segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Aparecido Raimundo de Souza (Para todas as horas)


ANINHA LIGOU para a amiga Eloísa e disse que precisava se avistar o mais rapidamente possível com ela. Uma dúvida cruel a atormentava e lhe chegara, por conta, ao incômodo de lhe afetar o sossego e tirar o sono:

— Venha aqui em casa. Vou lhe esperar com um café reforçado. Pegue um Uber. Eu pago...

— OK. Estou indo.

— Vou providenciar nosso café.

Aninha passou a mão na bolsa, pediu um carro de aplicativo e, vinte minutos depois, estava sentada à farta mesa do café no apartamento da sua melhor e única amiga, confidente íntima a quem contava todos os seus segredos, mesmo os mais inadmissíveis e cabeludos:

— E então, Aninha, o que foi desta vez?

— Encontrei um bilhete no bolso do paletó de meu marido! Acho que o Leopoldo está me traindo. Aquele safado tem uma amante, uma amante, Eloísa.

— Um bilhete, amiga?

— Na verdade, o terceiro, só esta semana. Se eu pego a vagabunda, eu mato, juro que mato...

— E o que ele diz?

— Ele quem, meu marido?

— Não, Aninha, os tais bilhetes...

— Estou tão furiosa, tão irritada, que dei para me atrapalhar. Pra você ter uma ideia, já me peguei falando sozinha com a geladeira.

Eloisa caiu numa estrondosa gargalhada:

— E ela respondeu?

— Amiga, você está me tirando? Fazendo hora com a minha cara?

— Claro que não, amiga. Só estou tentando descontrair a sua irritação. Continue, o que diziam os bilhetes?

— No primeiro, a sem vergonha escreveu: ‘Amor, eu te amo. Vamos nos ver no lugar de sempre?’. O segundo, esclarece pouca coisa: ‘meu gato, nosso encontro de ontem foi legal. Vamos repetir a façanha? Me liga. O terceiro, dá conta de que sou ‘otária’. A maldita me chamou de otária. E assinou assim: ‘Sua gatinha, E...’.

— E...?!

— É. A infeliz assinou com um ‘E’ e um coraçãozinho. A desnaturada deve se chamar Elisa, Eliane, Érica, Esther...

— Meu Deus, amiga, que safada! Acaso você desconfia de alguém?

— Sim e não. Para dizer a verdade, sim.

— De quem?

— Olhe você mesma os bilhetinhos. Salvo melhor juízo, me parece, com a caligrafia da secretária dele, a Efigênia.

Aninha abre a bolsa e, de dentro, tira os bilhetinhos encontrados no bolso do paletó do marido:

— Pode ser. Você não deixa de ter razão.

— Eloísa, você ainda tem aquele caderninho cheio de páginas com folhinhas coloridas iguais aos destas mensagens?

— Sim, amiga... Quero dizer, tinha...

— Ué! Que fim levou?

— Joguei fora. Depois que arranjei um problema com a minha mão direita... Ela deu para ficar dormente, assim sem mais nem menos e pior, a doer terrivelmente. Peguei a droga do caderninho e joguei no lixo. Veja você mesma. Nem segurar a caneta estou conseguindo. Se você soubesse como esta coisa dói... Minha vizinha aqui do lado, me disse que é artrite, ou artrose, sei lá.

— Credo, amiga! Não sabia. Que situação! Quanto aos bilhetinhos, o que acha que devo fazer?

— Deixa todos aqui comigo. Vou tentar apurar se as letras de uma de nossas amigas (as que costumam frequentar aqui em casa, nos encontros que nossos maridos e os delas, lógico promovem), batem, ou se assemelham com a caligrafia destes papeizinhos.

— Que legal, minha amiga. Bem pensado. Você me faria este favor?

— Com certeza. Lembra que somos unha e carne e a nossa amizade, nestas horas, serve para ajudar no que for preciso. Asseguro a você que juntas vamos desmascarar rapidinho quem poderá estar se encontrando com o Leopoldo. Deixa estar, ou não me chamo Eloísa.

— Mas nenhuma das esposas tem o nome começado com a letra ‘E’.

— Pode ser um despiste, amiga. Pra não dar na pinta, entende? Juro a você que pego essa periguete seja lá quem for, com a boca na botija.

— E como fará isto?

— Minha ideia, a princípio é comparar as letras. E como farei isto? Pedindo a cada uma das esposas que escrevam alguma coisa para mim.

— Para mim?

— Para eu. Inclusive, até você entrará no jogo. A partir de agora, não fale nada pra ninguém. Bico calado. Te juro que mais cedo do que você pensa, pegarei o sem noção do Leopoldo. Ele que me aguarde.

— Ele?

— Sim amiga, ele...

— Não estou conseguindo acompanhar a sua cabeça. Desenhe.

— Eles, amiga, os bilhetinhos, os bilhetinhos...

Fonte:
Texto integrante do livro 'Comédias da Vida na Privada'. Editora AMC-Guedes Rio de Janeiro 2021.
Texto enviado pelo autor.

Melo Morais Filho (Carnaval) Parte 2


É fácil de cogitar: em pequenos grupos de máscaras errantes, um princez desgarrado, e assim por diante.

Em 1854, já alguns carros com máscaras apareceram e das janelas atiraram-lhes flores. O Jornal do Comércio, noticiando o fato, aconselhou que para o ano futuro se reunissem, o que daria mais relevo ao festejo.

Até então a loucura descobria o prazer ao som da música escolhida, inundava-se da luz dos lustres e candelabros, mitigava a sede provocada pelas danças ardentes nas taças de champanha, e requintava de gozo naqueles abrigos resguardados e ideais como as cismas voluptuosas dos crentes.

Era à noite que naquelas Lupercais esplêndidas as mulheres coroavam-se de fascinações, que os moços de qualificação distinta dissipavam-se atraídos.

No Clube, especialmente, quanta perdição no langor morno da beleza aristocrata, no roçar de um corpo de neve, num cismar vago, ao terraço ou à janela, tendo por testemunhas o olhar pestanejante das estrelas e o céu profundo e escuro como as marés incertas do destino!...

Mas a luz do dia tivera inveja da luz dos candelabros; a voz do jornalista é o flat das sociedades; e a Loucura, no seu despertar de Festas e Tradições Populares do Brasil sonâmbula, emboca as fanfarras no meio das praças, com o seu séquito de cem escravas e de milhares de cativos.

Em janeiro de 1855 já as folhas diárias anunciavam que o carnaval seria magnífico: as famílias mais consideradas, a mocidade mais dinheirosa e ilustre, associavam-se à empresa do dia. Jurisconsultos, médicos, jornalistas, militares, altos funcionários públicos, negociantes, fazendeiros, tudo quanto a sociedade fluminense possuía de seleto absorvia-se numa só ideia, num só pensamento.

No Largo do Rocio e em muitíssimas ruas, as casas de vender e alugar vestimentas multiplicavam-se. Nas casas particulares viam-se o veludo e a seda, as espiguilhas e os bordados a ouro; nos alfaiates, os costumes especiais; nos ourives, adereços finíssimos.

Decoravam-se suntuosamente os teatros. Nos cenários, subindo até as bambolinas, os espelhos cintilavam como vagas descendo de fantásticas muralhas: palmeiras à entrada de grutas, cascatas artificiais, flores e perfumes, faziam supor que naqueles salões enormes se iriam asilar as fadas dos contos das Mil e Uma Noites.

Cá fora o comércio abria pesada bolsa ao artista mais hábil no enfeite das ruas, ao jardineiro mais zeloso no cultivo das palmeiras e arbustos de ornamentação, a quem mais deslumbrantes erguesse as arcadas iluminadas, ao pintor de mais imaginação e espírito no acabado dos escudos implanta dos de troféus, onde se liam epigramas e quadras chistosas.

Nos coretos em profusão pregavam-se bancos para a música e colocavam-se figuras que simbolizavam personagens e acontecimentos ridículos.

Nos primitivos carnavais a influência era tamanha, que poderia dizer-se que um terço da população mascarava-se.

E tanto é verdade, que os diretores de teatros advertiam ao público que seria vedado o ingresso nos bailes a quem não se apresentasse fantasiado.

Em 1855 fazia a sua primeira passeata o Congresso das Sumidades Carnavalescas.

Antes do dia 23 de fevereiro, em que caíra o Entrudo, uma comissão composta do Dr. Joaquim Francisco Alves Branco Muniz Barreto, Coronel Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão e do Dr. José Martiniano de Alencar, dirigiu-se a S. Cristóvão, pedindo a S. M. o Imperador que viesse com as princesas ao paço da cidade honrar com a sua presença o carnaval do ano e assistir à passagem do Congresso.

Desta sociedade tiveram a iniciativa notáveis homens de letras e jovens escritores, cujo talento impunha-se pelo brilho progressivo. Estes leais companheiros de tantas glórias, que resplandecem do passado, faziam parte da redação do Correio Mercantil e chamavam-se Henrique César Muzzio, Pinheiro Guimarães, Manuel Antônio de Almeida, J. de Alencar, Augusto de Castro, Ramon de Azevedo e outros, que saudavam o futuro entre um artigo de fundo, uma poesia, um folhetim, e o desabrochar das esperanças nas alamedas sempre encantadoras da primeira mocidade.

Felizes tempos aqueles em que Alves Branco, F. Otaviano, Firmino Rodrigues Silva e Paranhos regiam os moços, porque eles viam a pena de ouro na mão do mestre e do amigo!

Afastados desse grupo, mas conhecidos de bonito nome, a eles reuniam-se Joaquim de Melo, Francisco Augusto de Sá, os dois Faros, Palhares, Cristiano Stockmeyer, Horácio Urpia e mais, que fortaleceram o empreendimento como forma e como ideia.

Nas tardes do domingo as bandas marciais tocavam; os chicards, os titis, os flambarás, os pierrots, os débardeurs, os dominós, os zés-perei ras, os D. Nunos e os cavaleiros de capa e espada percorriam a cidade. Os carros de mascarados não tinham conta. Dos sobrados desdobravam colchas de damasco e entornavam flores; os estalos fulminantes imitavam as crepitações das fogueiras e a multidão acudia a vários lugares, curiosa e festiva.

No ano a que nos referimos, os máscaras de espírito tornaram-se salientes. Um francês houve que, no Provisório, intrigou a toda a gente. Este máscara envergava um costume metade preto e metade branco.

Muitas pessoas ainda se recordam de um indivíduo que, trepado numa saia-balão de proporções colossais, distribuía pelas janelas poesias, trocando pilhérias.

Consecutivo este carnaval à iluminação a gás desta capital, junto a um mineiro que montava num boi, conquistou gostosas gargalhadas um sujeito enfezadinho, escanchado numa jumenta branca, tendo em toda a exótica vestimenta escadas e lampiões de pano, recortados e cozidos.  Pisava-se sobre folhas de canela e mangueira, sacudia-se do chapéu rosas e jasmins, corava-se à indiscrição de um máscara que segredava (em voz alta) o que vira e o que não vira.

Na Petalógica do Largo do Rocio, Paulo Brito, Teixeira e Sousa, Constantino Gomes de Sousa, Laurindo Rabelo, Zaluar, o bacharel Gonçalves, Castro Lopes, José Antônio, Bracarense e Machado de Assis, atropelavam os princeses que entravam e os desenxabidos que passavam.

Quanta lembrança original, quanto desapontamento engraçado, quanta corrida de vencido!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Continua…

Fonte:
Melo Morais Filho. Festas e Tradições Populares do Brasil. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2002

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Varal de Trovas 480

 


Paulo Mendes Campos (A arte de ser infeliz)


O homem perfeitamente infeliz tem saúde de ferro; check-up e estação de águas todos os anos; seus males físicos são apenas dois: dor de cabeça (não toma comprimido porque ataca o coração) e azia (não toma bicarbonato porque vicia o organismo).

O pai e o avô do homem infeliz morreram quase aos noventa anos - e ele o diz frequentemente.

Banho frio por princípio, mesmo no inverno, e meia hora de ginástica diária.

O homem perfeitamente infeliz julga-se ameaçado: ao norte, pela queda do cabelo; ao sul, pela desvalorização da moeda; a leste, pelo acúmulo de matéria graxa; a oeste, pela depravação dos costumes.

Não empresta dinheiro; não deve nada a ninguém; toma notas minuciosas de todas as despesas; nunca pagou nada para os outros; não avaliza nota promissória nem para o próprio filho; tem manifesto orgulho disso tudo.

Não tomou conhecimento de qualquer revolução artística ou literária depois de 22: gênio é o Rui; brasileiro é o Rui; saber português é o Rui*.

Iniciar oração com o pronome oblíquo é para ele um crime contra o idioma pátrio, embora seja esta toda a sua ciência a respeito de gramática.

Em sua sala de jantar, um quadro a óleo: o ipê florido, moldura dourada, assinatura de Josimar ou Asdrúbal.

A força de vontade do homem perfeitamente infeliz é tremenda: deixou de fumar há onze anos, três meses, cinco dias. Se não deixou, poderá deixar a qualquer momento.

Racista, embora só o confesse aos mais íntimos; admite vagamente todas as religiões; não pratica nenhum culto, mas considera o catolicismo um freio. Sem simpatia política em aparência, vota por instinto nos candidatos mais reacionários.

Antigamente, para ele, era muito melhor que hoje: um dos erros fatais do Brasil foi derrubar Dom Pedro II.

Acha-se (e infelizmente é verdade) insubstituível em seu trabalho; sem ele, o escritório não anda.

Sempre o primeiro a chegar a enterros de parentes, amigos, conhecidos, colegas; também o primeiro a saber e divulgar que abriram e fecharam Fulano, não há nada a fazer.

Ver televisão é o seu recreio mental mais importante; resolver problemas de palavras cruzadas desenvolve o raciocínio e enriquece o vocabulário - uma de suas teses preferidas.

O homem perfeitamente infeliz sabe o que é enfiteuse** e pignoratício***.

Conhece os preços de todos os gêneros e de todos os objetos usuais; está sempre de olho em qualquer transação imobiliária lucrativa; se possui imóveis alugados (quase sempre os possui), é mestre em fabricar um contrato desvantajoso para o inquilino; mestre ainda em sonegar imposto de renda; dá aula sobre a maneira mais efetiva de se proceder a uma ação de despejo.

Sua psicologia: todo homem tem seu preço.

Economia: poupar os tostões.

Sociologia: o povo não sabe o que quer.

Filosofia: o seguro morreu de velho.

O homem perfeitamente infeliz ama os seus de um amor incômodo ou francamente insuportável.

Considera-se dono de excelente bom humor; em família, porta-se com severidade, falta de graça e convencionalismo; cita provérbios edificantes e ditos históricos; sua glória é poder afirmar, diante de alguém em desgraça: "Bem que te avisei!"

Arrola o futebol, o samba e a cachaça entre as vergonhas nacionais.

Não diz "minha mulher", mas "minha esposa"; a esposa do homem perfeitamente infeliz é muito mais perfeitamente infeliz do que ele, que nada percebe.

O mal profundo do homem perfeitamente infeliz é julgar-se um homem perfeitamente feliz.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Notas do Blog:
* Rui: Rui Barbosa (1849-1923).
** Enfiteuse: A enfiteuse é instituto do Direito Civil e o mais amplo de todos os direitos reais, pois consiste na permissão dada ao proprietário de entregar a outrem todos os direitos sobre a coisa de tal forma que o terceiro que recebeu (enfiteuta) passe a ter o domínio útil da coisa mediante pagamento de uma pensão ou foro ao senhorio. Assim, pela enfiteuse o foreiro ou enfiteuta tem sobre a coisa alheia o direito de posse, uso, gozo e inclusive poderá alienar ou transmitir por herança, contudo com a eterna obrigação de pagar a pensão ao senhorio direto. (fonte: JusBrasil)
*** Pignoratício: pertinente ao contrato do penhor.

Fonte:
Paulo Mendes Campos. Homenzinho na Ventania. Publicado em 1962.

Daniel Maurício (Devaneios Poéticos) – 6 –


Abraça-me como se teu mar eu fosse
Brinca com minhas cores
Na morenice do teu ser
Descansa na esteira dos meus versos
E a ansiedade numa rede preguiçosa faça adormecer
À sombra das nuvens
Refresca o teu olhar no horizonte
De mãos dadas com o agora, sem promessas, sem depois
Silencia meus desejos em tua boca
Que a voz rouca em teus ouvidos seja uma inspiração
Deixa o nosso cheiro ir com o vento
E que nossos corpos se tornem em um só templo
Ao som do sino entre canções
Acredita que eu sou o teu amor pra vida inteira
E não somente uma paixão passageira
Ou quem sabe um simples deslize de verão.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Ela
Entregou o seu coração
Mas ele
Não tinha onde guardar.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

… E tem umas horas boas
Na vida da gente,
Que dá vontade de pausar o tempo
Com muitas vírgulas,
Saboreando gole a gole,
Sem pressa alguma
De que chegue o ponto final.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Havia tanta doçura em seu olhar
Que até os beija-flores
Faziam fila.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Muitos caminhos a seguir
Mas meus pés viciados e desobedientes,
Até nos sonhos,
Só sabem percorrer o teu.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Na escuridão
Estrelas brilham
Nos olhos do gato.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Na sua trilha
Sempre parto
Na chegada
Me reparto
Pra caber em mim
Mais um pouquinho de você.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Na tempestade dela
Fui amor
Fui calmaria
Mas quem diria
Na minha tempestade
Foi-se até a amizade
E ela foi dor
Foi furacão.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

O apito longínquo no passado
Ainda estremece o peito.
Fecho os olhos
E o trem estacionado na memória
Parte devagarinho
Carregado de lembranças.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Platônico

Ela dizia
Que gostava do mar
Porque o mar era tanto, imenso...
Mal sabia ela
Que o meu amor por ela
Era ainda muito mais.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Quando nasci
Um anjo me disse:
Vá! Seja feliz.
E foi o que fiz
Não fiquei juntando pedras
Corri atrás do vento.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Sou abelha
Borboleta
Beija-flor.
Comigo
Levo de ti um pouco
Mas te deixo
Todo o meu amor.

Fonte:
Facebook do poeta.

Figueiredo Pimentel (A Onça e o Cabrito)


No tempo em que os animais falavam, nesse mesmo tempo chamado do Onça, em que se amarravam os cachorros com linguiça, achava-se uma onça dormindo a sesta, enganchada num galho de árvore, quando exclamou:

– Qual! isto assim não tem jeito! Estou há longo tempo a procurar cômodo neste pau, e nada de poder dormir! Vou fazer uma casa para morar.

Foi a um lugar da floresta, e depois de procurar bem, disse:

– É aqui mesmo; melhor lugar não poderia encontrar.

Roçou o mato que ali havia, capinou tudo muito bem.

Mestre Cabrito também andava com vontade de fazer casa de moradia. Saindo, uma vez, em busca de local apropriado, deu com o roçado que dona Onça tinha feito horas antes, e disse:

– Bravo! Que belo sítio este aqui! Parece feito de propósito para uma casinha!

Dizendo isso, pôs-se logo a cortar grossos paus para servirem de esteios à casa; fincou no chão, e foi descansar.

No dia seguinte chegou dona Onça, e vendo os esteios já fincados, exclamou:

– Com certeza é Deus quem me está ajudando. Ontem, apenas limpei o mato, e hoje já venho encontrar os esteios da casa!...

Cortou mais paus; fez a cumeeira; pôs as travessas e retirou-se.

Quando o sr. Cabrito chegou, e viu aquele progresso na construção, exclamou:

– “Qual! Decididamente Deus Nosso Jesus Cristo está me ajudando! Estou encantado de graça... Não pode ser outra coisa. Por isso, mãos à obra, sr. Cabrito, quanto mais depressa melhor.

Então colocou caibros* na casa, e nesse dia deu por findo o serviço, achando que havia trabalhado muito.

Quando dona Onça veio, ainda mais admirada ficou. Nada disse, todavia. Pregou as ripas e os enchimentos, e foi-se embora.

O cabrito pôs as varas, os portais e as janelas, e saiu.

A onça cobriu a casa de telhas.

O cabrito assoalhou, e fez o teto.

Um dia, um, outro dia, outro, trabalharam sucessivamente os dois animais, sem no entanto jamais se encontrarem, cada um pensando que era Deus que o protegia.

Ficando pronta a casa, dona Onça fez a cama e deitou-se.

Ainda não tinha ferrado no sono, quando chegou também o cabrito, que, vendo a onça, disse:

– Não, comadre onça; esta casa é minha. Fui eu que finquei os esteios, pus os caibros, os portais, as janelas, etc.

Depois de muita discussão, a onça, que já estava com vontade de comer o cabrito falou:

– Bem, compadre, não é preciso fazer questão; vivamos juntos, como bons amigos.

O cabrito, embora com muito medo, aceitou a proposta da onça, mas, por precaução, armou a cama longe, perto da janela, para poder escapulir ao primeiro sinal de perigo.

Achava-se ainda na cama, aos primeiros albores da madrugada, quando a onça se virou para ele, e lhe disse:

– Vou dizer-lhe uma coisa, compadre Cabrito: quando estou zangada, começo a franzir o couro da testa. Tome cuidado.

– E eu, comadre Onça, – respondeu o outro, fazendo-se forte, mas, com verdadeiro pavor, – quando estou com raiva, começo a sacudir as minhas barbinhas, e se der algum espirro, então fuja, porque não estou para brincadeiras.

Vendo que o outro não fugia, a onça saiu, dizendo que ia buscar alguma coisa para comerem.

Meteu-se atrás de uma moita, num mato muito cerrado, pertinho de um regato, onde os outros bichos costumavam ir beber água.

Apareceram diversos animais, mas a onça não se mexeu. Quando, porém, chegou um cabrito grande, muito gordo, de um salto caiu-lhe ela em cima e matou-o.

Arrastou-o até a casa e, de fora, já vinha gritando;

– Abra a porta compadre Cabrito, para eu poder passar com a minha caça!

Mestre Cabrito, já desconfiado daquele barulho, imaginando ser alguma cilada que lhe armava ela, respondeu no mesmo tom:

– Está aberta, comadre; basta empurrá-la.

Quando o cabrito viu o seu companheiro teve muito medo, e disse consigo mesmo:

– Se ela matou este, que é maior e mais que eu, como não procederá para comigo?

E protestou ficar cada vez mais alerta.

Ofereceu-lhe a onça um bocado de carne, mas o cabrito não aceitou, dizendo já ter almoçado.

No outro dia foi ele quem disse à onça:

– Agora, comadre, sou eu quem vai à caça. Vou arranjar alguma coisa para comermos.

Embrenhou-se pela floresta adentro, quando viu uma onça muito grande e gorda. Disfarçou, e começou a cortar cipós fortes.

A onça, chegando perto, indagou:

– Amigo cabrito, para que é que está você cortando tanto cipó?

– Oh! Amiga onça, não sabe do caso? Então não sabe que o mundo está para vir abaixo, que um grande dilúvio e grande ventania vem cá para a terra? Trate de si, que é o que deve fazer. Eu vou-me amarrar com estes cipós, porque não quero morrer já.

A onça, com medo, escolheu um pau bem grosso, e pediu ao cabrito por tudo quanto havia que a amarrasse.

O cabrito amarrou-a perfeitamente, com uma porção de cipós, e, quando a viu bem segura, matou-a.

Desatou o cipó que a prendia, e começou arrastá-la até à casinha. Quando chegou, disse à sua comadre, que ficara em casa:

– Comadre onça, trago comida para dois dias, venha ver, e vamos esfolar o bicho, que está gordo que faz gosto.

A onça, quando viu uma companheira sua morta pelo cabrito, teve muito medo, mas nada disse.
***

Começaram os dois a ter medo um do outro.

Um dia, o cabrito estava perto da janela tomando fresco, quando viu a onça com o couro da testa todo enrugado, o que nela era sinal raiva.

Teve receio. Começou a sacudir as barbinhas e deu um grande espirro.
A onça ouvindo-o e lembrando-se que era sinal da zanga do cabrito, pulou de cima da cama e começou a correr como uma desesperada, por este mundo afora.

O cabrito, por seu lado, fugiu também, em direção oposta, com medo da onça.

E os dois ainda hoje se evitam.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Nota:
* Caibros
– Estrutura de madeira de um telhado, sobre o qual se colocam as telhas.


Fonte:
Alberto Figueiredo Pimentel. Histórias da Avozinha. Publicado em 1896.

Melo Morais Filho (Carnaval) Parte 1


Não é de hoje a história das vesânias humanas.

O carnaval, que é uma frenopatia, filia-se às mais altas civilizações, exibindo-se rudimentário entre os povos selvagens. As sanhas (vontade incontrolável) dos Querubins egípcios, das Saturnais romanas, das Bacanais gregas, da festa dos Inocentes e dos Loucos, de que falam as crônicas da Idade Média, é a mesma do carnaval de Veneza, de Roma, de Paris, do Rio de Janeiro e das tribos amazônicas.

Entre todos os povos encontram-se as mascaradas – desde o Indo – que, como pensa Volney, desfigurava o céu, o metamorfoseava, até os nossos tucanos, que tomavam máscaras de folhas e de cascas de árvores, de terra e de cabeça de animais, para as festas do Buianté. S. João Crisóstomo condenava os deboches e as mascaradas nas igrejas; e o Papa Inocêncio III as verberava por meio de uma decreto:

– “Dão-se algumas vezes nas igrejas espetáculos e divertimentos de teatro, e não somente introduzem nesses espetáculos e nesses divertimentos monstros mascarados, mas ainda em certas festas os diáconos, os padres e subdiáconos permitem-se a liberdade de fazer toda a casta de loucuras e palhaçadas...

“Eu vos conjuro a exterminar este costume...”

O carnaval implica o uso da máscara e dos disfarces; e a máscara era usada pelos trágicos gregos e romanos. Nos Bacanais e nos espetáculos haviam máscaras que exprimiam o ódio, a lubricidade, a sátira...

Em França, desde o século XIV, diz o bibliófilo Jacó, as máscaras foram adotadas: Filipe o Belo tinha o carnaval como o folguedo de sua predileção.

Segundo o redator do Journal de Paris, citado pelo romancista dos Nouveaux romans de Paris, “uma singular mascarada teve lugar no reinado de Carlos VI, no cemitério dos Inocentes. Em uma ação fantástica, chamada Dança Macabra, indivíduos de ambos os sexos, disfarçados em gente de todas as condições, desfilavam ante a Morte, que impassível lhes ouvia as queixas. Pediam-lhe a prolongação da vida; uns para realizarem projetos de ambição, outros para gozarem de sua nova fortuna, todos para alguma quimera. A Morte, depois de chasquear em verso com os suplicantes, descarregava-lhes a foice”.

A mascarada da Dança Macabra esteve muito em voga na Alemanha e na Suíça.

Henrique III dispensava calorosa animação a esse regozijo público. À semelhança dos validos do rei, os nobres e as senhoras do tom mascaravam-se.

Acrescenta o historiador Lestoile que aquele soberano gostava tanto de fantasiar-se, que deitava-se de máscara, interiormente untuosa e pintada.

No Beppo de Lorde Byron, o poeta encarece o carnaval de Veneza: Goethe no Fausto é menos entusiasta pelo carnaval de Roma.

No tempo de Luís XIV as cortesãs e as mulheres da moda tatuavam-se exageradamente, e usavam de sinais pretos no rosto para fazerem-se mais lindas; muitas havia que sobre a alvura da face assentavam estrelas e meias-luas de tafetá, que concorriam para transformá-las.

A revolução acabou com as mascaradas em França, reaparecendo elas mais tarde nas ruas e teatros.

Uma coincidência: o carnaval francês agonizava, quando nascia o carnaval brasileiro.

O carnaval do Rio de Janeiro começou após a proibição do jogo do entrudo pelo desembargador Siqueira, único dos nossos chefes de polícia de quem a tradição repete o nome com segurança e respeito.

Muito antes, inauguraram-se os bailes mascarados, devido os primeiros à iniciativa da cantora Delmastro, que para aqui viera com a companhia lírica de Mme. Lagrange.

Estes bailes tiveram lugar onde é hoje o teatro da Fênix Dramática, que compreendia a grande chácara da Floresta.

Sucederam-se a estes os do Ângelo, na chácara da Rua do Conde, na Cidade Nova, e os do Nicola, no Largo do Rócio.

Ao crescente e inesperado favor do público corresponderam os teatros de S. Januário, Lírico Fluminense, S. Pedro e Ginásio, que para o mesmo fim abriram as suas portas, acompanhando-os o Clube Fluminense, que só admitia os sócios, e o Paraíso que aceitava a todos.

Em que consistia o nosso primitivo carnaval ao ar livre?
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Continua…

Fonte:
Melo Morais Filho. Festas e Tradições Populares do Brasil. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2002.

sábado, 13 de fevereiro de 2021

Arthur de Azevedo (Um Don Juan de Província)


Quando fui pela primeira vez àquela patriarcal cidade de província, o Linhares, que eu chamava primo, por ser filho da primeira mulher de meu pai, não quis que eu ficasse no hotel, e levou-me para sua casa, onde havia um quarto de hóspedes.

Durante os dias que ali me demorei fui carinhosamente tratado, e ainda hoje sou reconhecido aos favores do primo Linhares e de sua família, senhora e cinco senhoritas casadeiras.

Eu não fazia outra coisa todos os dias senão passear pela cidade, e à tarde, depois de jantar, o primo Linhares mandava colocar sete cadeiras no passeio, à porta da rua, e ele, a senhora, as senhoritas e eu sentavam-nos ao ar livre, e conversávamos até ao escurecer. Era muito divertido.

Numa das tardes em que estávamos assim, perambulando sobre os mais variados assuntos, surgiu de uma esquina, a cem passos do lugar em que nos achávamos, o vulto esguio de um rapaz moreno, de grandes bigodes, envolto numa capa espanhola e com a cabeça coberta por um grande chapéu desabado.

O primo Linhares, mal que o viu, ergueu-se e disse imperiosamente às senhoritas:

- Meninas, vão para dentro: vem ali o Flávio Antunes!...

As cinco senhoritas levantaram-se e desapareceram, correndo no interior da casa.

E o primo Linhares explicou-me:

- Aquele Flávio Antunes é um patife, um sedutor de senhoras casadas, um Don Juan!... Não consinto que as pequenas olhem para ele!... Não há nesta cidade sujeito mais desmoralizado! Nenhum pai de família honrado o recebe em casa!

E como o tal Flávio Antunes se aproximasse:

- Olhe para aquele tolo! Veja! - o tipo completo do conquistador!...

E o transeunte, que era, efetivamente, um rapagão, passou fazendo ao primo Linhares um cumprimento, que não foi correspondido.
= = = = = = = = = = =

Um ano depois, o primo veio ao Rio de Janeiro. Fui recebê-lo na estação da Estrada de Ferro, e tratei logo de perguntar pela família.

- Estão todos bons. A minha pequena mais velha foi pedida à semana passada.

- Por quem?

- Por um excelente rapaz - o Flávio Antunes.

- Perdão... mas o Flávio Antunes não era...

- Era sim! mas que quer você? Com aquela coisa de mandar as meninas para dentro todas as vezes que ele passava lá por casa, fiz-lhe um extraordinário reclame! Todas elas gostavam dele, e ele gostou da mais velha!

- Ora! Hão de ser muito felizes.

- Sim, mesmo porque, melhor informado, me convenci de que a má reputação do pobre rapaz era unicamente devida àquela capa espanhola e aquele chapéu desabado!

- Deveras?

- Eram mais as nozes que as vozes, e se algumas falcatruas fez ele, coitado, foi em consequência do reclame que lhe fazíamos, eu e outros pais de família.

Fonte:
Arthur de Azevedo. Contos Possíveis. Publicado em 1889.

Paulo Leminski (Versos Diversos) 9


tanta maravilha
maravilharia durar
aqui neste lugar
onde nada dura
onde nada para
para ser ventura
= = = = = = = = = = =

não fosse isso e era menos
não fosse tanto e era quase
= = = = = = = = = = =

apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme
= = = = = = = = = = =

que tudo passe

passe a noite
passe a peste
passe o verão
passe o inverno
passe a guerra
e passe a paz

passe o que nasce
passe o que nem
passe o que faz
passe o que faz-se

que tudo passe
e passe muito bem
= = = = = = = = = = =

via sem saída
via bem

via aqui
via além
não via o trem

via sem saída
via tudo
não via a vida

via tudo que havia
não via a vida
a vida havia
= = = = = = = = = = =

eu queria tanto
ser um poeta maldito
a massa sofrendo
enquanto eu profundo medito

eu queria tanto
ser um poeta social
rosto queimado
pelo hálito das multidões

em vez
olha eu aqui
pondo sal
nesta sopa rala
que mal vai dar para dois
= = = = = = = = = = =

a noite
me pinga uma estrela no olho
e passa
= = = = = = = = = = =

cansei da frase polida
por anjos da cara pálida
palmeiras batendo palmas
ao passarem paradas
agora eu quero a pedrada
chuva de pedras palavras
distribuindo pauladas
= = = = = = = = = = =

já fui coisa
escrita na lousa
hoje sem musa
apenas meu nome
escrito na blusa
= = = = = = = = = = =

o mestre gira o globo
balança a cabeça e diz
o mundo é isso e assim
livros alunos aparelhos
somem pelas janelas
nuvem de pó de giz

Fonte:
Paulo Leminski. Distraídos venceremos. Publicado em 1987.

Ivan Lessa (A casa)


Quando você me diz “lá em casa” eu vejo um bicho feito de ângulos, retas e paralelas, um animal composto de planos e perspectivas, feito bicho fotografado. Vejo uma porção de coisas, só depois vejo gente, quase como se fosse em detalhe. A casa fez o homem, depois descansou e recebeu gente para viver.

Ninguém sabe nada de casa. Assunto é quem nela mora. Mas as casas ‒ as casas são. Não só a decoração, o estilo e a disposição. Algo além, que não foi planejado mas começou a aparecer, desde os primeiros tijolos. A casa sente-se aos poucos, seus sinais de vida. Sua respiração é noturna e descompassada: tem algo de pássaro lidando com ninho. A casa ‒ principalmente à noite quando a gente dorme.

De noite, você range e a casa tem medo. De noite, certos ratos que você não conhece se nutrem. De noite, pessoas parecidas com você passam de um canto para outro e não são notadas. De noite, o estranho no sótão (mesmo que seja apartamento há esse estranho no sótão) sai para brincar. Anões percorrem as estantes, um azulejo muda de lugar, mas se recompõe. Todas essas coisas lógicas e esperadas da casa a sós. A casa se mal assombra, nós apenas nos assombramos. Há uma porta que não empena depois das 23h. Um alçapão que você não conhecia engole bloco de cimento. O mecanismo funciona perfeito. O curto-circuito é você: deitado. Casa não deita: levanta.

Mas ficou sem dormir no escuro: descobrirá como é circunstancial o dono da casa. A casa é história, nós somos cidadãos. Uma casa é um mecanismo que desandou e, de todos os seus ritmos, só oferece a você aquele que você precisa. Mas os outros, estão lá: fique acordado e veja. Nada é estranho. Estranho é você que não sabe parar, a casa é uma perfeição de paradas e freios. Pare, olhe e more.

Quando você dorme, a casa faz. Quando você sai, a casa fica. Na realidade vocês não se conhecem. São uma acomodação interesseira. Se você conseguir ‒ leva tempo ‒ vê-la acordada, vai ser duro para você. Vai querer nunca mais dormir e essa, não há dúvida, é a pior das mortes.

Fonte:
Diário Carioca. RJ. 7 dez 1965.

1° Concurso de Poesias Livres da ARLACS (Prazo: 28 de fevereiro)


1°- DEFINIÇÃO E OBJETIVOS

O Concurso consiste na valorização da arte poética. ARLACS é a sigla de Academia da Responsabilidade Literária, Artística, Cultural e Social, que é o braço sociocultural da Academia Internacional da União Cultural.

2° - NATUREZA DOS TRABALHOS

Pode-se participar com UMA poesia, máximo 20 versos (contando espaços entre estrofes).

Todos os trabalhos devem ser de autoria própria, escritos em língua portuguesa, inéditos (sem publicações seja por meio escrito, via internet ou outros).

3° - TEMA

O tema será LIVRE, sendo que os critérios analisados serão:
a) normas da língua portuguesa,
b) Criatividade,
c) originalidade,
d) estética e
e) exploração de recursos linguísticos.

4° - FORMA DE ENVIO e PRAZO

Os textos deverão ser enviados para o e-mail: 
 
auniaocultural@gmail.com,

no corpo do e-mail, sem arquivos anexos devendo constar, abaixo do poema, obrigatoriamente:
Nome,
endereço completo,
whatsApp,
e-mail e
autorização para divulgação em quaisquer meios, e
âmbito no qual concorre.


Prazo: Os trabalhos serão recebidos até o dia

28 de fevereiro de 2021, às 23h59 (horário de Brasília/Brasil).

5° - PÚBLICO-ALVO

Podem participar do concurso todos os poetas, maiores de idade, pertencentes ou NÃO a ARLACS ou a Academia Internacional da União Cultural.

6° - PREMIAÇÃO

A premiação constará de certificados, enviados de forma virtual, outorgados a critério da Comissão Julgadora, e poderão ou não ser concedidas menções honrosas e/ou especiais.

7° - DISPOSIÇÕES FINAIS

Casos omissos serão resolvidos pelas Comissões, sendo que, de antemão, fica resolvido que:

- as decisões das Comissões Organizadora e Julgadora terão caráter permanente, sendo soberanas e incorrigíveis;

- a partir do momento da inscrição, o autor autoriza a publicação de seus textos em eventuais livretos ou blogs, ou sites, ou facebook, ou outros redes sociais e meios de divulgação, ou por meio impresso, bem como a veiculação em vídeos e áudios;

- para informações adicionais ou para dirimir eventuais dúvidas, envie e-mail para:
auniaocultural@gmail.com ou

whatsApp (12) 97412-5806.


Taubaté-SP/Brasil. 7/fevereiro/2021
ARLACS - Academia da Responsabilidade Literária. Artística, Cultural e Social/ Academia Internacional da União Cultural


Fonte:
Therezinha D. Brisolla

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Varal de Trovas 479

 


Contos e Lendas do Mundo (O Erro do Burro)


Nas rodas sertanejas, antigamente se contava certa história de bichos, que ainda hoje não é esquecida. Vez por outra algum velho está a relembrá-la com todo os rique-fifes. História simples, sem maiores artifícios, não escondendo, entretanto, o fator moral como razão de ser da passagem pitoresca ocorrida entre animais que falavam, discutiam e agiam de conformidade com os seus interesses.

O fato é que o burro se encontrava muito de seu, pastando nos campos, comendo panasco verde – e a sua atitude pacata até despertava inveja dos próprios homens. Aquilo sim é que era felicidade sem perturbações incômodas. Se chegava a hora de trabalhar, o burro trabalhava no duro, sem pedir misericórdia, sustentando o peso do serviço de carregamento e, ainda pior do que isso, sob o chicote dos moleques condutores ou boiadeiros malvados. Também do boleeiro, pois puxava o cabriolé do senhor e, diziam, fazia-o com uma competência ajudada pela carícia e pela ternura de servir. embora o sangue mau do condutor.

Realmente, o burro era detentor de bondade extraordinária: não fazia nada de cara fechada, era sempre alegre que costumava enfrentar o serviço. Pois, em compensação, os instantes de folga eram compridos por demais, às vezes duravam dias e semanas. Comia o panasco e bebia no tanque de pedra. Andava gordo, sereno e venturoso. De que se queixar? A vida lhe sorria. Não era assaltado por nenhuma aspiração que não fosse sossego e paz, tranquilidade e bonança, trabalho e repouso, boa mesa e sono solto. A liberdade era tudo. Ela rodava-lhe em torno. Os homens falavam em democracia. Democracia deveria ser mais ou menos aquilo: liberdade e abastança, barriga cheia e despreocupação pelo que venha a suceder.

Mas, de repente, quando se achava pensando nessas coisas amáveis, surge pela frente a raposa (a comadre raposa é sempre a mesma figura, no litoral, na mata e no sertão: age astuciosamente e, de ordinário, com requintes de perversidade criminosa) que, desde muito, espiava aquela beleza de existência retirada, sem imprevisto, sem qualquer sinal a mais ou a menos, sem a nota de altos e baixos. Que coisa? Aquilo precisava de sangue novo. Estava reclamando mais movimento, mais ação e, portanto, mais intimidade com a vida. Pois esta andava monótona para os espíritos inquietos e inteligentes, requerendo novidade e que, neste sentido, se fizesse o maior esforço de criação.

Pensou indagando de si mesmo:

- Perto daqui não existe chiqueiro de galinhas?

Então a raposa dispôs-se à luta, procurando o burro, com ele mantendo longa conversação, fazendo-lhe sentir a necessidade de entrar por outros caminhos menos insípidos.

– Olhe, eu conheço a onça pintada que vive na Furna da Alegria. É um prazer visitá-la. Tem vivido muito e passado pelo que o diabo jamais imaginou. Nos meus momentos de angustia é para lá que rumo os meus passos.

– Mas eu não sofro nada, disse o burro. Tenho saúde perfeita. E não me queixo de coisa alguma.

– Isso não significa nenhuma novidade. Também quando me sinto feliz vou bater à porta da amiga. Ouço-lhe a voz carinhosa dos conselhos. Fico ainda mais alegre e cheia de felicidade. A tristeza vai-se embora.

Perversa, a raposa não desanimava na cantada, tudo fazendo para demover o burro do lugar onde se encontrava, pois não tinha ofício nem obrigação, se saía era sempre a passeio e, à noite, os galinheiros estavam à disposição de suas garras. Vagabunda, faladeira, mexeriqueira. Gostava e alimentava a perversidade como estigma da espécie a que pertencia.

Enquanto falava naquele tom, no íntimo bem sabia que a onça pintada era velha e encarquilhada, má, vivendo faminta e assaltando os bichos que tinham o topete de andar por perto de sua morada.

– Vou fazer essa visita que me pede.

E, decidido, largou-se o burro para o lugar em que vivia a onça tão boa, como afirmava a raposa, pacífica e generosa. Chegou às imediações da Furna da Alegria. Viu a bicha cheia de pintas pretas, saindo com um ar de mansidão, se arrastando, com os olhos fuzilando e, dando salto ágil, procurou atingir o limite onde estava o burro. Este desconfiou da parada. E pernas para que te quero, danou no mundo, a galope, regressando num fôlego aos pastos de sua deliciosa mansão. Não sairia mais dali. E comentando com os botões:

- A onça queria me botar no papo. Faminta como quê. Essa cachorra da raposa que me apareça para eu lhe dar o troco merecido.

Os dias correram. Certa vez chega inesperadamente a comadre com toda delicadeza e a pedir desculpa. Aquilo fora um horror. Como obter o perdão de seu amigo? Não tinha direito a isso. Era uma pobre miserável, merecia a morte e, assim, lamentou-se até conseguir manifestações de ternura do burro. Animou-se a maliciosa hipócrita dizendo:

- A onça, eu sabia, estava doente há várias semanas e foi exatamente na ocasião em que você apareceu que ela, zangada e faminta, não o conhecendo, atirou-se com a violência que costuma empregar contra suas presas.

Adiantou cautelosa:

- Porém eu já fiz as necessárias recomendações e ela, agora ciente, pede-lhe mil desculpas, contrariada que está e, sendo possível, espera-o quando você quiser ou achar conveniente.

– Bem, neste caso irei mais tarde.

E, de fato, renovou a dose, isto é, seguiu o caminho já de seu conhecimento. Foi e não voltou. A onça banqueteou-se a semana inteira com mesa opípara. Fazia muito tempo até que não saboreava carne tão gostosa. Carne macia e cheia de vitaminas.

A raposa alcançou o que escondia. Os pastos precisavam ficar abandonados para o senhor da casa-grande, sem querer perdê-los (outro animal para soltar não possuía nas redondezas; o gado andava no cercado; apenas o burro estava privando de uma consideração excepcional; era privilégio forçado) e, ante a evidência, abrisse o chiqueiro e deixasse as frangas e capões invadi-lo para o mais gordo aproveitamento. E ainda teria dito consigo mesmo, apreciando os fatos em que fora figura principal:

- Vá ser burro assim no inferno, na casa do diabo que o carregue.

Fonte:
Ademar Vidal. Lendas e superstições: contos populares brasileiros. RJ: O Cruzeiro, 1950.

Mario Quintana em Prosa e Verso – 14 –


XIII

 
Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, de cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha...

E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada...
Arde um toco de vela, amarelada...
Como o único bem que me ficou!

Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!
Ah! Desta mão, avaramente adunca,
Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!

Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,
A luz do morto não se apaga nunca!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

XIV

Gadêa... Pelichek... Sebastião...
Lobo Alvim... Ah, meus velhos camaradas!
Aonde foram vocês? Onde é que estão
Aquelas nossas ideais noitadas?

Fiquei sozinho... Mas não creio, não,
Estejam nossas almas separadas!
Às vezes sinto aqui, nestas calçadas,
O passo amigo de vocês... E então

Não me constranjo de sentir-me alegre,
De amar a vida assim, por mais que ela nos minta...
E no meu romantismo vagabundo

Eu sei que nestes céus de Porto Alegre
é para nós que inda S. Pedro pinta
Os mais belos crepúsculos do Mundo!…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

XV

Sobre a coberta o lívido marfim
Dos meus dedos compridos, amarelos...
Fora, um realejo toca para mim
Valsas antigas, velhos ritornelos.

E esquecido que vou morrer enfim,
Eu me distraio a construir castelos...
Tão altos sempre... cada vez mais belos!...
Nem D. Quixote teve morte assim...

Mas que ouço? Quem será que está chorando?
Se soubesseis o quanto isto me enfada!
E eu fico a olhar o céu pela janela...

Minh'alma louca há de sair cantando
Naquela nuvem que lá está parada
E mais parece um lindo barco a vela!...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

XVI
Para Reynaldo Moura

Que bom ficar assim, horas inteiras,
Fumando... e olhando as lentas espirais...
Enquanto, fora, cantam os beirais
A baladilha ingênua das goteiras.

E vai a névoa, a bruxa silenciosa,
Transformando a cidade, mais e mais,
Nessa Londres longínqua, misteriosa
Das poéticas novelas policiais...

Que bom, depois, sair por essas ruas,
Onde os lampiões, com sua luz febrenta,
São sóis enfermos a fingir de luas...

Sair assim (tudo esquecer talvez!)
E ir andando, pela névoa lenta,
Com a displicência de um fantasma inglês...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

XVII

Quando eu morrer e no frescor de lua
Da casa nova me quedar a sós,
Deixai-me em paz na minha quieta rua...
Nada mais quero com nenhum de vós!

Quero é ficar com alguns poemas tortos
Que andei tentando endireitar em vão...
Que lindo a eternidade, amigos mortos,
Para as torturas lentas da expressão!...

Eu levarei comigo as madrugadas,
Pôr de sóis, algum luar, asas em bando,
Mais o rir das primeiras namoradas...

E um dia a morte há de fitar com espanto
Os fios de vida que eu urdi, cantando,
Na orla negra do seu negro manto...

Fonte:
Mário Quintana. A Rua dos Cataventos. Publicado em 1940.

Aparecido Raimundo de Souza (Coriscando) 11: Irrefutável


PRISCILA CHEGA PARA O PAI e, na sua inocência dos dez  anos, manda a pergunta sem  pensar duas vezes no que poderá acontecer logo em seguida:

— Pai, paizinho... Posso lhe perguntar uma coisa?

— Claro, minha filha.

— O senhor me ama?

— Muito, Priscila.

— Me ama como ama a mamãe?

— Amo as duas da mesma maneira, ou melhor, amo de maneiras e formas iguais. Só que, embora sendo amores iguais, são amores com maneiras e sentidos diferentes.

— Como é lá isto, pai, se o senhor acabou de dizer que embora sendo amores iguais, têm sentidos diferentes?

— Vou tentar explicar de maneira bem simples. O meu amor por você Priscila, é um amor de pai para filha. É aquele amor fantástico, puro, sem manchas, que está guardadinho num cantinho oculto, escondidinho bem aqui dentro do meu peito. Que aflora no sopro do menor movimento que eu faça quando lhe beijo e lhe abraço. Já o que sinto por sua mãe não se descreve... É verossímil.

— É o que, pai? Não entendi...

— Verossímil é aquele amor que parece verdadeiro e, na verdade é.

— O senhor tem certeza disto, pai? É de fato verdadeiro ou não?

— Claro que é, filha. O amor que sinto por sua mãe é como o amor que você nutre por esta sua bonequinha Barbie. Você a ama incondicionalmente, ou seja, não fica sem ela. Onde você vai, a leva com você, como se fizesse parte do seu corpo. Tenho certeza que se você a perder, morreria  de tédio e de solidão. Diga sinceramente para seu pai: você ficaria sem a sua  bonequinha?

— Não, pai.

— Pois então, minha filha. Eu não ficaria sem o amor da sua mãe. Ela é essencial. É dela... Ou melhor, é dela que sai a minha felicidade e que me mantém vivo e respirando. Em outras palavras, é do coração dela que brota todo o amor incondicional que preenche a minha vida. Sem a sua mãe, seu papito não seria ninguém...

— O senhor sabe por que o pai da Débora foi embora?

— Ele foi embora? Desconhecia este fato... Acaso você sabe o motivo, minha princesa?

— Paizinho, o senhor sabe tanto quanto eu que ele foi embora...  

— Eu sei? De onde você tirou esta ideia maluca?

— Não é maluca, pai. O senhor sabe que ele foi embora e também sabe o motivo. A Debora me falou que foi por sua causa. Ela me segredou que toda noite, antes de ‘vim embora pra casa’, o senhor passa na lanchonete da mãe dela e bebe uma cerveja. Depois vocês vão lá para os fundos e trocam afagos, e se beijam...

O pai da garota quase teve um piripaque:

— Mentira, minha filha. Sua amiguinha Débora é uma grande mentirosa. E uma tremenda fofoqueira. Não dê ouvidos ao que ela lhe conta. Se esta desgraça de conversa fiada chega aos ouvidos da sua mãe... Jesus, Maria, José... Pelo amor de Deus, filha, esquece este assunto...

— Não tem como, pai. Assiste a estes vídeos que a Débora acabou de me mandar pelo meu whatsapp.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Prêmio Jabuti (Livros Premiados) – 2 –


Errata: Falha técnica. Na postagem anterior o livro “Galo, galo, não me calo” a autora é Sílvia Orthof. Cláudio Martins, como havia colocado é o ilustrador que ganhou o Prêmio Jabuti neste livro.

= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Marina Colasanti
Antes de virar gigante e outras histórias


Mestra do ritmo e das palavras, Marina Colasanti transita por diferentes gêneros literários. Nesta coletânea, seu rico universo aparece em poesias, crônicas e contos. Narrativas emocionantes, animais protagonistas, memórias e situações insólitas levam o leitor a ter outras visões do mundo
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Ricardo Azevedo
Fragosas brenhas do mataréu


No século XVI, em Portugal, um garoto de 15 anos é condenado a trabalhar na frota portuguesa e embarcar para o novo mundo. A viagem acaba em naufrágio e, quando consegue pisar em terra firme, o menino sobrevive meses solitário, até encontrar um povoado. Entre paixões, perigos e descobertas, há o confronto das verdades estabelecidas e o desassossego de uma vida cheia de indagações
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Mário Teixeira
A linha negra


Em 1865, o brasileiro Casimiro é mandado para lutar na Guerra do Paraguai. O jovem vive terríveis experiências de combate e, nas noites de lua cheia, enfrenta um descontrole que deixa cicatrizes em seu corpo. Como se tudo isso não bastasse, ele se apaixona pela bela Francisca, a favorita do ditador paraguaio. Porém, o rapaz não fica muito tempo junto de sua amada, pois é enviado a uma perigosa trincheira: a linha negra. É então que sua jornada fica mais perigosa e imprevisível.

Em 2015, o livro Linha negra ganhou o prêmio Jabuti na categoria juvenil e o prêmio Glória Pondé de Literatura Juvenil, da Biblioteca Nacional.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Gilles Eduar
Alfabeto de histórias


Para cada letra do alfabeto, Gilles Eduar criou uma história engraçada e cheia de brincadeiras. Os textos curtos trazem o máximo de palavras com a letra em questão, sempre mostrando bichos em situaçõesfora do comum. Além disso, o autor propõe atividades para o leitor interagir com o livro e relacionar texto e imagem.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Mariana de Mello e Souza
África e Brasil africano


Este livro traz um consistente panorama da formação do continente e das sociedades africanas, o comércio de escravos para a América e a integração de seus descendentes à nossa sociedade, até a contemporaneidade. A obra apresenta ainda rica iconografia.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Marcelo Xavier
Festas: o Folclore do Mestre André


Agora também com CD de áudio, o livro aborda as origens e características das festas populares brasileiras; os vários tipos de festas populares; as influências e adaptações que as festas receberam ao longo dos anos; as crenças, a fé e a alegria que movem essas festas; o folclore brasileiro: origens, manifestações, influências no nosso cotidiano etc.; modelagem e escultura; criação e construção de cenários.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Raquel Coelho
O Teatro


Num texto fluente, gostoso, criando um clima de proximidade e cumplicidade com o leitor, Raquel Coelho desfila importantes informações sobre o teatro, fundamentadas com cuidado e seriedade, mostrando cenários, personagens, objetos, fatos relativos a essa manifestação artística. Seu texto, acompanha do de belíssimas ilustrações, também de sua autoria, feitas de retalhos, pequenos objetos, bonecos e sucata, leva o leitor, seja ele criança ou adulto, a percorrer os caminhos do teatro, saboreando cada página com prazer. Um livro que fala de arte feito com arte.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Sílvia Orthof
A vaca Mimosa e a mosca Zenilda


Mimosa é tão linda que Zenilda decide ficar por perto para ver se fica bonita também. Mas a mosca incomoda demais! Zune na orelha e deixa Mimosa vesga ao parar bem no meio do nariz dela!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Marcelo Xavier
Asa de Papel


Personagens e objetos de cena, moldados em massa plástica, montados em pequenos cenários e fotografados, mostram uma sucessão de quadros bem-humorados, líricos, intrigantes, surrealistas neste que é um dos livros mais premiados de Marcelo Xavier. O tempo todo a personagem, sempre a mesma em situações variadas, está lendo um livro que, na verdade, é a grande personagem, a asa de papel que nos transporta, sempre apresentado como fonte de prazer, de alegria, de informação, de sabedoria, como companhia, como refúgio. O texto curto, exato, poético, sem narrar propriamente uma história, conduz o leitor em um passeio cada vez mais repleto de expectativa, para um final inesperado
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Moacyr Scliar
Ciumento de carteirinha


Capitu traiu ou não? Numa disputa entre dois colégios, estudantes devem debater a questão e encenar o julgamento da personagem de Dom Casmurro.

Fonte:
Ebook da Equipe Coletivo Leitor.
https://www.coletivoleitor.com.br

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Rachel de Queiroz (O Vendedor de Ovos)


O DELEGADO — ... Bem, mas o senhor há de confessar que isso não é coisa que se faça a homem...

O PRESO — E agora pergunto eu ao senhor: e aquilo é homem? Será que pega em enxada, veste roupa de couro, monta a cavalo? Vai ver, nunca soube tirar o leite de uma vaca, nunca soube o que é limpar uma carreira de mato. Agora, viver desinquietando as famílias, comprando ilusão pras mulheres toda vez que vai na cidade — isso ele sabe. É trazer vidro de extrato, corte de estampado, lata de pó, até rede de fábrica! E ele não é nem galego, pra se fazer de mascate...

DELEGADO — Mas o homem não é negociante de ovos? Compra os ovos e paga com mercadoria.

PRESO — Ora, ovos, seu Delegado! Sei que os ovos estão muito caros — mas, do jeito que ele conta, nunca vi galinha nenhuma produzir assim. Lá em casa tem onze galinhas, mas botar o que as mulheres dizem, só cada uma botando três ovos por dia. E nenhuma choca nem levanta a postura. Faz meses que eu não vejo um ovo frito ou uma mal assada de toucinho no meu prato. Tudo é pro seu Anjinho! Até o nome dele, seu Delegado. Não quer se chamar nem José, nem Chico, nem Manuel, como qualquer homem... Como é o nome de Vossa Senhoria?

DELEGADO — Clodomir.

PRESO — Bem... Não é nome de santo que eu conheça... mas pelo jeito se vê que é nome de homem. Agora aquilo — diz que se batizou Ângelo, mas se as moças gostam de chamar de Anjinho, que é que se vai fazer? E fosse só o nome. Mas a vida dele é só, quer de baixo, quer de cima, pelos trens, comprando ovo aqui, vendendo ovo na cidade. Agora deu pra andar com um rádio, um radinho pequenininho, uma porqueira, canta fino como um danado, mas as mulheres acham a coisa mais linda. Chega pelas casas nas horas em que tudo que é homem saiu pro trabalho e já de longe o mulherio escuta o rádio estralando e botando a boca no mundo. No meu tempo, aquelas cantigas de beijo, com licença da palavra, só se cantava era em pensão de zona — mas agora o rádio ensina em qualquer casa de família... A gente, homens, conhece que seu Anjinho passou por ali porque, ao chegar em casa, só o que encontra é mulher andando pra dentro e pra fora e se esgoelando em samba carioca. E a meninada miúda pelos terreiros chutando pedra e gritando “Gol! Gol de Amarildo!”, porque naquele rádio ele também bota futebol. Aliás, esse negócio de mulher é tão medonho por rádio que uma moça nossa conhecida, que veio do Rio de Janeiro passar uns tempos com a mãe, trouxe um consigo e, até quando andava pelas casas, de visita, pagava um moleque pra ir na frente, carregando a caixotinha do rádio, cantando como um desesperado...

... Sim, seu Delegado, não estou fugindo do assunto, falar em rádio é o mesmo que estar falando no seu Anjinho. O senhor acha que ele está muito maltratado? Bem, também nunca foi bonito, um pouco mais amassado aqui ou ali, não faz alteração... A graça dele era aquele dente de ouro, mas isso ninguém arrancou. Pode ter amolengado um pouco, mas está lá, o beiço inchado é que não deixa ver direito. O cabelo? Ora, cabelo cresce. Diz que cabelo raspado, quando cresce, vem até mais cacheado...

... Seu Delegado, o senhor sabe qual era a outra mercadoria dele? Livreto de modinha! Achava pouco o rádio, ainda trazia o livreto pra ensinar as cantigas. Era botar o rádio tocando e as meninas em redor, de livreto aberto, acompanhando as letras. Deus que me perdoe, parecia até moça de coro aprendendo bendito! E pensar que mandei ensinar minhas filhas a ler pra semelhante resultado!

DELEGADO — E como é que você explica o braço quebrado?

PRESO — Quebrado? Aquilo é muito é dengoso! Seu Delegado, ninguém quebrou braço nenhum, não. Pode ter desmentido a junta, foi o mais que aconteceu: desmentiu. Ora, quebrar! Isso é parte daquele mimoso! Ninguém é perverso pra andar quebrando osso alheio. Sim, agora quebrar — quebrou foi a cesta dos ovos...

DELEGADO — Sessenta ovos.

PRESO — Está vendo o que eu disse? Sessenta ovos! O senhor já pensou que arraso nas capoeiras! Ora veja! Sessenta ovos! De onde terá saído?

DELEGADO — E, fora os ovos, ele ainda pede indenização pelas fazendas extraviadas.

PRESO — Extraviadas? Aqueles panos que ele carregava num saco? Seu doutor Clodomir, ninguém ficou com fazenda dele, não! Ora, pra que a gente queria as chitas dele? O que os meninos fizeram foi arrumar uma saia nele... com os panos mais floridos... Vossa senhoria me desculpe, mas todo mundo achava graça, e agora só de me lembrar ainda me dá vontade de rir... Os meninos tocando sanfona e obrigando o seu Anjinho a dançar, arrastando a saia... Era ver uma cigana. Ele diz que era à força — mas o diabo é tão sem sentimento na cara que assim mesmo requebrava…

Fonte:
Rachel de Queiroz. A casa do Morro Branco. Publicado em 1999.

Professor Garcia (Poemas do Meu Cantar) Trovas – 5 –

A ave presa, quando voa
de volta ao seu velho ninho...
Canta feliz e perdoa,
por ser poeta e passarinho!
= = = = = = = = = = =
Ao palhaço velho e manco
no picadeiro é preciso,
disfarçar um riso franco,
por trás de um triste sorriso!
= = = = = = = = = = =
Aos pés, da Virgem Maria,
enquanto a cega rezava...
Rezava, e nem percebia
que a Virgem também chorava!
= = = = = = = = = = =
Canarinho, nossos cantos
têm semelhanças demais...
Fazes preces de teus prantos
e eu, orações dos meus ais!
= = = = = = = = = = =
Como modelar meu sonho
que fala de amor e paz,
se bem cedinho, é risonho
e, ao por do sol, se desfaz?...
= = = = = = = = = = =
Das juras que nós fizemos
o que resta se resume,
em falsas juras sem remos,
nos mares do teu ciúme!
= = = = = = = = = = =
De joelhos, mantendo a calma,
sinto na velha abadia
que, o sino também tem alma,
quando bate ao fim do dia!
= = = = = = = = = = =
Deus põe o ventre do amor,
até na planta que gera.
Por isso, a roseira em flor,
eclode na primavera!
= = = = = = = = = = =
Do fogo antigo apagado
na silhueta de um fogão,
quantas cinzas do passado
sobre as cinzas do meu chão!
= = = = = = = = = = =
Não reclames do teu pranto
nem de alguma hipocrisia,
que há uma gota, em cada canto,
na aridez de cada dia!
= = = = = = = = = = =
Não sei por que me receias,
se estou com outras mulheres;
se a mim, dizes que me odeias
e aos outros, que tu me queres!
= = = = = = = = = = =
No silêncio, em que medito,
nas horas de solidão,
penso na luz do infinito
e esqueço a luz da razão!
= = = = = = = = = = =
O melhor conselho, filho,
busca na voz do mais velho,
que tem sempre o intenso brilho
da luz do santo evangelho!
= = = = = = = = = = =
Ó, velho mar, tu traduzes,
de qualquer ponto ao teu cais...
A dor de incontáveis cruzes,
nos disfarces de teus ais!
= = = = = = = = = = =
Para o teu sonho indiscreto
e, o meu sonho, inconsequente,
peço ao Sublime Arquiteto
que inverta os sonhos da gente!
= = = = = = = = = = =
Passa a procissão na rua.
No meio da multidão...
A solidão continua,
sendo a mesma solidão!...
= = = = = = = = = = =
Por mais pedinte que seja,
e insista com tanto ardor;
mesmo assim, não se apedreja
quem mendiga o pão do amor!
= = = = = = = = = = =
Quando a noite, de surpresa,
apaga a luz do luar;
a luz da paz fica acesa
nas luzes do teu olhar!
= = = = = = = = = = =
Quanto mais ando sozinho,
mais em ti, penso e medito;
como quem traça um caminho
no caminho do infinito!
= = = = = = = = = = =
Quem contempla o mar, nem sabe
que, essa voz que não se cansa;
pede aos céus, que não se acabe
a voz de nossa esperança!
= = = = = = = = = = =
Quem espalha flor a esmo,
sem fazer mal a ninguém,
deixa das mãos de si mesmo,
perfume nas mãos de alguém!
= = = = = = = = = = =
Se o velho mar, não declina,
reclama da vida dura.
É sempre a mesma rotina,
dentro da mesma clausura!
= = = = = = = = = = =
Sou ave presa e canora,
que embarga a voz na garganta,
fingindo a paz quando chora
chorando a dor quando canta!
= = = = = = = = = = =
Toda tarde escuto vozes,
depois que, o sol diz adeus!...
Já são das dores atrozes
do outono dos dias meus!
= = = = = = = = = = =
Velha beata, de joelhos,
em silêncio e, à meia luz,
decifra santos conselhos
que há no silêncio da cruz!

Fonte:
Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020.
Livro enviado pelo autor.

Rubem Braga (Valente menina)


Debruçado cá em cima, no 13.° andar, fiquei olhando a porta do edifício à espera de que surgisse o seu vulto lá embaixo.

Eu a levara até o elevador, ao mesmo tempo aflito para que ela partisse e triste com a sua partida. Nossa conversa fora amarga. Quando lhe abri a porta do elevador esbocei um gesto de carinho na despedida, mas, como eu previra, ela resistiu. Pela abertura da porta vi sua cabeça de perfil, séria, descer, sumir.

Agora sentia necessidade de vê-la sair do edifício, mas o elevador deve ter parado no caminho, porque demorou um pouco a surgir seu vulto rápido. Desceu a escada fez uma pequena volta para evitar uma poça de água, caminhou até a esquina, atravessou a rua. Vi-a ainda um instante andando pela calçada da transversal, diante do café; e desapareceu, sem olhar para trás.

“Valente menina!” — foi o que murmurei ao acaso lembrando um verso antigo de Vinicius de Moraes; e no mesmo instante me lembrei também de uma frase ocasional de Pablo Neruda, num domingo em que fui visitá-lo em sua casa de Isla Negra, no Chile. “Que valientes son las chilenas!” dissera ele, apontando uma mulher de maiô que entrava no mar ali em frente, na manhã nublada; e explicara que estivera andando pela praia e apenas molhara os pés na espuma: a água estava gelada, de cortar.

“Valente menina!” Lá embaixo, na rua, era tocante seu pequeno vulto, reduzido pela projeção vertical. Iria com os olhos úmidos ou sentiria apenas a alma vazia? “Valente menina!” Como a chilena que enfrentava o mar, em Isla Negra, ela também enfrentava sua solidão. E eu ficava com a minha, parado, burro, triste, vendo-a partir por minha culpa.

Deitei-me na rede, sentindo dor de cabeça e um certo desgosto por mim mesmo. Eu poderia ser pai dessa moça — e me pergunto o que sentiria, como pai, se soubesse de uma aventura sua, como essa, com um homem de minha idade. Tolice! Os pais nunca sabem nada, e quando sabem não compreendem; estão perto e longe demais para entender. Ele, esse pai de quem ela falava tanto, não acreditaria se a visse entrar pela primeira vez em minha casa, como entrou, com sua bolsa a tiracolo, o passo leve e o riso nervoso. “Como você pensava que eu fosse?” Lembro-me de que fiquei olhando, meio divertido, meio assustado, aquela mocetona loura e ágil que só falava me olhando nos olhos, e me fez as confissões mais íntimas e graves entremeadas de mentiras pueris — sempre me olhando nos olhos. Disse-me que a metade das coisas que me contara pelo telefone era pura invenção — e logo inventou outras. Senti que suas mentiras eram um jeito enviesado que ela tinha de se contar, um meio de dar um pouco de lógica às suas verdades confusas.

A ternura e o tremor de seu duro corpo juvenil, seu riso, a insolência alegre com que invadiu minha casa e minha vida, e suas previsíveis crises de pranto — tudo me perturbou um pouco, mas reagi. Terei sido grosseiro ou mesquinho, terei deixado sua pequena alma trêmula mais pobre e mais só?

Faço-me estas perguntas, e ao mesmo tempo me sinto ridículo em fazê-las. Essa moça tem a vida pela frente, e um dia se lembrará de nossa história como de uma anedota engraçada de sua própria vida, e talvez a conte a outro homem olhando-o nos olhos, passando a mão pelos seus cabelos, às vezes rindo — e talvez ele suspeite de que seja tudo mentira.

Fonte:
Rubem Braga. in Conto Brasileiro.

Prêmio Jabuti (O que é e Livros Premiados) - 1 -


O Prêmio Jabuti foi criado em 1958 pelos dirigentes da Câmara Brasileira do Livro (CBL), interessados em premiar aqueles do ramo literário que mais se destacassem em cada ano. A primeira edição aconteceu em 1959, onde o escritor Jorge Amado recebeu o prêmio maior na categoria romance com “Gabriela, cravo e canela” e a Editora Saraiva foi premiada Editora do Ano.

As categorias e prêmios foram alteradas ao longo dos anos. Em 2018, foi completamente repaginado buscando aproximar mais o leitor dos editores e autores. Uma grande novidade foi o lançamento da categoria Formação de Novos Leitores que visa reconhecer iniciativas de estímulo à leitura.

Em 2020 aconteceu a 62ª edição do Prêmio Jabuti.

E porque um Jabuti?

Como foi que um animal tão simples ganhou a simpatia dos dirigentes da premiação? O jabuti é um animal facilmente encontrado em diversas regiões brasileiras. No período de criação do prêmio, o ambiente literário era marcado pelo modernismo, com suas inspirações nacionalistas e a ideia de valorização da cultura popular, das raízes indígenas e da cultura africana.

O caminho do jabuti do mato para a premiação se inicia em Reinações de Narizinho, livro infantil do escritor Monteiro Lobato. Na obra, o jabuti é um dos personagens. Ele é lento, mas obstinado! A partir daí tudo é história e esse simpático animal foi eleito o símbolo da premiação.

OBRAS PREMIADAS DAS EDITORAS DO COLETIVO LEITOR

O Coletivo Leitor busca promover o incentivo à leitura e a troca de
conhecimentos sobre literatura, ensino literário e tudo que relacione o mundo dos livros ao universo da educação. Em seu acervo, reúne obras de seis grandes selos editoriais: Ática, Scipione, Saraiva, Atual, Formato e Caramelo.
 
Somando as publicações de todos esses temos mais de 1.600 obras
em nosso catálogo! Dentre elas, estão livros de autores nacionais e
estrangeiros, traduções e muitos deles foram indicados e venceram
premiações importantes do mundo literário.
 
Neste material, separamos algumas obras ganhadoras do Prêmio
Jabuti, uma das mais importantes premiações do nosso país. Você
poderá conferir quais livros ganharam o prêmio.

Livros Destacados

Raul Pompéia
O Ateneu


Sérgio está prestes a enfrentar a educação repressora do famoso internato Ateneu. Lá, ele terá de lidar com a brutalidade dos colegas e do diretor, superando a falta da família e o recém-abandonado universo infantil. As marcas desse mundo constritor permanecerão nas lembranças do adulto, que escreve melancolicamente suas memórias. Nessa narrativa a um só tempo doce e amarga, Raul Pompéia traça um retrato impressionista do processo de formação da individualidade flagrado em seus momentos mais decisivos.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Ana Maria Machado
Histórias Meio ao Contrário


Nesta narrativa ao contrário, o príncipe e a princesa não se contentam em ser felizes para sempre – porque é assim que começa a história deles. Eles decidem fazer sua própria trajetória, numa trama cheia de surpresas.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Jane Tutikian
A cor do azul


Obra vencedora do Prêmio Jabuti de Literatura Juvenil (1984). O livro narra a turbulenta passagem da infância à puberdade. As dúvidas, as paixões, os sonhos, os medos e as descobertas da narradora-personagem são um convite para vermos o mundo com novos olhos. Uma obra de rara sensibilidade.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Giselda Laporta, Ganymedes José
Awankana, o segredo da múmia Inca


Em 1994, quatro pessoas são encontradas mortas no Museu de Arqueologia Latino-Americano, ao lado de uma múmia inca. No chão, uma faca cerimonial de ouro, com a figura de um deus alado incaico. Tão logo tomam conhecimento dessa notícia, Sach’a e o professor Ortegas partem de Cuzco para São Paulo. Havia chegado a hora de encontrar o elo perdido, de tentar desfazer um mistério de quinhentos anos.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
José Paulo Paes
Poemas para brincar


Um clássico da poesia infantil brasileira em que José Paulo Paes propõe a seus leitores brincar com a língua portuguesa. Os poemas apresentam jogos de palavras e até um abecedário com significados inusitados, que diverte, instiga a criatividade das crianças e ainda faz pensar.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Claudio Martins
Galo, galo,
não me calo


História do galo da menina Fanci, moradora de uma rua de Copacabana, numa casa pequena com quintal, no meio da cidade do Rio de Janeiro. Prosa poética que narra o conflito entre o galo, que todas as manhãs canta para saudar o Sol, e os moradores da vizinhança, que vivem nos altos edifícios próximos à casa de Fanci e que tentam calar o galo a todo custo. Uma história ecológica que mostra a cidade grande com seus carros, buzinas, fumaça, prédios, lixo expulsando a natureza para longe de si.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Lourenço Casarré
Nadando contra a morte


Vinda do interior para trabalhar como doméstica com uma família de classe média, Maria do Amparo, 14 anos, é estuprada pelo patrão e engravida. A menina consegue esconder da patroa a gravidez, mas não a criança. E recebe um ultimato: que se livre dela. Desesperada, depois de andar a esmo pelas ruas, Maria do Amparo se atira no rio com a filhinha. A história de Maria do Amparo e seu salvamento por dois esportistas (um nadador e um remador) é narrada por meio de depoimentos da menina, do nadador, do remador, do capitão do Corpo de Bombeiros, que tira todos do rio, e de outras personagens que presenciaram o fato. Numa agilidade de reportagem, a história tem a dose exata de emoção. Adaptado para o cinema no longa “Amparo”, dirigido por Ricardo Pinto e Silva.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Ana Maria Machado
Fiz voar o meu chapéu


Prosa poética deliciosa, com rima e ritmo bem marcados. Um chapéu que voa, voa… e vai passando por riachos, coronéis, senhoras, caciques, marinheiros, botes e cachoeiras até virar ninho de passarinho (com varanda e tudo!). O texto é constituído por dísticos cheios de musicalidade. O ponto de vista é de uma criança que traduz com humor, sonoridade e simplicidade as brincadeiras do seu cotidiano: no caso, fazer voar o seu chapéu.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Raquel Coelho
A arte da animação


Como pessoas curiosas inventaram estranhas engenhocas com luzes e desenhos para dar vida à animação e, com isso, criaram efeitos mirabolantes para a época, século XIX. Além da origem da animação, o leitor poderá saber sobre a evolução dessa arte até os dias de hoje, quando o computador virou um instrumento de apoio para o animador. O texto fala também das várias técnicas usadas, dá exemplos de filmes que utilizaram a animação como recurso de enriquecimento gráfico. As ilustrações, feitas de pequenos objetos, sucata, retalhos, vão envolver ainda mais o leitor nesse texto gostoso e curioso sobre a arte da animação.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Ricardo Azevedo
Contos de enganar a morte

“Sair desta para uma melhor” não parece ser exatamente o desejo de Zé Malandro, do médico, do ferreiro e de um jovem viajante. O que eles querem mesmo é gozar a vida, e acham que é possível dar um jeitinho de tapear dona Morte. Mas acontece que com Ela não tem conversa mole que resolva. Quando chega a hora, não adianta bater o pé. É o que aprendem os personagens dessas prazerosas narrativas populares recolhidas e recontadas por Ricardo Azevedo neste livro. O médico, por exemplo, faz a Morte prometer que somente seria levado assim que terminasse de rezar o Pai-Nosso. Quando ele anuncia que demorará anos para recitar o final da prece, ela vai embora contrariada. O ferreiro manda sua esposa dizer que ele não está em casa toda vez que a danada bate à sua porta. O jovem viajante abriga-se em uma terra onde a vida é eterna. E Zé Malandro, muito espertamente, encontra mais de uma maneira de enganar sua algoz.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
Luiz Vilela
Sofia e outros contos

Seis contos sobre simplicidade: a Sofia dos tomates, um regalo de Natal, um passado, um monstro, uma lagartixa e… amanhã eu volto. Divertidas, comoventes, engraçadas, líricas ou trágicas, algumas das melhores histórias de um dos mais notáveis contistas brasileiros estão reunidas nesta obra, que foi 3º lugar no Prêmio Jabuti 2010, na categoria Juvenil.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

Continua… mais livros premiados.

Fonte:
Ebook da Equipe Coletivo Leitor.