sexta-feira, 13 de julho de 2018

Élton Carvalho (1916 – 1994)

Élton Carvalho nasceu em Vila Isabel, no Rio de Janeiro, no dia 29 de agosto de 1916. Casou-se com a Trovadora Maria Nascimento Santos Carvalho em 29 de julho de 1969, com quem viveu até a morte.

Iniciou sua carreira militar na Arma de Infantaria do Exército Brasileiro e, graças aos seus esforços e dedicação, pôde encerrar a carreira como General-de-Divisão, depois de permanecer na ativa por mais de quatro décadas. Exerceu, por muitos anos, a função de Professor Catedrático de Filosofia, no Colégio Militar.

A partir de 1970, ingressou, como Professor, na Escola Superior de Guerra, tendo realizado mais de 100 Conferências em todo o território nacional. Em 1983, Élton reformou-se.

Filiado à UBT-Rio de Janeiro, detinha o título de “Magnífico Trovador” em Nova Friburgo, sendo um nome conhecidíssimo no movimento trovadoresco, principalmente por seus livros de humor. 

Faleceu no Rio de Janeiro, em 03 de março de 1994.

Obras: 
Mestre na difícil modalidade trovas humorísticas, Élton produziu dois livros exclusivamente com trovas de humor: “Sogra, Coroa, Bebida e outras Bombas” (1974) com 200 trovas e “Sogra & Outras Piadas” (1993) com 250 trabalhos. Além disso, publicou também “Instantâneos” (1973), com 200 Trovas líricas e filosóficas; “Ciranda de Sonhos” (1979), com 200 trovas líricas e filosóficas); “Aquarelas” (1981) com 500 trovas líricas e filosóficas; “Rosas na Pedra” (1984) com 40 poemas e 25 sonetos. E um mini romance: “A História do Sapateiro”.

Fonte:
União Brasileira de Trovadores Porto Alegre - RS. Trovas de Maria Nascimento 
Santos Carvalho e Élton Carvalho. Coleção Terra e Céu, vol. C. Porto Alegre/RS: Texto Certo, 2017.

Nilto Maciel (Quem Tiver Ouvidos, Ouça)


No julgamento histórico dos Lobos, os juízes e acusadores, condignamente trajados, ora fumavam, ora cochilavam, ora bebiam água.

Horas e dias assim, fatigantes, calorentos, palavrosos. Os réus amparavam-se uns nos outros, comunicavam-se entre si por gestos, códigos, ruídos imperceptíveis aos homens da corte. Os mais sagazes sempre arranjavam jeito de transmitir a melhor resposta aos mais ingênuos. E conseguia o grupo enfurecer cada vez mais os gordos e imprevisíveis julgadores.

– Responda você – o juiz-presidente apontou para um dos acusados – sem errar, sem tomar fôlego: quem foram Remo e Rômulo?

O Lobo apontado olhou para cada um de seus companheiros, piscou os olhos, gaguejou. O inquisidor martelou a mesa, queria resposta pronta.

– Foram dois homens...

Na sala de audiências, a respiração de todos parou, juízes e acusadores de olhos vidrados, grudados na boca entreaberta do Lobo.

– Então?

E de novo o arfar dos peitos, o cair das mãos, o bater das pálpebras, o chiar dos lábios fizeram a sala viver.

– Vocês são uns néscios. Qui habet aures, audiat. Pois saibam que Remo e Rômulo foram amamentados e criados por uma loba. Apesar disso, a espécie lupina não deixa de ser cruel, desnaturada, selvagem.

– Como assim, se até salvamos homens, conforme vocês mesmo dizem?

– Não confunda alhos com bugalhos, idiota. Uma única boa ação não pode servir de atenuante, quando o acusado praticou mil crimes inomináveis.

– No entanto, essa única boa ação é a base de toda a história do homem ocidental.

Os julgadores e acusadores reagiram em cadeia. O Lobo acabava de dizer a maior tolice do mundo. Só podia ser um louco. Achincalhava a Justiça Humana.

– Deixem-me concluir: sem Rômulo e Remo, não teria sido fundada Roma. E, se Roma não tivesse sido fundada, não teriam existido os Césares, o Império, a República, a civilização romana. Nero não teria existido, nem o incêndio nem o latim. Qui habet aures, audiat. Sem o amor e o leite da loba, os gêmeos não teriam sobrevivido. Logo, a Loba é a matriz de Roma e, em consequência, da civilização ocidental.

– Isso é loucura. Vocês são uns loucos. Falam como loucos.

– Não, excelências, somos apenas lobos e como lobos falamos.

O juiz-presidente bateu o martelo na tábua da mesa, ordenou silêncio e gritou:

– A partir de agora fica incorporado ao Código Penal o seguinte artigo:

“Quem for lobo e como ele falar, será condenado à morte pela caça, pelo desmatamento, pela poluição.”

Fonte:
Nilto Maciel. Babel (contos). 
Brasília/DF: Editora Códice, 1997.

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Prof. Garcia (Sonetos Avulsos)


CREPÚSCULO E AURORA

Quando a luz do arrebol rasga a cortina,
e o clarão da manhã, o céu decora,
todo o orvalho respinga da campina,
matizando de prata a luz da aurora!

A tristeza do sol se descortina,
ante a tarde que chega, e se apavora:
o crepúsculo triste, na retina,
diz que um velho gigante também chora!

Ao nascer, chega ungido de esplendor,
traz na luz, esperança, paz e amor,
mas, à tarde, começa a entristecer...

Desse jeito caminha o sol do esteta:
De manhã, é feliz por ser poeta,
e à tardinha, é a luz do entardecer!

ANGÚSTIA

Quando tu foste embora, a minha vida
transformou-se em saudade e nostalgia
e a lembrança da triste despedida
é o que mais me tortura e me angustia.

Eu te busco a vagar, qual nau perdida,
mas o amor não responde e silencia:
e a lembrança de ti, nunca esquecida,
é o farol da saudade que me guia.

Eu preciso encontrar-te e tenho pressa,
pois um amor que se vai e não regressa,
deixa marcas profundas de orfandade;

se o meu peito carrega este segredo,
ou tu rasgas os fios deste enredo
ou o meu peito se rasga de saudade!

RETRATO DA VIDA

Já fui moço, seu moço, e não me esqueço
do que fiz na mais tenra mocidade.
Deus, que é pai, me deu tudo que mereço,
neste mundo carente de bondade.

Este dom de poeta eu ofereço
aos amores da eterna flor da idade,
que fizeram de tudo um recomeço,
afastando de mim tanta saudade.

Mas o tempo não para e a vida passa,
e eu me vendo, no espelho, já sem graça,
conto as rugas que aumentam meu desgosto...

E me pondo a pensar no que já fiz,
rogo a Deus, que me faça ser feliz,
abraçando estas rugas do meu rosto!

DOIS DESTINOS

Se o destino cruzou nossos caminhos,
e traçou retilíneas paralelas,
seguiremos nas trilhas dos sozinhos
eu e tu, todos dois, escravos delas.

Nossos sonhos repletos de carinhos,
tantas juras de amor, puras, tão belas,
serão, hoje, contadas noutros ninhos
ou nas telas de lindas aquarelas.

Quando tu me juraste eterno amor,
não pensei que o destino traidor
tinha feito, de nós, dois peregrinos.

Dessas juras de amor que segredamos,
resta apenas, do pouco que guardamos,
a saudade sem fim dos dois destinos.

ETERNO SONHAR

Quem me dera viver a infância linda,
sentir de novo a minha mocidade,
para esquecer a mágoa que não finda,
ao lembrar na velhice, a flor da idade.

Esta lembrança me atormenta ainda,
adormece comigo no meu leito,
apesar da distância, é dor infinda
que desperta a saudade no meu peito.

De saudade em saudade, a vida passa,
deixa o pó da velhice já sem graça,
no lugar dos momentos mais risonhos...

Só não rouba esta minha paz divina,
que a distância me guia e me ilumina,
"a cintilar no espaço dos meus sonhos"!

Fonte:
Francisco Garcia de Araújo. Cantigas do meu cantar. 
1. ed. Natal/RN: CJA Edições, 2017.

Lima Barreto (Três gênios de secretaria)


O meu amigo Augusto Machado, de quem acabo de publicar uma pequena brochura aliteratada – Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá – mandou-me algumas notas herdadas por ele desse seu amigo, que, como se sabe, foi oficial da Secretaria dos Cultos. Coordenadas por mim, sem nada pôr de meu, eu as dou aqui, para a meditação dos leitores:

“ESTAS MINHAS memórias que há dias tento começar, são deveras difíceis de executar, pois se imaginarem que a minha secretaria é de pequeno pessoal e pouco nela se passa de notável, bem avaliarão em que apuros me encontro para dar volume às minhas recordações de velho funcionário. Entretanto, sem recorrer a dificuldade, mas ladeando-a, irei sem preocupar-me com datas nem tampouco me incomodando com a ordem das coisas e fatos, narrando o que me acudir de importante, à proporção de escrevê-las. Ponho-me à obra.

Logo no primeiro dia em que funcionei na secretaria, senti bem que todos nós nascemos para empregado público. Foi a reflexão que fiz, ao me julgar tão em mim, quando, após a posse e o compromisso ou juramento, sentei-me perfeitamente à vontade na mesa que me determinaram. Nada houve que fosse surpresa, nem tive o mínimo acanhamento. Eu tinha vinte e um para vinte e dois anos; e nela me abanquei como se de há muito já o fizesse. Tão depressa foi a minha adaptação que me julguei nascido para ofício de auxiliar o Estado, com a minha reduzida gramática e o meu péssimo cursivo, na sua missão de regular a marcha e a atividade da nação.

Com familiaridade e convicção, manuseava os livros – grandes montões de papel espesso e capas de couro, que estavam destinados a durar tanto quanto as pirâmides do Egito. Eu sentia muito menos aquele registro de decretos e portarias e eles pareciam olhar-me respeitosamente e pedir-me sempre a carícia das minhas mãos e a doce violência da minha escrita.

Puseram-me também a copiar ofícios e a minha letra tão má e o meu desleixo tão meu, muito papel fizeram-me gastar, sem que isso redundasse em grande perturbação no desenrolar das coisas governamentais.

Mas, como dizia, todos nós nascemos para funcionário público. Aquela placidez do ofício, sem atritos, nem desconjuntamentos violentos; aquele deslizar macio durante cinco horas por dia; aquela mediania de posição e fortuna, garantindo inabalavelmente uma vida medíocre – tudo isso vai muito bem com as nossas vistas e os nossos temperamentos. Os dias no emprego do Estado nada têm de imprevisto, não pedem qualquer espécie de esforço a mais, para viver o dia seguinte. Tudo corre calma e suavemente, sem colisões, nem sobressaltos, escrevendo-se os mesmos papéis e avisos, os mesmos decretos e portarias, da mesma maneira, durante todo o ano, exceto os dias feriados, santificados e os de ponto
facultativo, invenção das melhores da nossa República.

De resto, tudo nele é sossego e quietude. O corpo fica em cômodo jeito; o espírito aquieta-se, não tem efervescências nem angústias; as praxes estão fixas e as fórmulas já sabidas.

Pensei até em casar, não só para ter uns bate-bocas com a mulher, mas, também, para ficar mais burro, ter preocupações de “pistolões”, para ser promovido. Não o fiz; e agora, já que não digo a ente humano, mas ao discreto papel, posso confessar porque. Casar-me no meu nível social, seria abusar-me com a mulher, pela sua falta de instrução e cultura intelectual; casar-me acima, seria fazer-me lacaio dos figurões, para darem-me cargos, propinas, gratificações, que satisfizessem às exigências da esposa. Não queria uma nem outra coisa. Houve uma ocasião em que tentei solver a dificuldade, casando-me, ou coisa que o valha, abaixo da minha situação. É a tal história da criada... Aí foram a minha dignidade pessoal e o meu cavalheirismo que me impediram.

Não podia, nem devia ocultar a ninguém e de nenhuma forma, a mulher com quem eu dormia e era mãe dos meus filhos. Eu ia citar Santo Agostinho, mas deixo de fazê-lo para continuar a minha narração...

Quando, de manhã, novo ou velho no emprego, a gente se senta na sua mesa oficial, não há novidade de espécie alguma e, já da pena, escreve devagarinho: “Tenho a honra”, etc., etc.; ou, republicanamente, “Declaro-vos, para os fins convenientes”, etc., etc. Se há mudança, é pequena e o começo é já bem sabido: “Tenho em vistas”... – ou “Na forma do disposto”... 

Às vezes o papel oficial fica semelhante a um estranho mosaico de fórmulas e chapas; e são os mais difíceis, nos quais o doutor Xisto Rodrigues brilhava como mestre inigualável. O doutor Xisto já é conhecido dos senhores, mas não é dos outros gênios da Secretaria dos Cultos. Xisto é estilo antigo. Entrou honestamente, fazendo um concurso decente e sem padrinhos. Apesar da sua pulhice bacharelesca e a sua limitação intelectual, merece respeito pela honestidade que põe em todos os atos de sua vida, mesmo como funcionário. Sai à hora regulamentar e entra à hora regulamentar; não bajula, nem recebe gratificações.

Os dois outros, porém, são mais modernizados. Um é “charadista”, o homem que o diretor consulta, que dá as informações confidenciais, para o presidente e o ministro promoverem os amanuenses. Este ninguém sabe como entrou para a secretaria; mas logo ganhou a confiança de todos, de todos se fez amigo e, em pouco, subiu três passos na hierarquia e arranjou quatro gratificações mensais ou extraordinárias. Não é má pessoa, ninguém se pode aborrecer com ele: é uma criação do ofício que só amofina os outros, assim mesmo sem nada estes saberem ao certo, quando se trata de promoções. Há casos muito interessantes; mas deixo as proezas dessa inferência burocrática, em que o seu amor primitivo a charadas, ao logogrifo e aos enigmas pitorescos pôs-lhe sempre na alma uma caligem de mistério e uma necessidade de impor aos outros adivinhação sobre ele mesmo. Deixo -a, dizia, para tratar do “auxiliar de gabinete”. É este a figura mais curiosa do funcionalismo moderno. É sempre doutor em qualquer coisa; pode ser mesmo engenheiro hidráulico ou eletricista. Veio de qualquer parte do Brasil, da Bahia ou de Santa Catarina, estudou no Rio qualquer coisa; mas não veio estudar, veio arranjar um emprego seguro que o levasse maciamente para o fundo da terra, donde deveria ter saído em planta, em animal e, se fosse possível, em mineral qualquer. É inútil, vadio, mau e pedante, ou antes, pernóstico.

Instalado no Rio, com fumaças de estudante, sonhou logo arranjar um casamento, não para conseguir uma mulher, mas, para arranjar um sogro influente, que o empregasse em qualquer coisa, solidamente. Quem como ele faz de sua vida, tão-somente caminho para o cemitério, não quer muito: um lugar em uma secretaria qualquer serve. Há os que veem mais alto e se servem do mesmo meio; mas são a quintessência da espécie.

Na Secretaria dos Cultos, o seu típico e célebre “auxiliar de gabinete”, arranjou o sogro dos seus sonhos, num antigo professor do seminário, pessoa muito relacionada com padres, frades, sacristões, irmãs de caridade, doutores em cânones, definidores, fabriqueiros, fornecedores e mais pessoal eclesiástico.

O sogro ideal, o antigo professor, ensinava no seminário uma física muito própria aos fins do estabelecimento, mas que havia de horripilar o mais medíocre aluno de qualquer estabelecimento leigo. 

Tinha ele uma filha a casar e o “auxiliar de gabinete”, logo viu no seu casamento com ela, o mais fácil caminho para arranjar uma barrigazinha estufadinha e uma bengala com castão de ouro. 

Houve exame na Secretaria dos Cultos, e o “sogro”, sem escrúpulo algum, fez-se nomear examinador do concurso para o provimento do lugar e meter nele “o noivo”.

Que se havia de fazer? O rapaz precisava.

O rapaz foi posto em primeiro lugar, nomeado e o velho sogro (já o era de fato) arranjou-lhe o lugar de “auxiliar de gabinete” do ministro. Nunca mais saiu dele e, certa vez, quando foi, pro formula se despedir do novo ministro, chegou a levantar o reposteiro para sair; mas, nisto, o ministro bateu na testa e gritou:

– Quem é aí o doutor Mata-Borrão?

O homenzinho voltou-se e respondeu, com algum tremor na voz e esperança nos olhos:

– Sou eu, excelência.

– O senhor fica. O seu “sogro” já me disse que o senhor precisa muito.

É ele assim, no gabinete, entre os poderosos; mas, quando fala a seus iguais, é de uma prosápia de Napoleão, de quem se não conhecesse a Josefina. A todos em que ele vê um concorrente, traiçoeiramente desacredita: é bêbedo, joga, abandona a mulher, não sabe escrever – “comissão”, etc. Adquiriu títulos literários, publicando a Relação dos Padroeiros das Principais Cidades do Brasil; e sua mulher quando fala nele, não se esquece de dizer: “Como Rui Barbosa, o Chico ou “Como Machado de Assis, meu marido só bebe água.” Gênio doméstico e burocrático, Mata-Borrão, não chegará, apesar da sua maledicência interesseira, a entrar nem no inferno. A vida não é unicamente um caminho para o cemitério; é mais alguma coisa e quem a enche assim, nem Belzebu o aceita. Seria desmoralizar o seu império; mas a burocracia quer desses amorfos, pois ela é das criações sociais aquela que mais atrozmente tende a anular a alma, a inteligência, e os influxos naturais e físicos ao indivíduo. É um expressivo documento de seleção inversa que caracteriza toda a nossa sociedade burguesa, permitindo no seu campo especial, com a anulação dos melhores da inteligência, de saber, de caráter e criação, o triunfo inexplicável de um Mata-Borrão por aí”.

Pela cópia, conforme.

Fonte:
Lima Barreto. Contos de Lima Barreto, in Domínio Público.

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Silmar Bohrer (Lampejos Poéticos) X


Vinicius de Moraes (A Arte de Ser Velho)


É curioso como, com o avançar dos anos e o aproximar da morte, vão os homens fechando portas atrás de si, numa espécie de pudor de que o vejam enfrentar a velhice que se aproxima. Pelo menos entre nós, latinos da América, e sobretudo, do Brasil. E talvez seja melhor assim; pois se esse sentimento nos subtrai em vida, no sentido de seu aproveitamento no tempo, evita-nos incorrer em desfrutes de que não está isenta, por exemplo, a ancianidade entre alguns povos europeus e de alhures. 

Não estou querendo dizer com isso que todos os nossos velhinhos sejam nenhuma flor que se cheire. Temo-los tão pilantras como não importa onde, e com a agravante de praticarem seus malfeitos com menos ingenuidade. Mas, como coletividade, não há dúvida que os velhinhos brasileiros têm mais compostura que a maioria da velhorra internacional (tirante, é claro, a China), embora entreguem mais depressa a rapadura. 

Talvez nem seja compostura; talvez seja esse pudor de que falávamos acima, de se mostrarem em sua decadência, misturado ao muito frequente sentimento de não terem aproveitado os verdes anos como deveriam. Seja como for, aqui no Brasil os velhos se retraem daqueles seus semelhantes que, como se poderia dizer, têm a faca e o queijo nas mãos. Em reuniões e lugares públicos não têm sido poucas as vezes em que já surpreendi olhares de velhos para moços que se poderiam traduzir mais ou menos assim: "Desgraçado! Aproveita enquanto é tempo porque não demora muito vais ficar assim como eu, um velho, e nenhuma dessas boas olhará mais sequer para o teu lado..." 

Isso, aqui no Brasil, é fácil sentir nas boates, com exceção de São Paulo, onde alguns cocorocas ainda arriscam seu pezinho na pista, de cara cheia e sem ligar ao enfarte. No Rio é bem menos comum, e no geral, em mesa de velho não senta broto, pois, conforme reza a máxima popular, quem gosta de velho é reumatismo. O que me parece, de certo modo, cruel. Mas, o que se vai fazer? Assim é a mocidade- ínscia, cruel e gulosa em seus apetites. Como aliás, muito bem diz também a sabedoria do povo: homem velho e mulher nova, ou chifre ou cova. 

Na Europa, felizmente para a classe, a cantiga soa diferente. Aliás, nos Estados Unidos dá-se, de certo modo, o mesmo. É verdade que no caso dos Estados Unidos a felicidade dos velhos é conseguida um pouco à base da vigarista; mas na Europa não. Na Europa veem-se meninas lindas nas boates dançando cheek to cheek com verdadeiros macróbios, e de olhinho fechado e tudo. Enquanto que nos Estados Unidos eu creio que seja mais... cheek to cheek. Lembro-me que em Paris, no Club St. Florentin, onde eu ia bastante, havia na pista um velhinho sempre com meninas diferentes. O "matusa" enfrentava qualquer parada, do rock ao chá-chá-chá e dançava o fino, com todos os extravagantes passinhos com que os gauleses enfeitam as danças do Caribe, sem falar no nosso samba. Um dia, um rapazinho folgado veio convidar a menina do velhinho para dançar e sabem o que ela disse? - isso mesmo que vocês estão pensando e mais toda essa coisa. E enquanto isso, o velhinho de pé, o peito inchado, pronto para sair na física. 

Eu achei a cena uma graça só, mas não sei se teria sentido o mesmo aqui no Brasil, se ela se tivesse passado no Sacha's com algum parente meu. Porque, no fundo, nós queremos os nossos velhinhos em casa, em sua cadeira de balanço, lendo Michel Zevaco ou pensando na morte próxima, como fazia meu avô. Velhinho saliente é muito bom, muito bom, mas de avô dos outros. Nosso, não.

Fonte:

Cecim Calixto (Cajado de Sonetos) 1


ANTENAS DE FLORES

Bendita a chuva que o jardim viceja
Na venturança de regar as flores.
A minha lida no rimar enseja
Brindar o ramo que produz olores.

A borboleta no agapanto adeja
E beija as rosas de infinitas cores;
Ao lado seu, o colibri bafeja
O florilégio - seu vergel de amores.

Mas o arquiteto que cuidou da planta,
Ante a beleza se comove e canta
O belo canto que a natura ordena:

"Crescei mimosas e a exalar perfumes,
Em liberdade, sem querer betumes,
Porque sois vós minha florida antena."

GÊMEAS PAIXÕES

Passou tristonho pela minha tenda,
Na palidez do rosto o amargo pranto.
Fez-me sentir toda emoção da lenda
Do cancioneiro em seu choroso canto.

Seguindo o vate pela mesma senda,
Fui encontra-lo em meu sombral recanto
Beijando a terra, a rabiscar legenda,
Sobre o sepulcro carcomido e santo.

Ambos choramos pelo amor perdido,
Com emoção e o coração dorido
Pela saudade que jamais se esquece.

E eu volto sempre àquela cova rude,
Porque minha alma, em solidão, alude
Ouvir lamento igual a minha prece.

CONSELHO AMIGO

A natureza castigando está
E o plantador sem ter razão lastima;
Pois ele pensa que plantando dá
Sem o respeito à decisão de cima.

Tem que aprender as condições e já...
O plantador que a sua terra estima,
Não há colheita que se mostre má
Quando a floresta a natureza anima.

Refiz a mata do ribeiro ativo
E de abundância felizmente vivo
Pelas colheitas que o galpão revela.

Eu planto fava que até sol resiste
E a pouca chuva não a deixa triste
Pois faço tudo para o agrado dela.

TELEFONE INGRATO

Quase destruo o telefone mudo,
Velho caduco que jamais me fala.
Ele bem sabe - de aflição acudo -
Ouvir a voz que o coração regala.

Esperto não usa o tom agudo,
Quando me vê transfere toda escala.
O baixo tom é o seu tenaz escudo,
Mais a esperteza da vilã cabala.

Como viver neste cruel negrume
Quando demonstra sobre mim ciúme,
De forma vil e que jamais me apraza.

Um jeito existe e bem assim não brigo:
Eu vou traze-la a residir comigo
E coloca-lo no porão de casa.

Fonte:
Cecim Calixto. Flores do meu cajado: sonetos. 
Curitiba: Juruá Editora, 2015.

terça-feira, 10 de julho de 2018

Vinicius de Morais (Namorados públicos)


Da mesma forma que os monumentos históricos ou artísticos, as belezas naturais, os bailes e cafés, os parques e jardins - os casais de namorados são coisa que pertencem ao patrimônio de uma cidade. Uma cidade sem namorados públicos não é uma verdadeira cidade. Os cicerones de Paris costumam mostrá-los aos turistas, inteiramente despreocupados em suas ternuras, como típicas curiosidades locais. No Hyde Park, em Londres, é possível vê-los às centenas, sobre o gramado esmeralda desse parque inexcedível como se estivessem em casa. O transeunte margeia beijos intermináveis, abraços infinitos, olhares abissais, namorados que leem romances, namorados que dormem, namorados que brigam, a um passo uns dos outros, perfeitamente indiferentes ao que lhes vai em torno, - e o que é formidável - guardados da curiosidade, ou malícia alheias, por um passante policial, cuja função é zelar pela perfeita consecução de seus carinhos, com uma imparticipação e fidelidade dignas de todos os aplausos. É claro que os namorados não abusam. Mas nessa questão de carinhos de superfície eles se permitem um uso inumerável. Entregam-se em beijos que fariam a inveja de John Gilbert ao tempo da sua paixão por Greta Garbo. Dão-se abraços de não se saber mais quem é o outro. Fazem-se cafunés maravilhosos, esfregam-se os narizes, acarinham-se os rostos, enfim: tudo isso que faz a deliciosa cozinha dos que se amam e que vem sendo a mesma desde os tempos mais recuados no tempo.

Ninguém pode dizer que o Rio não seja uma cidade de namorados: ela o é. Seria difícil, aliás, compreender-se uma cidade tão pródiga em beleza, sem namorados. Mas são namorados, meu Deus, ou tão ousados ou tão tímidos que parecem uma contrafação da natureza humana diante da Natureza. Grande culpada disso foi, até certo tempo, a nossa polícia de costumes, que arrolava todas as carícias de namorados dentro de um mesmo código moral, chegando até ao abuso de prender gente casada que saía para namorar fora de casa. Não. Há carícias e carícias. Que mal existe em se beijarem os namorados em praça pública ou nos cantos de rua? Em que uma coisa dessas ofende a moral? Por que não se poderão eles abraçar ternamente, quando tiverem vontade? Pois parece incrível: outro dia um amigo meu contou que foi "apitado" várias vezes por um guarda do Jardim Botânico, por estar dando um "peguinha" na namorada. De fato: é justo, mais do que justo, que se moralizem os costumes. Nada mais certo. Mas perseguir os namorados, da mesma forma que arrancar as plantas dos parques, ou maltratar os animais, é indício de mau caráter. Que os namorados se beijem à vontade nesta linda Rio de Janeiro. Nada há de mal no beijo dos namorados, como no amor dos pássaros. Deixai-os nos seus parques, nas suas ruas escuras, nos seus portões de casa. Deixai-os namorar, Senhor Prefeito, Senhor Diretor do Jardim Botânico, deixai-os namorar, porque eles têm cada dia menos lugares onde ir esconder seus anseios. Deixai-os se beijarem à vontade, porque o que em seus beijos irrita os burgueses moralizantes é justamente essa liberdade, essa beleza, essa poesia, esse voo que há num beijo de amor. Tréguas aos namorados!

Fonte:
Vinicius de Morais. Prosas.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Silmar Bohrer (Lampejos Semanais) IX


Dorothy Jansson Moretti (Chá da Tarde) V


A brisa afasta a cortina,
e uma nesga de luar,
fugindo à fria neblina,
vem aos meus pés se abrigar.

Ao amor louco e funesto,
que se destrói na tortura,
prefiro o afeto modesto
que se refaz na ternura.

A onda, infrene, agitada,
abaixa a crista e desmaia,
e em vinheta rendilhada,
beija as areias da praia.

Atravessando o vitral,
a luz do sol se desvela,
pondo, em chispas de cristal,
seu brilho à humilde capela.

Duas sombras na vidraça,
e que desespero o meu,
saber que o vulto que a enlaça
é de outro… não sou eu!

Em bando sutil, as garças,
pontilhando o lamaçal,
são quais pérolas esparsas,
adornando o pantanal.

Esbocei desejos leves,
mas uma brisa outonal
trincou, em rajadas breves,
os meus sonhos de cristal.

Hora do Ângelus… Ao sino,
as garças voam, iguais,
como se o ofício divino
as atraísse aos rituais.

Nas cambiantes desmaiadas
que tingem o entardecer,
suponho sombras veladas,
prenunciando o envelhecer.

Nós dois, cativos, risonhos,
em nossa ilusão fagueira,
ninávamos nossos sonhos,
ao balanço da porteira.

Nos momentos ponderados,
dizer a palavra exata 
é servir pomos dourados,
sobre bandejas de prata.

O espetáculo termina,
e aos poucos, na escuridão,
do palhaço à bailarina
o circo despe a ilusão.

Ora eloquente, ora mudo,
teu olhar é uma charada:
promessa sutil de Tudo,
no fútil revés… do Nada.

Que mil vozes, no universo,
dominem a imensidade;
mas que fale, no meu verso,
somente a voz da verdade!

São Paulo, que no escaninho
de tantos feitos altivos,
guardes também o carinho
dos teus filhos adotivos!

Se acaso uma cordilheira
encobre os teus horizontes,
leva como companheira
a fé que remove os montes!

Sobe ao ar, como fumaça,
essa tristeza que eu trago,
assim, que você me abraça 
e me envolve em seu afago.

Transportando sem fadiga,
o seu minúsculo galho,
a pequena formiga
é um gigante do trabalho…

Fonte:
Dorothy Jansson Moretti. Chá da tarde: trovas. 
Itu/SP: Ottoni Editora, 2006.

Clarice Lispector (Conversas)


Um dia acordei às quatro da madrugada. Minutos depois tocou o telefone. Era um compositor de música popular que faz as letras também. Conversamos até seis horas da manhã.

Ele sabia tudo a meu respeito. Baiano é assim? E ouviu dizer coisas erradas também. Nem sequer corrigi. Ele estava numa festa e disse que a namorada dele – com quem meses depois se casou – sabendo a quem ele telefonava, só faltava puxar os cabelos de tanto ciúme. Na reunião tinha uma Ana e ele disse que ela era ferina comigo. Convidou-me para uma festa porque todos queriam me conhecer. Não fui.

Em compensação estive uma vez numa festa na casa de Pedro e Míriam Bloch. Foi poucos meses antes da morte de Guimarães Rosa. Guimarães Rosa e Pedro foram comigo para outra sala, na qual pouco depois entrou Ivo Pitangui. Guimarães Rosa disse que, quando não estava se sentindo bem em matéria de depressão, relia trechos do que já havia escrito. Espantaram-se quando eu disse que detesto reler minhas coisas. Ivo observou que o engraçado é que parece que eu não quero ser escritora. De algum modo é verdade, e não sei explicar por quê. Mas até ser chamada de escritora me encabula. Nessa mesma festa Sérgio Bernardes disse que há anos tinha uma conversa para ter comigo. Mas não tivemos. Pedi uma coca-cola, em vez. Ele estava falando com o nosso grupo coisas que eu não entendia e não sei repetir. Então eu disse: adoro ouvir coisas que dão a medida de minha ignorância. E tomei mais um gole de coca-cola. Não, não estou fazendo propaganda de coca-cola, e nem fui paga para isso.

Guimarães Rosa então me disse uma coisa que jamais esquecerei, tão feliz me senti na hora: disse que me lia, “não para a literatura, mas para a vida”. Citou de cor frases e frases minhas e eu não reconheci nenhuma.

Outra pessoa que me telefonava de madrugada explicara que passava pela minha rua, via a luz acesa, e então me telefonava. No terceiro ou quarto telefonema disse-me que eu não merecia mentiras: na verdade o fundo da casa dele dava para a frente da minha e ele me via todas as noites.

Como se tratava de oficial de marinha, perguntei-lhe se tinha binóculo. Ficou em silêncio. Depois me confessou que me via de binóculo. Não gostei. Nem ele se sentiu bem de ter dito a verdade, tanto que avisou que “perdera o jeito” e não me telefonaria mais. Aceitei. Fui então à cozinha esquentar um café. Depois sentei-me no meu canto de tomar café, e tomei-o com toda a solenidade: parecia-me que havia um almirante sentado à minha frente. Felizmente terminei esquecendo que alguém pode estar me observando de binóculo e continuo a viver com naturalidade. Como vocês veem isto não é coluna, é conversa apenas. Como vão vocês? Estão na carência ou na fartura?

Fonte:
Clarice Lispector. A Descoberta do Mundo (Cronicas).

João Batista Xavier Oliveira (Poemas Avulsos)


A MORTE DO POETA

Fenece o poeta na paz da poesia.
Os ares dos cantos, calados, sentidos,
acenam tristezas nos vagos ouvidos;
o sol perde o brilho no pranto do dia.

Um misto de dores e versos não lidos
acena sem cena à linha vazia-
num gesto de pautas à vã melodia-
um canto no canto dos temas queridos.

Às rimas no templo sagrado, converso
silêncio das flores de triste universo.
Poeta parece que ouve o lamento...

no alto da estrofe gravada na mente
cantiga do tempo que faz permanente
a bênção divina no lar, firmamento.

PRIMEIRO DE MAIO

Olhando o calendário fico pasmo:
Que maravilha de nação feliz!
...E ao ver as folgas com entusiasmo
lembro das malas: nossa! Nem desfiz!

E num enlevo a remedar orgasmo
vou planejando: e agora, meu país?
Em qual lugar eu vou curtir marasmo
longe da lida que nada condiz?

Conto nos dedos os dias faltantes.
Se é feriado na terça ou na quinta
falto na sexta ou segunda e bem antes

Que outro espertinho na frente desminta
fico doente de espirro por nada.
Vejo-me a postos: mais uma jornada!!

DEIXE-ME VIVER
(Poema contra o aborto)

Mamãe, eu quero viver;
pedi para retornar
e procurar evolver
no seio de um simples lar.

Não se culpe constrangida
por um ato intempestivo;
o mais importante é a vida;
eu, no seu útero vivo!

Sinta com delicadeza
no seu ventre o movimento
e agradeça à natureza
esculpir o seu rebento.

É uma dádiva divina
ter minha vida em você.
Não descarte na latrina
um ser que sente... que vê...

Imagine o meu futuro
a seu lado, vencedor,
com seu caminhar seguro
cumprindo a sina do amor!

Pense em seu corpo cansado
precisando de um abraço;
eu caminhando a seu lado
a proteger o seu passo.

Mamãe, alimente a aurora
em mim tão frágil, indefeso,
para quando for embora
não carregar nenhum peso!

MONÓLOGO DO BASTIDOR

Sou a ferida exposta acobertada
por mentes que dominam consciências;
cinismo onde plateia entusiasmada
entorpecida perde referências.

Caráter e vaidade sem decência
abarcam teoria distanciada
na prática sem ética... ciência...
sem brio que ao vazio leva ao nada.

O aqui e agora são mais importante; 
lá fora o vento sopra bem distante.
Eu sou o cerne que requer destreza,

porém pressinto tempos exigentes,
sentimentos puros, transparentes ,
num palco pelas artes da certeza!

O CAMINHO DA ROSA

Se cada um fizer a sua parte
não sobra parte para repartir;
não sobra aparte que preocupe a arte...
mundo destarte só resta sorrir.

Se cada um plantar uma roseira
a vila inteira será um jardim;
não sobra beira à espinhosa asneira...
dessa maneira é sorriso sem fim.

Se cada um olhar-se na verdade
fraternidade romperá vereda;
o pensamento terá mais espaço

e minha parte será rosa e há de
ser a verdade daquele que ceda
do seu caminho todo seu abraço!

Fonte: Poemas enviados pelo poeta

domingo, 8 de julho de 2018

José Feldman (Álbum de Trovas) 27


Olivaldo Júnior (Três Microcontos sobre o Destino)


O TREVO DA SORTE 

Ganhara aquele trevo da sorte do primeiro namorado. Hoje, mulher de quarenta e poucos anos, balzaquiana, tinha naquela relíquia um verdadeiro tesouro. Dava-lhe sorte. Que sorte! 

O trevo, na verdade, morava num velho e amarelado livro que ninguém mais lia, perdido na estante, entre um e outro retrato de um parente morto, com sua história inútil, opaca, vã. 

Mariana, esse era o nome da pobre, ainda esperava que o vento da boa sorte lhe trouxesse um amor. Nunca lhe trouxe nenhum! Não era culpa do trevo. Ele só estava no livro "errado". 

A VELHA VIOLA 

Juquinha não sabia o quanto, mas havia uma cara que não tocava mais nada. Aposentara a viola e deixara para trás seu dom de Paulinho da Viola, que faz samba sem olhar para trás. 

Nos tempos de mocidade, quanta menina beijara só por causa do pedaço de pinho, seu anjo no caminho das velhas serenatas! Sentia-se um verdadeiro menestrel, trovador, poeta! 

Assim, no enterro do Juquinha, não sabiam o que fazer com a velha viola. Enterrá-la junto com ele? Não, não era o caso!... Deixaram-na. E há quem diga que ele vem tocá-la à noite. 

O AMIGO PERDIDO 

Hoje olhei as fotos e os vídeos de um amigo, do amigo perdido. Não o vejo mais, nem sei por onde anda. Sei que ficou perdido nosso encontro perfeito, repleto de música e versos. 

Tínhamos tanto em comum, mas de nada valeu. Não sei se ele se lembra de mim, se ele se deixa esquecer do poetinha que ouvia seu pinho tocar. Hoje é o amigo perdido, sem mais. 

Ao fim da noite, entre as letras que tenho, nasceram histórias sobre a ventura, o destino, essa espécie de deus que determina o caminho que se deve tomar. Tristeza, amigo, adeus. 

Fonte: textos enviados pelo autor