quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Walmir Cardoso (Lenda grega recontada: O Leão de Neméia)


Era uma vez um homem chamado Anfitrião, que vivia em Tebas, cidade da Grécia Antiga. Ele era casado com Alcmena, neta de Perseu. Tão linda era Alcmena, que Zeus, o poderoso deus dos deuses gregos, caiu de amores por ela. Alcmena, porém, era fiel ao marido. Mas, um belo dia, Anfitrião teve de viajar por alguns dias e não avisou à mulher quando ia voltar. Aproveitando-se disso, Zeus assumiu a forma física do esposo e passou a viver com Alcmena como se fossem casados. 

Algum tempo depois, ao tomar conhecimento de que Alcmena estava grávida, Zeus, imaginando que o bebê fosse seu filho, declarou que o próximo descendente de Perseu seria o soberano da Grécia. Porém, antes que Alcmena tivesse seu nenê, uma artimanha de Hera, a ciumenta esposa de Zeus, fez nascer antes outra criança que tinha o sangue de Perseu — Euristeu — que então tornou-se rei.

Logo em seguida Alcmena deu à luz não um, mas dois bebês: Hércules, filho de Zeus, e Íficles, filho de Anfitrião. Quando os bebês tinham oito meses de vida, a deusa Hera, morrendo de ciúmes de Alcmena e do filho que ela havia tido com seu amado, decidiu eliminar o pequeno Hércules mandando colocar em seu berço duas imensas serpentes. Felizmente, o bebê já tinha a força de um semi-deus e deu cabo dos dois bichos com as próprias mãozinhas! 

Anfitrião e Alcmena deram a Hércules e Íficles a melhor educação que se podia ter na época: eles aprenderam a dirigir carruagens, a usar o arco e flecha, a usar a lança e a tocar lira. Aos 18 anos, Hércules destacava-se entre todos os outros rapazes, por ser de longe o mais alto e o mais forte. Nunca errava uma flechada ou um golpe de lança e seu olhar resplandecia. Com o tempo, tornou-se um herói que todos chamavam quando precisavam de proteção ou de alguém que lhe garantisse o sucesso numa luta. Foi depois de uma dessas lutas vitoriosas que Hércules casou-se com Megara, uma das princesas do reino vencido, e com ela teve vários filhos. 

Do Monte Olimpo, a morada dos deuses gregos, Zeus observava a vida aventurosa do filho com ternura, o que deixava Hera cega de ódio. Por fim, ela decidiu destruir a reputação de Hércules para que Zeus o desprezasse. Hera fez com que o herói tivesse um ataque de loucura e matasse a mulher e os próprios filhos. Quando voltou a si e viu o que tinha feito, Hércules ficou desesperado e correu a consultar uma sacerdotisa para saber que castigo poderia purificá-lo de seu terrível crime.

A sacerdotisa disse-lhe que devia servir ao rei Euristeu por doze anos. A cada ano, Hércules deveria realizar um trabalho dificílimo. Quando os trabalhos estivessem completos, ele estaria livre de seu crime, tornaria-se imortal como o pai e poderia viver com este no Olimpo. O primeiro trabalho que Euristeu deu a Hércules foi trazer-lhe a pele do leão de Neméia, um monstro terrível, com fama de indestrutível, que vinha aterrorizando a região há um certo tempo. 

Hércules aceitou o encargo e partiu para Neméia, levando um arco, uma lança e uma clava que ele mesmo havia feito. Ao avistar a fera, o herói disparou uma flecha em sua direção. Mas a flecha nem sequer arranhou a pele do animal. Hércules decidiu então atacar o monstro com a clava, atraindo-o para uma caverna que tinha duas entradas. Tapou uma delas com pedras, entrou pela outra e, depois de uma luta feroz, conseguiu estrangular a fera, passando a usar sua pele como manto. A bravura do animal, porém, foi reconhecida por Zeus, que o transformou na constelação do Leão, que hoje brilha no céu do hemisfério Sul na entrada do outono.

Fonte:
Revista Nova Escola

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.742)



Uma Trova de Ademar  

Igualmente aos nossos pais, 
nos cabelos brancos temos 
as impressões digitais 
dos anos que já vivemos. 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Poesia, essa voz sagrada, 
vertida do coração, 
que da emoção foi clonada, 
para servir de oração. 
–Ayda Bochi Brum/RS– 

Uma Trova Potiguar  

Trago n'alma juventude,
vigor e tagarelice,
vivendo com plenitude
minha garrida velhice. 
–Pedro Grilo/RN– 

Uma Trova Premiada  

1995   -   Nova Friburgo/RJ 
Tema   -   POETA   -   1º Lugar 

Quando esta lua indiscreta, 
me traz lembranças sem fim 
eu choro o velho poeta 
que morreu dentro de mim. 
–Rita Mourão/SP– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Sonha sim, pobre, com festa!
Que a fantasia, afinal,
é tudo que ainda te resta
neste mundo desigual!
–Waldir Neves/RJ– 

U m a P o e s i a  

Não pode nunca morrer 
nesse nordeste da gente, 
nem o coco de zambê 
nem cantador de repente; 
e da cultura popular 
não vou deixar se apagar 
o fogo da lamparina, 
do fogão, nem da fogueira; 
pra iluminar a bandeira 
da cultura nordestina! 
–Ademar Macedo/RN– 

Soneto do Dia  

DOAÇÃO INFELIZ. 
–José Tavares de Lima/MG– 

Não me censures se não te procuro, 
nem tentes entender meu desamor... 
Mataram cedo o sentimento puro 
que havia no meu peito sonhador! 

Este meu jeito indiferente e duro 
somente esconde um natural temor, 
porque sofri demais; e, te asseguro: 
morre a ternura em quem sofreu de amor... 

Doei-me inteiro para alguém, um dia; 
acreditei nas juras que fazia, 
e em paga só colhi desilusão... 

Hoje, ferido por tão rude espinho, 
acostumei-me tanto a ser sozinho 
que até me sinto bem na solidão!

Concurso Literário “A Arte de contar e poetizar o pão" (Resultado Final)


A Secretaria de Estado da Educação (SEED) e o Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria do Estado do Paraná (SIPCEP) divulgaram o resultado do concurso literário “A Arte de contar e poetizar o pão":

Poema

1º - O pão...Que delícia!
Maria Eduarda Gallo, 6º ano - Colégio Estadual Dom Pedro I – Pitanga
Professora: Maria Cândida Vitor

2º - Pão Nosso
Gabriel Saturno Bezerra, 6º ano - Colégio Estadual Elvira Balani dos Santos – Maringá
Professora: Rosangela Aparecida Silva Scaramal

3 - Pão: alimento que dá vida
Igor Santos Zanquetta, 6º ano - Colégio Estadual do Campo Terra Boa – Campina Grande do Sul
Professora: Zuleica Cardoso Araújo.

Conto

1º - Ingrediente mágico do ser humano
Rita Cecíllia Budke Link, 9º ano - Colégio Estadual Ieda Baggio Mayer – Cascavel
Professora: Daniele Bertollo

2º – A receita perdida
Lucas Ribeiro Mendes, 9º ano – Colégio Estadual Unidade Polo – Campo Mourão
Professora: Geni Engelmann Viletti

3º – O fermento da Vida
Guilherme Hemetério, 9º ano – Colégio Estadual Borell Du Vernay – Ponta Grossa
Professora: Taciane Szymezak Inácio.

Os alunos que ficaram em primeiro lugar receberam tablet; os do segundo uma máquina fotográfica e os do terceiro um mp3. A premiação acontecerá em local e data a serem divulgados.

Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com 

Jornais e Revistas do Brasil (Conferências Populares)


Período disponível: 1876 a 1876 
Local: Rio de Janeiro, RJ 
  
Lançado em janeiro de 1876 na capital do Império, Conferências Populares foi um periódico científico criado e editado pelas Conferências Populares da Glória. Iniciadas em 23 de novembro de 1873, sob a coordenação do senador e conselheiro imperial Manoel Francisco Correia, as “ Conferências Populares” eram realizadas por intelectuais e estudiosos em escolas públicas da freguesia carioca da Glória, com a finalidade de despertar o interesse público para temas e debates variados e difundir o campo das ciências no Brasil. Apesar da intenção principal ser a democratização do conhecimento, a iniciativa – que ficou conhecida também como “Tribuna da Glória”, por seus intensos debates e polêmicas – acabou formando um público seleto, composto pela família real, a aristocracia da corte, profissionais liberais e estudantes.

Dirigido pelo próprio Manoel Francisco Correia, o órgão de divulgação das palestras teve periodicidade mensal e formato pequeno, com mais de cem páginas por edição. Era impresso na Typographia Imperial e Constitucional de J. de Villeneuve & Cia., no nº 65 da rua do Ouvidor.

Do nº 1 ao nº 10, Conferências Populares publicou estudos sobre disciplinas e assuntos ao mais diversos: ciências naturais, ciências sociais e políticas, gestão pública e da cultura, educação, evolucionismo, instrução da mulher e papel feminino na sociedade, indústria, literatura (sobretudo história da poesia), teatro, história e historiografia brasileira, história medieval, história de Portugal, legislação (inclusive a que concerne à área científica), saúde pública, biologia, mineralogia, espiritualismo e materialidade, adaptação a mudanças climáticas, peculiaridades de províncias brasileiras, ensino moral, positivismo, bases para um sistema de tradução de línguas no Brasil, marinha mercante nacional, menores abandonados, sistemas penitenciários, sociedades de socorro mútuo e outros. Estima-se que o conteúdo destas edições tenha sido composto de palestras proferidas nas Conferências entre 1873 e 1876.

O periódico publicou estudos de Manoel Francisco Correia, João Manoel Pereira da Silva, A. C. de Miranda Azevedo, Affonso Celso Júnior, Tristão de Alencar Araripe, Joaquim José Teixeira, Nuno de Andrade, Antônio Felício dos Santos, João Pizarro Gabiso, Manoel Jesuíno Ferreira, José Martins da Cruz Jobim, José Liberato Barroso, José Thomaz da Porciúncula, Antônio Limoeiro, Misael Ferreira Penna, Luiz Corrêa de Azevedo, Francisco Ignacio de Carvalho Rezende, Hermann Luiz Gade, Bento Gonçalves Cruz, Joaquim Monteiro Caminhoá, Feliciano Pinheiro Bittencourt, Cunha Ferreira e Rodrigo Octávio.

Apesar de as Conferências Populares da Glória terem ocorrido entre 1873 e 1888, com breve retomada em 1891, a publicação científica, aparentemente, só circulou até a décima edição, datada de outubro de 1876. 

O Jornal do Commercio publicava semanalmente anúncios das palestras programadas pelas Conferências Populares da Glória e transcrevia resumos de cada uma. Algumas conferências foram publicadas na íntegra e separadamente pelos próprios autores.

Referencias
 1. Conferências Populares da Glória. Brasiliana – A divulgação científica no Brasil. Fundação Oswaldo Cruz. Disponível em: http://www.museudavida.fiocruz.br/brasiliana/cgi/cgilua.exe/sys/start.ht... Acesso em 20 ago. 2012.
 2. FONSECA, Maria Rachel Fróes da. As 'Conferências Populares da Glória': a divulgação do saber científico. História, ciências, saude-Manguinhos vol.2 no.3, Rio de Janeiro, nov./feb. 1996. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-59701996000400007&script=sci_a... Acesso em 20 ago. 2012.
 3. FONSECA, Maria Rachel Fróes da. Contato via e-mail, em 20 ago. 2012.

Fonte:
http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/conferências-populares

José de Alencar (Ao Correr da Pena) Rio, 18 de março: Semana de Aniversários


A semana que passou foi a dos aniversários felizes.

Domingo festejaram-se os anos da nossa Princesa, que trocou a bela terra do Brasil pelo poético céu da Itália.

Quarta-feira teve lugar a solenidade do aniversário da nossa Imperatriz, que deixou as lindas ribeiras de Nápoles pela majestosa baía do Rio de Janeiro.

Assim, logo após da saudade, veio uma lembrança prazenteira. Se perdermos por algum tempo uma flor graciosa da nossa coroa imperial, ganhamos para sempre um anjo de bondade, um exemplo das belas virtudes.

E isto me faz lembrar do quanto somos devedores àquela boa terra de Itália, que nos confiou com tanto prazer a filha de seus reis, e acolheu com tanto amor a irmã do nosso monarca.

Sem falar dos artistas que daí nos têm vindo, e das belas noites de teatro que devemos à sua escola e aos seus gênios musicais, lembremo-nos que é lá, nessa terra clássica das artes e do belo, que muitos brasileiros se têm ilustrado e adquirido os conhecimentos que atualmente são aproveitados em bem do país.

Foi ainda no meio dessas ruínas seculares de tantas gerações que passaram, no solo onde viveu o povo rei, na terra em que nasceu Virgílio, que um poeta brasileiro foi beber as últimas inspirações do seu poema nacional, como que para imprimir-lhe esse cunho de grandeza e de sublimidade que o tempo tem deixado na história daquele povo.

Tudo isto  deve o Brasil à Itália; porém mais que lhe devesse o pagaria com o amor e a dedicação que consagra à sua Imperatriz, e da qual ainda quarta-feira deu uma prova bem solene.

Todo este  dia foi votado às graças. De manhã apareceu a lista daqueles cujos serviços a munificência  imperial, julgou dever remunerar. Logo depois vieram as graças daqueles que, não vendo seus nomes contemplados, motejavam dos outros e especialmente dos ministros. Á noite tiveram os dilettanti as graças do D. Pascoale, que é de crer fossem engraçadas.

Estive alheio inteiramente a tudo isto; mas uma coisa me deu que pensar seriamente. Acho o direito de agraciar uma das mais belas instituições da monarquia; compreendo que os homens possam ser crismados em barões, condes e marqueses; mas há uma coisa a que decididamente não me ajeito, e é como se poderá fazer um sujeito feio, desengraçado e sem elegância, um gentil-homem.

Está bem entendido que isto se refere a nenhum dos últimos agraciados, que são perfeitos cavalheiros, servidores antigos, e que todos mereciam o favor do monarca. É uma simples hipótese que por ora não tem aplicação, e que o espírito e bom-senso imperial repelem para não haver ocasião de se parodiar o dito de D. Pedro I a respeito do cavaleiro.

Um sujeito, contando-me ontem os festejos do dia quatorze, disse-me: “Houve graças, des-graças, e sem-graças. As graças os jornais publicaram; as des-graças sabem os que ficaram logrados; e as sem-graças foram as daqueles que esperavam uma coisa e tiveram outra”.

Até que ponto isto é exato não sei; apenas me lembro que já os nossos antigos diziam que não podia haver graça sem sal; razão esta porque naturalmente se inventaram os emolumentos, que algumas vezes são bem salgados.

Já é tempo de passar adiante e acabar por hoje com as graças, tanto mais quando já me saí mal por ter tido o arrojo de dizer que o país devia dar justiça de graça.

Como me escapou semelhante blasfêmia? Pois num tempo em que tudo se compra e se vende, em que até se trafica com o pensamento e com a consciência, é possível fazer-se coisa alguma gratuita?

Tudo tem um preço. A honra, a probidade, o dever, a reputação essas coisas sagradas que Deus confiou ao coração humano, têm a sua cotação. Porque a justiça sairá da regra geral, e deixará de receber a sua espórtula?

Já se vê que foi um absurdo em caí. Não há coisa mais razoável e mais sábia, como disse um correspondente do Jornal do Comércio, do que obrigar-se as partes a pagarem aos magistrados e oficiais de justiça, visto que estes empregados são instituídos para utilidade pública.

Ora, os ministros de estado, os presidentes de província, os militares, todos os funcionários públicos enfim são criados para utilidade pública; por conseguinte, em vez de ordenado, dêem-se-lhes custas. O ministro ganhará dois mil réis por cada nomeação, privilégio, ou graça que conceder; dez tostões por cada aviso ou portaria, etc..

Não vêem como simplifica-se de repente todo este mecanismo administrativo, que a França e a Prússia – nações ignorantes e atrasadas – tanto têm estudado, e tanto se esforçam para regularizar? Deixará de haver tesouro, repartição de fazenda e leis de orçamento, e sistema de impostos, e receita e despesa pública. Tudo isto é burla. Quem precisar do empregado que o pague; o governo o nomeia, o país o tolera, e nisto já fazem muito.

Quem diria que a ciência administrativa, tão desenvolvida na Europa, tinha de ser completamente aperfeiçoada por um gênio brasileiro que oculta modestamente o seu nome com receio de assombrar o mundo?

Que força de dialética, que lógica de aço! Os franceses têm as epices; logo nós devemos conservar as custas. Pobre genuense! Que eras tu à vista deste portento?

E eu animei-me a tocar na arca santa, no sagrado paládio, no regimento das custas? Uma obra elaborada pelas sumidades pretorianas pode ser discutida aí por qualquer moço que ainda não tem, e nem quer ter, o cHarlatanismo necessário para se fazer alguma coisa?

Fechem-se as câmaras; mandem-se os senadores e deputados passear à Europa em missão especial ou geral; acabe-se de uma vez com a imprensa e com a tribuna. Não percamos o tempo, que é precioso. O ministro fará as leis, e, tendo-as feito, não haverá que retrucar, magister dixit.

Santo regime! Quando te veremos em inteiro vigor, para felicidade do país, para sossego e a paz do governo? Então a marcha da administração se aperfeiçoará. Os ministros serão os únicos que terão o direito de saber alguma coisa; e, depois deles, só os que estiverem dispostos a defende-los cegamente, sem critério e sem consciência.

Os outros, aqueles que julgam do seu dever expor francamente  uma opinião contrária, mas que nada tem de ofensiva ao caráter do ministro, aqueles que entendem que a censura leal é a prova mais evidente da sinceridade de uma aliança de idéias e de princípios, estes serão classificados no rol dos ignorantes, porque não receberam de algum gênio engarrafado o placet da ciência e do estudo.

Assim, pois, o dito por não dito. O regimento das custas é uma obra perfeita, tão perfeita, que, sendo publicado a cinco deste mês, no dia oito, isto é, três dias depois, o presidente da relação se viu obrigado a oficiar três vezes ao ministro da justiça sobre a inteligência de algumas de suas disposições.

A razão disto não é a que muita gente supõe, não é o sentido dúbio e confuso das palavras empregadas. Qual! os homens são imperfeitos; e por isso não podem compreender toda a sabedoria daquele novo mandamento do monte Sinai, daquela lei das Doze Tábuas.

Querem ver outra perfeição do regimento de custas, que é  muito sublime para ser compreendida por inteligência como a nossa?

Diz o art.169 que o porteiro dos auditórios perceberá meio por cento sobre o valor dos objetos arrematados. Suponhamos que o mínimo das arrematações civis e comerciais feitas nesta corte seja dois mil contos, o que é um cálculo muito restrito. Temos uma percentagem de dez contos de réis, que por três porteiros dá só por si um ordenado três vezes superior ao que tem qualquer juiz municipal, qualquer deputado, qualquer juiz de direito ou oficial de secretaria.

Pode-se duvidar da sabedoria de semelhante disposição?

É possível ainda negar a conveniência, a necessidade das custas, que produzem tantas vantagens práticas?

Lede o Art. 61, e comparai-o com o Art. 167. O presidente da relação tem por cada sentença que transitar pela chancelaria o mesmo que seu porteiro, isto é 300 rs. Como é belo para a justiça e para o prestígio da magistratura este exemplo de igualdade, que manda que o chanceler e o seu porteiro – os dois elos quase extremos da hierarquia judiciária – se toquem e estendam a mão para receber seis ou oito moedas de cobre!

Que emblemas, que símbolos inventados pelos povos da antiguidade valem semelhante lição? Que invenção moderna pode substituir a harmonia e a uniformidade desta sublime instituição das custas, que alguns vindouros querem que se reforme?

A princípio, quando comecei a escrever sobre o regimento tinha a idéia de que se deviam acabar com as custas, os emolumentos, e dar-lhes o caráter de uma contribuição percebida, como qualquer imposto, pela repartição competente. Assim, sobre as causas se cobraria, em vez de dízimos de chancelaria, uma percentagem que se julgasse acertada, e que a parte pagaria no ato de levantar o dinheiro da execução; e com isto remunerasse o Estado os seus empregados de justiça.

Hoje já nem me lembro de tal coisa. Era uma extravagância, que me passou, apenas pude  apreciar as inúmeras belezas que formigam no regimento das causas.

E por hoje basta de tanta maçada; não achais, meu benévolo leitor? Deixemos em paz a justiça, que irá tranqüilamente fazendo seu negociozinho aos duzentos e trezentos réis, e vamos falar de outras coisas, tristes e alegres, por que esta é a ordem do mundo.

Já deveis saber que o Sr. Conselheiro Eusébio de Queirós foi acometido, na noite de segunda-feira, de uma moléstia grave, da qual felizmente já se acha melhor. S. Ex.ª tem sido visitado por seus numerosos amigos, que deram ainda mais uma prova de grande consideração que votam ao distinto estadista brasileiro.

Desejamos de coração o pronto restabelecimento de S. Ex.ª tanto mais quando também acabamos de curtir à beira de um leito de dor todos  os transes cruéis de sofrimento e de angústia.

São páginas negras do livro da nossa vida, que devemos voltar com paciência e resignação, para chegar às folhas brancas e douradas, às imagens risonhas de dias mais felizes e mais tranqüilos. A dor, disse Lamartine, remoça o homem, dá-lhe nova força, novo vigor. Tu fais l’homme, ô douleur! 

Parece que, depois de uma crise de sofrimento, a  alma se apura, adquire um tato finíssimo, capaz de sentir as mais delicadas impressões, uma sensibilidade esquisita para os menores prazeres.

A enfermidade tem um quer que seja das viagens.

É uma viagem um pouco perigosa, muito incômoda, e que, em lugar de ser feita em um vapor ou em um vagão, o é sobre um leito ou sobre uma enxerga. Às vezes naufraga-se, salta-se com explosão do vapor; mas, se chegamos ao porto, se saltamos em terra, tudo nos parece novo, tudo nos sorri, tudo é cor-de-rosa e perfumado. A água é uma bebida do céu, o pão é um manjar dos deuses, o dia é uma festa de reis, o sono é uma voluptuosidade do paraíso, sibaritismo do sultão.

Talvez seja por esta semelhança que se dá a coincidência de cair no mesmo tempo a quadra das moléstias e das viagens. Tudo parte, tudo vai mar em fora, ver novos climas, correr terras, para ter na volta o que contar.

Queixam-se por aí que tudo vai para a exposição. De Paris, menos os nossos produtos. Quem sabe? Talvez que a par da Estrela do Sul apareçam na exposição muitos outros produtos brasileiros, muitas raridades dignas de menção.

Os novos viajantes vão achar em Paris uma verdadeira epidemia bailante. Tem havido para mais de 500 bailes. A febre é geral: dança-se nos palácios, nas embaixadas, nos hotéis, nas casas, nos salões e nos prados, sobre a relva e sobre os tapetes.

Além da dança, a única coisa em que os franceses presentemente se ocupam é na conjugação do verbo fiar e seus compostos.

Assim, os homens fiam seu dinheiro por subscrição; as mulheres desfiam pano para os feridos da Criméia; o imperador confia nos seus generais e no seu exército; a gente timorata desconfia do feliz êxito da guerra; Bosquet enfia balas pelo corpo dos russos; Canrobert porfia no seu projeto de arrasar  Sebastopol.  

A guerra pode dizer-se que está reduzida a fios. Onde passou o fio da espada, aplicam-se fios de linho. Os homens incumbiram-se do primeiro; as mulheres do segundo. Que fases não tem tomado essa luta de gigantes?!

Antes de vos deixarmos, temos ainda um triste dever a cumprir. Celebrou-se a missa por alma do Deputado Aprígio, e, apesar de tantos amigos que o finado tinha nesta corte, aquele ato foi muito pouco concorrido.

Não é fácil explicar-se semelhante fato, pois que o aviso para a missa foi feito pela folha oficial, que a anunciou nas suas colunas como um holocausto do governo. É verdade que, não tendo os membros do gabinete feito um convite em seu nome, talvez entendessem os amigos do falecido que se tratava de uma solenidade muito particular, a que só deviam assistir as sumidades; e por isso guardaram a conveniente reserva, e não compareceram.

Não há remédio, pois, senão reunirem-se os amigos do Dr. Aprígio, e pagarem à sua memória o devido tributo de saudade e de estima, fazendo dizer uma missa solene, ou um ofício sem caráter político, sem reserva de pessoas; a este ato estamos certos que assistirá um numeroso concurso das pessoas mais distintas desta corte.

Acabamos por onde começamos, pelas graças. Temos algumas pequenas observações a fazer sobre os estilos oficiais em voga neste ponto.

Assim, nos parece mais regular desenglobar os despachos e cometer a cada ministério a referenda das graças concedidas por serviços feitos nas suas respectivas repartições, ou em objetos que lhe são anexos.

Conviria igualmente criar-se uma ordem destinada exclusivamente a premiar o merecimento literário, assim como existe uma para os serviços militares. Chame-se esta ordem a Estrela do Sul, à imitação do Cruzeiro, ou a Plêiade Imperial; demos-lhe enfim um nome que tenha alguma significação, e acabemos com o costume de premiar a inteligência com a mesma graça com que se remuneram serviços de uma ordem muito diversa.

Esta idéia, realizada com a sabedoria e a prudência que é de esperar, traria grandes vantagens, porque excitaria os estímulos, criaria, uma emulação salutar, e daria assim  incremento ao nosso progresso literário. Apreciamos todos os serviços feitos ao país, qualquer que seja a sua natureza; estimamos que todos sejam galardoados; mas desejamos que se dê ao talento, à inteligência, às ciências e às artes essa nobreza e essa distinção, que lhes cabe por todos os títulos.

E deixai-me dizer-vos uma coisa. Esta idéia me sorri ainda mais, porque o grão-mestre da ordem merecia sê-lo, ainda quando não tivesse uma coroa. Quanto aos dignitários, que seriam sete, no caso de adotar-se o título de Plêiade Imperial, deviam ser escolhidos de entre os que temos de mais distinto e de mais ilustre.               

Para dar à condecoração maior merecimento e para tirar-se dela grande utilidade, podia fazer-se com que formasse uma verdadeira ordem, trabalhando em sessões regulares como o Instituto de França, e sob a presidência de Sua Majestade como grão-mestre, ou do dignitário mais antigo. Quem sabe daqui a alguns anos que importância não teria semelhante instituição, e que glória não daria ela ao nosso país?

Agora é que me lembro! Estou a perder o meu tempo! Não há dúvida que esta minha idéia é bela, é digna de um monarca erudito, e de um povo que tanto se distingue pela sua aptidão literária; mas não foi lembrada por um homem que já tenha alguns cabelos brancos e uma dose de importância e de morgue; portanto  não presta decididamente.     

Dizem que aos vinte anos se pode pensar assim por si, nem ter uma boa idéia. Entendem que a inteligência vigorosa e ardente dos moços deve estar ao serviço dos velhos, os quais brilham como essas flores parasitas que sugam das árvores novas e robustas a seiva com que alimentam a sua vegetação raquítica.

De que servem esses lampejos brilhantes, essas centelhas de fogo, que passam às vezes pelas almas jovens e iluminam de repente um mundo de idéias, ou desenham um horizonte vasto e imenso? É preciso que estas faíscas do talento sofram o bafo frio e enregelado dos velhos? Por que esta chama da inteligência, em vez de expandir-se livremente, há de ser condenada a aquecer a alma gasta e consumida de um corpo vergado pelos anos?

Não foi deus que estabeleceu esta tutela despótica e sem limites que a idade quer exercer. Não: Deus mandou respeitar os velhos, como as mulheres, porque são fracos; Deus mandou consultar aos velhos, como aos livros, porque neles se encerra a história da experiência; porém Deus deu à mocidade a força, a esperança, a ambição, confiou dela o trabalho, a ação, o progresso, e apontou-lhe o futuro.

Ninguém venera mais a velhice do que eu; ninguém sabe melhor compreender o que há de respeitável numa grande inteligência que alimenta ainda um corpo gasto pelos anos; mas o que acho irrisório é que pense que toda a ruga é um poço de ciência, que todo o cabelo branco é um título de capacidade.

Felizmente o tempo dos desenganos aí vai chegando; o círculo de ferro já se quebrou; e o país já começa a aborrecer-se dessas patentes de capacidade e de ilustração dadas num salão de baile, ou numa antecâmara de ministro.

Fonte:
José de Alencar. Ao Correr da Pena. SP: Martins Fontes, 2004.

Resultado - 15º Prémio Literário Fernando Namora (Portugal)


O “extraordinário domínio da língua portuguesa”, com “elegância e mestria”, levaram o júri a distinguir com o Prémio Fernando Namora/Estoril Sol o romance Domínio Público, de Paulo Castilho, disse o presidente do júri, Vasco Graça Moura.

As obras finalistas foram 

Anatomia dos Mártires' (João Tordo), 

‘Cartas Vermelhas' (Ana Cristina Silva), 

‘A Noite das Mulheres Cantoras' (Lídia Jorge), 

‘Domínio Público (Paulo Castilho) e 

‘O Retorno' (Dulce Maria Cardoso). 

Recorde-se que o Júri do Prémio Literário Fernando Namora, instituído pela Estoril Sol, tem como presidente o escritor e ensaísta Vasco Graça Moura, mas inclui ainda os nomes de Guilherme D'Oliveira Martins (Centro Nacional de Cultura), José Manuel Mendes (Associação Portuguesa de Escritores), Manuel Frias Martins (Associação Portuguesa dos Críticos Literários), Maria Carlos Gil Loureiro (Direcção Geral do Livro e das Bibliotecas), Nuno Lima de Carvalho e Dinis de Abreu (Estoril Sol) e, a título individual, Maria Alzira Seixo e Liberto Cruz.

Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com 

Prêmio Sesc-DF de Contos Machado de Assis (Resultado Final)


Adônis Dias Tarallo - Título Provisório

Ana Cristina de Souza Luiz de Melo - Primaveras

Antônio de Pádua Ribeiro dos Santos - A Importância Das Pernas

Berilo da Paz Carvalho e Silva Filho - Boneca de Milho

Débora Laís Ferraz dos Santos - O Filhote de terremoto

Guilherme Giugliani - Rumo ao Uruguai

Hudson Okada - Fantasmas

Kiara Domit Vieira - Fôlego

Lauro Roberto Elme - A Cacimba

Luis Cunha Pimentel - Irmandade

Lygia Roncel de Rodrigues Ferreira - João e Marias

Marta de Mattos Vieira Barcellos Costa - Contradança

Mirian da Silva Cavalcanti - Na Casca De Laranja

Regina Nadaes Marques - O Anjo de Jaqueta Coral

Turido Anderson Marangoni - O Conto

Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com

Prêmio Sesc-DF de Crônicas Rubem Braga (Resultado Final)


Athos Ronaldo Miralha da Cunha - Hipopotomonstrosesquipedaliofogia

Bruno Fernandes Zenobio De Lima - Uma Tarde

Carlos Alberto da Silva Júnior - Diferenças Iguais

Eloí Elisabete Bocheco - Aos Retalhos

Flávio Luís Sousa Silva - Luz de Cozinha

Gerson Augusto Gastaldi - Entre "Sua" E "Tua", Eis A Questão

João Paulo Lopes de Meira Hergesel - Era uma Vez

Karen Vaz Siqueira Alvares - Essa Tal Nova Opinião

Kássia Neves Monteiro - Um Dia Perdido

Lilian Da Silva Almeida - Menino de Sábado

Lygia Roncel de Rodrigues Ferreira - Para O Mar Não Fugir

Paola Cristina Ribeiro Marcellos - O Ritmo dos Meninos E Dos Pássaros

Regina Nadaes Marques - Chova ou faça Sol

Rodrigo Batista Balthazar - O Companheiro de Estudo

Thiago Pereira Majolo - Coração De Menino

Fonte:
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Prêmio Sesc-DF de Contos Infantis Monteiro Lobato (Resultado Final)


Ana Carolina Da Silva Rocha - Mila

Ana Cristina de Souza Luiz de Melo - Dandi e a árvore palavreira

André Telucazu Kondo - Papel de Bala

Cinthia Nunan Baptista Kriemler - Aníbal, o peru que não morreu de Véspera

Cristina Maria Ramos Lobo - A Bruxa Onete

Éder Rodrigues da Silva - Ópera Dindinha

Elaíse Maria de Mello Barbosa - Princesa Valentina E o Dragãozinho

Geraldo Ramieire Oliveira Silva - O Astronauta Que Não Sabia Andar de Bicicleta

Gisele Maria Franchi - Tá no Papo

João Paulo Lopes de Meira Hergesel - Como Calar a Boca de um Dragão

Lauro Roberto Elme - A Pedra

Luis Cunha Pimentel - Pirilampo

Odemir Paim Peres Júnior - O Lampiro Que Não Lambeu Lâmpada

Roberta Garcia da Costa - Chico Miúdo, o Grande!

Sidiney De Souza Breguêdo - João Chapelão

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Prêmio Sesc-DF de Poesias Carlos Drummond de Andrade (Resultado Final)


Adelaide Ribeiro Jordão
Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira
Alberto Pereira de Araújo Filho
Alexandre Pastre Gonçalves
Ana Flávia de Melo Mendes Carvalho
Ania Reis de Aragão
Antonio Heriberto Catalão Junior
Auiri Tiago Nogueira dos Santos
Bernardo Guadalupe dos Santos Lins Brandão
Biagio Pecorelli Filho
Bruna Marta Avelar Ferreira
Carlos Alberto de Assis Cavalcanti
Ceuline Maria Medeiros Santiago
Cristina Garcia Lopes
Daniel Retamoso Palma
Daniella Ribeiro de Sousa Longuinho
Danilo Augusto de Athayde Fraga
Éder Rodrigues da Silva
Fátima Soares Rodrigues
Guilherme Henrique Bonin Salomone
Juliana Klinko
Luiz Carlos Mariano da Rosa 
Luiz Renato Dantas de Almeida
Nédia Sales de Jesus
Nina Lorena Hollander Correia
Nina Ferreira Barreto
Odemir Paim Peres Júnior
Pedro Diniz de Araujo Franco
Reinaldo Ramos da Silva
Ricardo Carranza
Ricardo Mendonça Petracca
Roberta Andressa Villa Gonçalves
Rui Werneck de Capristrano
Simão Augusto Lopes Fernandes dos Santos
Viviane Maria Vilela de Vasconcelos

Fonte:
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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Alerta aos Colaboradores

Prezados Colaboradores

Tenho recebido os e-mails com seus textos, e muitos estão em atraso.

Devido a descoberta de diabetes recente, a minha visão para perto está muito prejudicada, o que tem me causado cansaço frente ao monitor devido o esforço.

Contudo podem continuar a enviar seus textos, que gradativamente os estarei publicando. 

Agradeço a compreensão
José Feldman

Walmir Cardoso (Lenda Grega Recontada: A Lenda de Órion)


Dizem que na Grécia Antiga, muito tempo atrás, um jovem caçador chamado Órion apaixonou-se por uma princesa de nome Mérope. Era filha do rei Enopião, com quem morava numa ilha do Mar Mediterrâneo. Dona de grande beleza, Mérope era muito amada pelo pai, que impedia os rapazes de se aproximarem da filha e namorá-la.

Acontece que Órion não era um jovem qualquer, mas filho do deus grego Posêidon, conhecido na Roma Antiga como Netuno. Muito poderoso, esse deus reinava sobre os mares. Com receio de deixar Posêidon zangado, Enopião permitiu a Órion achegar-se à filha, com uma condição: devia capturar todos os animais ferozes que infestavam seu reino. Sendo um hábil caçador, nosso herói aceitou a proposta, pedindo a mão da princesa como prêmio pela façanha. Enopião nada respondeu e Órion interpretou seu silêncio como consentimento.

Durante um bom tempo o caçador enfrentou as feras, que por fim conseguiu aprisionar e transportar para outra ilha, desabitada. Terminada a missão, ele imaginou que pudesse, enfim, casar-se com Mérope. Contudo, os ciúmes de Enopião em relação à filha falaram mais alto e ele escondeu-a do noivo num castelo.

Inconformado, Órion começou a trazer os animais caçados de volta à ilha de Enopião. Numa de suas viagens foi capturado pelos soldados do rei, que o cegaram e em seguida o abandonaram numa praia deserta. Felizmente, o caçador cego foi encontrado por um ciclope, gigante mitológico de um olho só, que o conduziu até Aurora, a deusa do amanhecer. Apaixonada que era por Órion, ela restituiu-lhe a visão, fazendo-o olhar para onde o sol nasce. Porém, mesmo com a vista totalmente recuperada, o caçador não conseguiu casar-se com Mérope.

Tempos depois apaixonou-se por Ártemis, a deusa da caça, conhecida entre os romanos como Diana. Mas Ártemis tinha um irmão gêmeo, Apolo, muito ciumento dela.

Numa bela tarde, os dois irmãos saíram para um torneio de arco e flecha. No caminho, Apolo desafiou Ártemis a acertar um alvo no mar, perto da linha do horizonte. Excelente arqueira, Ártemis aceitou prontamente o desafio e retesou o arco na direção indicada pelo irmão.

Mal sabia ela estar apontando para Órion, que nadava à distância e foi trespassado por sua flecha certeira. No dia seguinte, andando a beira-mar, a deusa encontrou o corpo morto do amado, com uma de suas flechas cravada no coração. Pôs-se a chorar, mas era tarde, o mal estava feito.

Penalizado com sua dor, Zeus, o maior dos deuses gregos, ofereceu-se para transformar Órion numa constelação. Ártemis aceitou a oferta porque assim, pelo menos, poderia ver seu amado no céu. A mesma sorte não coube aos dois cães fiéis de Órion, que ganiam desesperados ao ver seu dono brilhando no céu noturno. Assim, também eles foram transformados por Zeus em constelações. São elas Cão Maior e Cão Menor, que podem ser vistas no céu junto ao gigante caçador nas noites quentes de verão do hemisfério Sul.

Fonte:
Revista Nova Escola

Teatro de Ontem e de Hoje (A Maldição do Vale Negro)


Encenação de Luiz Arthur Nunes, para o Teatro Vivo, de texto de sua autoria em parceria com Caio Fernando Abreu. A proposta resgata criticamente o melodrama, gênero dramático que reina no século XIX e, posteriormente, nas novelas de rádio e televisão. Um esboço desse espetáculo transparece em algumas cenas de Sarau das Nove às Onze, também escrita em parceria com Caio Fernando Abreu e montado por Luiz Arthur Nunes em 1976, com o Grupo de Teatro Província.

A história é sobre uma órfã criada num castelo, sob o rígido controle do tio, o velho Conde Maurício, e da governanta, ambos personagens que guardam um segredo que pode mudar a vida da garota. A jovem é seduzida pelo Marquês D'Allençon, credor da hipoteca do conde. Quando o tio descobre o relacionamento dos dois, expulsa a menina do castelo e lança as mais terríveis maldições sobre ela. No acampamento de ciganos onde é acolhida, a pobre órfã descobre seu passado e os segredos que envolvem o Vale Negro. Ambientada no século XIX, a ação dramática se passa em 1834 e utiliza características do gênero melodramático, como o sofrimento e o final feliz.

Na montagem, protagonizada por Mirna Spritzer, em elogiada e premiada atuação, o melodrama é levado a sério, sem deboche, e com todos os ingredientes comuns aos dramas do gênero: o escapismo, o maniqueísmo, o simplismo e a intervenção decisiva da providência divina. O gênero ultrapassado, como técnica de atuação, é resgatado com um olhar contemporâneo e uma temática mais ousada do que a habitualmente tratada pelo melodrama. Nas palavras de Flávio Mainieri, o texto e a montagem "são perpassados por traços indeléveis de outros textos, como os da pós-modernidade".1

A encenação utiliza não só os clichês do texto, mas também cenários, figurinos e adereços de época, tentando recuperar a forma usada no tempo em que o melodrama predomina nos teatros. Os três ambientes em que transcorre a narrativa são recriados por telões reversíveis, pintados em perspectiva, dando forma aos castelos, paisagens, criptas e corredores em que as personagens vivem suas angústias e glórias.

A representação tem um tom exacerbado e emocional, levando os atores a reconstituir as atuações dos grandes atores do melodrama. O diretor comenta que a encenação é carregada de inflexões vocais, gesticulações enfáticas e cenas de violência, e que "apesar da peça ser uma paródia do gênero, o comportamento cênico está longe do deboche. Os atores trabalham com seriedade, acontece que como se está lidando com uma acumulação de clichês, muitas vezes o espetáculo provoca o riso".2

Sobre a encenação, o crítico Cláudio Heemann observa que o "resultado é excelente. Uma piada intelectual do melhor nível, apresentada com capricho. A direção de Luiz Arthur mostrou-se inspiradíssima ao criar uma sugestão divertida do artificialismo da ópera, com telões pintados, figurinos fantasiados e poses enfáticas. [...] O resto fica por conta da habilidade do elenco, cujos integrantes jogam-se com alma no trapézio sem rede de agudos dós-de-peito interpretativos. Valquíria Peña, como a cigana, merece o elogio maior. Ela consegue o impossível, dá veracidade sem caricatura, a um tipo que não passa de um deslavado chavão. Ida Celina defende o papel com força e a beleza de uma grande primadona, realizando o pastiche da ária-clímax de uma soprano coloratura. Sua entrada em cena, pelo alçapão, é um golpe de teatro digno do 'grandguinol'. Mirna Spritzer é outra intérprete com destaque especial. Ela parece a típica órfã-na-tempestade dos primeiros anos do cinema mudo. Uma heroína à maneira de Lilian Bish, que ela faz com elaborada composição".3

Em sua crítica, Yan Michalski compara a produção do Teatro Vivo ao que de melhor se faz no eixo Rio-São Paulo: "Os autores Caio Fernando Abreu e Luiz Arthur Nunes mergulharam fundo na herança cultural do melodrama clássico, e escreveram um espirituoso texto que reúne, despudoradamente, vários dos mais batidos clichês e arquétipos do gênero. E Luiz Arthur encenou esse texto com a maior seriedade e com total respeito às convenções do seu anacrônico estilo cênico. Essa seriedade e esse respeito produziram, é claro, um resultado de notável poder cômico".4
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Notas
1. MAINIERI, Flávio. A maldição do vale negro e os outros textos. In: Teatro: textos e roteiros. Porto Alegre: IGEL / IEL, 1988.

2. BARBOSA, Luiz Carlos. Explosão de riso na volta do melodrama. Gazeta Mercantil Sul, Porto Alegre, 9 maio 1986.
3. HEEMANN, Cláudio. A maldição..., melodrama divertido. Zero Hora, Porto Alegre, 23 maio 1986.
4. MICHALSKI, Yan. 1º Encontro Renner de Teatro. Boletim Informativo do Inacen, ano II, no 5, p. 9, 

Fonte:

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 741)


Uma Trova de Ademar

Mesmo sentindo os rancores,
de um mar de dor que me escolta,
eu, afogando essas dores,
nada impede a minha volta!
–Ademar Macedo/RN–

 Uma Trova Nacional

Inspiração, sonho, rima,
fantasia e alma de esteta,
eis toda a matéria prima
com que se faz um Poeta!
–Héron Patrício/SP–


 Uma Trova Potiguar

Com frases que vêm do peito,
meu coração se declara,
ao verso, mais que perfeito:
- A trova, esta joia rara!
–Fabiano Wanderley/RN–

 Uma Trova Premiada

1982   -   Fortaleza/CE
Tema   -   VAQUEIRO   -   6º Lugar

Já fui vaqueiro e o destino
foi rude, mas não desfez
o sonho de ser menino
e ser vaqueiro outra vez!
–Clenir Neves Ribeiro/RJ–

 ...E Suas Trovas Ficaram

Eu me entrego apaixonada
e tanto amor vem depois
que até mesmo a madrugada
sente inveja de nós dois...
–Eugênia Maria Rodrigues/MG–

  U m a    P o e s i a 

Em todos anos vividos
meus sonhos foram perdidos
além do brilho no olhar;
e a triste morte das cartas
fez as nossas mentes fartas
Excluir o termo amar.
–Isaac Jordão/RN–

 Soneto do Dia

ESTRELA CADENTE.
–Darly O. Barros/SP–

O palco é o céu que a vista descortina
em seu passeio, quando, de repente,
depara-se com bela bailarina,
a deslizar, esguia, reluzente...

A lua, por um palmo de cortina,
também a espia e então, infelizmente,
desaparece a etérea peregrina
que já não baila mais, à minha frente...

Para onde foi? Que fim levou a estrela?
indago de mim mesmo, sem revê-la,
frustrado e, além de tudo, arrependido

por não lhe ter de todo deslumbrado
com ela e a perfeição do seu bailado
feito, naquele instante, o meu pedido...

José de Alencar (Ao Correr da Pena) Rio, 4 de março: A Notícia da Tomada de Sebastopol


A notícia da tomada de Sebastopol, a abertura das academias, a representação da Linda de Chamounix, duas procissões de quaresma, e a chuvinha aborrecida de todas as tardes, são os fatos mais importantes da semana.

Resta saber, entre tanta coisa interessante, por qual delas começaremos.

Pela notícia da Criméia, ou antes da Bahia – não. Estou pouco disposto hoje a fazer conjeturas e suposições sobre a probabilidade deste fato. Pelas procissões – ainda menos. A chuva declarou-lhes guerra este ano; e os anjinhos, com receio do tempo, encolheram as asas, e não desceram do céu onde habitam.

Ora, para mim, procissões sem anjinhos é coisa que se não pode ver. Os outros pensarão o contrário: estão no seu direito: cada um é livre de ter mau gosto.

Deixando, pois, de parte as procissões, não há remédio senão irmo-nos sentar nalguma das cadeiras do Teatro Lírico, e passar três ou quatro horas bem agradáveis a ver a Linda de Chamounix, ou qualquer outra linda mesmo aqui da nossa bela terra.

O primeiro ato é uma música simples e encantadora, que traduz as impressões da vida tranqüila da ladeia, e que termina com o belo dueto do baixo e da barítono, e com a despedida de LINDA.

Esperemos, porém, pelo segundo ato; deixemos passar algumas cenas cômicas; cheguemos ao momento terrível em que a palavra de maldição expira nos lábios paternais. LINDA, a pobrezinha inocente, a menina iludida, que se ajoelhara para implorar o perdão, ergue-se louca.

Vede como lutam naquele espírito desvairado as recordações alegres de um belo tempo, com a lembrança tremenda da maldição paterna, e com a ameaça terrível da cólera celeste.

De repente esta voz suave e harmoniosa, cuja doçura todos nós conhecemos, estala num grito de dor, numa agonia atroz; mas bo fundo da alma brilha um raio de luz, uma idéia risonha, uma reminiscência de gozos passados; e, quando pensais que aquela angústia chega ao seu último paroxismo, lá se desprende dos lábios, de envolta com um sorriso, uma melodia graciosa, umas notas feiticeiras, que vêm brincar docemente com o vosso ouvido arrebatado.

Vem afinal o terceiro ato, o desenlace feliz desta história simples da vida de uma moça.

A filha torna ao lar paterno; e a graça de Deus faz voltar a alegria, a paz e o sossego ao coração de toda esta pobre gente, que experimentara por algum tempo todas as provanças da fortuna. O final é magnífico, como vos dirá com toda a sua graça costumada o folhetim lírico de terça-feira.

Eis o que é para mim a representação da Linda  Chamounix; uma noite de emoções deliciosas, e mais positivamente, uma ou duas páginas de revista em uma semana, sobre a qual sou obrigado a confessar que não há muito de tratar.

Além de ser tempo de quaresma, tempo de provações, de jejum, de expiação de pecados, ainda em cima aí vêm todos os dias uma chuvinha miúda, umas nuvens cinzentas e carregadas tirar-nos o belo azul do céu, os raios do sol, e as lindas noites de luar que a folhinha nos tinha prometido.

Quem não está disposto a ser regado pelas águas do céu como as ruas desta heróica cidade, ou como as flores dos jardins, passa o dia inteiro a resolver a importante questão, se deve sair ou ficar em casa. Afinal vem uma estiada, decide-se, veste-se, e chega-se à porta, justamente quando começa de novo a chover. Não há remédio senão despir-se e resignar-se a desfiar as horas e os momentos sozinho, e a conversar com os seus botões.

Ora, se há tempo em que a solidão seja insuportável, é este de agora, em que não se fala, não se trata, nem se pensa senão em companhia. Janta-se em companhia dos amigos, passa-se a noite em boa companhia, e ganha-se dinheiro em companhia.

Nada hoje se faz senão por companhia. A iluminação a gás, as estradas, os açougues, o asseio público, a construção de ruas,tudo pe promovido por este poderoso espírito de associação que agita atualmente a praça do Rio de Janeiro.

Se encontrardes por aí algum sujeitinho de chapéu rapado, de laço de gravata à bandida, roendo as unhas, ou coçando a ponta da orelha, não penseis que é um poeta ou um romancista à cata de uma rima ou de um desfecho para seu último romance. Nada! o tempo destas bagatelas já passou. Podeis apostar que o tal sujeitinho rumina o projeto de uma empresa gigantesca, e calcula na ponta dos dedos o ganho provável de uma companhia qualquer.

E assim tudo o mais. Vê-se hoje pelos salões, pelas ruas  a cada canto, certos indivíduos a segredarem, a trocarem palavras ininteligíveis e a falar à mezza você uma linguagem incompreensível, cabalística. Um homem pouco experiente tomá-los-ia por carbonários ou membros de alguma sociedade invisível de alguma  confraria secreta. Qual! são finórios que farejam a criação de uma companhia, e que tratam de se arranjarem para não ficarem sós, isto é, sem dinheiro.

Até a nova empresa lírica, que se criou nesta corte há coisa de dois meses, assentou de organizar uma companhia para a construção de um novo teatro apropriado à cantoria, e conta-nos que já pediu ao governo  a competente autorização.

Com a facilidade que há atualmente em conceder-se semelhante favor, parece-nos que o governo não deixará de autorizar a incorporação de uma companhia para fim tão útil e tão vantajoso para esta corte.

Somente lembraríamos a necessidade de exigirem-se para a construção do edifício condições de grandeza e capacidade proporcional à população desta corte. O Teatro lírico que possuímos presentemente não pode durar muito; e, se outro não o substituir, breve teremos de nos vermos reduzidos ao acanhado salão de S. Pedro de Alcântara.

Assim como neste, podia o governo aproveitar em muitos outros objetos de serviço público o espírito de empresa e associação que tão rapidamente se desenvolveu no nosso comércio.

Porque, em vez de esperar que os interesses individuais especulem sobre a utilidade pública, não promove ele mesmo a criação das companhias que entender convenientes para o pais?

A limpeza pública, as postas, os correios urbanos, e muitos outros objetos de interesse vital, exigem essa solicitude da administração.

Uma coisa, por exemplo, de que ainda não vimos o governo se ocupar seriamente é da carestia progressiva dos gêneros alimentícios, tanto nacionais como estrangeiros. O trigo está por um preço exorbitante, segundo dizem. O pão diminui, e diminui no século de progresso em que tudo vai em aumento, em que as menores coisas tomam proporções gigantescas. Quanto ao pão de rala, célebre em outros tempos, este desapareceu do mercado: pertence hoje à história.

Os ministros, os grandes, os ricos, não sabem disto; mas o pobre o sente, o pobre que, no meio de toda essa agitação monetária, de todo esse jogo de capitais avultados, vê as grandes fortunas crescerem e formarem-se, absorvendo os seus pequenos recursos, e elevando o preço dos gêneros de primeira necessidade a uma taxa quase fabulosa.

Se os capitais são para o país um poderoso agente de progresso e desenvolvimento, cumpre-nos não esquecer que em todos os países é na classe pobre que se encontram as grandes inteligências, as grandes almas e os grandes espíritos.

A Providência parece tê-los lançado no mundo sem recursos para prova-los e fortalecê-los com essa luta constante da fortuna, na qual, ou morrem sacrificados como mártires, ou se elevam às sumidades da hierarquia social para comunicarem ao país a atividade do seu espírito e as forças de sua inteligência.

Tão desprezível, tão digna de compaixão, como parece esta classe aos ricos enfatuados que rodam no seu cupê, a ela pertence o futuro; nela está a alma, a força, a inteligência, a esperança do país.

Quereis saber o que são e o que valem esses cresos modernos, ou esses capitais amontoados, essas somas de dinheiro de que o rico tanto blasona e tanto se desvanece? Uma matéria brutal, uma alavanca inerte a que um dia algum homem sem fortuna, mas cheio de ambição e de talento vem dar o impulso de sua atividade, e fazer trabalhar para um grande fim.

Esta classe, pois, merece do governo alguma atenção; o que hoje é apenas carestia e vexame, se tornará em alguns anos miséria e penúria. É preciso, ao passo que o país engrandece, prevenirmos a formação dessa classe de proletários, dessa pobreza, que é a chaga e ao mesmo tempo a vergonha das sociedades européias. Apliquem-se os nossos espíritos econômicos a este estudo digno de uma grande inteligência e de um grande povo.

Porque a Europa ainda não conseguiu chegar à solução deste grande problema social, não é razão para desanimarmos. Somos um país novo; o progresso espantoso da atualidade deve ter reservado alguma coisa para nós; o mundo velho eleva a indústria a um desenvolvimento admirável; talvez que os segredos da ciência tenham de nos ser revelados na marcha da nossa própria sociedade.

O que é verdade é que não devemos deixar de concorrer com as nossas forças  para essa obra filantrópica da extinção da pobreza proletária. E isto, não porque receemos tão cedo a existência deste cancro social, mas porque semelhante estudo deve-se guiar nos meios de prevenir os vexames e misérias por que pode passar a classe pobre no nosso país.

Agora é que percebo que este folhetim vai muito grave demais; porém lembro-me também que não devo distrais as minhas leitoras do seu exame de consciência para a próxima confissão da quaresma.

Que interessante coisa não deve ser o exame de consciência de uma menina pura e inocente, quando à noite, entre as alvas cortinas de seu leito, com os olhos fitos numa imagem, perscruta os refolhos mais profundos de sua alma à cata de um pecadinho que lhe faz enrubescer as faces cor de...

Arrependi-me! Não digo a cor. Reflitam e adivinhem se quiserem. Tenham ao menos algum trabalho em lerem, assim como eu tenho em escrever.

Mas, voltando ao nosso exame de  consciência, estou certo que, se algum dos anjos que cercam o trono de Nossa Senhora pudesse descer do céu nesse momento, viria beijar aquele rostinho adormecido, e dizer-lhe em sonho que os anjos não pecam.

Fonte:
José de Alencar. Ao Correr da Pena. SP: Martins Fontes, 2004.