terça-feira, 5 de agosto de 2008

W.S.Maugham (1874-1965)

William Somerset Maugham, escritor inglês nascido em Paris em 1874 e falecido em 1965, foi talvez um dos mais populares e bem sucedidos autores do século XX. Prolífico, escreveu tanto para o teatro como para a literatura em geral, consagrando-se como um excelente contador de histórias, o que fez com que o colocassem no mesmo nível do francês Guy de Maupassant ou do seu conterrâneo Graham Green, um globetrotter tão popular e mundialmente conhecido quanto ele. Maugham foi um homem de letras do império, suas histórias se passavam tanto nos salões e encontros para o chá em Londres como numa choupana dentro de uma floresta numa remota ilha dos Mares do Sul, locais onde ele descrevia os seus personagens com grande desenvoltura.

Um contador de histórias

"Eu nunca pretendi ser algo mais do que um contador de historias. Eu me divirto contando historias e escrevi muitas delas. Para mim é um infortúnio o fato de contar uma história somente pelo motivo dela em si é uma atividade que não conta com o favor da intelligentsia. É um infortúnio que tento escutar com fortaleza".
S. Maugham - Creatures of circumstance, 1947

Em 1938, aos 64 anos de idade, universalmente consagrado pelos leitores mas não pela crítica, Maugham resolveu entregar ao seu imenso público um “resumo” das suas atividades como escritor e uma crônica do que ele pensava sobre a arte de escrever e outras observações interessantes sobre a vida cultural e literária em geral. Intitulou-o de The Summing Up (traduzido para o português por Mário Quintana como “Confissões”, Editora Globo, P.Alegre, 1951) Maugham, ainda quando jovem médico, atormentado pela gagueira, decidiu-se a ser escritor aos 18 anos de idade. Atividade para qual ele sempre sentiu-se vocacionado, nunca sendo para ele um tormento começar uma página ou encerrar uma novela, entendendo-se assim como ele facilmente tornou-se um requintado mestre da narrativa, um dos melhores da prosa inglesa contemporânea.

Filho de diplomata britânico sediado em Paris, ficando órfão quando mal alcançara os 10 anos, teve o francês como língua da infância e, mais tarde, ao enviarem-no para Heidelberg, dominou o alemão com facilidade. Em verdade ele teve que aprender tudo em inglês. Ao fazer incontáveis anotações em blocos e cadernos percebeu que precisava dedicar-se inteiramente na busca do significados das palavras que ele não entendia, passando a revirar dicionários e enciclopédias da língua inglesa com ardor, freqüentando o Museu Britânico com constância. Uma feliz combinação de fatores ajudou-o no inicio da carreira.

Novos tipos no teatro

Maugham começou escrevendo para o teatro. Logo entendeu que os dramas envolvendo os nobres e seus próximos, como era tão comum no teatro londrino naquela época de final do século XIX, já começara a entediar o novo e crescente público urbano originado da classe média. As pessoas queriam doravante ver personagens que lhes fossem mais próximos, que lhes tocassem os sentimentos mais de perto. As confusões ou sofrimentos das altas figuras e dos barões só lhes provocavam bocejo.

A essa mudança de temática, que ele, autor com faro para o sucesso, soube atender, juntou-se ainda um outro fator: quando ele ainda estudante de medicina, era obrigado a percorrer os arrabaldes soturnos de Londres para atender à sua cota de partos, tarefa que proporcionou-lhe um contato direto com a realidade das classes pobres e com um mundo extremamente diversificado de pessoas e situações, condição a que ele, rapaz de berço, descendente do patriciado britânico, jamais se veria se não lhe tivessem incumbido da missão de ser eventual parteiro do proletariado. Portanto, foi nos duros subúrbios da grande cidade que ele teve formada a sua escolaridade de autor realista, detestando o supérfluo, o adjetivo exagerado, a frase rebuscada, a permanência do rococó enfim. Além disso sentiu-se atraído pelo exotismo do mundo extra-europeu, quando por exemplo, empolgou-se com a vida de Gauguin na polinésia, retratando-a na pequena obra-prima The Moon and Six pence, 1919 (Um gosto e seis vinténs, Globo P.Alegre).

Um autor popular

Desde o principio Maugham, mesmo sendo um homem refinado, votou enorme desprezo por aquilo que então passava por alta cultura na sua época. Achou a maior parte dos escritores que circulavam no seu meio como um bando de pedantes e de entediados. A seu ver eles não tinham nenhuma abertura para o mundo das emoções e vibrações apaixonadas que girava ao redor deles. Nos livros deles, segundo ele, respirava-se “morta e pesada atmosfera”, onde as pessoas sentiam que “era indecoroso falar acima num tom acima do sussurro”. Era como se fosse escrita dentro de salas de antigos casarões, onde o autor e os seus inquilinos faziam questão de viver encerrados, inibidos, sequer abrindo os postigos para a entrada de um vento fresco ou permitindo-se dar uma ousada mirada para a paisagem que os cercava.

Haviam palavras sim, abundantes, bem colocadas, mas elas não produziam vida nem sensações: eram plantas de estufa. Isto fez com que Maugham se decidisse desde cedo trilhar o caminho de uma literatura comprometida com as coisas do mundo, simples, mundana sem ser vulgar. Atitude que lhe valeu a incompreensão e o descaso com que sua obra foi tratada pela intelligentsia e pela critica literária em geral ao longo do século XX. Mas não do público. Desde os começos, a partir do primeiro exemplar vendido da sua novela “O pecado de Lisa”, editado em 1897, claramente inspirado nas suas atividades de obstetra dos pobres, pisando com suas botinas no lo do dos slums, dos bairros miseráveis, o público nunca deixou de ter enorme consideração para com ele.

Se bem que Maugham tenha dito que bastava-lhe passar umas horas na presença de alguém, na companhia de uma pessoa de razoável interesse, para que ele conseguisse extrair material suficiente para escrever uma boa história, ele tratou desde cedo de tratar das questões do estilo e da técnica da prosa. Maugham, paradoxalmente, considerou a tão afamada Bíblia do Rei James, que fixou a estrutura do idioma inglês para todo o sempre, exerceu uma influência negativa para os escritores ingleses. A razão que ele aponta é um tanto exótica: para ele a Bíblia “ é um livro oriental” ( sic), acrescentando que “ aquelas hipérboles, aquelas metáforas sumarentas são estranhas ao nosso gênio”. Tudo isso teria contribuído para que a chã e honesta fala inglesa fosse “ sobrecarregada de ornamentos”. Viu-se, pois como alguém que procurou restaurar um inglês escrito como se fora “um telegrama imensamente longo”, desprovido de metáforas bíblicas e da moral daí decorrente.

Por isso, ou talvez por isso mesmo, pelo seu propositado afastamento da escrita com fins morais, seus críticos o apontaram como um cínico incorrigível. Foi veemente também na condenação, fosse ela resultado da negligência ou do capricho, da prosa obscura, aquela que, pretendo-se profunda, só confunde e embaraça, com sua nebulosidade estudada, o leitor desavisado. Para ele, na maioria dos casos, como ocorria com os seguidores do simbolista Guillaume Apollinaire, tais “contorções de linguagem disfarçam verdadeiros lugares-comuns”, fazendo com que somente “ os tolos descobrissem nelas um sentido oculto”. Assim, nada de estranhar-se ele considerar Voltaire, de longe, o melhor prosador da idade moderna, sendo que para ele das suas páginas as histórias fluíam com a maior naturalidade. No dizer dele “se puderdes escrever claramente, simplesmente, eufonicamente, e ainda com vivacidade, escrevereis perfeitamente: escrevereis como Voltaire”.

Entre os prosadores ingleses a sua admiração centrou-se em Thomas More, em Swift, em Dryden, em Hume, em Shelley, no dr. Johnson, devotando reiterados agradecimentos ao Dictionary of Modern English Usage de Henry Fowler que, segunde ele, “amava a simplicidade, a retidão e o bom-senso”, não aconselhando que os escritores se deixassem tiranizar pelas difíceis regras da gramática inglesa. Ao contrário, o bom prosador era um infrator nato, alguém que podia se permitir, volta e meia, a certas liberdades desde que elas dessem maior fluidez e harmoniosa continuidade ao texto escrito, atingindo a tão por ele apreciada eufonia.

O escritor comercial

Quanto aos que o criticavam por ser um escritor de sucesso, um autor de livros bem digeridos pelo mercado, Maugham reclama por tolerância. Para ele nenhum escritor sério escreve por dinheiro. Se bem que a pressão seja grande, o que realmente o move é a paixão por escrever, é a paixão pelo trabalho, a dedicação integral ao seu métier, porque em geral, o que ele recebe em troca de um livro poderia ser alcançado fazendo qualquer outra coisa. É claro que qualquer um gosta de ser lido pelo maior número de pessoas possíveis e nenhum autor aceita considerar que o seu livro não foi bem escrito ou tinha pouca coisa capaz de agradar, preferindo acreditar na ingratidão ou na ignorância do público. Dito isso, as concessões que muitas vezes um homem de letras é constrangido a fazer não significa adesão ao mercantilismo da arte. Se é um fato que muitos autores precisam ser pressionados à escrever, “precisam de espora”, não o fazem, porém, por dinheiro.

Maugham se felicitava em ser alguém que tinha a seu favor as potencialidades do mercado da língua inglesa. Graças a isso, ao dispor de um dos maiores públicos leitores do mundo, ele se tornara um homem de letras profissional, consagrando-se totalmente à escrita pela vida a fora. Somente autores de países pequenos e de idiomas poucos conhecidos, ponderou ele, é que precisavam manter uma segunda profissão, tendo que despender energias em ganhar o pão longe das amadas letras. Os que tinham o inglês como ferramenta, se bem sucedidos, estavam livres disto. Tais reclamos por indulgência, entretanto, não o livraram de que os críticos o considerassem brutal (quando ele tinha vinte anos), irreverente (ao atingir os trinta), cínico (aos quarenta), ou superficial (depois dos cinqüenta). Apesar dele mesmo considerar-se um preguiçoso, deixou copiosa obra. Ocorre que ele, disciplinado, comprometeu-se por toda a vida, logo ao levantar-se pela manhã, só dedicar-se a outras coisas do dia desde que antes escrevesse religiosamente uma só página sobre um tema qualquer. Que, segundo ele, nunca lhe faltaram. No final do ano ele sempre tinha uma maço de mais de trezentas folhas prontas para o prelo. Material suficiente para um, dois ou três livros.

Obra seleta de Somerset Maugham
Liza of Lambeth (o pecado de Lisa), 1897
Mrs. Craddock (Mrs. Craddock), 1902
A man of honour (Um homem de honra), 1903
The magician (O mágico), 1908
Penelope, 1909
Lady Frederick. 1912
Jack Straw, 1912
Mrs Dot, 1912
Of human bondage (servidão humana), 1915
The moon and sixpence ( um gosto e seis vinténs), 1919
The circle, 1921
Sadie Thompson (a chuva), 1921
The trembling of a leaf (histórias dos mares do sul), 1921
East of Suez, 1922
On chinese screen(o biombo chinês), 1922
Our betters, 1923
The painted veil (o véu pintado) , 1925
The constant wife, 1925
The casuarina tree (a casuarina), 1926
The letter (a carta), 1927
The sacred flame, 1928
The Ashenden (o agente britânico), 1928
The breadwinner, 1930
Caces and ale, 1930
First person singular, 1931
Collected plays (seis novelas), 1931-34
The narrow corner, 1932
For services rented, 1932
Collected plays, 1933
Sheppey, 1933
Ah king ( ah king), 1933
Cosmopolitans, 1936
The theatre, 1937
The summing up (confissões), 1938
Christmas holiday(férias de natal), 1939
The mixture as before, 1940
Up at the villa, 1941
Strictly personal, 1941 the hour before the dawn, 1942
The razor's edge (o fio da navalha), 1944
Then and now (maquiavel e a dama), 1946
Creatures of circumstances, 1947
Catalina (catalina), 1948
A writer's notebook (diário de um escritor), 1949
The complete short stories (29 histórias), 1951
The vagrant mood, 1952
Selected novels, 1953
Ten novels and their authors, 1954
Far and wide, 1955
Best short stories, 1957
Points of view, 1958
Looking back, 1962
Selected prefaces and introductions, 1963
Seventeen lost stories, 1969
Seventeen lost stories, 1969
A traveller in romance, 1984

Fonte:
http://educaterra.terra.com.br/

O teatro de Shakespeare

O século XVI na Inglaterra, na época do reinado de Isabel, falecida em 1603, foi o momento de ouro da dramaturgia britânica, inteiramente dominada pela personalidade artística e pelo gênio criativo de Shakespeare, exercido por ele e por seus companheiros da Companhia do Camarlengo na sua sede à beira do Rio Tâmisa, o Globe Theatre.

A construção de um teatro

Shakespeare e a Companhia do Camarlengo (mais tarde chamada The King's men) construíram um teatro - o Globe Theatre - na margem esquerda do Rio Tâmisa, no chamado Bankside, logo após a Ponte da Torre de Londres, em 1599. As sessões só ocorriam durante a temporada de verão, pois o local não era coberto. Também as suspendiam quando havia algum surto de peste, o que ocorria freqüentemente. Aliás há estudos que mostram como as temporadas e por conseqüência as peças que o bardo escrevia eram, por assim dizer, condicionadas pelos surtos pestíferos que assolavam a capital inglesa com impressionante regularidade. Então, para ganhar a vida a companhia, partindo de Londres, fazia uma turnê pelo interior. Aliás, no Hamlet (ato III, cena II), Shakespeare faz referência a esse tipo de apresentação itinerante, de teatro ambulante mostrando a chegada de um grupo de atores ao Castelo de Elsenor para uma encenação na Corte, fazendo com que a atuação deles, ainda que indiretamente, fosse decisiva na elucidação do crime que vitimou o pai do príncipe.

Forma e dimensão:

O Globe, fazendo juz ao nome, tinha a forma de um círculo - "Wooden O" - com um grande pátio interno onde cabiam de 500 a 600 pessoas que assistiam o espetáculo a preços módicos. As arquibancadas estavam divididas em três andares erguidos ao redor do palco e acolhiam os mais aquinhoados. Calcula-se que comportava mais 1.500 espectadores, perfazendo uns dois mil ao todo nos dias de casa lotada. Sua dimensão alcançava 92 metros e tinha dez de altura. O primeiro Globe não durou muito, pois foi devorado por um incêndio em 1613, três anos antes da morte de Shakespeare, durante a encenação de Henrique VIII, quando uma fagulha do canhão saltou sobre o telhado de palha. Imagina-se que Shakespeare, já retirado para Stratford-on-Avon aposentado, deveria ter voltado para auxiliar na recuperação do prédio.

O fechamento dos teatros

Em 1642, com o início da Revolução Puritana - que terminou decapitando o rei Carlos I, em 1649 - todas as casas de espetáculo foram fechadas. Os puritanos não aceitavam as representações teatrais, considerando-as pecaminosas ou heréticas. Até a morte de Cromwell em 1658, nada mais foi visto em Londres ou na Inglaterra. Somente com a restauração monárquica, com a volta dos Stuart ao poder em 1661, o rei Carlos II, determinou-se a reabertura dos espetáculos. Eles haviam ficado fechados por quase vinte anos! Mas o Globe não gozou por muito tempo a liberdade recém-conquistada, pois em 1666 um devastador incêndio arrasou com a cidade inteira, incinerando junto o belo teatro que Shakespeare ajudara à construir.

A reconstrução recente do Globe

Somente em agosto de 1996 concluiu-se a reconstrução do The Globe graças ao esforço de americano Sam Wanamaker, que, desde os anos de 1970, mobilizou amplos setores da sociedade e do empresariado londrino, obtendo os recursos para o seu reerguimento mais ou menos no mesmo local do antigo teatro, com o nome Globe Shakespeare Theatre. Passaram-se 330 anos desde sua última apresentação. Dessa forma, o espírito do bardo retorna às margens do Tâmisa, cujas águas serviram como uma interminável fonte de inspiração à sua imortal grandeza, dando vida ao corpo do novo teatro.

Fonte:
http://educaterra.terra.com.br/

Literatura Italiana

IDADE MÉDIA

Antes do século XIII, a língua literária da Itália era o latim que foi utilizado para redigir crônicas, poemas históricos, lendas heróicas, vidas dos santos, poemas religiosos e trabalhos didáticos e científicos. Também era utilizado o francês ou o provençal e, entre as distintas formas poéticas, a mais difundida era a canzone.

SÉCULO XIII E INÍCIO DO XIV

Os primeiros textos poéticos escritos em língua italiana foram os da Escola Siciliana, do século XIII, adepta dos cânones da poesia provençal. Pertenceram a esta escola Giacomo Pugliese e Rinaldo d'Aquino.

Quando, no século XIII, o centro da poesia mudou-se para Arezzo e Bolonha, destacaram-se os poetas Guittone d'Arezzo e Guido Guinizzelli, criador do Dolce Stil Nuovo, cultivado, também, por Guido Cavalcanti e Cino da Pistoia. Mas, sem dúvida, foi Dante Alighieri, um dos escritores universais da literatura italiana, o poeta por excelência do Trecento, século XIV. Por esta época, apareceu a poesia devocional, cultivada por São Francisco de Assis e pelo poeta franciscano Jacopone Todi.

RENASCIMENTO

O Renascimento foi marcado por uma nova leitura da literatura e da filosofia clássicas — que, pouco a pouco, foram sendo revalorizadas em toda Europa — e pela busca e descobrimento de manuscritos antigos. Na Itália, uma das figuras mais importantes foi o poeta e humanista Petrarca. Por seu turno, Boccaccio preferiu a narrativa. Poliziano é considerado o poeta e humanista mais destacado deste período. Merecem referências, também, as obras que continuaram a tradição das Gestas de Cavalaria, como as de Matteo Maria Boiardo e, entre as Pastoris, de Jacopo Sannazzaro.

No século XVI, o Renascimento chegou à consolidação plena. A língua italiana, desprezada durante séculos pelos humanistas como língua literária, alcançou uma dignidade até então negada. Pietro Bembo, Nicolau Maquiavel e o poeta Ludovico Ariosto— que representa o auge da poesia quinhentista — contribuíram, decisivamente, para colocar o idioma italiano nesta situação de privilégio. Também importante é a obra do historiador Francesco Guicciardini.

Duas obras muito difundidas, tratando do comportamento cavalheiresco, também vieram à luz no século XVI: O Cortesão (1528), escrita pelo diplomata Baldassare Castiglione, e Galateo (1558), do padre Giovanni della Casa. Por sua vez, Teófilo Folengo, parodiou o mundo da cavalaria e das letras. Junto a ele está o não menos inconformista — ainda que mais talentoso — Pietro Aretino, autor teatral e criador de libelos.

Na linha renascentista de busca do artista completo, não faltaram pintores e escultores que escreveram belos textos poéticos, narrativos e ensaísticos. Assim, temos os sonetos de Michelangelo, os tratados de Leonardo da Vinci, a interessante autobiografia de Benvenuto Cellini e as biografias de famosos pintores, escultores e arquitetos escritas pelo também pintor e arquiteto Giorgio Vasari. Estas obras constituem uma fonte de incalculável valor sobre a arte e os artistas do Renascimento.

Nesta época, também foram escritos contos e relatos breves. O autor de maior destaque desta época é Matteo Bandello.

A segunda metade do século XVI foi dominada pelo espírito da Contra-reforma que se materializou em um novo classicismo, após a difusão da Poética (Aristóteles) acompanhada por um comentário de Francesco Robortelli. Esta e outras versões, como as de Julius Caesar Scaliger e Ludovico Castelvetro (1570) contribuíram para a recuperação das unidades de espaço e tempo no teatro.

Apesar do predominante clima de repressão característico destes anos, apareceu um grande poeta lírico de imaginação transbordante: Torquato Tasso. Outro grande espírito da época foi Giordano Bruno que produziu numerosos diálogos contra o pedantismo e o autoritarismo.

O estilo predominante no século XVII — não somente na literatura mas, também, na música, arte e arquitetura — foi o Barroco. Típica deste período é a poesia de Giambattista Marino, assim como as tragédias de Federigo della Valle e os escritos do poeta, cientista e filósofo Tommaso Campanella, autor de ensaios críticos.

Por volta do final do século XVII começou a se definir um movimento cultural que rechaçava o excessivo rebuscamento estético e afetação do barroco. Os principais expoentes deste movimento reformador pertenceram à sociedade Arcádia, fundada em Roma (1690), cuja figura principal foi o poeta e dramaturgo Pietro Metastasio, sucessor de Apostolo Zeno, autor de dramas teatrais e libretos de ópera. Apostolo Zeno já havia sido um pioneiro na crítica literária. Sua influência pode ser notada nas comédias de Carlo Goldoni.

A principal figura deste período foi a do jurista Cesare Bonesana Beccaria. Entre os poetas que lutaram para criar um sentimento de orgulho nacional destaca-se Giuseppe Parini. Também merece citação o dramaturgo Vittorio Alfieri, romântico defensor da liberdade. Entre os demais artistas importantes do século encontram-se o arqueólogo e crítico literário Ludovico Antonio Muratori e o filósofo Giambattista Vico, cuja influência foi resgatada em nosso século pela obra de Benedetto Croce.

NACIONALISMO, ROMANTISMO E CLASSICISMO

A literatura do início do século XIX foi marcada pelo nacionalismo (Ressurgimento) e pelo Romantismo. A influência da Revolução Francesa e do posterior reinado de Napoleão são perceptíveis nas obras dos poetas Vincenzo Monti, Carlo Porta e do romancista Ugo Foscolo.
Giacomo Leopardi é considerado, unanimemente, como um dos poetas líricos mais importantes da literatura italiana.

Entre os escritores políticos do Ressurgimento destacam-se o patriota Giuseppe Mazzini, o estadista Camillo Benso di Cavour e o militar Giuseppe Garibaldi que formam a tríade dos pais da unificação italiana.

O nacionalismo deu lugar a duas correntes dentro da literatura do século XIX: a Regionalista e a corrente que usou como ponto de referência a luta contra o poder temporal do Papado. À esta última pertence Alessandro Manzoni.

Até a metade do século, a influência do Romantismo provocou uma violenta reação que se materializou no retorno a um Classicismo arraigado. Esta reação teve como principal representante o poeta Giosuè Carducci, Prêmio Nobel de Literatura em 1906.

A segunda metade do século XIX foi marcada pela reação, de uma parte dos autores italianos, contra os estilos Neoclássico e Romântico. Os representantes desta nova corrente defenderam o uso de uma língua comum e de um texto simples, com argumentos baseados em experiências e fenômenos observados no cotidiano. Os poetas exaltaram esta realidade, elevando-a à verdade. Desta concepção advem o nome do movimento: Verismo. Entre seus autores destacam-se Giuseppe Gioacchino Belli e o romancista Giovanni Verga.

Contrário ao Verisimo, mas influenciado por ele, o poeta Giovanni Pascoli abriu caminho para o uso do verso livre. Outro autor antagônico ao Realismo foi o poeta e romancista Antonio Fogazzaro.

Ao longo de todo o século apareceram numerosos escritores que não podem ser classificados dentro de nenhum dos movimentos da época, entre eles, Edmondo d'Amicis e Carlo Collodi. O crítico literário mais influente do século XIX foi Francesco de Sanctis.

SÉCULO XX

A literatura italiana do século XX mostra uma grande variedade de formas e temas. Grande parte reflete as experiências dos anos do fascismo. Após o final da II Guerra Mundial, o Realismo Social virou o estilo dominante até ser substituído por uma corrente introspectiva na poesia e na prosa.

Guiado pela aspiração de se tornar um artista universal, Gabriele d'Annunzio rompeu com os esquemas do Neoclassicismo, do Romantismo e do Realismo. D'Annunzio cultivou a poesia, o teatro e a narrativa, escreveu libretos de óperas e alimentou polêmicas patrióticas. Foi um destacado militar e político que, além disso, incursionou no campo da filosofia. Outra importante figura literária destes anos foi o romancista Italo Svevo.

Entre as demais personalidades literárias da virada do século podem ser citados: Guglielmo Ferrero (historiador da sociologia e destacado opositor do fascismo), o filósofo Giovanni Gentile que, ao contrário de Ferrero, foi um entusiasmado defensor deste regime, Matilde Serao (romancista de profundas análises psicológicas) e Grazia Deledda, Prêmio Nobel de Literatura em 1926.

Devido, em parte, à influência de correntes estrangeiras, desenvolveu-se, na Itália, numerosos movimentos artísticos e literários que rechaçavam a retórica e o lirismo. O mais radical e duradouro foi o Futurismo, fundado em 1909 pelo poeta Filippo Tomasso Marinetti.

Cabe citar, entre outros autores desta época, o pintor e escritor Ardengo Soffici, o filósofo e romancista Giovanni Papini, Antonio Baldini e Riccarco Bacchelli. Figura importante das três primeiras décadas do século foi o romancista e dramaturgo Luigi Pirandello, Prêmio Nobel de Literatura em 1934.

Muitos autores defenderam, abertamente, posturas contrárias ao regime fascista, entre eles Giuseppe Antonio Borghese e o romancista Ignazio Silone que sofreu bastante com a censura. O jornalista e diplomata Curzio Malaparte acabou renegando Mussolini.

Entre os autores de fama mundial encontram-se o poeta Giuseppe Ungaretti, Salvatore Quasimodo, Prêmio Nobel de Literatura em 1959 e Eugenio Montale, Prêmio Nobel de Literatura em 1975.

Poucos anos depois do final da guerra apareceu um novo tipo de realismo ligado ao cinema: o Neo-realismo. Entre as figuras literárias que aderiram a este movimento estão Carlo Levi, Elio Vittorini e Vasco Pratolini. Outras personalidades destacadas foram Mario Soldati, Cesare Pavese, Vitaliano Brancati e Giuseppe Tomasi di Lampedusa.

Entre os contemporâneos, Alberto Moravia é um dos narradores realistas mais conhecidos. Outros autores de nossa época são Dino Buzzatti, Elsa Morante, Natalia Ginzburg, Primo Levi, Umberto Eco, Italo Calvino e Leonardo Sciascia.

Fonte:
http://br.geocities.com/culturauniversalonline/

Zemaria Pinto (Sobre Poesia, Poemas & Poetas)

I - A ditadura do dicionário

Poesia versus poema.

De tão antigo, o tema pode parecer ao leitor menos atento um tanto esgotado. Nada mais enganoso. É recorrente escrever, e falar, que fulano lançou um livro de "poesias", sicrano recitou suas "poesias", fulaninha vai lançar um livro de "poesias" etc. Vá ao dicionário e constate: poesia é uma "composição poética de pequena extensão". Até quantos versos, exatamente? - poderá perguntar o leitor cioso das precisões matemáticas e/ou lingüísticas. Não sei. Mas, esqueçamos o que diz o dicionário e caminhemos um pouco por esse movediço e improvável terreno da teoria literária.

Poesia é o gênero literário, subdivisível nas categorias épica, dramática e lírica. Poesia é a experiência cósmica de um poeta, o conjunto de sua obra. Poesia pode ser também o coletivo do fazer poético em um determinado tempo ou espaço. O poema, por sua vez, é, para efeito didático, a unidade que enforma o todo da poesia: é a composição, um conjunto de versos dispostos de maneira arbitrária pelo poeta, obedecendo a cânones preestabelecidos, estando entre estes, inclusive, a desobediência a cânones preestabelecidos!

Poesia e poema são, portanto, dois animais distintos: este vive sem aquela tanto quanto esta não precisa daquele para ser. Um poema sem poesia, então? Claro, digno da lata de lixo mais próxima, mas um poema. E quantos poemas são perpetrados e quantos livros de poemas são editados sem poesia... A contrapartida define um paradoxo insofismável: a poesia é um estado do ser, é contemplação mística, é o i/logismo a serviço do ir/racional - a poesia é. Ponto.

Há uma enorme carga de poesia em Grande Sertão: Veredas, em A Paixão Segundo GH. Há poesia num quadro de Van Gogh, num filme de Herzog, num pôr-do-sol no rio Negro, num fim de tarde em São Paulo, num passo de contradança, e, com o perdão da má palavra, também se encontra poesia num sorriso de criança. Já o poema, o poema-coisa, o poema-com-poesia, traduz em palavras aquilo que o artista-poeta discerniu no ser da poesia: a poesia traduzida em música, a poesia das imagens, a poesia que inventa línguas, remove palavras e fundamenta a linguagem.

A didática do dicionário, já não tenho mais nenhuma dúvida, é um instrumento ideológico de coerção à poesia: ao tentar reduzir o geral dando-lhe a mesma definição, e, por extensão, as mesmas deformações do específico, procura, em verdade, eliminar ou esquecer o caráter arquetípico primordial da poesia - porque é através da palavra que o homem se aproxima do Ser e de si mesmo. Ignorar essa relação é frustrar todo o acúmulo de conhecimento produzido, desde Aristóteles às mais recentes discussões sobre o caráter intersemiótico da poesia.

Para o leitor cúmplice que aceita que poema e poesia são vocábulos cujos significados se interpolam, mas jamais se cruzam, ainda que sejam partes da mesma gênese grega (poesia = fazer, poema = o que se faz), cito um exemplo bem mais prosaico do reacionarismo do dicionário: ao nomear o feminino de poeta como poetisa, diz que esta é uma "mulher que faz poesias". Evidenciada a má fé (a conotação pejorativa para a palavra poetisa), proponho a adoção definitiva do substantivo poeta comum aos dois gêneros. A bênção, tia Cecília Meireles, que, depois do primeiro espanto, me iluminou.

II - Da arte de fingir

Vimos o quanto é pernicioso o uso do dicionário ao pé da letra, ignorando-se sutilezas próprias de uma linguagem mais técnica e, por isso mesmo, menos vulgar. Mas não é só o dicionário que trama contra a poesia. Quando um crítico confunde, deliberadamente, a obra de um poeta com sua biografia, vendo reflexos desta naquela, ele dá demonstrações de nada entender de nada, caindo numa armadilha secular, que pretende ver na poesia, unicamente, manifestações mentais limitadas ao "eu" do poeta.

No ensaio As Três Vozes da Poesia, T. S. Eliot, identifica-as da seguinte forma: a voz do poeta que fala consigo mesmo, ou com ninguém; a voz do poeta ao dirigir-se a uma platéia; a voz do poeta quando cria uma personagem dramática. Eliot, referia-se, respectivamente, à poesia lírica, à épica e à dramática. Como a minha área de interesse é essa coisa indevidamente chamada de "poesia lírica" (tema para uma outra discussão), vou-me ater unicamente, à questão da primeira voz - "a voz do poeta que fala consigo mesmo, ou com ninguém".

Acontece que o ensaio de Eliot, na verdade uma conferência, apresentada em 1953, não traz nenhuma novidade, uma vez que a crítica empobrecedora sempre achou que o poeta lírico fala somente de si mesmo. Isso é de um reducionismo tão estúpido, que é preciso começar explicando o próprio "caso Eliot": longe de se considerar um poeta lírico, menor, via-se, unicamente, como poeta épico e dramático, nessa ordem, o que facilitava enormemente sua visão distorcida de que todo o resto é poesia confessional.

O poeta lírico, é bem verdade, confunde o leitor desavisado ao escrever na primeira pessoa. Mas o "eu lírico" ou "eu poético", a voz emissora do poema, deve ser visto pelo crítico/leitor como uma máscara (persona) do autor. O poeta alarga sua percepção do mundo e verbaliza em valores positivos e/ou negativos tal percepção, daí resultando o poema, que vai refletir sua experiência pessoal, pois é disso que se alimenta a literatura: da realidade recriada, transmutada, transfigurada.

Poesia é, pois, ficção. Do contrário será confissão, e isso é uma tremenda bobagem, porque a ninguém interessa a dor pessoal de ninguém. (A menos que ninguém se chame Manuel Bandeira, por exemplo, que, ao individualizar sua dor, mitifica-a. Mas esse é outro papo). Poesia também é fissão, rompimento, fratura, fragmentação, reinvenção da linguagem. Equacionando, para gozo dos estruturalistas:

Poesia = (ficção + fissão) - confissão

E não é mero jogo de fonemas. Vejamos o caso extremo de Fernando Pessoa, criador de personas-poetas. Pelo conceito de Eliot, Pessoa está mais para poeta dramático que lírico, revelando-se este no interior daquele. Para mim, cada heterônimo despe/veste máscaras diferentes a cada poema. Logo, Pessoa não é apenas Caeiro, Campos, Reis ou ele-mesmo, mas muitos, muitos outros: Vivem em nós inúmeros (...)/ Tenho mais almas que uma./ Há mais eus do que eu mesmo (...). Mário de Andrade pegou isso legal, também: Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta (...). Eliot conclui seu trabalho com uma constatação genial, se não fosse óbvia: "duvido que em qualquer verdadeiro poema apenas uma voz seja audível". Menos mal, não?

O que eu quero propor, afinal, em comum acordo com o mestre britânico, é que o poeta lírico encarna, em cada poema ou grupo de poemas, uma personagem específica, que traz em si a carga de experiência do autor, mas não é ele. Para ficarmos no âmbito da literatura amazonense, quando Tenreiro Aranha escreveu, há duzentos anos, o antológico soneto da Maria Bárbara, vestiu a máscara da mulher assassinada, despedindo-se do esposo: a voz emissora era a da própria Maria Bárbara, personagem. Tenreiro Aranha, o poeta-cidadão, por outro lado, exprimia-se por ele mesmo, provavelmente, quando praticava aquele aulicismo sem-vergonha, que marca a maior parte de sua obra conhecida, e não precisava fingir que fingia sentir o que não sentia. Aliás, aquilo nem é poesia.

Estas reflexões remetem-me a uma outra falsa crença: a inspiração. É desnecessário, por tudo o que já se disse, enfatizar o caráter falacioso desse fantasma, mas é preciso dizer em alto e bom som que sem muito trabalho não se fazem poemas, não se constrói poesia. As musas não têm escolhidos: somos nós, os poetas, que as escolhemos, que as buscamos incessantemente, as assediamos através de muita leitura, pesquisa e exercício. O devaneio não é um atributo do poeta, mas sim de todo aquele que desenvolve um trabalho criador. E aqui não podemos esquecer Coleridge, para quem "a imaginação é a condição primeira de todo conhecimento".

A sinonímia poeta/profeta está presente no imaginário ocidental desde Sócrates, via Platão, para quem "é quando estão possessos e inspirados por um deus que eles recitam todos esses belos poemas". As "antenas da raça", na verdade, colocam-se à frente de seu tempo (profetas) porque usam a imaginação com mais liberdade que os demais artistas. O poeta anda nu e tem plena consciência disso, não fosse o sorriso maroto que lhe aflora aos lábios, denunciando seu estado de vigília permanente em pleno devaneio. Et tout le reste est littérature.
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Zemaria Pinto é poeta, autor de Corpoenigma e Fragmentos de Silêncio.
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Fonte:
http://br.geocities.com/culturauniversalonline/

Prosa Literária

O texto em prosa comum é, tradicionalmente, aquele elaborado em parágrafos e um tipo de mensagem composta por signos lingüísticos em sentido denotativo, selecionados e combinados linearmente, de maneira a tornar essa mensagem clara e objetiva e a mais próxima possível da realidade e da verdade. Sendo um trabalho de elaboração artística, a prosa literária, entretanto, é um tipo de mensagem composta por signos lingüísticos selecionados e combinados de maneira que torne tal mensagem diferente, especial, ou seja, dotada de LITERARIEDADE. A literariedade é um ingrediente que só a mensagem literária possui, pois ela é composta de um tipo de linguagem em que predomina a conotação, os efeitos sonoros, a ambigüidade, a polivalência, o neologismo, o rompimento com as normas de usos dos signos lingüísticos e com as normas gramaticais; a literariedade, assim, é tudo o que torna a obra literária um tipo de discurso diferente de todos os demais (por exemplo do científico, do jornalístico, etc.). Além disso, a obra literária é FICÇÃO: tudo que nela existe é INVENÇÃO DO AUTOR, por mais real, por mais verossímil que pareça. A obra literária é um mundo muito parecido com o mundo real: é uma imitação (=representação) da realidade através de palavras, de signos. A palavra rosa, no texto literário, representa a rosa que existe na realidade.

A prosa literária, quanto ao conteúdo e à forma de transmissão da sua mensagem, pode ser uma obra de gênero:

a) DRAMÁTICO, se for uma obra em prosa elaborada com o fito de ser REPRESENTADA num palco. Nessa forma de representação, são as ações (os “fazeres”) das personagens , no decorrer da peça teatral, que “contam” ao receptor a história (o enredo). São de gênero dramático: a comédia, a tragédia, a tragicomédia, a ópera, etc.

b) NARRATIVO, se for uma obra em que alguém (o NARRADOR) conta uma história (ENREDO) ,produto de um conjunto de AÇÕES desempenhadas por pessoas fictícias (PERSONAGENS), num TEMPO, num ESPAÇO e numa SEQÜÊNCIA que dá, a essa história contada, uma idéia de VERACIDADE (= VEROSSIMILHANÇA) por mais mentirosa e impossível que ela seja. São de gênero narrativo as seguintes prosas literárias: o romance, a novela, o conto, a crônica, a fábula (e o apólogo) e a parábola.

A seguir, focalizaremos com detalhes o Gênero Narrativo, já que a maioria das obras literárias brasileiras e portuguesas em prosa pertencem a esse gênero.

A PROSA NARRATIVA

I- ELEMENTOS DA NARRATIVA LITERÁRIA:

1. a AÇÃO: é a soma de gestos e atos desempenhados pelas personagens que compõem o enredo. Ela pode ser:

a) externa = uma viagem, o deslocamento de uma sala para outra, etc.;
b) interna = é toda a ação que se passa na consciência ou inconsciência de quem narra. Esse tipo de ação é própria das narrativas psicológicas ou introspectivas (veremos mais adiante)

As ações, na prosa narrativa de ficção, têm que parecer verdadeiras, mesmo que elas não ocorram na realidade; para isso, é preciso que, desde o início, haja coerência na conduta da personagem. Por exemplo: do início ao fim, o cão Quincas Borba “pensa”, o que faz parecer algo possível e natural para o leitor. Um cão “pensar” seria inverossímil (até numa obra literária) se isso começasse a acontecer de repente, no meio da história, por exemplo.

A ação, em suma, é o “pôr em movimento” personagens que se relacionam entre si. Como na vida, essas relações podem ser de amor, de amizade, de competição, de oposição, etc. A ação é o elemento essencial de toda e qualquer narrativa, pois é o que distingue esse tipo de discurso dos demais ( de uma descrição, de uma dissertação, etc.).

2. o ENREDO: deverbal de “enredar”, prender, colher na rede. É sinônimo de HISTÓRIA, TRAMA, ASSUNTO, INTRIGA.

“É a composição de atos (ações) feitos pelas personagens”(Aristóteles)

“É uma seqüência de acontecimentos encadeados rumo ao desenlace ou epílogo (=final da história)”(Massaud Moisés)

“É uma narrativa de acontecimentos arranjados em sua seqüência temporal”(E.M.Forster)

“É o arranjo de uma história, é o corpo de uma narrativa, é a maneira como a matéria é narrada ao leitor. ”(Samira Nahid de Mesquita)

O enredo pressupõe um nexo de causalidade entre os acontecimentos. Numa narrativa, o que precede o enredo é o PRÓLOGO da narrativa e o desfecho do enredo é o EPÍLOGO. Toda narrativa, portanto, tem um começo, um meio e um fim, ou seja, o PRÓLOGO, a TRAMA ou ENREDO e o EPÍLOGO. Assim , conforme a ordenação dos fatos e situações narradas, o enredo pode apresentar uma organização linear, mais próxima da ordem narrativa oral, da narrativa tradicional (mitos, lendas, casos, contos populares, etc.) em que se respeita a cronologia (narra-se antes o que aconteceu antes), obedece-se à ordem começo, meio e fim, ao princípio da causalidade (fatos ligados pela relação de causa e efeito) e à verossimilhança (procura-se a aparência da verdade, respeita-se a logicidade dos fatos). O enredo é a própria estruturação da narrativa de ficção em prosa. Ele será não o somatório, mas o produto das relações de interdependência entre a sucessão e a transformação de situações e fatos narrados, e a maneira como são dispostos para o ouvinte e o leitor pelo discurso que narra.

3. a PERSONAGEM: do latim “persona” = máscara de ator; atuante, actante.

As personagens , na narrativa literária e no teatro, são os seres fictícios construídos à imagem e semelhança dos seres humanos reais; são os que praticam as ações da narrativa: os agentes, portanto. Animais ou seres inanimados só são personagens quando têm características e ações humanas (personificação). As personagens, por conseguinte, representam PESSOAS : são os habitantes do mundo ficcional, seres que não existem no mundo real e fora das palavras, por isso, elas são um “problema lingüístico”.

Não existe ação sem personagem e personagem sem ação.

As personagens são classificadas quanto às ações que praticam e quanto à sua importância no enredo.

- TIPOS DE PERSONAGENS QUANTO ÀS AÇÕES QUE PRATICAM (Forster):

a) PLANAS: sua personalidade não revela surpresa; são personagens estáticas, infensas à evolução. Subdividem-se em tipos (personagens excêntricas, exageradas, mas sem deformação) e caricaturas ( personagens que tem características que provocam tamanha distorção que chegam a ser ridículas; são personagens cômicas);

b) REDONDAS: apresentam várias qualidades ou tendências, repelindo todo o intuito de simplificação. São as personagens que surpreendem o leitor; são dinâmicas porque evoluem. Subdividem-se em caracteres (quando a complexidade se acentua, a mudança de personalidade é tal que gera no enredo conflitos indissolúveis) e símbolos (quando a complexidade parece ultrapassar a fronteira que separa o humano do mítico, o natural do transcendental. Capitu é um exemplo perfeito).

- TIPOS DE PERSONAGENS QUANTO à IMPORTÂNCIA NO ENREDO:

a) PERSONAGENS PRINCIPAIS:

A1. protagonista: herói ou heroína da trama (ou anti-herói), é aquela que ganha primeiro plano na narrativa;

A2. antagonista: vilão, é o opositor ou oponente da protagonista (é o protagonista às avessas), aquele que cria os obstáculos da trama;

b) PERSONAGENS SECUNDÁRIAS:

B1. adjuvante ou coadjuvante: é a personagem que está atuando ao lado (=aliada) da protagonista ou da antagonista, podendo ser humano ou não (uma fada, um objeto “encantado”, etc.)

B2. auxiliar ou árbitro ou juiz: é a personagem que funciona como um elemento decisivo dentro de um conflito, auxiliando a fazer ou a desfazer os obstáculos da trama, pendendo para a protagonista ou para a antagonista, respectivamente.

B3. figurativa : suas ações ou mera presença no enredo pouco ou em nada alteram os fatos da narrativa.

4. o TEMPO: é o elemento que ordena as ações na narrativa, encadeando-as e produzindo uma relação de causa-efeito entre elas.

O TEMPO CRONOLÓGICO OU HISTÓRICO é o mesmo do relógio, do calendário. É o tempo da NARRATIVA LINEAR (antes/depois), como o do conto, da novela e da maioria dos romances.

O TEMPO PSICOLÓGICO é o infenso a qualquer ordem. Os episódios são apenas justapostos, sem que haja entre eles qualquer vínculo lógico, sintático-semântico. É o tempo da NARRATIVA PSICOLÓGICA OU INTIMISTA.

5. o ESPAÇO: é o lugar, o cenário onde as ações são feitas pelas personagens. Os espaços podem ser urbanos, naturais, o interior de uma casa, de um teatro, etc. Nas narrativas psicológicas, o espaço é a mente do narrador ou de uma personagem.

6. o NARRADOR é quem conta o enredo. Ele pode participar da história ou apenas ser um mero observador. Na verdade, como tudo na narrativa, o narrador é também uma das invenções do autor. Dependendo da posição em que se coloca o narrador para contar a história (da pessoa verbal que narra – 1a ou 3a ), ou seja, do FOCO NARRATIVO ou PONTO DE VISTA, podemos classificar, segundo Friedman, o narrador como:

NARRATIVA EM PRIMEIRA PESSOA :

A) NARRADOR PROTAGONISTA (autodiegético) : é o narrador que é também personagem protagonista da narrativa;

B) B)EU COMO TESTEMUNHA (homodiegético) : é o narrador que também é personagem secundária da narrativa;

C) NARRADOR ONISCIENTE INTRUSO SUBJETIVO: é o narrador que conhece todos os demais elementos da narrativa e que não é personagem; conta a história em primeira pessoa;

NARRATIVA EM TERCEIRA PESSOA:

A) NARRADOR ONISCIENTE INTRUSO OBJETIVO: é o narrador que conhece todos os demais elementos da narrativa e que não é personagem; conta a história em terceira pessoa;

B) NARRADOR ONISCIENTE NEUTRO (heterodiegético): é o narrador observador , que não interfere na história em nenhum momento e que não conhece os fatos com antecedência (conhece no momento em que o fato acontece);

NARRATIVA SEM NARRADOR: as personagens agem por si. (não há ninguém contando a história, só o drama):

. narrativa sem narrador e com apenas uma personagem: ONISCIÊNCIA SELETIVA MÚLTIPLA

. narrativa sem narrador e com várias personagens: ONISCIÊNCIA SELETIVA.

II- TIPOS DE PROSA NARRATIVA

1. ROMANCE: é a obra em prosa narrativa e de ficção mais extensa que existe, por isso contém muitos episódios; é o tipo de narrativa em que várias personagens e ações se interrelacionada e em que os espaços e as personagens são caracterizados mais detalhadamente. O enredo do romance está sempre na íntegra, ou seja, caso o leitor queira ler sem interrupções a história toda contada no romance, ele pode fazê-lo. Há vários tipos de romances: o policial, o sentimental, o psicológico, o experimental, o histórico, o de aventuras, o de “capa e espada”, o cientificista, etc. Podem ser românticos, realistas-naturalistas, modernistas, etc., quanto ao estilo. Quanto ao espaço predominante na narrativa, podem ser urbanos, regionalistas, intimistas, etc.

2. NOVELA: é a obra em prosa narrativa e de ficção um pouco menos extensa e, por isso, seus elementos são mostrados de maneira mais condensada. Caracteriza-se principalmente por ser UMA NARRATIVA EM CAPÍTULOS, ou seja, o enredo é apresentado ao leitor aos poucos, o que significa que ele só conhecerá a história na íntegra no momento em que terminar a leitura do último capítulo da obra. Mesmo que ele tenha tempo para a leitura, ele não tem material de leitura além do(s) capítulo(s) disponível (eis).

3. CONTO: é uma das narrativas menos extensas que existem (normalmente tem, no máximo, dez páginas); é um mini-romance ou um recorte dele: o conto corresponde a UM dos vários episódios de um romance. Por ser uma narrativa muito breve, não há praticamente descrições de espaços e de personagens no conto e seu conteúdo normalmente é a narrativa de um fato ou episódio incomum, curioso e, muitas vezes, sobrenatural ou irreal.

4. CRÔNICA: é a narrativa mais breve que existe; é leve e baseia-se em fatos ou episódios do cotidiano, vistos com humor ou, às vezes, com melancolia.

As outras narrativas que existem, mas em grau de importância menor que as citadas, são:

- A FÁBULA: narrativa literária em que as personagens são seres não humanos personificados e em que o enredo encerra uma “lição de moral”. Normalmente, na fábula, as personagens são animais personificados; quando as personagens são seres inanimados personificados (uma linha e uma agulha, por exemplo), tem-se um APÓLOGO.

- A PARÁBOLA: é uma narrativa que também encerra um ensinamento. As personagens, porém, são humanas. São narrativas comuns às obras religiosas e ao texto bíblico.

Não importa o tipo de narrativa: o que importa é narrar, é levar alguém a viajar para um mundo distante, que não existe nos mapas porque não é real, é ideal. É o mundo onde o impossível é possível, onde nossos defeitos desaparecem, onde nossos sonhos se realizam e de onde não queremos sair. Mas quando saímos desse mundo de fantasia, de mentirinha, de papel, e voltamos à nossa realidade, nosso espírito está tão bem alimentado que somos capazes de perceber que até nele há beleza, há poesia, há amor e há coisas que não conseguíamos captar porque nossa alma estava cega.

Fontes:
http://br.geocities.com/culturauniversalonline/poemas_e_poesias_1.htm

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Perdidos no Espaço

(Lost in Space) (1965-1968)
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Iniciamos a série Dos Livros para as Telas, falando dos filmes e seriados antigos que prendiam nossa atenção nas telas de TV e de cinema. Passaremos a sinopse do filme, onde foi baseado ou segue fiel ao livro, apresento também os atores e um mini currículo deles, assim como as curiosidades de gravações, etc.
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"Amigos americanos, amigos de todo o mundo, o sucesso desta missão vai depender de um explosivo aumento de população do planeta , que acabará levando a um desastre aonde ninguém escapará, ou a uma nova aurora de fartura para toda a humanidade. Ninguém pode prever o resultado dessa audaciosa jornada às próprias estrelas. Àqueles que vão arriscar suas vidas por esta atrevida expansão dos horizontes dos homens eu, humildemente, digo: Vão em paz. Que as preces da humanidade estejam com vocês.".

Assim um hipotético presidente do EUA fará (ou fez) sua última saudação a um grupo de astronautas que decolará(ou decolou) da Terra, em 16/10/97, em busca do oásis que salvará nosso planeta do colapso total, pela falta de alimentos, motivada pelo aumento populacional abusivo e incontrolado. Esse é o enredo inicial de Perdidos no Espaço. A data de fato ainda não chegou e é improvável que até lá cheguemos aos números assustadores de pessoas no mundo que nos impulsionem às galáxias numa aventura desesperada e se fosse um fato, mesmo com os grandes avanços da tecnologia nosso final não seria tão feliz, pois o máximo que conseguimos hoje é observar o Cosmos por lentes e manter vôos orbitais. Mérito de Allen que pôde ter uma visão extremamente futurista. É certo que também extremamente otimista, pois com sua ficção já punha o homem em outros sistemas solares, pisando e respirando normalmente, aos cinco anos luz de viagem, tempo na nave, 98 anos tempo da Terra para atingir Alpha Centauri. Resta-nos apenas nos contentarmos com o passeio de Armstrong na nossa Lua.

A viagem teve início, mas seu curso alterado pelo peso extra do sabotador de uma potência inimiga, Zachary Smith, potência cujo nome nunca ficou explícito. Smith ficara preso no Júpiter 2, após alterar a programação do Robot para que destruísse a nave 8 horas após a decolagem. O clandestino usava o código "Aeolis 14 Umbra" para entrar em contato com seus pares de maneira que o ajudassem a sair da espaçonave antes que ela explodisse. Nunca obteve sucesso. O roteiro previa que Smith deveria morrer antes do sexto capítulo, contudo a forte intensidade dramática que o ator Jonathan Harris impôs ao personagem lhe deu vida eterna na série. Registre-se logo aqui a lamentação que todo amante de LIS quanto à mudança da linha dramática séria para a comédia no decorrer dos capítulos, para atender interesses puramente comerciais de forma que Perdidos no Espaço pudesse concorrer em pé de igualdade com a série Batman. Essas modificações enalteceram a capacidade de interpretação do ator "russo", mas afetou em muito a credibilidade do seriado em muitos capítulos, pela banalidade dos enredos, que chegavam ao Ridículo, já naquela época.

O primeiro ano, contudo, no geral, foi primoroso, principalmente os cinco primeiros capítulos, que foram propositadamente baseados no piloto. O segundo e terceiro anos foram afetados pelo que discorremos no parágrafo anterior, com algumas exceções. Essa análise, logicamente, vista pelo ângulo artístico. Tecnicamente falando é difícil criticar, pois as inovações que eram feitas com a implementação de equipamentos não deixam lacunas para queixas, ponderando que a inclusão dos "devices" , como o MINI-JÚPITER, estações de tratamento de água e muitos outros, leva-nos a pensar aonde cabia tanta coisa dentro de espaçonave tão pequena. Literalmente "pisaram na bola" nesse aspecto. Surgiu até um andar novo que nem com muita boa vontade dá para imaginar haver. Foi registrado no capítulo As Criaturas da Névoa, onde continha o dispositivo de fusão nuclear.

A série era futurista, mas se diferenciava de outras, pois tratava a tecnologia ao nível do verossímil, nunca abandonado o lado humano e massificando forte conteúdo de formação moral familiar. Exceção aos exaustivos perdões inconcebíveis que eram dados ao incorrigível Smith. Havia exploração de fatos históricos, principalmente da história inglesa, escocesa e americana, levantando questionamentos sobre injustiças cometidas contra Lordes do Reino Unido nos tempos medievais(O Viajante Astral), além do cotidiano do Way of Life americano. John Robinson até previu a chegada do homem à Lua, num dos capítulos em 1970. Embora fizesse a citação como fato, pois já se encontravam em 1998. Errou por poucos meses, em função do Módulo Águia ter pousado na Lua em 1969. Contudo isso confirma que as informações passadas eram estudadas e confirmadas com cautela, consultando a NASA, afinal de contas tal previsão fora feita em 1965, muito embora o ambiente da estória fosse de 33 anos no futuro.

Abordagens de outras culturas também foram registradas. Cite-se o exemplo do capítulo O Fantasma do Espaço, onde Smith se veste de Druida para enfrentar o "fantasma" do Tio Tadeu, que é situação típica do folclore Alemão. Ganho de credibilidade foi o lucro para o seriado. Aí, talvez, se encontrasse o grande trunfo dos enredos, principalmente no primeiro ano, pois as abordagens de idéias avançadas eram em grande parte plausíveis. Nossos náufragos do espaço nunca chegaram ao seu destino, nem conseguiram, de fato, retornar ao nosso planeta, deixando aberta a porta para sua continuação.

OS ATORES:
Guy Williams (Professor John Robinson) (1924), em Nova Iorque, seu verdadeiro nome é Armando Catalano mas todos o chamavam de Guido. Armando estudou na Peekskill Military High School um colégio militar, mas não era um estudante aplicado. Sua maior preocupação era procurar emprego, ele sempre trabalhava durante as férias escolares. Ele encerrou os estudos e começou uma carreira de modelo fotográfico e ator. Foi nesta época que seu agente, Henry Wilson mudou seu nome para Guy Williams. Fanático por xadrez, Williams dividia seu tempo entre as fotos publicitárias e o Manhatan Chess Club. Durante uma sessão de fotos para um anúncio, Guy conheceu a modelo Janice Cooper com quem se casou poucos meses depois. O casal teve 2 filhos Steve (1952) e Toni (1958). Em 1957, foi convidado por Walt Disney para fazer o papel de Zorro e Williams se tornou um astro e resolveu seus problemas financeiros, além do salário, ele recebia 2,5% dos lucros da série. Devido a problemas entre a NBC e Walt Disney a série foi cancelada. Neste período Guy fazia aparições públicas, vestido como o personagem, em eventos na Disneylandia para manter a imagem de Zorro viva. Guy ainda fez filmes como O Príncipe e o Mendigo, Capitão Simbad e estrelou a série Bonanza. Em 1964 foi convidado para fazer Perdidos no Espaço e aceitou, dizem que o único motivo que fez ele aceitar foi o fato dos estúdios da Fox ficarem perto de sua casa. Em 1968 a série chegou ao fim. Em 1973 recebeu um convite de Isabela Perón para fazer aparições públicas na Argentina, ele viajou para a Argentina com a esposa Janice e o amigo Henry Calvin (Sargento Garcia). Impressionado com o carinho dos argentinos, dividia seu tempo entre Buenos Aires e Los Angeles passando mais tempo na Argentina a partir de 1978. No início da década de 80 ele se divorciou e passou a viver com a atriz e jornalista Araceli Lisazo com quem dividia sua residência também nos Estados Unidos. Durante o período em que viveu na Argentina, fez aparições públicas e chegou a trabalhar no ramo imobiliário. Após sua enfermidade, largou tudo e, nos últimos anos, cogitava fixar residência nos Estados, quando veio a falecer no dia 04 de maio de 1989. O corpo foi enterrado no cemitério La Chacarita em Buenos Aires sem a presença da Família, mais tarde, seu filho Steve acompanhou a remoção do corpo para os Estados Unidos onde foi cremado e suas cinzas jogadas ao mar.

June Lockhart (Maureen Robinson) nasceu em 25 de junho de 1925, faz participações em novelas.

Mark Goddard (Major Donald West) nasceu em 24 de julho de 1936 EM Lowell Massachusetts, vive em Bridgewater e trabalha como professor de Inglês, Matemática, Estudos Sociais e Ciências.

Marta Kristen (Judy Robinson) nasceu em 26 de fevereiro de 1945 em Oslo, Noruega, trabalha com a companhia de teatro West Coast Ensembleand, que ela mesmo fundou.

Bill(y) Mumy (Will Robinson) nasceu em 01 de fevereiro de 1954, trabalhou na série Babylon 5.
Angela Cartwright (Penny Robinson) nasceu em 09 de setembro de 1952 na inglaterra, é dona de uma loja Rubber Boots em Toluca Lake na California,

Jonathan Harris (Dr. Zachary Smith) nasceu em Nova Iorque, no dia 06/11/1914, filho de imigrantes russos seu sobrenome era Charasuchin, mais tarde foi mudado para Harris, cresceu no Bronx e se formou em farmacologia na Universidade Fordham. Mas o talento para o show business sempre foi seu forte e Harris se juntou a uma companhia de Long Island, com a qual atuou em inúmeras apresentações, incluindo "Follow the Flag", de 1946, com Paul Muni e Marlon Brando. Teve participação especiais em séries como Zorro, Agente 86, A Feiticeira e Terra de Gigantes, mas foi no papel do doutor Smith de "Perdidos no Espaço" que Harris escreveu seu nome na história das artes dramáticas. Nos últimos anos, Harris trabalhou com os estúdios de animação Pixar, emprestando sua voz única ao mágico Manny de "Vida de Inseto" e ao "médico" de bonecos em "Toy Story 2". Faleceu dia 03/11/2002, devido a um coágulo no coração em um hospital na cidade Los Angeles. Frase imortal: Nada tema, com Smith não há problema.

Bob May (Robo)
Dick Tufeld (Voz do Robo)

CURIOSIDADES - Há muita coisa interessante para abordar sobre Perdidos no Espaço. Houve muitas falhas nas gravações, pois não havia tempo nem dinheiro para ensaios como hoje. Era tudo na "Bucha"! Havendo falhas abria-se espaço para o improviso. Há detalhes pessoais que influíam em algumas cenas, como por exemplo os insultos proferidos contra o Robot por Smith e vice-versa . Erros técnicos, etc. Vamos citar algumas coisas!:

1 - Jonathan Harris sofria de claustrofobia e todas as cenas em que o ator havia que ficar trancafiado em algum recinto era substituído pelo seu dublê. Exemplo disso veio logo no primeiro capítulo e na primeira cena que o Dr. Smith aparece. A narração apresentava o Júpiter 2, mostrando suas características técnicas e ao findar um compartimento se abre e Smith sai do mesmo deitado em uma poltrona. Ali não era o ator e sim seu dublê.

2 - A maior frustração de Jonathan Harris é não ser cantor de ópera, sua grande paixão. Realmente, o ator chegou a cantar, com som original, no capítulo Mar Revolto e demonstrou ser uma grande "tragédia", musicalmente falando.

3 - Deixaram propositadamente Bob May preso dentro do Robot num dos horários de almoço por brincadeira e quando o pessoal retornou observou que havia fumaça saindo de dentro da Lata de Sardinha Enferrujada. Correram com extintores de incêndio, pensando ser fogo por curto-circuito e quando levantaram o corpo do Robot para verificarem como estava o ator encontraram-no fumando e rindo. O feitiço havia se voltado contra o feiticeiro. O vício do ator foi aproveitado em vários capítulos como por exemplo em O Desafio em que o Robot queima os seus reguladores de voltagem para evitar responder as perguntas de Smith. A fumaça foi produzida pelos sopros de fumaça de cigarro de Bob May.

4 - No capítulo Terra de Gigantes Bob May esqueceu-se de apertar o dispositivo que acendia a luz principal do peito do Robot, que brilhava sempre que falava, quando este retornou da patrulha que fizera durante a noite para averiguar ruídos estranhos. Voltou falando loucamente, mas a luz não cintilava no peito.

5 - No capítulo O Mercador do Espaço o Robot ao subir a rampa que acessa o Júpiter 2 leva um tombo homérico. É que o pessoal responsável para iça-lo para dentro, usando cordas, que não víamos, relaxou e a queda foi "feia". Não houve nada com Bob May, mas o Robot ficou danificado e como não havia um reserva, podem observar que durante todo o capítulo o mesmo está sempre de costas para a câmera. Mesmo assim dá para notar que o Bulbo da cabeça está torto. Quando June Lockhart correu em socorro de Bob May e lhe perguntou como se sentia, Bob May retrucou perguntando como estava o Robot. É que até aquele capítulo ele não havia assinado contrato com a produção. Trabalhava até então como Free-Lancer.

6 - No capítulo A Voz do Espírito, o último do primeiro ano, a sombra de Guy Williams é projetada no cenário. Nossos olhos na época pouco críticos não perceberam a falha, mas hoje qualquer um notaria e talvez até mudasse de canal. Uma pena! E logo num dos melhores episódios!

7 - Guy Williams passava horas ao telefone durante as gravações discutindo negócios e investimentos. Durante os intervalos, costumava ensinar esgrima a Billy Mumy.

8 - De todo o pessoal já falecido, que participou do seriado, a nota mais triste é para o ator Stanley Adams(Tybo), que se suicidou.

9 - Mark Goddard era o gozador da turma. Costumava fazer todo tipo de brincadeiras com os colegas, em uma ocasião Mark chegou ao set de filmagem, subiu até o lugar mais alto e começou a jogar amendoim em todos que passavam.

10 - As roupas de astronautas metalizadas eram tão desconfortáveis, que as cadeiras usadas para descanso em pequenos intervalos de gravações pelo elenco eram na realidade pranchas com apoio para os braços, que ficavam posicionadas verticalmente, com ligeira inclinação, onde os atores ficavam em pé, apenas apoiados nelas, caso contrário se feriam.

11 - As cenas do Júpiter 2, gravadas externamente, em tamanho real(Visita a um Planeta Hostil), foram feitas no estacionamento dos estúdios e nada havia dentro da mesma a não ser tábuas estreitas sobre as quais os atores caminhavam.

12 - O piloto No Place to Hide custou US$ 600.000,00. Mais barato US$ 30.000,00, que o primeiro episódio de Star Trek, The Cage.

13 - O nome do disco voador Júpiter 2, anteriormente se chamava Gemini 12 e o motivo do novo batismo foi evitar confusões com o projeto Gemini da NASA.

14 - O projeto de Allen para "Perdidos" era de que a série durasse no mínimo 10 anos, segundo revelou para a revista Starlog no seu número 100.

15 - Anualmente Jonathan Harris passava 2 meses viajando de navio pelo mundo. Invariavelmente ele passava pelo Brasil.

16 - Billy Mumy (Will) e Angela Cartwright (Penny) namoraram durante algum tempo após o término da série.

O por quê do fim

As filmagens do quarto ano chegaram a ser iniciadas, contudo, durante muito tempo alegou-se que o encerramento do projeto deveu-se aos baixos recursos orçamentários. O problema na realidade sempre existiu, desde o primeiro capítulo. A última denúncia mais contundente veio recentemente publicada na revista americana Starlog, que continha matéria sobre os 30 anos de LIS. Está registrado lá que o "Sophisticated Guy", para nós "O Mauricinho", Bill Paley foi o responsável pelo uso do argumento orçamentário, mas que na verdade o mesmo sempre foi explícito em colocar que pessoalmente odiava a série e literalmente assim está escrito na revista. Isso nos entristece mais ainda, pois dói saber que foi o capricho de uma única pessoa o responsável pela frustração de milhões de espectadores de ver encerrado um trabalho tão cativante, educativo e que proporcionava tanto entretenimento.

Episódios

Primeiro ano da série

1.The Reluctant Stowaway - O Clandestino Teimoso
2.The Derelict - A Nave Fantasma
3.Island in the Sky - Ilha no Céu
4.There Were Giants in the Earth - Terra de Gigantes
5.The Hungry Sea - Mar Revolto
6.Welcome Stranger - Hapgood Esteve Aqui
7.My Friend, Mr. Nobody - Um Estranho Amigo
8.Invaders from Fifth Dimension - Invasores da Quinta Dimensão
9.The Oasis - O Estranho Oásis
10.The Sky is Falling - Os Sêres Eletrônicos
11.Wish Upon a Star - A Lâmpada de Aladim
12.The Raft - A Mini Espaçonave
13.One of Our Dogs is Missing - O Cão Desaparecido
14.Attack of The Monster Plants - O Ataque Plantas Monstruosas
15.Return from Outer Space - Volta à Terra
16.The Keeperpart one - O Estranho Colecionador - parte 1
18.The Sky Pirate - O Pirata do Céu
17.The Keeperpart two - O Estranho Colecionador - parte 2
19.Ghost in Space - O Fantasma do Espaço
20.The War of the Robots - A Guerra dos Robots
21.The Magic Mirror - O Espelho Mágico
22.The Challenge - O Desafio
23.The Space Trader - O Mercador do Espaço
24.His Majesty Smith - Sua Majestade Smith
25.The Space Croppers - Os Semeadores do Universo
26.All That Gliters - Nem Tudo o que Reluz...
27.The Lost Civilization - A Civilização Perdida
28.A Change of Space - Um Passeio à Sexta Dimensão
29.Follow the Leader - A Voz do Espírito

Segundo ano da série

30.Blast Off Into Space - Fuga Desesperada
31.Wild Adventure - A Estranha Dama Verde
32.The Ghost Planet - O Planeta Fantasma
33.Forbidden World - O Mundo Proibido
34.Space Circus - O Circo do Espaço
35.Prisioners of Space - O Tribunal das Galáxias
36.The Android Machine - A Máquina Andróide
37.The Deadly Games of Gamma Six - Os Torneios Mortais de Gamma
38.The Thief of Outer Space - O Ladrão do Espaço Sideral
39.The Curse of Cousin Smith - A Maldição do Primo Smith
40.West of Mars - A Oeste de Marte
41.A Visit to Hades - Uma Visita ao Inferno
42.Wreck of the Robot - A Destruição do Robot
43.The Dream Monster - O Monstro do Pesadelo
44.The Golden Man - O Homem Dourado
45.The Girl from Green Dimension - A Moça da Dimensão Verde
46.The Questing Beast - O Cavaleiro Espacial
47.The Toymaker - O Fabricante de Brinquedos
48.Mutiny in Space - Motim no Espaço
49.Space Vikings - Os Vikings do Céu
50.Rocket to Earth - Foguete para a Terra
51.Cave of the Wizards - A Caverna dos Mágicos
52.Treasure of the Lost Planet - O Tesouro do Planeta Perdido
53.Revolt of the Androids - A Revolta dos Andróides
54.The Colonists - Os Colonizadores
55.Trip Through the Robot - Viagem Através do Robot
56.The Phantom Family - A Família Fantasma
57.The Mechanical Men - Os Homens Mecânicos
58.The Astral Traveller - O Viajante Astral
59.The Galaxy Gift - O Amuleto das Galáxias

Terceiro ano da série

60.The Condemned of Space - Os Condenados
61.Visit to a Hostile Planet - Visita a um Planeta Hostil
62.Kidnapped in Space - O Ataque dos Homens Relógio
63.Hunters' Moon - A Noite do Caçador
64.Space Primevals - Os Primitivos do Espaço
65.Space Destructors - O Terrível Exército Cyborg
66.The Haunted Lighthouse - O Inacreditável Zaibo
67.Flight into the Future - O Estranho Planeta Verde
68.Collision of Planets - Colisão de Planetas
69.Space Creature - As Criaturas da Névoa
70.Deadliest of the Species - A Namorada do Robot
71.A Day at the zoo - O Jardim Zoológico das Galáxias
72.Two Weeks in Space - O Grande Hotel Espacial
73.Castles in Space - A Princesa do Planeta Gelado
74.The Antimatter Man - Robinson Número Dois
75.Target Earth - Ataque à Terra
76.Princess of Space - Penny, a Princesa do Espaço
77.The Time Merchant - O Mercador do Tempo
78.The Promised Planet - O Planeta Prometido
79.Fugitives in Space - Os Fugitivos
80.Space Beauty - O Concurso de Beleza Cósmica
81.The Flaming Planet - O Inacreditável Monstro Vegetal
82.The Great Vegetable Rebellion - A Revolta das Plantas
83.Junkyard in Space - A Enorme Sucata do Espaço

Fontes:
Fernando Ramos. In http://www.geocities.com/geysonas/
http://redetupidetelevisao-sempre.brasilflog.com.br/ (imagem)

Academia Paranaense da Poesia (Eventos de Agosto)

Eventos Do Mês De Agosto De 2008

Tarde de Música e Poesia Cecim Calixto

Na 3ª terça da poesia, a Academia Paranaense da Poesia e o Centro de Letras do Paraná prestarão homenagem póstuma ao poeta Cecim Calixto, falecido no último 29 de maio. Cecim foi o 2° ocupante da cadeira poética nº 11 desta academia e seu patrono é Rodrigo Júnior.

A homenagem constará de apresentações musicais, declamações de poemas ou trovas de Cecim Calixto ou para ele, ficando também aberta a oportunidade para outros temas caso haja tempo (inscrições para declamações: entre 16:30 às 17 horas.)

data: 19 de agosto das 17 às 18:30h no Centro de Letras do Paraná.

OUTROS EVENTOS

Oficina Permanente De Poesia na Biblioteca Pública Do Paraná; parceria desta com a Academia Paranaense Da Poesia - aula de 1 hora sobre um tema poético – 50 minutos de declamação exercitando a expressão oral
às 5ª feiras das 18 às 20 horas – 3º andar - (aulas gratuitas)

07/08 – Tribuna Livre

14/08 – Canção do Exílio: Intertextos – Lília Souza

21/08 - A Poesia de Paulo Setúbal - Mamed Zauith

28/08 - a Poesia de Affonso Romano de Sant’anna - Alzeli Bassetti

09/08 – (2º sábado) XXVI tarde da seresta
– a partir das 17 horas no restaurante San Domingos (antiga Confeitaria Iguaçu) – Rua Voluntários da Pátria 368 (1º andar) – café colonial – R$ 8,00 por pessoa.


30/08 – (último sábado) almoçando com música e poesia – 12:30 horas no rest. delícias naturais – shopping solar – r. XV de Novembro 584 – buffet livre – R$7,00 por pessoa (opção - por quilo)

comunicação e convite
23/08 (sábado) às 16 horas tarde musical: “a música erudita e seus poemas” – Julio E.Gomez - ao piano e Roza de Oliveira – declamação

Local – Fundação Bianca Bianchi – Rua Almirante Barroso, 141 (São Francisco)

Roza de Oliveira - presidente
Fonte:
E-mail enviado por A. A. de Assis

domingo, 3 de agosto de 2008

Rosangela Aliberti (Pise na Grama)

Qual a cor do teu céu? Como se explica o valor de uma noite de estrelas para quem não quer enxergar o céu...?

Esta é a história de dois velhos amigos, que se conhecem há mais ou menos quarenta anos, destas amizades que são conservadas apesar de novas pessoas dividirem caminhos de estradas.

- Daria tudo para enxergar uma estrela agora, disse o amigo mais velho impossibilitado desde pequeno do recurso do sentido da visão. Gostaria de ver agora o verde de um farol...

- Farol...!?! Retrucou S.

- Sim, do semáforo?

- ...Então vamos seguir em frente juntos...o que consegue perceber deste seu verde... ele te faz lembrar o que?

- Você tocou na palavra a minha ferida...

- Só podemos tocar nas feridas quando alguém se deixa tocar... Fale mais sobre esta sua ferida verde, JJ.

- Minha angústia, é como uma placa no meio do tráfego que diz o seguinte: RETORNO...

- Enquanto seus pensamentos retornam... penso nas placas verdes de retorno na cidade... e na placa SAÍDA...

- Sinto o cheiro tinta verde da tal placa RETORNO e o cheiro de tinta velha nesta parede que acabei de tocar... não encontro uma saída... - Choramingou, JJ.

- Vamos entrar no parque e caminhar... logo, logo poderíamos tirar os sapatos? Sinalizou, S.

- Para quê?

- Para fazer uma estrela com as pernas, descarregar energias, sentir a natureza de pertinho... e fazer algo contrário do que aquela placa diz... ¿ Sorriu S.

- Não tem cabimento eu fazer uma estrela nestas alturas do campeonato estou enferrujado, mas descarregar as energias... escute por aqui não é proibido pisar na grama...?

- Vamos lá se não conseguir fazer a estrela sinta seu corpo como uma estrela CHEIA DE LUZ, pois você ainda não sabe a tonalidade da grama, como eu não percebo muitas coisas ao meu redor, mas estou a fim de pisar nela... e você?

- Quero colocar os pés na grama: AGORA! (meias tiradas) Uauu sinta só os pelinhos da grama, não está seca, S., somos estrelas!!! Não estou sentindo mais o cheiro daquela da tinta na parede... que importa a cor daquela tinta na parede quando se pode sentir algo a mais que as pessoas não dão valor?

- Bingo! Seus pensamentos giram mais do que a roda de colocar os números de um jogo de tômbola... A roleta gira gira gira deságua um número e quando todas as pedras tiverem sido 'cantadas' irão retornar para o seu devido lugar... e um novo jogo será reiniciado... verdinho em folha...

- S. escreva em seu diário um poema verde, para mim... disse JJ.

- Acho que estamos construindo um poema verde em folha juntos... não quero escrever um poema concreto com a frieza dos edifícios com seus elevadores que sobem e descem automaticamente sem nenhum bom dia
do ascensorista por perto...

Bom dia JJ!!! Bom dia JJ!!! É difícil escrever um poema quando sentimos falta do limo nas pedras nos riachos sob os reflexos da lua nos dias quentes de verão... mas temos a grama para se pisar com os pés descalços; não é fácil escrever um poema sem o latido dos cães no velho morro perto de casa que se transformou num arsenal de prédios verticalizados formando um novo condomínio, mas temos agora a cantoria dos sapos na beira do rio no parque... Proponho agora que você me diga qual o seu poema verde...

- Meu poema verde tem o sorriso da alma das flores, S., é o verde do estojo com todos os outros lápis coloridos... Riu, JJ.

- Quem pode sonhar com a alma da flores... seria como poder sentir a alma das pessoas... se você não tem o verde, mas tiver nas mãos as tonalidades do perfume da alma de alguém a partir daquilo que constroem na vida quem precisa do verdadeiro estojo...? O verde relaxa, pessoas verdes estão sempre com seus faróis internos ligados para o verde!

- ...A lembrança do mar, o brilho da palavra esmeralda, o odor adocicado e enjoativo das damas da noites, meu poema verde tem explosões da revoada de borboletas raras, pios dos sábias laranjeiras dividindo os
vôos e os rodop(ios) nas asas das fadas recém-saídas dos livros de contos, gritando em coro: Verde! Verde! Verde... das pequenas tartarugas fora do aquário! O verde das roupas de algodão penduradas no varal
saem dos varais é o verde de uma poesia clara: como o perfume de incenso, o verde esperança do ramalhete de noiva, o verde do novinho em folha... verde broto! Soltou a voz o amigo.

- Seu poema verde tem determinadas coisas que também não posso tocar nem ver... parece que te fez sentir feliz? ...Tome esta folha o que você sente agora? Perguntou, S.

- As nervuras, a textura, a suavidade, uma parte da natureza sem enxergar o brilho: a folha brilha como as esmeraldas que descobri... dentro de mim, como os reflexos da lua que você citou agora... a falta de algo sempre irá existir para você e para mim, não é S.? Acho que podemos agora seguir em frente calçar os sapatos, vou levar está folha e o dia que ela secar, vou procurar pisar na grama aonde estiver escrito não pise na grama... alguém poderá sinalizar para mim: Você me ajudou mas eu te ajudei também, nem sempre aquilo que é proibido faz mal para todo mundo.

- Ok!!! JJ como a 'consulta foi mútua' (sorriso) não vou te o que cobrar nada... o jogo está um a um. Vamos continuar andando... o que você ouve agora?

- Os pássaros... - disse JJ. E se um dia o guarda implicar conosco...

- Acho que continuaria procurando pela grama... (com ou sem placa), garanto que têm muitas pessoas por aqui que estão caminhando no parque e não estão prestando atenção na beleza do canto das aves... Concluiu, S.

- ...E no barulho do balanço das folhas soltando o aroma dos eucaliptos... sigamos em frente sem todas as luzes que gostaríamos porém com o coração e a intenção dos... faróis!
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A Autora por Ela Mesma
Nasci no sítio Bom Refúgio, em Sampa, hoje uma pequena chácara, em uma noite de lua cheia à uma da manhã de 21 de junho no ano da revolução de 64 (sou do século passado, ´pessoas...´) e com muito bom humor! Tenho raízes caboclas da parte materna e salernitana do lado paterno, sou filha de artesãos. Atualmente divorciada, não tenho filhos, sou uma paulistana com o coração paulista nesta selva de pedra... ("va benne sono" italo-brasileira) apaixonada por pessoas, plantas, animais, música e Arte em geral. Trabalhei como Química na área de Metalúrgica, atuo como Psicoterapeuta Floral de Bach e Minas; conclui Especialização em Psicologia em Hospital Geral pelo Hospital das Clínicas em São Paulo. Apesar de escrever desde pequena... a escrita criou para mim um sentido de auto-descoberta em 2001 comecei a tirar os textos das agendas, produzi cerca de mais de 1300 pequenos textos: ´ensaios´ devido o contato os Grupos do yahoo (tendo em mente que quantidade não é sinônimo de qualidade). O que escrevo pode calar mais fundo do que qualquer linha que possa deixar por aqui registrada, por fazer parte de meu autoconhecimento diário. Quem considera os poemas como parte do dia a dia, tem como um dos principais passatempo é escrever... "Viver a Poesia" (estando aberto para a troca de idéias pode ser enriquecedor).

Fontes:
Mulheres Escritoras. In http://www.silvei.blogger.com.br/
http://recantodasletras.uol.com.br/

Rosangela Aliberti (Ao Espírito da Floresta)

uma chuva fina
bateu no dorso do cerrado
a fome é fria

A saudade da terra quente forçou a descida dos silvos no arbusto. Rosto metade onça metade índio, pode assentar os olhos noutro ser... há um estalo sequioso no centro da língua; urutu-cruzeira, continuará desprendendo parte de ssseu encanto aosss desencantadosss, novas formas de ferraduras irão brilhar. Cascas como sandálias arrastam-se no banhado serpeando o tempo circular... o fundo castanho-escuro se mistura às folhas.

Espírito da Floresta... rastro de coice de espingarda é passado não se pode alimentar o luxo de abraçar okyyse*, não se pode ter receio do cheiro do lixo, não se prende qualquer serpente em frasco de vidro... nem se passa por cima de ninho com tanque de transporte URUTU sem ouvir o eco (cobras sempre haverão de chiar), nada adianta lamentar a coita que em luas passadas deram trela para a má intuição... inventando de sair do centro-oeste para caçar ao sul, se as preás por lá foram insufi_cientes, terão outros pegas prá capar!!! Não adianta fugir do veneno não adianta se esquivar do... aperto de dentes. Ruídos roem as cordas acordando os acordes no vegetar ...a fome, forma socos nos ventres na vegetação

uma chuva fina
bateu no dorso do cerrado
a fome é fria

Fontes:
http://recantodasletras.uol.com.br/
http://olhares.aeiou.pt (imagem)

Henriette Effenberger (Inútil teia - Medo)

Inútil Teia

Qual uma aranha,
lenta e silenciosa,
passo por passo,
urdi minha teia.
Embora,
com caranguejeira-alma,
me revelei a ti,
como sereia...
Tentaste resistir,
(ingênua presa !)
Mas, no entanto,
sucumbiste
ao doce
e irresistível canto !
Pouco a pouco
te enredaste
tanto... tanto ...
Até que te fosse
impossível
escapar da sina
(trágico encanto !)

Ao te perceber,
guerreiro aprisionado,
debatendo-se
entre frágeis fios prateados,
senti pena de ti.
E ainda assim parti,
sem ter me lamentado
pela inútil teia
e pelo tempo,
em vão, desperdiçado.
Nada deixei de mim,
nem uma gota de lágrima
ou de sangue.
Nada levei de ti,
nem a saudade
do instante sublime
dos amantes...


*************************
Medo

Quase sempre me bate
um medo danado de morrer.
Sumir.
Desaparecer!
Virar um sorriso congelado
de fotografia
ou um nome qualquer
gravado numa lápide fria.

Deixar de ser
e me tornar referência:
a filha,
a prima,
a madrinha,
a tia distante
(que trazia presentes)

Me transfigurar naquela
que trabalhava ali,
que escrevia poesia
que ninguém lia...

Pior !
Passar a ser
Quem ?
Filha de quem ?
Ninguém...

Ao se morrer,
pelo menos por respeito,
deve-se morrer para alguém.
Como tanta gente ainda viva
foi morrendo assim,
aos poucos,
pelo menos para mim.
Ainda que respirem,
que chorem, que se virem...
Que sofram, que ardam,
que se... (danem !)

Tenho um medo danado
de morrer de repente,
medo de infarto,
colapso cardíaco,
de acidente...

Morrer
sem me preparar,
sem arrumar a bagagem,
sem escovar os dentes !

Não quero chegar lá em cima
(ou lá embaixo, quem sabe ?)
despenteada,
sem cigarro,
sem isqueiro
e cometer a gafe
de perguntar ao porteiro:
- Tem fogo ?

Muitas vezes,
me dá um medo danado de morrer,
antes de ter aprendido
a viver...
********************************
Sobre a Autora:

Henriette Effenberger, tem 53 anos, reside em Bragança Paulista-SP, é sócia pioneira da Associação de Escritores de Bragança Paulista - ASES, entidade que presidiu por duas gestões de 1998 a 2002, sendo atualmente sua Diretora de Eventos. É também membro da Rebra-Rede de Escritoras Brasileiras. Romancista, cronista, contista e poetisa, participou e foi premiada em inúmeros concursos literários nacionais. Foi membro de várias comissões julgadoras de concursos literários, entre eles o Prêmio Escriba, promovido pela Secretaria de Cultura de Piracicaba. Colaborou como cronista no jornal Bragança - Hoje e na Revista Qualidade de Vida, ambos editados em Bragança Paulista. Atualmente dedica-se à supervisão editorial de livros editados pela ASES e por seus autores e preside a Comissão Municipal de Incentivo à Cultura, em Bragança Paulista. É co-autora do romance A Ilha dos Anjos, escrito em parceria com Maria Dulce N.K.Louro, editado em 2002, pela Editora Degaspari, de Piracicaba-SP. Está se preparando para a edição de um livro de contos e um de poesia.
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Fontes:
Portal CEN. http://www.caestamosnos.org
Fotomontagem: José Feldman

A. A. de Assis (Por um beijo)

Por um beijo eu lhe dou o que sou e o que tenho:
os bons sonhos que sonho, as plantinhas que planto,
a pureza, a alegria, as cantigas que eu canto,
e o meu verso se acaso houver nele arte e engenho.

Por um beijo eu lhe dou, se preciso, o meu pranto,
as angústias da luta em que há tanto me empenho,
as saudades que trago do chão de onde venho,
as promessas que eu faço, piedoso, ao meu santo.

Por um beijo eu lhe dou meus anseios de paz,
minha fé na ternura e no bem que ela faz,
meu apego à esperança, que insisto em manter.

Por um beijo, um só beijo, um momento de amor,
eu lhe dou meu sorriso, eu lhe dou minha dor,
o meu todo eu lhe dou, dou-lhe inteiro o meu ser!

Paulo Roberto Bornhofen (Histórias de um mundo assombrado)

Um amigo me contou que em sua aldeia, os pais, para assustarem as crianças, contavam a história de um mundo assombrado. A história orbitava em torno do eterno combate entre o bem e o mal, as forças da luz contra as das trevas, como em toda cultura. Mas naquela aldeia eles encontraram uma forma mais assustadora, ainda, de dar vida ao tema. Vamos a ela.

Cai a noite. As criaturas nefastas, ligadas ao maligno, se reúnem. A cidade calma prepara-se para mais uma noite tranqüila de descanso. Mas as pessoas não sabem o que as espera. Não passa pela cabeça, do mais simplório ao mais audaz dos chefes de família, e das demais pessoas que trabalharam e trabalham diariamente para ganhar seu sustento, o que está por vir. As famílias já estão reunidas, muitos já fizeram sua refeição noturna e estão se retirando para o repouso após um árduo dia na labuta. Labuta esta que irá proporcionar-lhes, ao final do mês, uma retribuição financeira para que o seu sustento esteja garantido por mais um mês, para os mais afortunados, ou pelo período que der, para a grande parte deles. A ampla maioria procura formas de aumentar esta retribuição financeira para terem um pouco mais de dignidade. Uns se entregam a mais horas de trabalho na mesma atividade, outros buscam uma segunda atividade, porém, tudo dentro de uma dignidade. Mas as criaturas nefastas não. Estas buscam formas menos dignas, na verdade, totalmente indignas para verem aumentada sua participação no quinhão. Obviamente, sem aumentarem o tempo que deveriam dedicar-se à sagrada arte do trabalho. O quinhão, disse esse meu amigo, era o que os aldeões eram obrigados a pagar às criaturas. E que as criaturas eram um pequeno grupo de aldeões que estavam a serviço do lado negro da força.

Tudo estava preparado, seria naquele dia e na calada da noite. As criaturas da noite começam a chegar. Para não chamarem muito a atenção, reúnem-se, quase que em segredo e tramam o pior. Algumas destas criaturas se assustam com a vilania da maldade que lhes é apresentada, temem pela forma como os da aldeia, que deveriam representar, irão receber a notícia. Outros, sem se importarem, sem darem a mínima para os aldeões, seguem em frente com seu intento e tratam de convencer os demais a aceitarem.

O tempo vai passando e quando as trevas da noite lançam suas sombras sobre o casario do belo vale, o castelo, agora transformado em covil, entra em ebulição. É um frenesi, algo semelhante ao de um cardume de piranhas quando estão a devorar sua presa. Outros, pelo movimento que fazem, lembram mais o giro da morte executado pelos jacarés quando arrancam grandes nacos de suas presas. Há, ainda, os que lembram mais o ritual de crueldade perpetrado pelo grande tubarão branco, que de posse de sua vítima brinca com ela antes de devorá-la. Para os mais criativos, ou nem tanto, o espetáculo lembrava mais aquele que minúsculos seres alados, conhecidos como moscas, estabelecem quando se banqueteiam em fedorentos exemplares de material orgânico em decomposição, conhecidos como bolo fecal.

Aqueles que tiveram a oportunidade de assistir garantem que foi um espetáculo dantesco, triste mesmo. Chegaram a compará-lo com as cenas degradantes que tomam lugar quando populações em situação famélica se atiram contra qualquer coisa que possa lhes encher o bucho e aplacar um pouco sua fome. E vão mais longe ao afirmar que tão grotesca era a cena, que levaria às lágrimas aqueles de estômago mais sensível.

Tudo pronto, tudo preparado, as artimanhas funcionaram como nunca, os sortilégios do lado negro da força mostraram todo o esplendor de sua força e o golpe fulminante foi lançado contra a dignidade de todo um povoado. Quando os primeiros raios do sol fizeram repousar as trevas da noite, o mal, através dos maus, triunfara. Os senhores vis, as criaturas nefastas, que na verdade deveriam representar os interesses dos demais, quem sabe inspirados em Lúcifer, dançavam a dança da vitória. E o povo mais uma vez constatou o desprezo que lhes dedicava a horda de perversos. De forma escancarada eles haviam aumentado a sua cota de participação no quinhão. Mas os aldeões não se deram por vencidos. Protestaram e fizeram chegar sua indignação, sua revolta ao grande líder, que chamou as criaturas nefastas e negociou a paz, desfazendo momentaneamente o mal e resgatando a dignidade dos aldeões.

Nesta história, mesmo que de forma momentânea o mal triunfou. Ainda bem que é apenas uma história para assustar criancinhas. Mas é bom ficar atento, pois nunca sabemos as formas com que as forças do mal, do perverso, podem se manifestar. Lá, na aldeia do meu amigo, esta história é transmitida de geração em geração, para que os aldeões nunca se esqueçam do perigo a que estiveram submetidos naqueles longínquos dias, mas que continua a pairar sobre eles, espreitando, aguardando o melhor momento de voltar e fincar suas garras vis na dignidade da aldeia. Até hoje eu ainda me arrepio e chego a suar frio só de imaginar que isto possa um dia voltar a se materializar, mesmo que seja lá, naquele vale remoto, em que está localizada a aldeia do meu amigo.

Blumenau, 29 de junho de 2008.

Fonte:
Enviado por Iara Melo, do Portal CEN. http://www.caestamosnos.org/

Paulo Roberto Bornhofen (Era uma vez... )

Era uma vez, nos primórdios da humanidade, quando o ser humano, ou simplesmente bicho homem para os mais íntimos, começou a se desenvolver em comunidades.

Naquele tempo, hordas de arruaceiros e desordeiros se organizaram e espalhavam o terror por todos os cantos da terra, eram os homens maus. Para se defenderem, os homens bons, também se organizaram. Mas, os chamados homens bons, se organizaram em dois tipos de comunidades: a comunidade dos que mandavam, e a comunidade dos que eram mandados. Os que mandavam ofereceram proteção aos que eram mandados, mas em troca cobraram-lhes uma contrapartida financeira. Os que eram mandados, como sempre faziam, aceitaram. Não só aceitaram pagar pela segurança como ofereceram seus filhos para comporem um sub grupo que seria encarregado da tal segurança. Estes encarregados da segurança não chegaram o formar um novo grupo, ficaram vagando no limbo entre um e outro, por isso foram tratados de sub grupo, tanto pelo grupo dos que mandavam, como pelo grupo dos que eram mandados, e sendo assim passaram a não se identificar com nenhum deles. Quando iam prestar segurança ao grupo dos mandados, não se identificavam com estes, pois estavam cumprindo ordens do grupo dos que mandavam. Quando estavam com o grupo dos que mandavam não eram identificados por aqueles, pois não mandavam, apenas executam o que lhes era mandado. Este sub grupo ficou conhecido como aqueles do limbo. E, assim foi evoluindo a humanidade.

Com o passar dos tempos, o grupo dos que mandavam passou a usar o sub grupo do limbo para sua própria segurança e abandonaram o grupo dos que eram mandados a sua própria sorte. Vendo isso, o grupo dos homens maus se aproveitou e tomou o grupo dos que eram mandados. O grupo dos homens maus gostou tanto da nova situação, da nova ordem, que viu que poderia substituir o grupo dos que mandavam e se tornar um novo grupo, o grupo dos homens maus que mandavam. Mas para angariar o apoio do grupo dos que eram mandados, resolveram que eles, os homens maus que mandavam, iriam dar proteção ao grupo dos homens que eram mandados. Como o grupo dos que eram mandados já estavam acostumados a serem mandados e tinham sido abandonados pelo grupo dos homens que mandavam, aceitaram, mesmo sem saber contra quem era essa proteção. Mas, fazer o que, se eles sempre foram mandados.

Não se dando por satisfeito, o grupo dos que mandavam, para mostrar que continuavam mandando, vez por outra, mandavam que o sub grupo do limbo fizesse incursões contra os homens maus que agora mandavam. Mas como os homens maus que agora mandavam estavam misturados com os homens que eram mandados, era comum o sub grupo do limbo atingir os homens que eram mandados, e estes passaram a se revoltar contra o grupo dos que mandavam e seu sub grupo do limbo.

O grupo dos homens maus que agora mandavam entendeu que como o sub grupo do limbo era usado sem respeito pelo grupo dos que mandavam, poderiam, através de uma compensação financeira, angariar homens do sub grupo do limbo para seu lado. E assim, o grupo dos que eram mandados se viu diante de uma situação difícil. Todos mandavam neles e todos cobravam deles e o sub grupo do limbo não mais lhes dava proteção.

Vendo a aflição dos integrantes do grupo dos que eram mandados, alguns do sub grupo limbo resolveram agir por conta própria, e ganhar “um” por fora. Formaram um outro tipo de organização que ficou conhecida por todos como aqueles que fazem o que não fazem os que deveriam fazer e ofereceram segurança ao grupo dos que eram mandados, contra o grupo dos homens maus que agora mandavam. Na esperança de terem sua tranqüilidade de volta, aceitaram. Assim o grupo dos que eram mandados agora pagava ao grupo dos que mandavam, ao grupo dos homens maus que agora mandavam e àqueles que fazem o que não fazem os que deveriam fazer. Pagavam cada vez e tinham cada vez menos.

Para não perder o poder, o grupo dos que mandavam, e que eram homens bons, mandaram outra organização para defender os que eram mandados. Essa organização era especial, tinha mais equipamentos, mais armamentos e eram treinados para defender a todos contra agressões do que se chamou de agressões externas, e ficaram conhecidos como aqueles que fazem tudo e podem tudo.

Quando soube disso, o grupo dos que eram mandados ficou muito contente, pois agora iria ter a sua tranqüilidade, aquela que fazia tanto tempo que havia perdido, pois é, ela seria trazida de volta. Pelo serviço dos que eram conhecidos como aqueles que fazem tudo e podem tudo, o grupo dos que eram mandados não precisaria pagar mais nada, era tudo tão maravilhoso. Finalmente eles poderiam dizer que todos seriam felizes para sempre.

Mas, não foi bem assim. Num determinado dia, um grupo dos que eram conhecidos como aqueles que fazem tudo e podem tudo, vendo que não podia nada e não fazia nada, pegou alguns integrantes do grupo dos que eram mandados e entregou para o grupo dos homens maus que agora mandavam. Já que eles eram homens maus, mesmo agora mandando, eles mataram estes integrantes do grupo dos que eram mandados e jogaram seus corpos no lixo, como a dizer que lá era o lugar daqueles que faziam parte do grupo dos que eram mandados.

Assim se instalou uma crise geral. Para resolvê-la, o grupo dos que mandavam, já que mandavam, mandou o chefe maior daqueles que ficaram conhecidos como aqueles que fazem tudo e podem tudo, mas que agora sabiam que não podiam nada e não faziam nada para conversar com o grupo dos que eram mandados. Assim se fez, mas não sem antes encherem o lugar em que habitava o grupo dos que eram mandados, de integrantes daqueles que ficaram conhecidos como aqueles que fazem tudo e podem tudo, mas que agora sabiam que não podiam nada e não faziam nada, de seus equipamentos e seus armamentos. Fizeram isso, não para proteger o grupo dos que eram mandados, mas para proteger o chefe daqueles que ficaram conhecidos como aqueles que fazem tudo e podem tudo, mas que agora sabiam que não podiam nada e não faziam nada. Ele iria dar uma resposta ao grupo dos que eram mandados. Quando lá chegou, o chefe foi indagado por uma daquelas que era integrante do grupo dos que eram mandados, sobre a morte de um de seus integrantes, seu ente querido. O chefe daqueles que ficaram conhecidos como aqueles que fazem tudo e podem tudo, mas que agora sabiam que não podiam nada e não faziam nada, disse: morte! Pois é, morreram, mas eu estou aqui, e vim aqui para isso: para pedir desculpas!

A narrativa acima faz parte de um grupo de pergaminhos deixado por uma civilização extinta. O lugar e as condições em que os pergaminhos foram encontrados são mantidos em segredo, bem como o seu conteúdo. Comentários dão conta de que nos pergaminhos está escrito de que forma essa civilização foi extinta, por isso tanto segredo. Nem mesmo a narrativa acima deveria ter sido publicada, mas um amigo do primo do cunhado do irmão do tio de uma pessoa que é muito ligado ao colega do namorado de um amigo meu, conseguiu uma cópia e me mandou. Havia ainda uma informação sobre o local onde tudo isso ocorreu. Estava escrito que era um lugar lindo, com uma maravilhosa baía e alguns morros esplendorosos, e que para saudar os visitantes o grupo dos que mandavam fez construir uma estátua que de braços abertos dava boas vindas aos visitantes. Falam ainda que existem esforços no sentido de identificar essa civilização perdida, sua época e o local em que viveram. Outros dizem que tudo não passa de lenda, fruto da imaginação de alguém. Quem sabe? Só o futuro dirá!

Blumenau, 19 de junho de 2008.
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Paulo Roberto Bornhofen
Escritor, poeta e cronista.
Integrante da Sociedade Escritores de Blumenau e da Academia de Letras Blumenauense.
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Fonte:
Portal CEN.
http://www.caestamosnos.org/