sábado, 30 de março de 2024

Caldeirão Poético LXXXIII


(Academia Brasileira de Sonetistas Clássicos)

Arlindo Tadeu Hagen

MINHA POESIA

A forma de expressar meus sentimentos
sempre foi através da poesia.
Muito mais do que a fala, a fantasia 
me acompanhou por todos os momentos. 

Lamentei, versejando, os sofrimentos 
e brindei as vitórias na alegria.
Através dos meus versos, sempre atentos,
testemunhei de tudo, dia a dia.

A poesia fez melhor meu mundo
 mais fraterno, bonito e colorido
e deu à minha vida mais sentido.

Entretanto, o meu verso mais profundo 
eu penso que jamais irei fazer
sobre as coisas que eu sinto sem dizer.
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Elvira Drummond

MALÍCIAS DO VERSO…

O verso vem… achega-se discreto, 
de modo tão suave, que sombreia 
as suas intenções, o seu projeto 
de armar, devagarinho, a sua teia.

Um verso tem seu próprio dialeto:  
se tece palavrinhas, em cadeia, 
enrama seu enredo tão completo, 
que alumbra com clarão de lua cheia! 

E, nesse ponto, o verso não espera: 
assume o meu desejo de quimera
e faz de mim refém do coração!  

Entregue, totalmente, ao seu capricho, 
escuto o seu sussurro, o seu cochicho…
é o verso que conduz a minha mão! 
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Fernando Antônio Belino

VINHO E PÃO

Se faço um verso novo, é bom sinal
de que resta comigo uma esperança,
de que a fúria do intenso vendaval
não dizimou meu riso de criança.

Refém do cerco atroz do imenso mal,
a minha lira insiste e não se cansa.
Mantém-se firme, em luta visceral,
contra esse breu que, sobre a luz, avança.

Quando escrevo, a poesia é um gesto forte,
que afasta, da navalha, o agudo corte,
mantendo acesa a tímida alegria.

A escrita é meu alento e minha cura;
é um vinho que me salva da loucura;
é um pão que me alimenta a cada dia!
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Gilliard Santos

RECEITA DE UM SONETO DE AMOR

Em uma folha branca e bem untada
Despeje três porções de inspiração;
Coloque seis colheres de emoção
E mexa bem, de forma graduada...

Ponha de amor três xícaras de cada,
Depois uma pitada de paixão...
A massa, enfim, requer maturação
Para depois no forno ser assada.

Versejar é processo demorado...
Segue regras, qual fosse um algoritmo.
Não é simples o ofício de escritor!

Verso sáfico, heroico, agalopado?
Essa escolha depende do seu ritmo...
E eis um soneto clássico de amor.
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Guilherme de Freitas

PLUVIAL

Malgrado um certo estio repentino,
E, sendo assim, maior que os outros medos,
Alguma gota molha o meu destino,
E um verso a mais me escorre pelos dedos.

De pingo em pingo, as sílabas combino,
E a estrofe me aparece sem segredos,
E após o fim do ciclo de refino,
Encaro o resultado de olhos ledos.

Centelha audaz que sou da luz divina,
Abraço as leis, a forma e a disciplina
Que exige o bom poeta, quando cria...

E desse modo, um vão papel em branco
Se torna o território sério e franco
No qual se faz chover a poesia.
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Jérson Brito

NA MEDIDA CERTA

Na construção do verso, a melodia 
é requisito um tanto necessário,
ainda mais se o estilo literário
tiver, na forma, o arrimo que inebria.

Embora existam vozes em contrário,
enxergo plena a verve que se alia
ao regramento imposto e à simetria
usada quando grita o imaginário.

A liberdade dentro da clausura
de sílabas contadas, linha a linha,
reputo valiosíssima conquista.

Se estou também no público, à leitura
procuro dar cadência, nesta minha
audácia de encarnar um sonetista.
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José Rodrigues Filho

O POETA E O JABUTI

No intuito de compor um sonetilho 
Nas redondilhas encontrei as rimas,
Não sendo afeito ao cerne de obras-primas 
Muito hesitei até achar o trilho. 

Zelosamente, afasto o trocadilho...
Procuro não focar em pantomimas. 
Coloco nos quartetos coenzimas 
As quais darão formato ao novo filho. 

Escrevo atento aos passos de um quelônio,
Recém-nascido, um novo patrimônio 
Da natureza excelsa e criadora. 

A inspiração aflora nos tercetos...
Relembro estrofes de outros meus sonetos, 
Concluo a peça desafiadora. 
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Lucília Alzira Trindade Decarli

SONHO DE POETA

Quisera poder, num toque de mão, 
levar ao leitor a excelsa magia
que o faça encontrar, talvez, fantasia, 
mas chegue a sentir repleta emoção! 

Nos versos, proponho haver sintonia
que inspire a compor a "eterna canção".
Debalde, almejar tenaz perfeição, 
se entorna, o poema, obscura avaria...

E, pobre de mim, rabisco e rabisco, 
depois os releio e os versos confisco; 
desejo alcançar a intrínseca meta.

Caneta e papel... perscruto no prisma
a força da luz que excede o sofisma
e volto a escrever... Serei um poeta?
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Ricardo Camacho

ARTE MAIOR

Com muito prazer, estanco a agonia,
Compondo a canção, ilustre poema,
Que eleva a expressão na voz que irradia
Encanto, poder e graça suprema.

Pressinto vencer enorme dilema,
Soltando a emoção no verso, alegria,
Que anula a tensão no próprio fonema
Fazendo nascer o som - Melodia!

Lembrando um tenor, conduzo a cadência
Da composição, no firme compasso,
Que leva o leitor em bela fluência 

Num voo retrô, à prístina essência,
Por meio da mão, da pena e do traço
Com esta versão de própria fulgência!
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Fonte: Recanto das Letras. 25.03.2024

Um comentário:

Anônimo disse...

Lindis sonetos!!!