sábado, 15 de dezembro de 2012

José de Alencar (Ao Correr da Pena) Rio, 22 de abril: A Estação das Flores


O Botafogo continua a ser o rendez-vous da sociedade elegante desta corte.

As tardes não têm sido tão lindas como deviam; mas felizmente aí vem o mês de maio, o mês das flores, da poesia, a verdadeira primavera da nossa terra.

Começa a estação dos bailes e dos saraus. O Campestre dá a sua primeira partida por estes dias; o Cassino nos promete uma bela noite antes do fim do mês.

Teremos naturalmente, como nos anos passados, uma febre dançante. Ninguém escapará à epidemia; e até alguns malévolos espelham que o próprio ministério fará uma contradança.

Venha, pois, o mês gentil, a estação das flores, com as suas belas tardes, com as suas lindas manhãs de cerração, com os seus dias puros e frescos!

Quanta coisa bonita que se prepara este tempo! Que belas noites, que alegres divertimentos nos promete ainda o arrabalde do Botafogo!

Uma regata, um baile popular, e um fogo de artifício suspenso sobre as águas límpidas da baía! Que magnífico espetáculo!

A minha pena, coitadinha, já está tremendo de susto, só com a idéia de que há de ser obrigada a descrever todas essas maravilhas! Que se arranje como puder; é coisa que bem pouco me embaraça.

Além destes encantadores divertimentos, ainda teremos outros que por ora estão em segredo, e que se revelarão a seu tempo; assim como muita novidade política que se está guardando para a abertura das câmaras.

Que novidades são estas? Não sei; correm tantas versões, que é impossível acertar com a verdadeira. Cada um descreve a situação à sua maneira, forma conjeturas, e acaba fazendo uma pergunta que está no pensamento de todos:

- Haverá oposição?

Entretanto, na minha fraca opinião, a situação é a mais bela e a mais esperançosa que é possível. Navegamos num mar de rosas ao sopro das brisas bonançosas; faz um tempo soberbo: tudo sorri, tudo brilha.

E, se não, lancem os olhos sobre a atualidade e estudem com atenção os prognósticos favoráveis que vão aparecendo.

Com a entrada da boa estação, as folhas de uma árvore que diziam carunchosas, as folhas da Constituição, reverdecem. Hércules reveste-se da túnica de Nesso, e dispõe-se a recomeçar os sete grandes trabalhos. A nossa marinha se enriquece consideravelmente com uma nau de pedra, invento que não possuem os países mais civilizados da Europa. Finalmente, o exército teve uma promoção!

Não há, pois, que duvidar. A época é toda de esperanças; e, se por aí se vêem esvoaçar urubus, não é porque o ministro esteja doente. Qual! é porque estamos tratando agora da limpeza das praias.

Há também uns sujeitinhos que espalham que o ministério já não regula. Que contra-senso! O ministério dos regulamentos! Bem se vê que são coisas a que não se deve dar o menor crédito.

Assim, pois, creio que se pode responder negativamente à pergunta que fazem todos os políticos. Não teremos oposição. Tratar-se-á de uma outra questão jurídica e administrativa; far-se-ão algumas interpelações, e nada mais.

Quatro meses depressa se passam; e os ministros, que gostam tanto do gabinete, mas que têm uma ojeriza particular às câmaras, tomarão um meio termo, e decidirão nos salões com os deputados as questões mais importantes da administração.

O salão é um terreno neutro entre a câmara e o gabinete. No gabinete só entram os íntimos, aqueles que estão no segredo do dono da casa e que gozam da sua familiaridade. A câmara é o aposento onde ordinariamente têm lugar os arrufos e as zanguinhas do marido com a mulher, onde de ralha e se passam algumas horas de mau humor.

No salão, porém, recebem-se todas as visitas de cerimônia ou de intimidade; dão-se bailes, reuniões dançantes e concertos. Conversa-se ao som da música; conferencia-se a dois no meio de muita gente, de maneira que nem se fala em segredo, nem em público.

Se a palestra vai bem, procura-se alguma chaise-longue num canto da sala, e, a pretexto de tomar sorvete ou gelados, faz-se uma transação, efetua-se um tratado de aliança.

Se a conversa  toma mau caminho, aí aparece uma quadrilha que se tem de dançar, uma senhora a que se devem fazer as honras, um terceiro que chega à propósito; e acaba-se a conferência, e livra-se o ministro do dilema em que se achava, do comprometimento de responder sim ou não.

Um ministério prudente deve por conseguinte procurar sempre o salão antes de entrar na câmara, e isto até mesmo por uma analogia com o que se passa nas relações domésticas e na vida familiar.

Um namorado imprudente que, prescindindo das etiquetas, quisesse logo do primeiro dia penetrar na câmara de alguma beleza fácil que requestasse, corria seu perigo de ver-se obrigado a saltar pela janela, a quebrar uma perna, e talvez a ser agarrado pela polícia.

Ao contrário, um conquistador de tática, que primeiro se faz apresentar no salão, que concilia as boas graças da mamãe, e se inicia nos negócios do papai, que se faz necessário, daí a pouco passa à varanda, ao gabinete, e por fim conquista a câmara.

Bem entendido, conquista a câmara com o auxílio da igreja; assim como o ministério deve conquistá-la com o auxílio da justiça.

Está, pois, definido o programa da nossa situação política. O ministério deve abrir os seus salões, dar um baile as noites, e tratar de fazer com que haja bons espetáculos líricos, a fim de os teatros serem concorridos.

Realizando este programa, não deve ter medo dos deputados, porque ninguém deixará as belas salas iluminadas e as elegantes rainhas da moda com todas as fascinações, para se ir meter numa câmara velha e escura, que até já foi cadeia!

Além do sossego de espírito, ganharão os ministros uma popularidade espantosa entre as moças, entre os leões da cidade, e até entre os músicos e os sorveteiros, que abençoarão este diário consumo de notas e de sorvetes.

Nenhum folhetinista poderá deixar de fazer o seu elogio quando no domingo passar em resenha os magníficos saraus que tiverem lugar durante a semana, e acharem nas suas recordações as mais belas idéias e as mais bonitas inspirações para um artigo poético.

As moças com este trato contínuo fascinarão de todo os seus adoradores; e o número dos casamentos se multiplicará consideravelmente, trazendo um sensível aumento de população, devido unicamente à política do ministério.

Deixemos por um momento esta perspectiva brilhante, para olhar um quadro triste da semana, uma cena de luto em que devemos tomar parte.

Faleceu na noite de segunda-feira o Sr. Conselheiro João Duarte Lisboa Serra. Ainda na flor da idade, sucumbiu a uma enfermidade cruel, depois de um longo sofrimento de cerca de três meses.

Reunia às virtudes cívicas e à inteligência e integridade de vida pública os mais nobres sentimentos do homem; era um zeloso empregado, um cidadão honesto, um amigo leal, e um excelente pai de família.

Não há muito tempo, numa carta que nos dirigiu, ofereceu-nos uma poesia feita nas suas noites de insônia e de padecimento. Mal sabíamos nós, ao ler estes versos tão simples e tão repassados de mágoa e de sentimento, que ouvíamos o canto do cisne.

Aqui os copio com o trecho da carta. Os seus amigos, aqueles que o estimavam, ouvirão ainda uma vez as suas palavras.

“Adeus!

“Bem quisera terminar mandando-lhe alguma flor mimosa colhida como por encanto no meio das vastas e monótonas Campinas deste meu prosaico retiro. Mas apenas deparo com os ramos fúnebres do cipreste.
...............................................................................................................................
“Leia, pois, no meio das esperanças que lhe sorriem, esses tristes versos do desengano; e receba no grito do moribundo uma lembrança indelével do amigo.

“É a minha oração da manhã.
Domine, exaudi orationem meam!
Morrer tão moço ainda! Quando apenas
Começava a pagar à pátria amada
Um escasso tributo, que devia
                 A seus doces extremos!

Morrer tendo no peito tanta vida,
Tanta idéia na mente, tanto sonho,
Tanto afã de servi-la, caminhando
               Ao futuro com ela!...

Se ao menos de meus filhos eu pudesse,
Educados por mim, legar-lhe o esforço...
Mas ah! que os deixo tenras florezinhas
            À mercê dos tufões.

Vencerão das paixões o insano embate?
Sucumbirão na luta do egoísmo?
As crenças, a virtude, o sentimento,
            Quem lhes há de inspirar?

Não te peço, meu Deus, mesquinhos gozos
Deste mundo ilusório; mas suplico
Tempo de vida, quanto baste apenas
           Para educar meus filhos.

É curto o prazo; dai-me embora ao fel
Dos sofrimentos; sorverei contente.
Lúcida a mente, macerai-me as carnes
          Estortegai meu corpo.

E após, tranqüilo, volverei ao seio
Da eternidade. A fímbria do teu manto,
Face em terra, beijando, o meu destino
          Ouvirei de teus lábios.

Andaraí, 1855.”.

Voltemos a página, e passemos dos dramas verdadeiros e reais aos dramas escritos, às cenas do teatro.

O Ginásio deu a sua terceira representação, na qual estreou uma espirituosa menina, que tem um belo talento e as melhores disposições para a cena. Em algumas ocasiões especialmente representou com tanta inteligência, com tanta graça, que arrancou aplausos gerais.

A companhia vai perfeitamente, tanto quanto é possível aos modestos recursos de que dispõe. É conhecida geralmente a falta que temos de bons atores; e por isso não há remédio senão ir criando novos. O Ginásio por ora é apenas uma escola; mas uma escola que promete bons artistas.

A sala é pequena; entretanto a circunspeção que reina sempre nos espectadores, a lotação exata das cadeiras e gerais, a regularidade da representação, fazem que se passe uma noite agradável, e muito mais divertida do que no Teatro de São Pedro de Alcântara.

Se as minhas amáveis leitoras duvidam, vão examinar com os seus próprios olhos se falto a verdade. Vão assistir a uma noite de espetáculo, e ver brincar na cena com toda a naturalidade aquela interessante e maliciosa menina de que lhes falei.

As minhas leitoras se recusariam por acaso a fazer este benefício à arte, dando tom a este pequeno teatrinho, que tanto precisa de auxílio e proteção?

Estou certo que não; e está me parecendo que esta noite enxergarei pelos camarotes muito rostinho gentil, muito olhar curioso procurando ver se eu os enganei e faltei à verdade.

Fonte:
José de Alencar. Ao Correr da Pena. SP: Martins Fontes, 2004.

Jornais e Revistas do Brasil (Correio da Manhã)


Período disponível: 1901 a 1974 
Local: Rio de Janeiro, RJ 

Um dos mais respeitáveis e longevos periódicos do país, o Correio da Manhã nasceu bastante modesto. Sua primeira edição, de 15 de junho de 1901, tinha apenas seis páginas, sendo três ocupadas por anúncios. Com formato standard e periodicidade diária, não trazia manchetes, como boa parte dos jornais de sua época. A primeira página apresentava apenas um título grande e o texto se distribuía por oito colunas, além de não publicar fotogravuras, só desenhos.

 Na primeira página vinham assuntos nacionais, acontecimentos de destaque no Rio de Janeiro, críticas, editoriais e troças com a política e a sociedade cariocas. Na segunda página figurava o noticiário internacional (que passaria à primeira página nos períodos das grandes guerras), de conteúdo fornecido pela agência de notícias Havas. O diário apresentava ainda as editorias “Seção de Comércio”, “Letras e Artes”, “Dia Social”, “Teatro” e “Dia da Caserna”.

 Em 1906 o jornal se tornou o primeiro periódico brasileiro a apresentar um caderno especial aos domingos, agora já com fotogravuras. Em 1929, novas rotativas foram instaladas nas oficinas do Correio da Manhã, que em 1933 possibilitaram algumas inovações editoriais, como a criação de manchetes e de seções infantis, femininas, de rádio e de agricultura, entre outras. Em 1959, o jornal passou a ter um segundo caderno em definitivo, e em 1962 edições impressas a cores, como os cadernos de quadrinhos destinados ao público infanto-juvenil. Nos seus melhores momentos, as tiragens diárias do Correio da Manhã foram superiores a 200 mil exemplares.

 Fundado por um jovem advogado idealista chamado Edmundo Bittencourt, o Correio da Manhã é considerado hoje um dos mais importantes jornais brasileiros do século XX, introdutor de uma ética própria e de refinamentos textuais que se transformariam na sua marca. Nascido numa época em que a imprensa costumava fazer sempre o jogo do poder, o periódico primava por seu caráter independente, liberal e doutrinário, dentro de uma linha editorial combativa. Identificava-se com a classe média do Rio de Janeiro e apresentando muitas vezes aos leitores textos de forte carga emocional. Ao longo do tempo desenvolveu também certa preocupação estética inovadora, marcada pela crescente valorização de ilustrações e fotos. Ademais, o Correio da Manhã sempre se posicionava a favor de medidas modernizadoras e contra as oligarquias que, aliadas às forças governamentais, bloqueava na sua opinião o acesso do povo a alguns de seus direitos fundamentais.

 Desde a primeira edição o Correio da Manhã caracterizou-se, nas palavras de Nélson Werneck Sodré, por um “ferrenho oposicionismo, de extrema virulência”, em contraste, ainda segundo o historiador, com o “extremo servilismo” adotado por jornais concorrentes. O jornal manteve-se fiel a essa linha inicialmente fazendo oposição ao governo Campos Salles, e mais tarde à ditadura de Getúlio Vargas, ao governo de João Goulart e, por fim, ao regime civil-militar instaurado em 1964. Por outro lado, posicionou-se favoravelmente diante de históricos que testemunhou, como ao engajamento brasileiro na Primeira e na Segunda Guerras Mundiais, instando os diferentes governos a se aliarem a causas que considerava patrióticas.

 Mesmo os seus eventuais equívocos teriam sido no sentido de defender os direitos dos cidadãos. É o caso da histórica campanha que o jornal moveu contra a vacinação obrigatória contra a varíola imposta pelo governo federal por inspiração do médico sanitarista Oswaldo Cruz. O Correio da Manhã condenou de forma veemente a vacinação em massa, e sua posição pode ter insuflado a Revolta da Vacina, que entre os dias 10 e 16 de novembro de 1904 transformou a centro da antiga capital federal numa praça de guerra, deixando o saldo de 30 mortos. O que chegou a ser visto com uma atitude reacionária e obscurantista do Correio da Manhã, já que se conhecem os benefícios da vacinação, especialmente para aquela época, quando o Rio de Janeiro era uma cidade das mais insalubres, hoje historiadores tendem a considerá-la como uma questão de princípios. O que o jornal se negava a admitir era aquela invervenção do poder central que considerava radical na vida pessoal dos brasileiros.

 Por essas e outras, o Correio da Manhã foi sempre muito visado pelo poder. Em 31 de agosto de 1924, o jornal chegou a ser fechado pelo presidente Artur Bernardes, sob a acusação de estar imprimindo clandestinamente o folheto Cinco de Julho, em apoio aos 18 do Forte. Em 20 de maio de 1925 o periódico foi reaberto, sob a direção provisória do senador Moniz Sodré. Poucos anos depois, Edmundo Bittencourt passava a direção e a propriedade do jornal ao seu filho, Paulo Bittencourt, que assumiu a 17 de março de 1929. Em 2 de agosto de 1963, com o falecimento de Paulo Bittencourt, Niomar Moniz Sodré (sua esposa e filha do senador Moniz Sodré) passou a ocupar o cargo de diretora-presidente do jornal. Desde 16 de julho daquele ano, uma grande reforma gráfica já estava em curso. O Correio da Manhã passava a ter menos blocos de texto, privilegiando os espaços em branco (sobretudo no segundo caderno) e emprego maior da fotografia, esta última com legendas mais instigantes e criativas, iniciando uma nova tendência na imprensa carioca. Pouco depois de iniciada essa nova fase, o Correio da Manhã, passaria a sofrer com a interferência do poder militar.

 No impasse que se seguiu à renúncia de Jânio Quadros, em agosto de 1961, o Correio da Manhã posicionou-se coerentemente a favor da posse do vice-presidente, João Goulart, que lideranças militares não queriam aceitar. Pouco tempo depois, outra vez por questão de princípios, o jornal pôs-se contra o governo de João Goulart, por considerar que ele estimulava atitudes que iam contra a Constituição e a ordem pública, como, por exemplo, o suposto estímulo à quebra de hierarquia nas Forças Armadas. Ficaram famosos pelo estilo e contundência seus dois editoriais – “Basta!”, de 31 de março de 1964, e “Fora!”, de 1º de abril – que denunciavam desmandos do governo de Jango e anunciavam sua derrubada pelo golpe civil-militar.

 O que o Correio da Manhã e outros jornais que apoiaram o golpe esperavam era que o novo presidente da República imposto pelos conspiradores, marechal Humberto Castello Branco, convocasse eleições e entregasse o governo a uma liderança civil. Mas os militares, uma vez instalados, preferiram manter-se no poder. O Correio da Manhã começa então a denunciar as arbitrariedades do regime militar. Nenhum outro jornal do Rio de Janeiro deu tanto espaço às manifestações de rua contra os governos de Castello Branco e Costa e Silva, quando policiais e estudantes de confrontavam em embates violentos nas ruas das principais cidades do país. As posições – tanto do regime quanto do jornal – se radicalizariam após a publicação do Ato Institucional nº 5, em dezembro de 1968, que cassou os direitos fundamentais de cidadania e fez o país submergir por mais de duas décadas nas sombras de uma ditadura agora declarada.

 No pouco tempo que lhe restou de vida a partir daí, o Correio da Manhã continuou fiel a seus princípios, denunciando na medida do possível, apesar da censura, prisões arbitrárias, torturas e outras violências praticadas pelo regime. Após um obscuro período marcado por boicotes de anunciantes (temerosos de retaliações do governo), um atentado à bomba ocorrido na sua redação, em 7 de dezembro de 1968, e uma série de perseguições, prisões e cassações dos direitos políticos contra jornalistas e administradores que lá militavam, o Correio da Manhã acabou por ser arrendado, em 1969, à Editora Comunicações Sistemas Gráficos, de propriedade de Maurício Nunes de Alencar. Nesta última fase, o jornal voltaria a incomodar o regime militar, mas acabou extinto definitivamente em julho de 1974. Somava-se a isso o drama pessoal da antiga proprietária do Correio da Manhã, vítima de uma série de ataques supostamente promovidos por agentes da repressão política ou por simpatizantes da ditadura, que incluíram um incêndio em sua coleção particular de documentos e livros e até tentativas de assassinato.

 Nos seus últimos momentos, o Correio da Manhã parecia ter voltado ao seu estado inicial de penúria, saindo com edições de apenas oito páginas, em tiragens que variavam em torno de três mil exemplares por dia.

 Em sua trajetória, o jornal contou com contribuições de personalidades brasileiras do campo político e cultural, como Rui Barbosa, José Veríssimo, Coelho Neto, Artur Azevedo, Afonso Celso, Medeiros e Albuquerque, Evaristo de Morais, Carlos de Laet, Alberto de Oliveira, Antonio Salles, Leão Veloso Filho (que usava o pseudônimo de Gil Vidal), Álvaro Lins, Graciliano Ramos, Carlos Drummond de Andrade, Carlos Lacerda, Aurélio Buarque de Holanda, Franklin de Oliveira, Antônio Callado, Rubem Braga, Antonio Moniz Vianna, Carlos Heitor Cony, Otto Maria Carpeaux, Luis Alberto Bahia, Nelson Rodrigues, Oswaldo Peralva, Fernando Pedreira, Márcio Moreira Alves, Hermano Alves, Paulo Francis, Newton Carlos, Paulo de Castro, Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Decio Pignatari, Oliveira Bastos, José Lino Grünewald, Ferreira Gullar, entre outros. Muitos destes últimos eram colaboradores frequentes do denso “4º Caderno”, suplemento dominical do final dos anos 1960, em que se discutiam política nacional e internacional, literatura, artes plásticas e filosofia.

Fontes consultadas:
 Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro: Secretaria Especial de Comunicação Social. Correio da Manhã – Compromisso com a verdade. Cadernos da Comunicação. Série Memória, vol. 1: Rio de Janeiro, 2005.
 ANDRADE, Jéferson Ribeiro de. Um jornal assassinado: a última batalha do Correio da Manhã. José Olympio: Rio de Janeiro, RJ, 1991
 SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. Civilização Brasileira, RJ, 1966.

Fonte:
http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/correio-da-manhã

Soares dos Passos (Canção)


Que noite d'encanto!
Que lúcido manto!
Que noite! amo tanto!
Seu mudo fulgor!
Oh! vem, ó donzela;
Não temas, ó bela,
Que a noite só vela
Quem sonha d'amor.

A luz infinita
Dos astros, crepita,
Arqueja e palpita,
Serena a brilhar:
Assim o teu seio,
De casto receio,
De tímido enleio
Costuma pulsar.

A lua, qual chama,
Que os seios inflama,
Fanal de quem ama,
Desponta no céu;
E a nítida fronte
Retrata na fonte
E estende no monte
Seu cândido véu.

E a fonte murmura
Por entre a verdura,
E ao longe d'altura
Lá desce a gemer:
Que sons, que folguedos!
Parece aos rochedos
Dizer mil segredos
D'infindo prazer.

Silêncio! o trinado
Lá volta enlevado,
Das noites o amado,
Da selva o cantor;
E o hino que entoa
No bosque ressoa
E ao longe revoa,
Gemendo d'amor.

O facho da lua
Coa sombra flutua,
Avança e recua
No chão do jardim;
Nas asas da aragem,
Que agita a folhagem,
Recende a bafagem
Da rosa e jasmim.

Que noite d'encanto!
Que lúcido manto!
Que noite! amo tanto
Seu mudo fulgor!
Oh! vem, ó donzela;
Não temas, ó bela,
Que à noite só vela
Quem sonha d'amor.

Fonte: 
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource

Concursos Literários Estância da Poesia Crioula (Resultados)


A Estância da Poesia Crioula tem a honra de apresentar o resultado final dos Concursos Literários do 2º Semestre de 2012, que contou com a participação de poetas de vários municípios gaúchos e estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco, Santa Catarina, Pará, Paraná, Minas Gerais, Bahia e Piauí, além dos países Argentina, Portugal, Japão, Chile e Estados Unidos. 
-
3º CONCURSO LITERÁRIO DE POESIA 

EXALTANDO O RIO GRANDE – 2012

1º Lugar
Progresso dos tempos
Autor: Darci Éverton Dárgen
Porto Alegre - RS

2º Lugar
O jogador de bocha
Autor: Ialmar Pio Schneider
Porto Alegre - RS

3º Lugar
Levando a vida
Autor: Marco Aurélio Vasconcellos
Porto Alegre - RS

4º Lugar
Laus Sus Cris
Autor: Mário Amaral
Eldorado do Sul - RS

5º Lugar
Ferreiro de campanha
Autor: Jorge Moreira
Encantado – RS

3º CONCURSO LITERÁRIO DE POESIA RIO GRANDE LÍRICO – 2012

1º Lugar
Mate de espera
Autor: Mário Amaral
Eldorado do Sul

2º Lugar
Embromas de calaveira
Autor: Juarez Cesar Fontana Miranda
Porto Alegre - RS

3º Lugar
Saudade 
Autor: Maria Arita Madruga Garcia
Pelotas - RS

4º Lugar
Campesino 
Autor: Cesar José Tomazzini Liscano
Viamão - RS

5º Lugar
Querência
Autor: Mauricio da Rosa Ávila
Porto Alegre - RS

3º CONCURSO LITERÁRIO DE POESIA OLIVEIRA SILVEIRA – 2012

1º Lugar
De além mar
Autor: Cesar José Tomazzini Liscano
Viamão - RS

2º Lugar
Flores lindas
Autor: Dilmar Paixão
Porto Alegre - RS

3º Lugar
Toada do alforriado
Autor: Mauricio da Rosa Ávila
Porto Alegre - RS

4º Lugar
Presságios 
Autor: Maria de Lurdes Machado
Santa Maria - RS

5º Lugar
Alma de negro
Autor: Edson Marcelo Spode
Panambi - RS

3º CONCURSO NACIONAL DE SONETOS NILZA CASTRO – 2012

1º Lugar
Contra senso
Autor: Humberto Rodrigues Neto 
Pirituba - SP

2º Lugar
Meu velho Rio Tietê
Autor: Lúcio Rodrigues Junior
Tietê - SP

3º Lugar
La magia Del jardín
Autor: Carlos Eduardo Rodriguez Sánchez
Fort Collins, Colorado, USA

4º Lugar
Persuasão muda
Autor: Paulo Rômulo Aquino de Souza
Iguatu - CE

5º Lugar
O que é um adeus
Autor: Samuel Freitas de Oliveira
Avaré - SP

Fonte:
Ialmar Pio Schneider

XXIII Concurso Nacional de Poesia da ALAP (Resultado Final)


PREMIADOS: 

TROFÉU: 
“Anoitecendo”, 
de Anna Maria Avelino Ayres (Poços de Caldas/MG). 

OURO: 

“Impoetante”, 
de Roque Aloísio Weschenfelder (Santa Rosa/RS). 

PRATA: 

“Vazio” e “Ser Poeta”, 
de Vilma Maria de Jesus Mendes e 

“Soneto decassílabo de Porto Seguro”, 
de Paulo Caruso. 

BRONZE: 

“Sonho de Paz”, 
de Sonia Maria Sobreira da Silva; 

“Chove”, 
de Lucia Perissé; 

“O vestido”, 
de Reginaldo Costa de Albuquerque; 

“Ultimo tango”, 
de Terezinha Ofélia Nascimento Rennó; 

“Carta para Chico Buarque”, 
de Flavio Machado e 

“Meus amigos – o melhor...”
de Alberto José de Araújo. 

MENÇÃO ESPECIAL: 

“Desejo de Paz”, 
de Ruth Farah Nacif Luterback; 

“Amor Cigano”, 
de Josafá Sobreira da Silva; 

“Tudo passa”, 
de Fátima Parente; 

“Máscaras”, 
de Luiz Gondim e 

“Encanto da vida”, 
de Abílio Kac. 

MENÇÃO HONROSA: 

“Poeta do povo”, 
de António dos Santos Boavida Pinheiro (Lagos/Portugal) e 

“Adeus”, 
de Edileuza Bezerra de Lima Longo (Perdizes/SP). 

JUVENIL: 

OURO: 

“Cantos e encantos de um maranhense”, 
de Mayara da Silva Jorge; 

“Na terra dos Homens”, 
de Amanda Cristina; 

“O verde do meu viver”, 
de Jaqueline Maria Ribeiro; 

“A noite é silenciosa”, 
de Douglas Campos Cunha; 

“ Sonho ou realidade”, 
de Ivan de Souza Esteves. 

PRATA: 

“Sem rumo”, 
de Amanda Alves Macedo. 

BRONZE: 

“Levaram a minha vida”, 
de Geovane Alves dos Reis; 

“Minha ex-vida”, 
de Maiara Gonçalves de Oliveira; 

“Embora”, 
de Tatiane Paulo de Oliveira; 

“O tudo e o nada”, 
de Isabela da Silva Nascimento; 

“O dia cinza”, 
de Pamela Portilho de Sousa e 

“Um tempo”, 
de Camila Branco de Souza. 

MENÇÃO ESPECIAL: 

“Meu...”, 
de Thaynara Lima Fita; 

“Sinto(muito)”, 
de Diana Paim de Oliveira e 

“Caminho Novo”, 
de Jéssica Ribeiro dos Reis. 

MENÇÃO HONROSA: 

“Eu sou”, 
de Suelen Cristina; 

“Solidão e amor”, 
de Lauany Rodrigues Ribeiro da Silva e 

“Agonia”, 
de Andriele Vieira Ferreira. 

INFANTIL: 

OURO: 

“Somente achados”, 
de Fernanda Kac Szmajser. 

PRATA: 

“Escadaria de poema”, 
de Olavo José Chicareli Almeida

BRONZE: 

“A morte de um amigo”, 
de Jean Benevides Hiath e 

“Meu Pai”, 
de Thais Quintieri Correa. 

Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com 

1° Concurso de Contos de Ituiutaba “Águas do Tijuco” (Resultado Final)


1º lugar 
A Palavra 
Pseudônimo: Jaguar 
Santiago Vilella Marques 
Sinop - MT 

Outros selecionados: 

A Caruta 
Pseudônimo: João Mattos 
José Carlos Mendes Brandão 
Baurú – SP 

Baleia Assassina 
Pseudônimo: Houlden Caulfield 
Caio Henrique Solla 
O escritor não forneceu endereço 

Buraco Negro 
Psedônimo: Julian James 
Lídio José Franco 
Umuarama - PR 

No leito do frade 
Pseudônimo: Mário Rúpulo 
Sebastião Aparecido Ferreira 
Piracicaba – SP 

Olhos azuis e aroma de sabonete 
Pseudônimo: Tecenos 
Zulamr José Lopes de Vasconcelos 
Rio de Janeiro - RJ 

Sobre o sangue 
Tanussi Cardoso 
Não forneceu endereço 

Viagra na gaveta 
Pseudônimo: Isadora 
Maria da Glória de Menezes Vasconcelos Horta 
Rio de Janeiro - RJ 

Zé Berdegó, vosso criado 
Pseudônimo: Bonifácio 
José Inácio Coelho Mendes Neto 
São Paulo – SP 

2D 
Pseudônimo: João Pedro 
Nana Rodrigues 
Curitiba- PR 

Fontes:
http://fundacaoituiutaba.com.br/?p=435 
http://concursos-literarios.blogspot.com 

Editora Oficina Raquel (Lançamento de "Extratextos 1 - Clarice Lispector, personagens reescritos")


Clarice Lispector ganha homenagem da editora Oficina Raquel, que lança o livro "Extratextos 1 - Clarice Lispector, personagens reescritos", de grandes autores, no dia 19 (quarta-feira), no Rio de Janeiro, e dia 20 (quinta-feira), em São Paulo

Para homenagear Clarice Lispector em seu trigésimo quinto aniversário de morte, a Oficina Raquel reúne um elenco de doze destacados escritores e lança *Extratextos 1 - Clarice Lispector, personagens reescritos*.Cada autor escolheu um personagem clariciano e o reescreveu, acrescendo novos sentidos ao pleno sentido da obra de Clarice.

Entre os autores, seis mulheres, entre as quais Conceição Evaristo, e seis homens - Silviano Santiago, por exemplo; sete brasileiros, como Evando Nascimento, e cinco estrangeiros, inclusive Maria Teresa Horta. A organização é de Mayara R. Guimarães e Luis Maffei.

Este é o começo da coleção Extratextos, que homenageará grandes nomes da literatura brasileira e universal.

LANÇAMENTO RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO

 Rio de Janeiro: dia 19/12, quarta-feira, das 18:30 às 22:30

Ateliê Cortiço, Rua Buenos Aires, 282, Centro

- Presença de autores
- Leitura de textos do livro e de Clarice com a atriz Juliana Xavier
- Música ao vivo com o saxofonista Daniel Santos

São Paulo: dia 20/12, quinta-feira, das 18:30 às 22:00

Centro Cultural b_arco, Rua Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, 426, Vila Madalena

- Presença de autores
- Leitura de textos do livro e de Clarice com os atores Júlia Perucci e Osvaldo Romano
- Música ao vivo 

Extratextos 1 - Clarice Lispector, personagens reescritos

Autores: Conceição Evaristo, Evando Nascimento, Godofredo de Oliveira Neto, Hélia Correia, Joseli Ceschim, Luis Maffei, Maria Teresa Horta, Mayara R. Guimarães, Pedro Eiras, Vera Duarte e Vera Giaconi, Silviano Santiago.

Organizado por Luis Maffei e Mayara R. Guimarães

Editora: Oficina Raquel

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 756)



Uma Trova de Ademar  

Em inspirações, imerso, 
fiz do sol o próprio guia 
para conduzir meu verso 
nos caminhos da poesia! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Guardo a sua despedida 
naqueles olhos tristonhos, 
lembranças de amor e vida 
redesenhando os meus sonhos. 
–Rejane Costa/CE– 

Uma Trova Potiguar  

Se nascemos sem pedir, 
e morremos sem querer; 
só nos resta, usufruir, 
desse intervalo e viver... 
–Bob Motta/RN– 

Uma Trova Premiada  

2012   -   Campo de Goytacazes/RJ 
Tema   -   BRILHO   -   2º Lugar 

Quando a mãe beija seu filho 
- tesouro herdado de Deus! - 
quanto fulgor! Quanto brilho 
se espelha nos olhos seus! 
–Diamantino Ferreira/RJ– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Como a gaivota perdida, 
que o vento arrasta nos braços, 
perdi o rumo da vida, 
quando seguia teus passos.
–Hegel Pontes/MG– 

U m a P o e s i a  

Fez o homem, lhe deu sabedoria, 
fez das Tábuas da Lei Sua doutrina. 
Ele manda, não pede, determina, 
mas nos deixa à vontade. Quem diria? 
Fez o lindo Universo em poucos dias, 
mas os homens só querem ser os tais 
e deixar de pecar? Isso, jamais! 
Já mandou o Seu Filho para a cruz, 
nos abriu uma estrada só de luz 
e o que é que Ele falta fazer mais? 
–Gilson Faustino Maia/RJ– 

Soneto do Dia  

CONTRASTE
–Henrique do Cerro Azul/CE– 

Longe de ti, eu te imagino perto:
Vejo esse teu sorriso a todo instante;
Qual se te visse, o coração amante
É um doce ninho ao teu amor aberto.

Perto de ti, te julgo tão distante...
Nem mesmo vejo o teu sorriso incerto;
Com saudade de ti o peito aperto
Relembrando o fulgor do teu semblante.

Também tu és como eu:- os teus sentidos
Se enganam, como os meus, pelos caminhos...
E assim passamos desapercebidos

Do erro de nossos múltiplos carinhos:
- Quanto mais longe tanto mais unidos,
- Quanto mais juntos tanto mais sozinhos !

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

J. G. de Araújo Jorge ("Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou") Parte 1


Abgar de Castro Araújo Renault
(Barbacena MG, 15 de abril de 1901 – Rio de Janeiro RJ, 31 de dezembro 1995)

    " ENCANTAMENTO "

Ante o deslumbramento do teu vulto,
sou ferido de atônita surpresa
e vejo que uma auréola de beleza
dissolve em luar a treva em que me oculto.

Estás em cada reza do meu culto,
sonhas na minha lânguida tristeza
e, disperso por toda a natureza,
paira o deslumbramento do teu vulto.

E' tua vida minha própria vida
e trago em mim tua alma adormecida . . .
mas, num mistério surdo que me assombra,

tu és, as minhas mãos, vaga, fugace,
como um sonho que nunca se sonhasse
ou como a sombra vã de uma outra sombra...
==================

Abílio Chrisóstomo de Carvalho                 
(Vitória, Espirito Santo. 22 de fevereiro de 1916 – Rio de Janeiro/RJ, 8 de outubro de 1977)

" TUAS MÃOS "

Mãos frágeis, mãos divinas, mãos pequenas,
leves, espirituais e perfumadas,
cujas unhas são pérolas morenas
nos escrínios dos dedos engastadas.

Mãos que são duas silabas amenas
no poema dos teus braços enfeixadas;
que, estando acima das visões terrenas,
jamais serão por outras igualadas.

Mãos que ostentam, nas formas delicadas
todo o encanto das noites enluaradas
na linda terra que te viu nascer...

E para eu ser feliz basta somente
beijar teus dedos demoradamente
e sob o afago dessas mãos morrer!
==================

Adaucto Gondim
(Pedra Branca, CE. 17 de janeiro de 1913 - Fortaleza, CE, 12 de setembro de 1980)

 " INGENUIDADE "

Faz, hoje, vários dias que o correio
não traz noticias dela para mim.
Alice me esqueceu, por isso, eu creio
que o nosso amor vai terminar, enfim.

Suas cartas antigas eu releio.
O amor de uma mulher é sempre assim:
falsas promessas, juras de permeio,
e a gente espera até que chegue o fim.

O coração de Alice, eu já sabia
que, empedernido, é como a lousa fria:
não sente e nem palpita de emoção...

O culpado fui eu, fui eu somente,
que sabendo de tudo, ingenuamente,
amei uma mulher sem coração!
==================

Adelino Fontoura  Chaves
(Axixá, Maranhão, 30 de março de 1859 - Lisboa, Portugal, 2 de maio de 1884.

" ATRAÇÃO E REPULSÃO "

- Eu nada mais sonhava nem queria
que de ti não viesse ou não falasse;
e como a ti te amei, que alguém me amasse
coisa incrível até me parecia.

Uma estrela mais lúcida eu não via
que nesta vida os passos me guiasse,
e tinha fé, cuidando que encontrasse
após tanta amargura, uma alegria.

Mas tão cedo extinguiste este risonho,
este encantado, deleitoso engano,
que o bem que achar supus já não suponho.

Vejo enfim, que és um peito desumano;
se fui, té junto a ti de sonho em sonho,
voltei de desengano em desengano.

" CELESTE "

É tão divina a angélica aparência
e a graça que ilumina o rosto dela,
que eu concebera o tipo da inocência
nessa criança imaculada e bela.

Peregrina do céu, pálida estrela
exilada da etérea transparência,
sua origem não pode ser aquela
da nossa triste e mísera existência.

Tem a celeste e ingênua formosura,
e a luminosa aureola sacrossanta
duma visão do céu, cândida e pura.

E quando os olhos para o céu levanta
inundados da mística doçura,
nem parece mulher - parece santa.

Fonte:
J.G . de  Araujo Jorge . "Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou" - 1a ed. 1963

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 755)



Uma Trova de Ademar  

É terapeuta da mente,
mestre maior do saber...
O Livro é o melhor presente
que alguém pode receber.
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Nesta existência sofrida, 
triste certeza me invade: 
o sonho ardendo na vida, 
e a vida a arder na saudade. 
–Giselda Medeiros/CE– 

Uma Trova Potiguar  

As gaiolas da maldade 
são projetos anti-ninhos, 
retirando a liberdade 
das asas dos passarinhos. 
–Djalma Mota/RN– 

Uma Trova Premiada  

2004   -  Petrópolis/RJ 
Tema   -  FORTUNA   -  3º Lugar. 

Não há fortuna que valha 
a glória de Trovador
e Deus bem sabe a quem talha
para esculpir-lhe o valor! 
–José Antonio de Freitas/MG– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Somei doçuras às tuas, 
foi tanto amor à granel, 
que pude ver muitas luas 
na minha lua de mel. 
–Analice Feitoza de Lima/SP– 

U m a P o e s i a  

Pus um fim! Pois amar não vale a pena...!
Mesmo sendo a paixão forma sublime,
Desisti de ser santo sem novena...
Eu cansei de ser réu sem ter um crime.
O langor..., a pureza..., meu capricho...,
Tudo foi! Tudo está lançado ao lixo!
Queimei tudo em meu peito injustiçado;
Eu confesso que para seu conforto,
Nosso caso de amor que estava morto,
Para o seu bel prazer foi enterrado! 
–Manoel Cavalcante/RN– 

Soneto do Dia  

COMPADECIDO... 
–Oscar Macedo/RN– 

Não tendo a quem contar as minhas dores, 
ao velho mar me dirigi um dia. 
Para aumentar porém meus dissabores, 
reconheci que ele também sofria. 

Confidente dos homens sofredores, 
cobriu-se, ao ver-me, de uma espuma fria 
e num gesto de quem confidencia 
pôs-se a escutar tranquilo os meus clamores. 

Contei-lhe tudo, confessei as mágoas, 
mais profundas, talvez, que suas águas, 
mostrei-lhe enfim meu coração dorido. 

E o mar que até então ficara mudo, 
ouvindo a triste narração de tudo, 
pôs-se a chorar de mim compadecido.

Ricardo Azevedo (Versão de Conto Popular: O Caso do Espelho)


Era um homem que não sabia quase nada. Morava longe, numa casinha de sapé esquecida nos cafundós da mata. 

Um dia, precisando ir à cidade, passou em frente a uma loja e viu um espelho pendurado do lado de fora. O homem abriu a boca. Apertou os olhos. Depois gritou, com o espelho nas mãos:

— Mas o que é que o retrato de meu pai está fazendo aqui?

— Isso é um espelho — explicou o dono da loja.

—Não sei se é espelho ou se não é, só sei que é o retrato do meu pai. 

Os olhos do homem ficaram molhados.

— O senhor... conheceu meu pai? — perguntou ele ao comerciante. 

O dono da loja sorriu. Explicou de novo. Aquilo era só um espelho comum, desses de vidro e moldura de madeira.

— É não! — respondeu o outro. — Isso é o retrato do meu pai. É ele sim! Olha o rosto dele. Olha a testa. E o cabelo? E o nariz? E aquele sorriso meio sem jeito? 

O homem quis saber o preço. O comerciante sacudiu os ombros e vendeu o espelho, baratinho. 

Naquele dia, o homem que não sabia quase nada entrou em casa todo contente. Guardou, cuidadoso, o espelho embrulhado na gaveta da penteadeira. 

A mulher ficou só olhando. 

No outro dia, esperou o marido sair para trabalhar e correu para o quarto. Abrindo a gaveta da penteadeira, desembrulhou o espelho, olhou e deu um passo atrás. Fez o sinal da cruz tapando a boca com as mãos. Em seguida, guardou o espelho na gaveta e saiu chorando.

— Ah, meu Deus! — gritava ela desnorteada. — É o retrato de outra mulher! Meu marido não gosta mais de mim! A outra é linda demais! Que olhos bonitos! Que cabeleira solta! Que pele macia! A diaba é mil vezes mais bonita e mais moça do que eu!

— Quando o homem voltou, no fim do dia, achou a casa toda desarrumada. A mulher, chorando sentada no chão, não tinha feito nem a comida.

— Que foi isso, mulher?

— Ah, seu traidor de uma figa! Quem é aquela jararaca lá no retrato?

— Que retrato? — perguntou o marido, surpreso.

— Aquele mesmo que você escondeu na gaveta da penteadeira!

O homem não estava entendendo nada.

— Mas aquilo é o retrato do meu pai!

Indignada, a mulher colocou as mãos no peito:

— Cachorro sem-vergonha, miserável! Pensa que eu não sei a diferença entre um velho lazarento e uma jabiraca safada e horrorosa? 

A discussão fervia feito água na chaleira. 

— Velho lazarento coisa nenhuma! — gritou o homem, ofendido.

A mãe da moça morava perto, escutou a gritaria e veio ver o que estava acontecendo. Encontrou a filha chorando feito criança que se perdeu e não consegue mais voltar pra casa. 

— Que é isso, menina?

— Aquele cafajeste arranjou outra!

— Ela ficou maluca — berrou o homem, de cara amarrada.

— Ontem eu vi ele escondendo um pacote na gaveta lá do quarto, mãe! Hoje, depois que ele saiu, fui ver o que era. Tá lá! É o retrato de outra mulher!

A boa senhora resolveu, ela mesma, verificar o tal retrato.

Entrando no quarto, abriu a gaveta, desembrulhou o pacote e espiou. Arregalou os olhos. Olhou de novo. Soltou uma sonora gargalhada.

— Só se for o retrato da bisavó dele! A tal fulana é a coisa mais enrugada, feia, velha, cacarenta, murcha, arruinada, desengonçada, capenga, careca, caduca, torta e desdentada que eu já vi até hoje!

E completou, feliz, abraçando a filha:
— Fica tranqüila. A bruaca do retrato já está com os dois pés na cova! 

Fonte:
Revista Nova Escola

Machado de Assis (O Passado, o Presente e o Futuro da Literatura)


A LITERATURA e a política, estas duas faces bem distintas da sociedade civilizada, cingiram como uma dupla púrpura de glória e de martírio os vultos luminosos da nossa história de ontem. A política elevando as cabeças eminentes da literatura, e a poesia santificando com suas inspirações atrevidas as vítimas das agitações revolucionárias, e a manifestação eloquente de uma raça heróica que lutava contra a indiferença da época, sob o peso das medidas despóticas de um governo absoluto e bárbaro. O ostracismo e o cadafalso não os intimidavam, a eles, verdadeiros apóstolos do pensamento e da liberdade; a eles, novos Cristos da regeneração de um povo, cuja missão era a união do desinteresse, do patriotismo e das virtudes humanitárias.

Era uma empresa difícil a que eles tinham então em vista. A sociedade contemporânea era bem mesquinha para bradar—avante! —aqueles missionários da inteligência e sustentá-los nas suas mais santas aspirações. Parece que o terror de uma época colonial inoculava nas fibras íntimas do povo o desânimo e a indiferença.

A poesia de então tinha um caráter essencialmente europeu. Gonzaga, um dos mais líricos poetas da língua portuguesa, pintava cenas da Arcádia, na frase de Garrett, em vez de dar uma cor local às suas liras, em vez de dar-lhes um cunho puramente nacional. Daqui uma grande perda: a literatura escravizava-se, em vez de criar um estilo seu, de modo a poder mais tarde influir no equilíbrio literário da América. Todos os mais eram assim: as aberrações eram raras. Era evidente que a influência poderosa da literatura portuguesa sobre a nossa, só podia ser prejudicada e sacudida por uma revolução intelectual.

Para contrabalançar, porém, esse fato cujos resultados podiam ser funestos, como uma valiosa exceção apareceu o Uraguai de Basílo da Gama. Sem trilhar a senda seguida pelos outros, Gama escreveu um poema, se não puramente nacional, ao menos nada europeu. Não era nacional, porque era indígena, e a poesia indígena, bárbara, a poesia do boré e do tupã, não é a poesia nacional. O que temos nós com essa raça, com esses primitivos habitadores do país, se os seus costumes não são a face característica da nossa sociedade?

Basílio da Gama era entretanto um verdadeiro talento, inspirado pelas ardências vaporosas do céu tropical. A sua poesia suave, natural, tocante por vezes, elevada, mas elevada sem ser bombástica, agrada e impressiona o espírito. Foi pena que em vez de escrever um poema de tão acanhadas proporções, não empregasse o seu talento em um trabalho de mais larga esfera. Os grandes poemas são tão raros entre nós!

As odes de José Bonifácio são magníficas. As belezas da forma, a concisão e a força da frase, a elevação do estilo, tudo encanta e arrebata. Algumas delas são superiores às de Filinto. José Bonifácio foi a reunião dos dois grandes princípios pelos quais sacrificava-se aquela geração: a literatura e a política. Seria mais poeta se fosse menos político; mas não seria talvez tão conhecido das classes inferiores. Perguntai ao trabalhador que cava a terra com a enxada, quem era José Bonifácio; ele vos falará dele com o entusiasmo de um coração patriota. A ode não chega ao tugúrio do lavrador. A razão é clara: faltam-lhe os conhecimentos, a educação necessária para compreendê-la.

Os Andradas foram a trindade simbólica da inteligência, do patriotismo, e da liberdade. A natureza não produz muitos homens como aqueles. Interessados vivamente pela regeneração da pátria, plantaram a dinastia bragantina no trono imperial, convíctos de que o herói do Ipiranga convinha mais que ninguém a um povo altamente liberal e assim legaram à geração atual as douradas tradições de uma geração fecunda de prodígios, e animada por uma santa inspiração.

Sousa Caldas, S. Carlos e outros muitos foram também astros luminosos daquele firmamento literário. A poesia é a forma mais conveniente e perfeitamente acomodada às expansões espontâneas de um país novo, cuja natureza só conhece uma estação, a primavera, teve naqueles homens, verdadeiros missionários que honraram a pátria e provam as nossas riquezas intelectuais ao crítico mais investigador e exigente.

Uma revolução literária e política fazia-se necessária. O país não podia continuar a viver debaixo daquela dupla escravidão que o podia aniquilar. A aurora de 7 de Setembro de 1882, foi a aurora de uma nova era. O grito do Ipiranga foi o - Eureca- soltado pelos lábios daqueles que verdadeiramente se interessam pela sorte do Brasil cuja felicidade e bem-estar procuravam.

O país emancipou-se. A Europa contemplou de longe esta regeneração política, esta transição súbita da servidão para a liberdade, operada pela vontade de um príncipe e de meia dúzia de homens eminentemente patriotas. Foi uma honrosa conquista que nos deve encher de glória e de orgulho; e é mais que tudo uma eloqüente resposta às interrogações pedantescas de meia dúzia de céticos da época: o que somos nós?

Havia, digamos de passagem, no procedimento do fundador do império um sacrifício heróico, admirável e pasmoso. Dois tronos se erguiam diante dele: um, cheio de tradições e de glórias; o outro, apenas saído das mãos do povo, não tinha passado, e fortificava-se só com uma esperança no futuro! Escolher o primeiro era um duplo dever, como patriota e como príncipe. Aquela cabeça inteligente devia dar o seu quinhão de glória ao trono de D.Manuel e D. João II. Pois bem! ele escolheu o segundo, com o qual nada ganhava, e ao qual ia dar muito. Há poucos sacrifícios como este.

Mas após o fiat político, devia vir o fiat literário, a emancipação do mundo intelectual, vacilante sob a ação influente de uma literatura ultramarina. Mas como? É mais fácil regenerar uma nação, que uma literatura. Para esta não há gritos de Ipiranga; as modificações operam-se vagarosamente; e não se chega em um só momento a um resultado. Além disso, as erupções revolucionárias agitavam as entranhas do país; o facho das dimensões civis ardia em corações inflamados pelas paixões políticas. O povo tinha-se fracionado e ia derramando pelas próprias veias a força e a vida. Cumpria fazer cessar essas lutas fratricidas para dar lugar as lutas da inteligência, onde a emulação é o primeiro elemento e cujo resultado imediato são os louros, fecundos da glória e os aplausos entusiásticos de uma posteridade agradecida.

A sociedade atual não é decerto compassiva, não acolhe o talento como deve fazê-lo. Compreendam-nos! nós não somos inimigo encarniçado do progresso material. Chateaubriand o disse: " quando se aperfeiçoar o vapor, quando unido ao telegrafo tiver feito desaparecer as distâncias, não hão de ser só as mercadorias que hão de viajar de um lado a outro do globo, com a rapidez do relâmpago; hão de ser também as idéias". Este pensamento daquele restaurador do cristianismo-é justamente o nosso-; nem é o desenvolvimento material que acusamos e atacamos. O que nós queremos, o que querem todas as vocações, todos os talentos da atualidade literária, é que a sociedade não se lance exclusivamente na realização desse progresso material, magnífico pretexto de especulação, para certos espíritos positivos que se alentam no fluxo e refluxo das operações monetárias. O predomínio exclusivo dessa realeza parva, legitimidade fundada numa letra de câmbio, é fatal, bem fatal às inteligências; o talento pode e tem também direito aos olhares piedosos da sociedade moderna: negar-lhos é matar-lhe todas as aspirações, é nulificar-lhe todos os esforços aplicados na realização das idéias mais generosas, dos princípios mais salutares, e dos germes mais fecundos do progresso e da civilização.

É sem dúvida, por este doloroso indiferentismo que a geração atual tem de encontrar numerosas dificuldades na peregrinação; contrariedades que, sem abater de todo as tendências literárias, toda via podem fatigá-las reduzindo-as a um marasmo apático, sintoma doloroso de uma decadência prematura.

No estado atual das coisas, a literatura não pode ser perfeitamente um culto, um dogma intelectual, e o literato não pode aspirar a uma existência independente, mas sim tornar-se um homem social, participando dos movimentos da sociedade em que vive e de que depende. Esta verdade, exceto no jornalismo, verifica-se em qualquer outra forma literária. Ora, será possível que assim tenhamos uma literatura convenientemente desenvolvida?

Respondemos pela negativa.

Tratemos das três formas literárias essenciais: -o romance, o drama e a poesia.

Ninguém que for imparcial afirmará a existência das duas primeiras entre nós; pelo menos, a existência animada, a existência que vive, a existência que se desenvolve fecunda e progressiva. Raros, bem raros, se tem dado ao estudo de uma forma tão importante como o romance; apesar mesmo da convivência perniciosa com os romances franceses, que discute, aplaude e endeusa a nossa mocidade, tão pouco escrupulosa de ferir as susceptibilidades nacionais.

Podíamos aqui assinalar os nomes desses poucos que se têm entregado a um estudo tão importante, mas isso não entra na ordem deste trabalho, pequeno exame genérico das nossas letras. Em um trabalho de mais largas dimensões que vamos empreender analisaremos minuciosamente esses vultos de muita importância decerto para a nossa recente literatura.

Passando ao drama, ao teatro, é palpável que a esse somos o povo mais parvo e pobretão entre as nações cultas. Dizer que temos teatro, é negar um fato; dizer que não o temos, é publicar uma vergonha. E todavia assim é.  Não somos severos: os fatos falam bem alto. O nosso teatro é um mito, uma quimera. E nem se diga que queremos que em tão verdes anos nos ergamos a altura da França, a capital da civilização moderna; não! Basta que nos modelemos por aquela renascente literatura que floresce em Portugal, inda ontem estremecendo ao impulso das erupções revolucionárias.

Para que estas traduções enervando a nossa cena dramática? Para que esta inundação de peças francesas, sem o mérito da localidade e cheias de equívocos, sensaborões as vezes, e galicismos, a fazer recuar o mais denodado francelho?

É evidente que é isto a cabeça de Medusa, que enche de terror as tendências indecisas, e mesmo as resolutas. Mais de uma tentativa terá decerto abortado em face desta verdade pungente, deste fato doloroso.

Mas a quem atribuí-lo? Ao povo? O triunfo que obtiveram as comédias do Pena, e do Sr. Macedo, prova o contrário. O povo não é avaro em aplaudir e animar as vocações; saber agradá-lo, é o essencial.

É fora de dúvida, pois, que a não existir no povo a causa desse mal. não pode existir senão nas direções e empresas. Digam o que quiserem, as direções influem
neste caso. As tentativas dramáticas naufragam diante deste czariato de bastidores, imoral e vergonhoso, pois que tende a obstruir os progressos da arte. A tradução é o elemento dominante, nesse caos que devia ser a arca santa onde a arte pelos lábios dos seus oráculos falasse as turbas entusiasmadas delirantes. Transplantar uma composição dramática francesa para a nossa língua, é tarefa de que se incumbe qualquer bípede que entende letra redonda. O que provém daí? O que se está vendo. A arte tornou-se uma indústria; e à parte meia dúzia de tentativas bem sucedidas sem dúvida, o nosso teatro é uma fábula, uma utopia.

Haverá remédio para a situação? Cremos que sim. Uma reforma dramática não é difícil neste caso. Há um meio fácil e engenhoso; recorra-se às operações políticas. A questão é de pura diplomacia; e um golpe de estado literário não é mais difícil que uma parcela de orçamento. 

Em termos claros, um tratado sobre direitos de representação reservados, com o apêndice de um imposto sobre traduções dramáticas, vem muito a pêlo, e convém
perfeitamente as necessidades da situação.

Removido este obstáculo, o teatro nacional será uma realidade? Respondemos afirmativamente. A sociedade, Deus louvado! é uma mina a explorar, e um mundo
caprichoso, onde o talento pode descobrir, copiar, analisar, uma aluvião de tipos e caracteres de todas as categorias. Estudem-na: eis o que aconselhamos as vocações da época!

A escola moderna presta-se precisamente ao gosto da atualidade As Mulheres de Mármore—O Mundo Equívoco—A Dama das Camélias — agradaram, apesar de traduções. As tentativas do sr. Alencar tiveram um lisonjeiro sucesso.

Que mais querem? A transformação literária e social foi exatamente compreendida pelo povo; e as antigas idéias, os cultos inveterados, vão caindo a proporção que a reforma se realiza. Qual é o homem de gosto que atura no século XIX uma punhalada insulsa tragicamente administrada, ou trocadilhos sensaborões da antiga farsa?

Não divaguemos mais; a questão está toda neste ponto. Removidos os obstáculos que impedem a criação do teatro nacional, as vocações dramáticas devem estudar a escola moderna. Se uma parte do povo está ainda aferrada às antigas idéias, cumpre ao talento educá-la, chamá-la à esfera das idéias novas, das reformas, dos princípios dominantes. É assim que o teatro nascerá e viverá; é assim que se há de construir um edifício de proporções tão colossais e de futuro tão grandioso.

Fonte:
Machado de Assis. Críticas Literárias. Pará de  Minas/ MG: Virtualbooks, 2003.