domingo, 15 de abril de 2012

Alcântara Machado (Brás, Bexiga e Barra Funda)


Alcântara Machado publicou Brás, Bexiga e Barra Funda, em 1927, sendo sua segunda publicação. A obra, da primeira fase do Modernismo, tem, ao invés de um prólogo, um artigo de fundo e o autor confessa que os contos não nasceram contos, mas sim notícias. Alcântara Machado busca fixar tão somente alguns aspectos da vida quotidiana dos novos mestiços nacionais e nacionalistas. Seu processo lingüístico é imitável, inimitável é o espírito, o estilo, animado por uma verve, uma graça e um humor absolutamente pessoais.

Estrutura

O livro é montado através de pequenos quadros sobre o cotidiano pobres de São Paulo, juntando episódios de rua, que o próprio autor intitulava de “notícias”. São 11 contos da mais bem-humorada prosa cubo-futurista, onde vai juntando quadros urbanos que ficam entre a crônica, a notícia e o conto leve.

É possível estabelecer uma aproximação entre Alcântara Machado e Lima Barreto pela atitude jornalística de ambos e pela preferência na retratação do proletariado — os filhos dos carcamanos, no primeiro, e o homem do subúrbio, no segundo.

Os contos mantêm uma característica fundamental do gênero que é a densidade. Todos são curtos e apresentam os elementos mínimos indispensáveis, sem alongar-se em qualquer descrição de cenário ou de personagem. Apresenta apenas os dados essenciais para que a narrativa possa ancorar no espaço desejado, valorizando o mapeamento da cidade, por isso, são freqüentes as citações de nome de ruas e de bairros.

Espaço / Tempo

O espaço é essencialmente urbano, com suas dificuldades e com a luta das pessoas para nele se adaptarem. Podemos dividi-lo em espaço interno, fechado, mostrando as pessoas em casa, no seu viver cotidiano, seja numa condição não muito comum, como o velório, seja na rotina diária, como uma refeição ou conversação informal.

O tempo é cronológico e alguns contos apresentam unidade de tempo, como: Lisetta, Corinthians (2) x. Palestra (1), O monstro de rodas, Armazém Progresso de São Paulo, desenvolvendo-se a ação num só dia. Outros contos, porém, já não apresentam essa unidade, com a ação alongando-se por mais de um dia, numa seqüência revelada de modo elíptico, muitas vezes representado simbolicamente pela duplicação do espaço em branco, que separa um parágrafo do outro, uma ação da outra, num corte cinematográfico. Exemplo disso são os contos: Gaetaninho, Carmela, Tiro-de-guerra nº 35, Amor e sangue, A sociedade, Nacionalidade.

Foco narrativo

Narrado em 3ª pessoa a modernidade se revela através do jogo de fragmentos, reunindo lances da vida urbana de imigrantes e paulistas tradicionais numa cidade em franco progresso. Entre os elementos mais destacadamente modernos do livro, está a sua forma narrativa, feita em blocos, que funcionam como cenas.

O principal processo narrativo em Brás, Bexiga e Barra Fundaé o diálogo — o diálogo ponto de vista da narrativa, o diálogo revelador de caracteres e o diálogo sugestão de ambientes, ou ainda o discurso indireto vivo, uma forma de dialogação polifônica.

No conto Gaetaninho, esses processos realizam-se através da libertação da construção tradicional da frase e do aproveitamento da vivacidade do coloquial, na visão do menino que brinca, é castigado, sonha com a morte da tia só para andar de carro e morre atropelado.

Linguagem

Quanto à linguagem propriamente dita, ela é o elemento igualmente central do caráter moderno do livro. Uma das marcas de Brás, Bexiga e Barra Funda é a leveza conseguida por meio do discurso direto, predominante na obra. As personagens têm a oportunidade de falar diretamente por meio dos diálogos, exprimindo suas emoções, tristezas e esperanças com toda a carga expressiva e a coloquialidade que lhes é característica. Os diálogos propiciam também maior sensação de realismo e de proximidade entre personagens e leitor. A história ganha em dinamismo e, graças à sutil ironia de Alcântara Machado, em humor. Além do mais, a leitura dos 11 pequenos contos reunidos nesta obra faz que sintamos o processo de abrasileiramento do italiano.

Antônio de Alcântara Machado traz na linguagem uma marca muito própria dos modernistas da primeira geração: a recusa à linguagem empolada, retórica, cheia de volteios. Ao contrário sua linguagem é marcada pelo estilo telegráfico, conciso. As frases são na sua maioria formadas por orações coordenadas e curtas, garantindo sempre um mesmo ritmo ao texto:

Foi-se chegando devagarinho, devagarinho, devagarinho. Fazendo beicinho. Estudando o terreno. Diante da mãe e do Chinelo parou. Balançou o corpo. Recurso de campeão de futebol. Fingiu tomar a direita. Mas deu meia volta e varou pela esquerda porta adentro.

Personagens

Os personagens são “planos”, superficiais, não apresentam transformações surpreendentes durante a narrativa. As personagens são apresentadas de modo sumário e rápido, embora não seja uma caricatura, apesar do humor. Alguns são verdadeiros tipos como Carmela e Salvatore Melli, mas outros também apresentam uma base psicológica como Gaetaninho.

Na busca pela adaptação cultural e econômica, encontramos as costureirinhas curiosas pelo mundo do qual não fazem parte, mas conscientes de que devem continuar a fazer suas famílias na colônia, as crianças vítimas do preconceito, da pobreza e da injustiça que cerca o imigrante de classe mais baixa, os comerciantes gananciosos e suas famílias buscando uma posição social, os jovens trabalhadores e apaixonados, os quatrocentões paulistas, nobres e falidos, diante dos “carcamanos” endinheirados e “sem berço”.

Problemática e temas principais

Os temas mais recorrentes nos contos da obra em análise são:

1. A luta do Italiano pobre para conseguir seu dinheiro (Tiro-de-Guerra nº 35, Nacionalidade).

2. Ascensão social do italiano (Notas Biográficas do Novo Deputado, Nacionalidade).

3. Integração do italiano com o brasileiro (A Sociedade).

4. O despreparo da cidade e dos adultos com relação à criança que não tem um espaço adequado nem uma atenção necessária, quebrando a cara e a cabeça (Gaetaninho, O Monstro de Rodas).

5. Crítica social — Embora tenha avisado no “artigo de fundo” que não faria crítica ou denúncia social, podemos dizer que não é verdade, embora não o faça como narrador, mas coloca na boca das personagens várias pílulas críticas como em O Monstro de Rodas, quando alguém comenta: “Não conhece a podridão da nossa imprensa. Que o quê, meu nego. Filho de rico manda nesta terra que nem a Light. Pode matar sem medo. É ou não é, seu Zamponi?”

6. Obra datada — Sua obra fica prejudicada por determinadas técnicas que tornam a obra muito datada, dificultando para os leitores jovens de hoje a sua total apreensão. Algumas dessas técnicas são:

— emprego de gírias que já foram esquecidas (estava achando um suco = achava muito bom);

— nome de produtos que deixaram de ser fabricados (cláxon);

— o mapearmento da cidade de São Paulo (Rua do Gazômetro, Rua do Oriente);

7. Nomes de firmas ou de lojas que deixaram de existir (vestido do Camilo, Ao Chic Parisiense);

8. Referências a fatos ou acontecimentos que desapareceram da memória de quase todo mundo.

Enredo dos contos

1. Gaetaninho - A narrativa é feita em terceira pessoa, com narrador onisciente e tem como espaço a Rua do Oriente. As personagens que a compõem são os italianinhos ou "intalianinhos"; a protagonista é Gaetaninho, maluco por futebol a ponto de ficar o dia inteiro jogando bola de meia na rua, com os amigos. Ficava tão concentrado que não vê o Ford, a carroça. Mas

"Grito materno sim: até filho surdo escuta. Virou o rosto tão feio de sardento, viu a mãe e viu o chinelo.

- Súbito!

Foi-se chegando devagarinho, devagarinho. Fazendo beicinho. Estudando o terreno. Diante da mãe e do chinelo parou. Balançou o corpo. Recurso de campeão de futebol. Fingiu tomar a direita. Mas deu meia volta instantânea e varou pela esquerda porta adentro.

Eta salame de mestre!"

Ali na rua do Oriente, todo mundo era pobre e todo mundo andava de bonde. De automóvel ou carro, só mesmo quando morria alguém ou alguém casava. Naquela tarde, por exemplo, Beppino tinha atravessado a cidade de carro, acompanhando tia Peronetta que se mudava para o Araçá (tia Peronetta havia morrido e esta é uma forma popular de dizer que ela fora enterrada no Araçá).

Gaetaninho driblou a mãe, entrou.

Enfiou a cabeça debaixo do travesseiro e sonhou que tia Filomena tinha morrido. Lá ia Gaetaninho na boléia, sonho antigo de menino, vestido de roupa marinheira e gorro onde se lia "Encouraçdo São Paulo"... não, melhor com a palhetinha nova que ganhara de presente do irmão.

Quando contou o sonho, e no sonho vira o Savério, noivo de tia Filomena, chorando, a tia teve uma taque de nervos, Gaetaninho , arrependido, colocou no lugar da tia o seu Rubino, que era acendedor da Companhia de Gás e que um dia tinha lhe dado um cocre.

Os irmãos, depois de contado o sonho com a tia Filomena, apostaram no elefante, mas deu a vaca no jogo do bicho...

Gaetaninho vai brincar outra vez com os amigos, jogando bola. Distraiu-se:

- Traga a bola!

Gaetaninho saiu correndo. Antes de alcançar a bola um bonde o pegou. Pegou e matou.

No bonde vinha o pai do Gaetaninho.

A gurizada assustada espalhou a notícia na noite.

- Sabe o Gaetaninho?

- Que é que tem?

- Amassou o bonde!

A vizinhança limpou com benzina suas roupas domingueiras.

Comentário: Neste conto pode-se notar no comportamento dos meninos uma demonstração de impiedade natural que tanto pode ser fruto da própria idade, quanto da vida urbana moderna. Percorre o texto um humor negro, resultado de uma ironia amarga.

2. Carmela - Carmela sai da oficina às 18h30, em meio a muitas outras costeirinhas "que riem, falam alto, balançam os quadris como gangorras." Os automóveis, com sua buzinas gritadoras, lotam a rua Barão de Itapetininga.

Bianca, feia e estrábica, caminha ao lado da amiga Carmela, em meio aos automóveis e os homens namoradores. É dela uma espécie de sentinela.

Um rapaz que usa óculos para o Buick de propósito na esquina. O Ângelo espera na Rua Barão. Carmela está interessada nele:

"Bianca retarda o passo.

Carmela continua no mesmo. Como se não houvesse nada. E o Ângelo junta-se a ela. Também como se não houvesse nada. Só que sorri.

- Já acabou o romance?

- A madama não deixa a gente ler na oficina."

Vão caminhando juntos, falando do baile de amanhã, o Buick passa e repassa, Bianca é perguntada pelo motorista sobre onde mora a Carmela. Mesmo que esteja acompanhada de outro, o rapaz do Buick não dá sossego...

Bianca entrega tudo: como se chama a amiga, onde mora, rua, número, bairro. E o moço ainda deixa com ela um recado: "- Diga a ela que eu a espero amanhã de noite, às oito horas, na rua... não... atrás da Igreja de santa Cecília. Mas que ela vá sozinha, hein? Sem você. O barbeirinho também pode ficar em casa."

O barbeirinho era o Ângelo, entregador da Casa Clark...

No outro dia, vai encontrar-se com ele a Carmela; leva junto a Bianca e ambas concordam em dar uma volta no Buick do rapaz.

No domingo seguinte, quando vai à casa da amiga, Bianca a encontra raspando a sobrancelha e anunciando que não vai dar voltas de carro com os dois. Querem estar sozinhos. Bianca chama Carmela de vaca...

Depois de deixar a amiga com o caixa d'óculos, despeitada, encontra uma amiga do bairro e conta tudo sobre Carmela e o rapaz rico. Espantada, a amiga pergunta pelo Ângelo. E recebe a resposta inusitada:

"- O Ângelo/ O outro é outra coisa. É pra casar."

Comentário: Chamamos a atenção para uma tradição na “paquera" daqueles tempos: a moça feia seguia sempre na carona da bonita, mas ficava para trás (como no começo do conto) quando a outra ia falar com o rapaz, e era deixada de lado, logo que o namoro estava garantido. Nota-se também a coloquialidade, característica do Modernismo, permitindo registrar a linguagem viva das ruas.

Alcântara Machado revela, de maneira concisa, sugestiva, a psicologia da mulher nesses novos tempos. O amor único, romântico, não é valor fundamental, por isso, Carmela mantém um namorado para casar e outro para divertir-se, mas sem compromisso.

Tiro de guerra nº 35 - Foi no grupo escolar da Barra Funda que o Aristodemo Guggiani aprendeu a roubar no jogo de gude e a amar o Brasil. Cantava o Hino Nacional com voz bem entoada e , berrando, puxava o coro. Quando a campanhai tocava, o pessoal da classe "desembestava pela Rua Albuquerque Lins vaiando o seu Serafim."

Quando saiu do Grupo escolar, já fumando cigarros Bentevi, foi trabalhar na oficina de um cunhado e entrou para o Juvenil Flor de Prata F.C. como reserva do time, mas foi expulso por falta de pagamento das mensalidades. Daí para a frente, uma série de amores , sovas e acontecimentos corriqueiros: quase morreu afogado no rio Tietê. No dia em que Tina, a namorado de um amigo, casou à força, na polícia, com um chofer de praça, Aristodemo fez 20 anos.

Brigou com o cunhado, arrumou emprego como cobrador na linha Praça do Patriarca-Lapa, na Companhia Autoviação Gabrielle D'Annunzio. Para isso, usava farda amarela e polainas vermelhas.

E arranjou uma pequena. Ela vinha à janela para vê-lo passar e o motorista, o Evaristo, por camaradagem tocava a buzina quando passava pela casa da pequena.

Mas teve que se afastar dela quando foi convocado para o serviço militar do Tiro-de-guerra. O sargento cearense, Aristóteles Camarão de Medeiros, dava as ordens e "quando falava em honra da farda, deveres do soldado e grandeza da Pátria arrebatava qualquer um.

Aristodemo só de ouvi-lo ficou brasileiro jacobino. Aristóteles escolheu-o para seu ajudante de-ordens. Uma espécie de.

- José conhece o hino nacional, criatura?

- Puxa, se conheço, seu sargento!

- Então você não esquece, não? Traz amanhã umas cópias dele para o pessoal ensaiar para o Sete de Setembro? Abom."

Aristodemo pediu folga no serviço, ensaio com aquele bando de soldados semi-analfabetos, que erravam o tempo todo. De repente, com a presença do sargento e tudo, houve um tumulto grande: era Aristodemo que brigava a socos com o alemãozinho que tinha debochado do hino. Confessou depois ao sargento que batera na cara do alemãozinho e que xingara demais a mãe dele.

Resultado: o alemãozinho foi desligado das fileiras do Exército, Aristodemo suspenso por um dia. Além do que, por conselho do sargento, ainda mudou de agência de ônibus: foi trabalhar na Rui Barbosa...

Comentário: É comum nas narrativas de Alcântara Machado a incorporação de gêneros não literários como o cartão de propaganda, o bilhete ou carta. Nesse conto, ele insere a "ordem do dia", absolutamente integrada como sempre faz também com os outros casos. A ficção de Alcântara Machado, com tais inserções, não só incorpora técnicas das vanguardas européias, como objetiva fazer o registro do viver urbano paulista no início do século XX.

Amor e sangue - A alma de Nicolino estava negra, embora o céu estivesse azul, todo azul. A impressão que teve foi de que a rua é que andava, não ele.

Veja como Alcântara Machado produz momentos extremamente poéticos na prosa: "As bananas na porta da Quitanda Trípoli italiana eram de ouro por causa do sol." Por que será que a alma dele andava negra assim?

Narrativa em terceira pessoa, Amor e sangue conta a história de Nicolino Fior D'Amore , insatisfeito , infeliz. Adora futebol, é bom jogador, mas a Grazia tira dele o juízo: "A desgraçada já havia passado."

Nicolino trabalha no "Ao barbeiro Submarino", ouve as conversas naquele dia, mas nada diz. Comentam muito sobre o crime do dia anterior: um rapaz havia matado uma moça por ciúmes, privação dos sentidos... Nicolino nem escutava mais.

O ciúme corroia-o por dentro. Quando a fábrica apitou, foi ao encontro dela, jurando que se mataria se ela não falasse mais com ele:

"- Não faça mais assim pra mim, Grazia. Deixa que eu vá com você. Estou ficando louco, Grazia. Escuta. Olha, Grazia! Grazia! Se você não falar mais comigo eu me mato mesmo. Escuta. Fala alguma coisa, por favor."

Mas ela não quis falar mesmo com ele.

Na saída da fábrica, Nicolino resolveu se vingar, apunhalou Grazia. E, quando foi preso, declarou:

"Eu matei porque estava louco, seu delegado!

Todos os jornais registraram essa frase que foi dita chorando.

Eu estava louco,

Seu delegado!

Matei por isso, BIS

Sou um esgraçado!

O estribilho do Assassino por Amor (Canção da atualidade para ser cantada com a música do "Fubá", letra de Spartaco Novais Panini) causou furor na zona."

Comentário: Pela forma como a narrativa está estruturada, embora o narrador não diga, deixando em aberto, é fácil o leitor perceber que o ato da personagem foi sugerido pela notícia de jornal comentada por Temístocles.

A Sociedade - A esposa do conselheiro José Bonifácio de Matos e Arruda não tolera sequer imaginar que a filha Teresa Rita venha a se casar com um “filho carcamano”

Mesmo assim, o rapaz, Adriano Melli, ronda a sua janela, passa buzinando no seu Lancia e cumprimentando com seu chapéu Borsalino. A mãe, atenta, manda-a entrar.

Os pais não puderam ir ao baile graças a um furúnculo no pescoço do conselheiro e com isso Teresa e Adriano conseguem se ver. Neste encontro, o jovem anuncia seu pai quer fazer negócio com o pai da moça.

A mãe, precavida, já deixa avisado: “Olhe aqui, Bonifácio: se esse carcamano vem pedir a mão de Teresa para o filho você aponde o olho da rua para ele, compreendeu?”

Mas o negócio era outro. O senhor Salvatore Melli vinha propor sociedade em um negócio no qual o conselheiro entrava com uns terrenos e ele com o capital. No meio da conversa, Salvatore avisa que seu filho será o gerente da sociedade.

Consultando a mulher, o conselheiro obteve a seguinte resposta: “Faça como quiser, Bonifácio...”. E ele resolveu aceitar.

Seis meses depois vem a outra proposta: o casamento dos filhos.

No chá de noivado, o senhor Melli recordou na frente de todos o tempo que vendia cebolas, batatas, Olio di Lucca e bacalhau para a mãe de Teresa quase sempre fiado e até sem caderneta.

Comentário: É importantíssimo observar, nesse conto, como o autor fragmenta o discurso em pedaços ao modo de azulejos que formam um mosaico. Veja na descrição do baile, a canção do negro da orquestra é recortada e, entre seus versos, são inseridos os fragmentos que descrevem cenas do salão, enquanto outros fragmentos mostram a disposição da mãe contra o namoro da filha com o filho do italiano. É louvável o modo inteligente como, no final, se justifica o título em duas possíveis interpretações: denotativa, com o paulista unindo-se ao italiano para o negócio do terreno; conotativa, com o casamento dos filhos, associando-se assim o paulista de tradição e o imigrante.

Lisetta - Assim que entrou no bonde com sua mãe, Lisetta viu logo o urso de pelúcia no colo da menina de pulseira de ouro e meias de seda. Quando a menina rica percebeu o encanto de Lisetta passou a exibir-se com o urso, deixando Lisetta ainda mais deslumbrada. Dora Mariana, a mãe, pedia à menina que ficasse quieta, mas Lisetta agora queria pegar o urso um pouquinho. A mãe da menina rica olhou, com ar de superioridade, fez um carinho no bichinho e se olhou no espelho. E o escândalo continuava.

Quando a família rica desceu, a mãe, já em frente ao seu palacete estilo empreiteiro português, voltou-se e agitou o bichinho no ar, provocando a menina.

Já em casa, Lisetta levou uma surra histórica. A mãe só parou quando Hugo, irmão da menina, chegou da oficina e a defendeu.

Mais tarde, Hugo deu à Lisetta um urso “pequerruncho e de lata”. Pasqualino, outro irmão, logo quis pegá-lo. Mas Lisetta correu para o quarto e “fechou-se por dentro”.

Comentário: Cinetograficamente, logo na primeira frase do conto, o narrador revela a condição social por um close em partes que revelam o todo: a pulseira de ouro e as meias de seda são índices da condição econômica superior da menina do urso. Nome de lojas e de produtos fazem parte da linguagem de Alcântara Machado, mas, ao mesmo tempo, tornam a obra datada demais e de leitura difícil aos leitores de hoje. Apesar do autor ter avisado no "artigo de fundo" que não aprofundaria nada, que não tomaria posição política, não podemos deixar de perceber que, tanto aqui como em outros contos, ele se contradiz ao focalizar com destaque a criança marginalizada pelo adulto, pela cidade e pela condição econômica, sendo levada ao sofrimento e à desilusão muito cedo.

Corinthians (2) x Palestra (1) - A partida estava vibrante no estádio do Parque Antártica. Miquelina, ao lado de sua amiga Iolanda não consegue se conformar quando o Corinthians faz o gol.

Sua esperança para garantir o Palestra agora era o Rocco. Gostava dele. Antes namorava o Biagio, jogador do Corinthians. Quando terminou o namoro, ela parou de freqüentar os bailes dominicais da Sociedade Beneficente e Recreativa do Bexiga, onde todo mundo sabia da história deles. “E passou a torcer para o Palestra. E começou a namorar o Rocco.”

Matias, jogado do Palestra, empata o jogo. Miquelina delira.

No intervalo, Miquelina manda pelo irmão um recado ao Rocco, dizendo para que ele “quebrasse” o Biagio. Quando Biagio estava parar marcar um gol, Rocco o derruba dentro da área: o juiz marca pênalti. O próprio Biagio bate e faz mais um gol para o Corinthians. O jogo acaba.

Na saída, Miquelina “murchou dentro de sua tristeza”, “nem sentia os empurrões”, “não sentia nada”, “não vivia”.

No bonde, de volta para casa, corintianos faziam a festa. Um torcedor do Palestra reclama que a culpa foi “daquela besta do Rocco”.

Mais tarde Iolanda se surpreende quando Miquelina resolve acompanhá-la ao baile da Sociedade.

Comentário: O narrador procura destacar o objeto da narração e não a si mesmo (como costumam fazer os narradores criados por Machado de Assis), vai descrevendo e narrando uma partida de futebol a que assiste Miquelina. Ela torce pelo Palestra. Mas, antes, namorara o Bagio, do Corinthians. Rompeu com ele, porém, e passou a namorar o Rocco e a torcer para o Palestra.

Nota biográfica do novo deputado - O coronel J. Peixoto de Faria fica desnorteado quando recebe a carta do administrador da fazenda Santa Inácia dizendo, entre outras coisas, que o seu compadre, João Intaliano, morreu. O órfão e afilhado do coronel, Gennarinho, ficou na casa do administrador, que agora pede uma orientação. O coronel Juca e Dona Nequinha, sua esposa, deixam para responder a carta no dia seguinte.

Gennarinho, nove anos, é trazido pelo filho mais velho do administrador. Vem “com o nariz escorrendo. Todo chibante.” Logo Gennarinho já é tratado com um filho pelo casal.

Um dia, o coronel decide traduzir o nome do menino. “Gennarinho não é nome de gente”. E passou a chamá-lo de Januário.

Discutindo sobre o futuro do garoto, os pais adotivos resolvem colocá-lo num colégio de padres. No primeiro dia de aula, o coronel, todo comovido, acompanha Januário e o apresenta ao reitor. D. Estanislau pergunta seu nome. O menino responde dizendo apenas o primeiro nome. O reitor insiste: Januário de quê? O menino responde, com os olhos fixos no coronel: Januário Peixoto de Faria.

Seguindo para São Paulo, o coronel já pensa em fazer testamento.

Comentário: Mais uma vez temos o italiano sendo assimilado pela família paulista tradicional. O menino, que parecia destinado a uma vida pobre e triste, ao ter a desgraça de ficar órfão, como que decidiu seu futuro ao captar a simpatia de seu padrinho, que o adota e destina seu amor e seus bens. O menino do relato é o deputado do título. É como se o conto fosse o esboço para a biografia de um homem recentemente eleito para deputado.

O monstro de rodas - As pessoas da sala discutiam as providências a serem tomadas para o enterro de uma criança. Dona Nunzia, a mãe, chorava desesperada até que foi levada para dentro pelo marido e pelo irmão. Uma negra rezava.

Na sala de jantar, alguns homens discutiam sobre qual seria a repercussão no Fanfulla, jornal da comunidade italiana. Pepino acha que a notícia irá atacar o “almofadinha”. Tibúrcio, porém, sabe que “filho de rico manda nesta terra que nem a Light. Pode matar sem medo.”

Durante o cortejo, outros interesses aparecem: o bate-papo dos rapazes (“A gente vai contando os trouxas que tiram o chapéu até a gente chegar no Araçá. Mais de cinqüenta você ganha. Menos, eu.”), a vaidade das mulheres (“Deixa eu carregar agora, Josefina?” “Puxa, que fiteira! Só porque a gente está chegando na Avenida Angélica. Que mania de se mostrar que você tem!”), politicagens (“Tibúrcio já havia arranjado três votos para as próximas eleições municipais”)...

Na volta para casa, Aída encontra dona Nunzia olhando a foto da menina morta publicada na Gazeta. O pai tinha ido conversar com o advogado.

Comentário: Perfeita crônica do comportamento popular, registro vivo e dinâmico de um enterro, que simultaneamente é um retrato crítico dos adultos indiferentes à desgraça da criança.

Armazém Progresso de São Paulo - O armazém do Natale era famoso por um anúncio em que dizia ter artigos de todas as qualidades. “Dá-se um conto de réis a quem provar o contrário”. Zezinho, o filho do doutor da esquina, sempre bulia com seu Natale, pedindo, por exemplo, “pneumáticos balão”. Quando o malandro cobrava seu um conto de réis, Natale respondia: “Você não vê, Zezinho, que isso é só para tapear trouxas?”. E anotava na conta do pai os cigarros que o rapaz pedia com nome de outros.

Em frente ao armazém, a confeitaria Paiva Couceiro não agüentaria por muito mais tempo. E seu Natale, que tinha prazer em observar aquele espetáculo de decadência dia após dia, já havia calculado quanto ofereceria ao português no leilão da falência. Por hora, ele fazia a sua parte: pressionava o homem com uma dívida com ele, uma letra que estava para vencer.

Dona Bianca o chama. Ouvira numa conversa do José Espiridão, o mulato da Comissão do Abastecimento, que a crise viria e os preços, inclusive o da cebola, produto encalhado na confeitaria, disparariam. Se não desse um jeito no português agora, nunca mais. Depois de confirmar o assunto com o mulato e pedir sua colaboração ficando quieto, seu Natale consegue “arranjar” o negócio. À noite, dona Bianca vai dormir se vendo no palacete mais caro da Avenida Paulista.

Nacionalidade - O barbeiro Tranquillo Zampinetti lia entusiasmado as notícias de guerra no jornal italiano Fanfulla. Chegava até a brandir a navalha como uma espada assustando os fregueses. Mas tinha um desgosto “patriótico e doméstico”: os filhos Lorenzo e Bruno não queriam falar italiano.

Depois do jantar, Tranquillo colocava a cadeira na calçada e ficava com a mulher e alguns amigos como o quitandeiro Carlino Pantaleoni, que só falava da Itália. Tranquillo ficava quieto mais depois sonhava em voltar para a pátria.

Um dia, Ferrúcio, candidato do governo a terceiro juiz de paz, veio pedir votos. Tranquillo, que nem votava, acabou sendo convencido pelo compatriota e gostou tanto que com o tempo andava até pedindo votos.

A guerra européia encontrou Tranquillo bem estabelecido, influente e envolvido na política; Lorenzo, noivo e também participando da política da região; e Bruno estudando, além de ser vice-presidente da Associação Atlética Ping-Pong. Tranquillo ainda se agitou com a guerra. Mas, com o descaso da família, logo foi se desinteressando.

O progresso de Tranquillo continuava e agora ele comentava mais as questões políticas do Brasil que as da Itália.

Quando Bruno se forma advogado pela faculdade de Direito de São Paulo, o pai chora, a mãe é trazida pelo neto, filho de Lorenzo, para vê-lo e todos se abraçam emocionados. E o primeiro serviço de Bruno foi requerer a naturalização de Tranquillo Zampinetti.

Fonte:
Passeiweb

II Encontro Nacional de Escritores e Poetas em Caçu (21 e 22 de abril)


Tenho o prazer de convidá-lo para participar das atividades do II Encontro Nacional de Escritores e Poetas em Caçu dias 21 e 22 próximos (sábado e domingo), observando-se a seguinte programação:

I - Sábado, dia 21, às 19 horas:

- Confraternização dos escritores visitantes na Pizzaria Birosk, à Praça Joaquim Rodrigues, ao lado do Colégio Municipal. O fato marcará o décimo aniversário da Alesg-Academia de Letras do Extremo Sudoeste de Goiás;

II - Domingo, dia 22, às 8h:

- Visita e leitura de poemas da Árvore da Poesia do Lago, ao lado do conjunto Arco Iris;

III - Domingo, 22, em seguida à visita à Ávore da Poesia do Lago:

- Deslocamento para o Centro Cultural Rozenda Cândida Guimarães, para a visitação à exposição de artes plásticas (óleo sobre tela e retratos em grafite), obras de artistas cassuenses;

IV - Domingo, em continuidade à visitação à Galeria de Artes, no auditório do Centro Cultural:

- Momento de integração cultural dos participantes de Cassu com os convidados visitantes, incluindo a apresentação de números artísticos musicais e literários;

V - Domingo, 22, às 15h, no auditório do Centro Cultural:

- Solenidade de instalação da Governadoria da Associação Internacional de Poetas Del Mundo em Goiás, com posse da primeira diretoria.

A solenidade será dirigida pela presidente da Associação Internacional de Poetas Del Mundo, Delasnieve Daspet.

Na oportunidade haverá comunicações oficiais de interesse literário aos Poetas Del Mundo e comunidade em geral e serão prestadas algumas homenagens a personalidades benfeitoras da cultura em geral e da literatura em particular;

VI - Domingo, 22, às 18 horas:

- Deslocamento dos escritores e poetas para a cidade de Itarumã, saída do comboio da Praça Bianor Vicente de Souza, de frente para o Banco do Brasil e Câmara Municipal.

Para os escritores que preferirem, haverá um ônibus da Prefeitura de Cassu à disposição para conduzirem os escritores de ida para Itarumã e de regresso para Cassu;

VII - Domingo, dia 22, às 19h, em Itarumã:

- Solenidade de instalação da ALB, com diplomação e posse de novos acadêmicos de cidades goianas e de outros Estados do Brasil, já confirmados Mato Grosso do Sul, São Paulo e Minas Gerais.

- A solenidade será dirigida pelo presidente nacional da ALB, Prof. Dr. Mário Lopes Carabajal;

- Solenidade de instalação da Aloita-Academia de Letras e Ofícios de Itarumã, com diplomação e posse;

- Ao final da solenidade, retorno da Caravana de Cassu;

VIII - Segunda feira, dia 23, às 9h, em Aparecida do Rio Doce:

- Na Câmara Municipal, solenidade de instalação da ALB, com diplomação e posse de acadêmicos de Aparecida do Rio Doce;

- Solenidade de instalação da Aloard-Academia de Letras e Ofícios de Aparecida do Rio Doce.

José Faria Nunes
Presidente Estadual da Academia de Letras do Brasil/ Goiás

Poema Ecológico 2 - Hermoclydes S. Franco / RJ (Louvação a Chico Mendes)



É preciso clamar, com mais vigor,
Contra o grupo cruel e invasor,
Que pretende findar com a Amazônia...
Certa gente que vem d’outro hemisfério,
Cria um clima de posse e de mistério
E a Amazônia se faz uma colônia...

Triste enredo de dor, coisa de duendes,
O massacre anunciado... e Chico Mendes
Cai por terra, apesar da vigilância...
Mas, quem sabe, de fato, a realidade
Que se esconde febril na ambigüidade
Dessa trama infernal de ódio e ganância?...

Esse herói sonhador ainda revive,
Virou lenda de amor e ora convive
Com pajés e caciques, numa festa!
Protegido, hoje, à sombra das cascatas,
Seu espírito forte corre as matas
Sob o olhar de Tupã, deus da floresta!...

É preciso clamar, contra-impelir,
Nessa guerra em defesa do porvir,
Afastando insensatos e insensíveis...
E quando, enfim, calarem moto-serras,
Se apagarem queimadas sobre as terras,
Fauna e flora serão imperecíveis!...

Fonte:
Texto enviado pelo autor

Antonio Ozaí da Silva (Pode Existir Amizade entre o Professor e o Aluno?)


Pode haver amizade entre o(a) professor(a) e os(as) alunos(as)? Se a amizade pressupõe igualdade, ela não tem espaço onde as relações humanas se pautam por relações de poder. A autoridade do professor pode ser exercida democrática ou autoritariamente, mas não deixa de expressar relação de poder. Ambos, professores e alunos, de certa forma, representam papéis diferentes. Como escreve Vernant (2002, P. 31)*:

“Um professor age como um ator quando chega numa sala de aula. Mas existem diferentes formas de atuar. Podemos bater na mesa e mostrar toda a distância que separa alunos do professor. Podemos jogar o jogo contrário, e foi o que fiz quando dei aulas no colégio: não só sendo informal com os alunos, mas procurando abolir, até nas roupas e no vocabulário, qualquer indício de autoridade conferida por uma hierarquia social. Evidentemente, o professor sabe muito bem, seja qual for a estratégia que adotar, que não é a mesma coisa ser professor e ser aluno.”

O aluno também tem plena consciência da realidade que o interpõe ao professor. Ele joga o jogo e pode vislumbrar na postura do professor uma simples manifestação demagógica – como também pode se convencer, simplesmente, de que o professor é um tolo. Faz parte da sua estratégia de sobrevivência diante das regras sociais e burocráticas. É compreensível. Por mais que o professor se mostre democrático e amigo, ambos, ele e o aluno, sabem que: “Aquele que está sentado em sua carteira e aquele que se encontra atrás da mesa não possuem o mesmo estatuto. A estratégia da não-distância pode ser muito eficiente ou, ao contrário, conduzir aquele que a usa para a catástrofe” (p. 31-32).

Professor e aluno expressam uma relação social. Contudo, a representação democrática implica a idéia de que ambos compartilham do mesmo grupo, constituem uma comunidade. Neste sentido, é possível estabelecer um jogo que questione a hierarquia socialmente definida. Para Vernant, não se trata apenas de uma habilidade, mas de “uma estética, e de uma ética da relação social” (p. 32). O professor ético não tenta iludir seu aluno, até porque este sabe que o poder burocrático-institucional legitima a função professoral.

“É preciso começar por deixar de ser professor para poder sê-lo”, afirma Vernant. Mas é possível ao professor deixar de sê-lo, abdicar do seu papel e mesmo do seu poder? E ainda que o faça não soará como falso ao seu aluno? A amizade implica um cimento que une os iguais em suas diferenças e permite a constituição da comunidade. A idéia de que professores e alunos constituem uma comunidade, um grupo, indica que, apesar do jogo de poder, eles são cúmplices:

“Esse elemento fundamental é o sentimento de cumplicidade, de uma comunidade essencial sobre as coisas mais importantes. Na relação do professor com seus alunos, é o fato de compartilhar uma certa imagem do que deve ser uma pessoa, de ter em comum uma forma de sensibilidade e de abertura para o outro, de concordar com a idéia de que ser outro significa também ser semelhante” (Id.).

É preciso anular a distância que separa professores e alunos, mas é possível? Não se pode ser simultaneamente professor e aluno. Também não se deve perder de vista que “as estratégias igualitárias têm um aspecto hipócrita, demagógico, e podem na verdade reforçar as posições de poder” (Id.). E os limites entre o democrático e demagógico são tênues. Porém, se o ser professor indicar uma atitude fundada em algo mais forte do que a relação de poder. Ou seja, se há ética na relação social e a compreensão de que professor e aluno constituem uma comunidade, então é possível diminuir a distância que os separa e fortalecer a relação fundada no sentimento de amizade. Este sentimento não indica harmonia, mas pertencimento à mesma comunidade. Ao pautarmos a relação por esta ética e sentimento, a amizade nos transforma. Assim, se o professor demonstra amor pelo que faz e respeito aos seus alunos, maior será a possibilidade destes se verem numa relação social formadora de uma comunidade cimentada por laços de solidariedade.

A amizade “sempre implica afinidades relativas às coisas essenciais” (p. 33). Trata-se de colocar em destaque o que é fundamental na relação professor-aluno para que eles se reconheçam enquanto um grupo constituído, uma comunidade. Pois a amizade também implica em que os diferentes compartilhem para que possam criar algo juntos. Nesta relação, o professor se constrói e também aos seus alunos: na medida em que está aberto ao outro, este outro se reflete nele e ele se transforma; mas, simultaneamente, transforma o outro. Nessa interação, que é conflitante e contraditória, a amizade torna-se possível.

E você, caro(a) leitor(a), considera possível a amizade entre professores e alunos? Como avalia os argumentos expostos acima?

* Esta reflexão resulta de notas de leitura da obra Entre Mito e Política, de Jean-Pierre VERNANT (São Paulo: Edusp, 2002). Todas as citações se referem a este livro.
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Ozaí é Professor do Departamento de Ciências Sociais na Universidade Estadual de Maringá (DCS/UEM), editor da Revista Espaço Acadêmico, Revista Urutágua e Acta Scientiarum. Human and Social Sciences e autor de Maurício Tragtenberg: Militância e Pedagogia Libertária (Ijuí: Editora Unijuí, 2008).

Fonte:
Blog do Ozaí
http://antoniozai.wordpress.com/2012/04/07/pode-existir-amizade-entre-o-professor-e-o-aluno/

Ialmar Pio Schneider (Serenata)


Flauta, violino, bandolim unidos
dentro da noite soltam seus gemidos
no ardor sonoro de uma serenata;
e a lua lá no céu já se desata,
em claridade lânguida e tristonha,
alvinitente como uma cegonha...

Oh! tudo envolto em música e ternura...
A terra nos parece até mais pura
em tais momentos de sublime encanto.
Foge a tristeza, não existe pranto;
apenas nasce uma esperança vaga
e a nossa vida num amor naufraga.

A serenata branda continua:
- Flauta, Violino, Bandolim e Lua...

Pág. 11 - O TIMONEIRO, - CANOAS(RS),18.2.83

Fonte:
Texto enviado pelo autor

Thrity Umrigar (A Distância entre Nós)


A distância entre nós, romance da jornalista indiana Thrity Umrigar, é apresentado ao leitor como uma complexa encruzilhada de semelhanças e diferenças entre Bhima, a empregada, e Sera, a patroa. Distantes pelas diferenças entre classes, elas se aproximam na condição de mulheres oprimidas, que dedicaram as vidas para cuidar dos outros. O leitor acompanha o cotidiano das duas como senhoras maduras e, na narrativa em flashback, percebe como estas existências vão se construindo juntas, sempre alimentadas por uma relação de atração e repulsa.

A idéia geral sobre seu conteúdo reside na ambigüidade. Ambientado em Bombaim, Índia, uma das civilizações mais antigas, populosas e miseráveis, ao mesmo tempo que é uma das promessas de grande potência. Este é o cenário conflituoso do drama de casais que se formam e que se desmancham, ou que se mantêm apesar de tudo reivindicar a dissolução. Tudo sempre sob a ameaça da insensibilidade, da traição, da erosão da família, com todas as traumáticas conseqüências econômicas e psicológicas sobre a vida de cada um.

Como o título sugere, é o espaço que reina nessa narrativa, o espaço que separa ricos e pobres, velhos e jovens na Índia de hoje. As biografias contidas nesse exemplar são expressões sublimes do amor e da dor além do limiar da sanidade.

A tradição milenar, a diversidade cultural e todas as peculiaridades desse povo propiciam uma incursão ao intrincado sistema de castas e um patriotismo velado por uma repulsa ao mundo estrangeiro colonizador. O drama que conta a história de três gerações de duas famílias interligadas por laços de fidelidade e por suas memórias de sofrimento é tão pungente que, em determinados momentos, é preciso manter uma distância, como sugere o título, para não se reproduzir as lágrimas que escorrem de suas páginas folheadas.

A distância aborda a proximidade de realidades paralelas e paradoxais, como uma mensagem para o mundo de que não importa nossas diferenças, de que somos unidos pelo fato de estarmos todos fadados a errar e aprender com isso e de que nada está tão ruim que não possa piorar.

Duas mulheres. Duas vidas. Dois destinos que poderiam ser um só. Sera e Bhima estão indiscutivelmente ligadas, seja pelo silêncio ou pela cumplicidade. Mas ao mesmo tempo estão distantes, separadas por uma fronteira intransponível. Como se o fio que as une não fosse forte o suficiente para agüentar uma descarga elétrica, força que parece definir a sorte e a tragédia da patroa e da empregada. Duas vidas marcadas pela decepção, enganadas pela traição, sujeitas a uma sociedade cruel cuja voz berra e marca a fogo a existência dessas mulheres.

Em Bombaim, a empregada doméstica Bhima deixa seu barraco na favela onde mora para cuidar da casa de Sera Dubash, onde trabalha há mais de vinte anos. No apartamento de classe média alta onde a patroa viúva vive com a filha, Dinah, que está grávida, e o genro, Viraf, Bhima lava a louça, esfrega o chão e corta as cebolas para a omelete matinal do clã, lutando contra a dor nas mãos causada pela artrite e também contra a preocupação que toma conta de seu pensamento: sua neta, Maya, também está grávida. Mas, diferentemente de Dinah, ela não é casada e se recusa a revelar a identidade do pai da criança.

Leia um trecho do livro

PRÓLOGO

A mulher magra de sári verde estava de pé nas pedras escorregadias e olhava as águas escuras em torno de si. O vento morno soltava do coque alguns fios do seu cabelo ralo. Atrás dela, os sons da cidade ficavam abafados, silenciados pelo contínuo bater da água em seus pés descalços. A não ser pelos siris que ela ouvia e sentia correrem pelas pedras, estava completamente sozinha ali — sozinha com os murmúrios do mar e a lua distante, fina como um sorriso no céu noturno. Até suas mãos estavam vazias, agora que as abriu e liberou os balões cheios de gás, observando até que o último deles tivesse sido engolido pela escuridão da noite de Bombaim. Suas mãos estavam vazias agora, vazias como seu coração, que era como um coco cuja polpa tivesse sido arrancada.

Equilibrando-se com dificuldade nas pedras, sentindo a água que subia lambendo seus pés, a mulher levantou o rosto para o céu negro retinto procurando uma resposta. Atrás dela, a cidade perdida e uma vida que naquele momento parecia fictícia e irreal. À sua frente, o limite quase imperceptível onde o mar se encontra com o céu. Poderia subir de novo pelas pedras e pelo muro de cimento e reingressar no mundo, participar de novo do ritmo louco, pulsante e imprevisível da cidade. Ou poderia entrar no mar à sua espera e deixar que ele a seduzisse e a envolvesse com seus sussurros íntimos.

Olhou de novo para o céu procurando uma resposta. Mas a única coisa que conseguia ouvir era as batidas habituais de seu coração submisso...

1

Embora Estivesse amanhecendo, dentro do coração de Bhima a escuridão permanecia.
Ela se vira para o lado esquerdo sobre seu fino colchonete de algodão estendido no chão e se senta rapidamente, como faz todos os dias de manhã. Levanta a mão ossuda por cima da cabeça num bocejo, estica o corpo, e um cheiro forte de mofo recende de suas axilas e invade suas narinas. Num instante de preguiça, senta-se na beira do colchão, apóia os pés cheios de calos no chão de barro, com os joelhos dobrados e a cabeça pousada nos braços cruzados. Naquele momento, está quase tranqüila, a cabeça agradavelmente limpa e vazia das dificuldades que a esperam no dia de hoje e de amanhã e de depois de amanhã... Para prolongar esse estado de graça sem ter que pensar em nada, estende a mão distraidamente para a lata de fumo de rolo que mantém à beira da cama. Enfia um pedaço na boca e em seu rosto descarnado surge uma protuberância que lembra uma bola de críquete.

O idílio de Bhima dura pouco. Na luz suave e delicada do novo dia, percebe a silhueta de Maya se mexendo no colchonete que fica no canto esquerdo do casebre. A moça está dormindo e resmungando em seu sono, emitindo sons suaves como que choramingando e, apesar de tudo, Bhima sente seu coração se derreter do mesmo modo que acontecia quando amamentava Pooja, a mãe de Maya, muito tempo atrás. Impulsionada por aqueles sons, que mais pareciam os de um cachorrinho, Bhima se levanta do colchão com um grunhido e vai até onde sua neta está dormindo. Mas, no segundo que leva para cruzar o casebre, alguma coisa muda no coração de Bhima, e o sentimento maternal e carinhoso de um momento atrás é substituído pela dureza e impiedade que já a acompanham há algumas semanas.

Ela permanece de pé, olhando do alto para a moça adormecida, que agora está roncando baixinho, inconsciente das fagulhas de raiva nos olhos da avó que examina o ligeiro crescimento de sua barriga.

“Um chute rápido”, Bhima diz a si mesma, “um chute rápido na barriga, seguido de outro, e mais outro, e estará tudo acabado. Olha só para ela dormindo ali como uma prostituta sem-vergonha, sem nenhuma preocupação no mundo. Como se não tivesse virado a minha vida de cabeça para baixo”. O pé direito de Bhima mexe-se enquanto ela pensa nessa idéia. Os músculos da panturrilha se tensionam enquanto ela levanta o pé do chão. “Seria tão fácil...” E, comparado com o que uma outra avó faria a Maya — um rápido empurrão num poço aberto, uma lata de querosene e um fósforo, a venda para um bordel —, isso seria até bastante humano. Desse modo, Maya sobreviveria, continuaria indo à universidade e poderia escolher uma vida diferente da que Bhima sempre viveu. Isso era como deveria ser, como tinha sido, até que essa vaca estúpida de coração mole, e agora com um barrigão, saísse por aí e acabasse grávida.

Maya deixa escapar um ronco alto, e Bhima volta a pôr o pé no chão. Agacha-se perto da garota para sacudi-la pelos ombros e acordá-la. Quando Maya ainda freqüentava a universidade, Bhima deixava-a dormir o mais que pudesse, fazia gaajar halwa para ela todos os domingos, o pudim de cenoura com amêndoas e passas de que tanto gostava, e separava para a neta as melhores porções do jantar todas as noites. Se ganhava alguma coisa de Serabai — um chocolate Cadbury ou aquele doce branco com pistache que vinha do Irã —, guardava para dá-lo a Maya, embora, verdade seja dita, Serabai em geral lhe desse também uma porção para a moça. Mas desde que Bhima soube da vergonha de sua neta tem feito a garota acordar cedo.

Nos últimos domingos, não teve gaajar halwa, e Maya não thrity umrigar pediu a sua sobremesa favorita. Durante a semana, Bhima até mesmo mandou que a garota ficasse na fila para encher os dois potes d’água na torneira comunitária. Maya protestou, alisando inconscientemente a barriga com a mão, mas Bhima desviou o olhar e disse que, de qualquer maneira, os vizinhos logo acabariam descobrindo a sua desonra. Então por que esconder?

Maya se vira no colchão, e seu rosto fica a alguns centímetros de distância de onde Bhima está acocorada. Sua mão jovem e rechonchuda encontra a mão magra e enrugada da avó, e a moça se aninha junto dela, segurando-a entre o queixo e o peito. Um fino fio de saliva escorre pela mão de Bhima. A velha sente o coração amolecer. Maya sempre foi assim, desde bebê — carente, carinhosa, confiante. Apesar de todo o sofrimento pelo qual passou ainda jovem em sua vida, Maya não perdeu a suavidade e a inocência. Com a mão livre, Bhima afaga o cabelo lustroso e sedoso da menina, tão diferente do seu cabelo ralo.

O som de um rádio tocando baixinho invade o quarto, e Bhima resmunga uns palavrões. Geralmente, na hora em que Jaiprakash liga o rádio, ela já está na fila da água. Isso quer dizer que está atrasada hoje. Serabai vai ficar zangada. Essa menina burra e preguiçosa fez com que ela se atrasasse. Bhima solta bruscamente sua mão das de Maya, sem se importar se o movimento vai acordá-la. Mas a garota continua dormindo.

Bhima fica de pé, e, ao levantar, seu quadril esquerdo dá um estalo forte. Ela fica parada por um momento, esperando pela onda de dor que se segue ao estalo, mas hoje é um dia bom. Nenhuma dor.

Fonte:
Passeiweb

Wilma Sant'Anna de Souza Cruz (Maria de Todos Nós)


Bairro comum, com casas,comércio, ônibus passando na porta ,mercadinho em frente de casa... Lá também é ponto de ônibus, onde toda hora aglomera gente, que vai para o centro do Rio, Fundão, Madureira, Nova Iguaçu, Pavuna . Ali ,vendo todo esse vai e vem mora Maria, Maria que vive só, ou melhor, segundo a própria, ela está sempre acompanhada de Deus e, portanto, não mora só.

Sempre falante, simples, baixinha, otimista, franzina, alegre, insistente e popular, assim é Maria. Querendo ou não todos que passam por lá acabam falando, cumprimentando, sorrindo ou conversando com ela. Com uma pequena mesa colocada na calçada ela arruma os potes de doces que vende . Afinal , quem parar e conversar um pouquinho pode também comprar um docinho, levar para a criançada! Tem criança que já acostumou comprar o doce da Maria. Quem passa compra doces e quem compra doce para e conversa um pouquinho. Não há quem não conheça Maria no bairro da Vila Mariópolis.

Está sempre no portão de casa e cada pessoa que passa por incrível que pareça ela saúda, cumprimenta, pergunta como está a família, como vai aquele problema da pessoa que ela acaba sempre sabendo e no meio da conversa conta também um pouco do seu. Cada pessoa que para e conversa alimenta Maria e é alimentado por ela. É uma espécie de mutualismo onde se troca carinho e atenção. Maria conhece muita gente , o moço que passa vendendo cloro e vassouras, a criançada que vai e vem para escolas próximas dali, a moça que vai ao posto médico, eu que passo com minha mãe para ir ao mercado e até aquela pessoa que ela não conhece acaba trocando algumas palavras e no final segue o seu caminho sorrindo após falar com ela . Isso sem falar de algum cachorro que passa faminto, perdido ou então algum cachorro de rua que ela logo ajuda e dá comida . O coração de Maria é grande, iluminado e recheado de amor, Maria faz parte do dia a dia da gente, ela é a Maria de todos nós.

Fonte:
Câmara Brasileira dos Jovens Escritores. "Contos de Outono" - Edição Especial 2012 - Abril de 2012.

1º Prêmio Brasília de Literatura (Resultado Final)


A organização da 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, em Brasília, divulgou nesta sexta (13) os vencedores do Prêmio Brasília de Literatura.

Entre eles estão Michel Laub e Antônio Prata, premiados nas categorias romance e contos e crônicas, respectivamente. Veja abaixo a lista completa.

A premiação, que recebeu 1.700 inscrições, acontecerá no sábado (14), às 9h, durante a abertura oficial do evento.

Os vencedores serão contemplados com um valor total de R$ 240 mil - o primeiro colocado em cada uma delas receberá R$ 30 mil e o segundo, R$ 10 mil.

LISTA DE VENCEDORES

ROMANCE


1º LUGAR: "Diário de uma Queda", Michel Laub (Cia. das Letras)

2º LUGAR: "O Dom Crime", Marcos Lucchesi (Record)

CONTOS E CRÔNICAS

1º LUGAR: "Meio Intelectual, Meio de Esquerda", Antônio Prata (34)

2º LUGAR: O Anão e a Ninfeta", Dalton Trevisan (Record)

LITERATURA INFANTO E JUVENIL

1º LUGAR: "Sortes de Villamor", Nilma Lacerda (Scipione)

2º LUGAR: "Um Nó na Cabeça", Rosa Amanda Strausz (FTD)

REPORTAGEM

1º LUGAR: "Os Últimos Soldados da Guerra Fria", Fernando Morais (Cia. das Letras)

2º LUGAR: "O Cofre do Doutor Rui", Tom Cardoso (Civilização Brasileira)

BIOGRAFIA

1º LUGAR: "Fernando Pessoa - Uma quase Autobiografia", José Paulo Cavalcanti Filho (Record)

2º LUGAR: "João Goulart - Uma Biografia", Jorge Ferreira (Civilização Brasileira)

POESIA

1º LUGAR: "Sísifo desce a Montanha", Affonso Romano de Sant'anna (Rocco)

2º LUGAR: "O Homem Inacabado", Donizete Galvão (Portal Editora)

Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1075606-confira-os-vencedores-do-primeiro-premio-brasilia-de-literatura.shtml
Http://concursos-literarios.blogspot.com

sábado, 14 de abril de 2012

Soneto Ecológico 1 - Francisca Clotilde (CE) A Árvore

Francisca Clotilde / CE (Livro de Sonetos 2)


À PAZ

Estende sobre nós as asas benfazejas,
Afasta para longe a sanguinária guerra;
És astro protetor, a iluminar a terra,
És anjo divinal nas hórridas pelejas.

Teu sorriso traz bonança e, qual íris, descerra
O negror da procela... Abençoada sejas;
Oh! Paz consoladora o nosso bem almejas,
Estrela vesperal que doce luz encerra.

Vem os homens unir, vem espalhar o amor,
Tem pena do sofrer das mães em ansiedade,
De ternos corações mova-te a íngreme dor;

Temos sede de ti, lenitiva à orfandade,
Com eflúvios do céu, num gesto animador,
Lembra o santo dever, as leis da caridade!

ANDORINHA

Passando do inverno a pérfida inclemência...
Andorinha ligeira, vai buscando
Outro clima mais puro, ameno e brando,
Outro céu de mais doce transparência.

Gozas da luz a tépida influência,
Reunindo-te ao alegre bando,
Que recorta este azul de quando em quando,
Desejando mais plácida existência

Podes fugir, voar com as asas leves
Expandir-te ao calor do sol
De bendito verão, delícias breves.

Como eu te invejo: Enquanto vais seguindo,
Sofro a tortura do mais rude inverno
E o azul me esconde o seu sorrir, fruindo

VISÕES DE OUTRORA

Que formosa ilusão! Vejo presente
O caminho feliz e perfumado,
Onde outrora, risonho e docemente,
Meu viver deslizou-se abençoado.

Como tudo mudou! Mas corrente
Que espalhava dos céus o trecho amado
Continua a gemer triste e dolente,
Relembrando bem vivo o meu passado

Era aqui... bem o sei neste recinto
Que floriam as rosas e os jasmins
Desatava o botão nas alvoradas;

E parece, meu Deus, que vejo e sinto,
Através das imagens reavivadas,
O olhar de minha mãe pousado em mim!

DESERTO

Esta casa que vês arruinada,
Solitária e deserta no caminho,
Foi outrora de noivos casto ninho
De ilusões e de risos povoada.

E hoje, como fúnebre morada...
Já não conserva o traço de um carinho,
Nem se ouve o trinar do passarinho,
Em seu muro, ao romper da madrugada.

Assim meu coração d’antes repleto
De esperanças e cândidos amores
É hoje como um túmulo, deserto;

E o vergel onde outrora as lindas cores
Das rosas de um porvir risonho e certo
Brilhavam, tem espinho em vez de flores!

LUZ E SOMBRA

Por toda parte a luz, a placidez, o amor,
A graça festival do campo e do perfume,
A beleza sutil que traduz e resume
A ventura, a inocência, a primavera em flor....

É mais sereno o azul... Das águas o frescor
Tem um doce carinho, e misterioso nome,
De terra a repelir os rancores e o ciúme,
Imprime à natureza idêntico fulgor.

Será crível, meu Deus, perante este cenário?
Tão belo e encantador, tão puro e deslumbrante...
Que eu tenha o coração preso o triste fadário?

Que eu tenha o coração envolto em negros véus,
Sendo deste concerto a nota dissonante
A nuvem que perturba a limpidez do céu?!

O SONHO DE COLOMBO

Dorme embalado na caricia rude
Da vaga azul, indoôita, fremente,
E um áureo sonho ao viajar ilude
- Bela visão do labio sorridente -

É ela, a Gloria? Oxalá não mude
O rumo ousado ao genial dormente,
Que durma, pois, assim tranquilamente
Do velho mar na intérmina amplitude!

Que sonho é esse? Um Mundo, o Mundo Novo
E no futuro o progredir de um povo,
Grande na páz, impávido na guerra;

Eis que o gajeiro brada alviçareiro;
E o brado ecoa no universo inteiro
Levanta-te, Colombo! Terra. Terra.

CRIANÇA

Nem um prazer enubla-lhe a existência
Vive a sorris feliz e descuidosa,
Do azul do seu olhar na transparência
Reflete-se do céu a luz formosa

Irmã dos lírios, bela como a rosa
Tem dos anjinhos a divina essência,
Orna-lhe a fronte o mundo da inocência
Fúlgido como estrela radiosa

Eu, quando a fito meiga e pequenina
Botão de flor que a coragem militança
Num doce alfaz o envolício decerra

Desejo vê-la assim sempre criança
Rindo a brincar num sonho de esperança,
Cheia de graça que a inocência encerra

NINHO DESFEITO

Inda há pouco cantava docemente,
Num transporte de candidos amores,
O casal de avesinhas inocentes,
A tercer o seu ninho entre as flores.

Embebidas num sonho transparente,
Elas iam saudando os esplendores
Do sol que, despontando sorridente,
Resplendia da serra nos verdores.

Mas ah! Um caçador disapiedado
Perturbou os idílios de noivado
Roubando ao par gentil a f’licidade,

Hoje o ninho balouça-se deserto
_ Monumento gentil que lembra incerto
Um mistério de amor e saudade!

MÊS DAS FLORES

És das flores o mês, o belo mês festivo,
Em que virgem do céu, a terra inteira exalta;
Tem do inverno o esplendor no verde que se esmalta
Quase sempre num tom mais nítido e expressivo.

Ao ver-te quem não sente em ti o anseio vivo
De gozar teu encanto e a graça que ressalta
Da linda primavera e brilha inspirativo,
Se o afeto docemente a alma me assalta?

Que lembranças de outrora! Ao rosicler da infância
Feliz eu te esperava e a cândida fragrância
Espalhavas do bem em doce alacridade.

És sempre o mês florido, ameno e perfumado,
Mas para que um coração em mágoas torturado
Tens em meio da flor o espírito da saudade.

VISÃO CAMPESINA

Que mimosa casinha emoldurada
De baunilhas em flor ! Um doce ninho...
Murmureja um regato, ali pertinho,
Ri-se a campina verde e perfumada.

Não lhe falta o cantar de passarinho,
Numa orquestra de amor bem afinada,
Que me faz esquecer o torvelinho
Dessa vida de praça emocionada.

O céu sereno e azul... Faceira a brisa,
Aqui tudo me enleva e, alegre sinto
Que o tempo mansamente se desliza.

Uma casinha só ! Qualquer cidade
Por ela não trocara... Em seu recinto
Gozei do bem a paz, a suavidade!

MISTÉRIOS

Há um encanto secreto, um mistério insondável
No seio da floresta, e o seu recesso esconde
Tanta coisa ideal, sobre a rendada fronde,
Na beleza sem par, selvática, admiravel!

A ave que desata a voz límpida, inefável
A voejar pelo azul exprime de onde em onde
Um idílio de amor que a brisa ressponde
E o aroma a se espargir , num eflúvio adorável.

Nos esponsais da flor, oh! Que ternura existe!
Que pode compreender a força que persiste,
A vibrar no mistério, a palpitar no arcano?

Quem pode do porvir traçar o intenerário,
Investigar quem ousa o pensamento vário
E o supremo mistério – o coração humano?

Fonte:
http://www.sonetos.com.br/biografia.php?a=74

J. G. de Araújo Jorge / AC (A Cantiga Do Só) 11. A Primeira


Foste o nosso primeiro balbucio
a primeira palavra pronunciada;
o primeiro aconchego, se fez frio,
- nosso primeiro passo pela estrada.

O primeiro conselho, ante o desvio
que pudesse levar a uma emboscada;
a presença, mais que outras, desejada,
nos momentos de dor ou desvario...

Foste tudo de bom que aconteceu:
o beijo puro, o gesto carinhoso,
a mão primeira que nos protegeu...

Tudo nos deste: o próprio Ser e o nome,
e foi teu seio farto e generoso
que silenciou nossa primeira fome!

Fonte:
JORGE, J.G. de Araújo. Cantiga do Só. 2. ed. 1968.

Ialmar Pio Schneider (Cântico Triste)


Vai devagar... não queiras muito; aos poucos
alcançarás as tuas pretensões...
Não te aventures em desejos loucos !
Assim falei com meus botões...

O caminho que segues não tem volta,
como também não voltam ocasiões;
aproveita o que podes, sem revolta...
Assim falei com meus botões...

Alimenta com muito amor teus sonhos
embora já não tenhas ilusões,
que eles te ajudam, mesmo que tardonhos...
Assim falei com meus botões...

Depois desconsolado estava triste
a compor meus poemas e canções,
lembrando alguém que não me quer e existe...
E me calei com meus botões...

Pág. 16 - O TIMONEIRO - CANOAS, 10.8.84

Fonte:
Poema enviado pelo autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 540)


Uma Trova de Ademar

Espero que se convença
com essa minha resposta:
– não sou o que você pensa...
Mas tenho o que você gosta!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Deu fuzuê, acredite,
com a filha do Aristeu,
quando a sua “apendicite”
com quatro quilos nasceu...
–JOÃO FREIRE FILHO/RJ–

Uma Trova Potiguar


Eu não sei bem se é pecado,
só sei que fiz e não nego;
já roubei um aleijado
para socorrer um cego.
–LUIZ XAVIER/RN–

Uma Trova Premiada


2002 - Garibaldi/RS
Tema: “LIVRE” - M/H


Diz “Não” à sogra e à cunhada.
- é astuto e não cai na rede –
“Família, aqui, só a Sagrada
e pregada na parede!”
–THEREZINHA BRISOLLA/SP–

...E Suas Trovas Ficaram


Três invenções sem futuro:
Carro, mulher e baralho.
As três me deixaram “duro”,
não sei quem deu mais trabalho!
–FRANCISCO MACEDO/RN–

U m a P o e s i a


Maria lembre das juras
que a gente fez na matriz...
Esqueça de advogado,
de promotor, de juiz,
mulher... Deixe de ser tonta...
Se acostume a levar ponta
que a gente vive feliz...
–CHICO PEDROSA/CE–

Soneto do Dia

Consagração
–PEDRO MELLO/SP–


Cansado do "jejum" que a sua idade
lhe impôs à atividade sexual,
o vovô se animou com a novidade
de que o Viagra não faria mal...

Cheio de amor pra dar e de Ansiedade,
Alfredo foi pular o Carnaval...
E na Sapucaí, uma beldade
fá-lo sentir-se forte e jovial...

Mas na hora "H"... seu coração se abate...
Alfredo é posto fora de combate,
mas sucumbe feliz nosso ancião:

É velado com grande galhardia
e, escondendo o "tamanho" da alegria,
flores a mais enfeitam seu caixão...

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Anibal Beça / AM (Livro de Sonetos I)


SIMPLES SONETO

Desejado soneto este que é escrito
sem as firulas graves do solene,
que leva na palavra o simples rito
da fala cotidiana. Não condene

no entanto, a falta de um estro especioso,
nem de brega rotule esse meu vezo.
Apenas sinta o som oco e poroso
do fundo mar de anêmonas, o peso

rarefeito das algas nos peraus.
Essa cantiga filtra nossos medos,
as culpas e os tabus, e dá-me o aval

para buscar o simples e em querê-lo
ornamento de estética espartana
na faxina ao supérfluo que se espana

PROFISSÃO DE FÉ

Meu verso quero enxuto mas sonoro
levando na cantiga essa alegria
colhida no compasso que decoro
com pés de vento soltos na harmonia.

Na dança das palavras me enamoro
prossigo passional na melodia
amante da metáfora em meus poros
já vou vagando em vasta arritmia .

No vôo aliterado sigo o rumo
dos mares mais remotos navegados
e em faias de catraias me consumo.

É meu rito subscrito e bem firmado
sem o temor do velho e seu resumo
num eterno retorno renovado.

PARA QUE SERVE A POESIA?

De servir-se utensílio dia a dia
utilidade prática aplicada,
o nada sobre o nada anula o nada
por desvendar mistério na magia.

O sonho em fantasia iluminada
aqui se oferta em módica quantia
por camelôs de palavras aladas
marreteiros de mansa mercancia.

De pagamento, apenas um sorriso
de nuvens, uma fatia de grama
de orvalho e o fugaz fulgor de astro arisco.

Serena sentença em sina servida,
seu valor se aquilata e se esparrama
na livre chama acesa de quem ama.

SONETO QUEBRADIÇO

Mão minha com maminha movediça
traçando vai na limpa areia branca
versos cambaios, frouxos, na liça
língua caçanje, claudicante, manca.

No pé quebrado o ritmo se atiça
para dançar com rimas pobres, franca
trança de cambalhota tão cediça,
que me corrompe o salto e que me estanca.

Queda de braço nas quebradas quebras
vou me quebrando como um bardo gauche:
pelas savanas sou mais uma zebra.

Mas consciente desse torto approuch
já me socorre a gíria de alma treta
para solar meu solo nos ouvidos moucos.

NOSSA LÍNGUA

para o poeta Antoniel Campos*

O doce som de mel que sai da boca
na língua da saudade e do crepúsculo
vem adoçando o mar de conchas ocas
em mansa voz domando tons maiúsculos.

É bela fiandeira em sua roca
tecendo a fala forte com seu músculo
na hora que é preciso sai da toca
como fera que sabe o tomo e o opúsculo.

Dizer e maldizer do mel ao fel
é fado de cantigas tão antigas
desde Camões, Bandeira a Antoniel,
este jovem poeta que se abriga

na língua portuguesa em verso e fala
nau de calado ao mar que não se cala.

* "filiu brasilis, mater portucale,
Que em outra língua a minha língua cale.”


ARS POÉTICA

Nesse afago do meu fado afogado
as águas já me sabem nadador.
A rês na travessia marejada
gado da grei de um mar revelador.

Vou e volto lambendo o sal do fardo
língua no labirinto, ardendo em cor
furtiva, enquanto messe temperada,
da tribo das palavras sou cantor.

Procuro em frio exílio tipográfico
o verbo mais sonoro em melodia
o ritmo para a cal de um pasto cáustico.

Sou boi e sou vaqueiro dia a dia
no laço entrelaçado fiz-me prático
catador de capins nas pradarias.

SONETO DE ANIVERSÁRIO

Setembro me agasalha nos seus galhos
e de amor canto no seu verde ventre:
Eis a ventura vaga em danação,
bronze canonizado nas cigarras.

O canto é breve, fino, e já anuncia
o inconfundível som do último acorde:
aquele dó de peito em nó estrídulo.
Como Bashô sonhara, é despedida

que mal se sabe, é morte anunciada,
canora liturgia sazonal.
Em setembro me mato e me renasço

em canto livre, rouco, sem ter palco,
representando de cor e salteado
o meu 13, que é fado e sortilégio.

ÚLTIMO ROUND

O vento que de verde tudo varre
não varre esta floresta onde eu habito.
Espana roxas nódoas de um espárringue
que sou eu mesmo a rir por esses ringues.

Porradas que me dou? Mero detalhe,
de quem passou a vida sem ter sido
sendo, o sabido súdito do anárquico.
Não fui, não sou, não quero ser doído.

O menestrel choroso? Este não vale,
perdeu-se pelos socos de outras divas
em noites desbotadas na paisagem.

Mas então, o que fica dessa trilha?
ora, amigo, nocautes dessa aragem
varrida nos cruzados descaminhos.

MALA COM ALÇA

É da lama essa mala que retiro
para subir a encosta (como a pedra
que Sisifo ainda empurra todo dia)
numa viagem cheia de seqüelas.

Não há como negar tantos espinhos
na travessia turva de mistérios
que vão-se descobrindo nos caminhos:
a mão negada, a fome, o vitupério,

o rito solidário que esquecemos
em troca a vaidade transitória.
Somos do barro e ao barro voltaremos.

A verdade do Homem e de sua Hora
vem com mala e alça, disto sabemos,
mais o peso do corpo e sua história.

SONETO COM ESTRAMBOTE ENVIESADO

Alfaiate de mim costuro a roupa
que cabe ao figurino que me coube.

Só meu verso protege essa amargura
desfiada de dia ao sol veloz,
para à noite tecer nova textura,
novelo de silêncio ao rés da voz.

Enxoval construído nessa usura
solitária de andaimes, num retrós
de linha vertical, que se pendura
na pênsil teia atada, fio em foz

desse rio agulha que me costura
ao rendilhado de águas tropicais,
que sabe de saudades no meu cais.

Viageiro de uma sanha que me traz
sempre de volta ao tear do meu destino
na seda depressiva me assassino.

JOROPO PARA TIMPLES E HARPA

Em duas asas prontas para o vôo
assim se foi em par a minha vida
e com rilhar de dentes me perdôo
trilhando as horas nuas na medida

Bilros tecendo rendas amarelas
bordando em vão um tempo já remoto
no sol dos girassóis da cidadela
canto um recanto que me faz devoto

A dor que existe em mim raiz que medra
no rastro mais sombrio as minhas luas
talvez não fora Sísifo ou a pedra

que encontro todo dia pelas ruas
ao revirar as heras nessa redra
trilhando na medida as horas nuas

Fonte:
http://www.sonetos.com.br/biografia.php?a=64

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 539)


Uma Trova de Ademar

Quando o amor se consolida,
mesmo que vire rotina,
termina tudo na vida
mas esse amor não termina!...
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Nesse amor que o peito encerra
embalo a doce esperança
da paz que o gemido enterra
na magia da lembrança.
–AYDA BOCHI BRUM/RS–

Uma Trova Potiguar


-Musas divinas!... Ao vê-las,
no sonho que me seduz,
subo ao ninho das estrelas,
seguindo os rastros da luz!
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Uma Trova Premiada


1987 - Porto Alegre/RS
Tema - REGRESSO - M/E


Caminhei pelo infinito,
vaguei por milhões de espaços...
Até lá estava escrito
o meu regresso aos teus braços!
–GISLAINE CANALLES/SC–

...E Suas Trovas Ficaram


Na vida, na grande luta,
se acaso te foge a paz,
confia, que Deus te escuta
as preces que a gente faz!...
–CÉLIO GRUNEWALD/MG–

U m a P o e s i a


Lembro o dia que fiz um juramento
na presença de Deus, reto juiz,
de amar minha mulher no sofrimento
e no momento que esteja mais feliz;
e neste juramento que eu lhe fiz
eu jurei de joelhos num altar
de viver eternamente pra lhe amar
e que não a deixaria abandonada...
A cruz do matrimônio é tão pesada
que precisa de dois pra carregar...
–ADEMAR MACEDO/RN–
(Essa estrofe eu declamei hoje na 98FM...)

Soneto do Dia

Extravagante
–DOROTHY JANSSEN MORETTI/SP–


Sempre cultuo a forma clássica do verso,
a musicalidade, a rima bem sonante
e às vezes se obedeço a algum impulso inverso,
jamais descarto o ritmo, que em mim é constante.

Até posso assumir um estilo diverso
que o esteta vai chamar ambíguo e extravagante:
ser clássica e moderna, ser reverso e anverso,
mas sem trair a escola ou ser deselegante.

Nem sempre, então, atento à rima num soneto,
como se livre fosse o verso... branco (ou preto),
nem respeito o hemistíquio num alexandrino.

Acolho a inspiração como ela bate à porta,
trazendo-me no dorso a rima certa, ou torta...
E o ritmo? Ah, esse é música! Eu não desafino!

Wagner Marques Lopes/MG (O LAR em trovas) – parte 8, final


Lar, núcleo de ensino

Paraíso adamantino
- lugar de vivo esplendor –
o lar é núcleo de ensino,
onde o bom mestre é o Amor.


Formando bons lares

O lar justo é parte rica,
alcançando bons escores:
noutros lares se duplica,
tão iguais ou bem melhores.

Lar e completude humana

O homem busca conquistas:
Lua, redes, Internet...
Só o lar detém as pistas
de verdades que o complete.

Lar e família: estrelas gêmeas

Entre miríades de estrelas,
quero as duplas, a brilhar...
Em céus de amor hei de vê-las:
a família e o doce lar!
-------------
breve, do mesmo autor, A Família em Trovas
-----------
Fonte:
Trovas enviadas pelo autor

J. G. de Araújo Jorge (A Cantiga Do Só) 10. A Palavra Mãe


Do pátrio idioma és a mais bela flor
unipétala flor nunca esquecida,
sinônimo de nossa própria vida,
traço de união entre a alegria e a dor...

Superlativo da palavra "amor"!
Verbo do coração; ternura e lida;
- tudo em ti se resume, e és tão querida,
que igual não há, seja em que idioma for!

Antes que as outras todas te aprendemos,
e desde quando te tornaste em fala
simbolizas o amor capaz de extremos...

- "Mamãe"... Palavra azul, cor da distância...
Quem não pode um dia pronunciá-la,
nasceu... cresceu... mas nunca teve infância!

Fonte:
JORGE, J.G. de Araújo. Cantiga do Só. 2. ed. 1968.

Feiras Nacionais de Livro (Meses de Abril e Maio)


9ª Feira de Livros de Joinville/SC

De 12 a 22 de abril de 2012.
Nos expocentros: Edmundo Dobrawa / Alfredo Salfer e Teatro Juarez Machado
Telefone: 47 3422-1133
E-mail: feiradolivro@institutofeiradolivro.com.br
Site: www.institutofeiradolivro.com.br

1º Salão do Livro de Suzano
De 13 a 22 de abril de 2012.
Local: Parque Max Feffer ( Av. Roberto Simonsen / JD Imperador).
Telefone: 11 2925-4129
E-mail: contato@spoladoreeventos.com.br
Site: www.spoladoreeventos.com.br

1ª Bienal Brasil do Livro e Leitura
De 14 a 23 de abril de 2012.
Esplanada dos Ministérios – Brasília /DF
Informações: 11 3333-7878 ou 61 3321-9922

3º Encontro Nacional do Varejo do Livro Infantil e Juvenil
18 de abril de 2012.
Fone: 21 2262-9130
E-mail: semninario@fnlij.org.br
Site: http://www.salaofnlij.com.br

14º Salão FNLIJ do Livro
De 18 a 29 de abril de 2012.
Fone: 21 2262-9130
E-mail: seminário@fnlij.org.br
Site: http://www.salaofnlij.com.br

1ª Bienal do Livro de Amazonas
De 27 de abril a 7 de maio de 2012.
Centro de Convenções Estudio 5 – Manaus.
Site: www.fagga.com.br
Telefone: 11 3044-441

VII Feira Nacional do Livro de Poços de Caldas - Flipoços
De 28 de abril a 06 de maio de 2012.
Telefone: (35) 3697-1551
Site: www.feiradolivropocosdecaldas.com.br

Fonte:
Câmara Brasileira do Livro

3º Congresso Internacional CBL do Livro Digital (10 e 11 de Maio)


Washington Olivetto é presença confirmada no 3º Congresso Internacional CBL do Livro Digital. Pegando como gancho principal o tema “A força das mídias digitais na divulgação do livro", o publicitário fará sua palestra no dia 11 de maio no Centro de Eventos da Fecomercio, em São Paulo.

Olivetto abordará temas ligados à comunicação, publicidade e cultura popular e sobre o futuro da propaganda seja ela analógica ou digital. Apresentará casos de sucesso e reforçará que a "grande ideia" é elemento fundamental na comunicação, seja qual for a tecnologia empregada para difundi-la. Idealizado e realizado pela Câmara Brasileira do Livro, o Congresso – que acontece nos dias 10 e 11 de maio, em São Paulo – e a própria entidade constituem o principal fórum brasileiro, no qual participarão personalidades internacionais, para a discussão e debate das tendências do mercado editorial e conteúdo digital mundiais.

Fonte:
Câmara Brasileira do Livro

XXVII Concurso de Poesia 'Brasil dos Reis' (Resultado Final)


Tema: Caminho – Soneto Nacional

1º - Thereza Costa Val
Cuidados no caminho
Belo Horizonte / MG

2º - Antônio Roberto de Carvalho
Caminhante
São Paulo / SP

3º - Edmar Japiassú Maia
Ladeira
Rio de Janeiro / RJ

4º - Luna Fernandes
Caminho do bem
Rio de Janeiro / RJ

5º - Antônio Carlos T. Pinto
Revolta
Brasília / DF

6º - Wanda de Paula Mourthé
Convite de estrelas
Belo Horizonte / MG

7º - Maria Madalena Ferreira
Meus caminhos
Magé / RJ

8º - José Messias Braz
Versos negros
Juiz de Fora / MG

9º - Roberto Resende Vilela
Caminhada
Pouso Alegre / MG

10º - Gilson Faustino Maia
Meu conselho
Petrópolis / RJ

Tema: Natureza – Verso Livre Nacional

1º - Thiago Oliveira de Carvalho
Natureza morta
Rio de Janeiro / RJ

2º - Marcelo Zanconato Pinto
No palco da natureza
Juiz de Fora / MG

3º - André Telucazu Kondo
A cada folha
São Paulo / SP

4º - Edna Valente Ferracini
Natureza
São Paulo / SP

5º - Lohan Lage Pignone
Natureza desumana
Trajano de Moraes / RJ

6º - Maria Romana Costa L. Rosa
Amar a natureza
Faro – Portugal

7º - Heloísa Zanconato
Natureza
Juiz de Fora / MG

8º - Nathalia da Cruz Wigg
Múltiplas naturezas
Rio de Janeiro / RJ

9º - Renato Vieira Ostrowski
Natureza
Campo Magro / PR

10º - Simone Alves Pedersen
Corram...
Vinhedo / SP

Tema: Infância – Soneto Regional

1º - Neusa Aparecida M. Maia
Lembranças
Angra dos Reis / RJ

2º - Rose Lopes
A infância
Angra dos Reis / RJ

3º - Rita de Cássia L. Dardengo
Resto de infância
Angra dos Reis / RJ

4º - Ronaldo Oliveira Santos
Infância , a melhor vinha...
Paraty / RJ

Tema: Velhos Casarões – Verso Livre Regional

1º - Leilda Pereira Leone
Velhos casarões
Rio Claro / RJ

2º - Lisabete Lopes Loureiro
Velhos casarões
Rio Claro / RJ

3º - Silvia Alice de C. Soares
Relicários
Angra dos Reis / RJ

4º - Sebastião Isidro de Araújo
Velhos casarões
Angra dos Reis / RJ

5º - Lenine Sérgio de Moura
A corte e os velhos casarões
Angra dos Reis / RJ

6º - Maria Helena U. C. Fonseca
A vida da gente
Angra dos Reis / RJ

7º - Maria José Moreira Dias
Velhos casarões
Angra dos Reis / RJ

8º - José Carlos de Almeida
Uma viagem no tempo
Angra dos Reis / RJ

9º - Tânia Lima
Temores
Angra dos Reis / RJ

10º - Denise Constantino da Fonseca
O beijo selador
Angra dos Reis / RJ
-
Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com

Concurso Cultural 'Porto Alegre, meu lugar' (Cronicas Vencedoras)

As três melhores crônicas:

"Sobre Porto Alegre", de Gabriel Braga Zarth, 17 anos;

"Porto Alegre, Paris de Minha Infância", de Maria Lenira Souza Pereira, 57;

"Porto Alegre, Meu Lugar", de Ricardo José de Souza Almeida, 50.

Fontes:
http://www.correiodopovo.com.br/
http://concursos-literarios.blogspot.com

Concurso Cultural 'Fábrica de Poesia' (Resultado Final)

LIMERIQUE

1º LUGAR - Elton C. A. Júnior (Bauru - SP)
2º LUGAR - Tatiane Panzarini Labliuk (Pirapora do Bom Jesus - SP)
3º LUGAR - Vera Lúcia Scherer (Rio Grande - RS)

HAICAI

1º LUGAR - Altair Cachone (Londrina - PR)
2º LUGAR - Sérgio Bernardo (Nova Friburgo - RJ)
3º LUGAR - Samantha Costa de Sousa (Paragominas - PA)

CORDEL

1º LUGAR - Arlene Moreira Rodrigues (Belo Horizonte - MG)
2º LUGAR - Elenir Ferreira Nunes Gonçalves (Buritizeiro - MG)
3º LUGAR - Roque Aloisio Weschenfelder (Santa Rosa - RS)

SONETOS

1º LUGAR - Rosane Granja Fernandes (Petrópolis - RJ)
2º LUGAR - Francisca Alana Araújo Aragão (Sobral - CE)
3º LUGAR - Leandro Raimundini (Batatais - SP)

Fontes:
http://educarparacrescer.abril.com.br/concurso-cultural/fabrica-de-poesia/resultado.shtml
Http://concursos-literarios.blogspot.com

Seleção para a Antologia “Amores Imortais” (Prazo: 20 de Maio)

Organização:
Bianca A. e Silva e Editora Canápe
amores-imortais@hotmail.com


Regulamento:

Quanto às inscrições:


Não há restrições quanto a naturalidade do autor desde que seu texto seja enviado em língua portuguesa.

Menores de idade também podem enviar seus textos, porém se selecionados, deverão encaminhar futuros documentos assinados pelos responsáveis.

O autor pode enviar quantos textos desejar, contudo devem ser enviados separadamente e apenas um será selecionado.

O envio dos textos deverá ser feito somente pelo e-mail amores-imortais@hotmail.com, com o nome e o telefone do participante.

As inscrições são inteiramente gratuitas, assim como a participação em caso de aprovação. Não serão obrigatórias quaisquer aquisição de exemplares.

As inscrições serão iniciadas no dia 08/04/12 e serão encerradas no dia 20/05/12.

Quanto aos textos:

Os textos deverão ser sobre: histórias de amor envolvendo vampiros.

A narração deverá ser em 3ª pessoa.

Deverão ter um limite entre 41.000 e 55.000 caracteres com espaços. Os textos acima ou abaixo desse limite serão descartados sem aviso por parte do organizador.

Não serão aceitos textos com cenas de sexo explicito, qualquer tipo de preconceito e cenas de extrema violência.

Textos em coautoria serão aceitos, todavia contarão apenas com uma cota de participação.

Não serão aceito textos já publicados em papel ou ebook. Poderão ser enviados textos que foram publicados na internet, todavia o autor deverá tirá-lo do ar durante o processo de seleção e se selecionado, durante um ano após a publicação do mesmo.

Quanto à seleção:

Os textos serão selecionados pelo organizador da antologia, podendo ser feita avaliações por parte de leitores que não serão identificados.

Como critério será levado em conta as características de um conto e o cumprimento das regras descritas no regulamento.

Não será dado nenhum parecer quanto aos textos que não forem selecionados.

Quanto ao resultado:

O resultado será divulgado até o dia 18/06/12, através do blog da antologia e facebook. Os autores selecionados também receberão e-mails comunicando sobre sua aceitação na antologia, somente após a divulgação na internet.

Os autores não selecionados não receberão comunicados sobre o resultado.

Poderá haver substituição de nomes na lista de selecionados, mesmo depois da divulgação do resultado, caso haja inconsistência ou insuficiência dos dados de um autor, para a confecção do contrato de publicação, comprovação de não ineditismo da obra enviada ou desistência de participação.

Quanto à publicação:

O autor não pagará nenhuma taxa para participar da antologia, mesmo depois de selecionado. Também não será exigido ao autor que adquira nenhum exemplar da antologia. A compra de exemplares por parte do autor é opcional, e nesse caso será concedido descontos a serem divulgados no momento da comercialização.

Os autores que desejarem comprar um maior número de exemplares para revender ou presentear, deverão negociar diretamente com a editora entrando em contato com antecedência.

Cada autor selecionado receberá como forma de direito autoral 1 exemplar do livro.
Qualquer dúvida quanto à antologia, entrar em contato pelo e-mail: amores-imortais@hotmail.com

Fontes:
http://amoresimortais.wordpress.com/regulamento/
Http://concursos-literarios.blogspot.com

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Wagner Marques Lopes/MG (O LAR em trovas) – parte 7


Lar, o pouso da paz

Ontem: dor, decepções...
Lar – o pouso que refaz.
Ainda agora: corações
Refeitos, calmos, em paz.

Lares – bons vizinhos

Os lares enfileirados
quais ovelhas nos caminhos,
vivendo em paz, lado a lado,
sabendo ser bons vizinhos.

Lar e convivência

O lar que escreve nas linhas
da convivência sincera,
descobre nas entrelinhas
a paz que ele tanto espera.

Alegria no lar

Aurora. O Sol se irradia,
superando névoa densa.
No lar, o sol da alegria
bela manhã nos dispensa.

Fonte:
Trovas enviadas pelo autor