domingo, 21 de junho de 2009

Melhorando seu Vocabulário (2)



As palavras destacadas estão negritadas. Tente entender o significado antes de obter as respostas, clicando Aqui.
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A parte 1 você encontra em http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/06/melhorando-seu-vocabulario-1.html

Continuaremos estudando a poesia Monólogo de uma Sombra, de Augusto dos Anjos, em seu livro Eu e Outras Poesias:

MONÓLOGO DE UMA SOMBRA

Aí vem sujo, a coçar chagas plebéias,
Trazendo no deserto das idéias
O desespero endêmico do inferno,
Com a cara hirta, tatuada de fuligens
Esse mineiro doido das origens,
Que se chama o Filósofo Moderno!

Quis compreender, quebrando estéreis normas,
A vida fenomênica das Formas,
Que, iguais a fogos passageiros, luzem...
E apenas encontrou na idéia gasta,
O horror dessa mecânica nefasta,
A que todas as coisas se reduzem!

E hão de achá-lo, amanhã, bestas agrestes,
Sobre a esteira sarcófaga das pestes
A mostrar, já nos últimos momentos,
Como quem se submete a uma charqueada,
Ao clarão tropical da luz danada,
O espólio dos seus dedos peçonhentos.

Tal a finalidade dos estames!
Mas ele viverá, rotos os liames
Dessa estranguladora lei que aperta
Todos os agregados perecíveis,
Nas eterizações indefiníveis
Da energia intra-atômica liberta!

Será calor, causa ubíqua de gozo,
Raio X, magnetismo misterioso,
Quimiotaxia, ondulação aérea,
Fonte de repulsões e de prazeres,
Sonoridade potencial dos seres,
Estrangulada dentro da matéria!

E o que ele foi: clavículas, abdômen,
O coração, a boca, em síntese, o Homem,
- Engrenagem de vísceras vulgares -
Os dedos carregados de peçonha,
Tudo coube na lógica medonha
Dos apodrecimentos musculares!

A desarrumação dos intestinos
Assombra! Vede-a! Os vermes assassinos
Dentro daquela massa que o húmus come,
Numa glutoneria hedionda, brincam,
Como as cadelas que as dentuças trincam
No espasmo fisiológico da fome.

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Continua…
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Dicionário do Folclore (Letra O)



OBÁ. Orixá nagô da macumba carioca. Obá é a mulher de Agodô.

OBATALÁ. É o maior dos orixás iorubanos. Veja ORIXÁ.

OBRA-DE-SANTA-INGRÁCIA. Diz-se quando um trabalho nunca acaba, nunca chega ao fim.

O-CÃO-CHUPANDO-MANGA. Na linguagem que o povo usa, no seu dia-a-dia, a expressão o-cão-chupando-manga é usada quando a pessoa é boa, é bamba em determinado assunto (em informática, José é o-cão-chupando-manga), valente, determinado, inteligente.

OJÁ. É um fetiche (objeto animado - com movimentos, ou inanimado - sem movimentos próprios, feito pelo homem ou produzido pela natureza, ao qual se atribui poder sobrenatural e se presta culto, se venera) do candomblé, que consta de uma faixa ornada de conchas do mar e contas.

OLHADO. Veja MAU-OLHADO.

OLHAR-DE-CABRA-MORTA ou DE-PEIXE-MORTO. Diz-se das pessoas que têm o olhar inexpressivo, perdido no espaço, no mundo do sonho, fora da realidade.

OLHAR-PARA-TRÁS. O ato de olhar-para-trás é uma das tradições religiosas mantidas no populário brasileiro. Quem olha para trás, viajando só, principalmente à noite, fica assombrado e com medo. Dizem os caçadores que a onça mata a pessoa que, ao caminhar na mata, olha para trás. Os noivos, quando vão saindo da igreja, acompanhados dos padrinhos e convidados não devem olhar para trás. A Bíblia diz que a mulher de Ló, porque olhou para trás, foi transformada em uma estátua de sal. Quando se atira o primeiro dente de leite no telhado, não se deve olhar para trás. Quando uma moça passa por um rapaz e olha para trás, para ele, diz-se que está quebrando-o-catolé.

OLHO-DE-SECA-PIMENTA. Diz-se de quem tem o poder de botar mau-olhado nas pessoas, nos animais, nas coisas. As pessoas adoecem, os animais morrem, as plantas murcham.

OLHO-GRANDE. Olho que irradia malefício, ruindade, infelicidade, tudo de ruim que possa acontecer a uma pessoa. Há pessoas que têm esse poder que faz com que os casamentos se desfaçam, os negócios não dêem certo, etc. Quem tem olho-grande tem mau-olhado.

OLHOS. Que os olhos sejam as janelas da alma, ninguém tenha a menor dúvida porque é olhando bem os olhos de uma pessoa que podemos saber se ela é boa ou má, romântica ou sensual, pura ou pecaminosa, sincera ou falsa. É que os olhos sempre deixam transparecer o mundo de sentimentos, defeitos e qualidades que moram dentro de cada um de nós. Quando estamos preocupados ou angustiados, falando uma verdade ou dizendo uma mentira, quando somos dominados por uma emoção qualquer, os nossos olhos são capazes de revelar tudo quanto sentimos com uma exatidão que a ciência ainda não conseguiu explicar. Até mesmo a própria cor dos olhos pode qualificar as pessoas. Dizem que os ciumentos têm olhos azuis. As pessoas sinceras, leais, costumam ter olhos castanhos. Têm olhos verdes as pessoas capazes de enganar, assegura a sabedoria popular através de um antigo e muito conhecido fado português. Os olhos pretos são misteriosos, difíceis; guardam muito, escondem a alma de seus donos. E o que dizer, então, da força que certas pessoas têm nos olhos, força capaz de fenecer as flores, adoecer a saúde, entristecer a alegria e até mesmo de matar pessoas, animais e plantas? São pessoas que têm mau-olhado e, através de seus olhos de seca-pimenta, olhos maus, invejosos, podem até mesmo fazer o mal, espalhando tristeza, gerando preocupações de toda natureza. Os olhos também participam da linguagem popular. Tanto é assim que botar no olho da rua é mandar alguém embora, expulsar. Ir de olhos fechados, é conhecer bem o caminho sem precisar de guia. Com um olho no padre e outro na missa é prestar atenção a tudo, sem perder nenhum detalhe do que está sendo observado. Ter olhos de cabra morta diz-se das pessoas de olhar lânguido, triste, sem expressão. Ter sangue no olho é qualidade de quem é valente, esperto, de quem não tem medo de nada. Com o olho no caminho fica quem está esperando alguém com certa ansiedade. Ter os olhos maiores do que a barriga é a qualificação do guloso, cuja vontade de comer é maior do que o tamanho da fome. Ter o olho grande exprime o desejo incontrolável de certas pessoas. Estar de olho, é estar atenciosamente observando algo. Dever os olhos da cara é a situação de quem está devendo muito, devendo até os cabelos da cabeça. Num abrir e fechar de olhos, o que é feito com a maior rapidez possível. Botar areia nos olhos, é ato de quem usa de subterfúgio para esconder a verdade. Custar os olhos da cara, diz-se de tudo que está muito caro, caro demais. Ter olhos de peixe morto é qualidade de quem tem o olhar parado, perdido na distância, como se não tivesse vida. Olhos pidões são olhos de quem suplica, de quem pede sem usar palavras, sem falar. Olhos de pitomba são os olhos pulados, salientes. Ter ou Estar de olho vivo, significa perspicácia de seu dono. Pinicar o olho, é piscar o olho, dar um sinal, namorar à antiga. Quando se faz alguma coisa em pouco espaço de tempo, o que se fez foi feito enquanto o Diabo esfregou um olho. Arriscar um olho, é aventurar pra ver se algo dá certo. Abrir os olhos, além de ser uma advertência é também nascer para a vida, para o mundo. Fechar os olhos é morrer para o mundo e nascer para a Eternidade.

OMALÁ. O conjunto de alimentos votivos destinados ao orixá. Cada orixá tem seu omalá. O omalá de Ibeji é composto de caruru, acaçá, acarajé, abará e farofa de azeite-de-dendê.

O-MAR-NÃO-ESTÁ-PARA-PEIXE. Expressão usada para se dizer que nada está bom, que as coisas não andam boas, que não é o momento oportuno para as coisas serem feitas.

ONÇA. 1. Nome que o povo dá às várias espécies do mamífero carnívoro do gênero felino, entre as quais a onça pintada, a suçuarana, a preta. 2. A onça participa bastante da linguagem popular: a) No tempo da onça - tempo muito antigo; b) Espécie de jogo em tabuleiro como o de damas, representando as pedras a onça e um certo número de cachorros, ganhando a partida quem conseguir encurralar a onça na furna formada por um triângulo com a base para cima; c) Andar-na-onça, diz-se de quem está sem dinheiro, liso; d) Comer-a-onça é comer devagar, aos pouquinhos; e) Amigo-da-onça é o amigo falso, importuno, inconveniente.

ONDE-O-DIABO-PERDEU-A-BOTA. Lugar ermo, distante, desconhecido. Igual à expressão nos-cafundós-de-judas, onde-o-vento-faz-a-curva.

ONDE-O-VENTO-FAZ-A-CURVA. O mesmo que ONDE-O-DIABO-PERDEU-A-BOTA.

ONOFRE, Santo. É um santo muito popular no Brasil. O povo acredita que Santo Onofre guarda a despensa, o guarda-comida e todo e qualquer lugar que tenha alimento. É, assim, o padroeiro da fartura.

OS-PÉS-DA-BESTA. Diz-se da pessoa danada, inteligente, o-cão-chupando-manga, que faz tudo bem feito.

O-QUE-É-BOM-PRA-TOSSE. Revidar; dar um corretivo; tomar uma medida em represália a uma afronta sofrida, é mostrar o-que-é-bom-pra-tosse.

ORAÇÃO. Orar é conversar com Deus e os santos, pedindo-lhes saúde, emprego, chuva, etc. A oração-forte (amuleto ou talismã), guardada num saquinho, lida ou rezada todas as noites antes de dormir, tem o poder de proteger a pessoa que a conduz contra as doenças, os maus negócios, tudo de ruim que possa acontecer na vida de uma pessoa.

ORELHA. Era costume dos guerreiros antigos cortar as orelhas dos inimigos abatidos em combate e presenteá-las ao seu chefe, ao seu rei, como prova de coragem e de habilidade na arte de guerrear. No alto Sertão brasileiro, costumava-se cortar as orelhas dos ladrões, costume que esteve em uso até a primeira década do século XX. Ainda hoje muitos pais puxam as orelhas de seus filhos, como castigo, quando fazem coisas erradas. Puxar as orelhas de alguém era fazer com que as pessoas se lembrassem das coisas, de vez que as orelhas eram consagradas à deusa Memória, da mitologia greco-romana. E quando na pessoa a orelha direita arder é porque estão falando de bem do dono da orelha; mas, se a orelha que estiver ardendo for a esquerda, é porque estão falando de mal. Estar a pessoa de orelha em pé, diz-se da pessoa que está atenta, vigilante, desconfiada. Torcer-a-orelha-e-não-sair-sangue diz-se da pessoa arrependida do que fez.

ÓRIO. No rito jeje-nagô é o sacrifício de animais para que se possa conseguir a benevolência divina.

ORIXÁ. Simbolizando as forças naturais, os orixás são divindades da religião iorubana. Os orixás moram nas costas africanas e, atraídos pelos cântico e ritmo dos tambores em sua honra, eles se encarnam e se apossam de seus médiuns, cavalos, intérpretes, tomando o aspecto que tiveram na terra.

OVELHA-NEGRA. Dá-se o nome de ovelha-negra ao filho de uma família diferente dos demais, e que é mau-caráter, enganador, jogador, sem palavra, mentiroso e que possui todas as más qualidades que uma pessoa possa ter.

OVO. As crendices e superstições tendo o ovo como motivo estão ligadas à fecundidade. Para se botar uma galinha para chocar seus ovos é preferível fazê-lo com a Lua em quarto crescente. Para que os ovos não gorem é bom fazer uma cruz com tinta de escrever em cada um e depois colocá-los no ninho, dizendo: - "Nas horas de Deus,/ Por São Salvador,/ Nasçam todos fêmeas/ E um só galador ". Depois de nascerem os pintos é bom queimar as cascas dos ovos. É bom colocar as cascas dos ovos na extremidade das varas das cercas, para combater o mau-olhado. Quando muita gente enche um teatro, um campo de futebol, o povo diz: "Está cheio que só um ovo!" Entre os bons bebedores, corre a seguinte expressão: - "Todo mundo bebe. Menos o sino, que tem a boca para baixo e o ovo, que já está cheio".

OVOS-DE-PÁSCOA. Nas grandes cidades do Sul, a partir de 1920, começaram a aparecer, vindos de Paris, os ovos-de-páscoa. Eles foram popularizando-se como um hábito de gente rica. Os ovos-de-páscoa tiveram a seguinte origem: No século XIII, os estudantes da Universidade de Paris iam cantar laudes na porta da catedral e, depois, coletavam presentes de ovos que eram distribuídos aos amigos, vizinhos e parentes, depois de tingidos de azul e vermelho. Durante a Páscoa as crianças ficam com a incumbência de procurar ovos-de-páscoa feitos de chocolate, escondidos nos mais diferentes lugares da casa. É um costume recente.

OXALÁ. Entidade andrógina, Oxalá é o maior dos orixás e de maior tradição religiosa na Bahia. Oxalá, de caráter bissexual, simboliza as energias produtivas da natureza.

OXENTE. Interjeição designativa de admiração, de desdém, de desprezo: - "Oxente, não está vendo que o que você quer é uma coisa impossível?" Deve ser corruptela (forma popular) de ó gente!

OXÓSSI. É o orixá da caça e dos caçadores, e tem, na quinta-feira, o seu dia. O fetiche que representa Oxóssi, no peji, é um arco com uma flecha, uma frigideira de barro e uma pedra. Suas insígnias são: rabo de boi, polvarinho e o capanga de Oxóssi, reunião das coisas usadas por um caçador, como espingarda, bucha, vareta, bornal, etc. As filhas de Oxóssi têm as vestimentas de cor verde e amarelo, usam pulseiras de bronze e colares de contas verde-branco nos candomblés bantos e azul-claro nos nagôs. Os animais votivos são o galo e o carneiro. Seu alimento é o achochô, feito de milho.

OXUM. Oxum é o orixá das fontes, dos rios, deusa do rio Oxum, na África, égide das águas doces, enquanto que Iemanjá é das águas salgadas e Ananburucu, Nanburucu ou Nanâ é orixá da chuva. Oxum é filha de Iemanjá, casada com seu irmão Xangô. Seu fetiche é uma pedra marinha ou um seixo polido. Sua insígnia é um leque de latão (o abadê), tendo uma estrela branca no centro ou uma sereia. O Omalá de Oxum é a tainha, a cobra, a galinha e o feijão.
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O Dicionário completo pode ser obtido em http://sites.google.com/site/pavilhaoliterario/dicionario-de-folclore
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Fontes:
LÓSSIO, Rúbia. Dicionário de Folclore para Estudantes. Ed. Fundação Joaquim Nabuco
Imagem = http://www.terracapixaba.com.br/

Palavras e Expressões mais Usuais do Latim e de de outras linguas) Letra J-L



jam satis est
Latim: Já é bastante: Intrigaram, desonraram, caluniaram; agora, jam satis est.

Jesus autem tacebat
Latim: Jesus porém se calava. Refere-se ao episódio evangélico em que Jesus permaneceu em silêncio enquanto seus inimigos o acusavam.

jeu de mots
Francês: Jogo de palavras; trocadilho.

joco remoto
Latim: Fora de brincadeira; falando sério.

John Bull
Inglês: João Touro. Expressão caricatural por que é designado o povo inglês.

judex damnatur, ubi nocens absolvitur
Latim: O juiz é condenado quando o culpado é absolvido.

jurare in verba magistri
Latim: Jurar nas palavras do mestre. Horácio em suas epístolas refere-se aos alunos que aceitam sem discussão a opinião do professor. V magister dixit.

jure et facto
Latim: De direito e de fato.

juris et de jure
Latim Direito: De direito e por direito. Estabelecido por lei e considerado por esta como verdade.

juris tantum
Latim Direito: De direito somente. O que resulta do próprio direito e somente a ele pertence.

jus agendi
Latim Direito: Direito de agir, de proceder em juízo.

jus conditum
Latim Direito: Direito constituído; que está em vigor.

jus est ars boni et aequi
Latim: O direito e a arte do bem e do justo.

jus et norma loquendi
Latim: A lei é a norma da linguagem. Horácio refere-se ao uso, que ele considera fator preponderante na formação da língua.

jus gentium
Latim: Direito das Gentes. Direito aplicado aos estrangeiros, equivalente ao atual Direito Internacional.

jus privatum
Latim: Direito privado; o direito civil.

jus publicum
Latim: Direito público, isto é, das relações dos cidadãos com o Estado; direito político.

jus sanguinis
Latim: Direito de sangue. Princípio que só reconhece como nacionais os filhos de pais nascidos no país.

jus soli
Latim: Direito do solo. Princípio pelo qual a pessoa tem a cidadania no país onde nasceu.

justae nuptiae
Latim: Justas núpcias. Expressão usada pelos romanos para designar o casamento legal.

labor improbus omnia vincit
Latim: O trabalho persistente vence tudo. Pensamento de Virgílio (Geórgicas, 144 e 145).

lacrima Christi
Latim: Lágrima de Cristo. Nome do vinho moscatel de vinhas cultivadas nas proximidades do Vesúvio.

la critique est aisée, l'art est difficile
Francês: A crítica é fácil, a arte difícil. Máxima falsamente atribuída a Boileau.

laisser faire, laisser passer
Francês: Deixar fazer, deixar passar. Princípio que Turgot-Gournay pretenderam aplicar à economia a ser regida por leis naturais, como a lei da oferta e da procura.

la mouche du coche
Francês: A mosca do coche. Alusão à fábula de La Fontaine "O Coche e a Mosca", que se aplica às pessoas que aparentam muito esforço, enquanto outras trabalham realmente.

lapsus calami
Latim: Erro de pena. Diz-se do erro inadvertido de quem escreve.

lapsus linguae
Latim: Erro de língua. Diz-se das distrações que se cometem na linguagem falada.

lapsus loquendi
Latim: Um lapso ao falar. O mesmo que lapsus linguae.

lapsus scribendi
Latim: Um lapso no escrever. O mesmo que lapsus calami.

lasciate ogni speranza, voi ch'entrate
Italiano: Vós que entrais, deixai toda a esperança. Inscrição na porta do inferno da "Divina Comédia".

last but not least
Inglês: Último mas não o menor. Emprega-se para ressalvar numa enumeração de pessoas a que foi citada por último.

latet anguis in herba
Latim: A serpente se esconde sob a erva. Frase de Virgílio que se aplica a fim de aludir a um perigo oculto.

lato sensu
Latim: No sentido lato, geral.

laudator temporis acti
Latim: Encomiasta do tempo passado. Defeito comum aos velhos, que Horácio ridiculariza na Arte Poética.

laus Deo
Latim: Louvor a Deus. Frase que alguns autores colocam no final do livro como sinal de gratidão a Deus.

laus in ore proprio vilescit
Latim: O louvor na própria boca envilece.

L. B.
Latim: Ao leitor benévolo. Palavras ou abreviatura que se antepõe ao texto de um livro, como explicação preliminar; prefácio, proêmio ou prefação.

legem habemus
Latim Direito: Temos lei. Expressão usada contra dissertações que ferem dispositivos legais.

le mieux est l'ennemi du bien
Francês: O melhor é inimigo do bom. O desejo excessivo de perfeição pode estragar o que estava bom ou tornar incômoda uma situação tolerável.

le roi est mort, vive le roi
Francês: O rei morreu, viva o rei. Frase pronunciada na proclamação dos reis em França, citada para lembrar a ingratidão humana. Os homens se esquecem facilmente de seus ídolos, tão logo eles caem, para se apegarem aos que os sucedem.

l'Etat c'est moi
Francês: O Estado sou eu. Frase de Luís XIV, da França. Nela se baseava a monarquia absoluta.

lever de rideau
Francês: Levantar de cortina. Pequena peça de um ato, no início da função teatral.

levius fit patientia quidquid corrigere est nefas
Latim: A paciência torna mais leve o que é impossível corrigir (pensamento de Horácio).

lex est quod notamus
Latim: O que escrevemos é lei; isto é, tem força de lei. (Divisa da Câmara de Notários de Paris).

libera Chiesa in libero Stato
Italiano: A Igreja livre no Estado livre. Frase atribuída a Montalembert mas popularizada pelo Conde de Cavour que por ela evidenciou os princípios liberais que o animavam, durante a campanha da unificação da Itália.

libertas quae sera tamen
Latim: Liberdade ainda que tardia. Palavras de Virgílio, tomadas como lema pelos chefes da Inconfidência Mineira e que figuram na bandeira daquele Estado.

lignum crucis
Latim: O lenho da cruz de Cristo ou relíquia da santa cruz: No lignum crucis encontraremos a paz que tanto almejamos.

litterae Bellerophontis
Latim: Carta de Belerofonte, isto é, carta perigosa e que contém sentença de morte ou coisa semelhante para quem a conduz.

litterature engagée
Francês: Literatura comprometida. Gênero literário cujo autor assume posições definidas relativamente aos problemas políticos e sociais.

loco citato
Latim: No trecho citado. Referência, num livro, a um trecho anteriormente citado.

loco dolenti
Latim: No lugar dolorido. Indicação usada na medicina antiga.

l'oeil du Maître
Francês: O Olho do Dono. Título de uma fábula de La Fontaine que inspirou diversos provérbios, entre os quais: O olho do dono engorda o cavalo.

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As outras letras:
LETRA A http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/10/palavras-e-expresses-mais-usuais-do.html
LETRA B http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/10/palavras-e-expresses-mais-usuais-do_07.html
LETRA C http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/10/palavras-e-expresses-mais-usuais-do_21.html
LETRA D http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/11/palavras-e-expresses-mais-usuais-do.html
LETRA E http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/11/palavras-e-expresses-mais-usuais-do_28.html
LETRA F http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/01/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do.html
LETRA G-H http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/05/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do.html
LETRA I http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/06/palavras-e-expressoes-mais-usuais-do.html

Fonte:
Por Tras das Letras

sábado, 20 de junho de 2009

Trova XXV

Obras de Shakespeare no Cinema



Seus textos literários são verdadeiras obras de arte e permaneceram vivas até hoje, onde são retratadas freqüentemente pelo teatro, televisão, literatura e cinema. As principais obras do bardo inglês foram transpostas para o cinema - segundo o "Guinness Book" é o autor com maior número de adaptações para a tela (para o cinema e tv são 736 adaptações) -, principalmente "Hamlet" e "Romeu e Julieta".

Até o cinema brasileiro já se inspirou nele, justamente com a tragédia "Romeu e Julieta", que serviu de paródia na chanchada "Um Candango na Belacap", de Roberto Farias, 1961; na comédia "O Casamento de Romeu e Julieta", de Bruno Barreto, 2005, com Luana Piovani e Marco Ricca; e no drama "A Herança", 1970, de Ozualdo Candeias.

Baseados na tragédia "Romeu e Julieta":
"Amor Sublime Amor", de Robert Wise, 1961, com Richard Beymer e Natalie Wood;
"Romeu e Julieta", de George Cukor, 1936, com Norma Shearer e Leslie Howard;
"Romeu e Julieta", de Renato Castellani, 1954 com Laurence Harvey;
"Romanoff e Julieta", de Peter Ustinov, 1961, com Sandra Dee e John Gavin;
"Romeu e Julieta", de Franco Zeffirelli, 1968, com Olivia Hussey e Leonard Whiting;
"Romeo + Juliet", de Baz Luhrmann, 1996, com Leonardo di Caprio e Claire Danes.

Baseados na tragédia "Hamlet":
"Hamlet", de Laurence Olivier, 1948, com Laurence Olivier;
"Homem Mau Dorme Bem", de Akira Kurosawa, 1960;
"Hamlet", de Grigori Kozintsev, 1964, com Innokenti Smoktunovski;
"Hamlet", de Bill Colleran e John Gielgud, 1964, com Richard Burton;
"Hamlet", de Tony Richardson, 1969;
"Hamlet", de Franco Zeffirelli, 1990, com Mel Gibson e Glenn Close;
"Rosencrantz e Guilderstern Estão Mortos", de Tom Stoppard, 1990, com Gary Oldman e Richard Dreyfuss;
"Hamlet", de Kenneth Branagh, 1996, com Kenneth Branagh e Kate Winslet;
"Hamlet", de Michael Almereyda, 2000, com Ethan Hawke e Julia Stiles;
"O Banquete", de Feng Xiaogang, 2006.

Baseados na comédia "A Megera Domada":
"A Megera Domada", de 1929, com Mary Pickford e Douglas Fairbanks;
"A Megera Domada", de Franco Zeffirelli, 1967, com Elizabeth Taylor e Richard Burton;
"Dá-me um Beijo", de George Sidney, 1953, com Howard Keel e Kathryn Grayson;
"Dez Coisas Que Eu Odeio em Você", de Gil Junger, 1999, com Julia Stiles;
"A Megera Domada", de David Richards, 2005.

Baseado na comédia "A Tempestade":
"Céu Amarelo", de William A. Wellman, 195 com Gregory Peck;
"Planeta Proibido", de Fred M. Wilcox, de 1956, com Walter Pidgeon e Anne Francis;
"A Tempestade", de Derek Jarman, 1979,
"A Tempestade", de Paul Mazursky, 1982, com Gena Rowlands e John Cassavetes;
"A Última Tempestade", de Peter Greenaway, 1991, com John Gielgud.

Baseados na tragédia "Otelo, o Mouro de Veneza":
"Othello", 1952, de Orson Welles, 1952, com Orson Welles;
"Otelo", de Sergei Yutkevich, 1955, com Sergei Bondarchuk;
"Othello", de Oliver Parker, 1995, com Laurence Fishburne;
"Jogo de Intrigas", de Tim Blake Nelson, 2001, com Josh Artnett e Julia Stiles.

Baseados na comédia "Sonho de uma Noite de Verão":
"Sonho de uma Noite de Verão", de William Dieterle e Max Reinhardt, 1935, com James Cagney e Olivia de Havilland;
"Sonho de uma Noite de Verão", de Woody Allen, 1982, com Woody Allen e Mia Farrow;
"Sonho de uma Noite de Verão", de Michael Hoffman, 1999, com Kevin Kline e Michelle Pfeiffer.

Baseados na tragédia "Macbeth":
"Macbeth", de Orson Welles, 1948, com Orson Welles;
"Trono Manchado de Sangue", de Akira Kurosawa, 1957;
"Macbeth", de Roman Polanski, 1971, com Jon Finch
"Homens de Respeito", de William Reilly, 1991, com John Turturro.

Baseado na tragédia "Rei Lear":
"Rei Lear", de Petrer Brook, 1971, com Paul Scoffield;
"Rei Lear", de Grigori Kozintsev, 1971;
"Ran", de Akira Kurosawa, 1958;
"Terras Perdidas", de Jocelyn Moorhouse, 1997, com Michelle Pfeiffer, Jessica Lange e Colin Firth.

Baseados na tragédia "Júlio César":
"Júlio César", de David Bradley, 1950, com Charlton Heston;
"Júlio César", de Joseph L. Mankiewicz, 1953, com Marlon Brando;
"Júlio César", de Stuart Burge, 1970, com John Gielgud.

Baseados na comédia "O Mercador de Veneza":
"O Mercador de Veneza", de John Sichel, 1973, com Laurence Olivier;
"O Mercador de Veneza", de Michael Radford, 2004, com Jeremy Irons e Al Pacino.

Baseados na comédia "Como Gostais":
"Como Gostais", 1936, de Paul Czinner, 1936, com Laurence Olivier;
"Como Quiser", de Kenneth Branagh, 2006, com Kevin Kline.

Baseado na comédia "Muito Barulho Por Nada":
"Muito Barulho Por Nada", de Kenneth Branagh, 1993, com Emma Thompson e Keanu Reeves.

Baseado na tragédia "Antônio e Cleópatra":
"À Sombra das Pirâmides", de Charlton Heston, 1972, com Charlton Heston.

Baseado na comédia "Noite de Reis":
"Ela É o Cara", de Andy Fickman, 2006, com Amanda Bynes.

Shakespeare ainda foi personagem em "Shakespeare Apaixonado", de John Madden, 1982, interpretado por Joseph Fiennes.

Fonte:
Blog Demais

Antonio Brás Constante (Poesias)

Pintura de Iman Maleki (O Estudante)
O QUE É SER POETA...

É descrever o ritmo na batida do coração,
Utilizar asas imaginárias para poder sair do chão,
Soprar brisas no deserto,
Desenhar nuvens no ar,

Trilhar caminhos incertos,
Criar um brilho no olhar,
Pintar arco-íris com rimas,
Brincar com letras no papel,
É mesmo acordado poder voar pelo céu,

É bordar as estrelas no firmamento,
Salgando lágrimas,
Adoçando beijos,
Transformando o cinza em alegria,
Ser poeta é misturar sabores,
É temperar frases com um gostinho de poesia.
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CARTAS MOLHADAS, SEGREDOS PERDIDOS.

Quantas cartas espalhadas sobre uma cama molhada.
Do forro gotejam goteiras. Furtivas lágrimas da intensa tempestade.

Escritas borradas embaralham palavras envelopadas.
Confidencias gravadas que mancham colchas ensopadas,
desenhando marcas em tecidos de tergal.

A gota, a cama, a água imóvel no ventre do móvel.
A letra, o papel, a cumplicidade em forma de cartas,
abandonadas em um quarto de motel.

Finda a chuva, seca a cama, sobram as cartas ali deitadas.
Sumiram seus símbolos.
Perderam-se seus segredos.
Cessaram suas palavras.
Pedaços de papel inútil, vítimas de uma chuvarada.
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Antonio Brás Constante (Contos da Delegacia Brasil)



- Alô? Aqui é da Delegacia Brasil, policial Farrapos falando.

- Socorro! Ladrões estão tentando arrombar a minha casa.

- Nossa que horror. Acabei de atender outro cidadão que tinha o mesmo problema da senhora. Que mundo violento...

- Olha, preciso de uma viatura aqui e agora!

- Infelizmente não posso lhe ajudar. É que a única viatura que temos está estragada. E mesmo que funcionasse, faz tempo que o tanque dela está vazio. Mas o pior é que como não temos garagem aqui, a viatura tem que ficar na rua. A senhora acredita que outro dia roubaram as rodas dela? Hoje em dia não respeitam nem a policia...

- O senhor tem que me ajudar! Mande os policiais de táxi então. Eu pago.

- Mandaria, se houvesse outros policiais, mas com os cortes públicos na área de segurança, eu sou o único policial de plantão aqui hoje aqui. E se abandonar meu posto, quem vai atender as ocorrências?

- Mas, o que eu faço então?

- A senhora já tentou acender a luz e fazer barulho? Muitos meliantes fogem quando percebem que tem pessoas em casa. Ou tente negociar com eles, quem sabe se a senhora der alguma colaboração, eles não desistem do assalto?

- O senhor é um louco?! Vou negociar com eles sim. E dizer para irem até aí, assaltar o senhor e levarem a sua arma, Que pelo visto não serve para nada mesmo.

- A única arma que eu tinha, doei para a campanha do desarmamento, pois estava enferrujada e sem munição. Com esta atitude espero estar fazendo a minha parte para um mundo menos violento. Se lhe serve de consolo, alguns meliantes já vieram aqui e levaram tudo que tinha na delegacia. Só sobrou um banquinho que trouxe de casa, e este telefone velho, que de tão velho foi deixado para trás.

- Ao menos então anote a ocorrência, para que eu possa acionar o seguro depois.

- Como lhe disse antes, aqui não tem nada além do banquinho e do telefone. Não tenho caneta, minha senhora. E o único papel que eu tinha, tive que utilizar em uma emergência estomacal, lá no banheiro.

- Meu Deus! Eles entraram! Alô? Alô? Policial?

- [Esta é uma gravação, o telefone para o qual ligou, acaba de ser cortado por falta de pagamento. ‘CLICK’]

Fonte:
Recanto das Letras

Antonio Brás Constante (Hoje é seu Aniversário! "Prepare-se")


Livro de Crônicas, que pretende ser um genérico ao do escritor Luis Fernando Veríssimo (também é fã do Veríssimo), ou seja, autor diferente, mas com o mesmo princípio ativo: O HUMOR. Os textos são temperados com generosas pitadas humorísticas, para jovens dos oito aos oitenta anos e também de outras faixas etárias. Textos leves e similares a uma ave-maria (pois eles também são cheios de graça), que poderão ser saboreados até a última letra.

Caso queira conhecer um pouco mais sobre seu trabalho como escritor basta acessar o site: http://recantodasletras.uol.com.br/autores/abrasc

Os exemplares do livro poderão ser adquiridos no site da editora AGE: http://www.editoraage.com.br/ .
Ele estará presente na 25a. Feira de Livros de Canoas.
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Sobre o autor:
Antonio Brás Constante é natural de Porto Alegre. Residente em Canoas RS. Bacharel em computação, bancário e cronista de coração, escreve com naturalidade, descontraída e espontaneamente, sobre suas idéias, seus pontos- de- vista, sobre o panorama que se descortina diferente a cada instante, a nossa frente: a vida. Membro da ACE (Associação Canoense de Escritores).

Fonte:
O autor.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Trova XXIV

5a. Semana do Escritor de Sorocaba

25a. Feira de Livros de Canoas

A programação voce encontra em http://sites.google.com/site/pavilhaoliterario/25a-feira-do-livro-de-canoas
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Fonte:
Neida Rocha

Edgard Steffen (Pelos caminhos da Índia)



Entendemos mal os costumes deles, mas os intercambistas indianos também terão dificuldade para entender porque, no Brasil, 'a novela das oito' começa às nove...

Em abril/maio, num IGE (Intercâmbio de Grupo de Estudos) patrocinado pela Fundação Rotária, os Rotary Clubes do Distrito 4.620 hospedaram indianos. Durante 30 dias, profissionais liberais e homens de negócio, liderados por um rotariano, percorreram municípios da região, ao mesmo tempo em que grupo de brasileiros viajou pelo distrito emparceirado na Índia. Os intercambistas visitaram famílias, clubes, cidades, empresas, autoridades enquanto se familiarizavam com meio ambiente e costumes diversos dos seus. Nas reuniões rotárias, apresentam clipes ou vídeos com informações geopolíticas e culturais do país de origem. Como o que acontece na TV estimula a curiosidade, durante a estadia, o grupo deverá ser crivado de perguntas sobre a Índia. Tive oportunidade de conversar rapidamente com o arquiteto Paul K. Jacob, na primeira visita de sua programação. Como não poderia deixar de fazer, perguntei-lhe se havia visto 'O Caminho das Índias' e o que achara. O líder do grupo parece não ter gostado do que assistiu. Antes de voltar-se à instalação e ajustes do vídeo-show, falou: -Non sense. It's only soap opera!

O linguajar novelesco anda criando neologismos que deverão desaparecer logo após o último capítulo. Palavras como 'are baba' (poxa! Oh, Deus!), 'arebaguandi' (ah, meu Deus!), 'firanghi' (estrangeiro), 'tik' (sim), 'baldi' (pai), 'mamadi' (mãe) pululam nas conversas dos que se amarram na novela das oito. Entendemos mal os costumes deles, mas os intercambistas indianos também terão dificuldade para entender porque, no Brasil, 'a novela das oito' começa às nove...

Gosto de minisséries, mas não costumo acompanhar novelões. Coincidências - filme indiano vencedor do Oscar, recente leitura da biografia de Gandhi, artigos que publiquei neste espaço e, agora, o IGE dos indianos - acabaram por me prender à telinha, especificamente para acompanhar exotismo dos cenários e comportamento excêntrico dos personagens hindus. Não vou negar, estou me divertindo! Pena que, para tanto, precise acompanhar aquelas improváveis estórias que ocorrem no Rio.

No cenário carioca, doentes e doenças me despertam a atenção: psiquiatra com TOC (transtorno obsessivo compulsivo), personalidade psicopática (Letícia Saba... pra lá de bela!), dois esquizofrênicos (um deles, corretíssimo na interpretação dos surtos).

Como pediatra, não devo ignorar a estenose hipertrófica do piloro do filho da Duda. A referida estenose, mais encontrada no sexo masculino, é malformação comum e se manifesta por vômitos persistentes desde os primeiros dias de vida. A partir da segunda semana, o estreitamento do piloro (ponto de comunicação entre estômago e duodeno) impede a passagem do leite ingerido. O nenê vomitador acaba gravemente desidratado e desnutrido. O reconhecimento da doença, realizado pelo personagem-cirurgião, apenas pela ausculta do bebê, é licença poética de novela. O diagnóstico clínico seria possível na criança emagrecida, se a palpação mostrasse o 'sinal da oliva' (espessamento do duodeno com tamanho e consistência de pequena azeitona). Para confirmar a suspeita ele precisaria usar radiografia contrastada do estômago-duodeno; o estreitamento do piloro apareceria como imagem que lembra o 'seio materno com bico'. Pelo tempo virtual da trama, acredito que o personagem-nenê tenha 3 meses de idade. Na vida real, dificilmente uma criança resistiria tanto tempo a essa obstrução alta do sistema digestório; desidratação, desnutrição e suas conseqüências teriam levado o portador a incrementar as estatísticas de mortalidade infantil.

Cirurgia para corrigir o defeito é muito simples: pequeno corte no anel musculoso que envolve o piloro traz resultados excelentes e rápida recuperação do pacientezinho. Agora, diante das baixas remunerações e riscos de processos na Justiça, impossível mesmo é encontrar profissional que se arrisque a operar um bebê contra a vontade da mãe.

Diante das dificuldades que a classe médica vem enfrentando, no Brasil, só mesmo exclamando Are baba! Are baguandi!...

Fontes:
Publicado na edição de 30/05/2009 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 2 do caderno A.
Douglas Lara

5ª Semana do Escritor de Sorocaba e Região com Inscrições Abertas

A 5ª Semana do Escritor de Sorocaba e Região será realizada de 21 a 25 de julho na Fundação de Desenvolvimento Cultural de Sorocaba – Fundec e contará com várias atrações literárias.

Muito já se falou sobre a importância da Semana do Escritor, criada e organizada por Douglas Lara, já em sua quinta edição, por ser um evento que congrega escritores, jornalistas, artistas, editores, e público em geral, em torno de várias ações culturais como saraus de poesia, lançamentos de livros, performances, apresentações musicais etc.

A Semana do Escritor é uma grande oportunidade de encontro entre profissionais afins porque além de ser uma grande festa literária, propicia um clima para conversas inteligentes, criação de projetos, possibilidades de trabalho e parcerias, troca de informações sobre o mercado editorial, enfim, estabelece-se uma verdadeira rede de relacionamentos profissionais pautada em qualidade, experiência, seriedade e abertura para novos contatos. Um verdadeiro “networking”.

"Neste ano, continuamos com o objetivo de reunir um grande número de escritores e visitantes, todos circulando pelo evento, conversando com os autores e adquirindo exemplares a custos baixos em exposição.

A ‘Semana do Escritor’ continua sendo uma excelente oportunidade para autores realizarem seus novos lançamentos e divulgarem suas obras, constituindo-se também numa ótima oportunidade para dar visibilidade aos escritores de Sorocaba e Região", comenta Sonia Orsiolli, administradora do evento.

Como nos anos anteriores, a semana literária reunirá dezenas de autores independentes e seus editores, com sessões de autógrafos, lançamentos e palestras.

O Roda Mundo, coletânea de prosa e poesia, também organizada por Douglas Lara, publicada pela Ottoni Editora, é um grande veículo para realizar o desejo de publicar trabalhos e participar da Semana do Escritor. Esta obra contempla escritores nacionais e internacionais e conta com todo apoio da mídia e favorece mais visibilidade junto aos pares e leitores.

A cada nova edição do Roda Mundo amplia-se o universo de novos escritores e a sedimentação dos que já participaram. Com bom acabamento gráfico, capa criativa, apresentação feita por um grande nome do meio acadêmico, essa obra ocupa um lugar de destaque na produção editorial contemporânea.

Muitos rodam o ‘Mundo’ em busca de oportunidades, em busca de realizações, em busca de um amor e ainda tem aqueles que rodam para conhecer o ‘Mundo’.

Na verdade, as pessoas viajam para conhecer lugares diferentes, andando, voando, navegando de lá para cá, é possível ter a noção de como é grande esse ‘Mundo’.

Algumas preferem se aventurar de outras formas, observando e analisando, lendo e escrevendo, teclando e viajando ciberneticamente, estudando e ensinando, etc. Todos têm a necessidade de viajar e adquirir conhecimento independentemente da fórmula inicial. O livro Roda Mundo em sua 6ª Edição, como em anos anteriores, continua reunindo pessoas de todos os cantos. A Antologia é rica pela sua diversidade de conteúdo, há diferentes culturas, gêneros, ideias, visões de mundo entre outras riquezas que se podem ter ao reunir pessoas de várias localidades. Através desta obra é possível ‘Rodar o Mundo’ sem ao menos sair do lugar.

Na obra contém crônicas, contos, poemas, ensaios e textos em diversas línguas, todas com o mesmo ideal: expressar o seu conhecimento e sentimento.

O livro é publicado em sistema de cooperativa, com escritores experientes ou não, participam da obra pessoas de diferentes áreas e também as que querem publicar os seus primeiros textos em um livro.

Idealizado pelo escritor Douglas Lara e editado por Mylton Ottoni, o Roda Mundo teve a sua primeira publicação em 2004, reuniu 43 autores de 12 países. Nesse caminho de sucesso, o Roda Mundo 2006 atingiu o recorde com 50 participações.

No ano passado o lançamento do Roda Mundo 2008 foi uma grande festa e pelo reconhecimento e valor da idealização, Lara recebeu o colar de membro da ONE - Ordem Nacional dos Escritores.

Neste ano, o Roda Mundo continua trilhando o seu caminho e será lançamento durante a 5ª Semana do Escritor de Sorocaba e Região

A antologia Rodamundinho 2008, lançada durante a 4ª Semana do Escritor de Sorocaba, é uma coletânea infanto-juvenil que reúne 25 autores de até 15 anos de idade. É uma seleção de textos com poesias, contos e crônicas, sobre amor, natureza, escola, família, viagens, entre outros.

O projeto recebeu inscrições no início do mês de maio de 2008, foram selecionados 25 autores de Sorocaba e Região para participarem gratuitamente dessa antologia. Cada jovem participou com quatro páginas do livro que contém 114 páginas. Todo o projeto tem o objetivo de estimular a leitura e a escrita aos jovens. No dia do lançamento os participantes receberam, gratuitamente, quatro exemplares do Rodamundinho 2008 e um do Roda Mundo 2008.

O projeto foi idealizado pelo escritor sorocabano, Douglas Lara e pelo ex-presidente da Fundec Alexandre Latuf, com o patrocínio do editor Mylton Ottoni. A organização da jornalista Cintian Moraes, apoio do suplemento infanto-juvenil Cruzeirinho do Jornal Cruzeiro do Sul, do Gabinete de Leitura Sorocabano e da Fundec.

Autores interessados em divulgar suas obras na Semana do Escritor devem entrar em contato pelo telefone (15) 3228.6209 ou pelo e-mail hagentecomunicacao@gmail.com .

A Semana do Escritor de Sorocaba e Região será realizada de terça-feira a sábado, das 14h às 22h com entrada gratuita.

Fundec tem sua sede no antigo Teatro São Rafael, construído em 1844, em pleno coração da cidade, já serviu de abrigo à Prefeitura Municipal de 1935 a 1980 e à Câmara Municipal de 1982 a 1999. Restaurado e modernizado, o prédio conta com auditório e espaço para as mais variadas mostras artísticas.

A Fundec fica na Rua Brigadeiro Tobias, 73.
A R. Brigadeiro Tobias liga a R. Cel. José Prestes com a R. Monsenhor João Soares.Faz cruzamento com as ruas Santa Cruz, Cel. Cavalheiros e XV de Novembro.Tem como travessas as ruas Cel. José de Barros, Dr. Afonso Pena, Ubaldino do Amaral e Dom Pedro II.

Fontes:
Douglas Lara
Sonia Orsiolli = Hágente de Comunicação

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Trova XXIII

Victor Giudice (O Arquivo)



Já no seu livro de estréia, O Necrológio (1971), o carioca Victor Giudice nos revelava esta pequena obra-prima que é O Arquivo, na qual o imaginário do autor consegue fundir tão bem o fantástico com o humor, como um bom discípulo de Kafka, Dino Buzzati ou Cortázar. Giudice escreveu outros livros de contos, além do romance Bolero. Foi crítico de música clássica do Jornal do Brasil. Morreu antes de consolidar sua obra.
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No fim de um ano de trabalho, João obteve uma redução de quinze por cento em seus vencimentos.

João era moço. Aquele era seu primeiro emprego. Não se mostrou orgulhoso, embora tenha sido um dos poucos contemplados. Afinal, esforçara-se. Não tivera uma só falta ou atraso. Limitou-se a sorrir, a agradecer ao chefe.

No dia seguinte, mudou-se para um quarto mais distante do centro da cidade. Com o salário reduzido, podia pagar um aluguel menor.

Passou a tomar duas conduções para chegar ao trabalho. No entanto, estava satisfeito. Acordava mais cedo, e isto parecia aumentar-lhe a disposição.

Dois anos mais tarde, veio outra recompensa.

O chefe chamou-o e lhe comunicou o segundo corte salarial.

Desta vez, a empresa atravessava um período excelente. A redução foi um pouco maior: dezessete por cento.

Novos sorrisos, novos agradecimentos, nova mudança.

Agora, João acordava às cinco da manhã. Esperava três conduções. Em compensação, comia menos. Ficou mais esbelto. Sua pele tornou-se menos rosada. O contentamento aumentou.

Prosseguiu a luta.

Porém, nos quatro anos seguintes, nada de extraordinário aconteceu.

João preocupava-se. Perdia o sono, envenenado em intrigas de colegas invejosos. Odiava-os. Torturava-se com a incompreensão do chefe. Mas não desistia. Passou a trabalhar mais duas horas diárias.

Uma tarde, quase ao fim do expediente, foi chamado ao escritório principal. Respirou descompassado.

- Seu João. Nossa firma tem uma grande dívida com o senhor.

João baixou a cabeça em sinal de modéstia.

- Sabemos de todos os seus esforços. É nosso desejo dar-lhe uma prova substancial de nosso reconhecimento.

O coração parava.

- Além de uma redução de dezesseis por cento em seu ordenado, resolvemos, na reunião de ontem, rebaixá-lo de posto.

A revelação deslumbrou-o. Todos sorriam.

- De hoje em diante, o senhor passará a auxiliar de contabilidade, com menos cinco dias de férias. Contente?

Radiante, João gaguejou alguma coisa ininteligível, cumprimentou a diretoria, voltou ao trabalho.

Nesta noite, João não pensou em nada. Dormiu pacífico, no silêncio do subúrbio.

Mais uma vez, mudou-se. Finalmente, deixara de jantar. O almoço reduzira-se a um sanduíche. Emagrecia, sentia-se mais leve, mais ágil. Não havia necessidade de muita roupa. Eliminara certas despesas inúteis, lavadeira, pensão.

Chegava em casa às onze da noite, levantava-se às três da madrugada. Esfarelava-se num trem e dois ônibus para garantir meia hora de antecedência.

A vida foi passando, com novos prêmios.

Aos sessenta anos, o ordenado equivalia a dois por cento do inicial. O organismo acomodara-se à fome. Uma vez ou outra, saboreava alguma raiz das estradas. Dormia apenas quinze minutos. Não tinha mais problemas de moradia ou vestimenta. Vivia nos campos, entre árvores refrescantes, cobria-se com os farrapos de um lençol adquirido há muito tempo.

O corpo era um monte de rugas sorridentes.

Todos os dias, um caminhão anônimo transportava-o ao trabalho.

Quando completou quarenta anos de serviço, foi convocado pela chefia:

- Seu João. O senhor acaba de ter seu salário eliminado. Não haverá mais férias. E sua função, a partir de amanhã, será a de limpador de nossos sanitários.

O crânio seco comprimiu-se. Do olho amarelado, escorreu um líquido tênue. A boca tremeu, mas nada disse. Sentia-se cansado. Enfim, atingira todos os objetivos. Tentou sorrir:

- Agradeço tudo que fizeram em meu benefício. Mas desejo requerer minha aposentadoria.

O chefe não compreendeu:

- Mas seu João, logo agora que o senhor está desassalariado? Por quê? Dentro de alguns meses terá de pagar a taxa inicial para permanecer em nosso quadro. Desprezar tudo isto? Quarenta anos de convívio? O senhor ainda está forte. Que acha?

A emoção impediu qualquer resposta.

João afastou-se. O lábio murcho se estendeu. A pele enrijeceu, ficou lisa. A estatura regrediu. A cabeça se fundiu ao corpo. As formas desumanizaram-se, planas, compactas. Nos lados, havia duas arestas. Tornou-se cinzento.

João transformou-se num arquivo de metal.

Fonte:
COSTA, Flávio Moreira da (organizador). Os 100 Melhores Contos de Humor da Literatura Universal. 5.ed. RJ: Ediouro, 2001.

Victor Giudice (1934 – 1997)



Victor Marino del Giudice nasceu em Niterói, no dia 14 de fevereiro de 1934. Seus pais eram artesãos: Marino Francisco del Giudice, de origem italiana, fabricava chapéus enquanto ainda se usavam chapéus; Dona Mariannalia del Giudice, católica, era exímia bordadeira, com suas mãos "barrocas" de "fada branquíssima", como o filho a descreveria (ou fantasiaria) no conto Minha mãe. A maneira como se referia aos pais pela ausência, presente também no conto A única vez, este sobre o pai, só faz enfatizar a importância da tia Elza, professora de piano com quem o pequeno Victor convivia mais intensamente e a quem chamava de "mãe".

Quando Victor tinha cinco anos, a família mudou-se para o bairro de São Cristóvão, no Rio, que se tornaria seu "país" ficcional e referência de origem para sempre. "Quando se nasce e se cresce em São Cristóvão, logo se aprende que em São Cristóvão todas as coisas são de São Cristóvão", diria o personagem semi-autobiográfico do seu conto A glória no São Cristóvão. Victor foi um menino popular, que magnetizava os colegas de rua com suas histórias. Começou, portanto, a se desenvolver na infância uma das facetas mais sedutoras de sua personalidade carismática. Com as astúcias de um legítimo entertainer, que mistura lembrança e invenção de maneira indistinguível, ele enredou pela vida afora todos os que cruzaram seu caminho.

Aos cinco anos de idade, ele já aprendia a amar a grande música. O pai o levava ao Teatro Municipal do Rio para ver em ação o célebre maestro Arturo Toscanini. Com a tia Elza iniciou os estudos de piano e canto, que mais tarde aprofundaria com professores renomados. Aos nove anos, frequentava recitais de piano e óperas. Aos 11, leu alguns volumes da censurada Coleção Verde, de romances eróticos, e uma descoberta revolucionou o seu futuro: escrever era um prazer. Foi quando Victor produziu o primeiro dos seus contos, Os três suspiros de Helena.

O gosto pelas letras nunca mais o abandonou. Seguiram-se leituras de Rider Haggard, Conan Doyle, Poe, Camões, Sartre, Machado de Assis. Balzac - cuja obra foi devorada nas incursões de adolescente às estantes da biblioteca do vizinho e futuro sogro, Dr. Azevedo Lima, patriarca de uma família numerosa - tornou-se uma paixão eterna. Aliás, começou ali o namoro com Leda, a filha caçula e hoje professora de literatura, com quem se casaria e teria os filhos Maurício, matemático, e Renata, jornalista. Victor formou-se em Letras pela UERJ em 1975, depois de cursar parcialmente Ciências Estatísticas nos anos 1950 e Direito nos anos 1960. Sua segunda mulher, Eneida Santos, foi uma colaboradora devotada e a primeira leitora de todos os seus rascunhos a partir de 1984.

O Édipo Rei, de Sófocles, lido aos 12 anos, revelou-lhe o fascínio das histórias de mistério. Com os seriados do Cinema Fluminense, compreendeu o valor do suspense e da imprevisibilidade, atributos que iriam impregnar toda a sua obra literária. Os perigos de Nyoka, O Fantasma, Flash Gordon, Capitão Marvel, Império submarino - as chamadas "fitas em série" - figuram entre os primeiros objetos de cinefilia de Victor. Filmes dos franceses Henri-Georges Clouzot e André Cayatte também alinham-se entre suas influências inaugurais.

Por volta dos 13 anos, as visitas freqüentes aos estúdios da Cinédia lhe renderam uma ponta no filme Pinguinho de gente, de Gilda de Abreu. Bem mais tarde, tornou-se aluno da famosa atriz Dulcina, com quem aprendeu os mistérios da interpretação. No entanto, Victor sempre foi um ator nato, além de imitador impagável. Suas performances-relâmpago ou a compenetrada declamação dos poemas do português Antonio Nobre eram um deleite para quem tinha a sorte de estar por perto.

A cinefilia infantil se perpetuaria na vida adulta, com um afeto especial pelo cinema clássico europeu: Visconti, Fellini, os primeiros filmes de Monicelli, os de Totò, Carné, Clouzot, as comédias inglesas dos anos 40 e 50 e a nobreza de Laurence Olivier à frente de adaptações shakespearianas como Ricardo III. Já o cinema americano era capaz de lhe despertar sentimentos conflitantes. Ao mesmo tempo em que admirava a eficiência e verossimilhança de suas narrativas, abominava seus chavões e a superficialidade na abordagem dos temas. Os filmes de Orson Welles e grandes musicais como O mágico de Oz, Cantando na chuva e Um americano em Paris estavam acima de qualquer restrição. Quanto ao cinema nacional, irritava-se com freqüência diante dos sinais de amadorismo que o infestavam até o final da década de 70.

Apesar de não ter concretizado nenhum projeto nessa área - o final dos 60 e começo dos 70 registram uma obscura experiência de curta-metragem e alguns audiovisuais didáticos - , Victor gostava de rascunhar eletrizantes prólogos de filmes imaginários, capazes de deixar eventuais leitores com água na boca.

O desenho e a fotografia também o atraíram desde muito cedo. A começar pelos ladrilhos da casa, que ele, subversivamente, estimulava os companheiros de infância a decorar com seus próprios traços. Comprava filmes baratos em bobinas e punha-se a fotografar a Quinta da Boa Vista, o Campo de São Cristóvão e principalmente os amigos, naquilo que foi o início de um duradouro culto aos portraits. O amor pela fotografia seria uma constante na vida de Victor. Ele teve fotos publicadas na revista O Cruzeiro (1969) e no semanário Crítica (1974). Durante vários anos, um dos cômodos de sua casa funcionou como laboratório de revelação fotográfica.

Aos 16 anos, Victor perdeu o pai. A família morava então em Macaé (RJ), mas logo voltaria a São Cristóvão. Empregou-se aos 21 anos como artefinalista numa pequena agência de publicidade. Pintou anúncios em cortinas de teatro e, já nos anos 60, formado em Estatística, trabalhou como desenhista de gráficos para órgãos públicos. Mais tarde, ao consagrar-se como escritor, não se furtou ao prazer de criar as capas de seus livros Necrológio, Salvador janta no Lamas e O museu Darbot e outros mistérios, além de uma revista de comércio exterior editada pelo Banco do Brasil. Durante toda a vida, Victor cultivaria na intimidade os retratos e caricaturas de pessoas conhecidas, feitos em bico de pena, o esboço gráfico de personagens, e teve mesmo uma fase de pinturas em aquarela.

Funcionário do Banco do Brasil por mais de 20 anos, Victor se comprazia em transformar os jargões e absurdos reais da burocracia em ficção de sabor kafkiano. O Arquivo, seu terceiro conto, tornou-se um clássico no Brasil e foi publicado em oito países, mostrando um homem que "progride" na empresa à medida que seu salário vai sendo reduzido e ele próprio vai se convertendo num objeto. No ambiente austero do Banco do Brasil, Victor fazia o terror da hierarquia e as delícias dos colegas, com sua irresistível tendência a satirizar o cotidiano, jogar pelos ares as formalidades e se lixar para os imperativos de um mito da época: uma boa carreira no BB. Os formulários burocráticos lhe serviam para fazer intervenções poéticas e a rotina do trabalho lhe inspirava situações de comédia.

O homem e o escritor se confundiam na relação visceral mantida com a cidade do Rio de Janeiro. O tradicional restaurante Lamas, onde se passa a ação do conto Salvador janta no Lamas, era apenas um dos muitos templos gastronômicos cariocas que Victor freqüentava com regularidade e fervor quase religiosos. Ele podia se deliciar tanto com queijos finos e doces sofisticados, quanto com os salgadinhos mal encarados de uma lanchonete de esquina. Domesticamente, sua faceta de chef materializava-se em papas portuguesas, estrogonofes, haddocks ao leite, uma receita própria de "Peixe à Salvador", bolos de chocolate, quindões e manjares marmorizados.

Em Victor Giudice conviviam um intelectual de gosto refinado e um homem simples e popular. Ele mantinha longas relações amistosas não só com artistas e escritores, mas também com guardadores de carro, lanterneiros, porteiros de prédios etc. Na sua teia de laços e afetos, crianças e adultos tampouco recebiam tratamento diferenciado.

Este homem em permanente trânsito social manifestava-se também na relação com a geografia da cidade. Seu coração estava, sem dúvida, na Zona Norte, mas os túneis eram caminho diário rumo a livrarias, lojas de discos e vídeos, restaurantes, casas de amigos etc. Comutar entre as diversas zonas geográficas, culturais e econômicas da cidade era parte do estilo de vida de Victor Giudice, um homem cujo espírito desconhecia fronteiras de qualquer natureza.

A faceta místico-esotérica foi outro traço marcante da personalidade de Victor. Ele aprendeu leitura de mãos na juventude e dizia-se um apaixonado pelo ocultismo. Nos anos 80, estudaria profundamente o tarô e colecionaria dezenas de baralhos, de várias modalidades e procedências. Chegou a "botar" cartas informalmente, e criou o protótipo de uma certa Mandala Divinatória, jogo de números e peças geométricas que conformaria toda a vida do consulente. Existem fortes razões para se suspeitar de que o esoterismo um tanto jocoso era, no fundo, mais uma ferramenta de elaboração ficcional de que Victor lançava mão nas incansáveis peripécias de sua imaginação.

Depois de aposentar-se em 1986, Victor retomaria a carreira de professor de teoria e criação literária, interrompida na década anterior. Os anos 90 estiveram entre os mais produtivos de sua carreira: além de dar aulas, lançou dois livros, escreveu grande parte de outros dois - o romance Do catálogo de flores e um volume de teoria da significação intitulado O que significa isto? -, inspirou admiração e respeito como crítico de música erudita do Jornal do Brasil, ministrou cursos livres sobre ópera e música sinfônica, oficinas literárias e conferências em diversas partes do país, e ainda prestava consultoria à programação de óperas em vídeo do Centro Cultural Banco do Brasil.

Em agosto de 1996, já acometido pelos primeiros sintomas do que seria mais tarde diagnosticado como um tipo raro de tumor cerebral, ele realizou o sonho de comparecer ao Festival de Bayreuth, na Alemanha, para cultuar in loco o ídolo Richard Wagner. Victor, cuja vida fora um incessante diálogo com a cultura internacional, tinha medo de avião. Por isso fez poucas viagens ao exterior: esteve em Buenos Aires, Bogotá, fez três passagens rápidas por Nova York e empreendeu esta derradeira fuga a Bayreuth, com breve escala em Paris, primeiro e último vislumbre de uma Europa mitificada.

Um mês depois, Victor iniciaria seu longo e lento duelo com a morte. Ela sairia vencedora na madrugada de 22 de novembro de 1997. Mas não na clínica da Zona Sul, onde ele havia passado os últimos meses, e sim na Tijuca, bairro onde moravam seus dois filhos, ali bem perto de São Cristóvão. Ou seja, dentro do perímetro mágico da sua lavoura criativa.

Carreira Literária

A personalidade de Victor Giudice pode ser rastreada através dos vestígios autobiográficos deixados em sua obra literária. Ele foi a própria materialização, declarada ou subentendida, de personagens como o ser mutante do conto O homem geográfico, a filha mesmerizada pelos mistérios familiares de Minha mãe, o solitário apaixonado por Haydn em A criação: efemérides, o avô que declamava trancado na sala de banho em Os banheiros ou o narrador do inacabado Do catálogo de flores.

Sua primeira oportunidade de publicação surgiu em 1969, quando o escritor José Louzeiro, que à época editava o Jornal do escritor, publicou O banquete, também o primeiro de seus minicontos, formato que ele iria sofisticar progressivamente nos anos vindouros. Por pouco Louzeiro não teria salvo outras centenas de páginas datilografadas, que Giudice havia deitado fora alguns dias antes, por julgá-las imprestáveis.

O segundo conto publicado, In perpetuum, é protagonizado por um funcionário de banco que passa 30 anos procurando uma diferença de 10 centavos. Nascia ali uma das principais vertentes da criação literária de Giudice, alimentada por suas experiências como funcionário do Banco do Brasil por mais de 20 anos (ver A Vida). Esta é a matéria-prima também de O Arquivo, um dos contos brasileiros mais conhecidos internacionalmente, editado em oito países.

O Arquivo abre o primeiro volume de contos de Victor Giudice, Necrológio (1972), começando já na capa do livro. Victor não queria perder tempo nesse fulminante início de carreira como escritor. O livro ganhou uma recepção entusiástica por parte da crítica. Experimental e ousado, submetia o texto a uma feroz segmentação, usava o espaço da página com invenções concretistas e propunha um texto polifônico, onde se podia "ouvir" uma instigante simultaneidade de "vozes". O conto Carta a Estocolmo viria a ser publicado na prestigiosa revista Antaeus (inverno 1983, Nova York), ao lado de um texto de Gabrielle D'Annunzio, e considerado um dos dez melhores relatos de ficção científica aparecidos naquele ano nos EUA.

A afirmação em três livros Apesar do sucesso da estréia, Giudice levaria sete cabalísticos anos para trazer a público o seu segundo livro, Os banheiros, de 1979. O Brasil vivia então o apogeu do contismo. Caio Fernando Abreu saudou, numa resenha da revista Veja, a consagração de Giudice "definitivamente, como um dos nomes mais expressivos da ficção brasileira contemporânea". Esse livro deixava clara a paixão de Giudice pelo conto policial, o seu fascínio pelos mecanismos do gênero. Esta matriz estaria subjacente a grande parte de sua obra. No início da carreira, ele havia publicado contos no Mistério Magazine de Ellery Queen. Foi também organizador da Coleção Enigma, de livros policiais, da Editora José Olympio.

A Narrativa do número um, incluída em Os banheiros, era, na verdade, um trailer do romance Bolero, que Giudice traria à luz em 1985. Um palhaço que consegue produzir esferas de prata somente com a força da imaginação assume ares de metáfora para a força do pensamento contra a ordem opressiva e a dominação. O Brasil começava a sair da ditadura e Giudice nos dava um romance caudaloso (veja trecho), lidando sem panfletarismo com o Brasil do pesadelo militar, das desigualdades profundas e das falsas mudanças. Para o crítico Valentim Facioli, o leitor tinha "diante de si um bizarro logogrifo literário, sério, circense, dramático, histrião; da mais intensa atualidade e permanência enquanto a história for a pré-história do Grande Circo burguês".

Em 1989, Giudice retornou ao terreno dos contos com Salvador janta no Lamas, distinguido com o prêmio anual da Associação Paulista de Críticos de Arte na categoria de ficção. Os contos desse volume apresentam um estilo extremamente visual, nos limites do argumento de cinema. O homem geográfico poderia figurar numa antologia do corte (no sentido cinematográfico do termo); Bolívar nada mais é que um pequeno filme policial em que, significativamente, o cinema é repetidamente citado. As palavras, ali, tinham a generosidade e o desespero de se darem a ver, de se deixarem sentir.Salvador consolidava, ainda, dois traços de estilo que o escritor importava de sua própria vida: as referências recorrentes ao plano concreto da cidade (antecipando, de certa maneira, Paul Auster em relação a Nova York) e, já a partir do desenho da capa - o tarô na mesa de bar -, a atração pelo esoterismo (ver Vida).

Maturidade premiada Estava pavimentado o caminho para aquela que muitos consideram a obra-prima de Victor Giudice: O museu Darbot e outros mistérios (1ª e 2ª edição). Temos aí nove contos primorosos, que revelam um escritor no pleno domínio de seu ofício. Para eles parecem convergir todos os rumos da ficção giudiciana: a fantasia familiar (A única vez, A história que meu pai não contou), as obsessões do culto à arte (A criação: efemérides, O museu Darbot), o mistério introjetado no cotidiano (Cavalos), a narrativa policial (Jurisprudência), a metáfora política (O hotel), a sátira de uma nobreza imaginária (A festa de Natal da Condessa Gamiani) e o miniconto (Relatividade em nome de Borges). O livro mereceu a maior distinção literária do país, o Prêmio Jabuti de 1995, conferido pela Câmara Brasileira do Livro.

Se Bolero havia sido gestado ao longo de sete anos e tivera vários fragmentos publicados previamente, o segundo romance de Giudice seria escrito num só jato, em não mais que 52 dias. A trama de O sétimo punhal, de 1995, era assim apresentada pela poeta Susana Vargas na orelha do livro: "Uma mulher às voltas com seis crimes (ou seriam quatro?) e um casamento de muitos anos. Um criminoso a bordo de um Monza cinza e a cinzenta história de um estranho namoro". Em O sétimo punhal,, o escritor atinge a maturidade no uso dos ingredientes da história policial, gênero relativamente raro no Brasil, do qual ele se firmou como um dos melhores cultores.

Giudice deixou inacabado o seu terceiro romance, Do catálogo de flores, que colocava um escritor brasileiro septuagenário no centro de uma trama misteriosa na Londres do ano 2018. O escritor tinha sido o único amigo de um certo Pedro Maravella, poeta brasileiro desconhecido que escrevia, no século anterior, uma série de poemas denominada Catálogo de flores. Descobre-se, então, uma estranha relação entre os sonetos de Maravella e as pesquisas científicas desenvolvidas por uma fundação britânica. "A história mostra de que modo uma fraude pode indicar o caminho da verdade", definia o autor numa sinopse.

Poesia, teatro, crítica Os sonetos de Maravella nada mais são que um eco do próprio Victor Giudice poeta. Entre um livro e outro, Giudice mantinha uma produção marginal de sonetos, a maioria desconhecidos do público leitor e mesmo de seus amigos mais íntimos. Nas décadas de 80 e 90, ele participou com amigos de uma espécie de arcádia, em que toda a correspondência se dava em sonetos de versos decassílabos. Seu pseudônimo não escondia eficientemente o autor: Judicis Marinus. A uma série de fundo social ele deu o sonoro título de Sonetos do operário e do patrão.

Giudice produziu também para teatro, refletindo outra de suas grandes paixões. Em 1991, o Centro Cultural Banco do Brasil montou seu monólogo Ária de serviço, com direção de Marco Antonio Braz e a atriz Bete Mendes no papel da dona de casa infeliz que prepara o espírito para receber o marido ao final de um dia de trabalho. Teve seu conto Bolívar encenado por Domingos Oliveira na Biblioteca Nacional dentro do evento Teatro do texto, em 1991, e fez uma adaptação do Don Juan, de Molière, para alunos da Uni-Rio. Exercitou-se, ainda, como compositor de trilhas musicais para teatro (ver A Música). Giudice deixou inédito o texto da peça O baile das sete máscaras, mais uma investida demolidora no universo burguês a que ele próprio pertencia à sua maneira peculiar.

O crítico e ensaísta literário surgiu na década de 1970 em jornais do Rio de Janeiro. Carlos Drummond de Andrade costumava mandar-lhe bilhetes agradecendo suas resenhas. Escritores como Machado de Assis, Arthur Schnitzler e o dramaturgo Nelson Rodrigues foram objeto de iluminados ensaios. Mas esta foi uma carreira bissexta, caracterizada basicamente pelo seu prazer de ler e pela independência de suas opiniões. Esta última qualidade rendeu-lhe, pelo menos uma vez, uma represália. Em julho de 1988, ele publicou em O Globo uma resenha irônica com relação ao sucesso de um best seller da mesma editora que à época examinava seus originais da coletânea de contos O último coração da noite. No dia seguinte, a editora devolveu-lhe os textos com uma carta seca de indeferimento. O livro acabaria saindo no ano seguinte, pela José Olympio Editora, com o título de Salvador janta no Lamas .

Para um escritor que tematizava as hipocrisias e disfunções da sociedade contemporânea, episódios como esse não representavam maior percalço. Pelo contrário, traziam novas idéias que ele rapidamente levava ao papel. Em Victor Giudice, a vida e o ofício bebiam da mesma fonte.

Fontes:
http://www.victorgiudice.com/
Foto de Veronica Peixoto, de O Globo

Nilton da Costa Teixeira (O Poeta de Ribeirão Preto)



Três de Maio:- Dia Municipal da Poesia

O vereador Corauci Neto apresentou em 21 de agosto de 1.997, o projeto a lei 391, que se tornou a lei 8.294/98, Instituindo o Dia Municipal da Poesia, no município de Ribeirão Preto, a ser comemorado a todo Três de maio.

Na justificativa do documento camarista, o vereador Corauci Neto, destaca: " O dia 3 de maio, é a data própria para estimular os poetas da cidade. É a data do nascimento do poeta Nilton da Costa Teixeira, escritor, jornalista, literato, representante da geração de 1.945, com grande destaque nas lides culturais de nossa cidade nos anos sessenta, com o maior número de trabalhos editados pelos jornais: A Cidade, Diário da Manhã, Diário de Notícias e O Diário. Lançou a pedido do ex-prefeito Antonio Duarte Nogueira, em 1.970, Versos à Ribeirão Preto, em homenagem aos 114 anos de nossa cidade, ocasião em que se inaugurava o salão nobre do Palácio Rio Branco. A partir daí com as movimentações com os Jogos Florais, Ribeirão Preto cresceu e hoje pode e precisa prestar uma homenagem a este que foi um baluarte de nossa poesia.”

Nilton da Costa Teixeira, nasceu na cidade de Monte Alto, interior de São Paulo, em 03 de maio de 1920, filho dos portugueses Manoel dos Santos Teixeira e Conceição da Costa Teixeira. Veio com a família para Ribeirão Preto, prosseguindo os estudos no Grupo Escolar Guimarães Júnior, onde concluiu em 1930/31. Trabalhou desde a infância, tendo sido prático de farmácia, depois ser provador de café e, na mesma firma, passou a exercer funções na contabilidade, enquanto prosseguia seus estudos no ginásio do Estado, hoje Otoniel Mota. Na Escola da Biblioteca dos Pobres foi cursar o “guarda livros”, mais tarde na Escola de Comércio São Sebastião, Contabilidade e científico no colégio Progresso.

Dedicou-se à contabilidade e ao comércio. Aposentou-se por tempo de serviço em 1.976. A contabilidade exerceu-a até os últimos dias de sua vida. Era associado do Conselho Regional de Contabilidade e graças ao vasto conhecimento contábil, assessorava colegas nas constantes mutações do setor..

Faleceu a 5 de novembro de 1983; casado com d. Ophélia de Andrade Teixeira.

Carreira Literária

Teve participações esportivas e literárias. Na literatura, 45 anos de atividades. Em 1936, co-fundara o Grêmio Literário Humberto de Campos.

Na imprensa, Nilton sempre editou crônicas, contos, poemas, trovas, sonetos, divulgando parte de sua produção literária, nos jornais de Ribeirão Preto, oferecendo subsídios para que professores e alunos trabalhassem, nas escolas, seus projetos de poesia. Em torno da Fonte Luminosa, da praça XV de novembro, por vários anos, estiveram expostas as trovas dos Jogos Florais de Ribeirão Preto, em placas pintadas, com as trovas vencedores. Nilton sempre tinha alguma premiada.

Como professor, na Escola dos Pobres, estimulava o alunado à vida literária e o que continuou fazendo no correr dos anos. Sua esposa também lecionava na entidade. Prefaciou diversos livros. Gostava de escrever sobre a cidade.

No correr dos anos, durante campanhas eleitorais, à pedido de candidatos compunha “marchinhas” de campanha eleitoral e, num só pleito, viu candidatos eleitos com o apoio suas mensagens poético-eleitorais. Era comum, ao passar por cartórios de paz, ser solicitado a fazer trovas de homenagem a casamento ou nascimento. O poeta gostava do que fazia e fazia com inspiração.

No ano de 1966, foi um dos vencedores dos I Jogos Florais de Ribeirão Preto, numa promoção do Clube dos Antônios com o patrocínio do jornal O Diário, tendo duas de suas trovas premiadas. O tema da promoção era Santos Dumont. A respeito, no dia 6 de novembro de 1967, o dr. Antonio Rocha Lourenço, presidente do Clube, se manifestou: Ao ofertar-lhe o prêmio que sua inteligência conquistou, não deseja o Clube dos Antônios, deixar embora em poucas palavras, de dizer o quanto agradece a sua destacada participação. Foi premiado em diversos concursos de trovas e sonetos. Era considerado uma usina poética e conseguia produzir centenas de trovas de um mesmo assunto ou tema.

Em 1970, a pedido do dr. Antônio Duarte Nogueira, então prefeito, editou Versos à Ribeirão Preto. O historiador Prisco da Cruz Prates, destacava-o em seus textos como o príncipe regional da trova ribeirãopretana. O trabalho literário de Nilton merecia elogios nos mais diferentes recantos do país.

Em 19 de junho de 1977, trovadores de diversas cidades e estados, estiveram reunidos na casa do poeta. Ocasião festiva e literária, onde cada um demonstrava a sua versatilidade. O escritor e acadêmico santista Walter Waeny ao partir deixou em manuscrito a mensagem:

Esta alegria maior,
Sempre guardá-la prometo:
visitei, hoje, o melhor,
poeta de Ribeirão Preto”.

O trovador José Valeriano Rodrigues, mineiro de diversas academias, assim escreveu:

“Senti-me de tal maneira
à vontade neste lar,
como na casa mineira
para a qual eu vou voltar”.

Deixou vários inéditos, mas na imprensa diária divulgada boa parte daquilo que produzia. Suas constantes premiações literárias, perpetuam seus textos em livros de resultados de concursos. A biblioteca municipal e a Casa da Cultura têm as edições dos livros de jogos florais de Ribeirão Preto.

Vem sendo organizada uma antologia com os textos dos escritores da família Teixeira. O poeta Lauro da Costa Teixeira (irmão, freqüentava a Casa do Poeta Lampião de Gás), Nilton Manoel e Ivan Augusto (filhos) e alguns sobrinhos do poeta com prêmios e vida literária.

Nilton fez parte de várias comissões de Jogos Florais de Ribeirão Preto.
Nilton, co-fundador e vice-presidente da seção municipal da União Brasileira de Trovadores, instalada por Luiz Otávio (príncipe dos trovadores). Co-fundador da União dos Escritores de Ribeirão Preto e membro correspondente de academias pelo Brasil. Hoje é patrono de cadeiras acadêmicas.

No decorrer dos anos conquistou prêmios, nos Jogos Florais da Bahia, pela Academia Castro Alves de Letras, Academia Valenciana de Letras, Grupo Alec de Corumbá, Academia Pedralva de Letras e Artes, Sesc Três Rios- RJ, União Brasileira de Escritores, Revista Brasília, centenária Sociedade Legião Brasileira Civismo e Cultura, em Ribeirão Preto, monografia sobre Padre Euclides, Casa da Cultura de Ribeirão Preto, Clube da Velha Guarda, Jogos Florais de Ribeirão Preto, Santos, Rio de Janeiro,etc.

Na antologia Poetas de Ribeirão Preto, terra da poesia, editada por Nilton Manoel, em 1979, figura com um agrupamento de textos sob o título “Encanto dos meus dias” onde são encontrados sonetos, poemas e trovas, concebidos em verdadeiros estados de graça. Foi haicaísta.

A FONTE LUMINOSA

Da fonte luminosa, emergem espargidos,
contínuos jatos de água em cores variantes,
que , em suaves vai-vens, tão sempre repetidos
em mesclas divinais de encantos e corantes.

Seus azuis celestiais, nos jatos expelidos,
parodiam, no céu, os azuis contagiantes,
enquanto pela relva, os grilos escondidos
teimam a musicar esses vai-vens constantes

Sempre a água sobe e desce e sofre mutações,
imita nossa vida onde há tão falsos pomos
colhidos cegamente em muitas ocasiões...

A fonte é um painel de passageiras cores,
a vida é um painel de mentirosos cromos,
dois cromos celestiais, cromos enganadores.

Com a difusão de informativos, jornais, revistas, colunas de poesia em jornais O Diário, Diário de Notícias, Diário da Manhã, A Cidade e em Folha do Subúrbio (do Eduardo Cavalcanti da Silva, Camaçari - BA), a coluna de Trovas da Gazeta Esportiva, assinada pela jornalista Maria Thereza Cavalheiro, Almanaques como o Santo Antonio, da Editora Vozes, a folhinha do Sagrado Coração de Jesus, álbuns e revistas acadêmicas, os poemas de Nilton da Costa Teixeira popularizam-se cada vez mais, principalmente, em volantes, editados para distribuição gratuita a alunos de nossas escolas. O movimento literário de Ribeirão Preto, tomou vulto com as edições diárias do poeta, considerado o marco de nacionalização da literatura ribeirãopretana.

TROVAS DISPERSAS

A vida triste fantasia,
que abriga tanta ilusão,
é o caminhar dia a dia,
para um funéreo caixão.
*
Nossa vida é uma viagem
de turismo e avaliação,
em que o peso da bagagem
é feito no coração.
*
Tenho a casa pobrezinha
Um prato e uma colher,
E a esperança toda minha
De arranjar uma mulher.
*
Durante suas andanças,
Jesus Cristo foi fecundo,
recolocando esperanças,
entre as descrenças do mundo.
*
Quem passar por Ribeirão,
fatalmente,ira deixar,
pedaços do coração,
que um dia virá buscar.
( 1.956 – I Centenário de Ribeirão Preto)
*
Ribeirão - tu sobranceiro,
és do interior, no presente,
o município, primeiro,
porque caminhas à frente...

Nos Jogos Florais de Ribeirão Preto, oficializados pelo executivo, por ser o evento que consagrou a cidade no mundo internacional da literatura, realizados em modalidades: estudantil, municipal, internacional, Nilton conseguiu diversas e boas trovas vencedoras, entre elas:

Neste abraço em que te aperto,
Com a beatitude de um monge,
Sinto meu amor tão perto...
Minha esperança tão longe!

Para salvar aparências,
Nós pela vida, mentindo,
Entre silêncios e ausências,
Sofremos sempre sorrindo.

O Judas de hoje, moderno,
Maneiroso, demagogo,
Não teme os clarões do inferno,
Porque dança sofre o fogo.

Despreocupado com a morte
Para quem tão pouco resta,
Mesmo os rigores da sorte
São verdes sonhos de festa!

Comentários sobre o poeta:

“... vemos o perfil de um homem, que foi inspirado cultor do sonho e requintado burilador do verso. Sei que foi, em sua terra natal, por várias gerações, um dos seus valores mais dignificantes, que, se o presente tanto o admirou, a posteridade saberá respeita-lo”.

Um poeta adormeceu,
e, porque tanto sonhou,
se algo, aqui, se escureceu,
todo o céu se iluminou
”.
Helvécio Barros- Bauru-SP.:

Com profundo pesar recebemos a infausta notícia do falecimento do poeta Nilton da Costa Teixeira, que enluta as letras de Ribeirão Preto e entristece seus irmãos trovadores de todo o Brasil”..
Carolina Ramos, presidente da União Brasileira de Trovadores –secção de Santos-SP

Trovador e poeta que todos aprendemos a estimar e admirar”.
Jornalista Paulina Martha Frank, Campinas,SP.

"O Brasil inteiro precisa ler o que ele escreve, para render homenagem a um talento e a uma versatilidade assim tão grandes”.
Walter Waeny, trovador da Academia Santista de Letras
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Na literatura de Ribeirão Preto sua prosa e poesia fez a nossa história literária e, ficou comprovado nos certames em que foi premiado. Seus livros: A Mansão do Morro Branco, Versos à Ribeirão Preto, Mãe, Minha Trova em Ribeirão Preto, Sonetos de várias datas,Restos de Ventura, entre outros, enriquecem o mundo literário desta cidade que tanto amou.
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Fontes:
- Nilton Manoel.
– Corauci Neto