o que só fazem os vinhos:
Me embriaga e é bem capaz
de embriagar os vizinhos.
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Ao que canta, basta o canto,
para carpir sua dor,
para derramar seu pranto,
basta a trova ao trovador.
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A trova não tem ciência:
carece de intuição,
um pouco de inteligência
e de muita inspiração.
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Cheguei da vida ao Inverno.
Retornar? – Ah, quem me dera!
Sorver o doce Falerno*
de uma nova Primavera.
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Depois de brilhar intenso,
Como flechas de ouro os raios,
No horizonte, o sol imenso,
Desfalece-se em desmaios.
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Depois de tantas andanças,
ao velho restam seus ais,
voltar a velhas lembranças,
recordá-las, nada mais.
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Deus excede a imensidão
dos campos, dos céus, dos mares,
mas cabe em teu coração
se humildemente O buscares.
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Eu não consigo ocultar
a dor que aqui dentro sinto,
se a boca tenta negar,
meus olhos mostram que minto.
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Há certo tipo de amor
que a gente nunca se esquece:
na lembrança – morta a flor –
seu perfume permanece.
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Medo e Sonho, dois caminhos,
se entre um e outro me ponho,
prefiro enfrentar espinhos,
e perseguir o meu sonho.
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Minha trova é minha amiga,
ela acolhe os meus clamores,
é como modinha antiga,
que embala antigos amores.
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Misturam-se à paciência
do fantástico artesão,
a força da inteligência
com a destreza da mão.
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Nada pode embriagar,
nem mesmo os melhores vinhos,
como as mulheres no altar
como os rosais dos caminhos
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Na minha grande fraqueza,
num poço fundo, sem luz,
descobri a fortaleza,
da mão firme de Jesus.
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Não precisa o trovador
Ser letrado ou exegeta,
Ele precisa de amor,
Ser sensível e ser poeta.
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Não teriam mais sentido
meus sentidos sem você,
pois fico todo perdido
quando um deles não lhe vê.
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Nas horas de devaneio,
Ou mesmo se estou tristonho,
Retiro o véu do receio,
quando a sonhar eu me ponho.
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Nunca foi um ser normal
o poeta (alguém diria):
ele pega o que é real
e põe dentro a fantasia!
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O belo sol nascediço**,
vem de luz encher meu quarto;
eu acordo, e me espreguiço,
e agradecido me farto.
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Preocupa-me o destino
da minha lira sonora
quando badalar o sino,
quando chegar minha hora.
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Quando o coração padece,
só você sabe o porquê,
ou você magoou alguém,
ou alguém magoou você.
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Quem ama vê atitudes
virtuosas no defeito,
e quem não, nem as virtudes
são enxergadas direito.
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Quintana disse-me, a mim,
usando as suas facetas,
que eu cultivasse um jardim
e aguardasse as borboletas.
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Sacrifício por amor
nunca maltrata, nem cansa;
tem do prazer o sabor
e o gosto da esperança.
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Se for possível a quem parte,
se permitido a quem sonha,
se merecedora a arte,
deitem-me a lira tristonha.
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Se meu presente é tão bom,
eu devo muito ao passado,
ele foi que deu meu tom,
e me manteve afinado.
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Se tenho amor nas entranhas,
e se cultivo o perdão,
as suas faltas tamanhas,
perdoo-as de coração.
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Se todos fossem iguais,
o que seria da gente?
- Eu posso ser um a mais,
mas você é diferente!
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Somente tenho singrado
em águas rasas, serenas,
eu sou barco sem calado
e tenho velas pequenas.
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Tem três fases na gaveta
da vida de um velho pai:
a de rei, a de careta,
e a de bom, quando ele vai.
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Um amante, um poeta e um louco,
amor, sonho, fantasia,
sou de cada um, um pouco,
não fosse assim, não vivia.
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Vejo a noite enluarada,
e esse céu todo risonho,
sem ter de fazer mais nada
de você, eu faço o sonho.
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* doce Falerno = Vinho apreciado pelos antigos romanos e que se produzia outrora em Falerno (Itália)
** Nascediço = que vai nascendo.
Fonte:
Recanto das Letras do Trovador
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