sexta-feira, 17 de julho de 2020

Cláudio de Cápua (Meu Vizinho)


Nasci na década de quarenta, tempo em que se nascia em casa. Entrei neste mundo num dia glorioso, oito de março, Dia Internacional da Mulher, no bairro de Indianópolis, na av. Inajá, hoje Lavandisca. O bairro agora tem outro nome, o do seu antigo ponto de bonde, Moema.

Lá morava gente famosa como seu Hugo Gemignani, amansador de onça das expedições do sertanista Orlando Villas--Bôas, Henrique Novak, futuro editor da Página do Livro, do Diário Popular, o locutor esportivo José Geraldo Almeida, a humorista Nhá Barbina, Narciso Vemise (O homem do tempo), o casal de artistas Rosa Maria Murtinho e Mauro Mendonça, Helene Elfride (Geórgia Gomide), Hélio Ansaldo, Alvarenga, da famosa dupla caipira, e até o gordo Jô Soares morou lá na Al. Jauaperi. Tivemos até uma rainha, a menina Sílvia, hoje soberana da Suécia, mas também tivemos um rei que era meu vizinho, "O Rei das Rosas".

Romeu Edwiges e Francelina, sua esposa, mineiros de Jacutinga. Ela, a bondade em forma de gente, ele, sempre alegre, bom papo e, talvez por não terem filhos, davam muita atenção a mim e ao meu irmão Beto.

Embora Romeu e Francelina fossem funcionários do estado de Minas, lotados num departamento na Pauliceia, tinha ele alma de artista, tocava violino, tecia tapeçaria, e, numa técnica toda sua, esculpia tipos populares de sua infância em cimento, que hoje estão ornando recantos de sua terra natal.

Seu forte, porém, era o cultivo de roseiras com dezenas de pés plantados. O jardim central tinha formoso pé de oliveira, que dava frutos, rodeada de roseiras "príncipe negro", e os canteiros laterais explodiam em rosas de cores variadas.

Um dia, Francelina, já com idade avançada, partiu para outra dimensão, deixando triste o alegre Romeu. O tempo passa e consola e ele continuou a cuidar de suas rosas. Por contingências da vida, hoje Romeu, a caminho dos noventa e sete anos, mora em Arujá entre gente amiga, que o faz muito feliz. Por solidariedade, cedeu o sobrado a uma parente, insensível, que acabou por extirpar todas as suas roseiras. E o alegre Romeu, por certo, mais uma vez, deve ter ficado tão triste como quando perdeu sua amada Francelina.

Numa viagem de navio, foi ele, certa vez, reconhecido em pleno Mare Nostro, por passageiros, como sendo o "Rei das Rosas".

Passei de táxi, num dia destes, em frente ao antigo sobrado. Fechei os olhos. O perfume das rosas, ainda na minha imaginação, impregnava o ar. Tenho certeza de que todas as gerações que viveram naquela época, como eu, quando por lá passam, sentem ainda o perfume das rosas, do "Rei das Rosas", o alegre Romeu, o meu vizinho,

(Artigo publicado em janeiro de 2007 - edição 1, republicado na Revista Santos Arte e Cultura - maio 2012, edição 33, em homenagem aos 101 anos do Rei das Rosas)

Fonte:
Cláudio de Cápua. Retalhos de Imprensa. São Paulo: EditorAção, 2020.
Livro gentilmente enviado pelo escritor.
Desenho digital sobre foto do autor por José Feldman

Sarau On Line Dia do Trovador (18 de Julho, sábado – 16hs)

Em 2020 dada a situação de pandemia pela qual o país atravessa e as medidas de controle da disseminação do Corona Vírus, realizaremos a comemoração do Dia do Trovador de forma remota (SARAU ONLINE).

Durante o mesmo, serão realizadas homenagens, será divulgado o Resultado do II Concurso de Trovas Cidade de Curitiba com leitura das trovas premiadas pelos classificados ( Se você participou do concurso tenha em mãos as trovas inscritas, assim ficará mais fácil para que leia sua trova se premiado(a))

Segue abaixo dados necessários para acesso à reunião online, bem como a programação, caso você queria fazer sua inscrição antecipada, envie-nos e-mail solicitando-a.


Dia: 18 de julho de 2020, sábado

Hora: 16 h às 18 h


Plataforma: Zoom

Link de acesso: https://bityli.com/jrZC2

ID: 996 188 6580

Senha: 5phXuY

PROGRAMAÇÃO:

1. Abertura
        (1). Andréa
        (2). Nei Garcez

2. Arlindo Tadeu Hagen (UBT-Nacional)

3. Música (por Beth Fontes)

4. Divulgação Resultado
       (1) Andréa Motta (Apresentação do Livreto)
       (2) Lilia M. M. Souza
               • Leitura das trovas premiadas pelos classificados presentes.
       (3) Andréa Motta
              • Leitura das trovas premiadas pelos classificados presentes.

5. Música ( inscrição será feita após início de Sarau)

6. Therezinha Brisolla (Homenagem)

7. Declamações de poesia – quaisquer gêneros ( inscrições será feita após início de Sarau)

8. Música ( inscrição será feita após início de Sarau)

9. Encerramento

ATENÇÃO: Não esqueça de ter em mãos as trovas inscritas no Concurso!!!! O Livreto em PDF somente será enviado por e-mail após o Sarau.

Contamos com a sua participação!

Andréa Motta
UBT-Curitiba

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Varal de Trovas n. 322


Rafael Figueiredo (A Inveja do Poeta)


E hoje não há mendigo que eu não inveje por não ser eu.”
Álvaro de Campos – Poema Tabacaria


Desde que li os textos do Mestre Zen, nunca mais olhei da mesma forma para as cadeiras. Sempre que vejo uma penso, e meu pensamento é como uma ave de metal, fazendo estardalhaços, em uma frenética e débil tentativa de alçar voos noturnos. Barulhenta e desajeitada, com o antagonismo próprio de sua condição física, munida de asas e desprovida da leveza natural das aves, minha ave-pensar, pesa! As cadeiras não são de fato cadeiras, elas estão. Sua matéria prima foi retirada de uma árvore e seu estado atual é mera formalidade de utensílio, um dia deixará de estar, e estará outra coisa, e depois outra e outra. Tudo é transitório, nada é permanente. Sento-me a escrever pequenas futilidades no papel. É a cadeira mais útil do que eu.

Carrego minha ave-pensar por todo lado, tento inútil, dissimular seu voo desengonçado, mas sempre acabo por expor-lhe as penas, certa vez tive a certeza de ouvir a moça do caixa de um posto de gasolina dizer ao cliente: o banheiro é imaginário senhor. Aquilo fez-me rir por dias. Quando voltei ao posto na semana seguinte e perguntei a moça sobre o assunto e descobri que o banheiro estava interditado. Antes não tivesse voltado, a fantasia é muito mais interessante do que a realidade, e é certo que muitas vezes pode-se viver nela, como fazem os loucos. Mas eu não. Eu, transito entre os dois lados do rio e como de um sonho, desperto inúmeras vezes durante o mesmo dia. Pelo que vejo todos temos aves-pensar, e é certo que alguns tem galinhas, codornas, avestruzes, outros falcões ou corujas. Mas eu tive a desdita sorte de nascer com essa anormalidade que não respeita sequer as leis da física. Por este motivo as vezes sinto um enorme cansaço devido ao vai e vem de minhas ideias, confuso e vago ando entre meus pares. E reconheço em suas faces a origem de suas aves-pensar. É como um retrato, está ali estampado. Aquele tem cara de pensar coruja, aquele outro de pato.

A questão é que alguns dias atrás vi um homem com cara de pensar beija flor. Isso me emocionou, o beija flor é uma espécie muito singular, raramente se vê por ai. Um pensamento desses, quem me dera. Sua sorte está em parar, observar e decidir tudo em um espaço muito curto de tempo e logo seguir seu destino. Outra coisa muito incomum é que nunca se vê um cadáver de beija flor, eles devem ser imortais, imagino, ou apenas se esquecem de morrer. Como vivem correndo por aí esse seria um esquecimento bastante compreensível.

Esse homem, tinha o rosto iluminado e a paz de um pastor de ovelhas, é verdade que nunca conheci um, mas acredito que devem ter aquela mesma expressão, um sorriso esquecido no canto da boca, e os olhos profundos e calmos como uma tarde de outono. Nada é permanente, tudo é transitório diz o Mestre Zen. Mas o homem com alma de beija-flor permanece, e ao contrario de sua ave-pensar anda lento entre os outros que comumente desviam dele. Talvez seja pela grandeza de seu espirito, ou a luz que emana naturalmente de seu rosto. Outra coisa interessante é que sempre lhe dão dinheiro, mesmo que ele nunca peça. Que sorte tem o homem beija flor, tão tranquilo, tão vivido e ainda por cima dão-lhe dinheiro assim a toa. Que inveja sinto dele por não ser eu. Mas, contento-me com este corvo de lata batendo as asas dentro do meu peito diariamente. Ao menos posso observar o homem e vê-lo como é. Ao contrário desses ambulantes que lhe desviam o olhar dia após dia. Eles não, mas o homem-beija-flor sabe que não passamos de aspectos de uma mesma coisa, uma consequência de infinitas possibilidades combinadas nessa grande teia de acontecimentos que chamamos de vida. E por isso volto sempre ao mesmo lugar, e observo seu pensamento voando para lá e para cá, entre as ideias que desabrocham nesta época do ano.
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Rafael Figueiredo nasceu em 1985 e hoje reside na cidade de Sapiranga. Educador social. No colégio fez aulas de teatro e música, aos 14 anos escreveu suas primeiras peças para o grupo escolar de teatro. Estudou violão e piano em conservatório particular e mais tarde ingressou na universidade de música. Seu repertório autoral conta com mais de duzentas músicas compostas e arranjadas por ele, e contemplam vertentes da música brasileira como as modas de viola, a trova, a música popular, além de temas para peças de teatro.

Fonte:
Escrita Criativa

Gislaine Canales (Glosas Diversas) XVIII


RETRATOS... TEMPO...

MOTE:
Passa o tempo sem demora
e causa tantos maus tratos,
que os meus retratos de outrora
não são mais os meus retratos!
Adalberto Dutra Rezende
Cataguazes/MG, 1913 – 1999, Bandeirantes/PR


GLOSA:
Passa o tempo sem demora,
tal qual um vento bem forte,
e o que vou fazer agora
para encontrar o meu norte?

E o tempo chega inclemente
e causa tantos maus tratos,
que machuca muito a gente
com seus males imediatos!

Sigo triste, vida afora,
e constato com agonia
que os meus retratos de outrora
eram cheios de alegria!

Eu sinto que não mereço
essas imagens. São fatos,
que me cobram alto preço!
não são mais os meus retratos!
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NÃO

MOTE:
Não andem por onde andei,
nem façam nunca o que fiz,
que envelheci e cansei
sem conseguir ser feliz!
Adelmar Tavares
Recife/PE, 1888 – 1963, Rio de Janeiro/RJ


GLOSA:
Não andem por onde andei,
os caminhos são amargos
e, por eles, caminhei,
divagando, a passos largos!

Não sigam o meu exemplo,
nem façam nunca o que fiz,
hoje, o passado eu contemplo
e ele nada bom me diz!

Grande dano me causei!
Vi na procura sem fim,
que envelheci e cansei
e esqueci até de mim!

No tempo cruel, passando,
eu sou o meu próprio juiz
e continuo chorando
sem conseguir ser feliz!
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RELÓGIO

MOTE:
Relógio, fique parado!
Não deixe o tempo passar...
Eu quero ser enganado,
quando a velhice chegar!
Amália Max
Ponta Grossa/PR, 1929 – 2014


GLOSA:
Relógio, fique parado!
As horas, não marques mais,
é um pedido emocionado,
para esquecer os meus ais!

É de joelhos que lhe imploro,
não deixe o tempo passar...
Gosto de viver... Adoro!
Eu preciso me salvar!

Quero amar e ser amado!
Se o engano for de amor,
eu quero ser enganado,
pois solidão, causa dor!

E com o passar dos anos,
quero bem jovem estar,
enfrentando os desenganos
quando a velhice chegar!
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ROMANCE TERMINADO

MOTE:
Quase morro de saudade
de um romance terminado,
que o tempo só por maldade
nunca deu por acabado!
Analice Feitoza de Lima
Bom Conselho/PE, 1938 – 2012, São Paulo/SP


GLOSA:
Quase morro de saudade
dos nossos beijos de amor,
daquela felicidade,
daquele nosso fervor!

Ficou em mim a lembrança
de um romance terminado,
mas não morreu a esperança
de vê-lo recomeçado!

Chorei na realidade
o fim de um amor tão grande,
que o tempo só por maldade
mais e mais, em mim, expande!

O tempo não conseguiu,
matar meu sonho sonhado,
e esse amor que ressurgiu,
nunca deu por acabado!
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PEQUENINO PESCADOR...

MOTE:
Eu me sinto pequenino
ante a grandeza do mar,
sou pescador do destino
que inda não sabe pescar!
Delcy Canalles
Porto Alegre/RS


GLOSA:
Eu me sinto pequenino
como um grãozinho de areia,
me sinto quase um menino
que pela praia vagueia!

Me extasio ante a beleza,
ante a grandeza do mar,
afogo nele a tristeza,
e, então, me ponho a sonhar!

Me lanço a esse mar divino,
procurando nem sei quê,
sou pescador do destino
tentando pescar você!

Com mil anzóis de poesia
eu a quero conquistar,
sou pescador – fantasia,
que inda não sabe pescar!

Fonte:
Gislaine Canales. Glosas. Glosas Virtuais de Trovas XXXIV. In Carlos Leite Ribeiro (produtor) Biblioteca Virtual Cá Estamos Nós. http://www.portalcen.org. 2007.

Aparecido Raimundo de Souza (Comédias da Vida na Privada) Parte Um


COMO FOI MESMO QUE EU ME PERDI DE TUDO?

DA VARANDA DO MEU APARTAMENTO, olho compridamente para um ponto fixo bem longe que se descortina diante de mim. Desde aí, pareço suscitar, numa espécie de devaneio maquinal, um espaço oculto dentro de meu ser, onde alguma coisa que nele está aprisionada, quer se libertar de qualquer jeito, a ponto de me fazer alcançar, custe o que custar, o desiderato, como se fosse um sonho adormecido e não realizado que há muito desejei, em louca ambição. Não sei exatamente o quê. Alguma coisa, por certo, que me fez viajar além do descomedido, à custa de me fumegar por dentro, como um brandão que iluminasse uma áurea abandonada.

Num primeiro momento, tenho a impressão de ter acordado de um sono profundo. Melhor me expressando, voltado de um repouso recuperatório e, ao ter aberto os olhos, incrivelmente percebido robustas vibrações de medo. Medo e vazio. Medo por voltar de onde estava, assim, sem mais nem menos, e vazio, por senti-lo forte e horrendo, e não só isto, cheio de dimensões gigantescas. Tudo, num repente, se faz agora e, dentro dele, sessenta e sete anos parecem ter sido jogados fora. Literalmente lançados nas sarjetas da vida. Grosso modo, pareço bastante com aquela figura metálica do homem armado que, nos relógios antigos, dava as horas com um martelo e nossos avós apelidaram de Jaquemart.

Me vejo caminhando por uma estrada de compleição agrestemente chucra e tosca, os passos incertos, sem vislumbrar um porto seguro onde estancar esta dor forte e imensa que se alojou em mim e, contra a minha vontade, insiste permanecer sem pressa de ir embora. Esta dor estranha, esquisita,  fez de meu espírito  seu templo doméstico. Me sinto, por conta, como se tivesse a alma  alanceada por uma batalha da qual não participei, mas saí dela mortificadamente oprimido e derreado. Parece haver uma contenda acirrada, que não se define,  entre meu ser asfixiado e o meu agora -, meu agora desprovido de fôlego para continuar na peleja.

Esta dor parece também, lado outro, crescer como um tumor maligno, e, ao tempo em que evolui, me dá sinais de querer desgraçar a alma frangalhada e me colocar num buraco negro e inóspito, de onde tenho a impressão não haver retorno. Dentro da minha cabeça, uma confusão de ideias e pensamentos embaralhados tenta, a todo custo, me aniquilar, enquanto o coração, no peito, fortemente  descompassado e, numa aceleração centuplicada, me apavora e não só  isto, me tira fora da normalidade da razão. Todos os cômodos da minha residência, parecem ocupados por velhos fantasmas de semblantes  monásticos, que agora se juntam e me assustam.

Os ruídos ensurdecedores que eles  produzem (numa diversidade de aspectos infernais), irrompem dentro destes meus espaços compostos por (além aqui da varanda), uma sala, três quartos, banheiro e cozinha, como látegos martirizantes. Esta babel não vêm do motor da geladeira, nem do ventilador. Tampouco do aparelho de ar condicionado. Menos ainda dos pingos que rolam intermitentes da torneira da pia do lavabo que deixei aberta, inda  a pouco, quando  minutos atrás, escovava os dentes. Recordo que passei água num copo onde tomei um gole de café com leite. Os móveis da sala, o sofá, minha cadeira de descanso, a televisão, o som e até meus livros  igualmente entraram no furdunço.

Me dão a impressão de estarem mancomunados com esses espalhafatos horripilantes. Em razão disto, sinto como se, de repente, todos estes contratempos zaragatados houvessem fundidos, numa câmara de som compactada com o intuito único de me enervarem  os ouvidos.  A estuporação que me pesa no corpo, tem um aspecto desfigurado e repugnante. Se assemelha a galhofas inumanas. Como meu rosto, deve estar com uma máscara aterradora. Gelo, paralisando os movimentos. Esfrio o sangue nas veias. Fico como que petrificado, chumbado literalmente subjugado aos ladrilhos do alpendre. Boa parte de mim se acha perdida num emaranhado de quimeras desfeitas.

Um sentimento de urgência se apodera de todo meu eu e tenta me curvar derrubando meu esqueleto de encontro ao rés do chão. Meus movimentos, mesma onda,  se  portam sem ação, tolhidos e entravados, a ponto de não conseguirem mexer  os músculos, ao menos para me divorciarem um pouco dos maus presságios que chegaram e ainda chegam sem prévio aviso. Pareço, de repente, ter morrido. Perdido o ar hospedeiro da respiração,  todavia, não deixado o corpo. Não me vejo, não me sinto desvencilhado totalmente do plano terreno. A impressão que tenho é a de estar vagando por sobre toda a minha vida passada...

Vislumbro,  a cada dia, a cada minuto, a cada segundo,  tudo assim, numa  espécie de filme colorido como se voltasse literalmente no tempo. Nessa regressão, lobrigo  a minha família em peso. Encontro as minhas ex-mulheres,  topo com meus filhos, meus  netos, cada irmão, cada amigo, enfim, cada aparentado antes distante, agora tão perto... Pessoas que conheci por acaso no acaso do meio da rua, no bar da esquina, na padaria, no supermercado sem troca de olhares, sem gestos ou palavras... Bispo*, numa rápida de visu, minha mãe, imponente como a Vênus de Milo, de natureza inata, acomodada num lugar especial, solitária, como sempre,  na sua serenidade ímpar.

Meu pai, também se faz materializado, o sorriso entristecido. Percebo, igualmente, criaturas que  sumiram do mapa, outras que se foram... Por vontade própria... Numa espécie de magia, estão todas aqui diante de mim. Quero gritar, me fazer presente, me fazer ouvir per fas et nefas*. Dizer que sinto saudades, que me dói a falta de todo mundo... Me corrói uma tragédia escrita do fundo da subitaneidade dos refrigérios do meu ego.  No instante seguinte, me questiono, boquiaberto, espantado, quase enlouquecido: como foi mesmo que me perdi de tudo? Alguém, por favor, teria como me responder sem imprimir delongas?!  Por certo que não! Que bobo fui, ou...

Resumindo meus dissabores: o escalpelo que a vida me deixou, atingiu em cheio o meu porvir. Foi grandiosa a incisão e acredito que não haja cicatrização para o tamanho da ferida aberta. O fogo selvagem de todos os fracassos se deflagrou em mim. Me debato, ainda agora, na ganga da mediocridade e me sinto ajoelhado diante de um amanhã umbroso e repletado de trevas. Me questiono, por tudo o que vejo e sinto: em que espécie de idiota oblongo enlargado de imbecilidades me transformei? Nada nem ninguém, me responde. E o resto... Bem, o resto ao meu redor são só migalhas do que fui; ciscos de boas lembranças embalsamadas com respingos de árida e nervosa solidão.   
- - - - - –
Notas:
*Per fas et nefas – é uma locução latina que, traduzida, significa "por (para o) bem ou por (para o) mal". Isto é, com todos os meios possíveis. Ela é citada por Arthur Schopenhauer como representativa de uma situação em que um debatedor tenta manter de todas as formas possíveis qualquer coisa que tenha sido dita, mesmo que ele considere-a falsa ou duvidosa.
* Bispo – vislumbro, enxergo.

Fonte:
Texto enviado pelo autor.
Aparecido Raimundo de Souza, “Comédias da vida na privada”.  RJ: Editora AMC-Guedes, 2020.

quarta-feira, 15 de julho de 2020

Varal de Trovas n. 321


Altino Afonso Costa (Doce é Viver e Cantar)


Não é doce morrer no mar.

Doce é viver nas praias da Bahia, bebendo água de coco, vendo as mulheres passarem com seus corpos morenos e sentindo a brisa do mar; vendo as ondas debulhando espumas salgadas, na tarde ensolarada do Nordeste brasileiro.

Por mais linda que seja a flor, não posso colhe-la perfumada se nasceu entre o lodo do lago.

Eu não escrevo para os que estão tristes; escrevo para aqueles que estão imunes ao pessimismo, por enquanto.

Escrevo o que sinto e sinto o que escrevo.

Se há tristeza no que escrevo, é porque não sei mentir e encobrir os acontecimentos.

A vida não é somente uma pintura surrealista de Salvador Dali e nem é também apenas um sorriso enigmático aflorando nos lábios da Mona Lisa de Da Vinci...

Os atores fingem, por isso são chamados de hipócritas, por transmitirem uma realidade que não sentem, apenas interpretam.

Eu escrevo para aqueles que pensam livremente e claramente enxergam a vida com olhos anatômicos.

Viver é simplesmente lutar para não ser vencido; e vencer é a meta de todo guerrilheiro.

A minha vida sempre foi um campo de batalha e nesse campo eu luto, me firo, me esfarrapo, indiferente ao rufar dos tambores da morte.

Assim vivo, assim penso, assim descrevo o que sinto.

Disse-me um amigo fraterno: "o teu canto é triste e sem fim".

E eu respondi-lhe: eu sei que o meu canto é entristecido... mas, se não for para cantar assim, prefiro ficar emudecido.

Fonte:
Altino Afonso Costa. Buquê de estrelas: crônicas e poemas. Paranavaí/PR: Olímpica, 2001.
Livro gentilmente enviado por Dinair Leite.

IX Concurso Internacional de Trovas Estados Unidos (Trovas Premiadas)



Tema: AMIZADE
 
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VETERANOS
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VENCEDORES

1º Lugar

Sempre certa em hora incerta,
a fraternal amizade,
é casa de porta aberta
em noite de tempestade.
Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho
Juiz de Fora/MG

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2º Lugar
Meus  amigos,  sou  bem  franco,
como  é  bom  ter  nesta  vida,
mesmo  em  mundo  em  preto   e  branco,
a  amizade  colorida !!!
Antonio Colavite Filho
Santos/SP

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3º Lugar
Ao saber que por fracassos
vivemos ao rés do solo,
a amizade abre os seus braços
e nos carrega no colo.
Maurício Cavalheiro
Pindamonhangaba/SP
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4º Lugar

Amizade é uma conduta,
às vezes, firme e calada,
no gesto de quem te escuta,
te empresta um ombro, e mais nada.
Marília Oliveira
Porto Alegre/RS
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5º Lugar 
Todo aquele que é cercado
de amizades verdadeiras
tem o visto carimbado
para um mundo sem fronteiras!
Renata Paccola
São Paulo/SP
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MENÇÃO HONROSA

1º Lugar

Ah! Seria mesmo incrível
se fosse assim a amizade:
produto não perecível,
sem data de validade!
Geraldo Trombin
   São Paulo/SP  
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2º Lugar

Nossa paixão quase trágica,
foi a amizade quem fez…
paixão que, perdendo a mágica,
fez-se amizade outra vez.
Francisco Gabriel Ribeiro
Natal/RN
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3º Lugar

Aos  amigos  de  verdade,
de  coração  agradeço,
pois  a  sincera  amizade
é  um  amor  que  não  tem  preço!
Edna Gallo
Santos/SP
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4º Lugar

Nesse abraço, cativante,
minha mente me afiança,
que amizade é semelhante
ao amor de uma criança.
Ari Santos de Campos
 Balneário Camboriú/SC  
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5º lugar

Do amigo espero a verdade,
mútua confiança, sem medo;
que o segredo da amizade
é amizade sem segredo!
A. A. de Assis
Maringá/PR
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MENÇÃO ESPECIAL

1º Lugar

Naqueles momentos quando
tudo soa indiferente,
amizade é Deus mandando
alguém pra cuidar da gente.
Manoel Cavalcante
Pau dos Ferros/RN
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2º Lugar

Toda amizade conforta:
dá leveza em qualquer hora.
E sempre nos abre a porta,
não tem fim...nem vai embora!
Maria Dulce de Lima Pessoa
Tabira/PE
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3º Lugar

A amizade é tecelã
de amor, respeito, aliança;
ela tece no amanhã
o fio da confiança…
Cristina Cacossi
Bragança Paulista/SP 
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4º Lugar

Amor que não conseguiu
transformar-se em amizade
depois que a paixão ruiu,
não foi amor de verdade.
Massilon Ferreira da Silva
Aracaju/SE
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5º Lugar

Amizade é a força atenta,
que nos ama e nos cativa:
Na queda, é a mão que sustenta;
na glória, é a mão que incentiva!
Mara Melinni Garcia
Caicó/RN
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NOVOS TROVADORES
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1º Lugar

Amizade é um sentimento
de inestimável valor,
pois no meu entendimento,
amizade é quase amor.
Suely Ribella
Santos/SP
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2º Lugar

O valor de uma amizade
não se pode calcular,
um amigo de verdade
ninguém consegue comprar!
Aurineide Alencar de Freitas Oliveira
Dourados/MS
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3º Lugar
Tempos de calamidade,
tudo lembra escuridão.​
Grandeza de  uma amizade​
ilumina o coração.
 Agnes Izumi Nagashima
 Londrina/PR
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4º Lugar

“Amizade não tem preço”
diz o dito popular.
Tem mais valor, esclareço,
que o próprio familiar.
Maria Cristina de Oliveira
Campinas/SP
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5º Lugar
Amizade é como agir
presente sem se mostrar,
doando sem exigir,
amando sem revelar.
Abelardo Nogueira
Araçoiaba/CE


Fonte:
Maria Luíza Walendowski (coordenadora geral)

Monteiro Lobato (Velha Praga)


ANDAM TODOS EM NOSSA TERRA por tal forma estonteados com as proezas infernais dos belacíssimos “vons” alemães, que não sobram olhos para enxergar males caseiros.

Venha, pois, uma voz do sertão dizer às gentes da cidade que se lá fora o fogo da guerra lavra implacável, fogo não menos destruidor devasta nossas matas, com furor não menos germânico.

Em agosto, por força do excessivo prolongamento do inverno, “von Fogo” lambeu montes e vales, sem um momento de tréguas, durante o mês inteiro.

Vieram em começos de setembro chuvinhas de apagar poeira e, breve, novo “verão de sol” se estirou por outubro adentro, dando azo a que se torrasse tudo quanto escapara à sanha de agosto.

A serra da Mantiqueira
ardeu como ardem aldeias na Europa, e é hoje um cinzeiro imenso, entremeado aqui e acolá de manchas de verdura — as restingas úmidas, as grotas frias, as nesgas salvas a tempo pela   cautela dos aceiros. Tudo mais é crepe negro.  
 
À hora em que escrevemos, fins de outubro, chove. Mas que chuva cainha! Que miséria d’água! Enquanto caem do céu pingos homeopáticos, medidos a conta-gotas, o fogo, amortecido mas não dominado, amoita-se insidioso nas piúcas, a fumegar imperceptivelmente, pronto para rebentar em chamas mal se limpe o céu e o sol lhe dê a mão.

Preocupa à nossa gente civilizada o conhecer em quanto fica na Europa por dia, em francos e cêntimos, um soldado em guerra; mas ninguém cuida de calcular os prejuízos de toda sorte advindos de uma assombrosa queima destas.

As velhas camadas de húmus destruídas; os sais preciosos que, breve, as enxurradas deitarão fora, rio abaixo, via oceano; o rejuvenescimento florestal do solo paralisado e retrogradado; a destruição das aves silvestres e o possível advento de pragas insetiformes; a alteração para pior do clima com a agravação crescente das secas; os vedos e aramados perdidos; o gado morto ou depreciado pela falta de pastos; as cento e um particularidades que dizem respeito a esta ou aquela zona e, dentro delas, a esta ou aquela “situação” agrícola. Isto, bem somado, daria algarismos de apavorar; infelizmente no Brasil subtrai-se; somar ninguém soma...

É peculiar de agosto, e típica, esta desastrosa queima de matas; nunca, porém, assumiu tamanha violência, nem alcançou tal extensão, como neste tortíssimo 1914 que, benza-o Deus, parece aparentado de perto com o célebre ano 1000 de macabra memória. Tudo nele culmina, vai logo às do cabo, sem conta nem medida. As queimas não fugiram à regra.

Razão sobeja para, desta feita, encararmos a sério o problema. Do contrário a Mantiqueira será em pouco tempo toda um sapezeiro sem fim, erisipelado de samambaias — esses dois términos à uberdade das terras montanhosas.

Qual a causa da renitente calamidade?

É mister um rodeio para chegar lá.

A nossa montanha é vítima de um parasita, um piolho da terra, peculiar ao solo brasileiro como o Argas o é aos galinheiros ou o Sarcoptes mutans à perna das aves domésticas. Poderíamos, analogicamente, classificá-lo entre as variedades do Porrigo decalvans, o parasita do couro cabeludo produtor da “pelada”, pois que onde ele assiste se vai despojando a terra de sua coma vegetal até cair em morna decrepitude, nua e descalvada. Em quatro anos a mais ubertosa região se despe dos jequitibás magníficos e das perobeiras milenárias — seu orgulho e grandeza, para, em achincalhe crescente, cair em capoeira, passar desta à humildade da vassourinha e, descendo sempre, encruar definitivamente na desdita do sapezeiro — sua tortura e vergonha.

Este funesto parasita da terra é o CABOCLO, espécie de homem baldio, seminômade, inadaptável à civilização, mas que vive à beira dela na penumbra das zonas fronteiriças. À medida que o progresso vem chegando com a via férrea, o italiano, o arado, a valorização da propriedade, vai ele refugindo em silêncio, com o seu cachorro, o seu pilão, a pica-pau e o isqueiro, de modo a sempre conservar-se fronteiriço, mudo e sorna. Encoscorado numa rotina de pedra, recua para não adaptar-se.

É de vê-lo surgir a um sítio novo para nele armar a sua arapuca de “agregado”; nômade por força de vagos atavismos, não se liga à terra, como o campônio europeu: “agrega-se”, tal qual o Sarcoptes, pelo tempo necessário à completa sucção da seiva convizinha; feito o que, salta para diante com a mesma bagagem com que ali chegou.

Vem de um sapezeiro para criar outro. Coexistem em íntima simbiose: sapé e caboclo são vidas associadas. Este inventou aquele e lhe dilata os domínios; em troca o sapé lhe cobre a choça e lhe fornece fachos para queimar a colmeia das pobres abelhas.

Chegam silenciosamente, ele e a “sarcopta” fêmea, esta com um filhote no útero, outro ao peito, outro de sete anos à ourela da saia — este já de pitinho na boca e faca à cinta. Completam o rancho um cachorro sarnento — Brinquinho, a foice, a enxada, a pica-pau, o pilãozinho de sal, a panela de barro, um santo encardido, três galinhas pevas e um galo índio. Com estes simples ingredientes, o fazedor de sapezeiros perpetua a espécie e a obra de esterilização iniciada com os remotíssimos avós. Acampam.

Em três dias uma choça, que por eufemismo chamam casa, brota da terra como um urupê. Tiram tudo do lugar, os esteios, os caibros, as ripas, os barrotes, o cipó que os liga, o barro das paredes e a palha do teto. Tão íntima é a comunhão dessas palhoças com a terra local, que dariam ideia de coisa nascida do chão por obra espontânea da natureza — se a natureza fosse capaz de criar coisas tão feias.

Barreada a casa, pendurado o santo, está lavrada a sentença de morte daquela paragem.

Começam as requisições. Com a pica-pau o caboclo limpa a floresta das aves incautas. Pólvora e chumbo adquire-os vendendo palmitos no povoado vizinho. É este um traço curioso da vida do caboclo e explica o seu largo dispêndio de pólvora; quando o palmito escasseia, rareiam os tiros, só a caça grande merecendo sua carga de chumbo; se o palmital se extingue, exultam as pacas: está encerrada a estação venatória.

Depois ataca a floresta. Roça e derruba, não perdoando ao mais belo pau. Árvores diante de cuja majestosa beleza Ruskin choraria de comoção, ele as derriba, impassível, para extrair um mel-de-pau escondido num oco.

Pronto o roçado, e chegado o tempo da queima, entra em funções o isqueiro. Mas aqui o Sarcoptes se faz raposa. Como não ignora que a lei impõe aos roçados um aceiro de dimensões suficientes à circunscrição do fogo, urde traças para iludir a lei, cocando destarte a insigne preguiça e a velha malignidade.

Foi neste momento que o viu o poeta:

Cisma o caboclo à porta da cabana. (1)

Cisma, de fato, não devaneios líricos, mas jeitos de transgredir as posturas com a responsabilidade a salvo. E consegue-o. Arranja sempre um álibi demonstrativo de que não esteve lá no dia do fogo.

Onze horas.

O sol quase a pino queima como chama. Um Sarcoptes anda por ali, ressabiado. Minutos após crepita a labareda inicial, medrosa, numa touça mais seca; oscila incerta; ondeia ao vento; mas logo encorpa, cresce, avulta, tumultua infrene e, senhora do campo, estruge fragorosa com infernal violência, devorando as tranqueiras, estorricando as mais altas frondes, despejando para o céu golfões de fumo estrelejado de faíscas. É o fogo de mato!

E como não o detém nenhum aceiro, esse fogo invade a floresta e caminha por ela adentro, ora frouxo, nas capetingas ralas, ora maciço, aos estouros, nas moitas de taquaruçu; caminha sem tréguas, moroso e tíbio quando a noite fecha, insolente se o sol o ajuda.

E vai galgando montes em arrancadas furiosas, ou descendo encostas a passo lento e traiçoeiro até que o detenha a barragem natural dum rio, estrada ou grota noruega. Barrado, inflete para os flancos, ladeia o obstáculo, deixa-o para trás, esgueira-se para os lados — e lá continua o abrasamento implacável.

Amordaçado por uma chuva repentina, alapa-se nas piúcas, quieto e invisível, para no dia seguinte, ao esquentar do sol, prosseguir na faina carbonizante.

Quem foi o incendiário? Donde partiu o fogo? Indaga-se, descobre-se o Nero: é um urumbeva qualquer, de barba rala, amoitado num litro de terra litigiosa.

E agora? Que fazer? Processá-lo?

Não há recurso legal contra ele. A única pena possível, barata, fácil e já estabelecida como praxe, é “tocá-lo”.

Curioso este preceito: “Ao caboclo, toca-se”. Toca-se, como se toca um cachorro importuno, ou uma galinha que vareja pela sala. E tão afeito anda ele a isso, que é comum ouvi-lo dizer: “Se eu fizer tal coisa o senhor não me toca?”.

Justiça sumária — que não pune, entretanto, dado o nomadismo do paciente. Enquanto a mata arde, o caboclo regala-se.

— Eta fogo bonito!

No vazio de sua vida semisselvagem, em que os incidentes são um jacu abatido, uma paca fisgada na água ou o filho novimensal, a queimada é o grande espetáculo do ano, supremo regalo dos olhos e dos ouvidos.

Entrado setembro, começo das “águas”, o caboclo planta na terra em cinzas um bocado de milho, feijão e arroz; mas o valor da sua produção é nenhum diante dos males que para preparar uma quarta de chão ele semeou.

O caboclo é uma quantidade negativa. Tala cinquenta alqueires de terra para extrair deles o com que passar fome e frio durante o ano. Calcula as sementeiras pelo máximo da sua resistência às privações. Nem mais, nem menos. “Dando para passar fome”, sem virem a morrer disso, ele, a mulher e o cachorro — está tudo muito bem; assim fez o pai, o avô; assim fará a prole empanzinada que naquele momento brinca nua no terreiro.

Quando se exaure a terra, o agregado muda de sítio. No lugar fica a tapera e o sapezeiro. Um ano que passe e só este atestará a sua estada ali; o mais se apaga como por encanto. A terra reabsorve os frágeis materiais da choça e, como nem sequer uma laranjeira ele plantou, nada mais lembra a passagem por ali de Manoel Peroba, de Chico Marimbondo, de Jeca Tatu ou outros sons ignaros, de dolorosa memória para a natureza circunvizinha.
______________________
Nota:
(1) Verso de Ricardo Gonçalves (1888-1916), poeta e j ornalista libertário que fez parte do célebre grupo “Minarete”, organizado por Lobato.


Fonte:
Monteiro Lobato. Urupês. Publicado em 1914.

terça-feira, 14 de julho de 2020

Varal de Trovas n. 320


Arthur de Azevedo (Toc, Toc, Toc, Toc...)


O Borges não a tinha visto nunca senão à janela da casa paterna: só lhe conhecia o busto, e não era preciso mais nada para encantá-lo, porque na verdade ela possuía o palmo da cara mais simpático e ao mesmo tempo mais lindo que era possível imaginar.

Chamava-se Idalina, e era filha natural de um vidraceiro estabelecido na loja do prédio em que ambos moravam. Não iam a parte alguma.

Havia uma circunstância, uma só, que contrariava o Borges; a mãe da pequena tinha sido mulher da vida alegre; dera em público toda a espécie de escândalos, e fora, afinal, assassinada, durante uma pândega, por um dos seus inúmeros e sucessivos amantes. É verdade que Idalina desde a mais tenra idade fora subtraída ao contato dessa mulher, e nunca mais a viu: mas o Borges preferia, naturalmente, que ela fosse filha de outra mãe; entretanto, não se lhe dava de ligar o seu destino ao dela, tão forte era a simpatia que a moça lhe inspirava.

A filha do vidraceiro parecia não ser indiferente ao afeto que se formara no coração de Borges; todas as vezes que ele passava, pela manhã ou à tarde, caminho da repartição ou caminho de casa, ela correspondia ao seu cumprimento respeitoso com um sorriso afável, que não era o sorriso de uma janeleira vulgar, e tinha alguma coisa de triste e de reservado.

Estava o Borges impressionado ao último ponto, quando um feliz acaso lhe revelou que o Ventura, um dos seus melhores amigos, conhecia intimamente o pai e a filha. Ele, o Borges não sabia outra coisa senão a lamentável particularidade do nascimento de Idalina; soubera-o por casualidade, no bonde, ouvindo a conversa de dois passageiros que a viram à janela e a conheciam.

O Ventura, quando o amigo pediu as desejadas informações, desfez-se em calorosos elogios.

- É a criatura mais doce, mais bondosa que o céu cobre! É uma santa; uma verdadeira santa; mas, meu amigo... sim, infelizmente há um mas...

O Borges adivinhou que o amigo se referia à mãe de Idalina, e atalhou:

- Sei o que é, mas não importa... Coitada! Que culpa tem ela dessa desgraça?

- Nenhuma culpa tem, mas dificilmente encontrará marido. Se fosse rica, não digo nada; há homens que por dinheiro fecham os olhos a tudo, mas o Lemos, o pai, não tem por onde se lhe pegue...

- Pois fica sabendo que não se me dava de ser seu marido.

- Tu?... Apesar de...?

- Apesar de tudo!

- Mas olha que não poderias levar tua mulher a parte alguma!

- Por quê?

- Seria ridículo!

- Deixá-lo ser! Ela é boa, é digna, é honesta, não é?

- Ah! Por esse lado, não conheço outra que mais o seja!

- Neste caso, exijo de ti um grande serviço: rogo-te que vás ter com o pai e que a peças em meu nome.

- Alto lá! Essas coisas não se fazem assim! Deves primeiramente consultá-la, e só depois de autorizado por ela, pedi-la ao pai, mas tu, pessoalmente, e não eu. O mais que posso fazer é apresentar-te ao velho.

- Pois está dito!

No mesmo dia o Borges encontrou meios e modos de fazer com que um bilhete seu chegasse às mãos de Idalina:

"Minha senhora", dizia esse bilhete, "eu chamo-me Laurindo Borges, sou de família honrada, tenho perto de trinta anos, exerço um emprego público, não tenho ligações nem compromissos de espécie alguma, e ganho o necessário para constituir família. Julgo que não lhe sou de todo indiferente; portanto, rogo-lhe a necessária autorização para pedi-la em casamento a seu pai. O obstáculo que de alguma forma se poderia opor a nossa união desaparece diante do amor profundo e da sincera estima que a senhora me inspirou."

A resposta não se fez esperar:

"Uma vez que o sr. fecha os olhos a um obstáculo que parecia condenar-me ao celibato, e uma vez que, não sendo ingrata, retribuo largamente os sentimentos que despertei no seu coração, autorizo-o a pedir a minha mão a papai. Venha domingo, ao meio-dia: ele estará em casa, e prevenido por mim."

À vista desse bilhete, o Borges poderia apresentar-se sozinho, mas foi ter com o Ventura e pediu-lhe que o acompanhasse.

No domingo aprazado, ao meio-dia em ponto, entravam ambos na sala do Lemos, que os recebeu de braços abertos.

- Aqui tem - disse-lhe o Ventura - o meu amigo Laurindo Borges, que lhe vem fazer um pedido muito sério, e cá estou eu para aboná-lo.

- Queiram sentar-se - disse o velho; e, depois de sentados os três, continuou: - Já sei do que se trata. Minha filha, que não tem segredos para mim, mostrou-me o bilhete do sr. Borges e o que dirigiu em resposta. Mas fiquei surpreso, surpreso e ao mesmo tempo jubiloso, quando vi que o senhor não considera um obstáculo a...

- Não! - interrompeu o Borges. - E peço-lhe, sr. Lemos, que não me fale mais nisso. Dona Idalina possui qualidades morais que tudo compensam.

- Então o amigo fecha os olhos àquele defeito?

- Já lhe disse que sim.

- Bom; nesse caso, vou chamá-la.

E erguendo a voz:

- Idalina?

- Papai? - respondeu lá de dentro uma voz argentina e sonora que soou aos ouvidos de Borges como um hino de amor.

- Vem cá, minha filha!

Não se ouviram passos, mas um toc, toc, toc, toc, que intrigou seriamente o namorado, e quando Idalina, radiante de beleza, entrou na sala, ele verificou, à primeira vista, que a moça tinha uma perna de pau!

Foi tal o espanto do pobre rapaz, que todos adivinharam logo que ele ignorava aquela ausência de perna. Idalina caiu sentada numa cadeira, cobrindo o rosto com as mãos, debulhada em pranto.

- Pois o senhor não disse que conhecia o obstáculo? - perguntou o vidraceiro.

- Eu referia-me à mãe de D.Idalina...

- Ora, meu caro, isso jamais seria um obstáculo, porque ela é o contrário do que foi aquela infeliz mulher; é uma pérola, que saiu do lodo, como todas as pérolas.

Mas o Borges estava dominado pela beleza de Idalina, e as lágrimas da moça acabaram de subjugá-lo. Ele ergueu-se e, num generoso ímpeto de amor, correu para ela, ajoelhou-se aos seus pés - quero dizer: ao seu pé - tomou-lhe as mãos ambas, e beijou-as dizendo:

- Que me importa que tenhas uma perna de pau, se tens um coração de ouro?

- Ora, ainda bem! - exclamou o velho. - Case-se, e creia que leva uma mulher completa, apesar de lhe faltar uma perna!

Casaram-se e foram muito felizes. O pai tinha razão.

O Borges, para consolar-se do aleijão da esposa, muitas vezes dizia aos seus botões:

- Idalina talvez não fosse tão boa, tão carinhosa, tão submissa, tão fiel, se tivesse ambas as pernas...

Fonte:
Arthur de Azevedo. Contos Vários.

Paulo Leminski (Versos Diversos) 5


minha amiga
indecisa
lida com coisas
semifusas

quando confusas
mesmo as exatas
medusas
se transmudam
em musas
****************************************

sabendo
que assim dizendo
— poema —
estava te matando
mesmo assim
te disse

sabendo
que assim fazendo
você estava durando
foi duro
mesmo assim
te trouxe

mesmo assim
te fiz
mesmo sabendo que ias
fugaz
ser infeliz
sempre infeliz

mesmo assim
te quis
mesmo sabendo
que ia te querer
ficar querendo
e pedir bis
****************************************

pompa há tanto conquista
cautela tão mal calculada
pausa na pauta
quem sabe em pio pousada
me passa este meio-dia
atravessa este meio-fio
aplaca em luz
a causa desta madrugada

atiça-me a calma
em cólera e guerra floresça
toda esta falta minha alma
tanta valsa chama saudade
tanto A tanto B tanto Z

tanto mim me pareça você
****************************************

não possa tanta distância
deixar entre nós
este sol
que se põe
entre uma onda
e outra onda
no oceano dos lençóis
****************************************

sexta-feira
cinza

quantas vezes
vais ser treze?

quantas horas
têm teus meses?

quantas quintas
vão ser trinta?

quantas segundas
nem são nunca?

quantas quartas
infinitas?
****************************************

quando eu tiver setenta anos
então vai acabar esta adolescência

vou largar da vida louca
e terminar minha livre-docência

vou fazer o que meu pai quer
começar a vida com passo perfeito

vou fazer o que minha mãe deseja
aproveitar as oportunidades
de virar um pilar da sociedade
e terminar meu curso de direito

então ver tudo em sã consciência
quando acabar esta adolescência
****************************************

pétala
não caia esse orvalho

olho
não perca essa lágrima

auras que já se foram
grato pela graça
a graça que eu acho
em tudo que fica
por tudo que passa
****************************************

Desculpe, cadeira,
está pisando no meu pé.
Desse jeito, mais parece
esta mesa: nada mais faz
que cansar minha beleza.

Vocês vão ver uma coisa.
Nem porque é de ferro
pode moer meu dedo
este prego, o martelo.

Vocês não têm cabeça.
Não passam de objeto.
Vocês nunca vão saber
quanto dói uma saudade
quando perto vira longe
quanto longe fica perto.

Desculpe, cadeira,
está pisando no meu pé.
Desse jeito, mais parece
esta mesa: nada mais faz
que cansar minha beleza.

Quanto ao resto — até.
****************************************
elas quando vêm
elas quando vão
versos que nem
versos que não
nem quero fazer
se fazem por si
como se em vão

elas quando vão
elas quando vêm
poesia que sim
parece que nem

Fonte:
Paulo Leminski. caprichos & relaxos (saques, piques, toques & baques). Publicado em 1987.

Malba Tahan (O Santo Ladrão)


Certa vez, no interior da Índia, um ladrão aproveitando-se da escuridão da noite, tentou assaltar a casa de um rico senhor. Sentindo-se percebido, fugiu para um bosque vizinho e ficou escondido sob uma árvore, de onde via, de quando em vez, avermelhados clarões que surgiam nas trevas. Eram os criados do ricaço que o procuravam, com grandes tochas, pesquisando todos os recantos do bosque.

— Estou perdido — pensou. — Os malditos servos fatalmente virão encontrar-me aqui.

E, sem perda de tempo, resolveu arranjar um disfarce qualquer. Sujou o rosto de terra, rasgou as vestes e, ajoelhando-se no chão, fingia um santo faquir absorvido em profunda meditação.

Os seus perseguidores não reconheceram naquele humilde penitente o astucioso ladrão que, pouco antes, havia tentado violar a residência do rico patrão.

E pressurosos levaram a notícia ao dono do palácio:

— Não encontramos as pegadas do ladrão, e o único ser vivo que conseguimos descobrir foi um santo que orava sob uma árvore!

— Um santo em minhas terras! — bradou entusiasmado o proprietário — Que felicidade!

E foi, sem demora, acompanhado da esposa e filhos, levar frutas e doces ao falso anacoreta.

A notícia correu célere pela cidade. Na manhã seguinte, crentes, em multidão, foram admirar o extraordinário faquir que vivia no bosque sob uma árvore, com o rosto sujo de terra e as vestes em frangalhos. Deram-lhe muito dinheiro e valiosos presentes.

Ao ser informado da presença do santo, o Príncipe Nahor, que governava a região, assaltado por súbita e devota curiosidade, ordenou que seus oficiais fossem ao bosque e obtivessem do venerando penitente permissão para conduzi-lo ao palácio.

E num carro dourado, à frente de grande cortejo, o audacioso aventureiro foi levado à suntuosa morada do Príncipe Nahor. Pelas ruas, quando o préstito passava, os homens ajoelhavam-se e beijavam fervorosos a terra entre as mãos.

O príncipe recebeu o novo santo com o maior respeito e solenidade, beijando-lhe a ponta
esfarrapada da túnica.

— Santo faquir! — exclamou — Só hoje chegou ao meu conhecimento a vossa vida exemplar e modesta de orações e penitências. Desejo que demonstres aos meus queridos súditos a grandeza de vosso poder milagroso. Assim é que vos peço realizeis em minha presença, e na dos ilustres Brâmanes, um milagre prodigioso que robusteça ainda mais a nossa fé e confiança!

Respondeu o falso anacoreta:

— Ó Príncipe! Bem sei que sois generoso e bom, mas só poderei realizar o milagre que acabais de ordenar se prometeres conservar-me sob vosso amparo e proteção! Receio que contra mim se assanhem os ódios exaltados dos incrédulos!

— Asseguro-vos, sob palavra — atalhou o príncipe — que estais sob a minha proteção e
ninguém ousará o menor movimento contra a vossa pessoa. Aquele que tentar contra vós qualquer ofensa ou vingança será castigado impiedosamente.

— As vossas palavras — declarou o ladrão — traduzem a maior garantia que um ser humano pode desejar.

E acrescentou:

— Vou realizar diante de vossos olhos dois espantosos milagres que deslumbrarão os crentes e deixarão humilhados os pecadores. E, com o maior cinismo, narrou ao príncipe as peripécias por que havia passado desde a sua tentativa de assalto à casa do ricaço até sua chegada ao palácio.

— Eis, senhor — concluiu — os dois milagres que prometi.

— Que milagres? — retorquiu o príncipe, tomado de incontido rancor — Não vejo milagre algum, ó cão miserável!

— O primeiro milagre, ó príncipe generoso, foi o seguinte: com um punhado de areia e um pouco de cinza, transformei um ladrão num venerável e virtuoso santo. Depois, narrando a verdade em vossa presença, fiz com que o venerável santo se transformasse, novamente, num ladrão abjeto. Penso que essas extraordinárias metamorfoses que realizei foram altamente milagrosas!

Percebeu o arrebatado príncipe que se achava impossibilitado de castigar o inteligente ladrão, pois havia empenhado a sua palavra, e o aventureiro nada poderia sofrer. Dirigindo-se ao respeitável Sind Avastir, o mais sábio dos seus conselheiros, perguntou-lhe:

— Qual a conclusão moral, ó brâmane!, que poderíamos tirar dessa história? Não resultará dela algum ensinamento útil para o meu povo?

O digno sacerdote hindu respondeu:

— A aventura ocorrida com esse aventureiro que faz jus, aliás, a uma boa recompensa,
subministra-nos vários pensamentos e ensinamentos morais. Penso, entretanto, que será
mais interessante deixar o público, por si mesmo, tirar do caso as conclusões que achar mais acertadas.

E, nesse sentido, o príncipe lavrou uma sentença que se tornou célebre.

Fonte:
Malba Tahan. Lendas do deserto. Publicado originalmente em 1929, com prefácio de Olegário Mariano.

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Varal de Trovas n. 319


Aparecido Raimundo de Souza (Cena Urbana I)


- Maria - grita a patroa lá da garagem enquanto acaba de tirar as coisas de dentro do carro. - Ponha a Regininha no berço e o resto da mamadeira na gaveta da geladeira.

- Tá legal, dona Camila.

Uma hora depois, a patroa apavorada, surge, na sala, à procura da recém nascida. A serviçal está com os olhos grudados na televisão, um saco de pipocas de um lado, uma latinha de refrigerante do outro:

- Maria, Maria, por tudo quanto é mais sagrado! Onde está minha filha?

- Ué! No berço...

- Meu Deus, Maria, no berço encontrei a mamadeira!

- Credo em cruz, dona Camila! Valha-me Jesus Nossa Senhora! Na pressa para aprontar o jantar e ver o capítulo de hoje, da novela, acho que troquei as bolas. Corre na gaveta da geladeira.

Fonte:
Aparecido Raimundo de Souza. O Vulto da Sombra Estranha. SP: Ed. Sucesso, 2009.
Livro enviado pelo autor.

Luiz Damo (Trovas do Sul) X


A natureza convida
para termos mais cuidado,
se amanhã quisermos vida
e o planeta preservado.
- - - - - -
Apressado o passarinho
quando chega a primavera,
procura fazer seu ninho
no lugar que prepondera.
- - - - - -
A vaidade tem seu preço,
elevado, por sinal!
Talvez doce no começo
mas amargo no final...
- - - - - -
A vida não surge pronta.
Muitas vezes nos frustramos.
Nem sempre nos damos conta
do quanto na vida erramos...
- - - - - -
Chorar de dor ou saudade,
não tem choro alentador,
todo choro na verdade
revela emoção ou dor.
- - - - - -
Comentários sobre a vida
a deixam muito abalada,
bem maior a dor sentida
do aquela comentada.
- - - - - -
Dedo em riste aponta os erros
que a humanidade comete.
Nunca adentre em exageros
porque o dedo compromete.
- - - - - -
Junto à porta da mentira
a chave fica esquecida,
nela a verdade conspira
para proteger a vida.
- - - - - -
Lendas, mitos, casos raros,
pontilham a nossa história,
uns obscuros, outros claros,
todos vivos na memória.
- - - - - -
Mesmo sendo peremptória
tua humilde pretensão,
poderás mudar a história
se mudares tua ação.
- - - - - -
Nada vale abandonar
um leito velho, molhado,
se logo após for deitar
noutro pior, encharcado.
- - - - - -
Não confunda vida plena
com a pequena fortuna,
nem uma mata serena
com a plantação de tuna.
- - - - - -
Não deprede o patrimônio,
nem degrade a natureza,
a vida, neste binômio,
se completa na beleza.
- - - - - -
Não passa despercebida
na vastidão desta estrada,
a marca de quem na vida
deu luz a cada jornada.
- - - - - -
Na parede emoldurado
sob a forma de retrato,
um quadro já desbotado
pelo pó do anonimato.
- - - - - -
Nas estradas da existência
sempre tem alguns espinhos,
a machucar com frequência
o mais tenro dos pezinhos.
- - - - - -
Nunca deixe a fé morrer,
faça dela o seu fanal
de luta enquanto viver
do começo até o final.
- - - - - -
Os primeiros passos dados
independentes da idade,
são normalmente arquivados
nas gavetas da saudade.
- - - - - -
Para um sonho conquistar
nele terá que insistir,
a norma é sempre lutar
e a lei: nunca desistir.
- - - - - -
Pés descalços, machucados,
segue à vida em seu labor,
quem tem os ombros marcados
com sinais de um lutador.
- - - - - -
Pobreza e simplicidade
não rimam com rebeldia,
estilos que a humanidade
conhece no dia a dia.
- - - - - -
Propostas indecorosas
não merecem atenção,
envergonham, são danosas,
mancham a reputação.
- - - - - -
Quer algo que sempre dure?
Olhos no céu, pés no chão...
Amor firme que perdure
muito além de uma paixão.
- - - - - -
São tantos os eleitores
que elegem seus candidatos,
pra ser seus procuradores
no exercício dos mandatos.
- - - - - -
Se a forte dor não declina
nunca hesite em procurar,
o auxílio na medicina
para poder melhorar.
- - - - - -
"Se não puder fazer tudo",
por julgar que não tem jeito,
faça um pouco, sobretudo;
ao fazer, faça-o bem feito!
- - - - - -
Se um saudável chá caseiro
vindo da mata nativa,
não sanar o mal, inteiro,
busque nova alternativa.
- - - - - -
Sobre o mapa do progresso
procuramos o endereço,
onde resida o sucesso
e dos passos seu começo.
- - - - - -
Talvez quem tem mais conforto
jamais pensou que estivesse,
frente a um mundo pobre e torto
que sequer seus pés aquece.
- - - - - -
Tão longínqua primavera
dos meus tempos infantis,
revê-la, meu Deus, quisera!
Mesmo assim estou feliz...
- - - - - -
Triste pranto banha a face
de quem chora grande dor,
pior se for desenlace,
ou rompimento do amor.
- - - - - -
Uma sombra cobre os dias,
manhãs, tardes, madrugadas.
Duas cadeiras vazias
pela saudade, ocupadas...
- - - - - -
Um tremor, mesmo remoto,
causa temor tão profundo,
faz de um simples terremoto
parecer o fim do mundo.
- - - - - -
Vitória, fruto colhido,
dos ramos da persistência,
pela mão com braço erguido
nos pomares da existência.

Fonte:
Luiz Damo. A Trova Literária nas Páginas do Sul. Caxias do Sul/RS: Palotti, 2014.
Livro gentilmente enviado pelo autor.

Ialmar Pio Schneider (Crônica, Soneto e Trova a Pablo Neruda)

Pablo Neruda

(Por ocasião da data do aniversário de nascimento do poeta Pablo Neruda que foi em 12.07.1904, em Parral, no Chile).

Ao transcorrer a data de aniversário do nascimento de um dos maiores poetas, senão o maior da América do Sul, fiz-lhe o soneto abaixo, que ora transcrevo. Começou ainda jovem a compor seus poemas de um lirismo a toda prova e ao longo dos anos se dedicou também à política, visando os menos favorecidos, como foi a história da sua vida. Lembro-me de uma passagem em que ele fala que o piano de sua infância foi o barulho que as goteiras faziam ao cair nas vasilhas que sua mãe colocava para receber a água que caía dentro de casa. Diz ele que aquelas notas o acompanharam, caindo sobre o seu coração e sobre a sua poesia.

Em 21 de outubro é escolhido ganhador do "Prêmio Nobel de Literatura", viajando a Estocolmo para recebê-lo das mãos do monarca sueco, em 1971.

E no 2º terceto do seu soneto XXIX, conclui: “Eres del pobre Sur, de donde viene mi alma: / en su cielo tu madre sigue lavando ropa/ con mi madre. Por eso te escogí, compañera”.

Eis o soneto de minha autoria:

SONETO PARA PABLO NERUDA
homenagem póstuma

Li seus Poemas e a Canção Desesperada,
há quantos anos, quando enfrentei a paixão
que invadiu minh´alma e não fiz quase nada,
porque não contrariei a voz do coração...

E fui andando... andando e a vida abandonada,
às vezes me deixou na dor da solidão,
pensando na mulher que fora minha amada
e que só meu causou uma desilusão...

Quem pôde cantar tanto, ainda sendo moço,
em plena juventude, os cânticos de amor
que senti produzir o maior alvoroço

no peito varonil onde o sonho não muda?!
O Poeta Genial, de saudades e dor,
produzindo poesia... O irmão Pablo Neruda !

TROVA

Pablo Neruda, o cantor
que leio de madrugada:
“Veinte Poemas de Amor”
e a “Canción Desesperada”.

Fonte:
Texto e versos enviados pelo autor.

Carla Rejane Silva (Ser Feliz é Responsabilidade dos Outros? Não, Só Nossa)


Quando você se sente só, eternamente infeliz e desiludida é engraçado. De repente, do nada, você dá um encontrão com o tão sonhado amor. Então faz dessa paixão a sua prioridade. Seu mundo, seu tudo. E cada vez mais você se entrega à Luxúria do prazer de amar.

Depois de algum tempo, talvez muito tempo, percebe que não está feliz, que não é feliz, como nos livros de romances, onde tudo são flores e estrelinhas, nos ditos cujos existe sempre um começo, um meio, e um fim. Nessa desilusão sombria, ouvi de uma amiga querida, algo que mexeu com minhas emoções.

Quando impomos à alguém, seja quem for, a nossa felicidade ou infelicidade, na verdade estamos destruindo a nós mesmos, e em consequência levamos a pessoa de roldão, no mesmo barco. Ninguém tem por obrigação fazer alguém feliz, ou covardemente infeliz (seja família, parceiro, filhos, etc.). A pessoa é apenas um complemento de um todo.

Ser feliz é, portanto, responsabilidade nossa. Nossa somente, de mais ninguém. Como podemos despertar uma afeição profunda, um desejo eloquente, uma paixão arrebatadora, em uma grata persona, se a própria criatura não tem amor por si mesma, ou sequer respeito? Primeiro devemos nos amar, nos respeitar, nos colocarmos para cima. Depois então, distribuir-nos para os outros... Mesmo assim, em dosagens poucas.

O que adianta doar seu ego hipocondríaco, para satisfazer fulano ou beltrano? Onde certamente se predispõe uma atitude falsamente medíocre, ali está colado o nosso DNA. Como tudo nessa vida, é puramente insano, buscamos impensadamente reciprocidade. Contudo, quando isso não acontece por “A ou B”, nosso mundo desmorona de uma forma aterradora que nos faz ficar vazia, oca rés-ao-chão.

Depois disso tudo, vem aquela certeza que estamos errando feio diante de nós mesmos. Pior, jogando toda culpa de nossa incapacidade de enxergar os erros cometidos em alguém que não teve nenhuma culpabilidade.

Por que?!

Fraqueza! Fraqueza. Isso mesmo, fraqueza. É como querer obrigar que alguém lhe ame, ou que retribua, por igual, seus sentimentos. Ninguém pode gostar da outra, ou agir da maneira que melhor lhe convém. Ou, lado outro, retribuir o idêntico amor que é oferecido. Amor é entrega, é liberdade... Amor é paz e harmonia; nunca uma prisão.

Quer ser amada, e respeitada, ser digna de ter a felicidade plena? Então ache seu caminho de volta. Regresse. Vá de encontro ao seu próprio eu e seja responsável por trilhar o caminho de sua serenidade e completude. Ai sim será capaz de trazer a bem aventurança por onde passar, sem se anular, sem machucar ninguém, e o melhor de tudo, sem se machucar a si mesma.

Seja dona de si, de sua tão sonhada e propriamente dita. FELICIDADE.
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CARLA REJANE DA SILVA COSTA DOS SANTOS (nome literário: Carla Rejane Silva). Cinquenta e cinco anos, viúva. Sou mineira de Araguari, onde nasci em 1965. Escritora inveterada. Coleciono vários escritos. Pretendo lançar meu primeiro livro em um futuro próximo. Não penso, um dia, me tornar famosa. Sonho, todavia, em me perpetuar na literatura que é a minha paixão e quero, simplesmente, ser uma partícula dentro dela e, num futuro próximo poder embriagar os corações dos meus leitores. Ainda sou pequena, estou dando os primeiros passos como cronista. Tudo o que escrevo vem do coração.

Fonte:
texto enviado por Aparecido R. de Souza.

domingo, 12 de julho de 2020

Varal de Trovas n. 318


Paulo R. O. Caruso (Crônica) 1


Sábado, 5h20min da manhã. A aurora esticava tenuemente os braços rumo ao despertar para o novo dia. Os olhos de Rubinelson Furtado brilharam quando ele, após algumas horas perambulando por um bairro da Zona Norte da cidade, enxergou Margareth. A estonteante morena saíra do seu trabalho como corretora de imóveis direto para a balada, em celebração ao seu aniversário de 26 anos, com colegas da academia de educação física.

A localidade não era das mais seguras, o que fez a moça, ao descer do ônibus exausta, esticar a largura dos passos rumo ao beco que dava para a sua residência. Mais uns cem metros e enfim estaria em segurança para dormir até a tarde após uma sexta-feira tão exaustiva, conquanto divertida. Nem parecia preocupada com a, segundo ela, "tal virosezinha que, após devastar vários países, recém adentrara o território brasileiro.

O rapaz, por seu turno, mantinha-se muito bem informado acerca do Coronavírus e trajava luvas brancas e máscara, temendo um possível contágio nas ruas. Todavia, igualmente acelerou suas passadas com o intuito de alcançar a beldade.

- É o seguinte, dona. Perdeu, perdeu! Passa o celular e a bolsa já já!

- Oi? Como assim? Assaltante se protegendo dessa frescura de virose????

- Frescura não, madame. Mais respeito! Co-ro-na-ví-rus! COVID-19, viu? Já matou milhares na China, na Itália, na Espanha, nos Estados Unidos, na França, na Inglaterra e só Deus sabe onde mais! E chegou aqui ao Brasil, tá?

- Sério isso?

- Olha só, sem conversa! Passa tudo! Já me enchi de ficar correndo risco por sua causa! - esbravejou com olhos esbugalhados o vagabundo, de tão apavorado ante a possibilidade de se contaminar num "acidente de trabalho"...

A morena, segundo ordens do neurótico interlocutor, já ia se preparando para passar álcool em gel na parte externa da bolsa pirateada e no celular para entregá-los ao larápio quando, de repente, veio a fatalidade. Ele, que mantinha a mão direita no bolso como quem aponta uma pistola contra a vítima, se desesperou ao receber perdigotos no rosto, na máscara e na roupa. Afinal, Margareth soltara um forte espirro proveniente de uma rinite alérgica devida a uma lufada de vento empoeirada.

O rapaz, apavorado, imediatamente desfaleceu na frente da jovem. Acordou na delegacia e, depois do resultado negativo do teste, deu graças a Deus pelo confinamento involuntário...

Fonte:
texto enviado pelo autor

Nadir D’Onofrio (Poemas Escolhidos) II


NOITE DE LUA CHEIA    

O coração em fase minguante
luta contra a maré cheia
Num esforço desgastante
como barco que vagueia

Sem o marujo arrogante
que meu rosto afogueia
Quando chega insinuante
deitando-me na areia...

Ante o porte elegante
minha mente devaneia
Este é o meu amante!

A luz do luar bruxuleia
por entre nuvem gigante
E o teu calor que incendeia...
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QUE CHEGUE A PRIMAVERA...


Traga o aroma das flores de laranjeira
E as cores que ornam as jardineiras
No jardim espetáculo das cerejeiras
Onde cria sua teia... a aranha fiandeira...

O cerrado apresenta festivais de formas
Cenário mostra ipê, lobeira, poinciana
Mescla de beleza, delicadeza, aromas
Entre pequizeiros, destaca-se a tipuana

 Em meio à imensa diversidade
Surge um filhote de lobo guará
Mostra-se altivo em sua jovialidade

Em sobrevoos constantes, um carcará
Astuto, busca a presa com voluptuosidade
Que dorme à sombra da palmeira indaiá
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SORRISOS


Sorri ao te encontrar!
Sorrio ao saber que vais chegar
Esboço um riso ao pensar em ti
E na verdade, que por tempos omiti...

Há dias que meu semblante entristece
Não tenho você, para aconchegar
E quando sem causa, desaparece
Faz meu espírito, desassossegar

Acostumei-me a sua presença!
O carinho de sua mão
Afasta de meu ser a descrença

Não quero vida de ermitão
Tampouco, decreto de sentença
Aceito seu comando capitão...
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SOU TEU VÍRUS...


Terrivelmente contagioso
Em teu ser fiz morada
Aninhei-me e prolifero
No teu corpo... arraigada

Meu único hospedeiro!
Por seres tão especial
Amado e desejado!
Isso tudo é natural...

Tentei escamotear
Sufocar o sentimento
É somente acarinhar

Com versos incomodar
Mostrar meu assanhamento
Na forma sutil de te amar...
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VENDAVAL DE PAIXÃO

Saltitava fogoso como um corcel
Meu pensamento obsceno!
Mente rodopiava em carrossel
Misturando o sacro e o pecado

Bastou a tarde findar
A noite fria chegar
Essa melancolia vem acampar
Intrometida, chega sem avisar!

Fique, se aninhe
Será só por um momento!
Ou espera que eu definhe?

Essa paixão é como vendaval
Que se  forma no meu ego!
Varrerei a tristeza para o quintal...

Fonte:
Asas dos Sonhos

Aparecido Raimundo de Souza (Luis Fernando Veríssimo em Xeque)


(Nota do Blog: Entrevista realizada em Porto Alegre/RS, na casa de Veríssimo, onde o escritor fala de seus livros e de sua vida pessoal.)
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CONHECI LUIZ FERNANDO VERÍSSIMO em 1981, em Porto Alegre, na Feira do Livro. Trocamos figurinhas. Ele lançava “O Analista de Bagé” e eu lhe dei de presente o meu “Quem se abilita?” Fizemos uma boa amizade, e acabei indo parar em sua casa, onde me concedeu uma pequena e breve entrevista. Eu primaverava na casa dos vinte e oito,  enquanto ele, velho na estrada, sorria fazendo enorme sucesso com suas crônicas humorísticas.

Diante de um famoso, não tinha muito a perguntar. A empresa que eu trabalhava em São Paulo, não me deu um roteiro para ser seguido, tipo pergunte isto, pergunte aquilo, não pergunte isto, tampouco aquilo outro. “Vá para Porto Alegre e se vire”.  Fui. Resolvi, então, por conta própria, seguir meu instinto de jornalista.

A Entrevista

ARS: Luiz Fernando Veríssimo, me  fale do livro que acabou de lançar aqui na Feira de Porto Alegre, “O Analista de Bagé”. Pelo que fiquei sabendo a edição se esgotou num abrir e piscar de olhos? A que o senhor atribui esse sucesso?

LFV: Acredito que pelo fato de ser um livro novo, falando de uma cidade aqui do Rio Grande do Sul. Bagé. Eu considero “O Analista de Bagé” um dos personagens mais marcantes da minha carreira de cronista.  Inicialmente os textos que deram nome ao livro, foram publicados em O Popular. O que fiz foi reunir todas as crônicas já conhecidas do grande público e enfaixa-las em um livro. A seleção saiu pela L&PM Editores, de São Paulo. Juntei tudo o que havia escrito sobre o personagem e deu no que deu. Não esperava fosse dar todo esse frisson. Penso que fui duplamente recompensado. Primeiro, porque não precisei fugir do linguajar da terra. Usei muito as expressões regionais do povo gaúcho, e segundo, consegui dar vida ao personagem que considero mais atrapalhado do que cachorro em procissão.  Atribuo o sucesso ao fato de escrever todos os dias para o Zero Hora. O Zero Hora é um jornal diário que roda todo o Estado e isso me fez ficar um pouco mais conhecido. 

ARS: O fato do senhor ser filho do escritor Érico Veríssimo ajudou?

LFV: Não. Papai tinha um estilo clássico. Seus romances eram excepcionais, bem construídos, personagens estudados. Eu sou mais brincalhão, guindei minha linha criativa voltada para o humorismo. E tenho me dado bem.

ARS: Qual foi seu livro de estreia como escritor?

LFV: “A Grande Mulher Nua”.

ARS: Me fale sobre as “Comédias da vida privada”.

LFV: Em “Comédias da vida privada” eu procurei me movimentar com mais destreza usando uma logística nova. O território onde movimento os personagens é imenso, ao mesmo tempo que opaco, denso e impreciso da classe média. Seus heróis anônimos, os grandes e pequenos gestos, a complicada engenharia familiar, o cotidiano das grandes cidades, ambientes onde transitam a esmagadora  maioria dos habitantes deste país. Eu diria que me transportei para um universo ao mesmo tempo rico e banal. Foi nele  que  me inspirei para dar vida aos personagens criados desde que comecei a escrever. São trinta e poucas crônicas, a maioria já publicadas no Zero Hora e no Jornal do Brasil. 

ARS: É verdade que o senhor viveu parte da sua infância fora do Brasil?

LFV: Sim, é verdade. Papai lecionou literatura brasileira nas Universidades de Berkeley e Oakland, entre 1941 e 1945. Em 1953 voltamos aos Estados Unidos, quando meu pai assumiu a direção do Departamento Cultural da União Pan-Americana, em  Washington, e só retornarmos ao Brasil em 1956. Nessa época, eu estudei no Roosevelt High School, também em Washington. Desenvolvi nesse entremeado de tempo, o gosto pelo Jazz, chegando a ter aulas de saxofone.  

ARS: Quer dizer que além de escritor é também músico?

LFV: Não exatamente. Cheguei a integrar um conjunto musical Renato e Seu Sexteto. Mas só de brincadeira, para passar o tempo e ganhar uns trocadinhos.

ARS: Vamos sair um pouco da sua vida literária e partir para a  pessoal. Me fale de sua família. 

LFV: Em 1962 eu saí daqui de Porto Alegre e fui morar no Rio de Janeiro. Trabalhei como tradutor e redator publicitário. Em 1963, encontrei o amor da minha vida. Me casei dois anos depois com a Lucia Helena Massa e tivemos três filhos: Pedro Veríssimo, Fernanda Veríssimo e Mariana Veríssimo. Pedro é cantor, Fernanda, jornalista e  Mariana, roteirista.

ARS: O senhor se sente realizado?

LFV: Acho que se sentir realizado é exatamente não se sentir realizado.

ARS: Seu maior sonho hoje.

LFV: Curtir futuramente meus netos. 
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Essa foi a minha breve entrevista com o escritor Luiz Fernando Veríssimo, esse gaúcho amável e simpático nascido em Porto Alegre em 26 de setembro de 1936. Autor de vasta obra, poderíamos citar: As Cobras e Outros Bichos,  O Jardim do Diabo, Sexo na Cabeça, A Velhinha de Taubaté, A Mulher do Silva, A Mesa Voadora, Orgias, O Suicida e  o Computador, As Mentiras que os Homens Contam, e outros mais.
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Aparecido Raimundo de Souza, é natural de Andirá/PR, radicado em Vila Velha/ES, jornalista e escritor. Autor de "Ligações Perigosas", série veiculada pela Rede Globo de Televisão.
 
Fonte:
Entrevista enviada por Aparecido R. de Souza.