sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Coletânea “Contos Sombrios” (Prazo: 6 de Maio de 2019)



(Temática sugerida por: M. A. Thompson; Rodrigo Cesar Picon de Carvalho; Maurilio Alves Rocha Junior; Thais Verlhertz e Marcelo de Azevedo Oliveira)

Para esta Coletânea buscamos Contos que falem sobre situações e personagens que habitam nossa imaginação e criam um mundo sobrenatural de mistério, suspense, terror e etc. Esta é uma coletânea eminentemente de Contos.

Objetivo:

Estimular a produção literária brasileira, valorizar novos talentos e dar visibilidade aos Escritores, Poetas, Contistas, Cronistas e etc. 

Considerando que a participação é Gratuita, objetivamos ter uma grande quantidade de inscrições de modo a podermos fazer uma seleção de obras com altíssima qualidade.

Inscrições:

- As inscrições deverão ser feitas única e exclusivamente através do preenchimento do formulário, mais abaixo, nesta página. 

- Veja no Cronograma abaixo a data limite para as inscrições.

Regulamento de Participação (quem e como participar):

- Poderão participar Escritores, Poetas, Contistas e Cronistas maiores de 18 anos de qualquer nacionalidade, residentes no Brasil ou no exterior com documentação brasileira, e seus trabalhos deverão ser obrigatoriamente escritos em língua portuguesa (o que não impede o uso de termos estrangeiros no texto). 

- Os participantes farão seus cadastrados no formulário de inscrição abaixo, nesta página. 

- Selecionaremos um mínimo de 25 participantes para esta Coletânea e esse número variará em função da qualidade de obras inscritas. 

- Autor deverá usar seu nome legítimo (verdadeiro) no cadastro, entretanto, se desejar, poderá utilizar seu nome artístico ou pseudônimo na publicação da Coletânea, para isso deverá colocá-lo junto ao texto enviado. 

- Cada participante poderá inscrever uma única Obra por Coletânea, podendo participar de outras. 

- A temática da Obras deverá estar em linha com o tema da Coletânea com o objetivo acima definido, sendo que a criatividade e imaginação do escritor darão o toque e estilo ao trabalho. 

- Não há exigência de que a Obra (poesia, conto, crônica, etc.) seja inédita, podendo já ter sido publicada, exceto em outra Coletânea do Projeto Apparere. 

- É de inteira responsabilidade do Autor a correção ortográfica/revisão do texto ou textos enviados para esta Coletânea, sendo este inclusive um dos critérios de seleção. Desta forma não será feita nova revisão do texto. 

- As Obras (poesia, conto, crônica, etc.) deverão conter título, sendo que a não observância dessa exigência excluirá a Obra da avaliação. 

- As obras inscritas serão analisadas e selecionadas mediante avaliação de profissionais nomeados pelo Projeto Apparere, cujas decisões serão soberanas e irrecorríveis. 

- O envio do texto será feito única e exclusivamente através desta página, através do formulário abaixo. 

- A obra deverá estar em arquivo Word(.doc ou .docx) fonte Times New Roman ou Arial, tamanho 11.

Custos de Participação:

- A participação nesta Coletânea não ensejará em nenhum custo aos participantes, portanto será Gratuita. 

- Também não há nenhuma obrigatoriedade de aquisição nem de exemplares e nem de serviços oferecidos pela Apparere e/ou pela PerSe.

Divulgação e Lançamento da Coletânea:

- O Lançamento da Coletânea será Online, com uma data para início das vendas dos livros. 

- Antes do Lançamento será feita campanha de divulgação, contendo: 
    . E-mail Marketing para a Base de clientes da Apparere e da PerSe. 
    . Banners e nosso site. 
    . Divulgação através de nossas Redes Sociais. 
    . Assessoria de Imprensa. 
    . Envio de Material de Divulgação aos Participantes para que esses divulguem em suas Redes Sociais e através de e-mail aos conhecidos.

Direitos Autorais:

- Não haverá cessão de Direitos Autorais, ou seja, os trabalhos continuarão pertencendo a seus autores, entretanto os Escritores/Autores/Poetas autorizam a comercialização de sua obra através da Coletânea, abdicando de qualquer remuneração sobre sua obra. 

- Os Escritores/Autores/Poetas participantes responderão legalmente e individualmente sobre plágio, publicação não autorizada, calúnia, difamação e não autoria, isentando a PerSe e o Projeto Apparere de qualquer responsabilidade sobre o conteúdo enviado para a Coletânea. 

- É de total responsabilidade dos participantes a veracidade dos dados fornecidos à organização. 

- Todos os participantes de antemão ficam cientes e dão permissão e autorização para a publicação e comercialização de sua Obra (poesia, conto, crônica, etc.), e a veiculação na mídia de seus nomes, imagens e textos, em sites, pela PerSe e pela Apparere, desde que dentro do contexto das Coletâneas do Projeto Apparere e para benefício da maior visibilidade da obra e seu alcance junto ao leitor.

Sobre as Características e as Vendas dos Livros:

- A Coletânea será composta dos textos selecionados e de minibiografia dos participantes. 

- Para a Capa da Coletânea faremos um concurso com designers que desejarem participar, e quem escolherá a capa da Coletânea serão os Autores que estiverem participando. 

- Esta será impressa em Livro com as seguintes características: Brochura Formato 14x21; Miolo em Papel Polem 80g, impresso em uma cor; Capa Cartão 250g com orelhas impressa a 4 cores e laminação brilho/fosco. 

- A Comercialização do livro impresso da Coletânea se dará através da Loja Online da Perse. 

- Os participantes poderão adquirir os livros impressos por valor sempre inferior ao Preço de Venda da Loja Online, desde que em volume mínimo de 10 exemplares. Para isso deverá solicitar orçamento, através do e-mail do Projeto. 

- Os participantes poderão adquirir os livros impressos por valor sempre inferior ao Preço de Venda da Loja Online, desde que em volume mínimo de 10 exemplares. Para isso deverá solicitar orçamento, através do e-mail do Projeto. 

- Os participantes poderão adquirir os livros impressos por valor sempre inferior ao Preço de Venda da Loja Online posteriormente divulgado. 

- A Comercialização da Coletânea também será feita no formato eBook (PDF e ePub) através da Loja OnLine da PerSe e também através da Plataforma de Terceiros parceiros da PerSe 

- O livro impresso da Coletânea poderá ser colocado em comercialização nas Feiras e Bienais, em estande da própria PerSe, quando esta vier a participar. 

- O livro terá registro no ISBN.

Cronograma Geral da Coletânea:

- Final das inscrições: 06/05/2019 

- Divulgação aos selecionados: 20/05/2019 

- Data de Lançamento e Início das Vendas: 07/06/2019

Observações Gerais:

- Dúvidas relacionadas a esta Coletânea e seu regulamento poderão ser enviados para o e-mail: apparere@perse.com.br 

- Todos os contatos entre o Projeto Apparere e os Participantes serão realizados através de e-mail. Portanto os participantes devem ficar atentos. 

- Todas as dúvidas e casos omissos neste regulamento serão analisados por uma equipe da PerSe e do Projeto Apparere, e sua decisão será irrecorrível. 

- O Projeto Apparere, reserva-se o direito de alterar qualquer item desta Coletânea, bem como interrompê-la, se necessário for, fazendo a comunicação expressa para os participantes. 

- Não é permitida a participação nas Coletâneas de funcionários da PerSe e do Projeto Apparere. 

- A participação nesta Coletânea implica na aceitação total e irrestrita de todos os itens deste regulamento. 

- As obras não selecionadas para a Coletânea serão destruídas e apagadas das bases de dados do Projeto Apparere, para fins de segurança.

Acesse o Formulário de Inscrição AQUI 

Fontes:
Isabel Furini
Projeto Apparere

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Trova 336 - Fabiano Wanderley


Isabel Furini (O Terminal Guadalupe e as Sombras)


nota do blog: Terminal Guadalupe é um Terminal Metropolitano de ônibus que há em Curitiba, inaugurado em 1958 pelo prefeito Ney Braga. 
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18 horas - Cai o sol de inverno, pálido, sem forças.

19 horas - Escurece mesmo.

Os operários da construção civil, trabalhadores domésticos, pessoal da limpeza, vendedores alguns camelôs, professores, poetas e sonhadores, saem de seus trabalhos e correm até o terminal.

Mariazinha, está na fila do Vila Zumbi quando escuta seu nome: "Mariazinha" - alguém acena para ela. 

- Que bom! - murmura a Mariazinha - O gerente vai me dar carona de novo.

- Não faça isso senhora, é pecado! - diz uma mulher com saia e cabelos longos (muito longa a saia, muito longo o cabelo).

Uma mulher de olhos azuis observa de cima para baixo a mulher de saia comprida e solta uma gargalhada: - Cale a boca, sua vadia! E cuide de sua vida! - fala com autoridade.

Minutos depois chega Aparecida, Cida para os amigos: - Estou pensando em fotografar esses dois e ganhar uma grana extra.

- Boa ideia! - fala a mulher dos olhos azuis.

Um casal de idosos olha para elas e comenta algo sobre falta de ética. 

- O mundo mudou, meu velho. - fala a idosa.

Duas mulheres olham para a igreja do Guadalupe e fazem o sinal da cruz. Um pai fala para seus filhos "é o triunfo do mal, um sinal do fim do mundo". "Idiotas!", pensa uma professora, tira um livro da bolsa e começa a ler. Várias pessoas da fila comentam o fato de o ônibus estar demorando mais que outros dias.

O Apolinário olha as pessoas apinhadas e fala:

Foi tão difícil a estrada!
meus pés estão cansados,
minhas mãos, calejadas,
minha boca muda e sem vida
minha vida sem esperanças.

Ninguém olha para ele. Que indiferença. "Ninguém vai dizer nada? Gente! Eu declamei um poema!"

Chega o ônibus. 

- Por fim! - exclama um idoso. 

As pessoas começam a subir e ocupar os assentos. Alguns viajam de pé, outros preferem esperar o próximo. A fila parece uma cobra gigantesca. Cresce rapidamente.

Apolinário repete:

Foi tão difícil a estrada!
meus pés estão cansados,
minhas mãos, calejadas,
minha boca muda e sem vida
minha vida sem esperanças. 

- Parece que ninguém gostou do poema. - fala o Apolinário.

- Não adianta, - comenta Tiago, um amigo dele - eles não conseguem te enxergar.

- Um momento. Veja essa criança! Ela escutou. Sim, ela escutou e está olhando para os lados.

- Olhe, mamãe. Esse cara engraçado, lá no teto.

- Querido, esse é seu amiguinho invisível? - Pergunta a mãe sorridente, curvando-se sobre a criança e dando-lhe um beijo na bochecha.

- Ele não é meu amigo! - fala a criança.

De repente uma forte luz ilumina o lado direito do terminal, mas ninguém repara.

Do lado esquerdo, as sombras crescem. Do lado direito um homem com roupas brancas tem um sorriso iluminado.

Do lado esquerdo, um homem com roupas cinzas tem um olhar terrível. Do lado direito, para um ônibus, as pessoas começam a subir. O Zecão abre a carteira. O homem do sorriso iluminado grita:

- Não faça isso, Zecão! Falei tantas vezes para não fazer isso, meu amigo.

Do lado esquerdo três homens correm. O rapaz de óculos empurra o Zecão, outro tenta pegar a carteira. O Zecão, aperta a carteira. Um dá um soco no nariz dele. Mas o Zecão não solta. O terceiro, passa a navalha pela garganta do Zecão.

O Zecão não solta a carteira. As pessoas gritam. O sangue encharca o terminal. As pessoas pegam os celulares e tiram fotografias do Zecão morrendo. Ninguém chama uma ambulância. É mais importante registrar o momento. "Não adianta, esse cara vai morrer mesmo.", fala o rapaz de camiseta amarela. "Vamos tentar vender essas fotos para algum jornal", murmura o amigo dele.

Uma moça solicita a uma mulher vestida com casaco preto, de olhos esbugalhados, para tirar uma foto dela ao lado do morto. A mulher está a ponto de chorar.

- Por favor, senhora, implora a moça. Uma coisa como esta é difícil de acontecer - fala enquanto penteia o cabelo - Minhas amigas não vão acreditar. Preciso de uma foto.

A mulher seca uma lágrima com o dorso da mão e pega a câmara fotográfica.

- Tem que apertar aqui! - fala a moça mostrando um botão prateado na parte direita da câmara. A mulher, indecisa, demora um pouco, mas consegue tirar a foto. Na frente a moça, no chão o homem ensanguentado.

- Preciso de várias fotos, por favor, alguma delas vai ficar boa. - fala a moça muito empolgada como se o momento fosse de festa.

Perto dela um rapaz com seus fones de ouvido faz movimento de dança com a cabeça, mas o corpo permanece rígido no lugar.

O homem sorridente que faz parte do globo de luz da direita grita:

- Ei, Zecão! Venha para este lado, homem! Não vai para as sombras, não! Venha!

Os outros seres que estão a seu lado também gritam: - Venha, Zecão, venha!

- Zecão, você está em nossa lista! - grita o homem de olhar terrível que chefia as sombras.

- Está na lista! - grita o coro de sombras desafinado.

O Zecão está confuso. Lembra da esposa e dos filhos, ele quer voltar para casa. Sentar no sofá, assistir TV., comer o arroz com feijão.

O homem de olhar terrível do lado esquerdo mostra partes da vida do morto. O homem sorridente do lado direito, também mostra partes da vida do morto.

O Zecão sente medo. Impulsivamente, corre para a luz.

O poeta vê a cena e declama um poema:

Essa luz que agora acende,
com milhares de lembranças,
é de um túnel que surpreende.
Quem caminha além do túnel
reencontrará a esperança.

O homem sorridente da bola de luz que está do lado direito grita:

- Poeta, você vai entrar na luz ou vai continuar declamando no terminal?

- Eu também morri neste terminal. - fala o poeta. - Mas foi de problema cardíaco, há 8 anos. Acho que vou ficar por aqui mesmo. Sempre encontro amigos.

- Sim! Vamos ficar mais um pouco! - disse o amigo de Apolinário. Os dois pulam sobre o teto de ônibus amarelo que está saindo do terminal e acenam repetidamente com a mão direita.

Fonte:

Amilton Maciel Monteiro (Poemas Recolhidos) IV



COR DE BRASA

Num canto do jardim de minha casa
duas roseiras crescem, majestosas,
com flores rubras, lindas, cor de brasa
e aveludadas pétalas cheirosas.

Quem as plantou, não sei, mas bem me apraza
exaltar o valor das laboriosas 
mãos que, com amor e jeito, deram asa
a que vingassem  em formas primorosas.

Pois aprecio muito a mão que planta
e só por isso a entendo como santa,
merecedora de me abençoar!

Plantar é um beijo dado à Natureza,
que fica à nossa espera, com certeza,
para o mundo crescer e embelezar!
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ESTADO D´ALMA

O que reflete o meu estado d´alma, 
de tudo quanto vi e já conheço,
é a poesia amiga, quando espalma 
tão bem a dor do amor, no qual padeço

Quem lê meu verso com bastante calma,
por certo me conhece até no avesso, 
pois minha inspiração jamais empalma 
tudo que às outras almas ofereço.

Quem lê meu verso sabe, num instante,
se estou tristonho, ou até feliz bastante.
- Mais claro ainda?  -  Olhe nos  meus olhos!

As minhas vistas são também janelas,
bastando apenas ver através delas,
se tenho um grande amor... ou só abrolhos!
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FELIZ NATAL

Natal me traz a mais doce lembrança
de todas quantas trago no meu peito;
recordações do tempo de criança,
que não se apagam mais de nenhum jeito...

Natal me traz também muita esperança
de que na Terra surja mais respeito
com a sacra vida humana e, sem tardança,
Jesus-menino encontre um Lar perfeito!

Natal, portanto, encanta a minha vida,
mormente se a família está reunida
e, junto a nós, amigos de verdade.

Do bem que isso me faz eu dou sinal
em meu sincero abraço de amizade
que a todos quer dizer: Feliz Natal!
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FINAL DE ANO

Final de ano... É chegada a hora 
de fazer um balanço em minha vida. 
De início de janeiro, até agora,  
será que progredi nesta corrida?

Advento vem aí..., já não demora  
e é Natal, Ano-novo... e eu só na lida...
Ao meu irmão, que fiz de bom? Por ora,  
eu nada vejo e estou é sem saída!

Vergonhoso chegar ao fim do ano 
com minhas duas mãos assim vazias, 
sem nada para dar... É desumano!

Nem basta só não praticar o mal...
E com amor, que fiz? Foi só poesias? 
Basta agora rezar? -  “Feliz Natal”?!
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NÃO TENHA INVEJA!

O voo do urubu tão silencioso
e, na aparência, sem esforço algum,
nos lembra um parapente fabuloso,
cujo piloto tem risco comum....

O nosso pobre abutre é bem feioso,
mas seu voar supera qualquer um;
enquanto o voo à vela é majestoso,
perigo o urubu não tem nenhum!

A lei protege até sua existência,
por sua importante excelência,
limpando sem cansar a Natureza!

Vendo o urubu no céu, não tenha inveja,
(como de quem com risco é que veleja),
já que o manjar do abutre é a impureza!
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SE DEUS QUISER!

Sonho muito voar. Mas de avião
fabricado aqui mesmo, na Embraer;
e quase sempre tenho a sensação
de que vou conseguir, se Deus quiser!

O fato não me dá qualquer razão,
mas o vou contá-lo, por achar mister
narrar de onde partiu minha ambição
de inda cumprir meu sonho, se eu puder... 

Estava eu no CTA, presente,
vendo o primeiro voo surpreendente,
do mais que decantado “Bandeirante”.

E ao ver o então Major, seus criadores...
Mariotto e Michel, aviadores...
meus amigos... sonhei voar bastante!
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SERVIDOR

São as rimas que ditam meus poemas;
quem manda em meu sentir é sempre o amor...
O coração resolve os meus dilemas,
e o meu cantar persegue a minha dor...

Meus gostos estão presos em algemas;
e a minha opinião não ouso expor...
Espero que resolvam meus problemas,
tal qual age na guerra um desertor!...

Assim, meus versos nunca foram meus;
são dos que mandam em mim, porque meu Deus,
além de Pai, é meu consolador...

Em termos de poesia não sou nada;
além de pobre alma apaixonada,
sou só, do alheio estro, servidor!

Fonte:
O poeta

Lima Barreto (Cinco mulheres) III - Carolina



- Pois quê! vais casar-te?

- É verdade.

- Com o Mendonça?

- Com o Mendonça.

- Isso é impossível! Tu, Carolina, tu formosa e moça, mulher de um homem como aquele, sem nada que possa inspirar amor? Ama-o acaso?

- Hei de estimá-lo.

- Não o amas, já vejo.

- É meu dever. Que queres, Lúcia? Meu pai assim o quer, devo obedecer-lhe. Pobre pai! Ele cuida de fazer a minha felicidade. A fortuna de Mendonça parece-lhe uma garantia de paz e de ventura da minha vida. Como se engana!

- Mas não deves consentir nisso... Vou falar-lhe.

- É inútil, nem eu quero.

- Mas então...

- Olha, há talvez outra razão: creio que meu pai deve favores ao Mendonça; este apaixonou-se por mim, pediu-me; meu pai não teve ânimo de recusar-me.

- Pobre amiga!

Sem conhecer ainda as nossas heroínas, já o leitor começa a lamentar a sorte da futura mulher de Mendonça. É mais uma vítima, dirá o leitor, imolada ao capricho ou à necessidade. Assim é. Carolina devia casar-se daí a alguns dias com Mendonça, e era isso o que lamentava a amiga Lúcia.

- Pobre Carolina!

- Boa Lúcia!

Carolina é uma moça de vinte anos, alta, formosa, refeita. Era uma dessas belezas que seduzem os olhos lascivos, e já por aqui ficam os leitores sabendo que Mendonça é um desses, com a circunstância agravante de ter meios com que lisonjear os seus caprichos.

Bem vejo como me poderia levar longe este último ponto da minha história; mas eu desisto de fazer agora uma sátira contra o vil metal (por que metal?); e bem assim não me dou ao trabalho de descrever a figura da amiga de Carolina.

Direi somente que as duas amigas conversavam no quarto de dormir da prometida noiva de Mendonça.

Depois das lamentações feitas por Lúcia à sorte de Carolina, houve um momento de silêncio. Carolina empregou algumas lágrimas; Lúcia continuou:

- E ele?

- Quem?

- Fernando.

- Ah! esse que me perdoe e me esqueça; é tudo quanto posso fazer por ele. Não quis Deus que fôssemos felizes; paciência!

- Por isso o vi triste lá na sala!

- Triste? ele não sabe nada. Há de ser por outra coisa.

- O Mendonça virá?

- Deve vir.

As duas moças saíram para a sala. Lá se achava Mendonça em conversa com o pai de Carolina, Fernando a uma janela de costas para a rua, uma tia de Carolina conversando com o pai de Lúcia. Ninguém mais havia. Esperava-se a hora do chá.

Quando as duas moças apareceram todos voltaram-se para elas. O pai de Carolina foi buscá-las e levou-as a um sofá.

Depois, no meio do silêncio geral, o velho anunciou o casamento próximo de Carolina e Mendonça.

Ouviu-se um grito sufocado do lado da janela. Ouviu-se, digo mal - não se ouviu; Carolina foi a única que ouviu ou antes adivinhou. Quando voltou os olhos para a janela, Fernando estava de costas para a sala e tinha a cabeça entre mãos.

O chá foi tomado no meio de geral acanhamento. Parece que ninguém, além do noivo e do pai de Carolina, aprovava semelhante consórcio.

Mas, quer aprovasse, quer não, ele devia efetuar-se daí a vinte dias.

"Entro no teto conjugal como num túmulo, escrevia Carolina na manhã do casamento à amiga Lúcia; deixo as minhas ilusões à porta, e peço a Deus que não perca só isso."

Quanto a Fernando, a quem ela não pôde ver mais depois da noite da declaração do casamento, eis a carta que ele mandou a Carolina, na véspera de realizar-se o consórcio:

"Quis acreditar até hoje que fosse uma ilusão, ou um sonho mau semelhante casamento; agora sei que não é possível duvidar da verdade. Pois quê! tudo te esqueceu, o amor, as promessas, os castelos de felicidade, tudo, por amor de um velho ridículo, mas opulento, isto é, dono desse vil metal, etc., etc..."

O leitor sagaz suprirá o resto da carta, acrescentando qualquer período tirado de qualquer romance da moda.

Isto que aí fica escrito não muda em nada a situação da pobre Carolina; condenada a receber recriminações quando ia dar a mão de esposa com o luto no coração.

A única resposta dada por ela à carta de Fernando foi esta:

"Esqueça-se de mim."

Fernando não assistiu ao casamento. Lúcia assistiu triste como se fora um enterro. Em geral perguntava-se que amor estranho era aquele que levava Carolina a desfolhar a sua mocidade tão viçosa nos braços de semelhante homem. Ninguém atinava com a resposta.

Como eu não quero entreter os leitores com episódios inúteis e narrações fastidiosas, salto aqui uns seis meses e vou levá-los à casa do Mendonça, numa manhã de inverno.

Lúcia, solteira ainda, está com Carolina, onde costuma ir passar alguns dias. Não se fala na pessoa de Mendonça; Carolina é a primeira a respeitá-lo; a amiga respeita esses sentimentos.

É verdade que os seis primeiros meses de casamento foram para Carolina seis séculos de lágrimas, de angústia, de desespero. De longe a desgraça parecia-lhe menor; mas desde que ela pôde tocar com o dedo o deserto árido e seco em que entrou, então não pôde resistir e chorou amargamente.

Era o único recurso que lhe restava: chorar. Uma porta de bronze separava-a para sempre da felicidade que sonhara nas suas ambições de donzela. Ninguém sabia dessa odisséia íntima, menos Lúcia, que ainda assim sabia mais por adivinhar e por surpreender as torturas menores da companheira dos primeiros anos.

Estavam, pois, as duas em conversa, quando às mãos de Carolina chegou uma carta assinada por Fernando.

Pintava-lhe o antigo namorado o estado em que tinha o coração, as dores que sofrera, as mortes de que escapara. Nessa série de padecimentos, dizia ele, nunca perdera a coragem de viver para amá-la, embora de longe.

A carta era abundante em comentários, mas eu julgo melhor conservar somente a substância dela.

Leu-a Carolina, trêmula e confusa; esteve alguns minutos calada; depois
rasgando a carta em tiras muito miúdas:

- Pobre rapaz!

- Que é? perguntou Lúcia.

- É uma carta de Fernando.

Lúcia não insistiu. Carolina indagou do escravo que lhe trouxera a carta o modo por que lhe havia chegado às mãos. O escravo respondeu que um moleque lhe entregara à porta. Lúcia deu ordem para que não recebesse cartas que viessem pelo mesmo portador.

Mas no dia seguinte uma nova carta de Fernando chegou às mãos de Carolina. Outro portador a entregara.

Nessa carta Fernando pintava com cores negras a situação em que se achava e pedia dois minutos de entrevista com Carolina.

Carolina hesitou, mas releu a carta; ela parecia tão desesperada e dolorosa, que a pobre moça, em quem falava um resto de amor por Fernando, respondeu afirmativamente.

Ia mandar a resposta, mas de novo hesitou e rasgou o bilhete, protestando fazer o mesmo a quantas cartas chegassem.

Durante os cinco dias seguintes vieram cinco cartas, uma por dia, mas todas ficaram sem resposta, como as anteriores.

Enfim, na noite do quinto dia, Carolina achava-se no gabinete de trabalho, quando assomou à janela que dava para o jardim a figura de Fernando.

A moça deu um grito e recuou.

- Não grite! disse o moço em voz baixa, podem ouvir...

- Mas, fuja! fuja!

- Não! Quis vir de propósito, a fim de saber se deveras não me amas, se
esqueceste aqueles juramentos...

- Não devo amá-lo!...

- Não deve! Que tem o dever conosco?

- Vou chamar alguém! Fuja! Fuja!

Fernando saltou para o quarto.

- Não, não hás de chamar!

A moça correu para a porta. Fernando travou-lhe do braço.

- Que é isso? disse ele; amo-te tanto, e tu foges de mim? Quem impede a nossa felicidade?

- Quem? Meu marido!

- Seu marido! Que temos nós com ele? Ele...

Carolina pareceu adivinhar um pensamento sinistro em Fernando e tapou os ouvidos. Nesse momento abriu-se a porta e apareceu Lúcia.

Fernando não pôde afrontar a presença da moça. Correu para a janela e saltou para o jardim.

Lúcia, que ouvira as últimas palavras dos dois, correu a abraçar a amiga, exclamando:

- Muito bem! muito bem!

Dias depois Mendonça e Carolina saíram para uma viagem de um ano. Carolina escrevia o seguinte a Lúcia:

"Deixo-te, minha Lúcia, mas assim é preciso. Amei Fernando, e não sei se o amo agora, apesar do ato covarde que praticou. Mas eu não quero expor-me a um crime. Se o meu casamento é um túmulo, nem por isso posso deixar de respeitá- lo. Reza por mim e pede a Deus que te faça feliz."

Foi para estas almas corajosas e honradas que se fez a bem-aventurança.
__________________

continua... IV - Carlota e Hortência

Fonte:
Publicado originalmente em Jornal das Famílias, 1865.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Perigor (Poemas Di versos)



A ARTE DE FICAR

Fiquei isento
de sentimento
quando o amor se foi
feito as horas
no tempo
ou as nuvens
ao vento...

Fiquei insensato
diante do fato
de que ninguém
liga para quem
está ao lado
e que é preciso amar
para ser amado...

Fiquei insatisfeito
quando o amor
não tinha jeito
para os que amam
e despertam mais cedo
da ilusão de um sonho bom
para um abismo de medo...

Fiquei insurgente
ao notar a triste solidão
no rosto de tanta gente
que simplesmente vive em vão
tentando agradar quem não merece
o mínimo de atenção ou de amor,
enquanto a vida segue sem cor...

Fiquei surpreso
ao provar a dor
e a delícia da química
do beijo perfeito;
capaz de (a) trair e libertar
o amor adormecido ou preso
no fundo do (res) peito.
______________
FLASHES

Em cada paisagem
uma lembrança,
uma imagem
de pessoas 
passageiras
que passaram
de passagem...
______________
MEU AMOR

Meu amor não é substância
e definitivamente não é substantivo.
É invariável e independente,
independente do que aconteça.
É de encontrar e perder a cabeça.
Antes de tudo é advérbio
que intensifica o sentido
de estar vido e do verbo amar.
Está sempre em movimento:
meu amor é vento,
meu amor é mar...
______________
POEMA PERFEITO

O que eu mais queria
era escrever um poema
da mais pura poesia
que realmente
acontecesse depois...
Ele compreenderia
amor e alegria;
um mundo perfeito
feito para nós dois.
Mas, como este mundo
ainda não veio,
sigo em devaneio
e creio que de perfeito
exista apenas o poema
escrito no recheio
do silêncio que emblema 
o nosso desejo imediato...
No momento deste contato 
temos nosso mundo 
perfeito - de fato.
_________________________
SENTIDO

O meu sentimento
é como o vento
que sopra forte
e traz alento.

O meu sentimento
é tão profundo
que não se encontra
neste mundo.

O meu sentimento
parece cimento
de tão concreto
que é este afeto.

O meu sentimento
é somente meu
e ao mesmo tempo
é todo seu...
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TEATRO

Todo mundo veste
a sua roupa.
A minha eu
não visto,
invisto.
A minha roupa
é ideia:
não se prende
a matéria.
_________________________
UM POEMA, SIMPLESMENTE

Quero um poema diferente
do olhar de quem é indiferente...

Quero um poema que enfrente
qualquer problema e não lamente...

Quero um poema que somente
pense, repense e siga em frente...

Quero um poema que represente
a trajetória da vida em minha mente...

Quero um poema bem latente
feito flor dentro da semente...

Quero um poema que contemple
o universo, o mundo e minha gente.

Quero um poema bem paranaense:
com sabor e som de “leite quente”...

Fontes:
Recanto das Letras