quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.100)


Uma Trova Nacional

Quando a saudade me abraça,
num devaneio febril,
até na nuvem que passa,
eu diviso o teu perfil.
(NEOLY VARGAS/RS)

Uma Trova Potiguar

De aquarelas de segredo
compus a mulher sonhada,
mas hoje vivo em degredo,
longe da imagem criada.
(GONZAGA DA SILVA/RN)

Uma Trova Premiada

1994 > Bandeirantes/PR
Tema > FAMÍLIA > Menção Honrosa

Tudo se muda num lar,
casa, tapete, mobília,
tudo se pode trocar,
só não de troca a família.
(FERNANDO VASCONCELOS/PR)

Simplesmente Poesia

– Lúcia Helena Pereira/RN –
SÚPLICA

Vem amor, com esses olhos de anjo,
nessa urgência louca de amar!
Traz o teu sorriso de arcanjo
e esse cheiro de mar!

Vem rasgar ilusões antigas
no limo de esperas quietas
para os versos e cantigas
do som mavioso de tuas cantatas!

Vem como flores se abrindo,
dos botões de sonhos que plantei,
num jardim florido e lindo!

Vem, no cansaço dessas palavras,
no murmúrio róseo dos lábios que pintei
e nos raios de luas adormecidas.

Uma Trova de Ademar

Na construção do desgosto
de um casamento desfeito,
criei rugas no meu rosto
e pus mágoas no teu peito...
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Do teu desprezo ando farto
e, em meu orgulho, pressinto
que o trecho da sala ao quarto
nos parece um labirinto!
(PAULO CESAR OUVERNEY/RJ)

Estrofe do Dia

O meu sonho de menino
foi de ser aviador
conquistar um grande amor
e ter um feliz destino,
nunca sofrer desatino
e acumular emoções,
ter na conta dez milhões,
mas por só pensar besteira;
eu passei a vida inteira
colecionando ilusões.
(HELIODORO MORAIS/RN)

Soneto do Dia

– Miguel Russowsky/SC –
LIVRE ARBÍTRIO ???

Nascemos sem pedir e sem querer nos vamos...
Não fazemos as leis , somos feitos por elas.
Verdugos vem traçar seus paralelogramos
em nossas pretensões murchinhas e singelas.

Somos folhas gentis... Nos arrancam dos ramos
e nos jogam no além ao sabor das procelas.
Se morrem ilusões, as nossas, as seqüelas
nem pesam na balança escolhida dos amos.

Navegamos ao léu, carregando, já morto,
aquele sonho azul, à procura de um porto,
onde possa florir o amor com ouropeis.

De repente o descaso, a velhice, o abandono,
mostram as dimensões, no derradeiro sono
em marionete vã, obediente aos cordéis.

Fonte:
Ademar Macedo

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

André Luiz Nakamura (Mitos e Lendas do Folclore Brasileiro) Parte I


Desde sempre a humanidade se atormenta com as clássicas indagações pra as quais não houve e ainda não há respostas satisfatórias: de onde, por quê e para quê viemos? Para onde vamos?

Diante dos fenômenos da vida que lhe eram totalmente inexplicáveis, a criativa imaginação do homem primitivo atribuiu a autoria e o comando do universo, bem como sua própria existência nele, a fantásticas criaturas, a entidades sobrenaturais (a que futuramente se chamariam mitos).
Entre nós, é claro que os primitivos habitantes das terras que posteriormente se denominariam brasileiras, quais sejam, os índios, também daquele modo agiram ao se defrontar com o mesmo drama existencial.

Destarte, a exemplo de outros povos, também eles povoaram as matas, os rios, as montanhas, o mundo, com entes sobrenaturais, dando nascimento, assim, aos mitos brasileiros (juntamente com as duas outras culturas que depois formariam a brasileira).

O chamado pensamento mítico representaria, então, o estágio infantil da mentalidade humana na sua sempre ascensional trajetória evolutiva.

Lévi-Strauss, no entanto, em “O Pensamento Selvagem”, delineou uma “analogia formal” entre o pensamento mítico e o pensamento científico, argumentando que aquele seria a “metafórica expressão” deste. A civilização, desse modo, teria sido edificada através dos mitos.

Mesmo na atualidade, a despeito de ter a ciência progredido e elucidado alguma parte dos muitos mistérios da vida que assombram a humanidade, os mitos continuam a surgir e a renascer nas reminiscências populares, haja vista que a mencionada perplexidade que acometia o homem primitivo representava não só a crise existencial da humanidade diante do mundo, mas também a do homem diante de si próprio. Essa, aliás, certamente permanecerá, em maior ou menor grau.

Os segredos da alma humana, os sentimentos, medos, desejos, paixões, raivas, a luta contra selvagens instintos (o lobisomem que habita o homem), enfim, tudo aquilo que se encontra no interior da alma humana, e que a razão não é capaz de explicar, exterioriza-se e reflete-se nos mitos.

MITO – CONCEITO

Tendo em vista o que expusemos no tópico anterior, poderíamos conceituar “mito” como sendo configurações de entes fantásticos e sobrenaturais produzidas pelo imaginário popular em virtude da necessidade de se buscar explicação para a existência do universo e da própria humanidade, bem como para o que se encontra no interior da alma humana sem elucidação racional.

A essa motivação não se pode deixar de acrescentar também o prazer e a necessidade do homem de contar e ouvir histórias, pois o sonho e a fantasia, com efeito, fazem parte de seu espírito.

Ressalte-se, ainda, que mito também pode se referir a objetos, lugares e épocas, tendo ainda o sentido de utopia, segundo o Aurélio.

Exemplifiquemos parte de tal acepção com o chamado “Mito da Idade do Ouro”, “o mito da perfeição do princípio”, presente em quase todas as mitologias, segundo o qual no início dos tempos, quando da criação do homem, este vivia usufruindo uma felicidade plena.

O “Mito da Idade do Ouro” é também “futurizado” de acordo com algumas crenças no “fim dos tempos”. Um novo mundo, com uma nova humanidade, então, surgirá (os mortos também voltarão), para viver uma vida paradisíaca, sem dores, sem sofrimento, sem tristeza, sem morte.Vejamos mais alguns conceitos de mito:

Consoante o escólio de Leda Tâmega Ribeiro (“Mito e Poesia Popular”), “a palavra mythos, que originariamente significava ‘fábula’, ‘conto’, ‘fala’, ou simplesmente ‘discurso’, passou a ser usada em oposição a logos e história, vindo a denotar, então, ‘aquilo que não pode realmente existir”.

“(...) A palavra grega mythos referia-se fundamentalmente à atividade de contar e não ao conteúdo daquilo que é contado”.

O referido termo, prossegue a autora citando Mircea Eliade, “tornou-se em nossos dias, de certa forma, equívoco, podendo tanto significar ‘ficção’ ou ‘ilusão’, como ‘tradição sagrada’, ‘revelação primordial’ ou ‘modelo exemplar’”

“O mito é narração alegórica, que em geral procura explicar acontecimentos anteriores aos fatos históricos” (Veríssimo de Melo, “Folclore Brasileiro: Rio Grande do Norte”).

“Mito é uma narrativa de um fato que transcende a natureza humana. Seus personagens são entes sobrenaturais (...) Nasceu da necessidade do homem de explicar o mundo em que vivia e de sua própria presença nele (...) narra as façanhas de entes sobrenaturais, graças aos quais passou a existir uma realidade ou parte dela, como, por exemplo, uma ilha, uma espécie animal, vegetal ou mineral, um comportamento humano, uma instituição, etc.” (Antônio Henrique Weitzel, “Folclore Literário e Lingüístico”).

“O mito na história da civilização é um conjunto de lendas (grifamos) e narrações que referem personagens e acontecimentos anteriores aos fatos históricos conhecidos e que, por isso mesmo, se entretecem com episódios maravilhosos e fantásticos” (Luís da Câmara Cascudo, “Dicionário do Folclore Brasileiro”).

Vale lembrar que atualmente o termo é também usado para tratar do fenômeno de popularidade criado em torno de astros e estrelas do cinema e da televisão, a que alguns chamam “mitos fabricados”.

MITOS BRASILEIROS

Os mitos que se configuraram no Brasil, a exemplo do que se deu com o próprio povo brasileiro, ostentam também a forte marca da miscigenação, pois são eles provenientes de diversas culturas, sendo três suas fontes primordiais: os portugueses, os índios e os negros.

Para a grande maioria dos autores, foi prevalente a influência do colonizador português, que trouxe consigo mitos de quase todo o acervo europeu.
Raros, então, os mitos que por aqui se conservaram “originais” e nenhum o que se manteve imune à influência lusitana.

Em contrapartida, também os Lobisomens e Mulas-sem-cabeça que os portugueses para cá trouxeram adquiriram nestas terras cores locais e tropicais, “abrasileirando-se”.
Em segundo posto, na ordem de influência apontada pela maior parte dos folcloristas, encontram-se os de origem indígena, os primeiros a serem catalogados pelos portugueses, logo se confundindo os mitos de ambas as origens.

Os negros escravos, naturalmente, também para cá vieram acompanhados de seus mitos, os quais tinham grande força religiosa, requerendo rituais, danças, oferendas, etc. Os relatos sobre seus entes fantásticos que regem as forças da natureza certamente influenciaram na configuração dos nossos mitos.

No entanto, tomando-se a acepção folclórica do termo, i.e., sem implicações religiosas, são poucos os mitos de origem africana. Câmara Cascudo realça que é no ciclo da angústia infantil que mais se faz notar a influência negra na formação da mitologia brasileira:

“Rara será a aparição assombrosa que ainda mais terrível não ficasse através dos lábios africanos (...) O papel das ‘tias’ e dos ‘tios’ portugueses aqui lhes coube (...) A nossa Scheherazade foi a Mãe Preta...” (“Mitos Brasileiros”).

Para Théo Brandão (“Folclore de Alagoas”) “nossos mitos são restos, reelaborações, cruzamentos superposições dos mitos dos povos formadores da etnia brasileira”.

CLASSIFICAÇÃO

Alguns autores estabeleceram uma classificação para os mitos brasileiros.
O insigne folclorólogo Luís da Câmara Cascudo distribuiu-os em “primitivos e gerais” e em “secundários e locais”. Dentre os primeiros estariam o Saci-Pererê, o Jurupari, o Boitatá, o Lobisomem, a Mula-Sem-Cabeça, o Curupira, o Anhangá, Botos e Mães d´Água...

Todos os demais que constam do rol que logo apreciaremos seriam “secundários e locais”.

Cascudo (em “Mitos Brasileiros”) apresenta ainda mais duas subdivisões, a que denominou “Ciclo da angústia infantil” (Cuca, Mão-de-Cabelo, Chibamba, etc.) e “Ciclo dos monstros” (Capelobo, Gorjala, Mapinguari, Bicho-Homem, Labatut, Pé-de-Garrafa, Quibungo, etc.).

Merecem destaque esses “ciclos”.

Nos da angústia infantil, a exemplo do que se pretendia com as narrativas de contos de fadas, percebe-se neles um nítido propósito disciplinar.

Com relação ao ciclo dos monstros, bem a propósito, o célebre folclorólogo fala sobre o “ataque inesperado e predatório de gente de fora” e uma conseqüente reação mental dos índios frente ao inimigo estrangeiro e invasor, cuja imagem é por aqueles deformada, transformada em monstro.

Alceu Maynard Araújo (em “Folclore Nacional”), seguindo Basílio de Magalhães (em “Folclore no Brasil”), ordenou-os em primários e secundários.

Os mitos primários são: saci, mula-sem-cabeça, lobisomem, curupira, caipora.

Os secundários, segundo o mesmo autor, compreendem gerais: boitatá, mãe-do-ouro, minhocão, etc., e regionais: corpo seco, porca de sete leitões, mão-de-cabelo, cavalo branco, etc.

Entendemos que os vocábulos “primitivos” e “primários” foram utilizados pelos referidos autores com a acepção de “principais”, de forma a opor-se a “secundários” (usado por ambos os folcloristas), podendo-se deduzir que seriam os primeiros os mais conhecidos.

Nesta modesta abordagem do assunto, não estabeleceremos nenhum tipo de classificação pois, na atualidade, em vista do recrudescimento dos meios de comunicação, com inclusão da Internet, essa se torna uma tarefa difícil.

LENDA

Proveniente do latim legenda, do verbo legere = “ler” (e, por extensão, “algo digno de ser lido”), era esse o termo usado para designar as histórias sobre santos que eram narradas nos refeitórios dos conventos ou em cultos religiosos com o escopo de se estabelecerem edificantes referenciais com que se deveriam identificar os ouvintes.

Não quer isso dizer, porém que ensejou o advento das lendas; outros povos, primitivos, também tinham seus relatos fantásticos (a que depois se denominou “lenda”) sobre eventos originalmente verdadeiros, ou considerados como tais; sobre heróis que podem ou não terem realmente existido; ou sobre feitos “heroicizados” pela imaginação popular.

A lenda é também considerada como a “imaginação da História” tendo em vista que esta, em sua “infância”, não foi nada além de uma sucessão de lendas oralmente transmitidas de geração a geração, com o sempre presente gosto popular pela fantasia.

Com o passar dos tempos, o sentido do vocábulo se foi ampliando, de maneira a abranger outras formas de narrativa, como veremos.

LENDAS – CLASSIFICAÇÃO E CONCEITO

Costumam classificá-las em pessoais, locais, episódicas e etiológicas.
A primeira espécie, a das “pessoais”, subdivide-se em heróicas (que versam sobre figuras históricas); hagiográficas ou hagiológicas (sobre santos) e anedóticas (sobre pessoas pitorescas).

As heróicas são aquelas que enaltecem com as cores da fantasia os feitos de figuras históricas. São heróicas, por exemplo, nossas muitas lendas sobre os bandeirantes cujas andanças, desbravando sertões, cativando gentios, descobrindo minas, ensejavam e divulgavam muitas lendas.

Merecem destaque as hagiográficas ou hagiológicas. Inúmeros são os exemplos de lendas brasileiras sobre santos que deliberadamente teriam dado origem a muitas cidades e bairros, sendo-lhes os padroeiros. Suas imagens recusavam-se a sair no local que designaram para seus santuários, como dizem ter ocorrido na cidade de Nazaré Paulista.

Hélio Damante (“Folclore Brasileiro – São Paulo”) dá outros exemplos:
“O encontro de imagens, caso do Bom Jesus de Iguape, do Bom Jesus de Pirapora e de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, mesmo se tratando de fatos historicamente comprovados, sempre aguçou a imaginação de devotos e deu origem a um particularizado lendário, enriquecido pela iconografia dos milagres e ex-votos, sonhos e visões”.

As locais tratam de temas ligados a uma determinada localidade, versam sobre rios, montanhas, lagos, cavernas, etc. São também denominadas tópicas e geográficas.

As episódicas dizem respeito a eventos e acontecimentos de interesse de uma localidade.

As etiológicas, que buscam explicar a origem de plantas, de animais, se sobrelevam nas fantasiosas narrativas indígenas sobre a origem da mandioca, do milho, da lua, etc.

Essa classificação, com base na apresentada por Antônio Henrique Weitzel “Folclore Literário e Lingüístico”), fornece elementos para alguns conceitos de “lenda”.

Vejamo-los:
“A lenda é uma narrativa em torno de um fato real, com uma explicação ou interpretação de uma figura, uma realidade, um acontecimento histórico, em torno da qual a fantasia cria uma série de coisas irreais e até mesmo inverossímeis” (Renato Almeida “Inteligência do Folclore”).

“A lenda é a imaginativa sobre a realidade, realidade que pode ser o homem, o vegetal, o animal, os elementos da natureza, os acidentes geográficos, etc. Reveste a vida dos santos, dos heróis e dos bandidos; explica a razão do que vê e não compreende; aponta o que acredita ser a origem das coisas e dos fenômenos” (Maria de Lourdes Borges Ribeiro, “Folclore”).

No entanto, cumpre-nos acrescentar que o termo “lenda” não é usado apenas para significar “narrativa fantasiosa sobre a realidade”. Relatos sobre seres e fatos inverossímeis são também chamados “lendas”. Há fantásticas histórias protagonizadas, por exemplo, por seres imaginários a que consensualmente se denominou mitos, como o Curupira, o Saci, a Mula-Sem-Cabeça. Existem, pois, “lendas” acerca de “mitos”.

São também chamadas de “lendas” histórias sobre tesouros enterrados, sobre fantasmas, almas penadas, e, bem assim – dentre outras – sobre corpos de “espíritos puros” (“corpos santos”) que, sepultados, se mantiveram intactos sob a terra, e que seriam encaminhados em sigilo ao papa pelo vigário, segundo crença popular, informa-nos Saul Martins (“Folclore Brasileiro – Minas Gerais”).

Na seara do folclore, se o vocábulo lenda fosse utilizado apenas para se referir a histórias fantasiosas sobre santos, heróis, bandidos, simples seria distingui-lo de “mito”. No entanto, a amplitude conceitual que se lhe deu, narrativa fantasiosa sobre a realidade, pode ter sido o ponto de partida para a confusão de mito com “lenda” (de que a seguir trataremos), visto que se passou a assim denominar tanto as fantásticas narrativas indígenas sobre a origem de plantas como aquelas que versam sobre a criação do mundo, sobre os fenômenos atmosféricos, etc.

MITO E LENDA – DISTINÇÃO

Considerando-se a polissemia dessas palavras, ou seja, os muitos sentidos que adquiriram, em virtude também das próprias definições que se lhes deram, ambos os vocábulos são freqüentemente confundidos.

1. A Enciclopédia “Mérito” registra que “o mito situa-se nos tempos ante-históricos e representa um ser ou episódios sobrenaturais, enquanto a ação das lendas decorre no mundo, entre os homens, não recuando para além da origem dos povos cristãos”.

Observe-se, porém, que renomados folclorólogos brasileiros, posteriormente, registraram histórias sobre a criação do mundo e da humanidade, cultivadas oralmente pelos índios (predecessores dos cristãos), às quais se denominaram e ainda se denominam “lendas”.

2. Em conformidade com a Enciclopédia Mirador, o que distingue o mito da lenda é a natureza dos relatos, observando que o primeiro “fornece o fundamento de toda a vida social e tem caráter religioso”. (...) “A lenda,’história falsa’, narra feitos de alguns heróis populares, explica particularidades anatômicas de certos animais, etc. ao passo que o mito, ‘história verdadeira’, se reporta à criação do mundo e dos homens, à origem da morte, etc”.

Nesse sentido, Antônio Henrique Weitzel (“Folclore Literário e Lingüístico”), ao falar sobre a ambivalência do mito em Folclore, apontando, de um lado, o fato (crença), e do outro, a narrativa (literatura oral) – que seria a forma explicativa do mito – argumenta que “esse ato de crença é que irá distinguir o mito de outras formas narrativas, como a lenda”.

Com o devido respeito, é possível divergir-se dessa distinção, pois – para exemplificar – as lendas sobre santos ou mártires, chamadas hagiológicas ou hagiográficas pelos estudiosos do assunto, também podem implicar crença nos relatos (e/ou crendice?) por parte dos narradores. A própria origem do vocábulo, como vimos, remonta a histórias sobre santos contadas em convento.

É oportuno lembrar, entrementes, que Théo Brandão (“Folclore de Alagoas II”), quando defendeu, anteriormente, a mesma idéia do citado folclorista, dizendo que “fica implícita a noção de que o mito aquele que o relata nele acredita inteiramente, enquanto assim não o considera aquele que o recolhe como tal”, acabou por deixar à vontade o uso dos controvertidos vocábulos ao expor sua conclusão:

“Daí que a mesma narrativa possa ser catalogada como mito, lenda, conto ou acontecimento real, segundo as convicções do narrador, do coletor ou do divulgador”.
Para o mesmo autor, a melhor definição dos mitos é a de que “são narrações em que se procura explicar a origem dos seres vivos e de certos objetos ou a origem de algum costume”.

Aleixo Leite Filho (“Noções de Folclore”) preleciona algo similar:
“(...) é uma criatividade da imaginação popular que tem como principal preocupação descrever a origem dos seres, dos objetos e dos fatos”.
O problema é que ele í está se referindo a lenda...

3. Vejamos outros pontos de vista considerando-se mais propriamente a acepção folclórica dos termos.

Segundo o Prof. Renato Almeida em “Curso de Folclore” (registra a Profª Palmira M. Degásperi Rodrigues, em “Mito e Lenda, Implicações Filosóficas”, anuário do 29º Festival do Folclore), consiste no fato de que o primeiro é “uma entidade fantástica, de pura imaginação”, enquanto a segunda “é uma narrativa fantasiosa sobre um fato real”.

Essa última distinção, data maxima vênia, também apresenta algumas imprecisões, pois contempla apenas uma das acepções de “mito” e “lenda”. O mito também é “narrativa”, i. e., sua conceituação compreende também essa característica (diversos folclorista, e os dicionários inclusive, a registram), e quanto à lenda, esta, como já dissemos, não significa apenas história fantasiosa sobre a realidade, visto que existem narrativas fantásticas sobre seres e fatos também imaginários, a que chamam “lendas”. Há lendas, por exemplo, sobre o Curupira, o Lobisome, a Iara, o Saci, etc., enfim, há lendas em torno dos mitos.

4. Câmara Cascudo, com o peso de sua autoridade no assunto, pontifica: “Muito confundida com o mito (a lenda) dele se distancia pela função e confronto. O mito pode ser um sistema de lendas, gravitando ao redor de um tema central, com área geográfica mais ampla e sem exigências de fixação no tempo e no espaço”.

Para o ilustre folclorista Basílio de Magalhães (“O Folclore no Brasil”) “do mito, - transfiguração dos seres e fenômenos naturais em corpos inaturais e forças sobrenaturais, totens e tabus, pelo eu projetivo do homem inculto, - foi que se geraram as lendas, os contos e as fábulas da tradição popular. O que caracteriza a lenda é a apoteose, ligada a proezas heróicas ou a maravilhas supra-sensíveis”.
Tendo em vista o escólio dos dois mestres, do qual se depreende o estabelecimento de uma espécie de hieraquia entre os dois fenômenos, na qual o mito ocuparia o alto posto, há quem o interprete “a contrário senso”, de modo que lendas também podem vir a tornar-se mito.

Um bom exemplo dessa interpretação extrai-se da consagrada telenovela “Roque Santeiro”, que foi recentemente reprisada pela segunda vez, tamanho o seu sucesso.
Numa etapa inicial, pode-se-ia denominar “lendas” as histórias que se contavam na fictícia cidade de Asa Branca sobre o mártir que morrera em defesa desta, lutando contra os bandidos que a saquearam. Paulatinamente, a reiteração e a progressiva expansão dessa lenda pelo Brasil, a que se acresceram milagres atribuídos ao “Roque Santeiro”, consagraram-lhe o status de mito (era apenas esse o termo que usavam na novela para aludir ao herói). O ponto central da trama era o fato de estar vivo o protagonista, o que culminou numa luta entre o Roque Santeiro vivo e o mito, que os poderosos da cidade, por interesses, queriam preservar – assim como a respectiva população, mesmo sem o saber, haja vista que precisa de mitos.

No entanto, ainda nos suscitam dúvidas os elementos distintivos apontados por Cascudo e Basílio de Magalhães, segundo os quais dos mitos derivariam as lendas, devendo-se considerar a maior abrangência dos primeiros em oposição à relativa “localidade” das últimas.

Qual seria o critério para quantificar o dimensionamento territorial que a propagação de algum relato fantástico precisaria atingir para ser chamado “lenda” ou “mito secundário local” (espécie mencionada por Câmara Cascudo em “Mitos Brasileiros”)?

O que impediria, por exemplo, qualificar-se como mito a “Moça de Branco” classificada como lenda por Alceu Maynard Araújo (“Folclore Nacional”)? Ou como lenda o “Cavalo Branco” catalogado como mito secundário pelo mesmo autor?
É válido observar também que a primazia que se pretendeu atribuir ao mito não se propagou com muita força, visto que popularmente o termo mais usual é “lenda”.

Como se pode notar, é de fato penoso traçar uma nítida demarcação entre os territórios conceituais do mito e da lenda, tendo em vista que a polissemia desses termos parece poder mobilizar uma faixa fronteiriça definitiva que se lhes tentasse traçar, fazendo com que esta se expandisse, alargando-se ora por um, ora por outro dos respectivos domínios semânticos de cada um dos indigitados vocábulos.

Como diria Amadeu Amaral (ao falar da impossibilidade de traçar linhas exatas entre provérbios e outros conceitos, como adágios, anexins, etc.), “a substância fluida escapa por entre as frinchas das frases que a pretendem conter”.

Um relativo consenso se verifica no uso de “mito” para designar o Curupira, o Saci-Pererê, a Mula-sem-cabeça, o Lobisomem, entre outros mais conhecidos, e de “lenda” para os relatos fantasiosos sobre a origem de seres e objetos, como as plantas (“lenda da mandioca”, “lenda do guaraná”, e outros exemplos que constam da coletânea que logo se verá). Não obstante, existem exceções. O próprio Câmara Cascudo, o grande luminar da Folclorística, em “Mitos Brasileiros – Cadernos de Folclore”, coloca “Mães d´água” entre os mitos primários. Entretanto, em “Dicionário do Folclore Brasileiro”, no verbete “Lenda”, usa a expressão “a lenda da Mãe d´água”... Na mesma clássica obra, e no mesmo tópico, fala da “lenda do Barba-Ruiva”; noutro (“Barba”), informa que “um dos mitos mais populares do Piauí é o Barba Ruiva”.

Na verdade, o que amiúde se vê é o uso de um termo pelo outro, às vezes indistintamente, como se quase sinônimos fossem.

No que refere aos folcloristas que se dedicam ao assunto, referindo-se lateralmente à matéria com alguns exemplos ou mesmo apresentando um repertório mais amplo, muitos deles costumam salvar-se empacotando tudo num só volume, no qual pregam o rótulo “Mitos e Lendas”, para identificar coletâneas desse jaez.

Fonte:
http://www.folcloreolimpia.com.br/?pagina=folclore=mitoselendas

Heloisa Crespo (Emissário da Trova)


A Milton Nunes Loureiro

Navegando na internet,
no Pavilhão Literário
Singrando Horizontes Blog,
encontrei um emissário,
um ‘emissário da trova’,
poeta extraordinário!

Gente da minha terra!
Milton Loureiro, campista.
Foi escrivão de polícia,
delegado e é jornalista,
Atuou em várias rádios
como noticiarista

e repórter na Tamoio,
Copacabana, Tupi,
Continental e outras mais.
Não ficou só por aí.
Participou de programas
nas emissoras: Tupi,

Rio e Continental,
como apresentador.
Ele é também imortal.
É poeta, trovador.
Faz parte de Academias (*1).
e outros Centros (*2) de valor.

Milton coleciona títulos:
Cidadão Cantagalense,
Benemérito do Rio (*3),
Cidadão Niteroiense,
Honorário de Petrópolis,
Cidadão Cabofriense,

Cidadão de São Gonçalo
e Teresopolitano.
O brilhante trovador,
como um bom geminiano,
organiza anualmente,
há bem mais de trinta anos,

precisamente, quarenta,
um dos mais tradicionais
Jogos Florais do Brasil,
reunindo os magistrais
trovadores do país,
poetas e imortais.

E assim foi no ano passado,
com a sua supervisão,
os Jogos de Niteroi.
Festa bela, de expressão.
Teve bolo, homenagens,
causando admiração.

Autoridades presentes,
membros da UBT,
na seção de Niteroi
que com empenho e prazer,
é presidida por ele
e da trova é o ateliê.

Milton foi agraciado
com títulos, várias medalhas (*4),
a comenda Ordem do Mérito (*5),
por onde passa e trabalha.
Tudo o que faz leva a sério.
Por isso não deixa falha.

Entre Milton e a ANL,
há uma curiosidade.
O patrono é um expoente
da intelectualidade
de Campos dos Goytacazes.
Existe uma identidade,

do ocupante da Cadeira
dezenove e o seu patrono,
poeta Azevedo Cruz (*6).
Milton Loureiro, o dono.
Ambos Chefes de Polícia,
detentores de um trono

nos espaços literários.
Versos lindos, bem escritos
e em livros publicados.
Os dois em leis são peritos.
São bacharéis em Direito.
Seus versos não estão prescritos.

O “Emissário da Trova”
em concurso é campeão.
Está sempre entre os primeiros,
Se não está, tem distinção:
honrosa ou especial.
Sempre recebe a menção!

Jan./2011
--------------------------

*1 Academia Brasileira da Trova, Academia Niteroiense de Letras, Academia Ateneu Angrense de Letras e Artes, Academia de Letras de Uruguaiana, Academia Internacional de Letras Três Fronteiras e outras.

*2 Ordem dos Advogados do Brasil, à Associação dos Delegados de Polícia do Estado do Rio de Janeiro, à Associação dos Delegados do Brasil, à Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra e outros.

*3 Cidadão Benemérito do Rio de Janeiro

*4 medalhas: do Mérito Policial, José Cândido de Carvalho, José Clemente Pereira, Oswaldo Cruz e Jubileu de Ouro da Academia Niteroiense de Letras.

*5 Comenda Ordem do Mérito Arariboia

*6 João Antônio de Azevedo Cruz.

Fonte:
A Autora

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.99)

Uma Trova Nacional

O perdão é tão sublime
que, por mais que a ofensa doa,
põe uma paz que redime
no coração que perdoa.
(ZENAIDE MARÇAL/CE)

Uma Trova Potiguar

Pesa a cruz do meu fadário,
mas tenho fé em Jesus
que se aumentar meu calvário
não sinto o peso da cruz!
(PROF. GARCIA/RN)

Uma Trova Premiada

2009 > Ribeirão Preto/SP
Tema > CIGANO > Menção Especial

Ante o teu vulto de fada
e esse lindo olhar arcano,
sinto a alma engalanada
por ter nascido cigano!
(HERMOCLYDES S. FRANCO/RJ)

Simplesmente Poesia

Mote: (Autor Anônimo)
URGENTE É MUDAR AS TREVAS
EM SUAVES BÊNÇÃOS DE LUZ.

GLOSA:
Irmão, o pão que tu levas
vem dividir com nós todos,
pois, sem cobranças e engodos
urgente é mudar as trevas
naquilo em que mais te elevas,
assim como fez Jesus
que no suplício da cruz
nos deu a paz e o perdão,
transformando a escuridão
em suaves bênçãos de Luz.
(THALMA TAVARES/SP)

Uma Trova de Ademar

As trovas mais verdadeiras
nascidas de nossas lavras,
formam poesias inteiras
não são apenas palavras...
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Fingindo felicidade,
um sol que raro desponta,
fantasia é a realidade
vestida de faz-de-conta ...
(ELTON CARVALHO/RJ)

Estrofe do Dia

Num oitão de uma cabana
num aceiro de um roçado,
se encontra um velho sentado
num rebolo de imburana,
cortando uns troncos de cana
para uma porca que cria,
ouvindo a chocalharia
de uma manada de gado,
regressando do roçado
depois da morte do dia.
(MANOEL FILÓ/PE)

Soneto do Dia

– Darly O. Barros/SP –
CELAGEM.

Meu estro se extasia, ao ver o ocaso
Vermelhecer, à curva descendente
Do sol: são seis e vinte e é sem atraso
Que ele boceja e some, no ocidente...

Meus dedos fremem, não por mero acaso:
Há que selar o vôo mais recente,
Os frêmitos e arroubos do parnaso,
Ao mergulhar as asas no poente;

E então, a gotejar vermelho e rosa
- colhidos na viagem espantosa,
Realizada às fímbrias do cariz -,

Vê-lo , embebendo a pena em mil rubores
E, em um soneto, eternizando as cores
Do sol poente, em glorioso bis...

Fonte:
Ademar Macedo

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.98)


Uma Trova Nacional

Escutai os vossos ais
com emoção e ternura
aflição de nossos pais
entre ruas de amargura.
(PINHAL DIAS/PORTUGAL)

Uma Trova Potiguar

Matando e fazendo guerra
para conseguir riqueza,
o homem vive aqui na terra
destruindo a natureza.
(IVANISO GALHARDO/RN)

Uma Trova Premiada

2010 > Curitiba/PR
Tema > IMAGEM > Menção Especial

“O homem foi por Deus criado
à Sua imagem”... somente.
Deus o fez capacitado
para um viver plenamente.
(MARIA CONCEIÇÃO FAGUNDES/PR)

Simplesmente Poesia

– Lena Ferreira/RJ –
MAL DITO


que já te isentei da culpa!
(desastre pouco - expus
a alma inteira)

Segue um rumo oposto
sem esquinas
( não lances retinas
à lua nem ao sol )

- Amaldiçoo-te a visão! -

Fico
mastigando a derrota
( luta vã é argumentar
com o teu ego)

Sigo
remoendo um desconforto
( estrada fria pela ausência
dos teus passos.)
Uma Trova de Ademar

Quando a chuva cai na serra
representa, com certeza:
semente em baixo da terra,
fartura em cima da mesa!
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Quando a chuva molha o agreste
outro pranto molha o chão.
- É muito cabra-da-pesta
chorando de gratidão!...
(WALDIR NEVES/RJ)

Estrofe do Dia

A fonte de uma inspiração poética,
é cacimba de “veio” inesgotável,
que, fazendo nascer, torna viável,
a poesia com toda sua estética.
A métrica é a música da fonética
e a rima é o som do coração.
Junta-se tudo em nome da emoção,
que se esparrama n’alma do leitor,
tornando-se o combustível do amor,
na corrida sublime da paixão!...
(FRANCISCO MACEDO/RN)

Soneto do Dia

– Luiz Antonio Cardoso/SP –
ENFIM

Se a ausência que sentes, a vida sem versos,
inflige o vazio das noites sem fim,
atenta, procures, em lados reversos...
Além do horizonte verás um jardim!

Verás, adorada, nos bosques dispersos,
meus sonhos de outrora, pedaços de mim...
E enfim, trocaremos olhares diversos...
Carinhos infindos... E versos... Enfim!

Serei teu poeta... teu simples poema!
Teu canto sublime... Teu doce dilema...
Aquele que buscas um dia encontrar.

Serás minha musa... Meu mundo encantado!
O altar sacrossanto... Meu doce pecado!
Aquela que um dia busquei conquistar.

Fonte:
Ademar Macedo

domingo, 16 de janeiro de 2011

Carolina Ramos (Minha Amiga)

Poema montado sobre imagem obtida em http://repoetas.blogger.com

Jacy Pacheco (Poemas Avulsos)


AMBIÇÃO DO PINGO D'ÁGUA

A noite esqueceu
no côncavo de uma folha
vizinha de um riacho,
um pingo d’água.

Veio o sol
como uma rosa grande ardendo em febre
envolveu a pequenina gota
num punhado de cores.

Pingo d’água acordou,
olhou para baixo,
gostou do riacho...
Sonhou ser assim,
ser riacho também...

E correr,
e crescer,
ir além...
ser um rio bem grande,
maior do que ninguém...

veio o vento
de repente
e desgarrou da folha o pingo d’água.
Pingo d’água morreu.
Pingo d’água perdeu-se no riacho.

Pingo d’água sou eu.

PRIMAVERA DO MUNDO

Primavera do mundo, tu virás!
Talvez não venhas na tranqüilidade
de um dia claro e musical.
Trarás as mãos ensangüentadas
e as rosas se abrirão todas vermelhas.

Mas chegarás!
E extirparás a tirania
e todos os princípios egoístas.
E as máquinas da paz
revolverão o solo redimido
pelo sangue de irmãos idealistas.

Primavera do mundo, eu te entrevejo
numa nesga de sol recém-nascido,
anunciando o bem dos homens livres,
a vitória do amor, do ideal fecundo!

Aguardo o teu instante triunfal
primavera do mundo!

O ATEU

Era médico e jovem. Dizia
impropérios ao Deus que adoramos:
- Terra e mar, sol e sal, penedia,
vales, rios, e peixes, e ramos,

são produtos do acaso. Eu queria
defrontá-lo onde está, onde estamos.
Se existisse, por certo O veria.
Ora, Deus! Na ciência creiámos!

Mas, um dia, se viu a tratar
de seu filho... Que esforço gigante!
Tudo fez na aflição de o salvar!

E, prevendo-lhe o último adeus,
o doutor, a buscar céu distante,
suplicou: - Ajudai-me, meu Deus!

CONFORMISMO

Lembrar é bom... Já não me abraso
ao suscitar recordações:
glórias colhidas ao acaso
e as mágoas, Vida, que me impões!

Uns me trataram com descaso,
ungiram-me outros de atenções.
E mergulhei no meu ocaso
de frios sonhos e paixões...

Lembrar, após longa jornada...
Sustar um pouco a caminhada.
revendo a etapa percorrida...

Lembrar é bom.., deixando em paz
glórias e mágoas para trás,
para aceitar melhor a vida.
---
Fontes:
J.G . de Araujo Jorge. Antologia da Nova Poesia Brasileira- 1a ed. 1948
Magia dos Sonetos .

Nilton Manoel (Haicai - O Poema de Três Versos)


Aproveitei-me deste final de semana chuvoso, para colocar em ordem minha estante de arte-poética, separando os volumes que me servirão de ponto de referência no correr deste ano ímpar. Em meio desta tarefa encontrei o “Itinerário” – livro de autoria de Jacy Pacheco, premiado em 1.972, pela secretaria da Cultura,Esporte e Turismo da Guanabara e, editado no ano seguinte elo Instituto Niteroiense de Cultura. O volume foi-me ofertado pelo autor, durante a minha estada em Nova Friburgo –RJ, participando dos Jogos Florais da localidade. O Itinerário tem 66 páginas, sendo que 51 estão divididas entre trovas, sonetos, poemas e haicais. No verso de uma das páginas de apresentação, encontrei um haicai de Luiz Antônio Pimentel;

“ Que é um haicai?
É o cintilar das estrelas,
Num pingo de orvalho!”

Daí resolvi envolver-me um pouco mais neste poema e parti para a mineração da arte indo até Hêni Tavares ( Teoria Literária, Ed. Itatiaia, BH,1971) onde consegui a afirmação de que “ poema é o nome gerérico de toda composição com intenção poética”. Folheando Aurélio B. Holanda encontrei: “ Haicai – poema japonês formado de três versos dos quais dois de cinco sílabas e um ( o 2º ) de sete sílabas poéticas. Além, na Antologia Luso Brasileira de Wagner Ribeiro- FTD, Adelino R. Ricciardi (irmão do Sílvio Ricciardi, da ARL) diz-me que Guilherme de Almeida jurava que esse gênero tinha sido criado especialmente para nós. Eis um exemplo:

“ Noite. Um silvo no ar;
Ninguém na estação. E o trem
passa sem parar” ( Guilherme)

Na mesma antologia, em crônica extraída do jornal dos Municípios, 1959, Altino de Castro informa que, coube a Guilherme de Almeida, a introduzir rimas (1º e 3º) na composição. Adiante escreve: “ Quando foi eleita em Long Beach, miss Universo, a japonesa Akiko Kojima – nome que significa “ alegre pequena ilha, eu me lembrei que não existia melhor modo de homenageá-la, do que compondo, à feição do Oriente, um colar de haicais, para o seu lindo pescoço pagão”. Do colar prendo-me em duas das sete contas:

“Agora são ricos
quimponos, leques, o sonho,
os olhos oblíquos...”

“Na concha do verso
alegre pequena ilha,
o sol do Universo.”

Voltando ao Itinerário de Jacy Pacheco releio alguns deles com rimas ou sem elas:

“Livre é o pensamento,
é porém à flor dos lábios
pássaro detento”.

No exemplo acima o primeiro verso rima com o terceiro e, neste outro, há rima paralela no primeiro com o segundo verso:

“ Com sabedoria,
tu pouparás alegria,
para as horas más”.

Já este outro não tem rimas:

“ Lagartas e tanques,
apagam sulcos de arados
e semeiam sangue”.

Finalmente, no Pequeno Dicionário de Arte Poética de Geir Campos, entre os 618 verbetes, encontro uma definição mais ampla:”Haicai – tipo de poema japonês (Hokku) de forma fixa, formado de 17 sílabas, distribuídas em três versos ( 5-7-5) sem rima como toda poesia nipônica. Em princípio, o haicai deve sugerir uma das estações do ano, e o gênero foi imortalizado por Bachô. Na segunda metade do século XVII. No Brasil Guilherme de Almeida, houve por bem fazer rimarem os versos 1 e 3 e introduzindo a rima leonina no segundo, como este exemplo do livro Poesias Várias:

“ Uma folha morta,
um galho no céu grisalho.
Fecho a minha porta”.

O verso leonino, como o segundo deste haicai, é o que tem rima nos hemistíquios ou nos membros métricos. Sendo o haicai pequeníssimo poema, o poeta se obriga a um grande poder de síntese para que dentro dessa forma possa revelar com originalidade, mensagem poética que cative o leitor e, perpetue-se através dos tempos.
--------------------------
DIARIO DA MANHÃ 6/1/83

Fonte:
O Autor

3ª Etapa do Projeto de Trovas para uma Vida Melhor



Temas:- VIRTUDES -
Bons hábitos práticos que devem ser vividas em todas as circunstâncias, favoráveis ou adversas.

Apenas uma trova inédita por trovador(a), via Internet, em Língua portuguesa.
-----
1º Concurso – tema:- FÉ –

de 15/01 a 28/02/11

- resultado até 20/03/2011

O tema deverá constar da trova:
4 versos setessílabos, rimando o 1º com o 3º e o 2º verso com o 4º, tendo sentido completo.

Enviar para mifori14@yahoo.com.br

A trova
Seguida do...
Nome:
Cidade: Estado: País:
E-mail:..................................
complementos: Rua,Av, nº, bairro, cep, tel, etc

Maria Inez
Delegada da UBT em Paraibuna - SP

Roberto Pinheiro Acruche (Meus Poemas n. 8)


ELA E A JANELA

Continuamente eu ficava
olhando para a janela,
na esperança que ela
ali viesse chegar.
E quando chegava,
a janela a emoldurava;
enquanto eu, distante, fitava
sua figura encantadora.
O coração sorria
tomado de alegria
de vê-la, como queria,
radiante e feliz.
Era um quadro admirável
uma escultura notável,
lindo momento de amor!
Assim, era a cada dia
os nossos encontros!
Não via à hora, de
pertinho ouvir a sua voz,
afagar as suas mãos,
sentir as batidas de seu coração.
Queria senti-la num abraço...
E isso, não aconteceu
por mais que almejássemos...
Nossos encontros marcados,
só eram realizados, quando ela, divinamente... bela...
Postava-se, naquela janela!

PERCEPÇÃO

Sinto alguma coisa
indeterminada, agitando-me,
querendo ser exposta,
sem que eu compreenda
e saiba como agir.

É uma sensação incômoda,
perceptível, complexa.

Quero olhar para fora,
mas o que adianta...
se o que sinto permanece
por dentro, na alma!

PASSARINHO

Passarinho bate asa
Cantarola e faz o ninho
Do amor vêm os ovinhos
Ampliando a criação...
Com esmero incomum
Sustenta os filhotinhos
De biquinho a biquinho
Perpetrando a alimentação.
Passarinho que bate asa
Que nunca abandona o ninho
Até que os filhotinhos
Batam azas e gorjeando
Saiam por aí voando
Construindo novos ninhos
Ampliando a criação...

PONTO FINAL

Apanhei a caneta,
que estava sobre a escrivaninha
e comecei a escrever,
no bloco que estava ao lado,
a carta de despedida.

Havia tomado uma decisão!

Um amor de tantos anos,
vivido com tamanha intensidade,
com total cumplicidade,
estava nos seus derradeiros momentos.

A impressão, é que
seria eterno, indissolúvel,
inquebrantável...

Mas acabou!
Sim... acabou definitivamente...
Não dava mais para continuar.

Porém, mais difícil que acreditar
era iniciar a missiva.

Rasguei a primeira folha...
Rasguei a segunda, e adentrei
a madrugada desfolhando o bloco
sem conseguir dar início ao texto
que pudesse explicitar a razão.

No alvorecer, na última folha,
em estado dúbio,sem saber começar,
escrevi apenas...
Não sei o que dizer... PONTO FINAL.

Fonte:
Colaboração do Poeta

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.97)


Uma Trova Nacional

No tédio quase infinito
desta saudade sem fim,
o próprio tédio, acredito,
já sente tédio... de mim!
(SÉRGIO F. DA SILVA/SP)

Uma Trova Potiguar

Saudade, visão esquiva
que a gente sente e não vê.
Se foge, fica mais viva.
Se fica, lembra você.
(FRANCISCO AMORIM/RN)

Uma Trova Premiada

2008 > ATRN-Natal/RN
Tema > IDADE > Venc.


Quem planta o amor tem na Paz
de uma velhice serena,
prazer de olhar para traz
e dizer: - "Valeu a Pena"!
(WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ/PR)

Simplesmente Poesia

– Thalma Tavares/SP –
CANÇÃO DE AMOR.

Meu olhar, qual veio d' água,
lavou de meu peito a mágoa...
Já não temo a ingratidão.
Assim, se um dia voltares
esquecerei meus pesares,
te estenderei minha mão.

Como outrora, quando a vida
nos sorria colorida
e eu tinha o teu coração,
terás de novo meus beijos,
meus carinhos, meus desejos,
meu ardor, minha paixão.

Pois só quem ama de fato
perdoa o parceiro ingrato,
muda o rancor em bondade...
Todo amor é um sonho alado,
é um pássaro encantado;
não vive sem liberdade.

Maior que a vida, que a morte,
o amor é sempre mais forte,
vence a própria eternidade;
muda em virtude o defeito,
vence a dor que oprime o peito...
Mas só não vence a saudade.

Uma Trova de Ademar

Muda-se a cor preferida;
troca-se a corda do sino;
muda-se tudo na vida;
mas não se muda o destino...
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

As almas de muita gente
são como o rio profundo:
-a face tão transparente,
e quanto lodo no fundo!...
(BELMIRO BRAGA/MG)

Estrofe do Dia

Guardei todos momentos que passei
de ternura, de carinho e de amor,
momentos que na vida mais gozei
e os momentos que mais eu senti dor.
O momento feliz da minha vida,
quando Deus me curou de uma ferida,
que os médicos diziam não ter jeito;
e apesar de hoje eu ser um mutilado,
guardo sempre as lembranças do passado
pra curar as feridas do meu peito.
(ADEMAR MACEDO/RN)

Soneto do Dia

– Divenei Boseli/SP –
A ESPERA.

Quando se espera um “algo” que não vem,
quando se espera um bem que não se alcança,
a espera dura até que a gente cansa,
se desespera e não mais crê no bem.

A última que morre é a esperança,
diz um provérbio antigo... eu vou além:
- o que esperar, se vejo, e muito bem,
que o sonho espera mas o tempo avança...

A Vida é um palco e eu, tensa, na platéia
espero em vão que se levante o pano
e surja o ator que o coração me abrase!

A peça que eu aguardo é uma odisséia
ou... uma comédia? Entanto, o desengano
me diz que já a vivi ou, talvez, quase...

Fonte:
Ademar Macedo

sábado, 15 de janeiro de 2011

Trova 189 - Colbert Rangel Coelho (RJ)

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.96)


Uma Trova Nacional

Ao responder a uma enquete,
o esportista beberrão
diz que prefere o basquete
por causa do garrafão!
(EDMAR JAPIASSU MAIA/RJ)

Uma Trova Potiguar

Já fiz tudo quanto pude
pra viver saudavelmente,
mas meu “plano de saúde”
deixa-me o bolso doente.
(ZÉ DE SOUZA/RN)

Uma Trova Premiada

1993 > Nova Friburgo/RJ
Tema > “LIVRE” > 1º Lugar

“PRESERVE O MEIO AMBIENTE.”
E o luso, lendo o letreiro:
“Mas por que MEIO somente
e não o ambiente inteiro?”
(PEDRO ORNELLAS/SP)

Simplesmente Poesia

MOTE : (AO POETA ADEMAR)
VOCÊ NÃO LEVOU CANGALHA;
POR QUE TANTA DOR NO LOMBO?

GLOSA :
Sei que o colega trabalha
como jumento andaluz,
mas, graças ao bom Jesus,
você não levou cangalha;
a carga da vida o malha,
mas nunca lhe deu um tombo;
no espinhaço não há rombo
nem marcas de pisadura.
Então, diga, criatura,
por que tanta dor no lombo?
(JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN)

Uma Trova de Ademar

Sem galinha cabidela,
sem ter arroz nem feijão,
hoje eu botei na panela
meu sapo de estimação!...
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

A cova do falecido
tinha tranca e cadeado.
Por ciúme desmedido
da viúva do coitado.
(CESAR TORRACA/RJ)

Estrofe do Dia

Dois mil e oito será
um ano extraordinário,
isso, porque dia “quinze,
de janeiro”, o calendário,
vai me deixar “prafrentex”.
Eu vou estar bem mais sexy
serei sexagenário!
(FRANCISCO MACEDO/RN)

Soneto do Dia

-Cláudio Manoel da Costa/MG-
SONETO III

Pastores, que levais ao monte o gado,
Vêde lá como andais por essa serra;
Que para dar contágio a toda a terra,
Basta ver-se o meu rosto magoado:

Eu ando (vós me vêdes) tão pesado;
E a pastora infiel, que me faz guerra,
É a mesma, que em seu semblante encerra
A causa de um martírio tão cansado.

Se a quereis conhecer, vinde comigo,
Vereis a formosura, que eu adoro;
Mas não; tanto não sou vosso inimigo:

Deixai, não a vejais; eu que lhe imploro;
Que se seguir quiserdes, o que eu sigo,
Chorareis, ó pastores, o que eu choro.

Fonte:
Ademar Macedo

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

João Justiniano da Fonseca (Antologia Poética)


A BELEZA DA VIDA

A beleza da vida está na própria vida,
nas flores do jardim, no fruto do pomar.
No amanhecer do dia, o sol vindo do mar,
ou da várzea, da serra - eterno na subida.

A beleza da vida está no conjugar
os rios, a floresta, e a comprida avenida...
Pista e velocidade, os pneus a rolar!
Ou, no espinho e na rosa? Ou na idade vivida?

A beleza da vida – o homem no trabalho,
no campo ou na cidade. A enxada. A pena. O malho.
Mover de sonho e fé, de luz, de cabedais.

A beleza da vida – o todo na impulsão
de tudo que se move. O amor, o coração...
O destino da paz, a paz. A íntima paz!

A MORTE DO SONHO

Era o sustento e a crença, a fé, o arrimo
em que me equilibrava para a luta.
Veio a ser desespero e dor - cicuta
que a esperança levou à morte e ao limo.

Assim mesmo o bendigo - ao sonho ardente
que, infinito, vivemos cem por cento
e ao ocaso passou. Gemia o vento
quando o sonho descia no poente...

Hoje, que tudo foi, direi apenas,
que as tuas rosas, dálias e açucenas,
murchas, guardei-as com o maior carinho...

Morreu, morreu! Vamos adiante, eu me erga,
ator no palco da tragédia grega
busque outro sonho, siga outro caminho...

AS PLANTAS DO SERTÃO

É um milagre do Eterno; não sei de onde
vem, a potente força com que vinga
a planta no Sertão, por mais que a ronde
e roa, da canícula a língua!

O umbuzeiro sagrado, na caatinga,
alarga, entrança e reentrança a fronde,
para se proteger do sol; e à míngua
da chuva, a água na raiz esconde.

Macambira, umburana, xiquexique,
têm as raízes ou o caule aquosos,
para que o sol não os seque e mumifique.

Em outras plantas, troncos mal porosos,
pode ser que a dureza justifique
a resistência aos raios venenosos.

CORAÇÃO DO VELHO

O coração do velho é a mansidão do lago,
a angústia do passado, a lembrança do sonho...
Roída pelo tempo, é uma raiz, suponho,
exposta, ressequida, à procura de afago.

O amor que se lhe dê, pesa tanto em conforto,
que sendo uma migalha, é por milhões que vale...
Se quer vê-lo feliz, do futuro lhe fale,
se quer vê-lo sofrer, lembre o passado morto...

Consente em rir e é sol, tão só porque lhe apontem
a gota de ilusão que a velha angústia acalma,
chora o belo perdido, as mágoas que se contem...

O coração do velho é a sensitiva da alma,
que marca desolada e triste, o riso do ontem,
tem lembrança e não fé, já não espera a palma...

O ESQUECIMENTO

Não dá para esquecer: Um sonho. Nos seus braços
Corria mansa a vida. O amor de adolescente
Ensejava a esperança e a fé. Primeiros passos
De um mundo idealizado – o futuro da gente.

Eu e você. A casa erguida na colina
No mais alto do topo. A fonte. O minadouro.
Um córrego descendo. A água cristalina
Banha meu corpo e o seu. Aqui nosso tesouro.

Vem o primeiro filho, agora somos três.
As vacas no curral. As cabras. As galinhas.
Crescia a vida. O tempo andava mês a mês.

E fomos quatro, cinco... O tempo, ano a ano
Levou a mocidade. Os filhos e as vizinhas...
De nós o esquecimento, em nós o desengano...

O TECELÃO DA VIDA

O tempo tece a vida fio a fio,
sem pressa e sem recuo na memória.
Como o curso das águas, vão, em rio,
um para o mar, o outro para a história.

Não pára o tecelão. A sua glória,
é a força do tear. E, como em cio,
a si se soma subtraindo a escória.
Ao fim da era é fósforo e pavio.

Explode em chamas ou submerge, ou oculto,
sobe ao espaço aéreo e aí se planta
por milênios sem pôr à mostra o vulto.

Renasce na pesquisa e se suplanta.
É o passado remoto. Cresce, e adulto,
às novas gerações empolga e espanta.

Fonte:
http://www.joaojustiniano.net/

João Justiniano da Fonseca (1920)



Poeta e ficcionista, com incursões na historiografia e na biografia.

Nasceu em Rodelas, Estado da Bahia, a 30 de junho de 1920, filho de Manoel Justiniano da Fonseca e Eufrosina Maria de Almeida.

Servidor Público, João tem um longo percurso de trabalho. Serviu ao Exército Nacional entre 1940 e 1944, tendo aí realizado o curso de formação de graduados - sargento.

Preparou-se para a vida por via de cursos intensivos, para realizar concursos públicos. Nesses cursos estudou, além da matéria de conhecimentos gerais, matemática, contabilidade geral e pública, geografia, voltada especialmente para informações sobre portos marítimos e fluviais, direito tributário, direito administrativo, direito comercial, direito civil e direito penal na área de crimes contra a administração pública.

Tem aprovação nos concursos públicos então realizados pelos extintos - Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP) e Departamento Estadual de Serviço Público (DSP\BA), para Escrivão de Coletoria Estadual (Bahia) Fiscal de Rendas do Estado (Bahia), Escrivão de Coletoria Federal e Agente Fiscal do Imposto de Consumo, cargos reestruturados com denominação outra. Exerceu, por concurso público, os cargos de Auxiliar de Coletoria Federal, Escrivão de Coletoria Federal e Agente Fiscal do Imposto de Consumo, correspondente, na atual nomenclatura, a Auditor Fiscal da Receita Federal.

Em comissão, passou pelos cargos de Inspetor de Coletorias Federais, Fiscal do Selo nas Operações Bancárias, Inspetor Fiscal do Imposto de Consumo e Inspetor Fiscal de Rendas Internas na área federal; Assessor Técnico de Planejamento na área estadual (Bahia) e Diretor Administrativo Financeiro da extinta COHAB/SALVADOR, na área municipal.

Aposentou-se como Auditor Fiscal da Receita Federal com redução de tempo de serviço, como participante de operações bélicas.

Nomeado posteriormente para o cargo vitalício de Conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios do Estado da Bahia, renunciou a aposentadoria federal para exercer o novo cargo, no qual veio a aposentar-se em 1990, encerrando, então, sua carreira no serviço público. Exerceu, ainda, o mandato eletivo de Prefeito de sua terra natal no período 1967/1971 e posteriormente o mandato de vereador.

Obra Literária:
Safiras e Outros Poemas (poesia lírica),
Sonhos de João (poesia lírica),
Brados do Sertão (poesia épico-social),
Sonetos de Amor e Passatempo, Rio Grande do Sul (poesia vária).
Luiz Rogério de Sousa - Educador Emérito (resumo biográfico e coroa de sonetilhos),
Cacimba Seca (romance),
Terra Inundada (romance),
Grilagem (romance),
Aquele Homem (romance),
Rodelas - Curraleiros, Índios e Missionários (história da colonização na região das corredeiras do Rio São Francisco),
Sertão, Luz e Luzerna (contos),
Cantigas de Fuga ao Tédio (poesia lírica),
Memórias de Pedro Malaca (romance).

É editor da Revista da POEBRAS SALVADOR, no 4o número em 2002.

Instituições culturais a que pertence

1 - Academia Rio-grandense de Letras, acadêmico correspondente;
2 - Academia Goianiense de Letras, cadeira nº 47;
3 - Academia Petropolitana de Letras, sócio correspondente, cadeira nº 103;
4 - Academia Petropolitana de poesia Raul de Leoni, sócio correspondente;
5 - União Brasileira de Trovadores, seção de salvador;
6 - Casa do Poeta Rio Gradeasse - C.A.P.O.R.I., sócio correspondente nº 761;
7 - Clube baiano de Trova - CBT, sócio efetivo nº 12;
8 - POEBRAS - Casa do poeta Brasileiro em Salvador, presidente e editor da revista.

É verbete na Enciclopédia de Literatura Brasileira, de Afrânio Coutinho, 1990 e 2001, verbete no Dicionário de Poetas Contemporâneos, de Francisco Igreja, 2a edição, 1991.

Fonte:

14a. Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo (Convite)

clique sobre a imagem para ampliar

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.95)


Uma Trova Nacional

O acaso foi caprichoso
e agendou tua chegada,
mas o destino, maldoso,
te fez página arrancada!
(ELISABETH SOUZA CRUZ/RJ)

Uma Trova Potiguar

Pirilampos – trovas soltas
nas ribeiras do sertão,
são faíscas semi-envoltas
nas tintas da escuridão.
(ANTÍDIO AZEVEDO/RN)

Uma Trova Premiada

1975 > Nova Friburgo/RJ
Tema > ENCONTRO > 1º Lugar.

Eu e tu, duas metades
que a vida vai separando...
Eu e tu, duas saudades
na saudade se encontrando...
(IZO GOLDMAN/SP)

Simplesmente Poesia

MOTE:
Eu passei a vida inteira
colecionando ilusões!...

GLOSA:
A desilusão primeira,
não me serviu de lição.
Viví sempre, com emoção,
a tomar por verdadeira
uma promessa, uma jura...
E, assim, cheia de ternura
eu passei a vida inteira.
Acreditei nas paixões,
numa amizade sincera,
e também no amor que impera
quando enlaça corações.
Sou mesmo assim... Que fazer?
Sei que vou envelhecer
colecionando ilusões!...
(ZENAIDE MARÇAL/CE)

Uma Trova de Ademar

Perdê-la, sempre me assusta,
vivo em sua dependência,
só eu sei quanto me custa
suportar a sua ausência.
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

A dor que meu peito invade
vem sempre quando eu me deito:
de tanto sentir saudade,
já tenho um calo no peito!
(EDMILSON F. MACEDO/MG)

Estrofe do Dia

Eis o baixo meretrício,
lugar que a mulher perdida
joga sua própria vida
na corrupção e no vício,
no mais miserável ofício,
cada uma se envolvendo,
trocando beijos, bebendo,
tomando a pulso e pedindo;
manchando a alma e sorrindo,
vendendo a carne... E comendo.
(MANOEL BELARMINO/PB)

Soneto do Dia

– Carolina Ramos/SP –
MINHA AMIGA.

Ah! Poesia...Poesia... quanto eu devo
à tua bênção repousante e pura!
Nos versos pobres, que a sonhar escrevo,
vejo crescer à luz minha ventura!

Nos instantes contigo, dás-me o enlevo
da amizade leal. Tua ternura
leva-me à confidência – a ti, me atrevo
a erguer o véu, se a angústia me tortura!

Com teu calor, se o inverno se avizinha,
devolves-me a ilusão das primaveras!
Nos teus braços, eu chego a ser rainha!

Ah! Poesia, que em versos eu bendiga
tudo o quanto me deste! E, se o não deras,
bastaria saber... que és minha Amiga!

Fonte:
Ademar Macedo

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Inoema Nunes Jahnke (Livro de Poesias)


IMORTAL

Procuro uma canção
Em que meu amor se reconheça,
Apenas uma melodia
Capaz de alegrar o dia,
Fácil de cantarolar
Como é amar,
Um solo de violão
Que bata na batida do coração,
Que pra se reconhecer
Não tenha que prestar atenção,
Onde até os desatentos
Possam sentir a alegria do amor,
Amor imortal como a vida,
Que renasce a cada batida.

CORAÇÃO GUERREIRO

Na tua ira recai impiedosa maldade
Dissoluto do amor guerreiro,
Esgotado, vencido...
Se faz pesado o fardo
De amar sem ser notado,
Amor só de um lado,
Amor renegado,
Guerreiro vencido em batalha,
Surrado, abatido, cansado,
Desmorona em meu peito
Acalenta em meu seio
Retorna a mim
Coração guerreiro,
Tua luta é minha luta,
Tuas dores são minhas lágrimas,
Tua saudade é minha agonia,
Tua história é minha vida,
Teu desespero é minha salvação,
Pois retorna à Deus
O coração que amou,
E a alma que sofreu
Só aprendeu.

CORPO E ALMA

Sou como um belo jardim de flores do campo
Cercado por uma bela cerca de madeira
Toda pintada de branco...

No jardim à vida tem razão pra existir
Pra alegrar os olhos de quem o refletir,
Das margaridas o perfume, impossível confundir
Que mesmo longe dali é capaz de se sentir.

A cerca é a moldura de paisagem tão serena
Contida em seu jardim...
A alma dentro de mim.

Um dia, toda amadeira perecerá
Por mais cuidado que se tenha
Por melhor que seja a lenha,
Um dia se extinguirá.

O jardim não mais contido
Pela cerca de madeira,
Lançará ao vento seu pólen
Fecundará outra terra,
-Viverá em outro jardim-

A moldura será outra
Branca, amarela, vermelha
Outra, bela cerca de madeira!

Que emoldura o jardim
Que hoje...
Desabrocha dentro de mim

ESPERANÇA

Eu sou o sorriso sincero,
Sou o medo na solidão,
Sou a dúvida sussurrada,
E a resposta encontrada,
Sou a saída, e a chegada,
Na mesma estrada,
Sou a luz na escuridão,
A ternura no coração,
Sou o sorriso da criança,
Eu sou...A própria esperança.

SAUDADE

Se do nada uma lágrima
Rolar no seu rosto...
Não tente entender,
Se mesmo, sem você querer,
Outra lágrima teimar
Em embaçar teu sorriso...
Não procure nem tente entender,
Com certeza e teu coração,
Com vontade de me ver.

REFÚGIO

Só estou, e só fico
A solidão é meu refúgio,
Meu instante de meditação,
De escutar meu coração,
No silêncio mudo
Transcendo o mundo,
Em absoluta união
Numa contemplação,
Que foge a qualquer compreensão.

LASCIVA

Sou madrugada que chora sozinha,
Chuva que se perde em poças
E escorre pelos bueiros
A despertar a madrugada...
Em teus olhos vejo-me refletida
Ofuscada na retina do teu olho
Feito água na poça d’água
Escorrendo no teu corpo...
As linhas que traçam teu rosto
Revelam um sorriso jocoso,
Talvez, teus braços sejam o bueiro
Que desnuda minha alma
E recebe o meu corpo...

Ali, meu corpo se acalma
Repousando no teu peito
Feito rio e leito...

JANELA DA EMOÇÃO

Beijar eu já beijei
Alguns morrerão na boca
Outros queimarão em vão,
Já dei beijos de despedida
Que marcaram minha vida,
Beijar eu já beijei
Alguns mornos, mas, nunca frios
Uns deram tremedeira, outros arrepio,
...O beijo que não esqueço
Deu choque na janela da emoção
E trancou o amor dentro do meu coração!

É PRECISO

É preciso que a saudade machuque de verdade,
Que leve ao vento as lágrimas
Envoltas em pensamentos,

É preciso, que a ausência seja sentida...doída
Que se relembre a partida
E se anseie o retorno,

É preciso sentir a inquietude do desejo
Que não cessa e arranca o sossego,

A vida assim, jamais cansa...
Renova-se na esperança!

COMPAIXÃO PELA VIDA

Do nada uma freada,
Uma trombada...
E num segundo
Tudo se apaga.

Bebida, velocidade...
Imprudência, fatalidade...
Culpados e inocentes
Vidas perdidas simplesmente.

Acabou a vida promissora,
Acabou o futuro brilhante,
Mais um na estatística
Desta tragédia constante.

Partisse uma família,
Acabou a alegria,
Acabou o sorriso do pai...
Acabou o sorriso da filha.

Acabou mais uma vida,
Desperdiçada nas estradas,
Acabou!... E não se faz nada?
Acabou, acabou, acabou...

Choram os pais...
Choram os filhos,
Choram os amores...
Choram as dores,
Choram os amigos...
Choram comigo!

O FIM

Percebo o fim; mas tenho medo,

É tão triste!... A idéia assusta,
É minha a culpa!... Sua?
Não importa!...
São tantos beijos
Tantos anos,
Tanta vida jogada fora...
Vira um nada, um passado,
Chorar não adianta,
Mas como não chorar,
Lutar pra que,
Contra o que?
O tempo ninguém para, nada muda...
Mas eu sinto!... Pressinto o inevitável,
Então, porque não ter
A mesma intensidade,
A mesma força,
E eis minha esperança,
Que o inevitável fim...
Seja pra você, e pra mim.
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Sobre a Poetisa

Inoema Nunes Jahnke (1971)
Inoema Nunes Jahnke gaúcha de Pelotas, nasceu no dia dezesseis de agosto em 1971, empresária na área de software atualmente reside em Cachoeirinha, Rio grande do Sul, esposa e mãe, a escritora dedica boa parte do tempo à poesia, em 2008 publicou seu primeiro livro"Imortal", em 2009 publicou o segundo, autora de poesias consagradas como “Orgulho gaúcho” e “Compaixão pela vida”, acredita no amor e no poder da poesia de emocionar e inspirar os corações!

Fontes:
http://inoemaescritora.blogspot.com/
http://www.poesias.omelhordaweb.com.br/
http://www.artistasgauchos.com.br/

Luis Fernando Verissimo (Vitor e seu Irmão)



Não era prevenção. A professora tinha o cuidado de tratar todos os seus alunos da mesma maneira.

Pelo menos, se esforçava para isto. Mas, com o Vitor, ela sempre estava com um pé atrás. O Vitinho era um caso à parte.

— Qual é a população do Brasil?

Um aluno levantou a mão e leu a resposta que estava no livro.

— Cento e vinte milhões.

O Vitor levantou a mão. A professora sentiu um vazio na barriga. Lá vinha ele.

— O que é, Vitinho?
— Cento e vinte e um milhões. (*)
— Por que, Vitinho?
— Minha mãe teve um filho esta semana.

Uma risadinha correu pela sala, mas o Vitor ficou sério. Estava sempre sério.

— Quantos filhos a sua mãe teve, Vitor?
— Até agora?
— Não, desta vez.
— Um. Mas dos grandes.

Outra risadinha, como marola na superfície de um lago.

— Então não são cento e vinte e um milhões. São cento e vinte milhões e um.

E a professora escreveu o número no quadro-negro. Depois apontou para o um no fim do número e disse:

— Este aqui é o seu irmãozinho, Vitor.

Depois, antes mesmo do Vitor falar, ela se deu conta de como aquele um parecia solitário, no fim de tantos zeros.

— Coitadinho do meu ermão.
— Irmão, Vitor. E é claro que este número não é exato. Tem gente nascendo e morrendo a todo momento...
— Lá no hospital tava cheio de crianças. Será que já contaram?
— Não sei, Vitor, eu...
— Bota mais uns dois ou três pra acompanhá meu ermão, tia.

Ela teve que rir junto com os outros.

— Você, hein, Vitinho? Com você eu tenho que ficar sempre com um pé atrás.
— Cuidado pra não caí pra frente, tia.
— Chega, Vitor!

Outro caso era o da Alicinha, que se espantava com tudo. Era só a professora dizer, por exemplo, que a capital do Brasil era Brasília e a Alicinha arregalava os olhos e exclamava:

— Brasília?!
— É, Alice. Por quê?
— Nada.

Depois ficava com aquela cara de que só ela era certa no mundo de loucos, onde se viu a capital do Brasil ser Brasília, mas era melhor deixar pra lá. Um dia a professora disse que o Brasil tinha 8.000 km de costa marinha e ficou esperando a reação da Alicinha.

Nada.

— O Brasil é banhado pelo oceano Atlântico.
— Atlântico?!
— É, Alice.
— Desde quando?
— Desde sempre, Alice.
— Eu, hein?

"Eu, hein" era mortal. "Eu, hein" era de matar, mas a professora precisava se controlar. Entre o Vitinho e a Alicinha ainda acabaria louca.

(*) É claro que este livro foi escrito há alguns anos. Hoje são mais de cento e sessenta milhões.

Fonte:
VERISSIMO, Luis Fernando. O Santinho. Ed. Objetiva, 2002.

Livro de Sonetos I

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Héron Patrício (São Paulo – SP)
COLHEITA

É no riscar do solo, no trabalho
que torna o chão estéril em fecundo;
é na escolha do bom e melhor talho
que o arado irá ferir, de leve ou fundo…

É, do nascer do sol que seca o orvalho
até depois que o dia, moribundo,
busca da noite o fúnebre agasalho,
que o lavrador não pára, um só segundo…

E é, juntando esperanças às sementes,
com chuva certa e sol – sempre presentes -,
que a recompensa vem, mais que perfeita,

pois o plantio, para Deus, é prece
que tem resposta pronta… quando a messe
transborda no celeiro, na colheita!…

Cecim Calixto (Curitiba – PR)
COLHEITA DA FÉ

É pouca chuva! E o sol sem dó castiga
a terra arada que semente espera.
A luta insana não lhe traz fadiga
e nem fenece a singular quimera.

A vocação não lhe sugere briga
e nem o ódio o coração verbera.
Chuva madrinha há de lhe dar a espiga
que no paiol o dissabor supera.

Vai à capela e de emoção se agita
e ao Lavrador que lá no céu habita
em pranto implora tudo a nova empreita.

E a chuva cai… tão silenciosa veio…
para alegria do celeiro cheio
e à gratidão pela integral colheita.

Maurício Pindamonhangaba Cavalheiro (Pindamonhangaba – SP)
COLHEITA PARA DEUS

Enquanto o sol, no repousar, se atrasa
asseverando a seca que prospera,
o sertanejo, em vão, se desespera
ao ver o filho delirar em brasa.

A fome e a sede expostas pela casa
ceifam-lhe a fé, enquanto à cruz, pondera:
“Plantei e o chão rachado não coopera…
por que a miséria, a minha vida, arrasa?”

Nisso uma lágrima, do Cristo, escorre
no mesmo instante em que o menino morre
sem que pudesse dar, ao pai, adeus.

E um anjo chega nesse anoitecer
envolto em luz para no amor colher
mais uma flor para o jardim de Deus.

Thereza Costa Val (Belo Horizonte – MG)
COLHENDO VERSOS

O pensamento enchi de lindos versos
colhidos em leituras fascinantes;
dentro do coração, deixei imersos
meus sonhos de poeta, fervilhantes.

Na mente e no papel, tracei diversos
esboços de poemas, incitantes…
O tempo foi passando… e pôs dispersos
meus sonhos, ideais e os planos de antes,

mas nunca reneguei esta magia
que, em mim, exerce ainda a Poesia.
E vi chegado o dia da colheita!

Vesti-me de emoções – a idéia feita –
e, no papel em branco que escolhi,
o soneto nasceu… e eu o colhi!

Thereza Costa Val (Belo Horizonte – MG)
CONSELHOS PARA A COLHEITA

Busca plantar sorrisos no caminho,
tenta esconder as queixas, amargores…
Os bons momentos sorve, como um vinho
ou, talvez, o mais doce dos licores.

Com alegria e amor, constrói teu ninho
e segue pela vida, sem temores.
Evita pôr teu passo em descaminho,
as más palavras cerca, com rigores.

Busca plantar a paz, cada momento,
e o sonho replantar, em novo alento,
se tudo parecer desmoronar…

Mantém tua esperança sempre à espreita:
na vida, existe o tempo da colheita
do bem que se viveu sempre a plantar.

Pedro Ornellas (São Paulo – SP)
GENEROSIDADE

Pergunta um jovem intrigado ao ver
plantando uma figueira um ancião:
“Antes que cresça, é certo, irás morrer…
não vais colher – por que plantar então?”

Responde o velho, o moço a comover,
deixando ali bem forte uma lição:
“Plantar, meu filho, é o que me dá prazer…
não vou colher, eu sei, mas vocês vão!”

Que não te esqueças nunca de ser grato
pelo alimento que te chega ao prato
que alguém plantou com generosidade…

Planta também o bem na vida afora
que se não tens a recompensa agora
vais receber bem mais na eternidade!

Roberto Resende Vilela (Pouso Alegre – MG)
MOMENTOS DE REFLEXÃO

Quem acha caro o que produz a roça
nada sabe de lá. Também ignora
quem, já no alvorecer, deixa a palhoça
e volta quando o Sol se foi embora!

Nem pode avaliar o que destroça
(o estio… a enchente…) sem marcar a hora;
e às vezes leva tudo… até a carroça!…
- Só não carrega o coração que chora!

Tais momentos exigem reflexão;
que não se faça a mínima desfeita
àquele que do solo tira o pão

que mata a fome da família e a fome
de quem nunca fez parte da colheita,
não conhece, não viu, nem sabe o nome!

Edmar Japiassú Maia (Rio de Janeiro – RJ)
O TOLO E O SÁBIO

- O que colheste nesta vida, amigo?…
pergunta o tolo ao sábio que o escuta.
Só te vejo empenhado na labuta,
como se a vida fosse o teu castigo.

- E o que colhes na tua, ele refuta,
se tens na ociosidade o teu abrigo?
Quem busca o florescer de um Bem antigo,
semeia o fértil solo que desfruta…

O amor é um grão que o humano fertiliza,
que faz brotar a floração precisa,
para a divina graça da colheita…

E conclui, ante o tolo, com paciência:
- Um coração plantado de indulgência,
por amor, a Seu jeito, Deus ajeita!

Alba Helena Corrêa (Niterói – RJ)
SEMEADURA DO BEM

Imita o agricultor em tua vida;
verás o quanto é nobre semear.
Repara – sempre a terra agradecida,
com flores, frutos, vai recompensar.

O ser humano que na sua lida
espalha o bem sem disso se ufanar,
terá colheita farta, garantida,
e, lá, no céu, terá o seu lugar.

Sejamos, pois, fraternos lavradores;
sem esperar por glórias ou louvores,
plantemos, na existência, o bem-querer.

Qual árvores deixemos sombra amiga;
talvez o nosso esforço alguém bendiga
ao estender as mãos para colher!

José Tavares de Lima (Juiz de Fora – MG)
TEMPO DE COLHEITA

Semeia a benquerença pelo mundo,
indiferente ao tanto da colheita…
O solo semeado é mais fecundo
se a plantação só por amor for feita!

Perdoa, que o perdão quando oriundo
de uma fonte sincera, a Deus deleita.
Mata no peito o teu rancor profundo,
e, com sorrisos, tua vida enfeita.

Estende tua mão à dor alheia;
reparte com famintos tua ceia;
ampara contra o frio o descoberto…

Mas segue, atentamente, esta sentença:
não ajudes pensando em recompensa,
que a colheita virá no tempo certo!

Fonte:
Academia de Letras de Maringá