segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Adega de Versos 66: Ademar Macedo

 

Júlia Lopes de Almeida (As Rosas)

O meu jardineiro era um homem de feio aspecto, todo coberto de pelos eriçados, vermelhaço de pele e de olhar desconfiado e sombrio.

Toda a gente me dizia:

– Olha que aquele sujeito compromete a tua casa! Põe-no fora!

Mas, como ele era calado, metido consigo, e porque, principalmente, tratava muito bem das minhas flores, eu levantava os ombros:

– Não era tanto assim! O pobre homem! Aqueles modos de animal bravio, não os tinha decerto por culpa sua!

E assim íamos vivendo.

Uma tarde, em setembro, desci ao jardim. Que crepúsculo aquele! No céu, esgarçado de nuvens, a lua, em foice, brilhava já, e com tamanha doçura, que dava vontade na gente de não fazer outra coisa senão olhar para ela! Havia também no ar, transparente e calmo, tal delicadeza de colorido, que a minha alma ficaria nela estática, se os olhos, percorrendo tudo, não vissem logo a infinidade de rosas, que as minhas roseiras prometiam.

– Quantos botões, Mãe do Céu!

– Tudo isto abre esta noite. – resmungou com voz soturna o jardineiro... – Amanhã haverá centenas de rosas no jardim!

A minha fantasia desencadeou-se. Centenas de rosas frescas, todas abertas, deveriam dar uma graça nova àquele recanto, pouco acostumado a semelhante fartura de flores.

Eu mesma iria querer colhê-las ainda frescas de orvalho: mandaria um ramalhete a minha mãe, cobriria de rosas a sepultura de minha filha, encheria de rosas a minha casa...

E, usando de uma forma imperativa e severa, pouco comum em mim, disse ao medonho e hirsuto jardineiro que não tocasse nenhuma flor! Seria eu quem as colhesse todas!

Ele curvou-se, em obediência.

Nessa noite, fui cedo para a cama, preparando-me para madrugar no dia seguinte. E tal era o meu propósito, que peguei logo num sono doce e tranquilo.

Eram seis horas e já eu estava no jardim. Como quem desperta de um sonho, apatetada, olhei à roda e só vi folhas... folhas e mais folhas verdes! Nem uma flor!

Gritei pelo jardineiro, e ele veio, como por encanto, num momento, mas com tal jeito e tão demudadas feições, que tive medo.

Os olhos, de vermelhos, eram só sangue; a barba áspera, longa e ruiva estava revolvida como por um vento de loucura, e nos grossos braços tisnados tinha sinais fundos de unhadas...

– As minhas rosas?! – perguntei-lhe, disfarçando o pavor que a sua figura estranha me infundia.

– Estão aqui! – disse ele, com voz grossa, como um baixo de órgão de catedral; e caminhou para o quarto.

Fui atrás dele, espantadíssima, mal segurando a saia do vestido, que se não molhasse na relva – cheia de raiva e curiosa ao mesmo tempo.

O quarto do jardineiro era ao fundo, entre a horta e o jardim, ao pé de dois limoeiros da Pérsia, de gostoso cheiro. Ensombrando a porta, havia uma latada de maracujás e, à esquina, encostados à parede, estavam os utensílios de jardinagem.

– Que irá querer ele? – perguntava a mim mesma. De repente, estaquei:

– Não entro! – respondi, a um gesto que me fazia.

– Então, olhe daí! – replicou o homem bruscamente, escancarando a porta.

Encostei-me ao umbral para não cair. No meio do quarto, sob uma avalanche de rosas perfumadíssimas, entrevi o corpo de uma mulher.

– Era minha filha – disse o jardineiro, entre soluços que mais se assemelhavam a uivos que a dor humana; – Um dia abandonou-me, correu por esse mundo... Esta noite, veio bater ao portão, muito chorosa... que o amante lhe batera... Ouviu bem, senhora?! Quis fazê-la jurar que desprezaria agora esse bandido, para viver só no meu carinho... só no meu carinho!... Eu havia de tratá-la com todo o mimo, como se fora uma criancinha... Fiz-lhe mil promessas, de joelhos, com lágrimas... Sabe o que me respondeu, a tudo?! Que amava ainda o outro! Cego de raiva, matei-a; ah! matei-a e não me arrependo... Antes morta por um pai honrado do que batida por um cão qualquer... Depois de morta... achei-a linda, linda! mas, coitadinha! vinha miserável, quase nua... tive pena, e para fazê-la aparecer bem a Nossa Senhora, vesti-a de rosas!...

Fonte:
Júlia Lopes de Almeida. Ânsia eterna. 2. ed. rev. Brasília : Senado Federal, 2020. Publicada originalmente em 1903.

Fernando Pessoa (Diário de Bernardo Soares) “5”

(continuação de 11. Litania)


19.
No recôncavo da praia à beira-mar, entre as selvas e as várzeas da margem, subia da incerteza do abismo nulo a inconstância do desejo aceso. Não haveria que escolher entre os trigos e os muitos [sic], e a distância continuava entre ciprestes.

O prestígio das palavras isoladas, ou reunidas segundo um acordo de som, com ressonâncias íntimas e sentidos divergentes no mesmo tempo em que convergem, a pompa das frases postas entre os sentidos das outras, malignidade dos vestígios, esperança dos bosques, e nada mais que a tranquilidade dos tanques entre as quintas da infância dos meus subterfúgios… Assim, entre os muros altos da audácia absurda, nos renques das árvores e nos sobressaltos do que se estiola, outro que não eu ouviria dos lábios tristes a confissão negada a melhores insistências. Nunca, entre o tinir das lanças no pátio por ver, nem que os cavaleiros viessem de volta da estrada vista desde o alto do muro, haveria mais sossego no Solar dos Últimos, nem se lembraria outro nome, do lado de cá da estrada, senão o que encantava de noite, com o das mouras, a criança que morreu depois, da vida e da maravilha.

Leves, entre os sulcos que havia na erva, porque os passos abriam nadas entre o verdor agitado, as passagens dos últimos perdidos soavam arrastadamente, como reminiscências do vindouro. Eram velhos os que haveriam de vir, e só novos os que não viriam nunca.

Os tambores rolaram à beira da estrada e os clarins pendiam nulos nas mãos lassas, que os deixariam se ainda tivessem força para deixar qualquer coisa.

Mas, de novo, na consequência do prestígio, soavam altos os alaridos findos, e os cães tergiversavam nas áleas vistas. Tudo era absurdo, como um luto, e as princesas dos sonhos dos outros passeavam sem claustros indefinidamente.

20.
Várias vezes, no decurso da minha vida opressa por circunstâncias, me tem sucedido, quando quero libertar-me de qualquer grupo delas, ver-me subitamente cercado por outras da mesma ordem, como se houvesse definidamente uma inimizade contra mim na teia incerta das coisas. Arranco do pescoço uma mão que me sufoca. Vejo que na mão, com que a essa arranquei, me veio preso um laço que me caiu no pescoço com o gesto de libertação. Afasto, com cuidado, o laço, e é com as próprias mãos que me quase estrangulo.

21.
Haja ou não deuses, deles somos servos.

22.
A minha imagem, tal qual eu a via nos espelhos, anda sempre ao colo da minha alma. Eu não podia ser senão curvo e débil como sou, mesmo nos meus pensamentos.

Tudo em mim é de um príncipe de cromo colado no álbum velho de uma criancinha que morreu sempre há muito tempo.

Amar-me é ter pena de mim. Um dia, lá para o fim do futuro, alguém escreverá sobre mim um poema, e talvez só então eu comece a reinar no meu Reino.

Deus é o existirmos e isto não ser tudo.

Fonte:
Fernando Pessoa. Livro do Desassossego. Disponível em Domínio Público.

domingo, 16 de janeiro de 2022

A. A. de Assis (Saudade em Trovas) n. 26: Milton Nunes Loureiro

 

Benedita Azevedo (O Príncipe e a Professora)

- Sabe o que a Diana me perguntou?
 
- Não, o quê?

- Se eu tinha ficado mais riquinho com o que roubei da minha irmã, vendendo o hotel.

- E o que você respondeu?

- O que você acha que eu deveria responder para uma criança de dez anos?

- Ela só tem dez anos, mas sabe te hostilizar. Devem ser estes os comentários dos teus parentes.

- Eles não têm o que comentar. Ainda que eu tivesse vendido, pois era tudo do meu pai e eu era filho único. As pessoas que me hostilizam, como você diz, foram beneficiadas pelo meu pai. Até hoje vivem do que ele construiu. Só que a ganância não as deixa ver isso. E se um dia pudessem, elas tirariam tudo dos herdeiros diretos do meu pai, que na verdade, sou eu e os meus filhos. Ou você acha que eles gostam de mim? Os cuidados e álbuns onde estão fotos do meu pai, para mim, é tudo uma grande hipocrisia. Pois dele só queriam o prestígio. A prova disso é a maneira como você me encontrou. Todos sabiam que eu estava numa situação muito difícil, mas ninguém se preocupou de me ver andando na rua todo roto. Você não era parente, nem me conhecia e se preocupou comigo. As pessoas que tiveram todo o apoio do meu pai, que viveram comigo desde que nasci e sabiam como fui criado, não tiveram a sensibilidade de perceber que eu precisava de apoio. Mesmo que fosse um pouco de atenção, uma palavra de carinho.

- Será que estavam conscientes da tua real situação?

- Sabiam. Para completar a minha desgraça, minha irmã entra lá em casa com uma ordem judicial para pegar uns móveis que eram dela. Eu nunca disse que não os entregaria. Foi um golpe mortal em nosso relacionamento.

- Ela precisava dos móveis para quê, se você já lhe doara o sítio com a casa toda mobiliada? De porteira fechada, não é assim que dizem?

- Ela não precisava deles, vendeu-os a preço de banana podre.

- Não acredito que alguém seja tão insensível a tal ponto! A não ser que desconhecesse a situação grave pela qual você passava.

- Conhecia sim. Ela foi à minha casa perguntar para minha ex-mulher por que eu andava tão maltratado na rua e soube que era porque não tínhamos dinheiro para comprar roupas.

- Mas isso aconteceu antes dela pegar os móveis?

- Ela perguntou se eu queria ficar com os móveis pelo preço que foram avaliados, mas eu não tinha como. Estava atravessando a pior fase da minha vida. Mas, ela não queria saber de nada. É por isso, e por outras coisas desse tipo que aconteceram durante a doença da minha mãe, que minha ex-mulher não perdoa a minha irmã.

- Mas, você também não tinha, ao seu lado, uma pessoa que lhe apoiasse como precisava. Ela estava por fora de tudo! Não tinha nenhuma condição de ser a âncora de que você precisava após a morte de sua mãe.

- Coitada! Ela também não estava preparada para enfrentar os dissabores que nos atingiram. Quando a conheci, tinha as pernas e o bumbum muito bonitos.

- Só por curiosidade: os homens quando escolhem uma companheira, só olham a parte física? Não se preocupam com mais nada?

- Em nenhum momento pensei que viesse a precisar de uma mulher para me orientar na vida. Mesmo porque, na época, acreditava que o advogado, meu compadre, a pessoa em quem, segundo meu pai, eu poderia confiar se um dia precisasse, cuidaria dos meus negócios honestamente.

- Essa é uma questão séria em sua vida. Mais uma pessoa usando você e se aproveitando da amizade que seu pai lhe dedicou para tirar proveito da situação. Apoiando-se no fato de você ser uma pessoa boa e sem malícia que acredita em todo mundo.

- É, parece que todos que se aproximaram de mim, depois da morte do meu pai, só queriam tirar vantagens.

- Quem, por exemplo?

- Em primeiro lugar, a minha irmã que ficou contra mim, querendo participar da partilha dos bens do meu pai. Depois o meu compadre, que aproveitando a atitude dela, vendo que eu estava sozinho no mundo, manipulou-me à vontade e acabou subtraindo quase tudo que ele administrava. Dentro da mais perfeita ordem, tudo documentado como se eu tivesse vendido. Mas isso ele vai pagar no fogo do inferno. Por fim, a Catarina que me passou uma rasteira e obrigou-me a passar para o nome dela uma fazenda que comprei em Minas. Soube depois que vendeu a propriedade e comprou um apartamento, na Lagoa, para o filho.

- E a Manuela, qual o significado dela em sua vida?

- É a mãe dos meus filhos. Uma pobre mulher que não tem culpa de nada. Apenas, talvez, tenha sonhado com uma vida milionária e sem querer, e por não ter nenhuma condição de ajudar, pois não tem nenhuma habilitação, a não ser a de dona de casa de classe média baixa, ajudou a jogar-me no fundo do poço.

- E você não trabalhava?

- Quando meu pai era vivo eu trabalhei na Companhia de Álcalis, no Banco Boa Vista e, por fim, trabalhei com ele. Quando o perdi, fiquei numa boa situação. Eu vivia dos rendimentos dos aluguéis, das ações e da firma administrada pelo meu compadre. Hoje vejo que se tivesse assumido os negócios quando meu pai morreu, poderia estar muito bem. Mas acreditei muito e perdi quase tudo. O resto você já sabe. Como já lhe falei, quando nos encontramos eu estava atravessando a pior fase da minha vida. Sofri as piores humilhações que um homem pode passar. Trabalhei nas condições mais subalternas possíveis. Vendi quadros, carnês e quando você me conheceu eu estava trabalhando de segurança numa esquina onde morava o presidente do Banco Boa Vista, onde trabalhei como advogado e que foi fundado pelo meu tio avô. Tinha de esconder-me cada vez que um conhecido passava.

- Você não acha que faltou empenho da sua parte para evitar toda essa situação?

- Acho que não fui preparado para enfrentar a vida. Fui educado como um príncipe. Os obstáculos eram tirados do meu caminho pelo meu pai. Depois da morte dele, fiquei perdido sem saber o que fazer. Fui jogado aos leões e não sabia me defender. Como um animal domesticado, fui jogado na jaula, no meio de feras selvagens. Se eu já te conhecesse, as coisas seriam diferentes.

- Talvez não. Naquela época eu ainda não era como hoje. Era também um animal domesticado, no meio de algumas feras. Só que hoje as feras viraram cordeiros. Aprendi a conquistar o meu espaço à custa de muita luta. Provavelmente, você nem ia ligar para mim. Uma simples professora.

- É isso seria possível. Mas, graças a Deus eu te encontrei e a minha vida tomou uma nova direção. És o meu Anjo da Guarda.

A Árvore em Versos – 5 –


JÚLIA LOPES DE ALMEIDA
(Rio de Janeiro/RJ, 1862 – 1934)
AFONSO LOPES DE ALMEIDA
(Rio de Janeiro/RJ, 1889 – 1953)

A ÁRVORE


Fui débil caule, à flor da terra, quando
Do chão nasci, meu maternal regaço.
Atraiu-me o esplendor do vasto espaço:
Para o alcançar, me fui da terra alçando.

Cresci. Dei flor. E os galhos recurvando,
Exausta, pelo esforço, de cansaço,
Ao calor fecundante do mormaço
As flores fui em fruto transformando.

Crianças, que marinhais por mim acima!
Trepai ao alto, como o arrais nos mastros!
Vegetal como sou, que nada anima,

Pudesse eu elevar-me, eu rude, eu bronco!
Vossa cabeça chegaria aos astros,
E vossos pés à terra, por meu tronco!
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NEWTON MESSIAS
(Recife/PE)

ÁRVORE


Das raízes bem fincadas no chão
Sobe um tronco rígido e solitário
Que se abre ao céu azul, santuário,
Em piedosos braços, em oração.

De roupagem leve que o vento abana
E às vezes nua em pele de madeira
(Cada estação à sua própria maneira):
"Nunca envergonhada", ela se ufana.

Conhece a sanha de chuvas e ventos;
As variações de frio e calor;
A solidão de cumes e desertos.

Pássaros cantam para seu alento
Antes que morra e tombe sem vigor
Deixando as raízes a céu aberto.
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OCTÁVIO PAZ
(México, 1914 – 1998)

ÁRVORE ADENTRO


Cresceu uma árvore à minha frente.
Cresceu para dentro.
Suas raízes são veias,
nervos, seus ramos,
Suas confusas folhas, pensamentos.

Teus olhares incendeiam-na,
e seus frutos sombras
são laranjas de sangue,
romãs feitas de lume.

Amanhece
na noite do corpo.
Ali dentro, à minha frente,
a árvore fala.

Acerca-te. Ouve-a já tu?
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RENÉ JUAN TROSSERO
(Argentina, 1927 – 2020)

ENSINAMENTOS DA ÁRVORE


Aprende da árvore
E deixa que os ventos da vida
Te despojem dos ramos secos
Para deixar lugar aos brotos novos.

Aprende da árvore
E deixa cair as folhas secas do passado
Para que adubem o solo,
Onde tuas raízes preparam o futuro.

Aprende da árvore
E não faças do inverno
Um tempo de tristeza e morte,
Mas um tempo de esperança, para enraizar-te melhor
E reviver mais forte como primavera.
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RICARDO GONÇALVES
(São Paulo/SP, 1888 – 1916)

A ÁRVORE


Salta do leito e vem cá fora,
Vem ver esta árvore, sonora
De murmurinhos e canções.
O sol nascente a afaga e beija,
E as suas frondes purpureja
Com seus vivíssimos clarões.

Anda-lhe em torno, álacre, um vivo
Zumbir de insetos; pelo crivo
Das folhas verdes fulge o sol;
E, entre cortinas viridentes,
Zinem cigarras estridentes,
Tecem aranhas o aranhol.

Depois, a pino, o sol escalda,
E a sua copa de esmeralda
É como um pálio protetor,
A cuja sombra, ampla e divina,
Cantam as aves, em surdina,
Cantos dulcíssimos de amor.

Ama-a! Toda a árvore é sagrada.
Ama esta esplêndida morada
De abelhas de ouro e aves gentis!
Busca entender tanta poesia,
E faze coro à sinfonia
Da natureza, que a bendiz!

Ama-a, na glória matutina,
Entre os vapores da neblina,
Que toda a envolvem, como véus,
Cheia dos prantos da alvorada,
Ou melancólica, estampada
No ouro e na púrpura dos céus...

E reza então: “Bendita sejas
Por tuas frondes benfazejas,
Pelos teus cânticos triunfais,
Por tuas flores e perfumes,
Pelos teus pássaros implumes,
Por tuas sombras maternais.”

Fonte:
Sammis Reachers (org.). Árvore: uma antologia poética.
São Gonçalo/RJ, 2018. E-book enviado pelo organizador.

Minha Estante de Livros (Um anjo burro, de Christopher Moore)


Era noite, quase Natal, e todos em Pine Cove estão ocupados comprando, embrulhando e trocando presentes. Mas nem todos estão no clima para receber o bom velhinho. O pequeno Joshua Barker, de apenas sete anos, está desesperado: precisa de um verdadeiro milagre. Ele tem certeza de que viu o Papai Noel tomar uma pazada na cabeça e agora não faz outra coisa senão rezar para que ele volte dos mortos.

Nesse meio tempo, o anjo Raziel recebe uma missão na terra, em que ele terá que realizar o desejo de uma criança. Mas Raziel é um anjo muito, muito, muito, muito atrapalhado e incompetente e quando Josh deseja que o Papai Noel não tivesse morrido, ele acaba por ressuscitar todos os mortos de Pine Cove, ou seja, os ressuscita como zumbis.

Um anjo burro é uma obra polêmica que retrata acontecimentos numa das épocas mais importantes do ano. Não há no livro um compromisso com lendas já conhecidas, mas um compromisso com o riso, com um texto bem construído e com um entretenimento de qualidade.

“Christopher Moore tem um humor negro bem patente e não perdoa nem a época do bom velhinho. Uma comédia de tirar o fôlego.” (New York Times)

“Moore escreve romances que são hilários e extremamente divertidos de ler. Um autor no auge de sua criação.” (Nicholas Sparks)
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Christopher Moore, nasceu em 1957 em Toledo, Ohio, nos Estados Unidos. É um escritor de fantasia cômica . Estudou na Ohio State University e no Brooks Institute of Photography em Santa Barbara , Califórnia. Filho único, Moore aprendeu a se divertir com sua imaginação. Ele adorava ler e seu pai lhe trazia muitos livros da biblioteca toda semana. Ele começou a escrever por volta dos doze anos e percebeu que esse era seu talento aos 16 anos, e começou a considerar fazer disso sua carreira.

Os romances de Moore normalmente envolvem personagens comuns em conflito lutando por circunstâncias sobrenaturais ou extraordinárias. Com raras exceções, todos os seus livros se passam no mesmo universo e alguns personagens se repetem de romance em romance. Moore nomeou Kurt Vonnegut, Douglas Adams, John Steinbeck, Tom Robbins, Robert Bloch, Richard Matheson, Júlio Verne, Ray Bradbury, HP Lovecraft, Edgar Allan Poe e Ian Fleming como as principais influências em sua escrita. Moore mora em São Francisco, depois de alguns anos na ilha de Kauai, no Havaí .

Alguns livros:
Os Livros de Pine Cove; Vampiros em San Francisco; Crônicas do Mercador da Morte; Almas de segunda mão; Shakespeare para Esquilos: Um Romance; Coiote Azul; Carma do gato, entre outros.

sábado, 15 de janeiro de 2022

Varal de Trovas n. 543

 

Silmar Böhrer (Croniquinha) – 43 –

As estações do ano são maravilhosas - cada uma com suas nuances, seus encantos, suas belezas. E inspiram e seduzem de variadas formas. Uma delas é a gastronomia. As frutas estão sempre presentes, cada uma obedecendo o clima que lhe é apropriado. O mesmo acontece com as verduras, as hortaliças . . .

E o outono no sul do Brasil tem uma peculiaridade que só acontece por aqui - colhe-se o pinhão, que é semente da araucária, tradicional nas florestas, nas campinas, nas planícies. E nos cânions do planalto.

Entre abril e maio as pinhas (frutos) maduras soltam os pinhões, tão apreciados como alimento, quanto cobiçados pelos comerciantes. São comuns algumas cenas . . .

Manhã domingueira, junho, invernia. Na caminhada habitual pela estrada da mata levamos um bornal para juntar o pinhão que pretendemos colher. A brisa é fria, os passos, curtos, a atenção é total. Colhemos as sementes (pinhões) da próxima sapecada. Ajunto versos entre as grimpas. E vou advertindo a companhia:

Vá em frente devagarinho  
para que nada se perca,  
nem que atrás do pinhãozinho  
tenhas que varar a cerca.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Sammis Reachers (Aidano e o marimbondo de fogo)

Nosso amigo Aidano é um camarada polivalente. Mecânico de mão cheia, já foi gerente de loja, trabalhou em agência de aluguel de automóveis e por fim resolveu ganhar a vida como motorista de ônibus.

O ocorrido que iremos relatar aconteceu enquanto Aidano trabalhava na empresa Fagundes, em São Gonçalo. Uma das linhas onde nosso amigo  ficou efetivado foi na linha Alcântara x Curuzu, que ele mesmo classificou como "a melhor linha de ônibus em que já trabalhei".

Aidano trabalhava com uma cobradora da pá virada, enfezada e meio doida. Em certa viagem, ainda em Alcântara, o ônibus quase sempre era tomado por estudantes, que faziam a maior algazarra no veículo, enquanto voltavam para suas casas no Curuzu. A cobradora, muito aporrinhada, dizia para Aidano:

- Quando chegarmos no Curuzu, naquela rua cheia de buracos e quebra-molas, pode acelerar o ônibus pra essa galerinha que gosta de agitar, sentir um agito de verdade.

- Mas e você lá atrás? (as roletas ainda ficavam na parte de trás do veículo).

- Não esquenta comigo não, eu levanto e vou em pé. Mete bronca!!!

Pois assim Aidano fazia: era chegar no Curuzu e ele acelerava a velha jardineira à toda, botando a molecada pra pular. A cobradora vibrava, vendo o sofrimento dos agitadores...

Certa feita, chegando no Curuzu na viagem fatídica, nosso companheiro fez conforme o combinado. Mas, de repente, um grande marimbondo entrou pela janela ao lado de Aidano, e, sem ele ver, foi pousar diretamente em seu colo. Foi aí que o inacreditável aconteceu. O Infeliz do inseto foi dar uma ferroada lá, justamente no ponto fraco do homem; Ele sentiu aquela  pontada e imediatamente afastou o marimbondo. Mas em instantes a ferroada fez efeito e Aidano passou a gritar de dor, fazendo caras e bocas, xingando mais que a saudosa Dercy Gonçalves, mas sem diminuir a velocidade do veículo. Afinal, ele pensava, precisava chegar logo no ponto final para ir ao banheiro e avaliar o estrago, além de poder jogar uma água naquela fervura.

Enquanto isso, a molecada, já meio acostumada com o pula-pula, gritava adoidado. E lá de trás, em pé ao lado da roleta, a cobradora, ao ver Aidano berrando como um louco, imaginou que ele estava zoando junto com os moleques devido ao pula-pula, e resolveu entrar na onda: passou ela também a gritar e a rir alucinadamente, enquanto Aidano berrava e acelerava e o ônibus corria e sacolejava como se fosse desmanchar-se! Quem visse de fora aquela zona pensaria que aquilo era ônibus especial levando foliões de carnaval...

Pobre Aidano, somente ao chegar no ponto final é que pode ver que o lugar atingido estava inchado, do tamanho de uma laranja, e das grandes...

Fonte:
Ron Letta (Sammis Reachers). Rodorisos: histórias hilariantes do dia-a-dia dos Rodoviários.
São Gonçalo: Ed. do Autor, 2021.
Livro enviado pelo autor.

Baú de Trovas XL


Velho que casa com moça,
analfabeto quer ser...
— Este, quando compra livro,
é sempre para outro ler!
A. C. DE OLIVEIRA MAFRA
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Trava na alma intensa luta
o mocinho apaixonado:
por uma garota enxuta
é que ele vive encharcado...
ALMEIDA CORRÊA
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Todo homem que se casa
deve ter muita cautela:
quando a mulher cria asa,
ninguém mais pode com ela!...
ANA RODRIGUES
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"Meu signo é Peixes! Querido,
não pareço uma sereia?"
E o marido, aborrecido:
— "Qual nada! És uma baleia!...
APARÍCIO FERNANDES
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Comigo guardo escondidas,
debaixo do meu colchão,
as duplicatas vencidas,
que nunca mais vencerão...
ARMANDO GONÇALVES MIGUEIS
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Tem a nossa Medicina
tais progressos alcançado,
que o doente, quando morre,
já está quase curado.
AUGUSTO LINHARES
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Quando te vais confessar,
bem que eu quisera que Deus
me permitisse constar
de algum pecado dos teus.
BALTHAZAR DE GODOY MOREIRA
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Este nosso velho mundo
já não está prestando mais:
rapaz querendo ser moça...
moça a querer ser rapaz...
CALAZANS ALVES D'ARAÚJO
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Dizem que a pinga nos mata
pouco a pouco, lentamente.
Por isso não largo dela,
pra não morrer de repente...
CÂNDIDO CANELA
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Eu quis, na cara ou coroa,
saber se és minha ou do Zé.
Fiquei na mesma. Esta é boa!
— O níquel caiu em pé!
COLBERT RANGEL COELHO
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Do pouco que sabe e tem,
vale-se muito a Maria:
não vai à escola, porém
dá aulas de anatomia...
DAVID DE ARAÚJO
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Há um pecado que, quando
Maria ao bom cura diz,
cai inteirinha a pitada
que o padre leva ao nariz.
DJALMA ANDRADE
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Diz o doutor: "A bebida
mata cedo o cachaceiro."
Mas, — ironia da vida —
o doutor morreu primeiro...
DURVAL MENDONÇA
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Se beijo desse sapinho,
como às vezes se apregoa,
sua boca pequenina
era beira de lagoa...
EVANDRO MOREIRA
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Rezes a Deus ao deitar-te,
pedindo não sei o qu’é.
Se rezasses ao Demônio,
eu saberia o que é...
FERNANDO PESSOA
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Os honestos, meu amigo,
esses bem poucos o são!
— Alguns, temendo o castigo,
sem nenhuma vocação...
HERALDO LISBOA
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Vi um velhinho fitando
as tuas formas, menina,
assim como um surdo olhando
os rádios de uma vitrina...
ILDEFONSO DE PAULA
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No velório do Tião
tanto molharam as goelas,
que, com medo do explosão,
apagaram logo as velas.
JOAQUIM MACEDO FERNANDES
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Ninguém nesse engano cai,
todos sabem, Joãozinho:
não pareces com teu pai,
pareces com teu padrinho...
J. DIAS DE MORAES
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Sem um gesto, sem um grito,
morre a sogra do Mateus.
E, no inferno, o Diabo, aflito,
exclama: — Valha-me Deus!
JORGE ROCHA
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Aquele míope tarado,
numa viela qualquer,
seguia um padre, enganado,
pensando que era mulher...
JOUBERT DE ARAÚJO SILVA
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Passo por ela, e meus passos
seguem seus passos, morosos.
— E ela passa maus pedaços
sob os meus olhos gulosos...
MARIO PEIXOTO
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Não grites por Santo Antônio.
Os teus pecados são tantos
que deves antes gritar:
— Valham-me todos os santos!
NOEL DE ARRIAGA
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Pediu socorro à vizinha.
Meu pai, coitado, correu,
para ouvir da danadinha:
"Ele bate no que é seu!"
NYDIA lAGGI MARTINS
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Não queiras jamais um caso
resolver lá na Justiça.
É prazo, prazo e mais prazo,
e mais que prazo: é preguiça!
PAULO EMÍLIO PINTO
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A sociedade é um torneio
de parceiros em negócios:
Cada sócio busca um meio
de lesar os outros sócios...
RODRIGUES CRESPO
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Seja lá polo que for,
um dia nos desaponta:
— foi Deus que inventou o amor,
mas o Diabo tomou conta...
SEBASTIÃO NORONHA

Fonte:
Aparício Fernandes. A Trova no Brasil: história e antologia. São Cristovão/RJ: Artenova, 1972.

Hans Christian Andersen (O Caracol e a Roseira)


Em volta do jardim havia um bosque de avelãs e mais adiante se estendiam os campos e os prados, nos quais haviam vacas e ovelhas. Porém, no meio do jardim havia uma roseira em plena floração. A seus pés estava um caracol, o qual valia muito, segundo a sua própria opinião.

- Espere que chegue o meu tempo, - dizia - farei muito mais do que dar rosas, avelãs ou leite, como as vacas ou ovos como as galinhas.

- Espero muito de você! - respondeu a Roseira - Poderei saber quando veremos essas maravilhas que tanto anuncia?

- Levarei para isso o tempo que achar necessário. - replicou o Caracol - Você sempre tem tanta pressa em seu trabalho, que não chega a despertar a curiosidade de ninguém.

No ano seguinte, o Caracol estava quase no mesmo lugar de antes, isto é, ao Sol e ao pé da Roseira. Esta estava cheia de botões, que começavam a abrir-se, mostrando umas rosas magníficas, sempre viçosas e novas. E o Caracol, mostrando meio corpo para fora da concha, esticou seus tentáculos e os encolheu novamente, para voltar a esconder-se.

- Tudo tem o mesmo aspecto do ano passado. Não se vê o mínimo progresso em nenhum lugar. A Roseira está coberta de rosas... Mas nunca fará nada de novo.

Passou-se o verão e logo após o outono. A Roseira dera rosas lindas, até que começaram a cair os primeiros flocos de neve.

O tempo ficou úmido e tempestuoso e a Roseira se inclinou até o solo, enquanto o Caracol se escondia dentro da terra.

Começou novo ano e a Roseira reviveu. O Caracol também apareceu.

- Você já é uma roseira velha, - disse o Caracol - de forma que logo secará. Você já deu ao mundo tudo o que havia dentro de si. E se isso valeu alguma coisa, é assunto que não tenho tempo de examinar, mas o certo é que você não fez nada para o seu aperfeiçoamento, senão teria produzido algo diferente. Pode negá-lo? E agora você se converterá numa vara seca e desnuda. Entende o que digo?

- Está me alarmando! - exclamou a Roseira - Nunca pensei nisso. Jamais imaginei o que está dizendo.

- Não, você não se preocupou muito em pensar em algo. Porém, nunca pensou em averiguar a razão de sua floração, por que você produz flores? E por que motivo o fazia sempre de forma igual?

- Não! - replicou a Roseira - Dei flores com a maior alegria, porque não podia fazer outra coisa. O Sol era tão quente e o ar tão bom!... Eu bebia o orvalho e a chuva; respirava... E vivia. Logo me chegava novo vigor da terra, assim como do céu. Experimentava um certo prazer, sempre novo e maior, e era obrigada a florescer. Tal era a minha vida, não poderia fazer outra coisa.

- Você sempre levou uma vida muito cômoda. - observou o Caracol.

- Na realidade, sinto-me muito favorecida, - disse a Roseira - e, de agora em diante, não vou possuir tantos bens. Você possui uma dessas mentes inquiridoras e profundas e de tal maneira é bem dotado, que não duvido de que assombrará o mundo sem demora.

- Não tenho tal propósito. - replicou o Caracol - O mundo não é nada para mim. Que tenho a ver com ele? Já tenho muito o que fazer comigo mesmo.

- Em todo caso, não temos o dever, na terra, de fazer o que pudermos pelo bem dos demais e de contribuir para o bem comum com todas as nossas forças? Que foi que você já deu ao mundo?

- Que foi que eu dei? Que lhe darei? Pouco me importa o mundo. Produza as suas rosas, porque sabe que não pode fazer outra coisa, que as avelãs deem avelãs e as vacas leite. Cada um de vocês possui um público especial, eu tenho o meu, dentro de mim mesmo. Vou entrar dentro de mim e permanecer aqui. O mundo para mim não é nada e não me oferece o mínimo interesse.

E assim o Caracol entrou em sua casa e se fechou.

- Que lástima! - exclamou a Roseira - Não posso colocar-me num lugar abrigado, por mais que o deseje. Sempre tenho que dar rosas e mudas de roseira. As folhas caem ou são arrastadas pelo vento e o mesmo acontece com as pétalas das flores.

Em todo o caso, eu vi uma das rosas entre as páginas do livro de orações da dona da casa, outra de minhas rosas foi colocada no peito de uma jovenzinha muito formosa, e outra, enfim, recebeu um beijo dos lábios suaves de um menino, que se entusiasmou ao vê-la. Tudo isso me encheu de felicidade e será uma das recordações mais gratas de toda a minha vida.

E a Roseira continuou florescendo com a maior inocência, enquanto que o Caracol continuava retirado dentro da sua viscosa casa. Para ele o mundo não valia nada.

Passaram-se os anos. O Caracol voltou para a terra e a Roseira também. Do mesmo modo, a rosa seca no livro de orações já desaparecera, mas no jardim floresciam novas rosas e também havia novos caracóis, e se escondiam dentro de suas casas, sem se incomodarem com os outros porque para eles o mundo não representava nada.

Teremos que contar também a história deles. Não, porque, no fundo, não se diferenciariam nada daquilo que já contamos.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Daniel Maurício (Poética) 17

 

A. A. de Assis (Ainda existem poetas?)

Houve tempo em que quase todo mundo gostava de poesia. Nem todos escreviam versos, porém era raro achar alguém que não soubesse de cor algumas estrofes dos grandes bardos: Gonçalves Dias, Castro Alves, Casimiro de Abreu, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Cruz e Sousa, Olegário Mariano, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Cecília Meirelles, Lilinha Fernandes, Helena Kolody, Vinícius de Morais, Mário Quintana, Manoel de Barros...

Acabaram os poetas? Claro que não. Apenas perderam visibilidade. Quintana e Manoel de Barros foram dois dos últimos nacionalmente conhecidos. Dos novos poetas pouca notícia se tem. Hoje em dia só conseguem ser famosas as pessoas que fazem muito sucesso como astros ou estrelas da televisão ou dos esportes. Mesmo na política dificilmente aparece algum grande “ídolo”. Somos todos uma multidão de anônimos.

Em Maringá existem numerosos poetas. Em qualquer lugarzinho há pelo menos um. No Brasil todo, se você procurar, encontrará milhares. Alguns mais ilustrados, outros mais modestos, mas todos capazes de transformar palavra em arte.

Poeta profissional, que vive de vender poesia, não conheço. Porém poetas amadores, que escrevem por amor às letras, há de bastante. Tanto que quase toda cidade tem uma Academia de Letras ou alguma outra associação literária.

O público geral não conhece a produção deles, até porque a chamada grande mídia não tem o costume de lhes dar espaço. É mais ou menos como futebol de botão. Em todo lugar há gente que gosta de tal brincadeira, no entanto jornal nenhum fala desse tipo de jogo.

A correria dos tempos modernos tem algo a ver com isso. Ninguém mais tem tempo para ler poesia. Seria uma raridade achar hoje alguém que soubesse de cor o “Navio Negreiro” ou um soneto de Camões. Para ganhar leitores, muitos autores têm então preferido escrever poemas curtinhos. Uma trova se lê em oito segundos; um haicai em seis segundos.

Pouca gente sabe disso, mas existem uns mil bons haicaístas no Brasil. Trovadores há cerca de dois mil. Eles se conhecem uns aos outros graças ao gosto comum pela poesia, relacionam-se via internet, têm boletins e blogues para divulgação dos seus versos, participam de concursos e encontros de confraternização em diferentes cidades. Ou seja: têm seu próprio mundo, e nisso encontram uma bela e barata forma de fazer amigos e alegrar a vida.

Há, sim, muito poeta ainda. Seja ele um doutor em literatura ou um cantador de esquina, o importante é que nos seus versos a poesia permanece viva.

E quase todo mundo continua gostando. Basta dispor de uns minutos de tempo livre para ouvir uns versinhos e o mais seco dos ouvintes se emociona e encanta.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 06-1-20)

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Concurso de Trovas de Cachoeira do Sul/RS (Trovas Premiadas – Novos Trovadores)

 
Tema: Jorge Amado
 
VENCEDORES
 
 1.  
Salve o grande Jorge Amado,
nosso ícone cultural.
Pode ser considerado
patrimônio universal!
Silvania Maria Costa (PR)

2.  

Se queres dar relevância
ao povo tão maltratado,
encontrarás ressonância
nas obras de Jorge Amado.
Luisa Maria Garbazza Andrade (MG)

MENÇÕES HONROSAS

1.
Jorge “magistral” Amado,
baiano, cabra da peste,
romancista consagrado,
pai de Tieta do Agreste.
Alex Xela Lima (BA)

2. (?)

Jovens ao léu da justiça,
capitães, são generais
em areia movediça
longe dos seus ideais.
Jorge Ribeiro Marques (RJ)

MENÇÕES ESPECIAIS

1.

Do ícone Jorge Amado,
Gabriela simboliza
para ele eterno achado
e, para nós, leve brisa.
Sonia Nuss (RJ)

2.

Defensor da juventude,
Jorge Amado é atemporal,
sua obra tem amplitude
no cenário mundial!...
Luiz Cláudio Costa da Silva (RN)
 
Resultado enviado por Jaqueline Machado 

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Versejando 96

 
Dia 11 havia postado esta trova, graças ao alerta de Carolina Ramos que apontou um erro na métrica do 3. verso, envio novamente, corrigido.

Aparecido Raimundo de Souza (Enquanto círculos incompletos devoravam o absurdo...)

EU ESTAVA BRABO, INVOCADO, enfurecido, colérico, chateado, entristecido, tipo uma aeronave envelhecida, cheia de voos interrompidos, tudo porque não havia encontrado o bairro, tampouco a rua da casa dela, nem o ponto indicado como referência. Num descompasso de agonia dei meia volta decidido a ir embora, a sumir de vez. Apagar o nome daquela infeliz, esquecer que ela nunca existiu em meu pensamento.

Foi quando me veio à lembrança um fato que até aquele momento não havia colocado em prática. Estanquei os passos, meio que atarantado, depois de andar por quase uma hora a pé. A trezentos metros da estação que me levaria para casa, resolvi jogar com essa carta, aliás, a derradeira que me restava na manga. Carta de feição amarga, como um cálice de fel. O celular. Eu não havia ligado para o número que ela havia me passado. Quem sabe!...

Se esse recurso falhasse, jogaria fora minha onda de ódio junto com o aparelho celular na primeira lata de lixo que encontrasse pela frente. De roldão, o currículo vitae com tudo de bom que havia lido a respeito da vida pregressa daquela jovem desconhecida. “Menina difícil - pensei comigo - essa ilustre sem rosto”. Contudo, para meu espanto, a sumida atendeu na hora, com um “alô!” que me acendeu a esperança!

Finalmente! Expliquei, em rápido discurso, que não havia encontrado o endereço e concluí quase implorando que viesse ter comigo o mais rápido possível. Em resposta ela se abriu em mesuras esclarecendo que tomaria um banho, trocaria de roupas e pegaria uma “uber”. Não daria para vir de trem. A estação ficava muito longe de onde estava. Segundo seus cálculos, no máximo em quarenta minutos nosso encontro seria consumado. Passei a ela a minha localização e me postei à espera. Enquanto aguardava, me restou a ideia de comer alguma coisa.

Aliviado por ter obtido uma resposta favorável, me acomodei numa lanchonete. Optei por uma das mesinhas dispostas numa espécie de varandão em formato de semicírculo. Desse espaço, assistiria ao vai e vem intermitente da avenida que cruzava frontal às escadarias da estação do Metrô justaposteadas à uma praça de nome engraçado. Vigiaria também, de contrapeso, o movimento das calçadas.

Mesmo tom, quem saia e entrava no estabelecimento. Na verdade, meu empenho não era outro senão o de bisbilhotar a pessoa que aguardava. Eu a veria primeiro, sem que me enxergasse logo que saltasse do carro. Sorvendo o refrigerante (acompanhado de um sanduíche de queijo quente), permaneci por quase duas horas como um menino bobo, no aguardo da nobre donzela. Como seria? Branca, preta, loira, morena? Alta, baixa, feia, bonita, desdentada? Simpática, chata, meiga, nojenta? Dócil, pegajosa ou apetitosa como esses docinhos de banana que a gente come de sobremesa nesses restaurantes sofisticados das grandes metrópoles?

No meu devaneio, passei a desenhar a criatura com pinceladas rápidas e objetivas, na angústia descontrolada de obter uma imagem da sua misteriosa figura. Nesta vasca desenfreada, viajei um pouco na maionese, atropelando os pensamentos que iam e vinham numa celeridade voraz. Seria essa estranha mais uma, ou uma a mais, que pintaria no pedaço a pleitear o cargo de musa e dona do meu coração?

Bateria somente um papo informal e depois me viraria às costas e voltaríamos cada um com seu vazio interior de regresso para nossos mundinhos particulares? A bem da verdade, nessa procura, me sentia enfastiado e deprimido. Quase certo regressar com as desilusões cotidianas para meu canto de origem carregando mais um fardo pesado para juntar aos outros na vasta coleção das frustrações de sempre. Contudo, algo no fundo do meu “eu”, me animava. Um não sei o que dizia que essa coalizão não redundaria inepta como as anteriores.

Sob o signo da esperança, a encantada chegaria triunfal, simplesmente não se esbarraria comigo como uma manequim desfilando etiquetas dentro de uma vitrina repleta de luzes de neon. Meu olhar, impaciente, buscava a sua silhueta em todos os cantos da tarde. Meu coração pulsava mais forte em cada rosto que cruzava. Em cada ser que atravessava, fosse indo ou vindo, ou saltando de um automóvel ou táxi. Nessa voracidade inexplicável, eu encorajava uma agonia pesada, um incômodo que machucava por dentro. Uma dor forte que se fechava, de repente e traçava rumos indomados dentro da multidão deflagrada.

Em paralelo, meu “eu” interior, como tentando decifrar uma imagem real e palpável, aproveitava a deixa e criava expectativas, ou melhor, abrigos onde agasalhava a presença dela, embalada por cores vivas em matizes jamais sonhados. Para deleite de meus olhos, para encanto de minha alma, a estrangeira, finalmente, agraciou. Diria que realçou, resplandeceu. Notei nela, logo que saltou e se pôs de pé, o semblante preocupado, quase intransponível, sob a pesada maquiagem que me recordou, num rápido relance, uma deusa egípcia.

A cândida veio vindo se achegando meio temerosa, meio “será que é ele, será que devo perguntar antes?!”. Como se adivinhasse esses seus pensamentos me antecipei atrevido e correndo ao seu encontro, indaguei pressuroso: “é você, é você, a pretendida que procuro?”. Um sim vibrou como o som de um teclado de órgão ensaiando uma canção suave, impregnada de quimeras desconhecidas, famintas de muitas palavras. No instante seguinte, meu peito se contraiu.

Minha alma em ebulição festiva se ajoelhou diante da sua beleza. Estarrecido, eu homem vivido, de muitos anos nas costas, me desmoronei num labirinto sem volta, para alcançar o tamanho da sua magia. A satisfação que corria ligeira fustigou tudo dentro de mim. Aflorou por inteiro. Saltou, pulou e encheu de variadas cores, os meus olhos esbugalhados da sua meiguice ímpar. Ali, ao meu lado, finalmente, a minha metade que tanto procurava. As muitas faces por mim desenhadas: a menina flor, a rainha, a fascinação se materializando em arroubos e “donaires”. Igualmente essas afabilidades se transformaram em tenros botões de rosas se abrindo ao mesmo tempo cheio de efeitos especiais.

Como passarinhos inventados com penas vermelhas e amarelas voando no azul do meu infinito e fazendo refletir no meu espelho da alma, o arroubamento de me soltar por espaços nunca pisados, em troca de horizontes desconhecidos e jamais imaginados me adoidei. Saí do chão. Tantos anos depois, ainda a vejo assim. Imutável, inimitável. Pura como no esbarro da primeira vez. Sinto seu medo se formando dentro do carro branco. Recordo seu perfil tímido, meio que oscilante, quieto, refugiado ao lado do motorista que a trouxera para o nosso bate papo.

Apesar do tempo passado, palmilhado, ainda consigo trazer à tona, como num desses filmes de curta metragem, o deleite, a mesma galhardia da animação poética que nasceu quando a vi naquele longínquo início de março, faltando alguns dias para as velinhas do meu aniversário. Essa deidade ainda tem o toque certo, o gracejo que me agitou e me fez tremer desde a base à raiz dos cabelos. Ainda agora ela carrega no conjunto que compõem o seu corpo, a nota musical que acolheu e agasalhou a minha alma e a deixou em regozijo de festa. Essa mulher incrivelmente preserva intacto o recheio perfeito que guardo a sete chaves, num lugar que só eu sei e mantenho esse segredo todo para que ninguém ouse imaginá-la como eu a afiguro.

Apesar da nossa disparidade de idade, a minha metade da maçã docinha continua a irradiar a juventude no êxtase dos vinte e nove, em contraste com meus sessenta e oito, lembrando que a diferença entre nós — em nada influiu no carinho que a cada dia parece se tornar mais gigantesco. Destoado dessa lacuna enorme, a áurea do meu amor persiste encantada. Transpira num “boom” de pratos orquestrais ao tempo em que cria em torno de nós, um instante mágico e único, uma enchança repressão de expectativas prontas para explodir ao menor toque da sua voz. Ela é, pois, como o sol que se espalha. Diria sem medo de errar, como o alimento divino que mata a minha fome em todos os sentidos.

Meu amor é um porvir repleto de sensações nunca sentidas, de emoções jamais vividas. Ela é poesia de arrebol. Mais que isso, um elo plural ligando o hoje ao super amanhã. É ainda, num momento mais complexo, meu horizonte bordado por asas aladas, a essencialidade do meu agora dentro de um ontem magricelo, mas perfeito, como o côncavo e o convexo. A minha amada não é só uma flor em botão. É mais que um nome ao acaso. É o licor das harpas, o vinho doce temperando vontades. São, por fim, numa derradeira visão, os sons e os barulhos de todos os enfeites. As noites e dias. As fantasias de passeios distantes. Um amontoado de loucuras quebrando o próprio mimo.

Essa mulher é a sensação do infinito lá em cima, dançando assinaturas corpóreas no caderno louco da minha vida insana. Ela é a fêmea completa, a criança grande, a estrela de minhas brincadeiras. Ela é, igualmente, a dona dos lábios rosados como seda aquecida pelo sol mormacento. Eu a vejo, ainda, mais bela, a cada dia. Às vezes, nas minhas divagações, como um natal com flocos de neve. Nessas horas, ela revolve meu estômago que se contrai em pequenos nós de excitação. Ela é, ainda, o eco do meu grito desesperado clamando incansavelmente por nosso AMOR.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Olivaldo Júnior (Poemas Escolhidos) V

MEU AMOR HÁ DE CHEGAR NUM DOMINGO


Quando eu vier distraído,
descabido, desprovido
de qualquer bom senso,
meu amor há de chegar num domingo.

Meu amor há de chegar
e ficar para o café.
Assim, como quem não quer nada
além de um pouco de pão,
meu amor há de ficar para almoçar.
Macarrão com carne,
batata e maionese,
mais um copo bem grande de "refri"
e um pedaço de Romeu e Julieta,
tão brazucas
quanto um bom pingado!...

Meu amor há de pingar no telhado.
E há de ser chuva mansa,
com cheiro de Terra do Nunca
e jeito de serra, montanha,
chalé só para dois.

Domingo, zapeando a tevê,
entre o Faustão, a Eliana
e o Programa Silvio Santos,
meu amor há de chegar
sorrindo!...

Depois, como quem faz
que não gosta da segunda,
vai ficar de namorico
na porta
e engolir a hóstia
que ganhou de manhã,
até se esvanecer
dentre as nuvens
que eu mesmo criei
sexta-feira passada.
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NAMORAR É...

Namorar é crer no amor
quando tantos creem no medo,
quando tantos têm horror
a não ter com o bem segredo.

Namorar é ter alguém
pra fazer um cafuné,
pra não ser de mais ninguém
a não ser de quem dá pé.

Namorar é ser cantiga
no silêncio matinal,
ser de paz quando houver briga.

Namorar é ver Natal
quando tantos veem intriga,
ser da vida o Carnaval.
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O AFOGADO

Não, amor, não me adiantam
essas redes que me jogas
da outra margem do mar,
de uma praia que vislumbro
como se fosse a praia
em que nós dois nos conhecemos...

Não, amor, não me adiantam
essas ripas que me jogas
da outra margem do cais,
de algum porto que descubro
como se fosse um náufrago
em que nós nos reconhecemos...

Não, amor, não me adiantam
essas roupas que me jogas
da outra margem do lar,
de um lugar que vive obscuro,
concha que trouxe a praia
em que nós dois nos concebemos.
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POESIA SINGELA

Poesia, tão singela
quanto um rosto de criança
que inda espera da janela
ver Quixote e Sancho Pança!...

Poesia, tão singela
quanto a nossa confiança,
que procura numa vela
sua chama de esperança!...

Poesia, tão singela
quanto o sonho que foi bom,
todo feito em aquarela!...

Poesia, tão singela,
que, no dia de Drummond,
doma a fera e surge, bela!...

Fonte:
Poemas enviados pelo autor

Concursos de Trovas com Inscrições Abertas

3. CONCURSO DE TROVAS CIDADE DE CURITIBA


Prazo: 31 de Maio

Homenagem ao centenário da Semana de Arte Moderna (1922)

1. DO TEMA:

- Trovas líricas ou filosóficas

– Âmbito Nacional (Brasil e demais países de língua portuguesa, exceto o Paraná)

Categoria Veterano:
Tema: “Vanguarda”

Categoria Novo Trovador:
Tema: “Rompimento”

– Âmbito Estadual (Paraná)

Categoria Veterano:
Tema: “Identidade”

– Âmbito Estudantil (Ensino Fundamental e Médio)
Tema: “Colorido”

1.1. - A palavra tema não precisa constar do corpo da trova.

1.2. – Novo trovador: serão contemplados trovadores desta categoria, sem distinção entre os âmbitos Nacional/internacional e Estadual.

1.2.1. - Será considerado Novo Trovador aquele trovador que não obteve até a divulgação deste regulamento 03 (três) classificações em concursos de trova oficiais da UBT em nível nacional.

2. MODO DE ENVIO:

As trovas deverão ser no máximo de 02 (duas) por participante, inéditas, enviadas:

– Por sistema de envelopes, ou por e-mail.

2.1. - Pelo sistema de envelope, deverá constar no envelope pequeno a categoria pela qual concorre o trovador. As trovas deverão ser digitadas ou datilografadas. Não serão aceitas Trovas manuscritas, mesmo que sejam em letra de forma, tampouco envelopes coloridos.

2.2. - Por e-mail, devem ser encaminhadas aos cuidados dos Fiel depositários segundo o tema do Concurso. NÃO SERÃO ACEITOS ANEXOS. As trovas, bem como, a categoria pela qual concorre o trovador deverão constar no corpo do e-mail.

2.3. – É obrigatória a informação pelo participante, sob pena de desclassificação, do nome e endereço postal completo (inclusive CEP, Telefones e e-mail se houver).

3. ENDEREÇO PARA REMESSA:

3.1. Todos os âmbitos e categorias - Sistema de envelopes:

3. Concurso de Trovas Cidade de Curitiba
A/C Centro de Letras do Paraná.
Rua Fernando Moreira, 370. Centro.
CEP. 80410-120.   Curitiba – PR

3.1.1. Para todas as categorias âmbito nacional/internacional/estadual e estudantil, deverá constar no envelope como remetente Luiz Otávio, e o mesmo endereço do destinatário.

3.2. - Por E-mail:

A. As trovas dos concorrentes do Âmbito Nacional, categoria Veterano – tema: Vanguarda, deverão ser encaminhadas para:
Olga Agulhon.
E-mail: olgaagulhon@hotmail.com


B. As trovas dos concorrentes do Novo Trovador (todos os âmbitos), Âmbito Estadual, categoria Veterano, temas: respectivamente Rompimento e Identidade, deverão ser encaminhadas para:
Jerson Brito.
Email: jersonbrito.pvh@gmail.com


C. As trovas dos concorrentes do Âmbito Estudantil, Ensino Médio e Fundamental – tema: Colorido, deverão ser encaminhadas para:
Madalena Ferrante Pizzatto.
E-mail: madalenaferrantepizzatto@gmail.com


4. DO PRAZO:

Todos os Âmbitos: Serão consideradas as trovas que chegarem até 31/05/2022

5. DA PREMIAÇÃO:

A premiação acontecerá em data, local e horário a ser definido.

5.1. – Será concedido Diploma para todos os classificados.

5.2. - A UBT-Curitiba não se responsabilizará por quaisquer despesas de locomoção e/ou hospedagem dos classificados para o recebimento da premiação.

6. DA COMISSÃO ORGANIZADORA:

6.1. A Comissão Organizadora resolverá os casos omissos e suas decisões serão definitivas e irrecorríveis.

6.2. As trovas remetidas em desacordo com qualquer item deste regulamento, serão eliminadas automaticamente do concurso.

6.3. A simples remessa das trovas significa total conhecimento e completa aceitação deste Regulamento.

Maiores informações pelo e-mail: ubtctba@gmail.com
Ou pelo telefone (41) 99787-9485

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CONCURSO ”TAMBORES DA POESIA” DE TROVAS E DECATROVAS

Prazo: 31 de maio.

1 - O I CONCURSO “TAMBORES DA POESIA” DE TROVAS E DECATROVAS é promovido pelo Site “Tambores de Poesia”, coordenado pelo poeta Messias da Rocha e com o apoio da Seção da UBT Juiz de Fora – MG. O concurso tem por finalidade descobrir novos talentos e divulgar a poesia através TROVA e da DECATROVA.

2 – A TROVA é  uma composição poética de quatro versos heptasílabos (sete silabas poéticas) contados até a última sílaba tônica, com rimas obrigatórias do 1º com o 3º versos e do 2º com o 4º, (ABAB), sendo que os mesmos deverão expressar, em seu conteúdo, um pensamento completo.
 
Exemplo de trova:
Sempre o povo impõe seu veto,
quando a cegueira de um rei
cria trevas por decreto
e apaga as luzes da lei.
Messias da Rocha

3 – A DECATROVA é  uma composição poética de quatro versos decassilábicos (dez silabas poéticas) contados até a última sílaba tônica, com rimas obrigatórias do 1º com o 3º versos e do 2º com o 4º, (ABAB), sendo que os mesmos deverão expressar, em seu conteúdo, um pensamento completo. Apesar de não ser uma novidade nas composições poéticas, a decatrova talvez tenha de novidade apenas o nome que lhe damos agora, por ser pouco utilizada e divulgada.

Exemplo de decatrova:
A chuva que me traz lembranças dela
caiu a noite inteira de tal jeito
que, ao bater na vidraça da janela,
escorreu para dentro do meu peito.
Arlindo Tadeu Hagen

4 - O concurso tem também caráter Internacional, Nacional e regional, podendo dele participar poetas e trovadores dos países de Língua Portuguesa.

5 - Tema Nacional e Internacional, para o segmento (Veteranos e Novos Trovadores), na categoria das DECATROVAS: CORAGEM  

6 - Tema Nacional e Internacional para o segmento Veteranos e Novos Trovadores, na categoria das TROVAS: MEDO

7 - Tema regional (Trovadores e poetas de Juiz de Fora e Zona da Mata) para o segmento Veteranos e Novos Trovadores, na categoria das DECATROVAS: AFLICÃO

8 - Tema regional (Trovadores e poetas de Juiz de Fora e Zona da Mata) para o segmento Veteranos e Novos Trovadores, na categoria das TROVAS: ALÍVIO

9 – Todos os trabalhos do segmento Nacional/Internacional poderão ser inscritos no site  www.tamboresdapoesia.com.br ou enviados pelo Correio. O site já disponibiliza ficha prática para a inscrição que cairá diretamente no email zegute@yahoo.com.br do fiel depositário Cezar Augusto Defilippo, em Astolfo Dutra - MG. Os trovadores que optarem por enviar seus trabalhos pelo sistema de envelopes, deverão enviar seus trabalhos para:

CÉZAR AUGUSTO DEFILIPPO
Rua Paschoal  Defilippo, 33 - Vila  Paschoal
Caixa postal  03
CEP. 36.780.000 - ASTOLFO DUTRA-  MG


10 – Todos os trabalhos do segmento Regional, também, poderão ser inscritos no site www.tamboresdapoesia.com.br ou enviados pelo Correio. O site já disponibiliza ficha prática para a inscrição que cairá diretamente no email andreamottactba@gmail.com da fiel depositária Andréa Motta em Curitiba - PR.

Os trovadores que optarem por enviar seus trabalhos pelo sistema de envelopes, deverão enviar seus trabalhos para:

ANDRÉA MOTTA
Av. Prof. Fernando Moreira, 370 - Centro
CEP. 80410-120 - CURITIBA - PR


11 – Os concorrentes que optarem pelo sistema de envelopes deverão mencionar como remetente: LUIZ OTÁVIO, repetindo o endereço do destinatário.

12 - Cada participante dos segmentos Nacional/Internacional, Novos Trovadores, ou Local poderá enviar 1(UM) trabalho em cada categoria.

13 - O prazo limite para recebimento das trovas, para os segmentos nacional/internacional e local, será o dia 31/05/2022. (Será considerada a data de chegada, para os participantes pelo sistema de envelopes. Portanto, devem enviar seus trabalhos com pelo menos 15 dias de antecedência ao vencimento do prazo.)

14 - Serão classificadas 15 (quinze) trovas e 15 decatrovas nos segmentos veteranos e 5 (cinco) trovas e 5 (cinco) decatrovas no segmento dos Novos Trovadores.  

Cinco VENCEDORAS, cinco MENÇÕES HONROSAS, e cinco MENÇÕES ESPECIAIS nos segmentos Nacional/Internacional e Regional.  No segmento dos Novos Trovadores serão classificadas 5(cinco) VENCEDORAS.

15 - Para o julgamento serão constituídas duas comissões julgadoras. Uma formada por trovadores de reconhecido mérito e pertencentes à UNIÃO BRASILEIRA DE TROVADORES – UBT- Seção de Juiz de Fora podendo contar, também, com integrantes de outras entidades literárias da cidade, para julgamento dos segmentos nacional/internacional. Outra formada por trovadores pertencentes à UBT de outros estados para julgamento do segmento Regional.

16 – Serão concedidos diplomas a todos os classificados. Não haverá cerimônia de encerramento e os diplomas serão encaminhados via internet ou correios.

17 – Ao inscreverem suas trovas os participantes concordam com os termos deste regulamento, liberando automaticamente sua publicação e uso pelos organizadores.

18- A decisão dos julgadores será soberana e irrevogável.

Maiores informações pelos e-mails:  
toni.rochafilho@gmail.com e ubtjuizdefora@gmail.com
Ou pelos telefones (32) 98881-4900 , (32) 98444-4810

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XVIII CONCURSO DE TROVAS E MICRO-CONTO/NANOCONTO DA UBT-MARANGUAPE

Prazo: 31 de março

REGULAMENTO

1. TROVA

O concurso tem por finalidade a produção e divulgação da Trova literária, de acordo com
a UBT.

Trova é uma composição poética de quatro versos heptasílabos (sete silabas poéticas) contados até a última sílaba tônica, com rimas obrigatórias do 1º com o 3º versos e do 2º com o 4º, sistema (ABAB), com sentido ou um pensamento completo, em português.

A trova deve ser inédita e o tema constar na trova.

2. ÂMBITOS E TEMAS

Uma trova por tema em todos os âmbitos

2.1. ÃMBITO NACIONAL/INTERNACIONAL (EXCETO CEARÁ):

– Uma trova por tema

2.1.1. Caminho (Lírica/Filosófica) – Novo Trovador

2.1.2. Frio (Humorística) – Novo Trovador

(Registrar Novo Trovador abaixo da trova).

2.1.2. Esperança (Lírica/Filosófica) – Veteranos

2.1.3. Jogo (Humorística) – Veteranos

2.2. ÂMBITO ESTADUAL (CEARÁ):

– Duas trovas por tema

2.2.1. Gratidão (Lírica/Filosófica)

2.2.2. Calor (Humorística)

2.3. ÂMBITO MUNICIPAL:

– Duas trovas por tema

2.3.1. Repente (Lírica/Filosófica)

OBS:


i) As trovas e demais trabalhos recebidos por e-mail serão copiadas para o coordenador, sem o nome e o endereço do concorrente.

ii) Nacional/Internacional – Trovadores residentes nas Unidades da Federação e em outros países. Exceto para os trovadores do Ceará.

iii) Estadual – residentes no Ceará, inclusive Juventrova das UBTs do Ceará e de Maranguape.

iv) Municipal – Exclusivamente para Trovadores da UBT-Maranguape, acadêmicos da ACLA, residentes / estudantes no município que disputam apenas no âmbito municipal) e JUVENTROVA (por escola do município).

3. MODO DE ENVIO DE TROVAS

3.1. Por e-mail:

ubt.ceara@gmail.com,  para o fiel depositário Gutemberg Liberato.

3.2. Pelo correio:

XVIII CONCURSO DE TROVAS/2021 – UBT– Maranguape
A/C Francisco Lopes
R. Major Agostinho, 558 – Centro
CEP. 61940-090 – Maranguape/CE


Remetente: Luiz Otávio
R. Major Agostinho, 558 – Centro
CEP. 61940-090 – Maranguape/CE

4. MICROCONTO/NANOCONTO

Microcontos / nanocontos (máximo de 140 caracteres - incluindo letras, pontuação e espaço em branco).

Tema: Referente ao repente como patrimônio cultural do Brasil.

Âmbitos: Nacional/Internacional, Estadual e Municipal - Trabalho inédito, em referência ao tema.

Obrigatório título [O título não conta para os 140 caracteres].

5) LIMITES

Trova âmbito Nacional/internacional:
Uma trova por concorrente e por tema.

Trova âmbito Estadual:
Duas Trovas por concorrente e por tema.

Trova âmbito Municipal:
Duas Trovas por concorrente
 
Microconto / nanoconto:
Um trabalho por participante.

6) ENDEREÇO PARA REMESSA DOS TRABALHOS

Por e-mail para o endereço eletrônico:
ubt.ceara@gmail.com indicando

o nome e endereço completo do autor, Município e Estado. Se estudante indicar também o nome da escola, série/turma.

As trovas e microcontos devem ser enviados no corpo do e-mail. NÃO ENVIAR ANEXOS.

7) PRAZO

Recebimento até 31 de março de 2022 às 23h59.

8) CLASSIFICAÇÕES

Serão classificados 20 trabalhos por tema: 5 Vencedores [1º ao 5º] / 5 menções honrosas [6º ao 10º], 5 menções especiais [11º ao 15º], 5 Destaques [16º ao 20º] - Trovas e microcontos/nanocontos.

9) PRÊMIOS

Diploma para cada um dos quinze classificados no tema. Os resultados devem ser anunciados em maio, em data a ser confirmada. Todos os diplomas serão enviados por e-mail.

10) JULGAMENTO

A UBT-Maranguape, UBT-Ceará e a ACLA formarão as comissões julgadoras e apuradoras. As decisões das comissões julgadoras e apuradoras serão irrevogáveis e irrecorríveis.

10.1. A simples remessa e participação no concurso autoriza automaticamente a publicação e divulgação pela UBT-Maranguape e ACLA dos trabalhos não eliminados pelas comissões julgadora e apuradora, em livros, jornais rádios, internet (sites e blogs), redes sociais, informativos das Academias, nas escolas/faculdades, com indicação do autor. Os trabalhos não serão devolvidos.

Maranguape, CE, em 01 de dezembro de 2021.
Francisco Lopes
Presidente da UBT-MARANGUAPE, da ACLA e Coordenador do Concurso.


Fonte:
Boletim da UBT Nacional – janeiro 2022.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Solange Colombara (Portfólio de Spinas) 11

 

Alcântara Machado (Amor e sangue)

Sua impressão: a rua é que andava, não ele. Passou entre o verdureiro de grandes bigodes e a mulher de cabelo despenteado.

– Vá roubar no inferno, Seu Corrado!

"Vá sofrer no inferno, Seu Nicolino!" Foi o que ele ouviu de si mesmo.

– Pronto! Fica por quatrocentão.

– Mas é tomate podre, Seu Corrado!

Ia indo na manhã. A professora pública estranhou aquele ar tão triste. As bananas na porta da Quitanda Tripoli Italiana eram de ouro por causa do sol. O Ford derrapou, maxixou, continuou bamboleando. E as chaminés das fábricas apitavam na Rua Brigadeiro Machado.

Não adiantava nada que o céu estivesse azul porque a alma de Nicolino estava negra.

– Ei, Nicolino! NICOLINO!

– Que é?

– Você está ficando surdo, rapaz! A Grazia passou agorinha mesmo.

– Des-gra-ça-da!

– Deixa de fita. Você joga amanhã contra o Esmeralda?

– Não sei ainda.

– Não sabe? Deixa de fita, rapaz! Você…

– Ciao.

– Veja lá, hein! Não vá tirar o corpo na hora. Você é a garantia da defesa.

A desgraçada já havia passado.

Ao Barbeiro Submarino. Barba: 300 réis. Cabelo: 600 Réis. Serviço Garantido.

– Bom dia!

Nicolino Fior d’Amore nem deu resposta. Foi entrando, tirando o paletó, enfiando outro branco, se sentando no fundo a espera dos fregueses. Sem dar confiança. Também Seu Salvador nem ligou.

A navalha ia e vinha no couro esticado.

– São Paulo corre hoje! É o cem contos!

O Temístocles da Prefeitura entrou sem colarinho.

– Vamos ver essa barba muito bem feita! Ai, ai! Calor pra burro. Você leu no Estado o crime de ontem, Salvador? Banditismo indecente.

– Mas parece que o moço tinha razão de matar a moça.

– Qual tinha razão nada, seu! Bandido! Drama de amor coisa nenhuma. E amanhã está solto. Privações de sentidos. Júri indecente, meu Deus do Céu! Salvador, Salvador… – cuidado aí que tem uma espinha – … este país está perdido!

– Todos dizem.

Nicolino fingia que não estava escutando. E assobiava a Scugnizza.

As fábricas apitavam.

Quando Grazia deu com ele na calçada abaixou a cabeça e atravessou a rua.

– Espera aí, sua fingida.

– Não quero mais falar com você.

– Não faça mais assim pra mim, Grazia. Deixa que eu vá com você. Estou ficando louco, Grazia. Escuta. Olha, Grazia! Grazia! Se você não falar mais comigo eu me mato mesmo. Escuta. Fala alguma cousa por favor.

– Me deixa! Pensa que eu sou aquela fedida da Rua Cruz Branca?

– O quê?

– É isso mesmo.

E foi almoçar correndo.

Nicolino apertou o fura-bolos entre os dentes.

As fábricas apitavam.

Grazia ria com a Rosa.

– Meu irmão foi e deu uma bruta surra na cara dele.

– Bem feito! Você é uma danada, Rosa. Xi!…

Nicolino deu um pulo monstro.

– Você não quer mesmo mais falar comigo, sua desgraçada?

– Desista!

– Mas você me paga, sua desgraçada!

– Nã-ã-o!

A punhalada derrubou-a.

– Pega! Pega! Pega!

– Eu matei ela porque estava louco, Seu Delegado!

Todos os jornais registraram essa frase que foi dita chorando.

Eu estava louco —————
Seu Delegado! —————-
Matei por isso! —————- Bis
Sou um desgraçado! ——–

O estribilho do Assassino por amor (Canção da atualidade para ser cantada com a música do “Fubá”, letra de Spartaco Novais Panini) causou furor na zona.

Fonte:
Alcântara Machado. Brás, Bexiga e Barra Funda. Publicado em 1927.

Cecília Meireles (Antologia Poética) = 3 =

CANTIGUINHA


Meus olhos eram mesmo água,
— te juro —
mexendo um brilho vidrado,
verde-claro, verde-escuro.

Fiz barquinhos de brinquedo,
— te juro —
fui botando todos eles
naquele rio tão puro.
.....................

Veio vindo a ventania,
— te juro —
as águas mudam seu brilho,
quando o tempo anda inseguro.

Quando as águas escurecem,
— te juro —
todos os barcos se perdem,
entre o passado e o futuro.

São dois rios os meus olhos,
— te juro —
noite e dia correm, correm,
mas não acho o que procuro.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

CRIANÇA

Cabecinha boa de menino triste,
de menino triste que sofre sozinho,
que sozinho sofre, — e resiste.

Cabecinha boa de menino ausente,
que de sofrer tanto se fez pensativo,
e não sabe mais o que sente...

Cabecinha boa de menino mudo
que não teve nada, que não pediu nada,
pelo medo de perder tudo.

Cabecinha boa de menino santo
que do alto se inclina sobre a água do mundo
para mirar seu desencanto.

Para ver passar numa onda lenta e fria
a estrela perdida da felicidade
que soube que não possuiria.
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EPIGRAMA N.o 4

O choro vem perto dos olhos
para que a dor transborde e caia.
O choro vem quase chorando
como a onda que toca na praia.

Descem dos céus ordens augustas
e o mar chama a onda para o centro.
O choro foge sem vestígios,
mas levando náufragos dentro.
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FIO

No fio da respiração,
rola a minha vida monótona,
rola o peso do meu coração.

Tu não vês o jogo perdendo-se
como as palavras de uma canção.

Passas longe, entre nuvens rápidas,
com tantas estrelas na mão...

— para que serve o fio trêmulo
em que rola o meu coração?
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INVERNO

Choveu tanto sobre o teu peito
que as flores não podem estar vivas
e os passos perderam a força
de buscar estradas antigas.

Em muita noite houve esperanças
abrindo as asas sobre as ondas.
Mas o vento era tão terrível!
Mas as águas eram tão longas!

Pode ser que o sol se levante
sobre as tuas mãos sem vontade
e encontres as coisas perdidas
na sombra em que as abandonaste.

Mas quem virá com as mãos brilhantes
trazendo o seu beijo e o teu nome,
para que saibas que és tu mesmo,
e reconheças o teu sonho?

A primavera foi tão clara
que se viram novas estrelas,
e soaram no cristal dos mares,
lábios azuis de outras sereias.

Vieram, por ti, músicas límpidas,
trançando sons de ouro e de seda.
Mas teus ouvidos noutro mundo
desalteravam sua sede.

Cresceram prados ondulantes
e o céu desenhou novos sonhos,
e houve muitas alegorias
navegando entre Deus e os homens.

Mas tu estavas de olhos fechados
prendendo o tempo em teu sorriso.
E em tua vida a primavera
não pode achar nenhum motivo...

Fonte:
Cecília Meirelles. Viagem. Lisboa: Império, 1938.