece quatro níveis de Gêneros, por Categorias de Gêneros e suas Subcategorias, a saber:
1º nível: Categorias de Gêneros
2º nível: Subcategorias da Categoria de Gêneros (ou Subcategoria 1)
3º nível: Subcategorias de Subcategorias da Categoria de Gêneros (ou Subcategoria 2)
4º nível: Subcategorias de Subcategorias da Categoria de Gêneros
acrescentada pelo Autor e/ou pelo Editor quando ela não existir (ou Subcategoria 3)

Para que sua Obra fique acessível à Busca Avançada feita pela Editora nos quatro níveis de Categorias de Gêneros, você deverá escolher e assinalar a Categoria de Gênero no 1º nível, e as Subcategorias no 2º nível, no 3º e no 4º nível. Se a Subcategoria 1, ou 2 ou 3 estiver em branco, você pode fazer a inserção digitando a Subcategoria quando for Anexar a Obra.

Se você escolher e assinalar os quatro níveis, sua Obra estará disponível para que as Editoras a busquem no 1º, no 2º, no 3º e no 4º nível. Dessa forma, uma Editora poderá encontrar, em segundos, sua Obra, se ela se enquadrar na Linha Editorial da Editora.

Vamos dar um exemplo de como funciona o Banco de Dados da Casa do Editor:
Gênero: NF
Tema: Ciências da Saúde
  Categoria de Gênero: Medicina: ........................... 1º nível
  Subcategoria 1: ................. Endocrinologia: .……..... 2º nível
  Subcategoria 2: ...................................... Diabetes: ... 3º nível
  Subcategoria 3: ............................................... Outra . 4º nível

Se um Autor escreveu uma Obra sobre cura do Diabetes, então ela deverá ser divulgada na Casa do Editor exatamente como o exemplo acima. Se um Editor está buscando uma Obra sobre cura do Diabetes, a encontrará, em segundos, se ela estiver divulgada no Banco de Dados da Casa do Editor. Então, no exemplo acima, o Gênero é Não Ficção, o Tema é Ciências da Saúde, a Categoria de Gênero é Medicina (nível 1), a Subcategoria 1 é Endocrinologia (nível 2), a Subcategoria 2 é Diabetes (nível 3) e a Subcategoria 3 é Cura (nível 4).

Se uma Editora fizer uma Busca de Obras apenas no 1º nível, ou seja, apenas no nível da Categoria de Gênero Medicina no Tema Ciências da Saúde, todas as Obras que se enquadram neste Tema e na Categoria de Gênero Medicina serão mostradas à Editora. A Editora tem a opção de escolher até que nível ela deseja realizar a Busca de Obras.

Se você tiver dificuldades em encontrar uma Categoria de Gênero ou uma Subcategoria, então deverá utilizar o sistema de Busca de Categoria ou de Subcategoria na Página Principal.

O Autor poderá, ao anexar sua Obra, escolher até três Temas, até três Categorias de Gêneros e suas Subcategorias 1, 2 e 3. Dessa forma, as chances de uma Editora encontrar sua Obra serão onze vezes mais do que no metódo tradicional.

Com certeza, as chances de uma Editora encontrar sua Obra e publicá-la serão muito maiores, pois a Casa do Editor, com seu Sistema, resolveu um enorme problema de comunicação que sempre existiu entre o Autor e o Editor, ou seja, o Editor tem sua Linha Editorial, mas dificilmente encontra o Autor cuja Obra se enquadra exatamente em sua Linha Editorial porque a comunicação entre ambos ficava apenas no 1º nível, ou seja, apenas no âmbito de Categoria de Gênero.

Significado e função dos botões da Página Principal do website Casa do Editor:
1. INÍCIO: quando você estiver navegando no site e desejar voltar à página ou tela inicial, clique neste botão.

2. QUEM SOMOS: uma breve apresentação do Portal Casa do Editor, bem como informações sobre os criadores do site.

3. COMO FUNCIONA: esta página tem como objetivo principal explicar a cada um dos quatro tipos de usuários do site o funcionamento da inédita e revolucionária forma de comunicação do Autor-Editor, e vice-versa.

4. NOTÍCIAS: sempre que houver uma notícia de destaque e que seja interessante aos usuários do Portal Casa do Editor, ela será divulgada nesta página. Você terá à sua disposição, também, as notícias já divulgadas.

5. DEPOIMENTOS: qualquer um dos quatro tipos de usuários do site poderá dar seu depoimento, fazer sua crítica, dar sugestões, etc. Mas, para tanto, deverá estar logado no site.

6. CONTATO: use este botão para entrar em contato com a equipe do Portal Casa do Editor.

7. CADASTRE-SE: ao clicar neste botão, outros quatro botões serão exibidos para cada um dos quatro tipos de usuários do site fazer seu cadastramento.

8. DÚVIDAS: esta página esclarece as dúvidas frequentes dos Autores, Editores, Distribuidores de livros e Livreiros.

9. RELAÇÃO DE:
a) Autores: exibe o número de Autores cadastrados no website Casa do Editor. Ao clicar neste botão, o usuário ou visitante terá disponível a relação, em ordem alfabética, de todos os Autores cadastrados no site.

b) Obras: exibe o número de Obras cadastradas no website Casa do Editor. Ao clicar neste botão, o usuário ou visitante terá disponível a relação, em ordem alfabética, de todas as Obras divulgadas no website Casa do Editor.

c) Editoras: exibe o número de Editoras cadastradas no website Casa do Editor. Ao clicar neste botão, o usuário ou visitante terá disponível a relação, em ordem alfabética, de todas as Editoras cadastradas no site, bem como sua Linha Editorial.

d) Distribuidores: exibe o número de Distribuidores cadastrados no website Casa do Editor. Ao clicar neste botão, o usuário ou visitante terá disponível a relação, por Estado, de todos os Distribuidores de livros cadastrados no Portal Casa do Editor, bem como o endereço, o telefone, o e-mail, dentre outros dados.

e) Livreiros: exibe o número de Livreiros cadastrados no website Casa do Editor. Ao clicar neste botão, o usuário ou visitante terá disponível a relação, por Estado, de todos os Livreiros cadastrados no Portal Casa do Editor, bem como o endereço, o telefone, o e-mail, dentre outros dados.

10. APLICATIVOS GRÁTIS: o Portal Casa do Editor oferece, gratuitamente, dois testes muitíssimos interessantes aos usuários cadastrados e aos visitantes. Faça-os, e você verá!

11. PRESTADORES DE SERVIÇOS: ao clicar neste botão, o usuário terá acesso ao nome, ao telefone e ao e-mail dos quatro tipos de prestadores de serviços na área da literatura, a saber: Ilustradores e Capistas, Revisores, Tradutores e Agentes Literários.

12. OBRAS PUBLICADAS: esta página mostra todas as Obras publicadas por intermédio do Portal Casa do Editor.

Nota:
Se você usa o Firefox anterior à versão 4, atualize seu Firefox para a versão 4 ou superior.

Seja bem-vindo à Casa do Editor. Quaisquer dúvidas clique no botão Autores em Dúvidas. Se persistirem dúvidas, clique no botão Contato e informe suas dúvidas. Estaremos ao seu inteiro dispor.

Atenciosamente,

Casa do Editor

Fonte:
Dados enviados pela Editora Leste Minas e obtidos no site da Casa do Editor

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Paraná em Trovas Collection - 35 - Olga Agulhon (Maringá/PR)


Thaty Marcondes (Crônica do vento)

Hoje o vento não sussurra. Também não afaga as folhas das árvores do jardim, nem refresca a grama seca pela estiagem e pela geada que a castigou neste inverno seco. Hoje o vento não uiva como os lobos. Sinto que o vento, hoje, está triste. Ouço o seu lamento melancólico, um pouco desafinado - perdeu o tom, o coitado.O vento hoje está lacrimoso, como se levasse suas mágoas a varrer o mundo, espalhando seu canto desencontrado. Talvez esteja se despedindo. Talvez o verão esteja expulsando-o daqui, e ele teima em não partir, pois ele sabe que partir é triste! Talvez por isso, esse lamento fantasmagórico e assustador, como as almas perdidas chorando a vida que não puderam levar consigo, assim como seus pertences. Por que ele sabe que partir, às vezes, é o mesmo que morrer! O vento hoje está frio, gélido, morto.

Fonte:
Garganta da Serpente. Contos do Coral.
Imagem = http://gifsanimadoscarlos.blogspot.com

Nilto Maciel (O Bom Selvagem) 1a. Parte

(novela integrante do livro Vasto Abismo)

PRESENTE

As noites aqui no Boqueirão já foram mais alegres. Agora nem saio mais de casa. Se há luar, olho para o céu, feito poeta de antigamente. Porém, não dura um minuto sequer meu namoro com as estrelas. E volto ao caderno, onde escrevo em minha língua a História do Brasil. É uma tradução apenas.

Quem me encarregou dessa missão foi padre Tonelli. Quer ensinar aos bororo a História do Brasil. Já ensina português, aritmética, geografia, religião. A católica, logicamente.

Padre Tonelli é meio esquisito. Diz que índio deve continuar índio, preservar suas tradições. Sobretudo sua língua. Mas deve renegar alguns costumes. Como o de viver nu.

Não sei mais viver nu. Além do mais, todos por aqui usam roupas. Mesmo os índios mais atrasados. Os padres da Missão não permitem a nudez. Chamam de pecado. E chamam a Missão de Colônia.

Tudo mudou muito em minha vida. Primeiro mudou meu nome. De Bokodori passei a Daniel Álvares. Deixei a aldeia indígena, um amontoado de cabanas de palha, e fui viver no meio dos brancos.

Hoje sou de novo um bororo, um selvagem. Ninguém me aceitaria de paletó e gravata, falando português, andando pelas ruas das grandes cidades, dentro de automóveis.

O padre missionário, no entanto, não se cansa de querer me desfigurar. Devo voltar a ser professor. Esquecer os dissabores. Levar uma vida cristã e moderna. Educar os filhos, viver em paz com Lucina.

Não quero desgostar padre Tonelli. Vou cumprir minha promessa, traduzir para o bororo o livro de História. Ele é um homem de bom coração. E me trata com muito respeito e amizade.

Deixarei de lado este caderno e dedicarei algumas horas à tradução. Aos heróis portugueses e seus descendentes. Os matadores de índios.

ANTEPASSADOS

Minha tarefa estou para concluir. Mais algumas páginas, nomes, datas, fatos, e fim. Aliás, o autor devia ter ficado por aqui. O resto está tão recente que nem devia ter sido escrito. A história de um país é diferente da história de uma pessoa. Na minha vida, por exemplo, 17 anos valem muito. Na de um país são migalha. Eu mesmo não me lembro de nada muito importante ocorrido aqui nos últimos tempos. Comigo, sim, aconteceram coisas para lá de desastrosas. E é disso que vou tratar agora. Deixarei de lado essa História do Brasil e me voltarei para mim mesmo. Ora, sou mais importante para mim do que esses marechais.

Aprendi um pouco de tudo. Aprendi caminhos desconhecidos. Aprendi, sobretudo, que o sonho passa por nós feito nuvem. E emigra para longe, na eterna correria do tempo.

Aproveitando o método do livro que traduzo, relembrarei tudo, desde meu nascimento.

O Brasil – diz o livro – nasceu dos portugueses. Já eu, embora brasileiro, não venho de portugueses. Meus pais eram bororo, que viviam aqui muito antes de o Brasil nascer. Engraçadíssima essa história! Em compensação, só tenho a idade da República. Antes de mim houve o Império. Anteriores a este, porém, são meus avós.

Para falar de mim, devo começar lembrando meu povo. Só assim os leitores – pois pretendo publicar isto um dia – poderão me entender melhor.

Contam os mais velhos terem sido Bacororo e Itubori os primeiros bororo. Foram gerados de um canguçu e uma mulher, viveram inúmeras aventuras na selva, ditaram leis aos homens e animais, tiveram poder sobre todas as coisas, foram príncipes dos bororo, e o serão para sempre.

Meu defunto pai chegou a chefe de tribo, assim como seu pai, etc. E todos muito inteligentes. Conheciam os Tereno, os Botocudo e outros povos. Iam do Paraguai até Goiás, grandes caçadores que eram. E eu herdei tudo isso. Só não sou chefe porque hoje não temos mais tribo. Em compensação, aprendi várias línguas e vivi na Europa. Ouvi falar da teoria quântica e conheci Marconi. Li Rilke e Conrad e vi os quadros de Picasso. Admiro profundamente Einstein e Santos Dumont. Discuti a teoria da deriva continental, em francês, com estudantes parisienses. Hoje me interesso pelos Nêutrons e pelos estudos de John Logie Baird. Seus inventos ainda vão revolucionar o mundo. Quero ler Virgínia Woolf, Pirandello, William Faulkner e ver de perto a arquitetura de Le Corbusier.

Tudo isto, no entanto, de nada me serve. Aliás, se falo de progresso, desenvolvimento, mudança, é por mera vaidade. Ou talvez para não olhar para dentro de mim mesmo e de meu povo. Por isso, me chamam de índio metido a besta. Por outro lado, meus irmãos de sangue me olham com desdém. Tiraram-me de meu mundo e agora vivo isolado, como se fosse estranho a uns e outros. A solidão, essa cadela marcada, me segue os passos. Não sou mais índio, porque me ensinaram a ser europeu, branco, cristão. Não sou europeu, porque nasci índio. Para tentar conciliar as duas situações, ensino aos bororo a língua, a cultura e a História dos brancos. Traduzi do português para o bororo a Bíblia, e agora me dedico a essa estúpida História do Brasil. Desde Pedro Álvares Cabral. De quebra, me deram o nome de Daniel Álvares. A escolha do nome pode ter sido casual. Poderiam me chamar de Pedro Caminha.

Terão tido propósitos de me ridicularizar?

Há quem ainda me chame pelo meu nome indígena – Bokodori. Noto, porém, um certo ar de deboche na pronúncia. Como se quisessem dizer: você é um selvagem, mesmo sabendo falar português e francês.

INFÂNCIA

Passou mais uma noite. Não pude dormir. Revi quase minha vida inteira. Não consigo, no entanto, me lembrar de meus dias mais remotos. Depois de tanto viver, de tanto ouvir e ler, de tanto forçar a memória, é-me impossível reconstruir meu primeiro passado. Confundo-me com personagens de mitos, com outros meninos reais e imaginários, e me represento adulto em tempos de criança.

Há pouco reli trechos da História do Brasil, assim como as páginas que ontem escrevi. Os primeiros me parecem destituídos de vida. As segundas estão incompletas. Não me interessa, porém, dar vida aos capítulos da História, a menos que eu pudesse incluir nela meus antepassados. Mas como, se mal conheci meus pais?

Imaginei minha mãe, viva, tão terra, tão natureza, de repente desesperada. E depois calada, triste e morta. Sigo-lhe o destino, eu que há 36 ou 25 anos sequer supunha um só dia de desespero e solidão. Naquele tempo tudo para mim era festa e eu comemorava até minhas estupefações. Revejo todas as cenas que se seguiram aos primeiros olhares de curiosidades do padre Pittini, às suas primeiras palavras a mim dirigidas. Sua figura alva, bonita, simpática me animou, me fez sonhar mil maravilhas. Meu primeiro desejo foi entender-lhe a fala, o significado dela, traduzir seus gestos, para, em seguida, compreender a razão de tudo – da batina, da cor de sua pele, seus cabelos e olhos, dos seus passos e, sobretudo, do seu interesse por nós e por mim, em particular. Ele me cativou e por mim se enfeitiçou desde o primeiro contato. Conversou comigo, fez-me todas as perguntas do questionário humano e prometia transformar-me num sábio, num salvador ou guia de meu povo. E eu só tinha 11 anos de idade.

Hoje compreendo quase tudo. Eu seria a isca e o modelo, para ser devorado e mostrado. E, mais do que isca e modelo, o boneco bem conservado para as exposições, espécie de atleta ou manequim, objeto de carne e osso, filhote de troglodita transformado em gentleman pelas mãos hábeis e santas do cristianismo. Aprendi a rezar, primeiro como me ensinaram e depois a meu modo. Pura lamentação. Assim: Minha madrinha, Nossa Senhora, tu vês o mundo todo verde, não é? Meus olhos, no entanto, são tão pretos! Ah! Minha Nossa Senhora, pinta meus olhos, que eu quero verdes os dias futuros.

Decorei orações latinas, nomes e vidas de santos, descobri pecados e virtudes e elegi um deus todo-poderoso. Credo in Deum Patrem omnipotentem, creatorem e caeli et terra. Reneguei Ké-Marugodu, o personagem lagarto de uma das principais lendas de nosso povo. Fiz tudo para esquecê-lo. Apagar da memória meu passado de selvagem. E enchi de jactâncias e me cobri de outro nome.
------------
continua...

Fonte:
Nilto Maciel. Vasto Abismo. Brasília: Ed. Códice, 1998.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 441)

Uma Trova Nacional

Tão fugaz e passageiro,
tal nuvem no firmamento;
foi aquele amor primeiro,
desfeito no pensamento!
–NEMÉSIO PRATA/CE–

Uma Trova Potiguar

Se você fosse uma estrela,
e a nuvem branca seu véu.
Para que eu pudesse vê-la
bastaria olhar o céu!
–WALTER CANUTO/RN–

Uma Trova Premiada


2004 - Taubaté/SP
Tema: SABIÁ - M/H


Oprimido na gaiola,
lamentando a escravidão,
o sabiá cantarola
para o algoz sem coração.
–RUTH FARAH/RJ–

Uma Trova de Ademar

Fiz do quarto um santuário,
pus sua foto no andor
e rezei um novenário
para louvar nosso amor!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Lamento quem, transtornado
pela treva que o seduz,
olhando o céu estrelado
duvida da própria luz!
–CÍCERO ROCHA/MG–

Simplesmente Poesia

Mote e Glosa:

–ISMAEL GAIÃO/PE–


Vi juízes condenados,
Por atitudes malignas,
Ao seduzirem meninas
Em troca de alguns trocados.
Porém esses magistrados,
Nunca mais irão sofrer,
Pois passaram a receber
Sem prestar nenhum serviço…
Se eu nunca soubesse disso,
Era feliz sem saber.

Corruptos e ilegais,
Com suas fichas extensas,
Vendedores de sentenças,
Pra gangs e marginais.
Ganham doze mil mensais
Só pra viver de lazer
E a gente no desprazer
É quem paga tudo isso…
Se eu nunca soubesse disso,
Era feliz sem saber.

Estrofe do Dia

Igual a um tabaréu
que não sabia de nada,
cheguei na sua calçada
a lua brilhou num véu,
era a kodak do céu
com o filme da paixão
que transmitia um clarão
tirando a foto da gente,
a lua entrou lentamente
nas frestas do barracão.
–VALDIR TELES/PB–

Soneto do Dia

Palavra Morta
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–


Lembrei uma palavra já perdida
nos meandros do tempo. Desgastada,
sumiu nos alfarrábios. Teve a vida
que mereceu e agonizou na estrada.

Se consta de algum livro, esmaecida,
já em pleno desuso, não diz nada.
É como alguém que, aos poucos, se liquida,
depois de uma existência malograda.

Talvez ela inda esteja namorando
a pena de um poeta inexistente
que pudesse tirar-lhe alguns efeitos,

ou, quem sabe, em antigo memorando
que daria registro, incontinenti,
aos poemas que nunca foram feitos.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Guerra Junqueiro (Contos para a Infância: A Criança, O Anjo e a Flor)

Quando uma criança morre, vem um Anjo do Céu, toma-a nos braços, e desdobrando as asas imaculadas, voa por cima dos sítios que ela amou durante a sua pequenina existência; de quando em quando desce o Anjo a colher flores, que leva a Deus, para que desabrochem no Paraíso mais belas ainda do que tinham sido na Terra. Deus aceita as flores, escolhe uma delas, toca-a nos lábios, e a flor escolhida, adquirindo voz imediatamente, começa a cantar os coros maviosos dos bem-aventurados.

Ora escutai o que disse o Anjo a uma criança morta, que levava nos braços. Pairou primeiro com ela sobre a casa da sua meninice e ao depois sobre um jardim balsâmico, estrelado de flores.

– Qual é a flor que desejas cultivar no Paraíso? interrogou o Anjo.

Havia nesse jardim uma roseira, que fora desempenada, vigorosa, magnífica; mas quebraram-lhe o pé, e todos os ramos, cheios de botõezinhos, lindíssimos, vergavam estiolados para o chão.

– Infeliz roseira! disse a criança ao Anjo;, vamos nós buscá-la, a ver se pode florir no Paraíso.

O Anjo obedeceu e beijou a criança. Colheram muitas flores, boninas humildes e violetas silvestres.

Acabara a colheita e não voavam ainda para Deus. Já era de noite e pairavam por cima de uma grande cidade. Atravessaram uma das ruas mais estreitas, cheia de cacos de louça, de vidros partidos, de farrapos, de toda a casta de imundície. Entre esses escombros distinguiu o Anjo uni vaso de flores com a terra dispersa no chão, onde se viam as longas raízes de uma flor dos campos, meio estiolada; lançaram-na para ali, como coisa morta.

– Merece a pena erguê-la, disse o Anjo; levemo-la, e pelo caminho, voando, te contarei a história desta flor. Lá ao fundo, lá ao fundo, naquela rua estreita e tortuosa, morava um pequerrucho, uma criança miserável e doente. Quando se sentia melhor, o mais que podia era passear de muletas ao longo do seu pequenino quarto. Nalguns dias de Verão, os raios do Sol visitavam-lhe a alcova, durante meia hora. Então o menino sentado à janela, aquecido ao sol, imaginava-se vagueando pelos campos: não conhecia dos bosques, da fresca verdura da Primavera, senão o ramo de faia, que urna vez o filho do vizinho tinha colhido para ele. Suspendia por cima da cabeça o ramo verdejante, e, supondo-se abrigado do sol debaixo das árvores, sonhava, enlevado com o doce canto doe passarinhos. Um dia, o pequeno do vizinho trouxe-lhe flores, e por acaso entre elas havia uma com raízes; plantou-a num vaso e pô-lo à varanda. A flor plantada por mão inocente cresceu, cresceu, e todos os anos desabrochava em novas flores. Era o seu jardinzinho, o seu único tesouro neste mundo; regava-o, cultivava-o, adorava-o; fazia-lhe haurir os raios do Sol até ao último. Com ele sonhava todas as noites, e, quando se sentiu morrer, foi para ele que se voltou.

Faz hoje um ano que esse menino habita o Paraíso; a sua idolatrada flor, esquecida à janela desde Então, murchou, estiolou-se e lançaram-na à rua finalmente. É esta que nós aqui levamos. Quase seca, é o tesouro do nosso ramalhete. Deu mais prazer e alegria do que todos os canteiros do jardim de um príncipe.

– Como sabes tu isso? perguntou a criança, que o Anjo levava para o Céu.

– Sei-o, respondeu o Anjo, porque era eu o pequenino doente que andava em muletas; como não havia de eu reconhecer a minha flor bem-amada!

A criança abriu os olhos e viu a radiosa figura do Anjo quando entravam no Céu, onde tudo era alegria e felicidade. Deus pegou nas flores, levou-as ao coração, mas a que ele beijou foi a florinha silvestre, desprezada e murcha. E a flor, por milagre adquirindo voz, pôs-se a cantar com as almas que rodeiam o Criador, umas junto dele, outras ao longe, formando círculos que vão aumentando sucessivamente, multiplicando-se até ao infinito, num com inextinguível e deslumbrador.

Fonte:
Guerra Junqueiro. Contos para a infância.

Lóla Prata (Lançamento do Livro Didático para Poetas “E Eu Sei Fazer Versos?)

Trata-se de um Curso de esquemas poéticos, apresentando pouco mais de 70 técnicas clássicas, medievais, modernas e pós-modernas, brasileiras e estrangeiras, de elaboração de poemas. Na 2ª parte, vocabulário relativo às peculiaridades gramaticais que orientam a perfeita contagem métrica dos versos, assim como definem estruturas para confecção de trabalhos literários tanto em verso como em prosa. Tem por objetivo o aprimoramento dos poetas na nobre arte de versejar. 

A autora vende o livro por 20 reais + 3 reais do frete...
Lóla Prata Garcia
11-4035-2426 e 11-9882-0770

Fonte:
A autora

Biblioteca do Centro Integrado de Educação Pública, de Rio Grande/RS aceita doações

O Bibliotecário, de Giuseppe Arcimboldo
O CIEP do Bairro São João "Dr. José Mariano de Freitas Beck", inaugurado em 1993, atende em média cerca de 500 alunos desde a Educação Infantil ao Ensino Médio. O corpo docente é formado por 22 professores.

A biblioteca do CIEP do Bairro São João na cidade do Rio Grande precisa da ajuda de pessoas voluntárias que se disponham a doar um pouco do seu tempo para organizar o seu acervo e desenvolver projetos que aproximem os alunos dos livros e da leitura.

Possui um diversificado acervo que precisa ser organizado e classificado de maneira a possibilitar que os alunos ali encontrem o que procuram para suas pesquisas escolares e leituras gerais.

A Biblioteca do CIEP aceita doações de livros, revistas, quadrinhos e audiovisuais.
Entre em contato com a escola:

Centro Integrado de Educação Pública – CIEP
“Doutor José Mariano dos Santos Becker”
Rua Eduardo Araújo,
Bairro São João
Rio Grande – RS
Brasil
CEP: 96.213-040

Telefone: (53) 32301612

E-mail:
bibliotecacieprg@gmail.com
Blog: http://bibliotecacieprg.blogspot.com/

Fonte:
Biblioteca CIEP Rio Grande

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) O Irmão de Pinóquio – III – O concurso

Achado o pau vivente, só restava fazer com ele um boneco para que surgisse no mundo o irmão do Pinóquio. Pedrinho, entretanto, por mais que o sacudisse e espetasse com o canivete, não conseguia que o pedaço de pau desse o menor sinal de vida.

— É esquisito isto! — exclamava. — O tronco gemeu de cortar o coração, mas este pedaço nem pia. É esquisitíssimo...

Emília, sempre com a pulga atrás da orelha de medo que seu estratagema fosse descoberto, disse logo, muito espevitadinha:

— Dona Benta falou outro dia que as grandes dores são mudas. Esse pau bem que sente, mas como a dor de se ver separado do tronco pai dele é muito grande, está assim mudo como peixe. De repente a dor diminui e ele começa a gemer que ninguém o pode aturar.

O Visconde tossiu e olhou para ela com o rabo dos olhos, admirado dos progressos “psicológicos” que Emília estava revelando.

Apesar da mudez do pau, Pedrinho resolveu fazer o boneco, na esperança de que de repente vivesse. Mas, fazê-lo como? Cada qual queria que o irmão de Pinóquio fosse de um jeito, e tanto disputaram que Pedrinho resolveu abrir um concurso. O desenho vencedor seria adotado para modelo.

— Concurso de desenho, gentarada! — gritou ele batendo palmas. — Pára tudo! Vovó, largue essa costura e pegue no lápis. Tia Nastácia, você também pare com esse fogão! Toca a desenhar!

Começou o concurso. Durante meia hora ninguém naquela casa cuidou de outra coisa senão de desenhar. Prontos que foram os seis desenhos, Pedrinho os pregou na parede para serem julgados. Que exposição mais engraçada! O desenho de tia Nastácia não tinha forma de gente; parecia um coisa-ruim de carvão, tão feio que todos se riram. O de Narizinho era bastante jeitoso, mas tinha o defeito de ser parecido demais com o Pinóquio.

— Foi de propósito — explicou a menina. – Fiz um irmão gêmeo.

O de dona Benta parecia um judas no sábado de aleluia. O de Pedrinho saiu o retrato de um menino opilado que às vezes aparecia no sítio, acompanhando sua avó, Nhá Veva Papuda. O do Visconde saiu tão científico que não se entendia. Era cheio de triângulos copiados da Geometria e tinha no nariz um X de Álgebra. O de Emília era um embrulho. Emília quis botar no boneco tanta coisa que o virou numa trapalhada. Fez cacunda de Polichinelo, boca de sapo, rabo de jacaré, orelhas de morcego, pés de bode e nariz ainda mais comprido que o de Pinóquio. Tinha também um olho arregalado nas costas, “para que ninguém o pudesse agarrar de surpresa” — explicou ela cheia de orgulho dessa lembrança que ninguém havia tido.

Por três vezes Pedrinho botou em votação os desenhos, sem o menor resultado. Cada qual achava o seu o mais bonito e votava em si próprio.

— Com votação não vai — disse ele. — O melhor é tirar a sorte.

Todos concordaram. Pedrinho escreveu o nome de cada concorrente num pedaço de papel, enrolou-os e botou-os no seu chapéu, pedindo a dona Benta, como mais velha, que tirasse um.

Emília, porém, protestou, erguendo a mão esquerda no ar e escondendo a direita no bolsinho da saia.

— Quem vai tirar a sorte sou eu! Dona Benta não sabe!

— Não é você, não! É vovó !— determinou Pedrinho.

— Sou eu! Sou eu! — insistiu a boneca.

— Já disse que é vovó. Não teime!

— Sou eu! Sou eu! — continuou a boneca, batendo o pé e sempre de mão no bolso.

Narizinho desconfiou da insistência daquela mão no bolso.

— Deixe ver a mão, Emília.

— Não deixo! — respondeu a boneca, corando até à raiz dos cabelos.

Narizinho agarrou-a e, tirando-lhe a mão do bolso à força, viu que havia nela um papelzinho do mesmo tamanho e enrolado do mesmo jeito dos que estavam no chapéu.

Foi um escândalo. Todos a criticaram, achando muito feio aquele procedimento; depois caíram na gargalhada, ao lerem o que estava no papelzinho. Emília, em vez de escrever o seu nome, havia escrito, na sua letrinha torta de boneca de pano — O MEU. Por isso insistia tanto em tirar a sorte. Já estava com o nome do vencedor na mão .. .

— Che, que fiasco! — exclamou tia Nastácia pendurando o beiço. — Nunca vi ação mais feia. Eu, se fosse Dona Benta, não deixava que essa cavorteiragem fosse passando assim sem mais nem menos. Dava umas palmadinhas nela, ah, isso dava mesmo! Onde se viu querer empulhar a gente dessa maneira? Credo!

Emília, cada vez mais furiosa, botou-lhe um palmo de língua

— ahn!

— Tia Nastácia tem razão, Emília — observou dona Benta. – O ato que você praticou é dos mais feios e só perdôo porque você é uma bobinha que não distingue o bem do mal. Fosse algum dos meus netos e eu o castigaria.

Era a primeira repreensão que Emília levava de dona Benta.

Sua vontade foi de também lhe botar um palmo de língua ainda mais comprido. Mas compreendeu que não devia fazer semelhante coisa e limitou-se a sair da sala, resmungando e batendo o pezinho com toda a força.

— Como está ficando! — comentou a negra. — Parece uma cascavelzinha. Credo!

Terminado o incidente, prosseguiram na tirada da sorte. Dona Benta meteu a mão no chapéu e pescou um dos papéis. Abriu-o e leu — “TIA NASTÁCIA”.

Foi um desapontamento geral. Ninguém esperou que a Sorte fosse tão burra de escolher justamente a autora do desenho mais feio. Mas a Sorte é a Sorte; o que ela decide está decidido e ninguém pode reclamar. Em vista disso a negra ficou encarregada de dar forma humana ao pedaço de pau vivente, pondo assim no mundo o irmão de Pinóquio.
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Continua… IV – A zanga de Emília

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa